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MARIZE HELENA DE CAMPOS

“Maripozas e Pensões: um estudo da prostituição em

São Luís do Maranhão na primeira metade do século XX”1

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

São Paulo / USP

2001

1
Pesquisa Premiada com 2º. lugar no 30º. Concurso Literário Cidade de São Luís / categoria Antônio Lopes –
erudição 2007
E de repente uma voz de mulher, por cima do muro do cais:

_ Ó Cabelo de Fogo, tens aí um cigarro?

Ele ergueu o olhar, deu com uma figura miúda, morena, muito pintada, os cabelos apanhados para

trás, dois brincos pendentes das orelhas descobertas, os seios fartos querendo saltar do decote da blusa. Logo

reconheceu a Loló Maresia, que à noite recolhia os seus homens na calçadas do cais, só se deitando com

barqueiros, marinheiros e pescadores. E quando chegou lá no alto, subindo de dois em dois os degraus da

escada, com o maço de cigarros na mão, viu-a rir alto, atirando para trás o busto franzino.

_ Cigarro eu já tenho e estou fumando. O que eu queria era que tu subisses. Já me deitei com teu pai,

agora quero me deitar contigo. Anda, vem comigo, Cabelo de Fogo.

Embora já se haja passado mais de sessenta anos desse encontro, Mestre Severino como que ainda

sente o seio rijo de Loló Maresia roçar-lhe o braço, e vai andando com ela, levado pela calçada estreita, e

contorna o velho mercado, e sobe devagar a ladeira escura. Revê a sala apertada, o sofá de palhinha, uma

porta aberta para o quarto contíguo, a cama de ferro que range alto como se fosse partir. A luz de uma

lamparina vem do quarto para a sala, e ele dá por si no espelho oval da parede, em mangas de camisa, os pés

nas alpercatas de couro, as calças de mescla. O suor lhe desce da testa, seu coração parece que lhe vem à boca.

Ao fundo da casa, Loló canta baixinho, como num acalanto de mãe com o seu menino, e a água do chuveiro cai

forte sobre seu corpo. E é ainda molhada, só com a toalha de felpo passada na cintura, que ela reaparece no

vão da porta e chama por ele.

Quase uma hora depois, quando Severino começou a vestir-se com uma ponta de pressa, ela lhe disse,

ainda nua, espreguiçando-se na cama rangente:

_ Não precisa correr, Cabelo de Fogo. Teu pai sabe que tu veio comigo. E não precisa me pagar que ele

já pagou, e pagou bem. 2

Summary

2
MONTELLO, Josué. Cais da Sagração. RJ: Nova Fronteira, 1981, p. 234-235.
By the end of the 19th and at the beginning of the 20th century, the city of São Luis

went through changes due to the industrial growth which was a consequence of the grave

crisis in the countryside.

The city and the recently founded factories attracted, and became the shelter of a

great part of the dispossessed rural population.

We could highlight, during this migratory movement the considerable increase in the

number of women working in the textile industry – approximately 70% of the workforce was

composed by them.

In this sense, this research has the objective of analyzing, on one hand, the relationship

between the places from where rural people were expelled and the growth of brothels, and, on

other hand, how the politics of social prophylactic measures which has accompanied the

urbanization process soon began to implement laws and decrees and made speeches that

aimed at creating a civilized, organized, clean and controlled society and mainly notice,

though the historical demography, who those women were.

Resumo
Na virada do século XIX para o XX, a cidade de São Luís modificou-se em função do

surto industrial, decorrente da crise que se agravara no campo.

O lócus urbano e as fábricas, recém implantadas, tornavam-se o refúgio de grande

parte dos camponeses despossuídos.

No desenrolar do movimento migratório destacava-se o significativo número de

mulheres, certamente atraídas pelo aceno das têxteis onde 70% da mão-de-obra empregada

era feminina. Nesse sentido, a pesquisa tem como objetivo: observar as relações entre os

pontos de expulsão no campo e o crescimento das casas-de-meretrizes: identificar como a

política de profilaxia social, que acompanhava os processos de urbanização, colocou em

prática leis, decretos e veiculou seus discursos na busca de uma sociedade “civilizada”,

organizada, limpa e controlada; e, principalmente, perceber, através da demografia histórica,

quem eram aquelas mulheres.

Sumário
Introdução... anoiteceu

Parte I – “Engano d’alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito”3

Farrapos de algodão: observações acerca da economia maranhense na primeira metade

do século XX

Tecendo a ordem: urbanização, leis e meretrício na capital São Luís

Parte II – Decahidas e Horizontaes: os olhares da História

Histórias de meretrizes: observações sobre a historiografia da prostituição

Cabarés e Navalhas: o cotidiano das meretrizes ludovicenses nos registros de queixas

e ocorrências

Parte III – Francisca P., Honorina C., Lolita L. e outras damas de São Luís do

Maranhão.

Adentrando os espaços de convívio: pensões, hospedarias e casas-de-cômodo.

Ilusórias chaminés: demografia da prostituição

Considerações finais... Amanheceu

Fontes

Bibliografia

Agradecimentos

À professora Eni de Mesquita Samara, que de forma competente e carinhosa me

conduziu neste trabalho.


3
CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas.Canto III. In: www.bibvirt.futuro.usp.br. / MEIRELES, Mário M..
História do Maranhão. São Luís-MA: Fundação Cultural do Maranhão, 1980, p. 351.
Aos professores Nicolau Sevcenko e Raquel Glezer pelas valiosas sugestões à

pesquisa.

Aos meus pais Josemir Ferraz de Campos e Yvone Mendes Pinto Campos, educadores

que me incentivaram trilhar pelas veredas da História.

Ao meu filho Renato de Campos, que na sabedoria de seu mundo de criança foi a

grande força que me fez chegar ao fim.

Ao amigo Manoel de Jesus Barros Martins, reponsável pelo meu encontro com as

“Maripozas”.

A Maria de Jesus Almeida Costa e ao Senhor “Orlando Silva” (Ferdinando Viegas),

cujas vidas pertencem ao universo das “Maripozas e Pensões”.

A Hulda Medeiros Teixeira, sem a qual importantes informações ainda estariam

encerradas nos jornais, amarelados e quebradiços, do início do século.

A amiga Profª. Iracy Malheiros, leitora rigorosa e atenta que em sua “oficina” lapidou

meu bruto português.

Aos funcionários e amigos do Centro de Demografia Histórica da América Latina,

CEDHAL, por todo apoio nestes anos de convivência em especial à Vilma Laurentino Paes e

Geni Emília de Souza.

Aos funcionários da Biblioteca Pública “Benedito Leite” e do Arquivo Público do

Estado do Maranhão meu muito obrigado, em especial à Mundinha Araújo pelo desvelo

dispensado a esta pesquisa.


Ao Dr. Filipe Andrés, pela atenção em desfazer minhas incompreensões sobre esta

cidade.

A União Brasileira de Mulheres, UBM, onde as vozes em defesa da mulher jamais se

calarão.

A Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES,

órgão financiador deste trabalho, sem a qual sua realização ver-se-ia seriamente

comprometida.

Aos alunos da faculdade de História da Universidade Federal do Maranhão, fiéis na

luta em defesa da ciência e da Universidade Pública.

Aos colegas do Departamento de História da Universidade Federal do Maranhão, por

terem aceitado o acúmulo de tarefas a fim de possibilitar minha vinda para a USP. Minha

profunda gratidão a cada um de vocês.

Introdução

Anas, Bárbaras, Catarinas, Firminas, Marias, Tetés...


Após décadas, atados a uma narrativa pouco comprometida com a história de seu

povo, os estudos sobre a História do Maranhão vêm nos últimos anos contemplando aqueles

anônimos e recuperando-lhes os papéis históricos.

A História, até então vista de cima, passou a caminhar por novas trilhas, sinalizadas

por outras leituras e olhares.

Especificamente sobre as mulheres surgiram trabalhos, dentre monografias,

dissertações e teses4, confirmando a mudança de ótica. Não obstante a importância das

pesquisas permanecem, ainda, elementos não “vistos”, não estudados, especialmente as

“insubmissas”, as negadoras de papéis impostos, as famintas e silenciadas.

Pouco se sabe, para citar alguns exemplos, sobre Bárbara de Brito, provavelmente a

primeira mulher, no Maranhão, a pedir divórcio. Seu processo, datado do início do XVIII é,

até o momento, o mais antigo já localizado no Arquivo Público do Estado do Maranhão, onde

se encontra grande parte deles.

Sobre negra forra Catarina Rosa de Jesus, “Catarina Mina”, por muitos chamada

“Chica da Silva do Maranhão” e que, hoje, dá nome ao beco onde residia e negociava em rico

casarão, também existem poucas linhas e nenhum estudo sobre a sua importância no contexto

escravocrata ludovicense.

4
Destacamos: CORREIA, Maria da Glória G.. NOS FIOS DA TRAMA: Cotidiano e Trabalho do Operariado
Feminino em São Luís na Virada do Século. Dissertação de Mestrado. Centro de Estudos Gerais. Instituto de
Ciências Humanas e Filosofia. Curso de História. Universidade Federal Fluminense. Niterói. 1998. / SILVA,
Dalmiran Colaço. Pensões e Casas de Cômodos: observações acerca da prostituição em São Luís no período de
1940-1947. Monografia de Conclusão de Curso. Centro de Ciências Humanas. Departamento de História.
Universidade Federal do Maranhão. 1999. / MORAIS, Eva A. de. A dissolução dos laços matrimoniais: conflitos
e tensões na família maranhense no século XIX. . Monografia de Conclusão de Curso. Centro de Ciências
Humanas. Departamento de História. Universidade Federal do Maranhão. 2000 / SILVA, Rosiana F. A família
possível: relações concubinárias no Maranhão setecentista (1740-1800). Monografia de Conclusão de Curso.
Centro de Ciências Humanas. Departamento de História. Universidade Federal do Maranhão. 2000 / SILVA,
Maria Lucilene da. O amor que mata: violência contra a mulher em São Luís do Maranhão. . Monografia de
Conclusão de Curso. Centro de Ciências Humanas. Departamento de História. Universidade Federal do
Maranhão. 2000
Já sobre Ana Joaquina Pereira Jansen, mulher que viveu no século XIX e ocupou

importante papel no cenário político e econômico do Maranhão, há alguns estudos 5. Sente-se,

porém, necessidade de outras análises que feitas à luz da História possam refletir sobre suas

posturas frente à sociedade andrógena, na qual estava inserida, contribuindo para a

desmistificação da imagem de mulher cruel e mesquinha, em que a mesma fora transformada.

Além disso, reflete-se acerca da inexistência de produções historiográficas sobre

participação das mulheres na Balaiada, sobre as noviches e nochês dos terreiros de mina,

sobre as representações femininas no tambor-de-crioula, sobre Maria Firmina dos Reis,

membro do círculo literário ludovicense no século XIX e sobre as prostitutas que povoaram as

casas e pensões da Praia Grande em São Luís na primeira metade do século XX. Na busca de

adentrar estes “porões” este trabalho se justifica.

Sobre o tema

Pensada como uma contribuição aos estudos da História Social do Maranhão esta

pesquisa tem como objetivo recuperar vivências e interpretações de vidas encobertas no

mundo urbano-industrial-boêmio ludovicense, enfocando como elemento central as

meretrizes.

A idéia é mergulhar na São Luís da primeira metade do século passado e remontar seu

cenário, a fim de entender o processo de chegada das mulheres, a transformação do espaço

5
Ver: MORAES, Jomar. (org.) Ana Jansen, Rainha do Maranhão. São Luís-MA: Edições da Academia
Maranhense de Letras, 1989. / JANOTTI, Maria de Lourdes M.. Três Mulheres da Elite Maranhense. In: Revista
ANPUH, SP: Contexto, vol. 16, n° 31 e 32, 1996.
urbano (dos casarões solarengos, que abrigavam os senhores do algodão, para os cabarés) e a

utilização de discursos definidores dos papéis e lugares sociais.

O que estimulou o movimento migratório das mulheres que vieram em tão

significativo número para a cidade, como foi desenhado o espaço destinado ao meretrício,

como o Estado intervinha no seu cotidiano e quais os elementos que pautavam seus discursos

são algumas das questões sobre as quais o trabalho se debruça.

Embora o recorte histórico tenha privilegiado a primeira metade do século XX, a

maior parte do corpo documental data do primeiro período varguista.

Procurou-se, assim, o entendimento das raízes da ideologia, então, em voga.

Isso porque, marcadamente no pós-30, o Estado, corporificado na figura de Getúlio

Vargas, voltou-se para a formação de uma consciência nacional onde a família, o trabalho e a

Pátria eram os pilares. Recuperavam-se valores e conceitos ligados à religião católica, à

nacionalidade, à disciplina e à moral, que aplicados às representações dos papéis femininos

contrapunham a esposa-mãe-católica à meretriz.

Nos discursos acerca da prostituta o pensamento médico assumia especial papel e a

partir de sua reconstituição, observam-se elementos que compunham a chamada “profilaxia

social”, impulsionada nos fins do XIX.

Através das abordagens voltadas para a chamada “cidade doente”, na qual a

prostituição era apontada como uma das suas faces, discutiam formas de higienização e

normatização do espaço urbano6.


6
ENGEL, Magali G.. Meretrizes e Doutores: saber médico e prostituição no Rio de Janeiro (1840-1890). SP.
Brasiliense. 1989.
Em São Luís, aquele processo teve início em 1919 quando, resultado das mudanças

econômicas verificadas no campo e na cidade, o Governo impôs um minucioso cadastro,

controlado pela polícia, das pessoas que chegavam e se hospedavam em pensões, casas-de-

cômodos e similares.

Tal movimento refletia os efeitos, fortemente sentidos no final do século XIX, da

falência da agroindústria algodoeira e açucareira, e da implantação das têxteis.

Por outro lado, a utilização nas indústrias de 70% de mão-de-obra feminina e o

significativo número de pensões, casas-de-cômodos e hospedarias de meretrizes que

ocupavam o bairro da Praia Grande e Desterro indicavam que grande parte daqueles que

vinham para a cidade, atraídos pelo ilusório aceno das fábricas, eram mulheres.

À medida que a cidade inchava, intensificavam-se as regulamentações que

objetivavam a ordem pública. Preocupava-se, cada vez mais, o Governo em identificar as

pessoas que circulavam pela urbes tanto que, em 4 de Abril de 1932, o Diário Oficial do

Estado do Maranhão fez publicar o Decreto de 30 de março no qual constava o novo

Regulamento para a Chefatura de Polícia do Estado.

Seguiram-se medidas acauteladoras da moralidade pública e uma infinidade de

discursos na imprensa acerca da higienização social e urbana.

Nos projetos políticos, que se apresentavam, os conceitos de modernização, civilização

e desenvolvimento eram norteados pelos padrões europeus e, uma vez esquadrinhada a

cidade, eram imprimidas, aos locais, características específicas que deles revelavam os

problemas a solucionar.
Em meio às tabernas, charutarias, vendas de secos e molhados, botequins etc., estavam

as inúmeras casas, pensões e hospedarias de meretrizes. Tal concentração, em limites bem

definidos, certamente facilitou sua vigilância. Vigilância de um cotidiano, em parte, revelado

nos livros de registros de queixas e que tornaram possível percorrer o cenário por onde as

meretrizes se movimentavam ouvir suas vozes, conhecer seus codinomes, posturas e as

violências praticadas e sofridas.

Assim, ao localizar a área destinada ao meretrício, no espaço físico da cidade, o que se

pretende é compreender como ela foi construída e codificada e como os órgãos do Governo,

principalmente a Polícia, concretizavam suas ações e estabeleciam suas relações.

Corpo Documental

O enfoque desta pesquisa faz-se a partir da coleta de dados encontrados em 5

conjuntos principais: livros de registros hóspedes de casas-de-cômodo, hospedarias e pensões;

livros de registros de meretrizes; livros de registros de queixas e ocorrências; coleção de leis e

decretos-lei do Brasil e do Maranhão; e jornais.

Com exceção dos jornais, que se encontram no setor de obras raras da Biblioteca

Pública do Estado do Maranhão, os outros documentos pertencem ao Arquivo Público do

Estado do Maranhão. Estes foram localizados no setor dos códices, série registros da

Delegacia de Polícia do 2° Distrito da Capital, em bom estado de conservação, bem

organizados e acondicionados em local adequado.


Os jornais carecem de urgentes cuidados. Amarelados, quebradiços, com fungos,

mofos e muita poeira, se não tratados, correm sério risco de inutilizarem-se em curto espaço

de tempo.

Inicialmente, foram trabalhados 28 livros de registros hóspedes de casas-de-cômodo,

pensões e hospedarias de meretrizes onde pôde-se observar um intenso fluxo migratório de

mulheres, principalmente vindas do campo, para a cidade de São Luís. Quatro elementos ali

se evidenciam: a falência da economia agroexportadora, as precárias condições de vida que se

apresentaram a partir de então, a criação de um parque têxtil concentrado em São Luís (cuja

mão de obra feminina representava 70% dos trabalhadores) e a localização central da zona

portuária (que confirmava a manutenção do caráter comercial daquele espaço).

Nos livros de registros de hóspedes encontram-se os registros mensais, que eram

regularmente vistoriados pela polícia. Constam listas nominativas das prostitutas (centenas de

mulheres e algumas dezenas de homens, muitos seguidos por apelidos); naturalidade (pela

qual foi localizada uma estrangeira, sendo as demais brasileiras); idade (que tornou possível

traçar um quadro das faixas etárias predominantes entre as meretrizes); estado civil (o que

demonstra não ter sido raro a existência de meretrizes casadas); profissão (aparecem

indicações de domésticas, mundanas ou meretrizes); domicílio (onde consta o endereço do

estabelecimento); procedência (indica a cidade de origem da meretriz facilitando a localização

e incidência dos pontos de expulsão); destino (aparecem tanto cidades quanto pensões para

onde se dirigia a meretriz quando de sua saída da casa) favorecendo um quadro da mobilidade

daquelas mulheres; data de entrada e saída (proporcionam informações sobre o tempo de

permanência das pessoas) e, por vezes, sinais característicos (embora raros, quando aparecem

tecem uma minuciosa descrição do tipo físico da pessoa).


O livro de registro de pensões e estabelecimentos congêneres traz dados sobre

impostos, não encontrados nos demais. Neles estão indicadas a quantia paga ao mês pela

pensão, a qual classe pertencia (1ª, 2ª ou 3ª) bem como pensões que tiveram sua licença

suspensa por não haverem pago o referido tributo. Ao conhecer os encargos de cada casa,

pensão ou hospedaria tem-se um demonstrativo da lucratividade daqueles estabelecimentos

também para o Estado.

As casas dividiam o mesmo espaço urbano. As pensões e casas-de-cômodos mais

luxuosas, pertencentes à 1ª ou 2ª classes, tinham como moradoras mulheres que trabalhavam

como meretrizes e a “Madame”. Raras eram as pensões que apresentavam homens na lista de

“hóspedes”, todavia o livro dedicado à pensão “Santos” indica que conviviam no mesmo

espaço de moradia, meretrizes e outros trabalhadores.

As hospedarias tinham, por vezes, outros moradores além das meretrizes, eram mais

simples que as pensões, pertenciam geralmente à 2ª e 3ª classes e, não raro, encontravam-se

homens as gerenciando.

As casas-de-cômodo, como indicava o nome, quando da 3ª classe, em muito se

assemelhava a um cortiço7. Nelas mesclavam-se, com freqüência, meretrizes e outros

trabalhadores.

Destacaram-se alguns expressivos elementos filigranescos como: a indicação

“familiar” para a casa-de-cômodo de Raimundo M., uma casa inserida na categoria de casa de

meretrizes e os registros da pensão “Uberaba” que apontam detalhadamente os sinais

particulares de cada um dos seus hóspedes que eram, dentre outros, mendigos e meretrizes.
7
Existem casos de casa-de-cômodo de 1° classe, como a de Honorina Canavieira.
Foram levantados, ainda no livro de registro dos mapas semanais e vistos e no livro de

registro de mapas quinzenais, 20 “mapas” de ruas, casas e “proprietários”, dentre os quais, 15

semanais e 5 quinzenais, ambos contemplando os anos de 1933 e 1934. Ao indicarem as ruas,

número das casas, e “proprietários”, permitiram conhecer o espaço físico onde se

concentravam as pensões de meretrizes, o número de mulheres e homens que as gerenciava e

a localização dos estabelecimentos.

Livro de registro da hospedaria “Justina”. O livro traz um elemento não verificado nos

outros. Os codinomes das meretrizes: Chiba, Iracema, Maria Fuzarca, Didi, Noca e Maria

Rosa. Através destes, atravessam-se as fronteiras do formalismo do nome onde se puderam

tatear mais elementos do espaço privado daquelas mulheres e penetrar mais fundo naquilo

que se traduzia em suas particularidades a partir de seus perfis físicos e, por que não,

psicológicos.

Livro de registro da hospedaria “Ferreira”, de Luiz M. F. (1923-1924).

Este é o mais antigo livro localizado. Demonstra ser mais um daqueles a que se tem

chamado de “domicílios alternativos”. Fruto da Lei de 24 de Março de 1919 traz informações

sobre seus vários moradores.

Livro de registro de meretrizes existentes no 2°distrito. Constam de 2 livros

semelhantes a uma espécie de fichário já que constam por volta de 250 nomes de meretrizes,

seus dados pessoais, residência e um número de registro.

Livro de registro de várias hospedarias, (intitulado “livro de registro de ocorrências da

2°Delegacia Auxiliar de Polícia”. Os registros encontram-se em um único livro onde cada

página foi dedicada a uma hospedaria. Apenas 2 pensões aparecem nele registradas: pensão

“Lolita” e pensão “Carneiro”. O livro inicialmente dedicado a ocorrências, acrescenta


informações sobre a organização daqueles espaços de convivência e das 22 hospedarias

registradas 1 traz a denominação “domésticas”, para o campo profissão; 2 não possuem

quaisquer registros; 8 apontam moradia de meretrizes e outros trabalhadores, e 11

exclusivamente de meretrizes. Indica também hospedarias que não constam naquele conjunto

de 28 livros ampliando o raio de conhecimento sobre os espaços do meretrício ludovicense.

Ruas. A preocupação em levantar fontes que falem sobre as ruas reside no fato de não

haver equívocos quanto à localização dos estabelecimentos já que em São Luís do Maranhão

é muito comum que a mesma rua se apresente com dois nomes diferentes. 8 (ver planilha em

anexo)

Registro de Queixas. Os livros de queixas apresentam, de forma mais detida, aspectos

do cotidiano das meretrizes. Traçam um panorama da ação policial sobre as prostitutas, a

partir de um elenco de motivos pelos quais as mesmas eram presas ou intimadas permitindo

que se conheçam os meandros das relações polícia/meretrizes, meretrizes/meretrizes e

madames, meretrizes/clientes, amantes, gerentes de casas, “chefes de família”, meretrizes/

“senhoras”.

Dos jornais foram retirados importantes subsídios para a compreensão do tema, haja

vista trazerem informações não encontradas nas outras fontes. Recuperando elementos da

história do meretrício em São Luís, a imprensa serviu de canal de expressão dos partidários da

profilaxia social e urbana. É onde fluem os discursos e são percebidos os mecanismos de

construção de papéis e lugares sociais.

8
Cidade de São Luís: ruas, avenidas praças, travessas e becos de São Luís com suas denominações antigas e
modernas. In; Indicador Maranhense. L. Borba Santos. Associação Comercial do Maranhão, 1947.
Foram utilizados os Jornais “O Globo”, “Tribuna do Povo”, “A Hora”, “O Imparcial” e

“Diário do Norte”. Todos da imprensa ludovicense no período estudado.9

A fim de se poder traçar um panorama das ações concretas do Estado foram

selecionados, do Conjunto de Leis e Decretos do Maranhão, aqueles que diziam respeito a

práticas de normatização e higienização da cidade e da sociedade.

Desse modo, ainda que por entre mitos e estereótipos, distorções e preconceitos da

documentação oficial do Estado, reconstituíram-se vidas e recuperaram-se histórias e vozes de

pessoas presentes e não vistas. E, ao fornecer dados sobre mulheres da região nordeste,

contribuiu para que parte de suas trajetórias fossem resgatadas: trajetórias ainda tão pouco

conhecidas.

Metodologia

Este estudo pode ser caracterizado como uma interface da história das mulheres com a

demografia. Com vista a alargar o campo de observações, trata de mulheres prostitutas em

perspectiva demográfica, colocando juntas as realidades que se apresentam paralelas e

ritmadas em suas vivências, quais sejam, econômica e social.

Embora não se trate de registros de nascimentos, casamentos ou óbitos, inventários ou

testamentos, seguiram-se as orientações metodológicas dos trabalhos de Demografia

Histórica, em razão de como as fontes apresentam os dados (as meretrizes aparecem

praticamente recenseadas).

9
É importante ressaltar que todas as transcrições documentais seguiram fielmente o original. Nenhuma alteração
fora realizada para que as formas e essências dos discursos fossem conhecidas em sua totalidade.
Mês a mês o “proprietário” do estabelecimento apresentava, no rigor dos detalhes, a

lista de hóspedes. Ao serem levantadas estatísticas de quantos anos tinham, de que cidades

vinham, se eram solteiras, casadas, viúvas, etc., como registravam sua “profissão” 10

(domésticas, meretrizes ou mundanas) e quanto tempo passaram na casa, pôde-se resgatar,

quem eram aquelas mulheres.

As listas nominativas precisam amostragens de fluxos migratórios para a cidade de

São Luís, confirmando uma grande mobilidade populacional, intra e extra-regional ocorrida

durante as 4 primeiras décadas do XX e possibilitando o relacionamento daqueles

movimentos com as transformações históricas que se verificavam.

Após a construção de tabelas de contagens do número de mulheres e homens em cada

casa, as naturalidades, idades, estado civil, profissões, procedências, datas de entrada e saída,

fez-se um cruzamento com os pontos de expulsão a fim de estabelecer uma correspondência.

Desse modo, o método com que se tem trabalhado consiste em extrair dos livros

informações quantitativas bem como qualitativas.

Tornar-se-ia muito difícil esboçar e dimensionar o quadro do êxodo rural, das

mulheres maranhenses, em direção a São Luís no início do século passado não fossem as

informações dos livros. Todavia, o confronto dos dados com as mudanças estruturais na

economia só foi possível feito sob o viés demográfico, pois a importância daqueles fluxos

reside diretamente no impacto sobre a vida urbana.

A industrialização consolidou-se sobre a base urbana já existente, mas terminou por

acelerar seu crescimento11 e é muito em função da chegada das pessoas, do aumento


10
Nos documentos a atividade feminina é sempre descrita, mas como em muitos casos a profissão indicada é
doméstica, e o domicílio é de meretrizes, supõe-se um mecanismo dissimulador já que o meretrício era alvo da
polícia.
11
Martine, George. As migrações de origem rural no Brasil: uma perspectiva Histórica. In: Congresso sobre a
História da População da América Latina / [organização Sérgio ODILON Nadalin, Maria Luiza Marcílio, Altiva
Pillati Balhana]. SP: Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados, 1990. Publicação editada conjuntamente
populacional e das novas formas de organização de moradias que a intervenção estatal viu-se

fortalecida e com ela todo um controle de condutas e posturas.

Os Capítulos

Os três capítulos, que compõem o estudo, abordam a prostituição em São Luís entre os

anos de 1924 a 1947 e são dedicados a conhecer este aspecto ainda pouco conhecido da

história social ludovicense que envolve: a demarcação do espaço urbano, as relações com o

Estado e o cotidiano das meretrizes.

Mesclando pescadores, estivadores, trapicheiros, operários, pedreiros, marítimos,

intelectuais entre outros, a prática do meretrício espalhou-se pelas ruas da área central da

cidade indicando modos de vida, diferentes daqueles apresentados pelos “modelares”

discursos higienistas e normatizadores.

Analisando os livros de registros, vê-se que as pessoas envolvidas com o meretrício

eram controladas pelo Estado a partir dos locais de moradia. Ao indicar nome, idade,

profissão, estado civil, procedência, destino, data de entrada e saída bem como sinais

característicos, de cada um dos moradores, deixavam entrever o empenho da fiscalização

social.

Assim, a perspectiva adotada para este trabalho, pretende estabelecer uma análise

onde estejam imbricados, economia, estruturação do espaço físico do meretrício, o papel do

Estado e o dia-a-dia daquelas mulheres.

pela ABEP, IUSSP e CELADE, reunindo trabalhos apresentados no Congresso sobre a História da População da
América Latina, Ouro-Preto, MG de 02 a 06 de Julho de 1989.
O primeiro capítulo, “Engano d´alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar

muito”, dedica-se a trabalhar a economia e sociedade maranhense, rastreando as

transformações por que passou a cidade de São Luís na primeira metade do século.

Explorando os aspectos econômicos, políticos e urbanos, destacam-se o processo de formação

do espaço dedicado ao meretrício, as leis e os discursos que para ele se voltaram.

O primeiro subcapítulo:

Farrapos de Algodão: observações acerca da economia maranhense na primeira

metade do século XX apresenta as condições que se impuseram no campo após a falência da

economia algodoeira e açucareira e como estas transformações interferiram na vida urbana.

Isso porque, no imediato declínio daquela, foram implantadas fábricas concentradas na cidade

de São Luís, onde nas têxteis, a utilização da mão-de-obra, chegava a ser 70% feminina o que

certamente serviu de chamariz para muitas mulheres que no campo passavam por severas

dificuldades econômicas. O afluxo de mulheres, maior do que a oferta de empregos, gerou

uma massa excluída que pode explicar o alto número de casas de meretrizes.

Tecendo a ordem: urbanização, leis e meretrício na capital São Luís, o segundo

subcapítulo, busca analisar a ação do Estado quanto à normatização do espaço reservado ao

meretrício verificando como conviviam no cotidiano, ordem e desordem e perceber como se

engendravam as relações sociais e políticas entre Estado e meretrizes.

Aponta que com o movimento migratório que toma vulto no início do século, a cidade

vê seu contingente populacional crescer e as formas de convívio se alterarem, principalmente

com relação às formas de morar, levando a política de profilaxia social que acompanhava os

processos de urbanização a colocar em prática leis, decretos e a veicular seus discursos.


Naquele contexto, entendido como focos de doença, moral e física, o meretrício

tornava-se um dos principais alvos dos que bradavam a favor de uma sociedade “civilizada”,

“organizada”, “limpa” e “controlada”.

Em síntese, mostra a formação da identidade social pautada em categorizar pessoas e

os ambientes sociais a que pertencem. 12

O segundo capítulo Decahidas e Horizontaes: os olhares da História também é

apresentado em dois subcapítulos:

Histórias de Meretrizes dedica-se a recuperar os percursos das produções

historiográficas mais importantes da história da prostituição, tanto internacional como

nacional e verificar como a pesquisa “Maripozas” nela está inserida. Pretende, ainda, observar

os elos e rupturas entre as perspectivas da historiografia brasileira e deste trabalho.

Cabarés e Navalhas: o cotidiano das meretrizes ludovicenses nos registros de queixas e

ocorrências faz fluir as histórias das meretrizes a partir dos registros de queixas e ocorrências.

Neste subcapítulo, o cotidiano emerge desnudando vivências e revelando inúmeros elementos

participantes da vida das meretrizes como a violência, o cenário em que viviam, as pessoas

com as quais se relacionavam, o que possuíam, falas, formas de vestir, etc. As queixas e

ocorrências permitem capturar fragmentos que revelam o pulsar da vida nas casas.

No terceiro e último capítulo, Francisca P., Honorina C., Lolita L. e outras damas de

São Luís do Maranhão o enfoque privilegia os livros de registros, traçando um perfil

demográfico das mulheres e descrevendo as casas onde moravam.

12
GOFFMAN, Ervirg. Estigma. RJ: Ed. Guanabara, 1988.
O primeiro subcapítulo, Pensões, Hospedarias e Casas de Cômodos... Adentrando os

espaços de convívio trata das configurações das casas e hospedarias, destacando suas

localizações, diferenças, níveis, moradores etc.

O subcapítulo Ilusórias chaminés, analisa os livros de registros de casas de pensão,

cômodos e hospedarias de meretrizes, dissecando as informações que trazem e compondo os

quadros demográficos.

...Quanto do algodão
teceu tua glória,
fios que hoje são
cortina ilusória
que o vento esfiapa
e te põe despido,
fora do teu mapa
e posto no olvido.
E quanto igualmente
de açúcar fez doce
a amarga semente
que a vida trouxe.
Quanto verde havia
nos canaviais,
esperança guia
de ventos gerais
e doçura amiga
que vinha adoçar
a tua fadiga
de chão e de mar.
Quanto tu colheste
da terra e do sonho,
para hoje ter este
destino tristonho.
Chão da Praia Grande
deixa que, em poeira,
teu tempo desande
até onde queira
e que teu passado
não fique senão
como um pó dourado
sobre a solidão.13

(José Chagas)

Parte I. “Engano d’alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito”14

13
CHAGAS, José. Chão da Praia Grande. In: Apanhados do chão. São Luís: EDUFMA, 1994, p. 48-49.
14
MEIRELES, Mário Martins. História do Maranhão. São Luís-Maranhão. Op. cit. 1980, p. 351.
1.1. Farrapos de algodão: observações acerca da economia maranhense na primeira

metade do século XX

Ao iniciar o século XX, São Luís era uma cidade onde o fausto e a riqueza econômica

ecoavam de um passado não distante.

O algodão (e em menor escala o arroz)15, que durante décadas no século XIX,

representara fontes de lucros, tornara-se o grande responsável pelo desequilíbrio econômico

maranhense16. Sua qualidade, resultado da precária tecnologia empregada, revelava-se aquém

dos outros produtores, incentivando a queda dos preços no mercado internacional.

15
O surgimento da grande lavoura algodoeira maranhense foi assim descrita por Celso Furtado. Formação
econômica do Brasil. SP: Cia Ed. Nacional, 1980, 17. ed. p.91. “Tão importante quanto a ajuda financeira,
entretanto, foi a modificação no mercado mundial de produtos tropicais provocada pela guerra de
independência dos EUA e logo em seguida pela revolução industrial inglesa. Os dirigentes da companhia
perceberam desde o início que o algodão era o produto tropical cuja procura estava crescendo com mais
intensidade, e que o arroz produzido nas colônias inglesas e principalmente consumido no sul da Europa não
sofria restrição de nenhum pacto colonial. Os recursos da companhia foram assim concentrados na produção
desses dois artigos. Quando os principais frutos começaram a surgir, ocorreu, demais, que o grande centro
produtor de arroz foi excluído temporariamente do mercado mundial em razão da guerra de independência das
colônias inglesas da América do Norte. A produção maranhense encontrou, assim, condições altamente
propícias para desenvolver-se e capitalizar-se adequadamente. A pequena colônia, em cujo porto entravam um
ou dois navios por ano e cujos habitantes dependiam do trabalho de algum índio escravo para sobreviver,
conheceu excepcional prosperidade no fim da época colonial, recebendo em seu porto de cem a cento e
cinqüenta navios por ano e chegando a exportar um milhão de libras. Excluído o núcleo maranhense, todo o
resto da economia colonial atravessou uma etapa de séria prostração nos últimos decênio do século”.
16
A abolição da escravatura tem sido apontada pelos principais estudiosos do tema como, José de Ribamar
Chaves Caldeira. Origens da indústria no sistema agro-exportador maranhense (1875-1895). Tese de
Doutoramento, FFLCH / USP, 1988 e Mudanças sociais no Maranhão. Revista Ciência e Cultura, 32 (6), 1980;
Maria Cristina Pereira de Melo. O Bater dos Panos; um estudo das relações de trabalho na indústria têxtil do
Maranhão (1940-1960). São Luís, SIOGE, 1990; Mário Martins Meireles. História do Maranhão. São Luís:
Fundação Cultural do Maranhão, 1980 e Raimundo Moacir Mendes Feitosa. O processo sócio econômico do
Maranhão: história e desenvolvimento. Dissertação de Mestrado. Belém: Universidade Federal do Pará, Núcleo
de Altos Estudos Amazônicos, Curso Internacional de Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento, 1994,
como o elemento decisivo na desarticulação da grande lavoura local. Meireles, História do Maranhão op. cit.
p.350 descreve como desastrosos os resultados do 13 de Maio. “... Foram-se por terra, praticamente de um só
golpe, todas as nossas lavouras de algodão, arroz e cana-de-açúcar, com elas nossas indústrias açucareiras e
nosso comércio exportador, tudo levado no arrastão do impacto da libertação em massa do trabalhador servil,
agravado isso com o não se indenizarem os proprietários que, na aquisição do braço escravo, haviam investido
grandes capitais. A Associação Comercial do Maranhão conclamou seus sócios para o estudo do problema que
se criara, mas sem nenhuma solução, mesmo de emergência foi encontrada. Então, o pouco que se pode salvar
do desastre, vendendo-se as propriedades agrícolas por 10% de seu valor, foi aplicado na loucura industrial que
se apoderou de nossos homens de negócio, na ânsia de se agarrarem à primeira tábua de salvação que se lhes
apresentou”.
Certo é que, antes mesmo da metade do XIX, o sistema vinha apresentando sinais de

esgotamento17 e nesse sentido duas alternativas foram implementadas a fim de evitar que a

débaclê fosse mais grave: a primeira, a partir de 1850, através da dinamização do cultivo da

cana e da implantação de engenhos e a segunda, vinte e cinco anos mais tarde, com as fábricas

têxteis. Nos dois casos, porém, os reveses não tardaram a aparecer.

Apesar de ter possuído 500 engenhos, onde mais da metade era movida a vapor, a

força hidráulica e a tração animal, e de ter se aproximado dos patamares da economia

algodoeira18, o açúcar não respondeu aos anseios de seus investidores.

Além de demandar o uso do trabalho escravo, num momento em que as campanhas

abolicionistas caminhavam a largos passos, encontrava seus preços numa das mais baixas

cotações da história.

Jerônimo de Viveiros aponta que em 1882 a produção açucareira maranhense foi cerca

de 16.100.000 quilos de açúcar, baixando em mais de 50% no ano da abolição. Para o autor, o

caso do Engenho Central implantado na localidade de São Pedro, hoje município de Pindaré,

às margens do rio Pindaré-Mirim, ilustra com clareza os efeitos do 13 de Maio na

desmobilização daquela economia aristocrática, rural e escravista.

“Se levarmos o nosso estudo comparativo às safras do Engenho Central São Pedro,

que era a maior usina açucareira do Estado, verificaremos que lá onde se fabricou em 1887

_ 2.200.000 quilos, em 1888 _ 1.120.000, em 1889 _ 1.098.000, em 1890 _ 1.700.000, em

17
Sobre a crise da economia agroexportadora na grande propriedade rural maranhense ver a observação de
Raimundo Moacir M. Feitosa, O processo sócio econômico do Maranhão: história e desenvolvimento. Op. cit. p.
193. “Cessados os conflitos da Independência norte-americana, os conflitos provocados pelas guerras
napoleônicas e restabelecido o fornecimento de algodão pelos Estados Unidos à Inglaterra, bem como a
entrada da produção indiana de boa qualidade no mercado internacional os preços caem, de modo que já por
volta de 1822 a atividade produtiva de algodão no Maranhão dá sinais de esgotamento...”.
18
CALDEIRA, José de Ribamar C.. Mudanças sociais no Maranhão. Op. cit. p.707.
1891 _ 1.125.000, em 1892 _ 1.120, em 1893 _ 855.000, se descia a produção, em 1894 para

634.000, em 1902 _ 501.000, em 1903 _ 517.000, em 1904 _ 371.000, em 1905 _ 106.000, em

1906 _ 135.000 quilos, e convenhamos que, com efeito, a indústria açucareira caminhava

para a sua extinção completa no Maranhão. E assim aconteceu. Em 1917, já importávamos

60% do que consumíamos e desde 30 que essa importância passou a ser quase total”.19

Por outro lado, frente ao esfacelamento da economia algodoeira e açucareira, a

implantação de indústrias surgia como um meio de assegurar a parca riqueza que restava.

Mas ao contrário do que se verificou no sudeste, onde o excedente do capital

agroexportador deslocou-se para o capital industrial 20, o estabelecimento do parque fabril

maranhense só foi possível devido à articulação entre frações da aristocracia rural e burguesia

comercial e da reunião de seus capitais. 21

A implantação das fábricas deu-se em importantes núcleos urbanos, como Caxias e

Codó, todavia, motivado pela presença do porto marítimo, o nascente parque manufatureiro

concentrou-se em São Luís.

19
VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão, 1896+1934. São Luís: Lithograf, 1992, p.2-3.

20
Das diferenças entre as iniciativas de industrialização em São Paulo e Maranhão, observar o que diz Raimundo
Moacir M. Feitosa. O Processo Sócio-Econômico do Maranhão. op. cit. p.216. “A atividade cafeeira, que a
partir da primeira década do século XIX (1810) se instala passa a substituir as culturas dos produtos
tradicionais de exportação (cana de açúcar, em particular), gera excedente suficiente capaz de financiar todas
as importações de bens de capital e de outros meios de produção, além evidentemente, da força de trabalho
livre, ou seja, facilita a mobilização e concentração dos capitais necessários à instalação da grande indústria
de bens de consumo assalariado.”
21
CALDEIRA, José de Ribamar C.. Mudanças sociais no Maranhão. op. cit. p. 708.
Segundo Viveiros, “desiludidos com a lavoura, quiseram substituí-la como elemento

básico da nossa economia, pela indústria têxtil. Sonhou-se transformar São Luís numa

Manchester.”22

Em 1895, o conjunto das indústrias maranhenses era “composto por 17 fábricas

pertencentes a sociedades anônimas e 10 que eram de particulares, sendo 10 de fiação e

tecidos de algodão, 1 de fiar algodão, 1 de tecido de cânhamo, 1 de tecido de lã, 1 de meias,

1 de fósforos, 1 de chumbo e pregos, 1 de calçados, 1 de produtos cerâmicos, 4 de pilar arroz,

2 de pilar arroz e fazer sabão, 1 de sabão e 2 de açúcar e aguardente.”23

Todavia a indústria têxtil ganhava destaque24, principalmente após os êxitos obtidos

pela primeira fábrica de tecidos de algodão do Maranhão, a “Companhia Industrial Caxiense”.

Muitos capitalistas viam-se estimulados a investir no mesmo ramo de atividade e em 1888

organizava-se a “Fábrica da Camboa”.

Com a febre de negócios manifestada através do Encilhamento, foram organizadas

outras companhias no Maranhão25. Fundaram-se fábricas de tecidos como a “Companhia

Fabril Maranhense”; a “Companhia de Fiação e Tecidos do Rio Anil”, que montou a fábrica

de morins à margem direita do rio de mesmo nome; a “Progresso de São Luiz”; a fábrica de

22
VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão, 1896+1934. op. cit. p. 7
23
VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão, 1612+1895. São Luís, Edição da Associação
Comercial do Maranhão, 2° Vol.p.558-559.
24
É preciso não perder de vista que o fato das lavouras algodoeiras terem declinado vertiginosamente suas cotas
de produção não significa que a mesma tenha cessado. Segundo Maria Cristina Pereira de Melo em O Bater dos
panos. Op. cit. p.104. “... mesmo dentro dessa nova organização, o algodão continuou a ser cultivado e as casas
de exportação permaneceram na intermediação comercial do produto, agora canalizada, em grande parte, para
o consumo interno fabril”.
25
These VII, apresentada pelo Sr. Candido José Ribeiro ao Congresso de Lavradores e Criadores, reunido em
1920, por iniciativa da Sociedade Maranhense de Agricultura. In; Revista da Associação Comercial do
Maranhão, anno 1, Julho de 1925, número 1.
Codó “Companhia Manufatureira Agrícola do Maranhão”, cuja primeira sede foi no Rio de

Janeiro e a “Companhia de Fiação e Tecelagem São Luiz”. 26

Mas o fracasso daquela política econômica logo foi denunciado pela diminuição dos

negócios e retraimento dos compradores, justamente quando começava haver uma

superprodução local de tecidos de algodão.

A conseqüente necessidade da venda dos estoques levou os produtores a recorrerem a

outros Estados, onde as transações eram efetuadas à força de abatimento nos preços.

Àqueles primeiros anos de prosperidade fabril, seguiu-se um longo período de

depressão e ruína de várias empresas.

A fábrica “Progresso” fora vendida e seu maquinário remetido para Pernambuco; a

“São Luiz” e a “Companhia Lanifícios”, já não tinham os mesmos donos, sendo que a última

teve modificado inclusive o nome passando a chamar-se “Santa Amélia”; pouco faltou para a

“Companhia de Fiação e Tecidos de Cânhamo”, também fundada à época do Encilhamento,

fechar as portas.

26
Sobre a expansão das fronteiras da cidade e a formação de bairros operários, em decorrência da implantação
das fábricas, observar as colocações de Raimundo Moacir M. Feitosa em Tendências da economia mundial e
ajustes nacionais e regionais. São Luís: Mestrado em Políticas Públicas da UFMA, 1998, p. 44. “Há exemplos
de fábricas, como foi o caso da Rio-Anil que, no início do século XX, chegou a empregar mais de mil operários.
Em torno dessas fábricas surgiram diversos bairros operários: o Anil em torno da Companhia de Fiação e
Tecidos do Rio Anil; o Camboa, em torno da Companhia de Fiação e Tecidos Maranhenses ; o Fabril, em torno
da Companhia Fabril Maranhense; o Madre Deus, em torno da Companhia de Fiação e Tecidos de Cânhamo,
entre outros como o Cândido Ribeiro e São Pantaleão, que se localizaram nas imediações da Fábrica Santa
Amélia, da Companhia Progresso de São Luís, da Companhia de Fiação e Tecelagem São Luís e da Companhia
de Lanifícios Maranhenses”
Com a Primeira Guerra Mundial, as indústrias de tecidos de algodão maranhense

sinalizaram melhores condições. Em 1918, todas estavam em atividade e contavam com

investimentos superiores a 15.000 contos de réis. 27

Até mesmo o algodão, matéria-prima provara novamente um período de valorização

nos preços. Como atesta Viveiros, “... galgou de 922$000 em 1913 a 1.050$000 em 1915, a

2.214$000 em 1916, a 2.540$000 em 1917, a 3.739$000 em 1918. Era uma alta galopante

que chegou a 5.200$000”28.

Conquanto por uma trajetória de oscilações, a indústria maranhense nos primeiros

vinte e cinco anos do século XX experimentou uma relativa expansão em sua capacidade

produtiva. Os teares aumentaram em 31,7% e a força de trabalho utilizada nas unidades fabris

passou de 2.634 operários, no início do século, para 3.397 em 1921. 29

A força de trabalho empregada, era com freqüência proveniente da camada urbana

empobrecida ou de pessoas deslocadas do campo e, “conforme as estatísticas disponíveis, em

cerca de 70% eram representados pelas mulheres e crianças, o que impõe uma grande

convicção de que a imensa maioria dos homens preferiam dedicar-se a outras atividades, tais

como o dos cultivos agrícolas na unidade de produção familiar camponesa em processo de

consolidação”.30

27
These VII, apresentada pelo Sr. Cândido José Ribeiro ao Congresso de Lavradores e Criadores, reunido em
1920, por iniciativa da Sociedade Maranhense de Agricultura. op. cit.
28
VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão, 1896+1934. São Luís: Lithograf, 1992, p.217.
29
MELO, Maria Cristina Pereira de. O Bater dos Panos; um estudo das relações de trabalho na indústria têxtil
do Maranhão (1940-1960). São Luís, SIOGE, 1990, p. 42.
30
É bem provável que este fato apresentado por Raimundo Moacir M. Feitosa em O Processo Sócio-Econômico
do Maranhão. Op. cit. p. 221 esteja interligado ao número de mulheres que chegavam a São Luís em busca de
trabalho nas fábricas (que não absorviam tal demanda) e “acabavam”, sem alternativa, nas Casas de Meretrício.
Havia, então, um movimento migratório do campo, para São Luís, em que se

destacava a presença feminina.

Observando mais detidamente a realidade que se construiu e se impôs no campo,

percebe-se que, com a quebradeira verificada nas lavouras produtoras de algodão e o processo

de libertação do trabalho escravo, entrou em cena uma grande quantidade de pessoas pobres,

que vivendo autonomamente, acabou por dinamizar as unidades familiares de produção

agrícola.

Segundo Feitosa,

“... a história econômica dos homens e mulheres do Maranhão desenha e projeta um

outro vir a ser para as suas sobrevivências. Numa espécie de hiato que se processa entre o

final do século XIX ao final da década de 60 passa-se de uma agricultura mercantil de

grandes proporções para um sistema de pequenas produções que embora ligados à

cotonicultura, possuem marcantes características de produção para a subsistência, dada a

exígua acumulação que ela promovia na esfera agrícola”. 31

Derivando daquela reordenação econômica, pôde-se observar um deslocamento da

população para a Zona do Itapecuru, Mearim, Grajaú e Pindaré pólos nos quais ganhava

impulso a produção de arroz; para as áreas de extração do babaçu na Baixada Ocidental

Maranhense e para as cidades onde as fábricas têxteis apareciam como uma oportunidade de

emprego e renda, principalmente São Luís. 32

31
FEITOSA, Raimundo Moacir M.. Tendências da economia... Op. cit. p. 52.
32
FEITOSA, Raimundo Moacir M.. Tendências da economia... Op. cit. p. 42-52.
A cidade aparecia como um centro absorvedor de uma massa excluída 33 e a indústria,

ao privilegiar a força de trabalho de mulheres e menores, estimulava a imigração de uma

significativa parcela feminina que nos campos enfrentava, com a família, difícil situação
34
econômica.

Mas, a partir de 1925, os níveis de produção, que se afiguravam como os grandes

chamarizes de trabalho, passaram a declinar. A imponência e os descalabros administrativos

das fábricas35 aceleravam o desequilíbrio entre o volume da produção e a real procura do

mercado, resultando em queda nos preços dos produtos e no comprometimento das margens

de lucro.

Além disso, a melhor qualidade dos tecidos vindos de fábricas da Bahia e São Paulo

acirrava a concorrência com os maranhenses, fabricados em máquinas obsoletas e precárias,

agravando assim os problemas do setor têxtil local. 36


33
Ver mais sobre este assunto em Ribeiro Júnior, José Reinaldo. Formação do espaço urbano de São Luís. São
Luís: Edições FUNC, 1999.
34
Segundo Maria Izilda Santos de Matos em “O Lar e o Botequim”, Cadernos CERU, série 2, n.11, 2.000, p. 13.
“o trabalho fabril provocava a indignação dos médicos, revestida, na maior parte das vezes, de preocupações
morais, sendo condenado, considerando-o prejudicial à saúde, à prole e à moralidade. Apontavam as suas
conseqüências nocivas: tuberculose, prostituição, abandono das crianças e do lar e o alcoolismo. O trabalho
fabril era visto como um desperdício físico de energias femininas e como fator de dissolução da saúde e da
capacidade de desempenho das funções de esposa e mãe, além de elemento nocivo à moralidade,
comprometendo a dignidade feminina, culpado pela mortalidade infantil e responsável por desordens sociais.
Desta forma, percebe-se que o discurso protetor continha um outro – o da condenação. Quando esse trabalho
era indispensável, o discurso médico procurou normatizá-lo. Buscam-se melhores condições no processo de
trabalho, denunciando e defendendo a licença-maternidade e aleitamento, questionando o trabalho noturno”.
35
VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio no Maranhão. 3° vol. op. cit., p. 49.
36
A precariedade dos tecidos maranhenses decorria, em grande parte, da má qualidade do algodão que utilizavam
procedente das lavouras locais. Ver mais sobre este assunto em O processo sócio econômico do Maranhão:
história e desenvolvimento. Op. cit p.221; Tendências da Economia Mundial e Ajustes... Op. cit. p. 45 de
Raimundo Moacir M. Feitosa e nas entrevistas concedidas à Revista da Associação Comercial do Maranhão, das
quais destacam-se a do Sr. Joaquim Ignácio de Almeida, sócio das empresas comerciais Marcellino Gomes de
Almeida & Cia, em Julho de 1925 onde, expressando o pensamento corrente dos comerciantes e industriais da
época, dizia: “ Quanto ao nosso algodão , devido sua péssima preparação, sujo, com caroço, quasi não
encontra venda nos mercados do Rio e São Paulo nem nos estrangeiros. Nas Bolsas daquelles Estados elle não
foi admitido. Digo-lhe mais: —si o Governo do Estado não tomar sérias providências para que o nosso algodão
acompanhe ao menos a classificação do dos outros Estados, será uma lavoura morta para o futuro . É
pensamento geral no mercado do algodão preferirem-se as qualidades limpas, não só porque a quebra é menor
como também não maltrata tanto o operário incumbido de seu beneficiamento com a poeira que conduz ,
portadora em taes casos do micróbio da tuberculose. Hoje, meu caro senhor, as fábricas do sul, não se
interessam pelo algodão do Maranhão.” Resultado daqueles debates e reclamações acerca das condições do
algodão maranhense foi lançado em 27 de Abril de 1927 o Decreto n°1.149 do Governo do Estado que criava o
Para a classe industrial, as elevadas tarifas alfandegárias, a exorbitância nos preços dos

fretes, as grandes despesas com o beneficiamento dos gêneros, a ausência de imigrantes, os

inúmeros feriados que reduziam o trabalho e, portanto a produção, as dificuldades de

comunicações, a falta de estradas carroçáveis, carência de Banco Agrícola - Industrial e de

funcionários públicos, a restrição do Banco do Brasil em conceder crédito sobre gêneros

armazenados em depósitos públicos, entre outros, eram também elementos desfavoráveis ao

quadro maranhense37.

Conjugando-se a isso, a Revista da Associação Comercial trouxe, em seu primeiro

número do ano de 1926, uma entrevista com o diretor da Companhia de Fiação e Tecidos do

Rio Anil, Sr. José Gonçalves Pereira, na qual afirmava que a “situação de retraimento em que

se encontravam as indústrias, o comércio e a lavoura era motivada pela falta de estabilidade

cambial e pelos escorchantes impostos, quer estaduais, quer federais”. 38

Quando em 1930 eclodiu o movimento revolucionário, o panorama econômico

daqueles três setores permanecia em desalento. Sofrendo ainda os efeitos do crash de 29, a

própria máquina estatal contava com um orçamento reduzido e deficitário.

O algodão continuava pautando os debates sobre sua não aceitação nos mercados de

outros Estados e países e, no intuito de conseguir a revalorização do “ouro branco”,

produtores e industriais vinham a público fornecer explicações e lançar seus apelos.

“Serviço do Algodão”, cuja função era a melhoria do produto.


37
Ver a entrevista “O mercado dos tecidos”, concedida por Manoel Satyro Lopes de Carvalho, sócio da firma
maranhense “Carvalho, Coutinho & Companhia”, à Revista da Associação Comercial do Maranhão e publicada
em Agosto de 1925 (ano 1, Agosto de 1925, n°2).
38
A indústria dos tecidos; A subida do câmbio e a indústria têxtil. –A baixa do algodão e o preço dos tecidos. –a
lei das oito horas de trabalho. In; Revista da Associação Comercial do Maranhão, n°1, Janeiro de 1926.
Para eles, as deficiências do beneficiamento podiam ser constatadas nos rudimentares

processos utilizados pelas usinas, em grande número incompletas ou em situação lastimável.

Dos defeitos apontavam, ora as “costelas” e as “escovas” , ora as serras gastas e mal

ajustadas. Outras vezes, a força motriz não era compatível à capacidade da instalação.

Afirmavam decorrer daqueles, os “pingos” (sementes verdes ou fragmentos de

sementes arrastadas no descaroçamento), os “novelos e fibras cortadas” (provenientes da

alimentação rápida ou forçada do descaroçador e do seu mau estado, e da presença de fibras

verdes. As fibras cortadas apresentavam-se em feixes e tranças em forma de v, dando um

aspecto grosseiro), o “algodão espichado” (algodão defeituoso resultante do descaroçamento

do algodão molhado, ou, pelo mal ajustamento das escovas que retiravam as fibras das serras)

e as “sementes cortadas” (conseqüência do excesso de velocidade do descaroçador com o

rolo de superfície áspera, pelos dentes quebrados ou tortos das serras, que batiam nos pentes

divisórios).

Um relatório enviado de Manchester à Superintendência do Serviço do Algodão, ainda

naquele ano, afirmava que “a cauza única e excluziva do nosso algodão não atinjir as

cotações dos demais algodões estranjeiros, é tão somente devido ao nosso mau

beneficiamento e péssimo enfardamento”. 39

Os cinco anos subseqüentes parecem não ter oferecido melhores condições como

atesta o ofício de 6 de Março de 1936, encaminhado pela Associação Comercial ao

39
CRUZ, Heitor Fróes da. O Algodão. In: Revista da Associação Comercial do Maranhão. Ano VI n°64, Outubro
de 1930.
Governador e à Assembléia, onde a vida econômica do Maranhão era caracterizada como

“caótica e em ruínas”. 40

Por outro lado, as eleições dariam trégua na longa fase de disputas políticas do Estado.

Após ser eleito por voto indireto, assumiu o governo, como Interventor, Paulo Martins de

Sousa Ramos, cargo que manteve durante todo o período do Estado Novo.

A política econômico-financeira por ele implantada priorizava os problemas dos

transportes e da agricultura (algodão e babaçu41) e, embora a considerasse incipiente,

reconhecia, diante dos sintomas de falência das têxteis, voltar a ser a principal fonte de receita

para os cofres estatais.

Em sua avaliação, “o sertão maranhense, opulento nas suas rezervas, jazia

abandonado e esquecido, à falta de vias de comunicação e transporte fácil, estiolando, assim,

as atividades fecundas do que rezultava o decréscimo da produção e, conseqüentemente, da

nossa exportação.” 42
40
Revista da Associação Comercial do Maranhão, n°129, Ano XII, Março de 1936.
41
Sobre a economia do babaçu no Maranhão, Alfredo Wagner Berno de Almeida esclarece em seu estudo
Quebradeiras de Côco Babaçu: Identidade e Mobilização. São Luís: III Encontro Estadual das Quebradeiras de
Côco Babaçú: 1995, Estação Publicidade & Marketing Ltda. e Terre des Hommes – Schweiz, p.15-16, “Entre
1911 e 1935 praticamente não se registra intervenção dos aparatos de Estado. Constata-se tão somente um
único dispositivo legal taxando a maquinaria destinada ao beneficiamento. Vigem os preceitos do liberalismo,
notadamente até a chamada “grande depressão” de 1929. A queda dos preços dos produtos agrícolas e das
matérias-primas, provocada pelo grande aumento da produção, deteriorou os termos de intercâmbio entre os
países que dependiam da exportação destes bens e os países industrializados. Todas as unidades fabris de
beneficiamento do babaçu, instaladas no Maranhão após a I Grande Guerra por empresas francesas, belgas,
norte-americanas e norueguesas abriram falência no final dos anos 20. A partir de 1935 o Estado redefine sua
ação. Estabelece acordos comerciais a nível internacional, adotando uma política de cotas, e busca disciplinar
o acesso aos babaçuais, lidos como reservatórios naturais estratégicos de matérias- primas.”
42
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas, Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil,
pelo Dr. Paulo Martins de Souza Ramos, Interventor Federal no Estado do Maranhão. Imprensa Oficial, 1939,
p.6.
Quanto ao que chamou “efêmero surto industrial”, destacou elementos poucas vezes

apontados como causas basilares do fracasso industrial ressaltando que,

“... o emprego de barcos motores na navegação do rio Tocantins, assegurando

transporte relativamente rápido e pouco dispendioso, atraiu, de logo, para a praça de Belém,

o comércio do sertão maranhense e do norte de Goiaz. Por outro lado, o comércio piauiense,

passando a negociar, diretamente, com as praças do Sul do Paiz e da Europa, longe de

continuar a se abastecer na nossa praça, entro a competir com ela nos centros produtores e

comerciais da zona maranhense limitada pelo rio Parnaíba.

A praça de S. Luiz, perdendo, por esse modo, a parte mais importante e mais extensa

do seu campo de operações, sofreu ao mesmo tempo, o vultuoso prejuízo dos capitais que

possuía em poder de seus antigos freguezes da região sertaneja e do norte goiano, os quais,

passando a corresponder-se com outros mercados, não liquidaram com ela as suas contas.

Várias firmas foram, em conseqüência desse fato, compelidas à falência. As emprezas

de navegação, linhas atraz referidas, a braços com dificuldades oriundas de várias causas,

notadamente a da perda, por naufrágio da maioria dos seus barcos, entraram pouco depois,

em liquidação.

As próprias companhias organizadas para exploração da indústria de fiação e

tecelagem, tiveram dentro de poucos anos, suas ações desvalorizadas e os respectivos

diretores as adquiriram por preço vil, na maioria dos casos, inferior à décima parte do

capital por elas representado.

Esse profundo golpe desferido na economia popular, de boa fé empregada, num

momento de entusiasmo pelo futuro do Maranhão, na indústria em referencia , preveniu o


espírito público contra as sociedades por ações, fadando assim, de antemão, ao insucesso,

qualquer tentativa de organização de novas companhias”. 43

Contudo, os produtos maranhenses de exportação, que em 1937 haviam alcançado

cotações razoáveis, voltavam em 1938 a sofrer baixas nos mercados do sul do país e no

exterior. 44

Na tentativa de reverter o pânico instalado nas praças econômicas do Estado, entregou,

em 1939, 4.367 km de estradas carroçáveis, ligando vários dos principais centros de lavoura à

ferrovia São-Luís/Teresina, cujo objetivo era facilitar o acesso à capital e a outros centros

onde os produtos, que antes apodreciam nos paióis, pudessem ser exportados. Mas, a

depressão econômica provocada pelo início da guerra européia reduzira, de maneira drástica,

a capacidade contribuitiva do comércio e da lavoura, fontes principais e quase únicas da

receita do Estado.

Assim, ao findar 1940, o Relatório da Interventoria demonstrava que, decorrente

daquele ano financeiro, a situação do erário era de fragilidade.

No mesmo documento, Paulo Ramos referia-se ao anacronismo dos processos de

aproveitamento agrícolas como fator prejudicial no quadro geral das exportações e,

novamente, na angústia de atenuar a crise em que se viam mergulhados, propôs uma urgente

reforma dos meios de produção bem como a industrialização dos produtos que exerciam

maior influência no sistema comercial do Estado.

43
Relatório de 1939. Op. cit. p.14
44
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas, Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil,
pelo Dr. Paulo Martins de Souza Ramos, Interventor Federal no Estado do Maranhão. D.E.I.P. 1941, p.16
Em 1941, estimulado pela guerra, que utilizava seus derivados, o babaçu consolidava-

se como importante pilar da economia maranhense. 45 Em contrapartida, o algodão continuava

a sofrer com a falta de crédito agrícola, com a má qualidade das sementes empregadas

(impedindo a produção de tipos valorizados que pudessem alcançar preços compensadores) e

com a carência de transportes fáceis e baratos para os centros de consumo.

Dessa conjugação de fatores, as colheitas entraram de tal modo em declínio que em

1939 o algodão que representava 9,85% das exportações, em 1940 desceu para 3,73%

chegando em 1941 com apenas 1,84%.46

Nos primeiros meses de 1942, os produtos maranhenses tiveram um súbito aumento de

procura e de preços, tanto nos mercados nacionais como nos estrangeiros.

“Essa inesperada reação, depois de longo período de baixa, despertou no seio das

classes interessadas novas energias e facilitou o crédito bancário, possibilitando o

levantamento de vultuosos capitais que, de seguida, foram empregados na agricultura e nas

indústrias”.47

45
Segundo Raimundo Moacir M. Feitosa, em seu estudo, O Processo Sócio Econômico do Maranhão. Op. cit. p.
238, “a amêndoa do babaçu, primitivamente utilizada como produto destinado ao auto consumo da população
antes de 1914, a partir da primeira Guerra Mundial (1914-1918) torna-se mercadoria importante na pauta de
exportação da economia do Maranhão. Passou a se constituir numa matéria-prima de grande valia para o
setor industrial que não andava bem das pernas desde a derrocada das fábricas têxteis, abrindo assim
possibilidades de implantação para indústrias químicas e alimentar desenvolvidas, a princípio, fora do país e
no centro-sul brasileiro.”
46
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas, Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil,
pelo Dr. Paulo Martins de Souza Ramos, Interventor Federal no Estado do Maranhão. D.E.I.P. 1942, p.29.
47
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas, Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil,
pelo Dr. Paulo Martins de Souza Ramos, Interventor Federal no Estado do Maranhão. D.E.I.P. 1943, p.59.
Na capital e no interior, as indústrias pareciam ganhar novo fôlego, e a fim de atender

à demanda das encomendas, puseram-se a aplicar suas reservas em estoques de matérias-

primas, entrando em intenso regime de trabalho. O futuro anunciava uma fase de

prosperidade, não fosse o reaparecimento de novos obstáculos produzidos pela guerra.

As restrições impostas à livre navegação do Atlântico pelos países do Eixo, somadas à

carência de combustíveis, imobilizaram a produção nos paióis e nas fábricas impedindo a

exportação das mercadorias encomendadas, a importação de gêneros de consumo obrigatórios

(faltavam peças para a indústria e ferramentas para a lavoura) e a circulação de capital.

A assinatura de um acordo, ajustado pelo Governo brasileiro com os E.U.A. no sentido

de facilitar o comércio de amêndoas e de óleo de babaçu, trouxe ânimo às classes produtoras,

para resistirem mais algum tempo à paralisação do intercâmbio com o exterior. No entanto, a

execução do convênio não fora tão rápida quanto às circunstâncias exigiam, o que acabou

resultando em prolongada retenção dos estoques de babaçu nos armazéns de São Luís.

Encontrava-se novamente conturbada a economia maranhense e visando resolver, em

parte, a questão dos utensílios agrícolas, que segundo o Relatório daquele ano “estava a
48
reclamar cuidados mais urgentes , foi solicitada a cooperação da Comissão Brasileira

Americana de Produção de Gêneros Alimentícios e do Commodity Credit Corporation que

fizeram vir, gratuitamente, dos Estados Unidos 10 mil enxadas, 6 mil machados e mil foices

para que fossem entregues aos pequenos lavradores do Estado. 49

48
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas, Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil,
pelo Dr. Paulo Martins de Souza Ramos, Interventor Federal no Estado do Maranhão. D.E.I.P. 1944, p.55.
49
Em sua obra História do Comércio do Maranhão. São Luís: Associação Comercial do Maranhão, Lithograf,
p.63, Mário Martins Meireles esclarece que o controle da importação do babaçu nos Estados Unidos era
concentrado na Commodity Credit Corporation e a doação dos 17 mil instrumentos agrícolas havia sido feita por
intermédio da Comissão Brasileira Americana de Produção.
A execução de tais medidas parece não ter surtido o efeito esperado e o progressivo

encarecimento do custo de vida refletia a inquietação econômica. Segundo Meireles, 1942 e

1943 foram para o Maranhão “os anos mais difíceis”. 50

O agravamento progressivo da situação em 1943 não permitiu que a agricultura e a

indústria superassem as cotas de produção dos anos anteriores. Ainda assim, nos setores da

indústria e comércio, destacavam-se naquele momento em São Luís algumas Companhias

como a “Lages & Cia” (armazém de tecidos grossos, brins de linho, estivas, miudezas,

armarinhos, ferramentas grossas, babaçu, tucum, mamona, gergelim e arroz), “Martins e

Irmão” (fábrica de algodão medicinal e de sabão), “Chames Aboud” (importadora de fazendas

e miudezas e exportadora de algodão, babaçu, arroz, óleo de babaçu, farelo de babaçu, borra

de caroço de algodão, mamona, gergelim, caroço de algodão, etc. e proprietária da “Fábrica

Albertina” de sabão, óleos vegetais e beneficiamento de arroz), “Cotonifício Cândido Ribeiro

Ltda.” (fábrica de brins), “Fiação e Tecidos do Rio Anil” (fábrica de tecidos, tecelagem e

alvejamento de algodão), “Tecidos Santa Izabel S/A” (antiga “Cia. Fabril Maranhense”,

fábrica de brins, riscados, zefires, lonas, xadrezes, mesclas, gangas, domésticos, fios, sacos e

telas) e outras como a “Cunha e Santos”, “Chagas e Penha”, “Pinheiro Gomes” e “Francisco

Aguiar”. 51

Com o fim da II Guerra, a queda de Getúlio e o afastamento de Paulo Ramos em 1945,

tornavam-se cada vez mais freqüentes as discussões sobre as providências “que se fariam

50
MEIRELES, Mário M.. História do Comércio do Maranhão. Op. cit. p. 63.p.
51
Revista da Associação Comercial do Maranhão. Janeiro de 1943, ano XIX, n°211.
imperiosas e urgentes para que se normalizasse a vida econômica do país e se

regularizassem as finanças públicas.”52

Com relação, especificamente, às têxteis maranhenses nada mais se podia fazer senão

assistir à asfixia e morte das unidades, frente à acirrada e crescente concorrência com as

modernas fábricas do sul do país.

Chegava o Maranhão em 1946 com apenas 8 têxteis 53 e, a par do desmantelamento das

fábricas de tecidos, o processo de industrialização da amêndoa do babaçu tornava-se mais

sistemático e eficiente.

Segundo Feitosa “é possível que na medida em que a crise se aprofunda no setor

têxtil parte dos capitalistas vinculados a esse ramo e às atividades agroexportadoras busque,

como alternativa, realocar seus capitais no novo setor industrial nascente: fábricas

produtoras de óleo bruto, óleo refinado comestível, torta de babaçu e produtos químicos

(sabão, velas, glicerinas, etc.).”54

Os anúncios da Revista da Associação Comercial do Maranhão e alguns jornais de

grande circulação na época como “O Globo”, “O Imparcial” e o “Diário do Norte”

demonstravam o investimento no produto. Destacavam-se: “Indústria Wilson Ltda.” (fábrica e

indústria de produtos químicos: sabão de andiroba “ABC”, óleos de algodão, andiroba,

babaçu, rícino, saponáceo “ABC”), “Narciso, Machado & Cia” (exportadores de cera de

carnaúba, babaçu, tucum, mamona, couros de boi, algodão, crinas, jaborandi, polvilho e

demais gêneros), “Fábrica de Tecidos Camboa” (compradores e exportadores de babaçu,

mamona, gergelim, couros de boi (salgados e espichados) e de veado, algodão, cera de

52
MEIRELES, Mário Martins. História do Comércio do Maranhão. Op. cit. p. 69.
53
MELO, Maria Cristina Pereira de. O Bater dos panos. Op. cit. p. 27.
54
FEITOSA, Raimundo Moacir M.. O Processo Sócio-Econômico do Maranhão. Op. cit. p. 238.
carnaúba, tucum, farinha de mandioca, arroz, tapioca de goma, peles silvestres, etc.), “Lauro

Pereira da Silva “ (compradores e exportadores de tecidos, estivas – algodão, babaçu, arroz,

mamona, gergelim etc., ferragens e miudezas) e “J. D. Filho” (compradores e exportadores de

babaçu, mamona, fibras e tucum). Outras como “Lages & Cia” (armazéns de tecidos e

miudezas, ferramentas, babaçu etc.), “Martins e Irmão” (fábrica de algodão medicinal e de

sabão) e “Companhia Chames Aboud” (importadora de fazendas e miudezas e exportadora de

algodão, babaçu, arroz, óleo de babaçu, farelo de babaçu, borra de caroço de algodão,

mamona, gergelim, caroço de algodão, etc. e proprietária da “Fábrica Albertina” de sabão,

óleos vegetais e beneficiamento de arroz) já participavam do ramo desde 1943.55

Ao aglutinar atividades, aquelas Companhias reconstituíam o papel do capital

mercantil agroexportador como principal fonte de financiamento bem como rearticulavam

campo e cidade em um duplo processo56. Isso porque, na realidade urbana a indústria do

babaçu, e seus derivados, permitia a continuidade do fluxo migratório e na realidade rural

absorvia o trabalho de famílias na coleta e quebra do coco, mas igualmente dinamizava a ida

de mulheres para as cidades, em função do baixo preço que pagavam pelas amêndoas.57

55
Ver Revista da Associação Comercial do Maranhão, ano XXI, n°235, Janeiro de 1945; jornal “O Imparcial de
28 de Julho de 1947 e 14 de Setembro de 1947; jornal “O Globo” de 8 de Outubro de 1947”.
56
Utilizou-se como referência, o pensamento de Maria Isaura Pereira de Queirós que em Cultura, sociedade
rural, sociedade urbana: ensaios. RJ: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: Ed. da Universidade de São
Paulo, 1978. p.51, afirma: “...o meio rural não pode nunca ser estudado em si mesmo, mas deve ser encarado
como parte de um conjunto social mais amplo, do qual faz parte juntamente com a cidade.”
57
Sobre os valores pagos aos trabalhadores do babaçu, Raimundo Moacir Feitosa em seu trabalho “O Processo
Sócio-Econômico do Maranhão. Op. cit. p. 238-239 esclarece que “ os coletores e quebradores de coco babaçu
tornam-se presença marcantes no cenário da economia maranhense no trabalho de complementação da renda
familiar agrícola. O processo de exploração desses coletores e quebradores de coco pela estrutura dominante é
a mesma do arroz, pois o agente que adquire a produção de amêndoa, quando não é o mesmo que adquire a
produção de arroz, pratica o mesmo esquema de fixação dos preços. Através da aquisição por um preço baixo,
ao sobreavaliar as mercadorias capitalistas que vende (querosene, sabão, açúcar, roupa, sandálias, sapatos,
etc.), lança o fruto desse quebrador de coco a uma margem de valor tão ínfima que fica abaixo da possibilidade
de contribuição para o melhoramento das suas condições de reprodução.”
Assim, o lócus urbano e as indústrias tornavam-se, paulatinamente, o refúgio de

grande parte dos camponeses despossuídos que passavam a formar, com outras pessoas, novos

núcleos de convívio, transformando o cenário da cidade e suas preocupações.

É do que se tratará agora.

Tecendo a ordem: urbanização, leis e meretrício na capital São Luís

Na virada do XIX, ainda que conservasse o aspecto colonial, traduzido nos suntuosos

casarões azulejados de eiras, beiras, mirantes e pinhas de porcelanas, nos becos e ruas

estreitas e tortuosas, a cidade de São Luís modificava-se em função do surto industrial. 58


58
Sobre este processo de mudanças diz Maria Isaura Pereira de Queiroz em Cultura, sociedade rural, sociedade
urbana: ensaios. RJ: Livros Técnicos e Científicos; SP: Edusp, 1978, p. 57, “A industrialização e urbanização
No redesenhar dos espaços, as casas-de-cômodo, hospedarias, hotéis, pensões e

cortiços passavam a servir de morada aos indivíduos que chegavam.

Acompanhando aquele remodelamento, criavam-se Leis, Decretos e outras tantas

normas que visavam à disciplina e à higiene social do novo viver urbano. “Avizinhavam-se
59
novos tempos”. Tempos de medicalização da sociedade, de saneamento moral e social, de

codificação de condutas, de controle da ordem, de inspeção de corpos e locais de convívio

(habitações e lazer)... Enfim tempos “maquínicos” 60, “civilizados”, modernos e assépticos.

São Luís, 4 de Abril de1919. Imbuído dos, tão em voga, propósitos de ordem e

limpeza o governador Urbano Santos da Costa Araújo promulgava a Lei n°862 que objetivava

conhecer quem eram as pessoas hospedadas na cidade e controlar desordens e crimes,

tornando obrigatório aos donos de hotéis, pensões e similares da cidade, fornecer

semanalmente à Secretaria da Justiça e Segurança, um boletim com esclarecimentos sobre as

pessoas que neles se hospedassem. 61

Trazia o Artigo 1°:

no mundo ocidental implicaram na transformação do gênero de vida urbano...”.


59
LANNA, Ana Lúcia Duarte. Uma cidade na transição Santos: 1870-1913. Op. cit. p. 83.
60
Sobre a chamada “sociedade maquínica”, ver: SEVCENKO, Nicolau. Orfeu extático na metrópole: São
Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. SP: Cia. das Letras, 1992. SILVA, Zélia Lopes da. Imagens do
Trabalhador Brasileiro Nos Anos 30. In: Revista História, SP: Edunesp, v.12, 1993, p.275.
61
Situação semelhante nos apresenta Sidney Chaloub em Cidade Febril: cortiços e epidemias na Corte Imperial.
SP: Cia das Letras, 1996, p. 30. Segundo o autor, em 1853 no Rio de Janeiro a Comissão de Posturas da Câmara
analisou o projeto denominado “Regulamento dos Estalajadeiros” julgando-o de “urgente utilidade pública”. O
artigo primeiro definia como estalajadeiro “o indivíduo que der agasalho ou pousada por dinheiro, qualquer
que seja a denominação da casa em que a der – estalagem, hospedaria, cortiço ou hotel”. Também havia a
obrigatoriedade de o estalajadeiro possuir um Livro de Controle de Entrada e Saída dos hospedes e moradores ou
moradores, com criteriosa identificação de cada um. Os subdelegados deveriam visitar freqüentemente as
habitações coletivas, certificando-se de que lá não se encontravam vadios, estrangeiros em situação irregular e
pessoas “suspeitas” ou que causassem “desconfianças e receios”.
“Ficam os donos de hotéis, pensões, casas de pastos e estabelecimentos congêneres

existentes nesta capital e seus subúrbios, ou seus representantes, obrigados a fornecer

semanalmente à Secretaria da Justiça e Segurança, um boletim contendo idade, sexo, estado

civil, sua permanência no estabelecimento naturalidade, procedência, destino e signaes

característicos das pessôas que receberem e hospedarem, bem assim e a conducta de cada

uma, durante a sua permanência no estabelecimento.

Artigo 2°: Ficam igualmente obrigadas a notificar a mencionada Secretaria a

retirada das mesmas pessôas, com antecedência de 24 horas, ou, não sendo isso possível, no

próprio dia em que tal se verificar.

Artigo 3° Ficam ainda obrigadas a ter um livro, aberto, rubricado e numerado pela

autoridade policial do districto, ou outra qualquer, designada pelo Secretario da Justiça e

Segurança no qual devem ser registradas as entradas e sahidas dos hospedes, com

declaração do dia, hora, procedência e destino, por qual via, ou meio de transporte.

Esse livro será exhibido à autoridade policial, sempre que por esta fôr exigido.”

Naquele mesmo ano, chegaria ao Maranhão a Gripe Espanhola. A doença se alastrava

e a urgência em resolver os problemas de salubridade urbana levou o Governo da União a

criar, pelo Decreto 13.538 de 09 de Abril de 1919, o Serviço de Profilaxia, com

representações em todos os Estados. Em 23 de Maio, portanto um mês depois, já estaria

funcionando a unidade do Maranhão, sob a chefia do Dr. Raul de Almeida Magalhães. 62

62
MEIRELES, Mário Martins. Dez estudos históricos. São Luís: Alumar, 1994 (Coleção Documentos
Maranhenses) p. 243.
Outra medida profilática, de Urbano Santos, foi o convênio com a norte americana

Rockfeller Foundation, para que fosse executada no território maranhense, especialmente na

capital, uma campanha para a erradicação da malária.

Quando Godofredo Mendes Viana (1922/26) assumiu o poder no Estado, tinha como

metas prosseguir, diagnosticando os problemas e prescrevendo as soluções para múltiplos

males que acometiam São Luís63.

Contraiu, então, um empréstimo com a Ulen & Company de Nova York, no valor de

US$1.500.000,00 para a implantação na cidade de serviços de água, esgoto, luz e tração

elétrica. 64

São Luís entraria o ano de 1925 com o novo serviço de abastecimento de água.

Mas, mesmo com todo empenho verificado no sentido da melhoria das condições da

saúde pública, o Maranhão não foi poupado de um novo surto de varíola em 1926. A

epidemia fora controlada pela filial do Instituto Oswaldo Cruz, por meio de uma larga

vacinação das pessoas ainda não contaminadas e do encaminhamento das doentes para o

isolamento do Lira (ver localização nas plantas da cidade em anexo).65


63
No estudo “Coisa Pública: Serviços Públicos e Cidadania”. São Luís, IPES, 1998, p.219, sobre serviços
públicos em São Luís, (em Mary Angélica p. 29) o médico Raimundo Palhano, autor do trabalho, analisa a
realidade daquele momento afirmando que “... em 1922 Urbano Santos concluiu que o Estado teria como
empreender, às suas custas, os serviços de água e esgotos exigidos pela cidade, o que estendia para os demais
serviços. Efetivamente tomava vulto o Projeto Ulen Company. Parecia enfim, ao governo, que, por ali
finalmente, se enxergaria a luz no fim do túnel. Afinal a situação dos serviços urbanos se agravava dia-a-dia.
Pode-se afirmar que àquela época, São Luís, além de não ter esgotos possuía péssimos serviços de luz, de
bondes, de limpeza pública e a água consumida era, além de insuficiente, portadora de elevado grau de
contaminação, a ponto de ser um dos agentes poderosos da febre tifóide na cidade”.
64
MEIRELES, Mário M.. Dez estudos históricos. Op. cit. p.244.
65
Sobre a fundação da filial do Instituto Oswaldo Cruz em São Luís do Maranhão, ver o que explica Mário
Meireles em Dez estudos históricos. Op. cit. p. 243. “E o Governo do Estado, então em mãos do Dr. Urbano
Santos da Costa Araújo (1918/22), criaria também um Serviço de Profilaxia Rural e Urbana, transformaria o
Hospital Regimental em Hospital de Moléstias Rurais e conseguiria do Governo Federal ( Decreto n°13.527 de
26/03/1919) que fosse criada em São Luís, uma filial do antigo Instituto de Manguinhos, já então batizado de
Instituto Oswaldo Cruz, para cuja direção foi nomeado o médico bacteriologista Dr. Cássio Miranda, que aqui
teria a assistência de seu colega, o Dr. Luis Lobato Viana, e do laboratorista Benedito Laurindo de Morais,
cedido pelo Instituto Vital Brasil, de Niterói”.
Os sintomas da chamada cidade doente eram diagnosticados ao mesmo tempo em que

eram disseminadas idéias de que os males possuíam várias ordens e matizes, incluindo o

comportamento social. Assim, ao saneamento urbano de São Luís atrelavam-se interesses de

saneamento moral, muitas vezes presentes na imprensa como a carta publicada em 3 de Junho

de 1927 no Jornal “A Hora”. Sob o título de “O caftismo no Maranhão” e assinado por

diversos leitores, dizia:

“Exmo. Sr. Redactor da Hora,

...existe, Sr. Redactor, ali na rua 28 de Julho n°10, entre a travessa do Commercio e a

rua Cunha Machado, uma casa de commodos onde o caftismo é uma barreira. Esse collegio

como elles denominam, pertence ao estrangeiro Sebastião Pereira de commandita com a

vaporosa Maria (vulgo Rainha de Sabá). Supomos Sr. Redactor que seria uma falta de

patriotismo de nossa parte se não procurássemos esclarecer esse facto. Durante a noite

estabelecem uma algazarra infernal, chegando ao ponto de não poder transitar pela rua

nenhuma familia, devido ao amontoado de palavrões indecorosas pronunciadas pelos

frequentadores do tal collegio. Uma vizita do cel. Zenobio aos dominios do reinado da

Rainha de Sabá (Maria) verificará todas as verdades que aqui escrevemos. ”66

Com a chegada do carnaval de 1929 em São Luís, o Jornal “A Hora” de 09 de

Fevereiro de 1929 trouxe a matéria “Sustenta o teu!” que dizia:

“A cidade hoje entrará no domínio do deus da loucura. A população do juiso virado

entrega se no fervilhar do enthusiasmo.

66
Jornal “A Hora”. São Luís – Maranhão: 3 de Junho de 1927, p.1.
A quadra do carnaval é bonita pela sua riquesa de alegria mas ao mesmo tempo torna

se triste porque depois da Quarta feira de cinzas, commeçam se a revelar casos deprimentes

ao principio da moral.

Entre os maiores flagelos da temporada delirante do carnaval figura a prostituição.

Esse pernicioso mal é um dos problemas mais difficil a ser resolvido pela policia.

A policia infelizmente não se acha aparelhada para garantir propriedade do pudor.

Talvez com a figuração dos nomes dos magnatas nas columnas dos diarios, esses

miseraveis que vegetam no globo para jogarem na lama do meretricio milhares de ingenuas

creaturas se recolhem às suas mesquinhas posições.”67

Na defesa de procedimentos disciplinares, condutas e hábitos “civilizados” várias

reclamações recaíam sobre os órgãos responsáveis pela ordem no convívio social.

Bradando contra o que chamava “descaso da polícia no cumprimento de seus

deveres” a coluna E’cos do jornal Folha do Povo, de 10 de Setembro de 1929, reforçava as

concepções de controle da vida urbana. Dizia que,

“... em certas zonas da cidade, onde, quando não é a garôtada infrene, a jogar

futebol, são carregadores ataviados de caixas, cofos e grandes embrulhos, empatando o

transito. Também as meretrizes perturbam o socêgo publico, como agora, está acontecendo

na Rua da Manga.

Os seus moradores trouxeram ao nosso conhecimento que alli, quasi ao sahir na

Fonte das Pedras, existem algumas mundanas que não respeitam as famílias, fazendo grande

67
Jornal “A Hora”. São Luís – Maranhão: 09 de Fevereiro de 1929.
algazarra, especialmente à noite, quando os que trabalham durante o dia querem conciliar o

somno.”

A mesma coluna dava continuidade a severas denúncias de caráter moralizante e

civilizatório. Responsabilizando a ineficaz ação da polícia, ressaltavam o “descalabro”

vivido em São Luís onde, a par da “obra satânica dos Dom Juans”, campeava “infrene a

prostituição” .68

Com o mesmo intuito, em 24 de Outubro de 1929, o jornal “Folha do Povo”

estampava em sua primeira página o seguinte artigo:

“Um facto lamentável, é a falta de respeito às nossas famílias, em virtude dos taes

cortiços existentes em pleno coração da nossa cidade”.

Não são poucas as occasiões em que essas respeitáveis famílias, quando cercadas do

carinho de seus filhinhos, são arrebatadas do seu enlêvo maternal, pelos palavrões e quiçá

outros inconvenientes de tal estado de cousas. Daqui esperamos que as autoridades

encarregadas de zelar pela moral, cooperem, afim de que não se reproduzam taes scenas, que

offendem o pudor publico.”69

Os intentos em banir formas “incivilizadas” de viver, sujeira, doenças, promiscuidade,

falatórios, palavrões, arruaças etc., acenavam para a cidade a imposição de padrões opostos

aos que se afiguravam. Com efeito, foi no pós Revolução que aquele ideário ganhou força.

A construção da legitimidade varguista guiava-se por um discurso em que às

contraposições entre moderno e arcaico, civilizado e incivilizado, higiênico e sujo, ordem e

68
Jornal “Folha do Povo”. São Luís – Maranhão: Terça-feira, 07 de Outubro de 1929, p.1.
69
Jornal “Folha do Povo”. São Luís – Maranhão: 24 de Outubro de 1929, p.1.
desordem, trabalhador e vadio, eram utilizadas como mecanismo de reordenamento social, de

uma nova brasilidade.

No Maranhão, em 31 de Julho de 1931, o então Interventor Federal, Padre Astolfo de

Barros Serra, lançou o Decreto n°152 pelo qual alterava a divisão policial em São Luís,

fornecendo claros indícios de que a cidade passava a ter intensificada a vigilância. Ficava

estabelecido logo no Artigo 1° que o município da capital ficaria “dividido em trêis districtos

policiais, cada um dos quais com uma delegacia de polícia e tantas subdelegacias quanto

exigir o serviço de policiamento”.

Os passos da cidade eram controlados e nas ruas de grande movimentação e de

concentração de casas-de-pensão, casas-de-cômodos e hospedarias de meretrizes eram feitos

“giros” diurnos e noturnos, pela Guarda Civil. De acordo com as escalas dos dias 10, 12 e 15

de Setembro de 1931, recebiam atenção especial os seguintes locais:

“Giro Diurno 1, de 10 de setembro de 1931: Praça João Lisboa, Mercado Público,

Rampa Campos Mello, Rua da Estrella, Rua 28 de Julho, Rua Sant Yago, Rua Cajaseiras,

Praça da Alegria, Praça da Misericórdia, Cemitério, Codosinho e Praia do Cajú”.

Giro Diurno 2, de 10 de setembro de 1931: Praça João Lisboa, Rampa Campos

Mello, Rua da Estrella e 28 de Julho, Desterro, Portinho e Fonte das Pedras, Sant Yago e

Cajaseiras, Praça da Alegria e Misericórdia, Cemiterio e Codosinho e Praia do Cajú.

Giro Noturno 1, de 10 de setembro de 1931: Praça João Lisboa, Rua Oswaldo Cruz,

Rua Affonso Penna, Rua Portugal, Avenida Beira Mar, Praça da Alegria e Misericórdia, Sant
Yago e Cajaseiras, Desterro, Portinho e Fonte das Pedras, Estrella e 28 de Julho, Cemitério

e Codosinho.

Giro Noturno 2, de 10 de setembro de 1931: Praça João Lisboa, Rua Oswaldo Cruz,

Rua Affonso Penna, Rua Portugal, Rua de Sant Anna, Rua de São Pantaleão, Sant Yago e

Cajaseiras, Desterro, Portinho e Fonte das Pedras e Banco do Brasil.

Giro Diurno 1, de 12 de setembro de 1931: Praça João Lisboa, Mercado Publico,

Rampa Campos Mello, Rua da Estrella e 28 de Julho, Sant Yago e Cajaseiras, Praça da

Alegria e Misericordia, Cemiterio e Codosinho e Praia do Caju.

Giro Diurno 2, de 12 de setembro de 1931: Praça João Lisboa, Rampa Campos

Mello, Codosinho e Fonte das Pedras...(documento danificado).

Giro Noturno 1, de 12 de setembro de 1931: Praça João Lisboa, Rua Oswaldo Cruz,

Rua Affonso Penna, Rua Portugal, Avenida Beira Mar, Praça da Alegria e Misericordia, Sant

Yago e Cjaseiras, Desterro, Portinho e Fonte das Pedras, Estrella e 28 de Julho, Cemiterio e

Codosinho, Rua da Alegria e Coqueiro.

Giro Diurno 1, de 15 de setembro de 1931: Praça João Lisboa, Mercado Publico,

Rampa Campos Mello, Estrella e 28 de Julho, Sant Yago e Cajaseiras, Praça da Alegria e

Misericordia, Cemiterio e Codosinho e Praia do Caju.

Giro Diurno 2, de 15 de setembro de 1931: Praça João Lisboa, Rampa Campos

Mello, Estrella e 28 de Julho.

Giro Noturno 1, de 15 de setembro de 1931: Praça João Lisboa, Rua Oswaldo Cruz,

Rua Affonso Penna, Rua Portugal, Avenida Beira Mar, Praça da Alegria e Misericórdia, Sant
Yago e Cajaseiras, Desterro, Portinho e Fonte das Pedras, Estrella e 28 de Julho, Cemiterio

e Codosinho, Rua da Alegria e Coqueiro.

Giro Noturno 2, de 15 de setembro de 1931: Praça João Lisboa...(documento

danificado).”70

A conjuntura política ia tornando crescente a intervenção do Estado sobre o espaço

público e sua regulamentação. A profilaxia física e social era, no entender daqueles que a

defendiam, a forma de defesa da sociedade contra os inúmeros “focos de infecção”. “Caberia

então intervir e sanear tanto o espaço quanto os habitantes”. 71

Apontado como um símbolo de ameaças, físicas e morais, o meretrício era pouco a

pouco envolvido em projetos segregadores e de organização da urbes. “Tratava-se de afastar

dos olhos aqueles diferentes com quem, inevitavelmente, dadas as condições de produção e

reprodução do capitalismo, este espaço urbano tinha que ser compartilhado.”72

Em São Luís, as interferências foram, a princípio, verificadas na imposição de limites

aos horários de circulação das meretrizes pelo território da cidade. 73

Na sexta-feira, 11 de Setembro de 1931, o jornal “Tribuna” noticiava que, por

determinação do delegado, as meretrizes só poderiam freqüentar os botequins a partir das 23

horas74.
70
Documentos avulsos localizados no Arquivo Público do Estado do Maranhão.
71
LANNA, Ana Lúcia Duarte. Uma cidade na transição Santos: 1870-1913. op. cit. p.24.
72
LANNA, Ana Lúcia Duarte. Uma Cidade Na Transição Santos: 1870-1913. São Paulo-Santos: Editora
Hucitec e Prefeitura Municipal de Santos, 1996, p. 20.
73
Para Irving Goffman, Estigma, op. cit. p.155, “os desviantes sociais nos quais a prostituta está inserida são
uma espécie de negação coletiva da ordem social.”
74
Segundo Nickie Roberts, A Prostituição Através Dos Tempos Na Sociedade Ocidental. Lisboa: Editorial
Presença, 1996, p. 216 já na Itália de 1860 podem ser observadas proibições e regulamentações de horários e
locais permitidos às prostitutas, “... estavam proibidas de <<perder tempo>> nas ruas e nas praças ou de
“Desde hontem, o Sr. Alfredo Pimenta Gnone, delegado do 1° districto, adoptou a

medida de que as meretrizes só poderão andar livres pelas ruas e frequentarem os botequins

das 23 horas em diante”.

As meretrizes que quizerem sahir antes dessas horas devem se fazer acompanhar de

um cavalheiro, sob pena de serem convidadas para irem ao Districto, onde serão

admoestadas pela auctoridade de plantão e em caso de reincidência detidas.

Essa medida também foi imitada pelo tenente Justino Lopes da Cunha, delegado do 2°

Districto75, e visa tão somente atender as famílias que se dizem sem o direito de passeiarem

até mais tarde, devido o número de mulheres de vida alegre que sahem dos seus rebanhos

para se exporem às vistas publicas e palestrarem nas portas dos cafés. ”76

No Domingo, 13 de Setembro, a “Tribuna”, continuando o assunto, comunicava que

“O Dr. José Brugger Vilela, Chefe de Polícia do Maranhão, não compreendendo que

possa existir pensões e casas de meretrizes de visitas, entre famílias, está decidido a crear a

zona do meretrício.

Para isso, conta com o apoio dos delegados auxiliares e espera o auxilio da imprensa.

vaguear nos seus próprios bairros; não podiam sair <<sem justa causa>> depois das oito horas da noite no
inverno e das dez no verão. Quando saíam das case chiuse tinham que se comportar <<decentemente>> e com
decoro, vestir-se de forma modesta, evitar seguir quem passasse, não abordar homens nem ir ao teatro.”
75
O segundo parágrafo do Decreto n°152, de 31 de Julho de 1931, trazia as áreas de competência do 2° Distrito,
onde foram dadas muitas das queixas com que temos trabalhado, comprovando a concentração de meretrizes no
local. “ § 2º - O 2º Distrito, com séde nesta Capital compreende a parte sul da mesma, na conformidade da
divisão constante do Regulamento, baixado com o aludido decreto nº1. 025 de 5 de março de 1926, até o túnel
da referida E. de F. S. Luís-Teresina, seguindo esta ao encontro da linha telegráfica que servirá de divisão até o
Batatan e, por esse rio ao estuario do Bacanga, segue a divisão do igarapé do Furo e depois em uma reta ao
igarapé Arapapai compreendendo a Vila Maranhão, até a baía de São Marcos, incluindo as ilhas Garapirá,
Duas Irmãs e Medo. Nesse distrito haverá duas sub-delegacias separadas da Capital pelo Bacanga, sendo uma
em Boqueirão, compreendendo Cantagalo, Guia, Bonfim, Tamancão, Itapecaraiba, Itaqui e as ilhas referidas, e
a outra na Vila Maranhão, compreendendo Buenos Aires, Conceição, São Raimundo, Alcantara, Arraia,
Pindoba, Telha e Santa Rita.”
76
Jornal “Tribuna”. São Luís – MA: sexta-feira, 11 de Setembro de 1931, p.1.
O fim da creação da zona só trará benefício às famílias, que reclamam não poder

fazer o “footing” nas Avenidas, devido a adhesão de mulheres de vida fácil.

E para que as famílias deixem de sofrer desgosto a zona será creada e nella será

mantida a liberdade com restricção e um policiamento exacto.

As primeiras medidas:

Para que as famílias posam livremente freqüentar os “bars” e cafés, a polícia

prohibiu terminantemente que qualquer meretriz penetre nesses estabelecimentos antes das

23 horas.

Como no Maranhão o transito familiar termine sempre às 23 horas, os delegados

dessas horas em diante, darão liberdade para as mulheres de vida alegre frequentar os

botequins e andarem livremente pela cidade, desde que não pratiquem escandalos e nem

desordem.

No 1°Districto ellas poderão sahir acompanhadas.

O Sr. Pimenta Gnone, delegado do 1° districto, em hypotese alguma, permitirá que as

mulheres transitem pelas ruas que estiverem sob sua fiscalização, sem serem acompanhadas.

Das 23 horas em diante permitte que estejam à vontade e só serão incommodadas se

perturbarem o socêgo publico.

No 2° Districto a volta não é tão cruel.

O tenente Justino Lopes da Cunha determinou aos seus subordinados que prohibam a

entrada das mulheres nos “bars”, cafés e botequins antes das 23 horas.

Mas, desde que as mulheres, em número no máximo de duas, juntas, transitem pela

rua, em procura de uma pharmacia, de um negócio urgente, em ordem sem pararem nas

esquinas não podem ser admoestadas.


Elas não estão privadas de dansar. Não é intuito da polícia privar as diversões das

prostitutas.

A polícia aos sábados e domingos dará licença para os grêmios “Radiante”,

“Espoca”, “PP”, “Primavera e “Ideal”, realizarem bailes para as mulheres mais humildes.

Os clubs “Comercial” e “Palace” funcionarão para as mulheres da aristocracia.” 77

O tema prosseguia na Imprensa local enquanto as concepções de ordem cristalizavam-

se como sinônimo de civilidade.

Nos projetos políticos o que se via era uma diferenciação, explícita, do tratamento

dispensado àqueles indivíduos considerados potencialmente perigosos e os “outros”

elementos da sociedade. Locais como bares, clubes de dança e casas de meretrizes

rapidamente ganhavam especial vigilância78.

Avalizando a política normatizadora, o periódico “Folha do Povo” apresentou, na

segunda-feira 14 de Setembro de 1931, à população de São Luís a matéria intitulada “A

polícia e o meretrício”, na qual dizia:

“A nossa atual policia dando solução a um problema que a muito vinha pedindo

atenção dos poderes competentes acaba de tomar várias medidas no intuito de refrear o

meretrício desta capital que, como é sabido, já se tornava um afronta à nossa sociedade.

Assim é que ficou proibido, d’ora em diante as “maripozas” freqüentarem os botequins e

77
Jornal “Tribuna”. São Luís – MA: domingo, 13 de Setembro de 1931, p. 02.
78
Sobre as convivências e conflitos da cidade, Henri Lefebvre em O direito à cidade. SP: Editora Documentos
Ltda., 1969, p. 20 faz a seguinte colocação, “a vida urbana pressupõe encontros, confrontos das diferenças,
conhecimentos e reconhecimentos recíprocos ( inclusive no confronto ideológico e político) dos modos de viver,
dos “padrões” que coexistem na cidade”.
cafés antes das 23 horas. Para que as meretrizes tranzitem no perímetro urbano, antes das 23

horas é necessário que se façam acompanhar de outra pessôa e se portem com todo respeito.

Essa medida, que verificamos bôa, no 2° districto só será adotada em parte, por

determinação do delegado tenente Justino Lopes, que permite às meretrizes o livre tranzito,

uma vez que se mantenham com o devido respeito.

Quanto aos bailes públicos poderão elas freqüentar, verificando-se, porém, um

policiamento às alturas.

Nos “footings” e reuniões populares as meretrizes só poderão freqüentar quando

acompanhadas. ”79

Nas discussões sobre a prostituição salientavam, também, desejos pela criação de

espaços específicos para aquela atividade. No dia 20 de Setembro de 1931 a “Tribuna”

inseria, no artigo “As mulheres da vida fácil”, dois itens sintomáticos da ideologia que se

impunha: a localização do meretrício e o funcionamento de clubes de danças.

“O Sr. Dulcídio Pimentel, delegado de polícia da Capital, irá finalmente resolver o

problema da localisação do meretrício em São Luíz. Nesse sentido vae se entender, hoje, com

vários commerciantes e proprietários de casas para, de pleno accordo, decidir esse caso que

tem sido o commentario da cidade.

Tendo alguns proprietários de clubs requerido, hontem licença para fazerem

funccionar, hoje, os seus clubs de dansas para meretrizes, o 2° delegado indeferiu as mesmas

lincenças, por se tratar de logares frequentados por gente suspeita a quem a polícia pretende

manter a máxima fiscalização.” 80


79
Jornal “Folha do Povo”. São Luís – MA: Segunda-feira, 14 de Setembro de 1931, p.01.
80
Jornal “Tribuna” São Luís – MA: Sexta-feira, 18 de Setembro de 1931, p.08.
Nas estratégias de construção da cidade higienizada, enfatizavam os problemas e as

formas de intervenção. No espaço urbano recortado seus habitantes são conhecidos,

diagnosticados, classificados. 81

Assim, a partir de 18 de Setembro de 1931, por ordem do delegado do 2° e 3° distritos,

todas as meretrizes da capital, incluindo as donas das Casas, passariam a ser identificadas com

uma caderneta.

As mulheres deveriam deixar uma fotografia na polícia, pagar a taxa de 10$000 ao

Tesouro Público do Estado e receber a caderneta comprovando seu registro 82. Tal valor fora

criado especialmente para o que denominavam “pessoal sem profissão”.

Segundo o jornal “Tribuna”, tão logo fosse terminado o serviço de identificação, seria

iniciada a inspeção médica83 de todas as meretrizes registradas na polícia. 84

No caso do meretrício estabeleciam vínculos com a proliferação de doenças, em

especial a sífilis. Ao associar a doença a um comportamento social concebido como

81
LANNA, Ana Lúcia Duarte. Uma cidade na transição Santos: 1870-1913. op. cit. p.26.
82
Dez anos mais tarde, a prática de registrar as meretrizes na polícia ainda estava em voga como mostra a lista de
fichas individuais no livro de registro de hóspedes da pensão “Oliveira”. Constam na listagem vários nomes de
meretrizes e seus respectivos “números” na Polícia. Eram elas: Maria G. G., ficha individual 79; Regina G. dos
S., ficha individual 74; Ricardina C. f.i. 81; Raymunda F. S., f.i. 75; Rufina R., f.i. 78, Raymunda M., f.i. 77;
Maria Madalena C., f.i. 445 e Amanda dos A., f.i. 266.
83
Podemos verificar semelhanças entre a realidade de São Luís e Paris da Belle Époque, apresentada por
Michelle Perrot em Mulheres Públicas. SP: Unesp, 1998, p. 27, onde diz que “fichadas as mulheres públicas
recebem visitas médicas regulares e são quando preciso encerradas nos hospitais-prisões, cujo protótipo em
Paris é Saint-Lazare.” Nickie Roberts, A Prostituição Através Dos Tempos, op. cit. p.210 também destaca a
relação entre a polícia parisiense e a prostituição, no início do século XIX, indicando elementos que igualmente
identificamos no caso ludovicense. Segundo a autora, “logo em 1810 a polícia parisiense respondeu à
preocupação burguesa, organizando uma brigada especial, a police des moeurs, cuja função era supervisionar
a inscrição num registro central. Uma vez registradas, as prostitutas parisienses tinham que se apresentar
mensalmente para uma inspecção vaginal levada a cabo por um médico da polícia; este privilégio custava-lhes
três francos de cada vez que lá iam. Se estivessem infectadas com alguma doença venérea, as mulheres eram
confinadas num hospital-prisão (em Paris, o infernal St. Lazare. Em São Luís, as mulheres também foram
rigorosamente fichadas pela polícia e os casos de doenças infecto contagiosas eram em sua maioria detectados
pelas inspeções sanitárias e encaminhados para o Hospital Geral. Os Diários Oficiais do Maranhão forneciam
diariamente dados sobre as referidas doenças, indicando que o maior número era a sífilis, seguida pela lepra.
84
Jornal “Tribuna”. São Luís – MA: Sexta-feira, 18 de Setembro de 1931, p.08.
inadequado, reforçavam os referenciais “assépticos” que englobavam posturas sociais e

sexuais.

Em São Luís, o editorial da “Tribuna”, de 26 de Setembro de 1931, demonstrava como

a ideologia da higiene era utilizada no sentido de reconhecer os focos de doença/desordem e

introduzi-los em uma outra lógica.

Seu conteúdo era enfático quanto aos perigos morais e sociais da prostituição, todavia,

revelava vozes dissonantes quanto à prática dos projetos.

“Logo no início da investidura, andou o chefe de polícia a adoptar medidas relativas

à regulamentação da prophylaxia social do meretrício. O rigor com que eram tomadas as

providências policiaes, si, em parte, não podem ter a sancção dos princípios legaes

assecuratórios da liberdade individual, denunciava, todavia, os louváveis propósitos da

autoridade pública em melhorar as nossas condições sanitárias grandemente comprometidas

pela syphilis e suas ruinosas conseqüências.

Até agora não sabemos as providencias que a policia promettia tomar para o fim de

pôr óbice aos effeitos devastadores da avaria. As difficuldades, que, naturalmente, se teriam

erguido deante da humanitária iniciativa policial, não poderiam absolutamente ser de molde

a lhe adiar ou entibiar as providências. As estatísticas sanitárias sobre a prophylaxia da lues

constituem o melhor e o mais convincente argumento contra os que combatem a

regulamentação da prostituição. Onde ella é devida e cuidadosamente regulamentada, vem se

notando o constante decréscimo do número dos contaminados, em benefício da saúde da raça

e da própria dignidade da espécie.

Nos Estados Unidos da América do Norte, o meretrício não se acha sob a acção

directa de um regulamento legal. Mas, este facto não pode ser invocado pelos que constituem
a corrente que oppõe, neste assumpto, às providências da autoridade policial. Ali, na grande

república, o estranho facto tem a sua natural explicação: o governo não reconhece a

prostituição, seja qual for o modo de sua manifestação. Não a reconhece, mas persegue a

quem a pratica, impondo-lhe a pena com que pune o crime de vagabundagem. Isto, porem,

não tem sido bastante. Persistem os seus effeitos desastrosos. Tem tomado intenso incremento

a industria criminosa dos abortos provocados, a diminuição da natalidade e os casamentos

precoces.

A polícia deve levar a effeito medidas tendentes a restringir a propagação das

moléstias venéreas, entre nós entrando, para esse fim, em immediato entendimento com as

autoridades sanitárias ou executando leis especialmente decretadas pela interventoria.

A propósito, passamos para as nossas columnas um facto relatado pala imprensa do

Recife, referente ao assumpto em apreço:

<<A equipagem dos vasos de guerra italianos estacionados em nosso porto, depois de

ter passado pelos portos de Buenos-Ayres e de Montevidéo, depois de ter percorrido meia

parte do mundo, veiu quasi toda ella contaminar-se em Recife, entre o meretrício não

regulamentado e não localizado da culta, hygienizada e policiada capital pernambucana.

>>” 85

No sentido de garantir a civilidade, a ordem, a saúde e a limpeza, médicos, juristas e a

polícia plasmavam teorias e práticas mais elaboradas. Pontuando a ação policial, o Diário

Oficial do Estado do Maranhão, de 4 de Abril de 1932, apresentava o Decreto 259 de 30 de


85
Jornal “Tribuna”. São Luís – MA: Sábado, 26 de Setembro de 1931, p.1.
Março, no qual constava o novo Regulamento para a Chefatura de Polícia do Estado. Tratava-

se de uma releitura daquele de 1919, acrescentando como dados, nacionalidade e profissão.

A mesma preocupação em “conhecer” os indivíduos era revigorada pela ideologia

varguista de valorização do trabalho e controle de estrangeiros em território nacional.

Veja-se o capítulo III, “Das atribuições da polícia”, particularmente os artigos:

“13°- Compete às autoridades policiais:

I. Proceder a inquérito e todas as diligencias necessárias ao descobrimento dos fatos

criminosos e suas circunstancias, inclusive o corpo de delito.

XXIV. Dissolver os ajuntamentos ilícitos ou sediosos.

XXVII. Fiscalizar os hotéis, albergues, hospedarias e quaisquer outros

estabelecimentos onde entrem e saiam, diariamente, hóspedes, obrigando os proprietários,

procuradores ou encarregados a ter um livro devidamente aberto e rubricado pelo Chefe de

Polícia ou pelo funcionário por ele designado, em que sejam inscritos os nomes dos

hóspedes, sua nacionalidade, idade, estado civil, profissão, domicílio, procedência, destino,

datas de entrada e saída e sinais característicos.

14°- Para o fim de que trata o n. XXVII do artigo precedente, os proprietários de

hotéis, casas de pensão, casas de cômodos e outras a estas equiparadas, são obrigados a

fornecer, semanalmente, à Delegacia Geral de Polícia da Capital , um mapa do movimento

de entradas e saídas de todos os seus hóspedes e destinos, durante a semana finda, sob pena

de multa de 100$000.

Parágrafo único – A Delegacia Geral de Polícia fornecerá mapas devidamente

vizados e rubricados pelo Delegado nos quais serão inscritos os nomes dos hóspedes, sua
nacionalidade, idade, estado civil, profissão, domicílio, procedência, datas de entrada e

saída e sinais característicos, de acordo com o estabelecido no citado n. XXVII do art. 13°.”

Até os giros pelas ruas mereceram atenção especial. O capítulo XI do mesmo Decreto

fora todo dedicado a esmiuçar as funções de novos elementos responsáveis pela ordem, os

“Inspetores de Quarteirão”, pessoas comuns escolhidas pela polícia para exercerem papéis de

zeladores da “boa conduta social”.

“Artigo 50°- Aos Inspetores de Quarteirão incumbe:

I. Conter os ébrios86 e turbulentos, que, por palavras ou ações, ofendam a

tranqüilidade pública.

II. Informar à autoridade policial sobre as infrações, contravenções e crimes que

forem cometidos, assim como sobre suspeitos, vadios, mendigos, vagabundos, gatunos,

caftens e criminosos que se acharem no quarteirão.

III. Prender em casos de flagrante delito.

IV. Prender os pronunciados não afiançados e os condemnados à prisão, quando

tiverem ordem da autoridade policial.

V. Invocar o auxílio de cidadãos para efetuar prisões, quando não seja possível

requisitar da autoridade nem chegar em tempo, a força necessária.

VI. Mostrar-se conhecedor das pessôas residentes do respectivo quarteirão e do

movimento das casas de pensões, hospedarias e estalagens.

VII. Observar as ordens e instruções das autoridades policiais.

VIII. Participar, semanalmente, aos subdelegados de policia, tudo que houverem

praticado no desempenho de suas funções.

86
Sobre a “questão do alcoolismo” e as representações da figura do ébrio no período de 1890 a 1940 ver o artigo
de Matos, Maria Izilda Santos de. O Lar e o Botequim. In; Cadernos CERU, série 2, n. 11, 2000.
Vagabundagem e condutas nocivas das mais diversas ordens mas, principalmente o

meretrício, continuavam fortemente reprimidas e nesse sentido outro Decreto, o n°520 de 6 de

Novembro de 1933, acentuava os contornos e as práticas do controle social em São Luís.

Seu conteúdo, que autorizava o Chefe de Polícia a tomar medidas “acauteladoras da

moralidade pública”, dizia:

“...attendendo ao que lhe foi representado pelo Chefe de Polícia do Estado quanto a

conveniência e necessidade de serem tomadas, com urgência, medidas que, embora não

previstas no Regulamento Policial vigente, estão a exigir prompta execução, afim de attender

os interesses e a moralidade da sociedade; e tendo em vista que as famílias maranhenses não

podem continuar prejudicadas com a falta de respeito que repetidamente se vem traduzindo

em actos e factos desabonadores da moralidade publica, especialmente ao modo irregular

como é exercido o meretrício nesta capital, cuja fiscalização e actos preventivos se impõe

sejam desde já postos em execução, DECRETA:

Artigo Único – Fica desde já, o Chefe de Polícia auctorizado a promover as medidas

que julgar opportunas afim de que a moralidade, o respeito e a ordem não mais sejam

prejudicadas por actos ou práticas às mesmas attentorias, podendo para isso baixar

instrucções, impondo as penalidades que se tornarem precisas.”

O controle dos livros fora levado a cabo pelas autoridades policiais. Os vistos, assim

como anotações de não entrega de mapas, eram registrados em uma listagem mensal onde

constavam o número da casa e seu respectivo “proprietário”, responsável.

Com a aproximação do golpe de 37 a fiscalização estatal sobre as condutas, costumes

e posturas na sociedade tornava-se mais enérgica. As medidas passavam a incorporar o

pagamento de multa de 200$000 réis e detenção por 24h para aquele que em público,
praticasse “actos immoraes” proferisse “palavras obcenas” ou se comportasse de modo

“deshonesto, offensivo ao pudor, que pudesse ser visto ou ouvido pelos transeuntes ou

vezinhos”. 87

Reforçavam-se, insistentemente, os mecanismos de controle e domesticação 88 dos

comportamentos e espaços, levando os locais concebidos como focos de desordens a

tornarem-se, cada vez mais, alvo de “preocupações” por parte do Estado.

Observando a morfologia urbana de São Luís, nas primeiras décadas do século XX,

depara-se, com uma bem definida representação de um daqueles locais, o espaço sexuado89

da cidade.

Circunscritas nas ruas da Palma, 14 de Julho, Joaquim Távora, 28 de Julho, Nova, do

Sol, Cândido Mendes, da Passagem, do Teatro, Luzia Bruce, Maranhão Sobrinho, da Manga,

da Saúde, da Lapa, Afonso Pena, Henriques Leal, Nina Rodrigues, Tarquínio Lopes, 7 de

Setembro, Regente Bráulio, Santa Rita..., Avenida Pedro II, Fonte das Pedras, Praça João

Lisboa... em meio a armazéns de louças e vidros, de ferragens, de secos e molhados, de

estivas e cereais, de inflamáveis, de galas e funerais, de materiais de construção, ferreiros,

marceneiros, alfaiates, despachantes, sapateiros, dentistas, barbeiros, médicos, joalheiros,

ourives, consertadores de pianos, guarda-livros, tipografias, oficinas de encadernação, de

fotografias, de malas, de violões, livrarias, papelarias, cinematógrafos, farmácias, mercearias,

padarias, serrarias, colchoarias, lojas de fazendas, de quinquilharias, de calçados, de

miudezas, de perfumes, de chapéus, de artigos para automóvel, de victrolas, fábricas de

chapéos de sol, de móveis, de perfumes, de lenços, de sabão, de vinagre, de tecidos, de óleos,

87
Diário Oficial do Estado do Maranhão, sexta-feira 16 de Abril de 1937, p.07.
88
LANNA, Ana Lúcia Duarte. Uma Cidade Na Transição. Op. cit.p.73.
89
PERROT, Michelle. Mulheres Públicas. SP: Unesp, 1998, p. 08.
de algodão medicinal, de gelo, de chocolates, de massas alimentícias, de cigarros e pomadas,

tavernas, clubes de diversões, tabacarias e botequins estavam as casas-de-cômodo, pensões e

hospedarias de meretrizes.90

Era ali o espaço geográfico das madamas, raparigas, borboletas, maripozas, decahidas

e horizontaes91...e tal visibilidade, pela concentração em locais de limites bem definidos,

certamente facilitou as ações da polícia92.


90
Diário Oficial do Estado do Maranhão, Terça-feira, 17 de Janeiro de 1933, p. 07.
91
Outras expressões utilizadas, na época, como significado da palavra meretriz foram encontradas no Dicionário
de Sinônimos e Locuções da Língua Portuguesa. Agenor Costa (org.). 1945. Biblioteca Pública do Estado do
Maranhão “Benedito Leite”. São elas: acreana, alcouceira, andorinha, arruadeira, bagaceira, bagaço, bagaxa,
bandarra, barca, bebena, biraia, bisca, biscaia, boi, bruaca, cação, cadela, canhão, cantoneira, carcaio,
catraia, china, clori, coia, cocote, cortesã, concubina, cróia, culatra, culatrão, curta, dama, égua, ervoeira,
fadista, fêmea, femeaço, findinga, fornicária, frega, frete, frincha, bubana, fusa, ganapa, gança, jereba, laís,
lôba, loureira, lumia, manceba, marafona, marafantona, marca, marota, merreca, messalina, michela, miraia,
moça, moça do fado, mulher da comédia, mulher à toa, mulher dama, mulher da rótula, mulher da rua, mulher
de má nota, mulher de ponta de rua, mulher desgraçada, mulher da vida, mulher perdida, mulher do fado,
mulher do fandango, mulher do pala aberto, mulher errada, mulher solteira, mulher vadia, mundana, mundária,
murixaba, pécora, perdida, perua, pinóia, polaca, pôlha, porca, prostituta, puta, quenga, rameira, rascoa,
reboque, rongó, solteira, sutrão, tapada, tolerada, tronga, vadia, vaquete e vertena. Zoina – de baixa classe.
Boi, catraia – de soldado. Patrajona – elegante. Cortesã – estrangeira. Poloca – fina. Horizontal – imunda.
Cagaçal – reles. Velha e reles – bagaço. Reles, muito reles – culatra, culatrão, culatrona, galdrapinha. Que
anda pelos cantos das ruas – cantoneira. Que anda em cabana – cabaneira. Que vagueia – borboleta. Laure
Adler em, A Vida Nos Bordéis De França, 1830-1930. Lisboa: Terramar, 1990, p. 8-9, indica o mesmo para as
prostitutas francesas, “chamam-nas de mulheres de prazer, mulheres da noite, mulheres da vida airada,
mulheres da farra, amiguinhas, mulheres de giro, mulheres de barreira, mulheres de beuglant, pedregosas,
papa-ceias, andarilhas, cocottes, heteras, horizontais, pedestres, visitadoras de artistas, lorettes, frisettes,
cabriolas, polvas, aquáticas, demi-castors, celibatárias prazenteiras, vénus crapulosas. Em As prostitutas de
Roma. In: Amor e Sexualidade no Ocidente. Lisboa: Terramar, 1991, p.89, Catherine Salles resgata as origens
dos termos hetaira e meretriz, “enquanto os Gregos haviam achado o elegante termo hetaires (companheiras)
para designar as suas prostitutas, os Romanos dão às suas o nome trivial de meretrix (<<a que tira dinheiro do
seu corpo>>). Noutros tempos, as prostitutas serão <<impuras>>, <<mulheres perdidas>> ou
<<pecadoras>>. Em Roma, elas são <<aves de rapina>> ou <<vampiros>>!”
92
Em São Luís a área ocupada pela prostituição, ao contrário de muitas outras cidades, não era periférica, mas
integrava o espaço comercial e administrativo da cidade. Houve uma afluência de pessoas que se instalavam em
grande parte na área central e não na periferia da cidade. As habitações de operários, pedreiros, catraeiros,
meretrizes e outros, eram os antigos prédios que no século XIX, pertenceram aos senhores do algodão e ricos
comerciantes. Segundo Maria José Penha dos Santos, Urbanização de São Luís – MA. Universidade Federal do
Maranhão: Monografia de conclusão do curso de Ciências Imobiliárias, 1998. P.14, “A década de 20 (vinte) a 40
(quarenta) marca o investimento na infra-estrutura trazendo melhorias: saúde, transporte, energia, educação;
devido ao declínio econômico na década de 30(trinta) e 40(quarenta) as transformações se refletem na
expansão espacial da cidade, determinando o deslocamento da população para o Monte Castelo, dando início
a desvalorização do Centro que passa a ser ocupado pela população pobre, dando formação aos cortiços os
quais permanecem até os dias atuais”. No Relatório de 1940, p. 62 Paulo Ramos indica as obras que resultaram
naquela modificação. “A construção da Avenida Getúlio Vargas, antigo Caminho Grande, a que acima fiz
referência, merece também especial atenção. Iniciadas as obras da aludida via pública em 1939, foi, contudo,
em 1940 que elas avançaram, a ponto de se encontrarem hoje próximas de seu têrmo. Esta avenida,
pavimentada a concreto, com canteiros centrais, em planos salientes, e duas largas superfícies de rolamento,
transformou a zona suburbana, por onde se estende, num dos melhores e mais modernizados trechos da
Quando a Interventoria do Estado foi assumida por Paulo Ramos, a polícia sofreu forte

remanejamento. O posto de 1° delegado fora entregue a Flávio Nunes Bezerra que breve

assumiria a chefia de polícia. 93

No mesmo Relatório, apresentado em 193794 ao Interventor, o Tenente Coronel José

Faustino dos Santos e Silva, ainda Chefe de Polícia, demonstrara especial atenção para as

informações sobre os indivíduos que circulavam pela capital ludovicense, principalmente nos

hotéis, pensões, casas de cômodos e hospedarias.

Constava na Seção de Ordem Política e Social, o registro de legalização de 5 hotéis, 11

pensões familiares, 21 de rapazes solteiros, 10 pensões “alegres” e 28 casas de cômodos e

estalagens.

O levantamento do número de pessoas que transitaram por aqueles estabelecimentos

pôde ser feito a partir dos Livros de Registro de Hóspedes e apenas no período de 12 de Julho

a 15 de Setembro de 1937, calculou-se um total de 2.474 hóspedes, 881 homens e 1.593

mulheres95 sendo que, 265 eram de nacionalidade estrangeira96.

Capital”. De acordo com os dados de funcionamento de Casas de Pensões e Cômodos acreditamos que tal
fenômeno tenha se iniciado já na década de 20.
93
Sobre este assunto ver o Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Governador do Estado, Dr. Paulo Martins de
Souza Ramos, pelo Tte. Cel. Chefe de Polícia, Dr. José Faustino dos Santos e Silva. São Luís do Maranhão. RJ:
Typ. Do Jornal do Commercio. Rodrigues & C. 1937, p. 25.
94
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Governador do Estado, Dr. Paulo Martins de Souza Ramos, pelo Tte.
Cel. Chefe de Polícia, Dr. José Faustino dos Santos e Silva. Op. cit. p.31.
95
Observa-se por este dado o processo de coagulação da mão de obra feminina, donde resulta em grande parte o
meretrício.
96
Pelo Decreto-Lei n°897 de 2 de Setembro de 1944, foi criada em São Luís, em caráter de emergência, a
Delegacia Especial de Segurança Política e Social e de Estrangeiros. Subordinada à Chefatura de Polícia tinha
como finalidade específica fiscalizar a entrada e saída de estrangeiros em território nacional, investigar
atividades contrárias à legislação, promover registro, naturalização ou expulsão.
A rigorosa política de controle social seguia estendendo assim “seus tentáculos aos

mais variados setores da sociedade”. 97

O pensamento e imposição da ordem criavam repetidas e sucessivas medidas para

coagir qualquer tipo de manifestação ou atitudes contrárias ao estabelecido pelo governo.

Assim, outro campo de ataque foram as festas populares. Em particular o carnaval, que

se desregrado e sem a vigilância das autoridades policiais poderia, para a política que

alicerçava o governo, colocar em risco a moral e os bons costumes da sociedade.

Foi pela ocasião do carnaval de 1940 em São Luís que a Chefatura de Polícia, já na

pessoa de Flávio Bezerra, lançou um elenco de normas que deveriam ser seguidas durante o

período das brincadeiras. Entre outras resolvia que:

“4°- Os bailes de entrada paga e os cabarés não poderão funcionar sem previa

licença da Polícia;

5°- Essas licenças serão dadas mediante requerimento sellado, de um responsável, ao

Chefe de Polícia, do qual constará a denominação do grupo, o nome e a residência de cada

um dos seus componentes ou, no caso de de bailes públicos e cabarés, a declaração da rua e

número do prédio onde vae funccionar;

6° - Todas essas licenças serão pagas em sellos adhesivos do Estado, de accordo com

a tabella da Polícia;

7° - A entrada dos bailes públicos e cabarés, será feito pela Polícia o reconhecimento

das pessôas mascaradas;

97
SOIHET, Rachel. A INTERDIÇÃO E O TRANSBORDAMENTO DO DESEJO: Mulher e Carnaval no Rio de
Janeiro (1890-1945). In; Espaço Feminino, v.1/2, Ano 2, Jan./Dez. 1995. Universidade Federal de Uberlândia,
Departamento de História, CDHIS, NEGUEM.
8°- Não serão permittidas as phantasias transparentes e máscaras de crítica ou

allusivas aos membros dos poderes públicos, às autoridades em geral, ao clero, bem assim as

que tenham emblemas, distinctivos, bonés, fitas, golas, botões e galões semelhantes aos

adoptados pelas classes armadas do País;

11°- Fica prohibido o ingresso de menores nos bailes carnavalescos, principalmente

nos de entrada paga e cabarés;

14° - Os donos dos bailes e cabarés serão responsáveis pela ordem e moralidade nos

mesmos;

16° - Nos bailes públicos e cabarés haverá número sufficiente de investigadores e

policiaes para a fiscalização e execução das presentes instrucções.

Mesmo após o surgimento do rádio, os jornais continuavam poderosos instrumentos de

divulgação das idéias, projetos e ações do governo.

No Estado Novo, as questões centrais para o Estado, corporificado na figura de

Getúlio Vargas, voltavam-se para uma consciência nacional onde, a família, o trabalho e a

Pátria eram os pilares.

Segundo Maria Luiza Tucci Carneiro, “criavam-se novos mitos e fortaleceram-se

velhos símbolos, dando-lhes uma roupagem oficial e, muitas vezes, científica. Recuperaram-

se valores dentre os quais o culto aos heróis, líderes e símbolos da pátria; à nacionalidade, à

disciplina, à moral, ao trabalho e aos valores do catolicismo tradicional.”98

98
Carneiro, Maria Luiza Tucci. O Anti-Semitismo na Era Vargas (1930-1945). SP: Brasiliense, 1995, p.124.
Não por outro motivo, a data de 7 de Setembro de 1940 fora escolhida para publicar

no Jornal “O Globo” de São Luís uma ampla matéria com o “sugestivo” título de “A polícia

civil do Maranhão: um departamento modelar na vida administrativa do Estado”.

Destacando a atuação de Flávio Bezerra na prevenção das perturbações da ordem e na

preservação do público “da influência nociva dos inimigos da sociedade”, salientou a

questão do meretrício emoldurada nos conceitos estadonovistas.

Incluindo o meretrício no conjunto de “quistos sociais” e “indesejáveis”99 afirmava,

“Chaga social sobre a qual se tem escripto páginas as mais vivas, o meretrício é um

desses muitos males contra o qual a repressão não pode ser feita violentamente, taes os

complexos problemas que encerra. A acção policial nesse sector, tem que ser antes de tudo,

preventiva e acauteladora do decoro público. Em todas as grandes capitaes a localização do

meretrício é medida que se impõe. É um isolamento necessário de grande valor social. O Dr.

Flávio Bezerra, technico perfeito na arte de policiar os costumes, zelador do decoro publico,

em dia com a evolução dos methodos scientíficos de polícia, fez na capital esta coisa que a

tantos parecia difficilima: isolou do organismo social esse campo corroído, localisou o

meretrício e fez mais: iniciou o combate às casas de “rendez-vous”. ”100

Os limites do permitido, do conveniente, do limpo, do sadio, do moderno e em última

instância, congregando todos os outros, do civilizado, eram traçados com matizes mais fortes.

Para além ficavam as práticas e manifestações de “selvageria” e atraso.

Naquele contexto, as imagens de “progresso” eram estendidas às estruturas físicas da

cidade e nas intenções em transformar o espaço urbano destaca-se o episódio que envolveu,

em 1937, o então prefeito de São Luís, engenheiro Otacílio Sabóia Ribeiro.


99
Carneiro, Maria Luiza. O Anti-Semitismo na Era Vargas. op. cit. p. 179.
100
Jornal “O Globo”, 7 de Setembro de 1940, p. 1.
Segundo Mário Meireles, o “jovem urbanista, pensou em plano, talvez mirabolante,

que lhe desse maior fama, qual foi o de transformar a velha capital maranhense, de perfil

colonial com seus vetustos sobradões de fachadas de azulejo e sacada de ferro, com suas

ruas tortuosas, em uma cidade de feição moderna, de retilíneas avenidas e ruas espaçosas e

em que o encanto dos mirantes bisbilhoteiros cedesse lugar à dureza retilínea dos arranha-

céus.

Para isso sem dúvida que seriam necessários largos recursos e ele, preparando-se

para dar a arrancada inicial na execução de seu plano, apresentou à Câmara Municipal uma

mensagem que abria um crédito especial de Rs. 8.000: 000$000, muitas vezes superior às

possibilidades do erário da comuna. No quanto de ameaça nisso se poderia antever para os

bolsos dos munícipes, ainda mais quando suas atitudes autoritárias já haviam criado um

clima de confronto que obrigara muitas empresas a recorrer ao Poder Judiciário, provocou

um movimento de resistência a que ele, na mensagem, se antecipou em violenta reação,

ofensiva e grosseira contra toda a comunidade e, em especial, contra a Associação

Comercial.

(...) Desse seu plano, de tão graves conseqüências, e que em uma mínima parte seria

executado por seu sucessor, o Dr. Pedro Neiva de Santana, são a triplicação, em largura, da

Rua do Egito desde o Largo do Carmo, rumo norte, até a Avenida Beira-Mar, fazendo

desaparecer o pequeno Largo do Rosário e sobrepassando, no fim, o estreito e tortuoso Beco

do Machado, e a abertura da larga Avenida Magalhães de Almeida, rasgada em diagonal,

rumo sul, desde o chamado Canto Grande, na esquina da Rua Formosa com o Largo do

Carmo, até onde terminava a Praia da Olaria que, então aterrada, servia de chão para os
alicerces do novo Mercado Municipal, que substituiu aquele outro, já famoso pela imundície

de suas instalações, situada entre o Beco Escuro e a Rua da Fonte das Pedras, de uma parte,

e a Rua Nova e a Travessa do Pontal, da outra. 101

De modo análogo, Paulo Ramos dava continuidade à execução de planos de

reformistas.

“Velhas praças, de construção centenária, desniveladas e mal calçadas, tornaram-se

apraziveis logradouros; ruas estreitas e tortuosas, traçadas ainda nos tempos coloniais,

foram alargadas ou transformadas em modernas avenidas; o antigo Caminho Grande, única

via de acesso ao interior da ilha e que nunca tinha merecido os cuidados da administração

local, começou a receber magnífica pavimentação e está sendo cuidadosamente arborizado.

A cidade passou, em suma, a ostentar uma nova fisionomia, bem diferente daquela que lhe

imprimiram os colonizadores e que conservava até há bem pouco tempo.” 102

Por outro lado, os jornais prosseguiam publicando as contemplações dos intentos para

uma sociedade polida. A ordem, concebida como pré-requisito para o progresso, indicava a

permanência de teorias européias como o evolucionismo social, o positivismo, o naturalismo

e o darwinismo social.

Emblema dos valores morais adequados à aquela idéia de nação, o casamento e a

honra eram (re)colocados como essenciais e à mulher destinavam-se comportamentos

101
MEIRELES, Mário M.. História do Comércio do Maranhão. Op. cit. p. 36-37.
102
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas, Presidente da República dos Estados Unidos do
Brasil, pelo Dr. Paulo Martins de Souza Ramos, Interventor Federal no Estado do Maranhão. D.E.I.P. 1941, p.61
modelares, voltados à maternidade e à família. Assim, estereótipos eram impressos

contrapondo os conceitos da boa-mãe / boa-esposa e da meretriz. Segundo Rachel Soihet,

“A medicina social assegurava como características femininas, por razões

biológicas: a fragilidade, o recato, o predomínio das faculdades afetivas sobre as

intelectuais, a subordinação da sexualidade à vocação maternal .As características

atribuídas às mulheres eram suficientes para justificar que se exigisse delas uma atitude de

submissão, um comportamento que não maculasse sua honra. Estavam impedidas do

exercício da sexualidade antes de casarem e, depois, deviam restringi-la ao âmbito desse

casamento. Aquelas dotadas de erotismo intenso e forte inteligência seriam despidas do

sentimento de maternidade, característica inata da mulher normal, e consideradas

extremamente perigosas. Constituíam-se nas criminosas natas, nas prostitutas e nas, loucas

que deveriam ser afastadas do convívio social.”103

Nesse sentido, menções constantes, nas páginas da imprensa diária, de temas a respeito

da prostituição, confirmavam a permanência de seu corpo físico e social no cenário urbano

ludovicense104.

Expressando o discurso de exaltação do trabalho, da família e da fé católica e

referendando as delimitações de papéis que contrapunham a prostituta à esposa-mãe-católica,

o jornal “O Globo” de São Luís, publicou na quarta-feira, 7 de Julho de 1943 o artigo “O

drama de uma civilização derrocada” no qual destrinchava, sob a luz dos conceitos pregados,

a questão do meretrício.

103
SOIHET, Rachel. Mulheres Pobres e Violência no Brasil Urbano. In: DEL PRIORE, Mary (org.). História das
Mulheres no Brasil. SP: Contexto, 1997.
104
Roberto Machado, na introdução do livro Microfísica do Poder. RJ: Graal, 2000, p. XI, de Michel Foucault,
abserva que para o filósofo é evidente “a existência de formas de exercício do poder diferentes do Estado, a ele
articuladas de maneiras variadas e que são indispensáveis inclusive a sua sustentação e atuação eficaz”.
Apresentado na coluna “Os Bastidores da Cidade”, configurava de imediato uma idéia

de lado escuro, oculto, encoberto, sem visibilidade e desconhecido do assunto cuja menção

recobraria, de forma enfática, a identidade do câncer social.

Diagnosticada como um mal que ameaçava a saúde física, moral e social da população

urbana, definia a prostituição “como fonte da doença social em dois sentidos básicos: seja

enquanto espaço de reprodução da miséria, seja enquanto lugar de produção do luxo

ilícito.”105

Refletindo a lógica da “medicalização social”, elementos como sujeira, infelicidade,

doenças, frustrações, psicopatias, pecados e crimes apareciam identificados com a atividade.

Dizia, entre outros:

“Descendo a rua 28 e subindo a rua da Palma, o repórter encontrou, nos velhos

sobradões coloniais, desses trêchos da cidade, as que se perderam um dia e mergulharam na

lama. Pobres maripôsas que queimaram as azas a luz dos fogos fátuos, se me permitem a

frase literária. Jovens ainda vindas de todos os recantos do Estado ou mesmo dos subúrbios

da cidade, elas vivem a mais desgraçada das vidas, mercadejando o corpo, vendendo prazer

e luxúria, ganhando em troca sífilis e tuberculose, não raras vezes , lepra e loucura,

enriquecendo com esse comércio infame as gordas e austeras “madames”.

A princípio ingênuas, em menos de um mês tornam-se verdadeiras “vampas” fazendo

a miséria de milhares de homens, conhecendo todos os artifícios da arte das messalinas.

Aparentemente são felizes, no íntimo, porém, são todas desgraçadas.

105
ENGEL, Magali. Meretrizes e Doutores: saber médico e prostituição no Rio de Janeiro(1840-1890). SP:
Brasiliense, 1988, p.98. Embora falando da realidade verificada em fins dos oitocentos na cidade do Rio de
Janeiro, Engel nos apresenta um quadro de significativas similitudes com São Luís da primeira metade do XX.
Quando a cidade dorme, elas acordam para a vida “alegre” dos lupanares 106. Semi-

nuas, dentro dos luxuosos “soirées”, dansam, bebem, jogam e fumam, descendo a cada dia

mais um degrau da degenerêscencia humana.

A custa dos corpos dessas infelizes, gordas e austeras mulheres, fazem fortuna com

rapidez. Compram sítios, palacetes, sobrados, caminhões, etc.. É o mais rendoso dos

negócios, segundo a palavra de uma das madames em conversa com o repórter quando da

sua primeira visita ao bairro das mulheres de ninguém. Primeira visita, meus senhores por

esta luz que nos alumia. Para os espíritos bem formados uma visita a esse recanto da cidade,

só é motivo para comiseração. Aquele borburinho de mulheres, algumas de beleza rara, só

inspira piedade e vergonha. Vergonha ante a degradação humana que se vê. Criaturas sem

futuro, atiradas ao mais negro dos abandonos, cuja perspectiva ou é um sanatório ou um

leprosário ou um manicômio. Olha-las de perto e ter em mente o destino que auguramos para

as nossas filhas e irmãs, toca-nos o coração o sentimento de piedade. Elas também sonharam

com o príncipe encantado, tiveram lindos sonhos de noivado, algumas tiveram bonecas na

infância e pensaram ser mães, um dia. Hoje vivem como monturos, enganando a um e a

outro, mentindo de amor ao primeiro que lhe pague uma cerveja e lhe dê um cigarro. E

enquanto isso, as “respeitáveis Madames” vão enchendo as arcas dos seus tesouros.

...Observando, atentamente, aqui e ali, esteve presente, em cincoenta “pensões”,

aproximadamente, desde a mais grã-fina a mais baixa onde vivem as mulheres do vício e
106
Segundo Catherine Salles em, As prostitutas de Roma. op. cit. p.87, o termo lupanar tem sua origem vinculada
à história romana. “Roma deve sua fundação a uma loba. As moedas ou as esculturas reproduziram
persistentemente este símbolo nacional: a imagem insólita do animal selvagem a amamentar Rómulo e Remo.
No entanto desde a Antiguidade, os historiadores empenharam-se em racionalizar este mito para descobrir,
subjacente a ele, uma realidade muito mais trivial: os bebés abandonados não ficaram a dever a sua salvação
ao leite de uma loba compassiva, mas sim à caridade de uma mulher, a quem chamavam Lupa (loba) os
pastores com quem ela se prostituía _ aliás, uma alcunha que, segundo os Antigos, ligava a obscenidade
proverbial, o cheiro e a avidez do animal às prostitutas. Seja fantasia ou não esta etimologia, a prostituta
continuou a ser, para os Romanos, a <<loba>> à espreita da sua presa, no seu antro, o lupanar.”
pecado, miséria e amargura. Tanto na Monte-Cristo, como na Elite, ou no “Mata-Home”,

mergulhadas na lama do Portinho, o grito de protesto é um só. Há, todavia, exceções, como

as há em todas as regras. Existem mulheres que vivem satisfeitas com a vida que levam ali,

conforme pôde o repórter observar. Deixá-las, porém, entregues ao sabor dos imprevistos,

isso é um crime. O vício que campêa nos lupanares da cidade semelha aqueles transes em

que se encontraram no determinismo histórico, certas civilizações antigas. Citar exemplos

seria “snobismo”. Qualquer segundo anista ginazial é conhecedor do assunto. A prostituição

prolifera e os bordéis recebem a cada dia mais vítimas da maldade dos homens ou das

inexperiências da vida que norteiam os cérebros femininos de quatorze anos. Reconhecemos

que o problema que o problema é árduo e difícil de resolver. Roma não se fez num dia. E

extinguir a prostituição, corrigir um erro histórico não é tarefa fácil.

...Porque os nossos poderes constituídos pela soberania da vontade popular não voltam os

olhos para os prostíbulos e, nesta época de tantas realizações, não lançam, naquela zona, a

pedra fundamental de um hospital venéreo?

Médicos especialistas, enfermeiros competentes, num ambiente hospitalar, onde exista

o que de mais moderno possue a ciência, dariam, remunerados pelo Estado, assistência às

“mulheres da vida”, evitando assim o contágio permanente, já que não se pode debelar o

mal. Seria uma obra humanitária que levaria às páginas da História qualquer governante,

que tomasse a si a iniciativa. Dentro em pouco as estatísticas viriam mostrar o grande

alcance da obra. Seria menor o número de tuberculosos e diminuiria, consideravelmente, o

número das leprosas e psicopatas.


...Enquanto não se resolve também o problema da alimentação (positivamente o

Brasil é o país dos problemas), dando margem a que os menos afortunados, como as

messalinas, por exemplo, levem uma melhor vida, que se urge a construção do hospital, a que

nos referimos linhas acima. Delas, em maior parte, depende a eugenia da raça. Para uma

pátria forte são precisos homens sãos. E os pais de família que descem até as ruas da Palma

e 28 levam para os seus lares, borbulhando em suas velas, os germens da sífilis. E a sífilis,

meus senhores, nunca fez homens fortes107.

Antro de crimes e de perdição a “zona”, com seus bordéis e lupanares, constitue uma

nódoa para nossos fóros de povo civilizado e se apresenta, aos nossos olhos como o teatro

onde se apresenta aos nossos como o teatro onde se desenrola o drama de uma civilização

derrocada.” 108

Em tais discursos, higiênicos e disciplinantes, as repetidas associações do meretrício

com a propagação de doenças infecto-contagiosas reforçavam as ações sanitárias. Como

afirma Margareth Rago, “de ponta a ponta, recorre-se à mesma operação conceitual que

vincula pobreza-saúde-imoralidade.”109

A par disto verificamos, nos Diários Oficiais do Estado do Maranhão 110, a existência

de um setor dedicado aos registros de moléstias infecto-contagiosas, referentes às internações

107
Ver o que diz sobre este mesmo assunto, Margareth Rago, Trabalho Feminino e Sexualidade. In: DEL
PRIORE, Mary. História das Mulheres no Brasil. SP: Contexto, 1997, p. 591. “De modo geral, no momento em
que a industrializaçào absorveu várias das atividades outrora exercidas na unidade doméstica – a fabricação de
tecidos, pão, manteiga, doces, vela, fósforo – desvalorizou os serviços relacionados ao lar. Ao mesmo tempo, a
ideologia da maternidade foi revigorada pelo discurso masculino: ser mãe, mais do que nunca, tornou-se a
principal missão da mulher num mundo em que se procurava estabelecer rígidas fronteiras entre a esfera
pública, definida como essencialmente masculina, e a privada, vista como lugar natural da esposa – mãe – dona
de casa e de seus filhos.”
108
O Globo. São Luís, quarta-feira, 7 de Julho de 1943, p. 1.
109
RAGO, Luzia Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar: Brasil 1890-1930. Paz e Terra,
1985, p.189.
110
Anos de 1924 a 1930.
feitas no Hospital Central, dentre as quais a sífilis apresentava maior índice de doentes,

seguida pela lepra.

Em 28 de Outubro de 1948, o jornal “O Imparcial”, trouxe uma grande matéria

intitulada “Será interditada a zona do meretrício”. Seu conteúdo, uma palestra feita pelo

“leprólogo maranhense”, Achiles Lisboa, indicava as medidas a serem tomadas pelo Serviço

de Higiene Estadual no combate à lepra, dentre as quais a necessidade da interdição da zona

do meretrício, na visão do médico um dos principais vetores da doença.

Dizia o periódico,

“O cientista Achiles Lisbôa pronunciou, na Assembléia Legislativa do Estado,

importantíssima palestra sobre o problema da lepra no Maranhão. O orador como o

Imparcial divulgou com abundância de detalhes, teceu considerações de ordem geral sobre a

moléstia em todo o mundo, particularisando o caso especial de São Luís que, segundo

revelou, sofre a terrível ameaça de transformar-se em um futuro leprosário.

Profligou o Dr. Achiles Lisbôa o fato dos terrenos próximos ao Cemitério do Gavião,

onde até bem pouco tempo habitaram os leprosos, estar sendo utilisado para construção de

casas. O contacto com aqueles terrenos, diz o cientista, facilita o contagio da moléstia de

maneira a mais alarmante.

A conferencia do grande leprologo maranhense pode-se dizer que foi um grito de

alerta e a sua repercussão nós a teremos muito em breve através das providencias que a

Assembléia certamente sugerirá ao governo do Estado, dentre as quais se fazem sentir com

maior urgência são a interdição e incineração dos terrenos do Gavião e o exame na zona do

meretrício.
O Dr. Achiles Lisbôa, em seu fundamentado relatório combate tenazmente essa

doutrina, citando casos inúmeros de pessoas que adqueriram a moléstia pela moradia em

casas anteriormente habitadas por leprosos e uso de objetos a esses pertencentes.

O Dr. Achiles Lisbôa cita, igualmente, o professor brasileiro Adolfe Lutz que

sustentava que os bacilos da tuberculose como da lepra podem existir sem mostrar a forma

clássica do seu vírus e tem nas suas granulações o elemento infectante e resistente, capaz de

regenerá-las em dadas condições.

E prosseguindo na ordem de considerações, assim se manifesta o Dr. Achiles

Lisbôa:

_Ora, é justamente essa forma granular que ali está a impregnar o terreno do Gavião,

conservando-se naquele saprofitismo perigoso para, em qualquer tempo infectar os que

forem revolvê-lo para construção de casas de moradia.

E diz ainda o Dr. Achiles Lisbôa, ferindo um ponto que nos parece profundamente

importante:

_No mesmo decreto que o Legislativo obrigara o Serviço de Higiene Estadual a

vigilância rigorosa e continuada da zona do meretrício que deverá ser também interditada

até rigorosa desinfecção nos trechos em que se apurem os casos de lepra suspeita. Deverá a

mesma Higiene pelo que apurar da inspeção feita pelas visitadoras, tomar providencias para

o isolamento dos casos que encontrar e interdição das moradias onde se observarem, até que

as medidas de desinfecção rigorosíssima se possam praticar, sendo preciso notar que, em tais

medidas de desinfecção o expurgo deve ser absoluto e demorado.

_A brilhante palestra sobre a lepra, pronunciada na Assembléia Legislativa, pelo

eminente cientista patrício Dr. Achiles Lisbôa, expressa os seus profundos conhecimentos
sobre o terrível mal de Hansen e que urge combater sem tréguas, para felicidade da

humanidade e, em particular do Brasil, nossa pátria estremecida”.

_O assunto é de importância transcendental e ao que tudo indica, resolve um dos

mais importantes problemas de nossa cidade. Todas as providências preconizadas para que

alcancemos a finalidade a que se propõe o cientista Achiles Lisbôa serão aceitas pela

maioria, pois se trata de interesse do povo”. 111

A medicalização da sociedade era revelada pela interferência do saber médico na

definição e busca de soluções para os problemas da cidade, como mostra o artigo. Todavia a

ânsia em identificar e combater as ameaças representadas pela prostituição ou, a dimensão de

seu perigo, não estava restrita ao campo da medicina.

As fronteiras entre o sadio e o doente alcançavam dimensões maiores.

Os freqüentes artigos da imprensa ludovicense atestavam a ênfase da codificação dos

papéis sociais, onde a representação das meretrizes girava em torno de imagens contrapostas à

da boa mãe.

Contudo, acredita-se que por trás da identidade, forjada por um discurso higienista-

conservador, de loucas, instáveis, vadias, sedutoras, doentes, frívolas, imaturas, etc., estavam

mulheres que atraídas pelos potenciais (ilusórios) do mercado de trabalho urbano, vieram para

São Luís e acabaram presas, pela perda de alternativas, em uma situação que as bloqueava na

sua expectativa de produção e evolução social.

111
Jornal Imparcial. São Luís, quinta-feira 28 de Outubro de 1948, p.8 e 2 (conclusão). É importante ressaltar
que já em 1933, pelo Decreto n°544 de 27 de Dezembro, foram estabelecidas normas para o estabelecimento de
um recenseamento sanitário na capital do Maranhão que forneceria às pessoas recenseadas uma caderneta
sanitária.
Parte II - Decahidas e Horizontaes112: os olhares da história

Histórias de Meretrizes: observações sobre a historiografia da prostituição113

Resultado de um processo iniciado em 1929, com a fundação da Escola dos Annales, a

década de 70 representou para a historiografia um grande momento de mudanças. Temas, até

então considerados secundários para a compreensão das sociedades, passaram a fazer parte

das pesquisas e os silêncios da história eram enfim interrogados. Infância, a morte, a loucura,

o clima, os odores, a sujeira e a limpeza, os gestos, o corpo, a feminilidade, a leitura, a


112
Se o termo “decaída” nos alude a questão religiosa do pecado, o “horizontal” nos remete à sociedade
maquínica, dinâmica e geométrica que se instala em fins do XIX.
113
Sem pretender esgotar as obras sobre o tema, apresentam-se as mais significativas na construção desta
pesquisa.
família, as mulheres... 114 passavam a ser contemplados, ampliando o leque de investigações e

o entendimento sobre os momentos históricos.

Naquele contexto, a história das mulheres e as possibilidades de linhas de pesquisa que

apresentava, atraíram diversos historiadores, dentre as quais o estudo sobre a prostituição.

O que se verifica, porém é que, em grande parte das abordagens, o tema encontra-se

inserido em análises mais abrangentes como casamento, sexualidade, urbanização e

industrialização.

A historiografia internacional.

Falar da prostituição é falar do corpo, do sexo, dos prazeres, de doenças, de cenários

urbanos...

Em “O Cavaleiro, a Mulher e o Padre”115, Georges Duby percorreu a história do

casamento europeu no século XIII, mostrando o processo de subserviência da mulher em

relação ao homem.

Naquele momento, a Igreja católica ampliava seus poderes tornando mais rígidos seus

princípios.

114
BURKE, Peter. A Escrita da História: novas perspectivas. SP: Ed. Universidade Paulista, 1992.
115
DUBY, Georges. O Cavaleiro, A Mulher E O Padre; o casamento na França feudal. Lisboa: Publicações
Dom Quixote, 1988.
Os laços matrimoniais passavam a ser considerados indissolúveis, baseados nas leis

divinas e por elas abençoados. Por outro lado, à medida que se ampliava o culto à Virgem

Maria, honra, fidelidade, castidade, passividade e obediência à autoridade do homem

afiguravam-se, tenazes símbolos esponsais enquanto orgias, devassidão e prostituição eram

castigadas com doenças.

Na obra, Duby resgatou a gênese daqueles modelos impostos às mulheres, muitos dos

quais atravessaram vários séculos.

Segundo o historiador, “certos excertos de São Jerônimo convidam à castidade: <<no

casamento, fazer o amor voluptuosa e imoderadamente é adultério>>; o que é o illicitus

concubitus, o que é abusar-se da sua esposa? É usar das partes do corpo dela que não se

destinam à procriação. Ora é óbvio que a luxúria, no casal, vem da mulher; logo esta deve

ser rigorosamente reprimida. Acumulam-se as alusões a Ambrósio, a Agostinho, que a

colocam sob a dominação (dominium) do seu homem: << se houver discórdia entre marido e

mulher, que o marido dome a mulher e que a mulher domada seja submissa ao homem. A

mulher submissa ao homem, é a paz dentro de casa.>> E visto que Adão foi induzido em

tentação por Eva e não Eva por Adão, é justo que o homem assuma o governo da mulher>>;

<<o homem deve comandar (imperare), a mulher obedecer (obtemperare)>>; <<a ordem

natural é que a mulher sirva o homem>>116

Pensando a desconfiança em relação ao sexo, expressada por pastores e doutores ao

longo da História, Marcel Bernos, Philippe Lécrivain, Charles de La Roncière e Jean Guinon

lançaram em 1985 o livro “O Fruto Proibido”117.

116
DUBY, Georges. O Cavaleiro, A Mulher E O Padre; o casamento na França feudal. op. cit. p.118-119.
117
BERNOS, Marcel; DE LA RONCIÈRE, Charles; GUINON, Jean & LÉCRIVAIN, Philippe. O Fruto
Proibido. Lisboa: Edições 70, 1985.
Indicaram como as teorias e práticas acerca da sexualidade, pregadas pela Igreja,

foram heranças da Antigüidade e resumiram-se, quase até os dias atuais, à sexualidade

conjugal sacramentada. Esta, muitas vezes, reduzida quase exclusivamente à função da

produção de filhos.

A violação das prescrições eclesiásticas traduzia-se no pecado, que como tal era

reprimido. Sobre a meretriz, algumas esparsas colocações são feitas.

No que denomina “Os amores em pecado”, Lécrivain mostra que, “bem diferente é a

situação da sedutora que perdeu a consideração ao multiplicar as aventuras. Tudo depende

da vindicta popular. Se esta é fraca, a rapariga ainda pode esperar encontrar um partido

num prazo mais ou menos breve. Se, pelo contrário, é forte, a rapariga-mãe é excluída da

aldeia sob a categoria de mulher da má vida, ou pelo menos de costumes fáceis, em que a

insaciabilidade sexual, real ou imaginária, provoca o receio e a atracção. (...) Tudo o que

pode perturbar a ordem social e económica da comunidade, como o casamento de um viúvo

com uma rapariga da região, é coberto de vergonha em nome da defesa dos herdeiros do

primeiro casamento, do respeito dos mortos ou da reserva endogâmica.”118

Mas a obra vai além, ao pretender um enfoque dos cristãos e da sexualidade e não da

Igreja e da sexualidade o que significa uma observação mais aproximada das posturas dos

indivíduos frente aos ideais pregados.

Se para a Igreja o sexo era (é?) entendido como “fruto proibido”, seria isto válido para

os cristãos como um todo?

118
BERNOS, Marcel; DE LA RONCIÈRE, Charles; GUINON, Jean & LÉCRIVAIN, Philippe. op. cit. p. 239-
240.
Também centrado no cenário medieval do século XIII, Jacques Rossiaud, publicou “La

Prostitución en el Medievo”119.

Na obra, mostrou que o estudo da prostituição possui uma amplitude e significado que

ultrapassam os limites da sexualidade.

Para o autor, compreender a prostituição eqüivale a defini-la em função das estruturas

demográficas e matrimoniais, da normalidade ou dos desvios sexuais, dos valores culturais e

das mentalidades coletivas dos grupos sociais que a toleram ou reprimem. Podendo ser

considerada uma tarefa ambiciosa é, a seu ver, a única que permite explorar a vasta zona

obscura que separa os dois níveis: o das ideologias e a moral e o dos comportamentos

demográficos.

Tomando como exemplo a rede de cidades ribeirinhas do sudeste de Borgonha a

Provença, observou que todos os bairros, próximos Ródano, contavam com prostíbulos. Neste

sentido, destacou a importância de se conhecer a prostituição urbana observando nas

condições econômicas locais e nos comportamentos sexuais, elementos fundamentais na

análise.

No centro das indagações Rossiaud refletiu se a prostituição seria, ao menos nas

fronteiras da comunidade urbana, um comércio, como tantos outros, destinado principalmente

aos forasteiros ou seria uma criação da coletividade para suas próprias necessidades.

Igualmente na perspectiva dos questionamentos, Michelle Perrot, em 1988, dedicou o

capítulo “Mulheres” do livro “Os Excluídos da História” 120 ao entendimento dos poderes e

opressões femininos.

119
ROSSIAUD, Jacques. La Prostitución en el Medievo. Barcelona: Editorial Ariel, S. A., 1986.
120
PERROT, Michelle. Os excluídos da História. RJ: Paz e Terra, 1988.
Segundo a autora, no século XIX, as mulheres quando não omitidas nas produções

historiográficas, em função do caráter masculino que as rege, apareciam em imagens

dicotômicas.

Tarefa dos estudos, o que importa para a autora é reencontrar “as mulheres em ação,

inovando em suas práticas, mulheres dotadas de vida, e não absolutamente como autômatas,

mas criando elas mesmas o movimento da história”121.

Dedicado exclusivamente ao estudo da prostituição na França de 1830 a 1930, “A Vida

nos Bordéis de França”122, de Laure Adler destaca-se por ter sido um dos primeiros da

historiografia.

Recortando a atividade no XIX e início do XX na França, esmiuçou suas formas,

locais e cotidiano permitindo que fossem conhecidos elementos e pessoas que compunham as

relações daquelas mulheres cuja história poucas vezes havia sido percebida.

Segundo a autora, no século XIX, a prostituição sofreu uma mudança de estatuto, ou

de natureza, pois inquietou todos que se julgavam responsáveis pela missão de zelar pela boa

ordem social.

A lógica higienista que se instalava nas grandes cidades associava-se à preocupação

com a disseminação de doenças. O medo da sífilis, da tuberculose, entre outras criavam

serviços de vigilância sanitária levando regularmente as meretrizes a hospitais.

Outros elementos cuidadosamente examinados por Adler foram os nomes, formas de

vestir, de se comportar, de conduzir a atividade, de morar, de adoecer, de curar e de tratar com

a polícia.

121
PERROT, Michelle. Os excluídos da História. op. cit. p.187.
122
ADLER, Laure. A Vida nos Bordéis de França; 1830-1930. Lisboa: Terramar, 1990.
Percorrendo o histórico das prostitutas de Roma 123, Catherine Salles fez uma breve,

porém minuciosa análise do meretrício naquele contexto.

Dissecando o mito da fundação de Roma mostrou que a “loba”, responsável pela

salvação dos bebês abandonados era “Lupa”, uma mulher que se prostituía com os pastores.

A partir de então discorreu sobre o “lupanar” e a “meretrix” mostrando a

familiaridade da figura da prostituta em Roma, seus níveis ( de Súbur e do Grande Circo),

formas da atividade, modos de vestir e as diferenças e semelhanças com as hetairas gregas.

Também ressaltou como as prostitutas distinguiam-se das “outras” mulheres que

circulavam pelas ruas da Roma antiga: proibidas de usar vestidos compridos, destinados às

matronas e esposas legítimas, deveriam usar uma toga castanha a fim de dissimular as roupas

exóticas, transparentes ou de cores fortes.

Outro detalhe interessante era a prática de regimes alimentares para evitar que

engordassem. Também eram comuns as pinturas nos rostos onde procuravam realçar as

“maçãs”, os cílios e as sobrancelhas. Os cabelos, por sua vez, eram pintados de vermelho ou

louro e o corpo adornado com pulseiras, anéis, colares e tornozeleiras.

Apontando as prostitutas como parte integrante da vida urbana na Idade Média, Jeffrey

Richards, lançou em 1991 “Sex, Dissidence and Damnation” 124.

Figuras familiares nos poemas, histórias, músicas e crônicas as prostitutas eram

solicitadas nas tavernas, avenidas, banhos-públicos e até em igrejas mas, sobretudo estavam

nos bairros da “luz vermelha”.

123
SALLES, Catherine. As prostitutas de Roma. In: Amor e Sexualidade no Ocidente. Lisboa: Terramar, 1991.
124
RICHARDS, Jeffrey. Sex, Dissidence and Damnation; Minority Groups in the Middle Ages. London; NY:
Routledge, 1990.
Segundo estatísticas levantadas por Richards, muitas eram as razões que levavam

mulheres de várias idades a se prostituírem: pobreza, inclinação natural, perda de status

social, distúrbios, experiência de violência ou incesto familiar.

Assinalou o papel da Madame já como elemento de autoridade e gerência das

atividades e para o autor, provavelmente grande parte dos clientes das meretrizes na Europa

Medieval eram de jovens homens solteiros e que comumente utilizavam o jargão “to pluck a

rose” para se referir à cópula com uma prostituta.

Richards verificou a idéia da prostituição como “mal necessário” para a estabilidade

sexual da sociedade e inspirados na Bíblia os códigos de conduta obrigavam o uso de

diferentes cores para os vestidos das meretrizes como símbolo de infâmia, diretamente

equivalente, para o autor, à estrela usada pelos judeus e os guizos pelos dos leprosos. Também

apontou os limites de ruas e horas do dia em que as meretrizes podiam sair bem como a área

especial para a prática da atividade, as “hot streets”.

Partindo de testemunhos escritos por homens e as imagens que oferecem das

mulheres, também no medievo, Georges Duby escreveu “Heloísa, Isolda e outras damas no

século XII”125.

Destaca-se o capítulo dedicado à Maria Madalena que, segundo o autor, embora fosse

vista pelos pregadores como a “mulher pública arrependida”, tinha sua imagem utilizada

como a anti - mulher.

125
DUBY, Georges. Heloísa, Isolda e outras damas no século XII: uma investigação. SP: Companhia das Letras,
1995.
“Nem virgem nem esposa, nem viúva, Madalena permanecia a própria

marginalidade, e a mais inquietante, por todos os pecados que seu ser se deixou cativar

durante muito tempo. Peccatrix, meretrix”126.

Nos sermões, as cenas de, “perfumes e óleos espalhados, ornamentos lascivos, as

doçuras de um corpo de mulher, nu entre as pedras ásperas, a carne advinhada sob os

cabelos em desalinho, a carne mortificada e no entanto resplandecente e tentadora” 127

sinalizavam a imagem ambígua e perturbadora da Madalena. Ao mesmo tempo meretriz,

passível de castigo, e arrependida em lágrimas, o que lhe garantiu a salvação.

Duby ressaltou que,

“todos os dirigentes da Igreja estavam de acordo, não obstante, em que era preciso

impedir a mulher de causar algum dano. Que era preciso portanto enquadrá-la. Casando-a.

A mulher perfeita – sob esse aspecto a atitude de Madalena era exemplar – é de fato a que

espera tudo de seu senhor, que o adora, mas que sobretudo o teme. E o serve. A mulher,

enfim, que chora e que não fala, que obedece, prosternada diante de seu homem. Por

conseguinte desde a puberdade a jovem deve tornar-se esposa. Esposa de um mestre que irá

refreá-la. Ou então esposa de Cristo, encerrada num convento. Caso contrário ela corre o

sério risco de tornar-se meretriz”.128

Muitos daquelas leituras e classificações, que as julgavam perigosas e frágeis,

atravessaram os séculos moldando e sustentando as falas normatizadoras.

126
DUBY, Georges. Heloísa, Isolda e outras damas no século XII: uma investigação. Op. cit. p.53.
127
DUBY, Georges. Heloísa, Isolda e outras damas no século XII: uma investigação. Op. cit. p.54.
128
DUBY, Georges. Heloísa, Isolda e outras damas no século XII: uma investigação. Op. cit. p.50.
Resultado de minuciosa pesquisa, “A Prostituição Através Dos Tempos Na Sociedade

Ocidental”129 é outra obra a estudar especificamente a prostituição.

Tecendo uma análise histórica a partir do capítulo “Origens: a Deusa e a Prostituta”

até o século XX em “A Libertação do Estigma: as Prostitutas Contemporâneas e a Criação

de um Movimento”, a autora Nickie Roberts, observou a gênese da estigmatização na origem

da propriedade privada e no patriarcado.

Mostrou como as, antes sagradas, atividades sexuais passaram a ser utilizadas na

distinção entre mulheres casadas, que se limitavam a um homem e, portanto podiam ser

controladas, e as “outras”.

No capítulo “Madonas e Madalenas: o estigma da prostituta no século XIX” abordou

as teorias “científicas” encabeçadas por Cesare Lombroso, H. Lippert, Pauline Tarnowsky e

Parent Duchâtelet que defendiam estar a prostituta no primeiro estágio da evolução humana:

“mentalmente subdesenvolvida, fisicamente deformada e sub-humana”130.

H. Lippert defendia, em 1848, que “pela prática diária da sua profissão de muitos

anos os olhos ganham uma expressão penetrante e ondulante; são invulgarmente

proeminentes em conseqüência da tensão continuada dos músculos oculares, uma vez que os

olhos são utilizados principalmente para descobrir e atrair clientes. Em muitas, os órgãos da

mastigação estão fortemente desenvolvidos; a boca em contínua actividade, seja a comer ou

a beijar, é protuberante; a fronte é freqüentemente chata; a região occipital é por vezes

extremamente proeminente; o cabelo é freqüentemente escasso na cabeça – de facto, muitas

acabam por ficar mesmo carecas. Para tal não faltam razões: acima de tudo, o modo de vida

129
ROBERTS, Nickie. A Prostituição Através dos Tempos na Sociedade Ocidental. Lisboa: Editorial Presença,
1996.
130
ROBERTS, Nickie. A Prostituição Através dos Tempos na Sociedade Ocidental. op. cit. p. 236-237.
agitado; a correria constante na rua e sob todas as condições meteorológicas, por vezes de

cabeça descoberta...o escovar incessante, a manipulação, o acto de frisar e a brilhantina que

aplicam no cabelo; e entre as prostitutas de classe baixa, o consumo de aguardente. A voz

rouca é outra característica fisiológica da mulher que perdeu as suas funções próprias – as

de mãe.”131

Segundo Lombroso, todas as prostitutas, sem exceção, tinham as seguintes

características físicas “uma fronte recuada ou estreita, ossos nasais anormais e enormes

queixadas” enquanto a região genital “tantas vezes examinada, 2% das prostitutas

mostravam um crescimento <<exagerado>> dos pêlos púbicos, 16% hipertrofia dos lábios

vaginais e 13% tinham <<enormes>> clitóris.”132

Cabe ressaltar que, muitos médicos e juristas brasileiros dedicados a análises da

prostituição, em fins do XIX até o período de Vargas, tinham dentre suas fontes teóricas

leituras daquelas teses. 133

Sob a forma de um diálogo com Jean Lebrun, Michelle Perrot lançou em 1998 o livro

“Mulheres Públicas”134. Partindo da constatação da existência de diferentes significados de

homem público e mulher pública percorreu o que chamou “Imagens de mulheres”, “Lugares

131
ROBERTS, Nickie. A Prostituição Através dos Tempos na Sociedade Ocidental. op. cit. p. 236.
132
ROBERTS, Nickie. A Prostituição Através dos Tempos na Sociedade Ocidental. Op. cit. p. 237.
133
Ver como Irving Goffman, Estigma, op. cit. p. 11, explica a utilização dos sinais corporais já na Grécia, como
forma de evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava.
134
PERROT, Michelle. Mulheres públicas. SP: Fundação Editora da UNESP, 1998. (Prismas)
de mulheres”, “Palavras de mulheres”, “Frentes de Luta das mulheres” e “Resistência às

mulheres”.

Como procupação central, Perrot observa que ao se falar em “homem público”, a

imagem que se forma é a encarnação da honra e virtude, ”investido de uma função oficial, o

homem público desempenha um papel importante e reconhecido”. Por sua vez, a mulher

pública carrega a representação da “mulher da noite”, “depravada, debochada, lúbrica,

venal, rapariga, pertencente a todos”.

Com a publicação da série História da Vida Privada 135 e História das Mulheres no

Ocidente136, dirigida por Philippe Ariés e Georges Duby, os estudos sobre mulheres ganharam

vigor definitivo.

Historiografia brasileira

No Brasil as mudanças promovidas, pela década de 70, nos terrenos da historiografia

mundial foram também sentidas, onde estudos foram retomados ou surgiram com novas

leituras. Dentre eles a história das mulheres marcada pelo lançamento em 1969 do livro “A

mulher na sociedade de classes: mito e realidade”137.

A obra suscitou uma profunda reflexão sobre a posição da mulher na sociedade

capitalista e inserindo o problema em contextos mais amplos, focalizou as construções

ideológicas destinadas à dominação do universo masculino sobre o feminino.

135
ARIÉS, Philippe; DUBY, Georges. História da vida privada. SP: Companhia das Letras, 1990.
136
DUBY, Georges; PERROT, Michelle. História das mulheres no ocidente. Porto: Afrontamento, 1990.
137
SAFFIOTI, Heleieth I. B.. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. Petrópolis: Vozes, 1969.
Além disso, buscando penetrar as raízes do problema econômico-social, lançou

questionamentos acerca das limitações da economia de mercado e seus resultados, como a

marginalização de contingentes femininos servindo assim de inspiração para o crescimento de

uma produção historiográfica nacional sobre mulheres vinculada às transformações sociais.

Com a declaração do “Ano Internacional da Mulher”, emergenciaram-se lutas por

cidadania, contracepção, jornadas de trabalho, etc.

Paralelamente, o crescimento da produção científica sobre mulheres estabeleceu um

forte “bombardeio” na noção de poder, contribuindo para o repensar da literatura que

colocava a mulher como ociosa e conformada, vítima ou heroína.

Confirmando as tendências, publicou-se “A Mulher no Brasil”138. Sob a forma de

textos, reunidos e anotados, June E. Hahner traçou um panorama histórico das mudanças nos

papéis femininos, tanto nas áreas urbanas quanto nas rurais.

Ali as referências sobre o meretrício já se faziam notar. No III capítulo, “O século

XX”, Hahner destacou a vida das prostitutas no Rio de Janeiro, através de um enfoque sobre a

“Zona do Mangue” e sua história.

Também em fins da década de 1970, a Fundação Carlos Chagas promoveu o I

Concurso de Estudos sobre a Mulher, escolhendo o projeto “A Condição Feminina no Rio de

Janeiro, século XIX: antologia de textos de viajantes estrangeiros” 139, o qual sob a

organização de Miriam Lifchitz Moreira Leite seria transformado em livro, em 1984.

Utilizando textos produzidos por viajantes no Rio de Janeiro, de 1801 a 1900, trouxe

ao conhecimento a situação de mulheres brancas, negras e mulatas, livres e escravas.


138
HAHNER, June Edith. A mulher no Brasil. RJ: Civilização Brasileira, 1978. (Coleção Retratos do Brasil;
v.112).
139
LEITE, Míriam. A condição feminina no Rio de Janeiro, século XIX: antologia de textos de viajantes
estrangeiros. SP: Hucitec/ Edusp/ INL, Fundação Pró-Memória, 1984. (Estudos Históricos).
Os testemunhos retratavam cenas do cotidiano a partir de relatos sobre formas de

parentesco e de convívio, bailes, carnaval, passeios e atividades exercidas por aguadeiras,

amas-de-leite, comerciantes, fabricantes de flores, irmãs de caridade, jornalistas, lavadeiras,

modistas, “mulheres públicas”, operárias, parteiras, professoras, escritoras, abolicionistas ente

outras. Nos relatos sobre as “mulheres públicas” faz referência às prostitutas, fornecendo

riquíssimas informações sobre tipos físicos, vestuários, formas de abordagem e mobiliário dos

prostíbulos.

Construía-se o entendimento das modificações sofridas pela identidade feminina no

desenrolar dos processos históricos e a primeira obra de destaque dedicada ao estudo da

prostituição no Brasil foi “Do Cabaré ao Lar: a utopia da cidade disciplinar (Brasil 1890 –

1930)”140.

Seu conteúdo mostrou como, nos primórdios da industrialização brasileira, ocorreram

as intenções de moralização da classe operária e suas famílias. Processo que incluía a

chamada “redefinição da família”, dentro do qual a instauração de um modelo ideal de

mulher, dedicada ao lar e aos filhos, ganhava força.

Apresentou, também, os mecanismos de resistência verificados nas fábricas, escolas,

famílias, bairros e ruas e, ao tratar da “desodorização do espaço urbano” mostrou como as

habitações coletivas, entendidas como locais insalubres tornaram-se alvo de inspeções e

normas reguladoras.

Em 1986, foi organizado por Ronaldo Vainfas uma coletânea de artigos sobre idéias e

comportamentos no campo sexual e familiar brasileiro do século XVI ao início do XX. Sob o

título “História e Sexualidade no Brasil”, trouxe dois artigos voltados para a prostituição, “Da
140
RAGO, Margareth. Do Cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar (Brasil 1890-1930). RJ: Paz e Terra,
1985. (Coleção Estudos Brasileiros, v.90)
necessidade do bordel higienizado: tentativas de controle da prostituição carioca no século

XIX“ de Luiz Carlos Soares e “O médico, a prostituta e os significados do corpo doente”, de

Magali Engel.

As reflexões pautaram-se nas ligações entre discursos higienistas e papeis sociais,

cujos resultados bipolarizavam ociosidade X trabalho, miséria-atraso X progresso, doença X

saúde, prostituição X casamento-maternidade.

No intuito de pensar a construção dos preconceitos sobre a prostituta e a utilização de

sua imagem como a antítese da mulher pura, Mary Del Priore escreveu o artigo “Mulheres de

Trato Ilícito”: A Prostituição na São Paulo do século XVIII141. No texto, mostrou como

muitos elementos das nossas conceituações sobre a prostituta estão vinculadas a discursos

montados e veiculados pela Igreja católica no período colonial.

Em 1988, foi publicado outro marco nos estudos de prostituição no Brasil, “Meretrizes

e Doutores: saber médico e prostituição no Rio de Janeiro (1840-1890)”142.

A partir de textos médicos sobre a prostituição, o ponto central de discussão recaiu

sobre o discurso normatizador do espaço e dos corpos.

Para a autora, assistia-se a um processo de medicalização e normatização do espaço e

sociedade, o que revelava uma crescente interferência do saber científico na definição e busca

de soluções para os problemas da cidade.

141
DEL PRIORE, Mary L.. Mulheres de Trato Ilícito: A Prostituição na São Paulo do século XVIII. In: Anais do
Museu Paulista. SP: Universidade de São Paulo, tomo XXXV, 1986-1987.
142
ENGEL, Magali G. Meretrizes e Doutores: saber médico e prostituição no Rio de Janeiro (1840-1890). SP:
Brasiliense, 1988.
Concebida como uma das faces da dita “cidade doente”, a prostituição passou a ser

temática comum nos textos médicos produzidos no Rio de Janeiro. Textos profundamente

marcados pelas concepções da medicina social européia.

Ainda naquele ano o primeiro número da Revista de Historia da Universidade Federal

de Uberlândia, “Historia e Perspectivas”143, trouxe de Maria Clara Tomaz Machado o artigo

“Prostituição, além da moral burguesa: um misto de resistência e conformismo”, onde

analisou, inclusive destacando a questão do “mal necessário”, a prostituição no mundo

capitalista de Uberlândia no período de 1978 a 1981.

A constatação da possibilidade em se “fazer” uma História das Mulheres fez

multiplicar os trabalhos dedicados ao tema e, em fins da década de 80, a Revista Brasileira de

História lançou o número “A Mulher e o Espaço Público”.

A pluralidade das linhas de pesquisa, confirmava o crescimento dos estudos revelando

variadas formas de atuação e mecanismos de estigmatização feminina. Destacaram-se na

temática da prostituição os artigos “Nos Bastidores da Imigração: o tráfico das escravas

brancas”144, de Margareth Rago, e “Imagens Femininas em Romances Naturalistas Brasileiros

(1881-1903)145, de Magali Engel.

No artigo de Rago, a atenção voltou-se para a dinâmica do tráfico das “escravas

brancas” no início do século. Russas, austríacas, polonesas, francesas e italianas eram

chamadas “polacas” e destinadas a suprir o mercado da prostituição de países, dentre os quais

143
144
RAGO, Margareth. Nos Bastidores da Imigração: o tráfico das escravas brancas. In: Revista Brasileira de
História n°18. SP: Marco Zero, 1989.
145
ENGEL, Magali. Imagens femininas em romances naturalistas brasileiros (1881-1903). In: Revista Brasileira
de História n°18. SP: Marco Zero, 1989.
o Brasil. Muitas mulheres viajavam de seus países de origem sem saber ao certo a atividade

que as esperava. Os grupos de traficantes, cáftens, detinham amplo controle sobre as rotas

internacionais do comércio de prostitutas e dos bordéis.

O segundo artigo referiu-se a imagens femininas representadas nos romances

naturalistas de fins do século XIX e início do XX, de acordo com a cor e a condição social.

Destacou a utilização das teorias científicas européias no processo de medicalização e

normatização do espaço social urbano.

Ao focalizar as construções das imagens femininas, a partir daquelas teorias, observou

as concepções médicas acerca da mulher “normal” e verificou que muitos dos romances

publicados naquele momento traziam as mulheres marcadas por comportamentos histéricos.

Os diagnósticos feitos, associando nervosismo à falta de homem; periculosidade a ardis

sexuais, sexualidade livre à mulher perigosa; sexualidade sublime à moça de família

reforçavam a imagem da mulher ideal como aquela capaz de controlar seus instintos

animalescos através do casamento, onde ao exercer o papel de esposa-mãe, circunscrita ao lar,

sua sexualidade deixaria de representar perigo. A sublimação completa residiria na geração

de filhos saudáveis, futuros “cidadãos da Pátria”, discurso amplamente difundido no período

do Estado Novo.

Também no ano de 1989 foi lançado o livro “Trópico dos Pecados” escrito por

Ronaldo Vainfas onde apontou como a colônia vivia seus padrões e papeis sociais, e dentre

outras, a conotação depreciativa sobre a prostituta em termos como mulher solteira, mulher

pública e sua associação com a mulher índia.

Os anos 90 continuaram alargando os debates sobre a temática feminina. Em 1991 o

Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa classificou em 2° lugar o trabalho “Os estrangeiros e o


comércio do prazer nas ruas do Rio de Janeiro (1890-1930)” 146, de Lená Medeiros de

Menezes.

Desdobramento de sua tese de doutorado, analisou a partir de 189 processos movidos a

cáftens estrangeiros, Relatórios do Ministério da Justiça, relatos de viajantes e de cronistas,

teses de época e periódicos a participação estrangeira no universo da prostituição carioca.

Os processos foram as fontes mais importantes, por trazerem várias meretrizes como

testemunhas, as quais contavam suas próprias experiências.

Segundo a autora, a meretriz mercadoria e “profissional do prazer” foi comercializada

na lógica do imperialismo. O cáften, novo “homem de negócios”, institucionalizou-se

enquanto “profissional marginal” e no Rio de Janeiro, a exemplo de outras cidades

influenciadas por modismos europeus, “freqüentar estrangeiras” tornou-se símbolo de

modernidade.

Outra produção, também de 1991, obrigatória aos pesquisadores do assunto é “Os

prazeres da noite; prostituição e códigos da sexualidade feminina em São Paulo (1890-

1930)”147.

A obra abordou a progressiva inserção e participação da mulher nos espaços públicos,

de trabalho e lazer destacando a redefinição de suas funções sociais.

Mostrou ainda como o ritmo acelerado das transformações pareceu desestabilizar as

referências sociais e sexuais tradicionais, ou seja, os modelos de feminilidade e masculinidade

e as relações entre os sexos.

146
MENEZES, Lená Medeiros de. Os estrangeiros e o comércio do prazer nas ruas do Rio de Janeiro (1890-
1930). RJ: Arquivo Nacional, 1992.
147
RAGO, Margareth. Os prazeres da noite; prostituição e códigos de sexualidade feminina em São Paulo,
1890-1930. RJ: Paz e Terra, 1991.
As discussões se aprofundaram com a publicação de “Rameiras, Ilhoas, Polacas... A

Prostituição no Rio de Janeiro do século XIX”. 148

Analisando aspectos do desenvolvimento econômico, urbano e populacional no Rio

oitocentista mostrou o discurso médico-higienista e a dimensão do universo mental e moral,

verificados nos homens ligados ao exercício do poder, como Chefes de Polícia.

“O Avesso da Memória: cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no século

XVIII”149, lançado também no ano de 1993, aprofundou os conhecimentos sobre as funções

econômicas e sociais das mulheres no Brasil.

Ao adentrar o cotidiano da economia mineradora, mostrou como a tão cantada

opulência das minas setecentistas tinha à sua margem um significativo contingente de

desclassificados sociais.

Analisou especialmente como as mulheres enfrentaram as formas de exclusão criando

mecanismos de participação no mundo do trabalho, atuando como membro de irmandades,

carregando gamelas de minérios, chefiando famílias e as sustentando com o comércio de

quitutes, como agricultoras ou se entregando à prostituição.

O capítulo II, “Prostituição e Desordem” dissecou a trajetória das meretrizes mineiras

nos setecentos, apontando a freqüente ligação entre comércio e prostituição, onde muitas

vendeiras e estalajadeiras atuavam como alcoviteiras, e mostrando que muitas mulheres

prostituíam-se para poder comer e pagar os pesados impostos cobrados pela Coroa.
148
SOARES, Luis Carlos. Rameiras, Ilhoas, Polacas... A Prostituição no Rio de Janeiro do século XIX. SP:
Ática, 1992.
149
FIGUEIREDO, Luciano. O Avesso da Memória: cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no século
XVIII. RJ: José Olympio; Brasília, DF: Edunb, 1993.
“Ao Sul do Corpo”150, outra valiosa contribuição para a História das Mulheres no

Brasil, tratou a condição feminina na colônia evidenciando como os discursos normatizadores

de confessores, teólogos, médicos e moralistas construíram e delimitaram os papéis das

mulheres, contrapondo a mulher perigosa, sem qualidades, da rua com santa mãezinha, do

lar.

As imagens do trabalhador e mulher ideal para uma Nação forte sobressaem nos

artigos “Imagens do trabalhador brasileiro nos anos 30”151 e “Homens pobres, homens

perigosos. A repressão à vadiagem no primeiro governo de Vargas.”152

O primeiro assinalou o empenho do Governo de Vargas nas reordenações sociais,

notoriamente nas relações de trabalho, almejando um “homem novo”, higienizado,

disciplinado e comprometido com o trabalho e crescimento do país.

No mesmo viés, o segundo artigo fez um detalhado levantamento sobre os

mecanismos de construção dos papéis sociais primeiro período varguista. Segundo a autora, o

Código Penal, base do controle social nas décadas de 30 e 40, tinha raízes nas práticas

repressivas do início do século. Mostrou também como no decorrer das primeiras décadas do

XX, a repressão à vadiagem recolheu à prisão mendigos, bêbados, jogadores, prostitutas e

todos aqueles classificados como avessos ao trabalho. O combate à ociosidade implicava o

chamado “saneamento moral e social” criando várias delegacias especializadas como a

Delegacia de Repressão à Vadiagem e a Delegacia de Vigilância e Captura.


150
DEL PRIORE, Mary L.. Ao Sul do Corpo: condição feminina, maternidades e mentalidades no Brasil
colônia. RJ: José Olympio; Brasília, DF: Edunb, 1993.
151
SILVA, Zélia Lopes da. Imagens do Trabalhador Brasileiro nos anos 30. In: Revista História. SP; Assis:
Editora Unesp, V.12, 1993.
152
MARTINS, Silvia Helena Zanirato. Homens pobres, homens perigosos. A repressão à vadiagem no primeiro
governo de Vargas”. In: Revista História. SP; Assis: Editora Unesp, V.12, 1993.
Dentre os locais suspeitos e, portanto passível de vigilância, estava a zona do

meretrício.

Por outro lado, a Constituição de 1937 153 reforçou aquelas medidas, definindo o

trabalho como um dever social, colocando a ociosidade como a mais nociva instigadora do

delito. Para definir “cientificamente” o vagabundo profissional do vagabundo acidental

lembrou que foi criado em 1939 o Serviço de Biotipologia Criminal.

Lançado pelo IFCH da Unicamp, o n°1 dos Cadernos Pagu154 trouxe o significativo

artigo “Imagens da Belle Époque Paulistana”, assinado por Margareth Rago.

Nele, a autora teceu um debate sobre a redefinição dos códigos de sociabilidade

feminina na cidade, no início do século XX, presentes nas revistas direcionadas às mulheres,

demonstrando, particularmente importante, a discussão travada em torno da prostituição, a

partir da qual reforçaram-se os conceitos sobre a casta e a devassa.

Rago assinalou, porém, que em meio a atributos estigmatizantes a prostituta passava a

simbolizar a modernidade, o mundo urbano, a liberalização dos costumes e a desconexão com

os vínculos sociais tradicionais, ou seja, o início do século construiu imagens polarizadas

inclusive da prostituta.

Em outra produção, “As Mulheres na Historiografia Brasileira” 155 onde considerando o

alargamento das abordagens sobre as mulheres, teceu indicações sobre as possibilidades

153
Constituições Brasileiras: 1937 / - Costa Porto, Walter – Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro
de Estudos Estratégicos, 1999. (Coleção, Constituições Brasileiras; v.4)
154
Cadernos Pagu. De Trajetórias e Sentimentos. Campinas: Unicamp / IFCH, n°1, 1993.
155
RAGO, Margareth. As Mulheres na Historiografia Brasileira. In: Cultura histórica em debate. SP: Editora da
Universidade Estadual Paulista, 1995.
metodológicas de trabalhos centrados na prostituição e destacou a importância das análises

integradas.

Observou serem informações da maior importância para a história das meretrizes,

dados de como “viviam e definiam-se; o cotidiano nos bordéis e fora da zona de meretrício;

se eram casadas, amancebadas, solteiras; se tinham filhos, irmãos, parentes; se trabalhavam

em outros empregos; sua idade, nacionalidade, procedência etc.”

Em 1996, outros artigos sobre a prostituição foram escritos.

Abordando “O impasse da escravatura: prostitutas escravas, suas senhoras e a lei

brasileira de 1871”156, Sandra Lauderdale Graham resgatou relatos feitos por escravos e

senhores que indicaram a prática da prostituição forçada no século XIX.

Maltratadas e adoecidas pelas condições que se lhes impunham, muitas vezes, levavam

os casos aos tribunais. Os autos do processo formaram a base do estudo permitindo que

pudessem ser observadas suas vivências de escravas-prostitutas.

Voltando-se para o caftismo internacional impulsionado no início do século,

marcadamente em cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo, Beatriz Kushnir propôs-se a

estudar em “As polacas cariocas: mulheres judias prostitutas e suas associações de ajuda

mútua”157, um conjunto de prostitutas e cafetinas judias por intermédio de suas associações de

ajuda mútua, na perspectiva de observar não as visões externas, mas as visões do grupo sobre

si.

156
GRAHAM, Sandra Lauderdale. O Impasse da escravatura: prostitutas escravas, suas senhoras e a lei
brasileira de 1871. In: Revista Acervo; Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, v.9, n°1-2, jan/dez 1996.
157
KUSHNIR, Beatriz. As polacas cariocas: mulheres judias prostitutas e suas associações de ajuda mútua. In:
Revista Acervo; Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, v.9, n°1-2, jan/dez 1996.
Também em 1996, a Revista Brasileira de História 158 trouxe um importante artigo

sobre as construções de perfis femininos. Escrito por Maria Izilda Santos de Matos em

parceria com Fernando A. Faria, o artigo “No cotidiano da boemia. O feminino, o masculino e

suas relações em Lupicínio Rodrigues” percorreu letras de músicas feitas nas décadas de 30,

40 e 50 mostrando as múltiplas imagens femininas que continham: a dama da noite, a dona do

bar, a rainha do lar, marcadas pela volubilidade, potencialmente infiéis e tecendo observações

sobre a associação da vida boêmia com a desordem e o indevido.

A coletânea “História das Mulheres no Brasil” 159, organizada em 1997, reforçava o

enfoque da mulher como ser social. O artigo de Luciano Figueiredo “Mulheres nas Minas

Gerais” analisou como a prostituição atingiu proporções mais elevadas naquelas partes da

colônia. Mostrando que “no interior das vilas e cidades mineiras os prostíbulos, mais

conhecidos à época pelo termo casas de alcouce, instalavam-se indistintamente,

aproximando-se de residências familiares ou de autoridades locais”. 160

Para o autor ficou claro que a pobreza vivenciada por aquelas mulheres explica a

recorrência à atividade que chegava inclusive a “invadir o tecido familiar”.

Na mesma coletânea Rachel Soihet fez uma abordagem, em “Mulheres Pobres e

Violência no Brasil Urbano”, sobre o elo entre modernização - higienização das cidades e a

imposição de papéis sociais e padrões comportamentais.

Soihet atentou para a absorção dos paradigmas científicos europeus do momento onde

“a medicina social assegurava como características, por razões biológicas: a fragilidade, o

158
Revista Brasileira de História. Confrontos e Perspectivas. SP: ANPUH/Contexto. V.16, n°31/32, 1996.
159
DEL PRIORE, Mary L.. (org.) História das mulheres no Brasil. SP: Contexto, 1997.
160
FIGUEIREDO, Luciano. Mulheres nas Minas Gerais. In: História das mulheres no Brasil. SP: Contexto,
1997, p. 157.
recato, o predomínio das faculdades afetivas sobre as intelectuais, a subordinação da

sexualidade à vocação maternal”. 161

Ainda em 1997, significativas referências sobre a prostituição colonial foram tecidas

por Ronaldo Vainfas no capítulo “Moralidades brasílicas: deleites sexuais e linguagem erótica

na sociedade escravista” do livro “História da Vida Privada no Brasil: cotidiano e vida privada

na América portuguesa”162 interessando a esta pesquisa as linhas dedicadas à abordagem sobre

as práticas de alcovitagem e a existência das casas de alcouce.163

A leitura destes trabalhos suscitou novas interrogações, proporcionou pistas e

sugestões nos encaminhamentos desta dissertação, mas o que se pôde notar é que os estudos

sobre prostituição ainda se fazem tímidos nos campos da História. Poucos são os que

privilegiam o assunto em toda uma obra. Grande parte são menções dentro de outra discussão.

Na historiografia internacional aqueles que se propõem a um estudo de recuperar a

trajetória histórica da prostituição demonstram como preocupação central mostrar a imposição

e o distanciamento de papéis sociais, enfatizar a formação de conceitos bipolares sobre as

mulheres e como se compõe seus mecanismos de divulgação e consolidação.

Concentrando o maior número de pesquisas na área, os medievalistas, via de regra,

focalizam o tema no quadro dos discursos eclesiásticos e as representações que daquelas se

fez.

161
SOIHET, Rachel. Mulheres pobres e violência no Brasil urbano. In: História das mulheres no Brasil. SP:
Contexto, 1997, p.363.
162
História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa / organização Laura de
Mello e Souza. _ São Paulo: Cia. das Letras, 1997.
163
VAINFAS, Ronaldo. Moralidades brasílicas: deleites sexuais e linguagem erótica na sociedade escravista.
In: História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Cia. das
Letras, 1997, p. 254-255.
Dentre os trabalhos nacionais os enfoques dividem-se entre os séculos XVIII, XIX e

XX respectivamente concentrados em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Os eixos das análises, sempre cuidadosas, constituem abordagens onde o interesse

dominante também é a construção e forma dos discursos sobre os papéis, como e quais são as

imagens ideais de mulher e seu inverso e os limites que as separam.

Este trabalho tem como ponto de convergência com os demais a observação de quem

eram aquelas mulheres no discurso normatizador. Mas o interesse central é investigar a

engrenagem econômico-social da qual faziam parte, refletir como, de onde e por que se

deslocaram para a cidade, conhecer suas idades, saber se eram casadas, solteiras, viúvas,

desquitadas. Em suma, olhar o meretrício ludovicense através de lentes demográficas.

Cabarés e Navalhas: o cotidiano das meretrizes ludovicenses nos Registros de Queixas

e Ocorrências

À medida que a industrialização se consolidava, um contingente significativo de

mulheres adentrava o espaço urbano em busca de melhores condições de vida. No entanto o

desnível entre oferta e demanda de trabalho configurava um quadro onde o “reservatório de

mão-de-obra fora uma constante em todo o período.”164

164
RIBEIRO JÚNIOR, José Reinaldo Barros. Formação do espaço urbano de São Luís. op. cit. p. 73.
Excluídas do mercado e sem alternativas, muitas daquelas mulheres voltaram-se para a

prostituição, encontrando naquela condição uma possibilidade de sobrevivência.

Lotavam-se as casas-de-pensão, casas-de-cômodos e hospedarias, que passavam a ser

identificadas como locais permeados pela promiscuidade e desordem. Por outro lado, nos

ideais de uma urbes higienizada, moderna e civilizada, a moral pública e o controle social

eram configurados como um dos principais pontos de intervenção do Estado.

Assim, definindo e mapeando tipos e locais de perigo, a polícia agia vigiando,

censurando, admoestando e prendendo os indivíduos. 165

Paradoxalmente, a prostituição tornava-se um braço auxiliar da ação repressora

policial, um elemento crucial para o controle social, pois permitia à polícia saber onde

estavam os homens, o que faziam, falavam, traziam, etc., fornecendo um “rx” da sociedade.

No cotidiano daquelas mulheres, as relações eram constantemente permeadas pela

violência. Nas estratégias de sua sobrevivência os laços de solidariedade dissolviam-se, dando

lugar a rivalidades, agressões, negações, questionamentos, deboches e defesas.

Queixavam-se das meretrizes, todavia, elas próprias aparecem dando queixas contra

outros. Os motivos eram inúmeros e a cada “episódio” vivenciado, a percepção dos territórios

públicos e privados por onde as meretrizes se movimentavam dos sentimentos

experimentados, dos corpos, das falas, dos gestos, das formas de vestir e de habitar, tornava-

se mais aguda.

165
Embora a violência no cotidiano daquelas meretrizes fosse constante, há que se destacar que a prostituição em
São Luís não se constituía em rede ligada ao crime. Havia poucas estrangeiras não havendo, portanto tráfico de
mulheres.
Modelava-se, a partir do que se poderia pensar fragmentário, um cenário representado

por suas condutas, pelas violências sofridas e praticadas, pelas humilhações, pelas relações

estabelecidas com homens e outras mulheres, por suas posses, seus objetos, por seus

codinomes (que faz imaginar como eram) e nos nomes com que eram referidas.

Camaleônicas. Chamadas com freqüência por nomes que não eram os seus. Ora por

outros, ora por codinomes que pareciam corresponder a atributos físicos 166. “Bensinho, Bico

de Brasa, Bolacha Fofa, Bolacha Fogosa, Canganha, Canuta, Curupinha, Lambisgóia, Lupu,

Maria Roxinha, Macole, Pao Ferro, Pao de Fogo, Pao Não Cessa, Papo Rouxo, Pé de Pato,

Pirulito, Pitoruba, Poço Fundo, Rabecão, Raspa, Riacho Sujo, Santa, Vara Pau, Vatapá,

Velocipe, Venta de Fole, Venta de Porco, Xiri Pistola” eram algumas identidades

apresentadas nas queixas e ocorrências.

Nas fronteiras do público e do privado, das ruas e das casas, outros endereços surgiram

alargando o conhecimento das áreas ocupadas pelas casas de maretrizes, outros

estabelecimentos também surgiram. Exemplo disto são os locais antes por nós desconhecidos

como, o Club “Espoca”, Club “Recreio das Divas”, Frege “Orion”, Pensão “Fumaça” e

Pensão “Fuzarca”.
166
Margareth Rago no livro, Os prazeres da noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São
Paulo, 1890-1930. Op. cit. p. 238, apresenta o processo de reidentificação em SP afirmando que,
“reterritorializada, pelo edifício da prostituição em São Paulo desde a passagem do século, a mulher que
entrava para esse universo passava por todo um ritual de iniação. Mudava de nome, adotando apelidos simples
e afrancesados , como Mimi, Lulu, Vivi, Suely, Maria Cabaret, Jeannete, Lili das “Jóias”, Nenê Romano etc. O
significado simbólico desse transferência de identidade é forte, pois ela vem acompanhada, de um lado, pela
perda do sobrenome que vincula à família e, de outro, por toda uma metamorfose de sua identidade corporal.
Trocando de nome, a prostituta mudava também a cor do cabelo, encurtava e decotava as roupas, passava a se
maquilar com mais extravagância, enfeitava-se com jóias que revelavam seu status, produzia marcas no corpo,
como tatuagens. Além disso, devia aprender toda uma nova maneira de falar, conhecer as gírias desse meio,
assim como as modalidades diversificadas de conduta que eram mais valorizadas”. Sobre o mesmo assunto
Laure Adler em, A Vida nos Bordéis de França, 1830-1930. Op. cit. p. 8, diz sobre as prostitutas francesas,
“usam nomes como Divine, Élisa, Marie en Tête, Marie Coups de Sabre, Marguerite, Aglaé, Caca, Bijou,
Olympia, Pepe la Panthère, Poil Ras, Poil Long, Crucifix, Irma, Amanda, Octavie, Belle Cuisse, Titine, Pieds
Fins, Paulette, la Grimpée, Gina, Nana, Fernande, Rosa... . Em São Luís, vinculados muito mais ao sexo sem
floreios, o bucolismo daqueles codinomes cedeu lugar ao realismo do cotidiano.
Somados a outros, abrigavam em seus quartos meretrizes com suas bolsas, camas,

cofres, cordões, lápis, lençóis, malas, mesas, navalhas, quadros, redes, revólver, retratos,

sapatos, sombrinhas, tábuas de gomar, tesouras, toalhas e vestidos...

As formas de falar e vestir aparecem nos casos de insultos por palavras ofensivas,

obscenas, impropérios, pilhérias carregadas, nomes que a moral manda se calar e nos trajes

ofensivos à moral pública ou, os quase de Eva.

Apresentam-se a seguir as Queixas e Ocorrências levantadas, para que as observações

acerca da vida e trajetórias daquelas mulheres possam ser observadas com mais proximidade.

Queixas das Meretrizes:

Constatou-se, como se verá a seguir, que agressões, ameaças de morte, arrombamentos

de mala, apreensões de objetos, atos libidinosos, desrespeitos, espancamentos, expulsões da

pensão, golpes de navalha, invasões de domicílio, não pagamento de cópula, promessa de

casamento não cumprida, provocações, roubos de dinheiro e roubos de objetos pessoais eram

os principais motivos que levavam as meretrizes a reclamar.

Apreensão de objetos
Queixa de Celina. R. de S. residente na rua de Nazareth n30 contra João. F. dono de

uma pensão onde reside a queixosa, por ter o mesmo lhe espancado e tomado cama e uma

bolça e expulsado-a da dita Pensão. 4/1/29

Queixa de Ernestina. N. contra João. F. residente a rua n30, “de Nazareth” dono da

Pensão Glória, por ter expedido da queixosa da referida Pensão e tomando – lhe toda

bagagem pertencente a mesma. 10/1/29

Zilda P. de C., residente a rua 7 de Setembro n  “Radiante”, queixa-se de que tendo

vivido com o individuo de nome Antonio C. rezidente a rua da Estrella, carpina, que tendo

vivido com o mesmo 14 dias este quer lhe tomar uma rede que lhe deu sem lhe dar mais nada.

Intimado 5.3.32 as 11 horas. 5/3/32

Merantine L., residente à rua Affonso Penna “sobrado Espoca” apresentou queixa

contra José. M. da S., operário da oficina mechanica de Guimarães, à mesma rua 460, pelo

facto de não mais querido viver com este indivíduo e ele ter se mudado levando a rede da

queixosa. Intime-se para 2 horas. 1/2/33

Maria J. da C., residente no “Couro Grosso” queixou-se contra Nilsa de Tal,

encarregada do mesmo couro “grosso” por ter esta lhe aprehendido um par de sapatos e

recusa se a entregar-lhe. Resolvido Tenente Reis. 6/3/33


Leontina G. de C., residente à R. Candido Mendes, n571, veio queixar-se contra

“Uberaba” encarregado do sobrado Uberaba por ter aprehendido uma sua mala, tres mesas

e um quadro desde o mês de novembro quando lá morou e agora não quer lhe entregar.

Resolvido Valfredo Comissario. 23/5/33

Sergia C., residente à Pensão Chicó, a rua... queixou-se de Isolino P., residente à rua

da Estrela defronte da Alfandega, por ter ficado com as roupas e malas da queixosa. Intime-

se para 9 as 3 horas. Capitão Mochel. 9/4/34

Albina P. F., residente à rua da Palma, 446 “Casa Maria Augusta” queixou-se de que

a dona da caza, prendeu os objetos de seu uso, não o querendo entregar. Capitão Mochel.

27/4/34

Teodora de J. B., residente em uma pensão de meretrizes à rua 28 de Julho n 393 de

propriedade de Vitória C., compareceu a esta Permanencia, onde apresentou queixa contra

aquela proprietária, pelo fato de ter apreendido diversos objetos pertencentes a queixosa, em

virtude desta querer mudar-se daquela pensão e lhe ser devedora da quantia de 235$500.

Solução: De ordem do Sr. Dr. Chefe de Polícia a acusada fez entrega dos objetos, tendo a

queixosa comprometendo-se a pagar a quantia de 235$500, em prestações de 20$000

semanais. 1.11.1940 (6077)


Agressões

Raymunda L., Rua 7 de Setembro, 73 contra Antonio C., ignorado o paradeiro por ter

entrado em sua casa e portado-se muitissimo mal esbordoando um menor seu irmão. A

queixosa é meretriz, mas somente à noite recebe visitas pois em caza tem moças. 3/10/29

Maria da G. “vulgo Maria José de Mattos” rua Estrella, 571, contra Victor I. de P.,

mesma caza, seu amazio, que por ciumes esbordoara-lhe tirando da cabeça da queixosa

muito sangue, e pondo rôxo o olho direito. 21/10/29

Regina L., moradora à rua Regente Braulio, n208 apresentou queixa contra José. M.,

empregado da Estação de Bondes por ter aggredido as duas inquilinas de nomes S. e M. de

L.. 1/10/30

Anna R. residente à Travessa Feliz n502 “Espoca” queixa de que o barbeiro de

nome Ary de tal que trabalha na praia do desterro deu-lhe um golpe em uma das mãos com

uma navalha. Preso, Ary está no posto. 7/3/32

Hortencia B. de A., residente no Sobrado “Couro Grosso” veio queixar-se contra seu

ex amante, Manoel J., residente em João Paulo, por haver tentado tirar-lhe sua vida e a

ameaçar de espancamento. Resolvido Valfredo Vale Comissario. 29/5/33


Lucilia A. F., rezidente à rua 28 de Julho n476 compareceu a esta delegacia

queixando-se contra Otacilia de tal, residente a mesma casa, por esta ter agredido a queixosa

com palavras offencivas. A acusada foi intimada a comparecer a prezença do 2  delegado

14.4. as 3 hs. 14/4/37

Raimunda S. residente em uma Pensão de Meretriz à rua Affonso Pena n373,

compareceu a esta Permanência as 6.00 horas, a fim de queixar-se contra uma outra meretriz

de nome Maria do E. rezidente na rua da Palma, pelo fato da referida meretriz ter invadido a

referida Pensão e espancado com um salto de sapato. Solução: De ordem de Sr. Dr. Chefe de

Polícia, a acuzada foi intimada afim de responder pela queixa hoje as 9 horas. 24/10/1940

(5952)

Arrombamentos e roubos

Maria L. de J., moradora à rua Henrique Leal n 140 queixou-se que ao chegar em

casa encontrou a porta de seu quarto aberto e sua mala arrombada sem cofre e roubado a

importancia de 60$ presumindo ser Otilia S., que há tempos morou à mesma casa. 23/10/29
Maria de L. S. ou Joanna M. da S., rua Nova, 118, contra a encarregada do sobrado a

rua Candido Mendes,458, por terem no referido sobrado, roubado da queixosa, um cofre com

dinheiro. 18/12/29

Angelita M. de A. moradora a rua Nova 11 queixa-se de que R., empregado do frege

“Orion” roubou-lhe 5$ em dinheiro e um lapis de dentro da malla da queixosa. 9/12/31

D. Victória L., rezidente a rua Candido Mendes 353 vem queixar-se de que o Sr.

Tenelon Cavalcanti de Albuquerque, foi a sua rezidencia e de tal carregou um relogio uma

corrente um revolver e 168$ em dinheiro sem mais dar satisfação. Tenelon que é escriturário

do departamento municipal, alem de tudo isso vive a debochar com a queixosa. Intimado

para 2.5.32 as 10 ½. 30/4/32.

Ignez R. do A., rua de São Pantaleão, 504 queixou-se da mulher conhecida por

Bensinho, residente na rua Jacintho Maya, 299, pelo fato de ter furtado da mala da queixosa,

1 retrato, 1 lençoes, 1 toalha e 1 tesoura. Intime-se já. Parecer: Ficou provado, não ter

fundamento a presente queixa. 1/12/32

Francisca M. residente na rua Candido Ribeiro 435 queixou-se à Polícia contra o

indivíduo Raymundo, digo, Manoel A. R. “vulgo Manoel Galinha”, pelo fato de ter referido

indivíduo roubado do quintal de sua casa 4 toalhas de rendas diversas, no dia 4 do corrente.

As pessoas que compraram são as seguintes:- Maria Augusta residente à rua da Palma, 446,
comprou duas; Mercedes C. e Maria A., ambas da Pensão Chicó . Mercedes C., não entregou

ainda. 16/12/32

Maria do C. P. da S., residente a Rua da Estrela, sobrado do P., veio queixar-se contra

Raymundo L. P. por ter entrado em seu quarto, à noite apagando a luz e roubou-lhe a

importancia de 5$000 Lindoso foi recolhido ao xadrez depois de ter ficado provado ser o

culpado. Resolvido Almeida Comissário. 18/5/33

Julieta F. de B., veio a esta Delegacia, queixar-se de que domingo último foi roubada

de seu quarto da caza de comodo “Maria Ferreira” à rua Affonso Penna n 486: 1 rede

branca de linho, 2 vestidos de côr, 1 lençol de cama e uma sombrinha. Providenciado.

17/6/36

Pagamentos e empréstimos

Thomasia de M., residente no Club Espoca, a rua Affonso Penna, apresentou queixa

contra os indivíduos Benedicto L. dos R. residente em Barreirinhas e Desidério A. F. “vulgo

Didi” residente no Rosario por ter o primeiro copulado com sigo e não lh’o querer pagar e o

segundo intervido a s/ favôr. Em 3/12/30


Maria dos A., residente a rua dos Craveiros, entre Sol e [...], veio a esta Delegacia

queixar-se contra Venancia R., residente a Rua Ribeirão “Pensão Fumaça” por ter a

queixosa emprestado a esta um cordão de ouro, no valor de cento e vinte mil reis há dois

annos e até agora não lhe foi restituido. Autoridade mandou entender-se com V. a qual já

havia empenhado dito cordão a outra pessôa, a praia do caju, onde foi aprehendido e

entregue a legitima donna, pelo Investigador Dias. 31/7/36

Celina de Tal, proprietaria da Pensão, à rua Herculano Parga n 220, veio a esta

Delegacia queixar-se contra sua hospede Raymunda S. por esta ter fugido da sua pensão,

sem que a proprietaria saiba do seu paradeiro, ficando Raymunda devendo 205$000.

25/10/36

Desrespeitos insultos, provocações e ameaças

Francisca R. S. residente a rua Cândido Mendes, 585, apresenta queixa contra Pedro

A. que vive a desrespeita-la . Intima-se as 3 horas. 1 /2/32

Dna. Maria J. S. V. moradora a rua da Estrella s/n deu queixa contra o conhecido

arruaceiro conhecido por “Encoraçado” pelo facto delle ter ido continuadamente a caza da

queixoza varias vezes para ter relações e como tenha sido sempre repelido, insultou-a
devemente prometendo ainda mata-la . Por este motivo, pede providencias a Policia. Intime-

se para amanhã 3 horas da tarde. 19/2/32

Honorina C., moradora à rua 14 de Julho, apresentou queixa contra Carlos T.,

residente à rua Oswaldo Cruz, n por motivo de querer, à viva força, desacatar a queixosa,

injuriando-a e procurando desse modo, prejudicar o negócio que a mesma explora nesta

Capital. Intime-se para amanhã, às 9 horas. 30/12/32

Promessas e abusos

Odeth S. M., residente na Rua 28 n 445, apresentou queixa apresentou queixa contra

o Sr. Ledis M., morador no Quebra-Costa s/n dizendo que este Sr. a tres mezes e dias li tirara

de caza de ondi vivia onestamenti com sua tia com promessa di cazamento e não

cumprindo a sua promessa acontesendo porem que ultimamente a esburduara e expulsou-a

de casa. 4/1/31

Margarida S., residente no “Espoca”, queixa-se a esta Delegacia, que Cacia de tal

todos, as vezes que a encontra corre-lhe a mão, como hoje por exemplo se a queixosa não

tivesse calsa teria ficado nua. 7/4/32

Ameaças
Apolônia C. M., residente a rua 28 de Julho, n. 445, queixa-se contra Isaurina M. S.,

que prometeu matar a queixosa. Intime-se para às 10 horas do dia 3. Resolvido pelo Tenente

Reis. 2/2/33

Brigida M. dos R., residente a rua Cândido Mendes no Sobrado de Uberaba, veio

queixar-se contra Mercedes de tal residente à rua do Ribeirão n pegado a Pensão Fumaça,

pelo fato desta andar lhe ameassando e insultando com palavras ofensivas. 20/6/33

Queixas das “senhoras”

Se para as meretrizes os motivos das queixas estavam mais no nível do concreto como,

agressões, espancamentos, navalhadas, roubos etc... . para as “senhoras”, esposas – mães, a

questão residia muito mais no plano da moral. Desrespeito às famílias, insultos, ofensas à

moral, insultos as sras. casadas e não pagamento de encomendas eram os elementos que

justificavam suas queixas como se mostra nos próximos casos.

Desrespeito e insultos

Raymunda S., residente a rua do Gavião, 87, contra as meretrizes Carmina de tal e

Maria P. “vulgo Maria Roxinha” residente à mesma rua, 97, por andarem dirigindo palavras
obsenas publicamente contra a queixosa desrespeitando assim as famílias residentes no

perímetro d’aquela rua. Intime-se. Foram admoestadas. 17/10/29

Brazileira O. moradora à rua Sant’anna 126, offereceu queixa contra a decaida

Domingas P. moradora à rua “ignorada” por lhe haver lhe dirigido insultos. 26/10/29

Maria A. C., rezidente a rua da Mangueira, digo rua Oswaldo Cruz, 594 vem queixar-

se de que a meretriz Neuza S. já muito conhecida do cadastro policial e acompanhada pelo

seu amante Sigmano N. conductor n34 da companhia de bonds elétricos foram a sua

rezidencia agredindo-a com insultos e offensas a moral e como não conheça essa mulher

achou estranho o seu proccidimento e vem pedir providencias para o caso, tendo mais a

acrescentar que soube que essa mulher tinha estado na policia ouvindo a voz autorizada da

autoridade sem no entanto ouvir os seus conselhos. Intimada para 12/2/32 as 11 horas.

12/2/32

Neuza da S., residente no Beco Feliz, baixos do sobrado do árabe João F., queixou-se

da meretriz Perolina de Tal, residente no Espoca, pelo facto de ter referida mulher lhe

dirigido pesados insultos. Intime-se para 2 horas. Parecer: Pela autoridade P., foi

reprehendida. 23/12/32
Em 30 de Setembro de 1930, Isabel L. do N. apresentou à esta Delegacia uma queixa

contra Brigida de tal ambas meretrises moradoras a primeira à rua Jacintho Maia a segunda

no Couro Grosso. 30/9/30

Pagamentos

Victória L., rezidente a rua de Sanctanna n 143, vem queixar-se de que Camita

(Canuta) de tal residente na pensão de Zulino a rua Cândido Mendes defronte da Alfândega

não quer lhe pagar phantasias que mandou fazer pelo carnaval, além de quando é cobrada

quer brigar. Intimada para 25/4/32 as 3 horas.23/4/32

Veio a esta delegacia Dona Candida da S. B., residente a rua 28 de Julho n 305,

queixar-se de que sendo empregada de Madame Guedes, a rua Oswaldo Cruz, a rasão de

trinta mil réis mensaes trabalhando durante 14 dias, tendo a mesma senhora lhe pago apenas

dez mil reis. 16/8/33

Francisca R. C., residente no Codosinho “S. Raymundo”, 115, apresentou queixa

contra Jacintha de Tal “vulgo Santa” residente no S. Raymundo s/n pelo facto de ter referida

meretriz dirigindo pesados insultos à queixosa, que é casada. Intime-se para 12 as 9 horas.

11/1/33
Das ocorrências:

Muitos registros dão conta das admoestações sofridas pelas meretrizes. A concepção

de perigo para a ordem e a tranqüilidade social refletia-se em punições mais brandas, todavia

eram consideradas suficientes para cercear seu possível desdobramento, o crime. 167

Ao serem chamadas à presença do delegado ou da autoridade policial, eram

repreendidas e muitas vezes presas sendo que seus nomes, ou codinomes, quase sempre

vinham acompanhados dos, estigmatizantes, termos “decaídas” ou “horizontais”.

Nos casos a seguir apresentam-se algumas das razões pelas quais poderiam ser presas

ou admoestadas. Destacava-se o “fazer ajuntamento” na rua, provocar transeuntes, uso de

linguagens e vestimentas “inadequadas”, escândalos, ameaças, brigas, espancamentos,

injúrias, perturbação do sossego público, desacatos à senhoras, falta de respeito com a

vizinhança, sedução de menores, roubos, etc.

Falta de sossego público

Foram chamadas a Delegacia afim de serem admoestadas, por haverem perturbado o

sossego público as meretrizes: Raymunda A., vulgo bico de braza, Lucia M. vulgo “velocipe”

moradores no cortiço à rua de Sant’ana n94. 4/10/29

167
Este assunto pode ser visto com mais detalhes no artigo de Silvia Helena Zanirato Martins, Homens pobres,
homens perigosos. A repressão à vadiagem no primeiro governo de Vargas. Op. cit. p. 289.
Foram chamadas ao policia e admoestadas por não se darem ao respeito perturbando

o socego publico, as decaidas Anna F., Raymunda B., Maria S. e Maria J. C. bem como o

encarregado Domingo C. S. todos moradores à rua Jacintho Maia 299 e Maria da C. da rua

de Sant’anna 147. 14/10/29

Foram chamadas a policia e admoestadas por perturbarem o socego publico as

decaidas Honorina F., Benigna N. e Benedicto S. à Rua Antonio Rayol n74. 17/10/29

Foi chamada a policia e admoestada a horizontal Raymunda S., por andar altas horas

da noite perturbando o socego publico. 21/10/29

Foram chamadas a policia e admoestadas Maria da N. A., Maria P., Maria de N. e

M. J. L. moradoras à Travessa do Monteiro n 165 e 169 por perturbarem o sucego publico.

28/10/29

Foram chamadas a polícia e ditidas por haverem perturbado o socego publico as

decaidas do cortiço Couro Grosso: tendo como encarregados: H. B. . Maria J. “vulgo

pitoruba”, Balbina M. P. vulgo Bolacha Fogosa. Angela N. da S., Brigida M. do R. vulgo

“xiri pistola” , Joaquina M., Neide L. P. vulgo Bolacha fôfa, Thomazinha F. dos S., Josepha

M. de A . e Catharina R. dos A .. 16/12/29


Foram chamadas a policia as decaidas Maria J. vulgo curupinha, Luiza da S. F. vulgo

venta de porco e Izabel vulgo pé de pato moradoras à rua da Manga n 49 por terem

perturbado o socego publico, cerca de 2 horas da manhã. 26/12/29

Foram chamadas a policia e admoestadas as horizontais do “Couro Grosso” Josepha

P., Maria J. S., Benedicta da S. F., vulgo venta de fole e Angela M. da S. por perturbação do

socego publico. 3/2/30

Foi chamada a policia e detida a decahida Antonia C. vulgo 7 moradora no “Couro

Grosso” por ter promovido distúrbio a rua Fonte das Pedras hontem a noite. 3/2/30

Foram chamadas a policia e admoestadas as decahidas Nydes C., Clarinda M. da C.

e Joanna C. a moradora à rua digo, Travessa do Monteiro n47 por terem procurado uma

republica próxima provendo algazarra. 29/9/30

Foram chamadas a policia e ditadas as horisontais Octacíla R., Benedita M. da S.,

Senhorinha S., Celestina A., Isaura F. por falta de ordem “Fusarca” a rua da Saude canto

com Palma e mais Maria R. R. / Mila de M. “Riacho sujo”, Lucia C. “Poço Fundo”,

Alexandrina F. dos S. “vulgo pao não cessa”, Isabel D. de A., Beatriz G. “vulgo pao de

fôgo”, Maria S. “vulgo Canganha, Maria S. S., Catharina da S.. 10/3/30


Admoestações

Foram chamadas afim de serem admoestadas, as decahidas da rua da Estrella 54 do

nomes:_ Maria A. L., Raymunda F., Anna F., Benedita R. e Maria de L.. 4/10/29

Em o mesmo dia, as da rua da Estrella, 452 de nomes: _ Marcelina B., Maria do C.

S., Anna A. de A., Raymunda M. da C., Júlia F. da S. e Aldenora R..

___Mesma rua 442___ Anna N., Maria E., Sebastianna M. e Eva S. e Jovenilia B. e

Vitorina de Tal.

Na mesma rua. Agostinha M., Laura P. de A ., Josepha M. A .

Foram chamadas a policia admoestadas as decaidas moradoras _ na Fuzarca à Rua

Affonso Penna 84. Joanna dos P. C., Luzia da C. F., Maria H., Silvina, Josepha P., Antonia F.,

Francisca A., Francisca M. L. e encarregados Maria R. de L., Rosa J. L. da S..

__Rua da Manga 44__Encarregado Martinho R., Margarida S., Rosaria R., Octávia

S., Margarida M., Maria R. e Maria J..

__Rua Afonso Penna 47__Faustina L., Luisa P., Antonia A , Raymunda S. e Julia S..

Encarregado Samoel de tal.

___Rua Maranhão Sobrinho 88___Ozias. Maria I., Joaquina G., Maria P. e

Agostinha A. .

__Rua Afonso Penna 49__Francisca tal., Catarina R., Matilde N., Militina de Tal,

Joaquina V., Benedita N., Maria das D., Joanna M., Marciana de J., Antonia M. e Maria M..

Radiante: Antonia de Tal, Balbina M., Maria A ., Rosa S ., Marcolina M. e Luiza C..
Rua da Estrella 585 ___ Eugenia M. S., Celestina A., Teresa S., Raymunda R., Rosilda

M., Benedita dos A., Laudelina M., Isolina M. e Raymunda de Tal. 5/10/29

Foram chamadas e admoestadas as meretrises a rua de Santa Ana, 69, a encarregada

Justina S. e suas. As meretrizes são:- Zila A., Cantonila P. da S. e Maria da G. F.. 7/10/29

Luiz F. encarregado da caza a rua João Vital de Mattos, 36 com as meretrises:- Maria

de N., Antonia P. e Francisca P.. 7/10

Foram chamadas a policia e admoestadas as decaidas: Deoclecia P. e Maria C..

14/10/29

Foram chamadas a policia e admoestadas as decahidas: Maria M. da C., Antonia S.,

Joanna O. da C. e Joanna C. por offensa a moral. 29/1/30

Casas e cafetinas

San L., chinez, alugador de caza para meretrizes e fora intimado a deixar apenas

duas __as mulheres suas locatárias são: Rosa L. de C., Joanna P. e Joanna O. __6 dias.

7/10/29.

Foi chamada a Delegacia a horizontal Lolita L. por ter chegado ao conhecimento

deste Delegado haver a mesma fundado uma Pensão de mulheres, tendo recebido todas o

praso (?) para terminar e no caso de não haver ainda fundado desistir de tal intensão por
que este Delegado manterá vigilância e tomará as enérgicas providencias no sentido sensar

esse verdadeiro cancro social. 14/12/29

Foram chamadas a esta delegacia a caftina Minervina P., que declarou alugar a casa

de ordem de José de S. G. a rua da Estrella 458 e tem presentemente as meretrises:- Maria de

S. B., Maria G. de O., Galdina R. da S., Martinha O. L., Elvira O., Antonia M. de O.,

Aldenora R., Raymunda B., Esmeralda C. N., Maria do R. B., Anna F., Justina D. de O.,

Raymunda, Maria da C., Sebastianna S., Adélia S., Zuleide G. e Adalgisa S. __Ao todo

18. 12/3/30

Idem, idem, idem __Direita 156. Francisca M. da C., Maria de N. L., Petronila R. e

Antonia F. B. . Ao todo 4.

Ofensas à moral

Foram chamadas a policia e detidas por serem reincidentes em offender a moral

publica as decaidas Neide C., Maria F. moradoras à rua de Sant’anna 149. 23/10/29
Foram chamadas a policia e admoestadas as horizontal M. J. do E. S. vulgo D.

Engracia e Nydes C. moradora a travessa do Monteiro n 27 e 47 por terem desobediencias

procuradas não obstante offender a moral pública. 1/2/30

Foi chamada a policia e admoestada por desobediencia a decahida Maria S.

moradora da rua da Mangueira n371. 18/3/30

Desacatos

Foram chamadas a policia e detidas as decaidas Victoria G. por terem desacatado

uma senhora casada sua visinha moradoras à rua Cezar Marques. 15/10/29

Desrespeito

Foi chamada a policia e admoestada por falta de respeito e quando chamada a

attenção pelo rondante pelo seu modo incorrecto dirigiu-lhe impropérios a decaída Filomena

C., moradora à rua das Cajazeiras n96. 24/10/29

Foi chamada a policia e detida a decaida Laura P. de A. por falta de respeito para

com a vizinhança. 5/11/29


Foi chamada a policia e admoestada a decaida Enedina C. por ter desrespeitado uma

família defronte a sua casa , à rua da Saúde n113. 4/12/29

Devido as constantes queixas apresentadas a esta Delegacia relativamente ao modo

desrespeitoso de algumas meretrizes, ficou apurado em virtude das diligencias feitas a

veracidade sendo detida as decaidas abaixos reincidentes e assíduas freqüentadoras da

policia por offensa à moral. Maria Q., Albertina P. da S., Maria C. de A., Josepha C. e

Antonia R. “vulgo Pirulito”. 12/12/29

Foi chamada a policia e admoestada a decahida Nydes C. L. por ter faltado com o

devido respeito para com as familias de sua vizinhança à rua de Santanna n149. 6/1/30

Pelo investigador Leozildo Fontoura, foi aprezentado a esta permanência, as 22,30

horas de hoje a meretriz de nome Maria F. A. , pelo fato da mesma ter sido encontrada

perambulando na zona, desrespeitando o investigador no momento que lhe chamava a

atenção: Solução: De ordem do Sr. Dr. Chefe de Polícia a meretriz em apreço foi recolhida

ao xadrez as mesmas horas. 29/10/1940 (6049)

De ordem do Sr. Dr. Chefe de Policia, foi recolhida ao xadrez aos 30 minutos, a

meretriz Eduvirgens M. de S., pelo fato de ser desacatado no Club de Meretrizes, denominado

“Recreio das Divas” à rua Candido Mendes, o soldado da Força Policial do Estado, n589.
Solução: De ordem da mesma autoridade, a referida meretriz foi auferida para a

Penitenciária do Estado, em virtude de ter portado-se mal, nesta policia. 2/11/1940 (6094)

Brigas

Elvira P., “vulgo pé de pato”, Maria do R. vulgo Bico de braza, Esmeralda C. N.

“vara pau”, Izabel S. ( venta de porco), Zuleide F., “lambisgoia” foram detidas por se

haverem empenhadas em lucta de box. 7/11/29

Trajes

Foram chamadas a policia e detidos por desrespeito Nydes C.. Maisa F. como tambem

por andarem em trajes que offendem a moral publica. 19/11/29

Foram chamadas a policia e detidas por faserem ajuntamento à porta da rua em

trajes, quase de Eva e perturbarem o sucego publico: Adelaide C., Maria da C., Clara R. L.

“vulgo vatapá”, Maria M. “vulgo Pao Ferro” e Belmira A. “vulgo papo rouxo”. 20/11/29.

Foram chamadas a policia e admoestadas por falta de decoro, as horisontaes:- Maria

B., Antonia S., Maria E. L., Martinha A. B., Sinézia P. L., Maria P. de S., Almerinda F.,

Porfíria M. da C., Anna A. de A., Alexandrina B., todas residentes a rua Cândido Mendes___

386. 20/6/30.
Desordem

Pelos Investigadores Flávio Ribeiro e Leozildo Fontoura, foram aprezentados a esta

Permanencia, aos 30 minutos de hoje, as meretrizes de nome Alvina P. e Antonia L., pelo fato

de se ter sido encontrada promovendo desordem na rua Afonso Pena. Solução: De ordem do

Sr. Dr. Chefe de Polícia, as mulheres em apreço foram recolhidas ao xadrez as mesmas horas.

24/10/ 1940 (5951)

Pelos investigadores Edmilson Carvalho Branco, foram apresentadas a esta

Permanencia as 14,45 horas, as mulheres Nila M., Amalia P. S. e Adelina R., prêsas à ordem

do Sr. Dr. Chefe de Polícia, pelo fato de terem promovido desordem em uma pensão de

meretrizes, à rua Afonso na Pena. Solução: De ordem de mesma autoridade, as mulheres em

aprêço foram recolhidas ao xadrez. 28/10/1940 (6023)

Pelos soldados da Força Policial do Estado n 761, 889, foram apresentadas a esta

Permanencia, as meretrizes Maria do C. e Amalia F., pelo fato das referidas meretrizes terem

promovido desordem à rua Afonso Pena. Solução: De ordem do Sr. Dr. Chefe de Polícia, as

mulheres em apreço foram recolhidas ao xadrez as 23:20 horas. 31/10/1940 (6069)

De ordem do Sr. Dr. Chefe de Policia, foram recolhidas ao xadrez às 3,20 horas de

hoje, as meretrizes Francisca P. C. e Edith S. do N., pelo fato de terem promovido dezordem

no Club “Recreio das Divas”. 31/10/1940 (6072)

Menores
M. J. dos S., maranhense, solteira, de 18 annos de idade, residente á Travessa da

Felicidade (Baixinha) compareceu nesta Delegacia para declarar que apezar de ser menor, é

meretriz, e por isso não quer viver na companhia dos seus paes A. D. dos S. e F. D. dos S.,

que maltratam-na, dando-lhe pancadas. O 2  Delegado resolveu mandar apresentar a

declarante ao Juiz de Menores para resolver o caso da melhor forma possível. 16/11/36

O Sargento Pedro Martins, da Força Policial do Estado, comunicou a esta

Permanência, que em uma casa de meretrizes na Rua da Lapa, existe uma menor vivendo

com sua genitora. Solução: O Sr. Dr. Chefe de Polícia tomou conhecimento da Comunicação

de determinando as providências que o caso requer. 27/10/1940 (6009)

Queixas dos homens

Nas queixas feitas pelos homens são ouvidas falas do poder, reveladoras dos discursos

da “ordem”, dos padrões impostos e da ideologia dominante. Vozes de amantes, clientes,

cafetões e daqueles que em nome de suas esposas e filhas reclamavam das atitudes das

meretrizes.

As causas alegadas giravam em torno de agressões, desrespeito, insultos, ofensas e

provocações à família, mães, esposas e filhas, invasão de domicílio, não pagamento de


encomendas, perturbações do sossego público, roubos de dinheiro e objetos pessoais, sedução

e prostituição de menores.

Perturbação do sossego público

Queixa de Dorotheu J. R. residente a rua Nova n 5 contra as meretrizes que moram

na casa n7 a mesma rua por pirtubarem o sucego publico, com fortes algazarras e nomes

que a moral manda-se calar. 18/1/29

Sedução de menores

João L. e Joana L. moradora à rua da Lapa n152 e 188 offereceram queixas contra a

decaida Hilda de tal vulgo Raspa por andar seduzindo os meninos B. L. e M. L. de 12 e 10

anos respectivamente para pratica de actos libidinozos e entrega de dinheiro. 23/11/29

Ofensas e insultos

Venancio A., morador à rua Henrique Leal, n292 queixou-se contra as decahidas,

Bertha de Tal e Feliça de Tal, por trem offendido a sua progenitora obscenas. Moradoras à

rua Henrique Leal n286. 19/3/30


Protasio P. da S. residente a rua Regente Braulio, antigo 77, queixou-se contra a meretris

Maria de Tal, residente à rua Fonte das Pedras, por andar dirigindo insultos não só a si

como à sua família. Intime-se. 9/12/30

Aldenor F., residente Codosinho “São Raymundo” apresentou queixa contra a

meretriz Maria P. residente no correr de sua caza s/n, por ter insultado a sua esposa. Intime-

se. 13/1/31

Francisco A., residente no Largo da Madre Deus, 17 queixou-se da meretriz Josina de

Tal, residente defronte da caza do queixoso, pelo facto de viver insultando uma sua filha que

é amiga da esposa de José de Tal “vulgo Zé Orelha”. _ [por ser a mesma amiga] obs: o que

está entre parenteses no texto está rasurado. Josina era amante de José Orelha. Intime-se

para 4 às 9 horas. 3/8/34

Desrespeito

Francisco T. residente à rua Ribeirão, 382 apresentou queixa contra a meretriz

residente a Travessa 5 de Outubro, n por ter a mesma desrespeitado a sua família. Prenda-

se. 19/11/31

Benedito F., residente à rua do Mocambo, 326, apresentou queixa contra a meretriz

Nila de Tal, residente a rua do Rancho, 27, por ter desrespeitado sua senhora. 10/1/33
Manoel S. rezidente a rua Cezar Marques n/8 queixa-se de que umas mulheres

rezidentes a rua Antonio Rayol n/143 todas as vezes que o queixoso passa dirigem-lhe

pilheras carregadas. Intimadas para 14/12/31 as 2 horas.12/12/931

Compareceu a este Posto o Soldado Musico do Exersito, (reformado), onde

apresentou queixa contra a meretriz Maria de Tal, residente a rua de S. Pantaleão, n 504,

visinha do queixoso, por esta viver constantemente dirigindo palavras obsenas ao queixoso e

sua esposa. Foi feita a intimação da acusada para vir a presença do Sr. 2  Deleg. Amanhã às

10 horas, a fim de dar esplicações sobre o facto. 23/6/37

Intrigas

Elenterio P. C., residente à rua de S. Pantaleão defronte do Canhamo, queixa-se

contra a meretris Maria J. amasiada com o alfaiate Inis de tal, e residente junto a

“Radiante” a qual vive promovendo desvenças na sua família, chegando a ponto de querer

intrigar o queixoso com sua esposa. Intimados para amanhã, às 10 horas da manhã. 29/2/32
Menores

Pedro da C. T., queixou-se contra Agripina de M., funccionaria da saude publica por

ter prostituido a uma sobrinha do queixoso que conta 15 annos de idade de nome A. da C. P..

Prenda-se. 19/11/31

Pagamentos

Otaviano F. A., rezidente a rua da Manga 38, queixa-se de que D. Dadá rezidente no

sobrado denominado “Espoca” , a rua Affonso Penna 502, mandou o queixoso fazer um par

de sapatos e depois de posse dos mesmos não quer pagar o resto da emportancia que são

2$000 pois os mesmos foram contratados por 30$ e só deu 10$. Intimada para 25.1.32 as 13

horas. 25/1/32

José F. S., residente à Rua do Norte n 124, queixou-se Lolita de Tal, residente à Rua

da Palma n por ter, a irmã do queixoso com uma inquilina da Lolita, o feitio de 2 peças de

bordado para ser entregue a mesma Lolita e esta, agora, se recusa a efetuar o pagamento.

27/3/33

João B. da C., residente à rua São Raymundo” (Codosinho) n 80, queixou-se de Dona

Regina L., proprietária da “Pensão Regina” a rua 28 de Julho, 46, pelo facto de tê-lo

mandado pelo carnaval buscar no Café Operário, 30 garrafas de cerveja fiado e agora anda
dizendo lhe haver dado o dinheiro. Intime-se para 2 feira as 14 ½ . Resolvido 25.3.35.

23/3/35

Apreensões, furtos e roubos

Olavo B., residente no [?], compareceu a esta Permanencia onde apresentou queixa

contra a mulher Nair de tal, residente à Rua 28 de Julho pelo fato de ter se apoderado de

uma rêde pertencente ao queixôso, a qual se encontrava em um quarto, uma pensão de

meretrizes, à Rua Herculano Parga n489, onde a queixosa anteriormente residia. Solução:

De ordem do Sr. Dr. Chefe de Policia, a acusada foi intimada, afim de responder pela queixa

amanhã as 10 horas. 30/10/1940 (6053)

Teodomiro M. V., residente à rua Direita, 232, apresentou queixa contra a meretriz

Maria J., ex amante do queixoso, residente à rua da Saúde, operário de um restaurante, pelo

facto de ter referida meretriz ficado com sua rede de dormir. Intime-se para 2 ½ horas.

25/1/33

Ambrósio B. da S., residente no Desterro, queixou-se contra Joana F., residente no

“Minas Geraes”, que tendo lhe dado para guardar um seu brusa [sic] e uma bolça contendo

um par de meias de sêda _ um cinto e um espelho pequeno; que indo receber ditos objetos. J.

se recusa entregar disendo terem sido roubados. 3/2/33


Alipio dos Santos, residente no Caminho Grande, veio queixar-se contra Horácia de

tal, residente no Sobrado Couro Grosso por ter recebido do queixoso, a quantia de 40$000

para entra à sua mãe Dona Raymunda P., verificou agora que Horácia só queria iludi-lhe

com a referida quantia. Resolvido A . Almeida Comissaria.4/5/33

José M. rezidente na Rua do Passeio 550 quexou-se contra uma prostituta que reside

na Rua de Santana por este quexou-se ter levado um loção para vender, e ella queria 7000

mil que despareceu da casa. Resolvido. 27/4/35

Joào E. P., residente a Travessa do Monteiro n34, compareceu a esta permanencia,

onde queixou-se que foi vítima do furto de um relógio de pulso, niquelado, com pulseira de

metal branco, suspeitando da mulher Maria dos R. A. F., vulgo “Macole”, residente a rua

José Euzébio, em uma pensão de meretriz. Solução: De ordem do Sr. Dr. Chefe de Policia, foi

designado o investigador José Lopes para investigar a suspeita. 3/11/1940

Hamilton B., residente à rua da Inveja, n232 queixou-se de M. de tal “vulgo Lupu”

residente na rua da Estrela, “Pensão I.”__ pelo facto de ter hontem tirado do seu bolso, a

importancia de 20$000. Intime-se para 23 as 9 horas. 22/2/32

José M. dos S., de Caxias, “em transito”, queixou-se de que passando a noite de

hontem na Pensão de Maria Augusta, à rua da Palma pelo facto de terem subtraído do bolso
do seu dolman, um relogio de algibeira marca Germinal; que estivera a noite no quarto da

meretriz Benedita de Tal. 30/12/32

Sr. Djalma F. de O., residente à rua 28 de Julho, 468, queixou-se de que a mulher de

nome J. de tal residente na Pensão Maria Augusta, foi a sua casa, em sua ausencia,

arrombou a porta da mesma, levando 28$000, em dinheiro. Intime-se para 23 às 10 horas.

Apurou-se foi arrombada a porta porem não roubou dinheiro nenhum. 21/5/34

Agressões

José S., residente à rua do Ribeirão, n 12, apresentou queixa contra a meretriz

Enesina de Tal, residente a rua da Cruz, 902, pelo facto de ter hontem a noite, cortado o

queixoso no braço esquerdo, com uma navalha que a mesma trasia. Intime-se para 2 as 2

horas. Parecer: O Delegado determinou a abertura de inquérito. 2/1/33

João P. de S., rezidente a rua Jacintho Maia n 511 de que L. R. rezidente no sobrado

do Espoca a rua Affonso Penna n por ter lhe dado uma bofetada. 27/4/35

Os registros indicam, ainda, outros elementos vinculados ao meretrício.

A concepção de “cancro social”, como mostra a ocorrência de 14/12/29, permeava os

discursos policiais configurando os “quistos” ou, os grupos “indesejáveis”.


Pode-se também perceber pistas sobre a posse do imóvel utilizado para o meretrício.

As ocorrências de 7/10/1929 e 12/03/1930 indicam o aluguel dos sobrados, fato que

demonstra a especulação imobiliária de uma área que progressivamente deixava de ser a

residência das classes mais abastadas.

Nas relações das meretrizes muitas vezes um homem ocupava papel de amante 168

como mostram as queixas efetuadas nos dias 12 /02/1932, 29/02/32, 25/01/33, 1/2/33.

Igualmente a definição de papéis levou algumas mulheres a reclamarem por suas

imagens. Como atestam as queixas abaixo, a contraposição donzela-moça de família ou mãe-

esposa X meretriz, foi motivo de queixas que demarcavam as fronteiras sociais.

2/1/33

Gregória G. residente na rua O. Cruz, 8, queixou-se de Dona Joana de Tal residente na

rua Affonso Penna, “Espoca” pelo facto de ter referida mulher dito hontem a noite que a

queixosa não era mais donsela. Intime-se para 3 as 9 horas. Ficou resolvido a queixosa, não

frequentar bailes de Joanna.

14/12/36

Simplicia S., residente à rua São Pantaleão n715 vem a esta Delegacia dar queixa

contra Aguida S., residente na Berila(?) no fim da rua, pelo facto de insultar Martinha S. a

quem chamou a prostituta. Martinha submettera a exame.

168
É bem provável que muitos daqueles “amantes” assumissem o papel de cafetões, principalmente nos casos
onde as mulheres tinham sua atividade “independente” de laços com a “madame” .
Desnudando vivências, os boletins de queixas e ocorrências fazem fluir situações,

formas de resistência, jogos e tramas de poderes.

As dores, amarguras e humilhações, assim como a força e a coragem, vindas dos

espancamentos, dos socos e navalhadas que lhes tiravam sangue, dos insultos, das expulsões

da pensão, da “surpresa” ao encontrar a porta do quarto, a mala e o cofre arrombados, de ter

que exigir o pagamento pelo prazer fornecido, das ameaças de morte e das provocações não

poderão nunca ser transmitidas em sua totalidade, mas certamente lá estavam, compondo com

toda sua crueza aqueles quadros diários.

Ó chão do Desterro,
- solidão de Deus -
onde está o erro
dos caminhos teus?
E onde o instante alto
da pureza mansa
que ao nascer do asfalto
cresce na esperança?
Até onde elevas,
sem nenhum aviso,
os adões e as evas
de teu paraíso?
E até onde baixas
teus xangôs impuros,
nas imundas faixas
de teus negros muros?
Oh, quantas perguntas
sobre ti se adensam,
chão que trazes juntas
maldição e benção
chão de meretrizes
que enfeitaram ruas:
tristes ou felizes
todas foram tuas.
Chão de velha igreja,
chão que ainda abençoa
tudo quanto seja
coisa má ou boa.169

(José Chagas)

169
CHAGAS, José. Chão da Praia Grande. In: Apanhados do chão. São Luís: EDUFMA, 1994, p.111.
Parte III – Francisca P., Honorina C., Lolita L. e outras damas de São Luís do

Maranhão. 170

Pensões, Hospedarias e Casas de Cômodos... Adentrando os espaços de convívio

São Luís início do século XX.

As portas da cidade se abriam e descortinavam um cenário marcado, entre outros, por

novas formas de habitar. Locais antes ocupados pelos ricos comerciantes e senhores do

algodão eram transformados em moradias coletivas171 da grande massa que ali chegava e se

concentrava.

O soberbo espaço da Praia Grande 172 reconfigurava-se, imprimindo feições populares e

misturando em seu território trabalhadores das mais diversas ocupações 173.

Pouco a pouco a cidade avolumava-se.

170
Este tema foi inspirado no livro Heloísa, Isolda e outra damas no século XII. de Georges Duby. Acredita-se,
desta forma, estar fazendo uma dupla homenagem, uma a esse brilhante historiador, que tantas páginas dedicou à
história das mulheres, e outra àquelas dignas meretrizes.
171
Segundo o estudo de Olavo Pereira da Silva F. Arquitetura Luso-Brasileira no Maranhão. Belo Horizonte:
Formato, 1998 (Projeto Documenta Maranhão 97), p.46. dentre os tipos de casas e sobrados característicos no
Maranhão e que vimos resignificados nas Pensões, Casas-de-Cômodos e Hospedarias, destacam-se a meia-
morada; ¾ de morada; morada inteira; morada e meia; dois pavimentos; dois pavimentos e mirante e dois
pavimentos e porão.
172
Sobre a Praia Grande, explica Mário Meireles em seu estudo O Bairro Da Praia Grande E O Palácio do
Comércio. Os Prêmios Martinus Hoyer e João Pedro Ribeiro. In; História do Comércio do Maranhão. Op. cit. p.
48 : “...com o fluir dos anos, esse apelido de Praia Grande, que da praia propriamente dita se transferiria ao
aterro nela feito, estender-se-ia também ao mais antigo perímetro urbano, velho de duzentos anos; àquele, à
margem do Bacanga, que era formado pelas ruas da Estrela, do Giz, da Palma e Formosa, as quais corriam
paralelas, de norte a sul, e cortadas pelas de Nazaré, dos Barbeiros (Vira-Mundo), do Quebra-Costa, da
Relação (Sant’Ana), Direita, da Saúde e da Cascata, até os largos das Mercês e do Desterro.
173
Em São Luís ocorre uma nítida substituição dos moradores dos grandes casarões. Com a falência do sistema
agroexportador algodoeiro e açucareiro e a subsequente implantação de indústrias, a área central da cidade foi
reocupada pela presença maciça de trabalhadores e meretrizes. O local passava por um processo de revalorização
e reutilização transformando o que no século XIX era símbolo de poder econômico em moradias de pessoas das
mais variadas origens e atividades. Nesta perspectiva Henri Lefebvre em, O direito à cidade. SP: Ed.
Documentos, 1969, p. 12, tece o seguinte comentário: “a cidade e a realidade urbana dependem do valor de
uso. O valor de troca e a generalização da mercadoria pela industrialização tendem a destruir, ao subordiná-las
a si, a cidade e a realidade urbana, refúgios do valor de uso, embriões de uma virtual predominância e de uma
revalorização de uso”.
De acordo com o recenseamento, em 1900 São Luís contava com uma população de

36.798 habitantes. Em 1920, o número havia saltado para 52.929 e em 1940 para 85.583. 174

Nas fachadas dos imponentes casarões oitocentistas, onde tantas donzelas suspiraram

nos balcões de cantaria, o que se viam eram placas de Pensões, Hospedarias ou Casas de

Cômodos para alugar.

Segundo Mário Meirelles,

“... já a esse tempo nenhuma família continuava residindo nos sobradões da Rua do

Trapiche, que apenas serviam de sede a armazéns, lojas e escritórios, e que muitas, e das

melhores, já moravam naquelas ruas da cidade alta inclusive na distante rua dos Remédios

em que se transformara a estrada que, em 1775, fora aberta para levar do fim da Rua

Grande para o Largo dos Amores, na Ponta do Romeu, à margem do Anil; porque não

tardaria muito que a cidade baixa perdesse metade de sua área, desde quando a Polícia cedo

nela confinou, para além da Rua Direita, a zona do meretrício, dela afugentando as famílias

e desvalorizando-lhes os imóveis; porque com a execução do Plano Rodoviário, aprovado

pelo Governo, e que interligaria o Maranhão, por terra, com o resto do país seria fatal o

enfraquecimento do forte comércio atacadista que ali se concentrava e de onde mantinha,

sob

174
Ver Meireles, Mário. Dez estudos históricos. Op. cit. p. 242. Ver também citação de José Reinaldo Barros
Ribeiro Júnior, Formação do espaço urbano de São Luís: 1612-1991. op. cit. p. 73, 74, 75. “entre 1872 e 1900,
fase de instalação do conjunto industrial ludovicense, a taxa de crescimento demográfico médio anual fora de
0,85%. ... Para o intervalo 1900-1920, a situação pouco se modificou, pois a taxa de crescimento geométrico
anual no vintênio foi de apenas 1,83%, bem abaixo ao ocorrido noutros aglomerados urbanos brasileiros como:
São Paulo, 4,58%; Recife, 3,81% e Fortaleza 2,45%. Explicação também para o baixo índice de crescimento da
população são-luisense entre 1872 e 1920 (1, 08%aa) pode ser encontrada no alto índice de mortalidade
infantil em decorrência do elevado grau de insalubridade da cidade. Os serviços públicos foram sempre
insuficientes e ineficientes no combate aos problemas de saúde que afetavam a população da capital timbirense,
o que inclusive facilitava surtos epidêmicos como peste bubônica e febre tifóide.
tutela, a lavoura e o comércio do interior; porque o próprio engenheiro-chefe dos Portos do

Maranhão acabara de publicar um longo estudo, datado de 26/12/1939, dizendo das razões

por que se deve preferir a enseada do Itaqui, ao Bacanga, o que, se concretizado, seria talvez

a última pá de cal que se atiraria sobre a Praia Grande.”175

Dividindo as mesmas ruas, havia “Casas” de vários “níveis” as quais contavam com
176
significativo número de meretrizes e pela Lei n°453, de 31 de maio de 1930 a Prefeitura

Municipal de São Luís indicava a tabela de categorias correspondentes às taxas de impostos.

Cabaret ou club semelhante 2 a 7 (2:400$000 a 1:000$000). Casa de Pensão 5 a 16

(1:400$000 a 100$000). Hortelão 17 a 22 (80$000 a 10$000). Hospedaria 11 a 16 (500$000 a

100$000). Hotel 3 a 12 (2:000$000 a 400$000).

Com base nos valores indicados, o Diário Oficial do Estado do Maranhão publicou

em julho de 1930, uma relação de indústrias e profissões sujeitas ao pagamento onde estavam

incluídas:

na Rua José Euzébio (antiga Saúde),

84, Hospedaria de Deolindo A., que considerada na 26ª classe deveria pagar 100$.

Rua Nina Rodrigues,

23, Pensão de Júlia Q., 25ª classe, 150$.

Rua Regente Bráulio,

208, Hospedaria de Regina F., 25ª classe, 150$.

445, Hospedaria de Lolita L., 24ª classe, 250$.177

175
MEIRELLES, Mário. História do Comércio do Maranhão. op. cit. p. 50.
176
Diário Oficial do Estado do Maranhão, 23 de Junho de 1930, p. 8, 9, 10 e 11 e 24 de Julho de 1930, p. 10 e
11.
177
Estas duas últimas continham a seguinte informação: “hospedaria com fiscalização da polícia”.
Identificam-se, ainda, registros, de 1932, que indicavam a quantia exata de imposto

que a Pensão, Hospedaria ou Casa pagava ao mês e a qual classe pertencia; 1°, 2° ou 3° bem

como as que tiveram sua licença suspensa por não haverem pagado o referido tributo178.

Isso leva a considerar a rentabilidade econômica do meretrício para o Estado. O

Registro de Pensões de 1931-1935, feito pela 1ª Delegacia Auxiliar de Polícia de São Luís,

demonstra que ao estarem registradas e sob a vigilância da polícia conjugavam-se a atmosfera

higienista-moralizante e a captação de rendas.

Veja-se:

1° Delegacia Auxiliar de Polícia desta Capital. "Registro de Pensões”. 1932-1935

Proprietário Estabelecimento Endereço Classe Imposto

R.F.L. Pensão Regina/ R. 28 de Julho, 46 18/4/32 1classe $5.200 mensais

Meretrizes
L.L. Pensão Lolita/ R. Herculano Parga, 445 21/4/32 1classe $5.200 mensais

Meretrizes
F. de O. Pensão da Chicó R. Joaquim Távora, 218 1 classe $5.200 mensais
A. F. Pensão Rancho Fundo/ R. Herculano Parga, 114 18/4/32 1classe $5.200 mensais

Meretrizes
A. R. L. Pensão Anna Rosa/ R. José A. Correa, 43 23/4/32 3 classe $2.200 mensais

Meretrizes
R.B.T. Pensão de Meretrizes R. Luzia Bruce, 109 18/4/32 3 classe $2.200 mensais
L.E. Pensão de Meretrizes R. Affonso Penna, 486 14/4/32 2 classe $3.200 mensais
H.C. Casa-de-Cômodos R. 14 de Julho, 104 26/4/32 1 classe $5.200 mensais

Honorina/Meretrizes
M.C. Casa-de-Cômodos R. Cândido Mendes, 64 30/4/932 2 classe $3.200 mensais

Marcília/Meretrizes
A. F. de O. Casa-de-Cômodos R. 7 de Setembro, 852 20/4/32 2 classe $3.200 mensais

178
Ver o caso das hospedarias “XXX”, de Deolindo A. e “Glória”, de Maria Rita da C., interditadas pelo chefe
de polícia em 1/6/34 em razão do não pagamento de impostos.
Radiante/Meretrizes
E.C. Casa-de-Cômodos Elvira/R. 5 de Outubro, 360 32
3 classe $2.200 mensais

Meretrizes
R.M.S. Casa-de-Cômodos/ R. José Bonifácio, 169 23/5/32 3 classe $2.200 mensais

Meretrizes
D.A . Pensão XXX/ R. da Saúde, 84 20/4/32 não consta não consta

Meretrizes
L.F.S. Casa-de-Cômodos/ R. Herculano Parga, 674 07
3 classe $2.200 mensais

Meretrizes 33
M. A. T. Pensão Maria Augusta/ R. Herculano Parga, 446 24/11/32 2 classe $3.200 mensais

Meretrizes
L. A. S. Casa-Cômodos Tv. do Teatro, 19 33
3 classe $2.200 mensais

Meretrizes
A. N. Casa-de-Cômodos/ R. José A. Corrêa, 30 26/4/32 3 classe $2.200 mensais

Meretrizes
M. R. C. Hospedaria Glória/ Rua da Manga, 162 34
não consta não consta

Meretriz
R. S. Hospedaria Sousa/ R. 28 de Julho, 421 19/4/32 não consta não consta

Meretrizes
S. A. Casa-de-Cômodo/ R. Paula Duarte, 140 9/5/931 3 classe $2.200 mensais

Sempre Viva /Meretrizes


M. P. L. Casa-de-Cômodos/ R. Mário Carpenter,225 /32
3 classe $2.200 mensais

Meretrizes
J. A . L. Casa-de-Cômodos/ R. da Lapa, 157 e /33
3 classe $4.400 mensais

Meretrizes Affonso Penna, 353


M. dos S. Pensão R. Cândido Mendes, 592 /32
3 classe $2.200 mensais
F. M. Casa-de-Cômodos de R. 28 de Julho, 34 /34
1 classe $5.200 mensais

Meretrizes
M.M. Casa-de-Cômodos/ R. M. Sobrinho, 518 2/6/934 3 classe $2.200 mensais

Meretrizes
P.S. Casa-de-Cômodos/ R. Nova, 11 /34
2 classe $ 3.200 mensais

Meretrizes
A. M. J. Casa-de-Cômodos/ R. 28 de Julho, 158 /34
não consta não consta

Jesus
P. O. Casa-de-Cômodos/ R.28 de Julho, 476 26/5/34 3 classe $2.200 mensais

Oliveira
R. C. M. Hospedaria Belinha R. 5 de Outubro, 360 23/10/34 3 classe $2.200 mensais
S. F. Casa-de-Cômodos/ R. 28 de Julho s/n 15/12/34 3 classe $2.200 mensais

Meretrizes
M. P. Casa-de-Cômodos/ R. 28 de Julho s/n 10/1/935 1 classe $5.200 mensais

Meretrizes
M. C. S. Hospedaria/Meretrizes R. José A. Corrêa, 315 26/1/35 3 classe $2.200 mensais
M.F.S. Casa-de- Cômodos/ R. Luzia Bruce, 48 3 classe $2.200 mensais

Meretrizes
E. das S. N. Casa-de-Cômodos Neves/R. José A. Corrêa,37 14/2/35 3 classe $2.200 mensais

Meretrizes
J.F. Casa-de-Cômodos R. Affonso Penna, 500 22/2/35 não consta não consta

Minas Geraes/Meretrizes
D.A . Hospedaria Internacional R. José Euzébio, 94 não consta 1 classe $5.200 mensais
M. R. N. Casa-de-Cômodos/ R. Santo Antônio, 235 25/5/935 2 classe $3.200 mensais

Meretrizes
L. F. Casa-de-Cômodos/ Pça do Mercado,74 18/06/935 2 classe $3.200 mensais

Meretrizes
C.B. Casa-de-Cômodos Celina/R. Herculano Parga, 6 19/06/35 3 classe $2.200 mensais

Meretrizes
F.C. Casa-de-Cômodos/ R. José Bonifácio, 170 19/06/35 3 classe $2.200 mensais

Meretrizes
M. J. S. Casa-de-Cômodos/ R. Affonso Pena, 399 19/06/35 3 classe $2.200 mensais

Meretrizes
M. A . Casa-de- Cômodos/ Pça do Mercado, 211 19/6/35 3 classe $2.200 mensais

Meretrizes
F. A . Hospedaria Felícia/ R. do Ribeirão, 140 27/6/35 3 classe $2.200 mensais

Meretrizes
V. da S. N. Casa-de-Cômodos/ R. Dr. Herculano Parga, não consta 3 classe $2.200 mensais
Meretrizes 583

Minuciosos levantamentos das Casas que funcionavam como Pensão, Hospedaria ou

aluguel de cômodos eram sistematicamente elaborados resultando em um esquadrinhamento

de pessoas e endereços. Semanalmente, quinzenalmente ou mensalmente eram feitos Mapas

de Pensões, Casas de Cômodos, Hotéis e Hospedarias sujeitos ao pagamento de selos,

impostos ao município.

Além da localização, traziam informações sobre a existência ou não do Livro de

Hóspedes e se o selo havia ou não sido pago. Quando não, o agente da Guarda Civil lançava

uma nota no Livro dos Mapas e dava um prazo, geralmente de um mês, para regularização do

estabelecimento.

Quando do fechamento do local era obrigatório um pedido de baixa que deveria ser

feito no livro dos mapas.

Os mapas permitem a visualização de parte dos estabelecimentos onde moravam e

trabalhavam muitas meretrizes. Entre 1933 e 1934, foram registrados 82 estabelecimentos,

dos quais 38 administrados por mulheres.

Observe-se:

Mapas de 1933 e 1934 / Nomes das Ruas,

números, proprietários.
14 de Julho, 104, Honorina C.
28 de Julho 421, Raymundo S.
28 de Julho, 129, Raymunda M.
28 de Julho, 34, Justina S.
28 de Julho, 445, Raymundo S.
28 de Julho, 46, Regina L.
28 de Julho, 476, José A.
7 de Setembro, 812/852 (?), Álvaro O.
Afonso Pena, 261, Virgínia F.
Afonso Pena, 339, Pedro C. C.
Afonso Pena, 353, José G. M.
Afonso Pena, 488, Luiz E. S.
Afonso Pena, 502, Joanna F. A.
Afonso Pena, 535, José G. T.
Afonso Pena, 800, Estevam M. S.
Av. Pedro II, 179, Alexandre de Tal
Av. Pedro II, 179, Grande Hotel
Av. Pedro II, 179, Viúva Quintans
Av. Pedro II, 237, João S. S.
Av. Pedro II, 264, Manoel B. P.
Calçada, 132, Suzana A.
Cândido M. 442, Joaquim
Cândido Mendes, 277, Izolino S. P.
Cândido Mendes, 281, Maria P. L.
Cândido Mendes, 386, Alexandre F.
Cândido Mendes, 442, Joaquim S. F.
Cândido Mendes, 458, João E. S.
Cândido Mendes, 471, Manoel A. S.
Cândido Mendes, 508, Cardozo S.
Cândido Mendes, 518, Joaquim R. M.
Cândido Mendes, 535, Cardozo S.
Cândido Mendes, 535, Cardozo S.
Cândido Mendes, 547, José A. L.
Cândido Mendes, 559, Estevam M. S.
Cândido Mendes, 578, Raymundo S.
Cândido Mendes, 585, Francisca R..
Cândido Mendes, 64, Maria C.
Cândido Mendes, 370, Godofredo M.
Direita, 128, Paulo S.
Henriques Leal, 128, Herculano C. B.
Henriques Leal, 232, Maria José T.
João Lisboa, 37, Rosa M. da S.
João Lisboa, 432, Adélia P.
Joaquim Távora, 19A, Apolonio E. N.
Joaquim Távora, 217, Izabel B.L.
Joaquim Távora, 218, Francisca O.
Joaquim Távora, 258, Hugo B.
Joaquim Távora, 342, Maranhão Hotel.
Joaquim Távora, 186, Amélia M. do V. S.
José Augusto Correa, 30, Alexandrina N.
José Augusto Correa, 43, Anna R. L.
José Bonifácio, 169, Rosa M. S.
José Bonifácio, 33, Sizina C.
Lapa, 157, José A. L.
Luzia Bruce, 103, Raymunda B. T.
Manga, 162, Maria Ritta da C.
Maranhão Sobrinho, 518, Maria M.
Nina Rodrigues, 128, Manoel M.
Nova, 11, Pedro S.
Nova, 41, Suzana A.
Palma, 114, Antonia F.
Palma, 208, Paula Joanna, G.
Palma, 445, Lolita L.
Palma, 446, Maria A.
Palma, 47, Antonio C.
Palma, 674, Libânio T. S.
Paula Duarte, 252, Maria P. L.
Santana, 43, Ana Rosa L.
Santo Antônio, 223, Maria P. L.
Saúde, 84, Deolindo A.
Sol, 128, Manoel M.
Sol, 23, Júlia Q.
Tarquínio Lopes, 123 Benedicta L.
Tarquínio Lopes, 233 Francisca A. de S.
Tenório Carpenter, 225, Maria P. L.
Travessa 5 de Outubro, 344, Domingos P.
Travessa 5 de Outubro, 360, Elvira C.
Travessa da Passagem, 8, Cícero A. C.
Travessa do Comércio, 164, Vicente G.
Travessa do Teatro, 19, Liduina S.

Tal variedade de casas refletia a diversidade do convívio, da procura e a origem social

dos freqüentadores179 que se dividiam entre operários, soldados, marinheiros, pedreiros,

estivadores etc... e elementos de classes mais abastadas.

As pensões e algumas casas-de-cômodo eram luxuosas, quase sempre pertencentes às

1ª e 2ª classes, tinham como moradores essencialmente mulheres, que trabalhavam como

meretrizes, e a “madame”180 que gerenciava a atividade e os ganhos daquelas181.


179
A diferença das “Casas” nos faz refletir sobre as mulheres que lá trabalhavam. Separadas pelo luxo e a
simplicidade uniam-se na origem camponesa marcada pela fome e privações econômicas. Em São Luís não se
percebe a presença de estrangeiras, como as “polacas” do RJ e SP.
A figura da “madame” apresentada, Laure Adler em A Vida nos Bordéis de França. Op. cit. p. 69, 70, em muito
se assemelha à de São Luís. Segundo a autora, “ser <<dona de casa>> é, de resto, uma profissão que merece e
granjeia consideração. As <<madames>>são pessoas autoritárias, equilibradas, que falam com palavras
escolhidas e detestam a vulgaridade, além de que, como a patroa da casa Tellier de Maupassant, não se
consideram geralmente como fazendo parte da comunidade das pensionistas, não são <<uvas da mesma
cepa>>. Abrir um bordel não é nenhuma frioleira .
180
181
Sobre as “madames” encontramos referências sobre seu papel já na Europa Medieval. Segundo Nickie
Roberts em, A Prostituição Através dos Tempos Na Sociedade Ocidental. Lisboa. Editorial Presença, 1996, p. 83,
Em alguns casos, uma mesma pessoa administrava mais de um estabelecimento,

todavia não temos dados para afirmar se o imóvel era de fato propriedade do gerente do

estabelecimento ou se era alugado. Algumas pistas como as queixas e os livros de impostos

indicam que muito provavelmente era de um terceiro. 182

Havia, porém, casas de cômodos e pensões que ao contrário das citadas

assemelhavam-se a um cortiço e tal como nas hospedarias, as relações com o proprietário

davam-se por conta do pagamento do aluguel do quarto, não sendo configurados laços de

dependência como nas pensões de meretrizes cuja gestora era a “Madame”.

Mesclavam-se naquelas moradias, meretrizes e outros trabalhadores traçando um tipo

diferenciado de organização domiciliar. Em outras formas de habitar conviviam e partilhavam

de ambientes cuja fisionomia em nada se assemelhava àqueles das famílias nucleares, como

se pode ver no elenco abaixo:

Casa-de-cômodo de Honorina C. (1932-1937). R. 14 de Julho, 104 (antiga de

Santana). Apenas domésticas183.

Casa-de-cômodo “Rancho Fundo” de Antônia F.. (1932-1938). R. Dr. Herculano

Parga (antiga da Palma), 114. Domésticas e mundanas

Casa-de-cômodo “Radiante” de Álvaro F. de O. (1932-1938). R. 7 de Setembro (antiga

Rua da Cruz), 812 / 852(?). Domésticas, mundanas, operários e mercadores.

84. “Algumas mulheres foram bem sucedidas e suficientemente empreendedoras a ponto de chegarem a dirigir
seus próprios bórdeis, estalagens ou tabernas, onde funcionavam como <<madames>> da cultura urbana
medieval.
182
O único Livro encontrado com informações sobre a propriedade de imóveis foi o de Impostos e Registros de
Décimas, Imposto Predial e Territorial, 1926-1927, pertencente aos Arquivos da SEPLAN / PRODETUR, São
Luís - MA. Nele apenas três endereços aparecem posteriormente na listagem das Casas de Pensão, Cômodos e
Hospedarias, Rua Cândido Mendes n°64, proprietário Joaquim M. Rodrigues Netto, valor 1:020$000; Rua 28 de
Julho n° 34, Gertrudes Cavalcante Fernandes, 600$000 e n°46, Antônio C. Pinto, 1:920$000.
183
Há vários livros de Pensão de Meretrizes, registrados na polícia e com um grande número de mulheres que
indicavam no campo profissão, “doméstica”. Seria uma forma de “esfumaçar” a verdadeira função das casas ou
era uma manifestação de que a prostituição não era uma profissão?
Casa-de-cômodo de Maria M. (1936-1938). R. Cândido Mendes (antiga R. da

Estrela), 370. Mundanas.

Casa-de-cômodo de Sizina F. (1936-1938). R. Jacinto Maia, 289. Domésticas e

mundanas.

Casa-de-cômodo “Barroso” de Carlos de O. (1938-1939). R. Cândido Mendes, 578.

Meretrizes, serviços domésticos, estivadores, carpinteiros, trapicheiros, barbeiros, catraeiros,

serviços braçais, operários, marceneiros, pescadores, marítimos, carregadores, carpinas,

pedreiros, remadores, serviços de transportes terrestres.

Casa-de-cômodo de Minervina P. (1940). R. 28 de Julho 421. Domésticas e

mundanas.

Casa-de-cômodo de Raimundo M. (1941). Travessa Marcelino de Almeida (antigo

Beco da Alfândega), 27. Carregadores, domésticas, carvoeiros, ourives e comerciários.

Casa-de-cômodo de Sebastiana M. P. (1941-1942). R. 28 de Julho, 458. Domésticas.

Casa-de-cômodo de Cândida M. F. / Ciríaca dos S. G. (1942-1947). R. Afonso Pena

(antiga Formosa), 341. Domésticas.

Casa-de-cômodo de Ivete R. P. (1941-1944). R. Herculano Parga, 474. Domésticas.

Pensão “Regina”, de Regina F. L. (1932-1937). R. 28 de Julho, 46. Domésticas e

mundanas.

Pensão de Lolita L. (1930-1938). R. Dr. Herculano Parga, 445. Domésticas,

meretrizes e mundanas.

Pensão “Chicó”, de Francisca P. (1938). R. Joaquim Távora (antiga R. de Nazaré),

218. Domésticas.

Pensão “Carvalho”, de Hermínio C. (1938-1939). R. Afonso Pena, 500. Meretrizes.


Pensão “Victória”, de Victória C. L. (1938-1940). R. 28 de Julho, 461. Meretrizes.

Pensão “Mariah”, de Mariah T. C. (1939). R. Herculano Parga, 480. Meretrizes e

Domésticas.

Pensão “Lina”, de Lina A. M. (1939-1940). R. Herculano Parga, 486. Domésticas.

Pensão de Maria M. / “Chuva de Prata” de Leocádia S. (1940-1942). R. Afonso

Pena, 373. Domésticas.

Pensão de Lavínia A. (1940-1947). R. 28 de Julho, 380. Meretrizes e Domésticas.

Pensão “Taco de Ouro”, de Antônia Andrade (1940-1944). R. Herculano Parga, 446.

Domésticas.

Pensão “Lopes” de Maria L. (1939-1941). R. José Eusébio (antiga Saúde), s/n°.

Domésticas.

Pensão “Sonho Azul” de Raymundo M. (1941-1942). R. Afonso Pena, 335.

Domésticas.

Pensão de Marta F. P. (1940-1942). R. Dr. Herculano Parga, 674. Funcionários

Públicos, remadores, gomadeiras, lavadeiras, marítimos, costureiras, calafates, trabalhadores

braçais, engraxates, caldeireiros, sapateiros, alfaiates e domésticas.

Pensão “Uberaba”, de Manoel A. da Silva (1941-1945). R. Cândido Mendes, 471.

Mendigos, meretrizes, trabalhadores braçais, lavadeiras, marítimos, barraqueiros, carpinas,

carregadores, estivadores e pintores.

Pensão “Oliveira” de Martinha O. L. (1941-1947). R. Afonso Pena, 389. Domésticas.

Pensão “Nenê” de Matilde T. (1943-1947). R. Dr. Herculano Parga, 468. Domésticas.

Pensão de Regina N. (1945-1947). R. Dr. Herculano Parga, 375. Domésticas.


Hospedaria “Torquato”, de Torquato de S. (1920-1930). R. Henrique Leal (antiga

Direita), 140. Meretrizes, carregadores, estivadores, pedreiros, marítimos, charuteiros,

ambulantes, alfaiates, operários.

Hospedaria “Souza”, de Raymundo S. (1922-1930). R. 28 de Julho, 421. Pintores,

taverneiros, carregadores, trabalhadores, pedreiros e meretrizes.

Hospedaria “Ferreira”, de Luiz M. F. (1923-1924). R. do Quebra-Costa, 2.

Domésticas, ourives, barbeiros, agricultores, carregadores, maleiros, negociantes e operários.

Hospedaria “Fernandes”, de Francisco F. (1929-1930). R. Cândido Mendes, 386.

Meretrizes e auxiliares de comércio.

Hospedaria “Justina”, de Justina M. dos S. (1929-1930). R. José Augusto Corrêa s/

n°. Meretrizes.

Hospedaria “Radiante”, de Álvaro F. de O. (1929-1930). R. 7 de Setembro, 852.

Meretriz.

Hospedaria “Saleno de Azul” de João L. (1929-1930). R. Afonso Pena, 488.

Meretrizes, carreiros, pescadores e carregadores.

Hospedaria “Couro Grosso” de Raymundo – (1930). R. da Lapa, 157. Meretrizes e

trabalhadores.

Hospedaria “Hang Leo” de Hang L. (1930). R. Afonso Pena, 86. Meretrizes.

Hospedaria “Júlio”, de Júlio F. (1930). R. Cândido Mendes, 442. Meretrizes.

Hospedaria “Oliveira”, de Manoel J. P. (1930). R. Cândido Mendes, 57. Meretrizes.

Hospedaria “Dionísio”, de Dionísio da C. (1930). R. 28 de Julho, 476. Domésticas,

operários e carroceiros.

Hospedaria “XXX”, de Diolindo A. do A. (1930). R. da Saúde, 84. Meretrizes.


Hospedaria “Ferreira Lima”, de Antônia F. L. (1930). R. Nova, 33. Meretrizes.

Hospedaria “Marcos”, de Marcos M. (1930). R. Nova, 53. Meretrizes.

Hospedaria “Portuguesa”, de Antonio R. (1930). R. Afonso Pena, 424. Meretrizes,

ambulantes, modistas.

Hospedaria “Paulino”, de Paulino P. da S. (1930). R. 28 de Julho, 476. Militares,

operários e meretrizes.

Hospedaria “P.P.”, de Pedro S. (1930). R. Nova, 11. Meretrizes.

Hospedaria “Pombal”, de M. J. P. (s/ data). R. Cândido Mendes, 535 Meretrizes.

Artistas, marítimos, operários, pintores, militares, estivadores.

Hospedaria “Rachel”, de Rachel A. da S.. (1930). R. Cândido Mendes, 559. Meretriz

Hospedaria “Pereira”, de Raymundo P. de S.. (1930). R. 28 de Julho, 445. Meretrizes,

carteiros, comerciantes, chauffeurs, estivadores, marceneiros, sapateiros e pedreiros.

Hospedaria “Justina”, de Justina M. dos S.. (1930-1932). R. José Augusto Corrêa,

259 / 28 de Julho, 34. Domésticas e Artistas.

Hospedaria de Amélia P. / Hospedaria de Lydia R. N. / Pensão “Cincinato” de Olival

de Sousa (1930-1931). R. Portugal, 129. Mecânicos, artistas, artistas de circo, comerciantes,

lavradores, marinheiros, barbeiros, cozinheiras, negociantes, auxiliares de comércio e serviços

domésticos.

Hospedaria Nemézio / Pedro M. S. (1932-1938). R. Dr. Leôncio Rodrigues (antiga R.

Nova), 11. Domésticas e mundanas.

Em meio a ruas, becos, travessas e escadarias de pedras, em ladeiras e vias tortuosas as

pensões, casas e hospedarias configuravam múltiplos espaços sociais, onde se encontravam


meretrizes e outros trabalhadores, moradores e viajantes, homens ricos e pobres, em dias e

noites marcados pelo trabalho e boemia, prazeres e violências.

Testemunhas silenciosas da história da cidade184 guardam o calor dos corpos unidos

em troca de pagamento, o som de choros, músicas e risos, os beijos e navalhadas, as

decepções, êxtases, dores e alegrias.

184
PINHEIRO, Érika. Restaurados ou em ruínas eles são testemunhas da história. Artigo. In; Jornal O Estado do
Maranhão, sexta-feira, 8 de Setembro de 2.000, p. 4.
Foi no século passado
que a Praia Grande apareceu
entre secos e molhados
a varejo e atacado
floresceu lá no cais
sob a luz das lamparinas
e os caixeiros viajantes
tinham sonhos delirantes
com a nega catarina.
E as meretrizes
nesse monumento imortal
são relíquias do passado
e hoje vivem nos sobrados do tempo colonial.
E os pregoeiros,
Que sempre vivem no mundo da lua
vendendo frutas e verduras
vão gritando pela rua
é hoje só, é hoje só
tem caranguejo, farinha d’água e bobó...

(Os Pregoeiros,1981
César Teixeira)
Ilusórias chaminés: demografia da prostituição

Da preocupação em implantar na cidade um modelo de convivência social, baseado na

ordem e no trabalho, criaram-se mecanismos de controle, especialmente de locais e indivíduos

considerados perigosos.

Marcadamente opostas às formas de convívio e ao cotidiano das famílias nucleares, as

casas de pensão, de cômodo e hospedarias, assim como as pessoas que lá se encontravam,

foram alvos da vigilância estatal. Neste sentido, penetrando os lugares e exercendo seu poder

controlador, o sistema de cadastramento e regulamentação dos estabelecimentos e hóspedes

permitiu ao Governo mapear as áreas e obter informações contínuas sobre as pessoas.

Os donos, gerentes ou “madames” eram obrigados a possuir um livro de registro 185,

com termos de abertura e encerramento feitos pela polícia, onde nome, procedência,

naturalidade, profissão, dia de entrada, saída e destino de cada hóspede deveriam ser

atualizados mês a mês. O não cumprimento da lei poderia significar a suspensão da licença

de funcionamento.

Localizado no Arquivo Público do Estado do Maranhão, o livro da hospedaria

“Ferreira”, datado de 1923 foi o mais próximo da lei de 1919 que obrigava o registro das

pessoas. Os últimos pertencem ao ano de 1947.

185
Em A representação do eu na vida cotidiana, Petrópolis; Vozes, 1985, p. 11, Irving Goffman mostra que “a
informação a respeito do indivíduo serve para definir a situação tornando os outros capazes de conhecer
antecipadamente o que ele esperará deles e o que dele podem esperar.” Assim, os livros de registros seriam em
suas palavras os veículos de indícios.
Convém ressaltar que as datas de entrada do hóspede no estabelecimento muitas vezes

apontavam para anos como 1916, 1920,1922 mostrando que o funcionamento do local era

anterior ao ano de registro.

Nos livros verificou-se que o número de mulheres hospedadas era muitas vezes

superior ao de homens evidenciando o fenômeno de convergência de mulheres de vários

pontos do Estado e de Estados próximos para a cidade de São Luís. Elas chegavam de locais

variados, inclusive de bairros afastados do centro da ilha e o que estava por trás de tal

movimento daquelas mulheres, constatado pelo locais de procedência era, no caso

maranhense um campo falido e uma conseqüente penúria econômica, e nas demais regiões,

principalmente Ceará e Piauí, muito provavelmente os efeitos da seca. Por outro lado, como já

foi dito, estava a possibilidade de fazer parte dos 70% de mão-de-obra, feminina, das têxteis.

Migrava-se fundamentalmente em resposta às hostis condições de vida no campo, e na

intersecção dos determinantes e resultados daqueles movimentos construía-se uma teia de

trajetórias em que muitos dos fios acabavam por se encontrar na prostituição. Mesmo que em

número inferior ao das mulheres, a vinda de homens para São Luís também surgia como

forma de sobrevivência frente às penúrias da área rural.

Existia assim uma profunda conexão entre as condições materiais e de vida daquelas

pessoas. Daí a necessidade em se observar as transformações econômicas.

Nesse sentido, a análise demográfica da presença de meretrizes na capital do

Maranhão tem início com os locais de procedência. A partir dos dados indicados nos livros de

registros de hóspedes observou-se um êxodo rural em direção à cidade de São Luís e o


mapeamento dos pólos camponeses, elaborado por Feitosa 186, permitiu maior visibilidade e

alcance geográfico dos pontos de expulsão, destacando-se:

Pólos de produção de algodão e arroz na grande propriedade rural

Vale do Itapecuru - algodão

Caxias, Codó, Rosário e Santa Rita

Baixada Ocidental- arroz

Anajatuba, Arari, Itapecuru, Matinha, Palmeirândia, Penalva, Peri-Mirim, Pinheiro,

Presidente Vargas, Rosário, Santa Helena, São Bento, São Vicente Ferrer, Viana e Vitória do

Mearim.

Ilha de São Luís - produção de arroz

Paço do Lumiar, São José de Ribamar e São Luís

Pólos têxteis

Caxias, Codó e São Luís

Pólos de pequenas produções de arroz - Médio Munim

Dom Pedro, Graça Aranha, Gonçalves Dias, Governador Archer, Governador Eugênio

Barros

Alto Mearim e Grajaú

Barra do Corda, Grajaú, Sítio Novo

Região do Mearim

186
FEITOSA, Raymundo M.. O Processo Sócio-Econômico do Maranhão. Op. cit. p . 13
Bacabal, Esperantinópolis, Igarapé Grande, Joelândia, Lago do Junco, Lima Campos,

Lima Verde, Olho D’ Água das Cunhãs, Pedreiras, Pio XII, Rio das Pedras, Santo Antônio dos

Lopes, São Luís Gonzaga do Maranhão, São Mateus e São Pedro.

Região do Itapecuru e Alto Itapecuru

Buriti Bravo, Caxias, Codó, Colinas, Coroatá, Fortuna, Itapecuru, Panarama,

Passagem Franca e Presidente Vargas

Região do Pindaré

Altamira do Maranhão, Cajapió, Lago da Pedra, Monção, Paulo Ramos, Pindaré,

Santa Inês, Santa Luzia, Silva Jardim e Vitorino Freire.

Pólos de produção e extração de coco babaçu

Alcântara, Anajatuba, Arari, Bacuri, Bequimão, Cajapió, Cedral, Cururupú,

Guimarães, Matinha, Mirinzal, Palmeirândia, Penalva, Peri-Mirim, Pinheiro, Santa-Helena,

São João Batista, São Vicente Ferrer, Viana e Vitória do Mearim.

Destas cidades maranhenses, das quais se destacam Anajatuba, Caxias, Cururupu,

Guimarães, Miritiba, Rosário, Pedreiras e Viana, migraram muitas das mulheres que

encontaram no meretrício ludovicense a forma de sobreviver.

As causas e fins desse movimento, bem como o que dele decorreu, interligavam-se e

completavam-se gerando uma teia de relações que a observação da tabela contribui para

compreender.

Quadro de procedências / 1923 - 1947


Homens Mulheres
Alcântara 2 9
Amarante - 10
Amazonas - 9
Anajatuba - 20
Anapurus - 1
Anil - 8
Arari 2 6
Arayoses 1 6
Areinha (bairro) 1 5
Av. Getúlio Vargas - 6
Axixá - 7
Bacabal - 15
Bacanga - 7
Bahia - 9
Barra do Corda 1 8
Barreirinhas - 25
Batalha - 6
Belém 1 30
Belira (bairro) - 6
Bom Jesus - 6
Brejo - 7
Cajapió 2 11
Cajuá - 1
Camboa (bairro) - 6
Campo Maior - 6
Carolina - 7
Carutapera - 6
Caxias 4 80
Ceará - 50
Codó - 20
Coroatá 2 27
Cururupú 4 35
Engenho Central 1 11
Estiva - 8
Flores - 11
Floriano - 6
Fortaleza 4 13
Gameleira - 1
Goiás - 1
Grajaú - 7
Guimarães - 55
Humberto de Campos - 6
Icatú - 6
Itapecuru 1 7
Itapecurú-Mirim - 6
Jaicó - 1
Jenipaúba - 1
João Paulo (bairro) - 5
Lagoa Bonita - 6
Lisboa 1 -
Livramento - 1
Macapá - 6
Madri - 1
Manaus - 9
Mangas - 1
Marabá - 5
Maranhão - 11
Miritiba 1 20
Miritiua - 7
Monção - 1
Morros - 1
Munim 2 5
Não consta - 21
Natal - 6
Nova Iorque - MA - 3
Olinda - -
Pará 2 40
Paraíba 2 4
Parnaíba - 40
Pastos Bons - 2
Pedreiras - 30
Penalva - 2
Pensão Chicó - 5
Pensão Lolita - 7
Pensão Maroca - 1
Pensão Micaela - 2
Pensão Yayá - 1
Pernambuco - 10
Piauí - 50
Picos - 30
Pinheiro - 11
Porto (Portugal) 2 -
Porto Alegre - 1
Porto Gabarra - 2
Primeira Cruz - 2
Recife - 3
Rio de Janeiro - 4
Rio Grande do Norte 5 -
Rio são João - 2
Rosário - 40
Rua 28 de Julho - 5
Rua Afonso Pena - 1
Rua Cândido Mendes - 1
Rua Cândido Ribeiro - 1
Rua Herculano Parga - 4
Rua de São João - 4
Rua dos Afogados - 1
Rua da Palma - 1
Rua da Lapa - 2
Rua do Egito - 10
Santa Helena - 1
S. Antônio das Almas - 2
S. Antônio de Balsas - 3
São Bento 8 10
São Bernardo - 2
São Francisco (bairro) - 2
São João Batista - 2
São José - 1
S. J. de Ribamar - 9
S. J. dos Matões - 2
São Lourenço - 1
São Luís 30 60
São Luís Gonzaga - -
São Raimundo - 1
S.Vicente Ferrer - 9
Senador Pompeu - 3
Síria 2 -
Sobral 2 -
Teresina 5 60
Tibiri - 1
Tiro - 1
Tubarão - 1
Tucum - 1
Turiaçú - 6
Turú (bairro) - 3
Tutóia - 12
V. do Poço - 1
Vargem Grande - 4
Viana 8 35
Vitória - 2

Ao grande número de meretrizes estabelecidas em São Luís, alguns elementos estavam

associados. Um deles era a suposta “liberdade” que a fazia “mulher de todos”.

Porém o que mostram os campos referentes ao estado civil dos livros de registros é

que, no conjunto das meretrizes, muitas eram casadas.

Tais dados contribuem para a desarticulação das afirmativas acerca de uma inclinação

natural de determinadas mulheres para a atividade. Isso porque além de testemunhar que

pertenciam a quadros familiares, sublinha as precárias condições econômicas como

determinantes de sua forma de viver.

Não obstante, as solteiras representavam maior parcela e com relação aos homens, o

número de casados quase se igualava ao de solteiros como se pode ver no quadro abaixo.

Quadro de Estado Civil / 1923 - 1947

Homens Mulheres
Solteiro(a) 142 1605
Casado(a) 60 235
Viúvo(a) 5 15

Se a maior parte daquelas pessoas era solteira as profissões apresentavam-se dentro de

uma variedade em que, entre os homens, destacavam-se os autônomos, principalmente ligados


ao comércio e serviços187, e entre as mulheres, via de regra, as meretrizes, domésticas, artistas,

lavadeiras, cozinheiras, costureiras, gomadeiras e manicures. A presença destas últimas indica

a organização da casa em função da necessária beleza e asseio das moradoras, principalmente

das pensões.

Chama atenção o fato de não haver nenhum registro de operárias nos

estabelecimentos, quando se sabe o peso da população feminina trabalhadora na indústria. 188

Deve-se destacar a existência de uma clara distinção entre os estabelecimentos “de

meretrizes” e os “familiares”. Verificou-se, porém, que no caso dos primeiros as

nomenclaturas dadas à atividade das mulheres era diferenciada. Utilizavam como termos:

meretriz, mundana ou “doméstica”. A julgar pelo registro do estabelecimento na polícia, como

“casa ou pensão de meretrizes”, o termo doméstica aglutinava inúmeros significados, dentre

os quais meretriz.

Como se observa na tabela abaixo, havia inúmeras atividades masculinas e poucas

femininas, sendo que a semelhança comum a elas era o fato de não serem empregos fixos.

Quadro de profissões / 1923 - 1947

Homens Mulheres
Agricultor 1 -
Alfaiate 5 -
Ambulante 2 -
Armazenista 1 -
Artista 2 1
Auxiliar de carpina 2 -
Auxiliar de comércio 3 -
Barbeiro 2 -
Barqueiro 2 -

187
Outras profissões podem ser observadas no livro de registro do Hotel Central, no período de 1919 – 1920 e
1934-1940, nos quais é surpreendente o número de engenheiros e médicos que circulam por São Luís, muitos
dos quais eram estrangeiros.
188
É provável que muitas operárias fossem moradoras dos estabelecimentos “familiares”, que embora tivessem
livros de registros de hóspedes, não sofriam intervenções policiais.
Caixeiro mercador 1 -
Calafate 1 -
Caldeireiro 2 -
Carpina 6 -
Carpinteiro 2 -
Carregador 10 -
Carreiro 3 -
Carroceiro 2 -
Catraeiro 2 -
Charuteiro 3 -
Chauffeur 1 -
Comandante 2 -
Costureira 3 -
Doméstica - 1158
Embarcação 1 -
Encarregado de 2 -
comércio
Engraxate 3 -
Estivador 7 -
Foguista 1 -
Funcionário público 2 -
Gomadeira 4 -
Lavadeira 3 -
Maleiro 1 -
Manicure - 5
Marceneiro 6 -
Marítimo 24 -
Mendigo 10 -
Meretriz - 510
Militar 3 -
Modista - 1
Mundana - 320
Negociante 6 -
Nenhuma 10 -
Operário 27 -
Ourives 1 -
P. mercador 3 -
Pedreiro 10 -
Pescador 3 -
Pintor 5 -
Remador 4 -
Sapateiro 3 -
Serviços braçais 3 -
Serviços domésticos 1 -
Taberneiro 2 -
Trabalhador 5 -
Trabalhador braçal 33 -
Transporte de 3 -
caminhão
Trapicheiro 5 -

Como se pode notar era uma população em atividade e tal dado se confirma quando

foi observada a estrutura etária dos hóspedes das pensões, casa – de – cômodos e hospedarias.

Os registros indicam que a faixa média girava em torno de 20 a 30 anos. A idade dos

homens era ligeiramente superior à das mulheres, 30 a 40 homens / 20 a 30 mulheres e se a

presença de idosas era incomum, algumas tinham idades que variavam de 15 a 17 anos.

Quadro médio de idades / 1923 - 1947

Homens Mulheres
30 anos 23 anos

Controladas, as pensões e hospedarias registravam seus hóspedes nos livros tal como

obrigava a lei de 1932, embora nem sempre cumprissem a exigência mês a mês.

Em alguns, a ocorrência de registros esparsos mostra que nos meses onde a listagem

de hóspedes era feita, a polícia ali incluía vários carimbos de vistos com datas dos meses

suprimidos. Estaria a regularização, e conseqüentemente o funcionamento normal do

estabelecimento vinculada a práticas de suborno?

Algumas casas, porém, como a de Lolita L., tinham registros e eram vistoriadas

assiduamente pelas autoridades policiais o que leva a questionar se havia um controle maior

em determinadas casas.
Confirmando o número superior de mulheres em relação aos homens, os

estabelecimentos tinham como média mensal de 5 a 15 hóspedes, meretrizes.

Ao contrário dos casos observados no Rio de Janeiro e São Paulo, no mesmo período
189
no Maranhão eram raros os casos de hóspedes vindos do exterior . De 1923 a 1947

registram-se apenas 5 casos de estrangeiros, respectivamente 3 portugueses, 1 sírio e 1

espanhola.

No que se refere ao tempo de permanência das pessoas nas casas calculou-se o período

com base nas datas de entrada e saída. Como os registros deste campo mostraram-se

freqüentemente falhos não foi possível um levantamento de todos os estabelecimentos,

todavia, do que se apurou destaca-se, além do contingente muito maior de mulheres, um

tempo de hospedagem que girava em torno de 1 a 2 meses. E em função de muitos nomes não

terem sido localizados em outras casas ou pensões, e seu destino posto como “ignorado”,

supõe-se terem voltado ao lugar de origem com a finalidade de levar dinheiro. No entanto

quando estes campos eram preenchidos possibilitavam ver que voltavam para seu local de

origem ou se mudavam para outro estabelecimento de igual função.

Considerações finais

189
Registros de estrangeiros em São Luís podem ser observados no livro de hóspedes do Hotel Central,
,localizado no Arquivo do Estado do Maranhão e datado de 1919-1934, no qual constam a presença de inúmeras
profissões e procedências, das quais se destacam engenheiros e artistas vindos da França e Inglaterra. Tal livro
não fora utilizado nesta pesquisa por não constar do controle policial e não trazer mulheres cujas profissões
fossem domésticas ou meretrizes.
As últimas décadas do século XX promoveram não apenas a ampliação dos eixos

temáticos, mas uma intensa transformação na ótica analítica da história, ampliando

sobremaneira seu conhecimento.

Ao romperem com o conhecido e desmontarem o passado criado, possibilitaram a

emergência de novos campos, resgatando do silêncio e das esferas invisíveis sujeitos

anônimos, que nesta pesquisa se apresentam nas meretrizes.

É verdade que a prostituição sempre existiu e, desde a antigüidade, teve os mais

diversos historiadores e leituras. Não há como negar que “desde sempre”, desde que o

homem é homem, por assim dizer, mulheres e homens têm vendido seus corpos, todavia,

como sentencia Laure Adler190, para a França, e em cujo aspecto muito se assemelhou o

Brasil, no século XIX a prostituição sofreu uma mudança de estatuto, ou de natureza, em que

as opiniões foram unanimemente partilhadas por médicos, moralistas, policiais, advogados e

todos que se julgavam responsáveis pela missão de zelar pela “boa ordem social”.

Embora no mesmo contexto dos inquietantes discursos e práticas profiláticas, o

Maranhão diferenciou-se de locais como Rio de Janeiro e São Paulo. Nestes, a prostituição

via-se muitas vezes ligada a redes internacionais de tráfico de mulheres, já no caso

maranhense a trajetória das meretrizes, na primeira metade do século XX, esteve diretamente

atrelada às alterações econômicas do campo.

A crise da agroindústria algodoeira e açucareira, evidenciada em fins do XIX,

encontrava na implantação das têxteis, a alternativa frente ao desastre econômico que se

anunciava. Instaladas nos principais núcleos urbanos maranhenses utilizavam, nas estratégias
190
Adler, Laure. A Vida Nos Bordéis de França, 1830-1930. op. cit. pp. 09 -10.
de lucratividade, cerca de 70% de mão-de-obra feminina, que não tardou chegar na cidade de

São Luís em número fatalmente superior àquele demandado pelas fábricas.

O contingente populacional era dilatado, de modo especial nos bairros da Praia Grande

e Desterro, acelerando modificações nas formas de habitar e conviver. Os casarões, antes

morada de ricos senhores do algodão e comerciantes, passavam a servir de casas-de-cômodo,

hospedarias, hotéis, pensões e cortiços às pessoas que chegavam, sendo que grande parte dos

estabelecimentos voltavam-se para a prática do meretrício.

A par daquele movimento, intensificavam-se os argumentos em defesa da

modernização, civilização e desenvolvimento, onde a ordem pública era o objetivo a ser

alcançado.

No esquadrinhamento da cidade e na detecção de seus “territórios doentes”, os locais

de concentração de pessoas logo foram apontados como foco de problemas. Leis, decretos,

notas em jornais entre outros, tudo concorria para a construção da cidade higienizada onde o

meretrício, entendido como ponto de infecções físicas e morais, era um dos principais alvos

das políticas normatizadoras.

Nesse sentido, em princípio de 1919 o Governo maranhense impôs a lei n°862 cujo

objetivo era o conhecimento e controle das pessoas que chegavam e se hospedavam nas

pensões, casas-de-cômodos e similares.

Outras medidas se seguiram com o intuito de assegurar a “moralidade pública”, assim

a partir de 18 de Setembro de 1931, por ordem do delegado do 2° e 3° distritos, todas as

meretrizes de São Luís, incluindo as donas das casas, passariam a ser identificadas com uma

caderneta cujo número indicava seu registro na polícia.


Foi com o Decreto de 4 de Abril de 1932 que os contornos e práticas do controle

social ludovicense viram-se acentuados. A preocupação em conhecer os indivíduos que

transitavam pela cidade era revigorada pela ideologia varguista de valorização do trabalho.

A vigilância aos livros de registros de hóspedes também fora intensificado pelas

autoridades policiais, que periodicamente vistoriavam os “mapas” dos respectivos

estabelecimentos.

Às pensões, casas-de-cômodo e hospedarias onde viviam aquelas mulheres, eram

atribuídas classes, e de acordo com estas, os valores dos impostos eram cobrados e se não

pagos tinham a licença de funcionamento suspensa. Isso leva a considerar inclusive a

rentabilidade econômica do meretrício para o Estado.

Ainda que inúmeras casas fossem exclusivamente de meretrizes, em outras tantas

misturavam-se a elas gomadeiras, lavadeiras, costureiras, marítimos, funcionários públicos,

remadores, engraxates, caldeireiros, sapateiros, alfaiates, barqueiros, carpinas, estivadores,

pintores, mendigos, carregadores, pedreiros, operários, ambulantes, charuteiros, negociantes,

barbeiros, etc. .

As relações eram constantemente marcadas pela violência como bem mostraram os

livros de registros de queixas. Também foi possível perceber formas de falar, de tratar, de

vestir das meretrizes e identificar alguns objetos comuns de uso. Igualmente possível foi

observar a existência de outros locais dedicados ao meretrício cujos livros não foram

localizados no Arquivo Público do Estado do Maranhão.


Desse modo, ao se problematizar o tema neste trabalho, foi a história das mulheres das

camadas populares que se buscou enfatizar, pois mesmo quando se tratava da prostituição de

luxo, eram, em grande parte dos casos, as das classes mais baixas que nela atuavam.

Mas o eixo central em que se ancorou a pesquisa foi a percepção, pelo viés

demográfico, de quem eram aquelas mulheres que migraram para a cidade a partir das

primeiras décadas do XX, por que vieram e como foram pensadas pelos poderes disciplinares

urbanos. Nos livros de registro de hóspedes, o fluxo migratório revelou-se, permitindo

conhecer, pelo menos em parte, quem eram, de onde vinham, quantos anos tinham, se eram

casadas, solteiras, viúvas ou separadas, onde se instalavam, quanto tempo ficavam, para onde

seguiam, etc.191

Assim, ainda que pelas vozes do poder, a significativa e minuciosa documentação

sobre a prostituição em São Luís, possibilitou reconstruir sua história ou pelo menos, parte

dela.

No Brasil, a prostituição e seus sujeitos, perpassaram os momentos históricos desde a

colonização portuguesa e continuam sendo elementos presentes na sociedade como apontam

os dados da Fundação Helsinque de Direitos Humanos 192 que coloca esse país no topo do

ranking sul-americano de “exportadores de mulheres para exploração sexual”. Também a

crescente prostituição infantil, principalmente em áreas de fome193; o avanço de Dsts, com

191
É importante destacar a importância da demografia histórica como norteadora das observações decorrentes
dos dados contidos nos livros de registros de pensões e hospedarias.
192
Jornal Folha de São Paulo, 29/11/2000, p. A9.
193
Ver a notícia Fim de cestas pode acirrar tensão no NE, Jornal Folha de São Paulo, 28/11/2000, p. A - 5 na
qual Sérgio Miranda, prefeito de Panelas (PE), declara que em função do corte no fornecimento de cestas básicas
“podem ocorrer aumento da migração, da criminalidade e da prostituição infantil”.
destaque para AIDS; os rotineiros casos de violência contra prostitutas e a disputa de espaços

nas casas noturnas entre as, chamadas, “patricinhas” e as garotas de programas.

Espera-se que a abordagem deste trabalho possa contribuir para o debate e

alargamento dos estudos sobre os papéis sociais femininos, suas arquiteturas, imagens e

condições.

Amanheceu...
apenas a brisa de São Luís faz companhia às ruas, ainda desertas... e enquanto as luzes

das pensões e hospedarias se apagam um novo dia vem surgindo trazendo outros homens,

carícias, navalhadas, sonhos, frustrações, enfim...outras histórias de meretrizes... .

Marize Helena de Campos.

ANEXO

Ruas:
Indicador Maranhense. L. Borba Santos. Associação Comercial do
Maranhão. 1947.
Cidade de São Luiz: Ruas, Avenidas, Praças, Travessas, e becos de São
Luiz com suas denominações antigas e modernas.
Antigas Modernas
R.Grande R.Osvaldo Cruz
da Paz Cel.Colares Moreira
do Sol Nina Rodrigues
de Santana José Augusto Corrêa
do Rancho
Fonte das Pedras Regente Bráulio
de Santo Antonio Tte. Mario Carpenter
da Misericórdia
da Tapada Coelho Neto
do Marajá Viana Vaz
do Precipício
da Independência
do Quebra-Costa João Vital
da Caela Maranhão Sobrinho
das Minas Dr. Cesar Marques
das Laranjeiras Dr. Domingos Barbosa
do Deserto
Direita Henriques Leal
do Portão Oscar Galvão
Caminho da Dr. Manoel J. Ferreira
Boiada
Fonte do Bispo
das Cajaseiras Dr. José Barreto
de São Tiago
da Palha Casemiro Junior
do Gavião Av.Municipal
da Concórdia Vespasiano Ramos
da Viração Carvalho Branco
dos Afogados José Bonifácio
Senador João Pedro
da Cascata Jacinto Maia
das Barrocas Isaac Martins
do Passeio Rodrigues Fernandes
do Egito Tarquínio Lopes
do Outeiro
da Alegria Cel. Manoel Inácio
das Hortas Siqueira Campos
Santa Rita Almir Nina
São João Antonio Rayol
da Manga José Candido de Morais
da Barraquinha Frederico Figueira
da Madre Deus Candido Ribeiro
de Santaninha Salvador Oliveira
do Norte F. Marques Rodrigues
dos Remédios Rio Branco
da Palma Herculano Parga
do Ribeirão Paula Duarte
de Santana(cont.) 14 de Julho
do Giz 28 de Julho
do Apicum
Major Colares Moreira
Vitor Castro
do Poço do Machado
dos Barqueiros Luzia Bruce
da Inveja Belarmino de Matos
de Nazaré Joaquim Távora
do Mucambo José do Patrocínio
da Saúde José Eusébio
Travessa da Virgílio Domingues
Passagem
da Calçada Djalma Dutra
da Saavedra Jansen Matos
do Alecrim Euclides Faria
da Cotovia João Henrique
Nova Dr.Leôncio Rodrigues
das Flores Aluizio Azevedo
dos Craveiros Percira Rego
do Coqueiro Otavio Correa
da Mangueira Artur Azevedo
Estrela Candido Mendes
do Pespontão Teixeira Mendes
do Trapiche Portugal
São Pantaleão Senador Costa Rodrigues
da Cruz 7 de Setembro
São João 13 de Maio
do Veado Celso Magalhães
Formosa Afonso Pena
dos Prazeres Silva Jardim
Largo do Carmo Pça. João Lisboa
Benedito Leite
Pça de Santaninha
Pça 13 de Maio
Pça da Cadeia da Justiça
Largo de Santo Antonio Lobo
Antonio
Pça da Dr. Afonso
Misericórdia
do Quartel da Luiz Domingues
Polícia
Pça do Quartel Pça Deodoro
da Alegria
do Ribeirão
do Desterro
Pça dos Remédios Pça Gonçalves Dias
de São Pantaleão Damasceno Ferreira
Largo do Cemitério da Saudade
Pça de São João
Travessa do Couto
Travessa do Silva
Travessa das Domingos Barbosa
Laranjeiras
da Sé D. Francisco
do Vira Mundo Tv do Comércio
da Fluvial Tv da Boaventura
do Teatro R. Godofredo Viana
do Monteiro
da Lapa
do Palácio
da Trindade
do Seminário R. Padre Antonio Vieira
Cazuza Lopes R. 18 de Novembro
do Rancho
Av. Beira-Mar Av. 5 de Julho
Maranhense Pedro II
Gomes de Castro
Silva Maia
João Pessoa
Beco da Alfândega R. Marcelino Almeida
Beco Escuro
Montanha Russa Newton Prado
Praia do Genipapeiro
Praia Grande
Praia do Dique
Praia do Desterro
Praia da Madre Deus
Campo do Ourique Parque Urbano Santos
Pque. 21 de Abril
Cais da Sagração
Rampa de Campos Melo
Cunha Santos
do Palácio
das Palmeiras
Cais da Sagração Av 5 de Julho
Magalhães Almeida 10 de Novembro
R. Grande Getúlio Vargas
Gomes de Castro
Madre Deus Municipal
Largo do Palácio Pedro II
Silva Maia
Pça da Misericórdia Pça Dr. Afonso
do Santo Antonio Antonio Lobo
do Jardim Benedito Leite
Clodomir Cardoso
Largo da Cadeia Comte. Castilhos
do Comércio
de São Pantaleão C. Damasceno Ferreira
Largo do Quartel Deodoro
do Desterro
Pça Duque de Caxias
Fonte das Pedras
Largo dos Remedios Gonçalves Dias
do Carmo João Lisboa
do Quartel de Polícia Luiz Domingues
Mercado Novo
Mercado Velho
Odorico Mendes
Campo d'Ourique Pque. Urbano Santos
Santiago 1 de Maio
15 de Novembro
dos Remédios
da República
do Ribeirão
de Santaninha
de São João
do Cemitério da Saudade
Formosa Afonso Pena
de Santa Rita Almir Nina
das Flores Aluizio Azevedo
de São João Antonio Rayol
do Apicum
da Mangueira Artur Azevedo
da Independencia Barão de Itapary
da Inveja Belarmino de Matos
de Campos Melo
da Palha Casemiro Junior
da Viração Carvalho Branco
da Estrela Candido Mendes
do Veado Celso Magalhães
Beco das Minas Dr. Cesar Marques
R. da Tapada R. Coelho Neto
da Paz Cel. Colares Moreira
da Alegria Cel. Manoel Inácio
do Deserto
18 de Novembro
da Calçada Djalma Dutra
Tv. das Laranjeiras Tv das Laranjeiras
Beco da Sé D. Francisco
Rua do Alecrim Euclides Faria
do Norte Marques Rodrigues
Fonte do Bispo
das Barraquinhas Frederico Figueira
Tv.do Teatro Godofredo Viana
Graça Aranha
R. Direita Henriques Leal
da Palma Herculano Parga
das Barrocas Isaac Martins
da Cascata Jacinto Maia
da Saavedra Jansen Matos
da Praia de Santo Jansen Muller
Antonio
da Cotovia João Henrique
dos Educandos João Luiz
Tv do Quebra- Costa João Vital
R. de Nazaré Joaquim Távora
de Santana José Augusto Corrêa
das Cajaseiras Dr. José Barreto
dos Afogados José Bonifácio
da Manga José Candido de Morais
da Saúde José Eusébio
do Mucambo José do Patrocínio
Nova Dr. Leôncio Rodrigues
Misericórdia Lucano dos Reis
dos Barqueiros Luzia Bruce
do Poço do Machado
Major Colares Moreira
Caminho da Boiada Dr. Manoel J. Ferreira
da Caela Maranhão Sobrinho
Beco da Alfandega Marcelino Almeida
de Santo Antonio Tte. Mario Carpenter
Tv. da Intendência Newton Prado
R. do Sol Nina Rodrigues
Tv. do Portão Oscar Galvão
Rua Grande Osvaldo Cruz
do Outeiro
Tv do Seminário Padre Antônio Vieira
Rua do Ribeirão Paula Duarte
dos Craveiros Pereira Rego
do Trapiche Portugal
Praia do Desterro
do Precipício
de Santana 14 de Julho
do Rancho
Fonte das Pedras Regente Bráulio
Ribeiro do Amaral
dos Remédios Rio Branco
do Passeio Rodrigues Fernandes
de Santaninha Salvador Oliveira
Sant'Iago
de São Pantaleão Senador Costa Rodrigues
Senador João Pedro
R. da Cruz 7 de Setembro
dos Prazeres Silva Jardim
das Hortas Siqueira Campos
do Egito Tarquínio Lopes
do Pespontão Teixeira Mendes
de São João 13 de Maio
da Concórdia Vespasiano Ramos
do Marajá Viana Vaz
Victor de Castro
do Giz 28 de Julho
28 de Setembro
23 de Novembro
Travessa da Virgílio Domingues
Passagem
Trav da Fluvial Tv do Boaventura
Tv Feliz
Jaú
do Palácio
do Portinho
da Prensa
do Silva
da Trindade
ZONA PROLETÁRIA
Av.Santa Bárbara Bairro da Madre Deus
do Leopoldo rua 1
Bairro do rua 2
Codozinho
Rua Azul rua 3
Anil rua 4
Beija rua 5
Belira Pau D'Arco
Branca São José
Creme Av. Rui Barbosa
Parda Presidente Vargas
R. Nova R. Verde
1 de Janeiro Camboa do Matos
1 de Maio Rua da Camboa
do Paraíso Camboa do Mato

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