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O livro tibetano da grande liberação

Comentário psicológico
Por C.G. Jung
(Em tradução livre Inglês/Português, por Fioravante Furlaneto)
eroif@ig.com.br

I – A diferença entre o pensamento oriental e ocidental


O Dr. Evans-Wentz me encarregou de comentar um texto sobre a
“psicologia” oriental. O fato de eu ter usado aspas mostra a ambigüidade deste
termo. Talvez não seja supérfluo mencionar que o Oriente não produziu nada que
possamos chamar de psicologia, mas sim filosofias ou metafísicas. A Filosofia
critica, a mãe da moderna psicologia, é tão estranha para o Oriente como para a
Europa medieval. Assim, a palavra mente, como usada no Oriente, tem a
conotação de alguma coisa metafísica. Nossa concepção Ocidental de mente
perdeu sua conotação desde a Idade Média e a palavra tem agora o significado de
função psíquica. Apesar do fato de nós, ou não conhecermos ou não
pretendermos conhecer o que é “psique”, podemos lidar com fenômeno da mente.
Não assumimos que a mente é uma entidade metafísica ou que exista qualquer
conexão entre uma mente individual e uma hipotética Mente Universal. Nossa
psicologia é, entretanto, uma ciência de meros fenômenos sem quaisquer
implicações metafísicas. O desenvolvimento da filosofia ocidental durante os
últimos dois séculos isolou a mente em sua própria esfera e rompeu sua unidade
primordial com o Universo. O próprio homem cessou de ser o microcosmo e
reflexo do cosmos, e sua “anima” não é mais a consubstancial cintilação ou faísca
da “anima mundi”, ou Alma do Mundo.
A psicologia trata todos os conceitos e asserções metafísicas como
fenômenos mentais, e os considera como estabelecidos sobre a mente e sua
estrutura como derivados de certas disposições inconscientes. Ela não os
considera como absolutamente validos ou mesmo capazes de estabelecer uma
verdade metafísica. Não temos meios intelectuais de sabermos se esta atitude é
certa ou errada. Nós só sabemos que não existem evidência nem possibilidade de
fornecer validade para um postulado metafísico de uma “Mente Universal”. Se a
mente aceita a existência de uma Mente Universal, nós só podemos aceitar isso
como uma mera afirmação. Nós não assumimos que a Mente Universal seja uma
verdade estabelecida. Não existe argumento contra isto, mas também não há
evidencia, ou que nossa afirmação esteja correta. Em outras palavras, é apenas
possível que nossa mente seja uma manifestação perceptível de uma Mente
Universal. Ainda não sabemos e mesmo não podemos ver como seria possível
reconhecer se isto é ou não possível. A psicologia, entretanto mantém que a
mente não pode estabelecer ou afirmar nada além de si mesma.
Se então, aceitamos as restrições impostas sobre a capacidade de nossa
mente, demonstramos nosso senso comum. Eu admito que isto seja alguma coisa
como um sacrifício, na medida em podemos dizer adeus ao mundo milagroso em
que as coisas criadas pela mente se movem e vivem. Este é o mundo primitivo
onde mesmo objetos inanimados são dotados de uma vida, cura, poder mágico,
através dos quais eles participam de nós e nós deles. Cedo ou tarde teremos
compreendido que sua potência era realmente nossa potência e que sua
significância era nossa projeção. A teoria do conhecimento é somente o último
passo da infância da humanidade, onde um mundo de figuras criadas pela mente
povoavam um céu e um inferno metafísicos.
Apesar deste inevitável criticismo epistemológico, entretanto, mantemos a
crença religiosa de que a fé habilita o homem a conhecer Deus. O Ocidente
desenvolveu uma nova doença: o conflito entre ciência e religião. A filosofia crítica
da ciência se torna assim uma metafísica negativa – o materialismo – baseada em
um erro de julgamento; a questão foi assumida como uma realidade tangível e
reconhecível. No entanto, esta é uma conceito metafísico completamente
hipostaziado pela mente não critica. A matéria é uma hipótese. Quando você diz
“matéria”, você realmente está criando um símbolo para algo desconhecido, que
pode muito bem ser “espírito” ou mesmo qualquer coisa; pode mesmos ser Deus.
A fé religiosa, por outro lado, se recusa a aceitar essa visão de mundo. Em
contradição ao que diz o Cristo, a fé tenta fazer os fieis continuar criança. Eles se
agarram do mundo infantil. Um famoso teólogo moderno confessa em sua
autobiografia que Jesus foi seu bom amigo “desde a infância”. Jesus é o perfeito
exemplo de um homem que pregou alguma coisa diferente da religião de seus
antepassados. Mas, quando somos estimulados a nos tornarmos imitação de
Cristo, isto não parece incluir o sacrifício mental e espiritual a que ele se submeteu
no início de sua carreira e sem o qual ele não teria se tornado um salvador.
O conflito entre ciência e religião é, em realidade, uma incompreensão de
ambos. O materialismo científico meramente introduziu uma nova hipóstase, e isto
é um pecado intelectual. Ela deu outro nome para o principio supremo da
realidade e trocou uma coisa nova por uma coisa antiga. Ao chamarmos o
principio da existência “Deus”, “matéria”, “energia” ou outra coisa qualquer, não
criamos nada, só trocamos de símbolo. O materialista é um metafísico, ainda que
não reconheça. O fiel, por outro lado, tenta manter uma condição mental primitiva
em bases meramente sentimentais. Ele não está disposto a abandonar o
relacionamento infantil primitivo, criado pela mente e figuras hipostáticas; ele quer
desfrutar da segurança e confiança de um mundo ainda presidido pelos pais
poderosos e responsáveis. A fé pode incluir um sacrifício intelectual (supondo que
exista um intelecto a sacrificar), mas certamente não um sacrifício do sentimento.
Desta forma o fiel permanece criança, se torna uma criança, e ele não vive sua
vida de adulto porque ele não perdeu a insegurança da infância. Ademais, fé
colide com ciência e assim ficamos no deserto, por recusar compartilhar a
aventura espiritual em nossa idade.
Qualquer pensador honesto tem de admitir a insegurança de toda posição
metafísica, e em particular dos credos. Ele também tem de admitir a insegurança
natural de toda afirmação metafísica e encarar o fato de que não existe evidência
nenhuma da habilidade da mente humana de se erguer puxando os cordões do
próprio sapato, isto é, estabelecer qualquer coisa transcendental.
O materialismo é uma reação metafísica contra o repentino entendimento
de que a cognição é uma faculdade mental e, se levado além do plano humano,
uma projeção. A reação foi “metafísica” na medida em que o homem de educação
filosófica média falhou em ver através da hipóstase implicada, não entendendo
que “matéria” era só outro nome para o principio supremo. Ao contrario, a atitude
do fiel mostra o quanto as pessoas relutam em aceitar o criticismo filosófico.
Também demonstra o quanto grande é o medo do crescimento e o apego à
segurança da criança e a um estranho, desconhecido mundo governado por
forças não relacionadas com o homem. Nada realmente muda neste caso; o
homem e seus arredores permanecem os mesmos. Ele tem somente que
entender que é prisioneiro de sua própria mente e que não pode passar além
disto, mesmo na insanidade; e que a aparência deste mundo ou de seus deuses
depende muito de sua própria condição mental.
Em primeiro lugar, a estrutura da mente é responsável por qualquer coisa
que possamos afirmar sobre matérias metafísicas, como eu já apontei aqui. Nós
estamos começando a aprender que o intelecto não é um ente por si próprio, ou
uma faculdade mental, mas uma função psíquica dependente das condições da
psique como um todo. Um estabelecimento filosófico é o produto de certa
personalidade vivendo em certa época, em certo local e não a superação de um
procedimento puramente lógico e impessoal. Naquela extensão isto é, muito
subjetivo; se isto tem validade objetiva ou não, depende de algumas ou muitas
pessoas pensarem ou não do mesmo modo. O isolamento do homem dentro de
sua mente como um resultado do criticismo epistemológico tem naturalmente
levado ao criticismo psicológico. Este tipo de criticismo não é popular com os
filósofos, desde que eles gostam de considerar o intelecto filosófico como o
perfeito e incondicionado instrumento da filosofia. Ainda este intelecto como tal é
uma função dependente de uma psique individual e determinada por todos os
lados pelas condições subjetivas, à parte das influências ambientais. Realmente,
nós já nos acostumamos a este ponto de vista de que “mente” perdeu seu caráter
universal completamente. Ela se tornou uma característica mais ou menos
individual sem nenhum traço de seu aspecto formador cósmico, como a anima
rationalis. Mente é compreendida nos dias atuais como uma coisa subjetiva e até
mesmo arbitrária. Agora que a formalmente hipostática “idéias universais” se
tornaram princípios mentais, está se tornando claro para nós que uma extensa
parte de nossa experiência com a realidade, é psíquica; que qualquer coisa
pensada, sentida ou percebida é uma imagem psíquica, e o próprio mundo existe
somente na medida em que estejamos habilitados a produzir imagens dele.
Somos tão profundamente impressionados com a verdade de nossa prisão e
limitação da psique, que estamos prontos a admitir a existência nela de coisa que
até nem mesmo conhecemos: o chamado inconsciente.
O escopo aparentemente universal e metafísico da mente nos tem reduzido
ao pequeno circulo de consciência individual, profundamente sensível da
subjetividade quase sem limites e de suas tendências arcaicas infantis para
produzir projeções e ilusões. Muitas pessoas de mente cientifica tem mesmo
sacrificado suas convicções religiosas e filosóficas em prol de um subjetivismo
descontrolado. Como compensação pela perda de um mundo que pulsava com
nosso sangue e respirava com nosso peito, desenvolvemos um entusiasmo por
fatos – montanhas de fatos, além de qualquer poder de pesquisa do indivíduo.
Temos a pia esperança de que esta acumulação incidental de fatos formará um
significado inteiro, mas ninguém está certo, porque nenhum cérebro humano
possivelmente venha a compreender a gigantesca soma desta massa de
conhecimentos produzida. Os fatos nos enterram, mas quem se atreve a
especular deve pagar por isto com uma má consciência – e assim corretamente,
ele instantaneamente será engolido pelos fatos.
A psicologia Ocidental conhece a mente como uma função mental da
psique. É a “mentalidade” de um indivíduo. Uma Mente Universal impessoal ainda
pertence à esfera da Filosofia, onde parece ser uma relíquia da “alma” humana
original. Este quadro de nossa visão Ocidental pode parecer um pouco drástica,
mas eu não penso estar longe da verdade. Em todos os eventos, alguma coisa do
tipo se apresenta confronto com a mentalidade Oriental. No Oriente, a mente é um
fator cósmico, a verdadeira essência da existência; enquanto no Ocidente só
começamos a compreender que ela é condição essencial da cognição, e, portanto,
da existência cognitiva do mundo. Não existe conflito entre religião e ciência no
Oriente, porque não existe ciência baseada em fatos emocionais, e nenhuma
religião é mera fé; existe cognição religiosa e religião cognitiva. Entre nós, o
homem é incomensuravelmente pequeno e a graça de Deus é tudo; mas no
Oriente o homem é Deus e ele se redime. Os Deuses do budismo tibetano
pertencem à esfera da separação ilusória e projeções criadas pela mente, e ainda
assim eles existem; mas enquanto estamos preocupados com a ilusão, ela
permanece ilusão, e para nós é nada e tudo ao mesmo tempo. É um paradoxo,
ainda que verdadeiro, que um pensamento não seja a própria realidade; tratamos
isto como se fosse um nada. Mesmo achando que o pensamento é verdadeiro em
si, matemos que ele existe somente em virtude de certos fatos que são ditos
formulados. Podemos produzir fatos devastadores, como a bomba atômica com a
ajuda desta sempre mutante fantasmagoria de pensamentos virtualmente não
existente, mas parece um inteiro absurdo para nós que alguém possa estabelecer
a realidade do pensamento em si.
“Realidade psíquica” é um conceito controverso, como “psique” ou “mente”.
Por estes termos, alguns entendem consciência e seus conteúdos, enquanto
outros admitem a existência de representações “cinzentas” ou “subconscientes”.
Alguns incluem os instintos no reino psíquico, outros o excluem. A vasta maioria
considera a psique como resultado de processos bioquímicos nas células do
cérebro. Alguns conjecturam que é a psique que faz as funções das células
corticais. Alguns identificam “vida” com psique. Mas somente uma insignificante
minoria considera os fenômenos psíquicos como uma categoria de existência por
si e sem chegar a uma conclusão. É realmente paradoxal que a categoria de
existência, o indispensável sine qua non de toda existência, a saber a psique,
deveria ser tratada como se fosse somente semi existente. A existência psíquica é
a única categoria de existência de que temos conhecimento imediato, desde que
nada pode ser conhecido sem que primeiro apareça como uma imagem psíquica.
Somente a existência psíquica é imediatamente verificável. Para aquela parte do
mundo que não assume a forma de uma imagem psíquica ele é virtualmente não
existente. Este é um fato que, com pequenas exceções – como por exemplo, na
Filosofia de Schopenhauer – o Ocidente ainda entendeu totalmente. Mas
Schopenhauer foi influenciado pelo budismo e pelos Upanishads.
Mesmo em um superficial contato com o pensamento Oriental é suficiente
para mostrar a diferença fundamental que divide o pensamento do Oriente e do
Ocidente. O Oriente se baseia sobre a realidade psíquica, isto é, tem a psique
como a principal e única condição de existência. Aparentemente este
reconhecimento Oriental foi mais um fato e psicológico e temperamental do que
resultado de uma racionalização filosófica. Este é um ponto de vista tipicamente
introvertido, contrastando com o ponto de vista tipicamente extrovertido do
Ocidente. Introversão e extroversão são conhecidas como atitudes
temperamentais ou mesmo constitucionais que nunca são intencionalmente
adotadas em circunstâncias normais. Em casos excepcionais elas podem ser
produzidas pela vontade, mas somente sob condições muito especiais. A
introversão é,se podemos expressar assim, o “estilo” do Oriente, uma atitude
coletiva habitual, assim como a extroversão é o “estilo” do Ocidente. A introversão
é sentida como algo anormal, mórbido ou de outra forma objetivada. Freud
identifica isso como uma atitude auto-erótica e narcisista da mente. Ele
compartilha esta posição negativa com Filosofia Nacional Socialista da Alemanha
moderna, que acusa a introversão de ser uma ofensa contra o sentimento
comunitário. No Oriente, entretanto, nossa acalentada extroversão é depreciada
como ilusão desejante, como existência na sangsara, a verdadeira essência da
cadeia nidana, que culmina na soma dos sofrimentos do mundo. Qualquer um
com conhecimento prático de depreciação mutua de valores entre introversão e
extroversão compreenderá o conflito emocional entre os pontos de vista Oriental e
Ocidental. Para aqueles que conhecem alguma coisa da história da filosofia
européia a amarga disputa sobre os “universais” que começou com Platão
fornecerá um exemplo instrutivo. Eu não quero ir fundo neste conflito entre
introversão e extroversão, mas eu posso mencionar os aspectos religiosos do
problema. O Ocidente cristão considera o homem inteiramente dependente da
graça de Deus, ou de Cristo, como sendo o exclusivo e divino instrumento
terrestre sancionado para a redenção do homem. O Oriente, entretanto, insiste em
que o homem é responsável pelo seu desenvolvimento , e por isto acredita na
auto liberação.
O ponto de vista religioso sempre expressa e formula a atitude psicológica
essencial e seus prejuízos específicos, mesmo no caso de a pessoa ter se
esquecido, ou que nunca tenha ouvido, da própria religião. Além disso, o Ocidente
é completamente Cristão assim como sua psicologia relacionada. A anima
christiana naturaliter de Tertuliano mantém a verdade em todo Ocidente – não
como ele pensa, no sentido religioso, mas psicológico. A graça vem de outro lugar;
em todos os eventos externos. Todos os outros pontos de vista são heresias. Por
isso é compreensível por que a psique humana de subvalorizacao. Qualquer coisa
que tente estabelecer uma conexão entre a psique e a idéia de Deus é
imediatamente acusada de psicologismo ou suspeita de misticismo mórbido. O
Oriente, por outro lado, compassivamente tolera aqueles “baixos estágios
espirituais” onde o homem em sua ignorância do karma, ainda se incomoda com o
pecado e tortura sua imaginação com uma crença em deuses absolutos, que, se
ele pensar profundamente, não é nada mais que o véu da ilusão tecido pela sua
própria mente obscurecida. A psique é o mais importante. É a respiração que
permeia tudo, a essência de Buda; e o Buda Mente, o Um, o dharmakaya. toda a
existência emana dela e toda forma separada se dissolve nela. Este é o prejuízo
básico que permeia o homem Oriental em cada fibra de seu ser, presente em
todos seus pensamentos, sentimentos e ações, independente do que ele crê ou
professa.
Da mesma forma o homem Ocidental é cristão, independente de a qual
denominação cristã ele pertença. Pois esse homem é, pequeno por dentro, ele é
próximo do nada, mais que isso, como Kierkegaard diz, “diante de Deus, o homem
está sempre errado”. Por medo, arrependimento, promessas, submissão, auto-
humilhação, boas ações e louvores, que não são em si, mas totaliter aliter, o
totalmente outro, embora perfeito e externo, a única realidade. Se modificarmos
um pouco a fórmula e substituirmos Deus por algum outro poder, seja o mundo ou
dinheiro, teremos um quadro completo do homem Ocidental - assíduo, sem medo,
auto-humilhado, empreendedor, ganancioso e violento em sua busca dos deuses
deste mundo: posses, saúde, conhecimento, maestria técnica, bem estar público,
poder político, conquista, etc. Quais são os grandes movimentos populares de
nosso tempo? Tentativas de ganhar o dinheiro ou propriedade dos outros e
proteger os seus próprios. A mente é fortemente empregada em elaborar
conceitos, “ismos” para ocultar os reais motivos ou para dispor de outros.
Abstenho-me de descrever o que aconteceria ao homem Oriental se ele
esquecesse seu ideal de Estado de Buda, pois não quero dar uma injusta
vantagem ao homem Ocidental. Mas não posso ajudar levantando a questão se é
possível, ou realmente aconselhável, imitar o ponto de vista do outro. A diferença
entre eles e tão grande que alguém pode achar isso não razoável, menos ainda
aconselhável. Não podemos misturar fogo e água. A atitude Oriental embrutece a
Ocidental e vice versa. Você não pode ser um bom Cristão e se redimir, nem ser
um Buda e adorar Deus. É melhor aceitar o conflito, e admitir uma solução
irracional, seu houver.
Por uma inevitável decreto do destino, o Ocidente está se tornando
familiarizado com os fatos peculiares da espiritualidade Oriental. É inútil desprezar
esses fatos, ou tentar construir falsas pontes sobre vãos intransponíveis. Em vez
de aprender as técnicas espirituais do Oriente e imitá-las de uma forma cristã, com
uma atitude forçada, seria mais proveitoso se desenvolvêssemos uma tendência
inconsciente introvertida similar à que se tornou o principio espiritual do Oriente.
Deveríamos então estar em posição de construir nossa própria base com nossos
próprios métodos. Se pegarmos essas coisas diretamente do Oriente, teremos
sido meramente indulgente com nosso capacidade aquisitiva Ocidental,
confirmando mais uma vez que “tudo de bom vem de fora”, onde ela tem que ser
buscada e bombeada para dentro de nossas almas estéreis. Parece-me que
temos realmente aprendido alguma coisa com o Oriente quando compreendemos
que a psique contém riqueza interior suficiente, sem ter que buscá-la fora, e
quando nos sentimos capazes de evoluir por nós mesmos, com ou sem a graça
divina. Mas não podemos embarcar neste empreendimento ambicioso, ate que
tenhamos aprendido a lidar com nosso orgulho espiritual e nossa blasfema auto-
afirmação. A atitude Oriental viola os valores especificamente cristãos, e isto não
é bom. Se nossa nova atitude for genuína, isto é, baseada em nossa própria
história, isto deve ser adquirido com total consciência dos valores cristãos e o
conflito entre eles e atitude introvertida do Oriente. Precisamos dispor dos valores
orientais a partir de dentro e não de fora, buscando em nós mesmos, em nosso
inconsciente. Então deveremos descobrir o quanto grande é nosso medo do
inconsciente e o quanto formidável são nossas resistências. Devido a estas
resistências duvidamos de muitas coisas que parecem tão obvias para o Oriente,
a saber, o poder de auto-liberação da mente introvertida.
Este aspecto da mente é praticamente desconhecido do Ocidente, e penso
que este é o mais importante componente do inconsciente. Muitas pessoas negam
terminantemente a existência do inconsciente, ou mesmo dizem que isto consiste
meramente de instintos, ou de conteúdos esquecidos ou reprimidos que uma vez
fizeram parte da mente consciente. É seguro assumir aquilo que o Oriente chama
“mente” tem mais a ver com nosso “inconsciente” que com a mente como nos a
compreendemos, o que é mais ou menos idêntico com a consciência. Para nós,
consciência é inconcebível sem um ego; é igual à relação dos conteúdos para com
o ego. Se não existe ego, ninguém é consciente de coisa alguma. O ego é
portanto indispensável para o processo de consciência. A mente Oriental,
entretanto, não tem dificuldade em conceber a consciência sem um ego. A
consciência é considerada capaz de transcender sua condição de ego; realmente,
em sua mais alta forma, o ego desaparece completamente. Assim uma condição
mental sem ego somente pode ser inconsciente para nós, pela simples razão de
que não haveria estados transcendentes da consciência. Eu não posso imaginar
um estado mental consciente que não facax referência a um sujeito, isto é, a um
ego. O ego pode ser despotencializado – devastado, por instância de sua
sensibilidade do corpo – mas assim como existe sensibilidade de alguma coisa, há
de haver alguém que seja sensível. O inconsciente, entretanto, é uma condição
mental em que não há ego sensível. É só mediatamente e por meios indiretos que
eventualmente nos tornamos conscientes da existência de um inconsciente.
Podemos observar a manifestação de fragmentos inconscientes da personalidade,
desconectados da consciência de pacientes, em estado de insanidade. Mas não
existe evidência de que os conteúdos inconscientes sejam relacionados com um
centro inconsciente, como o ego; de fato existem boas razões para que tal centro
não seja nem mesmo provável.
O fato de que o Oriente possa dispor tão facilmente do ego parece apontar
para uma mente que não é identificada com nossa “mente”. Certamente o ego não
tem o mesmo papel no pensamento Oriental, como entre nós. É como se a mente
Oriental fosse menos egocêntrica, como se seus conteúdos fossem mais
vagamente conectados com o sujeito, e como se o maior estresse fosse previsto
nos estados mentais que incluem um ego despotencializado. Também parece
como se a Hatha Ioga fosse útil como um meio para extinguir o ego pela restrição
de seus impulsos desregrados. Não há duvidas de que as mais altas formas de
Ioga, na medida em que se luta para atingir o samadhi, busca uma condição
mental em que o ego é praticamente dissolvido. Consciência em nosso sentido da
palavra é tida como uma condição definitivamente inferior, o estado de ignorância,
considerando o que nós chamamos o “fundo cinza da consciência” é
compreendido como uma consciência mais alta. Nosso conceito de “inconsciente
coletivo” poderia o equivalente europeu de Buddhi, a mente iluminada.
Em vista de tudo isto, a forma Oriental de “sublimação” aponta para uma
retirada do centro de gravidade psíquica do ego consciência, que mantém uma
posição média entre o corpo e os processos ideacionais da psique. O menor
estrato, semi-psicológico da psique é subjugado pela askesis, isto é, exercícios e
se mantém sob controle. Eles não exatamente negados ou suprimidos por um
supremo esforço da vontade, como a costumeira sublimação no Ocidente. Assim,
o menor estrato psíquico é adaptado e formado através da paciente prática da
Hatha Ioga até que já não interfiram no desenvolvimento da “mais alta”
consciência. Este processo peculiar parece ser ajudado pelo fato de que o ego e
seus desejos são checados pela maior importância que o Oriente habitualmente
atribui ao “fator subjetivo”. Este seria o que chamo de “fundo cinza” da
consciência, o inconsciente. A atitude introvertida é caracterizada em geral por
uma ênfase no dado a priori da apercepção. Como se sabe, o ato de apercepção
consiste de duas fases: primeiro a percepção do objeto, segundo a assimilação da
percepção a um padrão preexistente ou conceito por meio do qual o objeto é
compreendido. A psique não é uma não entidade, desprovida de toda qualidade; é
um sistema definido, feito de condições definidas e que reage de um modo
especifico. A dada nova representação, seja uma percepção ou um pensamento
espontâneo, surgem associações que derivam do armazém de memórias. Estas
saltam imediatamente para a consciência, produzindo o quadro complexo de uma
“impressão”, o que já é uma espécie de interpretação. A disposição inconsciente
sobre qual a qualidade da impressão depende do que eu chamo de “fator
subjetivo”. Isto merece a qualificação “subjetiva” devido à objetividade quase
nunca ser conferida pela primeira impressão. Usualmente um laborioso processo
de verificação, comparação e análise é necessário para modificar e adaptar as
reações imediatas do fator subjetivo.
A proeminência do fator subjetivo não implica um subjetivismo pessoal,
apesar da prontidão da atitude extrovertida de negar o fator subjetivo como “nada
mais que subjetivo”. A psique e sua estrutura são suficientemente reais. Eles
mesmos transformam os objetos materiais em imagens psíquicas, como bem
disse. Eles não percebem ondas, mas sons; não comprimentos de ondas, mas
cores. Existência é como vemos e compreendemos isto. Existem inumeráveis
coisas que podem ser vistas, sentidas e compreendidas em uma grande variedade
de modos. À parte prejuízos meramente pessoais, a psique assimila os fatos
externos em seu próprio modo, que é baseado sobre as leis ou padrões de
apercepção. Estas leis não mudam, embora diferentes idades ou diferentes partes
do mundo as chamem por nomes diferentes. Em um nível primitivo as pessoas
têm medo de bruxas; no nível moderno são apreensivas em relação aos
micróbios. Ali acreditam em fantasmas, aqui acreditam em vitaminas. Houve um
tempo em que os homens eram possuídos pelos demônios, agora eles não são
menos obcecados pelas idéias e assim por diante.
O fator subjetivo é feito, em última instância, de padrões eternos do
funcionamento da psique. Qualquer um que invoque o fator subjetivo está se
baseando na realidade da lei psíquica. Assim dele dificilmente se pode dizer que
está errado. Por este meio ele consegue estender sua consciência, para tocar as
leis básicas da vida psíquica, ele está de posse da verdade que a psique
naturalmente evolui, se nenhuma fatalidade interferir com o não psíquico, isto é, o
mundo. De qualquer forma, sua verdade poderia ser pesada contra a soma de
todo conhecimento adquirido através da investigação do mundo externo. No
Ocidente acreditamos que uma verdade é satisfatória somente se puder ser
verificada por fatos externos. Acreditamos na mais exata observação e exploração
da natureza; nossa verdade deve coincidir com o comportamento do mundo
externo, de outra forma é meramente subjetiva. Da mesma forma que o Oriente
olha para dança de prakriti (física) e para a multidão de formas ilusórias de Maya,
o Ocidente evita o inconsciente e suas fúteis fantasias. Apesar de sua atitude
introvertida, entretanto, o Oriente sabe muito bem como lidar com o mundo
externo. E apesar de suas extroversões o Ocidente também tem um modo de lidar
com a psique e suas demandas; ele tem uma instituição chamada Igreja, que dá
expressão à desconhecida psique do homem através de ritos e dogmas. Ou não
são as ciências naturais e as modernas técnicas de qualquer forma a invenção do
Ocidente? Seus equivalentes Orientais são algo antigo ou mesmo primitivo. Mas o
que temos para mostrar no caminho do insight espiritual e técnicas psicológicas
deve parecer, quando comparado com a Ioga, tão atrasado como a astrologia e a
medicina Oriental quando comparadas com a ciência Ocidental. Eu não nego a
eficácia da Igreja cristã; mas se formos comparar os exercícios de Inácio de
Loyola com Ioga, teremos o mesmo significado. Existe uma diferença e é grande.
Saltar direto deste nível à Ioga Oriental não é mais aconselhável que a súbita
transformação dos povos da Ásia em europeus meio cozidos. Eu tenho sérias
duvidas a respeito das bênçãos da civilização Ocidental, e tenho similares
desconfianças sobre a adoção da espiritualidade Oriental pelo Ocidente. Aqui dois
mundos contraditórios se encontram. O Oriente está em total transformação; está
completamente e fatalmente perturbado. Mesmo os mais eficientes métodos de
vida europeu têm sido imitados com sucesso. O problema com isso parece ser
mais psicológico. Nosso mal são as ideologias – elas estão a longo tempo
esperando o anticristo! O Nacional Socialismo chega perto de ser um movimento
religioso como qualquer movimento desde 622 A. D.. O comunismo promete a
volta do paraíso. Nós somos muito melhor protegidos contra doenças, inundações,
epidemias e invasões turcas do que contra nossa própria inferioridade espiritual
deplorável, que parece ter pequena resistência às epidemias psíquicas.
Também em suas atitudes religiosas, Ocidente é extrovertido. Atualmente é
ofensivo dizer que o Cristianismo implica em hostilidade, ou mesmo indiferença ao
mundo e à matéria. Ao contrário, o bom cristão é um cidadão jovial, um
empresário de negócios, um excelente soldado, o melhor em qualquer profissão.
Figuras mundialmente boas são freqüentemente interpretadas como
recompensadas pelo comportamento cristão, e os nas Orações do Senhor os
adjetivos se referindo ao alimento há muito tempo vem sendo omitido, pois o
alimento real obviamente faz muito mais sentido! Somente a extroversão lógica,
não pode creditar ao homem com uma psique que contenha qualquer coisa não
importada, seja pelo homem ou pela divina graça. A partir desse ponto de vista é
blasfêmia afirmar que o homem tem em si a responsabilidade pela sua própria
redenção. Nada em nossa religião encoraja a idéia de um poder de auto-liberação
da mente. Uma ainda muito moderna forma de psicologia – analítica ou complexa
– divisa a possibilidade de certos processos serem inconscientes os quais, por
virtude de seu simbolismo, compensaria os defeitos da atitude consciente. Quando
estas compensações inconscientes são feitas de forma consciente através da
técnica analítica, elas produzem uma mudança na atitude consciente que nos leva
a falar de um novo nível de consciência. O método não pode entretanto produzir o
processo atual de compensação inconsciente; por isto dependemos da psique
inconsciente ou da “Graça de Deus” – os nomes não fazem diferença. Mas o
processo inconsciente em si dificilmente se torna consciente sem ajuda técnica.
Quando trazida à superfície ela revela seus conteúdos que oferecem um contraste
com a execução geral do pensamento e sentimento. Se não fosse assim, eles não
teriam um efeito compensatório. O primeiro efeito, entretanto, é usualmente um
conflito, devido à atitude consciente de resistir à intrusão de tendências
aparentemente estranhas e incompatíveis, pensamentos, sentimentos, etc. A
esquizofrenia produz os mais surpreendentes exemplos daquelas intrusões de
conteúdos totalmente estranhos e inaceitáveis. Na esquizofrenia isto é, é claro,
uma questão de distorção e exageros patológicos, mas qualquer um com o menor
conhecimento do material normal reconhecerá a mesmice dos padrões
sublinhados. Isto é, como uma matéria de fato, as mesmas imagens que alguém
encontra na mitologia e outras arcaicas formações de pensamento.
Sob condições normais qualquer conflito estimula a mente à atividade com
o objetivo de criar uma solução satisfatória. Usualmente – isto é, no Ocidente - o
consciente arbitrariamente decide contra o inconsciente, desde que qualquer coisa
venha trazer sofrimento, prejuízo, ou seja, considerada inferior ou errada. Mas
nestes casos que estamos relatando ele tacitamente concorda com os
aparentemente incompatíveis conteúdos não devem ser suprimidos de novo e o
conflito deve ser aceito e sofrido. Em princípio nenhuma solução parece possível,
e este fato, também tem de ser suportado com paciência. A suspensão assim
criada “constela” o inconsciente – em outras palavras, o consciente suspenso
produz uma nova reação compensatória no inconsciente. esta reação (usualmente
manifestada em sonhos) é levada à realização consciente. A mente consciente é
assim confrontada com um novo aspecto da psique, que desperta um problema
diferente ou modifica um antigo de uma forma inesperada. O procedimento é
continuado até que o conflito original seja satisfatoriamente resolvido. Este é um
processo e um método ao mesmo tempo. A produção de compensações
inconscientes é um processo espontâneo; a realização consciente é um método. A
função é chamada transcendente porque isto facilita a transição da condição
psíquica para outra por meio da mútua confrontação de opostos.
Esta é uma descrição resumida da função transcendente e para detalhes
eu preciso remeter o leitor à literatura mencionada nas notas de rodapé. Mas eu
tinha chamado a atenção para estas observações e métodos psicológicos porque
eles indicam o caminho pelo qual podemos encontrar acesso à espécie de mente
referida em nosso texto. Esta é a mente criadora de imagens, a matriz de todos
aqueles padrões que dão à percepção seu caráter peculiar. Estes padrões são
inerentes à mente consciente; eles são seus elementos estruturais, e sozinhos
podem explicar porque certos motivos mitológicos são mais ou menos ubíquos,
mesmo onde a migração é um meio de transmissão é improvável. Sonhos,
fantasias e psicoses produzem imagens com toda aparência idêntica aos motivos
mitológicos dos quais os indivíduos relacionados não tem absolutamente
conhecimento, nem mesmo indireto adquirido através de figuras populares do
discurso ou através da linguagem simbólica da Bíblia. A psicopatologia da
esquizofrenia, bem como a psicologia do inconsciente, demonstra a produção de
material arcaico além da dúvida. Qualquer que seja a estrutura do inconsciente,
uma coisa é certa: ele contém um indefinido número de motivos ou padrões de um
caráter arcaico, em principio idêntico com as idéias raiz da mitologia e formas de
pensamento similares.
Devido ao inconsciente ser a matriz da mente, a qualidade da criatividade a
conecta a ele. Este é o local de nascimento das formas de pensamento tal como
nossos textos consideram ser a Mente Universal. Desde que não podemos atribuir
qualquer forma particular ao inconsciente, a afirmativa Oriental de que a Mente
Universal é sem forma, a arupaloka, como fonte de todas as formas, parece ser
psicologicamente justificável. Assim como as formas ou padrões do inconsciente
não pertencem a um tempo particular, sendo aparentemente eternas, elas levam a
um peculiar sentimento de atemporalidade quando conscientemente entendida.
Encontramos estabelecimentos similares na psicologia primitiva: por instância, a
palavra australiana aljira significa sonho bem como “terra fantasma” e o “tempo”
em que os ancestrais viveram e ainda vivem. Isto é, como eles dizem, o “tempo
quando não havia o tempo”. Esta visão é uma obvia concretização e projeção do
inconsciente com todas suas qualidades caratecterísticas – manifestações de
sonhos, mundo ancestral de formas pensamentos e ausência de tempo.
Uma atitude introvertida, entretanto, que dá ênfase ao mundo externo (o
mundo da consciência) e se localiza no fator subjetivo (o fundo da consciência),
necessariamente suscita as manifestações características do inconsciente. A
saber, formas de pensamento arcaicas, imbuídas de sentimento “ancestral” ou
“histórico”, e, além disso, o sentido de infinitude, atemporalidade, unidade. O
extraordinário sentimento de unidade é uma experiência comum em todas as
formas de “misticismo” e provavelmente deriva da contaminação geral dos
conteúdos, que aumenta com a atenuação da consciência. A quase ilimitada
contaminação das imagens em sonhos, e particularmente nos produtos de
insanidade, testemunha sua origem inconsciente. em contraste com a clara
distinção e diferenciação de formas na consciência, os conteúdos inconscientes
são incrivelmente vagos e por esta razão capazes de qualquer montante de
contaminação. Se tentarmos conceber um estado em que nada é distinto,
deveríamos certamente sentir a inteireza como unidade. Assim, não é diferente a
peculiar experiência da unidade derive da sensibilidade subliminar de toda
contaminação no inconsciente.
Por meio da função transcendente não somente ganhamos acesso à
“Mente Una” mas também podemos compreendemos porque as crenças orientais
na possibilidade da auto-liberação. Se, através da introspecção e a consciente
realização das compensações inconscientes, e possível transformar a condição
mental de alguém e chegarmos a uma solução de conflitos dolorosos, poderíamos
então falar em auto-liberação. Mas, como eu tenho já insinuado, existe um
impedimento nesta reivindicação da auto-liberação, pois um homem não pode
produzir estas compensações inconscientes pela vontade. Ele tem que confiar na
possibilidade de que eles possam ser produzidos. Ou ele não poderá alterar o
peculiar caráter da compensação. É uma coisa curiosa que a filosofia Oriental
pareça ser quase insensível a este fator altamente importante. e é precisamente
este que fornece a justificação psicológica para o ponto de vista Ocidental. É como
se a mente Ocidental tivesse uma intuição mais penetrante da dependência
fatídica do homem sob o poder obscuro que precisa co-operar se tudo estiver
bem. Realmente, quando e onde o inconsciente falha em cooperar, o homem
instantaneamente se perde, mesmo em suas mais ordinárias atividades. Deve ser
uma falha de memória, de ação coordenada, de interesse ou concentração; e essa
falha pode bem ser a causa de sérios aborrecimentos ou de um acidente fatal, um
desastre profissional ou um colapso moral. Antigamente, os homens diziam que os
deuses eram desfavoráveis; agora eles preferem chamar isso de neuroses, e
buscar suas causas na falta de vitaminas, em distúrbios endócrinos, excesso de
trabalho ou sexo. A cooperação do inconsciente, algo no qual nunca pensamos,
que sempre tivemos como garantida, quando repentinamente falha, é realmente
causa de sérios problemas.
Em comparação com outras raças – a chinesa, por instância – o equilíbrio
mental do homem branco ou, para ser mais especifico, seu cérebro, parece ser
uma tendência sua. Nós naturalmente tentamos dispor de nossa sensibilidade
tanto quanto possível, um fato que pode explicar a espécie de extroversão que
está sempre buscando a segurança pela dominação dos arredores. A extroversão
vai lado com a desconfiança do homem interior, se realmente existe qualquer
consciência dele em tudo. Mais que isso, tendemos a sub-valorizar as coisas que
tememos. Aqui devemos ter alguma razão para nossa absoluta convicção que
“nada existe no intelecto que antes não tenha estado nos sentidos”, que é o motor
da extroversão do Ocidente. Mas como temos enfatizado, esta extroversão é
psicologicamente justificada pelo fato vital de que a compensação inconsciente
está além do controle do homem. Eu sei que a Ioga se orgulha de conseguir
controlar mesmo os processos inconscientes, e assim como nada pode acontecer
na psique como um inteiro que não seja governado por uma consciência suprema.
Eu não tenho nenhuma dúvida de que essa condição é mais ou menos possível.
Mas só é possível ao preço de se tornar idêntico com o inconsciente. essa
identidade é o equivalente Oriental de nosso fetiche Ocidental da “completa
objetividade”, a subserviência da maquina a uma meta, a uma idéia ou causa, ao
custo de perder qualquer traço de vida interior. Do ponto de vista Oriental esta
completa objetividade é terrível, por sua completa identidade com a sangsara;
para o Ocidente, por outro lado, samadhi é nada mais que um estado de sonho
sem significado. No Oriente, o homem interior sempre teve como manter sob
controle o homem exterior, sem que o mundo tenha chance de afastá-lo de suas
raízes interiores; no Ocidente, o homem exterior ganhou ascendência em um uma
extensão que o mantém alienado de seu ser interior. A Mente Uma, Unidade,
Indefinida e a eternidade permanecem prerrogativas do Deus único. O homem se
torna fútil, pequeno e essencialmente errado.
Eu acho que está ficando claro a partir de meus argumentos que os dois
pontos de vista, embora contraditórios, tem cada um a sua justificação psicológica.
Ambos são unilaterais, no que eles falham em ver e tomar ciência daqueles
fatores que não se ajustam em sua atitude típica. Enquanto um subestima o
mundo da consciência, o outro subestima o mundo da Mente uma. O resultado é
que, em seu extremismo, ambos perdem uma metade do universo; sua vida se
afasta da realidade total e é apta a se tornar artificial e desumana. No Ocidente,
existe a mania da objetividade, o ascetismo do cientista ou do corretor da bolsa,
que joga fora a beleza e a universalidade da vida, por um ideal, ou nem tanto ideal
meta. No Oriente, existe a sabedoria, paz, desligamento e inércia de uma psique
que retornou as suas origens, tendo deixado atrás toda a tristeza e alegria da
existência e, presumivelmente, deveria ser. Sem a beleza que a unilateralidade
produz formas de verdadeiro monasticismo similares em ambos os casos,
garantindo ao ermitão, o homem santo, o monge ou ao cientista a singeleza
inabalável do objetivo. Eu nada tenho contra a unilateralidade enquanto tal. O
homem, o grande experimento da natureza, ou seu próprio grande experimento, é
evidentemente capacitado a todos seus empreendimentos – desde que ele os
agüente. Sem a unilateralidade o espírito do homem não poderia desenvolver em
toda esta diversidade. Mas eu não acho que exista qualquer dano em tentar
compreender ambos os lados.
A tendência extrovertida do Ocidente e a introvertida do Oriente têm um
importante objetivo comum: ambos fazem esforços desesperados para conquistar
a mera natureza da vida. É a afirmação da mente sobre a matéria, o servo contra
o senhor, um sintoma da juventude do homem, ainda se deleitando em usar as
mais poderosas armas jamais imaginadas pela natureza: a mente consciente. O
entardecer da humanidade, em um futuro distante, pode evoluir para um ideal
diferente. No tempo, mesma a conquista cessará para ser o sonho.
II. Comentários ao texto
Antes de embarcar no próprio comentário, eu não devo omitir de chamar a
atenção do leitor para a muito marcada diferença entre o teor de uma dissertação
psicológica e um texto sagrado. Um cientista esquece tudo tão facilmente que a
manipulação imparcial de um assunto pode violar os valores emocionais,
freqüentemente em grau imperdoável. O intelecto é desumano e não pode mesmo
qualquer coisa; ele não pode deixar de ser implacável, embora com um motivo
bem intencionado. Em relação a um texto sagrado, entretanto, o psicólogo deveria
ser pelo menos sensível a que este assunto representa um valor inestimável
religioso e filosófico que não deveria ser profanado. Eu confesso que eu mesmo
me aventurei em lidar com esses textos somente porque eu conheço e aprecio
seu valor. Ao comentar sobre isto eu não tenho qualquer intenção de atacar isso
com a mão pesada do criticismo. Ao contrario, meu esforço será amplificar sua
linguagem simbólica desde que isso possa torná-lo mais compreensível. Por fim, é
necessário reduzir seus elevados conceitos metafísicos a um nível onde seja
possível ver se qualquer dos fatos psicológicos conhecidos por nós, tem paralelos
neles, ou apenas se aproximam, da esfera do pensamento Oriental. Eu espero
que isto não seja mal entendido como uma tentativa de diminuir ou banalizar; meu
objetivo é simplesmente trazer idéias que sejam próximas de nosso modo de
pensar dentro da experiência psicológica Ocidental.
O que segue é uma série de notas e comentários que devem ser lidos junto
com as seções textuais indicadas pelos títulos.
A Obediência
Os textos orientais usualmente começam com um estabelecimento que no
Ocidente seria o fim, como conclusão final para um longo argumento. Deveríamos
começar com coisas geralmente conhecidas e aceitas, e finalizar com o item mais
importante de nossa investigação. Assim nossa dissertação concluiria com a
sentença: “portanto, o trikaia é a Mente toda iluminada em si”. Neste aspecto a
mentalidade Oriental não é tão diferente da medieval. Dessa forma nossos livros
de história e ciências naturais do século XVII, começam com a decisão de Deus
de criar o mundo. A idéia de uma Mente Universal é um lugar comum no oriente,
pois isto expressa o temperamento introvertido Oriental. Em linguagem psicológica
a sentença acima poderia ser parafreasada assim: “o inconsciente é a raiz de toda
experiência de unidade (dharmakaya), a matriz de todos arquétipos ou padrões
estruturais (sambhogakaya), e a “conditio sine qua non” do mundo fenomenal
(nirmanakaya).
O prefacio
Os deuses são formas pensamento arquetípicas pertencentes ao
sambhogakaya. Seus aspectos pacíficos e irados, que tem um grande papel nas
meditações do Livro Tibetano dos Mortos, simbolizam os opostos. No nirmanakaya
estes opostos não são mais que os conflitos humanos, mas no sambhogakaya
eles são os princípios positivo e negativo unidos em uma mesma figura. Isto
corresponde à experiência psicológica, também formulada no Tao Te Ching, de
Lao-Tsé, de que não existe posição sem sua negação. Onde existe fé, existe
dúvida; onde existe dúvida existe credulidade; onde existe moralidade, existe a
tentação. Somente os santos têm visões diabólicas, e os tiranos são escravos de
seus criados de quarto. Se cuidadosamente analisarmos nosso próprio caráter
veremos inevitavelmente que, como Lao-Tsé diz, “em cima como embaixo”, que
significa que os opostos se condicionam, um ao outro, já que eles são realmente
uma e mesma coisa. Isto pode facilmente ser visto nas pessoas com complexo de
inferioridade eles fomentam uma pequena megalomania em qualquer lugar. O fato
de que os opostos aparecem como deuses vem do reconhecimento de que eles
são excessivamente poderosos. A filosofia chinesa entretanto declarou-os como
princípios cósmicos e os nomeou yang e yin. Quanto mais se tenta separá-los,
mais seu poder aumenta. “Quando uma árvore cresce até o céu, suas raízes
atingem o inferno” diz Nietzsche. Assim, em cima como embaixo, é a mesma
árvore. Isto é característico de nossa mentalidade Ocidental, que deveríamos
separar os dois aspectos de personificação antagonista: Deus e o diabo. E é
igualmente característico de nosso mundialmente otimista do protestantismo que
deveria haver silenciado o diabo em tempos recentes.
A “visao da realidade” claramente se refere à Mente como a suprema
realidade. No Ocidente, entretanto, o inconsciente é considerado uma fantástica
irrealidade. A “visão da Mente” implica auto-liberação. Isto significa
psicologicamente que, quanto mais peso atribuímos aos processos inconscientes
mais deixamos de atribuir no mundo dos desejos e dos opostos separados, e tanto
mais perto chegamos do estado de inconsciência com suas qualidades de
unidade, infinitude e atemporalidade. Esta é verdadeiramente uma liberação do eu
a partir desta escravidão de disputas e sofrimentos. Por este método, a mente de
alguém é compreendida. A mente, neste contexto, é obviamente a mente do
indivíduo, isto é, sua psique. Psicologicamente podemos concordar que a
compreensão da mente é uma das mais difíceis tarefas.
Saudação à Mente Una
Esta seção mostra muito claramente que a Mente Una é o inconsciente,
desde que caracterizado como “eterno, desconhecido, não visível, não
reconhecido”. Mas ele também exibe características positivas que são mantidas
com a experiência Oriental. Estas são os atributos “sempre claro, sempre
existente, radiante e não obscurecido”. É um inegável fato psicológico que quanto
mais concentrados são os conteúdos inconscientes de alguém, mais ele se torna
carregado d energia; ele se torna vitalizado, como se fosse iluminado por dentro.
De fato, ele se torna em alguma coisa como uma realidade substituta. Na
psicologia analítica fazemos uso metódico deste fenômeno. Eu o tenho chamado
“o método de imaginação ativa”. Inácio de Loyola também fez uso da imaginação
ativa em seus exercícios. Existem evidencia de alguma coisa similar era usada
nas meditações dos filósofos alquimistas.
O resultado do não conhecimento da Mente Una.
O conhecimento daquilo que é vulgarmente chamado mente é muito
generalizado. Isto claramente se refere à mente consciente de todos, em contraste
com a Mente Una que é desconhecida, isto é, inconsciente. Estes ensinamentos
“também serão buscados depois pelo indivíduo ordinário que, não conhecendo a
Mente Una, não se conhece. Autoconhecimento é aqui definitivamente identificado
com “conhecimento da Mente Una”, que significa que o conhecimento do
inconsciente é essencial para qualquer compreensão da própria psicologia de
alguém. O desejo de se conhecer é fato bem estabelecido no Ocidente, como
evidenciado pelo surgimento da psicologia em nossos tempos e um crescente
interesse nestas matérias. O desejo público por mais conhecimento psicológico é
largamente devido ao desuso da religião e da falta de orientação espiritual. “Eles
vagueiam aqui e acolá em três regiões ... sofrimento e tristeza. Como bem
sabemos o que uma neurose pode significar em sofrimento moral, este
estabelecimento não precisa de comentários. Esta seção formula as razões por
que nós temos algo como a psicologia do inconsciente hoje.
Mesmo se alguém desejar “conhecer a mente como ela é, irá falhar”. O
texto novamente reforça como é difícil ter acesso à mente básica, porque ela é
inconsciente.
Os resultados dos desejos
“Aquele que é agrilhoado pelos desejos não pode perceber clara luz”. A
“Clara Luz” novamente se refere à Mente Una. Desejos anseiam por satisfação
externa. Eles criam a cadeia que mantêm o homem preso ao mundo da
consciência. Nestas condições ele naturalmente não pode se tornar sensível de
seus conteúdos inconscientes. E realmente existe um poder de cura em retirá-lo
do mundo consciente – até certo ponto. Alem daquele ponto, que varia conforme o
indivíduo, passa a ser repressão.
Mesmo o “Caminho Médio” finalmente se torna “obscurecido pelos
desejos”. Esta é uma verdade estabelecida, que não pode ser negada tão
insistentemente aos ouvidos europeus. Pacientes e indivíduos normais, ao se
tornarem familiarizados com sua consciência material, precipitam-se sobre ela
com a mesma desatenção desejante e ganância que antes os tinham engolfado
em sua extroversão. O problema não é só a retirada do objeto do desejo, mas
uma atitude mais independente em relação ao desejo como tal, não importa qual
seja o objeto. Não podemos forçar a compensação inconsciente através da
impetuosidade de um desejo incontrolado. Temos que esperar pacientemente para
ver se ele virá de sua própria vontade, e dominado qualquer que seja sua forma.
Assim somos forçados a uma espécie de atitude contemplativa que, em si, não
raramente tem uma liberação e efeito curativo.
O Transcendente At-one-ment
“Há seres realmente sem dualidade, seu pluralismo é falso”. Esta é
certamente uma da mais fundamentais verdades do Oriente. Não existem opostos
– é a mesma arvore em cima e embaixo. A Tabula Smaragdina diz: “ Quod est
inferius est sicut quod est superius.(o que está embaixo é igual ao que está em
cima). Et quod est superius est sicut quod est inferius, ad perpetranda miracula rei
unius. (e também o que está em cima é igual ao que está embaixo, ???). O
pluralismo é mesmo muito ilusório, desde que todas formas separadas se originam
na indistinguível unidade da matriz psíquica, nas profundezas do inconsciente. O
estabelecido pelos nosso textos se referem psicologicamente ao fator subjetivo, ao
material imediatamente constelado por um estimulo, Isto é, a primeira impressão
que, como vimos, interpretam cada nova percepção em termos de experiência
prévia. “Prévia experiência” é a volta direta ao instintos, e dessa forma para os
padrões herdados e inerentes do funcionamento psíquico, as eternas e ancestrais
leis da mente humana. Mas o estabelecido ignora inteiramente a possível
transcendência da realidade do mundo físico assim como, um problema não
desconhecido da Filosofia Sankhya, onde prakriti e purusha – que são uma
polarização do Ser Universal – formam um dualismo cósmico que dificilmente
pode ser contornado. Um tem que fechar os olhos de alguém ao dualismo e
pluralismo e esquecer tudo sobre a existência de um mundo, assim como outro
tenta se identificar com a origem monística da vida. A questão naturalmente surge:
Porque deveria o Uno aparecer como Muitos, quanto a última realidade é Toda
Una? Qual a causa do pluralismo, ou da ilusão do pluralismo? Se o Uno está
satisfeito consigo mesmo, porque ele deveria se espelhar nos Muitos? Qual depois
de tudo é mais real, o que se espelha ou o espelho que ele usa? Provavelmente
não deveríamos levantar estas questões, vendo que não existem respostas para
elas.
É psicologicamente correto dizer que “At-one-ment” é atingido pela retirada
do mundo da consciência. Na estratosfera do inconsciente não existem mais
tempestades, porque nada é diferenciado o suficiente para produzir tensões e
conflitos. Estes pertencem à superfície da realidade.
A Mente em que os irreconciliáveis – sangsara e nirvana - são unidos é
nossa mente. Esta afirmação nasce de uma profunda modéstia ou de uma vaidosa
insolência? Isto significa que a Mente é nada mais que nossa mente? Ou que
nossa mente é a Mente? Certamente isto significa o último, e do ponto de vista
Oriental não existe desafio nisto; ao contrário, esta é uma verdade perfeitamente
aceitável, considerando que para nós isso equivaleria a dizer “Eu sou Deus”. Esta
é uma incontestável experiência mística, pensaria alguém censurável no Ocidente.
Mas no Oriente onde isto deriva de uma mente que não perdeu contato com usa
matriz instintiva, isto tem um valor muito diferente. A atitude introvertida coletiva do
oriente não permitiu que o mundo dos sentidos cortar a ligação vital com o
inconsciente. A realidade psíquica nunca foi seriamente disputada, apesar da
existência das assim chamadas especulações materialistas. A única analogia
conhecida para este fato é a condição mental do primitivo, que confunde sonho e
realidade no mais desconcertante modo. Naturalmente hesitamos em chamar a
mente Oriental de primitiva, pois estamos profundamente impressionados com sua
notável civilização e diferenciação. Ainda a mente primitiva é sua matriz, e esta é
particularmente verdade daquele aspecto que estende a validade do fenômeno
psíquico assim como relaciona fantasmas e espíritos. O Ocidente tem
simplesmente cultivado o outro aspecto do primitivismo, a saber, a observação
escrupulosamente acurada da natureza ao custo da abstração. Nossa ciência
natural é o resumo dos espantosos poderes de observação do homem primitivo.
Nós somente adicionamos um moderado montante de abstração, por medo de ser
contraditado pelos fatos. O Oriente, por outro lado, cultiva o aspecto psíquico do
primitivismo junto com um desordenado montante de abstração. Fatos podem dar
excelentes histórias mas não muito mais.
Assim, se o Oriente fala da Mente como sendo a todos, não mais
desafiador ou modestamente está envolvido que nas crenças dos Europeus nos
fatos, que são muito mais derivados das observações dos próprios homens a
algumas vezes até menos que isso, isto é, sua interpretação. Ele está, entretanto,
certo em ter medo de muita abstração.
A Grande Auto-Liberação
Eu mencionei mais de uma vez que o deslocamento do sentimento básico
de personalidade para a menor esfera da consciência mental tem um efeito
liberador. Eu também descrevi, algo superficialmente, a função transcendental que
produz a transformação da personalidade, eu tenho enfatizado a importância da
compensação espontânea do inconsciente. além disso eu apontei a negligencia
deste fato crucial na Ioga. Esta seção tende a confirmar minhas observações. A
captação da “essência inteira daqueles ensinamentos” parece também ser a
essência inteira da “auto-liberação”. O Ocidente deveria aproveitar isto para
dizer:”aprenda sua lição e a repita, e então você será auto-liberado. isto,
realmente, é precisamente o que acontece com muitos praticantes Ocidentais da
Ioga. Eles são muito aptos a fazer isto de uma forma extrovertida, de forma alheia
à mente que é a essência daqueles ensinamentos. No Oriente as “verdades” são
assim uma parte da consciência coletiva que são, ainda que intuitivamente,
apreendidas pelos pupilos. Se o Europeu pudesse se transformar de dentro para
fora e viver como um Oriental, com todas as obrigações sociais, morais, religiosas,
intelectuais e estéticas, que tal curso deveria deveria envolver, ele poderia estar
habilitado a se beneficiar daqueles ensinamentos. Mas você não pode ser um
Cristão, seja em sua fé, seja em sua moralidade ou em sua condição intelectual, e
praticar a genuína Ioga ao mesmo tempo. Eu tenho visto muitos casos que têm
me deixado cético no mais algo grau. O problema é que no Ocidente o homem
não pode se livrar de sua história tão facilmente como se apagasse a memória. A
história, poderia se dizer, é escrita no sangue. Eu não aconselharia qualquer um a
praticar a Ioga sem uma cuidadosa análise de suas reações inconscientes. De que
adiantaria imitar a Ioga se seu lado cinza permanece como um bom Cristão
medieval, como sempre foi? Se você pode se permitir sentar em uma pele de
gazela sob uma árvore Bo ou na cela de um mosteiro pelo resto de sua vida sem
ser incomodado pela política ou pelo vencimento de seus seguros, eu consideraria
favoravelmente seu caso. Mas, Ioga em Mayfair ou na Quinta Avenida, ou em
qualquer outro lugar que haja um telefone, é um fracasso espiritual.
Levando em conta o equipamento mental do homem Oriental podemos
supor que o ensinamento seja efetivo. Mas sem estar preparado para se afastar
do mundo e mergulhar no incosnciente, o mero ensinamento não tem efeito, ou no
mínimo não atingirá o fim desejado. Para isto a união dos opostos é necessária e
em particular a tarefa difícil de reconciliar extroversão e introversão por meio da
função transcendental.
A Natureza da Mente
Esta seção contém uma parte valiosa de informação psicológica. O texto
diz: “A mente tem sabedoria intuitiva (conhecimento rápido)”. Aqui, mente é
compreendida como idêntica à sensibilidade imediata da primeira impressão que
abarca a soma inteira de experiências prévias baseada sobre os padrões
instintivos. Isto vem confirmar nossas observações sobre essencialidade do
prejuízo introvertido do Oriente. A fórmula também dá atenção ao altamente
diferenciado caráter da intuição Oriental. A mente intuitiva é notada por seu
desprezo pelos fatos em favor das possibilidades.
A afirmação de que a mente não tem existência, obviamente se refere à
peculiar potencialidade do inconsciente. Uma coisa parece existir somente no grau
que nós somos sensíveis a ela, o que explica porque muitas pessoas são
inclinadas a não acreditar na existência de um inconsciente. Quando eu digo a um
paciente que ele está cheio de fantasias, ele é freqüentemente fica atônito além de
todas as medidas, pois estava completamente insensível à vida de fantasia que
estava levando.
Os Nomes dado à Mente
Os vários termos empregados para expressar uma “dificuldade” ou idéia
“obscura” são uma fonte de informações valiosa sobre os modos em que uma
idéia pode ser interpretada, e ao mesmo tempo, uma indicação de natureza
duvidosa e controversa mesmo no país, religião ou filosofia de origem do
indivíduo. Se a idéia fosse perfeitamente simples e desfrutasse de aceitação geral,
não haveria razão para chamá-la por nomes diferentes. Mas quando uma coisa é
pouco conhecida ou ambígua, pode ser vista de diferentes ângulos, e então uma
multiplicidade de nomes é necessário para expressar sua natureza peculiar. Um
exemplo clássico disto é a pedra filosofal; muitos dos velhos tratados alquímicos
dão longas listas de nomes.
A afirmação de que “os vários nomes dados a isto (a Mente) são
inumeráveis” prova que a Mente deve ser algo vago e indefinido como a pedra
filosofal. A substância que pode ser descrita em inumeráveis modos deve se
esperar que exiba muitas qualidades e facetas. Se estas são realmente
inumeráveis, elas não podem ser contadas, e daíx segue que a substância é
indescritível e desconhecida. Nunca poderá ser entendida completamente. Esta é
certamente a verdade do inconsciente, e uma prova de que a Mente é o
equivalente Oriental de nosso conceito de inconsciente, mais particularmente do
inconsciente coletivo.
Ao se manter essa hipótese, o texto diz que a Mente e também chamada
de “Eu Mental”. O “eu” é um item importante na psicologia analítica, onde muito se
tem dito que não preciso repetir aqui. Eu deveria referir o leitor interessado à
literatura dada abaixo. Embora os símbolos do “eu” sejam produzidos pela
atividade inconsciente e são muito manifestados em sonhos, os fatos que a idéia
cobre não é meramente mental; eles incluem aspectos da existência física. Neste
e em outros textos Orientais o “Eu” representa uma idéia puramente espiritual,
mas na psicologia Ocidental o “eu” faz parte de uma totalidade que compreende
instintos e fenômenos psicológicos e semi-psicológicos. Para nós uma totalidade
puramente espiritual é inconcebível pelas razões mencionadas acima.
É interessante notar que no Oriente, também, existem “heréticos” que
identificam o Eu com o ego. Conosco essa heresia é bastante difundida e
subscrita por todos aqueles que firmemente acreditam que o ego consciência é a
única forma de vida psíquica.
A Mente, como “os meios de atingir a Outra Costa” aponta para uma
conexão entre a função transcendente e a idéia da Mente ou Eu. Desde que a
substância desconhecida da Mente, isto é, do inconsciente, sempre se representa
ao consciente na forma de símbolos – o eu sendo um desses símbolos – o
símbolo funciona como um “um meio de atingir a Outra Costa”, em outras
palavras, como um meio de transformação. Em meu ensaio, Psychic Energy, eu
disse que o símbolo atua como um transformador de energia.
Minha interpretação da Mente ou Eu como um símbolo não é arbitraria; o
próprio texto chama isto “O Grande símbolo”.
É também notável que nosso texto reconhece a “potencialidade” do
inconsciente, como formulado acima, chamando a Mente de “Semente Única” e a
“Potencialidade da Verdade”.
O caráter matriz do inconsciente se transforma no termo “Toda Fundação”.
A afirmação “a mente de alguém não é separável das outras mentes” é
outro modo de expressar o fato de “toda contaminação”. Desde que todas as
distinções desaparecem na condição inconsciente, é lógico que a distinção entre
mentes separadas deveria desaparecer. Onde existe o abaixamento do nível de
consciência podemos cruzar instancias de identidade consciente, ou o que
chamamos “participação mística”. A realização da Mente Una é, como nosso texto
diz, a “at-one-ment” do trikaia; de fato isto cria a ate-one-ment. Mas estamos
inabilitados para imaginar como aquela realização poderia ser completada em
qualquer indivíduo humano. Sempre haverá alguém ou alguma coisa disposto a
experimentar aquela realização, para dizer “eu conheço at-one-ment, eu sei que
não existe distinção”. O verdadeiro fato da realização prova a inevitável
incompletude. Ninguém pode conhecer algo que não é distinto de si mesmo.
Mesmo quando eu digo “eu me conheço”, um ego infinitesimal – o conhecido “Eu”
– ainda é distinto do “meu eu”. Neste ego atômico, que é completamente ignorado
pelo ponto de vista essencialmente não dualista do Oriente, está escondido o
universo inteiro não abolido e a realidade inconquistável.
A experiência de “at-one-ment” é um exemplo daquelas realizações de
“conhecimento rápido” do Oriente, uma intuição do que seria igual se algum
pudesse existir e não existir ao mesmo tempo. Se eu fosse um Muçulmano,
deveria manter que o poder do Todo Compassivo é infinito, e que Ele só pode
fazer um homem ser e não ser ao mesmo tempo. Mas por meu lado eu não posso
conceber essa possibildade. Eu, entretanto, assumo que, neste ponto, a intuição
Oriental tem se sobressaído.
A Mente é Não Criada
Esta seção enfatiza que como a Mente é sem características, ninguém
pode afirmar que ela é criada. Mas então, seria ilógico afirmar que ela é não
criada, pois tal qualificação já seria uma característica. Como uma questão de fato
você não pode fazer nenhuma afirmação sobre uma coisa que é indistinta, vazia
de características e, mais que isso, “desconhecida”. Precisamente por esta razão
a psicologia Ocidental não fala da Mente Una, mas de inconsciente, considerando
isto como uma coisa em si, um númeno, um conceito marginal meramente
negativo, para citar Kant. Temos frequentemete sido censurados por usar um
termo negativo, mas desafortunadamente a honestidade intelectual não nos
permite uma afirmação positiva.
A Ioga da introspecção
Se houvesse qualquer dúvida sobre a identidade da Mente Una e do
inconsciente, esta seção certamente a desfaria. “ A Mente Una sendo na verdade
uma nulidade e sem qualquer fundação, é a mente de alguém, isto é, como o
vácuo do céu. A Mente Una e a mente individual são igualmente vazio e vácuo.
Somente o inconsciente coletivo e individual pode ter significado por esta
afirmativa, pois a mente consciente não é, em nenhuma circunstancia, vácuo.
Como eu disse antes, a mente Oriental insiste no fator subjetivo, e em
particular na intuitiva primeira impressão ou a disposição psíquica. Isto é
suportado pela afirmação de que “todas as aparências são verdadeiramente
conceitos próprios de alguém, auto concebido na mente”.
O dharma por dentro
Dharma, lei, verdade, orientação, é dito ser “em lugar nenhum salvo na
mente”. Assim o inconsciente é creditado com todas aquelas faculdades que o
Ocidente atribui a Deus. A função transcendente, entretanto, mostra o quanto certo
o Oriente está em assumir que a complexa experiência do dharma acontece a
partir do interior, isto é, do inconsciente. Isto também mostra que o fenômeno da
compensação espontânea, estando além do controle do homem, está inteiramente
de acordo com a fórmula da “graça, ou vontade de Deus”.
Isto e a seção precedente insistem novamente e novamente que a
introspecção é a única fonte de informação espiritual e orientação. Se a
introspecção fosse algo mórbido, como certas pessoas no Ocidente opinam,
deveríamos enviar praticamente todo o Oriente, ou algumas partes que não foram
infectadas com as bênçãos do Ocidente, para um asilo de lunáticos.
A Magnificência destes Ensinamentos
Esta seção chama a mente “Sabedoria Natural”, que é a mesma expressão
que eu usei para designar os símbolos produzidos pelo inconsciente. eu os
chamei “símbolos naturais”. Eu escolhi o termo antes que tivesse qualquer
conhecimento deste texto. Eu menciono o fato simplesmente porque isto ilustra o
forte paralelismo entre as psicologias do Oriente e do Ocidente.
O texto também confirma o que dissemos anteriormente sobre a
impossibilidade de um conhecimento do ego. Embora isto seja a Total Realidade,
não existe um observador disto. Isto é magnífico. Magnífico realmente e
incompreensível; pois como poderia uma coisa ser realizada no verdadeiro sentido
da palavra? Ele permanece sem mácula do mal, e permanece aliado do bem. Mas
as conseqüências desta afirmação são usualmente ignoradas pelos emuladores
da sabedoria Oriental. Enquanto um é seguramente escondido em um
apartamento acolhedor, seguro dos favores dos deuses Orientais, alguém é livre
para admirar esta sublime indiferença moral. Mas isto concorda com nosso
temperamento ou nossa história, que não é assim conquistada mas meramente
esquecida? Eu acho que não. Qualquer um que afete a maior Ioga será chamado
a provar sua profissão de indiferença moral, não somente como fazedor do mal
mas, mesmo mais, simbolizado pela Luz em muitas das numerosas formas de
misticismo. É um curioso paradoxo que a aproximação de uma região que nos
parece o caminho para as trevas deveria apresentar um foco de luz da iluminação
como seu fruto. Isto é, entretanto, a usual manifestação usual enantiodromia per
tenebras ad lucem. muitas cerimônias de iniciação têm um estágio que é um
mergulho nas profundezas da água batismal, ou um retorno para o ventre do
renascimento. O simbolismo do renascimento simplesmente descreve a união dos
opostos – consciente e inconsciente – por meio de analogias concretistas.
Sublinhando todo o simbolismo do renascimento está a função transcendente.
Desde esta função resulta em um incremento de consciência (as prévias
condições aumentadas pela adição dos conteúdos formais do inconsciente), a
nova condição leva a mais insights, que é simbolizado por mais luz. Este é um
estado mais iluminado comparado com o cinza relativo do estado prévio. Em
muitos casos a Luz mesmo aparece na forma de uma visão.
A Ioga do caminho nirvânico
Esta seção dá uma das melhores formulações da completa dissolução da
consciência, que aparece como a meta desta Ioga: não havendo duas coisas
como ação e atuador, se alguém busca o atuador e este não for encontrado em
nenhum lugar, então a meta de todo o fruto obtido é atingida e também a final
consumação do eu.
Com esta formulação completa do método eu atinjo o fim do meu
comentário. O texto que segue, no livro II, é de grande beleza e sabedoria, e
contém nada mais que requeira comentário. Isto pode ser traduzido em linguagem
psicológica e interpretado como a ajuda dos princípios que eu aqui coloquei.

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