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INTENSIVO III FEDERAL/ESTADUAL

Disciplina: Direito Administrativo


Prof. Fabiano Melo
Data: 16.01.2010
Aula: n.º 04

MATERIAL DE APOIO – MONITORIA

Índice

1. Artigo Correlato
1.1. O Estatuto da Cidade, a função socioambiental da propriedade e os instrumentos urbanísticos de sua
efetivação
2. Leia!!!
2.1. A importância da cidadania para a eficácia social do plano diretor - Kleiber Gomes Reis
3. Simulados

1. ARTIGO CORRELATO

1.1. O ESTATUTO DA CIDADE, A FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE E OS INSTRU-


MENTOS URBANÍSTICOS DE SUA EFETIVAÇÃO

Autor: Georges Louis Hage Humbert


Advogado, sócio de Humbert & Humbert Advogado Associados. Professor de Direito Urbanístico e Ambien-
tal da Faculdade Social da Bahia. Doutorando em Direito do Estado pela PUC-SP. Mestre em Direito do
Estado pela PUC-SP. Bacharel em Direito pela Universidade Católica de Salvador.Professor Assistente da
Especialização em Direito Administrativo da PUC-SP e convidado da Especialização em Direito Ambiental e
Urbanístico da Faculdade de Direito de Vitória - FDV. Autor de "Direito Urbanístico e função socioambiental
da propriedade imóvel urbana" (editora Fórum).
Data: 06.2009.

Resumo: O presente estudo versa acerca do princípio da função social da propriedade, e sua decorrente
função socioambiental. Aborda a importância deste princípio dentro do atual contexto do Direito Urbanísti-
co, especialmente no que se refere à fundamentação de novos e valiosos instrumentos urbanísticos trazi-
dos pelo Estatuto da Cidade como meio de proteção ao meio ambiente urbano.
Palavras-chave: Direito Urbanístico e Ambiental. Função socioambiental da propriedade. Estatuto da
Cidade. Instrumentos de proteção ao meio ambiente urbano.
Sumário: 1 – Considerações preliminares; 2 – Algumas linhas sobre os princípios jurídicos; 3 - O Direito
Urbanístico: conceito, objeto e sua umbilical ligação com o Direito Ambiental; 4 – A tutela do meio-
ambiente Urbano; 5 – O Estatuto da cidade e a proteção ao meio ambiente como diretriz geral; 6 – O Es-
tatuto da Cidade e a função socioambiental da propriedade: proteção ao meio ambiente e instrumentos de
concretização/efetivação; 7 – Conclusões;

1 – Considerações preliminares.
O presente estudo versa acerca do princípio da função social da propriedade, sua decorrente função so-
cioambiental e consequente dever de proteção ao meio ambiente urbano.
Para tanto, abordar-se-á a importância deste princípio dentro do atual contexto que abarca o Direito Ur-
banístico, ante do moderno fenômeno da urbanização e hodierna questão da evolução e desenvolvimento
das cidades, com destaque para os novos e valiosos instrumentos urbanísticos, trazidos pelo Estatuto da
Cidade e que, certamente, são importantíssimos meios a viabilizar e possibilitar a concretização do Direito
Urbanístico.

2 – Algumas linhas sobre os princípios jurídicos.

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Tema recorrente na dogmática jurídica moderna é a discussão acerca da natureza das normas jurídicas e
suas espécies. Apresentam-se, hoje, mediante novos rótulos, teses supostamente inovadoras, que tentam
comprovar equívocos da doutrina positivista do direito, mas que, em rigor, em nada alteram o que já foi
exaustivamente abordado. Uma destas questões é a existência das espécies normativas regras e princí-
pios.
O presente estudo não comporta maiores divagações acerca da matéria. Assim sendo, para os fins a que
se propõe, cumpre afirmar que os princípios jurídicos são normas jurídicas. Possuem caráter prescritivo.
São normas dotadas de alto grau de abstração, generalidade e forte carga valorativa, valores estes incor-
porados pelo sistema jurídico, portanto, internos, compreendidos pelo sistema. Estabelecem deveres, po-
sitivos e negativos, faculdades, obrigações. Servem à interpretação e integração do Direito, conformando
o sistema.

3 - O Direito Urbanístico: conceito, objeto e sua umbilical ligação com o Direito Ambiental.
O Direito Urbanístico é ramo do Direito relativamente novo. Com efeito, somente após a década de seten-
ta é que os juristas passaram a se dedicar mais detida e especificamente sobre a matéria, desencadeando
uma crescente e qualitativa elaboração doutrinária e legislativa, a qual alcançou, no Brasil, seu ponto má-
ximo com a promulgação do Estatuto da Cidade.
Importante frisar-se, desde logo, que o Direito Urbanístico tem como objeto o estudo das normas – regras
e princípios - que visam ordenar as cidades. Dedica importante atenção e concentra especiais esforços aos
direitos e limitações inerentes à propriedade urbana, sua regulação e organização, indispensável diante do
premente fenômeno da concentração urbana iniciado a partir das revoluções burguesas e industriais ocor-
ridas na Europa Ocidental e logo refletidas no Brasil. Surge, então, como disciplina fundamental para con-
secução de uma urbe que permita aos citadinos uma vida saudável e feliz.
É, destarte, o ramo do Direito Público, que diz respeito ao estudo das normas jurídicas que regulam e dis-
ciplinam os espaços habitáveis, sejam eles urbanos ou rurais, visando a plena consecução das funções
sociais da cidade - habitação, trabalho, lazer e circulação.
A despeito da dicotomia entre Direito Público e Privado, bem como de sua subdivisão em diversos ramos
relativamente autônomos, sabe-se que a unidade é um dos elementos essenciais a existência e funciona-
mento de um sistema, sendo esta premissa plenamente aplicável ao sistema jurídico. A sua separação em
ramos e sub-ramos não é estanque e, em rigor, atende especialmente a uma utilidade didática.
Por isso mesmo é que a ligação entre os diversos ramos do Direito é da sua essência.
A relação entre Direito Urbanístico e Ambiental é irrecusável. Não só por integrarem um mesmo sistema
normativo e terem como fundamento último de validade uma única norma fundamental, mas também
pela identidade entre seus objetos de estudo e existência de princípios correlatos.
Não restam dúvidas que um mesmo princípio pode ser fundamento a mais de um ramo do Direito. Princi-
palmente quando se trata de ramos afins, como é o caso do Direito Administrativo, Ambiental e Urbanísti-
co. Estas são searas multidisciplinares do Direito. Daí porque um ou mais dos seus princípios podem inci-
dir, simultaneamente, em diversos ramos do Direito.
Destaca-se, neste sentido, o dever de proteção/efetivação de um ambiente sadio dentro dos conglomera-
dos urbanos mediante o cumprimento de obrigações fundadas, em última instância, no princípio da função
social da propriedade, comum a estes ramos do Direito. Trata-se do princípio jurídico da função socioam-
biental da propriedade urbana.

4 – A tutela do meio-ambiente Urbano


Já foi dito que o Direito Urbanístico é o ramo da ciência do Direito, que tem por objeto o estudo e concre-
tização nas normas – regras e princípios, que visam à ordenação as cidades. Já o Direito Ambiental, pode
ser conceituado como "o complexo de princípios e normas coercitivas reguladoras das atividades humanas
que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente em sua dimensão global, visando à
sua sustentabilidade para as presentes e futuras gerações" (MILARÉ, 2000: 109).
Entretanto não há que se falar em ordenação da cidade e proteção ao meio ambiente – ao menos no que
tange ao meio ambiente urbano-, de forma isolada, ou seja, mediante atuação que não seja multidiscipli-
nar. Há, como demonstrado supra, entrelaçamento entre estes objetos.
Daí, saltar aos olhos a salutar relevância do estudo transdisciplinar ora proposto. Afinal, o meio ambiente
urbano é "a roupagem com que as cidades se apresentam a seus habitantes e visitantes. Será tão mais
atraente quanto mais constitua uma transformação cultural da paisagem natural do seu sítio, e tanto mais
agressiva quanto mais tenham violentado a paisagem natural, sem acrescentar-lhe valor humano algum".
(SILVA, 2006, p. 307)

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Neste contexto, o conhecimento e debate acerca do conteúdo do princípio da função social da proprieda-
de, em sua face ambiental, do Estatuto da Cidade e dos seus instrumentos, sobrelevam-se.
Pelo princípio da função social da propriedade, depreende-se que somente será legítima a propriedade
que atender aos fins coletivos. A propriedade individual, voltada exclusivamente para os interesses indivi-
duais e egoísticos do proprietário não é mais concebida diante da ordem jurídica vigente. Na lição do Mi-
nistro Eros Roberto Grau, "a propriedade dotada de função social é justificada pelos seus fins, seus servi-
ços, suas funções" (GRAU, p. 238).
Com efeito, a função social da propriedade mereceu destaque especial na nossa Carta Magna. O novo tex-
to constitucional, em contexto geral, imprime uma latitude sem precedentes aos direitos sociais básicos,
dotados agora de uma substantividade nunca conhecida nas Constituições anteriores.
Assim, a propriedade passa a ter nova conotação. Transcende do individualismo exarcebado dos séculos
passados, para também resguardar, na forma da lei, o interesse coletivo em prol bem comum.
Portanto, ao se relacionar diretamente com o direito fundamental à propriedade, impondo determinados
comportamentos aos detentores deste, possui, assim como este, status de direito fundamental (art. 5,
XXIII). Ademais, passa a ser princípio que rege a ordem econômica (art. 170, III) e, ao lado da função
social da cidade, é a base normativa onde deve repousar toda a política urbana (art. 182).
E por imposição constitucional a função social da propriedade é cumprida quando há o seu aproveitamen-
to racional e adequado, o que inclui a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e a preserva-
ção do meio ambiente em dada propriedade, dando ensejo ao denominado princípio da função socioambi-
ental da propriedade. Estamos diante de um princípio jurídico, implícito, extraível do ordenamento em
vigor, especialmente dos arts. 182, 184, 186 e 225 da Carta Política.
Desta forma, a propriedade apenas cumprirá sua função social quando também estiver em consonância
ao quanto preceitua o art. 225 da Constituição.Daí porque o direito de propriedade deve ser exercitado
em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais, e de modo que sejam preservados, em
conformidade com o estabelecido em lei, a flora, fauna, das belezas naturais, o equilíbrio ecológico e pro-
teção ao patrimônio histórico e artístico, evitando-se, sempre, a poluição do ar e da água, o que se aplica
plenamente às propriedades situadas nas zonas urbanas.
Não por outra razão, teve o legislador incessante preocupação de, no Estatuto da Cidade - norma essen-
cialmente de Direito Urbanístico - tratar de aspectos ligados ao meio ambiente, seja ele natural ou cons-
truído. Diversas são as passagens em que a referida lei que dispõe sobre o meio ambiente e sua proteção.
Isto levou a parte da doutrina sustentar que "...o Estatuto da Cidade se caracteriza como sendo um mi-
crossistema cuja tendência, a exemplos de outros diplomas atuais, é ganhar claros contornos constitucio-
nais vinculados ao direito constitucional ambiental brasileiro." (FIORILLO, 2005: 27-28).
Também por essa razão já sustentamos, em outra oportunidade que, "com o advento da referida lei, colo-
cou-se à disposição dos administradores públicos, novos instrumentos para tutela das cidades e do seu
meio ambiente. Dentre estes destacam-se o direito de preempção, a gestão democrática da cidade e o
Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) que, ao lado do já utilizado tombamento, são instrumentos, se
bem aplicados, que terão grande importância para o alcance e efetivação do meio ambiente saudável.
Integram, destarte, o que se pode chamar de sistema protetivo do patrimônio cultural, cuidadosamente
tratado pelo Estatuto da Cidade." (HUMBERT, 2006: 3323-3326)

5 – O Estatuto da cidade: a proteção ao meio ambiente como diretriz geral.


Comprovada relevância jurídica da matéria proposta, passemos a não menos importante análise descritiva
dos instrumentos normativos que visam a promoção do meio ambiente urbano saudável.
Cumpre de logo ressaltar que, partindo de matriz constitucional regradora da política urbana, o Estatuto
da Cidade assume, como pilar de sua normatividade, uma corajosa redefinição da função social da propri-
edade, outorgando-lhe contornos firmes e conseqüentes. (DALLARI; FERRAZ, 2002:19)
Mas não é só. "A grande novidade trazida por esta lei está exatamente na criação de instrumentos que
possibilitarão uma intervenção mais concreta e efetiva do Poder Público no desenvolvimento urbano".
(DALLARI; FERRAZ, 2002, p. 19)
E não se pode iniciar a análise dos instrumentos, colocados também para proteção ao meio ambiente (na-
tural e construído), e que servem à conformação da função socioambeintal da propriedade, sem antes
contextualizá-los diante das diretrizes gerais deste novel diploma legal.
É o capítulo I da Lei 10.257 dispõe acerca das diretrizes gerais da política urbana. De início é perceptível a
sua preocupação com a mantença do equilíbrio ambiental, compreendida na função socioambiental da
propriedade.

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Isto porque, já no parágrafo único do art. 1°, prescreve que esta Lei estabelece normas de ordem pública
e interesse social, as quais regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e
do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental.
Em seguida, dispõe que são diretrizes gerais da política urbana, entre outras: 1- a garantia do direito a
cidades sustentáveis – o que inclui o direito ao saneamento ambiental; 2 - o planejamento das cidades de
modo a evitar e corrigir distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambien-
te; 3 - a ordenação e controle do uso do solo, de forma a evitar a poluição e degradação ambiental; 4 - a
proteção, preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído, do patrimônio cultural, his-
tórico, artístico, paisagístico e arqueológico; e, finalmente, como forma de participação da sociedade, a
audiência do Poder Público municipal e da população interessada nos processos de implantação de empre-
endimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou cons-
truído, o conforto ou a segurança da população.
Segundo Odete Medauar, a expressão cidades sustentáveis inspira-se no Direito Ambiental, devendo-se
as entender como sendo "aquelas em que o desenvolvimento urbano ocorre com ordenação, sem caos e
destruição, sem degradação, possibilitando uma vida urbana digna para todos." (MEDAUAR, 2004, p. 26-
27)
Denota-se aqui, mais uma vez, a incessante preocupação com o meio ambiente que dominou o pensa-
mento do legislador do Estatuto da Cidade.

6 – O Estatuto da Cidade e a função socioambiental da propriedade: proteção ao meio ambiente


e instrumentos de concretização/efetivação
6.1 – Planejamento Municipal: Plano Diretor e Zoneamento Ambiental.
O planejamento é pressuposto da ordem urbanística. É princípio instrumental inserto no art. 2º, IV do
E.C. (SUNDFELD, 2001:. 56) Mais que isso. É o pilar da Política Urbana (C.F., ART. 182).
Os Planos Urbanísticos "constituem o conjunto de normas e atos operativos que caracterizam aquel prin-
cípio da coesão dinâmica ou coesão dialética que dá essência às normas urbanísticas..." (SILVA, 2006:
97). Ou seja, "não constitui simples conjunto de relatórios mapas e plantas técnicas, configurando um
acontecer unicamente técnico." Adquire características de um procedimento jurídico dinâmico, ao mesmo
tempo normativo e ativo, servindo como diretriz, mas se manifestando concretamente. (SILVA, 2006: 95-
96)
Com a Constituição Cidadã, o Plano Diretor assume a função de instrumento básico da política urbana do
Município. Esta tem como propósito a ordenação do pleno desenvolvimento das conhecidas funções sociais
da cidade – trabalho, circulação, lazer e moradia. Seu propósito é garantir o bem estar social da comuni-
dade.
O zoneamento integra o conceito planos urbanísticos. Com efeito, segundo a lição da melhor doutrina,
com base na Constituição Federal de 1988, "já se pode falar na implantação de um sistema de planos es-
truturais, porque ele fundamenta a construção de um sistema de planos urbanísticos hierarquicamente
vinculados, de modo que os de nível superior sirvam de normas gerais e diretrizes para os inferiores, en-
quanto estes concretizem, no plano prático e efetivo, as transformações da realidade urbana, em vista de
objetivos predeterminados." (SILVA, 2006:106).
Do exposto, percebe-se que tanto o Plano Direto, norma geral para efetivação de uma Política Urbana
adequada, quanto o zoneamento, norma especifica e com maior poder de concreção, servirão à tutela do
meio ambiente urbano, natural e construído.
Em um sentido abrangente, o zoneamento "consiste na repartição do território municipal à vista da desti-
nação da terra, do uso do solo ou das características arquitetônicas." (SILVA, 2006: 240).
Mas não é só. Este plano parcial tem também por objeto as áreas de interesse ambiental. Pode-se falar,
então, em um zoneamento ambiental, como o plano municipal, estrutural, parcial, por meio do qual o Po-
der Público poderá estipular quais zonas serão destinadas à proteção ambiental.
O citado instrumento encontra fundamento legal no art. 4°, III, "c", da multimencionada Lei.
Objetiva disciplinar a ordenação da cidade por regiões, dividindo-a em zonas onde determinada atividade
específica, determinada função terá preponderância. Para tanto, ter-se-á em mente os diversos aspectos
da vida na cidade: moradia, produção industrial, lazer, trabalho, administração da cidade, etc. Visa com-
patibilizar o desenvolvimento da urbe, concomitantemente ao atendimento às suas funções, garantindo o
bem estar dos citadinos, sem deixar de lado a preocupação em estabelecer e promover a defesa dos "es-
paços ambientais (...) com a finalidade de proteção e preservação do meio ambiente." (FIORILLO, 2005:
27-28).

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6.2 Estudo de impacto de vizinhança: proteção à paisagem urbana, ao meio ambiente natural e cultural.
Prescreve o Estatuto da cidade:
"Art. 36. Lei municipal definirá os empreendimentos e atividades privados ou públicos em área urbana
que dependerão de elaboração de estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV) para obter as licenças ou
autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a cargo do Poder Público municipal.
Art. 37. O EIV será executado de forma a contemplar os efeitos positivos e negativos do empreendimento
ou atividade quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades, incluindo a
análise, no mínimo, das seguintes questões:
(…)
VII - paisagem urbana e patrimônio natural e cultural." (grifamos)
O denominado EIV é um documento técnico a ser exigido, com base em lei municipal, para a concessão
de licenças e autorizações de construção, ampliação ou funcionamento de empreendimentos ou atividades
que possam afetar a qualidade de vida da população residente na área ou nas proximidades. É mais um
dos instrumentos trazidos pelo Estatuto da Cidade que permitem a tomada de medias preventivas pelo
ente estatal a fim de evitar o desequilíbrio no crescimento urbano e garantir condições de mínimas de
ocupação dos espaços habitáveis.
A sua função fiscalizatória, de prevenção e precaução é característica marcante e que garante a avaliação
das obras e das atividades que possam, potencialmente, causar dano ao meio ambiente. Tem como finali-
dade instruir e assegurar ao Poder Público acerca da capacidade do meio urbano para comportar determi-
nado empreendimento. Visa adequar o empreendimento ao meio ao qual ele fará parte.
O caráter preventivo do EIV deve ser ressaltado. Sendo um estudo técnico prévio, seu conteúdo poderá
alertar e precaver o Poder Público quanto a repercussão do empreendimento no que se refere às questões
ligadas a visibilidade, acesso, uso e estrutura do meio ambiente cultural que compõe determinada área.
Ademais, sabemos que diversos fatores podem prejudicar o meio ambiente (seja ele natural ou construí-
do) obstando a sua adequada e desembaraçada utilização pelos cidadãos. Neste sentido, pela sua caracte-
rística de planejamento prévio e eminentemente técnico, O EIV poderá diagnosticar efeitos danosos que
ultrapassem ao sistema viário, tais como variáveis ambientais, paisagísticas, sociais e econômicas.
Funcionará, ainda, como freio à cultura da demolição, protegendo, assim, a identidade de um povo, ao
verificar a existência de construções, vias, logradouros e praças que fazem parte da cultura local secular e
que não podem ser afetados pela inserção de novos empreendimentos. Protegerá também as característi-
cas paisagísticas inerentes à dada localidade, bem como eventual área natural remanescente em dado
centro urbano.
Verifica-se, sem maior esforço, que a proteção ao Meio Ambiente Urbano, em seus diversos aspectos,
através do EIV, evitará a transformação do espaço público vivo em espaço público morto. Serve à tutela
do maio ambiente e, em última análise, à preservação das funções sociais das cidades precípuas, pois que
com a defesa preventiva do meio ambiente cultural, da paisagem urbana e dos bens naturais situados nas
grandes cidades, restará assegurado a integração dos indivíduos, a garantia do lazer, da qualidade do
ambiente, enfim, da vida saudável e feliz.
Por estas razões o EIV vem a ser um valioso instrumento para proporcionar um crescimento equilibrado e
o desenvolvimento sustentável das cidades, garantindo uma vida mais saudável para esta e para as futu-
ras gerações, funcionando, como um freio à ambiciosa cultura da demolição.
6.3 Direito de preempção: preservação das áreas de interesse ambiental.
O direito de preempção consiste no instrumento de política urbana que confere ao poder Público Munici-
pal, desde que aja lei anterior baseada no plano diretor que delimite suas áreas de incidência, a preferên-
cia para aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares.
Consoante brilhantemente expõe Ricardo Lira, "a concepção é urbanisticamente válida, pois o Município,
em áreas previamente definidas na lei e no plano de uso do solo, poderá adquirir desde logo imóveis cuja
aquisição futura será inevitavelmente mais onerosa, após a realização de determinado plano específico de
urbanização. Possibilita que a plus valia, decorrente da implantação dos equipamentos urbanos e da im-
plementação dos planos se dê nas mãos do Poder Público." (LIRA, 1997:168)
De acordo com o art. 26 do Estatuto da Cidade, diversas são as hipóteses em que o Poder Público poderá
se valer do seu direito de preempção, e que tem ligação direta com a afirmação da função socioambiental
da propriedade: 1- quando necessitar de áreas para criação de espaços públicos de lazer e áreas verdes;
2 - criação de unidades de conservação ou proteção de outras áreas de interesse ambiental; 3 - e prote-
ção de áreas de interesse histórico, cultural e paisagístico.
Nesta espécie, o Município terá um poderoso meio para fazer cumpri-se o multimencionado princípio de
forma plena, pondo em prática a integral defesa do meio ambiente natural/construído.

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Isto porque, além do direito de estipular, mediante Lei, quais áreas são de interesse ambiental, deverá,
quando esta for negociada pelo seu proprietário, intervir nesta relação jurídica, adquirindo o imóvel nego-
ciado, garantindo, desta forma, o seu aproveitamento de acordo com suas funções precípuas.
6.4. Das operações urbanas consorciadas.
É o próprio estatuto da cidade, que conceitua estas operações como sendo o conjunto de intervenções e
medidas coordenadas pelo Poder Público municipal, com a participação dos proprietários, moradores, usu-
ários permanentes e investidores privados, com o objetivo de alcançar em uma área transformações ur-
banísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental.
Aqui, nos importa a sua utilização para fazer-se cumprir a função socioambiental da propriedade, ou seja,
para possibilitar que a propriedade atenda ao quanto preceitua o art. 225 da nossa Carta Maior. E é o que
se pretende mediante tais operações, pois prescreve explicitamente a norma a valorização ambiental co-
mo um dos seus propósitos.
Com efeito, "nota-se neste tipo de operação a possibilidade do Poder Público se associar com a iniciativa
privada no intuito de efetuar melhorias em determinadas regiões, obviamente com vistas ao desenvolvi-
mento urbano. As chamadas "parcerias" com a iniciativa privada representam recurso bastante utilizado
atualmente, em especial devido à grande dificuldade de atender os objetivos propostos, com parcos re-
cursos públicos disponíveis." (MEDAUAR, 2004, p. 215).
Prescreve-se a participação direta da sociedade – proprietários, moradores, investidores -, coordenadas
pelo Poder Público, visando o desenvolvimento estruturado e adequado de determinada área. Através
deste mecanismo, poder-se-á efetuar a modificação de índices e características de uso e ocupação do so-
lo, bem como as alterações de normas edilícias, regularização de construções, sempre levando em consi-
deração o impacto ambiental. Não por outra razão, o art. 33 do E.C impõe que o Estudo de Impacto de
Vizinhança, acima já analisado, é conteúdo mínimo da lei específica que aprovar a operação urbana con-
sorciada. E assim fica garantida mais uma forma de efetivação da função socioambiental da propriedade e
a conseqüente tutela do meio ambiente urbano.
6.5 – Transferência do Direito de Construir.
O Estatuto da Cidade preceitua que, Lei Municipal, baseada no plano diretor, poderá autorizar o proprietá-
rio de imóvel urbano, privado ou público, a exercer em outro local, ou alienar, mediante escritura pública,
o direito de construir previsto no plano diretor ou em legislação urbanística dele decorrente, quando o
referido imóvel for considerado necessário para fins de preservação ou quando o imóvel for considerado
de interesse histórico, ambiental, paisagístico, social ou cultural (art.35, II).
Saliente-se diferentemente da outorga onerosa do direito de construir, em que se possibilita ao particular
construir acima do limite previsto para o terreno, mediante contrapartida a ser paga ao Município, na
transferência do direito de construir é possível repassar a terceiro a possibilidade de construir, abrindo-se
mão do mencionado direito (MEDAUAR, 2004: 222). Essa possibilidade se estende a um mesmo proprietá-
rio de dois ou mais imóveis, que poderá transferir este direito para um outro imóvel seu.
Funcionará como excelente recurso para alcançar o objetivo de preservação do meio ambiente urbano
natural ou construído, uma vez que permitirá ao Poder Público intervir de forma menos agressiva na pro-
priedade privada, já que a limitação ao imposta direito de construir em razão do valor histórico, ambien-
tal, paisagístico, social ou cultural, poderá ser compensada com a transferência deste para outra proprie-
dade que não possua estas funções, harmonizando os interesses sociais e particulares.
Finalmente é válido ressaltar que os institutos jurídicos e políticos acima referidos visam não apenas ve-
dar comportamentos dos proprietários deletérios aos interesses da coletividade, mas sim, mais que isso,
visam obter comportamentos positivos, ações, atuações, necessárias à realização da função social da pro-
priedade (DALLARI; FERRAZ, 2002: 84).

7 – Conclusões
Princípio jurídico é espécie do gênero norma, integra o sistema jurídico, tendo, portanto, caráter prescriti-
vo, impondo deveres.
O Direito Urbanístico é ramo autônomo do Direito Público, sujeito, em larga medida, ao seu regime jurídi-
co especial. Relaciona-se com outros ramos do direito, especialmente com o Direito Ambiental.
O Estatuto da Cidade, norma de Direito Urbanístico, andou bem ao regular as questões ligadas ao meio
ambiente urbano. Diversos instrumentos de proteção são postos pelo citado plexo normativo e devem ser
aplicados pelo Administrador Público, sob pena de cometimento de ilegalidades, que podem ensejar na
em responsabilização civil, penal e administrativa pelo descumprimento, dentre outros princípios e regras,
da função socioambiental da propriedade.

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Referências
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2003.

Fonte: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=14198

2. LEIA!!!

2.1. A importância da cidadania para a eficácia social do plano diretor - Kleiber Gomes Reis

INTRODUÇÃO

Importante avanço legislativo, o Estatuto da Cidade traz em seu bojo uma série de instrumentos urbanís-
ticos voltados à Política Urbana, tendo como fundamento jurídico a Constituição Federal de 1988, em seus
arts. 182 e 183, este diploma legal - Lei 10.257/2001 - fora sancionado em 10 de julho de 2001, entran-
do em vigor após 90 dias, conforme seu art. 58.

Tão festejada entre os Urbanistas e os estudiosos do Direito Urbanístico, a Lei 10.257/2001 é, enfim,
norma jurídica voltada ao desenvolvimento das cidades brasileiras. É meio concreto de ordenação do caó-
tico e desordenado crescimento urbano.

Entretanto, este artigo não tem por finalidade a abordagem do tema do Estatuto da Cidade, mas sim um
de seus instrumentos: o Plano diretor, mais especificamente o § 3°. do art. 40 da lei e que trata da revi-
são do Plano diretor, mormente no que tange à exigência de revisão da lei instituidora do Plano diretor e
o papel da sociedade nesse processo de elaboração e revisão.

1. DO PLANO DIRETOR

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De acordo com o teor do art. 40, "o plano diretor, aprovado por lei municipal, é o instrumento básico da
política de desenvolvimento e expansão urbana.". Sendo assim, inicialmente, percebemos que - do ponto
de vista jurídico - o Plano diretor é lei municipal aprovada na Câmara dos Vereadores.

Vale, neste momento, observar que o Plano diretor não é uma novidade introduzida pela Lei 10.257/01.
Há registros dessa preocupação de meados do século passado. Veja, e. g., a Lei nº. 183 de 1936 e a Lei
nº. 28, ambas do Estado de Minas Gerais. A primeira estabelecia a necessidade de um plano diretor muni-
cipal. A segunda, em seu art. 23, inciso XVIII, trazia em seu teor que era da competência do município
criar um plano diretor da cidade e das vilas, podendo até, se assim desejassem, solicitar a assistência
técnica do Estado.[1]

Mais recentemente, muitos municípios também já o possuíam, mesmo antes dessa exigência legal. Como
exemplo, podemos citar cidades como: Rio de Janeiro (Lei Complementar nº. 16, de 04 de junho de
1992), São Paulo (Lei nº. 13.430, de 13 de setembro de 2002), Belo Horizonte (Lei nº. 7.165 de 27 de
agosto de 1996) e Porto Alegre (Lei complementar nº. 434, de 01 de dezembro de 1999).

O Plano diretor, na verdade, é instrumento antigo afeto ao Urbanismo e ao Direito Municipal e, um pouco
mais tarde, ao Direito Urbanístico.

Assim como o conceito de Urbanismo, o conceito de Plano diretor - também chamado de Plano Regulador
(Master Plan) - evoluiu de uma visão apenas voltada à estética (embelezamento da cidade) "para o de
previsão e orientação geral do desenvolvimento da área planificada - cidade e campo".[2]

Hely Lopes Meirelles entende o plano diretor como

"o programa integral e perene de desenvolvimento do Município (crescimento urbano e melhoramento de


suas condições de vida) visando a conduzir a cidade e o campo aos índices racionais de progresso que
seus habitantes almejam."[3]

"O Plano urbano não é perspectiva ideal do futuro, nem mera tarefa para ser cumprida de uma só vez; ao
contrário, é uma função municipal concreta e permanente".[4]

Sustenta, ainda, que o município é uno e indivisível, por isso, o Plano diretor estende-se da zona urbana à
zona rural (todo o território do município) [5]. Talvez reflexo dessa idéia, a Lei 10.257/01 traz um disposi-
tivo que abriga essa inteligência de uma cidade inseparável do campo, é o que se depreende do § 2º. do
art.40.

Por último, vale destacar que apenas com o plano diretor se torna possível a aplicabilidade dos instrumen-
tos presentes no Estatuto da Cidade.

2. A LEI Nº. 10.257/01 E A EXIGÊNCIA DE UM PLANO DIRETOR

"Art. 41. O plano diretor é obrigatório para cidades:

I - com mais de vinte mil habitantes; II - integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;
III - onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no § 4º. do art. 182 da
Constituição Federal; IV - integrantes de áreas de especial interesse turístico; V - inseridas na área de
influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou
nacional.

§ 1o No caso da realização de empreendimentos ou atividades enquadrados no inciso V do caput, os re-


cursos técnicos e financeiros para a elaboração do plano diretor estarão inseridos entre as medidas de
compensação adotadas.

§ 2o No caso de cidades com mais de quinhentos mil habitantes, deverá ser elaborado um plano de
transporte urbano integrado, compatível com o plano diretor ou nele inserido."

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Conforme o art. 41, alguns municípios têm obrigação de possuírem o seu Plano diretor mediante lei muni-
cipal. Sendo assim, subentende-se também que algumas cidades não estão obrigadas a possuírem um
Plano diretor, mas mesmo essas cidades não são impedidas de possuí-lo, e sempre será vantajoso para a
comunidade o planejamento de sua cidade.

A preocupação com o planejamento e ordenamento das cidades, como já explicitado, não é nova.

Contudo, apenas a partir de 2006 o ordenamento jurídico brasileiro tornou, em determinadas circunstân-
cias, a criação da lei do Plano diretor uma exigência legal.

Havia um prazo de cinco anos para a elaboração do Plano diretor para aquelas cidades que se enquadras-
sem nos incisos I e II do art. 41. Não há prazo para os outros incisos. Assim, conforme esta norma, al-
gumas cidades deveriam aprovar a lei que instituísse o Plano diretor até o dia 10 de outubro de 2006.

A realidade nos mostrou o quanto o Poder Público estava desorganizado e pouco capacitado (dos municí-
pios pesquisados, em 65% dos casos houve terceirização), naquele momento, para a consecução dos
mandamentos do Estatuto da Cidade. Foi possível perceber também a falta de conhecimento da grande
maioria da população brasileira quanto às questões de Política Urbana. É o que se verifica em estudos
realizados pelo Ministério das Cidades sobre terceirização e consultoria e sobre questões de enfrentamen-
to prioritário no Plano diretor por região metropolitana e região integrada de desenvolvimento [6].

Por conseguinte, esta constatação nos leva a defender a idéia de que é necessário disseminar, na socie-
dade, a reflexão acerca de temas sobre a cidadania participativa.

O Plano diretor possui algumas peculiaridades que condicionam a sua validade. O art. 42 estabelece um
conteúdo mínimo para todo Plano diretor e o § 4º do art. 40, em seus incisos I, II e III, traz uma série de
deveres-garantias, como a realização de audiências públicas (inciso I).

Deveres-garantias porque ao mesmo tempo em que os Poderes Executivo e Legislativo têm a obrigação
de promover debates (inciso I) e de dar publicidade à documentação que se produziu no processo de ela-
boração do Plano diretor (inciso II), também a sociedade tem a garantia legal de acesso a esses docu-
mentos (inciso III).

Sendo assim, muitos municípios não conseguiram atingir esse objetivo no prazo legal. Nessa conjuntura,
como medida contraceptiva de um cenário de ilegalidade, entrou em vigor, em 9 de maio de 2008, a Lei
nº. 11.673, prorrogando esse prazo para o dia 30 de junho de 2008.

3. DA REVISÃO DO PLANO DIRETOR

Conforme a interpretação do § 3º. do artigo 40, todas as cidades obrigadas a ter a lei do Plano diretor
deverão revisá-la, num período posterior não superior a dez anos.

Tal exigência fundamenta-se na necessidade de adequação do plano diretor às vicissitudes do tempo que
muitas vezes modifica a realidade social, econômica e política em âmbito local. Revela o aspecto dinâmico
do planejamento, medida que torna o Plano regulador das cidades consentâneo ao momento histórico a
que se aplica. Poderíamos dizer, também, que é norma que visa maior amplitude à efetiva eficácia social
das finalidades do Plano diretor, o planejamento e a ordenação.

4. DA NECESSIDADE DE FORMAÇÃO DE CIDADÃOS REALMENTE ATIVOS COMO MEIO CONDICIONANTE


DA REAL EFETIVIDADE DO PLANO DIRETOR.

O Plano diretor é importantíssimo para se alcançar o controlado crescimento vertical e horizontal (físico)
das cidades, bem como o planejamento e utilização dos espaços urbanos, atendendo a estudos mais com-
prometidos com o meio-ambiente, com a própria comunidade.

Na verdade, a lei do Plano diretor revelou-se, sobretudo, como um dos instrumentos imprescindíveis para

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a formação, capacitação e aperfeiçoamento de cidadãos. Cidadãos conscientes e participativos nas toma-
das de decisões não só da sua cidade, mas da região e do país em que vivem.

Existe em quase todos os Planos Diretores criados pelos municípios a previsão legal da criação de condi-
ções propícias à capacitação da sociedade [7]. Entretanto, raros são os municípios que efetivamente têm
concretizado a possibilidade de tais condições, tornando assim tal dispositivo legal uma espécie de norma
programática a exigir do Estado uma atuação futura.

Se a sociedade não for capacitada, mais uma vez - assim como tem sido desde 2001 - aos brasileiros não
será permitido participar dos debates e audiências públicas de forma plena, e por isso, sendo apenas par-
te formal na elaboração do Plano Diretor, muitas vezes se quer saber dos tantos interesses que gravitam
a cerca da Política Urbana [8] (questões de especulação imobiliária, de meio-ambiente, de aplicação dos
instrumentos do art. 4º. da Lei 10.257/01 etc.).

Cumpre ao plano diretor não apenas o planejamento, mas "o atendimento às necessidades dos cidadãos
quanto à qualidade de vida, a justiça social (...) ".[9]

A população brasileira deve estar preparada quando chegar o momento da revisão dos planos diretores e
isso somente ocorrerá se as pessoas tiverem o direito de serem preparadas para o exercício da cidadania.
Mas uma cidadania real voltada à emancipação social e ao desenvolvimento das potencialidades individu-
ais.

É preciso criar centros de ensino e formação para a cidadania. Além dos assuntos de cidadania e partici-
pação social devem ser introduzidos conteúdos de Ciências Humanas, com destaque para o Direito. E será
neste momento que os cidadãos terão oportunidade de compreender juridicamente o que significa o Esta-
tuto da Cidade, pois entenderão o que são instrumentos de Política Urbana: Plano Diretor, Gestão Orça-
mentária e Participativa, IPTU progressivo no tempo, Direito de Superfície, Direito de Preempção, Regula-
rização Fundiária, entre outros. Somente desta forma a população terá ciência da importância de sua par-
ticipação na gestão da cidade. Somente assim poderemos compreender a real intenção do legislador ao
exigir esse como um dos requisitos para a validade do processo de elaboração dessa lei municipal.

1. BRAZ, Petrônio. Tratado de Direito Municipal. 2007, p. 598. Ainda neste sentido, vale citar trecho de
uma obra que demonstra esse cuidado também em outros países americanos: "En años recientes se viene
acentuando cada vez la necessidad de disponer de métodos inteligentes para guiar el crescimiento de las
ciudades. Se ha hecho convicción general que el desarrolo futuro de cada comunidad debe ser cuidado-
samente planeado y no permitirse que se efectúe siguiendo los dictados de urgencias momentáneas, o los
deseos, sin regulación ni tasa, de los especuladores em propiedades urbanas". MACDONALD, Austin F.
Gobierno y administracion municipal. 1959, p. 427.

2. MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro. 1964, p.345.

3. Ibidem, p. 346.

4. MEIRELLES, ob. Cit., p. 346-347.

5. MEIRELLES, ob. Cit., p. 341-342.

6. Para mais detalhes consulte os "links" disponibilizados nas referências, logo abaixo.

7. Veja, e. g., o inciso II do art. 173 da Lei Municipal nº. 5.486/2005, que institui o Plano diretor da cida-
de de Maceió e que diz: "Art. 173. O Poder Executivo Municipal implantará o Sistema Municipal de Plane-
jamento e Gestão Urbana com os seguintes objetivos: (...) II - promover a participação de setores orga-
nizados da sociedade e da população nas políticas de desenvolvimento territorial, voltando as ações do
Governo para os interesses da comunidade e capacitando a população de Maceió para o exercício da cida-
dania";

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8. Nesse sentido, vale citar importante observação de Flávio Villaça: A elite econômica brasileira - no caso
representada pelos interesses imobiliários - não quer saber de plano diretor, pois ele representa uma o-
portunidade para debater os ditos "problemas urbanos" que ela prefere ignorar. A experiência recente em
diversas capitais (Rio de Janeiro, Belém, São Paulo), revela claramente que as forças e interesses do setor
imobiliário não querem saber de plano diretor. Dilemas do Plano diretor. p. 240.

9. TOBA, Marcos Mauricio. In: Estatuto da Cidade: Lei 10.257, de 10.07.2001. 2004, p. 237.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRAZ, Petrônio. Tratado de Direito Municipal: Direito Administrativo, Administração Pública e Direito Mu-
nicipal. V. I. 2ª. ed., São Paulo: Mundo Jurídico, 2007.

DALLARI, Adilson Abreu; FERRAZ, Sérgio (coord.). Estatuto da Cidade: comentários á Lei Federal
10.257/2001. 1ª. ed., 2ª. tiragem. São Paulo: Malheiros, 2003.

MACDONALD, Austin F. Gobierno y Admininstración Municipal. La experiencia de los estados Unidos. 1ª.
ed. em español. Fondo de cultura econômica (México, Buenos Aires), 1959.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Municipal Brasileiro, V. I. 2ª. ed., revista e ampliada, São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais Ltda, 1964.

SANTOS, Maurício Barbosa dos. Estatuto das Cidades - uma arma contra os inimigos. 2ª. ed. São Paulo:
J.H. Mizuno Editora Distribuidora, 2004.

TOBA, Marcos Mauricio. In: Estatuto da Cidade: Lei 10.257, de 10.07.2001, comentários/ Coordenadores
Odete Medauar, Fernando Dias Menezes de Almeida. 2ª. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revis-
ta dos Tribunais, 2004.

VILLAÇA, Flávio. Dilemas do Plano Diretor. In: Fundação Prefeito Faria Lima - Cepam. O Município no sé-
culo XXI: cenários e perspectivas. Ed. Especial, São Paulo, p. 237-247, 1999.

Fonte: http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20081009153048944

3. SIMULADOS

3.1. No Plano Diretor de Reforma do Aparelho do Estado, divulgado em 1995, um dos objetivos gerais era
limitar a ação do Estado àquelas funções que lhes são próprias, reservando, em princípio, os serviços não-
exclusivos para a propriedade pública não-estatal. De acordo com a Lei Ordinária no 9.637/98, em relação
às parcerias a serem firmadas entre Poder Público e Organizações Sociais é correto afirmar que
a) o contrato de gestão deve ser elaborado unilateralmente pelo órgão ou entidade supervisora e discri-
minar as atribuições, responsabilidades e obrigações do Poder Público e da organização social.
b) as atividades abrangidas são aquelas dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento
tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura, à saúde, à segurança e à moradia.
c) a destinação de bens públicos às organizações sociais para o cumprimento das suas responsabilidades
e obrigações é expressamente vedada.
d) o contrato de gestão deve conter especificação do programa de trabalho proposto pela organização
social, a estipulação das metas a serem atingidas e os respectivos prazos de execução.
e) a execução do contrato de gestão será fiscalizada pelo Tribunal de Contas da União que encaminhará à
autoridade supervisora relatório conclusivo sobre a avaliação.
Resp: D

3.2. Segundo o plano diretor da reforma do aparelho do Estado, o terceiro setor é entendido como aquele
de atuação simultânea do Estado e da sociedade civil na execução de atividades de interesse público ou
social não-exclusivas do Estado. São entidades do terceiro setor, por exemplo, as autarquias qualificadas

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como agências executivas, por meio de contrato de gestão, após o qual estão autorizadas a executar ati-
vidades mais eficientes de interesse público.
Certo( ) Errado( )
Resp: E

3.3. Não constitui requisito para a caracterização da função social da propriedade para fins rurais o(a)
a) aproveitamento racional e adequado do espaço.
b) utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e a preservação do meio ambiente.
c) preservação da flora e da fauna nativas.
d) observância das disposições que regulam as relações de trabalho.
e) exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
Resp: C

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