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OS

CAMINHOS
DA
EDUCAÇÃO
Marcus
De Mario
Marcus De Mario

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Você está com o Ebook Os Caminhos da Educação, de Marcus De Mario, publicação


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gratuitos de formação e capacitação de educadores que o Instituto desenvolve.
Respeite a lei. Somente assim teremos um mundo melhor.

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Os Caminhos da Educação

Marcus De Mario

Os Caminhos da Educação

Com base nos artigos publicados no site do IBEM

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Marcus De Mario

Os Caminhos da Educação
Marcus De Mario
1ª edição: junho de 2009
Edição eletrônica no formato Ebook

Capa e Diagramação:
O Autor
.
Marcus De Mario
Rua Panamá, 40 fundos
Rio de Janeiro, RJ, CEP 21020-310
Tel. (21)3381-1429
www.marcusdemario.com.br
marcusdemario@gmail.com

O autor cedeu parte dos direitos autorais para o Instituto Brasileiro de Educação Moral.

Todos os direitos de reprodução, cópia, comunicação ao público e exploração econômica


desta obra estão reservados única e exclusivamente para o Autor. Proibida a reprodução
parcial ou total da mesma, através de qualquer forma, meio ou processo, sem a prévia e
expressa autorização do Autor, nos termos da legislação em vigor sobre direitos de autor
e conexos.

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Os Caminhos da Educação

Índice

Introdução – pág. 06
1. A violência nas escolas – pág. 07
2. Sentir e crescer – pág. 8
3. É assim que se educa – pág. 10
4. Professor, você está se educando? – pág. 12
5. O professor e sua conduta – pág. 14
6. A educação moral e a pedagogia da sensibilidade – pág. 16
7. Orientação para a liberdade – pág. 18
8 – Onde tudo tem início – pág. 20
9 – Nós somos – pág. 22
10 – Não aguento mais ser professor – pág. 23
11 – Como educar meu aluno – pág. 25
12 – Ensinar e educar – pág. 27
13 – Até quando? – pág. 29
14 – Como é bom educar! – pág. 30
15 – Para que serve a escola? – pág. 32
16 – O mundo das crianças – pág. 34
17 – A educação moral com o jovens – pág. 36
18 – Espiritualidade na educação – pág. 38
19 – Transcendência e educação – pág. 40
20 – Responsabilidade emocional – pág. 42
21 – A violência na escola e a verdadeira educação – pág. 44
22 – Lugar de ensinar ou educar? – pág. 46
23 – Os caminhos da educação – pág. 48
24 – Mudar a educação para mudar a sociedade – pág. 50
25 – Vamos ouvir os pássaros – pág. 52
26 – A família também educa – pág. 54
27 – Conhecendo a si mesmo – pág. 56
28 – Como se educa quem deve educar – pág. 57
29 – A educação – pág. 59
30 – O encanto do amor – pág. 61
31 – Do que necessitamos para educar – pág. 63
32 – Se você educar com amor – pág. 65
33 – O salário e a qualidade – pág. 67
34 – Direitos humanos – pág. 69
Sobre o autor – pág. 71

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Marcus De Mario

Introdução

Olhei para meus artigos, escritos continuamente por vários anos, e eis que,
escolhidos, revisados e, alguns, reescritos, aglutinados formam este livro Os Caminhos
da Educação. Antes de ser uma coletânea de escritos esparsos, é uma obra em defesa
da educação moral e do amor no ato de ensinar.
Cada capítulo – formado a partir do que escrevi e o IBEM (Instituto Brasileiro de
Educação Moral) publicou em seu site na Internet – deve provocar no leitor reflexão e
angústia, medo e sonhos.
Reflexão, porque para educar é preciso pensar.
Angústia, porque educar solicita muito trabalho.
Medo, porque nem sempre o que se está fazendo é o melhor.
Sonhos, porque os caminhos para a educação são possíveis.
Meu convite é para você trabalhar com dedicação e esperança, para ser visto
pelas crianças – e também pelos jovens – como educador do amor, aquele que acredita,
faz e renova.
Saboreie cada página. Sinta cada frase. Emocione-se com cada palavra.
Você pode ser um educador muito especial, e para facilitar seu trabalho é que
oferto os caminhos da educação, da educação que forma o caráter, sensibiliza o coração
e transforma o mundo.

Marcus De Mario

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Os Caminhos da Educação

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A violência nas escolas

Não é só o Brasil que sofre com a violência nas escolas, fenômeno que não é
exclusividade dos países pobres ou em desenvolvimento, mas também presente em
países como os Estados Unidos, a Inglaterra e a Alemanha, todas elas consideradas
nações desenvolvidas, fazendo parte do seleto grupo dos países mais ricos do mundo.
Na Inglaterra os professores se sentem ameaçados por armas de fogo dentro da
escola, e na Alemanha o índice de ataque contra professores dobrou em apenas dez
anos.
Esses dois países sugerem algumas medidas: colocação de detectores de metais
nos portões de entrada; instalação de circuito interno de câmeras de vídeo; realização de
exames aleatórios para detectar o uso de drogas; pressão sobre os pais de alunos
problemáticos; vigilância policial externa. Perguntamos: atacando os efeitos através de
medidas de segurança pública conseguiremos resolver a questão da violência dentro das
escolas?
Os professores alegam que o problema está na família, que a maioria dos pais
não sabe educar seus filhos. Temos que concordar ser a família uma das causas, com
gravíssimos problemas quando se trata de dar bons exemplos, colocar limites, exigir
responsabilidades, interagir com a escola, etc., entretanto, colocar toda a culpa na família
é um exagero, pois a própria escola, quando não realiza sua missão de educar o ser
total, ficando apenas no preparo intelectual dos alunos, também tem sua parcela de
culpa.
E é culpada a sociedade quando mantém leis injustas que privilegiam
determinados setores em prejuízo de outros. Quando não promove, através dos meios
educacionais, valores de vida profundos e enobrecidos. Quando não dá importância ao
desenvolvimento do senso moral das pessoas, tudo se complica.
A solução da violência nas escolas - que é de médio e longo prazo - só
acontecerá quando formos na causa. Enquanto considerarmos que a educação é
questão de segurança pública, e não de formação das consciências, continuaremos a
assistir esse doloroso quadro.
Precisamos com urgência rever nossos valores na educação e também o que
estamos fazendo no sistema de ensino. A escola é lugar do amor pedagógico, e não da
polícia.

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Marcus De Mario

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Sentir e crescer

Há uma onda científica invadindo a educação, com os educadores procurando


respaldar suas opiniões com estatísticas e resultados de pesquisas, preferencialmente
realizadas por institutos acadêmicos de nível superior. É moda citar a pesquisa da
Universidade tal e qual, o trabalho desenvolvido em laboratório pelo doutor tal. E assim
nossa educação torna-se cada vez mais "científica", respaldada pelo mapeamento das
regiões cerebrais, pelos estudos do comportamento e assim por diante. Todo mundo faz
pesquisa e todo mundo teoriza através dos resultados das pesquisas. É uma onda
gigante onde poucos conseguem nadar a contento e salvar-se, salvando também a
educação.
Os educadores, e também os pesquisadores e cientistas, precisam compreender
que a educação do ser é uma arte, e essa arte não está instalada em alguma função
neuronal, até porque mapear o cérebro e suas reações a estímulos é estudar os efeitos e
não as causas.
A ciência tem sua importância, mas daí a querer que todo pensamento
educacional e toda ação educativa tenha rigorosos padrões científicos, que são
essencialmente quantitativos, é extrapolar do fundamento maior da educação que é o
amor. Para amar aquele a quem se educa e ver os maravilhosos resultados da aplicação
desse sentimento maior, não é necessário cientificar, é necessário amar o que se faz e
acreditar no que se faz.
Quando encontramos uma professora do ensino fundamental contar histórias de
sua luta pelo crescimento dos seus alunos, e vemos seus olhos brilharem, e seu corpo
todo tremer de emoção relembrando cenas de puro amor pela educação, onde consegue
vencer tendências negativas das crianças e dos pais, não há como também não se
emocionar e reconhecer os prodígios que o amor pode realizar.
Só se aprende a amar amando, e isso é tão verdadeiro que a experiência em sala
de aula demonstra que só não ama aquele que não se deixa sensibilizar por esse
sentimento. A frieza e indiferença de muitos professores é responsável por muitas falhas
da educação e por muitos fracassos do sistema de ensino.
Podemos muito bem iniciar uma aula com música para relaxar e meditar, ou com
um poema para motivar as fibras íntimas da alma, ou com uma dramatização sobre
questões da vida para fazer pensar. Podemos dar uma aula dialogando, colocando os
alunos em círculo e promovendo debate, ou distribuindo-os em pequenos grupos de

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Os Caminhos da Educação

trabalho. Com criatividade, flexibilidade e afetividade podemos mudar todo o ambiente e


as relações dentro da sala de aula.
Quando o aluno sente que é amado, aí ele cresce. É como a planta que é
adubada, aparada e regada, e dá generosamente seus frutos, suas flores.
Precisamos dizer a eles sobre nossa satisfação de estar em sala de aula, sobre
nossa alegria de participar com eles do processo de aprendizagem, sobre nosso amor
pela educação e sobre nossa crença neles mesmos. E caminhar com eles derrubando
rótulos, estereótipos e preconceitos que vivem no coração de muitos professores.
Como lembrou uma professora em sentido depoimento, se tivéssemos mais amor
ao que fazemos teríamos muito mais histórias bonitas para contar do que reclamações
para fazer.

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Marcus De Mario

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É assim que se educa

Podemos alinhar, de forma resumida, alguns mandamentos para uma boa


educação dos filhos, que os pais podem, e devem, colocar em prática no dia a dia:
1. Dialogar - sempre manter conversações amistosas, sabendo ouvir,
demonstrando assim bom nível de amizade, de compreensão e de procura da melhor
solução para as dificuldades naturais de convivência.
2. Amar - sempre demonstrar afeto, preocupação, mas sem exagero,
demonstrando e verbalizando o amor.
3. Não Bater - pois a violência não é boa conselheira e normalmente termina em
revide.
4. Dar Limites - mostrando que nem tudo pode ser feito e do jeito que se quer, já
que o respeito ao próximo é fundamental para a paz doméstica.
5. Dividir Tarefas - dando responsabilidade e criando o bom hábito da cooperação.
6. Sensibilizar - despertando as fibras íntimas da alma e assim combatendo o
egoísmo e a indiferença.
7. Disciplinar - utilizando a autoridade moral para dar organização ao ambiente
doméstico.
8. Conviver - estar presente para as brincadeiras, para as perguntas, para os
passeios, pois a presença é muito importante para o bom desenvolvimento afetivo.
9. Exemplificar - evitar exigir comportamentos sem dar o próprio exemplo, que é a
maior força da educação.
10. Libertar - respeitar a individualidade do filho, mas ensinando que para cada
direito existe um dever, para cada liberdade existe uma responsabilidade.
São mandamentos que, aplicados, facilitam o processo de educação moral dos
filhos, desenvolvendo indivíduos mais sadios, com boa formação do caráter, tendendo a
ser cidadãos mais éticos, mais conscientes do valor da vida.
Esses mandamentos devem ser aplicados desde antes o nascimento, pois já na
barriga da mãe o filho revela, conforme pesquisas científicas, reações aos estímulos que
recebe.
É bom lembrar uma história muito contada: uma mãe aproximou-se de um
professor e perguntou: "quando devo iniciar a educação do meu filho?", ao que o
professor perguntou: "quantos anos ele tem?", sendo informado pela mãe: "três anos".
Respondeu o professor: "então a senhora já perdeu três anos".

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Os Caminhos da Educação

Toda criança é educável, todo adolescente é reeducável, todo jovem pode ser
sensibilizado para sua transformação, mas não resta dúvida que se a criança recebe a
educação moral necessária, nem o adolescente necessitará ser reeducado, nem o jovem
necessitará ser sensibilizado.

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Marcus De Mario

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Professor, você está se educando?

É muito interessante participar de uma reunião entre professores na escola, como,


por exemplo, reuniões promovidas pela coordenação pedagógica. Normalmente as
conversas giram em torno dos alunos, dois pais, das matérias curriculares e outros
assuntos, menos sobre a educação de si mesmo, ou a autoeducação, como se
professores não necessitassem realizar essa tarefa. Interessante porque o
autoconhecimento e a autoeducação são prioridades na educação.
Reclamam muito, os professores, do comportamento dos alunos, da falta de
respeito dos mesmos, da falta de limites, enumerando diversas queixas, mas nem
sempre os professores olham para si mesmos, pois eles mesmos são, muitas vezes,
causadores de problemas na escola pelos seus maus exemplos, pela sua indiferença,
pela burocratização dos serviços, fazendo com que os alunos não os respeitem e nem à
escola.
Já presenciamos e também ouvimos relatos, sobre professores que gritam,
xingam, estão sempre de mau humor, não possuem boa didática, são exigentes em
demasia, discursam contra as drogas e fumam na sala dos professores, e assim por
diante. O exemplo tem a força de arrastar, de convencer, bem maior que as palavras,
mas parece que nem todo professor se dá conta disso, ou mesmo se preocupa com isso.
Certa vez presenciei uma professora da educação infantil, após entregar as crianças para
as mães, caminhar para a secretaria da escola e desabafar em alta voz: "Ufa! Finalmente
me livrei desses pestinhas!". E para não ter problemas com os alunos, para não se
estressar, outra professora explicou sua receita: "Não me estresso, entro na sala de aula,
dou o conteúdo da minha matéria e saio, é problema deles se querem estudar ou não".
Enquanto os professores não se conscientizarem da sua responsabilidade como
educadores, e que para realizarem bem sua tarefa precisam se educar, precisam dar
bons exemplos, o sistema de ensino continuará vivendo dias amargos.
Fácil é querer a transformação do outro, fácil é transferir responsabilidades para
os pais ou para o governo, mas não é fazendo transferência de responsabilidades que os
professores vão melhorar a educação, se no dia a dia da escola continuam a não se
posicionar como educadores, teimando em ficar apenas na posição de passadores de
conteúdos curriculares.
Diante disso cabe a pergunta: Você está se educando? Você está fazendo esforço
para melhorar suas tendências? Controla a boca para falar menos dos outros? Acredita
no que faz na escola? Observa suas atitudes tentando fazer sempre o melhor? Coopera

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Os Caminhos da Educação

com o grupo sem fazer alarde e apontar as falhas dos colegas? Esforça-se por dar aulas
com dinamismo e amor?
Professor, procure responder com sinceridade essas perguntas para realizar uma
autoavaliação, e não caia na tentação de se autodesculpar com frases do tipo : "não
adianta, os alunos não querem saber de nada", "é perda de tempo, não temos a
colaboração dos pais", "se pelo menos pagassem um salário melhor". Essas frases são
como fogos de artifício, o efeito é passageiro e depois tudo continua na mesma.
Educar-se para poder melhor educar é a chave para os professores terem menos
queixas e mais histórias felizes para contar.
Pensemos, eu, você, todos nós, sobre isso e, depois de pensar, vamos começar a
nos preocupar com a questão e dar início ao nosso processo de autoeducação?

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O professor e sua conduta

No dia a dia da escola, diante dos desafios da vida que invadem a sala de aula,
principalmente com relação aos temas como sexualidade, luto, morte, separação, drogas,
violência doméstica é possível detectar cinco posturas comuns ao professor do ensino
fundamental e médio (e também do ensino superior):
Tentar ignorar os problemas
Diante de questões como drogas, sexualidade, violência e outras, a tendência do
professor é ignorar o assunto em sala de aula, ou aplicar um bom sermão para calar
qualquer tentativa de abordagem do mesmo, como se isso resolvesse os dramas e
indagações dos alunos.
Dizer que não foi preparado para lidar com isso
Embora reconheça a importância das questões apresentadas pelos alunos,
declara não ter conhecimento nem preparo pedagógico específico para tratar do tema, e
muitas vezes empurra a questão para a coordenação ou a direção da escola.
Fingir que está diante do quadro apenas para passar os conteúdos
Postura comum de grande parte dos professores, entrando e saindo da sala de
aula com um planejamento fechado, como se dar aula fosse sinônimo de escrever e
apagar, ditar lições e corrigir exercícios, muitas vezes fazendo com que os alunos
"gastem" o tempo da aula apenas copiando matéria.
Alegar que não ganha para encarar essas questões
Comum, mas irresponsável essa atitude. Nenhum profissional pode se eximir de
dar tudo de si no trabalho que exerce, e o professor não é diferente, mesmo porque a
formação intelectual e moral do futuro cidadão está em suas mãos. Como todo mundo
sabe que o salário de professor é baixo, e nem por isso deixa de procurar a profissão, o
argumento, por isso mesmo, também não é válido.
Repetir, ano a ano, as mesmas provas, testes, trabalhos, textos, exercícios
Por comodidade e facilidade o tempo passa e o trabalho se repete, de tal forma
que alunos de séries mais adiantadas explicam para aqueles das séries iniciais tudo o
que o professor vai fazer e dar em sala de aula. Essa atitude do professor é porta aberta
para a desatualização pedagógica e seu desligamento da realidade da vida.
O que fazer para mudar essas atitudes comuns do professorado? Propomos seja
trabalhado em grupos de estudo e cursos de capacitação os Princípios de Conduta do
Educador, que são os seguintes:
1. Afeto - Desenvolver o sentimento de simpatia e afeição dos educandos.

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Os Caminhos da Educação

2. Ajuda - Satisfazer todas as necessidades de cada dia dos educandos.


3. Amor - Imprimir nos corações dos educandos esse sentimento através do
incessante contato.
4. Bondade - Utilizar de calma e paciência na solução dos problemas.
5. Estímulo - Desenvolver nos educandos as habilidades e raciocínios que os
capacitem a fazer uso eficiente e constante deles em todas as relações e circunstâncias.
6. Natureza - Estudar as questões do bem e do mal, fazendo com que os
educandos se posicionem e se preparem com fatos reais como base para suas
concepções de estética e arte, justiça e vida moral.
7. Convicção - Crer no que faz, acreditar no processo da educação moral e
comunicar isso ao educando através do entusiasmo e da perseverança.
Esses sete princípios fazem parte do Projeto Educação Moral e Formação do
Homem do Instituto Brasileiro de Educação Moral (IBEM), e exigem uma mudança de
postura do professor, passando de transmissor de conhecimentos para construtor de
consciências.
Ignorar os temas da vida ou passar ao largo dos mesmos, implica em criar vazios
no processo de educação, que fatalmente farão falta para o pleno desenvolvimento
intelectual e moral do educando.
É urgente o trabalho de estímulo ao pensar, ou seja, fazer com que o educando
pense sobre si mesmo, a vida e a construção da sociedade, para que possa identificar-se
plenamente consigo mesmo, com o próximo e com a natureza.
Propomos, portanto, um trabalho pedagógico amplo, total e feito com amor e não
mero profissionalismo, e nem mesmo com discursos retirados de estudos e leituras de
livros, mas sim pela prática transformadora de criar uma escola participativa e um ensino
desafiador, que identificamos como Escola do Sentimento.

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Marcus De Mario

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A educação moral e a pedagogia da sensibilidade

Quando deitamos o olhar sobre os quadros da vida humana, não podemos deixar
de admirar o quanto o homem ainda é prisioneiro dos mais variados vícios de ordem
moral e o quanto se debate nos meandros do conhecimento à procura de si mesmo e do
significado da vida. Nessa ânsia por respostas satisfatórias envereda por caminhos nem
sempre os melhores, e deixa-se cristalizar por uma insensibilidade diante dos outros que
estabelece cenas cotidianas de surpresas e amarguras. Mas há o retrato contrário,
quando os sentimentos afloram, quando as emoções equilibradas mobilizam o homem
para "ser" no mundo, e não apenas "ter" coisas no mundo.
"Ser no mundo", eis a meta a atingir!
Estabelecer critérios éticos de convivência e possuir uma visão ampla e profunda
de si mesmo e da vida, tanto na perspectiva filosófica, religiosa, psicológica, histórica,
antropológica, cultural, etc. em uma palavra, uma visão integral, constituem o conteúdo
de "ser no mundo". E não há instrumento mais valioso para isso do que a educação
moral. Isso porque a educação moral estimula no homem suas potencialidades naturais;
dá-lhe direcionamento firme do caráter; equilibra o uso da inteligência com ações éticas
de benefício geral; coloca-o disposto afetivamente para viver com o outro; abre-lhe
perspectivas muito melhores de vida com a conseqüência do estabelecimento de uma
ordem geral justa e hu-mana. Trilhando o caminho da educação moral, o mais importante
não será "ter" o título acadêmico, mas "ser" útil a si mesmo e aos outros.
A educação moral, já preconizada por diversos educadores ao longo da história
humana, como Sócrates, Jesus, Agostinho, Comênio, Pestalozzi e outros, é o objeto de
aplicação da Pedagogia da Sensibilidade, a partir da visão integral do ser.
Acreditamos sinceramente no que escrevemos, porque sentimos profundamente o
que dizemos e as experiências demonstram o acerto dos princípios da Pedagogia da
Sensibilidade.
Escrevemos aos homens de coração sincero, aos homens de boa vontade, aos
professores que amam sua profissão, aos pais que zelam por seus filhos, a todos que
acreditam na educação como instrumento de construção do ser.
Pode parecer paradoxal acreditarmos na educação moral quando tanto se
defende a educação pelo conhecimento, mas é que temos a nosso favor os fatos
históricos, e contra os fatos não há argumento possível. Os que defendem a educação
através do conhecimento são conteudistas, com visão exclusiva no acúmulo de
informações apreendidas. Metrificam a cultura, dão-lhe valor exagerado e classificam o

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Os Caminhos da Educação

homem pelo resultado da soma de seus diplomas. E que importa se ele utiliza o
conhecimento para esmagar os outros? Para projetar artefatos bélicos de eliminação da
vida? Para manipular a economia em favor de si mesmo ou de grupos minoritários? Que
são dos doutores da cultura de todos os tempos, que preencheram laudas sobre laudas
de teses, estudos, palestras, senão repasto para as traças? Por ventura melhoraram a si
próprios, moralizando seus hábitos? Foram úteis para a sociedade? Grandes líderes
festejados pelas objetivas da história, são apenas retrato de barbárie e tolice. Fosse o
conhecimento o mais importante na educação do homem, e o avanço científico já teria
determinado nossa felicidade.
Cada vez mais sentimos a necessidade do afeto, da virtude, do amor nas
expressões de vida do homem, a lhe responderem aos anseios e encaminhá-los à sua
totalidade.
Não é de cultura o que mais necessitamos, é de amor. Não é o império da
inteligência que gera felicidade, mas a força do sentimento enobrecido.
Um novo tempo histórico, no amálgama da vida humana, tem início. O tempo da
educação moral, para transformar o homem e a sociedade e dar-lhe verdadeiras e
sólidas razões de viver. Para sua implantação é que oferecemos a Pedagogia da
Sensibilidade.

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Marcus De Mario

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Orientação para a liberdade

Assistindo reportagem na tevê sobre a questão da liberdade dos jovens,


presenciei entrevista com um adolescente de presumíveis doze anos de idade, onde ele,
com ar de dono de si mesmo, reclamava das cerceações impostas pelos pais e pela
sociedade sobre sua liberdade de ir a festas noturnas, pois, segundo ele, ninguém podia
dizer o que ele poderia ou não fazer. Senhor de si mesmo aos doze anos de idade!
Entretanto, como pode um adolescente, que ainda não conhece de modo
suficiente a vida, ser senhor de si mesmo? Fazer o que bem entende da sua liberdade de
ação, sem dar satisfação aos seus responsáveis? E onde estão esses responsáveis - pai,
mãe, avô, avó ou outra pessoa - que não conseguem exercer sua autoridade moral? E
não estou dizendo que essa autoridade deva ser exercida com castigos, sonoros não
sem explicação, surras, pancadas e todo aquele arsenal de violência psicológica que
estamos acostumados a presenciar. Bem pelo contrário, pois a autoridade moral só
existe quando os responsáveis sabem exercitar o diálogo construtivo mesclado com os
bons exemplos, mostrando que existem limites para a liberdade, e que esta deve ser
exercida com responsabilidade.
Vivemos em coletividade e nossas ações sempre repercutem nos outros,
provocando reações, e isso deve ser ensinado aos filhos, para que eles saibam que são
construtores de si mesmos, dos outros e, portanto, da sociedade. Será que "baladas"
noturnas são o principal da vida?
Mas os responsáveis, e aqui principalmente os pais, não se preocupam em dar
ideais de vida mais nobres para os filhos, antes, estão preocupados em sustentar
caprichos ou se desvencilhar do incômodo de educar, pois isso dá muito trabalho,
preferindo substituir a educação, que corresponde à formação do caráter, pelo ensino
formal da escola, que apenas instrui, e nem sempre com qualidade.
Liberdade sem orientação é porta aberta aos desmandos, ao caminhar por trilhas
que podem levar às drogas, à sexualidade permissiva, à criminalidade, à indiferença
pelos outros. E temos aí esse quadro assustador de indivíduos fomentadores de uma
sociedade desagregada, com valores morais egoístas, superexpondo o individualismo,
desdenhando de tudo e de todos.
Não vamos resolver essas questões sociais que tanto nos incomodam decretando
toque de recolher. Não é uma questão de estado de guerra contra os jovens, mas uma
questão de construir a educação moral que necessitamos, já que essa construção nunca
foi realizada.

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Os Caminhos da Educação

Os pedreiros dessa construção são os pais e também os professores, nas duas


instituições que devem propiciar a educação: família e escola.
Pensemos nisso e comecemos esse trabalho de construção da educação moral
hoje, pois o futuro está, como sempre esteve, nas nossas mãos.

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Marcus De Mario

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Onde tudo tem início

Estatísticas e programas educacionais diversos projetam grande preocupação


com a chamada pré-escola, onde atuam, por exemplo, as creches e os jardins de
infância, hoje denominadas escolas de educação infantil, tendo como público alvo as
crianças de 0 a 5 anos de idade. As estatísticas informam que um grande universo de
crianças está fora dessa escolarização, e os programas apontam medidas urgentes para
sanar essa deficiência do ensino.
Reconhecemos que, face aos novos modelos sociais vigentes, com mudanças
nos papéis paternos e maternos, a creche e a escola infantil são necessárias, mas,
perguntamos, até que ponto a educação familiar pode ser substituída pela educação
escolar, sem maiores prejuízos para a formação integral da criança? Como substituir os
valores do convívio com pai e mãe por valores pedagógicos de uma cuidadora ou de uma
professora? Quais as consequências emocionais e sociais dessa substituição?
Estamos trilhando um caminho perigoso: o da substituição da família como
agência educadora pela creche e pré-escola. Assim, olhando para o futuro, veremos os
jovens casais tendo filhos e imediatamente colocando-os no sistema de ensino escolar,
eximindo-se da própria responsabilidade de educar.
É na família onde se processa o início da vida, por isso o lar deve ser considerado
a primeira, e mais importante, escola do ser humano, e os pais devem vestir a missão de
educar, de orientar, de formar os filhos. Não é apenas cuidar, é ir além: é dar carinho, ter
paciência, mostrar perseverança, exercer o diálogo e amar, acima de tudo amar.
Como substituir a convivência familiar, onde vicejam os exemplos, as emoções e
a afetividade, por procedimentos pedagógicos escolares? A criança necessita despertar
suas qualidades sob a proteção do amor dos pais.
A escola é complemento dessa educação desenvolvida no lar, mas o que temos
visto é uma crescente tendência em inverter os papéis, priorizando a escola infantil e a
precoce escolarização das crianças, com a família ficando em segundo plano. Essa
inversão de papéis e de valores é responsável por boa parte dos males sociais vigentes.
É no lar onde tudo tem início, onde tudo começa. Precisamos revisitar os
programas educacionais. Neles a família e o lar devem ter destaque, principalmente no
que concerne a educação nos primeiros anos da criança. E as creches e escolas infantis,
por sua vez, devem imitar a família, ser um complemento do lar.
Se continuarmos invertendo as coisas, daqui a pouco algum teórico vai iniciar
campanha pelo fim da família, esquecido que, na Antiga Grécia, a cidade de Esparta fez

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Os Caminhos da Educação

esse caminho, e as consequências dolorosas ficaram gravadas nas páginas da história.


Já esquecemos essa lição?

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Nós somos

Amigo educador, seja você professor, pai ou mãe, ou mesmo tio, tia, avô, avó,
enfim, tendo aos seus cuidados uma criança, um adolescente ou um jovem, pense sobre
a importância de trabalhar em grupo, de ceder suas opiniões em benefício da opinião
alheia, de aprender com os que estão com você. É tão bonito quando um grupo se
entende, tudo decide em conjunto. Mas é tão feio quando as pessoas brigam entre si,
discutem por qualquer coisa, se apegam ao orgulho próprio para defender posições e,
muito pior, quando desconfiam daqueles que ali estão para lhe ajudar.
Seja na escola ou no lar, sempre estamos às voltas com os outros, e temos visto
muitas cenas desanimadoras na convivência: são professores que não admitem a opinião
de um colega de trabalho; são mães que não aceitam um conselho de outras mães. E
ainda temos os que, sem mais nem menos, se apropriam das idéias alheias, não
admitindo interferência no seu pensar, no seu modo de agir, querendo impor suas idéias
aos outros. E os conflitos aumentam, e as rupturas acabam tornando-se inevitáveis.
A escola mais parece uma arena de lutas individuais, e o lar desmorona
alquebrado por injúrias e ofensas.
Lembre-se, amigo educador: quando nosso discurso está recheado de "eu acho",
"eu acredito", "eu quero", "eu sei" e outros "eus", estamos mergulhando no egoísmo, no
orgulho e na vaidade, ervas daninhas da alma, que em silêncio vão corroendo nosso
caráter e disseminando separações. Mas, quando nosso discurso sai do coração com o
"nós somos", tudo se harmoniza, todas as atividades concorrem para um mesmo fim, e a
união se estabelece sobre o individualismo.
Todos nós somos educandos, em primeiro lugar.
Todos nós somos falíveis, antes de julgarmo-nos sábios.
Todos nós somos dependentes dos outros.
Todo trabalho depende da contribuição dos outros.
O tijolo necessita do barro para existir, e na seqüência, depende do cimento para
se ligar a outro tijolo e formar uma parede.
Assim também na educação, porque as ideias, os planejamentos, as atividades,
os conteúdos, não surgem do acaso, mas dos estudos e das experiências realizadas por
cada um para o somatório final.
Amigo educador, mais uma vez, nossa lembrança: antes de emitir qualquer
opinião ou julgamento, lembre-se que o mais importante é estar com os outros e não ser
motivo de desunião.

22
Os Caminhos da Educação

10
Não aguento mais ser professor

Fim de ano, hora de rever a vida e planejar o futuro. Que futuro? Que
planejamento? Muitos professores não conseguem alinhar perspectivas porque estão de
tal maneira desiludidos com a profissão que seus sonhos estão nublados, suas metas
estão soterradas. Talvez um concurso público federal em outra área, ou uma licença
médica, ou a desistência pura e simples do magistério. São caminhos possíveis entre
vários outros. Difícil de escolher, pois, como dizem muitos professores, "eu não aguento
mais ser professor!".
"Meu salário mal dá para fazer as compras do mês".
"Os alunos não têm mais respeito com o professor".
"Estou completamente estressado com a falta de limites das crianças e jovens".
"Já estou cansado de chamar a atenção".
"É muita fofoca e puxada de tapete, o coleguismo foi para a lata de lixo faz
tempo".
"Cobranças da direção, cobranças dos pais, cobranças dos meus familiares, até
quando vou suportar isso?"
E o professor não consegue ser feliz e considera o magistério um "carma", um
peso excessivo, verdadeiro pesadelo diário de frustrações, mágoas, revoltas, estresses.
Se não consegue manter os sonhos, o equilíbrio, aliena-se ou corrompe-se, abrindo
fissuras dolorosas e profundas em seu psiquismo.
Contudo, professor, a vida não é feita só de dissabores, ou melhor dizendo, a vida
não é feita para chorarmos, e sim para sermos felizes, percebendo em cada "prova", em
toda dificuldade, aquela maravilhosa oportunidade de mostrar o quanto somos capazes
de trabalhar com a diversidade e com a adversidade, transformando situações
aparentemente ruins em aprendizados e construções para uma vida melhor.
Ninguém pode viver sem sonhos, sem metas, sem planejamento e sem disciplina.
Como educar é uma missão, fica fácil projetar tudo isso, pois cada dia é nova
oportunidade de continuidade na realização dessa missão, desse ideal.
Comece o novo ano dizendo a si mesmo:
"Eu adoro ser professor".
"Amo meus alunos".
"Gosto muito do que faço".
"Tentarei aprender cada vez mais".

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Marcus De Mario

"Nada me aborrecerá mais do que o necessário, o suficiente para me tirar de uma


possível letargia educativa".
"Em todos e em tudo verei oportunidades de crescimento".
"Estarei vigilante e operoso na minha auto-educação".
Nova disposição de espírito e tudo será melhor.
E utilize a frase que dá título a este texto desta nova maneira:
"Eu não aguento mais ser professor, eu quero ser educador, um formador de
consciências. Eu não aguento mais ficar parado no tempo, eu quero aprender mais e
mais, tentar sempre o melhor. Eu não aguento mais ser indiferente, eu quero amar para
poder ser amado".

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Os Caminhos da Educação

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Como educar meu aluno

É comum, em palestras e seminários, os professores perguntarem como fazer


para educar aquele aluno rebelde, malcriado, sem limites, que desrespeita todos e tudo,
que não estuda, que vai mal nas avaliações, que está sempre revoltado, ou está sempre
apático, que não recebe apoio dos pais, etc, etc.
Normalmente ouço pacientemente, deixando que o professor lance para fora de si
tudo o que está no seu íntimo, permitindo um momento de desabafo. Às vezes leva
tempo. Muitas professoras chegam às lágrimas, porque não sabem mais o que fazer.
Respiro fundo e convido para ouvirem uma história. E conto-lhes um fato
verdadeiro, a história de uma professora ou de um professor que venceu as dificuldades,
que encontrou um ou mais caminhos, ofertando uma visão positiva da educação, da
escola e do trabalho na sala de aula.
Isso faz com que novos pensamentos aflorem, que outras histórias bonitas e
positivas surjam espontaneamente, oportunizando comentários salutares e invertendo a
situação, pois a pergunta correta é: O que eu ainda não fiz, mas posso fazer, para educar
meu aluno? Ou, ainda: O que eu estou fazendo, mas posso melhorar, para educar meu
aluno?
E descobrimos, juntos, que a educação é uma atividade maravilhosa, mas que
depende de quem a realiza, ou melhor, de que ponto de vista a realizamos. Problemas
existem, mas se eu, educador, amo o que faço e tenho objetivos a atingir, esses
problemas encontram sempre solução. Claro que não podemos querer solução imediata
do tipo "faço isso, resulta nisso, agora". Educar é uma arte e precisamos conhecer a arte
de educar (e acreditar nela).
E entramos na delicada, profunda e inadiável questão da educação moral. Nossa
e dos outros.
Como querer educar meu aluno se não sou bom modelo, ou seja, se não dou
bons exemplos? Se me canso facilmente no dia a dia da escola, querendo mais é que
não me aborreçam? Se arrasto minhas obrigações pedagógicas como um pesado e
incômodo fardo, querendo lançá-lo longe? Se faço sermões aos alunos, dando aulas de
moral, e vivo infernizando a vida dos meus colegas de trabalho?
Bem, como educar meus alunos? Respondo com todas as letras:
1. Acreditando na educação.
2. Educando a si mesmo.
3. Aprendendo a arte de educar.

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Marcus De Mario

E isso, só para começar.

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Os Caminhos da Educação

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Ensinar e educar

Temos duas questões principais em torno da escola:


1. O ensino que nela se pratica, e
2. Qual o seu significado na educação.
A escola, em contrapartida ao confessionalismo religioso e a educação de cunho
familiar, oferece a democratização do ensino, podendo alcançar maior número de
educandos e abranger o conhecimento humano mais largamente. Organizada dentro de
um sistema - o escolar - obedece a uma divisão por etapas de aprendizado, desde o
jardim de infância, o pré-escolar, até a universidade, obedecendo nessa divisão as faixas
etárias determinadas pelas pesquisas sobre o desenvolvimento psicológico e orgânico do
ser, embora isso possa ser discutido, variando de acordo com as formulações dos
pesquisadores e educadores.
Mundialmente a divisão por faixas etárias é utilizada, mas nisso já temos sérios
questionamentos, pois cristaliza-se o ensino sem levar em consideração o
desenvolvimento das potencialidades do educando, que pode estar além ou aquém da
simples classificação de sua idade. Se esse já é um problema a ser resolvido em torno do
desenvolvimento da inteligência, imaginemos a ortodoxia da divisão etária em relação ao
desenvolvimento moral do educando. É triste vermos o psiquismo infantil atropelado pela
intransigência do sistema escolar, impedindo o seu avanço e não estimulando seu
progresso.
Muitos casos de repetência e abandono ocorrem por falta de motivação do
educando, que, como autodidata avança muito mais rapidamente no saber e na moral do
que dentro do sistema escolar. Isso não é uma regra, mas mostra-nos que a escola não
pode ser estruturada num sistema fechado, rígido, como vem acontecendo.
Outro fator dentro do ensino oferecido pela escola é a massificação, a quantidade
em detrimento da qualidade. Salas de aula superlotadas não podem oferecer nem ensino
substancial nem educação formativa do ser. Nesses casos, é comum o professor dar
atenção apenas aos que se interessam e se esforçam, largando os demais a si mesmos.
E nem poderia ser diferente, pois ele não pode trabalhar sozinho diante de cinquenta ou
mais alunos, sob pena de perder o acompanhamento individual e ter seus esforços
metodológicos nulificados.
O acompanhamento individual é o melhor processo em educação e para isso as
escolas devem manter em sala de aula o máximo de vinte alunos, além de um educando
mais adiantado. É o pequeno mestre adotado por Pestalozzi. Em harmonia com a

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Marcus De Mario

individualização da educação, a sala de aula deve manter espaço adequado para as


atividades e o material a ser utilizado ao alcance do educando. Lembramos que o
professor deve ser um educador, um orientador do processo de formação intelecto-moral
do educando, e não um catedrático que vai expor os seus próprios conhecimentos, e que
muitas vezes expõe de forma errônea.
Seja qual for a metodologia de ensino escolhida pela escola, dentro das diversas
correntes de pensamento pedagógico, uma diretriz não pode ser perdida, a de que o
educando é um ser integral, possui corpo e alma, e é dotado tanto de inteligência como
de sentimento, de moral. A metodologia deve estar orientada por uma filosofia
educacional que leve em conta esses elementos, pois do contrário teremos instalado todo
um trabalho que vai priorizar a inteligência e o materialismo, com as funestas
consequências de gerações inconsequentes desarmonizando o viver em sociedade e
descrente de objetivos e finalismo superior da vida.

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Os Caminhos da Educação

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Até quando?

Milhões de pessoas, por todo o mundo, principalmente na África e na Ásia,


morrem de fome, numa tragédia diária transmitida pelos meios de comunicação,
entretanto, pesquisas oficiais comprovam que a humanidade produz alimentos suficientes
para nutrir até três vezes o contingente populacional do planeta.
Milhões de pessoas, mesmo estando nos bancos escolares, terminam seus
estudos como analfabetos funcionais, não sabendo interpretar um simples texto, contudo,
milhões de dólares são gastos na ampliação do ensino superior.
Milhões de pessoas sofrem as consequências do desequilíbrio ambiental,
enfrentando enchentes, secas, incêndios florestais, tempestades, no entanto, os países
ricos estão preocupados em fazer conferências internacionais sobre comércio, exibindo
luxo e retórica diante dos países pobres.
Apenas alguns milhões de dólares, aplicados sistematicamente ao longo de dez
anos, segundo a Unesco, promoveriam educação de qualidade para todos, porém,
optamos por despejar milhões de artefatos bélicos sobre supostos inimigos, ao custo de
bilhões de dólares.
Ora, a vida humana ... A vítima de uma catástrofe, seja por que causa for, pode
ser calculada financeiramente na forma de uma indenização, ou estatisticamente pelo
valor comercial de mão de obra que deixa de produzir. E só.
Ora, a educação ... Ela depende da vontade política. Depende dos esforços em
segurança pública. Depende das verbas em ações sociais. Afinal, a educação não
aparece, não é igual a uma obra de construção civil, não dá votos, demora muito tempo
para dar resultados palpáveis. Pode ser deixada para depois.
E assim continuamos repetindo um discurso viciado em si mesmo, sem mudar o
quadro social de forma substanciosa, e desdenhando o poder da educação moral em
transformar o homem e a humanidade.
É que temos a mórbida preferência pelo sofrimento, pelo individualismo egoísta,
pelo prazer fugidio dos gozos materiais, pelo esgotamento frenético das forças físicas,
pelo desdenhar da vida. Tudo isso enquanto não formos a própria vítima, ou seja,
enquanto estiver acontecendo só com os outros.
Mas, até quando suportaremos a injustiça social, a poluição, a miséria, a guerra, a
violência e a falta da educação moral?

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Marcus De Mario

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Como é bom educar!

Como é bom saber que, como educador, sou responsável pela formação moral e
intelectual dos jovens. Sou como o jardineiro ajudando as plantas crescerem, para depois
admirar as flores multicoloridas.
Tem muito professor que reclama da profissão, e muitas queixas são relevantes,
mas deixemos elas de lado para ter um olhar positivo sobre o que realizamos, afinal não
caímos de paraquedas na escola, escolhemos esse trabalho. E se ele não satisfaz, é
porque estamos insatisfeitos conosco, estamos mal resolvidos perante a vida. Nesse
caso, é melhor fazer as malas e ... boa viagem!
Ser um professor aborrecido, que a todos aborrece, é ser um professor
aborrecente, desses que deixam o clima pesado na sala de professores, que os colegas
procuram evitar, pois não é fácil aguentá-lo.
Então, aceite este convite: tenha um olhar positivo sobre o ato de educar; olhe a
você e o que você faz com alegria. Essa postura vai desanuviar os ombros, liberar a
consciência e fazer o dia escolar passar na velocidade do vento, com gosto de quero
mais.
Sorria com o sorriso dos seus alunos. Dê boas gargalhadas com as histórias
contadas pelos colegas. Aconselhe sempre com bom senso. Descubra o prazer de dar
aula. Visite a biblioteca e arrisque-se a contar uma história para a meninada. Volte a ser
criança, limpando o coração de mágoas e frustrações, para deixar crescer o sentimento
do amor.
É muito bom educar, e se você não consegue perceber isso, talvez esteja na hora
- ou a hora já vai tarde? - de rever seus valores, de rever seu entendimento sobre
educação, de rever sua postura em sala de aula. Pode ser hora de reciclagem, que
entendo como hora de avaliar a validade do seu diploma (ou diplomas). Procure a data
de validade. É, não tem. Isso quer dizer que o prazo também não é indeterminado, senão
estaria marcado em algum lugar.
Moral da história: avaliar-se, aprender sempre, renovar-se, são obrigações do
professor. Você está fazendo isso? E sabe porque você está professor?
Bem, seja como for, volto a afirmar: educar é muito bom! Entretanto, aquele que
dá aula, mas sente-se meio perdido, ainda não pode subir de nível, ou seja, ser chamado
e reconhecido como educador, isso porque tem muito, mas muito professor que ensina,
quando estamos necessitados, e procurando, aquele que educa.

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Os Caminhos da Educação

Para fazer a diferença e estar de bem consigo e com a vida, uma dica: procure
subir de nível. Os educandos, os pais, a comunidade e a educação, vão agradecer de
todo coração.

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Marcus De Mario

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Para que serve a escola?

Após uma visita familiar, dirigi-me ao ponto de ônibus, em subúrbio da cidade do


Rio de Janeiro, e enquanto esperava a condução, assisti crianças de uma escola pública,
em algazarra, tomarem conta da rua, saídas do seu turno de estudo em demanda aos
seus lares. Meninos e meninas entre sete e dez anos de idade.
Atravessavam a rua sem nenhum cuidado. Discutiam, falavam alto, faziam gestos
nada amistosos uns com os outros. Observei a fala: gírias, palavras erradas, frases
desconexas. Uma menina, aparentando sete ou oito anos, pequenina, utilizava sua
mochila como arma, batendo nas costas de um colega e chamando-o para a briga.
Felizmente o garoto não aceitou a provocação. E assim continuaram na algazarra, sem
respeito aos colegas, às pessoas na rua, até a dispersão natural da volta ao lar.
Em outra cena, um amigo relata que as professoras fazem do pátio da escola
pública, único local livre para recreação dos alunos, já que não existe uma quadra de
esportes, estacionamento para os seus carros, e com mais um detalhe: as professoras
com carro, incluindo aqui a diretora, são as primeiras a deixarem a escola assim que o
horário de aulas termina.
Mudando o cenário, a lista de material escolar e outros materiais de uma escola
particular é tão grande, e com quantidades tão expressivas, que a direção e professores
utilizam as "sobras" em proveito próprio, já que a sala reservada à guarda do material
não suporta tanto estoque.
Cenários que nos fazem indagar: para que serve a escola?
Para instruir? Talvez, pois os índices publicados pelo Ministério da Educação
depois das provas de avaliação do ensino, são desanimadores. Então, instruir não parece
ser a melhor vocação da escola.
Para educar? Depende do sentido que damos a essa palavra. Considerando
educação como sinônimo de equipamentos pedagógicos instalados, ou de formação de
habilidades e competências, estamos mal, principalmente no cenário público. Agora,
considerando educar como formar cidadãos plenos, conscientes, éticos, não parece que
a escola esteja socialmente determinada a isso.
Repetindo consideração de Frei Betto sobre o tema:
"Seria a escola mera estufa de adestramento para o mercado de trabalho?"
Consideramos que a escola existe para auxiliar os pais na educação dos filhos,
para dar o complemento moral e intelectual à formação integral dos jovens, exigindo dos
professores a autoeducação, o exemplo, a dedicação. E a escola não pode estar

32
Os Caminhos da Educação

desligada da vida dos seus alunos e da comunidade à qual ela pertence e para quem
desenvolve seus serviços. Escola onde ninguém aguenta ficar nem mais um minuto, não
é uma verdadeira escola.
Se você está na escola considerando que ali está apenas para desenvolver seu
trabalho profissional, como atestam seus diplomas, não está na hora de rever seu papel e
no que você está transformando a escola?
A escola não é uma indústria ou um negócio comercial como outro qualquer. Lá
dentro, em todos os setores, em todas as atividades, o tempo todo, lidamos com gente,
com a formação dessa gente, trabalhando no presente aquilo que será o futuro.
Não está na hora de pensarmos seriamente nisso?

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Marcus De Mario

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O mundo das crianças

Pesquisa realizada no Brasil com o título "A Descoberta do Brincar" é bastante


reveladora sobre o universo infantil e a interação dos pais e dos professores com esse
universo. Alguns resultados da pesquisa merecem maior destaque, mas todo o conjunto
clama por reflexão e ação para mudança desse universo, sob pena de um impacto
negativo na formação da sociedade humana futura.
O estudo revela, através de dados oficiais, que hoje no Brasil temos
aproximadamente 31 milhões de pais e 24 milhões de filhos. E o primeiro resultado que
nos chama a atenção é que apenas 53% dos pais brincam diariamente com os filhos, e,
ainda mais alarmante, apenas 14% dos pais afirmam que brincar com as crianças é uma
das atividades que mais lhe dão prazer. A falta de interação entre pais e filhos, entre
adultos e crianças, é evidente, sendo que cada vez mais os pais dedicam menos tempo
aos filhos. Segundo especialistas entrevistados, os adultos estão mais interessados em
suas carreiras profissionais e em realizar seus sonhos, mesmo tendo, com isso, que
conviver com estados depressivos dos filhos, o que, pensam eles, é questão para ser
resolvida por psicólogos e psiquiatras. Pobres crianças, sofrendo de abandono
paterno/materno e classificadas como portadoras de distúrbios psíquicos!
Os adultos precisam lembrar que já foram crianças, já viveram esse universo
infantil, não podem simplesmente esquecer essa fase da sua vida, ou mesmo negá-la.
Ainda segundo levantamento feito pelo estudo, a criança que brinca e tem
convívio amoroso, centrado no prazer e na alegria:
1. Aprende melhor.
2. Torna-se um adulto mais saudável.
3. Desenvolve melhor auto-estima.
4. Amplia mais a área do cérebro associada à empatia.
E desenvolve seu poder criador - a criatividade.
Uma criança deu o seguinte depoimento: "É legal brincar com o meu pai porque é
diferente. Sabe, quando a gente brinca, ele ri bastante, ele não para de rir. É legal ver ele
rindo."
Outro resultado produzido pelo estudo que merece bastante atenção é que 97%
dos meninos e das meninas afirmam que assistir à televisão é o passatempo mais
praticado.
Acontece que mesmo diante da televisão, as crianças necessitam de orientação, o
que só pode acontecer se houver o acompanhamento dos pais, auxiliando-as a

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Os Caminhos da Educação

selecionar os programas, desenvolvendo-lhes o senso crítico e os valores de vida. Se as


crianças ficam soltas, ficam expostas à violência, ao consumismo, à sensualidade que
estão presentes em boa parte da programação televisiva. Isso vale também para a
internet.
Para encerrar nossos destaques dos resultados do estudo, 84% dos pais afirmam
que, para estarem preparados para a vida, as crianças precisam estudar mais do que
brincar. É uma distorção do que seja a vida, negando a infância e tentando fazer da
criança um adulto em miniatura. É uma volta ao passado histórico que tanto a psicologia
quanto a pedagogia condenam, pois a infância é um período especial de
desenvolvimento do ser humano, não pode ser atropelada por estudos e atividades que
visem apenas o preparo para o mercado de trabalho.
Será que nossas crianças devem nascer e em seguida serem colocadas no
berçário, na creche, na escola, no clube, no professor particular, no cursinho preparatório,
no vestibular, na faculdade, na pós-graduação, tudo isso para terem "sucesso" na vida? E
a autoestima? E a vida íntima? E a vida familiar? E a vida social?
Entre as décadas de sessenta e setenta do século vinte, houve um alarme quanto
ao futuro da humanidade, que o homem poderia vir a ser dominado pela cibernética, pela
robótica, pelas máquinas. Agora compreendemos que houve um erro nessa futurologia.
Ninguém levou em conta que o homem poderia ser dominado por ele mesmo, tornando-
se uma máquina fria que só sabe competir contra os outros e reclamar das autoridades
públicas soluções mágicas para os problemas que ele mesmo, o homem, provoca na
sociedade.
E tem gente que, ainda, não está nem aí com a educação, com a formação das
novas gerações.

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Marcus De Mario

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A educação moral com os jovens

Tivemos oportunidade muito gratificante de trabalhar mais de uma vez com jovens
adolescentes na faixa etária de 14 a 16 anos, participantes de trabalho profissionalizante
realizado por organização não governamental que gentilmente nos convidou para
realização de uma palestra e, posteriormente, uma oficina de vivências.
Na primeira oportunidade o tema foi "Educação da Sexualidade", e na segunda
vez em que lá estivemos desenvolvemos uma oficina de vivências sobre "Técnicas de
Sensibilização dos Sentimentos".
Ao realizar uma atividade bastante diferenciada do que convencionalmente se
entende por uma palestra, de certa forma surpreendemos os jovens e os coordenadores
do trabalho, pois sempre partimos do princípio que o jovem possui amplas
potencialidades, e que eles mais necessitam de apoio, de estímulo, de reforço à auto-
estima, do que sermões e disciplinas rígidas. Assim, convidamos a uma atividade de
integração para estimular a afetividade.
Surpresos, no início demonstraram um pouco de má vontade, deixando que
estereótipos e preconceitos aflorassem, mas, estimulados, incentivados, levaram a bom
termo a proposta da atividade, o que facilitou a sequência da palestra, ou seja, fazê-los
pensar, chegar a uma tomada de consciência, individual e social, sobre o assunto, por si
mesmos. Foi gratificante. E assim também aconteceu com a oficina de vivências.
O educador deve ser, sempre, um facilitador do processo educacional, e deve
acreditar nas finalidades e resultados da educação, assim como acreditar nas
potencialidades do educando. E não temer fazer abordagens que levem à reflexão moral
do assunto, ou seja, sobrepor-se a preconceitos de ordem pessoal, religiosa, etc., e fazer
com que todos pensem e atuem no campo da ética e dos valores.
Contudo, não basta fazer pensar e atuar dentro de uma sala de aula. É necessário
também fazer com que se coloquem no lugar do outro, invertendo papéis sociais, e,
igualmente, fazer com que transportem o pensar e atuar para o coletivo social ao qual
pertencem, desde o núcleo familiar ao contexto maior da nacionalidade e da humanidade.
E o jovem adora fazer isso. Pensar, questionar, dialogar, interpretar, encontrar soluções,
mostrar o que pensa e o que pode fazer. E está à procura de bons exemplos, de
parâmetros seguros para construção de sua vida com objetivos superiores à
mediocridade reinante.

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Os Caminhos da Educação

Esse é o papel da educação moral. Mas isso depende da ação do educador. E


nada melhor do que colocar-se no lugar dos jovens que estão à sua frente, compreendê-
los e, então, mostrar-lhes um novo caminho, possível de ser construído e trilhado.
Mas, e a disciplina? Como eles vão aprender a respeitar limites? Como vão saber
respeitar o educador? Tudo isso acontece de forma sólida se deixarmos que eles
discutam as regras, as compreendam e acatem. Se fizermos com que se sensibilizem
para o outro e para a vida, deixando que despertem para objetivos e ideais maiores, e
fiquem conscientes de si mesmos, da vida e de Deus.
Porque moralizar não é um processo de fora para dentro, e sim de dentro para
fora. Exatamente como o é o processo da educação.

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Marcus De Mario

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Espiritualidade na educação

Correspondências impressas e eletrônicas sobre o atual quadro da educação,


recebidas todos os dias, descrevem muitos problemas e poucas soluções. Para um leitor
menos avisado, ou mesmo para um educador enfadado, são escritos que geram
decepção e desespero, pois não se vislumbra solução.
É necessário um certo cuidado. A mídia adora fazer sensacionalismo com a
desgraça alheia, e toda pesquisa ou estatística educacional é motivo para soar
trombetas. Entretanto, não basta fazer barulho, é necessário apontar possíveis caminhos,
dar alternativas, divulgar o lado bom da história.
Uma discussão necessária, e sem rancor de religiosismo, é o desenvolvimento da
espiritualidade do ser como objetivo da educação. Muitos males hoje observados
decorrem da concepção materialista, ou biológica-tecnicista, que fazemos do homem.
Temos nele um amálgama de neurônios, células, órgãos e tudo o mais que é classificado
pelas pesquisas científicas, mas ainda assim não sabemos quem ele é.
De onde vem as emoções? Onde fica a mente? Como explicar os fenômenos
psíquicos? Existem muitas teorias, quase todas promovidas com base no pensamento de
que o homem é apenas o corpo, mas elas não conseguem dar explicação satisfatória a
todos os fenômenos que estão presentes na vida do homem.
Então, porque não considerar o tema espiritualidade? É um caminho, uma rota
alternativa, possivelmente o caminho certo.
Desde o século XIX o mundo ocidental, e agora também o mundo oriental, tem
pautado suas ações pela filosofia materialista da vida e do ser. Os resultados dessa
orientação equivocada são visíveis: aumento do desequilíbrio ambiental, crescimento das
diferenças sociais, intensificação da violência, exacerbação das políticas de interesse
capitalista, abarrotamento dos consultórios psiquiátricos.
Isso tem levado o homem a procurar um contato maior com doutrinas místicas. É
a busca de um caminho alternativo diante de tantas frustrações, perguntas sem
respostas, depressões e, principalmente, diante de um vazio existencial que corrói as
fibras mais íntimas do ser.
Vivemos uma crise de valores e perguntamos: não está na hora de aproximarmos
Deus da educação?
As escolas ensinam muitas coisas, mas não ensinam o essencial: o homem olhar
para si mesmo e se descobrir. Esse olhar deve ser transcendente, única possibilidade
para que novos valores surjam e a vida apresente um significado mais profundo.

38
Os Caminhos da Educação

Como falar de amor pedagógico, de cultura da paz, de consciência ecológica, de


valores morais, sem uma visão espiritualizada da vida e do homem?

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Marcus De Mario

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Transcendência e educação

Pesquisas científicas provam que a mente é extrafísica, ou seja, não pertence ao


conjunto neuronal que chamamos cérebro. Isso quer dizer que não é o cérebro que
pensa, reduzido agora a instrumento. E o que, ou quem, pensa?
Em cirurgias cerebrais há necessidade de colocar a vida em suspensão, num
estado de coma induzido, com a paralisação de todas as funções. Teoricamente o
indivíduo nesse estado não sente e não pensa, pois o cérebro está momentaneamente
paralisado. E como explicar o caso do paciente que, após a cirurgia, retomando seu
estado normal, faz relatos de sonhos e até de plena consciência com o que aconteceu na
sala de cirurgia?
Se a mente é extrafísica, e, por consequência, também o pensamento, isso nos
leva a um forçoso postulado: o homem é mais que o corpo. O homem é uma alma.
Peço licença aos educadores que lêem estas linhas para pedir-lhes calma. A
precipitação não é boa conselheira. Digo isso porque, precipitadamente, muitos
entendem na palavra alma um ranço de religiosismo, mas a alma não é exclusividade das
culturas religiosas. E nossa argumentação nada tem de dogma religioso. Estamos no
terreno da ciência.
Ora, a pedagogia é uma ciência, a ciência da educação do homem, portanto, o
homem é seu objeto - no mais profundo significado -, o que nos leva a ter de discutir o
ser do homem: o que ele é na essência.
O Dr. Albert Schweitzer criou bela imagem ao escrever:
"Quando na primavera a cor pardacenta cede lugar ao verde que desponta dos
campos, assim acontece porque milhões de brotos novos surgem das raízes. Assim
também a renovação das idéias para o nosso tempo de outro modo não poderá vir senão
pela transformação que muitos e muitos possam operar nos propósitos de vida e em seus
ideais, refletindo sobre o sentido da vida e do mundo" (em Decadência e Regeneração da
Cultura).
Precisamos dar passos decisivos no rumo da transformação, pois não temos mais
tempo para discussões eruditas. Tanto o homem como o mundo clamam por uma nova
ordem de idéias e ideais.
"Resta-nos aquilo que ainda não foi séria e conscientemente experimentado: uma
pedagogia da transcendência, na qual o sentido da vida tenha dimensão de eternidade"
(Régis de Morais, em Educação e Espiritualidade).
E por que não cogitar da alma? Da transcendência do homem?

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Os Caminhos da Educação

Enquanto olharmos para as crianças como indivíduos sem alma, deixando que a
opressão da sociedade de valores imediatos as eduquem - disfarçando seus interesses
egoístas em discursos de ajuda humanitária e sustentabilidade mundial, pois que a
verdade é pouca ação para o muito que se tem a fazer - essas crianças serão levadas a
repetir e repetir esse falso discurso e a vivenciar esses falsos valores.
É o que queremos para o amanhã?
Não acreditamos nisso, motivo pelo qual nossa proposta de educação moral tem
por base uma filosofia espiritualizante do ser, que se concretiza no sentir e compreender
o homem como uma alma, transcendendo o aqui e agora, o lógico-matemático, para
transfundir-se em valores humanos, éticos e soberanos, equilibrando nos seus
procedimentos pedagógicos o desenvolvimento intelecto-emocional dessa individualidade
mais que biológica, porque também, e porque não dizer, espiritual (e para os que
subentenderem um misticismo ou uma mítica religiosa, por favor, revisem seus
paradigmas).

41
Marcus De Mario

20
Responsabilidade educacional

Pais e professores, procurando uma escola de qualidade, querem transformar


para melhor o ensino, o que é uma preocupação louvável e que deve se caracterizar pela
continuidade de esforços, idealizando e implantando projetos e serviços pedagógicos no
sentido de desenvolver cidadania, ética, paz e outros temas de relevância para a boa
formação dos alunos. Entretanto, para trabalhar a Responsabilidade Sócio-Educacional
(RSE) e alcançar eficácia, pais e professores precisam entender que esse compromisso,
antes de pertencer à escola, pertence, de forma pessoal, a cada educador.
Do auxiliar de serviços gerais ao diretor, todos devem incorporar atitudes e
comportamentos da educação de qualidade, sendo, cada um, diariamente, cidadão, ético,
de paz. A Responsabilidade Sócio-Educacional, para se tornar coletiva, precisa antes ser
individual. E isto vale também para os pais e responsáveis.
É por esse motivo que sempre sublinhamos a importância da autoeducação no
processo de formação do ser.
Vejamos um exemplo: a professora dá aula sobre sustentabilidade ambiental e
ensina a importância da reciclagem do lixo doméstico, mostrando aos alunos que a
escola está engajada nessa iniciativa, tendo instalado recipientes de coleta de lixo por
tipo de material, e que todos devem colaborar. Mas, ela não usa esses recipientes,
colocando toda a sua produção de lixo na cesta comum da sala dos professores e/ou da
secretaria da escola, e não faz coleta de material reciclável em sua casa para trazê-lo à
escola. Ela ensina, mas não dá o exemplo. Repassa conteúdo e exige a conscientização
dos outros, entretanto, não é, por sua vez, consciente.
Responsabilidade Sócio-Educacional para construir um mundo melhor passa
antes pelo próprio agente da educação.
Vejamos outro exemplo: os pais, preocupados com o mundo desleal e competitivo
da atualidade, ensinam o filho a ter educação, ou seja, a respeitar os colegas e
professores e a ser honesto. Contudo, durante o trajeto até a escola cometem deslizes
éticos (como usar palavrões, xingar alguém, falar mal da autoridade pública, fingir que
não viu aquela determinada pessoa, etc.) que desmentem seu discurso e comprometem
o trabalho desenvolvido na escola.
O que temos assistido é um ambiente escolar desligado do ambiente familiar, do
ambiente comunitário, do ambiente individual, gerando incompatibilidades que impelem a
Responsabilidade Sócio-Educacional para um terreno de conceituações que parecem

42
Os Caminhos da Educação

não ter validade na vida real, e isso por culpa da teorização sem a correspondente prática
por parte dos que teorizam - os educadores.
Como dito por uma professora: "se isso fosse comigo não ia ficar assim, já tinha
tomado providências, não ia ter essa compreensão". Acontece que ela é uma educadora,
mas não está consciente disso. No cotidiano ela é explosiva, exigente e defensora radical
dos seus interesses, o que, naturalmente, merece de sua parte critica desse tipo de
comportamento nos outros.
Queremos um nova escola, um novo ensino, um novo cidadão, um novo mundo?
Queremos trabalhar a Responsabilidade Sócio-Educacional? Então comecemos a lição
dentro de casa, a nossa casa íntima, pois transformação social sem transformação
individual é discurso com muita teoria e nenhuma prática.

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Marcus De Mario

21
A violência na escola e a verdadeira educação

A complexidade da questão violência na escola requer uma abordagem sistêmica,


com visão do todo. É uma questão sócioeducacional que envolve a família, as
autoridades públicas, os cursos de formação de professores e outros profissionais da
educação, a escola, a comunidade, as organizações não governamentais, pois medidas
pontuais, se bem-vindas e com bons resultados, não resolvem a questão, são paliativos
que encontram um grande obstáculo: a não continuidade e as barreiras impostas pela
injustiça social.
E indo mais além, temos outra questão de profundidade: a formação moral do
indivíduo, relegada a segundo plano há bastante tempo, com as pessoas valorando
pensamentos, comportamentos e atitudes que ferem frontalmente a regra de ouro da
educação: aprender a fazer ao outro o que gostaríamos que o outro nos fizesse.
Discursar a cidadania e fomentá-la através dos esportes e das culturas é reduzir a
abordagem e o espaço da verdadeira educação. Aliás, é interessante observar como as
intervenções para combate à violência escolar são feitas de fora para dentro,
normalmente não pertencendo ao projeto pedagógico em desenvolvimento.
Educar é uma arte que exige sensibilidade e doação, amor e trabalho contínuo.
Essa arte só é plena quando prioriza a formação do ser para o ser e para a vida,
trabalhando o desenvolvimento do pensar no outro, do conviver e interagir com o outro na
construção de relacionamentos sadios e éticos, ou seja, a educação verdadeira é aquela
que realiza a formação do caráter, que leva o educando, de qualquer faixa etária, a
elaborar, compreender e interiorizar virtudes, pois somente assim ele exteriorizará o que
é bom para ele e para o outro.
Escolas que estão trabalhando essa educação sinalizam um futuro promissor da
humanidade.
Se castigos e recompensas não são consideradas ações pedagógicas corretas,
também devemos incluir nesse desvio educacional a segurança eletrônica nas escolas,
as dúzias de inspetores que mais parecem agentes de segurança, o rebaixamento da
idade penal e tudo o mais que cerceia e policia o ato de educar.
Precisamos, na educação, de sentimento. Precisamos, na escola, de amor.
Precisamos, na família, de bons exemplos. Precisamos, das autoridades públicas e
empreendedores, de projetos pedagógicos que fomentem a educação moral do ser.
Então veremos a violência ser página virada na história do homem.
E tudo começa no lar, como bem nos diz Madre Tereza de Calcutá:

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Os Caminhos da Educação

“Acredito que o mundo hoje está de ponta cabeça e sofre muito porque existe tão
pouco amor no lar e na vida familiar. Não temos tempo para nossas crianças, não temos
tempo para nos darmos uns aos outros, não temos tempo para apreciarmos uns aos
outros”.
E reforçando nossa concepção da importância do amor, o maior dos sentimentos,
na prática educacional, afirma:
“O amor começa em casa; o amor habita nos lares e é por isso que existe tanto
sofrimento e tanta infelicidade no mundo... Todos, hoje em dia, parecem estar com tanta
pressa, ansiosos por grandes desenvolvimentos e grandes riquezas e assim por diante,
de modo que as crianças não têm tempo para os pais. Os pais têm pouco tempo para
darem-se uns aos outros, e no próprio lar começa a destruição da paz do mundo”.
A violência na escola começa com a violência da falta de amor na família, e é
agravada com a continuidade do não amor entre professor e aluno. Mas existe um
remédio, uma solução: a educação moral. Começando pela aplicação em nós
educadores, e depois contagiando os adultos de amanhã, as crianças e jovens que estão
dependentes de nossas ações e exemplos.

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Marcus De Mario

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Lugar de ensinar ou educar?

Pensar sobre a função da escola na sociedade é tarefa, hoje, repleta de


dificuldades. Para muitos ela é fundamental, para outros pode ser substituída pela
educação doméstica. Não há consenso, inclusive, se seu objetivo é ensinar ou educar,
porque existe diferença entre o ensino e a educação. Ou não?
Certa vez, desenvolvendo palestra num seminário que abordava a educação dos
sentimentos, utilizei o termo educador no lugar de professor, como, aliás, é de meu
hábito. Uma professora solicitou a palavra e contestou: "Não sou educadora, sou
professora. Formei-me para dar aula de língua portuguesa. Sou uma profissional do
ensino".
"Mas não deixa de ser, mesmo assim, educadora", pensei com meus botões
(assim diziam nossos avós). Isso porque ela está em sala de aula lidando com pessoas
em determinado estágio de desenvolvimento, e na medida em que interage com os
outros, na posição de ensinar algo, ela é uma educadora, pois seu ensino e
principalmente sua interação, têm significativa influência sobre a personalidade em
formação dos seus alunos.
Segundo essa professora a escola é lugar de ensinar, e não de educar.
Em outra ocasião, nova palestra, descobri que entre as professoras presentes
catorze delas eram pedagogas, tinham formação superior. Propus que elas definissem,
de forma simples, sem preocupação acadêmica, o termo "pedagogia", para melhor
entendimento de todos. Depois de cinco minutos de meio silêncio, nenhuma delas
conseguiu explicar o que é pedagogia. Dei a definição, que foi considerada satisfatória, e
solicitei que dissessem o que era, para elas, educação. Foi decepcionante. Não tinham a
mínima noção do que estavam fazendo na escola enquanto professoras. Falta de
consciência? Má formação universitária? Inexistência de vocação profissional? Ou um
pouco de tudo isso e algo mais?
Como vamos debater a escola, sua missão, seus objetivos, se nem sabemos
porque estamos professores e o que é educação?
Por não sabermos a diferença entre ensinar e educar, entre ensino e educação,
entre instrução e formação, é que fizemos da escola um lugar onde a vida social não tem
vez, porque o tempo está tomado por aulas de matemática, língua portuguesa, história,
geografia, ciências, educação física, etc.
Há, inclusive, pedagogos, doutores e mestres em educação que consideram a
discussão em torno da educação em valores e da formação em cidadania e ética uma

46
Os Caminhos da Educação

perda de tempo, pois isso seria papel da família e não da escola. Um argumento
apresentado é que a criança e o jovem passam mais tempo no lar do que na escola. Mas
esses mesmos especialistas concordam que o ideal para a escola é o trabalho em tempo
integral, num período de seis a oito horas diárias de estudos e atividades
complementares. Não há coerência entre os dois pensamentos. Se a família deve educar
para valores e ética, como tirar o tempo da família para colocá-lo na escola, que somente
deve ensinar conteúdos curriculares de disciplinas fechadas em si próprias?
E quem já provou, por a mais b:
1. Que a escola que ensina não é também a escola que educa?
2. Que o professor que ensina não é também, ou não deveria ser, um educador?
3. Que a escola nada tem a ver com a família?
4. Que a formação em valores não pode ser feita ao mesmo tempo que a
instrução em conteúdos curriculares?
E tomei coragem para afirmar, em outra palestra, que eu não era um professor.
Fui imediatamente interrompido pela platéia que, indignada, disse que quem ensina é
professor, e, portanto, como estava ali a ensinar algo, não podia deixar de ser um
professor. E arremataram: "Mas o senhor é mais que um professor, é um educador,
porque trabalha a essência das coisas e do ser humano".
Será que eles sentiram a grandiosidade e profundeza do que disseram?

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Marcus De Mario

23
Os caminhos da educação

Pesquisa realizada pela UNESCO, que é o órgão das Nações Unidas para a
educação, sobre o ensino médio (antigo segundo grau) brasileiro revelou aspectos
alarmantes e que merecem nossa reflexão. Vejamos o resumo dos resultados dessa
pesquisa: "A pesquisa da Unesco, "Ensino Médio: Múltiplas Vozes", realizada em 13
capitais, entrevistando 7 mil professores e mais de 50 mil alunos da rede pública e
privada, revelou o alto grau de insatisfação dos estudantes com o que aprendem nas
escolas. Não é surpresa, portanto, que 43% dos 8,7 milhões de alunos matriculados
nesse nível de ensino já tenham "repetido de ano" - como se diz. Curiosamente,
professores e alunos concordaram sobre quais são os três principais problemas do
ensino médio: desinteresse do aluno, indisciplina e falta de espaço - social, cultural e
esportivo na escola."
Temos então os seguintes itens destacados:
1. Alto grau de insatisfação por parte dos alunos.
2. Índice de repetência (43%) muito alto.
3. Desinteresse dos alunos pelo ensino e pela escola.
4. Problemas de indisciplina.
5. Falta de espaço social, cultural e esportivo na escola.
Lembramos que o ensino médio brasileiro trabalha com alunos na faixa etária de
15 a 18 anos de idade, portanto estamos nos referindo a adolescentes e jovens que já
possuem bagagem cultural, já tem certo nível de consciência social, jovens que estão
apontando o dedo para a escola, dizendo que a mesma não os satisfaz, não preenche
seus anseios, o que quer dizer, em outras palavras, que a filosofia da educação e seus
projetos pedagógicos não estão atingindo essa juventude. Por quê? A resposta está no
enfoque central, básico dessa filosofia: a falta de visão integral do ser, das virtudes, etc.
As causas da situação estão claras: falta de profundidade sobre o ser e a vida,
falta de crença na eficiência da educação moral, falta de sentimento para equilibrar o
desenvolvimento da inteligência. A escola é reflexo desses posicionamentos equivocados
que não levam em conta a espiritualidade do homem, o finalismo superior da existência.
Enquanto insistirem os responsáveis pela educação brasileira em ignorar a necessidade
da formação do caráter com a aplicação da educação moral, a escola continuará sendo
alvo de inúmeros questionamentos e o ensino se caracterizará por não conseguir
preencher as necessidades do aluno.

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Os Caminhos da Educação

Precisamos de sentimento e de uma nova filosofia de educação para renovar a


escola a partir da mudança dos projetos pedagógicos, projetos esses que devem levar
em consideração os valores da vida e não somente os valores intelectuais, culturais e
profissionais. Que adianta ter um diploma que habilita o exercício de uma profissão se
nesse exercício não utilizamos a ética?
É o jovem um ser irriquieto, repleto de energia e com hábitos formatados pela
família e pela sociedade. Nada disso pode ser menosprezado no processo educacional.
Dinamizar esse processo é condição fundamental. Moralizar esse processo é requisito
básico. O jovem deve se sentir envolvido pelo processo educacional e encontrar na
escola extensão de seu próprio mundo. Somente assim o desinteresse apontado pela
pesquisa perderá consideráveis parcelas do atual terreno conquistado nessas almas.
Também a questão da indisciplina encontra solução satisfatória na educação
moral aplicada ao ensino: participação com responsabilidade. Por que o jovem não pode
participar das decisões escolares? Por que o jovem não pode opinar e dar idéias? Por
que o jovem não pode assumir determinadas tarefas? Por que o jovem tem de ser
policiado o tempo todo? Por que a escola deve ficar fechada em quatro muros sob rígida
disciplina? Os limites, tão necessários, devem ser compreendidos e incorporados, mas
isso só acontece num ambiente que permite participação e distribui tarefas, num
ambiente que envolve afetivamente.
Quanto aos espaços reivindicados - social, cultural, esportivo - reflexo da ânsia
por uma nova escola, a educação moral leva-nos a compreender que a escola não é toda
poderosa para tudo resolver, mas é generoso espaço, específico, de educação do ser, e
que sua ação não se encerra no ato de ensinar. A escola representa o espaço ideal para
desenvolvimento das potencialidades do educando, devendo abrir todas as suas
possibilidades para contemplar um projeto pedagógico multifacetado. A vida é educação
e a escola representa, em escala proporcional, essa vida.

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Marcus De Mario

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Mudar a educação para mudar a sociedade

Desde que o homem se entende por um ser consciente na face da Terra, vem
procurando a melhor maneira de conservar sua cultura, passando-a de geração a
geração, assim como aprimorando as conquistas intelectuais que aperfeiçoam essa
cultura. Passo a passo vem o homem descobrindo a si mesmo e, embora o formidável
avanço em todas as áreas do conhecimento, não raro é surpreendido com um novo
achado, muitas vezes desmoronando conceitos ou redefinindo as pesquisas. É que o
Universo está longe de sua capacidade total de apreensão, assim como a natureza do
planeta em que vive ainda é um maravilhoso mundo a oferecer descobertas.
E o próprio homem? O corpo físico é a mais perfeita organização que se conhece,
no entanto, não sabemos boa parte do como e porque ele funciona tão perfeitamente. E a
questão da mente, da personalidade, do consciente e inconsciente? Em todas as épocas
especulações de ordem filosófica, teológica, política, psicológica, científica, vem
procurando responder às inúmeras indagações que envolvem o homem e a vida e, pelo
menos, uma certeza resiste a todas as investigações: que a educação é o fator primordial
que coordena o comportamento humano, que a educação é a grande formadora do
homem e responsável pela transmissão cultural e seus avanços, de geração a geração.
Dentro desse entendimento é que pouco a pouco surgiram as escolas, os métodos, as
técnicas, os recursos e assim por diante, numa proclamação da importância da
educação. Entretanto, o homem ainda é um ser deseducado.
A violência marca profundamente o viver humano. A morte é encarada com horror
e ao mesmo tempo como solução. As discussões de ordem espiritual são relegadas ao
misticismo ou à indiferença dos gabinetes científicos. A dissolução social é evidente
mesmo onde predomina o avanço cultural e tecnológico.
Numa palavra, encontramo-nos enredados em concepções materialistas que vem
sufocando os melhores propósitos, e chegamos a declarar que a escola já não está mais
educando, e que essa tarefa, também de responsabilidade da família, parece ter sido por
esta esquecida.
Reclama-se, e com razão, da necessidade de revermos o sistema escolar, de
repensarmos a educação, e aqui está o ponto nevrálgico da questão, pois não se pode
fazer uma reforma do sistema escolar, ou seja, do ensino, sem que a educação seja
repensada e entendida.
Todo ensino está sujeito a desvios e mesmo inoperância quando distanciado dos
fins da educação, por isso que a construção e reforma de escolas, a contratação de

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Os Caminhos da Educação

professores, a mudança de métodos, a distribuição de livros didáticos e outras medidas


equivalentes não trazem o resultado esperado. Podem oferecer a alfabetização mais
rápida ou a diminuição da repetência, mas o homem, que é um educando do berço ao
túmulo, embora alfabetizado e desenvolvido na sua inteligência, continua sendo hipócrita,
vaidoso, orgulhoso, egoísta, enxergando a vida apenas pelo prisma das vantagens
pessoais. Esse homem pode construir impérios sem dar importância a quantos está
esmagando. Pode usurpar os direitos alheios à vontade manipulando a própria justiça.
Então, diante desse quadro, onde falhamos na educação?
Afirmamos que a falha está justamente no entendimento que fazemos da
educação. Por esse motivo chamamos a atenção para os fins da educação e, aí sim,
para a operacionalização do ensino propriamente dito.
Quando o homem conhecer a arte da formação moral, der importância ao manejo
do caráter, estará colocando a educação no lugar que ela merece, corrigindo os passos
da humanidade e, vencendo a estrutura social adversa, mudar para melhor, perceberá
que antes de tratar da estrutura do edifício deve solidificar suas bases, que estão todas
na filosofia que rege o trabalho educacional.
Como podemos educar se não sabemos o que é educação?
É, a educação moral, o caminho a ser trilhado pela humanidade se quiser um
futuro bem diferente do vivido até os dias atuais, e para isso valores precisam ser
renovados, sentimentos necessitam ser desenvolvidos e o caráter deve ser direcionado
para o bem coletivo, ou naufragaremos a sociedade novamente no caos destruidor do
egoísmo e do materialismo. Por isso a educação moral só pode ser dirigida com eficácia
por uma filosofia que priorize a espiritualização do homem.

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Marcus De Mario

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Vamos ouvir os pássaros

Moro numa grande cidade, metrópole urbana de asfalto, prédios de alvenaria e


concreto, carros na rua, gente...muita gente. Sofro as consequências que todos sofrem:
poluição generalizada, trânsito lento, violência e todas as outras coisas que todo mundo
conhece através do noticiário da mídia. Mas tenho compensações: serviços tecnológicos
à disposição, eventos culturais à vontade, bons equipamentos esportivos, áreas de lazer.
Poderia listar outras coisas que compensam o viver num grande centro urbano, mas vou
ficar com apenas uma: o canto dos pássaros no amanhecer.
Não estou sonhando, é uma realidade: todos os dias, ao acordar, presto atenção
no canto dos pássaros que estão pelas árvores da rua ou mesmo pendurados nos fios e
cabos dos postes da rede de energia elétrica. Algumas árvores nos quintais das casas
vizinhas auxiliam a audição desse concerto matinal.
Não são muitos pássaros, já me acostumei a admirar o canto do bem-te-vi, e às
vezes a apresentação musical é cancelada por motivo de chuva ou frente fria, o que me
entristece, mas não me desanima. E todos os dias, antes de iniciar mais um tempo da
jornada existencial, aguço os ouvidos para ouvir os pássaros e me encantar com sua
sonoridade, com sua alegria, com o seu maravilhoso bom dia à natureza e ao homem.
Ouvindo os pássaros tudo fica mais leve, as tarefas fluem melhor, as idéias se
multiplicam e a aridez da convivência humana se desfaz em sorrisos e esperanças.
Venturoso o que mora no campo, ou mesmo o que mora na cidade, mas em
zonas mais afastadas do burburinho da cidade grande. Um e outro devem ouvir muitos
pássaros pela manhã, e também à tarde, e também ao cair da noite. São felizes, embora
alguns não saibam disso.
Ouvir os pássaros cantar é de graça e faz bem à alma.
Se os professores ouvissem os pássaros cantar toda manhã, teriam a alma
inundada de belezas indescritíveis; sonhariam ideais profundos; espelhariam a esperança
em seus olhos; dariam aulas vestidas com a capa da emoção.
E muitas escolas possuem árvores em seus pátios ou em seus arredores, e nem
assim os professores ouvem os pássaros. Deixam escapar um convite ao belo, perdem
uma oportunidade de adocicar e suavizar a própria existência.
Eu ouço os pássaros e tento fazer do ato de ensinar um canto ao coração, uma
obra de arte para sensibilizar a alma.
Os professores também podem fazer isso, também podem trabalhar para ir além
do ensinar mecânico de conteúdos curriculares. Se eles cantarem em sala de aula, como

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Os Caminhos da Educação

fazem os pássaros, vão alegrar os alunos e levá-los a sentir e contemplar a vida de


maneira diferente.
Alguns professores, ao término desta leitura, estarão pensando: "Que belo texto,
pena que o autor só fez poesia, é pura utopia". Para esses professores só transmito o
meu "sinto muito", pois posso até ter escrito um texto com certa carga de poesia em suas
palavras e imagens, mas essa poesia é justamente para fazer despertar as fibras mais
íntimas do ser, e assim transformar em realidade o possível que teimam em fazer
impossível.
Utopia! Mas eu continuo acreditando no professor que, em sala de aula, canta
como cantam os pássaros em todo amanhecer.

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Marcus De Mario

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A família também educa

No século XX, a corrida pelo conhecimento, o domínio tecnológico, as filosofias


libertárias e a ânsia do não compromisso bilateral, esfacelaram as relações familiares.
Hoje redefinimos a família numa visão mais ampla e mais dinâmica, e concentramos as
discussões sobre as questões do relacionamento familiar. Isso porque a desestrutura
moral caracterizada pelo adultério, sexo livre, aborto, consumo de drogas, separações,
violência doméstica é de tal magnitude, que já não nos interessa simplesmente definir
família, mas entendê-la enquanto espaço de convivência de seres humanos. Quais as
suas finalidades? Quais são seus objetivos? E sua influência na estrutura social? Qual
seu papel na formação da personalidade de seus componentes? Como deve ser
compreendida do ponto de vista das relações morais? Responder essas perguntas pode
tornar-se um exercício exaustivo, pois a profundidade do conhecimento humano oferta-
nos teorias e mais teorias, caminhos e mais caminhos.
A família é espaço de convivência porque os laços sociais que unem os homens
são necessários para que ele realize seu progresso em todas as áreas, e a família é um
conjunto de seres humanos que se enlaçam para uma vida comum, constituindo assim a
base da sociedade.
É no convívio familiar que os seres humanos têm a oportunidade de colocar em
prática o sentimento do amor, motivo pelo qual consideramos a família um espaço vital
de desenvolvimento da convivência.
Para aprender a amar os outros, é preciso conviver com eles, estar com eles,
relacionar-se com eles, descobrir-se com eles, nas alegrias e tristezas, construindo-se ao
mesmo tempo em que ajuda o outro a construir-se e receber auxílio daquele que está
com você. A família é esse lugar, esse espaço de convivência reunindo seres humanos
através dos laços de afinidade, sempre proporcionando oportunidades de progresso no
campo moral.
A família deve ser compreendida como um organismo vivo, interativo, onde os
laços de convivência predominam, estimulando o amor, a afetividade, a troca de
experiências, o apoio mútuo e a tomada de decisões em conjunto. Ela recebe e dá
estímulos, ou seja, influencia e ao mesmo tempo é influenciada pela sociedade, numa
dinâmica que derruba a velha visão linear do patriarcado.
Vamos estabelecer, como princípio básico do nosso raciocínio, que as relações
familiais são, acima de tudo, de ordem moral. Podemos chamar a nosso testemunho o

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Os Caminhos da Educação

cotidiano das famílias que conhecemos, inclusive a nossa, quando percebemos nelas um
desgaste emocional acentuado e uma intrincada rede de dissabores morais.
Sendo as relações familiais de ordem moral, fica claro que as questões
empregatícias, salariais, orçamentárias, culturais, de lazer, etc., ficam subordinadas aos
padrões éticos estabelecidos para a convivência.
Na família antiga encontramos um espaço de convivência maior entre seus
membros, embora aqui não estejamos discutindo sua qualidade. Na família atual, pelo
contrário, e apesar das facilidades tecnológicas, encontramos um espaço de convivência
menor. A própria tecnologia é responsável indireta por isso, pois ocupamos espaços
vitais para assistir televisão, ouvir música, navegar na rede mundial de computadores - a
Internet - e assim por diante. Diante disso, somos forçados a declarar que a família atual
necessita de serviços de suporte para encontrar seu equilíbrio moral.
A questão está no que fazemos da tecnologia à disposição e como entendemos
sejam as finalidades da educação, pois vários "problemas domésticos" persistem porque
os mantemos através de uma educação moralmente falseada às novas gerações. E
esses problemas se estendem à sociedade, transformando-se em "problemas sociais".
A família deve participar de grupos sócio-educativos que proporcionem a ela uma
retomada do seu papel e permitam uma discussão dela mesma enquanto espaço de
convivência de seres humanos.
Cabe à escola dimensionar os serviços de suporte à família atual, mas não de
forma isolada. Deve a escola integrar suas ações com outras instituições, tanto de caráter
religioso como social, na busca da melhor qualidade do atendimento individual e coletivo,
naturalmente sem perder sua identidade, mas objetivando o resgate da ordem moral que
deve alicerçar a família como espaço de convivência.
Entre os serviços de apoio à família, destacamos os cursos de formação para os
pais e também as reuniões de pais enquanto grupos de discussão, estudo e apoio, além
dos grupos de pais voluntários para tarefas junto à escola e à comunidade. O
desenvolvimento moral da humanidade passa antes pelo desenvolvimento moral dos
indivíduos que a compõem, e as novas gerações necessitam receber através da
educação os princípios e as regras da ciência da moral, assim como recebem da ciência
do intelectual.
O conhecimento moral deve ser propiciado aos pais pela escola, que é a
instituição capacitada para trabalhar a família do ponto de vista de sua finalidade como
espaço de convivência de seres humanos que trabalham seu progresso moral.

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Marcus De Mario

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Conhecendo a si mesmo

"Só é feliz e grande aquele que não necessita mandar nem obedecer para chegar
a ser alguém" (Goethe).
É um engano pensar que o poder de comando sobre as pessoas gere a felicidade
tão sonhada. Se esse poder for gerido pelo egoísmo e pelo orgulho, semeará mágoas,
revoltas, ódios, que mais cedo ou mais tarde se voltarão contra quem fez essa mesma
semeadura.
O poder temporal é sempre passageiro. Somos substituíveis a qualquer momento,
e se não soubemos cultivar a verdadeira autoridade, que é a autoridade moral, só
teremos decepções para colher.
A felicidade também não está em ser subserviente a tudo e a todos, obedecendo
em qualquer circunstância, pois isso denota caráter fraco, tão egoísta quanto daquele
que manda sem compaixão, pois obedecemos por conveniência, seja para ganhar
determinadas vantagens, seja para não sermos incomodados.
Para ser alguém na vida temos que nos conhecer, sentir em nós mesmos a
potencialidade espiritual de que somos dotados, trabalhando pacientemente por acionar
essas potencialidades a nosso próprio benefício e a benefício dos outros.
Para ser alguém na vida temos que ter objetivos mais profundos, procurando
estabelecer ideais de ação que visem construir um mundo melhor.
Para ser alguém na vida necessário se faz gostarmos de nós mesmos e,
agradecidos a Deus pelo que somos e pelo que podemos ser, andarmos de cabeça
erguida, comandando com humildade ou obedecendo com sabedoria.
Conhecendo-nos seremos realmente felizes.
###
Esta mensagem é para você, professor, que, cabisbaixo diante de tantos
problemas na escola, tem se estressado, conhecido a depressão ou simplesmente tem
"chutado o balde".
Você pode ser feliz e pode reverter o quadro atual do ensino, mas para isso é
necessário mudar o seu olhar sobre a educação, e mudar a sua postura em sala de aula.
Acredite em você, olhe com profundidade a educação e, a cada dia, reinicie o
trabalho com vontade de acertar e de caminhar passo a passo com seus alunos.
Sinta-se. Conheça seu potencial. Avalie seus ideais. Reveja suas ações. Renove-
se. E seja feliz. Ou você não acredita que isso é possível?

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Os Caminhos da Educação

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Como se educa quem deve educar

A sala de aula está repleta de olhares sedentos de conhecimento, afinal todos ali
estão com um objetivo comum: tornarem-se pedagogos, estarem preparados para
trabalhar nas escolas e dar aula a crianças, adolescentes, jovens. A professora explica,
sem meias palavras: "Não se iludam! Esse negócio de diálogo com os alunos, construção
do aprendizado e outras coisas, é tudo bobagem. Tenho mais de vinte anos de
magistério e posso afirmar a vocês que o professor deve entrar em sala e marcar bem a
sua autoridade. É ele quem manda e quem ensina. É um erro tirar das salas aquele
tablado, porque o professor tem que "ficar por cima". Se vocês, quando começarem a dar
aula, não fizerem isso, os alunos tomam conta e fazem de vocês verdadeiros palhaços!".
Quem me narra a cena, com olhar de espanto e indignação, é uma amiga,
atualmente fazendo a faculdade de pedagogia. Reflito e argumento: "Discurso e postura
mudaram bem pouco nesses vinte e pouco anos que separam minha história de aluno na
faculdade, da sua história, hoje, também como aluna numa faculdade".
Diante da realidade que enfrentamos, com a proliferação de faculdades de
pedagogia, a maioria particulares, como atestam estatísticas do Ministério da Educação,
devemos perguntar: como estamos educando aqueles que devem educar? É
questionamento bem mais forte do que se formulássemos a questão desta outra maneira:
o que se ensina a quem deve ensinar? Isso porque um pedagogo deveria ser exemplo de
educador, fazendo a diferença na escola. E porque professor não é sinônimo de
repassador de conteúdos. Infelizmente, não é o que se vê.
Entrincheirados numa cultura acadêmica distanciada da realidade escolar básica,
e fazendo de mestrados e doutorados escudo protetor para hipocrisias, diletantismos,
favorecimentos e perpetuação no cargo, grande parcela dos professores do ensino
superior mantém discurso e postura desantenados, desplugados e dissociados da
realidade e das conquistas pedagógicas e psicológicas referentes ao homem.
Minha amiga tem razão em ficar indignada. O conselho dado por sua professora é
medieval, demonstrando preconceitos com relação aos alunos e colocando o professor
como detentor de um autoritarismo ditatorial e antididático - talvez seja melhor dizer
antipedagógico.
Quantas vezes, já perdi a conta, professores ficaram olhando para mim sem
conseguir definir o que é educação? E a definição de pedagogia? E por que estão em
sala de aula? A maioria é pedagogo, está fazendo ou já fez pós-graduação. E não
conhecem muitos pensadores e educadores. Nunca leram sobre eles ou algo que

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Marcus De Mario

escreveram. Às vezes desconhecem o mínimo sobre didática. Será que podemos chamá-
los de pedagogos?
Desde a década de sessenta do século vinte perdemos o rumo da educação em
nosso país. Lá se vão mais de cinquenta anos de formação deficiente do professor,
desqualificação da escola e substituição do educar pelo ensinar. E os resultados aí estão,
sem necessidade de comentários.
Enquanto ficarmos assistindo, ano após ano, pedagogos de papel, exibindo um
certificado da faculdade, adentrarem ao sistema de ensino com visão e valores
deturpados, o que podemos esperar como consequência?
Repetindo frase verdadeira que se perde no tempo: só quem ama pode realmente
educar.

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Os Caminhos da Educação

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A educação

O educando, seja qual for sua faixa etária, é um ser integral objeto da educação,
ou seja, é com ele, para ele, por causa dele que a educação existe.
O educando não é uma coisa. Também não é um objeto. Igualmente não pode ser
classificado como um boneco.
Quando está numa sala de aula, o professor deve ter consciência que os alunos à
sua frente são seres humanos, são almas dotadas de potencialidades perfectíveis,
esperando por estímulos positivos que auxiliem seu processo de crescimento interior.
São seres humanos ansiosos por aquisição de conhecimentos e também por conquista
de si mesmos, para vivenciarem plenamente ideais superiores de vida.
Todo professor deve estar consciente do seu papel de educador de almas.
A criança, o adolescente, o jovem e o adulto possuem fases distintas de
desenvolvimento, fases essas que possuem ampla interação com os contextos
educacionais que já estudamos. Para que melhor ele se eduque, o processo educacional
deve trabalhar em harmonia com todos os contextos.
O educando é a causa da educação. O conteúdo curricular não é a causa da
educação. A carga horária de ensino não é a causa da educação. As disciplinas
curriculares não são a causa da educação.
É e sempre será a causa da educação o próprio homem. Somente a
insensibilidade e a ignorância podem trabalhar tudo, menos a criança que ali está, rica
em si mesma, inteligente e afetiva, com seus olhos repletos de esperança, depositando
toda sua confiança no professor, pois sua vida está nas mãos e no coração daquele
mestre.
Minha memória está repleta de cenas vivas com crianças, jovens e adultos.
Abraços bem apertados, sorrisos de alegria, palavras de agradecimento, lágrimas de
gratidão, felicidade em aprender, e tantas outras cenas que talvez um livro não pudesse
conter todas as descrições. São cenas vivas porque sempre me dediquei com todo amor
ao ato de educar, mesmo trabalhando com adultos em cursos de capacitação, pois
reconheço em todos eles seres humanos, iguais a mim mesmo, com suas
potencialidades aguardando meu afeto, meu ideal, minha visão integral, mesmo com
falhas, pois eles sentem em mim mais do que um coordenador, a sagrada esperança de
ter encontrado um educador, e eu somente poderei chegar a esse patamar se
compreender que diante de mim está outro ser humano. Assim deve ser todo professor.

59
Marcus De Mario

Pais e professores, em sua maioria, não possuem visão plena da influência que a
educação exerce na vida de seus filhos e alunos. As preocupações de ordem material e
intelectual sufocam a educação, substituída pela instrução, verdadeiro adestramento para
a vivência social.
Exemplo do que estamos falando é a escola que, de forma geral, sempre com
suas exceções, está preocupada em realizar a preparação dos seus alunos para as
provas universitárias, direcionando todos os seus esforços para o conteúdo curricular,
deixando em segundo plano a formação do caráter, a sensibilização dos sentimentos e
outros fatores essenciais da verdadeira educação.
Outro exemplo é o quadro normalmente encontrado nas famílias e que podemos
compreender com a seguinte história: "O pai e a mãe estavam reformando o quarto da
filha, que havia completado cinco anos de idade. Naquele momento estavam pintando as
paredes, com o pai sobre uma escada, enquanto a mãe pintava a parede da metade para
baixo. A filha entrou no quarto, com os braços cruzados sobre o peito, e, muito séria,
perguntou: "Que diabos! Quando vocês vão terminar?". A menina saiu batendo os pés no
chão, mostrando sua contrariedade, o que deixou o pai extremamente irritado. Este,
olhando, atônito, para a esposa, perguntou: "Mas, que diabos, onde nossa filha aprendeu
a falar assim?" E arrematou dando um chute no degrau da escada".
Esta história retrata bem o poder da influência da educação, e o quanto os pais
não são conscientes dessa influência.
O educando é extremamente influenciável pelos exemplos, pelo que lhe é
proporcionado. Se recebe bons estímulos desenvolve com mais facilidade suas
potencialidades. Se não recebe esses bons estímulos, sua dificuldade em mostrar suas
capacidades é maior.

60
Os Caminhos da Educação

30
O encanto do amor

Professor, você já se perguntou o que é o amor? Qual é o poder do amor na


educação? Que consequências para o processo ensino-aprendizagem estabelece o
amor?
Não podemos conceber o ato de educar sem a presença ativa do amor. Quem
educa é um ser humano, e quem está sendo educado também é um ser humano. Como
seres humanos os dois são dotados de sentimentos, de cargas emocionais, afetivas,
psicológicas que não podem ser desprezadas, devem interagir.
Interação no amor significa que o professor deve despir-se de autoritarismo, de
cátedra, de passador de conteúdos, para ser um facilitador do processo de construção de
saberes, habilidades, comportamentos e atitudes, deixando o aluno percorrer a estrada
do conhecimento de si, do outro e da vida, do jeito que ele quiser e puder percorrer essa
estrada.
Falamos tanto de respeitar as diferenças e esquecemos que cada criança, cada
jovem, cada adulto é um universo independente repleto de potenciais. Cada ser humano
tem seu próprio ritmo, seu querer, seus ideais. Só quem educa com amor percebe isso, e
respeita.
Quando falamos de educação moral, que propicia a formação do caráter, não nos
referimos a lições de moral, a sermões sobre cidadania, a conteúdos sobre ética.
Dizemos do facilitar e orientar a formação do senso crítico, do conquistar, por parte do
aluno, a ética do bem em contraposição do mal, do desenvolver virtudes. O caráter não
pode ser formado de fora para dentro. É conquista íntima, pessoal, intransferível.
Amar é fundamental. O amor sabe ouvir e sentir. O amor caminha junto, mas não
sufoca. O amor dá liberdade e aceita o outro como ele é. O amor respeita limites e
entrega responsabilidades. O amor incentiva e faz pensar. O amor não entrega tudo
pronto.
O professor que ama a educação e ama o que faz na educação compreende que
à sua frente está um ser em construção, e que esse ser constrói a si mesmo, como
personalidade única. Cabe ao professor o papel de educador, o mestre que orienta.
Quem orienta não é o fazedor das coisas.
Professor, você já percebeu, em seus estudos, que os chamados grandes
educadores da humanidade, destacados nos livros de história da educação e da
pedagogia, são homens e mulheres que muito amaram o que fizeram?

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Marcus De Mario

O amor é a marca registrada daqueles que se destacam na educação, mesmo


que seus nomes não apareçam nos livros de história, pois ficam para sempre registrados
no coração dos seus alunos.

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Os Caminhos da Educação

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Do que necessitamos para educar

Quando seu filho corre pela casa e derruba alguma coisa, você normalmente
reage com gritos, ameaças e castigos, certo? Errado!
Você tem dois filhos, um de seis anos, que já está na escola, e outro que está
com dois anos. Você vai pegar seu filho na escola, levando o outro no colo. Quando
chega, o mais velho se põe aos gritos, se joga no chão e grita que a mamãe é apenas
dele. O que você faz quando chega em casa? Castigo, para que ele aprenda a não ser
manhoso. Certo? Errado!
E assim poderíamos listar outras cenas cotidianas do universo familiar, ilustrando
atitudes erradas de pais e mães na educação de seus filhos. Mas, por que estão
erradas?
Na primeira cena, não reconhecer que a criança é agitada por natureza, possui
muita energia, e que nem sempre ela entende estar fazendo algo ruim, mas apenas uma
inocente brincadeira, é dar prova de impaciência, de ser mais importante a arrumação da
casa que o próprio filho. Gritos não resolvem pois a criança não compreende porque
estão gritando com ela. Ameaças não funcionam porque ou as cumprimos ou elas se
tornam mero palavreado sem efeito. Castigos não corrigem porque eles são aplicados
sem as devidas explicações, ou seja, sem explicarmos os porquês.
Na segunda cena, no lugar do castigo você deveria dar afeto, atenção, amor, pois
seu filho está dizendo: "estou com carência afetiva, você carrega meu irmão no colo e
não faz mais isso comigo". E o verdadeiro mal do século é a carência afetiva, e também a
falta de amor, a inexistência de diálogo construtivo, a não prática de bons exemplos.
E tudo fica mais agravado quando entendemos que a educação é missão sagrada
dos pais.
E do que necessitamos para sermos, pais e mães, avós e responsáveis, bons
educadores dos nossos filhos? Vamos responder por etapas.
Primeiro, necessitamos compreender nossa espiritualidade. Compreender a
espiritualidade humana é fundamental para melhor educar.
Segundo, como decorrência do primeiro enunciado, compreenda que a criança, e
também o adolescente e o jovem, é uma alma. Ela não é um brinquedo, uma boneca e
nem mesmo um adulto em miniatura. É gente como a gente, para utilizar a expressão do
educador brasileiro Paulo Freire, portanto, deve ser respeitada na sua condição
intelectual e moral.

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Marcus De Mario

Terceiro, para melhor educar é preciso amar esse ser que Deus confiou para nós.
Não existe verdadeira educação fora do amor. Mas não esse amor que se dissipa um
minuto depois, quando passamos a tratar nosso filho de "coisa" que atrapalha nossa vida.
O amor, acima de tudo, compreende e renuncia.
Quarto enunciado: a melhor educação é aquela realizada através dos nossos
próprios exemplos. Se você fuma, fala palavrão, grita, fofoca a vida alheia, é egoísta, age
com violência, e tantas outras coisas que caracterizam vícios do caráter e maus hábitos,
como pode querer que seu filho seja diferente?
E, finalmente, deixe seu filho ter suas próprias experiências. Não faça as coisas
no lugar dele. Interaja com ele e delegue tarefas. Deixe ele compreender o que são
limites, responsabilidades, deveres. Se você sempre limpar onde ele sujou, sempre
guardar as roupas que ele espalhou, sempre desculpar os erros que ele cometeu, a
deseducação estará instalada.
Lembre-se que a missão de educar significa formar o caráter, fazer com que o
filho adquira o senso moral, saiba distinguir entre o bem e o mal.
E o diploma, não é importante? É, sim, mas não da maneira como normalmente
entendemos, dando tanta importância à preparação para o vestibular e a carreira
universitária, que esquecemos de tornar nosso filho um bom cidadão.
Do que necessitamos para educar? Necessitamos de espiritualidade, de
compreensão, de renúncia, de amor, de bons exemplos e de uma ação prática que não
tolha a alma, agora nosso filho.
E, para terminar estas considerações, uma palavra aos professores: não sejam
simplesmente transmissores de conteúdo curricular, sejam educadores de almas! Não
basta ensinar a ler e escrever. Não basta desenvolver o cognitivo. É preciso desenvolver
o senso moral. É preciso desenvolver os sentimentos. Todo educador reveste-se do
sagrado manto de tornar-se um segundo pai ou segunda mãe. Mas quando teimamos em
estagiar apenas como professor, quase sempre ficamos na superfície do processo
educacional, e depois nos queixamos dessa geração que não liga para nada e
desrespeita os códigos básicos da cidadania, quando a culpa por esse estado de coisas
também é nossa, ou melhor, dos que teimam em se considerar apenas professor.
Agora que você já conhece algumas ferramentas necessárias para melhor educar,
medite sobre as mesmas, suas conseqüências quando aplicadas. E, por favor, não fique
apenas na meditação, faça a sua parte, educando-se, para melhor educar os outros.

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Os Caminhos da Educação

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Se você educar com amor

Falará ao coração dos seus educandos.


Ouvirá com atenção seus colegas de trabalho.
Repartirá conhecimentos.
Somará experiências.
Utilizará das experiências de vida.
Terá visão ampla do processo educativo.
Resolverá problemas sem se estressar.
Envolverá pais e alunos com ternura.
Descobrirá em si mesmo muitos potenciais.
Conquistará resultados fantásticos.
Desejará sempre mais.
Sonhará ideais.
Concretizará sonhos.
Realizará muitos desejos.
Se você educar com amor, tudo o que fizer voltará para si em dobro na forma de
alegrias, afetos, saudades e gratidão.
Você irá chorar quando ex-alunos lhe disserem "muito obrigado".
Dará largos sorrisos quando lembrar de cenas passadas em sala de aula.
Respirará bem fundo, satisfeito, por encontrar quem se inspira em seu trabalho.
Se você educar com amor, tudo o que é difícil passa a ser fácil.
Se você educar com amor, os problemas serão substituídos por questões a
resolver.
E você entenderá que o amor é o melhor, mesmo o único, preenchimento dos
vazios da alma.
Tendo amor no que faz, você terá muitas histórias bonitas para contar.
E cada vez mais o amor será maior em seu coração, porque alimentado pelo amor
daqueles que, por gratidão ou sensibilizados, terão igualmente muito amor para dar.
Amar é doar-se, permitindo-se sentir a si mesmo e o outro.
É acreditar em você e no outro.
É trabalhar incessantemente pelo que se quer e se acredita.
É vivenciar, nas pequenas e nas grandes coisas, os sentimentos.
Se você educar como amor, sentirá Deus pulsar no seu íntimo, e uma força de
vontade lhe impulsionará sempre à frente.

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Marcus De Mario

Se você educar com amor, a educação se fará plena e profunda.


Ame-se, como você é, com o que você quer, com quem você está.
E trabalhe sempre para dar do seu melhor.
Com amor no coração, no cérebro e nas mãos, tudo poderá ser resolvido e todos
poderão ser muito mais do que são.
Eduque com amor, com imenso amor.
E receba, cem por um, o mesmo amor, o mesmo imenso amor.

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Os Caminhos da Educação

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O salário e a qualidade

Várias pesquisas feitas em países da Europa e também no Brasil (comparando


região sudeste com o nordeste) chegaram a uma mesma conclusão: não é o melhor
salário do professor que faz ensino de qualidade na escola.
A constatação dessas pesquisas derrubam um mito do meio educacional: aquele
que diz que "com esse salário de fome" é impossível trabalhar direito e, portanto, ensinar
com qualidade. Não é bem assim. Claro que todo professor merece e tem de ganhar
salário digno, que lhe permita viver bem e dedicar-se ao seu trabalho escolar, entretanto,
se ele não tiver na alma o ideal da educação, se não tiver no coração o sentimento do
amor, se no seu íntimo não gostar do que faz, de nada adiantará receber um bom e digno
salário.
As avaliações realizadas pelo Ministério da Educação (MEC) - vou utilizar desse
parâmetro, embora seja um crítico dessas avaliações - mostram que escolas públicas
situadas em regiões desfavoráveis, como no sertão nordestino, conseguem nível de
muito boa qualidade no ensino, em contraste com escolas públicas bem situadas e bem
dotados pelo orçamento municipal no sudeste, de baixo rendimento no ensino.
E o que falar de países como Finlândia e Suécia, verdadeiros paraísos celestes
para o professorado, e que não conseguiram nos últimos tempos alcançar boa avaliação
no ensino em comparação com seus primos pobres da mesma Europa?
Tudo isso demonstra que a relação salário/qualidade de ensino não é o fator
preponderante, embora tenha sua influência. A verdade é que o professor pode receber
ótimo salário, muito boas condições de trabalho, e mesmo assim não realizar um bom
trabalho. Por que? Porque falta nele o amor, a verdadeira dedicação, e isso não são as
pesquisas que revelam, e sim o diálogo com os professores e a constatação do que
fazem e como fazem na escola.
Uma reportagem mostrou professora pública do interior piauiense que adora o que
faz, recicla materiais e transforma-os em recursos didáticos, fazendo com que seus
alunos desenvolvam o aprendizado. Ela é muito querida por alunos e pais. Outra
reportagem mostrou escola particular de amplos recursos, informatizada, onde várias
professoras apresentam baixo nível de diálogo com os alunos, tendo suas turmas notas
ruins em avaliações internas e externas. Onde está a diferença? Está no amor maior ou
menor que se tem pela educação.
E o que dizer daquela professora que sempre reclamou do salário e, por esse
motivo, tudo fez para ampliar seus estudos, com muito sacrifício, até conseguir tornar-se

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Marcus De Mario

mestre em educação, passando a trabalhar no ensino superior e como consultora


pedagógica, ganhando ótimos rendimentos, e nem assim ficou melhor consigo mesma e
com a educação? É que hoje ela está às voltas com dívidas de cartão de crédito e
cheque especial, reclamando que o que ganha não é suficiente.
Não é o salário que faz ensino de qualidade. É o amor. É o gostar de educar. É o
fazer da possível adversidade uma aliada da criatividade. É o lutar constante pela
melhoria de todo o processo educacional. Infelizmente a maioria dos professores dorme
na acomodação, e se irrita com aqueles que querem fazer, quanto mais com os que
fazem.
Repito: todo professor merece um salário digno, mas se ele continuar sem amor à
educação, não é esse salário digno que fará com que o ensino nas escolas tenha melhor
qualidade.

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Os Caminhos da Educação

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Direitos humanos

Desde o início da década de 1990 temos ouvido das autoridades públicas e dos
responsáveis pela educação, em todos os níveis, discurso sobre cidadania e
intervenções sócio-esportivas nas chamadas comunidades - antigas favelas - dos
grandes centros urbanos. E assistimos o surgimento de organizações não
governamentais e projetos públicos trabalhando formação cidadã através do esporte, da
dança, da música e da distribuição de renda. Tudo isso em nome dos direitos humanos,
da justiça social, da igualdade de oportunidades, da formação de consciências.
Na contramão dessa corrente de ideias e ações, assistimos a aplicação cada vez
maior de verbas na segurança pública, fomentando operações militares - verdadeira
guerra civil urbana - sobre as comunidades; vemos acordos acontecendo para encobrir a
corrupção; hospitais públicos deteriorados e escolas sem os equipamentos mínimos,
além do professorado da rede básica não ganhar um salário digno.
Entretanto, a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, onde lemos, no artigo 1º: "Todos os seres humanos
nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência,
devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade".
Ainda estamos longe do entendimento e da aplicação das três idéias básicas
apresentadas nesse artigo da Declaração.
Todos somos livres e iguais - Contudo, preconceitos e discriminações
avassalam a humanidade, desde o nascimento da criança. Separamos por cor da pele;
distinguimos por origem social. E isso fazemos tanto na família quanto na escola,
originando desigualdades, falta de oportunidades e distorções nas instituições sociais. A
liberdade e igualdade devem ser entendidas no âmbito de todo homem poder viver com
dignidade e com os mesmos direitos. Trabalhamos isso na escola? Se o fazemos, de que
forma estamos fazendo? Conceituamos isso na família? E se o fazemos, com que
exemplos?
Temos razão e consciência - Sim, todo ser humano pensa, raciocina, escolhe,
possui consciência de si, de seus atos e da vida. Mas, em que nível? E deixamos que
ele, através da educação, consiga elevar o seu nível de consciência, de agir livremente e,
ao mesmo tempo, com responsabilidade? Ao estar alfabetizado e acumulando saberes,
estará o homem apto para agir de acordo com a ética? Será um verdadeiro cidadão,
preocupado moralmente consigo e com o outro?

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Marcus De Mario

Espírito de fraternidade - Significa que na ação social o homem deve ser


solidário, deve saber colocar em prática a regra de ouro da educação: fazer ao outro
somente o que quer que o outro lhe faça. Essa regra está presente no pensamento e nas
ações educativas? É prioridade nas escolas? Está em primeiro plano na família? Ou será
que, durante ainda muito tempo, consideraremos isso como uma questão de discussão
filosófica, ou de domínio das religiões?
Quanta coisa num único parágrafo da Declaração Universal dos Direitos
Humanos. Declaração que só será manifesta na vida se incorporada pela educação. Não
em projetos cíclicos, pois estamos falando de fusão com a base da educação, com todo o
edifício que faz a educação do homem desde o berço.
Não é possível fazer da Declaração Universal dos Direitos do Homem uma
realidade enquanto não entendermos que somente a educação pode implantá-la na
razão, na consciência e no coração dos homens. E não estamos falando de uma
educação reduzida a ensino de conhecimentos e preparação profissional. Essa educação
não fará do homem um ser solidário, ético, cidadão. Que adianta a formação esportiva
se, como atleta, o homem transgredirá as regras? Se continuará a realizar todos os
esforços pelos ganhos salariais, patrimoniais e sociais, com pouco ou nenhum esforço
para os ganhos morais e espirituais, que são valores reais e imperecíveis?

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Os Caminhos da Educação

Sobre o autor

Marcus De Mario nasceu em São Paulo, capital, fixando residência, ainda na


juventude, na cidade do Rio de Janeiro.
É escritor, educador e consultor, tendo fundado em 1999 o IBEM – Instituto
Brasileiro de Educação Moral, organização não governamental sem fins lucrativos, do
qual é Diretor Geral, onde, através do Projeto Educação Moral para Formação do
Homem, desenvolve a Pedagogia da Sensibilidade, a Escola do Sentimento e o
Programa Vivendo Sempre em Paz, realizando palestras, seminários, oficinas de
vivências e cursos (presenciais e a distância), sendo igualmente editor da Revista
ReConstruir, sobre educação.
Ainda através do IBEM desenvolve o Programa Afetividade e Convivência na
Empresa (PACE), onde trabalha a gestão humanizada de pessoas e a liderança
espiritualizada junto a empresas. Coordena, através da Internet, as atividades do Portal
Orientação Espírita. É sócio-diretor da Interior da Alma Editora.
Para conhecer o trabalho de Marcus De Mario, acesse os seguintes sites:

Instituto Brasileiro de Educação Moral


www.educacaomoral.org.br

Portal Orientação Espírita


www.orientacaoespirita.org

Blog
http://analiseecritica.blogspot.com

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Marcus De Mario

Sucessos de Marcus De Mario


Gestão Humanizada de Pessoas
Marcus De Mario
Trabalhando os desafios contemporâneos da gestão empresarial, o autor revela
a aplicação dos princípios da humanização, afetividade e convivência no
ambiente de trabalho. Cada capítulo, além do desenvolvimento teórico, traz
perguntas instigantes, histórias exemplificadoras e questionários. Ao final,
estudos de casos realçam a importância e consequências da humanização do
ambiente corporativo e da espiritualidade na gestão de pessoas.

Paz na Escola, Paz no Mundo


Marcus De Mario e Ronaldo Gomes
Com este livro escolas e organizações sociais poderão desenvolver o Programa
Vivendo Sempre em Paz, envolvendo professores, alunos, pais e comunidade
em atividades contínuas pela cultura da paz. Apresenta 22 atividades
educacionais, 25 textos para reflexão e debate em grupo, 29 frases sobre a paz
para promoção de campanhas e anexos. Depois de dez anos de aplicação em
escolas cadastradas através do Instituto Brasileiro de Educação Moral, agora os
autores disponibilizam o material pedagógico para todos os educadores.
Pedagogia da Sensibilidade
Marcus De Mario
Proposta de uma educação sensível ao homem em formação, com orientações
para humanização do trabalho escolar. Na primeira parte o autor desenvolve
toda a teoria, e na segunda parte apresenta 104 atividades educacionais:
exercícios de vida, práticas de bondade, jogos cooperativos, técnicas de
sensibilização dos sentimentos, vivências de solidariedade, jogos para
estimulação das relações interpessoais, técnicas de ensino e atividades para
desenvolvimento do instinto, do cognitivo e do sentimento.
Leia e recomende!
À venda na Loja Virtual Marcus De Mario– www.marcusdemario.com.br

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