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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE HUMANIDADES II
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM BIBLIOTECONOMIA

RAFAELA OLIVEIRA CARNEIRO

DOCUMENTOS UFOLÓGICOS: O DESAFIO PARA O ACESSO À INFORMAÇÃO

FORTALEZA
2018
RAFAELA OLIVEIRA CARNEIRO

DOCUMENTOS UFOLÓGICOS: O DESAFIO PARA O ACESSO À INFORMAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Graduação em Biblioteconomia
do Centro de Humanidades II da Universidade
Federal do Ceará, como requisito parcial à ob-
tenção do grau de bacharel em Biblioteconomia.

Orientador: Prof. Me. Márcio de As-


sumpção Pereira da Silva

FORTALEZA
2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

C29d Carneiro, Rafaela Oliveira.


Documentos Ufológicos : o desafio para o acesso à informação / Rafaela Oliveira Carneiro. – 2018.
101 f. : il. color.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades,


Curso de Biblioteconomia, Fortaleza, 2018.
Orientação: Prof. Me. Márcio de Assumpção Pereira da Silva.

1. Ufologia. 2. Documentos. 3. Lei de Acesso a Informação. 4. Acobertamento. 5. Desinformação. I. Título.


CDD 020
RAFAELA OLIVEIRA CARNEIRO

DOCUMENTOS UFOLÓGICOS: O DESAFIO PARA O ACESSO À INFORMAÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Graduação em Biblioteconomia
do Centro de Humanidades II da Universidade
Federal do Ceará, como requisito parcial à ob-
tenção do grau de bacharel em Biblioteconomia.

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

Prof. Me. Márcio de Assumpção Pereira da


Silva (Orientador)
Universidade Federal do Ceará (UFC)

Prof. Dra. Isaura Nelsivânia Sombra Oliveira


Universidade Federal do Ceará (UFC)

Prof. Dr. Arnoldo Nunes da Silva


Universidade Federal do Ceará (UFC)

Prof. Dr. Antônio Wagner Chacon Silva


Universidade Federal do Ceará (UFC)
A minha mãe Beatriz, pois tudo de bom que
eu tenho dentro de mim eu herdei dela e a Ja-
mes McDonald pela coragem e a inspiração em
momentos tão obscuros. Vocês eram bons de-
mais para esse mundo frio, injusto, corrupto e
ingrato.
AGRADECIMENTOS

Será para mim muito difícil colocar aqui todas as pessoas que, de alguma maneira,
contribuíram para que esse trabalho e que essa graduação se tornasse possível, pois o caminho até
aqui não tem sido fácil. Foram provações e desafios que sei que muitas pessoas não suportariam.
Houve muita torcida contra, muitas noites em claro, muitas lágrimas e uma sensação de desespero
e abandono que achei que a qualquer momento fosse me matar, mas não matou e aqui estamos,
vivos para contar essa história e apresentar esse trabalho.
Primeiramente gostaria de agradecer à minha mãe, Beatriz Carneiro de Oliveira,
pelos poucos anos que passou ao meu lado. Acho que nunca em minha vida encontrei alguém
com a alma tão pura e tão boa, que fazia qualquer coisa pra ver todo mundo bem, até mesmo quem,
muitas vezes, não merecia. Foi uma lutadora, saiu do sertão de Boa Viagem e veio para Fortaleza
sozinha, enfrentou esse mundo, diversas vezes, e também enfrentou o preconceito por ser mãe
solteira. Estudou tudo o que pode, trabalhou duramente onde podia. Chegou a morar de favor na
casa dos outros, foi muito julgada e humilhada, sofreu com relacionamentos abusivos, traição
de pessoas em quem confiavam, injustiça, acusações e mentiras, mas venceu as adversidades
e pôde me dar uma vida mais digna e a Educação que lhe foi negada no interior. Infelizmente,
ela não está mais aqui pra ver esse dia tão importante, a depressão cruel e devastadora que a
atingiu e sua trágica morte ainda tão jovem, com 52 anos, impediu que isso acontecesse, mas
tento carregar dentro de mim, todas os exemplos e coisas boas que ela passou, a alegria que a
tornou tão conhecida entre as pessoas, a simplicidade e humildade de quem só quem lutou muito
na vida sabe apreciar, além do coração de ouro, provavelmente o maior tesouro que ela possuía.
Em seguida, gostaria de agradecer e relembrar todos os grandes guerreiros e percus-
sores da Ufologia, pessoas que enfrentaram todo o tipo de descrédito, humilhação e preconceito
para trazer um pouco de luz sobre um dos maiores mistérios de nossa história: O Fenômeno
UFO. Gostaria de agradecer a Coral e Jim Lorenzen, dois dos primeiros desbravadores dessa
nova realidade, fundadores do primeiro centro de pesquisa civil de UFOs. Pessoas comuns
que gastaram seu tempo e recursos para estudar e entender esse estranho fenômeno enquanto
as autoridades governamentais e científicas fechavam os olhos para ele. Coral Lorenzen, uma
mulher, em plena década de 50 que passou por cima de machismos, desconfianças e de todas
as dificuldades que estavam no caminho de uma mulher naquela época, para se tornar uma das
grandes ufólogas do planeta e um dos pilares da Ufologia até os dias de hoje. Agradeço também
ao seu marido Jim Lorenzen que não apenas a apoiou e acreditou nela, mas como também foi
seu braço direito e principal suporte na vida e nas pesquisas. Um amor de uma vida inteira e que
nos presenteou com tudo de mais sincero e bom que só o amor verdadeiro pode trazer.
Gostaria de agradecer também a Josef Allen Hynek um homem que no começo era
um cético ferrenho da Ufologia e que foi jogado no meio desse mistério todo pelo governo
estadunidense com o único objetivo de desacreditar o Fenômeno UFO, para depois se tornar um
dos maiores defensores e divulgadores da realidade ufológica, Hynek era um homem no meio do
fogo cruzado, à frente da consultoria científica do Projeto Blue Book tinha o desafio de divulgar
a verdade sobre os UFOs, mas sem desagradar aos militares que tanto faziam para esconder
o assunto. Após se libertar do jugo das Forças Armadas, depois do encerramento do Projeto
Blue Book, em 1972 Hynek lançou o livro "Ufologia - Uma pesquisa científica", que é uma das
maiores obras em se tratando de Ufologia da história. Séria, sóbria e rica, Hynek usa todo o seu
conhecimento em Astronomia e Física para dar ao Fenômeno UFO a abordagem científica que
ela merece e foi uma das principais referências desse trabalho.
Gostaria de agradecer também a um dos primeiros ufólogos brasileiros e que tão
cedo partiu desse mundo: Dr. Olavo Fontes. Amigo próximo de Coral e Jim Lorenzen, ele foi
um dos responsáveis por levar a Ufologia Brasileira para o mundo. Investigou diversos casos
que ficaram na história da casuística ufológica mundial, também enfrentando o preconceito e
as ameaças daqueles que tem por interesse ocultar a verdade sobre os UFOs. Faleceu em 1968,
depois de um implacável câncer no estômago, mas sua obra e seu trabalho, não serão esquecidos.
Gostaria de agradecer também a Reginaldo de Athayde, o maior divulgador da
Ufologia Nordestina da História e um dos integrantes do grupo que lançou a campanha de
Liberdade de Informação para os documentos ufológicos. Ufólogo empenhado, organizado e
extremamente inteligente, ia até os mais profundos lugares do Sertão para investigar aterrorizantes
casos ufológicos sendo o mais famoso deles o Caso Barroso, cuja a vítima, depois de um contato
com seres de um objeto desconhecido que pousou numa estrada na cidade de Quixadá, foi
acometido de uma horrível enfermidade que o colocou num estado de coma por quase 20 anos.
As causas dessa doença jamais foram descobertas por nenhum médico nem daqui e nem do
exterior, permanecendo um mistério até os dias de hoje. Foi o primeiro ufólogo que conheci na
vida, ao vê-lo num programa de TV, quando eu ainda era criança, falando sobre Discos Voadores
no Ceará, foi a primeira vez que soube que eu não estava sozinha naquilo que acreditava. Athayde
tinha um amor verdadeiro pela Ufologia e foi um pesquisador atuante até a idade avançada o
impossibilitar disso. Lamentava imensamente não ter mais forças para buscar os ufos que tanto
procurou em vida. Sucumbiu no dia 13 de outubro de 2014.
Gostaria de agradecer também a Comissão Brasileira de Ufólogos, Ademar Gevaerd,
Marco Antonio Petit, Alfonso Beck, Thiago Thichetti, Claudeir Covo e Fernando Ramalho, entre
outros integrantes da Revista UFO e todos os grupos que estiveram envolvidos na Campanha
UFOs: Liberdade de Informação Já!, que tiveram convicção e enfrentaram uma batalha pelo
direito de saber o que o Governo Brasileiro escondia sobre os UFOs. Houve muitas negações,
promessas não cumpridas por parte das Forças Armadas, mas a união e força de quem luta
e batalha pela verdade uma hora dá seus frutos. A batalha pelo acesso à informação apenas
começou e continua ativa na Comunidade Ufológica, pois temos convicção de que nada fica
muito tempo oculto debaixo do véu do segredo.
Por último nesse primeiro leva de agradecimentos, deixei aquele que pra mim, é o
mais especial, aquele cuja luta ultrapassou todas as dificuldades possíveis, passou por cima das
desconfianças, zombarias, perseguições e humilhações para se tornar, a meu ver, o grande mártir
da Ufologia: Dr. James E. McDonald.
Falar de James McDonald pra mim é muito mais do que uma emoção, é um orgulho,
pois ele representava tudo aquilo que um cientista deve ser: curioso, honesto, esperto, investi-
gativo e honrado, preocupava-se com o mundo e achava que a Ciência existia para melhorar a
vida das pessoas. McDonald era doutor em Física Atmosférica e professor pela Universidade
do Arizona, era extremamente produtivo, muito conhecido e respeitado em sua área de atuação,
com dezenas de artigos publicados. Ele também sempre esteve envolvido com questões sociais
da época, como a luta contra o armamento nuclear, contra a destruição da camada de ozônio
e contra a Guerra do Vietnã. James ou “Jim” como era conhecido pelos mais íntimos, era um
homem de hábitos simples, apegado à família e a pacata vida em Tucson no Arizona, até hoje
uma cidade universitária.
Um dia, num entardecer de 1954, enquanto realizava pesquisas meteorológicas no
deserto de Tucson com mais dois colegas, sua atenção se voltou para algo além das nuvens
no céu. O Objeto Voador Não Identificado que ele descreveu, tinha a forma de uma esfera,
uma coloração parecida com o alumínio e brilhava reluzindo os últimos raios de sol. Aquele
avistamento mudaria sua vida e com ela toda a história da Ufologia, pois a partir daquele
momento, McDonald passaria a ser um dos maiores investigadores de UFOs que se tem notícia.
Sozinho ele investigou centenas de casos e com o NICAP, um dos grandes centros de pequisas
civis de Ufologia, investigou mais outras centenas.
Ele acreditava que os UFOs eram o maior desafio científico de todos os tempos, que
os cientistas tinham que tomar às rédeas do assunto e que as pessoas tinham que ser informadas
sobre o que era verdadeiro e o que não era. Ele sabia que os governos eram relapsos com relação
a esse tema e tentou trazer visibilidade e respeitabilidade para ele, sem se importar com que
iam pensar dele. Imaginem o desafio que era para um cientista de sua importância, naquela
época, se envolver ativamente na militância ufológica? Era um desafio sem precedentes! Muitos
julgamentos, zombaria e desconfiança, mas mesmo com tudo isso, ele não se importou e foi
em frente, pois tinha convicção dessa causa, confiava em suas pesquisas e no trabalho que os
ufólogos da época estavam fazendo.
James McDonald bateu de frente com personagens importantes do governo ameri-
cano, fez acusações diretas contra aqueles que sabia estarem trabalhando contra o reconhecimento
científico dos UFOs, escreveu diversos artigos sobre o assunto, palestrou em Universidades,
igrejas, associações e fez um pedido formal a ONU para que se envolvesse diretamente na
questão ufológica. Foi um dos percussores do “desacobertamento” do qual trataremos tanto
nesse trabalho e inspirou centenas de outros a seguirem seus passos. Jim McDonald era uma
inspiração, valente e inteligente ele fez o que pôde para trazer visibilidade e os cientistas para o
problema dos UFOs e continuou fazendo até não ter mais forças.
Um visionário, um pacifista, um ambientalista e um líder, a luta do Dr. McDonald em
prol da verdade e da Ciência não seria deixada de graça por forças ocultas trabalhando contra tudo
isso. Pouco depois de sua entrada na militância ufológica, McDonald sofreu com pressão de todas
as partes, foi perseguido, investigado pelo FBI, tentaram desqualificá-lo como cientista, foi vítima
de humilhações públicas e, cirurgicamente, essas forças ocultas, iam matado-o emocionalmente.
No início de 1971, no auge de uma grande depressão e sentido-se humilhado e
abandonado até pela própria família, James McDonald tentou o suicídio pela primeira vez.
Depois de ficar internado no hospital e aparentemente ter uma melhora em seu quadro de
depressão, ele fez planos para voltar a ativa, no entanto, no amanhecer do dia 13 de junho de
1971, sozinho, ele foi até o deserto do Arizona e tirou a própria vida com um tiro na cabeça.
Não era apenas a Ufologia que perdia seu maior lutador, era também o mundo que
perdia um gênio, um homem com uma visão muito a frente do seu tempo, que bem antes dos
poderosos falarem em “mudanças climáticas”, ele já alertava sobre esse perigo para o futuro
próximo. Um homem que achava que a Ciência tinha que salvar vidas, que a tecnologia tinha
que ajudar os menos favorecidos, que os cientistas tinham que estar a frente das batalhas pela
paz e pelas descobertas. James McDonald amou profundamente tudo o que fez e por mais que a
crueldade dessa vida o tenha tirado de perto de nós, seu exemplo e seu trabalho jamais serão
esquecidos por aqueles que abraçam as causas que ele defendeu.
James McDonald é muito mais do que um ufólogo para mim, ele é tudo aquilo que eu
sempre quis ser, ele é um exemplo de homem e caráter que enfrentou tantos obstáculos naqueles
tempos tão sombrios. Ele era um cientista que tinha paixão verdadeira pelo que fazia e tentou
tornar esse planeta um lugar melhor para viver. Queria muito eu fazer pelo menos 1% das coisas
que você fez, queria eu ter, pelo menos, um 1% da sua capacidade e inteligência para ajudar esse
mundo e a Ufologia. Se eu tivesse o conhecido pessoalmente, provavelmente eu teria o amado
muito, mas infelizmente não tive essa sorte e tudo o que me resta hoje é admirá-lo e me inspirar
em seu exemplo, por toda a sua luta e por todo o seu trabalho e também a lamentar pela sua
partida trágica e precoce desse mundo.
Voltei para a Universidade depois de muito tempo parada, desnorteada, enfrentando
uma grande depressão e culpa por fracassos tanto reais quanto imaginários, e esse retorno foi de
uma imensa renovação na minha vida. Eu sabia que enfrentaria muitas dificuldades financeiras
por não poder mais trabalhar em tempo integral e que ficaria dependente de um salário menor
em possíveis estágios que faria, mas ainda assim eu aceitei os riscos e estava imensamente feliz
em poder voltar a estudar, eu que tanto incentivava aqueles ao meu redor a valorizar a educação
e idolatrava a Universidade, jamais poderia ficar de fora dela. Portanto, gostaria de agradecer
toda a Biblioteconomia por me receber e por todas as coisas que aprendi. Agradeço a todo o
corpo de professores, aos coordenadores, funcionários e meus colegas de formação. Agradeço
ao Professor Márcio Assumpção, meu orientador, por me aceitar com esse projeto relacionado a
Ufologia. De uma forma geral, esses quase 5 anos de graduação salvaram a minha vida de várias
maneiras possíveis.
Em especial gostaria de agradecer aqueles amigos que mais estiveram comigo
nessa jornada: Shirley Rodrigues, com quem passei por muitas coisas, noites mal dormidas
para entregar trabalhos, estudando para provas, enfrentando as dificuldades da vida comum e
principalmente ela, uma garota batalhadora, mãe, esforçada e ainda assim muito apaixonada pela
vida. Que as portas do sucesso e da felicidade estejam abertas para você sempre!
Alef Pereira, meu primeiro amigo no curso com quem compartilhava todas as minhas
ideias não ortodoxas sobre o espaço e a realidade. Muito inteligente, Alef também batalhou
muito para entrar na Universidade. Hoje ele não está mais na Biblioteconomia, mas sei que ele
terá sucesso onde quer que esteja e sempre vou carregar comigo nossas conversas e boas risadas
nos corredores do curso.
Isa Garantizado, com quem tive a honra de não apenas estudar, mas também de
trabalhar com ela e testemunhar sua enorme doçura e talento. Uma garota também muito
trabalhadora que passou por grandes desafios para poder se formar na Universidade.
Débora Toledo, minha amiga gótica e do heavy metal, muito estudiosa e extrema-
mente talentosa, tanto canta como também toca e escreve maravilhosamente bem. Trabalhamos
juntas também, conversamos sobre tudo, é uma amiga que vem me ensinando muitas coisas
novas. Débora passou por uma grande batalha no inicio desse ano, mas como a lutadora que
sempre foi a vida toda, ela venceu as adversidades e em breve estará de volta com mais brilho do
que nunca.
Cássia Sousa, minha amiga e irmã jedi, uma guerreira do bem, como os cavaleiros
jedi são em Star Wars. Ajudou-me diversas vezes, não apenas com essa monografia, mas em
trabalhos e projetos tanto da faculdade, quanto mesmo da Ufologia. Cássia é uma das pessoas
mais inteligentes e espertas que eu conheço e ela me brindou com a sua amizade e companhia e
espero levá-las por toda a vida.
Estefferson Torres, muito mais do que um a amigo, ele também é meu irmão. Foi
meu colega no curso de Física e mesmo depois de eu ter ido embora, nossa amizade perdurou,
e olha a ironia! Essa amizade começou na Biblioteca do Curso de Física, um lugar do qual eu
guardo memórias maravilhosas. Ele me apoiou diversas vezes, conheceu meus piores dramas
e sofrimentos e se hoje eu estou aqui finalizando essa graduação, muito eu devo a ele que me
socorreu quando eu mais precisava. Juntos compartilhamos o amor pela ciência, pelos filmes,
séries e a literatura. Que a nossa amizade possa durar por toda a vida e se existir outras vidas,
que possa continuar nelas também. Eu devo muito a você, muito obrigada por tudo.
Agradeço imensamente à D. Anésia Bayma, Margarida Lydia, Elza, Sigefredo
Pinheiro e a toda equipe de trabalho da Biblioteca do DNCOS (Departamento Nacional de Obras
contra a Seca), um lugar que me acolheu, onde aprendi demais e onde eu fui muito feliz. A
lembrança dessa época guardarei eternamente na memória.
Gostaria de agradecer também a minha prima Pedrita Maria, provavelmente uma
testemunha ocular desses anos em que cacei óvnis incessantemente. Viu muitas vezes o quanto
eu chorei e briguei para defender a ufologia, além daquele imenso amor pelo Fox Mulder que ela
conhece bem. Uma menina que vi crescer e que mais do que uma prima é também a irmã que a
vida me deu.
Há muitos outros que gostaria de agradecer e que por motivo de puro esquecimento
comum eu não coloquei aqui, mas que eu carrego no coração e na lembrança e que foram
essenciais para meu crescimento e vitórias nessa vida cheia de obstáculos. Muito obrigada a
todos.
“Eu vi o céu ameaçando o futuro, através de so-
nhos à noite. Eu vi os cães de guerra à solta, eu
vi o céu vermelho-sangue”
(Tristania - Exile)
RESUMO

O presente estudo apresenta uma abordagem sobre a pesquisa ufológica e de como o acoberta-
mento de documentos e estudos relacionados ao Fenômeno UFO, feito por órgãos governamentais
e pelas Forças Armadas, prejudicaram a legitimação do mesmo ao longo de sua história. Este
trabalho também analisa a importância das campanhas civis realizadas pelos ufólogos usando a
Lei de Acesso a Informação para liberar alguns desses documentos, focando que esse acoberta-
mento governamental, em torno do assunto, fere diretamente as bases fundamentais da Ciência
da Informação e da Cidadania. A pesquisa caracteriza-se por ser de abordagem qualitativa, o
que possibilitou uma maior aproximação entre pesquisador e o objeto de estudo e a responder os
objetivos propostos. Os instrumentos de coleta de dados escolhidos foram a revisão de literatura
e aplicação de questionário, onde foi possível obter uma quantidade satisfatória de informações
necessárias para a conclusão desta pesquisa. Os resultados apontam para um processo de de-
sinformação generalizada ao longo dos anos que dificultou todo um processo de estudo civil
como científico do Fenômeno UFO e gerou, consequentemente, a desinformação para o grande
público.

Palavras-chave: Ufologia. Documentos. Lei de Acesso a Informação. Acobertamento. Desin-


formação.
ABSTRACT

The present study presents an approach to ufological research and how the cover-up of documents
and studies related to the UFO Phenomenon, made by government agencies and the Military
Forces, have undermined its legitimacy throughout its history. This work also analyzes the im-
portance of the civil campaigns carried out by ufologists using the Law of Access to Information
to release some of these documents, focusing that this government cover, around the subject,
directly hurt the fundamental bases of Information Science and Citizenship. The research is
characterized by being of a qualitative approach, which made possible a closer approximation
between the researcher and the object of study and to answer the proposed objectives. The
chosen data collection instruments were the literature review and questionnaire application,
where it was possible to obtain a satisfactory amount of information necessary for the conclusion
of this research. The results point to a generalized disinformation process over the years that
made it difficult for a whole process of civil study as a scientist of the UFO Phenomenon and,
consequently, generated disinformation for the general public.

Keywords: Ufology. Documents. Law of Access to Information. Overcoating. Disinformation.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Caso 1: Ocorrência sobre Objeto Voador Não Identificado . . . . . . . . . . 63


Figura 2 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 03 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
Figura 3 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 04 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Figura 4 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 05 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Figura 5 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 06 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
Figura 6 – Caso 2: Documento com dados de OVNIs . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Figura 7 – Caso 2: Relatório da Operação Prato e foto do objeto avistado . . . . . . . . 69
Figura 8 – Caso 2: Várias fotos de OVNI com alguns dados . . . . . . . . . . . . . . . 70
Figura 9 – Caso 2: Outro relatório da Operação Prato com foto anexada . . . . . . . . 71
Figura 10 – Caso 2: Foto de objeto desconhecido fotografado durante as missões da
Operação Prato em 1977 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
Figura 11 – Caso 3: Documento do Comando Aéreo de Defesa Aérea com o carimbo
“CONFIDENCIAL” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
Figura 12 – Caso 4: Documento da Base Aérea de Anápolis com assunto “Acionamento
de Alerta” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Figura 13 – Caso 4: Transcrição de ocorrência dos dias 19 e 20 de maio de 1986 . . . . 75
Figura 14 – Caso 4: Outro documento com o título “Acionamento de Alerta” . . . . . . 76
Figura 15 – Caso 4: Relatório dos fatos ocorridos no Vôo de Alerta do dia 19 de maio de
1986 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Figura 16 – Caso 5: Ocorrência sobre Objeto Voador Não Identificado . . . . . . . . . . 78
Figura 17 – Caso 5: Outro documento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Tipos de Informação de caráter público . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55


Tabela 2 – Graus de sigilo e prazos de restrição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Tabela 3 – Nível Hierárquico e Graus de Sigilo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Tabela 4 – Temas sobre acesso à informação e onde encontrá-los na lei . . . . . . . . . 61
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIN Agência Brasileira de Inteligência

ADESG Associação de Diplomados da Escola Superior de Guerra

APRO Aerial Phenomena Research Organization

CBU Comissão Brasileira de Ufólogos

CIA Central Intelligence Agency

CINDACTA Centro Integrado de Defesa e Controle de Tráfego Aéreo

COMAR Comando Aéreo Regional

COMDABRA Comando de Defesa Aeroespacial

DAI Direito ao Acesso a Informação

FAB Força Aérea Brasileira

FBI Federal Bureau of Investigation

FID Federação Internacional de Documentação

GSI Gabinete de Segurança Institucional

LAI Lei de Acesso à Informação

OEA Organização dos Estados Americanos.

ONU Organização das Nações Unidas

OVNIS Objeto voador não identificado

SETI Search For Extraterrestrial Intelligence

SNI Serviço Nacional de Informação

SST Supersonic Transport

UFOS Unidentified flying object

USAF United States Air Force


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2 UFOLOGIA: A HISTÓRIA DE UM MISTÉRIO . . . . . . . . . . . . . 25
3 DOCUMENTOS: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS . . . . . . . . . . . . 47
3.1 O Surgimento da Documentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.2 Documentos e Lei de Acesso a Informação . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4 O CONCEITO DE LIBERDADE E DE ACESSO À INFORMAÇÃO . . 55
4.1 Diretrizes Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
4.2 Quais Os Tipos De Informações Que Podem Ser Pedidas Pela LAI? . . . 56
4.3 Classificação, Sigilo e Responsabilidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
5 O QUE OS DOCUMENTOS UFOLÓGICOS NOS DIZEM? . . . . . . . 62
5.1 Caso 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
5.2 Caso 2: Operação Prato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
5.3 Caso 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5.4 Caso 4: A Noite Oficial dos ÓVNIs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5.5 Caso 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
6 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
6.1 Instrumento de Coleta de Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
7 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE CONTEÚDO . . . . . . . . . . . . 85
7.1 Primeira Pergunta: “Qual a importância que os documentos ufológicos
liberados pela Aeronáutica para a Ufologia Brasileira?” . . . . . . . . . 85
7.1.1 Primeiro Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
7.1.2 Segundo Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
7.1.3 Terceiro Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
7.1.4 Quarto Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
7.1.5 Quinto Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
7.2 Segunda Pergunta: “Você acha que o segredo imposto pelas Forças Ar-
madas prejudicou o estudo científico do Fenômeno UFO?” . . . . . . . . 90
7.2.1 Primeiro Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
7.2.2 Segundo Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
7.2.3 Terceiro Bloco de Respostas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
20

1 INTRODUÇÃO

De tempos em tempos, a Humanidade passa por momentos de grandes mistérios


e descobertas, já que nossa história como civilização tem aproximadamente 40 mil anos1 e
só agora começamos a explorar o quintal do Sistema Solar e mesmo nosso próprio planeta
e os desafios que a natureza coloca a nossa frente, nunca deixa de nos surpreender. A Era
dos Discos Voadores começou pouco depois de um dos momentos mais críticos da História, a
Segunda Guerra Mundial, e continua até os dias de hoje, exigindo uma explicação de todos nós,
cientistas ou não. A Ufologia surgiu naqueles anos do pós-guerra, em 1947, de maneira estranha
e ameaçadora, onde objetos desconhecidos avançavam sobre casas, pessoas, bases militares,
seguiam aviões, helicópteros e interrompiam o espaço aéreo de grandes nações, como os Estados
Unidos. Coral Lorenzen (1962, p.17), uma das primeiras ufólogas do mundo e fundadora do
primeiro centro de pesquisa civil sobre óvnis, a Organização de Pesquisa de Fenômenos Aéreos
(APRO), explicou sobre os anômalos eventos que ocorreram após junho de 1947: “Foi como se
o céu se abrisse e expulsasse todos os tipos de coisas estranhas”. O medo era evidente, muitos se
perguntavam se estariam diante de uma nova guerra, se aqueles aparelhos eram originários de
algum país rival ou mesmo remanescentes da Alemanha Nazista, pois deixavam claro, pela forma
como se moviam e da suposta capacidade tecnológica que demonstravam, que não poderiam vir
de nenhuma potência conhecida.
A opinião pública, contaminada por anos de desinformação em torno no assunto,
nunca olhou seriamente para a causa que, por mais que fosse defendida por alguns intelectuais e
cientistas em diversas épocas, continuava de olhos fechados para ela.
James E. McDonald (1968, p.1)2 , Doutor em Física Atmosférica, da Universidade do
Arizona, dizia que o Fenômeno UFO nada tinha de um “problema sem importância”, como comu-
mente era visto, mas, era sim, um assunto de extraordinário valor e interesse científico. Dezenas
de milhares de testemunhas garantem que, o Fenômeno UFO é real; os casos e evidências físicas
de sua atuação mostram isso e muitas desses casos, em algum momento, foram investigados
e catalogados de perto por autoridades das Forças Armadas de diversos países, inclusive do
Brasil. No entanto, essa documentação permaneceu por muitos anos sob sigilo, sem qualquer
explicação, sendo mantida assim por mais tempo do que o exigido. Os ufólogos, pesquisadores
civis do Fenômeno UFO, sempre se sentiram prejudicados com relação ao segredo imposto pelos
1 Homo Sapiens Sapiens: <https://www.estudopratico.com.br/homo-sapiens-sapiens/>. Acesso em: 22/07/2017
2 Ufos - A Internacional Scientific Problem. Disponível em: <http://physics.princeton.edu/ mcdonald/JEMcDo-
nald> Acesso em 22/07/2017
21

governos e militares sobre esse assunto, já que uma das bases da pesquisa ufológica tem como
principal objetivo a disseminação da informação sobre o Fenômeno UFO.
O desejo dos pesquisadores sempre esteve no fato de provar cientificamente a
realidade dos óvnis, assim como sua origem. Contudo, graças a informações extraoficiais e
vazamentos de documentos ao longo dos anos, sabia-se que os governos, em parceria com suas
forças armadas, investigavam óvnis com muito mais recursos e adquiriam mais informações
daquilo que descobriam do que os pesquisadores civis conseguiam sozinhos, mas nunca as
compartilhavam totalmente com o público e, o mais grave de tudo, usavam casos ufológicos que
chegavam à mídia para fazer uma campanha de desinformação perante a opinião pública, o que
afastou ainda mais a comunidade científica do interesse para com o Fenômeno UFO. Entretanto,
os ufólogos nunca descasaram em sua tentativa de conseguir tais informações, sempre barradas
por diversas classificações de sigilo, e por dezenas de anos pressionaram os Governos e as Forças
Armadas de seus países para que fossem liberadas.
Alguns países saíram na frente nessa liberação como o Chile3 e a França4 , outros,
continuam retendo com rigor, seus documentos referentes ao assunto, como os Estados Unidos.
Já outros países, assim como o Brasil, começaram a abrir seus arquivos, ainda que timidamente,
mas, mesmo assim, uma grande vitória a todos que lutaram tanto para que essas informações
finalmente viessem a público. Muito mais do que meramente uma descrição estatística dos casos
envolvendo óvnis ao longo dos anos, esses documentos contém informações importantes para um
possível estudo científico mais aprofundado do Fenômeno e, consequentemente, sua legitimação
perante a comunidade científica mundial, o maior desejo dos ufólogos. E por qual motivo essa
informação é tão valiosa? Uma das mais fortes hipóteses quanto a origem dos UFOs é de que os
mesmos são de origem extraterrestre, como indagam diversos pesquisadores. James McDonald
(1968, s/n, tradução nossa), um dos maiores investigadores de UFOs da história, explica que:

Os tipos de casos envolvendo UFOs que são mais intrigantes, e apontam direta-
mente para a hipótese extraterrestre, são os de avistamento de objetos em for-
mato de máquinas de natureza, características e performances não-convencional,
vistos em baixa altitude e muitas vezes até mesmo no solo. O público em geral
está inteiramente desavisado do grande número desse tipo de casos que vem
de testemunhas de credibilidade que temem a ridicularização e a zombaria, o
que faz muitas dessas testemunhas relutarem na hora de reportar esses estra-
nhos incidentes. Quanto mais cedo nós levarmos a sério essa nova estância e
3 Governo Chileno reconhece UFOs. Disponível em: <https://www.ufo.com.br/artigos/governo-chileno-
reconhece-ufos> Acesso em 15/12/2017
4 Governo Francês libera documentos oficiais sobre óvnis. Disponível em:<
https://www.ufo.com.br/noticias/governo-frances-libera-documentos-oficiais-sobre-ufos> Acesso em:
15/12/2017
22

confrontarmos o problema dos UFOs com uma adequada e talentosa equipe


científica, menos vergonhosa será admitir que estamos desconsiderando um
possível problema de grande importância científica.5

Se essa hipótese é ou não verdadeira, somente uma vasta e profunda pesquisa


científica poderia responder, no entanto, tudo isso se torna inviável quando os governos, com
suas Forças Armadas, sonegam informações, distorcendo-as fazendo cair no descrédito público.
É dever de uma nação proteger dados e informações que possam colocar sua soberania em risco,
entretanto essa máxima parece não se adequar a esse imenso segredo em torno do Fenômeno
UFO, já que ele acontece em várias partes do mundo e atinge milhares de pessoas. Além disso,
ainda há falta de explicação para o fato de que os governos se esforcem tanto para esconder
os casos a ponto de intimidar as testemunhas6 e fazer com que ninguém mais as levem a sério.
Muito mais do que meramente um segredo de Estado, esse tipo de política fere diretamente o
direito ao acesso à informação.
A ânsia por explicações levaram centenas de pessoas ao redor do mundo a, por si
mesmas, procurar as respostas que os governos estavam se negando a dar. A minha justificativa
pessoal para a escolha desse assunto vem de muitos anos atrás, desde da tenra infância. É algo
que me instiga, que me fascina e que me acompanha até os dias de hoje. Como pesquisadora do
Fenômeno UFO, conheço de perto as dificuldades e a insatisfação dos ufólogos para conseguir
informações sobre grandes casos da Ufologia como, por exemplo, a Operação Prato e o Caso
Varginha, por se encontrarem classificados há anos nos arquivos governamentais, mas tendo
muito pouco ou nada liberados para consulta pública, mesmo depois que uma vasta campanha
por liberdade de informação mobilizou toda a Comunidade Ufológica Brasileira.
Esta pesquisa justifica-se no âmbito acadêmico, pelo fato de que toda essa documen-
tação contendo informações legítimas e oficiais sobre o Fenômeno UFO, pelos anos que foi
ocultada, fere os direitos básicos de acesso à informação, indo de encontro a tudo aquilo que a
Biblioteconomia e a Ciência da Informação pregam e defendem.
Le Coadic (2004) explica que a Ciência da Informação estuda a informação que é
tida como uma matéria-prima em que se baseia o processo comunicativo e que também deve
se preocupar com sua disseminação na sociedade. O direito à informação é essencial para
o exercício da cidadania, está previsto na Constituição7 na Organização das Nações Unidas
5 Are UFOs Extraterrestrial Surveillance Craft?. Disponível em: <http://physics.princeton.edu/ mcdonald/-
JEMcDonald/mcdonald_ aiaa _032668.pdf> Acesso em 15/12/2017
6 Fato que será abordado no Capítulo 1 deste estudo.
7 Direito ao Acesso a Informação, art. 5o inciso XXXIII, bem como no inciso II do § 3 do art. 37 e no §
23

(ONU)8 , e negá-las à sociedade é negar o direito legítimo ao conhecimento de um assunto que


pode significar uma das maiores descobertas da história humana. Martins e Presser (2015, p.
141) apontam que o Direito de Acesso à Informação (DAI) precisa de proteção jurídica, pois
trata-se de um direito essencial que é defendido tanto por leis internacionais como pela nossa
legislação nacional e que é pertinente em qualquer atividade humana.
Na atualidade, o DAI é um direito reconhecido pelas leis mundiais de direitos
humanos9 , assim como o dever dos governos informar. Informação é direito fundamental,
destaca programa da ONU em fórum de direitos humanos:

O acesso à informação é inerente ao exercício da cidadania, promovendo,


assim, o desenvolvimento cultural e político, primeiramente, das pessoas, e
consequentemente da sociedade como um todo. A informação sempre foi
relevante para o desenvolvimento humano, por seu alto grau de importância
e penetrabilidade em todos os setores da sociedade, seja no campo científico,
seja como necessidade intrínseca em todos os aspectos da atividade humana.
(FREIRE, 2008 apud MARTINS; PRESSER, 2015)

Por menores que sejam, as campanhas civis feitas em torno da liberação dessas
informações têm dado alguns resultados e aqui no Brasil, onde se concentra o nosso estudo.
Milhares de páginas referentes ao Fenômeno UFO, estão hoje disponíveis no Arquivo Nacional
para consulta popular. O esforço da Comunidade Ufológica aqui deve ser sempre lembrado, pois
mesmo tratando-se de uma parte relativamente pequena da população brasileira, os ufólogos
conseguiram unir-se em torno de um objetivo único e fazer valer seus direitos. Infelizmente, anos
e anos de negação oficial em torno desse assunto não prepararam os civis e nem os cientistas
para a consulta e estudo desse material.
Diante dos documentos já disponíveis a consulta popular, graças a campanha de
liberdade de informação encabeçada pelos ufólogos brasileiros, pretendemos questionar nesse
estudo: Até que ponto o sigilo em volta desses arquivos prejudicou a legitimação do Fenômeno
UFO?
A pesquisa tem como objetivo geral: demonstrar que os governos, especificamente,
o Governo Brasileiro, tem ocultado informações documentais sobre óvnis e por consequência
prejudicado diretamente a pesquisa ufológica e o possível reconhecimento científico do Fenô-
2 do art. 216 da Constituição Federal de 1988: <http://www.normaslegais.com.br/guia/clientes/direito-ao-
acesso-a-informacao.htm> Acesso em: 28/11/2017
8 Informação é direito fundamental, destaca programa da ONU em fórum de direitos huma-
nos: <https://nacoesunidas.org/informacao-e-direito-fundamental-destaca-programa-da-onu-em-forum-de-
direitos-humanos/>
9 Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_ 03/_ ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm> Acesso em 12/02/2018
24

meno UFO. Como objetivos específicos pretendeu-se analisar o impacto desse acobertamento na
Ufologia.
A partir dos autores e pesquisadores do Fenômeno UFO, no capítulo um faremos
uma abordagem geral da história da Ufologia Moderna, como ela surgiu e como impactou
a sociedade e os governos das grandes potências, assim como suas forças armadas, além do
descaso da Comunidade Científica em lidar com toda essa situação. Trataremos também mais
profundamente do envolvimento governamental no acobertamento de informações sobre o
assunto e falaremos sobre a participação do Brasil, tanto no estudo do Fenômeno UFO, como em
suas próprias maneiras de omitir informações sobre o mesmo. Na segunda metade dos anos 90,
a Comunidade Ufológica Brasileira, embalada pelas comemorações do cinquentenário da Era
Moderna dos Discos Voadores, lançou uma intensa campanha por liberdade de informação, que
culminou com a liberação de parte do que o Governo Brasileiro e as Forças Armadas detinham
sobre os óvnis. Para esclarecer melhor a importância desses documentos e da campanha de
liberdade de informação encabeçada pelos ufólogos brasileiros, trataremos sobre documentação,
arquivo e Lei de Acesso à Informação nos capítulos 2 e 3 respectivamente.
Para uma melhor visualização das informações contidas nesses documentos, no
capítulo 4 desse trabalho, faremos uma descrição de alguns casos ufológicos que estão nos
documentos liberados até o momento pelas Forças Armadas, mostrando a gravidade e o impacto
que eles tiveram em situações de extremo risco para a população, como contato direto com
aviões civis e invasão do espaço aéreo.
A metodologia usada para alcançar os objetivos propostos no trabalho é apresentada
no quinto capítulo, onde são abordados os instrumentos utilizados para a pesquisa, que configura-
se, quanto à natureza, como qualitativa; quanto aos fins, como exploratória que, segundo Gil
(2008, p. 41) tem “como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas
a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses.” Quanto aos fins, a pesquisa classifica-se como
bibliográfica. O Instrumento de coleta de dados utilizado foi o questionário, que para Gil (2008,
p. 114) é “[. . . ] um conjunto de questões que são respondidas por escrito pelo pesquisado”. O
sétimo e último capítulo apresenta as considerações finais acerca da pesquisa, verificando se os
objetivos foram alcançados.
25

2 UFOLOGIA: A HISTÓRIA DE UM MISTÉRIO

Em 1947 completava-se dois anos do fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo


tentava reconstruir-se, contabilizam os mortos e os governos trabalhavam para organizarem-se
em torno do novo cenário gerado com resultado do conflito. Foi naquele ano também que, de
acordo com SUTHERLY (2009), vários novos marcos e padrões de voos foram estabelecidos
e superados. Não havia dúvidas da nova realidade que se desenvolvia. A corrida espacial já
começava a ganhar suas principais formas com os trabalhos de Wernher von Braun na Alemanha
e depois nos Estados Unidos10 e foi nesse palco de desenvolvimento tecnológico e científico
que se seguiram durante o pós-guerra que surgiu um dos maiores mistérios do Século XX: A
Ufologia. Para se entender melhor esse termo, deve-se falar sobre o caso específico que lhe deu
esse nome. Durante a tarde de 24 de junho de 1947, o piloto Kenneth Arnold, na época com
28 anos de idade, sobrevoou o Monte Rainer no estado de Washington a procura de um C-46
Marine, avião militar de transporte, acidentado naquela região. Foi nesse momento, segundo
SUTHERLY (2009, p. 7) que:

[ . . . ] surpreendido por um brilho refletido na lateral do avião. Quando observou


um segundo brilho, Arnold localizou a fonte: nove objetos reluzentes ao sol
voavam para o sul em direção ao monte Baker, de forma escalonada, indo para
frente e para trás, entre os picos. Impressionado, não teve a menor possibilidade
de pensar com calma e calcular a velocidade dos objetos enquanto passavam
entre os montes Rainier e Adams, a 88 quilômetros no sentido sul. Os cálculos
sugeriram o impossível: os objetos voavam a cerca de 2.600 quilômetros por
hora, muito além do que qualquer aeronave conhecida.

Ao descrever os movimentos dos objetos, Arnold se referiu a eles como “um disco
[. . . ] se você o arremessar para quicar na água.” Esse avistamento o colocou na mídia e a
contragosto, o tornou uma celebridade. De sua história relatada surgiu o termo “Disco Voador”,
da expressão em inglês “Flying Saucer” (BUENO, p.6). Mesmo não se tratando do primeiro
relato de objetos voadores não identificados nos céus, muitos deles, inclusive, chegaram a ser
testemunhados durante as batalhas áreas na Segunda Guerra, ganhando o nome de Foo Figthers
(ALBINO, 2003). Outros relatos parecidos, ainda mais antigos, alguns datando de bem antes do
século XIX, anterior a invenção do avião, também eram conhecidos, mas foi só a partir daquele
momento que o mundo começava a tomar consciência do estranho fenômeno que intrigava as
maiores autoridades do mundo e a população em geral. Após o incidente com Kenneth Arnold,
10 Wernher von Braun. Disponivel em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Wernher_von_Braun> Acesso em
20/10/2016
26

uma onda de avistamentos dos agora chamados “Discos Voadores”, se alastravam por todo
mundo (NAUD, 1979), o que levou às primeiras tentativas de estudo do fenômeno. Grupos
civis em diversos países, compostos de várias pessoas, com diferentes formações e profissões se
uniram na tentativa de explicá-los.
A definição da alcunha Objetos Voadores Não Identificados, do termo em inglês
Unidentified Flying Objects ou simplesmente OVNIs ou UFOs (KEYHOE, 1953) foi criado em
1953 pela Força Aérea dos Estados Unidos. Nascia ai o que até hoje é conhecido como Ufologia,
uma junção com as palavras UFO e Logia. Os ufólogos, como ficaram conhecidos, começaram
seu trabalho de investigar e catalogar centenas de relatos de óvnis em suas regiões de atuação
e, desde o princípio, estavam sozinhos em seus estudos, já que a Classe Científica apresentava
um intenso desdém a tudo o que fosse relacionado à Ufologia. Hynek, ufólogo e professor em
astrofísica da Universidade de Chicago discorre sobre isso (1972, p.16) ao dizer que:

O mundo científico, sem sombra de dúvida, não se mostrou ’ansioso para


descobrir’ o que seria o fenômeno OVNI e não deixou transparecer nenhuma
tendência para se mostrar admirado. A atitude universal de quase todos os
cientistas têm sido agressivamente negativa. Na verdade, quer nos parecer que
a reação tem sido exageradamente fora de proporção com relação ao estímulo.
A reação sobrecarregada emocionalmente e altamente exagerada que, de um
modo geral, tem sido demostrada pelos cientistas ao somente mencionar OVNIs
seria de grande interesse para os psicólogos.

Richard L. Thopson (2002) analisa que apesar de alguns cientistas identificarem


que os dados sobre o Fenômeno UFO eram verdadeiros, o posicionamento da classe científica
predominante é de que, se não é possível explicar esses dados com base nos termos científicos
que se conhecem atualmente, então eles não tem explicação e isso tem a ver com o fato de que, na
visão dos cientistas, se as provas acerca de um evento diverge da visão científica vigente, elas são
simplesmente descartadas. Esse desinteresse da Classe Científica com relação ao Fenômeno UFO
chegava a um nível de absurdo aberrante, que envolvia, inclusive, destruição de documentação e
provas. Jacques Vallee, astrônomo que também viria a se tornar ufólogo, relata uma experiência
pessoal que o incentivou de vez a entrar para a Ufologia.

Passei a interessar-me seriamente pelo assunto em 1961, quando presenciei


alguns astrônomos franceses apagando certa fita magnética onde nossa equipe
de rastreamento de satélites havia gravado onze dados de ocorrência sobre um
objeto voador desconhecido que não era avião, balão ou alguma nave conhecida
que estivesse em órbita. “As pessoas ririam de nós se relatássemos isto!” foi a
resposta que me deram na ocasião. “Melhor esquecermos tudo isto e não expor
o observatório ao ridículo.” (VALLEE, 1961 apud THOMPSON, 2002, p. 44)
27

É de grande espanto um ato como esse, perpetrados por homens da ciências, que
supõe-se serem os primeiros a mergulharem no mistério das coisas e tentar desvendá-las, mesmo
em momentos de grande dificuldade, como enfrentaram cientistas do passado como Hipácia de
Alexandria11 e Giordano Bruno12 .
Para grande parte dos cientistas da época, os óvnis causavam um nível estrondoso de
repulsa e medo, mas para uns poucos, eles representavam um enigma digno de ser desvendado
e, ao menos para um famoso cientista da época, os discos voadores se tornariam sua principal
missão de vida. James McDonald, doutor em Física Atmosférica pela Universidade do Arizona e
também pesquisador de óvnis, tratou diversas vezes da desconsideração dos demais cientistas
pelo assunto. Segundo escreveu em seu artigo A Need for an International Study of UFOs13 (A
necessidade de um estudo internacional sobre Óvnis), ele argumenta que: “Cientistas ao redor
do mundo tem a tendência de ignorar os Óvnis como se eles fossem algum tipo de bobagem.”
(1968, p.11, tradução nossa). Esse menosprezo científico pela questão dos óvnis nunca deixou
de existir, apesar de que o envolvimento pessoal de cientistas como McDonald e Hynek e de seu
pupilo Jacques Vallee também astrofísico, tenham dado alguma credibilidade ao assunto. Logo
após o surgimento dos primeiros grupos de Ufologia e consequentemente dos resultados de suas
pesquisas, as hipóteses relacionadas às origens e causas desses fenômenos também começaram
a aparecer. O termo Objeto Voador Não Identificado, abrange várias possibilidades e logo os
pesquisadores tiveram que lidar com diversas delas, no entanto a que mais se destacou e que
permanece como a hipótese mais provável até os dias de hoje, se encontra na sua suposta origem
extraterrestre. Dr. James McDonald, que durante anos estudou, pesquisou e analisou diversos
casos ufológicos, acreditava que essa hipótese era a mais provável. Em uma palestra dada para o
Distrito de Columbia, casa da Sociedade Americana de Meteorologia em 1967, ele explica que:

Cuidadosamente pesquisando centenas dos melhores casos envolvendo UFOs


de várias testemunhas confiáveis durante mais de 20 anos, revela que não
é só impossível explicar todos eles nos termos da física atmosférica, mas
também, como outras categorias oficiais de hipóteses geofísicas, astronômicas,
tecnológicas e psicológicas falharam em explicar o Fenômeno UFO. Razões
foram dadas para dar que a hipótese mais provável e a menos insatisfatória para
a natureza dos UFOs seja a hipótese extraterrestre. (MCDONALD14 , 1967, p.3)
11 Hipácia de Alexandria: A primeira cientista de todas. Disponível em: <https://canaltech.com.br/internet/
mulheres-historicas-hipacia-de-alexandria-a-primeira-cientista-de-todas-73227/> Acesso em 29/06/2017
12 Quem foi Giordano Bruno? O visionário queimado vivo há 418 anos: <http://www.bbc.com/portuguese/
geral-43081130> Acesso em 04/11/2016
13 A Need For International Study Of UFOs by MCDONALD, James. Disponível em <http://physics.princeton.
edu/~mcdonald/JEMcDonald/mcdonald_fsr_14_2_11_68.pdf> Acesso em 04/11/2016
14 Unidentified Flying Objcets: The Greatest Scientific Problem of our times. Disponível em: <http://physics.
princeton.edu/~mcdonald/JEMcDonald/mcdonald_nicap_67.pdf> Acesso em 15/12/2017
28

Como doutor em física, McDonald era um conhecedor de astronomia e entendia que


o Universo possuía vários sistemas estelares, galáxias e planetas e por essa razão, era bastante
sensível à possibilidade de vida fora da Terra, mesmo antes do estudo ufológico entrar em sua
vida. Diante das evidências de que esses objetos não identificados vigiavam e observavam
o ambiente e as pessoas, a possibilidade de que essas máquinas se tratassem de algum tipo
de inteligência extraterrestre ganhava mais força. Os casos envolvendo Objetos Voadores Não
Identificados continuavam a ocorrer em todo o território americano e com isso, documentos sobre
esses eventos eram criados com bastante frequência pelos órgãos militares. Para exemplificar isso,
citaremos um relatório sobre avistamentos ufológicos feito pelo Comitê Nacional de Investigação
de Fenômenos Aéreos publicado em 1964 chamado “The UFO Evidence”. Neste documento
constava uma tabela de 92 visões de óvnis por partes dos oficiais da Força Aérea Americana
entre os anos de 1944 e 1961:

Há 92 casos nessa tabela. Estão incluídos 24 casos de aviões da Força Aérea


perseguindo óvnis, sendo perseguidos ou repetidas vezes ameaçados por eles.
Em outros vinte casos, um óvni parecia deliberadamente seguir um avião da
Força Aérea (mas não persegui-lo) ou fazer um voo rasante sobre uma base
militar. É difícil conciliar essas estatísticas com a conclusão oficial da Força
Aérea de que os óvnis jamais foram encarados como uma ameaça militar. Se
isto é verdade, é de se supor que, volta e meia, os pilotos da Força Aérea
pensam estarem sendo perseguidos por balões meteorológicos, meteoros ou o
planeta Vênus, além de volta e meia saírem atrás de tais objetos aos trambolhões.
(THOMPSON, 2002, p.108)

Ao contrário do comportamento da maioria dos cientistas ao tratar do problema dos


óvnis, o Governo Estadunidense demonstrou bastante interesse nos mesmos. Ainda em 1947,
respondendo ao clamor popular diante da intensa onda ufológica que se seguia, a Força Aérea
Americana (USAF) criou o Projeto Sign, encabeçado pelo aviador Nathan Twining, então chefe
do Comando do Serviço Técnico Aéreo, que começou a valer no ano seguinte. Segundo trata
Haines (1998) o projeto tinha por objetivo buscar explicações para esse novo fenômeno que
se apresentava, coletando e avaliando toda a informação relativa aos óvnis, sob a premissa que
poderiam ser reais e uma ameaça à segurança nacional (JACOBS, 1975). Um ano depois, o
projeto mudou de nome e passou a se chamar Grudge e em 1951 foi rebatizado de Projeto Blue
Book (Livro Azul), permanecendo assim até o seu encerramento e 1969 (HYNEK, 1972).
Foi ainda sob o nome de Projeto Sign que Josef Allen Hynek, professor e astrônomo,
que naquela época ocupava o cargo de diretor do Observatório McMillin da Universidade Esta-
dual de Ohio, assumiu o comando de consultor científico do projeto (Jacobs, 1975). Inicialmente
um cético a respeito do Fenômeno UFO, como seus demais colegas cientistas, Hynek viu ali
29

uma oportunidade de demonstrar ao público como funcionava o método científico, usando a


análise dos relatórios sobre Discos Voadores como um meio para mostrar que nada mais eram do
que invenção da imaginação das pessoas (Hynek, 1972). No entanto, a medida que os anos se
passavam e Hynek tinha mais contato com os relatos e a consistência deles, assim também como
a boa reputação e honestidade das testemunhas a quem entrevistava, sua opinião pessoal com
relação aos discos voadores começou a mudar.
Os relatórios examinados por Hynek desafiavam seu senso crítico e cada vez mais
intrigado, ele se convencia irremediavelmente da realidade UFOs, mas em contra partida, os
objetivos da Força Aérea com relação ao Projeto ficavam mais escusos. Hynek por sua vez,
discordava, mas na época, não chegou a enfrentar abertamente o governo com suas inquietações.
Apenas depois de 1969, quando o Blue Book se encerrou, foi que decidiu criticar o posiciona-
mento governamental ao tratamento que dava aos relatórios de óvnis. Em sua mais famosa obra,
“Ufologia – Uma Pesquisa Científica” , Hynek sentiu-se livre para questionar as manobras de
desinformação que a Força Aérea usava para desacreditar os relatos e as testemunhas dos óvnis.
Ao tratar sobre os Encontros Imediatos, classificação que usou para catalogar os casos ufológicos
que estudou, ele descreveu o tratamento duvidoso que recebiam da Força Aérea:

Um caso, não só coloca em foco a natureza do Encontro Imediato mas também


fica registrado como um exemplo da maneira absurda como o Projeto Livro
Azul investigava, às vezes, um caso. Seria muito difícil encontrar uma ilus-
tração mais clara para o desrespeito de provas quando desfavoráveis a uma
explicação preconcebida. Se um desrespeito tão gritante quanto este quanto às
provas ocorresse num tribunal, seria considerada uma caricatura abominável
dos procedimentos legais. A assombrosa falta de consideração e a distorção
dos fatos relatados, o descaso de não ouvir as testemunhas e uma estreiteza de
mente renitente e inflexível podem ser explicados ou como uma incompetência
no mais elevado grau ou como uma tentativa deliberada para apresentar uma
aparência de incompetência devido a objetivos ulteriores. (HYNEK, 1972,
p.114)

Seu colega cientista e também ufólogo James McDonald foi duramente mais incisivo
com relação às manobras de desinformação da USAF com relação à ufologia, denunciando-as
abertamente. Seu principal foco de ataque foi o Relatório Condon, outro projeto do governo
americano que visava explicar o Fenômeno UFO, posto em atividade em 196615 . McDonald
também questionava o tratamento dado aos casos pesquisados pelos pesquisadores governamen-
tais, a quem acusava de não terem nenhuma formação em física ou astronomia, afirmando que
15 The Condon Report. Disponível em: <http://www.avia-it.com/act/biblioteca/libri/PDF_Libri_By_Archive.
org/AVIATION/Final%20report%20of%20the%20Scientific%20study%20of%20Unidentified%20Flying%
20Objects%20-%20Condon%20E..pdf> Acesso em 12/12/2016
30

as investigações eram levadas de maneira muito superficial e de baixo nível de competência


científica, algo que ele chegou a comparar a um: “escândalo científico da maior gravidade”
(MCDONALD, 1966, s/n, tradução nossa). Em um dos seus artigos mais famosos “UFOs and the
Condon Report” (Os UFOs e o Relatório Condon), McDonald faz uma lista de alguns casos mal
explicados do projeto e mesmo aqueles que sequer foi dada qualquer explicação, permanecendo
como “inexplicado”. Ele denunciou toda a espécie de falta de rigor científico na investigação
dos casos, onde os investigadores ligados a Condon ignoravam fatos, testemunhas e muitas
vezes ajudavam na ridicularização delas perante a mídia e o grande público. Em outro artigo,
complemento desse, chamado UFOs and the Condon Report – A Scientist’s Critique (Ufos e o
Relatório Condon – Criticas de um cientista), ele escreve que:

Argumentações suspeitas e de fraca natureza científica são abundantes nos casos


analisados pelo Projeto [. . . ] Minha própria estimativa é que absolutamente
nenhum progresso com relação ao esclarecimento científico da problemática
dos UFOs vai sair enquanto as inadequações do Relatório Condon estejam
totalmente esclarecidas de todas as maneiras possíveis. (MCDONALD16 , 1969,
p. 01, tradução nossa).

McDonald deixava claro sua insatisfação tanto com o Projeto Blue Book como
o Relatório Condon que, segundo ele, além de não investigarem os casos ufológicos com
competência, também passavam informações incorretas para o público. O mundo estava diante
de um fenômeno inquietante que demandava a mais alta prioridade, no entanto, objetivos ocultos
dentro do governo estadunidense afastaram um maior interesse científico do assunto, além de
minar com ele diante da opinião pública. A polêmica em torno desse assunto estava longe
de se encerrar, não apenas o Projeto Blue Book ou o Relatório Condon estavam a disseminar
inverdades sobre os óvnis, como também ganhavam o apoio da Central de Inteligência Americana
(CIA).
Seguindo as pesquisas oficiais que a Força Aérea Americana fazia sobre o fenômeno
UFO, em 9 de Janeiro de 1953, Chadwell e H.P. Robertson, físico nuclear do Instituto Tecnológico
da Califórnia, com outros cientistas civis, formaram um grupo que também tinha a intenção
de estudar óvnis. Esse projeto teve apoio direto da CIA, mas de forma secreta. Seu objetivo
inicialmente era de rever o que se sabia sobre o assunto, analisar o que a população entendia
sobre o mesmo e se o fenômeno representava algum perigo à segurança nacional dos Estados
Unidos. No entanto, o grupo estudou apenas superficialmente os casos já investigados nos
16 UFOs and the Condon Report - A Scientist’s Critique James E. McDonald. Disponível em:<http://physics.
princeton.edu/~mcdonald/JEMcDonald/mcdonald_resa_021269.pdf> Acesso em 15/12/2017
31

arquivos da USAF e declararam precipitadamente que a maioria dos avistamentos poderia ser
facilmente explicada, se não todos! Tais conclusões foram publicadas em um documento que
ficou conhecido como Relatório Robertson. Esse documento, além de concluir que não havia
nenhuma prova da origem extraterrestre do Fenômeno UFO e que eles não representavam
qualquer ameaça à segurança do país, indicou que a ênfase das informações dadas pela imprensa
a respeito do assunto poderiam gerar instabilidade dentro do governo (HAINES, 1998).
É importante que se lembre que os Estados Unidos e a União Soviética estavam
vivendo a Guerra Fria e que os cuidados com a segurança do Estado e o medo de um ataque
do país inimigo eram questões muito sérias, o que levou o Relatório Robertson a aconselhar
que houvesse um controle com relação às informações sobre óvnis que chegassem à mídia, caso
contrário, tais informações poderiam levar à população a histeria em massa. HAINES (1998, p.
20) explica que:

Para confrontar esses problemas, O Comitê Robertson recomendou que o


Conselho Nacional de Segurança instituísse uma política de acobertamento
oficial – embora disfarçada de educativa – para “tranquilizar” a população
sobre os discos voadores. Sugeriu-se a utilização de meios de comunicação,
campanhas de propaganda, clube de negócios, escolas e até mesmo empresas
como a Disney para atingir a toda população. O grupo também recomendou que
grupos privados de Ufologia, tais como a própria Organização de Pesquisa
de Fenômenos Aéreos, fossem monitorados por desenvolverem atividades
subversivas.

O Comitê submeteu o relatório ao secretário de Defesa os EUA, ao diretor federal da


Defesa Civil e ao presidente do Conselho de Segurança Nacional. Essa atitude foi interpretada
como um maior distanciamento do interesse científico sobre os óvnis, o que acabou estimulando a
CIA a recusar-se a prestar qualquer esclarecimento sobre o assunto à Imprensa, pois alegava não
promover debates sobre temas não autorizados. No entanto, a Agência continuava a monitorar
avistamentos de ufos em todo o país, por conta do interesse militar por eles. Nesse meio
tempo, ela procurou saber de alguma instituição americana que por acaso tivesse feito algum
estudo independente sobre os óvnis e que fossem melhores do que o Relatório Robertson. Seu
objetivo era monitorar, sem interferir, já que qualquer menção sobre a participação da Central de
Inteligência nessa questão havia sido proibida.
Há de se estranhar que mesmo depois de tantas negativas a respeito da realidade dos
UFOS, a CIA e o governo estadunidense ainda mantivessem seu interesse sobre eles, mantendo-
o, inclusive, em segredo e não apenas isso. A impressão que começava a circular dentro da
comunidade ufológica era de que os EUA investiam dinheiro público em uma suposta pesquisa
32

sobre óvnis que tinha como único objetivo negar a existência deles. O que também não fazia o
menor sentido, era o porquê de já que os UFOs aparentemente não existiam, por qual motivo
o governo negava acesso aos documentos dos casos que supostamente investigaram? Durante
toda a década de 50 e 60, a CIA assim como a USAF investigaram, catalogaram e arquivaram
centenas de documentos sobre casos ufológicos, todos secretos. Raymond Fowler, engenheiro e
também pesquisador de ufos, declara que:

Após anos de estudo, estou certo da existência de provas de observação de alta


qualidade, por parte de testemunhas habilitadas e confiáveis, para indicar o
fato de haver, em nossa atmosfera, objetos sólidos, parecidos com máquinas,
tripuladas por alguma forma de controle inteligente [. . . ] Parece-me sensato
deduzir, que se idôneos cientistas e investigadores civis conseguiram chegar
a esta conclusão, então, a Força Aérea dos Estados Unidos, apoiada pelos
tremendos recursos a sua disposição, já deve ter concluído o mesmo há muito
tempo. (THOMPSON, 2002, p. 117)

Donald Keyhoe, ufólogo e major aposentado da Marinha dos Estados Unidos defen-
deu a liberação de todas as informações relacionadas aos UFOs em seu livro The Flying Saucer
Conspiracy (KEYHOE, 1955). Grupos ufológicos civis, como o Comitê Nacional de Investiga-
ções de Fenômenos Aéreos (NICAP) e a já citada Organização de Pesquisa de Fenômenos Aéreos
(APRO), também exigiam essa liberação por parte do governo. A pressão aumentava e sem outra
escolha, a USAF deu permissão parcial à CIA para revelar alguns documentos sobre os UFOS.
No entanto, Phillip Strong, que era o oficial da Agência responsável pelos documentos pedidos
pelos ufólogos, recusou-se terminantemente a liberá-los, principalmente os mais reveladores. A
disputa entre Keyhoe junto os outros ufólogos contra a política de acobertamento do governo
americano não pararia aí e ainda duraria mais alguns anos.

James McDonald entra e desempenha um papel fundamental nesse processo.


McDonald era um notável físico atmosférico da Universidade do Arizona e, em
junho de 1966, conseguiu acesso pela primeira vez ao Caso Durant, investigado
dentro do comitê. Isso se deu em Wright-Patterson, a toda-poderosa base da
USAF no Ohio. No entanto, quando o cientista retornou àquela base mais
tarde, para copiar o relatório, como lhe havia sido prometido, A Força Aérea
se recusou a deixá-lo ver novamente o material, alegando que se tratava de um
documento secreto da CIA. (HAINES, 1998, s/n)

Não apenas isso o irritou profundamente, como também sua visita à base militar
confirmou suas suspeitas de que a Força Aérea estava guardando centenas de casos ufológicos
fora do conhecimento público, fato conhecido inclusive por Hynek, que era o consultor científico
do Projeto Blue Book. Indignado, McDonald foi até o escritório de Hynek e bateu os punhos
contra sua mesa dizendo: “Como você pôde sentar-se ai com toda essa informação, por tantos
33

anos sem alertar a Comunidade Científica?” (JACOBS, 1975 apud MCDONALD, 1966, p. 196,
tradução nossa) Hynek incrivelmente não se zangou com a reação violenta de McDonald, pelo
contrário. Ter encontrado um colega cientista que também aceitava a realidade do Fenômeno
UFO foi, como o próprio disse, “Uma brisa de ar fresco”, que acabou o incentivando a também
denunciar as manobras de acobertamento perpetrados pelo governo, como assim o fez no futuro.
(JACOBS, 1975, tradução nossa).
Conhecido como uma das autoridades máximas da Ufologia, McDonald denunciou
publicamente que a CIA estava por trás da política de acobertamento desempenhada pela USAF,
assim como outros órgãos dentro do governo americano. Sem medo do ridículo e sendo um
homem extremamente franco e impulsivo (Fuller, 1980)17 , a comunidade ufológica tinha em
James McDonald o líder que ela tanto buscou na cruzada para tirar o véu do segredo imposto
pelo governo sobre os óvnis. JACOBS (1975, p. 195, tradução nossa) explana bem isso:

[ . . . ] McDonald lançou uma cruzada para alertar a comunidade científica da


seriedade do problema. Pelos próximos anos ele escreveu milhares de cartas
sobre a problemática dos UFOs para cientistas, ufólogos, militares e cidadãos
comuns. Ele cruzou o país dando inúmeras palestras, entrevistas, discursos e
conversas privadas. Seu método de argumentação era sobrecarregar os ouvintes
com a riqueza e detalhes documentados nos relatórios de Ufos.

Enquanto faz isso, McDonald continua seus ataques violentos contra o Projeto
Condon e o Projeto Blue Book, assim como seus colaboradores a quem suspeita de serem
“simples forças entre as mãos da CIA e da Força Aérea dos EUA. Fantoches manipulados que
desonram a ciência pelas suas ações contra a verdade.” (McDonald, 1968 apud NAUD 1980,
p. 285). As atitudes agressivas do Dr. McDonald em sua cruzada contra o acobertamento de
informações sobre óvnis não seria deixado de graça por aqueles a quem ele diretamente atacava,
pessoas fortes, políticos e cientistas influentes dentro do complexo científico-militar americano.
Surge em cena Phillip Klass, engenheiro e editor da revista Aviation Week and Space Technology,
mais um cético da realidade dos óvnis e que afirmava categoricamente que eles não passavam de
fenômenos atmosférico, batendo de frente com McDonald que era físico meteorologista e que
discordava de toda e qualquer alegação de Klass (JACOBS, 1975).
Era de espantar a ousadia de um homem como Phillip Klass que, apesar de engenheiro
não tinha nenhuma outra formação em ciências espaciais ou atmosféricas, se arriscar a dar
explicações meteorológicas para os óvnis e não apenas isso, ele atacou diretamente McDonald,
17 Carta de Fuller. Disponível em: <http://www.fenomenum.com.br/ufo/governos/documentos/brasil/1980/1980_
john_fuller.pdf> Acesso em 22/05/2017
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tentou desqualificá-lo como pessoa e tentou prejudicá-lo como profissional. Jacobs (1975, p.
196) cita que ele: “[. . . ]engajou uma dura batalha e atrito contra McDonald” e chegou a inventar
para ao Escritório de Pesquisa Naval dos Estados Unidos que o Dr. McDonald usou fundos
do governo para financiar suas pesquisas sobre UFOs. A Marinha chegou a fazer um inquérito
interno para verificar irregularidades nas contas de McDonald, mas não encontrou nada fora
do comum. Aos que viam de fora, estava claro que as intenções de Klass não eram meramente
discordar sobre a existência dos óvnis, mas destruir McDonald de todas as formas possíveis,
justamente ele que era a maior autoridade em ufologia do planeta e que estava pressionando o
governo dos Estados Unidos a liberar suas informações sobre os UFOs.
James McDonald era um homem íntegro e exímio profissional, apesar das tentativas,
sua reputação jamais foi abalada, no entanto os ataques não cessaram. David Jacobs em seu
livro “The UFO Controversy In America” (1975) trata muito a respeito da história de James
McDonald como ufólogo e como cientista e de como ele lutou o quanto pôde e o fez até não ter
mais forças e a cada dia que passava ele via o seu sonho de levar a Ufologia a um status científico
cada vez mais distante. Suas posições políticas contra a Guerra do Vietnã, o arsenal atômico
e contra a destruição da camada de ozônio o tornaram um alvo ainda mais visado pelos seus
inimigos políticos. Passando por graves problemas familiares, ele chegou a sofrer humilhações
públicas por conta de sua crença em ufos em uma conferência contra o uso do avião Supersonic
Transport (SST).
Segundo Jacobs (1975), McDonald havia descoberto que o combustível do SST
poderia ter um efeito negativo na camada de ozônio, causando um crescimento dos casos de
câncer de pele. Durante seu testemunho no painel de Mudanças Climáticas no Congresso dos
Estados Unidos, o senador de Masschusetts Silvio O. Conte (apud, JACOBS, 1975), interrompeu
seu depoimento, diversas vezes, dizendo que: “Um homem que vem até aqui dizer que o avião
SST voando na estratosfera vai causar milhares de cânceres de pele tem que rever sua teoria
de que existem homenzinhos verdes voando por ai no céu.” Outros congressistas seguiram
com os ataques iniciados por Conte e outros riram, transformando a sessão toda numa imensa
humilhação pública contra McDonald e um ataque aos seus conhecimentos científicos. Todos
esses fatos juntos, além de um anterior estado de depressão, podem ter contribuído para que
James McDonald fosse levado ao terrível ato de desespero no amanhecer do dia 13 de junho de
1971. Sozinho em pleno deserto do Arizona, o corajoso homem que tanto havia lutado pelo fim
do segredo imposto aos óvnis, grande cientista e professor universitário, morria com um tiro na
35

cabeça disparado por ele mesmo.


A Ufologia perdia seu líder e com ele os ufólogos viam suas esperanças do fim do
acobertamento se esvaírem. Hynek também era um cientista influente, mas ele não tinham nem
a força e nem a coragem que McDonald possuía, no entanto fez o que pôde a favor da causa.
Mesmo tendo suas discordâncias, Hynek sentiu bastante a morte do colega e isso deu a ele mais
impulso no caminho de continuar seu legado. Em 1972, ele lançava sua maior obra Ufologia:
Uma pesquisa Científica onde contou todos os bastidores do Projeto Blue Book. Esse livro se
tornaria uma bíblia entre os estudantes de ufologia, nele Hynek classificou os tipos de contatos
que em 3 categorias usadas até os dias de hoje como padronização em pesquisas ufológicas
(HYNEK, 1972):
• Contato Imediato de Primeiro Grau: Quando a testemunha avista um objeto não identifi-
cado no céu.
• Contato Imediato de Segundo Grau: Quando o objeto deixa algum efeito físico tangível ao
solo ou no ambiente ao redor, como queda de energia ou efeitos eletromagnéticos
• Contato Imediato de Terceiro Grau: Quando a testemunha avista o objeto perto de si,
pousado no solo ou percebe algum ser perto dele.
O papel de Hynek aqui se torna decisivo quando ao falar do Projeto Blue Book
denuncia, não somente a ridicularização dos casos que eram enviados para a imprensa, mas
também um fator ainda mais preocupante, a intimidação que as testemunhas dos ufos passaram a
sofrer.
A ridicularização propagada contra aqueles que testemunhavam ou pesquisavam
óvnis já era bastante corriqueira, mesmo aqueles que nunca estiveram por dentro do assunto
podem atestá-la. No entanto, outro aspecto desse processo de desinformação é tratado por uma
autoridade científica como Hynek. Testemunhas e mesmo investigadores de ufos sofriam ameaças
diversas desde os anos 50, se falava muito disso no meio ufológico, no entanto Hynek atesta e dá
diversos exemplos de como isso acontecia. Um dos eventos analisados por ele durante o projeto
Blue Book fala de um Encontro Imediato em novembro de 1961, onde 4 homens testemunharam
um pouso de uma aeronave iluminada em um campo desimpedido e deserto. Achando se tratar
de um acidente aéreo, os homens se aproximaram do aparelho procurando ajudar alguma vítima
quando se deparam com seres humanoides em volta do objeto, um inclusive acenou para que
eles se afastassem. O relato, segundo Hynek, segue com um dos homens afirmando quê:

No dia seguinte, muito embora não tivessem contado a ninguém a sua bizarra
experiência, segundo fui informado, um dos homens foi chamado no emprego e
36

conduzido à presença de alguns homens que nunca vira antes. Pediram-lhe para
que os levasse até sua casa, onde examinaram a roupa que ele usava na noite
anterior, sobretudo as botas, e partiram sem dar a menor explicação. (HYNEK,
1972, p. 161)

James McDonald, chegou a sofrer com este tipo de intimidação. Documentos que
estavam em seu poder, depoimentos e gravações de entrevistas com testemunhas ufológicas
foram roubados de dentro de sua maleta durante a passagem por um aeroporto (DRUFFEL,
2018)18 . Pouco antes de sua morte, ele denunciou que carros pretos sem placa rondavam a
sua casa e seu escritório na Universidade do Arizona. Podia parecer paranoia na época, mas
recentemente, documentos liberados através da Lei de Liberdade de Informação nos Estados
Unidos (FOIA) comprovam que o FBI de fato, estava investigando Dr. McDonald e sua família19 .
O dossiê sobre ele é vasto e grave, já que sugere que agentes infiltrados chegaram a se aproximar
de sua mulher, na época envolvida com movimentos sociais, a fim de investigar sua militância
dentro da Ufologia, como contatos com outros cientistas estrangeiros, inclusive soviéticos, coisa
que o já colocava numa lista negra de suspeitos de atos subversivos.
McDonald morreu sem saber de nada sobre esse assunto, o que torna a liberação de
documentos secretos do governo de fundamental importância. O caso de McDonald foi apenas
um exemplo, vários outros pesquisadores passaram pela mesma situação de espionagem, entre
eles Frank Scully autor de Behind The Flying Saucer (Por trás dos Discos Voadores) e Dr. Morris
K. Jessup20 . Não só o governo estadunidense estava escondendo fatos relacionados aos óvnis,
como estava investigando seus pesquisadores.
A política de segredo imposto aos óvnis pelos EUA foi seguido de perto por outros
países. No Brasil não foi diferente, no entanto, antes do Golpe Militar de 1964, os militares
brasileiros demonstraram um interesse genuíno de compartilhar essas informações com os
pesquisadores civis. Em 1954, segundo PETIT (2007), o ufólogo Fernando Cleto Nunes Pereira
foi uma peça fundamental para servir de ponte entre os demais ufólogos e os militares pelo
seu envolvimento com o I Inquérito Confidencial sobre Objetos Aéreos não Identificados, uma
resposta da Força Aérea Brasileira (FAB) à grande onda de aparições de óvnis nos céus do
Brasil do mesmo ano. Cleto enviou uma carta ao próprio Ministro da Aeronáutica, o brigadeiro
Eduardo Gomes, dando detalhes dessa onda ufológica. Como resultado, ele foi convocado a
18 DRUFFEL, Allies on UFOs, Hynek & McDonald. 2018. (120 min.), son., color. Disponível em: <https:
//www.youtube.com/watch?v=_bQ_NglpUhU>. Acesso em: 22 fev. 2018.
19 FBI Files of Dr. James McDonald. Disponível em: <http://www.cufon.org/cufon/fbimcdon.htm> Acesso em
12/11/2016
20 A estranha Morte do Dr. Morris Jessup. Disponível em:<https://mummuo.wordpress.com/2013/01/21/
a-estranha-morte-do-dr-morris-jessup> Acesso em 13/06/2017
37

comparecer ao Estado-Maior da Aeronáutica para uma reunião especial, onde pôde conhecer
várias testemunhas ufológicas que como ele haviam sido convocadas.
O ufólogo teve a oportunidade de ouvir depoimentos impressionantes de aviadores
civis e militares e demonstravam que algo de muito importante estava acontecendo no espaço
aéreo brasileiro. Outro evento importante dentro da Ufologia no mesmo ano foi a conferência
proferida pelo coronel-aviador João Adil de Oliveira, então chefe do Serviço de Informações do
Estado-Maior da Aeronáutica, no auditório da Escola Técnica do Exército e patrocinado pela
Associação de Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG). O texto dessa conferência
mostra toda a visão do conhecimento do militar sobre o assunto e alertava sobre o desafio desse
fenômeno. Já no início da exposição ele fala:

O problema dos discos voadores tem polarizado a atenção do mundo inteiro.


É sério e merece ser tratado como tal. Quase todos os governos das grandes
potências se interessam por ele e o tratam com seriedade e reserva, dado seu
interesse militar. (PETIT, 2007, p. 27)

O militar não pararia por ali e iria mais longe ainda ao abordar a presença de óvnis
também no passado remoto da Humanidade onde os mesmos se confundiam com manifestações
de origem divina e completou tratando de um dos mais importantes casos ufológicos daquele ano,
quando uma formação de UFOs sobrevoou Washington, a capital Norte-Americana, cujos os
registros cinematográficos foram mostrados posteriormente a militares de vários países (PETIT,
2007). É interessante notar aqui um aspecto bem mais receptivo à confirmação da realidade do
Fenômeno UFO do que jamais se mostrou dentro do governo estadunidense. No caso citado da
formação de óvnis sobre a capital de Washington21 , o governo do país negou terminantemente
que o que ocorrera tivesse sido de origem desconhecida, mesmo que a explicação dada, até hoje
seja extremamente questionada22
Os militares brasileiros demonstravam estarem não só a par dos casos ufológicos
vivenciados em outros países, como também faziam suas próprias investigações internas sobre
o assunto dentro de nosso país. Casos ufológicos famosos como o Caso Ilha de Trindade e a
Operação Prato, que será tratada de forma detalhada mais a frente, também foram investigados
de perto pela Aeronáutica e uma rica documentação formada, detalhando aspectos físicos,
fotografias, filmagens e depoimentos. Tudo isso de enorme importância para a pesquisa civil na
21 The 1952 Washington, D.C., Ufo Incident, Explained. Disponível em: <https://www.gaia.com/article/
1952-washington-dc-ufo-incident-explained> Acesso em 10/03/2017
22 Washington D.C. UFO Incident. Disponível em <https://en.wikipedia.org/wiki/1952_Washington,_D.C.
_UFO_incident> Acesso em 10/03/2017
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tentativa de provar a realidade do fenômeno a nível científico. No entanto, a medida que o tempo
passava e as instabilidades políticas no Brasil se tornavam ainda mais insustentáveis, a distância
entre os militares e os ufólogos civis ficava maior, até ser cortada de vez com o Golpe de 64.
A Operação Prato foi um vasto estudo e investigação encabeçados pela Aeronáutica
Brasileira na região amazônica de Colares no Pará. Sob o comando do Coronel Uyrangê Bolívar
Hollanda Lima, entre os anos de 1977 e 1978, tinha como objetivo averiguar estranhos relatos
de aparições de luzes e aparelhos desconhecidos que perseguiam e muitas vezes atacavam à
população, o que deixou a região em pânico, a ponto de haver um êxodo em massa. Como
mostra o depoimento de um dos agentes A-223 em Colares:

“A cidade de Colares vive um estado de histeria coletiva. Seus moradores im-


pressionados com o aparecimento de misteriosas luzes de origem desconhecida,
não dormem, não pescam – principal atividade da população – e, sobretudo,
se debilitam na bebida, gastando seus parcos recursos em fogos24 e bebidas.”
(PETIT, 2007, p.161)

PETIT reforça que (2007, p.147) “Aqueles objetos desciam do céu, paralisavam as
pessoas e supostamente retiravam algum material mediante raios de luz”. Grande parte das
vítimas dos “aparelhos”, como ficaram conhecidos os objetos popularmente, sentiam paralisia
nos membros, seguida de um calor intenso e deixava pequenas cicatrizes de queimadura na pele.
Sem qualquer explicação médica, física ou psicológica que pudesse explicar os eventos na cidade
e as consequências no povo, O I Comando Aéreo Regional (COMAR) de Belém, a pedido do
prefeito da cidade, iniciou suas pesquisas em Colares em nas regiões vizinhas.
O que resultou dessa investigação foram impressionantes relatos, vídeos, fotos e
depoimentos que estão presentes em uma vasta documentação mantida em segredo pela Força
Aérea e que foi um dos principais alvos dos pedidos de Liberdade de Acesso à Informação feita
pelos ufólogos. Porém, antes das primeiras páginas deses documentos serem liberadas 30 anos
depois de forma oficial, como veremos mais adiante, a insatisfação por conta do segredo em
torno dessa investigação atingia até mesmo os oficiais envolvidos com a operação. Petit (2007)
relata sobre um militar que era contrário ao acobertamento em torno do caso, repassou para um
de seus contatos, de fora da estrutura militar, cópias de alguns relatórios das missões e fotos
durante as experiências de contato.
No ano de 2004, após uma série de conversas e reuniões que visavam o próximo
passo da ufologia brasileira, dois dos principais pesquisadores de óvnis do país, Ademar José
23 Oficiais secretos da inteligência da Aeronáutica
24 Os fogos eram utilizados pela população na esperança de que pudessem espantar os objetos.
39

Gevaerd e Marco Antonio Petit se encontram para refletir sobre os desejos da Comunidade
Ufológica há muito negligenciada pelo Governo Federal. A Insatisfação dos pesquisadores com
relação ao acobertamento militar imposto aos casos de óvnis foi o estopim para o que se tornaria
um dos maiores movimentos de pressão popular em torno da revelação do Fenômeno UFO
em todo o mundo: “Ufos – liberdade de informação já”. Após essa reunião, os dois ufólogos,
convocaram os outros membros da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU), formada pelos mais
renomados pesquisadores do país no ano de 1997, quando se deu o I Fórum Mundial de Ufologia
em comemoração aos 50 anos da Era Moderna dos Discos Voadores. Dentro de poucas semanas
uma grande movimentação dentro dos bastidores da Ufologia se deu para que a Campanha
alcançasse as ruas, a internet e não apenas os ufólogos ou entusiastas do assunto, mas também a
população em geral.
O objetivo estava em recolher assinaturas pelo país, anexá-las ao Manifesto da
Ufologia Brasileira e levá-las ao encontro de nossos líderes governamentais e militares com
o objetivo de que a Lei de Liberdade de Informação fosse respeitada e que os arquivos e
documentos referentes aos casos ufológicos sob o poder do Governo Federal fossem, enfim,
divulgados para toda a população brasileira e consequentemente do mundo. O Manifesto também
solicitava como o marco inicial do processo de desacobertamento, que os militares abrissem seus
arquivos sobre dois dos grandes casos da Ufologia Nacional: A Operação Prato e a Noite Oficial
dos Óvnis, acorrida em maio de 1986, quando o espaço aéreo da região Sudeste foi invadida por
mais de vinte objetos voadores não identificados e que foram perseguidos de perto por caças da
Força Aérea Brasileira.25
O Manifesto é descrito a seguir esclarecendo todos os posicionamentos da Comuni-
dade Ufológica Brasileira, assim como seus pedidos:

A Comunidade Ufológica Brasileira, representada por ufólogos individuais


e grupos de pesquisas, investigadores e estudiosos, simpatizantes e entusias-
tas da Ufologia, que firmam o presente abaixo-assinado, reúnem-se através
desse documento, sob coordenação da REVISTA UFO, para dirigirem-se às
autoridades brasileiras, neste ato representadas pelo excelentíssimo senhor
presidente da República e pelo ilustríssimo senhor ministro da Aeronáutica,
para apresentar os seguintes fatos:
1. É de conhecimento geral que o Fenômeno UFO, manifesto através de
constantes visitas de veículos espaciais ao planeta Terra, é genuíno, real e
consistente, e assim vem sendo confirmado independentemente por ufólogos
civis e autoridades militares de todo o mundo, há mais de 50 anos.
2. O fenômeno já teve sua origem suficientemente identificada como sendo
alheia aos limites de nosso planeta, e os veículos espaciais que nos visitam
25 Invasão. Disponível em: <http://www.ufo.com.br/artigos/invasao> Acesso em 22/05/2017
40

de forma tão insistente são originários de outras civilizações, provavelmente


mais avançadas tecnologicamente do que a nossa, que coexistem conosco no
universo, ainda que não conheçamos seus mundos de origem.
3. Tais civilizações encontram-se num visível e inquestionável processo de
contínua aproximação da Terra e de nossa sociedade planetária, e, assim
agindo, em suas manobras e atividades, na grande maioria das vezes não
demonstram hostilidade para conosco.
4. É notório que as visitas de tais civilizações não-terrestres ao nosso pla-
neta têm aumentado gradativamente nos últimos anos, segundo comprovam
as estatísticas nacionais e internacionais, tanto em quantidade quanto em
profundidade e intensidade, representando algo que requer legítima atenção.
5. Em virtude do que se apresenta, é urgente que se estabeleça um programa ofi-
cial de conhecimento, informação, pesquisa e respectiva divulgação pública do
assunto, de forma a esclarecer a população brasileira a respeito da inegável e
cada vez mais crescente presença extraterrestre na Terra. Assim, considerando
atitudes assumidas publicamente em vários momentos da história, por países
que já reconheceram a gravidade do problema, como Chile, Bélgica, Espanha,
Uruguai e China, respeitosamente recomendamos que o Ministério da Aeronáu-
tica da República Federativa do Brasil, ou algum de seus organismos, a partir
deste instante, formule uma política apropriada para se discutir o assunto,
nos ambientes, formatos e níveis considerados necessários. A Comunidade
Ufológica Brasileira, neste ato representada pelos estudiosos nacionais abaixo
assinados, com total apoio da Comunidade Ufológica Mundial, deseja oferecer
voluntariamente seus conhecimentos, seus esforços e sua dedicação para que
tal proposta venha a se tornar realidade e que tenhamos o reconhecimento
imediato do Fenômeno UFO. Como marco inicial deste processo, e que sim-
bolizaria uma ação positiva por parte de nossas autoridades, a Comunidade
Ufológica Brasileira respeitosamente solicita que o referido Ministério abra
seus arquivos referentes a pelo menos dois episódios específicos e marcantes
da presença de objetos voadores não identificados em nosso Território:
(a) A Operação Prato, conduzida pelo I Comando Aéreo Regional (COMAR),
de Belém (PA), entre setembro e dezembro de 1977, que resultou em volumoso
compêndio que documenta com mais de 500 fotografias e inúmeros filmes
a movimentação de UFOs sobre a Região Amazônica, da forma como foi
confirmado pelo coronel Uyrangê Bolívar Soares de Hollanda Lima.
(b) A maciça onda ufológica ocorrida em maio de 1986, sobre os Estados do
Rio de Janeiro e São Paulo, entre outros, em que mais de 20 objetos voadores
não identificados foram observados, radarizados e perseguidos por caças a
jato da Força Aérea Brasileira (FAB), segundo afirmou o próprio ministro
da Aeronáutica na época, brigadeiro Octávio Moreira Lima. Absolutamente
conscientes de que nossas autoridades civis e militares jamais se descuidaram
da situação, que tem sido monitorada com cuidado e atenção ao longo das
últimas décadas, sempre no interesse da segurança nacional, julgamos que a
tomada da providência acima referida solidificará o início de uma próspera e
proveitosa parceria. (GEVAERD et al., 2007)

A partir da edição 98 da Revista UFO, abril de 2004 e através do site da Revista


UFO (www.ufo.com.br), a petição para que Governo brasileiro libere as informações oficiais que
retém sobre os óvnis e que reconheça a atividade dos ufólogos brasileiros, que esforçadamente
lutam para que o assunto seja de conhecimento público. Fernando A. Ramalho26 destaca o
desenrolar do movimento:
26 O fim do Segredo. Disponível em:<http://www.ufo.com.br/artigos/o-fim-do-segredo/> Acesso em 21/03/2017
41

Em poucos meses o movimento atingiu número significativo de assinaturas,


assim como quase apoio total dos integrantes da Comunidade Ufológica Bra-
sileira e de outros ramos do conhecimento paracientífico e até científico naci-
onal. No incio de 2005 já eram contabilizadas mais de 70 mil assinaturas no
abaixo-assinado, assim como a propaganda junto às instituições governamentais
começavam a surtir efeito. Em todo esse processo, a ajuda da imprensa foi
imprescindível. (RAMALHO, 2009, n/p)

Tanta repercussão e tanto debate, além da visibilidade na mídia teria sua recompensa
no ano seguinte ao início da campanha. Em maio de 2005, a Comissão Brasileira de Ufólogos
(CBU) foi convidada pelo Comando da Aeronáutica, juntamente com o jornalista da Rede Globo
Luiz Petry, a verificar alguns dos documentos solicitados pelos ufólogos durante a Campanha.
Logo depois veio a histórica visita ao Centro Integrado de Defesa e Controle de Tráfego Aéreo
(CINDACTA). Nesse encontro, o Manifesto da Ufologia Brasileira foi entregue nas mãos dos
militares presentes no local. Em seguida, no Comando de Defesa Aeroespacial (COMDABRA),
a CBU teve acesso à algumas das pastas confidenciais e puderam ter a certeza de que os militares
brasileiros se interessavam por fenômenos ufológicos e tinham provas disso. Marco Antonio
Petit (2007) relata com entusiasmo suas impressões durante esse encontro:

Além das pastas a que tivemos acesso, os militares permitiram ainda que
conhecêssemos o ambiente onde as mesmas estavam arquivadas. Em um arquivo
metálico com várias gavetas, que nos foi mostrado, havia pastas referentes a
muitos casos de observação de discos voadores que envolvem diretamente
militares da FAB. Algumas delas eram relativas a anos específicos. Na verdade,
havia naquele arquivo pelo menos uma pasta para cada ano, desde 1954 –
época em que foi realizado o primeiro estudo sobre Ufologia dentro das Forças
Armadas, o I Inquérito Confidencial sobre Objetos Aéreos Não Identificados.
Uma daquelas pastas, referente ao ano de 2001, apesenta mais de 90 casos.
(PETIT, 2007, p.214)

No entanto, naquela presente momento, os pesquisadores puderam apenas ver os


documentos, nenhum deles pode fotografar, tirar cópias ou escrever nada referente ao que tinham
visto. Questionados sobre o momento em que aquilo viria ao público, tudo o que receberam como
resposta foi a promessa de que, em breve, todas aquelas coisas seriam disponibilizadas. Durante
a visita, também foi pedido aos militares que fosse criado um grupo civil-militar que estudasse
e investigasse profundamente a atividade ufológica em nosso país e cuidasse do processo de
esclarecimento do fenômeno para o grande público, o que, infelizmente, até o presente momento,
não foi feito (Petit, 2007).
A visita ao CINDACTA e COMDABRA em Brasília foi acompanhada de perto pela
imprensa e teve uma reportagem especial exibida no programa Fantástico em 22 de junho daquele
ano. Entretanto, passaram-se meses e nenhuma resposta sobre a liberação dos documentos havia
42

sido dada, nem pela Aeronáutica e nem pelo Governo Federal, forçando novamente a Comissão
Brasileira de Ufólogos a fazer uma Campanha, outra vez, através da Revista UFO N◦ 115, de
outubro de 2005, pedindo explicações sobre o que havia sido prometido durante a visita. Petit
(2007) reforça que durante as conversas com os militares da Aeronáutica ouviu diretamente de
Atheneu Azambuja, major-brigadeiro e figura máxima do COMDABRA na época que:

[ . . . ] apesar de serem detectados por nossos radares e de existirem registros da


presença dos artefatos não identificados em nosso céu, nós [os militares] não
nos consideramos em condições de dar o tratamento científico ou uma resposta
apropriada para o que está acontecendo em nosso país. Isto é tarefa para os
pesquisadores civis. (PETIT, 2007, p.218)

Todavia, como será mostrado mais a frente, os militares, em especial, os da Aeronáu-


tica, faziam sim pesquisas e estudos relacionado aos UFOs, como no caso da Operação Prato,
que pesquisou uma grande invasão de óvnis no Pará em 1977 e com o SIOANI, Sistema De
Investigação De Objetos Aéreos Não-Identificados, um grupo de estudos formado por militares
da Aeronáutica que pesquisava casos relacionados à Ufologia durante os anos 60 e 70. Contudo,
a afirmação do major-brigadeiro Azambuja teve um efeito imediato no que se refere à liberação
desses documentos. Se apenas os pesquisadores civis estavam aptos a analisar todos aqueles
casos, tal só poderia acontecer se essas informações fossem disponibilizadas ao público.

A legislação atual referente aos assuntos e características sigilosas, apesar de já


prever a desclassificação dos documentos reservados, confidenciais, secretos
e ultra-secretos, a partir de prazos diferenciados, nasceu sob a visão estreita
dos problemas relacionados aos interesses pessoais dos atingidos por fatores do
regime militar. Um documento sigiloso que já tenha atingindo idade necessária
para sua desclassificação, para ser acessado, por um dos eventuais envolvidos
citados no mesmo. Este é um entrave burocrático que torna o processo para
obtenção de documentos anteriormente sigilosos, pelo menos no caso dos docu-
mentos ufológicos, algo sem sentido. Independente de uma revisão necessária
na atual Legislação, o assunto se reveste hoje de tamanha importância, a partir
da crescente atividade ufológica constatada em termos planetários, que detalhes
deste tipo não podem continuar a impedir a população de ter acesso à verdade.
(PETIT, 2007, p. 220)

O pedido que Petit tanto faz em sua obra, nada mais é do que o pedido de um cidadão
que anseia pela informação, que precisa dela para exercer o seu trabalho, aquilo que ama e que se
vê numa situação, como todos nós, de ter essa informação negada, mesmo sendo prevista por lei,
é desrespeitada e ignorada por conta de uma política de segredo ainda não totalmente esclarecida
e pela burocracia política que se coloca acima dos direitos da população. Outro problema,
segundo Ramalho (2009) reside no próprio Governo Federal, com seus relacionamentos civis e
militares pouco transparentes.
43

Alguns anos se passaram depois dessa visita e mesmo com o silêncio das Forças
Armadas, a campanha continuou. Muita pressão foi feita depois disso, com matérias sendo
exibidas em canais de televisão e em reportagens da própria Revista UFO e em outros canais de
mídia escrita. Ficou também decidido que dever-se-ia acionar instâncias superiores da burocracia
governamental para abrir os primeiros arquivos. Até que no ano de 2007, a Aeronáutica começou
a liberar os lotes com documentos referentes a objetos voadores não identificados por décadas e
enviando-as ao Arquivo Nacional, começando pelos anos 50 e assim por diante, mas ainda não
era o suficiente. Ramalho (2009) também nos conta que naquele mesmo ano, entrou em ação do
Dossiê UFO Brasil, protocolada pela Casa Civil da Presidência da República instando todo o
Governo Federal a cumprir a então vigente Lei de Acesso à Informação 11.111/2005, revogada
depois pela 12.527/2011, e liberar suas informações ufológicas para consulta pública.
O governo deu sua resposta nos dias 31 de outubro e em 14 de dezembro de 2008,
quando foi enviado ao Arquivo Nacional um grande volume dos documentos da Aeronáutica
catalogados entre 1952 e 1969. Nesse volume também foi liberado aquele que é, segundo o
Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o único registro ufológico do que foi o Serviço
Nacional de Informação (SNI), que hoje é conhecida como Agência Brasileira de Inteligência
(ABIN), que revelava a investigação feita por agentes civis de um dos mais temidos órgãos da
Ditadura Militar sobre a Operação Prato. No entanto, essa primeira leva de documentos liberados
foi extremamente frustrando para a maioria dos ufólogos. Ramalho (2009, s/n) ao falar sobre
essa primeira leva disponibilizada pela Ministério da Defesa, no Arquivo Nacional, definiu como
que as Forças Armadas tivessem usado o “jeitinho brasileiro” para enrolar os pesquisadores.
Os documentos liberados naquele momento não passavam de 1% do que havia sido pedido na
Campanha de Liberdade de Informação. Só tinha 231 páginas de cópias xerox mal feitas e
recortes de jornal.

“A sensação geral que ficou na CBU, após a confirmação do parco material, foi a
de que esse primeiro ato do Ministério da Defesa não passou de uma brincadeira
de mau gosto, tentando-se passar um atestado de estupidez e incompetência aos
ufólogos signatários do Dossiê UFO Brasil.” (RAMALHO, 2009, s/n)27

A desconfiança com relação as promessas que foram feitas em torno da liberação


do material ufológico ainda era muito grande, mesmo após a reunião e todas as promessas
27 Documentos ufológicos já estão disponíveis para consulta pública no Ar-
quivo Nacional, em Brasília. Disponível em: <https://www.ufo.com.br/noticias/
documentos-ufologicos-ja-estao-disponiveis-para-consulta-publica-no-arquivo-nacional-em-brasilia>
Acesso em 22/11/2017
44

que foram feitas aos representantes da CBU. Não era de se estranhar, depois de tantos anos de
negação oficial do Governo em ralação aos UFOs, era natural que houvesse um ar de ceticismo
por parte dos ufólogos, mas não passaria muito tempo para que as coisas começassem a dar um
resultado mais significativo, já que as ações da Campanha UFOs Liberdade de Informação Já,
não parariam:

Cientes da primeira fresta aberta na política brasileira de acobertamento mi-


litar, a CBU entremeada por várias ligações telefônicas entre este autor e a
Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ) da Casa Civil, aguardou pacientemente
a manifestação do Governo sobre o que fora enviado ao Arquivo Nacional,
para posteriormente darmos nosso parecer. Na segunda-feira, 05 de janeiro, tal
parecer – já apelidado de vírus do macaco – foi enviado à SAJ. O documento
relacionava vários casos faltantes no primeiro lote vindo do Comando da Ae-
ronáutica principalmente a versão oficial daquela arma para a Operação Prato.
Ora, como podia o SNI liberar uma versão e a Aeronáutica manter a sua em
sigilo? (RAMALHO, 2009, p.14).

Novamente se mostravam claras, as dificuldades em se obter acesso a documentação


relacionado aos UFOs, mesmo com toda a campanha e a adesão não só dos pesquisadores
mas da sociedade. A questão é que no domingo, dia 11, uma matéria de página inteira e com
anúncio de capa saía no jornal Folha de São Paulo28 tratando dessa enorme façanha perpetrada
pelos ufólogos brasileiros em pressionar o governo a liberar os documentos referentes aos óvnis.
A reportagem também trazia a declaração de que nova solicitação fora feita à Presidência da
República e que se o Governo não cumprisse a Lei, um mandado de segurança a ser impetrado no
Supremo Tribunal Federal era a saída que a CBU tinha para conseguir a documentação solicitada.
Após 5 meses, mais 12 envelopes contendo documentos da década de 70 foram enviados ao
Arquivo Nacional, entre eles 30 depoimentos colhidos durante as investigações da Operação
Prato (Ramalho, 2009). Este presente momento de abertura ufológica mundial, que se tem visto
em outros países como Inglaterra29 , Chile30 e França31 é uma resposta a tudo o que é e já foi
feito em prol da credibilidade e do esclarecimento público sobre a possibilidade das visitas de
seres extraterrestres ao nosso planeta serem reais e estarem acontecendo há anos. Essa é uma luta
que está longe de seu fim, atualmente o número de documentos liberados passa dos dez mil, mas
os ufólogos creem que ainda existam outros milhares aptos a serem disponibilizados ao público.
28 SNI investigou óvnis durante a ditadura. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/
fc1101200907.htm> Acesso em 12/03/2017
29 Inglaterra revela seus segredos. Disponível em: <http://www.ufo.com.br/artigos/
a-inglaterra-revela-seus-segredos>. Acesso em 12/03/2017
30 Governo Chileno reconhece Ufos. Disponível em: <http://www.ufo.com.br/artigos/
governo-chileno-reconhece-ufos>. Acesso em 12/03/2017
31 Dossiê Cometa: <http://www.ufo.com.br/artigos/dossie-cometa-franca-revela-seus-segredos> Acesso em
12/03/2017
45

O assunto em si parece ser um tema restrito a poucos, mas isso não é uma realidade.
Segundo a Equipe UFO (2013), este é um tema recorrente nos pedidos da Lei de Acesso à
Informação32 :

Segundo a CGU, existe um número significativo de pedidos a respeito de


objetos voadores não identificados, que têm sido rejeitados sob a justificativa
de inexistência da informação. Alguns requerentes que tem seu pedido negado
estão recorrendo a CMRI [Comissão Mista de Reavaliação de Informações], a
última instância prevista pela Lei de Acesso. Já são 73 recursos ao órgão, sendo
que um terço está relacionado a pedidos feitos ao Comando da Aeronáutica.
(REVISTA UFO, 2013, s/p)

Este resultado demonstra que a necessidade informacional sobre o assunto óvni é


um apelo de toda a sociedade brasileira, não se resumindo a um único grupo e que a negação
dessa informação caracteriza uma situação grave para o governo e seus representantes e fere
diretamente a ideia principal da Ciência da Informação: a cidadania criada a partir da dissemina-
ção da informação, quanto mais se tratando do que pode ser a maior descoberta da História da
Humanidade, a de que não estamos sós no Universo. Assim explica Ricardo VARELA (2014,
n/p), na época, conselheiro da Revista UFO: “Com a liberação destes documentos, pela primeira
vez na história da Ufologia Brasileira podemos observar que houve um estudo metódico sobre
o Fenômeno UFO por nossas Forças Armadas. Temos assim a comprovação de que devemos
procurar mais”. Um exemplo claro disso está, por exemplo, num tipo de documento que deixou
muitos pesquisadores impressionados. Dois calhamaços contendo 333 páginas semelhantes
a dois cadernos com o nome de Resumo Estatístico de Objetos Voadores Não Identificados.
Um deles contendo a descrição de ocorrências ufológicas entre os anos de 1954 a 1999, e o
outro que vai até o ano 2000. Esta classificação como “secreto” nos dois relatórios, segundo
Ramalho (2014) é provavelmente por conta de alguns dados muito peculiares neles contidos
sobre a suposta presença extraterrestre no Brasil, tais como referências ao contato de testemunhas
com tripulantes de UFOs e que são descritos nos calhamaços como contato com Ets em algum
tipo de contato imediato.

Ou seja, o que temos nestes documentos oficiais da Aeronáutica recém-liberados


e agora disponíveis a todos é a admissão formal e taxativa de que ocorreram
contatos com ETs em nosso país. Um tiro certeiro no coração dos céticos, cujas
críticas, em pleno ano 2014, ainda tratam os UFOs como ilusão. Outra peculia-
ridade desses dois cadernos, vistos pelos militares como resumos estatísticos,
está no fato de eles informarem o envolvimento do serviço de inteligência da
32 Ufos são assuntos recorrentes nos pedidos de lei de acesso a informação. Disponível em:<http://
www.ufo.com.br/noticias/ufos-sao-assunto-recorrente-nos-pedidos-da-lei-de-acesso-a-informacao> Acesso
em 12/03/2017
46

Aeronáutica nas investigações de ocorrências ufológicas no país, o chamado


A2. Os ufólogos sempre souberam da relação direta entre os UFOs e o A2 nos
casos oficiais, mas a arma nunca o havia citado abertamente. Mas, apesar dos
avanços com a Aeronáutica, ainda se lastima a falta de engajamento de outros
setores do meio militar brasileiro. (RAMALHO, 2014, s/p)

Ou seja, mais uma vez estamos diante de uma realidade que não pode mais ser
negada. Os documentos liberados até o momento admitem a realidade de um fenômeno que há
muito tempo vem sendo investigado e registrado pelos ufólogos e agora se sabe que também
pelos militares da Aeronáutica, que além de tudo trata o assunto em nível de inteligência militar,
mostrando assim não só sua legitimidade como também sua seriedade. Ao se referir a esses
fenômenos como de origem extraterrestre, eles corroboram o que há 50 anos, nas primeiras
décadas da pesquisa ufológica, o que James E. Mcdonald afirmava em seus trabalhos.

“Segundo meu ponto de vista, a hipótese da origem extraterrestre para os


UFOs, de acordo com a impressionante massa de evidências que se acumularam
durante esse vinte anos de avistamentos, aparece ser (eliminando todas as outras
possíveis possibilidades) a hipótese mais satisfatória ” (MCDONALD33 , 1968,
p.37, tradução nossa)

A hipótese extraterrestre aqui é tratada abertamente, quase aceita como uma una-
nimidade do que se diz respeito a investigação de óvnis, no entanto, somente uma pesquisa
aprofundada no assunto, feita por autoridades científicas competentes podem confirmar, com
certeza, ou não essa hipótese. A importância desse tipo de informação é extrema, não apenas se
tratando do ponto de vista da Ciência da Informação, mas também de que enquanto ela é negada
por tanto tempo, 70 anos aproximadamente, impede o estudo científico da mesma. Como já foi
discutido, uma das causas da negligência científica com relação ao Fenômeno UFO, tem a ver
com a má informação que ele tem e com acobertamento que lhe é imposto pelas altas esferas
governamentais e militares.

33 UFOS – A Internacional Scientific Problem. Disponível em: <Link>


47

3 DOCUMENTOS: ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

Neste capítulo, trataremos dos conceitos básicos sobre o termo documentos e tudo
mais que ele engloba e o que significa. Para falarmos de documentos, primeiro teremos que
falar sobre informação, que pode ser definida como um conjunto de elementos, que passam uma
mensagem sobre um certo evento ou acontecimento e que possibilita a resolução de problemas e a
tomada de decisões, quando levado em conta o seu conhecimento. Para CAPURRO; HJORLAND
(2007, p.149):

A palavra informação tem raízes latinas (informatio). Antes de exploramos este


caminho, deveríamos examinar este verbete no The Oxford English Dictionary
(1989). Devemos considerar os dois contextos básicos nos quais o termo
informação é usado: o ato de moldar a mente e o ato de comunicar conhecimento

É um fenômeno que dá significado às coisas, através de um conjunto de signos e


dados. Nesse caso, por outro ângulo, é colocado que a informação é um fenômeno que garante
significado às coisas e é através desse aglomerado de signos e dados que se modela o pensamento
humano. Esses dados são assimilados pelos sentidos uma vez incorporados, acabam por gerar
a informação necessária para produzir conhecimento. Para uma melhor administração dessa
informação, a necessidade de organizá-la se tornou óbvia, os documentos, então, surgiram a
seguir.
ZAHER (1988 apud ALMEIDA, 2000 p.29) define que documentação é “o processo
de reunir, classificar e distribuir documentos em todos os domínios da atividade humana.” Lopes
(1996) discorre que: “os seres humanos produzem informação de modo arbitrário, de acordo
com as relações que estabeleçam entre si e a natureza.” E que seus atos, são em si uma fora
de produzir informação. Segundo VIEIRA (2005, p.1) “Documento é tudo que registra uma
informação independente do valor que a ela venha a ser atribuído. O mesmo documento ou
informação muda de valor pela ótica de quem visualiza.” Segundo CAUDE (s.d., p.8)

“A palavra ‘documento’ vem do latim ’DOCURE’ que significa ensinar. É um


objecto material que nos ensina algo de novo ou que nos recorda uma coisa
esquecida. Na realidade, é um OBJECTO que representa factos, acontecimentos,
situações mais ou menos simples, mas que nos são necessárias para viver.”

No entanto, é bom que se esclareça que, também segundo Vieira (2005) dentro desse
conceito, qualquer objeto pode ser considerado um documento, já que todo objeto, pelo simples
fato de existir já pode nos possibilitar um elemento de informação ou conhecimento. Com o
surgimento da ciência veio também a obrigação do objeto como elemento indispensável para ela.
48

Com sua evolução, apareceram outros meios de prova e outras diversidades de documentos. Para
BELOTTO (2006, p.35): Segundo a conceituação clássica e genérica, documento é qualquer
elemento gráfico, iconográfico, plástico ou fônico pela qual o homem se expressa. É o livro, o
artigo de revista ou jornal, o relatório, o processo, o dossiê, a carta, a legislação, a estampa, a
tela, a escultura, a fotografia, o filme, o disco, a fita magnética, o objeto utilitário etc., enfim,
tudo o que seja produzido, por motivos funcionais, jurídicos, científicos, técnicos, culturais ou
artísticos, pela atividade humana.

Segundo a definição do Dictionnaire encyclopédique de l’information et docu-


mentation (2001), a informação se define como um registro de conhecimentos
para sua transmissão. Isso significa que os conhecimentos devam ser inscritos
num suporte que possibilitem a sua conservação. No entanto, muitas definições
sobre informação são descritas pelos mais diversos autores da Ciência da Infor-
mação, no nosso caso, vamos nos ater ao significado da informação dentro de
sua representação documental.

Um documento é criado por vários motivos e é isso que determina o seu uso e conse-
quentemente seu destino para armazenamento. No caso das bibliotecas e museus o documento
destino será didático, cultural, técnico ou científico. Os administrativos, jurídicos e históricos
são destinados aos arquivos.

3.1 O Surgimento da Documentação

No decorrer do tempo, com o aparecimento das instituições, empresas e governos,


as pessoas viram a necessidade de organizar seus documentos ou para atestar seus direitos ou
para usá-las como provas, dessa maneira surgiram os arquivos. Assim, de acordo com VIEIRA
(2005, p.4) “Com o aparecimento dos institutos de pesquisas e os históricos, o mundo foi
se documentando. Começou a preocupação do Estado com sua história; os pesquisadores e
historiadores, entretanto necessitavam de fontes para pesquisar”. Para o homem civilizado, o
conhecimento é uma condição prévia para todo o tipo de ação. Fora os atos que são meramente
reflexos ou involuntários, a vida é uma sequência de esforços de predição, organização e
ordenação das nossas atividades, como pessoas e como membros da sociedade. Dessa maneira,
como bem define CAUDE (s.d.,p. 25)

O documento não é apenas conservador do passado e veículo do amanhã, é tam-


bém objeto real. Retomando uma definição da União Francesa dos Organismos
de Documentação (U.F.O.D.), chamaremos documentos a: qualquer objecto
susceptível de ser utilizado para consulta, estudo ou prova.
49

Queiroz; Moura (2015 apud Pinheiro, 2002) explana que com o surgimento da
ciência moderna durante o século XVI se inciaram os encontros das sociedades científicas, onde
os cientistas através de cartas, comunicavam suas descobertas e pesquisas, afim também de
assegurar o direito autoral de suas descobertas. Foram essas cartas que foram responsáveis pelo
processo de informação no meio científico. Isso gerou uma grande quantidade de informação e
novos tipos de suporte para documentos como filmes, microfilmes, fitas magnéticas, discos e
etc. Essa transformação ficou conhecida como “explosão da informação”, o que incentivou o
aperfeiçoamento das técnicas de registro e análise dos documentos.
Segundo Meyriat (1981 apud Ortega 2016) um documento pode ser produzido ou
não com a intenção de ser um documento, no sentido de produção, e objeto que pode ser usado
como um documento, já que é o seu uso que definirá se isso acontecerá ou não. Ainda segundo
ORTEGA (2016, p.6-9):

Os documentos são objetos abordados informacionalmente. O documento se


define por uma instância física (seu suporte material) e uma instância simbólica
(informativa, conteudística), sendo que esta última é sempre uma atribuição, ou
seja, não é inerente ao objeto. A dimensão informativa do documento não é
previa, é construída no momento da interpretação. Se o documento é objeto é
construído, ou seja, não existe a priori, ou in natura, o documento bibliográfico
também não é objeto pré-existente, mas depende de ações de significação que o
tornem como tal.

Para SMIT (1986) a documentação como hoje é conhecida na atualidade surgiu


a partir do sonho de dois advogados belgas Henri La Fontaine e Paul Otlet, que em 1892
criaram o Instituto Internacional de Bibliografia que tinha por objetivo reunir em fichas toda
a produção bibliográfica mundial. Em 1931, esse instituto passaria a se chamar Instituto
Internacional de Documentação e desde então a palavra “Documentação” começa a tomar espaço
nas discussões e debates, apesar da ideia principal do instituto, que era a de reunir toda a produção
bibliográfica mundial em único lugar, não ter dado certo. No entanto, foi na década de 30 que
teve início as técnicas de documentação, onde em 1937 tem-se a realização do 1◦ Congresso
Mundial de Documentação em Paris e no ano seguinte, em 1938, é criado o FID (Federação
Internacional de Documentação). Durante a década de 40, a documentação se aproxima daquilo
que posteriormente seria conhecido como Informática e desde então sua evolução tem-se dado
de forma cada vez mais rápida. A documentação também vai arrumar a informação, já que ela é
a preocupação principal e para isso se torna necessário analisar o conteúdo dos documentos:

Esta análise significa, de fato, uma operação de resumo, sendo que os conceitos
resumidos receberão nomes, por sua vez seguindo também de certas normas.
50

Uma vez os documentos assim descritos e analisados, é possível estocá-los... e


achá-los (SMIT, 1986, p.16)

Para o processo de análise informacional que vem a partir dos dados disponibilizados
por esses documentos, faz parte da área de atuação dos profissionais da informação ou como
afirma Belotto (2006) “Recolher, tratar, transferir, difundir informação, é o objetivo corrente
de arquivos, bibliotecas, museus, e centros de documentação. Existe um antigo ditado popular
que afirma que quem tem informação, tem poder e lhe dá vantagens com relação a dinheiro,
trabalho, investimentos e a documentação está conectada a esse poder. Um homem documentado
não é aquele que meramente possui uma quantidade enorme de informações de vários tipos,
mas é aquele que sabe como incorporar as suas informações e os conhecimentos dispersos em
documentos, num conjunto coeso e universal. Briet (1960 apud ALMEIDA, 2000) trata que uma
estrela no firmamento pode não representar em si um documento, porém se a mesma estrela é
identificada e acompanhada em um laboratório de astronomia, ela se torna um documento. O
conhecimento que ele trará para todos aqueles que se interessarem por ele será parte de pesquisas
científicas e para efeitos futuros.
Documentos, como define RONCAGLIO; SZVARÇA; BOJANOSKI (2015, p. 1) é
um termo também polissêmico e pode ser qualquer suporte que registre informações, desde de
escavações geológicas, registro de materiais de antigas civilizações, mapas, contatos privados
e etc. E a partir do momento em que tudo isso é considerado História, todos esses registros
deixados pela Humanidade servem para provar, informar, comprovar e refletir sobre determinado
caso ou fato.
Como já foi dito, um arquivo é um conjunto de documentos oficialmente produzidos
e recebido por um governo ou organização para uso posteriores, mas para usá-los adequadamente,
de maneira rápida e inteligente, eles devem ocupar um lugar apropriado e racional, um domicílio.
De acordo com CAUDE (s.d.) as ações que determinam esse lugar são de natureza intelectual
(classificação) e material (ordenação e arranjo). A classificação equivale a um certo número de
classes em que serão inseridos esses documentos, a principal característica dessa classificação
metódica é permitir a reunião por classes de elementos documentais entre si, facilitando assim a
ordenação e as pesquisas.
51

3.2 Documentos e Lei de Acesso a Informação

Belotto (2006) nos diz que existe uma série de dúvidas com relação a origem do
temo arquivo. Ele pode ter surgido na Grécia sob a alcunha de arché que se referia ao palácio
dos magistrados e acabou evoluindo para archeion, um local onde se guardava documentos. Para
VIEIRA (2005, p. 9) “Os arquivos, embora ainda desprezados e desconhecidos, são sem dúvida,
os guardiões do elemento que moveu, move e moverá o mundo: A INFORMAÇÃO.” Todos
esses arquivos e documentos oficiais produzidos por uma instituição ou órgão federal como
as Forças Armadas e o Governo Federal estão sujeitos às regras e leis próprias desse governo.
As informações que eles contém são de grande importância não apenas histórica, mas também
estratégica:

A informação produzida, guardada, organizada e gerenciada pelo Estado é um


bem público, e o acesso a ela deve ser restringido somente em casos específicos.
O acesso a esses dados constitui-se em um dos fundamentos para a consolidação
da democracia, ao fortalecer a capacidade dos indivíduos de participar de modo
efetivo da tomada de decisões que os afeta. (BRASIL. Controladoria Geral Da
União, 2011, p.9)

Nessa questão, entramos na parte jurídica do que se refere ao direito do cidadão


de ter acesso a essas informações. Segundo o que nos diz a Cartilha de Procedimentos para
Classificação de Informação de Grau de Sigilo do Governo Brasileiro (2017), o primeiro marco
legal a respeito do direito ao acesso à informação aconteceu na Suécia no ano de 1766. Já
em 1888 a Colômbia estabeleceu um código que liberou o acesso aos documentos do governo.
Nos Estados Unidos a Liberdade de Informação foi aprovada em 1966, já no México em 2002,
assim como outros países da América Latina. O acesso à informação é um direito fundamental
reconhecido por Organismos como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização
dos Estados Americanos (OEA). No Brasil, o acesso à Informação está previsto na Constituição
Federal de 1988 (CF/88) como direito fundamental, em seu art. 5o, inciso XXXIII:

Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei,
sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindí-
vel à segurança da sociedade e do Estado.

Este dispositivo é regulamentado pela Lei de Acesso à Informação, assim como os


artigos constitucionais 37 e 216:

Art. 37. § 3o A lei disciplinará as formas de participação do usuário na


administração pública direta e indireta, regulando especialmente: (. . . ) II – o
52

acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos de


governo, observado o disposto no art. 5o, X e XXXIII; (. . . ).
Art. 216. § 2o Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da
documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a
quantos dela necessitem.

Colocado esse direito em prática, o Brasil regulamenta o acesso à informação pública


sob tutela do Estado e estabelece procedimentos para que se responda às solicitações dos cidadãos
que assim desejam usá-la, definindo assim que o acesso se torna uma regra e o sigilo a exceção.
A instituição de um sistema que permita o acesso à informação tem como objetivo vencer uma
política de sigilo, também chamada pela Cartilha de Acesso à Informação Pública de “Cultura
do Segredo” (Brasília, 2011). Nesse tipo de cultura, a gestão pública é ordenada pelo princípio
de que a circulação e divulgação da informação representa um perigo. Isto causa a criação de
obstáculos para que as informações sejam disponibilizadas, sob alguns tipos de argumentos de
que:
• O cidadão só poderiam pedir informações que lhe digam respeito direto
• Os dados requeridos podem ser usados de forma indevida por grupos de interesse
• Os Pedidos dos cidadãos podem ser um problema, pois sobrecarregam os servidores
compromete e outras atividades
• É tarefa da chefia decidir pela liberação ou da informação requerida
• A população ainda não está preparada para desempenhar o direito de acesso à informação.
É interessante analisar o último item listado, pois uma das desculpas apontadas
pelos ufólogos de que, a documentação ufológica ainda não esteja totalmente disponibilizada
pelos governos, se encontra no fato de que a população ainda não está preparada para saber
o conteúdo dela, o que poderia ocasionar um choque que abalaria os alicerces da sociedade
moderna. O conceito de que não estamos sozinhos no Universo, é mais antigo do que se parece,
sendo proposto por Demócrito, no século quinto antes de Cristo, baseando-se na popularização
dessa ideia o neuropsicólogo Gabriel G. de la Torre, da Universidade de Cádiz divulgou um
estudo onde indaga se os astrônomos responsáveis pela procura de vida inteligente no Universo
através de sinais de rádio feitas pelo SETI, Search For Extraterrestrial Intelligence (Procura por
inteligências extraterrestres),também deveriam mandar mensagens ativamente para eles34 . O
questionamento de De la Torre é qual o impacto que essa decisão causaria no planeta e se as
pessoas estão preparadas para isso. Buscando por essa resposta, ele executou uma pesquisa com
34 Are you ready for contact with extraterrestrial intelligence? Disponível em:<http://www.kurzweilai.net/
are-you-ready-for-contact-with-extraterrestrial-intelligence> Acesso em 12/03/2018
53

116 estudantes universitários dos Estados Unidos, Espanha e Itália. O questionário usado, aborda
pontos relacionados às crenças religiosas, conhecimento de astronomia e suas opiniões com
relação a um possível contato extraterrestre. Os resultados colhidos por La Torre constatam que
a Humanidade ainda não está preparada para esse tipo de contato.

Esse estudo demonstrou que o conhecimento do público em geral sobre o


Universo e o lugar que temos nele muito pobre. Assim, uma conscientização
global deve ser reforçada, utilizando a melhor ferramenta possível: a educação.
Não podemos nos reduzir em nome de referências morais nesse ponto, pois de
fato é uma questão mundial com um componente ético muito forte, do qual
todos devemos participar. (DE LA TORRE, 2014, tradução nossa)

A questão do entendimento da vida extraterrestre como uma transformação social


não deve ser um empecilho para que as informações sobre esse assunto venham a público, pois
como frisa De La Torre, a educação é a melhor ferramenta para esclarecer as pessoas nesse
sentido. A própria cartilha nos explica a seguir que a cultura do segredo: “a informação é retida
e, muitas vezes, perdida. A gestão pública perde em eficiência, o cidadão não exerce um direito e
o Estado não cumpre seu dever.” (Brasil, 2011, p.12). Com a informação perdida, a oportunidade
de esclarecimento da população se torna cada vez difícil, negando assim aos cidadãos o direito a
uma informação de grande importância para a Humanidade. Esse pensamento nos leva a idealizar
a chamada “Cultura de Acesso”, onde os agentes públicos entendem que a informação pública
pertence a população e que é dever do Estado dispor de um jeito oportuno e compreensível,
atendido de forma eficaz aos pedidos da sociedade. Assim, segundo a Cartilha de Acesso à
Informação (Brasil, 2011), cinco pontos são destacados para que essa cultura do acesso seja
posta em prátia:
• Os requerimentos do cidadão são vistos como lícitos
• O cidadão tem o direito de pedir informação pública sem necessidade de uma justificativa
• São criados canais ativos de comunicação entre governo e população
• São colocadas normas claras e procedimentos para a administração das informações
• Os servidores são constantemente capacitados para agirem no estabelecimento de uma
política de acesso à informação

Na cultura de acesso, o fluxo de informações favorece a tomada de decisões,


a boa gestão de políticas públicas e a inclusão do cidadão [. . . ] Pesquisas
mostraram que a confiança da população no serviço público aumentou em
países nos quais há lei de acesso. (Brasil, 2011, p.13)

Como pode se verificar, segundo o parágrafo acima, o Acesso à informação, além de


ser um direito, é também uma forma de manutenção da democracia vigente. Quando um governo
54

oferece os meios viáveis para que a população tenha acesso aos documentos produzidos, ele
oferece transparência de suas ações e permite que o cidadão acompanhe de perto as ações de
seus representantes.
55

4 O CONCEITO DE LIBERDADE E DE ACESSO À INFORMAÇÃO

Segundo a Cartilha de Classificação de Grau de Sigilo, produzida pelo Governo


Federal35 , “Toda a informação pública está sujeita a publicidade”. Dentre essas informações
constam na :

Tabela 1 – Tipos de Informação de caráter público

Informação produzida ou acumulada por órgãos e entidades públicas;


Informação produzida ou mantida por pessoa física ou privada decorrente de um vínculo
com órgãos e entidades públicas;
Informação sobre atividades de órgãos e entidades, inclusive relativa à sua política,
organização e serviços;
Informações pertinentes ao patrimônio público, utilização de recursos públicos, licitação
e contratos administrativos;
Informações sobre políticas públicas, inspeções, auditorias, prestações e tomadas de
contas.

Tabela adaptada da Cartilha de Classificação de Grau de Sigilo.

A LAI (Lei de Acesso à Informação) tem cunho nacional e utilização para a ad-
ministração direta e indireta de todos os três poderes da Federação: Executivo, Legislativo e
Judiciário.

4.1 Diretrizes Gerais

A LAI se torna fundamental no estado democrático de direito e sua atuação está


cada vez mais ligada a questão da cidadania do país, como cita a própria cartilha do Governo
Federal: “A Lei de Acesso à Informação tem o objetivo garantir o direito fundamental de acesso
à informação e para que a cultura de sigilo seja substituída por uma cultura de transparência.”
(BRASIL, 2017). Esse trecho é extremamente revelador, pois ele reflete o desejo intermitente
do povo por informação sobre a atuação dos órgãos públicos e seus representantes no âmbito
governamental, principalmente após o Regime Militar.
Para garantir o estabelecimento desse acesso à informação pública, O Governo
Federal nos diz que se deve atentar sobre um conjunto de padrões estabelecidos com base nos
critérios internacionais. O art. 3o da LAI define suas diretrizes gerais:
35 Procedimentos para classificação de informação em grau de sigilo. Disponível em:<http://www.fazenda.gov.
br/sei/publicacoes/procedimentos-para-classificacao-de-informacao-em-grau-de-sigilo> Acesso em 12/01/2018
56

• Publicidade é preceito geral e sigilo é exceção


• Divulgação independente de solicitação
• Utilização da Informação
• Desenvolvimento da cultura de transparência
• Controle social da administração pública

4.2 Quais Os Tipos De Informações Que Podem Ser Pedidas Pela LAI?

Basicamente toda informação produzida por órgão público pode ser solicitado,
segundo a Cartilha do Governo Federal (2017) dentre eles estão as orientações e os procedimentos
onde esse acesso pode ser obtido, tais como o local onde ela pode ser achada, informação
produzida ou mantida por pessoa física ou por entidades privada decorrente de vínculo com seus
órgãos ou entidades, mesmo após o fim desse vínculo.
No entanto, existem restrições à Lei de Acesso à Informação, nesse caso, mesmo
com a politica geral definia na LAI, não são todas as informações que podem ser disponibilizadas
ao conhecimento público. Ela, nesse caso, nos apresenta as seguintes situações:

As informações pessoais são aquelas informações relacionadas a uma determi-


nada pessoa identificada ou identificável. Seu tratamento deve ser feito de forma
transparente e com respeito à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem,
bem como a liberdades e garantias individuais. As informações pessoais não
são públicas e têm seu acesso restrito, independentemente de classificação de
sigilo, pelo prazo máximo de 100 anos a contar da sua data de produção. Ou
seja, não necessitam receber o tratamento dado às informações classificadas em
grau de sigilo. Somente terão acesso à informação pessoal os agentes públicos
autorizados e as pessoas a quem a informação se referir. Havendo previsão
legal ou consentimento expresso da pessoa a quem a informação faz referência,
terceiros podem ter acesso a tais informações. (BRASIL, 2017, p.18)

Outro tipo de informação que estaria fora da LAI são informações com caráter de
legislações específicas tais como sigilos bancários, fiscal, comercial, profissional ou segredo de
justiça. No caso do Sigilo Fiscal a Portaria MF no 233, de 2012, completa:

Art. 7o (. . . ) Parágrafo único. Consideram-se protegidas por sigilo fiscal as


informações que, embora não identifiquem diretamente o contribuinte, permitam
sua identificação de forma indireta, seja pela quantidade de contribuintes, pela
concentração econômica ou por qualquer outra forma de cruzamento de dados.

No entanto, como será visto em seguida, nenhuma dessas regras jamais se aplicou a
nenhum caso dos documentos sobre dados de objetos não identificados solicitados ao governo
pela campanha civil de liberdade de informação, já que a mesma trata unicamente da segurança
57

pessoal e proteção do cidadão. Neste caso, a principal diretriz da LAI é o conceito de publi-
cidade e o sigilo como exceção. Dessa forma, a própria lei estabeleceu as possibilidades e a
temporalidade do sigilo em seu texto, que como uma regra geral, a LAI institui que a informação
pública só poderá ser classificada como sigilosa quando esta for considerada indispensável à
segurança da sociedade , tais como segurança, vida, e saúde, assim como também à soberania da
nação. Para exemplificar tudo isso, O artigo 23 especifica quais os tipos de informações podem
ser consideradas sigilosas:

Art. 23. São consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do


Estado e, portanto, passíveis de classificação as informações cuja divulgação
ou acesso irrestrito possam:
I – pôr em risco a defesa e a soberania nacionais ou a integridade do território
nacional;
II – prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou as relações
internacionais do País, ou as que tenham sido fornecidas em caráter sigiloso
por outros Estados e organismos internacionais;
III – pôr em risco a vida, a segurança ou a saúde da população;
IV – oferecer elevado risco à estabilidade financeira, econômica ou monetária
do País;
V – prejudicar ou causar risco a planos ou operações estratégicos das Forças
Armadas;
VI – prejudicar ou causar risco a projetos de pesquisa e desenvolvimento
científico ou tecnológico, assim como a sistemas bens, instalações ou áreas de
interesse estratégico nacional;
VII – pôr em risco a segurança de instituições ou de altas autoridades nacionais
ou estrangeiras e seus familiares; ou
VIII – comprometer atividades de inteligência, bem como de investigação ou
fiscalização em andamento, relacionadas com a prevenção ou repressão de
infrações. (BRASIL. LEI No 12.527, DE 18 DE NOVEMBRO DE 2011)

Já nesta lei específica, principalmente em se tratando dos parágrafos V, VI e VIII,


podemos ter uma ideia do objetivo da manutenção do sigilo em torno das informações sobre
óvnis. Nesse caso, podemos citar o que Stanton Friedman, ufólogo e físico nuclear canadense,
explica a respeito do processo de acobertamento imposto pelos governos em torna da realidade
dos ufos. Ele enumera 5 razões principais para os governos acobertarem aquilo que ele considera
um “Watergate Cósmico”:

1. Os agentes dos governos querem descobrir como que as naves que caíram
funcionam. 2. Nenhum desses governos quer que um governo inimigo sabia
o que já foi descoberto. 3. Se alguma personalidade importante e confiável,
digamos a rainha da Inglaterra ou o papa, revelarem a respeito dos OVNIs, a
sociedade ficaria abalada nós ‘terráqueos’ pensaríamos em nós mesmos como
um só povo, ao invés de diferentes nações. 4. O quarto problema seria a
respeito da perspectiva cristã fundamentalista, de que os alienígenas sejam o
58

“trabalho do demônio”, como disseram o fundador do 700 Club, Pat Robertson,


e o falecido Reverendo Jerry Falwell. Os dois disseram que a Terra possui a
única vida inteligente no universo. 5. Uma confirmação pública levaria ao caos
econômico mundial. (FRIEDMAN,2012)36

Pelo que Friedman retrata, o Governo Brasileiro teria, de acordo com a lei N◦ 12.527
do artigo 23, dois principais motivos para manter uma politica de acobertamento dos ÓVNIS. A
primeira está no paragrafo II, quando justifica-se a manutenção dos arquivos sigilosos contra o
risco de prejudicar relações internacionais, a segunda se encontra no parágrafo IV quando se fala
dos riscos à estabilidade financeira do país. No entanto, o que se sabe de fato é que todas essas
suposições são de caráter especulativo, não se tem uma ideia real sobre se a revelação desses
documentos sobre óvnis realmente causaria algum dano à soberania do país e também não se
conhece nenhum estudo que aponte nessa direção. A LAI também admite a possibilidade que a
informação possa ser liberada apenas parcialmente. Assim, o interessado terá assegurado acesso
à parte que não foi censurada através de tarjas pretas e outras formas de ocultar informações em
documentos.

4.3 Classificação, Sigilo e Responsabilidades

A classificação da informação referente ao grau de sigilo, deve utilizar-se critérios


como a gravidade do risco à segurança da sociedade ou do Estado. Abaixo, um quadro que
exemplifica e determina essa classificação:

Tabela 2 – Graus de sigilo e prazos de restrição

Ultrassecreta Prazo de restrição de até 25 anos


Secreta Prazo de restrição de 15 anos
Reservada Prazo de Restrição de 5 anos (não-prorrogável)

Quadro adaptado do site http://www.fazenda.gov.br/sei/publicacoes/procedimentos-para-


classificacao-de-informacao-em-grau-de-sigilo

A LAI especifica as autoridades que possuem o direito de classificar as informações


em vários graus de sigilo. A medida que o grau de sigilo cresce, maior o poder hierárquico da
36 As 5 razões porque os governos não revelam a verdade sobre os OVNIs, de acordo
com Staton Friedman. 2012. Disponível em: <http://ovnihoje.com/2012/04/02/
as-5-razoes-porque-os-governos-nao-revelam-a-verdade-sobre-os-ovnis-de-acordo-com-staton-friedman/>.
Acesso em: 26 nov. 2017.
59

autoridade que poderá classificá-la, assim também menor a quantidade de pessoas que poderão
ter acesso a ela, segundo mostra o quadro a seguir:

Tabela 3 – Nível Hierárquico e Graus de Sigilo

Graus de Sigilo
Autoridade
Reservado Secreto Ultrassecreto
Presidente da Sim Sim Sim
República
Vice-Presidente Sim Sim Sim
Ministros de Estado Sim Sim Sim
com as mesmas
prerrogativas
Comandantes da Sim Sim Sim
Marinha, Exército
ou Aeronáutica
Chefes de missão Sim Sim Sim
diplomáticas
consulares
permanentes no
exterior
Titulares de Sim Sim Não
autarquias,
fundações ou
empresas e
sociedades de
economia mista
Autoridades que Sim Não Não
exerçam funções de
Direção, comando
ou chefia, de
Hierarquia
equivalente ou
superior ao Nível
DAS 101.5

Quadro adaptado de Entendendo a Lei Geral de Acesso à Informação (ARTIGO 19, 2011).

A classificação em grau de sigilo precisa ser realizada assim que a informação é


criada ou, quando for necessária37 , posteriormente, pois a precisão de classificar pode surgir
somente depois de um pedido realizado.

A informação deve ser classificada em grau de sigilo somente se atender aos


37 Art. 20 da Portaria MF no 233, de 2012.
60

requisitos estabelecidos pelo art. 25 do Decreto no 7.724, de 2012, que pode ser
combinado com o seu art. 20. No caso das demais hipóteses, não há previsão
legal para classificação da informação em grau de sigilo, de acordo com a Lei
de Acesso à Informação. Os procedimentos para classificação da informação
são apresentados nos próximos tópicos. (BRASIL, p.26, 2017)

A reclassificação e desclassificação, assim como as alterações do prazo de sigilo


resultam da reavaliação da informação classificada e essa reavaliação deve ser feita pelo órgão
classificador ou a hierarquia superior, através de um pedido ou de um ofício38 . Já as informações
classificadas como secreta ou ultrassecreta, essa revisão deve ser feita pelos órgãos classificadores
no máximo a cada quatro anos, com o objetivo de auxiliar as atividades da Comissão Mista de
Reavaliação e Informações39 .
Após os procedimentos de reavaliação serem feitos e se assim for concluído que a
informação deve ser desclassificada, o Decreto no 7.845, de 2012 nos diz: Art. 51 (...) § 1o A
informação classificada em qualquer grau de sigilo ou o documento que a contenha, quando de
sua desclassificação, manterá apenas o Número Único de Protocolo(NUP).40
A LAI prevê que o servidor público será responsabilizado caso haja descumprimento
da lei, como recusar-se a dar informações pretendidas, alterar ou destruir documentos ou impor
sigilo para conseguir proveito pessoal sobre alguma coisa. Tais atitudes são previstas como
conduta ilícita, caracterizando infração e até improbidade administrativa (art. 65 do Decreto no
7.724, de 2012).
A Lei de Acesso a Informação 12.527 de 18 de novembro de 2011, tornou mais
tangível aos cidadãos exigir seus direitos com relação à transparência, como ela também incentiva
isso. Foi um grande passo para a democracia do país e continua sendo uma das principais
ferramentas dos ufólogos para pedir a liberação dos documentos com informações sobre UFOS.
Muitos desses documentos contêm informações perturbadoras desses objetos interagindo com
aeronaves civis, com populações de vilarejos e invadido o espaço aéreo de grandes capitais do
país.

38 Art. 35 do Decreto no 7.724, de 2012.


39 Inciso II do parágrafo único do art. 35, combinado com o art. 47 do Decreto no 7.724, de 2012
40 Decreto. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/decreto/d7845.htm>
Acesso em 12/03/2018
61

Tabela 4 – Temas sobre acesso à informação e onde encontrá-los na lei

Tema Onde encontrar


Abrangência da Lei Arts. 1◦ e 2◦
Garantias do direito de acesso / Diretrizes Arts. 3◦ , 5◦ e 6◦
Definição de termos utilizados na Lei Art. 4◦
Informações garantidas pela Lei Arts. 7◦ e 21
Divulgação proativa de informações /
Transparência ativa Arts. 8◦ e 30

Procedimentos de acesso à informação Art. 9◦ a 14


Prazos – recebimento de respostas e
Arts. 11, 15 e 16
interposição de recursos
Procedimentos em caso de negativa de
acesso ou descumprimento de obrigações / Arts. 11, § 4◦ ; 14 a 18; 20
Recursos
Informações sigilosas / Classificação de
Arts. 7, § 1◦ e 2◦ ; 22 a 30; 36 e 39
informações
Competências da Controladoria-Geral da
Arts. 16 e 41
União (CGU)
Competências da Comissão Mista de
Arts. 16, § 3◦ ; 17 e 35
Reavaliação de Informações (CMRI)
Informações pessoais Art. 31
Responsabilização de agentes públicos Arts. 32 a 34

Quadro adaptado de Entendendo a Lei Geral de Acesso à Informação (ARTIGO 19, 2011).
62

5 O QUE OS DOCUMENTOS UFOLÓGICOS NOS DIZEM?

Os documentos liberados pelas Forças Armadas, em especial, a Aeronáutica, nos


revelam situações de diversas magnitudes envolvendo os Objetos Voadores Não Identificados,
desde simples avistamentos, a ataques contra pessoas. A maioria desses documentos que se
encontram hoje à disposição do público estavam na categoria de “Confidencial”, “Reservado”
e “Secreto”. A forma como esse segredo imposto contra o assunto, ainda sem qualquer expli-
cação, prejudicaram a pesquisa e a legitimação do Fenômeno UFO, pode nunca ser medida ou
recuperada por completo. Muitos desses documentos relatam encontros de aeronaves da Força
Aérea com objetos celestes desconhecidos, com dados de radar e transcrição de conversas entre o
piloto e o operador de trafego. Todos esses dados, gravações e conversas do evento, poderiam ser
analisados e estudados de forma científica, com o objetivo de esclarecer o caráter desconhecido
do Fenômeno UFO.

5.1 Caso 1

Ocorrência sobre Objeto Voador Não identificado datado do dia 08/09/1980, mostra
parte da transcrição entre a torre de controle e o piloto da aeronave que estava nas proximidades
da cidade de Anápolis41 .

5.2 Caso 2: Operação Prato

Um dos principais documentos que foram liberados da Aeronáutica é referente ao


Caso conhecido como Operação Prato que, como já foi falado aqui, foi uma enorme pesquisa
comandada pela Força Aérea Brasileira na Amazônia, entre os anos de 1977 e 1978, que
investigava aparições de óvnis e ataques dos mesmos contra a população da cidade ribeirinha de
Colares e adjacentes. Como constata Gustavo Moretti (2009, s/n):

[ . . . ] a população da região se viu cercada por objetos que sobrevoavam as


embarcações, mergulhavam nos rios, embrenhavam-se entre copas das árvores e
atacavam, através de um foco de luz que causava paresia [Paralisia Incompleta],
hipertermia, cefaleia, queimaduras superficiais, calor intenso, náuseas, tremores
do corpo, tontura e astenia [Fraqueza] (MORETTI, s/n, 2009)

Sabe-se que a documentação referente à Operação Prato é longa e não foi totalmente
41 Caso Anápolis. Disponível em:<http://imagem.sian.an.gov.br/BR_DFANBSB_ARX/0/0/0207/BR_DFANBSB_
ARX_0_0_0207_d0001de0001.pdf>. Acesso em 22/05/2018
63

Figura 1 – Caso 1: Ocorrência sobre Objeto Voador Não Identificado

disponibilizada ainda pela Aeronáutica. A principal delas são centenas de horas de vídeo de
óvnis gravados pelos militares durante os contatos com o Fenômeno. Contudo, o que foi liberado
até o momento impressiona pelos detalhes e mostra o esmero com que a Aeronáutica comandou
essa Operação. Nas Figuras 6 a 9 algumas páginas sobre o caso.42

5.3 Caso 3

O documento da Figura 11 trata de uma ordem dada pelo comando de Defesa Aérea
com data de 14 de agosto de 1978, onde recomenda que a Aeronáutica tomasse medidas que
visassem a coleta e a catalogação de dados de objetos voadores não identificados com objetivo
de pesquisá-lo. No entanto, deixa bem claro suas reservas em não divulgar essas informações
para a imprensa com medo de “ridicularizar” a instituição43 .

5.4 Caso 4: A Noite Oficial dos ÓVNIs

O documento a seguir é parte de um relatório sobre um importante caso da Ufologia


Brasileira: “A Noite Oficial dos óvnis”, ocorrida em 19 maio de 1986. Nessa noite, dezenas de
objetos voadores não identificados foram vistos visualmente e por radar em torno de São José
42 Disponível em: <http://www.portalburn.com.br/downloads/operacao_ prato/fotos/> Acesso em 22/05/2018
43 Disponível em: <http://www.fenomenum.com.br/ufo/governos/documentos/brasil/1980/1978_oficio_009_A_
2_78.pdf> Acesso em 22/05/2018
64

Figura 2 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 03


65

Figura 3 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 04


66

Figura 4 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 05


67

Figura 5 – Caso 1: Transcrição de Gravação, Folha 06


68

Figura 6 – Caso 2: Documento com dados de OVNIs


69

Figura 7 – Caso 2: Relatório da Operação Prato e foto do objeto avistado


70

Figura 8 – Caso 2: Várias fotos de OVNI com alguns dados


71

Figura 9 – Caso 2: Outro relatório da Operação Prato com foto anexada

dos Campos, se espalhando por Campinas até chegar ao Rio de Janeiro.


Como nos relata Petit (2007, p.98-99):

Os avistamentos tiveram início por volta das 18h30, quando da torre de controle
do aeroporto foram notados dois objetos de cor laranja, a 15 km de distância do
aeroporto da cidade. Os objetos estavam a aproximadamente 2.000 m de altura,
alinhados om o eixo da pista de pouso e decolagem[. . . ] às 19:40, de dentro
da torre de controle, foram avistados mais dois objetos que se movimentavam
de norte a oeste e se posicionaram acima dos primeiros UFOs, permanecendo
imobilizados durante longo tempo. Às 20h00, o Cindacta já captava em suas
telas oito alvos desconhecidos. Mas os fenômenos estavam apenas começando.
Às 20h30, outro UFO extremamente luminoso foi visto rumando em direção
à Serra do Mar. O aparelho estava inicialmente a uma distância de 20 km da
torre de controle do aeroporto, para logo depois se afastar, sendo acompanhado
através das telas do radar, além de visualmente.
72

Figura 10 – Caso 2: Foto de objeto desconhecido fotografado durante as missões da Operação


Prato em 1977

Fonte: http://www.portalburn.com.br/wp-content/uploads/2013/08/chupa_chupa_operacao_
prato.jpg

Logo após esses eventos, vários caças e aviões saíram para verificar a presença
desses objetos no ar, o que resultou em uma perseguição de nossas aeronaves contra os óvnis até
altas horas da madrugada. Os objetos em questão eram incrivelmente rápidos e não podiam ser
interceptados pelos nossos pilotos, como relata o capitão Armindo Souza Viriato de Freitas:

Segundo o piloto, em questão de segundos o objeto atingiu a velocidade de


Mach 15, ou seja, 10 vezes a velocidade pelo caça de fabricação francesa que
pilotava. Era evidente que os nossos modernos aviões estavam longe de poder
competir com aqueles aparelhos. (PETIT, 2007, p.100)

No dia seguinte, o então Ministro da Aeronáutica, Brigadeiro Moreira Lima, com os


pilotos que participaram da perseguição contra os ufos, deram uma coletiva de imprensa relatando
o ocorrido e afirmando que um relatório de investigação do evento estava sendo produzido e
que estaria disponível para o público dentro de um mês mas, como nos lembra Petit (2007),
isso não aconteceu. Esse relatório só veio ser disponibilizado depois da campanha de liberdade
de informação feita pelos ufólogos e tratada largamente aqui. Algumas páginas podem ser
visualizadas abaixo.
73

Figura 11 – Caso 3: Documento do Comando Aéreo de Defesa Aérea com o carimbo “CONFI-
DENCIAL”
74

Figura 12 – Caso 4: Documento da Base Aérea de Anápolis com assunto “Acionamento de


Alerta”
75

Figura 13 – Caso 4: Transcrição de ocorrência dos dias 19 e 20 de maio de 1986


76

Figura 14 – Caso 4: Outro documento com o título “Acionamento de Alerta”


77

Figura 15 – Caso 4: Relatório dos fatos ocorridos no Vôo de Alerta do dia 19 de maio de 1986

5.5 Caso 5

Novamente caso envolvendo contatos de operadores de radar seguido de uma breve


perseguição do mesmo por pilotos no espaço aéreo de Porto das Caixas. Consta nos documentos
que o Objeto Não Identificado foi filmado, no entanto essa gravação não foi liberada.
78

Figura 16 – Caso 5: Ocorrência sobre Objeto Voador Não Identificado


79

Figura 17 – Caso 5: Outro documento


80

6 METODOLOGIA

Neste capítulo trataremos sobre a as ferramentas de pesquisa que foram utilizadas


nesse estudo para demonstrar o que a ocultação desses documentos prejudicaram a legitimação
do Fenômeno UFO. A metodologia é parte fundamental e indispensável para que os objetivos da
pesquisa sejam alcançados. Gil (2002, p.19) nos aponta que:

Como toda atividade racional e sistemática, a pesquisa exige que as ações de-
senvolvidas ao longo de seu processo sejam efetivamente planejadas. De modo
geral, concebe-se o planejamento como a primeira fase da pesquisa, que envolve
a formulação do problema, a especificação de seus objetivos, a construção de
hipóteses, a operacionalização dos conceitos etc. Em virtude das implicações
extracientíficas da pesquisa, consideradas na seção anterior, o planejamento
deve envolver também os aspectos referentes ao tempo a ser despendido na
pesquisa, bem como aos recursos humanos, materiais e financeiros necessários
a sua efetivação.

Segundo Pradanov; Freitas (2013) a Metodologia é entendida como uma disciplina


que compõe estudar e compreender os vários tipos e métodos disponíveis para realizar uma
pesquisa acadêmica. Ela examina, avalia e descreve as técnicas de pesquisa que permitem
a coleta e o processamento de dados e informações, objetivando a resolução dos problemas
de investigação e aplicada a procedimentos que devem ser observados para a construção do
conhecimento e comprovação da validade e utilização nas diversas Esferas da sociedade.
De acordo com os objetivos propostos, a metodologia escolhida para a realização
dessa pesquisa é de natureza exploratória pois, ainda segundo GIL (2002, p.41): “Estas pesquisas
têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo
mais explícito ou a constituir hipóteses.” Dessa forma, torna-se claro que a pesquisa exploratória
permite um maior envolvimento do pesquisador com tema proposto, auxiliando no processo
inicial de investigação do estudo a ser elaborado, colaborando-se assim com as descobertas de
ocorrência de um certo fenômeno.
Como há uma grande literatura sobre esse tema, utilizamos também a pesquisa
bibliográfica e a pesquisa documental, com o objetivo de conhecer em literaturas já publicadas a
visão e outros autores que abordam questões semelhantes, que podem despertar o entendimento
geral do assunto e obter uma maior compreensão do problema estudado. “A principal vantagem
da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de
fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente.” (GIL, 2002,
p.45). De acordo com Pradanov; Freitas (2013) a pesquisa exploratória tem como objetivo
proporcionar mais informações sobre o assunto a ser investigado, possibilitando assim sua
81

definição, facilitando a delineação do tema de pesquisa, orientando a fixação dos objetivos. Esse
tipo de pesquisa possui um planejamento flexível, o que possibilita o estudo do tema sob vários
tipos de aspectos e envolve, principalmente, o levantamento bibliográfico e entrevistas com
pessoas que tiveram relação com o problema que está sendo pesquisado.
Com respeito à pesquisa documental, apesar de ser muito semelhante à pesquisa
bibliográfica, a diferença se encontra no fato de que a documental colhe informações de materiais
onde estão guardados os testemunhos do passado, ao fato de que os mesmos ainda estão sem
tratamento científico, se tornando assim a base do trabalho de investigação. Prodanov; Freitas
(2013, p. 56) entende que:

[ . . . ] por documento qualquer registro que possa ser usado como fonte de
informação, por meio de investigação, que engloba: observação (crítica dos
dados na obra); leitura (crítica da garantia, da interpretação e do valor interno
da obra); reflexão (crítica do processo e do conteúdo da obra); crítica (juízo
fundamentado sobre o valor do material utilizável para o trabalho científico).

Segundo GIL (2002) a pesquisa documental tem muitas semelhanças com a pesquisa
bibliográfica, suas diferenças se encontram na natureza das fontes, pois a pesquisa bibliográfica
se utiliza das contribuições de diversos autores sobe determinados assuntos e a documental usa
materiais que não receberam ainda um tratamento analítico ou mesmo que ainda, de acordo com
os objetivos da pesquisa, podem ser reelaborados.

A pesquisa documental apresenta uma série de vantagens. Primeiramente,


há que se considerar que os documentos constituem fonte rica e estável de
dados. Como os documentos subsistem ao longo do tempo, tornam-se a mais
importante fonte de dados em qualquer pesquisa de natureza histórica. (GIL,
2002, p. 46)

A utilização da pesquisa documental é destacada no momento em que podemos


organizar informações que se encontram dispersas, dando-lhe uma nova importância como fonte
de consulta (Pradanov; Freitas, 2013). Esses dois tipos de pesquisa nos proporcionou o material
teórico necessário para o desenvolvimento do projeto que buscamos e para atingir os objetivos
propostos. Neste caso, de acordo com tipos e dados que foram coletados, o presente estudo se
apresenta como pesquisa qualitativa. Para Pradanov; Freitas (2013) na pesquisa qualitativa existe
uma ligação dinâmica entre o mundo real e o sujeito que não pode ser traduzido meramente com
números, não requerendo estatísticas. O ambiente natural é o modo direto para a coleta de dados
e o pesquisador o seu instrumento-chave.

Os dados coletados nessas pesquisas são descritivos, retratando o maior número


possível de elementos existentes na realidade estudada. Preocupa-se muito mais
82

com o processo do que com o produto. Na análise dos dados coletados, não há
preocupação em comprovar hipóteses previamente estabelecidas, porém estas
não eliminam a existência de um quadro teórico que direcione a coleta, a análise
e a interpretação dos dados. (PRADANOV; FREITAS, 2013, p.70)

Triviños (1987) cita que a pesquisa qualitativa compreende atividades de investigação


que podem ser tidas como específicas ou de traços comuns e esta ideia é fundamental para ajudar
o pesquisador a ter uma visão mais cara dos objetivos que se deseja atingir.
Por permitir uma interatividade entre o pesquisador e o objeto estudado, foram
usadas as ferramentas da abordagem qualitativa, o que permitiu uma melhor observação e um
detalhamento mais aprofundado do objeto de estudo, procurando explicar, da melhor forma
possível, de que ao longo da história, a ocultação dos documentos ufológicos, prejudicou não
apenas a legitimação do Fenômeno UFO, negando assim às pessoas o direito à informação sobre
algo de natureza tão importante. Para isso, fizemos a leitura do material onde identificamos as
informações e os dados nele impresso e estabelecemos relações entre as informações obtidas
com o problema em questão.

A leitura pode ter, entre suas finalidades, a busca da informação e o entreteni-


mento. Como informação, visa à aquisição de conhecimentos relacionados à
cultura geral (informativa) ou aquisição e ampliação de conhecimentos científi-
cos, técnicos, filosóficos etc. (formativa). A leitura formativa tem por objetivo
a coleta de elementos, dados e informações. Ao estudante e pesquisador, ela é
fundamental para o desenvolvimento e a elaboração de trabalhos acadêmicos e
científicos. (Prodanov; Freitas, 2013,p.144-145)

Para Gil (2002) essa etapa começa com a leitura exploratória que consiste com a
leitura do material bibliográfico, que tem como meta a verificar se a obra pesquisada interessa à
pesquisa. Após essa etapa, temos a leitura exploratória, onde faremos a seleção do material, se
ele de fato interessa ou não à pesquisa, a fim de evitar a leitura de textos que não interessem ao
que está sendo proposto. Em seguida temos a leitura analítica que é feita com base nos materiais
selecionados. É comum que no decorrer do projeto ocorra a adição ou suspensão de textos e
material selecionado, nesse caso a postura do pesquisador será de examiná-los como se fossem
definitivos. Por último temos a leitura interpretativa, que constitui no processo de leituras de
fontes bibliográficas. De todas, ela é a mais complexa, pois tem o objetivo de relacionar o que o
autor afirma com o problema proposto na pesquisa.
83

6.1 Instrumento de Coleta de Dados

O instrumento de coleta de dados utilizado foi o questionário porque possibilita


avaliar, com maior precisão, o que se deseja, e por obtermos as respostas mais rápidas e exatas.
De custo razoável, ele pode ser enviado por e-mail ou compartilhado em grupos em redes sociais.
As grandes vantagens dos questionários se encontram no fato de ser uma técnica viável que pode
ser empregada quando as questões de cunho empírico envolvem a percepção e a posição dos
pesquisados. Como define Silva; Menezes (2005, p. 33)

[ . . . ] é uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito
pelo informante. O questionário deve ser objetivo, limitado em extensão e estar
acompanhado de instruções As instruções devem esclarecer o propósito de sua
aplicação, ressaltar a importância da colaboração do informante e facilitar o
preenchimento.

Para Pradanov; Feitas (2013) a coleta de dados é a fase da pesquisa, do qual o


objetivo é tirar informações da realidade, é nessa etapa que será definida onde e como será
realizado o estudo, o tipo, o universo da pesquisa e a forma como serão analisados esses dados.
Na coleta de dados, é importante que o leitor seja informado dos objetivos do pesquisador em
obter as informações que precisa para responder ao problema, não deixando de correlacionar os
objetivos com os meios para se alcançá-los.

O objeto de um trabalho científico é a sistematização metódica e objetiva de in-


formações fragmentadas, seguida da identificação de suas relações e sequências
repetitivas, com a finalidade de descobrir respostas para determinada questão-
problema. Em geral, é impossível obter informações de todos os elementos
ou indivíduos que pretendemos estudar, seja em função da numerosidade de
dados, da relação custo-benefício, da limitação de tempo ou da acessibilidade
aos dados. Para isso, a pesquisa científica pode buscar a identificação dessas
relações por meio do estudo de apenas uma parte dos elementos que formam o
universo. (PRADANOV; FREITAS, 2013, p.97)

Segundo Triviños (1987) a coleta e análise de dados são de extrema importância para
a pesquisa qualitativa, pela implicância nelas do investigador, que necessitam de um ponto de
vista aprofundado. Ele ainda explica que:

[ . . . ] o pesquisador qualitativo, que considera a participação do sujeito como


um dos elementos de seu fazer científico, apoia-se em técnicas e métodos que
reúnem características sui generis, que ressaltam sua implicação e da pessoa
que fornece as informações. Neste sentido, talvez sejam a entrevista semi-
estruturada, a entrevista aberta ou livre, o questionário aberto, a observação
livre, o método clínico e o método de análise de conteúdo os instrumentos mais
decisivos para estudar os processos e produtos nos quais está interessado o
investigador qualitativo. E isto sem desconhecer a importância de outros meios
84

que, como as autobiografias, os diários íntimos, as confissões, as cartas pessoais


etc., podem transformar-se em veículos importantes para que o estudioso atinja
os objetivos que se propôs ao iniciar a desenvolver seu trabalho. (TRIVIÑOS,
1987, p.138)

Para essa pesquisa foi utilizado questionário, que, como define Pradanov; Freitas
(2013, p. 108): “é uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito pelo
informante (respondente). O questionário, numa pesquisa, é instrumento ou programa de coleta
de dados.” Além disso, um questionário é um meio rápido e barato de obter de informações,
além de não necessitar de treinamento de pessoal e assegurar o anonimato (Gil, 2002).
O questionário de nossa pesquisa foi montado a partir da plataforma do Google
Formulário44 e foi aplicado de três formas pela internet: A primeira delas foi através de e-mail
enviado para pesquisadores de óvnis; a segunda foi através de postagens em grupos dedicados
ao estudo e discussão ufológica no Facebook; a terceira foi através de postagem em grupos
ufológicos no aplicativo de mensagens “Whatsapp”. O questionário contém duas perguntas de
cunho aberto. As questões abertas foram escolhidas porque elas deixam o respondente livre
para manifestarem sua opinião usando suas próprias palavras, sem se limitarem a escolha de
alternativas pré-elaboradas (Pradanov; Freitas,2013)

44 Disponível em: Google Forms <https://www.google.com/intl/pt-BR/forms/about> Acesso em: 21/03/2018


85

7 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE CONTEÚDO

Bardin (1977, p. 31) define análise de conteúdo como:

[ . . . ] um método muito empírico, dependente do tipo de «fala» a que se dedica


e do tipo de interpretação que se pretende como objectivo. Não existe o pronto-
a–vestir em análise de conteúdo, mas somente algumas regras de base, por
vezes dificilmente transponíveis. A técnica de análise de conteúdo adequada ao
domínio e ao objectivo pretendidos, tem que ser reinventada a cada momento,
excepto para usos simples e generalizados, como é o caso do escrutínio próximo
da descodificação e de respostas a perguntas abertas de questionários cujo
conteúdo é avaliado rapidamente por temas.

Nossa análise dos resultados foi feita depois de colhidas as respostas do questionário,
analisando todos os motivos que, para os ufólogos, o acobertamento desses documentos sobre
UFOs prejudicou a pesquisa ufológica. A pesquisa foi desenvolvida na Cidade de Fortaleza, no
período de outubro de 2017 a maio de 2018. Devemos destacar que os ufólogos pesquisados
são experientes na pesquisa e história ufológica e muitos participaram ativamente da campanha
“UFOs-Liberdade de Informação já!”

7.1 Primeira Pergunta: “Qual a importância que os documentos ufológicos liberados


pela Aeronáutica para a Ufologia Brasileira?”

Na primeira abordagem, foi perguntado aos pesquisadores: “Qual a importância


que os documentos ufológicos liberados pela Aeronáutica para a Ufologia Brasileira?” Essa
pergunta demonstrou ser relevante pois ela serve para demonstrar o porquê a ocultação dos
mesmos prejudicou tanto à Ufologia.

7.1.1 Primeiro Bloco de Respostas

Das respostas recebidas, a primeira categoria delas, se destacam o conhecimento


dos pesquisadores com relação ao interesse do governo e das forças armadas pelo assunto,
e que isso significa que ele é real e sério. Se destacam também que eles tem conhecimento
sobre politicas de acobertamento do governo brasileiro de casos que foram investigados e são
vastamente conhecidos pelos ufólogos. Vergueiro (1987, p.22) resume muito bem esse tipo de
política como censura: “um esforço por parte de um governo, organização, grupo ou indivíduo
de evitar que as pessoas leiam, vejam ou ouçam o que pode ser considerado como perigoso ao
governo ou prejudicial à moralidade pública.”
86

Ainda não se conhece qualquer explicação sobre o porquê desses documentos terem
sido mantidos por tanto tempo sob sigilo ou que mesmo sua existência fosse negada tantas
vezes, o que torna todo esse processo de ocultação ainda mais grave e prejudicial para a pesquisa
ufológica.

Resposta 1: “Nós temos os maiores casos Ufológicos de todos os tempos: Operação Prato e o
Caso Varginha, ambos gerenciados pelas forças armadas. Com a liberação desses e de
todos os outros documentos, a consciência das pessoas despertará para um tema muito
importante que mudará nossas vidas.”
Resposta 2: “Excelente, pois mostra que o evento acontece realmente e é estudado pela aero-
náutica cientificamente.”
Resposta 3: “Isso mostra que o governo brasileiro pesquisou o Fenômeno UFO para tentar
entender o mesmo, porém de forma sigilosa.”
Resposta 4: “Imensa importância, pois nos informa que a FAB pesquisou UFOs de maneira
oficial.”

7.1.2 Segundo Bloco de Respostas

Em outro importante conjunto de respostas, destaca-se que os ufólogos entendem


a importância que esses documentos têm e que acreditam que eles possam trazer seriedade
para Ufologia, aumentando, inclusive, o interesse das pessoas quanto ao assunto. Ortega (2009
apud Woledge, 1983) explica que: “Qualquer coisa em que conhecimento é registrado é um
documento, e documentação é todo processo que serve para tornar um documento disponível
para alguém que busca conhecimento.” Nesse caso, os relatos de pilotos e oficiais treinados da
Aeronáutica que são reportados nesses documentos tem uma grande importância em nível de
estudo técnico, para uma possível pesquisa científica ou mesmo que apenas estatísticos, que
pudessem demonstrar qual a frequência que tais fenômenos assolam o espaço aéreo brasileiro.

Resposta 1: “Porque fortalece campo de pesquisa ufológica e aumenta o interesse das pessoas
sobre o assunto.”
Resposta 2: “A consolidação da realidade do fenômeno ufológico e a seriedade com que ele é
tratado pelas autoridades militares brasileiras.”
Resposta 3: “É importante que seja de conhecimento dos civis em geral a que o assunto deixe
87

de ser ridicularizado.”
Resposta 4: “Muito importante pois aqueles que sabem é já aceitam o fato de não estarmos só,
ficará mais evidente como prova daqueles que ainda são incrédulos, nesse assunto.”
Resposta 5: “Sempre que apresenta informações de veracidade aos casos ufológicos , irão
sendo trazidos a luz da verdade o entendimento de anos de pesquisas que agora farão eco
na sociedade.”
Resposta 6: “Muito importante para a credibilidade do fenômeno UFO.”
Resposta 7: “Reforçam ao público leigo que o fenômeno ufológico é assunto sério e digno
de pesquisa, e serve de incentivo para que outras Forças Armadas também liberem
documentos de seus arquivos.”

7.1.3 Terceiro Bloco de Respostas

Um dos tipos de respostas que mais se destacou está no fato de que os ufólogos
acreditam que a liberação desses documentos, pode abrir precedentes para que outros, que ainda
estejam sob sigilo, também possam vir à tona logo. Como a campanha de Liberdade de Infor-
mação começou no final dos anos 90 e a liberação do primeiro conjunto de arquivos aconteceu
no início dos anos 2000, a nova Lei de Acesso à Informação, Lei n◦ 12.52745 , aprovada em 18
de novembro de 2011, representa mudanças de paradigma em no que se refere à transparência
pública, pois estabelece que o acesso é a regra e o sigilo, a exceção. Como aponta Guedes (2014),
esta lei em especial repercute diretamente na Ciência da Informação, pois é uma ferramenta que
fomenta reflexões sobre os fazeres e deveres dessa área, que contribui com o cumprimento das
diretivas da legislação e garantam os direitos de informação fundamentais à sociedade.

Resposta 1: “Na minha opinião significa que, esta havendo um grande ’desacobertamento’
mundial em relação ao fenômeno UFO e o Brasil não poderia ficar de fora, tendo em vista
alguns casos ocorridos por aqui de grande relevância mundial, como o caso de Varginha
e vários outros."
Resposta 2: “Extremamente importante, pois esclarecem e enriquecem as pesquisas em nosso
país.”
Resposta 3: “Extremamente importante a liberação desses documentos, pois só assim vamos
45 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12527.htm> Acesso em
22/04/2018
88

chegando mais perto da verdade que está acobertada pelos governos.”


Resposta 4: “É uma forma de revelar o que está oculto, mediante aos arquivos secretos há
presença extraterrestres no país (Brasil), e com isso o Ministério da Aeronáutica todos os
arquivos secretos em relação há presença alienígena no país há disposição de qualquer
ufólogo e pesquisador que pedir a solicitação aos Arquivos Secretos.”
Resposta 5: “Na visão da ufologia brasileira que é a nossa, máxima importância, e fica bem
claro de se entender, pois seriam documentos oficiais de altíssima credibilidade, expedidas
pelo órgão militar especializado e competente.”
Resposta 6: “Reforçam ao público leigo que o fenômeno ufológico é assunto sério e digno
de pesquisa, e serve de incentivo para que outras Forças Armadas também liberem
documentos de seus arquivos.”

7.1.4 Quarto Bloco de Respostas

Atrelado a isso, existe uma grande preocupação entre os respondentes com relação
ao direito social das pessoas em ter acesso a esses documentos. Os pesquisadores demonstram ter
consciência social sobre o direito de acesso à informação e a importância dele para o crescimento
intelectual e mesmo espiritual da comunidade, novamente confirmando a importância da infor-
mação como base fundamental de uma sociedade civilizada. Isso vem corroborar a definição de
GUEDES (2014, p.60) que afirma que: “o acesso à informação sob a guarda do poder público,
garantido em forma de leis, representa um elemento-chave para o amadurecimento do regime
político brasileiro e para o desenvolvimento social, econômico, científico e cultural.”

Resposta 1: “Extremamente importante a liberação desses documentos, pois só assim vamos


chegando mais perto da verdade que está acobertada pelos governos.”
Resposta 2: “De suma importância para o ’desacobertamento’ dos casos”
Resposta 3: “Acredito que todos tem direito de saber a verdade em relação ao céu brasileiro.”
Resposta 4: “É o direito que todo cidadão tem”
Resposta 5: “É fundamental que as instituições operem com transparência, especialmente
sobre fenômenos que são de interesse comum.”
Resposta 6: “A verdade deve vir ao conhecimento de todos.”
Resposta 7: “Imprescindível ao ’desacobertamento’ da verdade que os governos escondem há
décadas da população civil.”
89

Resposta 8: “Todos temos que estar informados”


Resposta 9: “Um marco para a história não revelada. Nós cidadãos precisamos ter acesso a
verdade documentada em qualquer área da vida nacional.”
Resposta 10: “Muito importante para o acesso público irrestrito às verdades e informações.”
Resposta 11: “Importante pelo compromisso com a verdade, não há necessidade de esconder
fatos reais.”
Resposta 12: “Quaisquer tipo de informação para um tema tão banalizado é válido, todos
deveriam ter acesso a qualquer tipo de informação”
Resposta 13: “Um marco para a história não revelada. Nós cidadãos precisamos ter acesso a
verdade documentada em qualquer área da vida nacional.”
Resposta 14: “É de suma importância. Somos um país democrático de direito e com total
liberdade de informações.”

7.1.5 Quinto Bloco de Respostas

Grande parte dos ufólogos são adeptos da hipótese extraterrestre para explicar a
origem do Fenômeno UFO e acham que a liberação desses documentos pode ajudar a Ciência a
provar que existe vida fora da Terra. James McDonald (1967) insistiu nessa hipótese durante
toda a sua vida, afirmando que os UFOs tinham características de máquinas manufaturadas, que
pareciam fazer observações da Terra. No entanto, para que tal coisa fosse levada em consideração,
ainda se faz necessário que os cientistas, de uma maneira geral, tenham acesso completo às
informações e dados que foram coletados pelas Forças Armadas. Todavia, a ânsia que essa
possibilidade causa nos pesquisadores é quase uma certeza prestes a ser confirmada.

Resposta 1: “A liberdade está em primeiro lugar, por isso a importância de conhecermos sobre
nosso planeta e outros.”
Resposta 2: “A comprovação do avistamento por parte dos militares de que nosso espaço aéreo
tem sido visitado por naves extraterrestres.”
Resposta 3: “De suma importância, pois é preciso conscientizar a humanidade de uma reali-
dade que está cada vez mais perto de ser revelada. A existência de vidas fora do nosso
Planeta Terra.”
Resposta 4: “Ajuda para desvendar o véu existente que nos impede de descobrir realmente
quem são estas inteligências e quem somos nós neste contexto universal.”
90

Resposta 5: “Muito importante para contribuir com o conhecimento coletivo a respeito da


existência de seres extraterrestres, detentores de tecnologias bem mais avançadas do que
as terrestres.”
Resposta 6: “Muito importante pois aqueles que sabem é já aceitam o fato de não estarmos só,
ficará mais evidente como prova daqueles que ainda são incrédulos, nesse assunto."
Resposta 7: “É uma forma de revelar o que está oculto, mediante aos arquivos secretos há
presença extraterrestres no país (Brasil), e com isso Ministério da Aeronáutica todos os
arquivos secretos em relação há presença alienígena no país há disposição de qualquer
ufólogo e pesquisador que pedir a solicitação aos Arquivos Secretos.”

7.2 Segunda Pergunta: “Você acha que o segredo imposto pelas Forças Armadas preju-
dicou o estudo científico do Fenômeno UFO?”

Após analisados a importância que esses documentos têm para a Comunidade Ufo-
lógica Brasileira, vamos para a pergunta que representa a questão de pesquisa a ser discutida
nesse trabalho: “Você acha que o segredo imposto pelas Forças Armadas prejudicou o estudo
científico do Fenômeno UFO?”
Das respostas colhidas pelos pesquisadores, pudemos classificá-las em três blocos
principais, a primeira delas foi que, segundo os respondentes, a ocultação desses documentos não
prejudicou apenas a eles como indivíduos interessados e estudiosos no assunto, mas também à
sociedade como um todo, atrasando a evolução científica da Humanidade. Isso está diretamente
ligado ao próprio conceito de Ciência da Informação, que, segundo Garcia; Targino; Dantas,
(2012) é essencialmente social, que resulta diretamente do processo evolutivo da Biblioteconomia,
da Documentação, onde caracterizam-se a origem, coleta, organização, transparência e utilização
da informação.

7.2.1 Primeiro Bloco de Respostas

Notadamente o fato desse tipo de informação não estar disponível e ocultada por
razões desconhecidas, é um ataque direto ao coração da Ciência da Informação e a tudo o
que ela representa, sendo muito mais do que algo que atinge um grupo específico de pessoas,
no caso, os ufólogos. Como Martins; Presser (2015, apud Barreto, 1994) expressa, é apenas
quando informação é apropriadamente assimilada é que ela consegue gerar conhecimento, e
91

dessa forma modificar o estoque mental de informações de uma pessoa, trazendo benefícios ao
seu desenvolvimento e o da sociedade em que ela vive.

Resposta 1: “Claro, tudo que fica escondido, no caso "em segredo "se torna prejudicial para
toda uma nação , pois assim não se tem o real acontecimentos dos fatos.”
Resposta 2: “Não só prejudicou como atrasou a evolução de conhecimentos da massa humana
onde todos nós fomos amordaçados e vendados, até mesmo pelas crenças, como eu mesmo
fui.”
Resposta 3: “Sim, em desenvolvimento científico, seja para tecnologia, seja para estudos de
outras raças e sistemas planetários.”
Resposta 4: “Muito, a verdade sempre aparece, quer as pessoas queiram ou não e isso que os
governos fazem retendo informações ou as entregando em doses homeopáticas, só torna
mais complexo e perigoso o primeiro contato, que na minha opinião está próximo e de
posse destas informações poderiam facilitar o entendimento de ambas as raças.”
Resposta 5: “Acho que já está na hora de todas essas forças se unirem para que todos saibam
de uma vez que o fenômeno existe e nos conscientizem disso.“
Resposta 6: “Sem dúvida, quanto mais demorarmos para entender esse fenômeno, mais tempo
perderemos na nossa evolução.”

7.2.2 Segundo Bloco de Respostas

Neste segundo bloco de respostas, os ufólogos criticam que o sigilo em torno desses
documentos como uma das coisas que ajudou a ridicularizar o Fenômeno UFO ao longo dos anos.
Cain (2006, p.7) descreve o ato de ocultar informações, quando diz que: “não importa a quão
bem-intencionada a razão, qualquer restrição liberdade de expressão e o direito à informação
constitui censura”. Além disso, algumas respostas chamam a atenção ao apontar sobre o poder
alienador desse tipo de política, pois uma das grandes características da censura, está no interesse
daqueles que a ocasionam, em manter o estado de sempre, o estado daquilo que para eles é
aceitável (Oliveira; Castro, 2017). Nesse caso específico dos documentos ufológicos, a censura
não apenas impediu que a informação fosse disseminada, como também contribuiu para que
a Ufologia sofresse com a falta de credibilidade, já que não é possível investigar um evento,
um avistamento ou verificar a veracidade de um depoimento quando as informações sobre ele
são ocultadas, afastando não só a maioria dos cientistas como também a Sociedade como um todo.
92

Resposta 1: “Sim, menos informação menos credibilidade.”


Resposta 2: “Claro, tudo que fica escondido , no caso ’em segredo’ se torna prejudicial para
toda uma nação , pois assim não se tem o real acontecimentos dos fatos.”
Resposta 3: “Sim, ao ponto de transformá-lo em uma alegoria alienadora da opinião pública,
que permanece oprimida e manipulada por crendices e situações inverossímeis, distante
da análise científicas”
Resposta 4: “Evidente , como também acho que o fato da aeronáutica saber que a não di-
vulgação atrapalha é um dos principais motivos para que ela continue dificultando o
acesso.”
Resposta 5: “Com toda a certeza. No momento em que não há matérias documental para
pesquisa só se pode ir atrás de relatos pessoais, o que não são poucos mas carecem de fé
pública e aval técnico para um estudo mais aprofundado.”
Resposta 6: “Sim. E não apenas o segredo, mas também a contrainformação. Muitos casos
deixam de ser relatados, e por consequência estudados, em razão dessa política de segredo
sobre o assunto e do falso desdém que demonstram para com o mesmo, o que acaba por
desencorajar muitas testemunhas.”
Resposta 7: “Acho, sim! Contudo, foi necessário esconder da população todos os fatos rela-
cionados ao fenômeno, devido aos governos se unirem para a não divulgação dos fatos.
Sendo assim, o Brasil não poderia ficar de fora.”
Resposta 8: “Prejudicou não só os estudos como a seriedade do assunto.”

7.2.3 Terceiro Bloco de Respostas

No terceiro bloco de perguntas o que mais se destacou foi o fato dos pesquisadores
apontarem que informação retida e parada não serve para ninguém. Novamente aqui nos
confrontamos com a quebra de outro conceito relacionado a Ciência da Informação, definido por
Taylor (1963 apud GARCIA; TARGINO; DANTAS, 2012) como:

[ . . . ] ciência que investiga as propriedades e o comportamento da informação,


as forças que governam o fluxo da informação e os meios de processar a informa-
ção para ótimo acesso e uso. O processo inclui origem, disseminação, coleção,
organização, estocagem, recuperação, interpretação e uso da informação

Ocultos, por quaisquer motivos que seja, esses documentos nunca chegaram as mãos
daqueles que se interessam por eles, não puderam passar por uma análise, nem por estudos, o
93

que acabou fazendo com que muitas informações contidas neles se tornassem obsoletas. Muitos
dados que foram colhidos em locais de avistamentos, pilotos que tiveram contatos com obje-
tos não identificados em pleno voo, entre outros, foram apenas relatados e não passaram por
qualquer investigação para esclarecer aquilo que foi reportado, fazendo com o que informações
necessárias para o esclarecimento do evento se perdessem com o passar do tempo. Xavier; Costa
(2010) define que disponibilizar informação é fomentar a produção de conhecimento, que assim
produzirá mais informação. Sob um carimbo de sigilo, os documentos com informações sobre
Objetos Voadores Não-identificados, jamais poderão gerar informações e muito menos criar
conhecimento deles, afastando ainda mais o Fenômeno UFO do reconhecimento científico que
ela tanto almeja.

Resposta 1: “Certamente, com o agravante de que as forças armadas não tem interesse e/ou
mão de obra e recursos para investigar cientificamente o fenômeno.”
Resposta 2: “Sim. Porque mediante o silêncio militar os cientistas, tão necessários a este
estudo, não se envolveram nele. O efeito reverso, ou seja, a revelação dos segredos da
FAB, levaria à uma posição mais favorável do meio acadêmico.”
Resposta 3: “Não deixa de prejudicar, Pois se caminhasse junto com os ufólogos com certeza
os leques se abririam muito mais para analises e veracidades de fatos.”
Resposta 4: “Certamente. Vemos países na América Latina muito a frente do Brasil aonde ja
existem organização e órgãos governamentais oficialmente a funcionar. Quase uma UFO
governamental. s eventos são catalogados pesquisados e com credibilidade dada pelo
governo todos os cidadãos tem a cesso a informação.”
Resposta 5: “Sim, pois os pesquisadores amadores não possuem a mesma infraestrutura (física,
logística e econômica) que os órgãos oficiais, limitando a profundidade e, por vezes, a
credibilidade da pesquisa.”
Resposta 6: “Sim, porque é um estudo perdido, um estudo trancado. É como se você quisesse
ler um livro e a biblioteca tivesse fechado. Então esses documentos precisam ser libertos
para o estudo ufológico.”
94

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Fenômeno UFO é estudado em nossa sociedade moderna desde o final dos anos 40,
apesar de toda a detratação, desmentidos e a vasta batalha para o seu acobertamento, que tanto foi
tratado aqui, ele segue firme e seu mistério ainda está longe de ser desvendado. No entanto, esse
segredo se tornou um pouco mais real e próximo de nós quando os documentos oficiais referentes
a ele finalmente foram liberados e puderam ser conhecidos, não apenas por aqueles que se
dedicam ao estudo dos UFOs, mas também por toda a sociedade. No entanto, os ufólogos sabem
que ainda existe muito mais para ser liberado e que a campanha “UFOS-Liberdade de Informação
Já!” foi apenas a ponta do iceberg de muitos documentos que ainda estão retidos. Não existe
ainda qualquer explicação oficial que esclareça o motivo que esses arquivos não sejam totalmente
disponibilizados ao público, o que nos deixa apenas com a lamentável sensação de censura por
parte de nossas autoridades e essa é uma das primeiras considerações que podemos fazer. Numa
democracia, como o Brasil, os direitos civis, incluindo o direito de acesso à informação, devem
ser respeitados, mas o tratamento imposto pelo Governo Brasileiro, durante anos, foi e ainda é
de desrespeito a esses direitos quando o assunto se refere a Ufologia.
Como já foi falado, o Fenômeno UFO pode ser considerado um dos grandes mistérios
da Humanidade e nele pode estar também o que poderia significar a resposta para uma das
perguntas que instiga a imaginação humana há milênios: “Estaríamos sós ou não no Universo?”
Como também a de que o Fenômeno UFO poderia ser algo completamente novo e diferente
daquilo que achamos, mas tudo isso só pode ser verificado quando o véu do segredo imposto
a ele finalmente cair e tivermos acesso a tudo o que já foi pesquisado e analisado pelas nossas
autoridades sigilosamente. Tudo isso tem uma ligação direta com a Ciência da Informação, cuja
as bases se encontram na disseminação, no acesso e no bom uso das informações, o que nossas
autoridades não estão fazendo quando o assunto é Ufologia.
Levando tudo isso em consideração, o objetivo geral dessa pesquisa esteve em
demonstrar o prejuízo que essa censura está causando à Ciência de uma forma incalculável, um
atraso de no mínimo 70 anos, que foi o tempo em que esses objetos não identificados começaram
a ser relatados de maneira oficial. No que se refere à Ciência da Informação especificamente,
esse prejuízo é claro, pois sua condição de ciência social, ela tem como característica suprir
as demandas informacionais das pessoas, o que não está acontecendo quando tratamos de
informações oficiais referentes à Ufologia.
O posicionamento dos pesquisadores com relação a falta de informações, de acordo
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com o que foi apurado pelo questionário, é muito clara, ela fez com que a pesquisa ufológica
tomasse um caminho perigoso, que fosse desconsiderada e tomasse o rumo do deboche e da
chacota pública, que virasse uma piada, uma lenda urbana, afastando de vez todo e qualquer
interesse que a classe científica poderia ter no assunto. Claro que houve cientistas que se
interessaram pelos UFOs, lutaram pelo seu reconhecimento e que para que as informações sobre
eles fossem divulgadas como os já citados James McDonald e Josef A. Hynek entre outros, mas
apenas essas pessoas não poderiam mudar sozinhas a política de acobertamento e censura que
se instalou em cima do Fenômeno UFO e mesmo eles, que eram cientistas respeitados em seu
campo de atuação, não escaparam do escárnio de seus colegas e da negação dos governos.
A principal consequência dessa censura, também de acordo com o questionário
respondido pelos ufólogos, está na quantidade imensa de dados e informações que se perdem e
que deixam de passar por estudos e verificações de pessoas interessadas e qualificadas, afundando
ainda mais a legitimação de um Fenômeno que tanto intriga a Humanidade. Informações em
documentos que não podem ser acessados relatando eventos anormais com esses objetos não
identificados que se passam em nosso espaço aéreo, muitas vezes colocando em risco a vida
de pilotos e civis, assustando populações inteiras como no famoso Caso da Operação Prato. O
desrespeito às leis e ao direito da população aqui é gritante! Os cidadãos são deixados às escuras,
testemunhando situações estranhas e sem qualquer explicação por parte do governo ou o mesmo
negando que eles sequer existiram.
O Acobertamento Ufológico é uma dos maiores exemplos de como a censura e o má
disseminação da informação prejudicam a sociedade em todos os sentidos e essas duas coisas
vem de encontro a desafios que a Ciência da Informação enfrenta desde sempre, portanto, a
importância de se discutir uma situação como essa é fundamental, afinal, estamos num país
democrático, onde o direito à informação é protegido por lei e infelizmente pouco respeitado.
É muito difícil prever o que o futuro aguarda com relação a novas liberações de
documentos ufológicos, mas independentemente do que acontecer, o debate com relação a esse
segredo imposto ao Fenômeno UFO deve ser debatido no âmbito da Ciência e do profissional
da informação, as implicações que ele causa até os dias de hoje, impendido que pesquisas e
descobertas sejam feitas, afastando cientistas e interessados do tema, ajudando a transformar a
questão num imenso circo para a mídia. Todas essas coisas são efeitos de uma censura imposta e
também do péssimo uso que as informações sobre os UFOs foram divulgadas ao longo dos anos,
propositalmente ou não.
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Se a Ciência da Informação deseja respeitar seus pilares de disseminação e informa-


ção como ferramenta para a cidadania, tem que começar a prestar atenção e discutir as graves
situações de desrespeito que estão envolvidas quando o assunto é acobertamento ufológico,
pois como já demonstram os documentos que foram liberados, o Fenômeno UFO representa
um assunto sério, preocupante e que tem a atenção das Forças Armadas. É importante que se
comece a preparar o público para esses dados, que se aja para combater os danos que a má
informação desse assunto causou com tempo, que se faça uma pressão maior para que o governo
libere o que ainda retém sob sigilo e se comece a tratar a Ufologia com a seriedade que lhe foi
negada por tantos anos, e isso é algo que os pesquisadores de ufos não podem fazer sozinhos,
eles precisam do interesse e da ajuda da Ciência da Informação e seus profissionais para trazer
esses documentos e tudo o que eles contém para a visibilidade pública, que com a estimulação
desse interesse, outras áreas científicas também possam finalmente se interessar pelo tema, algo
incessantemente desejado pelos ufólogos.
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