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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
2001
1
Pesquisa Premiada com 2º. lugar no 30º. Concurso Literário Cidade de São Luís / categoria Antônio Lopes –
erudição 2007
E de repente uma voz de mulher, por cima do muro do cais:
Ele ergueu o olhar, deu com uma figura miúda, morena, muito pintada, os cabelos apanhados para
trás, dois brincos pendentes das orelhas descobertas, os seios fartos querendo saltar do decote da blusa. Logo
reconheceu a Loló Maresia, que à noite recolhia os seus homens na calçadas do cais, só se deitando com
barqueiros, marinheiros e pescadores. E quando chegou lá no alto, subindo de dois em dois os degraus da
escada, com o maço de cigarros na mão, viu-a rir alto, atirando para trás o busto franzino.
_ Cigarro eu já tenho e estou fumando. O que eu queria era que tu subisses. Já me deitei com teu pai,
Embora já se haja passado mais de sessenta anos desse encontro, Mestre Severino como que ainda
sente o seio rijo de Loló Maresia roçar-lhe o braço, e vai andando com ela, levado pela calçada estreita, e
contorna o velho mercado, e sobe devagar a ladeira escura. Revê a sala apertada, o sofá de palhinha, uma
porta aberta para o quarto contíguo, a cama de ferro que range alto como se fosse partir. A luz de uma
lamparina vem do quarto para a sala, e ele dá por si no espelho oval da parede, em mangas de camisa, os pés
nas alpercatas de couro, as calças de mescla. O suor lhe desce da testa, seu coração parece que lhe vem à boca.
Ao fundo da casa, Loló canta baixinho, como num acalanto de mãe com o seu menino, e a água do chuveiro cai
forte sobre seu corpo. E é ainda molhada, só com a toalha de felpo passada na cintura, que ela reaparece no
Quase uma hora depois, quando Severino começou a vestir-se com uma ponta de pressa, ela lhe disse,
_ Não precisa correr, Cabelo de Fogo. Teu pai sabe que tu veio comigo. E não precisa me pagar que ele
Summary
2
MONTELLO, Josué. Cais da Sagração. RJ: Nova Fronteira, 1981, p. 234-235.
By the end of the 19th and at the beginning of the 20th century, the city of São Luis
went through changes due to the industrial growth which was a consequence of the grave
The city and the recently founded factories attracted, and became the shelter of a
We could highlight, during this migratory movement the considerable increase in the
number of women working in the textile industry – approximately 70% of the workforce was
composed by them.
In this sense, this research has the objective of analyzing, on one hand, the relationship
between the places from where rural people were expelled and the growth of brothels, and, on
other hand, how the politics of social prophylactic measures which has accompanied the
urbanization process soon began to implement laws and decrees and made speeches that
aimed at creating a civilized, organized, clean and controlled society and mainly notice,
Resumo
Na virada do século XIX para o XX, a cidade de São Luís modificou-se em função do
mulheres, certamente atraídas pelo aceno das têxteis onde 70% da mão-de-obra empregada
era feminina. Nesse sentido, a pesquisa tem como objetivo: observar as relações entre os
prática leis, decretos e veiculou seus discursos na busca de uma sociedade “civilizada”,
Sumário
Introdução... anoiteceu
Parte I – “Engano d’alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito”3
do século XX
e ocorrências
Parte III – Francisca P., Honorina C., Lolita L. e outras damas de São Luís do
Maranhão.
Fontes
Bibliografia
Agradecimentos
pesquisa.
Aos meus pais Josemir Ferraz de Campos e Yvone Mendes Pinto Campos, educadores
Ao meu filho Renato de Campos, que na sabedoria de seu mundo de criança foi a
Ao amigo Manoel de Jesus Barros Martins, reponsável pelo meu encontro com as
“Maripozas”.
A amiga Profª. Iracy Malheiros, leitora rigorosa e atenta que em sua “oficina” lapidou
CEDHAL, por todo apoio nestes anos de convivência em especial à Vilma Laurentino Paes e
Estado do Maranhão meu muito obrigado, em especial à Mundinha Araújo pelo desvelo
cidade.
calarão.
órgão financiador deste trabalho, sem a qual sua realização ver-se-ia seriamente
comprometida.
terem aceitado o acúmulo de tarefas a fim de possibilitar minha vinda para a USP. Minha
Introdução
povo, os estudos sobre a História do Maranhão vêm nos últimos anos contemplando aqueles
A História, até então vista de cima, passou a caminhar por novas trilhas, sinalizadas
Pouco se sabe, para citar alguns exemplos, sobre Bárbara de Brito, provavelmente a
primeira mulher, no Maranhão, a pedir divórcio. Seu processo, datado do início do XVIII é,
até o momento, o mais antigo já localizado no Arquivo Público do Estado do Maranhão, onde
Sobre negra forra Catarina Rosa de Jesus, “Catarina Mina”, por muitos chamada
“Chica da Silva do Maranhão” e que, hoje, dá nome ao beco onde residia e negociava em rico
casarão, também existem poucas linhas e nenhum estudo sobre a sua importância no contexto
escravocrata ludovicense.
4
Destacamos: CORREIA, Maria da Glória G.. NOS FIOS DA TRAMA: Cotidiano e Trabalho do Operariado
Feminino em São Luís na Virada do Século. Dissertação de Mestrado. Centro de Estudos Gerais. Instituto de
Ciências Humanas e Filosofia. Curso de História. Universidade Federal Fluminense. Niterói. 1998. / SILVA,
Dalmiran Colaço. Pensões e Casas de Cômodos: observações acerca da prostituição em São Luís no período de
1940-1947. Monografia de Conclusão de Curso. Centro de Ciências Humanas. Departamento de História.
Universidade Federal do Maranhão. 1999. / MORAIS, Eva A. de. A dissolução dos laços matrimoniais: conflitos
e tensões na família maranhense no século XIX. . Monografia de Conclusão de Curso. Centro de Ciências
Humanas. Departamento de História. Universidade Federal do Maranhão. 2000 / SILVA, Rosiana F. A família
possível: relações concubinárias no Maranhão setecentista (1740-1800). Monografia de Conclusão de Curso.
Centro de Ciências Humanas. Departamento de História. Universidade Federal do Maranhão. 2000 / SILVA,
Maria Lucilene da. O amor que mata: violência contra a mulher em São Luís do Maranhão. . Monografia de
Conclusão de Curso. Centro de Ciências Humanas. Departamento de História. Universidade Federal do
Maranhão. 2000
Já sobre Ana Joaquina Pereira Jansen, mulher que viveu no século XIX e ocupou
porém, necessidade de outras análises que feitas à luz da História possam refletir sobre suas
participação das mulheres na Balaiada, sobre as noviches e nochês dos terreiros de mina,
membro do círculo literário ludovicense no século XIX e sobre as prostitutas que povoaram as
casas e pensões da Praia Grande em São Luís na primeira metade do século XX. Na busca de
Sobre o tema
Pensada como uma contribuição aos estudos da História Social do Maranhão esta
meretrizes.
A idéia é mergulhar na São Luís da primeira metade do século passado e remontar seu
5
Ver: MORAES, Jomar. (org.) Ana Jansen, Rainha do Maranhão. São Luís-MA: Edições da Academia
Maranhense de Letras, 1989. / JANOTTI, Maria de Lourdes M.. Três Mulheres da Elite Maranhense. In: Revista
ANPUH, SP: Contexto, vol. 16, n° 31 e 32, 1996.
urbano (dos casarões solarengos, que abrigavam os senhores do algodão, para os cabarés) e a
significativo número para a cidade, como foi desenhado o espaço destinado ao meretrício,
como o Estado intervinha no seu cotidiano e quais os elementos que pautavam seus discursos
Vargas, voltou-se para a formação de uma consciência nacional onde a família, o trabalho e a
prostituição era apontada como uma das suas faces, discutiam formas de higienização e
controlado pela polícia, das pessoas que chegavam e se hospedavam em pensões, casas-de-
cômodos e similares.
ocupavam o bairro da Praia Grande e Desterro indicavam que grande parte daqueles que
vinham para a cidade, atraídos pelo ilusório aceno das fábricas, eram mulheres.
pessoas que circulavam pela urbes tanto que, em 4 de Abril de 1932, o Diário Oficial do
cidade, eram imprimidas, aos locais, características específicas que deles revelavam os
problemas a solucionar.
Em meio às tabernas, charutarias, vendas de secos e molhados, botequins etc., estavam
nos livros de registros de queixas e que tornaram possível percorrer o cenário por onde as
pretende é compreender como ela foi construída e codificada e como os órgãos do Governo,
Corpo Documental
Com exceção dos jornais, que se encontram no setor de obras raras da Biblioteca
Estado do Maranhão. Estes foram localizados no setor dos códices, série registros da
mofos e muita poeira, se não tratados, correm sério risco de inutilizarem-se em curto espaço
de tempo.
mulheres, principalmente vindas do campo, para a cidade de São Luís. Quatro elementos ali
apresentaram a partir de então, a criação de um parque têxtil concentrado em São Luís (cuja
mão de obra feminina representava 70% dos trabalhadores) e a localização central da zona
regularmente vistoriados pela polícia. Constam listas nominativas das prostitutas (centenas de
mulheres e algumas dezenas de homens, muitos seguidos por apelidos); naturalidade (pela
qual foi localizada uma estrangeira, sendo as demais brasileiras); idade (que tornou possível
traçar um quadro das faixas etárias predominantes entre as meretrizes); estado civil (o que
demonstra não ter sido raro a existência de meretrizes casadas); profissão (aparecem
e incidência dos pontos de expulsão); destino (aparecem tanto cidades quanto pensões para
onde se dirigia a meretriz quando de sua saída da casa) favorecendo um quadro da mobilidade
permanência das pessoas) e, por vezes, sinais característicos (embora raros, quando aparecem
impostos, não encontrados nos demais. Neles estão indicadas a quantia paga ao mês pela
pensão, a qual classe pertencia (1ª, 2ª ou 3ª) bem como pensões que tiveram sua licença
suspensa por não haverem pago o referido tributo. Ao conhecer os encargos de cada casa,
como meretrizes e a “Madame”. Raras eram as pensões que apresentavam homens na lista de
“hóspedes”, todavia o livro dedicado à pensão “Santos” indica que conviviam no mesmo
As hospedarias tinham, por vezes, outros moradores além das meretrizes, eram mais
homens as gerenciando.
trabalhadores.
“familiar” para a casa-de-cômodo de Raimundo M., uma casa inserida na categoria de casa de
particulares de cada um dos seus hóspedes que eram, dentre outros, mendigos e meretrizes.
7
Existem casos de casa-de-cômodo de 1° classe, como a de Honorina Canavieira.
Foram levantados, ainda no livro de registro dos mapas semanais e vistos e no livro de
Livro de registro da hospedaria “Justina”. O livro traz um elemento não verificado nos
outros. Os codinomes das meretrizes: Chiba, Iracema, Maria Fuzarca, Didi, Noca e Maria
tatear mais elementos do espaço privado daquelas mulheres e penetrar mais fundo naquilo
que se traduzia em suas particularidades a partir de seus perfis físicos e, por que não,
psicológicos.
Este é o mais antigo livro localizado. Demonstra ser mais um daqueles a que se tem
semelhantes a uma espécie de fichário já que constam por volta de 250 nomes de meretrizes,
página foi dedicada a uma hospedaria. Apenas 2 pensões aparecem nele registradas: pensão
exclusivamente de meretrizes. Indica também hospedarias que não constam naquele conjunto
Ruas. A preocupação em levantar fontes que falem sobre as ruas reside no fato de não
haver equívocos quanto à localização dos estabelecimentos já que em São Luís do Maranhão
é muito comum que a mesma rua se apresente com dois nomes diferentes. 8 (ver planilha em
anexo)
partir de um elenco de motivos pelos quais as mesmas eram presas ou intimadas permitindo
“senhoras”.
Dos jornais foram retirados importantes subsídios para a compreensão do tema, haja
vista trazerem informações não encontradas nas outras fontes. Recuperando elementos da
história do meretrício em São Luís, a imprensa serviu de canal de expressão dos partidários da
8
Cidade de São Luís: ruas, avenidas praças, travessas e becos de São Luís com suas denominações antigas e
modernas. In; Indicador Maranhense. L. Borba Santos. Associação Comercial do Maranhão, 1947.
Foram utilizados os Jornais “O Globo”, “Tribuna do Povo”, “A Hora”, “O Imparcial” e
Desse modo, ainda que por entre mitos e estereótipos, distorções e preconceitos da
pessoas presentes e não vistas. E, ao fornecer dados sobre mulheres da região nordeste,
contribuiu para que parte de suas trajetórias fossem resgatadas: trajetórias ainda tão pouco
conhecidas.
Metodologia
Este estudo pode ser caracterizado como uma interface da história das mulheres com a
praticamente recenseadas).
9
É importante ressaltar que todas as transcrições documentais seguiram fielmente o original. Nenhuma alteração
fora realizada para que as formas e essências dos discursos fossem conhecidas em sua totalidade.
Mês a mês o “proprietário” do estabelecimento apresentava, no rigor dos detalhes, a
lista de hóspedes. Ao serem levantadas estatísticas de quantos anos tinham, de que cidades
vinham, se eram solteiras, casadas, viúvas, etc., como registravam sua “profissão” 10
São Luís, confirmando uma grande mobilidade populacional, intra e extra-regional ocorrida
casa, as naturalidades, idades, estado civil, profissões, procedências, datas de entrada e saída,
Desse modo, o método com que se tem trabalhado consiste em extrair dos livros
mulheres maranhenses, em direção a São Luís no início do século passado não fossem as
informações dos livros. Todavia, o confronto dos dados com as mudanças estruturais na
economia só foi possível feito sob o viés demográfico, pois a importância daqueles fluxos
Os Capítulos
Os três capítulos, que compõem o estudo, abordam a prostituição em São Luís entre os
anos de 1924 a 1947 e são dedicados a conhecer este aspecto ainda pouco conhecido da
história social ludovicense que envolve: a demarcação do espaço urbano, as relações com o
intelectuais entre outros, a prática do meretrício espalhou-se pelas ruas da área central da
eram controladas pelo Estado a partir dos locais de moradia. Ao indicar nome, idade,
profissão, estado civil, procedência, destino, data de entrada e saída bem como sinais
social.
Assim, a perspectiva adotada para este trabalho, pretende estabelecer uma análise
pela ABEP, IUSSP e CELADE, reunindo trabalhos apresentados no Congresso sobre a História da População da
América Latina, Ouro-Preto, MG de 02 a 06 de Julho de 1989.
O primeiro capítulo, “Engano d´alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar
transformações por que passou a cidade de São Luís na primeira metade do século.
O primeiro subcapítulo:
Isso porque, no imediato declínio daquela, foram implantadas fábricas concentradas na cidade
de São Luís, onde nas têxteis, a utilização da mão-de-obra, chegava a ser 70% feminina o que
certamente serviu de chamariz para muitas mulheres que no campo passavam por severas
uma massa excluída que pode explicar o alto número de casas de meretrizes.
Aponta que com o movimento migratório que toma vulto no início do século, a cidade
com relação às formas de morar, levando a política de profilaxia social que acompanhava os
tornava-se um dos principais alvos dos que bradavam a favor de uma sociedade “civilizada”,
nacional e verificar como a pesquisa “Maripozas” nela está inserida. Pretende, ainda, observar
ocorrências faz fluir as histórias das meretrizes a partir dos registros de queixas e ocorrências.
participantes da vida das meretrizes como a violência, o cenário em que viviam, as pessoas
com as quais se relacionavam, o que possuíam, falas, formas de vestir, etc. As queixas e
ocorrências permitem capturar fragmentos que revelam o pulsar da vida nas casas.
No terceiro e último capítulo, Francisca P., Honorina C., Lolita L. e outras damas de
12
GOFFMAN, Ervirg. Estigma. RJ: Ed. Guanabara, 1988.
O primeiro subcapítulo, Pensões, Hospedarias e Casas de Cômodos... Adentrando os
espaços de convívio trata das configurações das casas e hospedarias, destacando suas
quadros demográficos.
...Quanto do algodão
teceu tua glória,
fios que hoje são
cortina ilusória
que o vento esfiapa
e te põe despido,
fora do teu mapa
e posto no olvido.
E quanto igualmente
de açúcar fez doce
a amarga semente
que a vida trouxe.
Quanto verde havia
nos canaviais,
esperança guia
de ventos gerais
e doçura amiga
que vinha adoçar
a tua fadiga
de chão e de mar.
Quanto tu colheste
da terra e do sonho,
para hoje ter este
destino tristonho.
Chão da Praia Grande
deixa que, em poeira,
teu tempo desande
até onde queira
e que teu passado
não fique senão
como um pó dourado
sobre a solidão.13
(José Chagas)
Parte I. “Engano d’alma ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito”14
13
CHAGAS, José. Chão da Praia Grande. In: Apanhados do chão. São Luís: EDUFMA, 1994, p. 48-49.
14
MEIRELES, Mário Martins. História do Maranhão. São Luís-Maranhão. Op. cit. 1980, p. 351.
1.1. Farrapos de algodão: observações acerca da economia maranhense na primeira
metade do século XX
Ao iniciar o século XX, São Luís era uma cidade onde o fausto e a riqueza econômica
15
O surgimento da grande lavoura algodoeira maranhense foi assim descrita por Celso Furtado. Formação
econômica do Brasil. SP: Cia Ed. Nacional, 1980, 17. ed. p.91. “Tão importante quanto a ajuda financeira,
entretanto, foi a modificação no mercado mundial de produtos tropicais provocada pela guerra de
independência dos EUA e logo em seguida pela revolução industrial inglesa. Os dirigentes da companhia
perceberam desde o início que o algodão era o produto tropical cuja procura estava crescendo com mais
intensidade, e que o arroz produzido nas colônias inglesas e principalmente consumido no sul da Europa não
sofria restrição de nenhum pacto colonial. Os recursos da companhia foram assim concentrados na produção
desses dois artigos. Quando os principais frutos começaram a surgir, ocorreu, demais, que o grande centro
produtor de arroz foi excluído temporariamente do mercado mundial em razão da guerra de independência das
colônias inglesas da América do Norte. A produção maranhense encontrou, assim, condições altamente
propícias para desenvolver-se e capitalizar-se adequadamente. A pequena colônia, em cujo porto entravam um
ou dois navios por ano e cujos habitantes dependiam do trabalho de algum índio escravo para sobreviver,
conheceu excepcional prosperidade no fim da época colonial, recebendo em seu porto de cem a cento e
cinqüenta navios por ano e chegando a exportar um milhão de libras. Excluído o núcleo maranhense, todo o
resto da economia colonial atravessou uma etapa de séria prostração nos últimos decênio do século”.
16
A abolição da escravatura tem sido apontada pelos principais estudiosos do tema como, José de Ribamar
Chaves Caldeira. Origens da indústria no sistema agro-exportador maranhense (1875-1895). Tese de
Doutoramento, FFLCH / USP, 1988 e Mudanças sociais no Maranhão. Revista Ciência e Cultura, 32 (6), 1980;
Maria Cristina Pereira de Melo. O Bater dos Panos; um estudo das relações de trabalho na indústria têxtil do
Maranhão (1940-1960). São Luís, SIOGE, 1990; Mário Martins Meireles. História do Maranhão. São Luís:
Fundação Cultural do Maranhão, 1980 e Raimundo Moacir Mendes Feitosa. O processo sócio econômico do
Maranhão: história e desenvolvimento. Dissertação de Mestrado. Belém: Universidade Federal do Pará, Núcleo
de Altos Estudos Amazônicos, Curso Internacional de Mestrado em Planejamento do Desenvolvimento, 1994,
como o elemento decisivo na desarticulação da grande lavoura local. Meireles, História do Maranhão op. cit.
p.350 descreve como desastrosos os resultados do 13 de Maio. “... Foram-se por terra, praticamente de um só
golpe, todas as nossas lavouras de algodão, arroz e cana-de-açúcar, com elas nossas indústrias açucareiras e
nosso comércio exportador, tudo levado no arrastão do impacto da libertação em massa do trabalhador servil,
agravado isso com o não se indenizarem os proprietários que, na aquisição do braço escravo, haviam investido
grandes capitais. A Associação Comercial do Maranhão conclamou seus sócios para o estudo do problema que
se criara, mas sem nenhuma solução, mesmo de emergência foi encontrada. Então, o pouco que se pode salvar
do desastre, vendendo-se as propriedades agrícolas por 10% de seu valor, foi aplicado na loucura industrial que
se apoderou de nossos homens de negócio, na ânsia de se agarrarem à primeira tábua de salvação que se lhes
apresentou”.
Certo é que, antes mesmo da metade do XIX, o sistema vinha apresentando sinais de
esgotamento17 e nesse sentido duas alternativas foram implementadas a fim de evitar que a
débaclê fosse mais grave: a primeira, a partir de 1850, através da dinamização do cultivo da
cana e da implantação de engenhos e a segunda, vinte e cinco anos mais tarde, com as fábricas
Apesar de ter possuído 500 engenhos, onde mais da metade era movida a vapor, a
abolicionistas caminhavam a largos passos, encontrava seus preços numa das mais baixas
cotações da história.
Jerônimo de Viveiros aponta que em 1882 a produção açucareira maranhense foi cerca
de 16.100.000 quilos de açúcar, baixando em mais de 50% no ano da abolição. Para o autor, o
caso do Engenho Central implantado na localidade de São Pedro, hoje município de Pindaré,
“Se levarmos o nosso estudo comparativo às safras do Engenho Central São Pedro,
que era a maior usina açucareira do Estado, verificaremos que lá onde se fabricou em 1887
17
Sobre a crise da economia agroexportadora na grande propriedade rural maranhense ver a observação de
Raimundo Moacir M. Feitosa, O processo sócio econômico do Maranhão: história e desenvolvimento. Op. cit. p.
193. “Cessados os conflitos da Independência norte-americana, os conflitos provocados pelas guerras
napoleônicas e restabelecido o fornecimento de algodão pelos Estados Unidos à Inglaterra, bem como a
entrada da produção indiana de boa qualidade no mercado internacional os preços caem, de modo que já por
volta de 1822 a atividade produtiva de algodão no Maranhão dá sinais de esgotamento...”.
18
CALDEIRA, José de Ribamar C.. Mudanças sociais no Maranhão. Op. cit. p.707.
1891 _ 1.125.000, em 1892 _ 1.120, em 1893 _ 855.000, se descia a produção, em 1894 para
1906 _ 135.000 quilos, e convenhamos que, com efeito, a indústria açucareira caminhava
60% do que consumíamos e desde 30 que essa importância passou a ser quase total”.19
implantação de indústrias surgia como um meio de assegurar a parca riqueza que restava.
maranhense só foi possível devido à articulação entre frações da aristocracia rural e burguesia
Codó, todavia, motivado pela presença do porto marítimo, o nascente parque manufatureiro
19
VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão, 1896+1934. São Luís: Lithograf, 1992, p.2-3.
20
Das diferenças entre as iniciativas de industrialização em São Paulo e Maranhão, observar o que diz Raimundo
Moacir M. Feitosa. O Processo Sócio-Econômico do Maranhão. op. cit. p.216. “A atividade cafeeira, que a
partir da primeira década do século XIX (1810) se instala passa a substituir as culturas dos produtos
tradicionais de exportação (cana de açúcar, em particular), gera excedente suficiente capaz de financiar todas
as importações de bens de capital e de outros meios de produção, além evidentemente, da força de trabalho
livre, ou seja, facilita a mobilização e concentração dos capitais necessários à instalação da grande indústria
de bens de consumo assalariado.”
21
CALDEIRA, José de Ribamar C.. Mudanças sociais no Maranhão. op. cit. p. 708.
Segundo Viveiros, “desiludidos com a lavoura, quiseram substituí-la como elemento
básico da nossa economia, pela indústria têxtil. Sonhou-se transformar São Luís numa
Manchester.”22
Fabril Maranhense”; a “Companhia de Fiação e Tecidos do Rio Anil”, que montou a fábrica
de morins à margem direita do rio de mesmo nome; a “Progresso de São Luiz”; a fábrica de
22
VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão, 1896+1934. op. cit. p. 7
23
VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão, 1612+1895. São Luís, Edição da Associação
Comercial do Maranhão, 2° Vol.p.558-559.
24
É preciso não perder de vista que o fato das lavouras algodoeiras terem declinado vertiginosamente suas cotas
de produção não significa que a mesma tenha cessado. Segundo Maria Cristina Pereira de Melo em O Bater dos
panos. Op. cit. p.104. “... mesmo dentro dessa nova organização, o algodão continuou a ser cultivado e as casas
de exportação permaneceram na intermediação comercial do produto, agora canalizada, em grande parte, para
o consumo interno fabril”.
25
These VII, apresentada pelo Sr. Candido José Ribeiro ao Congresso de Lavradores e Criadores, reunido em
1920, por iniciativa da Sociedade Maranhense de Agricultura. In; Revista da Associação Comercial do
Maranhão, anno 1, Julho de 1925, número 1.
Codó “Companhia Manufatureira Agrícola do Maranhão”, cuja primeira sede foi no Rio de
Mas o fracasso daquela política econômica logo foi denunciado pela diminuição dos
outros Estados, onde as transações eram efetuadas à força de abatimento nos preços.
“São Luiz” e a “Companhia Lanifícios”, já não tinham os mesmos donos, sendo que a última
teve modificado inclusive o nome passando a chamar-se “Santa Amélia”; pouco faltou para a
fechar as portas.
26
Sobre a expansão das fronteiras da cidade e a formação de bairros operários, em decorrência da implantação
das fábricas, observar as colocações de Raimundo Moacir M. Feitosa em Tendências da economia mundial e
ajustes nacionais e regionais. São Luís: Mestrado em Políticas Públicas da UFMA, 1998, p. 44. “Há exemplos
de fábricas, como foi o caso da Rio-Anil que, no início do século XX, chegou a empregar mais de mil operários.
Em torno dessas fábricas surgiram diversos bairros operários: o Anil em torno da Companhia de Fiação e
Tecidos do Rio Anil; o Camboa, em torno da Companhia de Fiação e Tecidos Maranhenses ; o Fabril, em torno
da Companhia Fabril Maranhense; o Madre Deus, em torno da Companhia de Fiação e Tecidos de Cânhamo,
entre outros como o Cândido Ribeiro e São Pantaleão, que se localizaram nas imediações da Fábrica Santa
Amélia, da Companhia Progresso de São Luís, da Companhia de Fiação e Tecelagem São Luís e da Companhia
de Lanifícios Maranhenses”
Com a Primeira Guerra Mundial, as indústrias de tecidos de algodão maranhense
nos preços. Como atesta Viveiros, “... galgou de 922$000 em 1913 a 1.050$000 em 1915, a
2.214$000 em 1916, a 2.540$000 em 1917, a 3.739$000 em 1918. Era uma alta galopante
vinte e cinco anos do século XX experimentou uma relativa expansão em sua capacidade
produtiva. Os teares aumentaram em 31,7% e a força de trabalho utilizada nas unidades fabris
cerca de 70% eram representados pelas mulheres e crianças, o que impõe uma grande
convicção de que a imensa maioria dos homens preferiam dedicar-se a outras atividades, tais
consolidação”.30
27
These VII, apresentada pelo Sr. Cândido José Ribeiro ao Congresso de Lavradores e Criadores, reunido em
1920, por iniciativa da Sociedade Maranhense de Agricultura. op. cit.
28
VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão, 1896+1934. São Luís: Lithograf, 1992, p.217.
29
MELO, Maria Cristina Pereira de. O Bater dos Panos; um estudo das relações de trabalho na indústria têxtil
do Maranhão (1940-1960). São Luís, SIOGE, 1990, p. 42.
30
É bem provável que este fato apresentado por Raimundo Moacir M. Feitosa em O Processo Sócio-Econômico
do Maranhão. Op. cit. p. 221 esteja interligado ao número de mulheres que chegavam a São Luís em busca de
trabalho nas fábricas (que não absorviam tal demanda) e “acabavam”, sem alternativa, nas Casas de Meretrício.
Havia, então, um movimento migratório do campo, para São Luís, em que se
percebe-se que, com a quebradeira verificada nas lavouras produtoras de algodão e o processo
de libertação do trabalho escravo, entrou em cena uma grande quantidade de pessoas pobres,
agrícola.
Segundo Feitosa,
outro vir a ser para as suas sobrevivências. Numa espécie de hiato que se processa entre o
população para a Zona do Itapecuru, Mearim, Grajaú e Pindaré pólos nos quais ganhava
Maranhense e para as cidades onde as fábricas têxteis apareciam como uma oportunidade de
31
FEITOSA, Raimundo Moacir M.. Tendências da economia... Op. cit. p. 52.
32
FEITOSA, Raimundo Moacir M.. Tendências da economia... Op. cit. p. 42-52.
A cidade aparecia como um centro absorvedor de uma massa excluída 33 e a indústria,
significativa parcela feminina que nos campos enfrentava, com a família, difícil situação
34
econômica.
mercado, resultando em queda nos preços dos produtos e no comprometimento das margens
de lucro.
Além disso, a melhor qualidade dos tecidos vindos de fábricas da Bahia e São Paulo
quadro maranhense37.
número do ano de 1926, uma entrevista com o diretor da Companhia de Fiação e Tecidos do
Rio Anil, Sr. José Gonçalves Pereira, na qual afirmava que a “situação de retraimento em que
daqueles três setores permanecia em desalento. Sofrendo ainda os efeitos do crash de 29, a
O algodão continuava pautando os debates sobre sua não aceitação nos mercados de
Dos defeitos apontavam, ora as “costelas” e as “escovas” , ora as serras gastas e mal
ajustadas. Outras vezes, a força motriz não era compatível à capacidade da instalação.
do algodão molhado, ou, pelo mal ajustamento das escovas que retiravam as fibras das serras)
rolo de superfície áspera, pelos dentes quebrados ou tortos das serras, que batiam nos pentes
divisórios).
naquele ano, afirmava que “a cauza única e excluziva do nosso algodão não atinjir as
cotações dos demais algodões estranjeiros, é tão somente devido ao nosso mau
Os cinco anos subseqüentes parecem não ter oferecido melhores condições como
39
CRUZ, Heitor Fróes da. O Algodão. In: Revista da Associação Comercial do Maranhão. Ano VI n°64, Outubro
de 1930.
Governador e à Assembléia, onde a vida econômica do Maranhão era caracterizada como
“caótica e em ruínas”. 40
Por outro lado, as eleições dariam trégua na longa fase de disputas políticas do Estado.
Após ser eleito por voto indireto, assumiu o governo, como Interventor, Paulo Martins de
Sousa Ramos, cargo que manteve durante todo o período do Estado Novo.
reconhecia, diante dos sintomas de falência das têxteis, voltar a ser a principal fonte de receita
nossa exportação.” 42
40
Revista da Associação Comercial do Maranhão, n°129, Ano XII, Março de 1936.
41
Sobre a economia do babaçu no Maranhão, Alfredo Wagner Berno de Almeida esclarece em seu estudo
Quebradeiras de Côco Babaçu: Identidade e Mobilização. São Luís: III Encontro Estadual das Quebradeiras de
Côco Babaçú: 1995, Estação Publicidade & Marketing Ltda. e Terre des Hommes – Schweiz, p.15-16, “Entre
1911 e 1935 praticamente não se registra intervenção dos aparatos de Estado. Constata-se tão somente um
único dispositivo legal taxando a maquinaria destinada ao beneficiamento. Vigem os preceitos do liberalismo,
notadamente até a chamada “grande depressão” de 1929. A queda dos preços dos produtos agrícolas e das
matérias-primas, provocada pelo grande aumento da produção, deteriorou os termos de intercâmbio entre os
países que dependiam da exportação destes bens e os países industrializados. Todas as unidades fabris de
beneficiamento do babaçu, instaladas no Maranhão após a I Grande Guerra por empresas francesas, belgas,
norte-americanas e norueguesas abriram falência no final dos anos 20. A partir de 1935 o Estado redefine sua
ação. Estabelece acordos comerciais a nível internacional, adotando uma política de cotas, e busca disciplinar
o acesso aos babaçuais, lidos como reservatórios naturais estratégicos de matérias- primas.”
42
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas, Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil,
pelo Dr. Paulo Martins de Souza Ramos, Interventor Federal no Estado do Maranhão. Imprensa Oficial, 1939,
p.6.
Quanto ao que chamou “efêmero surto industrial”, destacou elementos poucas vezes
transporte relativamente rápido e pouco dispendioso, atraiu, de logo, para a praça de Belém,
o comércio do sertão maranhense e do norte de Goiaz. Por outro lado, o comércio piauiense,
continuar a se abastecer na nossa praça, entro a competir com ela nos centros produtores e
A praça de S. Luiz, perdendo, por esse modo, a parte mais importante e mais extensa
do seu campo de operações, sofreu ao mesmo tempo, o vultuoso prejuízo dos capitais que
possuía em poder de seus antigos freguezes da região sertaneja e do norte goiano, os quais,
passando a corresponder-se com outros mercados, não liquidaram com ela as suas contas.
de navegação, linhas atraz referidas, a braços com dificuldades oriundas de várias causas,
notadamente a da perda, por naufrágio da maioria dos seus barcos, entraram pouco depois,
em liquidação.
diretores as adquiriram por preço vil, na maioria dos casos, inferior à décima parte do
cotações razoáveis, voltavam em 1938 a sofrer baixas nos mercados do sul do país e no
exterior. 44
em 1939, 4.367 km de estradas carroçáveis, ligando vários dos principais centros de lavoura à
ferrovia São-Luís/Teresina, cujo objetivo era facilitar o acesso à capital e a outros centros
onde os produtos, que antes apodreciam nos paióis, pudessem ser exportados. Mas, a
depressão econômica provocada pelo início da guerra européia reduzira, de maneira drástica,
receita do Estado.
novamente, na angústia de atenuar a crise em que se viam mergulhados, propôs uma urgente
reforma dos meios de produção bem como a industrialização dos produtos que exerciam
43
Relatório de 1939. Op. cit. p.14
44
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas, Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil,
pelo Dr. Paulo Martins de Souza Ramos, Interventor Federal no Estado do Maranhão. D.E.I.P. 1941, p.16
Em 1941, estimulado pela guerra, que utilizava seus derivados, o babaçu consolidava-
a sofrer com a falta de crédito agrícola, com a má qualidade das sementes empregadas
1939 o algodão que representava 9,85% das exportações, em 1940 desceu para 3,73%
“Essa inesperada reação, depois de longo período de baixa, despertou no seio das
indústrias”.47
45
Segundo Raimundo Moacir M. Feitosa, em seu estudo, O Processo Sócio Econômico do Maranhão. Op. cit. p.
238, “a amêndoa do babaçu, primitivamente utilizada como produto destinado ao auto consumo da população
antes de 1914, a partir da primeira Guerra Mundial (1914-1918) torna-se mercadoria importante na pauta de
exportação da economia do Maranhão. Passou a se constituir numa matéria-prima de grande valia para o
setor industrial que não andava bem das pernas desde a derrocada das fábricas têxteis, abrindo assim
possibilidades de implantação para indústrias químicas e alimentar desenvolvidas, a princípio, fora do país e
no centro-sul brasileiro.”
46
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas, Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil,
pelo Dr. Paulo Martins de Souza Ramos, Interventor Federal no Estado do Maranhão. D.E.I.P. 1942, p.29.
47
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas, Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil,
pelo Dr. Paulo Martins de Souza Ramos, Interventor Federal no Estado do Maranhão. D.E.I.P. 1943, p.59.
Na capital e no interior, as indústrias pareciam ganhar novo fôlego, e a fim de atender
para resistirem mais algum tempo à paralisação do intercâmbio com o exterior. No entanto, a
execução do convênio não fora tão rápida quanto às circunstâncias exigiam, o que acabou
resultando em prolongada retenção dos estoques de babaçu nos armazéns de São Luís.
parte, a questão dos utensílios agrícolas, que segundo o Relatório daquele ano “estava a
48
reclamar cuidados mais urgentes , foi solicitada a cooperação da Comissão Brasileira
fizeram vir, gratuitamente, dos Estados Unidos 10 mil enxadas, 6 mil machados e mil foices
48
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas, Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil,
pelo Dr. Paulo Martins de Souza Ramos, Interventor Federal no Estado do Maranhão. D.E.I.P. 1944, p.55.
49
Em sua obra História do Comércio do Maranhão. São Luís: Associação Comercial do Maranhão, Lithograf,
p.63, Mário Martins Meireles esclarece que o controle da importação do babaçu nos Estados Unidos era
concentrado na Commodity Credit Corporation e a doação dos 17 mil instrumentos agrícolas havia sido feita por
intermédio da Comissão Brasileira Americana de Produção.
A execução de tais medidas parece não ter surtido o efeito esperado e o progressivo
indústria superassem as cotas de produção dos anos anteriores. Ainda assim, nos setores da
como a “Lages & Cia” (armazém de tecidos grossos, brins de linho, estivas, miudezas,
e miudezas e exportadora de algodão, babaçu, arroz, óleo de babaçu, farelo de babaçu, borra
Ltda.” (fábrica de brins), “Fiação e Tecidos do Rio Anil” (fábrica de tecidos, tecelagem e
alvejamento de algodão), “Tecidos Santa Izabel S/A” (antiga “Cia. Fabril Maranhense”,
fábrica de brins, riscados, zefires, lonas, xadrezes, mesclas, gangas, domésticos, fios, sacos e
telas) e outras como a “Cunha e Santos”, “Chagas e Penha”, “Pinheiro Gomes” e “Francisco
Aguiar”. 51
tornavam-se cada vez mais freqüentes as discussões sobre as providências “que se fariam
50
MEIRELES, Mário M.. História do Comércio do Maranhão. Op. cit. p. 63.p.
51
Revista da Associação Comercial do Maranhão. Janeiro de 1943, ano XIX, n°211.
imperiosas e urgentes para que se normalizasse a vida econômica do país e se
Com relação, especificamente, às têxteis maranhenses nada mais se podia fazer senão
assistir à asfixia e morte das unidades, frente à acirrada e crescente concorrência com as
sistemático e eficiente.
têxtil parte dos capitalistas vinculados a esse ramo e às atividades agroexportadoras busque,
como alternativa, realocar seus capitais no novo setor industrial nascente: fábricas
produtoras de óleo bruto, óleo refinado comestível, torta de babaçu e produtos químicos
babaçu, rícino, saponáceo “ABC”), “Narciso, Machado & Cia” (exportadores de cera de
carnaúba, babaçu, tucum, mamona, couros de boi, algodão, crinas, jaborandi, polvilho e
52
MEIRELES, Mário Martins. História do Comércio do Maranhão. Op. cit. p. 69.
53
MELO, Maria Cristina Pereira de. O Bater dos panos. Op. cit. p. 27.
54
FEITOSA, Raimundo Moacir M.. O Processo Sócio-Econômico do Maranhão. Op. cit. p. 238.
carnaúba, tucum, farinha de mandioca, arroz, tapioca de goma, peles silvestres, etc.), “Lauro
babaçu, mamona, fibras e tucum). Outras como “Lages & Cia” (armazéns de tecidos e
algodão, babaçu, arroz, óleo de babaçu, farelo de babaçu, borra de caroço de algodão,
absorvia o trabalho de famílias na coleta e quebra do coco, mas igualmente dinamizava a ida
de mulheres para as cidades, em função do baixo preço que pagavam pelas amêndoas.57
55
Ver Revista da Associação Comercial do Maranhão, ano XXI, n°235, Janeiro de 1945; jornal “O Imparcial de
28 de Julho de 1947 e 14 de Setembro de 1947; jornal “O Globo” de 8 de Outubro de 1947”.
56
Utilizou-se como referência, o pensamento de Maria Isaura Pereira de Queirós que em Cultura, sociedade
rural, sociedade urbana: ensaios. RJ: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: Ed. da Universidade de São
Paulo, 1978. p.51, afirma: “...o meio rural não pode nunca ser estudado em si mesmo, mas deve ser encarado
como parte de um conjunto social mais amplo, do qual faz parte juntamente com a cidade.”
57
Sobre os valores pagos aos trabalhadores do babaçu, Raimundo Moacir Feitosa em seu trabalho “O Processo
Sócio-Econômico do Maranhão. Op. cit. p. 238-239 esclarece que “ os coletores e quebradores de coco babaçu
tornam-se presença marcantes no cenário da economia maranhense no trabalho de complementação da renda
familiar agrícola. O processo de exploração desses coletores e quebradores de coco pela estrutura dominante é
a mesma do arroz, pois o agente que adquire a produção de amêndoa, quando não é o mesmo que adquire a
produção de arroz, pratica o mesmo esquema de fixação dos preços. Através da aquisição por um preço baixo,
ao sobreavaliar as mercadorias capitalistas que vende (querosene, sabão, açúcar, roupa, sandálias, sapatos,
etc.), lança o fruto desse quebrador de coco a uma margem de valor tão ínfima que fica abaixo da possibilidade
de contribuição para o melhoramento das suas condições de reprodução.”
Assim, o lócus urbano e as indústrias tornavam-se, paulatinamente, o refúgio de
grande parte dos camponeses despossuídos que passavam a formar, com outras pessoas, novos
Na virada do XIX, ainda que conservasse o aspecto colonial, traduzido nos suntuosos
casarões azulejados de eiras, beiras, mirantes e pinhas de porcelanas, nos becos e ruas
normas que visavam à disciplina e à higiene social do novo viver urbano. “Avizinhavam-se
59
novos tempos”. Tempos de medicalização da sociedade, de saneamento moral e social, de
São Luís, 4 de Abril de1919. Imbuído dos, tão em voga, propósitos de ordem e
limpeza o governador Urbano Santos da Costa Araújo promulgava a Lei n°862 que objetivava
característicos das pessôas que receberem e hospedarem, bem assim e a conducta de cada
retirada das mesmas pessôas, com antecedência de 24 horas, ou, não sendo isso possível, no
Artigo 3° Ficam ainda obrigadas a ter um livro, aberto, rubricado e numerado pela
Segurança no qual devem ser registradas as entradas e sahidas dos hospedes, com
declaração do dia, hora, procedência e destino, por qual via, ou meio de transporte.
Esse livro será exhibido à autoridade policial, sempre que por esta fôr exigido.”
62
MEIRELES, Mário Martins. Dez estudos históricos. São Luís: Alumar, 1994 (Coleção Documentos
Maranhenses) p. 243.
Outra medida profilática, de Urbano Santos, foi o convênio com a norte americana
Quando Godofredo Mendes Viana (1922/26) assumiu o poder no Estado, tinha como
Contraiu, então, um empréstimo com a Ulen & Company de Nova York, no valor de
elétrica. 64
São Luís entraria o ano de 1925 com o novo serviço de abastecimento de água.
Mas, mesmo com todo empenho verificado no sentido da melhoria das condições da
saúde pública, o Maranhão não foi poupado de um novo surto de varíola em 1926. A
epidemia fora controlada pela filial do Instituto Oswaldo Cruz, por meio de uma larga
vacinação das pessoas ainda não contaminadas e do encaminhamento das doentes para o
eram disseminadas idéias de que os males possuíam várias ordens e matizes, incluindo o
saneamento moral, muitas vezes presentes na imprensa como a carta publicada em 3 de Junho
...existe, Sr. Redactor, ali na rua 28 de Julho n°10, entre a travessa do Commercio e a
rua Cunha Machado, uma casa de commodos onde o caftismo é uma barreira. Esse collegio
vaporosa Maria (vulgo Rainha de Sabá). Supomos Sr. Redactor que seria uma falta de
patriotismo de nossa parte se não procurássemos esclarecer esse facto. Durante a noite
estabelecem uma algazarra infernal, chegando ao ponto de não poder transitar pela rua
frequentadores do tal collegio. Uma vizita do cel. Zenobio aos dominios do reinado da
Rainha de Sabá (Maria) verificará todas as verdades que aqui escrevemos. ”66
66
Jornal “A Hora”. São Luís – Maranhão: 3 de Junho de 1927, p.1.
A quadra do carnaval é bonita pela sua riquesa de alegria mas ao mesmo tempo torna
se triste porque depois da Quarta feira de cinzas, commeçam se a revelar casos deprimentes
ao principio da moral.
Esse pernicioso mal é um dos problemas mais difficil a ser resolvido pela policia.
Talvez com a figuração dos nomes dos magnatas nas columnas dos diarios, esses
miseraveis que vegetam no globo para jogarem na lama do meretricio milhares de ingenuas
“... em certas zonas da cidade, onde, quando não é a garôtada infrene, a jogar
transito. Também as meretrizes perturbam o socêgo publico, como agora, está acontecendo
na Rua da Manga.
Fonte das Pedras, existem algumas mundanas que não respeitam as famílias, fazendo grande
67
Jornal “A Hora”. São Luís – Maranhão: 09 de Fevereiro de 1929.
algazarra, especialmente à noite, quando os que trabalham durante o dia querem conciliar o
somno.”
vivido em São Luís onde, a par da “obra satânica dos Dom Juans”, campeava “infrene a
prostituição” .68
“Um facto lamentável, é a falta de respeito às nossas famílias, em virtude dos taes
Não são poucas as occasiões em que essas respeitáveis famílias, quando cercadas do
carinho de seus filhinhos, são arrebatadas do seu enlêvo maternal, pelos palavrões e quiçá
encarregadas de zelar pela moral, cooperem, afim de que não se reproduzam taes scenas, que
falatórios, palavrões, arruaças etc., acenavam para a cidade a imposição de padrões opostos
aos que se afiguravam. Com efeito, foi no pós Revolução que aquele ideário ganhou força.
68
Jornal “Folha do Povo”. São Luís – Maranhão: Terça-feira, 07 de Outubro de 1929, p.1.
69
Jornal “Folha do Povo”. São Luís – Maranhão: 24 de Outubro de 1929, p.1.
desordem, trabalhador e vadio, eram utilizadas como mecanismo de reordenamento social, de
Barros Serra, lançou o Decreto n°152 pelo qual alterava a divisão policial em São Luís,
fornecendo claros indícios de que a cidade passava a ter intensificada a vigilância. Ficava
estabelecido logo no Artigo 1° que o município da capital ficaria “dividido em trêis districtos
policiais, cada um dos quais com uma delegacia de polícia e tantas subdelegacias quanto
“giros” diurnos e noturnos, pela Guarda Civil. De acordo com as escalas dos dias 10, 12 e 15
Rampa Campos Mello, Rua da Estrella, Rua 28 de Julho, Rua Sant Yago, Rua Cajaseiras,
Mello, Rua da Estrella e 28 de Julho, Desterro, Portinho e Fonte das Pedras, Sant Yago e
Giro Noturno 1, de 10 de setembro de 1931: Praça João Lisboa, Rua Oswaldo Cruz,
Rua Affonso Penna, Rua Portugal, Avenida Beira Mar, Praça da Alegria e Misericórdia, Sant
Yago e Cajaseiras, Desterro, Portinho e Fonte das Pedras, Estrella e 28 de Julho, Cemitério
e Codosinho.
Giro Noturno 2, de 10 de setembro de 1931: Praça João Lisboa, Rua Oswaldo Cruz,
Rua Affonso Penna, Rua Portugal, Rua de Sant Anna, Rua de São Pantaleão, Sant Yago e
Rampa Campos Mello, Rua da Estrella e 28 de Julho, Sant Yago e Cajaseiras, Praça da
Giro Noturno 1, de 12 de setembro de 1931: Praça João Lisboa, Rua Oswaldo Cruz,
Rua Affonso Penna, Rua Portugal, Avenida Beira Mar, Praça da Alegria e Misericordia, Sant
Yago e Cjaseiras, Desterro, Portinho e Fonte das Pedras, Estrella e 28 de Julho, Cemiterio e
Rampa Campos Mello, Estrella e 28 de Julho, Sant Yago e Cajaseiras, Praça da Alegria e
Giro Noturno 1, de 15 de setembro de 1931: Praça João Lisboa, Rua Oswaldo Cruz,
Rua Affonso Penna, Rua Portugal, Avenida Beira Mar, Praça da Alegria e Misericórdia, Sant
Yago e Cajaseiras, Desterro, Portinho e Fonte das Pedras, Estrella e 28 de Julho, Cemiterio
danificado).”70
público e sua regulamentação. A profilaxia física e social era, no entender daqueles que a
dos olhos aqueles diferentes com quem, inevitavelmente, dadas as condições de produção e
horas74.
70
Documentos avulsos localizados no Arquivo Público do Estado do Maranhão.
71
LANNA, Ana Lúcia Duarte. Uma cidade na transição Santos: 1870-1913. op. cit. p.24.
72
LANNA, Ana Lúcia Duarte. Uma Cidade Na Transição Santos: 1870-1913. São Paulo-Santos: Editora
Hucitec e Prefeitura Municipal de Santos, 1996, p. 20.
73
Para Irving Goffman, Estigma, op. cit. p.155, “os desviantes sociais nos quais a prostituta está inserida são
uma espécie de negação coletiva da ordem social.”
74
Segundo Nickie Roberts, A Prostituição Através Dos Tempos Na Sociedade Ocidental. Lisboa: Editorial
Presença, 1996, p. 216 já na Itália de 1860 podem ser observadas proibições e regulamentações de horários e
locais permitidos às prostitutas, “... estavam proibidas de <<perder tempo>> nas ruas e nas praças ou de
“Desde hontem, o Sr. Alfredo Pimenta Gnone, delegado do 1° districto, adoptou a
medida de que as meretrizes só poderão andar livres pelas ruas e frequentarem os botequins
As meretrizes que quizerem sahir antes dessas horas devem se fazer acompanhar de
um cavalheiro, sob pena de serem convidadas para irem ao Districto, onde serão
Essa medida também foi imitada pelo tenente Justino Lopes da Cunha, delegado do 2°
Districto75, e visa tão somente atender as famílias que se dizem sem o direito de passeiarem
até mais tarde, devido o número de mulheres de vida alegre que sahem dos seus rebanhos
para se exporem às vistas publicas e palestrarem nas portas dos cafés. ”76
“O Dr. José Brugger Vilela, Chefe de Polícia do Maranhão, não compreendendo que
possa existir pensões e casas de meretrizes de visitas, entre famílias, está decidido a crear a
zona do meretrício.
Para isso, conta com o apoio dos delegados auxiliares e espera o auxilio da imprensa.
vaguear nos seus próprios bairros; não podiam sair <<sem justa causa>> depois das oito horas da noite no
inverno e das dez no verão. Quando saíam das case chiuse tinham que se comportar <<decentemente>> e com
decoro, vestir-se de forma modesta, evitar seguir quem passasse, não abordar homens nem ir ao teatro.”
75
O segundo parágrafo do Decreto n°152, de 31 de Julho de 1931, trazia as áreas de competência do 2° Distrito,
onde foram dadas muitas das queixas com que temos trabalhado, comprovando a concentração de meretrizes no
local. “ § 2º - O 2º Distrito, com séde nesta Capital compreende a parte sul da mesma, na conformidade da
divisão constante do Regulamento, baixado com o aludido decreto nº1. 025 de 5 de março de 1926, até o túnel
da referida E. de F. S. Luís-Teresina, seguindo esta ao encontro da linha telegráfica que servirá de divisão até o
Batatan e, por esse rio ao estuario do Bacanga, segue a divisão do igarapé do Furo e depois em uma reta ao
igarapé Arapapai compreendendo a Vila Maranhão, até a baía de São Marcos, incluindo as ilhas Garapirá,
Duas Irmãs e Medo. Nesse distrito haverá duas sub-delegacias separadas da Capital pelo Bacanga, sendo uma
em Boqueirão, compreendendo Cantagalo, Guia, Bonfim, Tamancão, Itapecaraiba, Itaqui e as ilhas referidas, e
a outra na Vila Maranhão, compreendendo Buenos Aires, Conceição, São Raimundo, Alcantara, Arraia,
Pindoba, Telha e Santa Rita.”
76
Jornal “Tribuna”. São Luís – MA: sexta-feira, 11 de Setembro de 1931, p.1.
O fim da creação da zona só trará benefício às famílias, que reclamam não poder
E para que as famílias deixem de sofrer desgosto a zona será creada e nella será
As primeiras medidas:
prohibiu terminantemente que qualquer meretriz penetre nesses estabelecimentos antes das
23 horas.
dessas horas em diante, darão liberdade para as mulheres de vida alegre frequentar os
botequins e andarem livremente pela cidade, desde que não pratiquem escandalos e nem
desordem.
mulheres transitem pelas ruas que estiverem sob sua fiscalização, sem serem acompanhadas.
O tenente Justino Lopes da Cunha determinou aos seus subordinados que prohibam a
entrada das mulheres nos “bars”, cafés e botequins antes das 23 horas.
Mas, desde que as mulheres, em número no máximo de duas, juntas, transitem pela
rua, em procura de uma pharmacia, de um negócio urgente, em ordem sem pararem nas
prostitutas.
“Espoca”, “PP”, “Primavera e “Ideal”, realizarem bailes para as mulheres mais humildes.
Nos projetos políticos o que se via era uma diferenciação, explícita, do tratamento
“A nossa atual policia dando solução a um problema que a muito vinha pedindo
atenção dos poderes competentes acaba de tomar várias medidas no intuito de refrear o
meretrício desta capital que, como é sabido, já se tornava um afronta à nossa sociedade.
77
Jornal “Tribuna”. São Luís – MA: domingo, 13 de Setembro de 1931, p. 02.
78
Sobre as convivências e conflitos da cidade, Henri Lefebvre em O direito à cidade. SP: Editora Documentos
Ltda., 1969, p. 20 faz a seguinte colocação, “a vida urbana pressupõe encontros, confrontos das diferenças,
conhecimentos e reconhecimentos recíprocos ( inclusive no confronto ideológico e político) dos modos de viver,
dos “padrões” que coexistem na cidade”.
cafés antes das 23 horas. Para que as meretrizes tranzitem no perímetro urbano, antes das 23
horas é necessário que se façam acompanhar de outra pessôa e se portem com todo respeito.
Essa medida, que verificamos bôa, no 2° districto só será adotada em parte, por
determinação do delegado tenente Justino Lopes, que permite às meretrizes o livre tranzito,
policiamento às alturas.
acompanhadas. ”79
inseria, no artigo “As mulheres da vida fácil”, dois itens sintomáticos da ideologia que se
problema da localisação do meretrício em São Luíz. Nesse sentido vae se entender, hoje, com
vários commerciantes e proprietários de casas para, de pleno accordo, decidir esse caso que
funccionar, hoje, os seus clubs de dansas para meretrizes, o 2° delegado indeferiu as mesmas
lincenças, por se tratar de logares frequentados por gente suspeita a quem a polícia pretende
diagnosticados, classificados. 81
todas as meretrizes da capital, incluindo as donas das Casas, passariam a ser identificadas com
uma caderneta.
Tesouro Público do Estado e receber a caderneta comprovando seu registro 82. Tal valor fora
Segundo o jornal “Tribuna”, tão logo fosse terminado o serviço de identificação, seria
81
LANNA, Ana Lúcia Duarte. Uma cidade na transição Santos: 1870-1913. op. cit. p.26.
82
Dez anos mais tarde, a prática de registrar as meretrizes na polícia ainda estava em voga como mostra a lista de
fichas individuais no livro de registro de hóspedes da pensão “Oliveira”. Constam na listagem vários nomes de
meretrizes e seus respectivos “números” na Polícia. Eram elas: Maria G. G., ficha individual 79; Regina G. dos
S., ficha individual 74; Ricardina C. f.i. 81; Raymunda F. S., f.i. 75; Rufina R., f.i. 78, Raymunda M., f.i. 77;
Maria Madalena C., f.i. 445 e Amanda dos A., f.i. 266.
83
Podemos verificar semelhanças entre a realidade de São Luís e Paris da Belle Époque, apresentada por
Michelle Perrot em Mulheres Públicas. SP: Unesp, 1998, p. 27, onde diz que “fichadas as mulheres públicas
recebem visitas médicas regulares e são quando preciso encerradas nos hospitais-prisões, cujo protótipo em
Paris é Saint-Lazare.” Nickie Roberts, A Prostituição Através Dos Tempos, op. cit. p.210 também destaca a
relação entre a polícia parisiense e a prostituição, no início do século XIX, indicando elementos que igualmente
identificamos no caso ludovicense. Segundo a autora, “logo em 1810 a polícia parisiense respondeu à
preocupação burguesa, organizando uma brigada especial, a police des moeurs, cuja função era supervisionar
a inscrição num registro central. Uma vez registradas, as prostitutas parisienses tinham que se apresentar
mensalmente para uma inspecção vaginal levada a cabo por um médico da polícia; este privilégio custava-lhes
três francos de cada vez que lá iam. Se estivessem infectadas com alguma doença venérea, as mulheres eram
confinadas num hospital-prisão (em Paris, o infernal St. Lazare. Em São Luís, as mulheres também foram
rigorosamente fichadas pela polícia e os casos de doenças infecto contagiosas eram em sua maioria detectados
pelas inspeções sanitárias e encaminhados para o Hospital Geral. Os Diários Oficiais do Maranhão forneciam
diariamente dados sobre as referidas doenças, indicando que o maior número era a sífilis, seguida pela lepra.
84
Jornal “Tribuna”. São Luís – MA: Sexta-feira, 18 de Setembro de 1931, p.08.
inadequado, reforçavam os referenciais “assépticos” que englobavam posturas sociais e
sexuais.
Seu conteúdo era enfático quanto aos perigos morais e sociais da prostituição, todavia,
providências policiaes, si, em parte, não podem ter a sancção dos princípios legaes
Até agora não sabemos as providencias que a policia promettia tomar para o fim de
pôr óbice aos effeitos devastadores da avaria. As difficuldades, que, naturalmente, se teriam
erguido deante da humanitária iniciativa policial, não poderiam absolutamente ser de molde
Nos Estados Unidos da América do Norte, o meretrício não se acha sob a acção
directa de um regulamento legal. Mas, este facto não pode ser invocado pelos que constituem
a corrente que oppõe, neste assumpto, às providências da autoridade policial. Ali, na grande
república, o estranho facto tem a sua natural explicação: o governo não reconhece a
prostituição, seja qual for o modo de sua manifestação. Não a reconhece, mas persegue a
quem a pratica, impondo-lhe a pena com que pune o crime de vagabundagem. Isto, porem,
não tem sido bastante. Persistem os seus effeitos desastrosos. Tem tomado intenso incremento
precoces.
moléstias venéreas, entre nós entrando, para esse fim, em immediato entendimento com as
<<A equipagem dos vasos de guerra italianos estacionados em nosso porto, depois de
ter passado pelos portos de Buenos-Ayres e de Montevidéo, depois de ter percorrido meia
parte do mundo, veiu quasi toda ella contaminar-se em Recife, entre o meretrício não
>>” 85
polícia plasmavam teorias e práticas mais elaboradas. Pontuando a ação policial, o Diário
Polícia ou pelo funcionário por ele designado, em que sejam inscritos os nomes dos
hóspedes, sua nacionalidade, idade, estado civil, profissão, domicílio, procedência, destino,
hotéis, casas de pensão, casas de cômodos e outras a estas equiparadas, são obrigados a
de entradas e saídas de todos os seus hóspedes e destinos, durante a semana finda, sob pena
de multa de 100$000.
vizados e rubricados pelo Delegado nos quais serão inscritos os nomes dos hóspedes, sua
nacionalidade, idade, estado civil, profissão, domicílio, procedência, datas de entrada e
saída e sinais característicos, de acordo com o estabelecido no citado n. XXVII do art. 13°.”
Até os giros pelas ruas mereceram atenção especial. O capítulo XI do mesmo Decreto
fora todo dedicado a esmiuçar as funções de novos elementos responsáveis pela ordem, os
“Inspetores de Quarteirão”, pessoas comuns escolhidas pela polícia para exercerem papéis de
tranqüilidade pública.
forem cometidos, assim como sobre suspeitos, vadios, mendigos, vagabundos, gatunos,
V. Invocar o auxílio de cidadãos para efetuar prisões, quando não seja possível
86
Sobre a “questão do alcoolismo” e as representações da figura do ébrio no período de 1890 a 1940 ver o artigo
de Matos, Maria Izilda Santos de. O Lar e o Botequim. In; Cadernos CERU, série 2, n. 11, 2000.
Vagabundagem e condutas nocivas das mais diversas ordens mas, principalmente o
“...attendendo ao que lhe foi representado pelo Chefe de Polícia do Estado quanto a
conveniência e necessidade de serem tomadas, com urgência, medidas que, embora não
previstas no Regulamento Policial vigente, estão a exigir prompta execução, afim de attender
podem continuar prejudicadas com a falta de respeito que repetidamente se vem traduzindo
como é exercido o meretrício nesta capital, cuja fiscalização e actos preventivos se impõe
Artigo Único – Fica desde já, o Chefe de Polícia auctorizado a promover as medidas
que julgar opportunas afim de que a moralidade, o respeito e a ordem não mais sejam
prejudicadas por actos ou práticas às mesmas attentorias, podendo para isso baixar
O controle dos livros fora levado a cabo pelas autoridades policiais. Os vistos, assim
como anotações de não entrega de mapas, eram registrados em uma listagem mensal onde
pagamento de multa de 200$000 réis e detenção por 24h para aquele que em público,
praticasse “actos immoraes” proferisse “palavras obcenas” ou se comportasse de modo
“deshonesto, offensivo ao pudor, que pudesse ser visto ou ouvido pelos transeuntes ou
vezinhos”. 87
Observando a morfologia urbana de São Luís, nas primeiras décadas do século XX,
depara-se, com uma bem definida representação de um daqueles locais, o espaço sexuado89
da cidade.
Sol, Cândido Mendes, da Passagem, do Teatro, Luzia Bruce, Maranhão Sobrinho, da Manga,
da Saúde, da Lapa, Afonso Pena, Henriques Leal, Nina Rodrigues, Tarquínio Lopes, 7 de
Setembro, Regente Bráulio, Santa Rita..., Avenida Pedro II, Fonte das Pedras, Praça João
87
Diário Oficial do Estado do Maranhão, sexta-feira 16 de Abril de 1937, p.07.
88
LANNA, Ana Lúcia Duarte. Uma Cidade Na Transição. Op. cit.p.73.
89
PERROT, Michelle. Mulheres Públicas. SP: Unesp, 1998, p. 08.
de algodão medicinal, de gelo, de chocolates, de massas alimentícias, de cigarros e pomadas,
hospedarias de meretrizes.90
Era ali o espaço geográfico das madamas, raparigas, borboletas, maripozas, decahidas
remanejamento. O posto de 1° delegado fora entregue a Flávio Nunes Bezerra que breve
Faustino dos Santos e Silva, ainda Chefe de Polícia, demonstrara especial atenção para as
informações sobre os indivíduos que circulavam pela capital ludovicense, principalmente nos
estalagens.
pôde ser feito a partir dos Livros de Registro de Hóspedes e apenas no período de 12 de Julho
Capital”. De acordo com os dados de funcionamento de Casas de Pensões e Cômodos acreditamos que tal
fenômeno tenha se iniciado já na década de 20.
93
Sobre este assunto ver o Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Governador do Estado, Dr. Paulo Martins de
Souza Ramos, pelo Tte. Cel. Chefe de Polícia, Dr. José Faustino dos Santos e Silva. São Luís do Maranhão. RJ:
Typ. Do Jornal do Commercio. Rodrigues & C. 1937, p. 25.
94
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Governador do Estado, Dr. Paulo Martins de Souza Ramos, pelo Tte.
Cel. Chefe de Polícia, Dr. José Faustino dos Santos e Silva. Op. cit. p.31.
95
Observa-se por este dado o processo de coagulação da mão de obra feminina, donde resulta em grande parte o
meretrício.
96
Pelo Decreto-Lei n°897 de 2 de Setembro de 1944, foi criada em São Luís, em caráter de emergência, a
Delegacia Especial de Segurança Política e Social e de Estrangeiros. Subordinada à Chefatura de Polícia tinha
como finalidade específica fiscalizar a entrada e saída de estrangeiros em território nacional, investigar
atividades contrárias à legislação, promover registro, naturalização ou expulsão.
A rigorosa política de controle social seguia estendendo assim “seus tentáculos aos
Assim, outro campo de ataque foram as festas populares. Em particular o carnaval, que
se desregrado e sem a vigilância das autoridades policiais poderia, para a política que
Foi pela ocasião do carnaval de 1940 em São Luís que a Chefatura de Polícia, já na
pessoa de Flávio Bezerra, lançou um elenco de normas que deveriam ser seguidas durante o
“4°- Os bailes de entrada paga e os cabarés não poderão funcionar sem previa
licença da Polícia;
um dos seus componentes ou, no caso de de bailes públicos e cabarés, a declaração da rua e
6° - Todas essas licenças serão pagas em sellos adhesivos do Estado, de accordo com
a tabella da Polícia;
7° - A entrada dos bailes públicos e cabarés, será feito pela Polícia o reconhecimento
97
SOIHET, Rachel. A INTERDIÇÃO E O TRANSBORDAMENTO DO DESEJO: Mulher e Carnaval no Rio de
Janeiro (1890-1945). In; Espaço Feminino, v.1/2, Ano 2, Jan./Dez. 1995. Universidade Federal de Uberlândia,
Departamento de História, CDHIS, NEGUEM.
8°- Não serão permittidas as phantasias transparentes e máscaras de crítica ou
allusivas aos membros dos poderes públicos, às autoridades em geral, ao clero, bem assim as
que tenham emblemas, distinctivos, bonés, fitas, golas, botões e galões semelhantes aos
14° - Os donos dos bailes e cabarés serão responsáveis pela ordem e moralidade nos
mesmos;
Getúlio Vargas, voltavam-se para uma consciência nacional onde, a família, o trabalho e a
velhos símbolos, dando-lhes uma roupagem oficial e, muitas vezes, científica. Recuperaram-
se valores dentre os quais o culto aos heróis, líderes e símbolos da pátria; à nacionalidade, à
98
Carneiro, Maria Luiza Tucci. O Anti-Semitismo na Era Vargas (1930-1945). SP: Brasiliense, 1995, p.124.
Não por outro motivo, a data de 7 de Setembro de 1940 fora escolhida para publicar
no Jornal “O Globo” de São Luís uma ampla matéria com o “sugestivo” título de “A polícia
“Chaga social sobre a qual se tem escripto páginas as mais vivas, o meretrício é um
desses muitos males contra o qual a repressão não pode ser feita violentamente, taes os
complexos problemas que encerra. A acção policial nesse sector, tem que ser antes de tudo,
meretrício é medida que se impõe. É um isolamento necessário de grande valor social. O Dr.
Flávio Bezerra, technico perfeito na arte de policiar os costumes, zelador do decoro publico,
em dia com a evolução dos methodos scientíficos de polícia, fez na capital esta coisa que a
tantos parecia difficilima: isolou do organismo social esse campo corroído, localisou o
instância, congregando todos os outros, do civilizado, eram traçados com matizes mais fortes.
cidade e nas intenções em transformar o espaço urbano destaca-se o episódio que envolveu,
que lhe desse maior fama, qual foi o de transformar a velha capital maranhense, de perfil
colonial com seus vetustos sobradões de fachadas de azulejo e sacada de ferro, com suas
ruas tortuosas, em uma cidade de feição moderna, de retilíneas avenidas e ruas espaçosas e
em que o encanto dos mirantes bisbilhoteiros cedesse lugar à dureza retilínea dos arranha-
céus.
Para isso sem dúvida que seriam necessários largos recursos e ele, preparando-se
para dar a arrancada inicial na execução de seu plano, apresentou à Câmara Municipal uma
mensagem que abria um crédito especial de Rs. 8.000: 000$000, muitas vezes superior às
bolsos dos munícipes, ainda mais quando suas atitudes autoritárias já haviam criado um
clima de confronto que obrigara muitas empresas a recorrer ao Poder Judiciário, provocou
Comercial.
(...) Desse seu plano, de tão graves conseqüências, e que em uma mínima parte seria
executado por seu sucessor, o Dr. Pedro Neiva de Santana, são a triplicação, em largura, da
Rua do Egito desde o Largo do Carmo, rumo norte, até a Avenida Beira-Mar, fazendo
rumo sul, desde o chamado Canto Grande, na esquina da Rua Formosa com o Largo do
Carmo, até onde terminava a Praia da Olaria que, então aterrada, servia de chão para os
alicerces do novo Mercado Municipal, que substituiu aquele outro, já famoso pela imundície
de suas instalações, situada entre o Beco Escuro e a Rua da Fonte das Pedras, de uma parte,
reformistas.
apraziveis logradouros; ruas estreitas e tortuosas, traçadas ainda nos tempos coloniais,
via de acesso ao interior da ilha e que nunca tinha merecido os cuidados da administração
A cidade passou, em suma, a ostentar uma nova fisionomia, bem diferente daquela que lhe
Por outro lado, os jornais prosseguiam publicando as contemplações dos intentos para
uma sociedade polida. A ordem, concebida como pré-requisito para o progresso, indicava a
e o darwinismo social.
101
MEIRELES, Mário M.. História do Comércio do Maranhão. Op. cit. p. 36-37.
102
Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas, Presidente da República dos Estados Unidos do
Brasil, pelo Dr. Paulo Martins de Souza Ramos, Interventor Federal no Estado do Maranhão. D.E.I.P. 1941, p.61
modelares, voltados à maternidade e à família. Assim, estereótipos eram impressos
atribuídas às mulheres eram suficientes para justificar que se exigisse delas uma atitude de
extremamente perigosas. Constituíam-se nas criminosas natas, nas prostitutas e nas, loucas
Nesse sentido, menções constantes, nas páginas da imprensa diária, de temas a respeito
ludovicense104.
drama de uma civilização derrocada” no qual destrinchava, sob a luz dos conceitos pregados,
a questão do meretrício.
103
SOIHET, Rachel. Mulheres Pobres e Violência no Brasil Urbano. In: DEL PRIORE, Mary (org.). História das
Mulheres no Brasil. SP: Contexto, 1997.
104
Roberto Machado, na introdução do livro Microfísica do Poder. RJ: Graal, 2000, p. XI, de Michel Foucault,
abserva que para o filósofo é evidente “a existência de formas de exercício do poder diferentes do Estado, a ele
articuladas de maneiras variadas e que são indispensáveis inclusive a sua sustentação e atuação eficaz”.
Apresentado na coluna “Os Bastidores da Cidade”, configurava de imediato uma idéia
de lado escuro, oculto, encoberto, sem visibilidade e desconhecido do assunto cuja menção
Diagnosticada como um mal que ameaçava a saúde física, moral e social da população
urbana, definia a prostituição “como fonte da doença social em dois sentidos básicos: seja
ilícito.”105
lama. Pobres maripôsas que queimaram as azas a luz dos fogos fátuos, se me permitem a
frase literária. Jovens ainda vindas de todos os recantos do Estado ou mesmo dos subúrbios
da cidade, elas vivem a mais desgraçada das vidas, mercadejando o corpo, vendendo prazer
e luxúria, ganhando em troca sífilis e tuberculose, não raras vezes , lepra e loucura,
105
ENGEL, Magali. Meretrizes e Doutores: saber médico e prostituição no Rio de Janeiro(1840-1890). SP:
Brasiliense, 1988, p.98. Embora falando da realidade verificada em fins dos oitocentos na cidade do Rio de
Janeiro, Engel nos apresenta um quadro de significativas similitudes com São Luís da primeira metade do XX.
Quando a cidade dorme, elas acordam para a vida “alegre” dos lupanares 106. Semi-
nuas, dentro dos luxuosos “soirées”, dansam, bebem, jogam e fumam, descendo a cada dia
A custa dos corpos dessas infelizes, gordas e austeras mulheres, fazem fortuna com
rapidez. Compram sítios, palacetes, sobrados, caminhões, etc.. É o mais rendoso dos
negócios, segundo a palavra de uma das madames em conversa com o repórter quando da
sua primeira visita ao bairro das mulheres de ninguém. Primeira visita, meus senhores por
esta luz que nos alumia. Para os espíritos bem formados uma visita a esse recanto da cidade,
inspira piedade e vergonha. Vergonha ante a degradação humana que se vê. Criaturas sem
leprosário ou um manicômio. Olha-las de perto e ter em mente o destino que auguramos para
as nossas filhas e irmãs, toca-nos o coração o sentimento de piedade. Elas também sonharam
com o príncipe encantado, tiveram lindos sonhos de noivado, algumas tiveram bonecas na
infância e pensaram ser mães, um dia. Hoje vivem como monturos, enganando a um e a
outro, mentindo de amor ao primeiro que lhe pague uma cerveja e lhe dê um cigarro. E
enquanto isso, as “respeitáveis Madames” vão enchendo as arcas dos seus tesouros.
aproximadamente, desde a mais grã-fina a mais baixa onde vivem as mulheres do vício e
106
Segundo Catherine Salles em, As prostitutas de Roma. op. cit. p.87, o termo lupanar tem sua origem vinculada
à história romana. “Roma deve sua fundação a uma loba. As moedas ou as esculturas reproduziram
persistentemente este símbolo nacional: a imagem insólita do animal selvagem a amamentar Rómulo e Remo.
No entanto desde a Antiguidade, os historiadores empenharam-se em racionalizar este mito para descobrir,
subjacente a ele, uma realidade muito mais trivial: os bebés abandonados não ficaram a dever a sua salvação
ao leite de uma loba compassiva, mas sim à caridade de uma mulher, a quem chamavam Lupa (loba) os
pastores com quem ela se prostituía _ aliás, uma alcunha que, segundo os Antigos, ligava a obscenidade
proverbial, o cheiro e a avidez do animal às prostitutas. Seja fantasia ou não esta etimologia, a prostituta
continuou a ser, para os Romanos, a <<loba>> à espreita da sua presa, no seu antro, o lupanar.”
pecado, miséria e amargura. Tanto na Monte-Cristo, como na Elite, ou no “Mata-Home”,
mergulhadas na lama do Portinho, o grito de protesto é um só. Há, todavia, exceções, como
as há em todas as regras. Existem mulheres que vivem satisfeitas com a vida que levam ali,
conforme pôde o repórter observar. Deixá-las, porém, entregues ao sabor dos imprevistos,
isso é um crime. O vício que campêa nos lupanares da cidade semelha aqueles transes em
prolifera e os bordéis recebem a cada dia mais vítimas da maldade dos homens ou das
que o problema que o problema é árduo e difícil de resolver. Roma não se fez num dia. E
...Porque os nossos poderes constituídos pela soberania da vontade popular não voltam os
olhos para os prostíbulos e, nesta época de tantas realizações, não lançam, naquela zona, a
o que de mais moderno possue a ciência, dariam, remunerados pelo Estado, assistência às
“mulheres da vida”, evitando assim o contágio permanente, já que não se pode debelar o
mal. Seria uma obra humanitária que levaria às páginas da História qualquer governante,
Brasil é o país dos problemas), dando margem a que os menos afortunados, como as
messalinas, por exemplo, levem uma melhor vida, que se urge a construção do hospital, a que
nos referimos linhas acima. Delas, em maior parte, depende a eugenia da raça. Para uma
pátria forte são precisos homens sãos. E os pais de família que descem até as ruas da Palma
e 28 levam para os seus lares, borbulhando em suas velas, os germens da sífilis. E a sífilis,
Antro de crimes e de perdição a “zona”, com seus bordéis e lupanares, constitue uma
nódoa para nossos fóros de povo civilizado e se apresenta, aos nossos olhos como o teatro
onde se apresenta aos nossos como o teatro onde se desenrola o drama de uma civilização
derrocada.” 108
afirma Margareth Rago, “de ponta a ponta, recorre-se à mesma operação conceitual que
vincula pobreza-saúde-imoralidade.”109
A par disto verificamos, nos Diários Oficiais do Estado do Maranhão 110, a existência
107
Ver o que diz sobre este mesmo assunto, Margareth Rago, Trabalho Feminino e Sexualidade. In: DEL
PRIORE, Mary. História das Mulheres no Brasil. SP: Contexto, 1997, p. 591. “De modo geral, no momento em
que a industrializaçào absorveu várias das atividades outrora exercidas na unidade doméstica – a fabricação de
tecidos, pão, manteiga, doces, vela, fósforo – desvalorizou os serviços relacionados ao lar. Ao mesmo tempo, a
ideologia da maternidade foi revigorada pelo discurso masculino: ser mãe, mais do que nunca, tornou-se a
principal missão da mulher num mundo em que se procurava estabelecer rígidas fronteiras entre a esfera
pública, definida como essencialmente masculina, e a privada, vista como lugar natural da esposa – mãe – dona
de casa e de seus filhos.”
108
O Globo. São Luís, quarta-feira, 7 de Julho de 1943, p. 1.
109
RAGO, Luzia Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar: Brasil 1890-1930. Paz e Terra,
1985, p.189.
110
Anos de 1924 a 1930.
feitas no Hospital Central, dentre as quais a sífilis apresentava maior índice de doentes,
intitulada “Será interditada a zona do meretrício”. Seu conteúdo, uma palestra feita pelo
“leprólogo maranhense”, Achiles Lisboa, indicava as medidas a serem tomadas pelo Serviço
Dizia o periódico,
Imparcial divulgou com abundância de detalhes, teceu considerações de ordem geral sobre a
moléstia em todo o mundo, particularisando o caso especial de São Luís que, segundo
Profligou o Dr. Achiles Lisbôa o fato dos terrenos próximos ao Cemitério do Gavião,
onde até bem pouco tempo habitaram os leprosos, estar sendo utilisado para construção de
casas. O contacto com aqueles terrenos, diz o cientista, facilita o contagio da moléstia de
alerta e a sua repercussão nós a teremos muito em breve através das providencias que a
Assembléia certamente sugerirá ao governo do Estado, dentre as quais se fazem sentir com
maior urgência são a interdição e incineração dos terrenos do Gavião e o exame na zona do
meretrício.
O Dr. Achiles Lisbôa, em seu fundamentado relatório combate tenazmente essa
doutrina, citando casos inúmeros de pessoas que adqueriram a moléstia pela moradia em
O Dr. Achiles Lisbôa cita, igualmente, o professor brasileiro Adolfe Lutz que
sustentava que os bacilos da tuberculose como da lepra podem existir sem mostrar a forma
clássica do seu vírus e tem nas suas granulações o elemento infectante e resistente, capaz de
Lisbôa:
_Ora, é justamente essa forma granular que ali está a impregnar o terreno do Gavião,
E diz ainda o Dr. Achiles Lisbôa, ferindo um ponto que nos parece profundamente
importante:
vigilância rigorosa e continuada da zona do meretrício que deverá ser também interditada
até rigorosa desinfecção nos trechos em que se apurem os casos de lepra suspeita. Deverá a
mesma Higiene pelo que apurar da inspeção feita pelas visitadoras, tomar providencias para
o isolamento dos casos que encontrar e interdição das moradias onde se observarem, até que
as medidas de desinfecção rigorosíssima se possam praticar, sendo preciso notar que, em tais
eminente cientista patrício Dr. Achiles Lisbôa, expressa os seus profundos conhecimentos
sobre o terrível mal de Hansen e que urge combater sem tréguas, para felicidade da
mais importantes problemas de nossa cidade. Todas as providências preconizadas para que
alcancemos a finalidade a que se propõe o cientista Achiles Lisbôa serão aceitas pela
definição e busca de soluções para os problemas da cidade, como mostra o artigo. Todavia a
papéis sociais, onde a representação das meretrizes girava em torno de imagens contrapostas à
da boa mãe.
Contudo, acredita-se que por trás da identidade, forjada por um discurso higienista-
conservador, de loucas, instáveis, vadias, sedutoras, doentes, frívolas, imaturas, etc., estavam
mulheres que atraídas pelos potenciais (ilusórios) do mercado de trabalho urbano, vieram para
São Luís e acabaram presas, pela perda de alternativas, em uma situação que as bloqueava na
111
Jornal Imparcial. São Luís, quinta-feira 28 de Outubro de 1948, p.8 e 2 (conclusão). É importante ressaltar
que já em 1933, pelo Decreto n°544 de 27 de Dezembro, foram estabelecidas normas para o estabelecimento de
um recenseamento sanitário na capital do Maranhão que forneceria às pessoas recenseadas uma caderneta
sanitária.
Parte II - Decahidas e Horizontaes112: os olhares da história
então considerados secundários para a compreensão das sociedades, passaram a fazer parte
das pesquisas e os silêncios da história eram enfim interrogados. Infância, a morte, a loucura,
O que se verifica, porém é que, em grande parte das abordagens, o tema encontra-se
industrialização.
A historiografia internacional.
urbanos...
relação ao homem.
Naquele momento, a Igreja católica ampliava seus poderes tornando mais rígidos seus
princípios.
114
BURKE, Peter. A Escrita da História: novas perspectivas. SP: Ed. Universidade Paulista, 1992.
115
DUBY, Georges. O Cavaleiro, A Mulher E O Padre; o casamento na França feudal. Lisboa: Publicações
Dom Quixote, 1988.
Os laços matrimoniais passavam a ser considerados indissolúveis, baseados nas leis
divinas e por elas abençoados. Por outro lado, à medida que se ampliava o culto à Virgem
Na obra, Duby resgatou a gênese daqueles modelos impostos às mulheres, muitos dos
concubitus, o que é abusar-se da sua esposa? É usar das partes do corpo dela que não se
destinam à procriação. Ora é óbvio que a luxúria, no casal, vem da mulher; logo esta deve
colocam sob a dominação (dominium) do seu homem: << se houver discórdia entre marido e
mulher, que o marido dome a mulher e que a mulher domada seja submissa ao homem. A
mulher submissa ao homem, é a paz dentro de casa.>> E visto que Adão foi induzido em
tentação por Eva e não Eva por Adão, é justo que o homem assuma o governo da mulher>>;
<<o homem deve comandar (imperare), a mulher obedecer (obtemperare)>>; <<a ordem
longo da História, Marcel Bernos, Philippe Lécrivain, Charles de La Roncière e Jean Guinon
116
DUBY, Georges. O Cavaleiro, A Mulher E O Padre; o casamento na França feudal. op. cit. p.118-119.
117
BERNOS, Marcel; DE LA RONCIÈRE, Charles; GUINON, Jean & LÉCRIVAIN, Philippe. O Fruto
Proibido. Lisboa: Edições 70, 1985.
Indicaram como as teorias e práticas acerca da sexualidade, pregadas pela Igreja,
produção de filhos.
A violação das prescrições eclesiásticas traduzia-se no pecado, que como tal era
No que denomina “Os amores em pecado”, Lécrivain mostra que, “bem diferente é a
da vindicta popular. Se esta é fraca, a rapariga ainda pode esperar encontrar um partido
num prazo mais ou menos breve. Se, pelo contrário, é forte, a rapariga-mãe é excluída da
aldeia sob a categoria de mulher da má vida, ou pelo menos de costumes fáceis, em que a
insaciabilidade sexual, real ou imaginária, provoca o receio e a atracção. (...) Tudo o que
com uma rapariga da região, é coberto de vergonha em nome da defesa dos herdeiros do
Mas a obra vai além, ao pretender um enfoque dos cristãos e da sexualidade e não da
Igreja e da sexualidade o que significa uma observação mais aproximada das posturas dos
Se para a Igreja o sexo era (é?) entendido como “fruto proibido”, seria isto válido para
118
BERNOS, Marcel; DE LA RONCIÈRE, Charles; GUINON, Jean & LÉCRIVAIN, Philippe. op. cit. p. 239-
240.
Também centrado no cenário medieval do século XIII, Jacques Rossiaud, publicou “La
Prostitución en el Medievo”119.
Na obra, mostrou que o estudo da prostituição possui uma amplitude e significado que
das mentalidades coletivas dos grupos sociais que a toleram ou reprimem. Podendo ser
considerada uma tarefa ambiciosa é, a seu ver, a única que permite explorar a vasta zona
obscura que separa os dois níveis: o das ideologias e a moral e o dos comportamentos
demográficos.
Provença, observou que todos os bairros, próximos Ródano, contavam com prostíbulos. Neste
análise.
aos forasteiros ou seria uma criação da coletividade para suas próprias necessidades.
capítulo “Mulheres” do livro “Os Excluídos da História” 120 ao entendimento dos poderes e
opressões femininos.
119
ROSSIAUD, Jacques. La Prostitución en el Medievo. Barcelona: Editorial Ariel, S. A., 1986.
120
PERROT, Michelle. Os excluídos da História. RJ: Paz e Terra, 1988.
Segundo a autora, no século XIX, as mulheres quando não omitidas nas produções
dicotômicas.
Tarefa dos estudos, o que importa para a autora é reencontrar “as mulheres em ação,
inovando em suas práticas, mulheres dotadas de vida, e não absolutamente como autômatas,
nos Bordéis de França”122, de Laure Adler destaca-se por ter sido um dos primeiros da
historiografia.
locais e cotidiano permitindo que fossem conhecidos elementos e pessoas que compunham as
relações daquelas mulheres cuja história poucas vezes havia sido percebida.
de natureza, pois inquietou todos que se julgavam responsáveis pela missão de zelar pela boa
ordem social.
a polícia.
121
PERROT, Michelle. Os excluídos da História. op. cit. p.187.
122
ADLER, Laure. A Vida nos Bordéis de França; 1830-1930. Lisboa: Terramar, 1990.
Percorrendo o histórico das prostitutas de Roma 123, Catherine Salles fez uma breve,
salvação dos bebês abandonados era “Lupa”, uma mulher que se prostituía com os pastores.
circulavam pelas ruas da Roma antiga: proibidas de usar vestidos compridos, destinados às
matronas e esposas legítimas, deveriam usar uma toga castanha a fim de dissimular as roupas
Outro detalhe interessante era a prática de regimes alimentares para evitar que
engordassem. Também eram comuns as pinturas nos rostos onde procuravam realçar as
“maçãs”, os cílios e as sobrancelhas. Os cabelos, por sua vez, eram pintados de vermelho ou
Apontando as prostitutas como parte integrante da vida urbana na Idade Média, Jeffrey
solicitadas nas tavernas, avenidas, banhos-públicos e até em igrejas mas, sobretudo estavam
123
SALLES, Catherine. As prostitutas de Roma. In: Amor e Sexualidade no Ocidente. Lisboa: Terramar, 1991.
124
RICHARDS, Jeffrey. Sex, Dissidence and Damnation; Minority Groups in the Middle Ages. London; NY:
Routledge, 1990.
Segundo estatísticas levantadas por Richards, muitas eram as razões que levavam
atividades e para o autor, provavelmente grande parte dos clientes das meretrizes na Europa
Medieval eram de jovens homens solteiros e que comumente utilizavam o jargão “to pluck a
diferentes cores para os vestidos das meretrizes como símbolo de infâmia, diretamente
equivalente, para o autor, à estrela usada pelos judeus e os guizos pelos dos leprosos. Também
apontou os limites de ruas e horas do dia em que as meretrizes podiam sair bem como a área
mulheres, também no medievo, Georges Duby escreveu “Heloísa, Isolda e outras damas no
século XII”125.
Destaca-se o capítulo dedicado à Maria Madalena que, segundo o autor, embora fosse
vista pelos pregadores como a “mulher pública arrependida”, tinha sua imagem utilizada
125
DUBY, Georges. Heloísa, Isolda e outras damas no século XII: uma investigação. SP: Companhia das Letras,
1995.
“Nem virgem nem esposa, nem viúva, Madalena permanecia a própria
marginalidade, e a mais inquietante, por todos os pecados que seu ser se deixou cativar
“todos os dirigentes da Igreja estavam de acordo, não obstante, em que era preciso
impedir a mulher de causar algum dano. Que era preciso portanto enquadrá-la. Casando-a.
A mulher perfeita – sob esse aspecto a atitude de Madalena era exemplar – é de fato a que
espera tudo de seu senhor, que o adora, mas que sobretudo o teme. E o serve. A mulher,
enfim, que chora e que não fala, que obedece, prosternada diante de seu homem. Por
conseguinte desde a puberdade a jovem deve tornar-se esposa. Esposa de um mestre que irá
refreá-la. Ou então esposa de Cristo, encerrada num convento. Caso contrário ela corre o
126
DUBY, Georges. Heloísa, Isolda e outras damas no século XII: uma investigação. Op. cit. p.53.
127
DUBY, Georges. Heloísa, Isolda e outras damas no século XII: uma investigação. Op. cit. p.54.
128
DUBY, Georges. Heloísa, Isolda e outras damas no século XII: uma investigação. Op. cit. p.50.
Resultado de minuciosa pesquisa, “A Prostituição Através Dos Tempos Na Sociedade
Mostrou como as, antes sagradas, atividades sexuais passaram a ser utilizadas na
distinção entre mulheres casadas, que se limitavam a um homem e, portanto podiam ser
controladas, e as “outras”.
Parent Duchâtelet que defendiam estar a prostituta no primeiro estágio da evolução humana:
H. Lippert defendia, em 1848, que “pela prática diária da sua profissão de muitos
proeminentes em conseqüência da tensão continuada dos músculos oculares, uma vez que os
olhos são utilizados principalmente para descobrir e atrair clientes. Em muitas, os órgãos da
acabam por ficar mesmo carecas. Para tal não faltam razões: acima de tudo, o modo de vida
129
ROBERTS, Nickie. A Prostituição Através dos Tempos na Sociedade Ocidental. Lisboa: Editorial Presença,
1996.
130
ROBERTS, Nickie. A Prostituição Através dos Tempos na Sociedade Ocidental. op. cit. p. 236-237.
agitado; a correria constante na rua e sob todas as condições meteorológicas, por vezes de
rouca é outra característica fisiológica da mulher que perdeu as suas funções próprias – as
de mãe.”131
características físicas “uma fronte recuada ou estreita, ossos nasais anormais e enormes
mostravam um crescimento <<exagerado>> dos pêlos púbicos, 16% hipertrofia dos lábios
prostituição, em fins do XIX até o período de Vargas, tinham dentre suas fontes teóricas
Sob a forma de um diálogo com Jean Lebrun, Michelle Perrot lançou em 1998 o livro
homem público e mulher pública percorreu o que chamou “Imagens de mulheres”, “Lugares
131
ROBERTS, Nickie. A Prostituição Através dos Tempos na Sociedade Ocidental. op. cit. p. 236.
132
ROBERTS, Nickie. A Prostituição Através dos Tempos na Sociedade Ocidental. Op. cit. p. 237.
133
Ver como Irving Goffman, Estigma, op. cit. p. 11, explica a utilização dos sinais corporais já na Grécia, como
forma de evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava.
134
PERROT, Michelle. Mulheres públicas. SP: Fundação Editora da UNESP, 1998. (Prismas)
de mulheres”, “Palavras de mulheres”, “Frentes de Luta das mulheres” e “Resistência às
mulheres”.
imagem que se forma é a encarnação da honra e virtude, ”investido de uma função oficial, o
homem público desempenha um papel importante e reconhecido”. Por sua vez, a mulher
Com a publicação da série História da Vida Privada 135 e História das Mulheres no
Ocidente136, dirigida por Philippe Ariés e Georges Duby, os estudos sobre mulheres ganharam
vigor definitivo.
Historiografia brasileira
mundial foram também sentidas, onde estudos foram retomados ou surgiram com novas
leituras. Dentre eles a história das mulheres marcada pelo lançamento em 1969 do livro “A
135
ARIÉS, Philippe; DUBY, Georges. História da vida privada. SP: Companhia das Letras, 1990.
136
DUBY, Georges; PERROT, Michelle. História das mulheres no ocidente. Porto: Afrontamento, 1990.
137
SAFFIOTI, Heleieth I. B.. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. Petrópolis: Vozes, 1969.
Além disso, buscando penetrar as raízes do problema econômico-social, lançou
textos, reunidos e anotados, June E. Hahner traçou um panorama histórico das mudanças nos
XX”, Hahner destacou a vida das prostitutas no Rio de Janeiro, através de um enfoque sobre a
Janeiro, século XIX: antologia de textos de viajantes estrangeiros” 139, o qual sob a
Utilizando textos produzidos por viajantes no Rio de Janeiro, de 1801 a 1900, trouxe
outras. Nos relatos sobre as “mulheres públicas” faz referência às prostitutas, fornecendo
riquíssimas informações sobre tipos físicos, vestuários, formas de abordagem e mobiliário dos
prostíbulos.
prostituição no Brasil foi “Do Cabaré ao Lar: a utopia da cidade disciplinar (Brasil 1890 –
1930)”140.
normas reguladoras.
Em 1986, foi organizado por Ronaldo Vainfas uma coletânea de artigos sobre idéias e
comportamentos no campo sexual e familiar brasileiro do século XVI ao início do XX. Sob o
título “História e Sexualidade no Brasil”, trouxe dois artigos voltados para a prostituição, “Da
140
RAGO, Margareth. Do Cabaré ao lar: a utopia da cidade disciplinar (Brasil 1890-1930). RJ: Paz e Terra,
1985. (Coleção Estudos Brasileiros, v.90)
necessidade do bordel higienizado: tentativas de controle da prostituição carioca no século
Magali Engel.
sua imagem como a antítese da mulher pura, Mary Del Priore escreveu o artigo “Mulheres de
Trato Ilícito”: A Prostituição na São Paulo do século XVIII141. No texto, mostrou como
muitos elementos das nossas conceituações sobre a prostituta estão vinculadas a discursos
Em 1988, foi publicado outro marco nos estudos de prostituição no Brasil, “Meretrizes
sociedade, o que revelava uma crescente interferência do saber científico na definição e busca
141
DEL PRIORE, Mary L.. Mulheres de Trato Ilícito: A Prostituição na São Paulo do século XVIII. In: Anais do
Museu Paulista. SP: Universidade de São Paulo, tomo XXXV, 1986-1987.
142
ENGEL, Magali G. Meretrizes e Doutores: saber médico e prostituição no Rio de Janeiro (1840-1890). SP:
Brasiliense, 1988.
Concebida como uma das faces da dita “cidade doente”, a prostituição passou a ser
temática comum nos textos médicos produzidos no Rio de Janeiro. Textos profundamente
143
144
RAGO, Margareth. Nos Bastidores da Imigração: o tráfico das escravas brancas. In: Revista Brasileira de
História n°18. SP: Marco Zero, 1989.
145
ENGEL, Magali. Imagens femininas em romances naturalistas brasileiros (1881-1903). In: Revista Brasileira
de História n°18. SP: Marco Zero, 1989.
o Brasil. Muitas mulheres viajavam de seus países de origem sem saber ao certo a atividade
que as esperava. Os grupos de traficantes, cáftens, detinham amplo controle sobre as rotas
naturalistas de fins do século XIX e início do XX, de acordo com a cor e a condição social.
as concepções médicas acerca da mulher “normal” e verificou que muitos dos romances
reforçavam a imagem da mulher ideal como aquela capaz de controlar seus instintos
do Estado Novo.
Também no ano de 1989 foi lançado o livro “Trópico dos Pecados” escrito por
Ronaldo Vainfas onde apontou como a colônia vivia seus padrões e papeis sociais, e dentre
outras, a conotação depreciativa sobre a prostituta em termos como mulher solteira, mulher
Menezes.
Os processos foram as fontes mais importantes, por trazerem várias meretrizes como
modernidade.
1930)”147.
146
MENEZES, Lená Medeiros de. Os estrangeiros e o comércio do prazer nas ruas do Rio de Janeiro (1890-
1930). RJ: Arquivo Nacional, 1992.
147
RAGO, Margareth. Os prazeres da noite; prostituição e códigos de sexualidade feminina em São Paulo,
1890-1930. RJ: Paz e Terra, 1991.
As discussões se aprofundaram com a publicação de “Rameiras, Ilhoas, Polacas... A
desclassificados sociais.
nos setecentos, apontando a freqüente ligação entre comércio e prostituição, onde muitas
prostituíam-se para poder comer e pagar os pesados impostos cobrados pela Coroa.
148
SOARES, Luis Carlos. Rameiras, Ilhoas, Polacas... A Prostituição no Rio de Janeiro do século XIX. SP:
Ática, 1992.
149
FIGUEIREDO, Luciano. O Avesso da Memória: cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no século
XVIII. RJ: José Olympio; Brasília, DF: Edunb, 1993.
“Ao Sul do Corpo”150, outra valiosa contribuição para a História das Mulheres no
mulheres, contrapondo a mulher perigosa, sem qualidades, da rua com santa mãezinha, do
lar.
As imagens do trabalhador e mulher ideal para uma Nação forte sobressaem nos
artigos “Imagens do trabalhador brasileiro nos anos 30”151 e “Homens pobres, homens
mecanismos de construção dos papéis sociais primeiro período varguista. Segundo a autora, o
Código Penal, base do controle social nas décadas de 30 e 40, tinha raízes nas práticas
repressivas do início do século. Mostrou também como no decorrer das primeiras décadas do
meretrício.
Por outro lado, a Constituição de 1937 153 reforçou aquelas medidas, definindo o
trabalho como um dever social, colocando a ociosidade como a mais nociva instigadora do
Lançado pelo IFCH da Unicamp, o n°1 dos Cadernos Pagu154 trouxe o significativo
feminina na cidade, no início do século XX, presentes nas revistas direcionadas às mulheres,
inclusive da prostituta.
153
Constituições Brasileiras: 1937 / - Costa Porto, Walter – Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, Centro
de Estudos Estratégicos, 1999. (Coleção, Constituições Brasileiras; v.4)
154
Cadernos Pagu. De Trajetórias e Sentimentos. Campinas: Unicamp / IFCH, n°1, 1993.
155
RAGO, Margareth. As Mulheres na Historiografia Brasileira. In: Cultura histórica em debate. SP: Editora da
Universidade Estadual Paulista, 1995.
metodológicas de trabalhos centrados na prostituição e destacou a importância das análises
integradas.
dados de como “viviam e definiam-se; o cotidiano nos bordéis e fora da zona de meretrício;
brasileira de 1871”156, Sandra Lauderdale Graham resgatou relatos feitos por escravos e
Maltratadas e adoecidas pelas condições que se lhes impunham, muitas vezes, levavam
os casos aos tribunais. Os autos do processo formaram a base do estudo permitindo que
marcadamente em cidades como o Rio de Janeiro e São Paulo, Beatriz Kushnir propôs-se a
estudar em “As polacas cariocas: mulheres judias prostitutas e suas associações de ajuda
ajuda mútua, na perspectiva de observar não as visões externas, mas as visões do grupo sobre
si.
156
GRAHAM, Sandra Lauderdale. O Impasse da escravatura: prostitutas escravas, suas senhoras e a lei
brasileira de 1871. In: Revista Acervo; Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, v.9, n°1-2, jan/dez 1996.
157
KUSHNIR, Beatriz. As polacas cariocas: mulheres judias prostitutas e suas associações de ajuda mútua. In:
Revista Acervo; Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, v.9, n°1-2, jan/dez 1996.
Também em 1996, a Revista Brasileira de História 158 trouxe um importante artigo
sobre as construções de perfis femininos. Escrito por Maria Izilda Santos de Matos em
parceria com Fernando A. Faria, o artigo “No cotidiano da boemia. O feminino, o masculino e
suas relações em Lupicínio Rodrigues” percorreu letras de músicas feitas nas décadas de 30,
bar, a rainha do lar, marcadas pela volubilidade, potencialmente infiéis e tecendo observações
enfoque da mulher como ser social. O artigo de Luciano Figueiredo “Mulheres nas Minas
Gerais” analisou como a prostituição atingiu proporções mais elevadas naquelas partes da
colônia. Mostrando que “no interior das vilas e cidades mineiras os prostíbulos, mais
Para o autor ficou claro que a pobreza vivenciada por aquelas mulheres explica a
Violência no Brasil Urbano”, sobre o elo entre modernização - higienização das cidades e a
Soihet atentou para a absorção dos paradigmas científicos europeus do momento onde
158
Revista Brasileira de História. Confrontos e Perspectivas. SP: ANPUH/Contexto. V.16, n°31/32, 1996.
159
DEL PRIORE, Mary L.. (org.) História das mulheres no Brasil. SP: Contexto, 1997.
160
FIGUEIREDO, Luciano. Mulheres nas Minas Gerais. In: História das mulheres no Brasil. SP: Contexto,
1997, p. 157.
recato, o predomínio das faculdades afetivas sobre as intelectuais, a subordinação da
por Ronaldo Vainfas no capítulo “Moralidades brasílicas: deleites sexuais e linguagem erótica
na sociedade escravista” do livro “História da Vida Privada no Brasil: cotidiano e vida privada
sugestões nos encaminhamentos desta dissertação, mas o que se pôde notar é que os estudos
sobre prostituição ainda se fazem tímidos nos campos da História. Poucos são os que
privilegiam o assunto em toda uma obra. Grande parte são menções dentro de outra discussão.
fez.
161
SOIHET, Rachel. Mulheres pobres e violência no Brasil urbano. In: História das mulheres no Brasil. SP:
Contexto, 1997, p.363.
162
História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa / organização Laura de
Mello e Souza. _ São Paulo: Cia. das Letras, 1997.
163
VAINFAS, Ronaldo. Moralidades brasílicas: deleites sexuais e linguagem erótica na sociedade escravista.
In: História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Cia. das
Letras, 1997, p. 254-255.
Dentre os trabalhos nacionais os enfoques dividem-se entre os séculos XVIII, XIX e
dominante também é a construção e forma dos discursos sobre os papéis, como e quais são as
Este trabalho tem como ponto de convergência com os demais a observação de quem
engrenagem econômico-social da qual faziam parte, refletir como, de onde e por que se
deslocaram para a cidade, conhecer suas idades, saber se eram casadas, solteiras, viúvas,
e Ocorrências
164
RIBEIRO JÚNIOR, José Reinaldo Barros. Formação do espaço urbano de São Luís. op. cit. p. 73.
Excluídas do mercado e sem alternativas, muitas daquelas mulheres voltaram-se para a
identificadas como locais permeados pela promiscuidade e desordem. Por outro lado, nos
ideais de uma urbes higienizada, moderna e civilizada, a moral pública e o controle social
policial, um elemento crucial para o controle social, pois permitia à polícia saber onde
estavam os homens, o que faziam, falavam, traziam, etc., fornecendo um “rx” da sociedade.
Queixavam-se das meretrizes, todavia, elas próprias aparecem dando queixas contra
outros. Os motivos eram inúmeros e a cada “episódio” vivenciado, a percepção dos territórios
experimentados, dos corpos, das falas, dos gestos, das formas de vestir e de habitar, tornava-
se mais aguda.
165
Embora a violência no cotidiano daquelas meretrizes fosse constante, há que se destacar que a prostituição em
São Luís não se constituía em rede ligada ao crime. Havia poucas estrangeiras não havendo, portanto tráfico de
mulheres.
Modelava-se, a partir do que se poderia pensar fragmentário, um cenário representado
por suas condutas, pelas violências sofridas e praticadas, pelas humilhações, pelas relações
estabelecidas com homens e outras mulheres, por suas posses, seus objetos, por seus
codinomes (que faz imaginar como eram) e nos nomes com que eram referidas.
Camaleônicas. Chamadas com freqüência por nomes que não eram os seus. Ora por
outros, ora por codinomes que pareciam corresponder a atributos físicos 166. “Bensinho, Bico
de Brasa, Bolacha Fofa, Bolacha Fogosa, Canganha, Canuta, Curupinha, Lambisgóia, Lupu,
Maria Roxinha, Macole, Pao Ferro, Pao de Fogo, Pao Não Cessa, Papo Rouxo, Pé de Pato,
Pirulito, Pitoruba, Poço Fundo, Rabecão, Raspa, Riacho Sujo, Santa, Vara Pau, Vatapá,
Velocipe, Venta de Fole, Venta de Porco, Xiri Pistola” eram algumas identidades
Nas fronteiras do público e do privado, das ruas e das casas, outros endereços surgiram
estabelecimentos também surgiram. Exemplo disto são os locais antes por nós desconhecidos
como, o Club “Espoca”, Club “Recreio das Divas”, Frege “Orion”, Pensão “Fumaça” e
Pensão “Fuzarca”.
166
Margareth Rago no livro, Os prazeres da noite: prostituição e códigos da sexualidade feminina em São
Paulo, 1890-1930. Op. cit. p. 238, apresenta o processo de reidentificação em SP afirmando que,
“reterritorializada, pelo edifício da prostituição em São Paulo desde a passagem do século, a mulher que
entrava para esse universo passava por todo um ritual de iniação. Mudava de nome, adotando apelidos simples
e afrancesados , como Mimi, Lulu, Vivi, Suely, Maria Cabaret, Jeannete, Lili das “Jóias”, Nenê Romano etc. O
significado simbólico desse transferência de identidade é forte, pois ela vem acompanhada, de um lado, pela
perda do sobrenome que vincula à família e, de outro, por toda uma metamorfose de sua identidade corporal.
Trocando de nome, a prostituta mudava também a cor do cabelo, encurtava e decotava as roupas, passava a se
maquilar com mais extravagância, enfeitava-se com jóias que revelavam seu status, produzia marcas no corpo,
como tatuagens. Além disso, devia aprender toda uma nova maneira de falar, conhecer as gírias desse meio,
assim como as modalidades diversificadas de conduta que eram mais valorizadas”. Sobre o mesmo assunto
Laure Adler em, A Vida nos Bordéis de França, 1830-1930. Op. cit. p. 8, diz sobre as prostitutas francesas,
“usam nomes como Divine, Élisa, Marie en Tête, Marie Coups de Sabre, Marguerite, Aglaé, Caca, Bijou,
Olympia, Pepe la Panthère, Poil Ras, Poil Long, Crucifix, Irma, Amanda, Octavie, Belle Cuisse, Titine, Pieds
Fins, Paulette, la Grimpée, Gina, Nana, Fernande, Rosa... . Em São Luís, vinculados muito mais ao sexo sem
floreios, o bucolismo daqueles codinomes cedeu lugar ao realismo do cotidiano.
Somados a outros, abrigavam em seus quartos meretrizes com suas bolsas, camas,
cofres, cordões, lápis, lençóis, malas, mesas, navalhas, quadros, redes, revólver, retratos,
As formas de falar e vestir aparecem nos casos de insultos por palavras ofensivas,
obscenas, impropérios, pilhérias carregadas, nomes que a moral manda se calar e nos trajes
acerca da vida e trajetórias daquelas mulheres possam ser observadas com mais proximidade.
casamento não cumprida, provocações, roubos de dinheiro e roubos de objetos pessoais eram
Apreensão de objetos
Queixa de Celina. R. de S. residente na rua de Nazareth n30 contra João. F. dono de
uma pensão onde reside a queixosa, por ter o mesmo lhe espancado e tomado cama e uma
Queixa de Ernestina. N. contra João. F. residente a rua n30, “de Nazareth” dono da
Pensão Glória, por ter expedido da queixosa da referida Pensão e tomando – lhe toda
vivido com o individuo de nome Antonio C. rezidente a rua da Estrella, carpina, que tendo
vivido com o mesmo 14 dias este quer lhe tomar uma rede que lhe deu sem lhe dar mais nada.
Merantine L., residente à rua Affonso Penna “sobrado Espoca” apresentou queixa
contra José. M. da S., operário da oficina mechanica de Guimarães, à mesma rua 460, pelo
facto de não mais querido viver com este indivíduo e ele ter se mudado levando a rede da
encarregada do mesmo couro “grosso” por ter esta lhe aprehendido um par de sapatos e
“Uberaba” encarregado do sobrado Uberaba por ter aprehendido uma sua mala, tres mesas
e um quadro desde o mês de novembro quando lá morou e agora não quer lhe entregar.
Sergia C., residente à Pensão Chicó, a rua... queixou-se de Isolino P., residente à rua
da Estrela defronte da Alfandega, por ter ficado com as roupas e malas da queixosa. Intime-
Albina P. F., residente à rua da Palma, 446 “Casa Maria Augusta” queixou-se de que
a dona da caza, prendeu os objetos de seu uso, não o querendo entregar. Capitão Mochel.
27/4/34
propriedade de Vitória C., compareceu a esta Permanencia, onde apresentou queixa contra
aquela proprietária, pelo fato de ter apreendido diversos objetos pertencentes a queixosa, em
virtude desta querer mudar-se daquela pensão e lhe ser devedora da quantia de 235$500.
Solução: De ordem do Sr. Dr. Chefe de Polícia a acusada fez entrega dos objetos, tendo a
Raymunda L., Rua 7 de Setembro, 73 contra Antonio C., ignorado o paradeiro por ter
entrado em sua casa e portado-se muitissimo mal esbordoando um menor seu irmão. A
queixosa é meretriz, mas somente à noite recebe visitas pois em caza tem moças. 3/10/29
Maria da G. “vulgo Maria José de Mattos” rua Estrella, 571, contra Victor I. de P.,
mesma caza, seu amazio, que por ciumes esbordoara-lhe tirando da cabeça da queixosa
Regina L., moradora à rua Regente Braulio, n208 apresentou queixa contra José. M.,
L.. 1/10/30
nome Ary de tal que trabalha na praia do desterro deu-lhe um golpe em uma das mãos com
Hortencia B. de A., residente no Sobrado “Couro Grosso” veio queixar-se contra seu
ex amante, Manoel J., residente em João Paulo, por haver tentado tirar-lhe sua vida e a
queixando-se contra Otacilia de tal, residente a mesma casa, por esta ter agredido a queixosa
compareceu a esta Permanência as 6.00 horas, a fim de queixar-se contra uma outra meretriz
de nome Maria do E. rezidente na rua da Palma, pelo fato da referida meretriz ter invadido a
referida Pensão e espancado com um salto de sapato. Solução: De ordem de Sr. Dr. Chefe de
Polícia, a acuzada foi intimada afim de responder pela queixa hoje as 9 horas. 24/10/1940
(5952)
Arrombamentos e roubos
Maria L. de J., moradora à rua Henrique Leal n 140 queixou-se que ao chegar em
casa encontrou a porta de seu quarto aberto e sua mala arrombada sem cofre e roubado a
importancia de 60$ presumindo ser Otilia S., que há tempos morou à mesma casa. 23/10/29
Maria de L. S. ou Joanna M. da S., rua Nova, 118, contra a encarregada do sobrado a
rua Candido Mendes,458, por terem no referido sobrado, roubado da queixosa, um cofre com
dinheiro. 18/12/29
D. Victória L., rezidente a rua Candido Mendes 353 vem queixar-se de que o Sr.
Tenelon Cavalcanti de Albuquerque, foi a sua rezidencia e de tal carregou um relogio uma
corrente um revolver e 168$ em dinheiro sem mais dar satisfação. Tenelon que é escriturário
do departamento municipal, alem de tudo isso vive a debochar com a queixosa. Intimado
Ignez R. do A., rua de São Pantaleão, 504 queixou-se da mulher conhecida por
Bensinho, residente na rua Jacintho Maya, 299, pelo fato de ter furtado da mala da queixosa,
1 retrato, 1 lençoes, 1 toalha e 1 tesoura. Intime-se já. Parecer: Ficou provado, não ter
indivíduo Raymundo, digo, Manoel A. R. “vulgo Manoel Galinha”, pelo fato de ter referido
indivíduo roubado do quintal de sua casa 4 toalhas de rendas diversas, no dia 4 do corrente.
As pessoas que compraram são as seguintes:- Maria Augusta residente à rua da Palma, 446,
comprou duas; Mercedes C. e Maria A., ambas da Pensão Chicó . Mercedes C., não entregou
ainda. 16/12/32
Maria do C. P. da S., residente a Rua da Estrela, sobrado do P., veio queixar-se contra
Raymundo L. P. por ter entrado em seu quarto, à noite apagando a luz e roubou-lhe a
importancia de 5$000 Lindoso foi recolhido ao xadrez depois de ter ficado provado ser o
Julieta F. de B., veio a esta Delegacia, queixar-se de que domingo último foi roubada
de seu quarto da caza de comodo “Maria Ferreira” à rua Affonso Penna n 486: 1 rede
17/6/36
Pagamentos e empréstimos
Thomasia de M., residente no Club Espoca, a rua Affonso Penna, apresentou queixa
Didi” residente no Rosario por ter o primeiro copulado com sigo e não lh’o querer pagar e o
queixar-se contra Venancia R., residente a Rua Ribeirão “Pensão Fumaça” por ter a
queixosa emprestado a esta um cordão de ouro, no valor de cento e vinte mil reis há dois
annos e até agora não lhe foi restituido. Autoridade mandou entender-se com V. a qual já
havia empenhado dito cordão a outra pessôa, a praia do caju, onde foi aprehendido e
Celina de Tal, proprietaria da Pensão, à rua Herculano Parga n 220, veio a esta
Delegacia queixar-se contra sua hospede Raymunda S. por esta ter fugido da sua pensão,
sem que a proprietaria saiba do seu paradeiro, ficando Raymunda devendo 205$000.
25/10/36
Francisca R. S. residente a rua Cândido Mendes, 585, apresenta queixa contra Pedro
Dna. Maria J. S. V. moradora a rua da Estrella s/n deu queixa contra o conhecido
arruaceiro conhecido por “Encoraçado” pelo facto delle ter ido continuadamente a caza da
queixoza varias vezes para ter relações e como tenha sido sempre repelido, insultou-a
devemente prometendo ainda mata-la . Por este motivo, pede providencias a Policia. Intime-
Honorina C., moradora à rua 14 de Julho, apresentou queixa contra Carlos T.,
residente à rua Oswaldo Cruz, n por motivo de querer, à viva força, desacatar a queixosa,
injuriando-a e procurando desse modo, prejudicar o negócio que a mesma explora nesta
Promessas e abusos
Odeth S. M., residente na Rua 28 n 445, apresentou queixa apresentou queixa contra
o Sr. Ledis M., morador no Quebra-Costa s/n dizendo que este Sr. a tres mezes e dias li tirara
de caza de ondi vivia onestamenti com sua tia com promessa di cazamento e não
de casa. 4/1/31
Margarida S., residente no “Espoca”, queixa-se a esta Delegacia, que Cacia de tal
todos, as vezes que a encontra corre-lhe a mão, como hoje por exemplo se a queixosa não
Ameaças
Apolônia C. M., residente a rua 28 de Julho, n. 445, queixa-se contra Isaurina M. S.,
que prometeu matar a queixosa. Intime-se para às 10 horas do dia 3. Resolvido pelo Tenente
Reis. 2/2/33
Brigida M. dos R., residente a rua Cândido Mendes no Sobrado de Uberaba, veio
queixar-se contra Mercedes de tal residente à rua do Ribeirão n pegado a Pensão Fumaça,
pelo fato desta andar lhe ameassando e insultando com palavras ofensivas. 20/6/33
Se para as meretrizes os motivos das queixas estavam mais no nível do concreto como,
questão residia muito mais no plano da moral. Desrespeito às famílias, insultos, ofensas à
moral, insultos as sras. casadas e não pagamento de encomendas eram os elementos que
Desrespeito e insultos
Raymunda S., residente a rua do Gavião, 87, contra as meretrizes Carmina de tal e
Maria P. “vulgo Maria Roxinha” residente à mesma rua, 97, por andarem dirigindo palavras
obsenas publicamente contra a queixosa desrespeitando assim as famílias residentes no
Domingas P. moradora à rua “ignorada” por lhe haver lhe dirigido insultos. 26/10/29
Maria A. C., rezidente a rua da Mangueira, digo rua Oswaldo Cruz, 594 vem queixar-
seu amante Sigmano N. conductor n34 da companhia de bonds elétricos foram a sua
rezidencia agredindo-a com insultos e offensas a moral e como não conheça essa mulher
achou estranho o seu proccidimento e vem pedir providencias para o caso, tendo mais a
acrescentar que soube que essa mulher tinha estado na policia ouvindo a voz autorizada da
autoridade sem no entanto ouvir os seus conselhos. Intimada para 12/2/32 as 11 horas.
12/2/32
Neuza da S., residente no Beco Feliz, baixos do sobrado do árabe João F., queixou-se
da meretriz Perolina de Tal, residente no Espoca, pelo facto de ter referida mulher lhe
dirigido pesados insultos. Intime-se para 2 horas. Parecer: Pela autoridade P., foi
reprehendida. 23/12/32
Em 30 de Setembro de 1930, Isabel L. do N. apresentou à esta Delegacia uma queixa
contra Brigida de tal ambas meretrises moradoras a primeira à rua Jacintho Maia a segunda
Pagamentos
Victória L., rezidente a rua de Sanctanna n 143, vem queixar-se de que Camita
(Canuta) de tal residente na pensão de Zulino a rua Cândido Mendes defronte da Alfândega
não quer lhe pagar phantasias que mandou fazer pelo carnaval, além de quando é cobrada
Veio a esta delegacia Dona Candida da S. B., residente a rua 28 de Julho n 305,
queixar-se de que sendo empregada de Madame Guedes, a rua Oswaldo Cruz, a rasão de
trinta mil réis mensaes trabalhando durante 14 dias, tendo a mesma senhora lhe pago apenas
contra Jacintha de Tal “vulgo Santa” residente no S. Raymundo s/n pelo facto de ter referida
meretriz dirigindo pesados insultos à queixosa, que é casada. Intime-se para 12 as 9 horas.
11/1/33
Das ocorrências:
Muitos registros dão conta das admoestações sofridas pelas meretrizes. A concepção
de perigo para a ordem e a tranqüilidade social refletia-se em punições mais brandas, todavia
eram consideradas suficientes para cercear seu possível desdobramento, o crime. 167
repreendidas e muitas vezes presas sendo que seus nomes, ou codinomes, quase sempre
Nos casos a seguir apresentam-se algumas das razões pelas quais poderiam ser presas
sossego público as meretrizes: Raymunda A., vulgo bico de braza, Lucia M. vulgo “velocipe”
167
Este assunto pode ser visto com mais detalhes no artigo de Silvia Helena Zanirato Martins, Homens pobres,
homens perigosos. A repressão à vadiagem no primeiro governo de Vargas. Op. cit. p. 289.
Foram chamadas ao policia e admoestadas por não se darem ao respeito perturbando
o socego publico, as decaidas Anna F., Raymunda B., Maria S. e Maria J. C. bem como o
encarregado Domingo C. S. todos moradores à rua Jacintho Maia 299 e Maria da C. da rua
decaidas Honorina F., Benigna N. e Benedicto S. à Rua Antonio Rayol n74. 17/10/29
Foi chamada a policia e admoestada a horizontal Raymunda S., por andar altas horas
28/10/29
“xiri pistola” , Joaquina M., Neide L. P. vulgo Bolacha fôfa, Thomazinha F. dos S., Josepha
venta de porco e Izabel vulgo pé de pato moradoras à rua da Manga n 49 por terem
P., Maria J. S., Benedicta da S. F., vulgo venta de fole e Angela M. da S. por perturbação do
Grosso” por ter promovido distúrbio a rua Fonte das Pedras hontem a noite. 3/2/30
e Joanna C. a moradora à rua digo, Travessa do Monteiro n47 por terem procurado uma
Senhorinha S., Celestina A., Isaura F. por falta de ordem “Fusarca” a rua da Saude canto
com Palma e mais Maria R. R. / Mila de M. “Riacho sujo”, Lucia C. “Poço Fundo”,
Alexandrina F. dos S. “vulgo pao não cessa”, Isabel D. de A., Beatriz G. “vulgo pao de
nomes:_ Maria A. L., Raymunda F., Anna F., Benedita R. e Maria de L.. 4/10/29
___Mesma rua 442___ Anna N., Maria E., Sebastianna M. e Eva S. e Jovenilia B. e
Vitorina de Tal.
Affonso Penna 84. Joanna dos P. C., Luzia da C. F., Maria H., Silvina, Josepha P., Antonia F.,
__Rua da Manga 44__Encarregado Martinho R., Margarida S., Rosaria R., Octávia
__Rua Afonso Penna 47__Faustina L., Luisa P., Antonia A , Raymunda S. e Julia S..
Agostinha A. .
__Rua Afonso Penna 49__Francisca tal., Catarina R., Matilde N., Militina de Tal,
Joaquina V., Benedita N., Maria das D., Joanna M., Marciana de J., Antonia M. e Maria M..
Radiante: Antonia de Tal, Balbina M., Maria A ., Rosa S ., Marcolina M. e Luiza C..
Rua da Estrella 585 ___ Eugenia M. S., Celestina A., Teresa S., Raymunda R., Rosilda
M., Benedita dos A., Laudelina M., Isolina M. e Raymunda de Tal. 5/10/29
Justina S. e suas. As meretrizes são:- Zila A., Cantonila P. da S. e Maria da G. F.. 7/10/29
Luiz F. encarregado da caza a rua João Vital de Mattos, 36 com as meretrises:- Maria
14/10/29
Casas e cafetinas
San L., chinez, alugador de caza para meretrizes e fora intimado a deixar apenas
duas __as mulheres suas locatárias são: Rosa L. de C., Joanna P. e Joanna O. __6 dias.
7/10/29.
deste Delegado haver a mesma fundado uma Pensão de mulheres, tendo recebido todas o
praso (?) para terminar e no caso de não haver ainda fundado desistir de tal intensão por
que este Delegado manterá vigilância e tomará as enérgicas providencias no sentido sensar
Foram chamadas a esta delegacia a caftina Minervina P., que declarou alugar a casa
S. B., Maria G. de O., Galdina R. da S., Martinha O. L., Elvira O., Antonia M. de O.,
Aldenora R., Raymunda B., Esmeralda C. N., Maria do R. B., Anna F., Justina D. de O.,
Raymunda, Maria da C., Sebastianna S., Adélia S., Zuleide G. e Adalgisa S. __Ao todo
18. 12/3/30
Idem, idem, idem __Direita 156. Francisca M. da C., Maria de N. L., Petronila R. e
Antonia F. B. . Ao todo 4.
Ofensas à moral
publica as decaidas Neide C., Maria F. moradoras à rua de Sant’anna 149. 23/10/29
Foram chamadas a policia e admoestadas as horizontal M. J. do E. S. vulgo D.
Desacatos
uma senhora casada sua visinha moradoras à rua Cezar Marques. 15/10/29
Desrespeito
attenção pelo rondante pelo seu modo incorrecto dirigiu-lhe impropérios a decaída Filomena
Foi chamada a policia e detida a decaida Laura P. de A. por falta de respeito para
policia por offensa à moral. Maria Q., Albertina P. da S., Maria C. de A., Josepha C. e
Foi chamada a policia e admoestada a decahida Nydes C. L. por ter faltado com o
devido respeito para com as familias de sua vizinhança à rua de Santanna n149. 6/1/30
horas de hoje a meretriz de nome Maria F. A. , pelo fato da mesma ter sido encontrada
atenção: Solução: De ordem do Sr. Dr. Chefe de Polícia a meretriz em apreço foi recolhida
De ordem do Sr. Dr. Chefe de Policia, foi recolhida ao xadrez aos 30 minutos, a
meretriz Eduvirgens M. de S., pelo fato de ser desacatado no Club de Meretrizes, denominado
“Recreio das Divas” à rua Candido Mendes, o soldado da Força Policial do Estado, n589.
Solução: De ordem da mesma autoridade, a referida meretriz foi auferida para a
Penitenciária do Estado, em virtude de ter portado-se mal, nesta policia. 2/11/1940 (6094)
Brigas
“vara pau”, Izabel S. ( venta de porco), Zuleide F., “lambisgoia” foram detidas por se
Trajes
Foram chamadas a policia e detidos por desrespeito Nydes C.. Maisa F. como tambem
trajes, quase de Eva e perturbarem o sucego publico: Adelaide C., Maria da C., Clara R. L.
“vulgo vatapá”, Maria M. “vulgo Pao Ferro” e Belmira A. “vulgo papo rouxo”. 20/11/29.
B., Antonia S., Maria E. L., Martinha A. B., Sinézia P. L., Maria P. de S., Almerinda F.,
Porfíria M. da C., Anna A. de A., Alexandrina B., todas residentes a rua Cândido Mendes___
386. 20/6/30.
Desordem
Permanencia, aos 30 minutos de hoje, as meretrizes de nome Alvina P. e Antonia L., pelo fato
de se ter sido encontrada promovendo desordem na rua Afonso Pena. Solução: De ordem do
Sr. Dr. Chefe de Polícia, as mulheres em apreço foram recolhidas ao xadrez as mesmas horas.
Permanencia as 14,45 horas, as mulheres Nila M., Amalia P. S. e Adelina R., prêsas à ordem
do Sr. Dr. Chefe de Polícia, pelo fato de terem promovido desordem em uma pensão de
Pelos soldados da Força Policial do Estado n 761, 889, foram apresentadas a esta
Permanencia, as meretrizes Maria do C. e Amalia F., pelo fato das referidas meretrizes terem
promovido desordem à rua Afonso Pena. Solução: De ordem do Sr. Dr. Chefe de Polícia, as
De ordem do Sr. Dr. Chefe de Policia, foram recolhidas ao xadrez às 3,20 horas de
hoje, as meretrizes Francisca P. C. e Edith S. do N., pelo fato de terem promovido dezordem
Menores
M. J. dos S., maranhense, solteira, de 18 annos de idade, residente á Travessa da
Felicidade (Baixinha) compareceu nesta Delegacia para declarar que apezar de ser menor, é
meretriz, e por isso não quer viver na companhia dos seus paes A. D. dos S. e F. D. dos S.,
declarante ao Juiz de Menores para resolver o caso da melhor forma possível. 16/11/36
Permanência, que em uma casa de meretrizes na Rua da Lapa, existe uma menor vivendo
com sua genitora. Solução: O Sr. Dr. Chefe de Polícia tomou conhecimento da Comunicação
Nas queixas feitas pelos homens são ouvidas falas do poder, reveladoras dos discursos
cafetões e daqueles que em nome de suas esposas e filhas reclamavam das atitudes das
meretrizes.
e prostituição de menores.
na casa n7 a mesma rua por pirtubarem o sucego publico, com fortes algazarras e nomes
Sedução de menores
João L. e Joana L. moradora à rua da Lapa n152 e 188 offereceram queixas contra a
Ofensas e insultos
Venancio A., morador à rua Henrique Leal, n292 queixou-se contra as decahidas,
Bertha de Tal e Feliça de Tal, por trem offendido a sua progenitora obscenas. Moradoras à
Maria de Tal, residente à rua Fonte das Pedras, por andar dirigindo insultos não só a si
meretriz Maria P. residente no correr de sua caza s/n, por ter insultado a sua esposa. Intime-
se. 13/1/31
Tal, residente defronte da caza do queixoso, pelo facto de viver insultando uma sua filha que
é amiga da esposa de José de Tal “vulgo Zé Orelha”. _ [por ser a mesma amiga] obs: o que
está entre parenteses no texto está rasurado. Josina era amante de José Orelha. Intime-se
Desrespeito
residente a Travessa 5 de Outubro, n por ter a mesma desrespeitado a sua família. Prenda-
se. 19/11/31
Benedito F., residente à rua do Mocambo, 326, apresentou queixa contra a meretriz
Nila de Tal, residente a rua do Rancho, 27, por ter desrespeitado sua senhora. 10/1/33
Manoel S. rezidente a rua Cezar Marques n/8 queixa-se de que umas mulheres
rezidentes a rua Antonio Rayol n/143 todas as vezes que o queixoso passa dirigem-lhe
apresentou queixa contra a meretriz Maria de Tal, residente a rua de S. Pantaleão, n 504,
visinha do queixoso, por esta viver constantemente dirigindo palavras obsenas ao queixoso e
sua esposa. Foi feita a intimação da acusada para vir a presença do Sr. 2 Deleg. Amanhã às
Intrigas
contra a meretris Maria J. amasiada com o alfaiate Inis de tal, e residente junto a
“Radiante” a qual vive promovendo desvenças na sua família, chegando a ponto de querer
intrigar o queixoso com sua esposa. Intimados para amanhã, às 10 horas da manhã. 29/2/32
Menores
Pedro da C. T., queixou-se contra Agripina de M., funccionaria da saude publica por
ter prostituido a uma sobrinha do queixoso que conta 15 annos de idade de nome A. da C. P..
Prenda-se. 19/11/31
Pagamentos
Otaviano F. A., rezidente a rua da Manga 38, queixa-se de que D. Dadá rezidente no
sobrado denominado “Espoca” , a rua Affonso Penna 502, mandou o queixoso fazer um par
de sapatos e depois de posse dos mesmos não quer pagar o resto da emportancia que são
2$000 pois os mesmos foram contratados por 30$ e só deu 10$. Intimada para 25.1.32 as 13
horas. 25/1/32
José F. S., residente à Rua do Norte n 124, queixou-se Lolita de Tal, residente à Rua
da Palma n por ter, a irmã do queixoso com uma inquilina da Lolita, o feitio de 2 peças de
bordado para ser entregue a mesma Lolita e esta, agora, se recusa a efetuar o pagamento.
27/3/33
João B. da C., residente à rua São Raymundo” (Codosinho) n 80, queixou-se de Dona
Regina L., proprietária da “Pensão Regina” a rua 28 de Julho, 46, pelo facto de tê-lo
mandado pelo carnaval buscar no Café Operário, 30 garrafas de cerveja fiado e agora anda
dizendo lhe haver dado o dinheiro. Intime-se para 2 feira as 14 ½ . Resolvido 25.3.35.
23/3/35
Olavo B., residente no [?], compareceu a esta Permanencia onde apresentou queixa
contra a mulher Nair de tal, residente à Rua 28 de Julho pelo fato de ter se apoderado de
meretrizes, à Rua Herculano Parga n489, onde a queixosa anteriormente residia. Solução:
De ordem do Sr. Dr. Chefe de Policia, a acusada foi intimada, afim de responder pela queixa
Teodomiro M. V., residente à rua Direita, 232, apresentou queixa contra a meretriz
Maria J., ex amante do queixoso, residente à rua da Saúde, operário de um restaurante, pelo
facto de ter referida meretriz ficado com sua rede de dormir. Intime-se para 2 ½ horas.
25/1/33
“Minas Geraes”, que tendo lhe dado para guardar um seu brusa [sic] e uma bolça contendo
um par de meias de sêda _ um cinto e um espelho pequeno; que indo receber ditos objetos. J.
tal, residente no Sobrado Couro Grosso por ter recebido do queixoso, a quantia de 40$000
para entra à sua mãe Dona Raymunda P., verificou agora que Horácia só queria iludi-lhe
José M. rezidente na Rua do Passeio 550 quexou-se contra uma prostituta que reside
na Rua de Santana por este quexou-se ter levado um loção para vender, e ella queria 7000
onde queixou-se que foi vítima do furto de um relógio de pulso, niquelado, com pulseira de
metal branco, suspeitando da mulher Maria dos R. A. F., vulgo “Macole”, residente a rua
José Euzébio, em uma pensão de meretriz. Solução: De ordem do Sr. Dr. Chefe de Policia, foi
Hamilton B., residente à rua da Inveja, n232 queixou-se de M. de tal “vulgo Lupu”
residente na rua da Estrela, “Pensão I.”__ pelo facto de ter hontem tirado do seu bolso, a
José M. dos S., de Caxias, “em transito”, queixou-se de que passando a noite de
hontem na Pensão de Maria Augusta, à rua da Palma pelo facto de terem subtraído do bolso
do seu dolman, um relogio de algibeira marca Germinal; que estivera a noite no quarto da
Sr. Djalma F. de O., residente à rua 28 de Julho, 468, queixou-se de que a mulher de
nome J. de tal residente na Pensão Maria Augusta, foi a sua casa, em sua ausencia,
Apurou-se foi arrombada a porta porem não roubou dinheiro nenhum. 21/5/34
Agressões
José S., residente à rua do Ribeirão, n 12, apresentou queixa contra a meretriz
Enesina de Tal, residente a rua da Cruz, 902, pelo facto de ter hontem a noite, cortado o
queixoso no braço esquerdo, com uma navalha que a mesma trasia. Intime-se para 2 as 2
João P. de S., rezidente a rua Jacintho Maia n 511 de que L. R. rezidente no sobrado
do Espoca a rua Affonso Penna n por ter lhe dado uma bofetada. 27/4/35
Nas relações das meretrizes muitas vezes um homem ocupava papel de amante 168
como mostram as queixas efetuadas nos dias 12 /02/1932, 29/02/32, 25/01/33, 1/2/33.
2/1/33
rua Affonso Penna, “Espoca” pelo facto de ter referida mulher dito hontem a noite que a
queixosa não era mais donsela. Intime-se para 3 as 9 horas. Ficou resolvido a queixosa, não
14/12/36
Simplicia S., residente à rua São Pantaleão n715 vem a esta Delegacia dar queixa
contra Aguida S., residente na Berila(?) no fim da rua, pelo facto de insultar Martinha S. a
168
É bem provável que muitos daqueles “amantes” assumissem o papel de cafetões, principalmente nos casos
onde as mulheres tinham sua atividade “independente” de laços com a “madame” .
Desnudando vivências, os boletins de queixas e ocorrências fazem fluir situações,
espancamentos, dos socos e navalhadas que lhes tiravam sangue, dos insultos, das expulsões
que exigir o pagamento pelo prazer fornecido, das ameaças de morte e das provocações não
poderão nunca ser transmitidas em sua totalidade, mas certamente lá estavam, compondo com
Ó chão do Desterro,
- solidão de Deus -
onde está o erro
dos caminhos teus?
E onde o instante alto
da pureza mansa
que ao nascer do asfalto
cresce na esperança?
Até onde elevas,
sem nenhum aviso,
os adões e as evas
de teu paraíso?
E até onde baixas
teus xangôs impuros,
nas imundas faixas
de teus negros muros?
Oh, quantas perguntas
sobre ti se adensam,
chão que trazes juntas
maldição e benção
chão de meretrizes
que enfeitaram ruas:
tristes ou felizes
todas foram tuas.
Chão de velha igreja,
chão que ainda abençoa
tudo quanto seja
coisa má ou boa.169
(José Chagas)
169
CHAGAS, José. Chão da Praia Grande. In: Apanhados do chão. São Luís: EDUFMA, 1994, p.111.
Parte III – Francisca P., Honorina C., Lolita L. e outras damas de São Luís do
Maranhão. 170
novas formas de habitar. Locais antes ocupados pelos ricos comerciantes e senhores do
algodão eram transformados em moradias coletivas171 da grande massa que ali chegava e se
concentrava.
170
Este tema foi inspirado no livro Heloísa, Isolda e outra damas no século XII. de Georges Duby. Acredita-se,
desta forma, estar fazendo uma dupla homenagem, uma a esse brilhante historiador, que tantas páginas dedicou à
história das mulheres, e outra àquelas dignas meretrizes.
171
Segundo o estudo de Olavo Pereira da Silva F. Arquitetura Luso-Brasileira no Maranhão. Belo Horizonte:
Formato, 1998 (Projeto Documenta Maranhão 97), p.46. dentre os tipos de casas e sobrados característicos no
Maranhão e que vimos resignificados nas Pensões, Casas-de-Cômodos e Hospedarias, destacam-se a meia-
morada; ¾ de morada; morada inteira; morada e meia; dois pavimentos; dois pavimentos e mirante e dois
pavimentos e porão.
172
Sobre a Praia Grande, explica Mário Meireles em seu estudo O Bairro Da Praia Grande E O Palácio do
Comércio. Os Prêmios Martinus Hoyer e João Pedro Ribeiro. In; História do Comércio do Maranhão. Op. cit. p.
48 : “...com o fluir dos anos, esse apelido de Praia Grande, que da praia propriamente dita se transferiria ao
aterro nela feito, estender-se-ia também ao mais antigo perímetro urbano, velho de duzentos anos; àquele, à
margem do Bacanga, que era formado pelas ruas da Estrela, do Giz, da Palma e Formosa, as quais corriam
paralelas, de norte a sul, e cortadas pelas de Nazaré, dos Barbeiros (Vira-Mundo), do Quebra-Costa, da
Relação (Sant’Ana), Direita, da Saúde e da Cascata, até os largos das Mercês e do Desterro.
173
Em São Luís ocorre uma nítida substituição dos moradores dos grandes casarões. Com a falência do sistema
agroexportador algodoeiro e açucareiro e a subsequente implantação de indústrias, a área central da cidade foi
reocupada pela presença maciça de trabalhadores e meretrizes. O local passava por um processo de revalorização
e reutilização transformando o que no século XIX era símbolo de poder econômico em moradias de pessoas das
mais variadas origens e atividades. Nesta perspectiva Henri Lefebvre em, O direito à cidade. SP: Ed.
Documentos, 1969, p. 12, tece o seguinte comentário: “a cidade e a realidade urbana dependem do valor de
uso. O valor de troca e a generalização da mercadoria pela industrialização tendem a destruir, ao subordiná-las
a si, a cidade e a realidade urbana, refúgios do valor de uso, embriões de uma virtual predominância e de uma
revalorização de uso”.
De acordo com o recenseamento, em 1900 São Luís contava com uma população de
36.798 habitantes. Em 1920, o número havia saltado para 52.929 e em 1940 para 85.583. 174
Nas fachadas dos imponentes casarões oitocentistas, onde tantas donzelas suspiraram
nos balcões de cantaria, o que se viam eram placas de Pensões, Hospedarias ou Casas de
“... já a esse tempo nenhuma família continuava residindo nos sobradões da Rua do
Trapiche, que apenas serviam de sede a armazéns, lojas e escritórios, e que muitas, e das
melhores, já moravam naquelas ruas da cidade alta inclusive na distante rua dos Remédios
em que se transformara a estrada que, em 1775, fora aberta para levar do fim da Rua
Grande para o Largo dos Amores, na Ponta do Romeu, à margem do Anil; porque não
tardaria muito que a cidade baixa perdesse metade de sua área, desde quando a Polícia cedo
nela confinou, para além da Rua Direita, a zona do meretrício, dela afugentando as famílias
pelo Governo, e que interligaria o Maranhão, por terra, com o resto do país seria fatal o
sob
174
Ver Meireles, Mário. Dez estudos históricos. Op. cit. p. 242. Ver também citação de José Reinaldo Barros
Ribeiro Júnior, Formação do espaço urbano de São Luís: 1612-1991. op. cit. p. 73, 74, 75. “entre 1872 e 1900,
fase de instalação do conjunto industrial ludovicense, a taxa de crescimento demográfico médio anual fora de
0,85%. ... Para o intervalo 1900-1920, a situação pouco se modificou, pois a taxa de crescimento geométrico
anual no vintênio foi de apenas 1,83%, bem abaixo ao ocorrido noutros aglomerados urbanos brasileiros como:
São Paulo, 4,58%; Recife, 3,81% e Fortaleza 2,45%. Explicação também para o baixo índice de crescimento da
população são-luisense entre 1872 e 1920 (1, 08%aa) pode ser encontrada no alto índice de mortalidade
infantil em decorrência do elevado grau de insalubridade da cidade. Os serviços públicos foram sempre
insuficientes e ineficientes no combate aos problemas de saúde que afetavam a população da capital timbirense,
o que inclusive facilitava surtos epidêmicos como peste bubônica e febre tifóide.
tutela, a lavoura e o comércio do interior; porque o próprio engenheiro-chefe dos Portos do
Maranhão acabara de publicar um longo estudo, datado de 26/12/1939, dizendo das razões
por que se deve preferir a enseada do Itaqui, ao Bacanga, o que, se concretizado, seria talvez
Dividindo as mesmas ruas, havia “Casas” de vários “níveis” as quais contavam com
176
significativo número de meretrizes e pela Lei n°453, de 31 de maio de 1930 a Prefeitura
Com base nos valores indicados, o Diário Oficial do Estado do Maranhão publicou
em julho de 1930, uma relação de indústrias e profissões sujeitas ao pagamento onde estavam
incluídas:
84, Hospedaria de Deolindo A., que considerada na 26ª classe deveria pagar 100$.
175
MEIRELLES, Mário. História do Comércio do Maranhão. op. cit. p. 50.
176
Diário Oficial do Estado do Maranhão, 23 de Junho de 1930, p. 8, 9, 10 e 11 e 24 de Julho de 1930, p. 10 e
11.
177
Estas duas últimas continham a seguinte informação: “hospedaria com fiscalização da polícia”.
Identificam-se, ainda, registros, de 1932, que indicavam a quantia exata de imposto
que a Pensão, Hospedaria ou Casa pagava ao mês e a qual classe pertencia; 1°, 2° ou 3° bem
como as que tiveram sua licença suspensa por não haverem pagado o referido tributo178.
Registro de Pensões de 1931-1935, feito pela 1ª Delegacia Auxiliar de Polícia de São Luís,
Veja-se:
Meretrizes
L.L. Pensão Lolita/ R. Herculano Parga, 445 21/4/32 1classe $5.200 mensais
Meretrizes
F. de O. Pensão da Chicó R. Joaquim Távora, 218 1 classe $5.200 mensais
A. F. Pensão Rancho Fundo/ R. Herculano Parga, 114 18/4/32 1classe $5.200 mensais
Meretrizes
A. R. L. Pensão Anna Rosa/ R. José A. Correa, 43 23/4/32 3 classe $2.200 mensais
Meretrizes
R.B.T. Pensão de Meretrizes R. Luzia Bruce, 109 18/4/32 3 classe $2.200 mensais
L.E. Pensão de Meretrizes R. Affonso Penna, 486 14/4/32 2 classe $3.200 mensais
H.C. Casa-de-Cômodos R. 14 de Julho, 104 26/4/32 1 classe $5.200 mensais
Honorina/Meretrizes
M.C. Casa-de-Cômodos R. Cândido Mendes, 64 30/4/932 2 classe $3.200 mensais
Marcília/Meretrizes
A. F. de O. Casa-de-Cômodos R. 7 de Setembro, 852 20/4/32 2 classe $3.200 mensais
178
Ver o caso das hospedarias “XXX”, de Deolindo A. e “Glória”, de Maria Rita da C., interditadas pelo chefe
de polícia em 1/6/34 em razão do não pagamento de impostos.
Radiante/Meretrizes
E.C. Casa-de-Cômodos Elvira/R. 5 de Outubro, 360 32
3 classe $2.200 mensais
Meretrizes
R.M.S. Casa-de-Cômodos/ R. José Bonifácio, 169 23/5/32 3 classe $2.200 mensais
Meretrizes
D.A . Pensão XXX/ R. da Saúde, 84 20/4/32 não consta não consta
Meretrizes
L.F.S. Casa-de-Cômodos/ R. Herculano Parga, 674 07
3 classe $2.200 mensais
Meretrizes 33
M. A. T. Pensão Maria Augusta/ R. Herculano Parga, 446 24/11/32 2 classe $3.200 mensais
Meretrizes
L. A. S. Casa-Cômodos Tv. do Teatro, 19 33
3 classe $2.200 mensais
Meretrizes
A. N. Casa-de-Cômodos/ R. José A. Corrêa, 30 26/4/32 3 classe $2.200 mensais
Meretrizes
M. R. C. Hospedaria Glória/ Rua da Manga, 162 34
não consta não consta
Meretriz
R. S. Hospedaria Sousa/ R. 28 de Julho, 421 19/4/32 não consta não consta
Meretrizes
S. A. Casa-de-Cômodo/ R. Paula Duarte, 140 9/5/931 3 classe $2.200 mensais
Meretrizes
J. A . L. Casa-de-Cômodos/ R. da Lapa, 157 e /33
3 classe $4.400 mensais
Meretrizes
M.M. Casa-de-Cômodos/ R. M. Sobrinho, 518 2/6/934 3 classe $2.200 mensais
Meretrizes
P.S. Casa-de-Cômodos/ R. Nova, 11 /34
2 classe $ 3.200 mensais
Meretrizes
A. M. J. Casa-de-Cômodos/ R. 28 de Julho, 158 /34
não consta não consta
Jesus
P. O. Casa-de-Cômodos/ R.28 de Julho, 476 26/5/34 3 classe $2.200 mensais
Oliveira
R. C. M. Hospedaria Belinha R. 5 de Outubro, 360 23/10/34 3 classe $2.200 mensais
S. F. Casa-de-Cômodos/ R. 28 de Julho s/n 15/12/34 3 classe $2.200 mensais
Meretrizes
M. P. Casa-de-Cômodos/ R. 28 de Julho s/n 10/1/935 1 classe $5.200 mensais
Meretrizes
M. C. S. Hospedaria/Meretrizes R. José A. Corrêa, 315 26/1/35 3 classe $2.200 mensais
M.F.S. Casa-de- Cômodos/ R. Luzia Bruce, 48 3 classe $2.200 mensais
Meretrizes
E. das S. N. Casa-de-Cômodos Neves/R. José A. Corrêa,37 14/2/35 3 classe $2.200 mensais
Meretrizes
J.F. Casa-de-Cômodos R. Affonso Penna, 500 22/2/35 não consta não consta
Minas Geraes/Meretrizes
D.A . Hospedaria Internacional R. José Euzébio, 94 não consta 1 classe $5.200 mensais
M. R. N. Casa-de-Cômodos/ R. Santo Antônio, 235 25/5/935 2 classe $3.200 mensais
Meretrizes
L. F. Casa-de-Cômodos/ Pça do Mercado,74 18/06/935 2 classe $3.200 mensais
Meretrizes
C.B. Casa-de-Cômodos Celina/R. Herculano Parga, 6 19/06/35 3 classe $2.200 mensais
Meretrizes
F.C. Casa-de-Cômodos/ R. José Bonifácio, 170 19/06/35 3 classe $2.200 mensais
Meretrizes
M. J. S. Casa-de-Cômodos/ R. Affonso Pena, 399 19/06/35 3 classe $2.200 mensais
Meretrizes
M. A . Casa-de- Cômodos/ Pça do Mercado, 211 19/6/35 3 classe $2.200 mensais
Meretrizes
F. A . Hospedaria Felícia/ R. do Ribeirão, 140 27/6/35 3 classe $2.200 mensais
Meretrizes
V. da S. N. Casa-de-Cômodos/ R. Dr. Herculano Parga, não consta 3 classe $2.200 mensais
Meretrizes 583
impostos ao município.
Hóspedes e se o selo havia ou não sido pago. Quando não, o agente da Guarda Civil lançava
uma nota no Livro dos Mapas e dava um prazo, geralmente de um mês, para regularização do
estabelecimento.
Quando do fechamento do local era obrigatório um pedido de baixa que deveria ser
Observe-se:
números, proprietários.
14 de Julho, 104, Honorina C.
28 de Julho 421, Raymundo S.
28 de Julho, 129, Raymunda M.
28 de Julho, 34, Justina S.
28 de Julho, 445, Raymundo S.
28 de Julho, 46, Regina L.
28 de Julho, 476, José A.
7 de Setembro, 812/852 (?), Álvaro O.
Afonso Pena, 261, Virgínia F.
Afonso Pena, 339, Pedro C. C.
Afonso Pena, 353, José G. M.
Afonso Pena, 488, Luiz E. S.
Afonso Pena, 502, Joanna F. A.
Afonso Pena, 535, José G. T.
Afonso Pena, 800, Estevam M. S.
Av. Pedro II, 179, Alexandre de Tal
Av. Pedro II, 179, Grande Hotel
Av. Pedro II, 179, Viúva Quintans
Av. Pedro II, 237, João S. S.
Av. Pedro II, 264, Manoel B. P.
Calçada, 132, Suzana A.
Cândido M. 442, Joaquim
Cândido Mendes, 277, Izolino S. P.
Cândido Mendes, 281, Maria P. L.
Cândido Mendes, 386, Alexandre F.
Cândido Mendes, 442, Joaquim S. F.
Cândido Mendes, 458, João E. S.
Cândido Mendes, 471, Manoel A. S.
Cândido Mendes, 508, Cardozo S.
Cândido Mendes, 518, Joaquim R. M.
Cândido Mendes, 535, Cardozo S.
Cândido Mendes, 535, Cardozo S.
Cândido Mendes, 547, José A. L.
Cândido Mendes, 559, Estevam M. S.
Cândido Mendes, 578, Raymundo S.
Cândido Mendes, 585, Francisca R..
Cândido Mendes, 64, Maria C.
Cândido Mendes, 370, Godofredo M.
Direita, 128, Paulo S.
Henriques Leal, 128, Herculano C. B.
Henriques Leal, 232, Maria José T.
João Lisboa, 37, Rosa M. da S.
João Lisboa, 432, Adélia P.
Joaquim Távora, 19A, Apolonio E. N.
Joaquim Távora, 217, Izabel B.L.
Joaquim Távora, 218, Francisca O.
Joaquim Távora, 258, Hugo B.
Joaquim Távora, 342, Maranhão Hotel.
Joaquim Távora, 186, Amélia M. do V. S.
José Augusto Correa, 30, Alexandrina N.
José Augusto Correa, 43, Anna R. L.
José Bonifácio, 169, Rosa M. S.
José Bonifácio, 33, Sizina C.
Lapa, 157, José A. L.
Luzia Bruce, 103, Raymunda B. T.
Manga, 162, Maria Ritta da C.
Maranhão Sobrinho, 518, Maria M.
Nina Rodrigues, 128, Manoel M.
Nova, 11, Pedro S.
Nova, 41, Suzana A.
Palma, 114, Antonia F.
Palma, 208, Paula Joanna, G.
Palma, 445, Lolita L.
Palma, 446, Maria A.
Palma, 47, Antonio C.
Palma, 674, Libânio T. S.
Paula Duarte, 252, Maria P. L.
Santana, 43, Ana Rosa L.
Santo Antônio, 223, Maria P. L.
Saúde, 84, Deolindo A.
Sol, 128, Manoel M.
Sol, 23, Júlia Q.
Tarquínio Lopes, 123 Benedicta L.
Tarquínio Lopes, 233 Francisca A. de S.
Tenório Carpenter, 225, Maria P. L.
Travessa 5 de Outubro, 344, Domingos P.
Travessa 5 de Outubro, 360, Elvira C.
Travessa da Passagem, 8, Cícero A. C.
Travessa do Comércio, 164, Vicente G.
Travessa do Teatro, 19, Liduina S.
todavia não temos dados para afirmar se o imóvel era de fato propriedade do gerente do
davam-se por conta do pagamento do aluguel do quarto, não sendo configurados laços de
de ambientes cuja fisionomia em nada se assemelhava àqueles das famílias nucleares, como
84. “Algumas mulheres foram bem sucedidas e suficientemente empreendedoras a ponto de chegarem a dirigir
seus próprios bórdeis, estalagens ou tabernas, onde funcionavam como <<madames>> da cultura urbana
medieval.
182
O único Livro encontrado com informações sobre a propriedade de imóveis foi o de Impostos e Registros de
Décimas, Imposto Predial e Territorial, 1926-1927, pertencente aos Arquivos da SEPLAN / PRODETUR, São
Luís - MA. Nele apenas três endereços aparecem posteriormente na listagem das Casas de Pensão, Cômodos e
Hospedarias, Rua Cândido Mendes n°64, proprietário Joaquim M. Rodrigues Netto, valor 1:020$000; Rua 28 de
Julho n° 34, Gertrudes Cavalcante Fernandes, 600$000 e n°46, Antônio C. Pinto, 1:920$000.
183
Há vários livros de Pensão de Meretrizes, registrados na polícia e com um grande número de mulheres que
indicavam no campo profissão, “doméstica”. Seria uma forma de “esfumaçar” a verdadeira função das casas ou
era uma manifestação de que a prostituição não era uma profissão?
Casa-de-cômodo de Maria M. (1936-1938). R. Cândido Mendes (antiga R. da
mundanas.
mundanas.
mundanas.
meretrizes e mundanas.
218. Domésticas.
Domésticas.
Domésticas.
Domésticas.
Domésticas.
n°. Meretrizes.
Meretriz.
trabalhadores.
operários e carroceiros.
ambulantes, modistas.
operários e meretrizes.
domésticos.
184
PINHEIRO, Érika. Restaurados ou em ruínas eles são testemunhas da história. Artigo. In; Jornal O Estado do
Maranhão, sexta-feira, 8 de Setembro de 2.000, p. 4.
Foi no século passado
que a Praia Grande apareceu
entre secos e molhados
a varejo e atacado
floresceu lá no cais
sob a luz das lamparinas
e os caixeiros viajantes
tinham sonhos delirantes
com a nega catarina.
E as meretrizes
nesse monumento imortal
são relíquias do passado
e hoje vivem nos sobrados do tempo colonial.
E os pregoeiros,
Que sempre vivem no mundo da lua
vendendo frutas e verduras
vão gritando pela rua
é hoje só, é hoje só
tem caranguejo, farinha d’água e bobó...
(Os Pregoeiros,1981
César Teixeira)
Ilusórias chaminés: demografia da prostituição
considerados perigosos.
foram alvos da vigilância estatal. Neste sentido, penetrando os lugares e exercendo seu poder
com termos de abertura e encerramento feitos pela polícia, onde nome, procedência,
naturalidade, profissão, dia de entrada, saída e destino de cada hóspede deveriam ser
atualizados mês a mês. O não cumprimento da lei poderia significar a suspensão da licença
de funcionamento.
“Ferreira”, datado de 1923 foi o mais próximo da lei de 1919 que obrigava o registro das
185
Em A representação do eu na vida cotidiana, Petrópolis; Vozes, 1985, p. 11, Irving Goffman mostra que “a
informação a respeito do indivíduo serve para definir a situação tornando os outros capazes de conhecer
antecipadamente o que ele esperará deles e o que dele podem esperar.” Assim, os livros de registros seriam em
suas palavras os veículos de indícios.
Convém ressaltar que as datas de entrada do hóspede no estabelecimento muitas vezes
apontavam para anos como 1916, 1920,1922 mostrando que o funcionamento do local era
Nos livros verificou-se que o número de mulheres hospedadas era muitas vezes
pontos do Estado e de Estados próximos para a cidade de São Luís. Elas chegavam de locais
variados, inclusive de bairros afastados do centro da ilha e o que estava por trás de tal
maranhense um campo falido e uma conseqüente penúria econômica, e nas demais regiões,
principalmente Ceará e Piauí, muito provavelmente os efeitos da seca. Por outro lado, como já
foi dito, estava a possibilidade de fazer parte dos 70% de mão-de-obra, feminina, das têxteis.
trajetórias em que muitos dos fios acabavam por se encontrar na prostituição. Mesmo que em
número inferior ao das mulheres, a vinda de homens para São Luís também surgia como
Existia assim uma profunda conexão entre as condições materiais e de vida daquelas
Maranhão tem início com os locais de procedência. A partir dos dados indicados nos livros de
Presidente Vargas, Rosário, Santa Helena, São Bento, São Vicente Ferrer, Viana e Vitória do
Mearim.
Pólos têxteis
Dom Pedro, Graça Aranha, Gonçalves Dias, Governador Archer, Governador Eugênio
Barros
Região do Mearim
186
FEITOSA, Raymundo M.. O Processo Sócio-Econômico do Maranhão. Op. cit. p . 13
Bacabal, Esperantinópolis, Igarapé Grande, Joelândia, Lago do Junco, Lima Campos,
Lima Verde, Olho D’ Água das Cunhãs, Pedreiras, Pio XII, Rio das Pedras, Santo Antônio dos
Região do Pindaré
Guimarães, Miritiba, Rosário, Pedreiras e Viana, migraram muitas das mulheres que
As causas e fins desse movimento, bem como o que dele decorreu, interligavam-se e
completavam-se gerando uma teia de relações que a observação da tabela contribui para
compreender.
Porém o que mostram os campos referentes ao estado civil dos livros de registros é
Tais dados contribuem para a desarticulação das afirmativas acerca de uma inclinação
natural de determinadas mulheres para a atividade. Isso porque além de testemunhar que
Não obstante, as solteiras representavam maior parcela e com relação aos homens, o
número de casados quase se igualava ao de solteiros como se pode ver no quadro abaixo.
Homens Mulheres
Solteiro(a) 142 1605
Casado(a) 60 235
Viúvo(a) 5 15
das pensões.
nomenclaturas dadas à atividade das mulheres era diferenciada. Utilizavam como termos:
os quais meretriz.
femininas, sendo que a semelhança comum a elas era o fato de não serem empregos fixos.
Homens Mulheres
Agricultor 1 -
Alfaiate 5 -
Ambulante 2 -
Armazenista 1 -
Artista 2 1
Auxiliar de carpina 2 -
Auxiliar de comércio 3 -
Barbeiro 2 -
Barqueiro 2 -
187
Outras profissões podem ser observadas no livro de registro do Hotel Central, no período de 1919 – 1920 e
1934-1940, nos quais é surpreendente o número de engenheiros e médicos que circulam por São Luís, muitos
dos quais eram estrangeiros.
188
É provável que muitas operárias fossem moradoras dos estabelecimentos “familiares”, que embora tivessem
livros de registros de hóspedes, não sofriam intervenções policiais.
Caixeiro mercador 1 -
Calafate 1 -
Caldeireiro 2 -
Carpina 6 -
Carpinteiro 2 -
Carregador 10 -
Carreiro 3 -
Carroceiro 2 -
Catraeiro 2 -
Charuteiro 3 -
Chauffeur 1 -
Comandante 2 -
Costureira 3 -
Doméstica - 1158
Embarcação 1 -
Encarregado de 2 -
comércio
Engraxate 3 -
Estivador 7 -
Foguista 1 -
Funcionário público 2 -
Gomadeira 4 -
Lavadeira 3 -
Maleiro 1 -
Manicure - 5
Marceneiro 6 -
Marítimo 24 -
Mendigo 10 -
Meretriz - 510
Militar 3 -
Modista - 1
Mundana - 320
Negociante 6 -
Nenhuma 10 -
Operário 27 -
Ourives 1 -
P. mercador 3 -
Pedreiro 10 -
Pescador 3 -
Pintor 5 -
Remador 4 -
Sapateiro 3 -
Serviços braçais 3 -
Serviços domésticos 1 -
Taberneiro 2 -
Trabalhador 5 -
Trabalhador braçal 33 -
Transporte de 3 -
caminhão
Trapicheiro 5 -
Como se pode notar era uma população em atividade e tal dado se confirma quando
foi observada a estrutura etária dos hóspedes das pensões, casa – de – cômodos e hospedarias.
Os registros indicam que a faixa média girava em torno de 20 a 30 anos. A idade dos
presença de idosas era incomum, algumas tinham idades que variavam de 15 a 17 anos.
Homens Mulheres
30 anos 23 anos
Controladas, as pensões e hospedarias registravam seus hóspedes nos livros tal como
obrigava a lei de 1932, embora nem sempre cumprissem a exigência mês a mês.
Em alguns, a ocorrência de registros esparsos mostra que nos meses onde a listagem
de hóspedes era feita, a polícia ali incluía vários carimbos de vistos com datas dos meses
Algumas casas, porém, como a de Lolita L., tinham registros e eram vistoriadas
assiduamente pelas autoridades policiais o que leva a questionar se havia um controle maior
em determinadas casas.
Confirmando o número superior de mulheres em relação aos homens, os
Ao contrário dos casos observados no Rio de Janeiro e São Paulo, no mesmo período
189
no Maranhão eram raros os casos de hóspedes vindos do exterior . De 1923 a 1947
espanhola.
No que se refere ao tempo de permanência das pessoas nas casas calculou-se o período
com base nas datas de entrada e saída. Como os registros deste campo mostraram-se
tempo de hospedagem que girava em torno de 1 a 2 meses. E em função de muitos nomes não
terem sido localizados em outras casas ou pensões, e seu destino posto como “ignorado”,
supõe-se terem voltado ao lugar de origem com a finalidade de levar dinheiro. No entanto
quando estes campos eram preenchidos possibilitavam ver que voltavam para seu local de
Considerações finais
189
Registros de estrangeiros em São Luís podem ser observados no livro de hóspedes do Hotel Central,
,localizado no Arquivo do Estado do Maranhão e datado de 1919-1934, no qual constam a presença de inúmeras
profissões e procedências, das quais se destacam engenheiros e artistas vindos da França e Inglaterra. Tal livro
não fora utilizado nesta pesquisa por não constar do controle policial e não trazer mulheres cujas profissões
fossem domésticas ou meretrizes.
As últimas décadas do século XX promoveram não apenas a ampliação dos eixos
diversos historiadores e leituras. Não há como negar que “desde sempre”, desde que o
homem é homem, por assim dizer, mulheres e homens têm vendido seus corpos, todavia,
como sentencia Laure Adler190, para a França, e em cujo aspecto muito se assemelhou o
Brasil, no século XIX a prostituição sofreu uma mudança de estatuto, ou de natureza, em que
todos que se julgavam responsáveis pela missão de zelar pela “boa ordem social”.
Maranhão diferenciou-se de locais como Rio de Janeiro e São Paulo. Nestes, a prostituição
maranhense a trajetória das meretrizes, na primeira metade do século XX, esteve diretamente
anunciava. Instaladas nos principais núcleos urbanos maranhenses utilizavam, nas estratégias
190
Adler, Laure. A Vida Nos Bordéis de França, 1830-1930. op. cit. pp. 09 -10.
de lucratividade, cerca de 70% de mão-de-obra feminina, que não tardou chegar na cidade de
O contingente populacional era dilatado, de modo especial nos bairros da Praia Grande
hospedarias, hotéis, pensões e cortiços às pessoas que chegavam, sendo que grande parte dos
alcançado.
de concentração de pessoas logo foram apontados como foco de problemas. Leis, decretos,
notas em jornais entre outros, tudo concorria para a construção da cidade higienizada onde o
meretrício, entendido como ponto de infecções físicas e morais, era um dos principais alvos
Nesse sentido, em princípio de 1919 o Governo maranhense impôs a lei n°862 cujo
objetivo era o conhecimento e controle das pessoas que chegavam e se hospedavam nas
meretrizes de São Luís, incluindo as donas das casas, passariam a ser identificadas com uma
transitavam pela cidade era revigorada pela ideologia varguista de valorização do trabalho.
estabelecimentos.
atribuídas classes, e de acordo com estas, os valores dos impostos eram cobrados e se não
barbeiros, etc. .
livros de registros de queixas. Também foi possível perceber formas de falar, de tratar, de
vestir das meretrizes e identificar alguns objetos comuns de uso. Igualmente possível foi
observar a existência de outros locais dedicados ao meretrício cujos livros não foram
camadas populares que se buscou enfatizar, pois mesmo quando se tratava da prostituição de
luxo, eram, em grande parte dos casos, as das classes mais baixas que nela atuavam.
Mas o eixo central em que se ancorou a pesquisa foi a percepção, pelo viés
demográfico, de quem eram aquelas mulheres que migraram para a cidade a partir das
primeiras décadas do XX, por que vieram e como foram pensadas pelos poderes disciplinares
conhecer, pelo menos em parte, quem eram, de onde vinham, quantos anos tinham, se eram
casadas, solteiras, viúvas ou separadas, onde se instalavam, quanto tempo ficavam, para onde
seguiam, etc.191
sobre a prostituição em São Luís, possibilitou reconstruir sua história ou pelo menos, parte
dela.
os dados da Fundação Helsinque de Direitos Humanos 192 que coloca esse país no topo do
191
É importante destacar a importância da demografia histórica como norteadora das observações decorrentes
dos dados contidos nos livros de registros de pensões e hospedarias.
192
Jornal Folha de São Paulo, 29/11/2000, p. A9.
193
Ver a notícia Fim de cestas pode acirrar tensão no NE, Jornal Folha de São Paulo, 28/11/2000, p. A - 5 na
qual Sérgio Miranda, prefeito de Panelas (PE), declara que em função do corte no fornecimento de cestas básicas
“podem ocorrer aumento da migração, da criminalidade e da prostituição infantil”.
destaque para AIDS; os rotineiros casos de violência contra prostitutas e a disputa de espaços
alargamento dos estudos sobre os papéis sociais femininos, suas arquiteturas, imagens e
condições.
Amanheceu...
apenas a brisa de São Luís faz companhia às ruas, ainda desertas... e enquanto as luzes
das pensões e hospedarias se apagam um novo dia vem surgindo trazendo outros homens,
ANEXO
Ruas:
Indicador Maranhense. L. Borba Santos. Associação Comercial do
Maranhão. 1947.
Cidade de São Luiz: Ruas, Avenidas, Praças, Travessas, e becos de São
Luiz com suas denominações antigas e modernas.
Antigas Modernas
R.Grande R.Osvaldo Cruz
da Paz Cel.Colares Moreira
do Sol Nina Rodrigues
de Santana José Augusto Corrêa
do Rancho
Fonte das Pedras Regente Bráulio
de Santo Antonio Tte. Mario Carpenter
da Misericórdia
da Tapada Coelho Neto
do Marajá Viana Vaz
do Precipício
da Independência
do Quebra-Costa João Vital
da Caela Maranhão Sobrinho
das Minas Dr. Cesar Marques
das Laranjeiras Dr. Domingos Barbosa
do Deserto
Direita Henriques Leal
do Portão Oscar Galvão
Caminho da Dr. Manoel J. Ferreira
Boiada
Fonte do Bispo
das Cajaseiras Dr. José Barreto
de São Tiago
da Palha Casemiro Junior
do Gavião Av.Municipal
da Concórdia Vespasiano Ramos
da Viração Carvalho Branco
dos Afogados José Bonifácio
Senador João Pedro
da Cascata Jacinto Maia
das Barrocas Isaac Martins
do Passeio Rodrigues Fernandes
do Egito Tarquínio Lopes
do Outeiro
da Alegria Cel. Manoel Inácio
das Hortas Siqueira Campos
Santa Rita Almir Nina
São João Antonio Rayol
da Manga José Candido de Morais
da Barraquinha Frederico Figueira
da Madre Deus Candido Ribeiro
de Santaninha Salvador Oliveira
do Norte F. Marques Rodrigues
dos Remédios Rio Branco
da Palma Herculano Parga
do Ribeirão Paula Duarte
de Santana(cont.) 14 de Julho
do Giz 28 de Julho
do Apicum
Major Colares Moreira
Vitor Castro
do Poço do Machado
dos Barqueiros Luzia Bruce
da Inveja Belarmino de Matos
de Nazaré Joaquim Távora
do Mucambo José do Patrocínio
da Saúde José Eusébio
Travessa da Virgílio Domingues
Passagem
da Calçada Djalma Dutra
da Saavedra Jansen Matos
do Alecrim Euclides Faria
da Cotovia João Henrique
Nova Dr.Leôncio Rodrigues
das Flores Aluizio Azevedo
dos Craveiros Percira Rego
do Coqueiro Otavio Correa
da Mangueira Artur Azevedo
Estrela Candido Mendes
do Pespontão Teixeira Mendes
do Trapiche Portugal
São Pantaleão Senador Costa Rodrigues
da Cruz 7 de Setembro
São João 13 de Maio
do Veado Celso Magalhães
Formosa Afonso Pena
dos Prazeres Silva Jardim
Largo do Carmo Pça. João Lisboa
Benedito Leite
Pça de Santaninha
Pça 13 de Maio
Pça da Cadeia da Justiça
Largo de Santo Antonio Lobo
Antonio
Pça da Dr. Afonso
Misericórdia
do Quartel da Luiz Domingues
Polícia
Pça do Quartel Pça Deodoro
da Alegria
do Ribeirão
do Desterro
Pça dos Remédios Pça Gonçalves Dias
de São Pantaleão Damasceno Ferreira
Largo do Cemitério da Saudade
Pça de São João
Travessa do Couto
Travessa do Silva
Travessa das Domingos Barbosa
Laranjeiras
da Sé D. Francisco
do Vira Mundo Tv do Comércio
da Fluvial Tv da Boaventura
do Teatro R. Godofredo Viana
do Monteiro
da Lapa
do Palácio
da Trindade
do Seminário R. Padre Antonio Vieira
Cazuza Lopes R. 18 de Novembro
do Rancho
Av. Beira-Mar Av. 5 de Julho
Maranhense Pedro II
Gomes de Castro
Silva Maia
João Pessoa
Beco da Alfândega R. Marcelino Almeida
Beco Escuro
Montanha Russa Newton Prado
Praia do Genipapeiro
Praia Grande
Praia do Dique
Praia do Desterro
Praia da Madre Deus
Campo do Ourique Parque Urbano Santos
Pque. 21 de Abril
Cais da Sagração
Rampa de Campos Melo
Cunha Santos
do Palácio
das Palmeiras
Cais da Sagração Av 5 de Julho
Magalhães Almeida 10 de Novembro
R. Grande Getúlio Vargas
Gomes de Castro
Madre Deus Municipal
Largo do Palácio Pedro II
Silva Maia
Pça da Misericórdia Pça Dr. Afonso
do Santo Antonio Antonio Lobo
do Jardim Benedito Leite
Clodomir Cardoso
Largo da Cadeia Comte. Castilhos
do Comércio
de São Pantaleão C. Damasceno Ferreira
Largo do Quartel Deodoro
do Desterro
Pça Duque de Caxias
Fonte das Pedras
Largo dos Remedios Gonçalves Dias
do Carmo João Lisboa
do Quartel de Polícia Luiz Domingues
Mercado Novo
Mercado Velho
Odorico Mendes
Campo d'Ourique Pque. Urbano Santos
Santiago 1 de Maio
15 de Novembro
dos Remédios
da República
do Ribeirão
de Santaninha
de São João
do Cemitério da Saudade
Formosa Afonso Pena
de Santa Rita Almir Nina
das Flores Aluizio Azevedo
de São João Antonio Rayol
do Apicum
da Mangueira Artur Azevedo
da Independencia Barão de Itapary
da Inveja Belarmino de Matos
de Campos Melo
da Palha Casemiro Junior
da Viração Carvalho Branco
da Estrela Candido Mendes
do Veado Celso Magalhães
Beco das Minas Dr. Cesar Marques
R. da Tapada R. Coelho Neto
da Paz Cel. Colares Moreira
da Alegria Cel. Manoel Inácio
do Deserto
18 de Novembro
da Calçada Djalma Dutra
Tv. das Laranjeiras Tv das Laranjeiras
Beco da Sé D. Francisco
Rua do Alecrim Euclides Faria
do Norte Marques Rodrigues
Fonte do Bispo
das Barraquinhas Frederico Figueira
Tv.do Teatro Godofredo Viana
Graça Aranha
R. Direita Henriques Leal
da Palma Herculano Parga
das Barrocas Isaac Martins
da Cascata Jacinto Maia
da Saavedra Jansen Matos
da Praia de Santo Jansen Muller
Antonio
da Cotovia João Henrique
dos Educandos João Luiz
Tv do Quebra- Costa João Vital
R. de Nazaré Joaquim Távora
de Santana José Augusto Corrêa
das Cajaseiras Dr. José Barreto
dos Afogados José Bonifácio
da Manga José Candido de Morais
da Saúde José Eusébio
do Mucambo José do Patrocínio
Nova Dr. Leôncio Rodrigues
Misericórdia Lucano dos Reis
dos Barqueiros Luzia Bruce
do Poço do Machado
Major Colares Moreira
Caminho da Boiada Dr. Manoel J. Ferreira
da Caela Maranhão Sobrinho
Beco da Alfandega Marcelino Almeida
de Santo Antonio Tte. Mario Carpenter
Tv. da Intendência Newton Prado
R. do Sol Nina Rodrigues
Tv. do Portão Oscar Galvão
Rua Grande Osvaldo Cruz
do Outeiro
Tv do Seminário Padre Antônio Vieira
Rua do Ribeirão Paula Duarte
dos Craveiros Pereira Rego
do Trapiche Portugal
Praia do Desterro
do Precipício
de Santana 14 de Julho
do Rancho
Fonte das Pedras Regente Bráulio
Ribeiro do Amaral
dos Remédios Rio Branco
do Passeio Rodrigues Fernandes
de Santaninha Salvador Oliveira
Sant'Iago
de São Pantaleão Senador Costa Rodrigues
Senador João Pedro
R. da Cruz 7 de Setembro
dos Prazeres Silva Jardim
das Hortas Siqueira Campos
do Egito Tarquínio Lopes
do Pespontão Teixeira Mendes
de São João 13 de Maio
da Concórdia Vespasiano Ramos
do Marajá Viana Vaz
Victor de Castro
do Giz 28 de Julho
28 de Setembro
23 de Novembro
Travessa da Virgílio Domingues
Passagem
Trav da Fluvial Tv do Boaventura
Tv Feliz
Jaú
do Palácio
do Portinho
da Prensa
do Silva
da Trindade
ZONA PROLETÁRIA
Av.Santa Bárbara Bairro da Madre Deus
do Leopoldo rua 1
Bairro do rua 2
Codozinho
Rua Azul rua 3
Anil rua 4
Beija rua 5
Belira Pau D'Arco
Branca São José
Creme Av. Rui Barbosa
Parda Presidente Vargas
R. Nova R. Verde
1 de Janeiro Camboa do Matos
1 de Maio Rua da Camboa
do Paraíso Camboa do Mato
Bibliografia:
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e o preço dos tecidos. –a lei das oito horas de trabalho. In; Revista da Associação Comercial
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