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Augusto Guzzo Revista Acadêmica

Cimara Apostolico 1

Andragogia: um olhar para o aluno adulto


Resumo Palavras-chave: andragogia, educação,
ensino superior, aprendizagem.
O presente artigo pretende destacar a
importância de um ensino direcionado ao Keywords: andragogy, education, higher
aluno adulto, não só pelo fato de adultos e education, learning.
crianças aprenderem de formas diferentes,
mas principalmente pelas mudanças ocorridas
nos últimos dois séculos e que Apresentação
revolucionaram a forma de o indivíduo
interagir com o entorno. Essas mudanças são Apesar da urgência de um ensino
de ordem histórica, social e tecnológica e destinado ao público adulto, ainda há poucos
representam a construção de um sujeito cuja estudos a respeito de Andragogia.
condição humana sofreu profundas Pretendemos discutir o assunto e apontar a
modificações. Ao referirmo-nos a alunos urgência de pesquisas nesse segmento,
adultos, podemos destacar diferentes especialmente pelo enfoque que é dado ao
públicos, todavia, nosso olhar estará voltado conhecimento em nossa sociedade. É
aos alunos do Ensino Superior, que cursam fundamental esclarecer que nosso objetivo
instituições particulares. não é o de insinuar uma divisão entre
Pedagogia e Andragogia, mas apontar que
Andragogia faz parte dessa ciência, que é a
Abstract
Pedagogia, ou seja, a questão primordial é
estabelecer distinção entre as formas de
This article aims to highlight the aprender centradas na criança e no adulto e a
importance of an education directed to the necessidade desse entendimento para
adult learner, not only because adults and didáticas mais efetivas. A Andragogia
children learn in different ways, but mainly by representa outro aspecto dos princípios da
changes in the last two centuries that have aprendizagem.
revolutionized the way individuals interact
Para isso, traçaremos um breve histórico
with the environment. These changes are
acerca da questão como subsídio para
historical, social and technological
entendimento de alguns aspectos dessa
developments and represent the construction
ciência, principalmente pelo fato de a
of a human subject whose condition has
condição humana ter mudado
undergone profound changes. When referring
significativamente, o que fez com que os
to adult learners, we can highlight different
indivíduos alterassem a forma de participar
audiences; however, our attention will focus
do processo de construção social, histórica e
on students in Higher Education, who attend
tecnológica. Essa tríade requer o
private institutions.
estabelecimento de novas reflexões frente à

1Cimara Apostólico - Mestre em Comunicação e Semiótica – PUC-SP. Corretora de dissertações e teses. Professora da
Fac. Guaianás. Profa. Pesquisadora da FICS onde desde o primeiro semestre de 2012 compõe a Grupo de Pesquisa –
Oficina de Artigos è orientadora de Iniciação Científica é menbro da Comissão de Edição, Revisão, diagramação e
Editoração Eletrônica Augusto Guzzo das Faculdades Integradas Campos Salles – FICS. www.campossalles.edu.br
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maneira como entendemos a aprendizagem e Também não apreciamos a ideia de


mais que isso, como nós – docentes - lidamos restringir determinados ensinamentos à
com os diferentes públicos e as várias primeira infância ou a educação recebida
expectativas. pelos pais, isso não significa que pretendemos
Apoiaremos nossas ideias em alguns descartar a importância dessa base inicial,
pensadores para maior compreensão desse mas nossa preocupação é de expandir a
novo sujeito agente, tentando vislumbrar os discussão para a possibilidade de ensinarmos
caminhos pelos quais devemos nos imbricar mais do que conteúdo aos nossos alunos de
para alcançar e atingir este público. Neste Ensino Superior.
trabalho, direcionaremos nosso olhar para o Considerando o contexto atual – mudanças
aluno do Ensino Superior dos cursos nas demandas socioeconômicas e
Tecnológicos e Graduação, partilhando nossa mercadológicas, não é de se estranhar a
preocupação com relação à Didática quantidade de cursos tecnológicos que
empregada para esse ensino. surgem, na última década, para suprir a
velocidade do mercado decorrentes das novas
tecnologias e da deficiência de formação
1. Breve Histórico sobre Andragogia presente no Ensino Médio, que não prepara o
indivíduo para atuar como especialista. Dessa
Há concepções acerca de técnicas e maneira, podemos compreender o aumento do
desenvolvimento de aprendizagem docente, ingresso de alunos na Educação Superior e,
todavia, existem poucos estudos voltados portanto, a importância de falarmos sobre
especificamente aos alunos adultos. Também Andragogia.
falta um olhar que contemple os aspectos Retomando ao ponto inicial de nossa
afetivos, motivacionais que possam favorecer discussão, entendemos que o conceito de
maior envolvimento entre professor e aluno. Pedagogia costuma ser relacionado
Ao pensarmos em Educação, sabemos que primeiramente com aprendizagem de
o desenvolvimento da sociedade está crianças, mas sabemos que essa área também
associado à escolarização da população; isso abrange o público adulto. Todavia, constata-
significa que é imprescindível investirmos se que a valorização dada ao ensino de
nesse segmento para formação dos adultos tem recebido tratamento secundário.
indivíduos, propiciando condições para Vogt e Alves no Artigo Revisão Teórica sobre
tomada de decisões mais conscientes e a Educação de Jovens e Adultos para uma
assertivas nos diversos âmbitos da vida. aproximação com a pedagogia traçam um
As pesquisas na área de Educação breve histórico sobre o assunto:
demonstram preocupação e busca de O termo andragogia foi formulado
estratégias no sentido de aperfeiçoar a originalmente por Alexander Kapp, professor
alemão, em 1833; caiu em desuso e reapareceu
maneira como os conteúdos são construídos. em 1921, no relatório de Rosenstok, sinalizando
Consideramos importante refletir até que que a educação de adulto requer professores,
métodos e filosofia diferenciados. Eduard
ponto essa transposição de conhecimentos Lindeman, em 1927, adotou o termo de
promoverá mudanças na maneira de agir e Rosenstock e usou-o poucas vezes nos Estados
interagir com os demais indivíduos. Não é Unidos. O vocábulo andragogia foi utilizado
amplamente, desde a década de 60, na França,
possível descartar o conhecimento como Yugoslávia e Holanda para se referir à
ponte para um saber emancipatório, disciplina que estuda o processo da instrução de
entretanto, sabemos que essa construção adulto ou a ciência da educação de adulto.
(VOGT e ALVES, 2005).
demanda atitudes, que precisam ser
desenvolvidas.

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Malcolm Knowles tornou-se referência no 2. Em busca do saber emancipatório


assunto, após estudar distinções entre
Pedagogia e Andragogia, que é, de maneira A Andragogia é a ciência que se preocupa
simplificada, o ensino para adultos; com o aprendizado do adulto, buscando
aprendizes autônomos e professores como pensar estratégias que o auxiliem a alcançar
facilitadores na aprendizagem. esse saber emancipatório de que se tem
Internacionalmente, a preocupação tratado com mais ênfase nos últimos anos.
também não é tão recente; em 1949 a Neste sentido, a Didática precisa ser
UNESCO realiza a primeira conferência diferenciada e contemplar os aspectos do
concernente à questão: indivíduo maduro. Knowles aponta cinco
Desde a primeira conferência sobre Educação premissas, que mudaram a perspectiva de
de Adultos em 1949, a UNESCO tem ensino voltado às crianças para o foco em
trabalhado com os Estados-membros para
assegurar que os adultos exerçam o direito adultos.
fundamental à Educação. Em 1976, a O autoconceito, que é o primeiro
Conferência Geral da UNESCO aprovou a
Recomendação de Nairóbi para o elemento, aponta a distinção entre dependente
desenvolvimento da educação de adultos, que e autodirigido. A criança estabelece uma
consagrou o compromisso dos governos em relação de dependência com o professor, já o
promover a educação dos adultos como parte
integrante do sistema educacional, numa adulto ele precisa ser direcionado, orientado,
perspectiva de aprendizagem ao longo da vida. mas é ele quem deve fazer escolhas.
(UNESCO, 2010, pág.12)
O segundo item relaciona-se a
Em Dezembro de 2009 foi realizada a experiências – o adulto obviamente tem muito
última, a sexta conferência sobre a questão, mais experiência que a criança. Nesse
CONFINTEA (Conferência Internacional de sentido, ele será capaz de interpretar,
Educação de Adultos) com o tema Elos transformar e dar sentido às várias situações
Perdidos das Metas das décadas do milênio. de aprendizagem.
A discussão priorizou a importância de
O terceiro ponto é a prontidão a aprender
redobrar os esforços para reduzir o índice de
centrada nos papéis sociais – a criança habita
analfabetismo. O primeiro compromisso
seu mundo particular e ainda não consegue se
estabelecido foi desenvolver “uma oferta de
situar numa perspectiva de espaço e tempo
alfabetização que conduza à obtenção de
social.
conhecimentos, capacidades e competências
funcionais e sustentáveis pelos participantes, O próximo é a perspectiva de tempo – os
empoderando-os para que continuem a adultos aprendem à medida que conseguem
aprender ao longo da vida” (UNESCO, 2011, vislumbrar aplicação prática e breve às
pág. 4). situações-problemas. O último é a motivação,
que no indivíduo amadurecido precisa ser
Sabe-se que Educação e Sociedade são
trabalhada com outros propósitos, em função
conceitos intrinsecamente ligados, ou seja,
dos quatro primeiros itens apontados nessa
considerando que as nações buscam manter o
breve descrição. Knowles apontado na tabela
status de civilização, torna-se prioritária a
1 sumarização dessas distinções:
alfabetização para que as pessoas tenham
condições de inserir-se socialmente, em busca
do saber emancipatório.

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Autoconceito Ser de personalidade dependente para um autodirigido.


Reservatório de experiência Acumula e se transforma em um recurso crescente para
aprender.
Prontidão a aprender Torna-se orientada, cada vez mais, às tarefas de
desenvolvimento de seus papéis sociais.
Perspectiva de tempo Muda de uma procrastinação do conhecimento à imediata
aplicação e orientação, sendo que a orientação da
aprendizagem desloca-se de uma aprendizagem centrada
nas disciplinas a uma centrada no problema.
Motivação É interna no indivíduo amadurecido.
Tabela 1 - Diferenciação entre crianças e adultos
Fonte: Knowles, 1980, pág. 44-45

Compreendemos que o ser adulto está não incorporamos esse princípio em nossas
preocupado com a aplicação imediata do metodologias. (GADOTTI, 2003, pág. 39)”.
conteúdo aprendido; conforme dito, o ensino Por meio de nossas experiências, é
deve estar centrado em situações-problema, possível constatar que esse discurso também é
tendo que em vista que ele precisa vislumbrar aplicável ao aluno do ensino superior cuja
resultados em curto prazo, principalmente no história de vida acompanha e interfere na
que tange à capacitação profissional e que forma como ele recebe e interpreta o que lhe
possam ajudá-lo na manutenção das é transmitido, além, é claro da pressão e
necessidades primárias e secundárias, cobrança social para que desempenhe cada
conceito mencionado por Maslow 2. O ensino vez melhor suas tarefas.
passa a ser uma moeda de troca “mercari” –
Nessa sociedade da informação, conforme
ele precisa ver finalidade, utilidade e retorno,
descreve Maria da Glória Gohn a dominação
caso contrário prefere investir o tempo em
e controle são referências. A autora amplia a
outras atividades. Gadotti realizou uma
discussão por meio das métaforas das ondas
pesquisa densa em relação ao aluno adulto
de Alvin Tofler; “a terceira onda se baseia na
que ainda não é alfabetizado, corroborando ao
substituição da força muscular pela força
explicar:
mental como fator de produção. Ela
O aluno adulto não pode ser tratado como uma ultrapassa os limites da economia e da
criança cuja história de vida apenas começa. Ele
quer ver a aplicação imediata do que está tecnologia, provocando mudanças sociais
aprendendo. Ao mesmo tempo, apresenta-se profundas, bem como mudanças culturais,
temeroso, sente-se ameaçado, precisa ser
estimulado, criar autoestima, pois sua morais e institucionais” (GOHN, 2008, pág.
“ignorância” lhe traz tensão, angústia, 66).
complexo de inferioridade. Muitas vezes tem
vergonha de falar de si, de sua moradia, de sua Essas mudanças implicaram em valores
experiência frustrada da infância, diferentes; o que antes estava centrado na
principalmente, em relação à escola. É preciso força bruta do homem e na valorização de
que tudo isso seja verbalizado e analisado
(GADOTTI. 2003 pág.39). bens materiais como riqueza deixa de ser
relevante dando lugar ao conhecimento. As
O autor acrescenta: “A Andragogia tem
competências passam por uma severa revisão,
ensinado que a realidade do aluno adulto é
assim, a necessidade de desenvolver
diferente da realidade da criança, mas ainda

2   Segundo
Abraham Maslow as necessidades dos seres humanos estão colocadas em categorias. São elas: primárias –
necessidades fisiológicas e de segurança. Secundárias – necessidades sociais, de estima e de autorrealização.
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operações mentais cada vez mais complexas pois crenças, condicionamentos impedem a
com vistas a delinear uma visão sistêmica, revisão de ações enraizadas, restringindo seu
imaginação e criatividade, consciência dos crescimento.
aspectos éticos, inteligência ecológica e, Reiterando o que já foi dito, as exigências
principalmente, o saber-fazer “savoir- atuais requerem a revisão de alguns
faire” (articular) são condições essenciais conceitos, conforme podemos compreender
para aquisição da nova riqueza ou capital com Makeliny Oliveira (2009: pág.65 e 66).
cultural3 , conforme denominado por Pierre
O primeiro é o da inteligência, que durante
Bourdieu.
décadas se acreditou ser imutável e
O termo “articular” foi selecionado mensurável, ou seja, o ser já nascia com um
propositadamente, uma vez que ‘o saber nível de inteligência determinado. De maneira
precisa culminar em competências’, pois de reducionista, é o entendimento da inteligência
nada adianta uma sociedade repleta de como dom.
indivíduos obesos de cognição, imaginação
O segundo conceito é o de criatividade,
etc., que não conseguem colocá-los em
que era considerada como ferramenta de
prática. E, sobretudo, fazê-lo de maneira
alguns privilegiados. O terceiro é o de
eficiente e eficaz.
memória, que era tida como um receptáculo
Nessa breve passagem, podemos inferir a cujo objetivo era acumular informações.
importância de formar um indivíduo
Vejamos, sem a consideração de que o
competente do ponto de vista cognitivo, não
homem também aprende socialmente,
perdendo de vista que o saber emancipatório
conforme o meio em que está inserido, não é
é processual e depende dos valores e caminho
possível sobrepujar esses equívocos. O
trilhados para a formação desse homem
conceito de plasticidade cerebral precisa ser
integral, – formar e agir são palavras-chave
considerado, pois o homem tem condições de
que devem permear o ensino superior, que
aprender, independentemente de sua idade.
independe de faixa etária, conforme veremos
Esse conceito inclui também o aspecto
a seguir.
biológico:
Atualmente com o avanço dos estudos dos
3. Plasticidade cerebral neurocientistas, descobriu-se que o conceito de
inteligência como algo imutável não condiz
com a realidade humana. Dessa forma, esse
Mas, o ágon entre homem e conhecimento conceito foi reformulado, pois se acredita que é
na vivência que o homem vai se constituindo e
não é tão simples de desenlear; o homem é se transformando, podendo mudar não só o
um ser sócio-histórico permeado por meio sociocultural em que vive, mas também o
construções e desconstruções frequentes. O biológico (plasticidade cerebral). Assim, a
inteligência é compreendida atualmente como
estudante adulto não é uma folha em branco4, um processo dinâmico, construído na interação
ele já vem com uma bagagem, que se por um do sujeito com a cultura, e pode ser
lado é base para dar significado ao desenvolvida independentemente da idade da
pessoa. (NOGUEIRA, 2009, pág. 65).
aprendizado, por outro, torna-se limitante,

3  Por
recursos ou poderes, Bourdieu entende mais especificamente o capital econômico (renda, salários, imóveis), o
capital cultural (saberes e conhecimentos reconhecidos por diplomas e títulos), o capital social (relações sociais que
podem ser revertidas em capital, relações que podem ser capitalizadas) e por fim, mas não por ordem de importância, o
capital simbólico (o que vulgarmente chamamos prestígio e/ou honra). SETTON, Maria da Graça Jacinto. Disponível
em: <http://renatadbc.web.officelive.com/Pierrebourdieu.aspx>. Acesso em: 24 set.2011
4   Comenius
em seu livro Didactica Magna comenta sobre a importância de iniciar a Educação desde cedo, quando,
segundo ele a mente ainda não foi ocupada, principalmente por preconceitos e valores mundanos (COMENIUS,
1621-1657, pág. 35).  
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Quando partimos do pressuposto inatista, 4. Professor-Gestor


torna-se compreensível limitar o conceito de
ensinar à mera transposição de conteúdos ao Dentre as necessidades de nossa
aluno. Naturalmente considerando que o sociedade, citamos a busca por constante
aluno já tem condições de aprender e atualização profissional e uma das formas de
principalmente, que nessa concepção, o aluno fazê-lo é cursando o ensino superior:
é o responsável pelo próprio aprendizado. tecnológico ou graduação.
Não vamos entrar na discussão de
responsabilidades, mas apenas aproveitar a O aluno que ingressa em um desses cursos,
ideia para poder aprofundar um pouco mais a não necessariamente atua na área escolhida,
questão. Vejamos, se o aluno é responsável por isso, a figura do professor é representativa
pelo próprio aprendizado – ao professor cabe para aproximar os conceitos teóricos e
o papel informativo. Nesse sentido, o aluno práticos.
que quiser, tiver interesse e principalmente O professor é um especialista na sua área
condições cognitivas para acompanhar obterá de atuação e possui pleno domínio dos
sucesso; os demais, portanto, serão excluídos conteúdos, todavia, não é mais possível
do processo, pois nasceram sem o “dom”, considerar que o conhecimento, a bagagem
sem condições para entendimentos mais do mestre é suficiente para o entendimento do
complexos. aluno.
Apesar da obviedade, muitos de nós temos Muito se tem estudado sobre a Didática,
agido dessa maneira com nossos alunos, derivada do grego didaktiké, que tem o
funcionários e inclusive pessoas próximas a significado de arte de ensinar e também está
nós. relacionada ao termo techné – prática e como
ela pode favorecer as práticas em sala de aula.
Consideramos que o outro não consegue
No entanto, o estudo das técnicas só será
entender o que estamos tentando transmitir. É
válido a partir do momento em que houver
raro alguém assumir que não sabe se
uma reflexão por parte do grupo docente
comunicar adequadamente, que entende as
sobre sua aplicação em suas práticas.
informações de maneira distorcida ou que é
Infelizmente, essa questão nem sempre é bem
necessário verificar com mais profundidade o
vista, pois alguns têm dificuldades em lidar
assunto. O que é muito comum ouvir é “Não
com autoavaliações e principalmente, rever
falou coisa com coisa”, “não disse nada com
paradigmas.
nada” etc.
Apesar de o aluno adulto aprender
Alguns generalizam afirmando que o ser
diferente da criança, é preciso esclarecer que
humano é assim mesmo, como se todas as
ele precisa do professor que intermedeia o
nossas experiências fossem similares e
entendimento dos diferentes conteúdos. O
passassem pelos mesmos processos de
professor é referência nos processos de
desenvolvimento durante a vida. Nesse
ensino-aprendizagem, pois seu papel é de
sentido, devemos indagar como ficam as
propiciar significado àquilo que está sendo
nossas representações. A nossa capacidade
transmitido, caso contrário é preferível que o
simbólica não interfere na percepção que
aluno estude a distância e assuma para si
temos dos objetos? Devemos considerar,
todas as representações possíveis do processo,
portanto, que tudo tem a mesma
deslocando-se até a faculdade apenas para
representação o tempo todo para os diversos
realização das avaliações. Assim, a didática é
indivíduos?
fundamental para facilitar a compreensão do
que se pretende alcançar. Não se trata,
portanto, apenas de conhecer o conteúdo, mas
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de elaborar estratégias que auxiliem os frequentes e velozes. Os indivíduos lidam


discentes. com a dificuldade em administrar o próprio
As estratégias de ensino-aprendizagem tempo, que parece cada vez mais limitado.
precisam ser conduzidas consciente e Nesse universo de informações sentimo-nos
eficazmente. Ainda há muitas dificuldades dispersos e com dificuldades em ser mais
neste sentido, pois a utilização, por exemplo, assertivos. Aliado a esses elementos, a
de dinâmicas em sala de aula pode maioria dos indivíduos, ao longo da história,
caracterizar “passatempo”. Além disso, há sempre teve dificuldades em rever os
uma tendência a limitar dinâmica ao aspecto paradigmas – há uma tendência à
motivacional. Não descartemos essa acomodação, em manter-se na zona de
possibilidade, mas é preciso abarcar todas as conforto, que é um caminho delicioso, mas
possibilidades que a ferramenta oferece. que pode impedir, por exemplo, que
Também é necessário verbalizar os objetivos trabalhemos com práticas mais atrativas para
a serem alcançados; as aplicações que podem o nosso aluno.
ser estabelecidas em outros âmbitos, A estratégia de ensino-aprendizagem
inclusive, colaborando com o aluno na contribui efetivamente para a apreensão dos
associação da atividade com o conceito que saberes, por essa razão cabe ao professor
se pretende demonstrar e assim por diante. oferecer ao aluno oportunidade para
O planejamento sistêmico da estruturar o conhecimento’. Essa estruturação
aprendizagem é o ponto-chave para evitar ocorre por meio da transformação do
improvisações dispersivas, sem ordem. Para conhecimento em um saber fazer.
que esse seja bem realizado, são necessários Um elemento que favorece a estratégia é a
critérios que incluem revisão do programa criatividade, que conforme comentado, não é
utilizado, bibliografias atualizadas, fixação privilégio de poucos, mas pode ser
dos objetivos, avaliação diagnóstica para desenvolvida à medida que nos propomos a
saber o estágio do aluno, evitando desta utilizá-la. Somos nós que lucramos quando
forma apriorismos. Devem ser consideradas procuramos meios de facilitar o aprendizado
as demandas sociais para que o aluno não para nosso aluno, não só pela gratificação em
aprenda de maneira dissociada do uso prático, vê-los aprendendo, mas porque nos tornamos
portanto, os problemas reais ou ainda a mais competentes, melhoramos a autoestima,
representação desses problemas compõem o projetamos uma imagem positiva; em síntese,
aprendizado. há uma substancial melhora em termos da
Hoje contamos com tecnologias, que percepção que temos a nosso respeito, de
alteraram a maneira de apreensão dos saberes nossos alunos e dos indivíduos que nos
– os sistemas estão complexos e dinâmicos, cercam.
havendo diversas opções mais atraentes que a Dentre as técnicas, podemos citar:
aula expositiva do professor, esse é um tempestade cerebral, grupos de verbalização,
agravante que exige uma revisão urgente. A painéis, simpósios, seminários, debates,
questão a ser respondida é diante de tantos estudos de casos, dramatizações, oficinas,
elementos interativos e mais atraentes, como dinâmicas, excertos de textos para discussão
compartilharemos esses saberes com os etc. Recursos como filmes, músicas, histórias
alunos adultos? em quadrinhos também fazem parte dessas
Ao estabelecermos uma analogia com técnicas e devem ser usados com coerência.
produtos, podemos afirmar que o Lembramos que a técnica apoia a estratégia e
conhecimento tem uma vida útil isso significa que não é simplesmente trazer o
relativamente curta, requer atualizações filme, a música, fazer os simpósios, uma

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dramatização etc. – esses são simplesmente negativas, inclusive por parte do aluno, que
apoios da proposta maior que é o aprendizado primeiramente manifestou o preconceito.
e que não deve ser perdido de vista, portanto, Envolver-se, portanto, não significa agir
o professor precisa aprender a ser gestor. como o aluno, mas interagir e, naturalmente,
Gestar a sala de aula é uma tarefa não perder de foco sua atuação como gestor.
complexa, o profissional deve possuir Outra característica é o de construtor de
algumas características de liderança aprendizagem – não simples transmissor de
educacional, dentre elas podemos citar o conteúdo. Essa construção deve ser
envolvimento. Envolver-se é a capacidade de compartilhada: o professor-gestor precisa
reconhecer as questões que não estão claras, motivar o aluno por meio de estratégias
não são óbvias e conseguir intervir para que diversas, por exemplo, situações-problemas
elas sejam solucionadas. Há muitos que estimulem os estudantes em busca de
problemas em sala de aula que não são soluções. As pessoas precisam ter desafios,
trazidos à superfície. Por experiência, que sejam possíveis de solucionar e
observamos que quando os alunos reclamam promovam crescimento individual. O ensino é
a respeito de determinado item, nem sempre coletivo, mas a aprendizagem é individual –
expressam a causa. As raízes, muitas vezes, não é possível assumir a premissa de que
ficam camufladas, sendo que os próprios todos que cursam o Ensino Superior têm os
alunos podem não ter consciência a respeito. mesmos níveis de entendimento. Nessa linha
O líder que desenvolve essa característica de pensamento, ao elaborar a avaliação, deve-
busca aprofundar-se e evitar que a situação se se ter cautela para que essa não se restrinja a
agrave. ideia de mensurar o quanto o aluno aprendeu,
O envolvimento também se relaciona à mas que aponte para o caminho do que ainda
mediação, ou seja, fazer com que alunos precisa ser ensinado para que ele alcance os
tenham bons relacionamentos interpessoais. objetivos propostos.
O grupo precisa estar unido para conseguir A sociedade hoje tem escolha: professores
finalizar o curso. Em outras palavras, o aluno podem discutir assuntos antes considerados
que se sente isolado acaba desistindo da tabus ou formas de expressão subversivas
jornada. como ideologias e seus aparatos, teorias
O bom-senso também é fator primordial, darwinistas, sistemas políticos, corrupção etc.
pois a postura do professor é avaliada o Não seremos envenenados com cicuta ou
tempo todo; assim pequenos detalhes como queimados na fogueira por difundir ideias,
cuidar do vocabulário, evitar generalizações, mas precisamos lembrar que estamos lidando
reducionismos ou crenças ultrapassadas com seres humanos, que já chegam com seu
favorecerem a imagem profissional. A repertório moldado e por essa razão é sempre
imparcialidade é sempre favorável, pois é importante planejar, pesquisar, analisar para
complicado quando o aluno nota preferências não ‘transmitir vírus, danificar a memória ou
por parte do professor. Naturalmente, o hardware’ do nosso aluno.
sabemos que é do ser humano a tendência a Existem muitas características não
preferir um indivíduo a outro; por isso a mencionadas do professor-gestor e que
cautela deve permear as relações. podem ser estudadas como forma de
Julgamentos, preconceitos também aprimoramento. As observações dadas servem
compõem esse olhar. Quando um aluno tem para ajudar a memória, que já se esqueceu de
preconceito em relação ao colega – todos suas potencialidades, mas sabemos que o
relevam, mas se o professor agir dessa entorno, as circunstâncias, a experiência, a
maneira, ele será alvo de avaliações percepção é que determinam nossas opções e

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quais caminhos devemos trilhar na sala de saber o que fazer com o conhecimento
aula. adquirido.
A Andragogia deve, urgentemente, ser
Considerações finais estudada em sua complexidade, para que
possamos encontrar caminhos de
aprendizagem mais favoráveis ao indivíduo
Sabemos da importância em estabelecer adulto, considerando sua subjetividade, pois o
bases consistentes para formação do público pilar que sustenta a sociedade é a Educação,
infantil, apesar disso insistimos que enquanto por essa razão, ela não deve estar voltada
não é possível alcançar o patamar esperado apenas a aspectos relacionados à
nas séries iniciais, devemos continuar nossa memorização de informações e/ou que se
jornada e investir nesse público adulto, volte para questões de ordem meramente
propiciando formação que esteja além do estruturais.
tradicional banco escolar, buscando atender
as necessidades individuais que auxiliem a Propiciar condições para formação de um
sociedade como um todo. indivíduo integral é considerá-lo como agente
no processo de construção e reconstrução, um
Mais uma vez reiteramos que a Educação ser capaz de avaliar e rever seus valores, de
precisa ser vista além de uma escolarização perceber-se como parte do sistema e,
voltada apenas a aspectos cognitivos – o principalmente agir de maneira imparcial.
indivíduo precisa ter formação integral ou
holística, termo difundido na atualidade, para

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