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queológicos e monumentos. Este é um fato dis- suas múltiplas dimensões, tendo em vista que o
tinto, em comparação a outros continentes, que patrimônio representa a identidade e a memória
colabora para a criação de uma identidade cole- dos diversos grupos da sociedade brasileira.
tiva, onde os monumentos possuem origem mi-
lenar, datando da época do desenvolvimento da Teoria e prática do restauro na Europa
cultura grega e a expansão do Império Romano,
o qual deixou vestígios de si não só na própria Nas nações europeias, o restauro coincide com o
Europa, mas também em toda a bacia do Mar maior fervor nos estudos sobre a Idade Média e
Mediterrâneo, chamada pelos romanos de Mare na intensa reformulação de suas próprias histórias
Nostrum. Este reconhecimento se torna oficial a no sentido de criar uma identidade nacional. Esse
nível europeu no final de 1975, na Carta Europeia propósito é então concretizado com o “restauro
do Patrimônio Histórico e na Declaração de Ams- em estilo” de igrejas e castelos que melhor repre-
terdã (CARBONARA, 1997). sentavam o esplendor do passado, na qual a obra
poderia ser reconduzida “a um estado de perfei-
Da mesma forma, os vinte e seis estados e o Dis- ção que nunca poderia ter existido em qualquer
trito Federal que compõem o Brasil, estendidas momento”, conforme teorizado por Viollet-le-Duc.
territorialmente quase como toda a Europa, tem
sua história constituída do seu patrimônio cultu- Nessa época, é atribuído ao restauro um signifi-
ral tangível e intangível, os quais representam as cado social, cultural e político em diversos países
tradições e as raízes autênticas do país. O seu europeus. Na Grã-Bretanha, o restauro em estilo
reconhecimento e defesa se encontram na Cons- goza de uma longa e ininterrupta tradição. Nos
tituição Federal Brasileira de 1988, seção II, art. países germânicos, os projetos de restauro das
215, que dispõe que “o Estado garantirá a todos Catedrais de Colônia, de S. Stephen, de S. Maria
o pleno exercício dos direitos culturais e acesso Speyer e da fachada da Catedral de Estrasburgo
às fontes da cultura nacional, e apoiará e incenti- podem ser elencados como exemplos. Além des-
vará a valorização e a difusão das manifestações tes, tem-se na Espanha as Catedrais de S. Maria
culturais, (...) protegerá as manifestações das de Regla Leon e de Burgos. Na Itália, onde esta
culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e atitude se manifestou até as primeiras décadas
das de outros grupos participantes do processo do século passado, destacam-se as fachadas de
civilizatório nacional”, através de um plano nacio- Santa Maria del Fiore e Santa Croce em Florença,
nal para a salvaguarda da cultura e valorização as Catedrais de Arezzo e Amalfi e a “medievaliza-
do patrimônio cultural e histórico e da qualifi- ção” de uma cidade inteira, Bolonha, por Alfonso
cação do indivíduo para a gestão da cultura em Rubbiani (CARBONARA, 1996).
Uma importante contribuição após a fase de fun- sobre a noção de monumento e estabelecer um
damentação do restauro aparece no final do sé- julgamento detalhado da relevância da obra, e
culo XIX através de Camillo Boito e Alois Riegl, que, em seguida, vai orientar o ato subsequente
que vão além das posições extremas de Viollet- de conservação e restauro. Os conflitos entre va-
-le-Duc, de um lado, e John Ruskin, do outro, lores do passado e valores do presente não são
para fazer uma reflexão crítica e complexa que insolúveis para Riegl, mas devem ser equilibra-
definiu o campo disciplinar e constituiu um con- dos em função do estado do monumento e do
junto orgânico de regras. contexto social e cultural em que ele se apresen-
ta (CARBONARA, 1997).
Boito desenvolve seu modo de intervir nos monu-
mentos sobre a dialética entre a reconstrução e au- As ideias de Boito foram desenvolvidas mais tarde
tenticidade, inserindo-se numa posição intermedi- na Itália por Gustavo Giovannoni, autor da Carta
ária entre a repristinação e falsificação de Viollet le Internacional do Restauro de Atenas de 1931, em
Duc e da atitude antirestauro fatalista apoiada por conjunto com o francês Paul Léon. Giovannoni
Ruskin. Na Carta de Restauro apresentada ao Con- reestabelece as ideias do restauro filológico atri-
gresso de Engenheiros e Arquitetos em 1883, ele buindo grande importância para a compreensão
fundamenta as intervenções em monumentos em do monumento com uma abordagem positivista
categorias distintas, de acordo com a idade em que tardia mediante a realização de levantamentos
eles pertencem - clássica, medieval e renascentista diretos e precisos, os quais assumem um papel
- definindo atitudes mais conservadoras, respecti- crucial conjuntamente com as pesquisas indi-
vamente, para a primeira categoria e, gradualmen- retas realizadas nos arquivos. O teórico italiano
te, mais liberdade para as outras, e ainda de acor- define cinco categorias de intervenção nos mo-
do com dois princípios básicos que são a “mínima numentos, porém, a sua verdadeira inovação é
intervenção” e “distinguibilidade figurativa” entre o a sensibilidade para todo o centro histórico e o
antigo e o novo, certificando-se, então, de manter patrimônio urbano, cuja salvaguarda e adapta-
todas as adições e estratificações que foram feitas ção às funções modernas tornam-se o centro de
sobre o monumento ao longo do tempo, não de- sua pesquisa (GIOVANONNI, 1931). A teoria do
1. Expressão que designa vendo ser consideradas irrelevantes. sventramento1 se opõe à teoria do diradamento2
uma grande interferência no
tecido urbano histórico.
através de um estudo cuidadoso da cidade e de
2. Expressão que designa Riegl, mais ativo no nível teórico que no prático, todas as suas características e peculiaridades,
uma interferência menos im- analisa as razões da conservação e elabora a te- para agir com consciência e responsabilidade,
pactante no tecido urbano
histórico em comparação ao
oria dos valores - do passado e do presente - os permitindo pequenos adaptações para possibili-
sventramento. primeiros úteis para realizar uma análise crítica tar usos mais funcionais e modernos na cidade.
A rigorosidade do pensamento de Riegl e os seus 1922, desencadeia um grande debate sobre o va-
conceitos formulados com base em atos contínu- lor da arte moderna brasileira, provocando grandes
os de julgamento aproxima o teórico, transformações no pensamento intelectual, político
e cultural do país na época (CUNHA, 2010).
(...) visto por alguns como o precursor da ‘pura
conservação’, (fundada sobre a estabilidade do De um lado, há a apreciação da arte nacional, li-
valor histórico-documental, certamente consi- vre de influências estrangeiras, e do outro, nasce
derada por ele, em contraste com a subjetivida- a consciência e afirmação do valor da arte do pas-
de e mutabilidade da apreciação estética), aos sado. Cunha (2010) afirma que esse momento foi
posteriores desenvolvimentos do ‘restauro críti- importante na estruturação oficial do serviço públi-
co’ e do pensamento de Cesare Brandi - tradu- co e jurídico que promoveu a salvaguarda do pa-
ção dos autores (CARBONARA, 1997). trimônio artístico e histórico brasileiro. Neste novo
contexto cultural e político, propício para promover
Brandi funda sobre o contraste dialético entre a identidade nacional através do governo Getúlio
instância histórica e estética a intervenção do Vargas, se materializa a necessidade de criar uma
restauro, que constitui sempre um caso em si, instituição para a proteção dos monumentos. Logo,
não enquadrável em categorias e nem em teo- o Ministro Gustavo Capanema funda, em 1934, a
rias extremas que serão desenvolvidas posterior- Inspetoria dos Monumentos Nacionais (IPM).
mente, como a manutenzione e ripristino desen-
volvida por Vaccaro (1989) e Marconi (1984) e a Sucessivamente, em 30 de novembro de 1937,
pura conservazione o integrale, conforme Dezzi Vargas aprova o Decreto-Lei n. 25 que “Organiza
Bardeschi (1991). Uma recomposição das posi- a proteção do patrimônio histórico e artístico na-
ções extremas, que não coloca regras rígidas ou cional” (BRASIL, 1937). Ainda em vigor, este de-
categorias a priori, mas que se baseia sobre o creto é o precursor da proteção do patrimônio no
ato crítico de compreensão é o restauro critico- Brasil, e estabelece, por meio dos seus capítulos,
-conservativo, teorizado por Giovanni Carbonara. o significado de patrimônio histórico e artístico
(Capítulo I), as modalidades para a emissão do
A realidade do restauro no Brasil e na Itália – tombamento (Capítulo II) e um conjunto orgânico
algumas considerações de regulamentação dos deveres dos proprietá-
rios de bens (Capítulos III, IV e V).
Durante os anos 1920 e 1930, se firma no Brasil uma
sensibilidade para o patrimônio histórico. A Sema- A complexa gestão do patrimônio histórico é feita
na de Arte Moderna, promovida em São Paulo em por um órgão específico, cuja instituição se deu
através do artigo 46 da Lei nº. 378, de 13 de ja- gidas primeiramente por Rodrigo de Melo Franco
neiro de 1937, “com a finalidade de promover, de Andrade, entre os anos de 1937 e 1968. Essa
em todo o País e de modo permanente, o tom- fase é conhecida como “Fase Heroica” devido ao
bamento, a conservação, o enriquecimento e o empenho positivo do diretor de tentar propagar
conhecimento do patrimônio histórico e artístico pelo país novas ideias destinadas a criar uma cul-
nacional” (BRASIL, 1937). No princípio o órgão era tura e uma identidade nacional (FONSECA, 2005).
chamado Serviço do Patrimônio Histórico e Artís- Todavia, as intervenções realizadas nesse período
tico (SPHAN), mas atualmente opera sob o nome são orientadas, de acordo com Cunha (2010), pelo
de Instituto Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). restauro estilístico e são conduzidas sem prepara-
ção suficiente sobre a arquitetura brasileira e suas
Na Itália, após a sua unificação, a tutela dos bens técnicas construtivas.
culturais foi efetuada de modo sistemático a fim
de alcançar “unidade metodológica e de dire- Os arquitetos envolvidos neste momento são os
cionamento” – tradução dos autores (FACCIOLI, mesmos que operam com novos projetos, priva-
1898) com a criação dos Órgãos Regionais em dos de estudos adequados e experiência, analo-
1891, para a conservação dos monumentos, e gamente ao que aconteceu na França durante o
sucessivamente com a instituição da primeira período de empirismo, que precede o advento de
Superintendência por Corrado Ricci em Ravena, Viollet-le-Duc e seus estudos sistemáticos desti-
no ano de 1897. As leis, já presentes no Estado nados a um profundo conhecimento da arquite-
Pontífico desde 1820, publicadas pelo Cardinal tura medieval francesa (CESCHI, 1970).
Pacca, foram resgatadas pelo Estado Italiano em
1902 e posteriormente revisadas sob o regime fa- Na Europa a prática da repristinação nos monu-
cista de Mussolini, em 1939. A Lei nº 1497 trata- mentos foi difundida no decorrer do século XIX.
va da tutela da paisagem, enquanto que a Lei nº Nesta modalidade de intervenção sobre o antigo
1089 do que era de interesse histórico e artístico. se subtrai somente o cenário romano graças a
(ITÁLIA, 1939). Em 2004, elas foram substituídas pesquisas e a uma maturação alcançada no nível
pelo Decreto-Lei nº 42, chamado Codice Urbani cultural devido a figuras proeminentes, como Car-
(ITÁLIA, 2004). Assim como a legislação brasilei- lo Fea e Antonio Canova, e às experiências prece-
ra, ele é dividido em cinco partes e trata de con- dentes amadurecidas no campo da pintura e da
ceitos e de formas de tutela. escultura. As intervenções realizadas nesse perí-
odo nos monumentos arqueológicos romanos por
No Brasil, as atividades realizadas pelo Instituto do Stern e Valadier representam casos isolados, que
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional são diri- serão seguidos por uma regressão no campo do
Assim como no continente Europeu, as primeiras Segue então um segundo momento denominado
intervenções feitas no Brasil seguem a repristina- “fase moderna”, que vai de 1968 a 1990, no qual
ção por negligenciar o valor historiográfico da es- se dá a ampliação do conceito de bem cultural
tratificação e do tempo transcorrido. Cunha (2010) e ocorrem modificações na estrutura do IPHAN
afirma que os modernistas do patrimônio, emba- (FONSECA, 2005). A administração começa a ser
sados na Carta de Atenas de 1933, perpetuavam mais equilibrada e efetiva no fim da década de
sessenta com a criação dos primeiros órgãos de de bem cultural (CARBONARA, 1997). Este pas-
defesa do patrimônio em nível estadual, motiva- sa a abranger muitas categorias, tanto materiais
dos pela elaboração da Carta de Veneza de 1964. como arquiteturas menores e objetos de uso
Na década de setenta diversos acontecimentos quotidiano, quanto imateriais como tradições e
contribuíram para o fortalecimento da proteção costumes populares, assumindo dessa forma o
do patrimônio nacional. Verificam-se grandes conceito de patrimônio cultural, o qual define a
transformações na organização dos Órgãos de identidade de um povo. O patrimônio assim con-
proteção, a fim de superar as dificuldades ligadas cebido entra para o ordenamento jurídico italiano
a uma Instituição centralizada, que não represen- (Commissione Parlamentare Franceschini, 1964),
tava todo o território. marcando uma ruptura cultural entre o bem como
uma simples fonte de interesse e beleza e o bem
Na mesma época, foi realizado em Brasília um en- que constitui testemunha material com alto “valor
contro entre os governadores dos Estados para de civilidade”, tornando-se assim um dos funda-
criar acordos em prol de um desenvolvimento mentos da instituição da sociedade civil italiana.
urbano que estivesse em sintonia com as ações
de proteção da cidade. Esta reunião resultou, em Para o Brasil, o conceito de patrimônio cultural
1973, na formulação do Programa de Cidades adquire um significado especial devido às múl-
Históricas (PCH), cujo objetivo principal era dar tiplas culturas e bens presentes nas diferentes
suporte ao desenvolvimento do turismo em cida- realidades regionais e em virtude de uma ligação
des históricas. Também levou, após três anos da direta entre o desenvolvimento econômico e so-
instauração do programa, à criação de Institutos cial do país e o crescimento da consciência civil
Estaduais e Municipais, com a intenção de alcan- sobre o legado cultural. As diferentes culturas re-
çar a proteção de maneira orgânica em todo o ter- presentam um legado estratégico e os indicado-
ritório. Em 1975, foi criado o Centro Nacional de res sobre os quais se deseja criar um desenvol-
Referência Cultural (CNRC), a fim de realizar estu- vimento compatível com suas peculiaridades. A
dos e pesquisas que contribuíssem para amadu- Constituição Federal de 1988, nos artigos 215 e
recer o conceito de bem cultural. (CUNHA, 2010). 216, amplia o campo de ação e os bens a serem
protegidos e oficializa o valor da cultura popular,
Analogamente a esse contexto, ocorre nos anos indígena e afro-brasileira.
sessenta um desenvolvimento e sistematização
das disciplinas das áreas humanas na Itália - an- Os trabalhos de restauro realizados neste perí-
tropologia, sociologia e ciências humanas em odo são, entretanto, afetados pelas dificuldades
geral, colaborando para a ampliação do conceito do contexto vivido no país, e seguindo os dita-
mes da repristinação, edifícios foram restaurados edificações são construídas nas proximidades de
para a sua forma original, com base em docu- edifícios históricos, sem a devida reflexão sobre
mentos, evidências e estudos analíticos, median- a qualidade de suas inserções. Um exemplo são
te a remoção das partes adicionadas e a reinte- as intervenções feitas na Avenida Rio Branco, no
gração das lacunas. Conforme Cunha (2010), um Rio de Janeiro, onde grandes estruturas foram
exemplo é o restauro do Paço Imperial, na cidade implantadas nas mediações de edifícios históri-
do Rio de Janeiro (Figuras 02 e 03). cos (Figura 04) (CUNHA,2010). Porém, a sensi-
bilidade ao tecido construído se transforma len-
tamente, sendo possível ver algumas conquistas
logo na década de setenta, como o Plano Diretor
do Pelourinho (PLANDIP), criado entre os anos
de 1975 e 1979, e o Projeto Piloto participativo
para o restauro do Centro Histórico de Olinda, de
1980 (Figura 05). Todavia, ambos não foram con-
cluídos por descontinuidade do governo como
relata a Revista do Patrimônio Históricos e Artís-
tico Nacional (1986, apud CUNHA, 2010).
europeia, o que lhes permitiu também consolidar sa e novos materiais funcionais para intervenção
o conhecimento sobre o patrimônio cultural nas no patrimônio histórico e cultural.
suas mais variadas categorias.
Nas universidades italianas o debate no campo do
Através deste programa, estudantes de áreas re- restauro sempre foi fecundo, e nas últimas déca-
lacionadas à Construção Civil, Arquitetura e Ur- das o desenvolvimento de um diálogo construtivo
banismo e Engenharias e suas tecnologias, por favoreceu importantes desdobramentos conceitu-
exemplo, tiveram a oportunidade de cursar parte ais da disciplina, caracterizada por três diferentes
de suas graduações, mestrados ou doutorados escolas de pensamento: la conservazione inte-
no continente europeu, mais especificamente na grale, il restauro quale manutenzione e ripristino, il
Itália, ampliando seus horizontes e conhecimen- restauro critico conservativo. A consolidação dos
tos sobre a teoria do restauro e sobre as interven- monumentos, muito estudada na Itália, também
ções nos ambientes construídos detentores de é considerada um ato cultural de síntese entre os
valores históricos e culturais. As universidades aspectos histórico-crítico e necessidades de me-
italianas representam uma oportunidade impor- lhorias estáticas e sísmicas, que é alcançada com
tante para muitos estudantes brasileiros devido à uma abordagem cultural partindo de uma nova vi-
excelência da pesquisa e da formação no âmbito são, sem alterar a concepção autêntica do edifício
dos patrimônios culturais. (GALLI, 2013). A pesquisa sobre o funcionamento
e a construção é favorecida por uma ampla distri-
O percurso formativo italiano tem início em 1920 buição de superintendências, que atuam em todo
com Gustavo Giovannoni, que funda a primei- território italiano, e que possuem uma longa tradi-
ra faculdade de arquitetura na Universidade La ção sobre patrimônio cultural.
Sapienza de Roma e cria a disciplina Restauro
dei monumenti, ministrada diretamente por ele e Considerações Finais
Guglielmo de Angelis D’Ossat. Em seguida esta-
beleceu, em 1957, a Scuola di Specializzazione in A história do restauro no Brasil remete ao que se se-
Restauro dei monumenti, que atualmente existe guiu na Europa, embora em momentos diferentes e
em várias universidades italianas. Não pode ser com características próprias, sendo natural que o
negligenciada, contudo, a contribuição do Istituto amadurecimento e o reconhecimento da cultura
Centrale del Restauro, atualmente ISCR, funda- tenham seu lugar com perspectivas semelhantes.
do por Cesare Brandi em 1939, que desempenha
um papel de coordenação no desenvolvimento e Atualmente, o conceito do restauro se desdo-
divulgação de metodologias, técnicas de pesqui- bra em diferentes realidades, tanto na Europa
e, principalmente na Itália com as diversas cor- celli, Gianfranco Spagnesi e B. Paolo Torsello,
rentes coexistentes, quanto no contexto latino- que juntamente com os teóricos mencionados
americano, e mais especificamente no Brasil. anteriormente configuram as nove correntes de
Entende-se que tais desdobramentos interferem pensamento sobre o tema no contexto italiano na
diretamente no ensino da disciplina do restauro e atualidade. (KÜHL, 2009)
nas intervenções restaurativas. É necessário lidar
com os riscos de uma visão restaurativa como Estudantes brasileiros que participaram do cur-
mera recuperação e até mesmo somente como so de Restauro architettonico na Universidade
conservação. Neste sentido, uma reflexão equili- de Bolonha no ano letivo de 2013-14 ganharam
brada ao longo de uma linha crítico-conservativa experiência definitivamente frutífera no plano cul-
encontra o seu amadurecimento na tentativa de tural e educacional. Além da tradicional experi-
combinar teoria e prática. ência acadêmica, através de aulas teóricas mi-
nistradas, a eles foi oferecida a oportunidade de
Aos poucos, são abandonadas posições extre- contribuir com o levantamento, estudo histórico,
mas, sejam aquelas orientadas para a manuten- análise construtiva e com o projeto de restauro
zione e ripristino defendida por Paolo Marconi, das superfícies arquitetônicas, de pedra e deco-
com a diferenciação entre o restauro arquitetô- rações em afrescos, da Igreja de San Bartolomeo
nico e as medidas restaurativas direcionadas aos e Gaetano (GALLI, 2009), uma importante igreja
demais bens, ou aquelas orientadas para a pura barroca, do período histórico no qual existe rica
conservazione ou conservação integral, defen- herança também no Brasil, abordando questões
dida pela escola de Milão, mais especificamen- cruciais para a sua futura vida profissional, con-
te por Marco Dezzi Bardeschi e Amedeo Bellini, tando com orientação em laboratório e in loco de
para chegar a um julgamento maduro diante das vários professores e tutores da disciplina. Estes
realidades específicas e consequentes decisões, estudantes, provenientes de diversas universida-
orientadas de acordo com os princípios da ava- des e regiões do Brasil, após vivenciarem esta ex-
liação crítica-conservativa defendida por Giovan- periência, retornaram ao país com muitas ideias
ni Carbonara, na qual estão incluídos a dialética e com visões diversificadas sobre as teorias do
entre conservação e desenvolvimento, aprimo- restauro, o que influenciou diretamente na refle-
ramento, reutilização e melhoria sísmica-estru- xão sobre os espaços considerados patrimônio e
tural do bem, sendo capaz de salvaguardar os na elaboração de projetos para os mesmos.
infinitos valores do patrimônio construído. Neste
contexto, é imprescindível mencionar os estudos Ao não aceitar mais somente um ponto de vista
de Stella Casaiello, Roberto Cecchi, Paolo Fan- para a projetação, amplia-se a escala e o modo de
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