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Entrevista com Daniel Stern

Tema principal: As relações de vinculação; a comunicação, as relações


mãe-pai-bebé

Ao som de vozes e melodias os bebés comunicam e acalmam-se. A importância da


música no desenvolvimento dos bebés tem sido um dos temas centrais do trabalho
desenvolvido pelo psiquiatra americano Daniel Stern. Ele defende que os pais
representam um "espetáculo de luz e som" para os seus bebés. Diz que não há melhor
para uma mãe do que deixá-la ser ela própria e recusa a ideia de que se deve ensinar a
maternidade. Para Stern, o papel de pai só funciona como elemento de um triângulo,
juntamente com a mãe e o bebé.

PÚBLICO – Uma parte fundamental do seu trabalho centra-se na importância da


música, da melodia, no desenvolvimento do bebé. Por que razão é isso tão
importante?
Daniel Stern – Os bebés não têm linguagem verbal, não percebem as palavras. Só
percebem a melodia que delas emana. Quando ouvem uma voz captam a sua melodia e
são muito bons nisso. Não interessa o que lhes dizemos, mas o modo como o dizemos, o
tom.
P – A música...
R – Sim, mas não falo de música clássica ou folk, isso não diz quase nada ao bebé. O
que acontece é que a mãe ou o pai são como uma máquina de música. Para estimular o
bebé têm de agir como um espetáculo de luz e som. É a única coisa que lhe interessa. Os
sons mais altos ou baixos preenchem o mundo do bebé. É a música, o movimento, a
dança, todas estas coisas, que o atraem. E os pais tornam-se especialistas nisso.
Especialmente a mulher, quando canta uma canção de embalar.
P – De que forma observou as reações dos bebés?
R – Ao som da televisão... Verificámos que eles selecionam níveis muito específicos,
intensidades muito próprias, o que se pode ver pela expressão dos seus rostos [e faz
desenhos representando graficamente o som no papel dizendo: "aahh!"] O ritmo
também é importante, não só a melodia. Por exemplo, uma das maneiras de acalmar o
bebé quando ele está exaltado, é emitirmos um som acima do seu tom e depois
acompanhar o seu ritmo. É como afinar um piano, procurar o tom certo de cada nota. É
uma forma de comunicação muito importante e subtil, que exigiu muito trabalho até a
compreendermos.
P – Acha que as mães sabem comunicar com os bebés por instinto ou deviam ser
ensinadas?
R – Acho que a mãe deve atuar por instinto e que não lhe devemos tentar ensinar nada.
Devemos é dar-lhe condições para um ambiente seguro. O resto é interação entre ela e o
bebé. Quando uma mãe se sente feliz, apreciada na sua atuação, ela é livre para agir.
Devemos proporcionar-lhe um bom contexto em que o seu filho possa crescer e
desenvolver-se.
P – Hoje, está na moda dizer que é preciso ensinar os pais e as mães a ser bons
educadores... até há escolas para pais.
R - Não concordo. Podemos ensinar alguém a amar melhor o outro? Podemos ensinar a
mudar fraldas e outros pormenores técnicos, mas não podemos ensinar o afeto.
P – Isso é curioso porque escreveu tantos livros a dar conselhos às mães!
R - Não, nunca escrevi livros para dar conselhos. Todos os meus livros são sobre o que
acontece em determinadas situações, não sobre o que fazer. Podemos dar sugestões, mas
não nos atrevemos a ensinar uma mãe.
P – No seu livro, "O nascimento de uma mãe" diz que todas as sugestões que faz
podiam ser transmitidas por uma mulher mais velha, uma mãe ou uma amiga...
R – É muito importante a experiência de mulheres mais velhas.
P – A melhor maneira de se ser mãe ou pai é herdada?
R – Sim, dizem que sim. Você, gosta da sua mãe? Acha que ela é uma boa mãe? (Fica à
espera de resposta... risos) É determinante a nossa experiência como filhos para o papel
que representaremos como pais. É muito importante, para o tipo de mãe que uma
mulher vai ser, o tipo de mãe que teve.
P – E o pai onde fica? Qual o seu papel?
R – Pai sozinho? Com a mãe, sim. Pai mãe e bebé funcionam como um triângulo. Sei
que há exceções, mas a figura do pai sozinho não funciona.
P – Os pais também podem ser muito bons na prestação dos cuidados aos bebés.
Nos Estados Unidos até há uma Associação de "pais em casa".
R – E são brilhantes. Já fui a um congresso deles. Mas as mulheres são muito melhores
na relação com os filhos, elevam essa relação a um nível que os homens não chegam.
Os homens promovem mais uma interação física. É uma forma muito típica de estar
com o bebé a de cada um...
P – Que conselho escolheria para dar a uma mãe, mesmo não gostando da palavra
conselho?
R – Talvez para ser ela própria. Uma mãe deve agir com a maior naturalidade e fazer o
seu bebé adaptar-se a ela. É o melhor conselho que posso dar.
P – O que acontece quando a mãe está deprimida de mais para ser ela mesma para
o seu bebé?
R – O bebé não tem nada a ver com isso. A mãe tem de tratar a sua depressão. E o bebé
pode até ser um bom anti-depressivo...
P - De que forma é que o bebé pode ser influenciado pela depressão da mãe?
R – Há uma experiência a que chamamos "steel face" que consiste em olhar o bebé nos
olhos e interagir com ele. Se, de repente, a mãe fica com uma cara séria, sem expressão,
a reação do bebé é tentar que ela continue a interagir com ele. Não chora e tenta, a todo
o custo, fazê-la sorrir de novo, Os bebés sabem que conseguem que a mãe volte a sorrir.
Muitas vezes, aqueles que foram obrigados a provocar interações dessas com a mãe,
tornam-se pessoas encantadoras, muito charmosas, ótimas a animar pessoas tristes ou
deprimidas. E apaixonam-se facilmente por pessoas em particular e pelo género humano
em geral.
P – Do que vai falar, hoje, a sua comunicação?
R – Estive a passear por Lisboa a pensar como iria abordar as necessidades irredutíveis
do bebé. Acho que tudo se resume a uma questão: a mãe tem de se apaixonar pelo bebé.
Parece-me a necessidade irredutível mais óbvia.

Ana Machado e Paula Torres de Carvalho, Público, 2002-10-03

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