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de Marculino Camargo
Numa época em que algumas referências Para que isso ocorra, é fundamental que
e pilares se perderam, falar sobre ética é quase os empregados participem das decisões, gerando
uma obrigação, daí a urgência de resgatar princí- um ambiente de união e cooperação em que
pios norteadores de nossas ações. Todavia, num haja cumplicidade entre as partes, de maneira
mundo plural e heterogêneo, é difícil estabelecer que todos ganhem. Isso pode ser alcançado se a
uma ética universal que possa conduzir todos, por empresa souber trabalhar e identificar as diferen-
isso a opção por éticas, no plural, para caracteri- ças, respeitando-as e compreendendo-as. Nesse
zar o conjunto que deveria a sociedade. sentido, o desafio a ser atingido em termos éticos
O livro do professor Marculino Camargo é perceber-se como parte de uma equipe na qual,
tem a ambição de tratar de ética no campo em- se um indivíduo ganha ou perde, todos ganham
presarial. Para isso, propõe uma análise de como ou perdem.
se instaura ou deveria instaurar-se a ética na Viver socialmente na empresa, para Ca
empresa. Professor experiente nesse campo, margo, não pode tornar-se um fardo, mas uma
Camargo tem autoridade sobre o tema. condição existencial que personifique uma nova
O autor afirma que a empresa é uma estrutura de ser. As observações do profes-
criação do ser humano, emana como manifesta- sor clareiam o significado de “vestir a camisa da
ção do ser social homem, além de ser constituída empresa”. Se ela não articular os canais de diálogo
por um grupo de pessoas. e de convivência com as pessoas, cada vez mais as
Não é fácil contextualizar o ser social. “camisas” serão queimadas ou rasgadas.
Muitos filósofos e pensadores que tratam das É importante que haja consciência crítica
teorias sociais afirmam que pensar o ser social dentro da empresa? Indivíduo crítico ou aliena-
significa refletir sobre a condição humana e suas do? É óbvio que uma empresa que prima por bons
características inatas ou empíricas. Dessas afir- princípios éticos procura, no funcionário, um ser
mações, é possível inferir que o ser humano é o crítico. A consciência crítica é fundamental para a
agente da transformação e não mero coadjuvante, construção da ética e, se viver em sociedade cons-
daí a importância de a empresa ver a pessoa não titui um preceito da condição humana, a empresa
como simples peça de uma engrenagem, mas, sim, é uma das instituições mais importantes para dar
como motor de uma estrutura organizacional. credibilidade e moral à constituição de uma ética.
Numa empresa ninguém está isolado. Por isso, a consciência crítica tem como intuito
Camargo preocupa-se com a constituição ontoló- desmascarar as falsas intenções, pois o indivíduo
gica do ser dentro da empresa e ressalta a preva- não pode ser visto apenas como fazedor de coisas
lência do estar junto ao estar só. Em decorrência e objeto daquilo que faz, mas como sujeito de suas
disso, o autor estabelece uma rede que deve ser ações, ou seja, deve saber por que, como e para
de confiabilidade e solidariedade para tecer um que realiza atividades.
bom entrosamento e proporcionar a construção A consciência crítica ajuda também a es-
da convivência humana, de forma sólida e ética. clarecer a diferença entre discurso e práxis, pois a
As relações sociais numa empresa, segundo desconexão entre teoria e prática é danosa para o
o autor, possibilitam a construção de amizades e estabelecimento do agir ético. Em outras palavras,
afetividades, numa perspectiva que se aproxima entender quando a empresa prega as boas inten-
muito da solidariedade orgânica alardeada por ções (teoria), mas que sua ação pode ser carrega-
Resenhas
Durkheim, para quem a divisão social do trabalho da do ranço autoritário (prática), por exemplo.
é geradora de relações humanas mais cooperati- Uma questão fundamental levantada nesta
vas e harmônicas. obra é que a vivência da ética com consciência