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As consequências nefastas de certas práticas pedagógicas

Salvador Sousa

Ao ler o livro “O valor de educar, o valor de instruir” da Fundação Francisco


Manuel dos Santos fiquei ainda mais convicto de que temos de contestar essas vozes
perturbadoras da educação em Portugal (e noutros países!) pelo desaire patenteado,
nestes últimos tempos, num sector que deve ocupar um lugar predominante na nossa
sociedade e que se arruína cada vez mais.
Nestas últimas décadas tem havido variadas transformações, como é óbvio, pois
é uma área em permanente evolução e onde se concentram teorias e práticas inspiradas
em doutrinas e pensamentos diversificados, mas não exageremos, pois deve existir
equilíbrio nas mudanças que se pretendem entre as práticas existentes e aquelas que se
desejam introduzir, nunca se rompendo totalmente com o passado só pelo facto de se ir
ao encontro de modas culturais que, por vezes, prejudicam as boas praxes rejeitando-as
apenas numa perspectiva ideológica sem obedecer a critérios definidos. Mudar sim,
destruir não, pois há certos iluminados, abstraídos da realidade, embrenhados em teorias
facciosas que não se coadunam com a realidade dos nossos estudantes e das nossas
escolas.
Ricardo Moreno Castillo, professor e especialista na área de educação, diz que a
lei implementada em Espanha, na década de 90, consistia em igualar, por decreto, todos
os alunos, menosprezando o esforço e a disciplina como algo pertencente ao passado
fascista e reaccionário. São os tais erros que se pagam muito caros, pois em Portugal
passou-se precisamente o mesmo: acabaram com o ensino profissional que estava a dar
incomensuráveis resultados; baniram certas práticas pedagógicas, sobretudo no ensino
da Língua Portuguesa, Matemática e outras; apregoou-se o facilitismo e o nivelamento
dos estatutos entre professores e alunos; acentuou-se bastante o ensino por
competências em detrimento dos conhecimentos… a este propósito o autor, acima
citado, refere: «como é que vamos ensinar a competência de fazer uma conta de dividir
sem ter conhecimento prévio da tabuada? Como pode ter competência de
traduzir um texto latino quem não aprendeu previamente as declinações e as
conjugações? Como se pode analisar gramaticalmente um texto quando se carece do
conhecimento que permite distinguir um substantivo de um verbo, ou uma preposição
de uma conjunção? Ensinar competências não é nenhuma novidade, é algo que sempre
fizeram os bons mestres do mundo (…) e para que os alunos tenham os conhecimentos
necessários prévios a qualquer competência, não há outro remédio senão exigir-lhes que
estudem. E para que essa exigência seja efectiva, pois terão de aprender a tabuada, as
declinações latinas e a lista das preposições. Sim, ensinar a lição, como sempre se fez,
sem complexos e sem medo de parecerem professores obsoletos, caducos ou nostálgicos
e dar má nota a quem não sabe. E se um aluno ficar traumatizado por ter má nota que se
aguente (…) O importante não é saber conteúdos, mas formar pessoas. Mas formar
pessoas sem dar conhecimentos é tão impossível como arrumar os móveis de um quarto
vazio. Uma pessoa formada é a que tem os seus conhecimentos bem arrumados e
estruturados na sua cabeça, não a que tem a cabeça vazia.»
Esta longa citação veio dar razão àquilo que sempre fiz como professor,
remando, em certo tempo, contra a maré, pois algumas práticas eram consideradas
antipedagógicas, por exemplo, quando mandava conjugar os verbos com aquela
lengalenga que todos conhecem (eu estudo, tu estudas, ele estuda…), mas que os alunos
gostavam e aprendiam, quando se faziam exercícios ortográficos (ditados e cópias,
aprende-se a escrever, escrevendo), quando se era exigente e mantinha-se a autoridade
na sala de aula (o professor é quem manda na sala de aula para que haja a verdadeira
qualidade no ensino!), quando se aproveitava a interpretação de textos para transmitir
certos valores aos alunos…é evidente, e ainda bem, que hoje, algumas dessas práticas,
aceitam-se melhor, mas ainda há muito a fazer para se acabar totalmente com certos
preconceitos, sobretudo na exigência e na autoridade dos professores, factores
fundamentais, em decadência constante, onde é urgente intervir.
Ricardo Moreno Castilho aponta, no seu texto do livro já citado (onde escrevem
também outros estudiosos: Fernando Savater, Nuno Crato e Helena Damião) as várias
causas para o fracasso escolar em Espanha, passando precisamente o mesmo no nosso
país, na medida em que não se protege o direito de estudar. O aluno que perturba está a
prejudicar o seu colega, não tendo havido a coragem suficiente do poder político para
castigar os prevaricadores e defender os que livremente querem estudar, assim como os
professores na sua tarefa de ensinar. Diz ele: «Não existe propriamente um ensino
obrigatório. Não é obrigatório estudar (pode passar-se de um ciclo para outro reprovado
a oito disciplinas), nem respeitar os colegas e professores, nem acatar normas
obrigatórias em qualquer lugar público. Quando um aluno é grosseiro com um
professor, não é obrigatório pedir perdão. E a expulsão não é um castigo para quem não
quer estudar, antes pelo contrário (…) O nosso sistema educativo confunde aprender
com estar encerrado. Um estudante que chega aos dezasseis anos sem saber a tabuada,
ou dando erros ortográficos, não aprendeu, mesmo que tenha cumprido o ensino
obrigatório…» O autor fala de Espanha, mas em Portugal, infelizmente, passa-se a
mesma coisa, os problemas são similares.
Neste artigo citei o autor em questão com o objectivo de transmitir, através dele,
o que penso sobre o sistema de ensino em Portugal e noutros países, pois podemos dar o
nosso contributo para que possamos ter escolas a funcionarem sem atropelos,
retribuindo a cada agente educativo o seu verdadeiro estatuto.
* Ex-professor da Escola Monsenhor Elísio de Araújo - Pico de Regalados

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