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Brasília-DF
2018
LAÍS STEFÂNI DOS SANTOS MOTA
Brasília-DF
2018
LAÍS STEFÂNI DOS SANTOS MOTA
Banca examinadora
O processo até aqui não foi nada fácil. Estudar em escola pública e passar em
uma Universidade Pública já foi uma grande conquista. Todos os obstáculos postos
em meu caminho antes e durante a Universidade foram vencidos com garra, mas
nenhum deles foi sozinha. Sou imensamente grata por ter tanto a agradecer e por
tantos anjos em meu caminho. Esse espaço é para todas essas pessoas que foram
incentivo e que, sem cada uma delas, não seria possível estar aqui.
Primeiramente, agradeço a Deus, que mesmo diante de todas as minhas
dúvidas e questionamentos me mostra a todo instante que esteve – e está, sempre a
me carregar no colo. Obrigada por me fornecer o sopro de vida e continuar soprando
sempre que me canso, Jesus.
Agradeço aos melhores pais, por me proporcionarem todas as condições
necessárias para estudar. Por, mesmo com todas as dificuldades, não terem deixado
faltar comida na mesa e, sobretudo, afeto para ser forte no mundo.
À mulher mais incrível que eu já pude conhecer em toda a minha vida, minha
mãe, Leni. A mulher que me colocou no mundo, que me deu afeto e paciência. Que
me ensinou a escolher com sabedoria e a me perdoar quando a minha escolha não
for a mais feliz. Mulher que eu mais admiro pela força e superação, sobretudo por sua
resiliência. Que lutou por mim quando nem eu mais acreditava. Obrigada por tudo,
mãe. Você é genial.
Ao grande homem, meu pai Luiz, por me ensinar valores imprescindíveis para
um ser humano: a honestidade, a bondade, a lealdade e a confiança em Deus. Por
me ensinar, através de sua história, que a gente deve lutar com fé e que somos muito
mais fortes do que pensamos. Agradeço por, desde pequena, ter aprendido que a
desigualdade social não é normal e que devemos questionar e lutar por uma
sociedade mais justa. Obrigada por tudo, pai. Você é incrível.
À minha irmã e assistente social preferida, Lorena. Que sempre foi a minha
melhor amiga e minha companheira de história. Que foi a primeira a me fazer admirar
o Serviço Social, assim como quem foi meu espelho para pensar que uma
Universidade Pública, para quem veio de escola pública, era sim possível. Obrigada
por todas as caronas durante a minha graduação e por ser a melhor amiga que eu
poderia conhecer, mana. Agradeço ao meu cunhado Ricardo, pelas inúmeras caronas
nas aulas noturnas, que nunca eram apenas caronas, era sempre momento de
partilha. Obrigada pela sensibilidade, pelos poemas e pelos conselhos, cunha.
Ao meu parceiro, Higor Filipe, pelo apoio em qualquer circunstância. Obrigada
pelo carinho, pelo cuidado e pelos inúmeros debates construtivos sobre as nossas
“visões de mundo”. Agradeço por estimular ainda mais o meu interesse pelo teatro e
por me mostrar que o “fazer teatral” vai muito além do palco. Por não medir esforços
por mim e, sobretudo, por me presentear com o melhor que eu poderia receber: o
nosso filho. Obrigada por acreditar na nossa família.
Agradeço ao (a) bebê, por ter sido um dos motivos pelos quais eu encontrei
forças para não postergar este trabalho de conclusão de curso e por me deixar tão
feliz, mesmo que cheia de sono, azia e oscilações de humor. Um dia você verá isso
filho (a) e eu quero que você saiba que você sempre foi combustível para a mamãe
melhorar.
Agradeço à maravilhosa Mikaelle Tavares, por ser uma grande amiga e
companheira desde o primeiro dia dessa árdua jornada. Com você os trabalhos
ficaram mais leves e as manhãs muito mais divertidas! Obrigada por ir muito além da
universidade e por me amar por aquilo que eu posso ser. Obrigada por todo apoio e
por compartilhar comigo a sua admirável história. Muito nos aguarda!
Às queridas Lara Limberger e a Tarsila Borges, pela amizade e
companheirismo nessa trajetória. E por se aproximarem ainda mais de mim no
momento em que mais precisei de apoio. Ter vocês como companheiras foi
imprescindível nesse caminho, seja pra um banho de cachoeira ou para uma noite de
afeto. Obrigada por tudo, quero muito vocês por perto nessa nossa nova fase.
À grande amiga Renata Café, que dividiu comigo não só os trabalhos
acadêmicos, mas as festas, os almoços, os cafés rápidos e que, principalmente nos
últimos semestres, se tornou alguém muito importante para minha vida inteira. A
primeira companheira a se formar. Obrigada pela amizade.
Às queridas amigas de vida, Bruna Stefani e Lorenna Rocha, por sempre
lançarem palavras de força e conforto, por se alegrarem com as minhas vitórias e por
darem força na hora do caos. Eu amo vocês e admiro de uma forma inexplicável suas
histórias.
À Lara Rodrigues por ter voltado pra minha vida no final da graduação e por
fazer parte desse período intenso que é o tcc. Obrigada por ser companheira.
Agradeço aos meus avós, por suas histórias de luta e superação que me
espelham: vó Emília, vô Pedro e vó Lindaura. Ao meu avô José Vicente, que lutou e
conquistou sua terra através do MTST. O senhor me orgulha e, pensando em ti, eu
nunca me conformarei com as injustiças do mundo. Quando conseguiu a sua terra, o
senhor já não tinha mais saúde para trabalhar nela. Obrigada por sua trajetória inteira.
À Emília e ao Jesse, por me lembrarem sempre do amor de Deus e por serem
amigos pra todas as horas. À Camila, pelos pratos de comida e por me ouvir sempre
que preciso. Aqui reservo para agradecer aos queridos familiares amigos que torcem
por mim e apoiam as minhas conquistas. Obrigada a todas as tias e tios que olharam
por nós em momentos difíceis. Todos, em especial.
Ao Dr. Denis Furtado, por me ajudar a retomar a minha vida quando eu já não
tinha mais saúde. Obrigada! O tratamento ortomolecular foi imprescindível para que
eu retomasse a minha graduação e tivesse forças para escrever este trabalho.
Aos excelentes profissionais do setor psicossocial do MP de samambaia: Ana
Luiza, Paulena, Doni e Katharina. Obrigada por terem tornado esse período muito
mais leve e divertido! Ao departamento de Serviço Social, em especial à incrível
professora Priscilla Maia, a que tenho muito carinho e a professora Lúcia Lopes, a eu
tenho imensa admiração.
À minha querida orientadora, Kênia Figueiredo, pelas considerações, por tirar
as dúvidas e por confiar nas minhas ideias. Sobretudo por aceitar de braços abertos
o tema proposto. Fiquei muito feliz por encontrar no departamento de Serviço Social
uma professora que se preocupa com a comunicação e com a cultura. Me fez sentir
menos só.
À Valdenizia Peixoto e ao Rafael Tursi, por aceitarem prontamente compor a
minha banca examinadora.
Ao Boal e a todos os que lutaram e lutam para a transformação social. Enfim,
obrigada a todos os que fizeram parte dessa história.
“Numa sociedade em decadência, a arte, para ser
verdadeira, precisa refletir também a decadência. Mas, ao
menos que ela queira ser infiel à sua função social, a arte
precisa mostrar o mundo como passível de ser mudado. E
ajudar a mudá-lo.” Ernst Fischer
RESUMO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 70
7
INTRODUÇÃO
1 Este conceito será abordado no capítulo 3.1 deste trabalho, cabendo adiantar que os projetos
profissionais representam a autoimagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam
socialmente, seus objetivos e funções. Formulam requisitos e normas de comportamento para o seu
exercício. Representa o “dever ser” da profissão.
2 Este conceito será abordado no capítulo 3.1 deste trabalho. Porém, cabe adiantar que “o Movimento
de Reconceituação do Serviço Social – emergido na metade dos anos 1960 e prolongando-se por
uma década – foi, na sua especificidade, um fenômeno tipicamente latino-americano. Dominado pela
contestação ao tradicionalismo profissional, implicou um questionamento global da profissão: de seus
fundamentos ídeo-teóricos, de suas raízes sociopolíticas, da direção social da prática profissional e
de seu modus operandi”. (IAMAMOTO, 2006, p. 206)
10
Aqui o trabalho se volta contra o seu criador, quem produz riqueza colhe
miséria. Sem saber, você, na fábrica, produziu a sua pobreza. Se
anteriormente dissemos que o trabalho promove as relações entre as
pessoas, que a produção insere o indivíduo na história, que o homem se
hominiza pelo que faz, aqui ocorre o inverso: o trabalho impede as relações
entre as pessoas, rouba do homem o seu destino, usurpa o que temos de
humano. (CODO, 1985, p. 18-19).
ser social. Não se percebe como membro da espécie e como parte de uma
comunidade, passando a trabalhar e viver pela sua própria individualidade, como um
meio de garantir apenas a sua própria existência física.
Faz-se importante frisar que, apesar da importância de tal conceito para a área,
não há consenso acerca do mesmo pelos autores do Serviço Social, havendo autores
que defendem uma “nova questão social” e outros que defendem a permanência da
“velha questão social” sob novas roupagens, que somente criou novas expressões,
acompanhando a intensificação do capitalismo. Para estes, a questão social na
16
o assistente social atua como organizador e dirigente político. De acordo com Abreu
(2008, p. 51):
Porém, identifica-se que esse perfil, a partir dos anos 90, rompe com o Serviço
Social Tradicional, refletindo posicionamento mais crítico acerca da necessidade de
reorganização da cultura e do papel dos assistentes sociais nesse processo. Há o
avanço da construção de um projeto profissional comprometido com a emancipação
da classe trabalhadora, refletindo a negação da cultura dominante e o desejo de
construir uma nova cultura pelos trabalhadores. De acordo com Abreu (2008, p. 36):
Porém, isso não significa que a profissão se conforme com essa condição,
como sendo determinista à sua atuação. Assim como a profissão se reformula em um
movimento dialético, passando por diversas transformações ao longo da história, a
capacidade pedagógica também se consolida nesse mesmo processo. O movimento
de reconceituação da profissão e o projeto ético-político dão base para uma prática
mais crítica, que atue de forma a pensar a emancipação da classe trabalhadora em
sua prática, mesmo que a profissão ainda esteja inserida nos movimentos
contraditórios aos quais são próprios da socialização capitalista. Isso se dá pelo fato
de que nenhuma ideologia tem o inteiro poder de domínio, havendo sempre a disputa
ideológica, inserida no contexto de correlação de forças, que abre possibilidades para
que o educador incentive uma nova educação. Conforme Conceição (2010, p. 52):
“eu” no coletivo. “A arte é o meio indispensável para essa união do indivíduo como o
Nos alvores da humanidade, a arte pouco tinha a ver com a “beleza” e nada
tinha a ver com a contemplação estética, com o desfrute estético: era um
instrumento mágico, uma arma da coletividade humana em sua luta pela
sobrevivência.
[...] As agitadas danças tribais que precediam uma caçada realmente
aumentavam o sentido do poderio da tribo; a pintura guerreira e os gritos de
guerra realmente tornavam o combatente mais resoluto e mais apto para
atemorizar o inimigo. As pinturas de animais nas cavernas realmente
ajudavam a dar ao caçador um sentido de segurança e superioridade sobre
a presa. As cerimônias religiosas, com suas convenções estritas, realmente
ajudavam a instilar a experiência social em cada membro da tribo e a tornar
cada indivíduo parte do corpo coletivo. O homem, aquela fraca criatura que
se defrontava com uma natureza perigosa e incompreensivelmente
aterradora, era muitíssimo ajudado em seu desenvolvimento pela magia
(FISCHER, 1981, p. 45-46).
A arte não era uma produção individual e sim coletiva, se bem que as
primeiras características da individualidade tenham começado a tentar
manifestar-se nos feiticeiros. A sociedade primitiva implicava uma forma
densa e fechada de coletivismo. Nada era mais terrível do que ser excluído
da coletividade e ficar sozinho. A separação do indivíduo em relação ao grupo
ou à tribo significava a morte: o coletivo significava a vida e o conteúdo da
vida. A arte, em todas as suas formas - a linguagem, a dança, os cantos
rítmicos, as cerimônias mágicas - era a atividade social par excellence,
comum a todos e elevando a todos os homens acima da natureza, do mundo
animal. A arte nunca perdeu inteiramente esse caráter coletivo, mesmo muito
depois da quebra da comunidade primitiva e da sua substituição por uma
sociedade dividida em classes. (FISCHER, 1981, p. 47).
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A arte, dessa forma, não é uma mera descrição cíclica do mundo real, ela é
crítica, propicia a identificação da individualidade com o coletivo, de conseguir
enxergar aquilo que o ser não é, mas pode vir a ser… com o papel de ajudar o homem
a não só reconhecer-se, mas a pensar e transformar a realidade social ao qual está
inserido. “Sua função concerne sempre ao homem total, capacita o “Eu” a identificar-
se com a vida de outros, capacita-o a incorporar a si aquilo que ele não é, mas tem
possibilidade de ser.” (FISCHER,1981, p. 19).
Com o início da sociedade de classes, da divisão do trabalho, do aparecimento
da propriedade privada e do Estado, a sociedade e a arte sofrem alterações em seu
papel. Agora o trabalho já não era mais de relação com a natureza e, à medida que
os homens vão se apartando da natureza e deixando de ser uno com ela, trazendo
cada vez mais a individualidade para o seu modo de agir e pensar, menos harmonia
os homens encontram, menos reconhecem a si mesmos.
A arte, então, foi recrutada para exercer outro papel para cada classe: dar voz
aos seus próprios interesses particulares. Por um lado, uma arte que perpetua e
glorifica a manutenção da classe dominante, por outro, uma arte que ecoa os
interesses de justiça e manifestações contra a nova sociedade centralizada na
propriedade privada e na fragmentação.
A arte no capitalismo, quando o mesmo percebeu que ela poderia trazer lucros,
se desenvolve enquanto mercadoria e, o artista, enquanto produtor de tais
mercadorias. As relações humanas diretas e a coletividade perderam completamente
o espaço para uma sociedade alienada de si e da realidade social. Aqui, a então obra
de arte que antes era desenvolvida consciente e racionalmente pelo artista e
reconhecida ao final como resultado dominado, agora exerce função contrária: sua
obra, na sociedade capitalista, subordina-se às leis do mercado e da competição, ou
seja, domina-o.
Só a arte pode fazer todas essas coisas. A arte pode elevar o homem de um
estado de fragmentação a um estado de ser íntegro, total. A arte capacita o
homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la como a
transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torná-la mais humana e
mais hospitaleira para a humanidade. A arte, ela própria, é uma realidade
social. A sociedade precisa do artista, este supremo feiticeiro, e tem o direito
de pedir-lhe que ele seja consciente de sua função social. (FISCHER, 1981,
p. 57).
35
No subtópico seguinte serão abordados três eixos, que seriam os tipos de arte
que coexistem nas contradições da sociedade capitalista conforme Canclini (1984).
Tomamos como importante a abordagem desses três eixos para analisarmos as
características de cada arte e qual delas atua em um sentido político mais crítico, de
forma a contribuir com a emancipação da classe trabalhadora.
A arte para as massas é produzida pela burguesia ou por alguém que esteja ao
serviço dela, para o grande público. Há dois objetivos: ideológico e econômico. Aqui
se objetiva a disseminação da ideologia burguesa e seu controle sobre o proletariado,
com temas de fácil acesso pelas massas. E objetiva-se o lucro aos donos difusores
desse tipo de arte. Sua ênfase é na distribuição da arte como produto, não se
importando com a qualidade da mesma.
[...] A arte popular, produzida pela classe trabalhadora ou por artistas que
representam seus interesses e objetivos, põe toda a sua tônica no consumo
não mercantil, na utilidade prazerosa e produtiva dos objetos que cria, não
em sua originalidade ou no lucro que resulte da venda; [...] (CANCLINI, 1984,
p. 49).
Voltou para o Brasil em 1955, para ser diretor no Teatro Arena, em São Paulo.
O Arena era um espaço pequeno, porém, um espaço para se fazer grandes
revoluções estéticas. Em meio à escassez de recursos, a criatividade dos artistas foi
e é essencial para fazer essa limitação se tornar um estímulo para protagonizar
transformações. Boal (2000, p. 139) conta que:
4 Augusto Boal faleceu em 2 de maio de 2009, aos 78 anos, por insuficiência respiratória. O diretor
teatral faleceu no Rio de Janeiro, onde trabalhou no Centro do Teatro do Oprimido até a data de sua
morte.
40
Com desejo e arte, falta de meios pode ser estímulo. Em nossos países
escravizados estamos condenados à criatividade!
O TO é uma Árvore Estética: tem raízes, tronco, galhos e copas. Suas raízes
estão cravadas na fértil terra da Ética e da Solidariedade, que são sua seiva
e fator primeiro para a invenção de sociedades não opressivas. Nessa terra
coexistem o remanescente instinto predatório animal e o avanço humanístico.
Na terra, vemos a miséria do mundo; nas copas, o sol da manhã.
42
Fonte: Fotografia tirada do livro “Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas” (BOAL, 2011, p. 16)
6 Boal entende que os participantes do teatro do oprimido nunca são apenas espectadores. São, ao
mesmo tempo, espectadores e atores.
44
Neste último capítulo, objetivamos fazer uma articulação entre os tópicos que
já foram abordados separadamente nos capítulos anteriores. Após entendermos o que
o trabalho alienado provoca e outras consequências da sociedade capitalista, a função
pedagógica do assistente social e o que o Teatro do Oprimido propõe, podemos refletir
acerca da aproximação entre a prática profissional dos assistentes sociais e o método
teatral de Augusto Boal, quais os limites e possibilidades desse encontro.
Vimos anteriormente que tanto a função pedagógica da profissão quanto a
função social da arte carregam a possibilidade de ter um caráter de transformação
social e superação da hegemonia vigente ou de cooperação para a manutenção do
status quo. Aqui refletiremos acerca do posicionamento crítico da categoria no viés de
transformação da sociedade e quais foram os movimentos internos à profissão que
cooperaram para que sua prática seja voltada ao interesse da emancipação da classe
trabalhadora. Além disso, e como intenção principal, buscaremos relacionar as
afinidades entre o Serviço Social e o Teatro do Oprimido. Ambos vivenciaram o crítico
período da ditadura militar brasileira e, estando inseridos nesse contexto, lutaram pela
transformação dentro do espaço ao qual estavam inseridos e encontraram no
marxismo uma possibilidade de atuar de forma crítica em prol da classe trabalhadora
e dos oprimidos, buscando a sua real emancipação e acreditando que a prática
profissional crítica deve contribuir para a consciência de classes e para a
transformação social.
Aqui perceberemos que o projeto ético-político da profissão nos possibilita
afirmar que os princípios profissionais contribuem para prática profissional que atue
na defesa da classe trabalhadora. A mesma coopera para a tomada de consciência
das opressões que os sujeitos vivem, portanto, a função pedagógica atrelada à arte
tende a direcionar-se no sentido de transformação social e luta contra hegemônica.
Tal projeto ético-político crítico se desenvolveu ao longo da história e se consolidou
através do movimento de reconceituação da profissão - momento em que o Serviço
Social se apropriou da concepção marxista como norteadora da prática profissional.
De acordo com Teixeira e Braz (2009, p. 11):
[...]O que se está a dizer é que nosso projeto é expressão das contradições
que particularizam a profissão e que seus princípios e valores - por escolhas
50
Ao contrário das anteriores, esta possui como substrato nuclear uma crítica
sistemática ao desempenho “tradicional” e aos seus suportes teóricos,
metodológicos e ideológicos. Com efeito, ela manifesta a pretensão de
romper com a herança teórico-metodológica do pensamento conservador (a
tradição positivista), quer com os seus paradigmas de intervenção social (o
reformismo conservador).
[...] Como tais alterações capitalistas só chegaram no Brasil a partir dos anos
1990, foi nesta década que passamos a sentir os impactos dessas estratégias
capitalistas. Contraditoriamente, foi nesta década que o projeto ético-político
se consolidou. Isto se deu por duas razões principais, intimamente
articuladas: primeiro, o processo de renovação do Serviço Social brasileiro,
que se abriu na virada dos anos 1970 para os anos 1980, teve
prosseguimentos nos meios profissionais - recorde-se que a profissão
consolida seus avanços teóricos (a produção de conhecimentos), intensifica
sua organização política (tocada pelo conjunto CFESS-CRESS e pela
ABEPSS) e reformula e atualiza seus estatutos legais (a dimensão jurídico-
política da profissão expressa na nova Lei de Regulamentação Profissional e
no novo Código de Ética, ambos de 1993); segundo, porque foi justamente
na virada da década de 1980 para a de 1990 que os movimentos sociais das
classes trabalhadoras brasileiras, ainda que resistindo à ofensiva do capital e
valendo-se dos avanços da década anterior, conseguiram galgar níveis de
organização e de mobilização que envolveram amplos segmentos da
sociedade, inclusive os assistentes sociais.
Aqui, trazemos alguns dos princípios contidos no Código de Ética que nos
mostram o compromisso dos assistentes sociais com ideais igualitários e libertários
pertencentes ao horizonte das lutas sociais dos trabalhadores. O artigo primeiro do
Código diz respeito ao Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das
demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos
55
indivíduos sociais. Tal princípio aponta a liberdade como valor ético central, sendo
essa liberdade diferente da liberdade presente no liberalismo, que se dá apenas na
perspectiva de “livre arbítrio” e de individualismo. Aqui a liberdade é entendida como
as alternativas para uma escolha, como condição para a igualdade, a realização de
liberdade de cada um requer a plena realização de todos. Tal conceito é um desafio
ao contexto do capitalismo, tendo em vista que o capitalismo, por si só, é um limitador
da liberdade.
O segundo princípio é o da Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa
do arbítrio e do autoritarismo. Já diz, por si só, acerca do compromisso dos assistentes
sociais na defesa dos direitos humanos e de sua posição contra qualquer tipo de
abuso de autoridade, torturas, violência doméstica e sua forte vinculação à luta em
favor dos direitos humanos.
O terceiro princípio é o da ampliação e consolidação da cidadania, considerada
tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e
políticos das classes trabalhadoras. O assistente social tem a particularidade de atuar
no espaço de viabilização de direitos e pensar na cidadania como proposta no Código
de Ética, consiste em pensar na universalização dos direitos sociais, políticos e civis,
que são essenciais para a plena realização da cidadania.
O princípio quarto é o da defesa do aprofundamento da democracia, enquanto
socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida. Este está
intimamente ligado à defesa da cidadania, a concepção de democracia preconizada
pela categoria entende a necessidade de socialização da riqueza e a distribuição de
renda.
O quinto princípio é o do posicionamento em favor da equidade e justiça social,
que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas
e políticas sociais, bem como sua gestão democrática. É necessário, portanto, que o
acesso aos programas e políticas sociais sejam garantidos de forma universal e que
todos sejam tratados de forma equânime.
O sexto princípio é o do empenho na eliminação de todas as formas de
preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos
socialmente discriminados e à discussão das diferenças. Se trata então do respeito
às diferenças e do combate ao preconceito, possibilitando o debate acerca das
diferenças para a superação de qualquer tipo de discriminação.
56
social [...]”. Tais alternativas precisam ser criativas para compreender os sujeitos que
vivenciam as múltiplas expressões da questão social e as particularidades inerentes
a cada uma. Ainda de acordo com Iamamoto (2006, p. 20):
Neste sentido, a arte se constitui como uma forma de expressão cultural, que
tem a capacidade de constituir o homem em sua totalidade, de tal modo que
ele desenvolva a capacidade de, como um humano não fragmentado, se
conectar com os outros homens, em busca da criação de uma consciência
não alienada, isto é, formando conceitos próprios, que dizem respeito à sua
realidade, assim como à sua individualidade como ser humano particular,
bem como a sua cultura, como ser social.
A arte tem a capacidade de fazer com que o indivíduo se torne um ser criador,
fazendo com que ele possa manifestar, através da obra artística, o seu eu
particular, possibilitando-lhe compreender os processos nos quais está
inserido, bem como lhe dá a possibilidade de transformar a natureza de modo
livre, à sua maneira.
Neste sentido, a arte exerce uma função social, dentro de uma sociedade
dominada pelos dogmas do capital, sendo a de mostrar a realidade social em
que os indivíduos estão inseridos, com o objetivo de desencadear
movimentos a favor de uma mudança social. (SCHERER, 2013, p. 74).
O próprio caráter alienante do trabalho pode ser percebido por meio do debate
teatral. Portanto, a dimensão pedagógica do assistente social encontra espaço para
debater acerca de diferentes temas de atuação, no sentido de proporcionar acesso a
informações relacionadas aos direitos dos usuários. A compreensão crítica do homem
é um elemento fundamental para que haja transformação social, sendo inviável que
exista articulação por mudanças sem que os sujeitos consigam se enxergar enquanto
sujeitos de direitos.
Conforme Scherer (2013, p. 63):
Além disso, é evidente que inserir a arte na prática profissional dos assistentes
sociais contribui na materialização do próprio projeto ético-político da profissão. Isso
se dá pelo fortalecimento da emancipação dos sujeitos através da mesma, objetivo
que consta na essência do projeto profissional. De acordo com Scherer (2013, p. 169):
CONSIDERAÇÕES FINAIS
arte. É preciso estar atento para que a arte aqui mencionada não seja, de forma
alguma, reduzida à mera dimensão de entretenimento e apreciação, tampouco à
prática terapêutica. Entendemos que discutir acerca do acesso da classe trabalhadora
aos diversos tipos de arte existentes é um tema interessante, sendo necessário uma
nova pesquisa acerca do tema. Aqui, abstemo-nos a nos aproximar da arte que
instiga, incentiva a criticidade e fornece informações para debate. Não falamos, em
nenhum momento, da arte pela arte. Esta exige função social condizente com os
princípios contidos no projeto ético-político dos assistentes sociais.
Entendemos, nesse sentido, que a aproximação do Serviço Social com o Teatro
do Oprimido se dá no viés da transformação, onde ambos tendem a se complementar
e agir no processo de tomada de consciência e suspensão da fragmentação dos
sujeitos, que os impossibilita de refletir e questionar acerca da realidade posta.
Percebemos que a união do Teatro do Oprimido com o Serviço Social se dá no sentido
de que ambos tendem a potencializar e tornar-se mais fortes quando unidos, posto
que o assistente social acessa diretamente a classe trabalhadora em sua intervenção
profissional.
Aqui objetivamos a aproximação ao método do Teatro do Oprimido como um
recurso para os assistentes sociais, buscando a reflexão teórica acerca das
alternativas existentes para a intervenção profissional. Portanto, entendemos que
acerca de aspectos relacionados às questões empíricas de como efetivar tais
intervenções na prática profissional sejam mais pertinentes para uma outra
oportunidade de reflexão, em que haja pesquisa acerca dos profissionais que já
utilizem o método como um recurso em seu dia-a-dia.
Além disso, foi possível perceber a escassa quantidade de produções
relacionadas ao Teatro do Oprimido e ao uso da arte na prática profissional do
assistente social. Isso trouxe dificuldades para a execução da pesquisa e reforçou a
importância da mesma no sentido de contribuir na ampliação do debate. Nesse
sentido, questionamo-nos ainda mais profundamente acerca da fragilidade posta em
relação ao tema pelos cursos de graduação em Serviço Social, posto que a
consciência social e a reflexão crítica são necessárias e essenciais para a superação
da hegemonia dominante.
Importante ressaltarmos o entendimento acerca do contexto atual que o país
tem vivenciado, com o desmonte dos direitos conquistados com muita luta pelos
69
REFERÊNCIAS
BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas. 11. ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no
Brasil pós-64. 17. Ed. São Paulo: Cortez, 2015.
PAIVA, B.A; SALES, M.A. A nova ética profissional: práxis e princípios. In: BONETTI,
Dilsea Adeodata et al. Serviço Social e ética: convite a uma nova práxis. 10. ed.
São Paulo: Cortez, 2009. p. 174-208