Sei sulla pagina 1di 2

Ética na empresa. Petrópolis: Vozes, 2006.

de Marculino Camargo

Rogério Bianchi de Araújo


Imes/Uninove, São Paulo – SP [Brasil]

Numa época em que algumas referências Para que isso ocorra, é fundamental que
e pilares se perderam, falar sobre ética é quase os empregados participem das decisões, gerando
uma obrigação, daí a urgência de resgatar princí- um ambiente de união e cooperação em que
pios norteadores de nossas ações. Todavia, num haja cumplicidade entre as partes, de maneira
mundo plural e heterogêneo, é difícil estabelecer que todos ganhem. Isso pode ser alcançado se a
uma ética universal que possa conduzir todos, por empresa souber trabalhar e identificar as diferen-
isso a opção por éticas, no plural, para caracteri- ças, respeitando-as e compreendendo-as. Nesse
zar o conjunto que deveria a sociedade. sentido, o desafio a ser atingido em termos éticos
O livro do professor Marculino Camargo é perceber-se como parte de uma equipe na qual,
tem a ambição de tratar de ética no campo em- se um indivíduo ganha ou perde, todos ganham
presarial. Para isso, propõe uma análise de como ou perdem.
se instaura ou deveria instaurar-se a ética na Viver socialmente na empresa, para Ca­
empresa. Professor experiente nesse campo, margo, não pode tornar-se um fardo, mas uma
Camargo tem autoridade sobre o tema. condição existencial que personifique uma nova
O autor afirma que a empresa é uma estrutura de ser. As observações do profes-
criação do ser humano, emana como manifesta- sor clareiam o significado de “vestir a camisa da
ção do ser social homem, além de ser constituída empresa”. Se ela não articular os canais de diálogo
por um grupo de pessoas. e de convivência com as pessoas, cada vez mais as
Não é fácil contextualizar o ser social. “camisas” serão queimadas ou rasgadas.
Muitos filósofos e pensadores que tratam das É importante que haja consciência crítica
teorias sociais afirmam que pensar o ser social dentro da empresa? Indivíduo crítico ou aliena-
significa refletir sobre a condição humana e suas do? É óbvio que uma empresa que prima por bons
características inatas ou empíricas. Dessas afir- princípios éticos procura, no funcionário, um ser
mações, é possível inferir que o ser humano é o crítico. A consciência crítica é fundamental para a
agente da transformação e não mero coadjuvante, construção da ética e, se viver em sociedade cons-
daí a importância de a empresa ver a pessoa não titui um preceito da condição humana, a empresa
como simples peça de uma engrenagem, mas, sim, é uma das instituições mais importantes para dar
como motor de uma estrutura organizacional. credibilidade e moral à constituição de uma ética.
Numa empresa ninguém está isolado. Por isso, a consciência crítica tem como intuito
Camargo preocupa-se com a constituição ontoló- desmascarar as falsas intenções, pois o indivíduo
gica do ser dentro da empresa e ressalta a preva- não pode ser visto apenas como fazedor de coisas
lência do estar junto ao estar só. Em decorrência e objeto daquilo que faz, mas como sujeito de suas
disso, o autor estabelece uma rede que deve ser ações, ou seja, deve saber por que, como e para
de confiabilidade e solidariedade para tecer um que realiza atividades.
bom entrosamento e proporcionar a construção A consciência crítica ajuda também a es-
da convivência humana, de forma sólida e ética. clarecer a diferença entre discurso e práxis, pois a
As relações sociais numa empresa, segundo desconexão entre teoria e prática é danosa para o
o autor, possibilitam a construção de amizades e estabelecimento do agir ético. Em outras palavras,
afetividades, numa perspectiva que se aproxima entender quando a empresa prega as boas inten-
muito da solidariedade orgânica alardeada por ções (teoria), mas que sua ação pode ser carrega-
Resenhas

Durkheim, para quem a divisão social do trabalho da do ranço autoritário (prática), por exemplo.
é geradora de relações humanas mais cooperati- Uma questão fundamental levantada nesta
vas e harmônicas. obra é que a vivência da ética com consciência

Revista Gerenciais, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 141-142, jan./jun. 2006. 141


crítica deve sempre pôr o ser humano num primei- ção e os pecados organizacionais. O objetivo de
ro plano, observando suas reais necessidades. Camargo é explicar como os determinismos, ao
Uma empresa, segundo o autor, precisa longo dos séculos, impuseram uma ética inques-
criar auto-identidade, estabelecendo uma interio- tionável, portanto dogmática, legitimando as di-
rização de valores, crenças e interesses, ou seja, ferenças de toda ordem.
promover a idéia de pertencimento, uma identi- O levantamento desses dez momentos é
dade espiritual que se consolida tanto externa crucial nesta obra. Embora cada um desses temas
quanto internamente. A identidade da empresa tenha exigido um esforço gigantesco de análise,
é, portanto, criada com base em três princípios não poderiam deixar de ser mencionados para es-
básicos: internalizar, exteriorizar e objetivar. Esse truturar a sua obra, pois a ética não se constrói
tripé é passível de análise crítica, pois é ele que vai
num estalar de dedos. A própria empresa está
distinguir a ética do lucro a qualquer custo ou a
encravada em um determinado momento histó-
ética construída no dia-a-dia, a partir do espírito
rico, e a construção de sua ética demanda um
crítico dos indivíduos que compõem a empresa.
esforço para a compreensão crítica do momento
A legitimidade de uma empresa, assim
vivido, de modo que não se circunscreva à lógica
como sua identidade na sociedade, só se constrói
da instrumentalização que norteia o comporta-
pela ética. A consciência tranqüila e o caminho da
virtude dão a merecida credibilidade e confiança a mento humano.
uma instituição. Quanto menos um funcionário de A ética empresarial acaba envolvida por
uma empresa internalizar esses valores, maior será dois momentos completamente distintos: de um
o sinal de fraqueza dessa organização. Por outro lado, uma ética empresarial mecanicista, utilitaris-
lado, a internalização se dá quando a instituição ta, pragmatista e imediatista e, de outro, a ética
estabelece os canais de comunicação numa pers- a ser construída e proposta por Camargo: a ética
pectiva de realização pessoal. O sujeito passa a ser personalista de dignidade.
ator e não um receptor passivo das ordenações. Essa necessidade será satisfeita desde que
Camargo aponta uma lista de dez valores se fundamente a ética com base em outros pa-
que, no seu entender, devem ser cultivados radigmas que não o da ética instrumentalizada
para que as pessoas desenvolvam a consciência pela economia. Isso é possível? Neste trabalho,
de uma ética empresarial: justiça, honestidade, Camargo vislumbra um horizonte utópico. Para
liberdade, responsabilidade, respeito, veracida- ele, utopia e ética caminham juntas. Não uma
de, confiança, disciplina, solidariedade e espiri- utopia de senso comum do irrealizável, mas no
tualidade. Em seguida, de forma quase religio- sentido filosófico de seu conceito, ou seja, o não
sa, analisa esses valores e conclui que eles são realizado, mas realizável. Isso é que configura o
incorporados às empresas quando as pessoas são horizonte utópico e necessário para a empresa e
contratadas. Defende, portanto, que a ética se para a vida. A fórmula é simples, mas sua aplica-
constrói a partir do momento que o indivíduo
ção, complexa. Faz-se necessário resgatar a idéia
cultiva dentro de si esses valores, e que não é
de ética na essência, associada ao ethos dos gregos,
tarefa da empresa desenvolvê-los nas pessoas,
a casa do ser. O que está em jogo é o resgate da
mas lembrá-los e relembrá-los constantemente
essência da vida humana em sua plenitude e em
para que se tornem um hábito. Nesse sentido, o
todas as dimensões, pois a dignidade humana é
diálogo é de vital importância.
o único valor absoluto e fundamental. Ser cons-
Ao seguir na sua reflexão ética, o autor
faz uma análise histórica resumida da vivência ciente dos reais valores humanos é preceito básico
dos valores, com o intuito de demonstrar como para o estabelecimento da ética empresarial pro-
são instrumentalizados em cada momento his- posta pelo autor.
tórico. Para tanto, seleciona dez situações da Numa época em que o individualismo é apre-
história: a filosofia platônica e a Grécia Antiga, goado como o elixir da existência duradoura, obras
o feudalismo e o catolicismo, o capitalismo e o como a de Camargo são muito bem-vindas para
protestantismo, a escravidão no Brasil, a revo- manter vivas as esperanças de um melhor ordena-
lução industrial na Inglaterra, os totalitarismos mento e relacionamento social, que nos levem não
europeus, o neopentecostalismo da Teologia à felicidade eterna, mas a graus de respeitabilidade
da Prosperidade, a cultura popular, a globaliza- e sociabilidade mais coerentes e dignificantes.

142 Revista Gerenciais, São Paulo, v. 5, n. 1, p. 141-142, jan./jun. 2006.

Potrebbero piacerti anche