Penhane BOLETIM OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO DE APOIO E ASSISTÊNCIA JURÍDICA AS COMUNIDADES

Director Executivo: Rui de Vasconcelos* Sede: AAAJC* Telefone: 20030252*Cidade de Tete *Chingodzi* Editado em Português e Inglês

Vale para Ntchenga e Mpándwe: Quem mede o grau de satisfação das comunidades?

A Vale Moçambique vai abrir novas frentes de exploração de carvão
mineral em Ntchenga e Mpándwe no distrito de Moatize em Tete. É
uma expansão das actividades de mineração que visam acrescentar
operações da empresa, tanto no quadro económico e financeiro. Porém,
não há ainda um estudo que demonstre o nível de satisfação popular
nas áreas onde está implantada aquela empresa desde que celebrou com
o Governo de Moçambique o contrato mineiro no dia 26 de Junho de
2007 e visado pelo Tribunal Administrativo no dia 21 de Agosto do
mesmo ano.
De tudo quanto se sabe, há aspectos relevantes como o reassentamento
das comunidades deslocadas, partido da fé da análise do Banco mundial
que entende que o reassentamento involuntário em nome do desenvol-
vimento pode causar desastres como perda de propriedades e de tradi-
ções embora admita também, que através dos reassentamentos se pos-
sam melhorar as condições da vida das pessoas afectadas. A AAAJC
entende desta maneira que deve ser feito um estudo visando apurar o
nível de satisfação das comunidades afectadas pela mineração daquela
empresa que como se sabe, originou a deslocação de um número total
de 1,365 famílias que viviam em ou perto das comunidades de Chipan-
ga, Bagamoyo, Mithete e Malabwe para as 4 opções sendo reassenta-
mento urbano, o reassentamento rural, o apoio à compra de habitação e
a compensação financeira.
Em números exactos, 716 famílias correspondendo a 52% foram
reassentadas em Cateme naquilo que foi considerada por solução
preferida pelas populações que optaram por continuar com a sua
actividade agrícola. Um total de 289 famílias o equivalente a 21%
foram para a cidade de Tete, na opção que ficou conhecida por
solução preferida geralmente por famílias com redes urbanas de
parentesco. Já um outro grupo de 254 famílias equivalente a 19% da
população deslocada que recebeu simplesmente uma maior com-
pensação financeira e outras remanescentes 106 famílias (8%) que
tiveram apoio financeiro para a compra de uma nova casa. Estes
grupos deveriam ser auscultados para apurar-se o nível de satisfação
deles com o processo de reassentamento a fim de munir a empresa
em ferramentas melhores no quadro da nova expansão das activida-
des.
Aliás, é preciso analisar que logo após o final do respectivo processo, a
população reassentada em Cateme começou a levantar reclamações sobre
as diversas promessas não cumpridas desde a condição precária das
casas construídas, a baixa fertilidade da terra atribuída, a distância exis-
tente entre a nova comunidade e a vila de Moatize que é de cerca de 40
quilómetros. Mesmo nessa altura, houve cenários em que a Vale viu suas
operações paralisadas por insatisfação popular embora o Governo mo-
çambicano tenha reprimido essa manifestação.
Em 2012, o Governo e a Vale optaram por assinar um Memorando de
Entendimento no qual a Vale prometeu um programa de reparação habi-
tacional para cada família tanto em Cateme como na urbanização “25 de
Setembro”. Porém, a Vale previa um orçamento total de 120 milhões USD
para o processo de reassentamento e quando ocorreu o manifesto popu-
lar já tinha investido 100 milhões USD. Ainda em 2012, já numa segunda
fase do processo de reassentamento, iniciou-se a implementação de pro-
gramas que visam melhorar a qualidade de vida da população afectada.
Estes programas pretendiam fazer aumentar a produção de alimentos
para auto consumo e gerar rendimentos monetários através da venda dos
excedentes da produção, tendo sido promovidos programas de plantio de
árvores de fruta, de criação de galináceos, de horticultura, entre outros.

Avaliar o grau de satisfação popular em Moatize

No nosso entender, mostra-se relevante um estudo envolven-
do comunidades no âmbito da responsabilidade socio- Sociais. Através deste memorando, foram definidos os procedimentos,
as prioridades e os ajustes nas acções sociais previstas. No quadro
ambiental, partindo, talvez do pressuposto de que a Vale já
deste acordo, no período entre Outubro de 2005 e Novembro de 2007,
tem assinado documentos principais comprometendo-se a
foram implementados diversos programas nas áreas de saúde, assis-
investir na área social. O primeiro é o Memorando de Entendi- tência social incidindo no orfanato, educação, agricultura e infra-
mento para a Implementação dos Projectos Sociais. O segundo estrutura bem como a capacitação profissional. Estes programas visa-
denomina-se Acordo de Princípios. Ambos implicam que a vam beneficiar a população em geral, especialmente as populações ao
Vale elabore um Plano de Acção para o Reassentamento. Im- redor da cidade de Tete e do distrito de Moatize.
porta recordar que relativamente ao Memorando de Entendi-
mento, um relatório da empresa, (Vale, 2008) mostra como se Parceiros:
fez a implementação dos programas sociais da companhia
ainda na fase do estudo de viabilidade. Os programas da Vale
tinham sido inicialmente anunciados no acto de assinatura do
Acordo de Princípios do Projecto de Carvão Moatize, que
ocorreu em Novembro de 2004.

Em Junho de 2005, como reza a memória, foi assinado o Me-

morando de Entendimento para Implementação dos Projectos

Quem somos? Associação de Apoio e Assistência Jurídica as Comunidades (AAAJC), é uma organização da Sociedade Civil
Moçambicana, não-governamental, sem fins lucrativos, de âmbito nacional, fundada em 2008 e com os seus estatutos legal-
mente publicados em 2010 no Boletim da República nº. 2, III serie, 4º suplemento de 19 de Janeiro. A sede é na cidade de Tete.
 Penhane OFICIAL REPORT CARD OF THE ASSOCIATION FOR SUPPORT AND LEGAL ASSISTANCE TO COMMUNITIES

The Executive Director: Rui de Vasconcelos* Phone: 20030252*City of Tete-Mozambique* Edited in Portuguese & English
o
Edition n 260

Vale for Ntchenga and Mpándwe: Who measures the degree of satisfaction of
the communities?
Vale Mozambique will open new coal mining fronts in Ntchenga and
Mpándwe in the Moatize district in Tete. It is an expansion of mining activ-
ities that aim to add company operations, both in the economic and finan-
cial framework. However, there is still no study that demonstrates the level
of popular satisfaction in the areas where that company is located since it
signed the mining contract with the Government of Mozambique on June
26, 2007 and endorsed by the Administrative Court on August 21 of same
year.
From all that is known, there are relevant aspects such as the resettlement
of displaced communities, based on the faith of the analysis of the World
Bank that understands that involuntary resettlement in the name of devel-
opment can cause disasters such as loss of properties and traditions alt-
hough it also admits, that through resettlements, the living conditions of
those affected can be improved. The AAAJC thus understands that a study
should be carried out to determine the level of satisfaction of the communi-
ties affected by the mining of that company which, as is known, originated
the displacement of a total number of 1,365 families that lived in or near the
communities of Chipanga, Bagamoyo, Mithete and Malabwe for the 4
options being urban resettlement, rural resettlement, support for housing
purchase and financial compensation.
In exact numbers, 716 families, corresponding to 52%, were resettled in
Cateme in what was considered the preferred solution by the populations
that chose to continue with their agricultural activity. A total of 289 fami-
lies, the equivalent of 21%, went to the city of Tete, in the option that be-
came known as the preferred solution generally by families with urban
kinship networks. Another group of 254 families, equivalent to 19% of the
displaced population, who simply received greater financial compensation
and the remaining 106 families (8%) who had financial support for the
purchase of a new home. These groups should be consulted to determine
their level of satisfaction with the resettlement process in order to provide
the company with better tools in the context of the new expansion of activi-
ties.
In fact, it is necessary to analyze that soon after the end of the respective
process, the resettled population in Cateme began to raise complaints
about the various promises that had not been fulfilled since the precarious
condition of the houses built, the low fertility of the assigned land, the
distance between the new community and the village of Moatize which is
about 40 kilometers. Even then, there were scenarios in which Vale saw its
operations paralyzed by popular dissatisfaction, although the Mozambican
government repressed this manifestation.
In 2012, the Government and Vale opted to sign a Memorandum of Under-
standing in which Vale promised a housing repair program for each family
in both Cateme and the “25 de Setembro” urbanization. However, Vale
foresaw a total budget of 120 million USD for the resettlement process and
when the popular manifest occurred it had already invested 100 million
USD. Still in 2012, already in a second phase of the resettlement process,
the implementation of programs aimed at improving the quality of life of
the affected population began. These programs aimed to increase the pro-
duction of food for self-consumption and generate monetary income
through the sale of production surpluses, having been promoted programs
for planting fruit trees, raising chickens, horticulture, among others.

Assess the degree of popular satisfaction in Moatize

In our view, a study involving communities within the scope of areas of health, social assistance, focusing on the orphanage,
socio-environmental responsibility is relevant, perhaps based on education, agriculture and infrastructure, as well as profession-
the assumption that Vale has already signed key documents com- al training. These programs were aimed at benefiting the gen-
mitting itself to investing in the social area. The first is the Memo- eral population, especially the populations around the city of
randum of Understanding for the Implementation of Social Pro- Tete and the district of Moatize.
jects. The second is called the Principles Agreement. Both imply
that Vale draws up an Action Plan for Resettlement. It is im-
portant to remember that in relation to the Memorandum of Un- Partners:
derstanding, a report from the company (Vale, 2008) shows how
the company's social programs were implemented during the
feasibility study phase. Vale's programs had initially been an-
nounced when the Moatize Coal Project Principles Agreement
was signed, which took place in November 2004.

In June 2005, as the memory says, the Memorandum of Under-

standing for the Implementation of Social Projects was signed.
Through this memorandum, procedures, priorities and adjust-
ments to the planned social actions were defined. Within the
framework of this agreement, in the period between October 2005
and November 2007, several programs were implemented in the

Who we are? Association for Support and Legal Assistance to Communities (AAAJC), is a non-governmental, non-profit,
Mozambican Civil Society organization, nationwide, founded in 2008 and with its statutes published in 2010 in Bulletin of Re-
public no. 2, III series, 4th supplement of 19 January. The headquarters is in the city of Tete.