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Grupo de Estudos com Miguel Spivacow

Agda, Cris Vieira, Denise, Eneida, Paula, Rosangela


Discussão do Caso – Nani e Roberto

A família Silva é formada pelo casal Nani (59a) e Roberto (67a) e os filhos Raul (26a)
e Gaspar (24a)1. Conheceram-se em São Paulo. Ela é paulista. Ele é gaúcho. Da primeira união,
Roberto tem dois filhos. Nani é, há 32 anos, sua segunda esposa. No início do casamento,
decidiram mudar-se para o Rio Grande do Sul. Roberto queria ficar próximo dos filhos.
Os Silva, em 03/04/2001, procuraram ajuda no Instituto da Família de Porto Alegre,
onde eu cursava a formação em Terapia de Família (após minha formatura, mantiveram o tratamento no
meu consultório).

Roberto e Nani geraram Raul e Gaspar, então com 7 e 9 anos, traziam como demanda
para atendimento, a falta de limites dos filhos. Vivência notória em nosso primeiro encontro,
quando os meninos promoveram um ambiente caótico de muita agitação, brigas, choros,
provocações e implicâncias, refratárias a qualquer intervenção dos pais. Situação de tal
descontrole, que optei por fechar as janelas da sala para garantir a segurança física das crianças.
Os pais e eu imobilizados não conseguíamos conter tal balbúrdia.
Nos encontros iniciais com os Silva, o pai preferia sentar-se fora “no setting familiar”,
isolava-se com sua cadeira num canto da sala. A mãe sózinha verbalizava toda a angústia
daquele grupo.
Em supervisão, decidimos encaminhar o caçula Gaspar para uma avaliação neurológica.
O difícil diagnóstico foi de “Síndrome de Gilles de La Tourette2”.
Acompanhei os Silva até a adolescência dos meninos. Raul desenvolvendo-se muito
bem e Gaspar exigindo muito cuidado e atenção da rede de apoio que o acompanhava: família,
escola, psicóloga, neurologista e eu como terapeuta da família.
Ao longo do tempo, crises importantes marcaram o desenvolvimento dos Silva. Antes
dos fatos abaixo relatados, Nani e Roberto eram bons companheiros e parceiros, compartiam
interesses políticos, sociais e culturais de forma intensa e gratificante. Comentavam ter boa
vida sexual.

1
Todos os nomes são fictícios

2
El síndrome de Gilles de la Tourette es un trastorno neurológico que se manifesta antes de los 18 años. Caracteriza-se por

muchos tics motores y fónicos que perduran durante más de un año. Por lo general, los primeros síntomas son movimientos

involuntarios (tics) de la cara, de los brazos, de los miembros o del tronco. Estos tics son frecuentes, repetitivos y rápidos. El

primer síntoma más habitual es un tic facial. Pueden reemplazarlo o agregarse otros tics del cuello, del tronco y de los membros.

Estos tics involuntarios pueden ser complicados e involucrar a todo el cuerpo, como patear y dar pisotones. Muchas personas

informan haber sentido lo que se describe como impulsos premonitorios: el impulso de realizar una actividad motora. También

pueden producirse otros síntomas como el toqueteo, los pensamientos y los movimientos reiterados y los trastornos obsesivos.
Roberto ficou desempregado por 3 anos. A vida familiar foi abalada financeiramente.
Nani criticava a forma como Roberto encarava seu desemprego. Acusava-o de muita
passividade perante o mercado de trabalho. Considerava que o marido não se importava com a
situação financeira familiar. Nani trabalhava em uma empresa jornalística durante 40 horas
semanais e nas horas vagas, passou a confeccionar artesanatos para aumentar a renda. Foi ela
quem conseguiu empregar Roberto, como jornalista, no mesmo local onde ela trabalha.
Em consulta ginecológica, Nani teve diagnóstico de DST. Acusou o marido de tê-la
contaminado e de ele manter relacionamentos extra conjugais. O marido negou. O casal passou
a ter dificuldades no relacionamento sexual. Não encontraram consenso para este assunto. Até o
dia em que Roberto disse “não gostar do cheiro da esposa em momentos de intimidade!” Nani
não quis mais ter relações sexuais com Roberto.
Nani mantinha correspondência virtual com um antigo amigo de sua cidade natal. Um
paulista casado. Sentia-se, virtualmente, amada, desejada e acolhida carinhosamente. Foi a São
Paulo. Encontraram-se duas vezes. O caso acabou com o falecimento do amante, após rápida
doença cerebral. Nani abalou-se muito.
O filho Gaspar, aos 20 anos, decidiu não manter mais os tratamentos psicológico e
neurológico. Abandonou terapia e medicação. Vinculou-se intensamente à PNL. Acusava os
pais de o envenenarem com os medicamentos. Os delírios e confusões mentais ficaram mais
evidentes. E, aos 22 anos e depois aos 23 anos, Gaspar teve importantes surtos psicóticos,
necessitando contenção física, medicamentosa e internação psiquiátrica.
Roberto, desde o início do tratamento, demonstrava muita dificuldade em aceitar as
desorganizações do filho Gaspar. Usava de violência física e verbal para tentar contê-lo, o que
ampliou o progressivo afastamento do casal. Nani passou ser o escudo a proteger o filho dos
ataques do pai. Situação desencadeadora de muitas desavenças entre eles.
Nani, até o momento, sente-se responsável pelo controle das crises de Gaspar. Seu
pensamento e atitudes estão voltadas para cuidar do filho. Não consegue tirá-lo do pensamento
e desligar-se dele.
Na segunda internação psiquiátrica de Gaspar, após violento surto, o pai aceitou que não
compreendia o filho e que agia inadequadamente com ele. A psiquiatra do caso indicou que o
pai retomasse a terapia familiar.
Nani retornou à terapia comigo em julho de 2016, após o primeiro surto do filho.
Roberto retornou em abril de 2018, por insistência da psiquiatra do caso.
Em março de 2018, quando Gaspar mostrou-se estabilizado e a família lidando melhor
com a doença dele, Nani propôs tratarem a relação do casal.
Roberto e Nani estão muito afastados e sem comunicação saudável. Há anos, não tem
vida sexual. Acusam-se, ofendem-se, cobram-se, num jogo em escalada sem fim. Nani
demonstra muito agressividade verbal contra Roberto. Ele se defende com eloquência. O casal
não se olha durante a consulta. Roberto usa a mão apoiando sua cabeça, como um anteparo
entre ele e a esposa. Nani faz acusações com o “dedo em riste” e muita raiva ao se expressar.
Ela mostra-se desesperançada em relação ao marido e ao casamento. Diz que cansou de
esperar que ele a ouça e seja afetivo, atencioso e colaborativo com ela. Nani chorou muito ao
dizer-se abandonada por Roberto. Ele não aceita sua imputação. Diz que ela é centralizadora,
mandona e gostaria que ele adivinhasse o pensamento dela.
O casal percebeu que - no passado de cada um - viveram situações diferentes em relação
“a cuidados e abandonos”. Nani teve poliomielite e até os 12 anos, fez muitas cirurgias
corretivas no quadril e na perna esquerda. Necessitava de muito apoio e cuidado. Conta que sua
mãe organizava a casa e a vida familiar de forma a facilitar e proteger a movimentação da filha.
Dedicava-se com afinco aos exercícios fisioterapêuticos para desenvolvimento da perna de sua
única filha mulher. Nani foi muito cuidada.
Roberto e seus 5 irmãos (6 homens). Foram criados guachos 3, soltos na rua. Faziam
muitas travessuras e os pais não ficavam sabendo. Inventavam historias e mentiras para
“enrolar” os pais. Considera-os negligentes. Roberto não experenciou situação de cuidado
parental. O pai era alcoolista. Batia nos filhos e na esposa sem qualquer motivo. Apanhavam
sem saber o porquê. Havia um certo amparo entre os irmãos.
Assim, para Roberto é difícil perceber a carência da parceira. Considera que “sempre a
atende. É só ela pedir!” E não compreende o sentimento de abandono que ela expressa.
Nani não vê espontaneidade no marido. Ele é movido, segundo ela, por pedidos ou
determinações dela. “Gostaria de receber algo sem ter que pedir. Como cansei de pedir, não
recebo nenhuma atenção. Fico abandonada!”

Eneida Marques
Porto Alegre – maio de 2018

3
Expressão que, no Rio Grande do Sul, significa criança criada solta, sem os cuidados parentais básicos.

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