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AS ABORDAGENS PEDAGÓGICAS RENOVADORAS NA


EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E A AUTONOMIA: algumas reflexões

FERNANDES, Anoel
Rede pública estadual
LETPEF - UNESP, Rio Claro
Mestrando em Educação, História, Política e Sociedade - Puc-SP.

RESUMO dos conhecimentos produzidos pela


O propósito desse estudo é realizar um ciência.
levantamento bibliográfico sobre como A partir desse enfoque dado à
os autores da Educação Física Escolar Educação Física, enquanto ciência com
adeptos das abordagens corpo próprio de conhecimento, começam
Desenvolvimentista, Construtivista, a surgir algumas abordagens pedagógicas
Saúde Renovada, Sistêmica, Crítico- da Educação Física Escolar. Conforme
Superadora, Crítico-Emancipatória e a Darido (2003) todas essas abordagens tem
baseada nos PCNs tratam do tema da algumas divergências, mas possuem um
aquisição da autonomia durante a fase ponto em comum, todas estão em oposição
de escolarização básica, utilizando à vertente tecnicista, esportivista e
como recurso metodológico a revisão biologicista até então predominantes na
bibliográfica das obras mais Educação Física Escolar.
importantes desses autores. Após a Dentro dessas abordagens há vários
revisão proponho algumas reflexões em discursos tentando justificar a importância
torno da aquisição da autonomia, sendo da Educação Física na escola, outros se
que os resultados nos apontam que apoiando em áreas diversas como a
independente da abordagem pedagógica Antropologia, a Psicologia, a Sociologia e
aderida pelo professor, as vivencias também a Biologia. Embora com
autônomas devem estar presentes nas embasamentos teóricos diferentes, todas as
aulas. abordagens apresentam significativas
contribuições para a Educação Física
Palavras-chave: Educação Física; Escolar.
abordagens pedagógicas; autonomia. Outro ponto comum entre algumas
abordagens é a referida busca pela
autonomia dos alunos nas aulas de
INTRODUÇÃO Educação Física, autonomia esta que não
deve ficar somente nas aulas, mas sim
A Educação Física Escolar vem formar o indivíduo que vai usufruir no seu
numa constante busca de romper com tempo livre dos conteúdos aprendidos nas
os modelos tradicionais que permearam aulas de Educação Física para toda a vida.
esta área de estudo até meados dos anos Essas abordagens pedagógicas
de 1980. Darido (2003) destaca que é possuem visões um tanto quanto diferentes
nesse momento que a Educação Física com relação à aquisição da autonomia,
passa por um período de valorização sendo que esse trabalho não se aterá a

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discutir quais dessas abordagens devem atualmente, baseado suas perspectivas e


ser consideradas como ideais, e sim, propostas nas abordagens que surgiram
considerar as vivências autônomas nas visando uma mudança de concepção da
aulas como uma possibilidade de uma área. Segundo Darido (2003), na busca de
formação para a autonomia. romper com os moldes tradicionais,
surgem várias abordagens, algumas com
enfoque mais Psicológico (Psicomotricista,
OBJETIVO Desenvolvimentista, Construtivista e Jogos
Cooperativos), outras com enfoque mais
O objetivo desse estudo é sociológico e político (Crítico –
realizar um levantamento bibliográfico superadora, Crítico – emancipatória,
sobre como os autores da Educação Cultural, Sistêmica, e baseada nos PCNs),
Física Escolar adeptos das abordagens e também biológico , como a da Saúde
Desenvolvimentista, Construtivista, Renovada .
Saúde Renovada, Sistêmica, Crítico- Todos os autores que se
Superadora, Crítico-Emancipatória e a desdobraram na difícil tarefa de apresentar
baseada nos PCNs tratam do tema da novas propostas para a Educação Física
aquisição da autonomia durante e após a Escolar desde meados dos anos 1980, estão
fase de escolarização básica, sendo que sugerindo várias transformações de ordem
a escolha dessas abordagens se deu por didático-pedagógica. Porém, apesar de um
serem as mais propositivas em seus número relevante de propostas, ainda é
textos a tratarem a questão da formação nítido a dificuldade de encontrar meios
para a autonomia, e posteriormente para que os discursos acadêmicos cheguem
propor algumas reflexões sobre até a escola, e assim consigam atingir o
Educação Física na escola e autonomia centro da discussão que é o ensino e a
formação do aluno.
Na Educação Física Escolar,
METODOLOGIA embora com enfoques bem diferenciados,
cada um buscando a sua definição de
Conforme Marconi e Lakatos acordo com a abordagem que defende,
(2003), fez-se uso da técnica de vários autores tem ressaltado a importância
pesquisa bibliográfica, utilizando as da busca pela autonomia durante e após os
fontes bibliográficas do tipo de anos de escolarização nas diversas
publicações, encontradas em livros, manifestações corporais.
artigos, publicações avulsas, etc. Mais Sendo assim, explicitarei como
especificamente, como critério de alguns autores tratam do tema autonomia
escolha utilizou-se as obras de bases nas abordagens da Educação Física Escolar
dos autores e, por conseguinte, seus que são adeptos, destacando somente as
trabalhos de desdobramentos das abordagens que mais se propuseram a
propostas. mencionar em seus textos a busca pela
aquisição da autonomia.

A AUTONOMIA E AS Abordagem Desenvolvimentista


ABORDAGENS PEDAGÓGICAS Tani et al. (1988) classificam que
DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR todo comportamento humano pertence a
um dos três domínios: domínio cognitivo,
A Educação Física Escolar tem, domínio afetivo-social e domínio motor,

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sendo que a maioria dos atividade física, aptidão física e saúde, para
comportamentos existe a participação o aluno entender os benefícios advindos da
dos três domínios. Ao mencionar o prática motora e utilizá-los por toda vida.
posicionamento dessa abordagem na Os defensores dessa abordagem
Educação Física Escolar, o autor nos enfatizam que no final de sua escolarização
afirma que: básica, os alunos deverão ser capazes de
se a Educação Física pretende auto-avaliar todos os componentes da
atender as reais necessidades aptidão física relacionada à saúde,
e expectativas da criança, ela
necessita, antes de mais nada, conhecer os testes que dão subsídios para
compreender as suas verificarem sua condição física, interpretar
características em termos de os resultados e saber como usar estes testes
crescimento, desenvolvimento no planejamento de um programa pessoal,
e aprendizagem, visto que a tendo dessa forma autonomia para
não observância destas
características conduz avaliação e preparação de seus próprios
frequentemente ao treinos.
estabelecimento de objetivos,
métodos e conteúdos de Abordagem Construtivista
ensino inapropriados(TANI et Freire (1989) afirma que a
al, 1988, p.135).
Educação Física na escola deve privilegiar
Manoel (1994) sugere que para
o conhecimento que a criança já possui
evitar os problemas de ordem motora, o
através do resgate da cultura infantil,
patrimônio cultural da humanidade
valorizando as experiências dos alunos e
manifestado pelo esporte e a dança e
sua cultura. O aluno constrói o seu
outras habilidades, deve ser adaptado ao
conhecimento a partir da interação com o
nível de desenvolvimento do aluno,
meio e através da resolução de problemas,
sendo que o conhecimento da seqüência
onde o jogo tem papel privilegiado como
de desenvolvimento motor fornece
conteúdo e estratégia de ensino.
subsídios essenciais para uma educação
Freire e Scaglia (2003) entendem
que vise à formação de um ser com
que é impossível estender a autonomia
autonomia e capacidade integrativa na
para todos os aspectos da conduta humana,
sociedade.
admitindo que o fato de alguém ser
Tani (2005) ressalta que uma
inteligente em determinado contexto não
importante função da Educação Física
garante que o mesmo aconteça em outros,
Escolar é a transmissão aos alunos de
mesmo assim acreditam que valha a pena
conhecimentos relacionados à prática de
investir na formação da autonomia, ainda
atividade física quanto à sua função
que seja em um único contexto, é preciso
biológica, enfatizando que a
que a educação das pessoas seja
possibilidade de praticar atividade física
diversificada o suficiente para que elas
autonomamente facilita a adoção de um
possam ter entre si comportamentos
estilo de vida saudável.
autônomos, de modo que cheguem a uma
idade madura com uma atitude geral de
Abordagem da Saúde Renovada
autonomia.
Guedes (1997) e Nahas (1992)
Estes autores destacam, ainda, a
dão enfoque da importância a uma
relação entre autonomia e tomada de
Educação Física Escolar voltada para a
consciência e a necessidade de que essas
saúde, relacionam a importância dos
atitudes possam se estender a outros
conhecimentos práticos e teóricos de
contextos, pois a tarefa da educação não se

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extingue no plano restrito da escola. devemos nos perguntar: “Será que essa
Para isso, os professores têm de prática pedagógica ainda não está de
dominar conhecimentos de metodologia alguma forma presente na Educação Física
que permitirão a passagem de um atual? Será que essa relação de ensino-
contexto a outro. “A ponte entre a aprendizagem desenvolve a autonomia dos
escola e outros ambientes, assim como alunos?”.
entre os vários ambientes escolares, só Para responder essas questões
pode ser feita por meio da tomada de recorrerei ao próprio Betti (1991), que
consciência” (FREIRE e SCAGLIA, propõe para a Educação Física Escolar
2003, p.117). uma relação de ensino-aprendizagem no
Ao discutir sobre a forma de pólo contrário desses métodos, onde as
ensinar e como o conhecimento deve ser variáveis pedagógico-didáticas e sócio-
apropriado pelo aluno, Freire (2005, psicológicas visam um modelo de
p.5) “propõe uma forma de educar que personalidade que desenha um homem
produza conhecimentos que se crítico, criativo e consciente, e os
incorporem à vida do aluno, abrindo-lhe instrumentos disponíveis no processo
possibilidade de ser livre, de decidir, de ensino-aprendizagem para acionar tais
integrar aos jovens, recursos que os propostas é a polarização em torno da
levem à condição madura de cidadãos ludicidade, controlo interno, não-
autônomos”. formalidade, cooperação, flexibilidade de
regras, solução de problemas e
Abordagem Sistêmica honestidade.
Conforme Betti (1991, p, 139) Betti (1992) nos coloca que entre os
“o processo ensino-aprendizagem em objetivos da Educação Física na Educação
Educação Física foi concebido como Básica encontra-se “a formação do cidadão
um modelo de polaridades composto de autônomo que vai usufruir partilhar,
variáveis pedagógico-didáticas e sócio- produzir, reproduzir e transformar as
psicológicas, que formam um contínuo formas culturais de atividade física (o jogo,
definido por dois pólos”. o esporte, a ginástica, a dança...)” (p.285).
Ao analisar o modelo de
polaridades e suas variáveis, pode-se Abordagem Crítico - Superadora
observar um pólo com influências dos A abordagem crítico-superadora
antigos métodos da Educação Física desenvolvida por um Coletivo de autores
(Método Francês 1930-1950; Método enfatiza que:
Desportivo Generalizado 1950 e os temas da cultura corporal (o
Método Esportivo 1970-1986), dando jogo, o esporte, a ginástica e a
dança), devem compor um
ênfase ao conteúdo formal, estilo de programa de Educação Física,
ensino baseado no comando, a com os grandes problemas sócio-
finalidade é o resultado, a competição, a políticos atuais como: ecologia,
resolução de conflitos se dá por meio de papéis sexuais, saúde pública,
controle externo, as regras são rígidas e relações sociais do trabalho,
preconceito urbano, distribuição
a vitória é o objetivo central. de renda, dívida externa e outros
Obviamente esse discurso da (SOARES et al.. 1992, p.102).
Educação Física Escolar já deveria ter Resende e Soares (1997)
sido superado, pois não apresenta uma concordam com os elementos que devem
proposta com os objetivos educacionais compor a Educação Física e ressaltam que
que estamos buscando, contudo

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cabe à escola socializar os indivíduos conteúdo que se ensina. Essa


com o patrimônio científico e cultural libertação no sistema escolar deve
ser pelo esclarecimento e pelo
produzido historicamente pela desenvolvimento de
humanidade, de modo que os homens competências como a auto-
possam adquirir autonomia necessária reflexão, que possibilita uma
para sua interação na sociedade. libertação livre da coerção
Ao enfatizarem as funções (KUNZ, 1994, p.115-116).
específicas da escola destacam que a Kunz (1994) nos esclarece que o
escola norteada pelos pressupostos de conteúdo principal do trabalho pedagógico
uma educação crítico-superadora: da Educação Física Escolar é o Movimento
deve selecionar os conteúdos Humano, devendo enquanto estratégia
clássicos necessários à didática passar pelas categorias de
formação do cidadão trabalho, interação e linguagem.
autônomo, crítico e Quanto aos objetivos primordiais
participativo, para que este
possa participar, intervir e
de ensino propõem o desenvolvimento de
comprometer-se com os competências como a competência
rumos da sociedade possível, comunicativa, a competência social, e a
diante do momento histórico competência objetiva. Na competência
(RESENDE e SOARES, social desenvolve-se pela tematização das
1997, p.29).
relações socioculturais do contexto em que
Quando os autores apresentam
vive, dos problemas e contradições dessas
os objetivos gerais da Educação Física
relações, os diferentes papéis que os
na Educação Básica, colocam que o
indivíduos assumem numa sociedade, no
ensino da Educação Física na
esporte e como esses se estabelecem para
perspectiva da cultura corporal tem
atender diferentes expectativas sociais.
como objetivo geral possibilitar aos
Para a competência objetiva vale que o
alunos a vivência sistematizada dos
aluno precisa receber conhecimentos e
conhecimentos da cultura corporal,
informações, precisa treinar destrezas
balizado por uma postura crítica, no
técnicas racionais e eficientes, precisa
sentido da aquisição da autonomia.
aprender certas estratégias para o agir
prático de forma competente. Na
Abordagem Critico - Emancipatória
competência comunicativa destaca que a
A abordagem Crítico -
linguagem verbal é apenas uma das formas
Emancipatória enfatiza que o ensino
de comunicação do ser humano, sendo que
nesta concepção deve:
ser um ensino de libertação de
as crianças comunicam-se muito pelo seu
falsas ilusões, de falsos se - movimentar, pela linguagem do
interesses, e desejos que são movimento.
construídos nos alunos a partir Quando ressalta os conteúdos da
de conhecimentos colocados à Educação Física Escolar (KUNZ, 1994,
disposição pelo contexto
sociocultural onde vivem
p.101) afirma que “não se elimina o
visão esta originária de um interesse do movimento que é específico
mundo regido pelo consumo, do Esporte, da Aprendizagem motora, da
pelo melhor, mais bonito e Dança, ou das atividades lúdicas enquanto
correto. Assim o ensino deve conteúdo específico da área, porém coloca-
confrontar-se pela libertação
destas falsas visões de mundo,
se o estabelecimento dos objetivos para
libertar-se da coerção imposta desenvolver a competência de autonomia”.
por parte do professor e do

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Toda essa mudança proposta por questões: dimensão conceitual (o que se


Kunz está extremamente ligada à busca deve saber); dimensão procedimental (o
do cidadão autônomo, autonomia esta que se deve saber fazer) e dimensão
que deve ser enfatizada durante as aulas atitudinal (como se deve ser).
de Educação Física, através de situações Os conteúdos estão organizados
de ensino onde as aulas não sejam uma em três blocos articulados, sendo assim
mera reprodução do esporte de divididos: um bloco com os Esportes,
rendimento, e sim vivências que visem Jogos, lutas e ginásticas; outro com
a problematização ao invés de um Atividades rítmicas e expressivas; e outro
interesse técnico que visa com os Conhecimentos sobre o corpo.
exclusivamente o rendimento. Ao propor a busca pela Autonomia
a proposta dos PCNs (BRASIL,1998),
Abordagens baseadas nos Parâmetros pauta-se na ampliação do olhar da escola
Curriculares Nacionais sobre o objeto de ensino e aprendizagem
Nos Parâmetros Curriculares da cultura corporal de movimento. Essa
Nacionais (BRASIL, 1997) no seu ampliação significa a possibilidade de
Documento de Introdução, o sentido da construção pelo aluno, de seu próprio
Autonomia se dá como: discurso conceitual, atitudinal e
uma opção metodológica que procedimental. Em vez da reprodução ou
considera a atuação do aluno memorização de conhecimentos, a sua
na construção dos seus
próprios conhecimentos recriação pelo sujeito por meio da
valoriza suas experiências, construção da autonomia para aprender.
seus conhecimentos prévios e Quanto aos objetivos da Educação
a interação professor-aluno e Física o documento, destaca que os alunos
aluno-aluno, buscando deverão conhecer os limites e
essencialmente a passagem
progressiva de situações em possibilidades do próprio corpo de forma a
que o aluno é dirigido por poder controlar algumas de suas posturas e
outrem a situações dirigidas atividades corporais com autonomia e a
pelo próprio aluno , valorizá-las como recurso para melhoria de
salientando que a autonomia sua aptidão física.
não é um estado psicológico
geral que, uma vez atingido, A prática da Educação Física na
esteja garantido para qualquer escola poderá favorecer a autonomia dos
situação, podendo uma pessoa alunos para monitorar as próprias
ter autonomia em atividades, regulando o esforço, traçando
determinados campos e outros metas, conhecendo as potencialidades e
não, sendo necessário então
que a escola busque sua limitações e sabendo distinguir situações
extensão aos diferentes de trabalho corporal que podem ser
campos de atuação. prejudiciais (BRASIL, 1997).
(BRASIL,1997,p.94 – 95).
No documento, (BRASIL, 1998) Educação Física e Autonomia: algumas
destinado ao ensino de 5ª a 8ª séries, reflexões
propõe-se uma visão da Cultura Todos os autores e documentos
Corporal de Movimento baseada nas mencionados tentam explicar a sua linha
três dimensões dos conteúdos: de pensar e propor a Educação Física na
conceituais, procedimentais e escola, como também explicam a referida
atitudinais. Essa classificação de busca pela autonomia nas diversas
conteúdos corresponde às seguintes manifestações corporais.

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Embora cada um dos autores (1993) não facilitarão a aquisição da


citados parta de pressupostos teóricos autonomia, pois com formação atlética (via
diferentes, discutam e enfatizem a busca biologicista) e recreio supervisionado (via
pela autonomia de acordo com suas pedagogicista), não levará o aluno a um
proposições um tanto quanto diferentes, conhecimento real dos conteúdos de
vale refletir se as intenções da conquista Educação Física, o que certamente
da autonomia não estão ficando restritas dificultará que o aluno se torne praticante
às argumentações teóricas, pois nos ou apreciador crítico das diferentes
parece claro, que embora tenha uma manifestações corporais.
base teórica reformulada a Educação Entendendo que o objetivo da
Física na escola ainda sofre algumas Educação Física na escola é inserir os
influências da escola tradicional. alunos nas diversas manifestações da
Resende (1995) ao mencionar a cultura corporal de movimento, formando
questão das influências nas novas o aluno que vai ter autonomia para usufruir
tendências da Educação Física na escola o seu tempo de lazer em benefício da sua
afirma que: qualidade de vida, ser crítico quanto ao
existe um grupo com consumismo, dentre outros aspectos, temos
intenções renovadoras claro que vale a pena investir na aquisição
relacionado ao movimento de
críticas às tendências da autonomia durante os anos escolares.
pedagógicas manifestadas no Isso nos leva a alguns
ensino da Educação Física questionamentos como: O que torna o
Escolar, mas cabe ressaltar aluno autônomo? Que situações didáticas e
que essas tendências, metodológicas podem auxiliar na aquisição
fundamentalmente inspiradas
na aptidão física e no desporto da autonomia? Será que somente o acesso
de alto rendimento, ainda são a diferentes práticas corporais torna o
predominantes no contexto da aluno autônomo?
prática profissional em Todo o trato com o termo
questão (RESENDE,1995,p. “aquisição da autonomia” se dá em torno
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do aluno que vai através de um processo de
Embora já tenha passado mais ensino e aprendizagem apropriar–se de um
de uma década dessa afirmação, não novo conhecimento que ainda não tinha,
devemos despreza-la, pois essa prática ou seja, a passagem de um estágio de
pedagógica ainda está presente nos observação ou reprodução para um estágio
meios educacionais atualmente. de produção e criatividade.
Crum (1993), afirma que há Ao destacar sobre a passagem da
duas ideologias na Educação Física heteronomia para a autonomia, Piaget
estruturadas a fim de ganhar respeito e (1975) afirma que:
um indivíduo estará, por exemplo,
reconhecimento no mundo da educação, no estágio da autonomia no que se
uma ideologia biologicista centrada na refere á prática de determinado
formação do corpo e outra a ideologia grupo de regras, permanecendo a
pedagogicista, que leva facilmente as consciência dessas regras ainda
aulas de educação Física com caráter de mais eivada de heteronomia, de
mesma forma que a prática de
recreio supervisionado ou de outras regras mais refinadas:
entretenimento. portanto, não poderíamos falar de
Certamente essas duas estágios globais caracterizados pela
ideologias reconhecidas por Crum autonomia ou pela heteronomia,
mas apenas de fases de heteronomia

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e de autonomia, definindo um modificação de regras, enfim


processo que se repete a quando estimula o aluno a
propósito de cada novo conjunto participar das discussões e
de regras ou de cada novo plano reflexões em aula (DARIDO et
de consciência ou de reflexão al.2005,p. 40-41).
(PIAGET,1975,p. 75). Torna-se relevante, portanto refletir
Boaventura (2007) nos esclarece sobre a relação professor-aluno, pois as
que muitas vezes o professor reforça a situações didático-pedagógicas utilizadas
heteronomia dos alunos, quando ele pelo professor, podem colocar o aluno
(professor) centra demasiadamente as como participante ativo ou mero
decisões e menciona que o professor coadjuvante nas aulas. As relações e
deve estar atento mediante atitudes situações pedagógicas proporcionadas em
autoritárias, procurando sempre educar aula serão determinantes no tipo de alunos
visando às decisões e atitudes que iremos formar, ou seja, se o professor
democráticas, dando ênfase à for o centralizador do saber e os alunos
participação de todos, contribuindo meros repetidores de movimentos,
assim para o desenvolvimento do dificilmente esses alunos serão autônomos
cidadão pleno e autônomo. nas manifestações corporais aprendidas na
Freire (1996, p. 94), sabiamente escola.
nos diz que “o essencial nas relações
entre educador e educando, entre
autoridade e liberdade, entre pais e CONSIDERAÇÕES FINAIS
filhos, é a reinvenção do ser humano no
aprendizado de sua autonomia”. Se a Educação Física tem suas
Percebe–se, portanto o papel do funções na escola, parece que fica claro
professor como mediador do que uma das principais é tornar o aluno
conhecimento, em oferecer situações autônomo nas diversas manifestações
durante as aulas que venham estimular corporais. Para que isso ocorra, as aulas
os alunos no processo de aquisição da não podem ser repetições mecânicas de
autonomia, nas diferentes manifestações movimentos, nem o professor como o
corporais que tenham sido trabalhadas centralizador do conhecimento, onde os
nas suas aulas, no entanto, as relações alunos são reprodutores de seus
de ensino e aprendizagem e as vivências ensinamentos. Nessas situações não há
autônomas oferecidas pelo professor espaço para criação, não há situações-
podem ser de grande validade na problemas, não há discordância, não existe
conquista desta. o diálogo como forma de mediar conflitos,
Darido et al. (2005) ao enfim só existem situações padrões a
mencionar algumas situações que serem reproduzidas.
podem favorecer a autonomia nos Logicamente esse modelo de aula,
coloca que: não é o que favorecerá a conquista da
a autonomia dos alunos pode autonomia para o individuo poder usufruir
ser estimulada quando o os conteúdos aprendidos nas aulas de
professor lhes oferece
possibilidades de escolherem Educação Física, por isso, as aulas devem
os times, definirem os promover vivências coletivas que
agrupamentos, distribuí-los estimulem o desenvolvimento autônomo
pelo espaço, participarem da dos alunos nas diversas manifestações
construção e adequação de corporais.
materiais, da elaboração e

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La Tayle (apud. PIAGET, 1992, da autonomia durante o período de


p.62), afirma que “para favorecer a escolarização.
conquista da autonomia, a escola As abordagens pedagógicas da
precisa respeitar e aproveitar as relações Educação Física escolar possuem
de cooperação que espontaneamente divergências na forma de abordar a questão
nascem das relações entre crianças”. da conquista da autonomia, no entanto,
Essas relações de cooperação, independente da abordagem que o
dificilmente terão lugar num ambiente professor seja adepto, as vivencias
de coerção e de transferência de autônomas proporcionadas durante as aulas
conhecimento, no que Freire (2005) tornam-se de grande validade para a
afirmou ser uma educação “bancária”, formação do aluno, sendo este o grande
onde o educador deposita e transfere os desafio da Educação Física Escolar:
conhecimentos e valores para os promover vivencias autônomas visando a
educandos. formação de indivíduos autônomos.
Ao posicionar-se sobre a relação
professor-aluno e autonomia Freire
(1996) destaca que a autonomia vai se REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
constituindo de várias decisões que vão
sendo tomadas, sendo que uma BETTI, M. Educação Física e Sociedade,
pedagogia para a autonomia deve estar São Paulo: Movimento, 1991.
centrada em experiências estimuladoras
da decisão, e em experiências BETTI, M., Ensino de primeiro e
respeitosas de liberdade. segundo graus: Educação Física para
As vivencias autônomas que? Revista Brasileira de Ciências do
proporcionadas pelo professor, através Esporte. Maringá. v.13,n2,p.282-287 , jan.
de uma relação professor-aluno onde o 1992.
aluno possa ser o centro do processo
ensino-aprendizagem, que estimule o BOAVENTURA, E. Educação Física
aluno a refletir sobre suas ações, que para a Autonomia: construção de
não aponte modelos prontos para serem possibilidades metodológicas.
reproduzidos, e sim, situações Dissertação (Mestrado em Ciências da
problemas a serem resolvidas, podem Motricidade)-Universidade Estadual
auxiliar os alunos no processo de Paulista, Departamento de Educação
aquisição da autonomia. Física, Rio Claro: Unesp, 2007.
Parece-nos claro que as
vivências autônomas realizadas nas BRASIL. Secretaria de Educação
aulas, talvez não mostrem os resultados Fundamental. Parâmetros Curriculares
imediatos, e não tenha como mensurar Nacionais: Introdução aos parâmetros
esses resultados por não Curriculares Nacionais-MEC, 1997.
acompanharmos a vida das pessoas
depois do período de escolarização, mas BRASIL. Secretaria de Educação
também nos parece bem claro que só se Fundamental. Parâmetros Curriculares
conquista autonomia se a oportunidade Nacionais. Educação Física, 3° e 4° ciclo.
de exercê-la for estimulada, cabendo Brasília: MEC, 1998.
dessa forma ao professor proporcionar
situações facilitadoras para a aquisição SOARES, C.L. TAFARREL, C.,
VARJAL, E., CASTELANI FILLHO, L.,

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