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O Trabalho do Espírito Santo

na Revelação
Professor Fr. Georges Florovsky
Do “The Christian East” Journal Vol. XIII No. 2 (págs. 49–64) 1932

Tradução: Rev. Pedro Oliveira Junior

“Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje, e eternamente” (Heb.13:8)

É sempre a primeira definição que é a mais difícil. Nela, nós não temos nada ao qual nos
referirmos, nada do qual se pode tirar deduções. Não devemos provar, mas mostrar; devemos
olhar e ver.
E agora mesmo estou muito agudamente consciente da dificuldade de falar de princípios
iniciais.
Revelação é um fato primordial, o dom inicial do Cristianismo, da vida e fé Cristã. “Mas
Deus no-las revelou pelo Seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as
profundezas de Deus... assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de
Deus” (I Co 2:10-11). E de novo “... e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo
Espírito Santo” (I Co. 12:3)
Em nossa concepção usual de Revelação há uma certa heterogeneidade, até mesmo uma
certa ambigüidade. E a primeira coisa que temos que fazer e descobrir no que consiste esta
heterogeneidade, e como podemos pô-la de lado. Num certo sentido, o mundo todo é a
Revelação de Deus. A criação do mundo é uma revelação, “uma manifestação de Deus” em
“imagens concebíveis.” O mundo todo testemunha Deus, Sua Sabedoria, Misericórdia e Amor.
Isto é chamado de “Revelação através da Natureza.” Esta é a Revelação material, por assim
dizer, a Revelação que é imanente na própria natureza e essência das coisas; que está escrita e
implantada nela. Acima de tudo ela existe na própria natureza do homem; o homem que foi
criado e feito na imagem e semelhança de Deus. Esta é a “Lei de Deus ... escrita nos corações
dos homens” (Ro. 2:15).
Mas se falando estritamente, esta não é a Revelação no significado direto da palavra.
Aqui é melhor falar não de Revelação, mas de manifestação de Deus. Na Natureza, visível e
invisível, Deus está manifestado, não revelado. Na Natureza e na alma do homem nós
encontramos somente “certos traços de Deus,” “vestigia Dei naturalia.” Porém, até ai, isto não é
Teofania. É somente um testemunho de Deus; e daí a mente humana pode concluir ou pressupor
a existência de Deus; tornar-se consciente de Deus. Pode adivinhar Deus em Suas obras. Isto dá
nascimento à “procura por Deus,” ao desejo religioso, às necessidades religiosas, ainda não
claras e hesitantes. “Para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar;
ainda que não está longe de cada um de nós” (At. 17:27). Mas isto, ainda não é o conhecimento
de Deus, não é ver ou conhecer. Estritamente falando, Revelação não é a essência fundamental
de toda vida religiosa. Além disso, nós temos o direito de falar que Revelação, em geral, não é
religião, mas é maior do que religião. É algo diferente, à parte de religião. Não é a manifestação
de Deus na Sua criação, nos seres criados por Ele, mas uma visão direta de Deus, concedida ao
homem. Deus está manifestado em tudo e sempre. Aqui nós estamos diante de uma certa
continuidade, a continuidade da Divina Onipresença Dele “Que é onipotente e onipresente.”
Mas não em todos os lugares e não para todos a visão de Deus é concedida. Não há
continuidade nas Teofanias. Aqui nós estamos num reino de rupturas e interrupções, de
interrupções no fluxo continuo da ordem natural do mundo, apesar disto também ser estabelecido
por Divino Comando e Divina Providência, pela Providência do Onipotente Criador. Este é o
reino do sobrenatural, e somente “sobrenatural” é a Revelação de Deus no real significado da
palavra. Na “Religião da Natureza” o homem reconhece e adivinha Deus; busca-O e procura por
Ele, pois “Ele não está longe de nenhum de nós.” Mas este é só o caminho do homem para Deus.
Revelação é o caminho de Deus para o homem. Isto é além da natureza, sobrenatural, isto é algo
novo e diferente, algo maior do aquela força de movimento e de vida que foram implantadas em
cada um dos seres criados pelo pré-eterno e criativo “Fiat.”
Ou, em outras palavras, na Natureza o Criador é manifestado como o Criador da
vitalidade, o Doador da existência e da vida. Mas no sobrenatural, no que está acima da natureza,
Deus em Sua Transcendência aparece como Aquele Que fala, Que, em diferentes tempos e de
diversas maneiras falou intimamente, no passado, para os Padres pelos Profetas, falou agora,
nestes últimos tempos, para nós pelo Seu Filho (Heb. 1:1-2). Deus é revelado no Verbo, e
somente a palavra de Deus é Revelação em seu significado direto e exato. Revelação é a Voz
Divina, a Voz de Deus, falando para o homem. O homem ouve esta Voz, presta atenção a ela,
aceita-a e compreende a Palavra Divina. Pois Deus fala de maneira que o homem possa ouvi-Lo.
Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança, para que ele pudesse ouvir a Sua Voz e Sua
Palavra, pudesse ouvir, e mais do que isto, ele deveria entesourá-la, lembrar dela e mantê-la.
Quando nós falamos de Revelação, nós temos em mente somente a Palavra de Deus, que foi
ouvida por nós. Alguns a ouviram diretamente, sem intermediários, e estes foram os grandes
iniciados e profetas. Outros a ouviram através da mediação daqueles que foram comandados por
Deus e, pelo poder e ajuda do Espírito Santo, para repetir o que tinham ouvido e visto carregá-la
e escrevê-la. A Sagrada Escritura é o registro escrito da Revelação que eles ouviram, e foi Deus
Quem deu a eles a Força, através da efusão do Espírito Santo, para carregar e escrever Suas
palavras. O mistério sagrado da Divina inspiração não pode ser completamente compreendido a
fundo por nós. Nós não conseguimos entender completamente, de que maneira os “Homens
Santos de Deus” ouviram o Verbo do Deus deles e como eles repetiram com suas próprias
palavras. Mas mesmo na transmissão deles foi a Voz de Deus, a Voz do Espírito Santo que foi
ouvida, e a frágil voz humana, a voz da carne e do sangue, não teve parte nisto. É nisto que está o
milagre e mistério da Sagrada Escritura, que é a Palavra de Deus, a Palavra do Espírito Santo,
Que “falou pelos profetas,” e ainda assim é a Palavra do Espírito em linguagem humana. E seja
qual for a maneira que nós entendemos a Divina inspiração da Escritura, uma coisa é importante:
ela transmite e preserva para nós a Voz Divina na língua do homem. A Escritura transmite e
preserva pra nós a Palavra Divina tal como ela foi ouvida, como ele soou para a alma receptiva
do homem. O mistério da inspiração Divina não é somente que Deus falou para o homem, mas
também que o homem estava prestando atenção em Deus e O ouviu. Deus desce para o homem,
mostra Sua Face para o homem, fala com ele. E o homem vê Deus, se perde na visão de Deus, e
descreve o que ele viu e ouviu, dando testemunho do que foi revelado para ele. Ai está o
significado das visões Divinas do Velho Testamento, das Revelações do Velho Testamento. Nelas
há um certo antropomorfismo essencial, e isto não é tanto pela fraqueza do entendimento
humano, ou por um senso de “adaptabilidade,” mas por um antegozo da vindoura encarnação. É

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já no Velho Testamento que o Verbo Divino se torna humano, é encarnado na linguagem humana.
E há um outro ponto de grande importância. Se nós queremos o Verbo Divino falando claro, a
linguagem humana não pode perder suas qualidades naturais. Ela não pode abandonar o ser
humano. O que é humano não é suprimido ou varrido pela inspiração Divina; é somente
transfigurado. O sobrenatural não vai contra o que é natural.
É por esta razão que Deus escolhe falar em linguagem humana, para que através da
inspiração, do Sopro Divino da Onisciência e da Sabedoria, a natureza humana seja completada,
realizada. A linguagem humana não enfraquece ou diminui o absoluto da Revelação. Ela não
limita o poder da Palavra de Deus. A palavra de Deus pode ser exata e estritamente expressada na
linguagem do homem, que é criado na imagem e semelhança de Deus, na imagem do Verbo de
Deus segundo alguns Padres da Igreja. A Palavra de Deus não fica obscura porque ela soa e é
pronunciada na linguagem do homem. Ao contrário, a palavra humana se torna transfigurada,
transubstanciada, porque Deus Se dignou falar em linguagem humana. O Espírito Divino sopra
no organismo do discurso humano, na substancia das palavras humanas. E por isso, a linguagem
do homem adquire força e firmeza. Ele torna possível a palavra do homem falar de Deus. A
teologia se torna possível.
Estritamente falando o desenvolvimento da teologia só é possível através da Revelação. É
o discurso do homem que responde à Deus, como testemunho do homem de que Deus falou com
ele; Cuja voz ele ouviu e relembrou, e Cujas palavras ele guardou e as está repetindo. A assim
chamada “teologia natural” não é teologia no verdadeiro significado da palavra. É mais filosofia,
uma palavra sobre o “Deus Desconhecido,” a Quem a alma humana, sem descanso busca, mas
ainda não encontrou; freqüentemente ela perde o seu rumo nesta busca. Esta é a “Palavra sobre
um Deus Que ainda não Se revelou; sobre o Qual o homem não pode dizer nada, a menos que
sua alma almeje por Ele e anseie por Ele, como o cervo anseia pela fonte de água.” E é somente
através da Revelação que a verdadeira teologia se torna possível. Pela primeira vez em resposta à
Revelação, a verdadeira oração jorra palavras de testemunho, palavras de adoração, de
agradecimento e petição. De novo é uma resposta para a Palavra de Deus.
Na Sagrada Escritura nós somos, antes de tudo, chocados com a relação íntima de Deus
com o homem e do homem com Deus. Na Escritura nós não vemos só Deus mas o homem
também. É a Revelação de Deus, mas é também uma revelação relativa ao homem. Deus Se
revela para o homem, aparece diante dele, Se torna visível para ele, fala com ele, para revelar o
significado oculto da sua existência, para mostrar para ele o caminho e significado da vida
humana. Na Escritura nós vemos Deus vindo Se revelar para o homem, e vemos o homem
encontrando Deus e não só prestando atenção em Suas Palavras, mas respondendo a elas. Na
Escritura nós ouvimos não só a Voz de Deus, mas também a voz do homem respondendo à Ele,
em palavras de oração, agradecimento, adoração, pesar e contrição. Deus quer, espera e demanda
estas respostas. É para isto que Ele fala com o homem. Ele espera que o homem responda para
Ele. Ele está esperando que o homem fale com Ele. E Ele cria Sua aliança com o homem.
Revelação é a história desta aliança. Revelação registrada — a Sagrada Escritura — é,
antes de tudo, história. Lei e profetas, salmos e profecias são incluídos e costurados na rede
histórica viva.
A Escritura é história, a história do mundo criado por Deus, e a história do homem que é
chamado para ser o sacerdote, o profeta e o rei deste mundo. A Escritura começa com a criação
do mundo e é trazida até a véspera da nova criação. “Eis que faço novas todas as coisas” (Apoc.
21:5). Entre estes dois pontos extremos, o do primeiro criativo “Haja,” e o da última profecia, a
rede viva da sagrada Escritura se desdobra dinamicamente. Revelação não é somente um sistema

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de palavras Divinas, mas, acima de tudo, o sistema de obras Divinas. Esta é a razão para a
extensão do tempo na Sagrada Escritura. Nós podemos dizer que a Revelação foi o caminho de
Deus na história. E o ponto culminante será atingido quando Deus entra na história por todo o
tempo; quando o verbo de Deus é encarnado, quando o Deus-homem é revelado.
Revelação é também o livro do destino humano. Antes de tudo, é o livro que narra a
queda e a salvação do homem. Ele fala do primeiro paraíso criado, da expulsão de Adão como
conseqüência do seu pecado; da primeira promessa de salvação, o assim chamado “Primeiro
Evangelho” (Ge. 3:15). Ele fala do caminho decaído que o homem teve que percorrer aqui na
terra, das novas promessas, e, finalmente, do escolhido “Pai de todos os fiéis,” Abrahão e da
aliança feita com ele. É a partir daí que o real Velho testamento começa. O Velho testamento é a
história sagrada de Israel, a história daquele povo único, o povo escolhido por Deus, com quem
Deus concluiu a Sua aliança. Aqui o ponto mais importante é o fato da eleição; a separação de
Israel, a colocação de Israel à parte de todos os outros povos. Israel é o oásis sagrado, dado pela
graça na história da humanidade decaída. Somente com um povo na terra Deus concluiu Sua
aliança, e deu a ele a Sua própria lei, Divinamente inscrita em tábuas de pedra. Deus estabelece
no meio deste povo um verdadeiro sacerdócio, ainda que somente temporal e profético. Ele
levanta no meio dele os profetas, que falam palavras inspiradas pelo Espírito de Deus. Antes de
Cristo foi somente em Israel que existiu um verdadeiro sacerdócio, e não um sacerdócio idólatra.
Por isto, era somente lá que um serviço Divino verdadeiro era realizado. Só ali existiam
sacrifícios oferecidos, agradáveis aos olhos de Deus. Somente ali existia um verdadeiro templo
de Deus, o único templo desta ordem em todo o mundo. Era um centre sagrado para todo o
mundo — um oásis concedido pela Graça de Deus, no meio de um mundo pecaminoso e não-
redimido. É por ali que a santificação começa, “... uma nuvem encheu a casa do Senhor” (I Reis
8:10). Esta eleição e separação de Israel é facilmente compreendida e explicada de um ponto-de-
vista histórico, pela missão histórica de Israel. Israel é a primícia da humanidade. Sua missão
histórica conduz ao nascimento em seu meio do Salvador do mundo. Lá era para acontecer no
limite extremo a Revelação final de Deus, a Encarnação do Verbo. Foi por esta razão que a
legislação do Monte Sinai foi concedida a este povo. Por conta disto os profetas falaram. O
significado sagrado do Velho Testamento é que ele é a história dos ancestrais de nosso Salvador,
e é por isto que os Evangelhos começam sua narrativa mencionando eles: “Livro da geração de
Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abrahão” (Mt. 1:1). “... porque a salvação vem dos judeus”
(Jo. 4:22). O Velho Testamento é o período da expectativa Messiânica, o tempo de alianças e
profecias. Não são só os profetas que profetizam. Eventos também se tornam profecias. A
história do Velho Testamento é, como um todo, um tipo de imagem antecipada, um símbolo
histórico, um olhar antecipado sobre eventos que se aproximam. O Bem-aventurado Agostinho
disse: “O Novo Testamento está contido no Velho, e o Velho é revelado no Novo: In Vetero
Testamento Novum latet, in Novus Testamento Veterus patet; a tensa expectativa Messiânica
culmina com o aparecimento do Deus-Homem. “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus
enviou Seu Filho, nascido de mulher...” (Ga. 4:4). O tempo de expectativa passou; a promessa foi
cumprida; o Senhor veio. Ele veio para habitar e permanecer entre aqueles que acreditarem Nele:
“... e eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mt. 28:20). A
história do Velho Testamento está terminando, a história da carne e do sangue. A história do
Espírito está começando, o Reino da Graça e da Verdade está aberto (Jo. 1:17). Mas a lei não é
abrogada mas cumprida (Mt. 5:17), e as profecias foram cumpridas e não se mostraram vãs. O
Novo Testamento foi realizado, revelado e completado no Novo, in Novus patet. E assim os
livros dos judeus ainda são sagrados para os Cristãos. Não somente porque, no passado, Deus

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falou para Israel, mas também porque agora a Palavra de Deus deve ser ouvida nas Escrituras, e
agora através destes livros eternos, eternamente vivos a Revelação de Deus continua a ser
mostrada para nós. É nisto que o mistério das Escrituras consiste. Este é o mistério da palavra
inspirada, transfigurada, transubstancial. Isto não significa que as Escrituras são usadas como
livro de parábolas, como livro de exemplos e casos históricos, como coleção de textos ou
instancias teológicas (Loci Theologici). Não, as Escrituras permanecem como livro de história, e
é somente como livro de história sagrada que preserva todo o seu poder. A lei já foi posta de
lado e foi substituída por algo muito maior. O Templo não existe mais em Jerusalém e a Casa de
Israel está vazia (Lc. 13:35). A profecia foi cumprida.
No entanto, na sagrada história os eventos não simplesmente tem lugar e passam, mas
eles são realizados e cumpridos, são completados. O Passado não significa “passado” ou “o que
era,” mas acima de tudo ele tem sido realizado. Realização é a essência fundamental da
Revelação. O que se tornou sagrado permanece Santo para sempre e sem mudança. Ele tem o
selo, o sinal, e a bênção do Espírito Santo. Pois até o presente momento o Espírito Santo sopra
sobre as palavras uma vez inspiradas por Ele. O Velho Testamento é, acima de tudo, um livro
para nós. O Novo Testamento é mais do que um livro. O Velho Testamento nós vemos
claramente o significado da Revelação como de uma Palavra. Então nós testemunhamos o
Espírito Santo “que antigamente falou muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos
profetas” (Hb. 1:1). No Novo Testamento Deus nos falou pelo Seu Filho, e nós fomos postos não
só a ouvir, mas a ver, também.
Nós admitimos que o Velho Testamento é um livro difícil. E com o passar do tempo ele
não se torna mais fácil. Talvez, ao contrário, seja mais difícil para nós o lermos do que o foi para
nossos ancestrais. Aqui não é a hora nem o lugar para discutir a questão da “autenticidade
histórica” do Velho Testamento. Não temos tempo aqui para desenrolar o complexo e difícil
problema do assim chamado “Elevado Criticismo.” Isto nos envolveria demasiado e gastaria
muito tempo para o presente trabalho. Mas todas estas investigações críticas não tocam no
principio fundamental da Revelação; não a desviam da sua Divina inspiração. A crítica científica
não pode provar o valor sagrado das Escrituras, nem refutá-lo. Inspiração Divina não é uma
categoria de ciência autônoma. A razão do homem, deixada de per si, não consegue sentir
inspiração. A inspiração Divina pressupõe uma certa ruptura com a ordem natural. Nós
precisamos de um jeito especial de ver para podermos a reconhecer. Isto não significa, de modo
algum, que a razão e a fé não podem ser unidas, e que a razão não conhece verdades e postulados
religiosos: que a verdade religiosa, a verdade da Revelação, não é obrigatória nem convencedora
pela razão. Ao contrário! Mas para conseguir isto, a própria razão deve ser transfigurada. De um
mundo bidimensional nós devemos passar para um mundo de três dimensões; nós devemos sentir
profundamente. Aqui está o núcleo da questão teológica do Elevado Criticismo. Para sermos
capazes de sentir o sopro do Espírito na Sagrada Escritura, nós devemos “aspirar pelo Espírito,”
nós devemos possuir intuição e percepção espiritual. Nós devemos apreender a discernir entre
profanus et sacrum; nós devemos conhecer e sentir o que é profanus e o que é sacrum. Nós
devemos admitir e saber que há um sacrum bem à parte do profanus. E esta transfiguração de
nossa consciência somente pode ser realizada na Igreja, na sua plenitude carismática espiritual. A
Revelação foi concedida para a Igreja, não para indivíduos. Também no Velho Testamento as
“Palavras de Deus” foram confiadas não para indivíduos, mas ao povo de Deus (Ro. 3:2). A
Revelação foi dada somente para a Igreja, e somente na Igreja ela é acessível a nós; isto é, ela é
acessível somente na plenitude da vida espiritual. Fora da Igreja, para estranhos à ela, a

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Revelação se torna turva, não convencedora. Esta turbidez vem do lado inferior da nossa
desatenção, da nossa ausência de intuição.
O ápice da Revelação está nos Evangelhos. Pois a totalidade da Revelação — é Cristo! O
Novo Testamento é também, antes de tudo, história. A história do Evangelho do Verbo encarnado
e do começo da história da Igreja, que aguarda agora pela sua complementação apocalíptica. A
base dos Evangelhos são fatos, eventos, realidades, não somente comandos, ensinamentos,
palavras. Aqui a base é Cristo e a Igreja, Seu Corpo. “Que é o Seu Corpo, a plenitude Daquele
Que cumpre tudo em todos” (Ef. 1:23). Os Evangelhos são história. Eventos históricos são o
tema e a fonte da fé e da esperança Cristãs. Desde o início, desde o próprio dia do Pentecostes,
quando o Apóstolo Pedro como testemunha ocular, (“... do que todos nós somos testemunhas,”
At. 2: 32b), testemunhou a plenitude da salvação, a pregação apostólica tomou um caráter
histórico. Mas, outra vez, é história sagrada. Os Apóstolos sempre falaram de fatos e eventos
historicamente concretos. Eles levaram vividamente a imagem de Cristo para a consciência dos
ouvintes, eles a faziam viva de novo, e mostravam quem Ele fora. O caráter único, a maravilha
desta Figura histórica consiste no fato de que Ele Que Se tornou visível, e Quem nós vimos, era o
Filho de Deus, o Salvador do mundo. Portanto, são os limites humanos que pertencem a um
mundo de duas dimensões, que não conseguem abranger esta Imagem. Ela os transcende; e
dentro das fronteiras históricas nós vemos o que é super-histórico, o que está acima da terra. Mas
as fronteiras não são obliteradas, não são varridas, não são apagadas; na Imagem histórica as
características ainda são visíveis. Ai estão a importância e o significado da pregação apostólica
que é uma narrativa, uma narrativa do que os próprios apóstolos viram e ouviram, do que
aconteceu e foi realizado hic et nunc. “O que ouvimos com os nossos olhos, o que temos
contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida” (I Jo. 1:1). Mas o que aconteceu não
foi ouvido: “E o Verbo Se fez carne” (Jo. 1:14). De maneira que esta narrativa é mais do que
meramente uma narrativa. Ela não somente o que teve lugar, mas algo que foi realizado e
completado. Através da visão histórica nós podemos ter intuições do que é visível somente aos
olhos da fé, do que somente poucos viram e ouviram durante o tempo de vida do Salvador; do
que até mesmo os Apóstolos viram e realizaram completamente somente depois, depois de Sua
Ressurreição, quando Ele já abrira a compreensão deles para que pudessem entender os mistérios
das “Escrituras, do Reino de Deus” (Lc. 24:45). O Evangelho é uma narrativa, uma imagem, mas
é uma narrativa sobre o Deus-Homem. Mas por ser simplesmente uma narrativa e um
testemunho histórico há uma certa reserva nela. O escopo da fé é mais do que reminiscência. A fé
cresce viva, em reconhecimento criativo do que foi visto e ouvido em comunhão com Cristo. Os
Evangelhos dão uma imagem única, integra, imagem tanto Divina quanto humana — a imagem
de Deus tornado homem. Para aqueles cuja capacidade de percepção não é bastante o suficiente,
esta imagem com freqüência aparece como duas imagens separadas, como para aqueles que O
viram na carne, enquanto seus corações não estavam iluminados pela fé. Os Evangelistas e os
Apóstolos não eram cronistas. Não foi missão deles contar tudo o que foi feito por Jesus, dia a
dia, ano a ano. Eles descreveram Sua imagem e relataram Suas obras, para nos dar Sua imagem,
uma histórica, porém Divina imagem. Os Evangelhos podem ser chamados de “Ícone
histórico,” um ícone em palavras, não em linhas e cores, mesmo assim um retrato de Sua face.
Ou, para ser mais exato, os Evangelhos são quatro não um ícone, um ícone quádruplo do Deus-
Homem. E estes ícones foram delineados pelo poder do Espírito Santo. Os Evangelhos são o
registro das “boas novas” apostólicas, e a pregação dos Apóstolos não “consistiu em palavras
persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder.” E as numerosas
reminiscências separadas a figura de Jesus cresce, e o coração sensitivo reconhece em Jesus de

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Nazaré, crucificado e ressuscitado, o Salvador do mundo e o Deus-Homem. O plano terrestre do
Evangelho é sempre misteriosamente transparente, e através da evidência histórica nós vemos o
brilho da realidade Divina. É verdade que nem todos vêem isto, assim como nem todos viram
então. E não “carne e sangue, mas o Pai Que está no céu revelou que Ele era o Filho do Deus
vivo” (Mt. 16-17). Na misteriosa mistura das duplas características, a Face do Deus-Homem
aproximou-Se, foi vista e reconhecida. Por isto ela foi descrita pelos Evangelistas. O todo dos
Evangelhos palpita com a plenitude histórica do que foi e é realizado. Mas isto não é
historicamente um fluxo isolado de eventos terrestres, de “eventos naturais.” A narrativa do que
teve lugar é uma narrativa realística. Ela foi, ela aconteceu, este encontro do céu e da terra, de
Deus e o homem. O encontro e a união: “E o Verbo Se fez carne” (Jo. 1:14). E nenhum homem
pode dizer que Jesus Cristo é o Senhor a não ser pelo Espírito Santo. Isto significa que a
Revelação torna-se claramente audível por nós em toda sua totalidade, somente por experiência
espiritual. Por isso, o Confortador, o Espírito de Verdade foi enviado para nós para que Ele “...
nos guie em toda verdade” (Jo. 16:13), para que Ele “vos faça lembrar de tudo quanto vos tenho
dito” (Jo. 14:26). E até os dias de hoje “que a mesma unção vos ensine todas as coisas” (I Jo.
2:27b). Os Evangelhos foram escritos dentro da Igreja. Eles são o registro das “boas novas
apostólicas,” da pregação apostólica, e a força desta pregação construiu a Igreja: “Ide e pregai.”
Os Evangelhos são o registro da experiência e fé da Igreja, registro do que é visível na
experiência da Igreja. É a Imagem viva de Cristo que a Igreja contemplou desde o inicio, e é
somente na Igreja que esta Imagem é total e completamente acessível. Santo Atanásio o Grande
diz: “É o encontro direto e vivo com Cristo, no qual todos os fiéis são revestidos pelo sacramento
do Santo Batismo; nós ficamos satisfeitos pelo Espírito, nós bebemos Cristo.”
A Revelação Divina está preservada na Igreja. Ela é protegida e reforçada pelas palavras
das Escrituras; ela é protegida, mas não exaurida. As palavras das Escrituras não exaurem a
plenitude da Revelação. Elas não exaurem a plenitude da experiência Cristã e das reminiscências
carismáticas da Igreja. A experiência da Igreja é mais ampla do que seu testemunho direto. De
maneira que aqueles que participam da Igreja conhecem infinitamente mais e de modo bastante
diferente do que os “estranhos.” Para aqueles que participam da Igreja, o testemunho do Espírito
torna as Escrituras algo mais claro, mais completo; este testemunho está, mais uma vez, na
experiência pessoal deles. E eis porque nós não podemos falar na “qualidade auto-suficiente” das
Escrituras. Pois estas não são somente preservadas pelo poder da memória humana; elas são
também protegidas pelo poder da Graça na vida carismática da Igreja. Na Igreja, a Revelação se
torna uma experiência espiritual interior. A Igreja em si, já é uma Revelação. Desde o dia do
Pentecostes, quando o Espírito Santo entrou no mundo para habitá-lo, a Revelação teve uma
continuidade ininterrupta. O ardente batismo do mundo criado foi realizado. Ele foi representado
pelos doze Apóstolos e por aqueles que estavam com eles, os “frutos dignos de arrependimento”
(Mt. 3:8). De qualquer modo, as Escrituras exigem que elas sejam expostas e explicadas. E uma
explicação verdadeira será uma que proceda das realidades descritas nas próprias Escrituras. Ela
não pode ser uma explicação externa, mas interna, aparecendo das profundezas da experiência
espiritual. E aqui nós não falamos da intuição espiritual pessoal de cada expositor separado, mas
acima de tudo, da viva plenitude da experiência espiritual da própria Igreja. Porque nesta
experiência elas se tornam vivificadas pelo mesmo Espírito que certa vez as inspirou. Quando a
Igreja expõe as Escrituras ela dá testemunho daquilo que elas testemunham. Mas,
freqüentemente palavras novas são usadas. A Revelação é recebida no silêncio da fé, no silêncio
da contemplação. Este é o primeiro momento silencioso receptivo da teologia. E neste silêncio
contemplativo da recepção a totalidade da Verdade está contida e é dada. Mas a Verdade ainda

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deve ser expressa e pronunciada. Porque o homem é chamado não somente para receber
atentamente a Verdade, mas também para testemunhá-la. Silencium mysticum não exaure o
chamado completo do homem. Ele é chamado para uma atividade criativa, acima de tudo, para a
construção do seu próprio ser. As Palavras de Deus devem se tornar evidentes na realidade do
pensamento humano. As palavras de Deus devem dar nascimento ao pensamento humano. Este é
o momento criativo e positivo do conhecimento de Deus. A realidade Divina revelada na
experiência da Igreja pode ser descrita de várias maneiras. Ou em imagens e símbolos, ou em
poesia e arte religiosa — e esta foi a linguagem dos profetas do Velho Testamento; assim falaram
freqüentemente os Evangelistas, assim pregaram os Apóstolos, e assim a Igreja ainda prega
através das músicas e hinos dos seus ofícios Divinos, no significado simbólico dos seus ritos.
Esta é a língua da pregação ou do testemunho, é a língua da teologia carismática. Ou, a realidade
Divina deve ser descrita nas concepções da mente, em pesquisa. Esta é a linguagem do dogma,
da teologia dogmática. “Pregação” e “Dogma” são os dois caminhos pelos quais a Igreja dá
testemunho da Verdade, da Revelação que ainda continua na Igreja pelo poder do Espírito que
nela continua habitando (Conforme São Basílio o Grande a respeito do Espírito Santo). Esta
Revelação, este aprofundamento, este crescimento no “Conhecimento da Verdade,” é a vida da
Igreja: “Até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão
perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Ef. 4:13).
Dogma é pensamento testemunha da Revelação, do que foi visto, do que foi revelado para
o visível e contemplado na experiência Católica da Igreja. E este testemunho é expresso em
definições e conceitos. Dogma é a sentença da experiência, a visão mental, contemplação
verdadeira. Nós podemos chamá-lo de “imagem lógica” “ícone lógico” da realidade Divina. E,
ao mesmo tempo, dogma é uma definição. Portanto, em ambos casos, um o da forma lógica do
dogma, aquela “palavra interna” que é fixada e tornada definida na expressão exterior, e o da
escolha exterior de palavras, que é tão importante no dogma.
Dogma não é uma nova Revelação, dogma é somente um testemunho, um testemunho da
mente, tal como é digno da experimentada e reconhecida Divina Revelação, a Revelação
concedida e revelada na experiência carismática da fé, dos mistérios da vida eterna, como foi
mostrado pelo Espírito Santo. Todo dogma é revelado pela experiência, através do verdadeiro
contato “com as coisas que se não vêem” (Hb. 11:1).
Isto é a fonte da autoridade dogmática decisiva e da imutabilidade da Verdade, revelada e
preservada desde o inicio. Os dogmas não são desenvolvidos ou mudados. Eles são invioláveis
até mesmo na sua escolha de palavras exteriores. Talvez soe como paradoxo, mas ainda é
verdadeiro dizer que um dogma pode surgir, pode ser estabelecido e expresso, mas não pode ser
desenvolvido. O dogma, uma vez estabelecido, é uma “regra de fé” eterna e inviolável, e a
medida dela. Seguramente isto não significa que algo novo, uma “nova verdade” está sendo
revelada; mas significa que tal verdade está sendo expressa e pronunciada. Em seu testemunho
dogmático a Igreja está expressando e pronunciando verdades preservadas dentro de seus
apriscos. E seu objetivo é encontrar e estabelecer as palavras exatas, que deverão expressar
verdadeiramente a experiência da Igreja. Estas palavras devem ser capazes de transmitir a “visão
da mente” do espírito fiel em experiência e contemplação. Existe um período pré-dogmático da
consciência da Igreja; então a linguagem escolhida era a de imagens e símbolos. Mas depois
chegou o tempo de dar testemunho dogmático. Porque a verdade da fé é também a verdade da
razão, e o pensamento deve entrar no “conhecimento da verdade.” Fazendo isto ele se torna
criativamente transfigurado, o próprio reino do pensamento se torna transfigurado, santificado e
renovado. Quando a Verdade Divina é pronunciada e expressa na língua humana, as próprias

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palavras são transfiguradas, e o fato de que as Verdades da Revelação são transmitidas em
imagens e concepções lógicas, testemunham a transfiguração das palavras e do pensamento, as
palavras se tornam sagradas. As palavras das definições dogmáticas, freqüentemente tomadas
do vocabulário filosófico habitual, deixam de ser simples palavras casuais, que puderam ser e
ainda podem ser substituídas por outras. Não, elas apareceram para serem eternas,
insubstituíveis. Isto significa que na expressão adequada da Verdade Divina, certas palavras, isto
é, conceitos e idéias definidas, ou um modo definido de pensar foram eternalizados e
estabilizados. Isto significa que idéias eternas e absolutas foram buscadas. Por isso, a Verdade da
Revelação pode ser e é adequadamente expressa por elas. Esta Verdade da Revelação foi
positivamente concedida, e não somente postulada. Não algo para ser buscado, mas algo dado.
Por mais incomparável que seja nosso presente conhecimento “em parte” como o prometido
conhecimento “face a face,” ainda assim, agora como sempre, ele é total e perfeito. A Verdade
está sendo revelada na experiência Católica e está sendo expressa em definições dogmáticas.Os
dogmas dos Santos Padres repetem em categorias de pensamentos o imutável conteúdo da
“pregação dos Apóstolos”; eles expressam em palavras de razão dogmas que eram então
narrados nas palavras simples de pescadores, que para isso haviam recebido sabedoria pelo poder
do Espírito.
Pelo poder do Espírito. Nas definições dogmáticas da Igreja nós sentimos novamente o
poder vivific,ante do Espírito de Verdade, o Espírito de Sabedoria. Os dogmas são promulgados
não pelo desejo arbitrário dos homens, mas pela inspiração do Espírito. Normalmente isto foi
feito nos Concílios Ecumênicos, mas às vezes também através da recepção silenciosa das
“ecclesiae sparsae.”
E novamente, os dogmas não exaurem a experiência da Igreja; assim como a Revelação
não é exaurida nas palavras e “letra” das Escrituras. Nas definições dogmáticas a Verdade das
experiências é somente determinada e protegida, mas não exaurida. A experiência e fé da Igreja
são mais completas e maiores do que suas palavras dogmáticas. Há muito para o que a Igreja, até
hoje em dia, dá testemunho em imagens, símbolos e que tais, na teologia simbólica.
Provavelmente, isto permanecerá até o final dos tempos, isto é, na última passagem daqui para
além.
(ver São Gregório, o Teólogo). Desde o primeiro inicio da Igreja foi dada a ela a plenitude da
Verdade. Mas é só gradualmente e “em parte” que esta plenitude está sendo expressa. De modo
geral, aqui nosso conhecimento é sempre um conhecimento “em parte.” A plenitude exaustiva
será revelada somente além, no Segundo Advento, no “encontro com Nosso Senhor.” Daí
procede a incompletude dogmática do testemunho da Igreja; isto também é causado pelo fato da
Igreja estar em um “estado de peregrinação,” in via, de ainda estar sendo “edificada” (Ef. 4:16).
O espírito e a razão humana ainda estão “crescendo.” Os objetivos históricos do conhecimento
de Deus, da compreensão da Revelação, ainda nos desafiam. Ainda há muito que ser realizado.
No entanto, a incompletude e a inexauribilidade de nosso conhecimento atual, não enfraquece a
verdade dele, sua finalidade, a impossibilidade de substituí-lo; não o priva da finalidade para a
qual ele foi dirigido. Dentro dos limites da experiência da Igreja, há muitos mistérios para nós
contemplarmos, mistérios para os quais nenhuma palavra dogmática pôde ser encontrada até
agora. Nestes casos há “opiniões teológicas” e pesquisas. Também pode haver liberdade no
entendimento dos dogmas estabelecidos. Logicamente, aqui não há espaço para a escolha mental
subjetiva e arbitrária. A teologia deve sempre permanecer vital, intuitiva, ela deve ser nutrida
pela experiência da fé, e não deve ser dividida em concepções dialéticas autônomas e isoladas.
Mais uma vez queremos vos lembrar que os dogmas da fé são as verdades da experiência e de

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vida — e por isso eles não podem ser compreendidos por nenhuma síntese ou análise lógica, mas
somente através de vida espiritual, através de uma real participação na plenitude da experiência
da Igreja. Uma “opinião teológica” válida pode ser conseguida, não através de qualquer dedução
lógica, mas somente através de visão direta, e de novo, isto só se consegue através de tenaz
esforço de oração, através de um esforço na busca do Espírito, através de crescimento espiritual
pessoal, através de comunhão viva com a constante experiência Católica da Igreja.
Teologia só pode ser realizada através de uma transformação Católica daqueles que estão
se esforçando para atingir conhecimento. Catolicidade é uma vitória sobre todo tipo de
separatismo. Catolicidade luta contra todo tipo de isolamento individual, contra a auto-afirmação
de exclusividade e isolamento. Catolicidade é uma certa medida de consciência, a medida e
limite do crescimento espiritual. Nesta transfiguração Católica, a personalidade se desenvolve
completamente, e recebe a faculdade e força de expressar a consciência e vida do todo. Aqueles
que lutando para conseguir o desenvolvimento católico, ganharam este poder, o consideram
como um dom do Espírito. Nós denominamos aqueles que expressam a experiência e a
consciência da Igreja, “Padres e Professores ou Doutores da Igreja”; porque deles, nós ouvimos
não somente suas profissões pessoais, mas também o testemunho da Igreja. Eles falam do alto de
sua plenitude Católica. Em suas palavras nós sentimos o sopro do Espírito. A plenitude da
Revelação é assimilada na Igreja, na medida do crescimento espiritual dela. E esta graduação da
profissão de fé está ligada com o crescimento dinâmico da existência da Igreja, com o processo
vital de salvação, santificação e transformação. Não é por acaso (que por sinal não existe), que
são justamente as definições dogmáticas que tratam da construção da “nova criação” e do destino
final da Igreja, que ainda não foram expressas. Porque isto ainda não se realizou no tempo,
porque ainda estamos vendo a sua realização, e por isto nós não sabemos tudo sobre estes temas,
e só podemos falar deles em símbolos e profecias. Naqueles dogmas que já foram estabelecidos,
aquilo que pertence ao futuro é visível só parcialmente. Nós não possuímos afirmações
categóricas sobre a habitação do Espírito Santo no mundo, sobre a ação do Espírito Santo nele;
nem sobre a vida dos santos e pecadores além do túmulo, nem de muito mais que está esperando
sua realização. Nestes casos, com freqüência, a Igreja se limita à negação dogmática, isto é,
testemunha de maneira autoritativa sobre aquilo que não é permitido e não deve ser pensado. E
este testemunho procede do fundo daquela experiência que ainda não houve e que, portanto, não
pode ser expressa. E a Igreja não se apressa em colocar em formulas dogmáticas, opiniões
teológicas sobre o futuro. E isto não é porque ela não sabe, mas porque ainda não chegou a hora
dela se pronunciar sobre. O testemunho da Igreja é de modo categórico sobre aquilo que está
sempre presente, sobre aquilo que não pertence ao tempo (como, por exemplo, o dogma da
Santíssima Trindade); ou então sobre o que já foi revelado, visto e realizado (o dogma da Pessoa
de Nosso Salvador). E no dogma de Cristo, as primeiras coisas que foram definidas foram
aquelas coisas que pertenciam ao passado, até porque elas pertenciam ao tempo (Encarnação,
realidade do sofrimento e morte na Cruz, Ressurreição e Ascensão); ou então o testemunho do
que foi revelado diretamente pelo próprio Nosso Salvador (a Segunda Vinda, a ressurreição
universal, o Dia do Juízo). De todo o resto a Igreja prefere dar testemunhos através de símbolos e
similares, mas sempre liturgicamente, como quando ela estabelece as solenes festas da Ascensão
e da Transfiguração, ou a da Vivificante Cruz. Assim a Igreja testemunha que ainda não
encontrou sua expressão dogmática final, em muito daquilo que está ligado com a santificação,
isto é, com a perfeição do mundo; uma santificação que está sendo revelada, mas que ainda não
foi completada. O mistério da Ascensão de Nosso Senhor só poderá ser plenamente revelado na
Segunda Vinda “Esse Jesus, Que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como

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para o céu O vistes ir” (At. 1:11). Pois só então, e na ressurreição de todos, o corpo criado será
restabelecido e se tornará incorruptível. O mistério da Transfiguração do Senhor está também
intimamente ligado com isto. Nós temos somente um lampejo disto no testemunho da Luz do
Monte Tabor, dado pelos Concílios Bizantinos do século quatorze. Não há duvida que muito nos
foi dado somente como pré-conhecimento. Isto não significa, entretanto, que nós temos o direito
de formar qualquer opinião da qual gostemos, sobre verdades que ainda não foram expressas; ou
que agora não há nada obrigatório para nós.O reino do pré-conhecimento não é um “reino de
dúvidas” (dubitum) no qual uma “liberdade” ilimitada nos é concedida (in dubiis libertas). A
ausência de definições dogmáticas não significa ausência de conhecimento, e não significa
completo controle do julgamento. Pois aquilo que não nos foi dado em dogma, nos foi dado em
experiência, a qual é a fonte das definições dogmáticas da Igreja. Também nos foi dado,
freqüentemente, em registrada por escrito Revelação, a qual não é exaurida em definições
dogmáticas, e é cheia de mistérios e profecias. Nem tudo aquilo que é conhecido e revelado na
Igreja está contido em definições dogmáticas, mas é dado pela sua experiência dialética, que
habita indissoluvelmente na sua cabeça, Jesus Cristo, e é imutavelmente iluminada e inspirada
pelo Espírito Santo Vivificante.
O Padre Sérgio Bulgakoff se expressou muito bem quando disse: “Aquele que alguma
vez encontrou Cristo, seu Salvador, em seu próprio caminho pessoal, e que sentiu Sua
Divindade, neste momento aceitou todos os dogmas fundamentais Cristãos: Nascimento Virgem,
Encarnação, Segunda e Gloriosa Vinda, a Vinda do Confortador, a Santíssima Trindade” (S.
Bulgakoff, The Undying Light, 1917, pg 57). A isto eu quero acrescentar: “Se ele não aceitar
tudo isto, ou ele ainda não encontrou Cristo, ou então não O reconheceu.” “O Espírito Santo
habita conosco agora, e no esforço pelo Espírito, o caminho para a plenitude do conhecimento de
Deus está aberto para nós” (São Gregório o Teólogo).
Deus fala ao homem através do Seu Espírito; e somente na medida em que o homem
habita no Espírito ele ouve e reconhece esta voz: “ O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz;
mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito”
(Jo. 3:8). Não existem caminhos isolados de vida espiritual. Desde o Dia do Pentecostes o
Espírito habita na Igreja, onde Deus ordenou “a ação do Espírito” (“Omnem Operationem
Spiritus,” como Santo Irineu de Lion disse). Aqui, nesta vida, pelo poder do Espírito toda alma é
vivificada. Aqui o Verbo de Deus toca e é ouvido — todas as palavras desde o inicio. Está aqui a
plenitude e o caminho do conhecimento. O esforço pelo Espírito, a oração pela concessão do
Espírito, é o caminho no qual podemos glorificar Deus. Através do Sopro do Espírito a
Revelação de Deus será eternamente vivificada, e construirá o organismo vivo da Verdade una e
indivisa.
A Igreja nos ensina a rezar:
“Rei dos Céus, Consolador, Espírito de Verdade, Tu que estás presente em tudo e enches
tudo, Tesouro de bens e Doador da vida, vem e habita em nós Purifica-nos de toda a impureza e
salva as nossas almas, Tu que és Bom.”

Folheto Missionário número P095t


Copyright © 2005 Holy Trinity Orthodox Mission
466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011
Redator: Bispo Alexandre Mileant

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(holy_spirit_revelation_florovsky_p.doc, 05-17-2004)

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