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O PARCELAMENTO DO
SOLO URBANO
(Revisão da Lei no 6.766/1979)
SÉRIE
Ação parlamentar
n. 268
CDU 347.235(81)
SUMÁRIO
Pág.
Comissão de Desenvolvimento
Urbano e Interior
Membros suplentes:
APRESENTAÇÃO
Sob a presidência da
Deputada Maria do
Carmo Lara, a CDUI
ouviu, em quatro
Audiências Públicas,...
Convidados:
• RAQUEL ROLNIK – Urbanista e Secretária Nacional de Pro-
gramas Urbanos do Ministério das Cidades.
• NELSON SAULE JÚNIOR – Coordenador do Fórum Nacio-
nal de Reforma Urbana.
• BETÂNIA DE MORAES ALFONSIN – Urbanista e Assesso-
ra Jurídica da Prefeitura de Porto Alegre, Estado do Rio
Grande do Sul.
• RICARDO DE SOUSA MORETTI – Professor da Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da PUC de Campinas, Estado
de São Paulo.
O Deputado Ary Vanazzi (PT – RS) des- prefeituras, ONG e vereadores. Alguns
tacou a importância da parceria entre apresentaram críticas e sugestões,
Poder Público e iniciativa privada, do como Antônio Veríssimo, do Núcleo de
financiamento federal, da gestão pú- Regularização de Loteamentos da
blica e de se produzirem lotes urba- Prefeitura do Rio, Patrícia Gazzola,
nizados, “já que a cidade legal está da Prefeitura de Vitória e Sandra
ficando desabitada”. Mello, do Ministério do Meio Ambiente.
Raquel Rolnik insistiu que não se pode Ao final da Audiência Pública, o relator,
construir dois sistemas paralelos, “di- Deputado Dr. Evilásio (PSB – SP), dis-
zer que o lote mínimo é de 300 metros se que o seu Substitutivo ao Projeto
quadrados, mas para o pobre é só 100, de Lei no 3.057/00 é um pré-projeto e
o problema é que sobram lotes e falta que vai ouvir outros segmentos no ci-
acesso a eles”. clo de Audiências Públicas, aproveitan-
A Audiência foi acompanhada por re- do muitas das sugestões que já foram
presentantes de movimentos populares, e que serão feitas.
A construção do substitutivo foi feita pelo Deputado Dr. Evilásio, que quis
discuti-lo não só com a Câmara dos Deputados, mas com toda a sociedade. A
intenção de S. Exa e da Comissão é constituir esse projeto de lei e aprová-lo
ainda este ano. Queremos trabalhar para isso.
Acreditamos que a participação de todos é fundamental nesse processo
não só no sentido de subsidiar o Relator, mas também de fazer um trabalho
conjunto. Esta Comissão tem trabalhado conjuntamente com o Executivo, com
a sociedade civil, com o Fórum de Reforma Urbana e com a universidade. Não
queremos entregar à sociedade uma lei cheia de emendas, como estava ocor-
rendo, mas um substitutivo que aborde a questão do solo urbano.
Vamos passar a palavra aos debatedores. Concedo a palavra, em primei-
ro lugar, à Dra Raquel Rolnik, Secretária de Programas Urbanos do Ministério
das Cidades e estudiosa do assunto.
A SRA. RAQUEL ROLNIK – Bom-dia a todos. É extremamente impor-
tante a oportunidade e a iniciativa de se trabalhar a Lei no 6.766/1979, ab-
solutamente central para os processos de desenvolvimento urbano. Sinto
que existe enorme descontentamento em relação à sua formulação e à re-
visão feita, que modificou alguns de seus aspectos. Sentimos que essa revi-
são acabou não resolvendo uma série de questões que ainda estão pendentes.
Portanto, é fundamental que elas possam ser enfrentadas agora, conside-
rando – acho que essa é a primeira grande questão – que vamos proceder
a um processo de revisão da Lei no 6.766/1979 em novo contexto, o de pós-
aprovação do Estatuto das Cidades, que estabelece, de forma clara e ine-
quívoca, uma nova ordem urbanística para o País. Tudo isso significa repensar
o próprio instrumento da Lei de Parcelamento à luz desse novo contexto
jurídico e institucional que é o Estatuto das Cidades e do fortalecimento e
revisão dos processos de planejamento urbano e controle do uso e ocupa-
ção do solo dele decorrentes.
Portanto, a oportunidade de revisão dessa lei é fundamental. Na verdade,
temos de trabalhar três vertentes, cujas abordagens vão se dar nas audiências
públicas já marcadas. Vamos tratar hoje de apenas uma dessas vertentes, mas
acho muito importante dizer que é nossa missão, nesse processo de revisão da
Lei no 6.766/1979, abordar os três temas que precisam ser enfrentados.
O primeiro, objeto desta audiência, diz respeito à regulação dos novos
parcelamentos, ou seja, tudo aquilo que vai ser parcelado a partir de agora,
com a instituição de uma nova legalidade. Como será? Quais serão os crité-
rios? Quais serão os parâmetros? Serão flexíveis? Não serão flexíveis? De-
percentuais; como são inúteis e não têm produzido coisa boa, vamos tentar
trabalhar isso de outra forma”.
Gostaria de lembrar que antes do planejamento urbano, a partir princi-
palmente das décadas de 40 e 50, nosso País trabalhava com índices urbanís-
ticos. O urbanismo e toda a área de projeto urbano da cidade faziam os planos
de arruamento e de expansão urbana. Esse era o urbanismo praticado no sé-
culo XIX, começo do século XX. O que significa isso? Que os planos, na verda-
de, definiam arruamentos e traçados no processo de expansão das cidades
previamente à ocupação e loteamento dessas áreas pelos privados. Ou seja,
no momento em que o privado resolvesse usar a sua gleba para implementar
um parcelamento, o desenho já estava predefinido no plano. Eram os famosos
planos de arruamento ou de expansão urbana. Estou dizendo isso porque, no
fundo, precisávamos de parâmetros de projetos, de desenho e de diretrizes
que realmente pensassem a cidade como um todo e não como um fragmento,
um pedaço. Considero um grande desafio traduzir isso em lei, garantir que
tenha boa qualidade, que esteja em planos diretores ou em planos locais, pla-
nos de bairros, que se desdobram a partir de planos diretores. Creio que pode-
remos fazer um esforço coletivo para avançar nessa direção, porque nós não
vamos sair do imbróglio se continuarmos pensando que deve haver generalida-
de, um parâmetro a ser obedecido.
Finalmente a última questão, referente ao parcelamento. Como podemos
ter formas de dizer “não” aos parcelamentos? Acredito que só por meio de
diretrizes muito claras sobre determinadas áreas e sua destinação nos planos
diretores. Dizer “não” deve ser uma das hipóteses possíveis.
Embora meu tempo se tenha esgotado, acho importante ressaltar uma
posição bastante pessoal. Devemos acabar de vez com a idéia de que temos de
ter duas cidades: a de classe média e a popular. Sou radicalmente contra a
idéia de dois sistemas de parcelamento do solo: um para pobre e outro para o
restante. No fundo é mais ou menos isso. Para a classe média seria o normal,
com os parâmetros que consideramos ideais. E haveria outro para os pobres,
para sair barato. Nesse caso seriam os parâmetros normais diminuídos, como
se os humanos tivessem dimensões e necessidades diferentes.
Sou absolutamente favorável à flexibilização dos padrões de parcelamento,
mas ela tem de ser única. O conjunto do território se flexibiliza para atender às
maiorias e não a um pedaço do território, diferenciando e demarcando duas
cidades: uma para a classe média e outra para os pobres. Temos de ter uma
cidade só. Não tenho a menor dúvida de que exigências excessivas encarecem
tem oferecido lotes muito caros à população de baixa renda, que não con-
segue comprá-los.
Devemos ter muito cuidado ao discutir este assunto. Uma regulação igual
para todos pode produzir mais desigualdade. Na verdade, há certa hipocrisia
na afirmação de que a regra é igual para todos em atenção à qualidade de vida
das pessoas. O problema é que o empreendedor privado está interessado no
lucro e não na igualdade, nem no direito de moradia das pessoas. O Poder
Público deve se preocupar em garantir à população de baixa renda acesso a
lotes com condições mínimas de habitabilidade. E mais: que sejam regulares,
que a gestão pública conheça e tenha autorizado e participado da sua implan-
tação. Esta é a discussão.
Quando falamos de igualdade e desigualdade, devemos ter muito cuida-
do. Esse é um caso em que – parece-me – uma política de ação afirmativa não
tem equívoco algum. Ela visa justamente garantir à população acesso a um lote
regular e, é claro, de acordo com os critérios de qualidade de vida, de
habitabilidade do assentamento, de integração do parcelamento do solo no
tecido urbano.
Este é um primeiro pressuposto que temos de trabalhar e requer um giro
na nossa estratégia tradicional de política urbana, que estabelece regulação
idêntica para todos, mas acaba sendo cúmplice do crescimento irregular da
cidade e tendo como efeito a aplicação tradicional da Lei no 6.766/1979. Peque-
na parcela do parcelamento do solo é produzida de forma regular e atende a
uma camada da população de renda média. Há muitos parcelamentos irregula-
res e clandestinos aos quais a população consegue ter acesso.
O que o Poder Público deve fazer em relação ao loteador clandestino e
irregular? Pela Lei no 6.766/1979, a Procuradoria deve entrar com uma ação
para puni-lo. Tais ações não dão em nada, e o Ministério Público considera um
crime de bagatela. Ocorre a impunidade absoluta, e enorme parcela da cidade
é habitada de forma irregular.
Propomos ao Poder Público, com o Urbanizador Social, que obrigue esse
empreendedor clandestino a trabalhar de acordo com as regras urbanísticas
da cidade. Esta é a mudança. Pretende-se adotar estratégia diferente, a da
cooptação, da parceria, palavra-chave do Plano Urbanizador Social. Trata-se
da integração daqueles que usam irregularmente o solo a uma regulação con-
trolada pelo Poder Público. A idéia é de parceira público-privada. O objetivo
seria a oferta de lotes regulares, em atendimento à demanda da população de
baixa renda. Ela encontra lotes em áreas de risco, clandestinos, na periferia da
não há controle sobre o preço final do lote. Por isso, flexibiliza-se o padrão e,
no final, o preço é absurdo, incompatível com a faixa de renda da população à
qual se destina. O empreendedor também se comprometeria a apresentar a
planilha de custo do empreendimento com o perfil socioeconômico dos
adquirentes, a implantar a urbanização progressiva e a destinar uma
contrapartida ao município por ter admitido uma série de facilidades nessa
tramitação.
No caso de Porto Alegre, poderemos utilizar a transferência de poten-
cial construtivo, autorizada pelo Estatuto das Cidades, como uma possibili-
dade de incentivo ao empreendedor. Nessas contrapartidas do empreendedor,
previstas no pacote de facilidades que recebe, ocorre eventualmente a mu-
dança do regime do terreno, que lhe agrega mais-valia. Só com a alteração
do regime rural para urbano é agregado enorme valor. Se o município está
fazendo esse movimento, se está admitindo a urbanização progressiva, se
está alterando o regime urbanístico, que o empreendedor dê sua
contrapartida. Pode ser reservado um percentual dos lotes ao Poder Públi-
co; pode ser feita a comercialização direta de parte dos lotes com adquirentes
indicados pelo Poder Público, ou seja, um terreno pode ser destinado a
outras finalidades públicas, com a construção de equipamentos públicos
urbanos ou comunitários. No caso de Porto Alegre, o objetivo central é que
a contrapartida seja um acordo sobre o preço final do lote.
Essa negociação será registrada em documento, um termo de compro-
misso no qual se definem as obrigações previstas para o município e para o
empreendedor privado; as etapas da urbanização progressiva; o cronograma
de implementação da urbanização; os prazos e as condições para o cumpri-
mento dessas obrigações; as penalidades para a hipótese de descumprimento
do acordo; as medidas mitigadoras e compensatórias, quando necessárias; e a
previsão de notificação do empreendedor nos casos em que atrase ou descumpra
as obrigações assumidas no termo de compromisso.
Trata-se de outra fórmula da nossa política urbana e habitacional. Nos
municípios, principalmente após a promulgação da nova Constituição Federal –
e mais ainda após a promulgação do Estatuto das Cidades –, temos apostado
na regularização fundiária como principal política habitacional, a ser acelerada
pelos processos coletivos após a promulgação do Estatuto das Cidades. Ela
prevê a possibilidade de prevenção do crescimento irregular da cidade pela
oferta regular de lotes para a população de baixa renda e pela inclusão do
tos nos rios, inclusive os hospitalares. Estamos jogando qualquer coisa nos
rios. Em alguns quilômetros abaixo, essa é a água que as pessoas usam para
beber.
A carência de infra-estrutura está saindo da raia técnica e caminhando
definitivamente para a saúde pública. Qualquer permissão de novos empreen-
dimentos sem infra-estrutura provoca sério impacto, que precisa ser revisto
com cuidado. Sou radicalmente contra a flexibilização da exigência de infra-
estrutura. Devemos discutir quem vai pagar pela infra-estrutura e como a usa-
remos melhor, mas aceitar loteamentos com pouca infra-estrutura é o mesmo
que dar um tiro no próprio pé.
Esta imagem é um pouco caricata, mas é próxima do real. Aceitar que as
cidades se expandam nesse modelo do Parque das Gaivotas — seja lá o que
tenha acontecido – não é aconselhável. Tenho certeza de que ninguém acredita
que a oferta de lotes sem infra-estrutura, em larga escala, possa ser solução
de habitação no País. Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Maria do Carmo Lara) – Agradecemos
a contribuição ao Sr. Ricardo Moretti.
Ouviremos a última convidada, a Sra Nídia Inês e depois passaremos a
palavra aos Deputados. Em seguida, algumas pessoas participarão do debate.
Não há condições de inscrevermos todos os interessados, mas alguns poderão
contribuir para o debate.
Passo a palavra à Sra Nídia Inês, do Instituto Brasileiro de Administração
Municipal. S. Sa contribuiu conosco, na gestão passada, tratando desse assun-
to. Agradeço a V. Sa por estar conosco.
A SRA. NÍDIA INÊS ALBESA DE RABI – Boa-tarde a todos, estou real-
mente agradecida por participar deste debate, fundamental para a gestão do
território municipal, já que estou representando o Instituto Brasileiro de Ad-
ministração Municipal. Este é um momento especial, pois que, como já foi
mencionado, estamos entrando numa nova ordem urbanística, que nos permi-
tirá adequar os instrumentos e meios para atuar nas cidades de maneira dife-
rente. Sem dúvida, as cidades se fazem a partir da prática do parcelamento.
Sendo a última a falar, consegui identificar-me com as proposições de
todos os participantes. Fico bastante à vontade para ilustrar informações re-
passadas aqui.
Em primeiro lugar, apresentarei rapidamente imagens de cidades nas
quais trabalhamos na assessoria de planos diretores ou no levantamento de
que preocupou a população. Essa foi uma das discussões que fizemos du-
rante a elaboração do plano diretor, porque há interesse de considerar os
condomínios de acordo com um tamanho máximo que permitisse a articula-
ção da cidade, a extensão das vias urbanas, a integração desses condomí-
nios de uma maneira mais harmônica com o conjunto das cidades.
O próximo eslaide refere-se a outro tipo de situação que realmente leva o
município a observar, com preocupação e detalhe, a própria dinâmica da pro-
dução imobiliária. Aqui, no caso, apresentamos a imagem da cidade de Macapá,
na qual, além do sítio geográfico muito particular, temos, na parte amarela
mais clara, o centro mais tradicional da cidade, e, na parte superior, encon-
tram-se os parcelamentos que se desenvolveram nas décadas de 80 e 90,
principalmente.
A novidade é o fato de que as ações são promovidas pelo Estado e pelo
município em grandes extensões em áreas sem infra-estrutura — o Sr. Ricardo
Moretti mencionou esse ponto; por um lado, oferece-se acesso bastante amplo
à terra, mas com infra-estrutura deplorável.
É interessante observar esse fenômeno, porque as particularidades de
cada cidade são muito diferentes.
Nesta outra imagem, temos as áreas indicadas no processo do plano
diretor como de especial interesse social, as que correspondem a situações
mais precárias. Na próxima imagem, esta grande área em vermelho, mostra
as áreas que não possuem infra-estrutura; são áreas prioritárias para implan-
tação de infra-estrutura.
Como se vê, essa questão transcende a regularização de um loteamento
ou de um conjunto de loteamentos; são várias áreas urbanas que precisam ser
beneficiadas por um programa de qualificação de todos os equipamentos e
infra-estrutura.
No próximo eslaide apresentamos outro exemplo, o do município de
Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, onde vemos a seqüência de
implantação de loteamento. Trata-se de um município que tem grande influên-
cia na região metropolitana de Curitiba. Nesse município, verificamos um gran-
de desenvolvimento ocorrido antes da década de 70 e, posteriormente, um
adensamento que foge à escala do município e corresponde a um processo
difícil de gerenciar.
Apesar da grande ocorrência de loteamentos, em vermelho estão repre-
sentadas as habitações precárias, localizadas em áreas de alto risco ambiental.
Vou parar por aqui. Fico à disposição para o debate. Muito obrigada a
todos.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Maria do Carmo Lara) – Agradecemos à
Sr Nídia Inês a contribuição.
a
sos disponíveis para a solução dos problemas. Por exemplo: não temos finan-
ciamentos públicos para os agentes públicos – municípios, Governos Estaduais,
cooperativas habitacionais, antigas companhias de habitação, às quais poderí-
amos dar outra denominação. Se não fizermos esse dever de casa no próximo
período, vai-se tornar ineficaz qualquer tipo de iniciativa do Governo Federal do
ponto de vista da legislação fundiária e da política nacional de habitação, por-
que o elemento fundamental e estruturante dessa política são os agentes públi-
cos que convivem diretamente com a nossa realidade e com ações na base
social, na sua base local.
Hoje, em nosso País, a política pública na área urbana é feita a partir de
emendas parlamentares. Aqui se discutem projetos de política habitacional e
há briga de prefeitos com parlamentares sobre que tipo e quantidade de emen-
das terão para seus municípios. Não existe uma história dessa hierarquia. Po-
demos ter grandes legislações, grandes norteadores, grandes méritos do ponto
de vista estruturante e jurídico, mas a execução da política é ineficaz. É duro,
mas é real.
Tenho debatido nesta Comissão que precisamos pensar um modelo de
gestão pública com outra característica, do ponto de vista dos recursos públi-
cos. Temos muito que avançar na relação público/privado, mas se não fizer-
mos o dever de casa, ficaremos mancando por muito tempo. Se tivermos essa
condição, poderemos exigir muito mais dos poderes públicos municipal e esta-
dual, dos entes públicos constituídos, exigir colaboração, participação e, inclu-
sive, compromisso.
Hoje, a relação é a seguinte: a população que vive no município exige do
Governo Municipal solução para o problema urbano. Como o município não a
tem, encaminha o problema para o Governo Estadual, que também não a tem,
que a solicita do Governo Federal.
Estamos vivendo uma experiência inédita no Rio Grande do Sul. No nosso
Governo anterior, construímos a Secretaria Estadual de Habitação como órgão
executor da política urbana, mas o Governo atual a transformou em gestora.
Tirando-lhe a responsabilidade de execução da política, transformou-a em
gestora e retirou a participação da sociedade civil organizada do Conselho Es-
tadual da Habitação. Essa é uma mentalidade ultrapassada, porque ou há avanço
e envolvimento na construção ou não vamos ter nenhum tipo de legislação
aplicada em nosso País. Concordo com a relação, mas temos, primeiro, de
fazer o dever de casa; caso contrário ficaremos mancando por muito tempo,
repito. Esta é a minha primeira ponderação.
Por muitos anos tenho feito esse debate e considero duas coisas im-
portantes na legislação. Cito um episódio muito marcante: a ocupação de 4
mil famílias em uma área de São Bernardo do Campo. Da noite para o dia,
apareceram 4 mil famílias acampadas em uma área privada. Fico me per-
guntando: de onde vem esse povo? E, depois que desmontaram o acampa-
mento, para onde foi? Esse povo reside em algum lugar. E, com certeza,
80% vivem em favelas, em situação difícil, sem trabalho, sem infra-estrutu-
ra urbana e vão tentar externar sua indignação buscando melhorar a quali-
dade de vida.
Quanto à legislação, temos muitos instrumentos que não são cumpridos
nem fiscalizados.
Uma das grandes necessidades é trabalhar a regulação fundiária, a
reurbanização. Muitas vezes, os recursos exigidos para se fazer os investimen-
tos não são elevados, mas o elemento central é melhorar a condição de vida da
nossa população. Isso diminui muito o problema e vale também para a questão
da irregularidade. Dois terços da cidade estão irregulares, não existem no mapa
do Estado.
Para mim, um dos pontos mais importantes da aplicação da legislação é
o investimento na qualidade de vida do povo. Hoje, a cidade legal está
desabitada, e os dados não são meus: temos seis milhões de casas vazias no
País. É muita casa! Esses números, querendo ou não, dizem respeito à cidade
legal, e ela está desabitada, e empurramos o povo para a cidade ilegal. Por
trás disso está a especulação imobiliária.
É preciso uma legislação que obrigue esse setor a transformar a cidade
legal, cuja estrutura é construída com dinheiro público, com investimento públi-
co. Precisamos construir, a partir do Ministério da Cidade, a partir dessa nova
mentalidade, a partir das experiências das prefeituras, dos institutos que têm
grandes pesquisas nas universidades, um pouco esse tripé. Fazer o dever de
casa é fazer com que a cidade legal volte a ser povoada.
A legislação tem de garantir essa possibilidade concreta e melhor qua-
lidade de vida onde o povo mora hoje. Quer dizer, não se pode construir à
beira de um manancial, em áreas de risco, mas hoje milhares de famílias
moram em áreas que são fruto de ocupação clandestina, com o mínimo de
infra-estrutura.
Vi centenas de empreendimentos feitos pelo Poder Público para a popula-
ção de baixa renda que hoje são de propriedade da classe média, porque ela
também não tem política habitacional que possa resolver seu problema e aca-
ba buscando resolver o problema a partir de investimento público.
No Rio Grande do Sul, vários empreendimentos feitos há cinco anos para
a população de baixa renda, hoje, não são mais para o cidadão que ganha três
salários mínimos, porque ele também não teve condição de buscar outra alter-
nativa.
A produção do lote urbanizado é elemento central da política da inclusão
social, porque a classe média/baixa não tem condições financeiras, não tem
financiamento, por isso vai buscar o empreendimento feito para a população
de baixa renda.
Eram essas as questões que queria abordar a partir deste debate na
Comissão.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Maria do Carmo Lara) – Obrigada,
Deputado Ary Vanazzi.
Convido o Deputado Dr. Evilásio para coordenar os trabalhos da Co-
missão.
Concedo a palavra à Dra. Raquel Rolnik.
A SRA. RAQUEL ROLNIK – Sra Presidente, gostaria de esclarecer a ques-
tão apresentada pela Dra Betânia Alfonsin em relação ao loteamento popular ou
da oferta para a população de baixa renda. É evidente que uma ação afirmativa
que privilegie a produção para as maiorias tem de ser feita. Mas essa ação tem
de ser feita no sentido de abrir os procedimentos da produção e da destinação
como um todo para a lógica da produção popular e não construir dois sistemas
paralelos. Monitoramento, gestão, parceria, priorização, admissão de números
de garantias e contrato com preços são muito importantes. Não cabe dizer que
nessa cidade o lote mínimo tem 300 metros quadrados e para pobre, 100
metros quadrados.
Se nessa cidade achamos adequado e conveniente que haja um lote mí-
nimo de 100 metros quadrados, então um lote mínimo será de 100 metros
quadrados. Esse é o ponto crucial em relação a este debate. O monitoramento,
em termos de gestão, é fundamental, até porque, no dado levantado pelo Dr.
Moretti e pela Dra Nídia, além de sobrar domicílio vago, também sobra lote no
Brasil. Não está faltando, mas sobrando. O problema é que não está nas mãos
de quem precisa. A grande questão é como se vai abrir a possibilidade de
acesso àquele lote produzido, e a construção de uma categoria diferenciada de
lote não resolverá o problema nem da qualidade, nem do acesso. O Dr. Moretti
abordou muito bem o assunto.
A idéia do dízimo, apresentada pelo Dr. Moretti, de que nos empreendi-
mentos sempre deveria ter a destinação de um percentual para a população
de baixa renda em parceria com o Poder Público é fundamental. Gostaria de
lembrar que as legislações espanhola, holandesa e inglesa já há muito tempo
determinam a destinação de 15%, 20% dos empreendimentos, e está na
linha da mistura e da inclusão. Acho que poderíamos trabalhar melhor essa
idéia.
Agradeço a todos, e gostaria de dizer que este debate foi muito rico.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Evilásio) – Consulto o Deputado Walter
Feldman se quer fazer a revisão.
Dizem que toda obra de Deus é bem feita. E, dentre as obras divinas,
dizem que o ser humano é a mais perfeita. Se Deus tivesse me dado quatro
ouvidos e meia boca, para o lado esquerdo de preferência, eu me sentiria o
homem mais perfeito do mundo, tal a importância das exposições apresenta-
das nesta audiência. Dois ouvidos foram pouco para ouvir tudo isso.
Ao apresentar a esta Comissão um projeto substitutivo à Lei no 6.766/1979,
não tivemos, longe disso, a pretensão de trazer uma obra elaborada, mas apresentá-
lo na condição de pré-projeto. Depois da Constituição Federal e do Estatuto das
Cidades, nessa área é esta a lei mais importante do País.
Sei que isso é mister desta Casa, de forma particular desta Comissão,
mas queremos dividir o peso dessa responsabilidade não apenas com a Câ-
mara dos Deputados, mas buscar em todos os rincões deste País contribui-
ções para elaborarmos uma lei que possa perpassar o tempo e que venha
nortear institucionalmente as cidades brasileiras, que hoje não passam de
verdadeiros aglomerados mal organizados de seres humanos, áreas de ex-
clusão territorial e social. Essa lei é um instrumento para ajudar a resolver
esse problema.
É importante termos em mente que o Brasil é um dos países campeões
em leis, mas também não as cumpre. Não podemos emprestar ao País uma lei
bem elaborada, com a colaboração de muita gente que tenha condições de
contribuir, para depois passar a ser apenas mais uma lei. Precisamos de alguns
instrumentos, alguns diplomas e de responsabilidade para que consigamos sua
execução.
mento da nossa cidade. Portanto, deve haver uma discussão ampla e profunda
sobre os instrumentos que ela propõe.
As falas foram extremamente ricas. Teríamos assuntos para debatermos
durante muito tempo, porém, quero destacar um aspecto que me parece ex-
tremamente importante – a questão dos condomínios. Se pegarmos a história
do Rio de Janeiro, veremos que no Decreto no 6.000, publicado em 1937, havia
a figura popular da vila, que era basicamente um tipo de parcelamento em que
os logradouros eram considerados privados, e cabia aos seus moradores a
manutenção.
Ao longo do tempo o que aconteceu? Produziram-se vilas de grande
porte nas cidades voltadas para a população de baixa renda. Com o tempo,
o que se verificou foi a total incapacidade de essas pessoas arcarem finan-
ceiramente com a manutenção desses logradouros, o que fez com que o
município, em alguns casos, tivesse que reverter esse processo de
privatização de logradouros públicos, lançando PA (Projetos de Alinhamen-
to) sobre muitas dessas vilas para que estas fossem integradas ao sistema
de manutenção da própria cidade. Muitas delas caíram em situação de irre-
gularidade, e hoje, no Núcleo de Regularização, estamos regularizando as
vilas como se loteamentos fossem, para que sejam incluídas no sistema de
gestão da cidade como um todo.
Preocupa-me muito uma legislação que estenda essa questão do condo-
mínio, pois pode ser a morte do loteamento. Por quê? Porque o condomínio cria
uma falsa ilusão de segurança para os moradores. Na verdade, ele vai criar
uma seqüência de guetos na cidade, onde a insegurança geral vai ser maior do
que se tivéssemos todos os logradouros com franco acesso e circulação.
Cria-se também para o Poder Público a falsa ilusão de que os seus
custos com manutenção de infra-estrutura serão reduzidos, porque esses
custos vão ser absorvidos por essa população. Ao longo do tempo, sabemos
que vai haver pressão da população para que o Poder Público volte a assumir
esses custos, porque enquanto as instalações são novas, o custo de manu-
tenção é baixo, mas, com o passar do tempo, principalmente em regiões de
alta pluviosidade, com problemas de assoreamento de galerias e uma série
de outras questões, os custos com manutenção dessas infra-estruturas vão
se elevar.
Cria-se também para o morador uma base legal para que ele tente a
redução de IPTU. Já que ele absorve parte do custo de manutenção, vão come-
çar surgir ações na Justiça questionando o IPTU em relação àqueles que vivem
vamos ter que tomar cuidado quando dissermos ao Município “é assim que se
faz” ou quando apresentarmos diretrizes, porque a competência da União nes-
sas questões se dá mais no âmbito das diretrizes ou é suplementar, na ausên-
cia de lei local.
A outra questão, à qual é importante prestarmos atenção, é a ambiental.
Por exemplo, o art. 5o, inciso I, simplesmente repetiu a Lei no 6.766, de 1979.
Naquela época, não tínhamos lei ambiental. O inciso I falava o seguinte sobre
os lugares alagadiços: “desde que asseguradas providências para assegurar o
escoamento das águas”. Pela lei ambiental isso é crime. Então, não posso colo-
car na lei federal autorização para se cometer um crime ambiental.
Outra coisa que ficou suprimida, porque era polêmica, foi a fixação dos
metros de curso de rio: 15, 30, 200, 500? Precisaríamos também dar uma
olhada no Código Florestal e Código das Águas para compatibilizar as normas
ambientais com as normas urbanísticas, e esta é uma boa oportunidade de se
fazer isso.
A questão do planejamento urbano também é importante, pois os condo-
mínios fechados podem detonar o planejamento viário da cidade. Então, o art.
6o, § 2o, inciso II diz o seguinte: “... o município pode desmembrar...” Pode,
não, deve. É obrigação dele, é dever dele, porque o interesse público é superi-
or ao interesse do proprietário. Então, não é “pode”, mas “deve”.
Também dever-se-ia verificar a necessidade de um estudo de impacto
viário para poder aprovar esse tipo de lei, sem um estudo de impacto de vizi-
nhança, que é um instituto do Estatuto das Cidades que também não está
contemplado, e todo e qualquer loteamento vai gerar um impacto na cidade.
Porto Alegre apresenta – e Betânia sabe bem disso – a necessidade de
gerenciamento das redes de infra-estrutura e como isso vai ser trabalhado no
direito de superfície das áreas que vão ser públicas. Então, quanto aos equipa-
mentos urbanos, além de não sabermos quem vai instalar o quê, estão sendo
usados de graça, e são bem público, e cobrando para fazer a iluminação. O uso
gratuito por concessionárias de logradouros públicos também já é uma ques-
tão discutível. O município precisa ter o poder de gerenciar essas redes subter-
râneas ou no espaço aéreo, sob pena de a cidade virar um caos. Isso também
tem que ser analisado.
Deputado, outra questão que também poderíamos explicar melhor é o
art. 84 do projeto, que é uma repetição do 53, a, da Lei no 6.766/1979, em que
fala que você tem que trabalhar a simplificação de procedimentos, sendo veda-
do exigir dos municípios exigências relativas a particulares, assim como certi-
Hoje, temos no Brasil uma defasagem tão grande entre a cidade que
queremos e a que temos que sinceramente acho extremamente complicado
tratar os dois temas, novos loteamentos e regularização fundiária, num único
instrumento legal.
Se formos tratar no mesmo instrumento as questões de regularização
para regulamentar a maior parte da situação que temos, elas são tão diferen-
tes daquilo que desejaríamos para novos loteamentos que vamos ter embutido
no corpo da lei exceções e brechas muito complicadas para serem trabalhadas
com outro tema.
Sei que a questão é estratégica porque, como o Deputado bem disse,
temos um período até o final do ano. Então, é difícil trabalhar isso, mas seria
muito importante se fosse possível termos instrumentos distintos. Este é um
problema que vamos ter: carregar no bojo da lei fundiária agora com abertura
para exceções. Então, como você vai tratar de novos parcelamentos com data
determinada, se você abre uma brecha na lei muito difícil de se trabalhar pos-
teriormente?
Achei realmente brilhante a apresentação que o Ricardo Moretti fez,
pois apresenta outro paradigma que coloca em questionamento o próprio
título dessa lei. Se fôssemos tratar essa questão de forma mais aprofundada,
veríamos que não se trata de uma lei de parcelamento do solo urbano, a
questão é muito mais abrangente do que o simples parcelamento, e não
apenas do solo urbano, como muito bem citou a Raquel. Hoje temos outra
abordagem para isso.
Apresentar a infra-estrutura como o cerne do problema que temos hoje é
essencial. Tenho trabalhado ultimamente com a interface das matérias. A mi-
nha área é de urbanismo, mas estou no Ministério do Meio Ambiente há quatro
anos e trabalho exatamente com essas interfaces. Faço parte da Comissão
Intersetorial de Saneamento e Meio Ambiente vinculada ao Conselho Nacional
da Saúde. Essas questões têm realmente de ser abordadas de forma integrada
para que consigamos ter políticas minimamente consistentes. Tenho convivido
muito com as discussões sobre saneamento versus saúde, e até está sendo
criado o termo “saúde ambiental”.
Betânia, apesar de achar brilhantes a proposta e o trabalho do urbanizador
social de Porto Alegre, precisamos juntar a discussão do PPP – Parceria
Público-Privada – com o pessoal do saneamento. Hoje, esse assunto está na
ordem do dia da política nacional de saneamento e é seriíssimo, porque trazer
para uma lei federal definições relativas à parceria público-privada é extrema-
mente complicado. Sabemos que o caminho passa por aí, mas, como fazer isso
é algo muito grave e mais sério, precisamos nos juntar ao pessoal que está
trabalhando com a política nacional de saneamento. Esse é um conflito muito
grande que está havendo lá dentro. Existe uma extensa defesa do pessoal, que
trabalha na linha de municipalização dos serviços, em confrontar definições
federais que comprometam a questão da privatização necessária. Quer dizer,
precisamos juntar estrategicamente como fazer isso com a luta da área do
saneamento ambiental.
Muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Evilásio) – Passo a palavra aos
debatedores. Não houve pergunta específica dirigida a nenhum deles, então,
os debatedores podem ficar à vontade para fazer suas explanações.
O SR. NELSON SAULE JÚNIOR – Sr. Presidente, serei breve. Acho que
há dois aspectos importantes, considerando-se principalmente essa rodada
de intervenções. De fato, entendo que seria importante – e não foi possível
trabalhar isso na exposição – adotar alguns critérios quanto ao registro.
Buscar algumas mudanças na Lei de Registros Públicos para efeito da aplica-
ção dos instrumentos ligados ao problema de parcelamento do solo, instru-
mentos como direito de superfície, transferência do direito de construir,
alteração, a outorga onerosa para parcelamento do solo, é assunto para ser
trabalhado na questão do registro, como todo o aspecto da regularização
fundiária, para evitar o problema de cada cartório interpretar de forma dife-
rente como tem que ser o empreendimento, o parcelamento do solo de áreas
que estão irregulares. Então, é importante trabalhar esse ponto e o desenvol-
vimento do projeto.
Segundo ponto que entendo que também precisamos compatibilizar. Acho
que está havendo um problema sério no fato de resoluções do Conama legisla-
rem para os municípios. Isso é um absurdo, uma aberração jurídica e legal,
mas é o que está acontecendo. Então, temos que colocar na Lei de Parcelamento
do Solo as regras de parcelamento do solo considerando esse componente
ambiental, porque não dá para um órgão administrativo ficar legislando para
um município, um ente federado.
Temos que tratar disso claramente nessa lei e entrar efetivamente nas
disposições que estão no Código Florestal que emperram e dificultam a regula-
rização. Também temos de tratar da questão ambiental na legislação, tentar
compatibilizar no que for possível as normas ambientais que não estão consi-
derando a realidade dos municípios. Isso é fundamental.
importante, mas temos de nos dar conta de que hoje não temos oferta regular
para essa camada. É essa a preocupação que temos que ter, e casá-la com as
políticas de planejamento urbano é questão que a complementa.
Em relação ao ponto abordado pela Sandra, sobre a lei tratar da regula-
rização, vou um pouco na linha do que o Deputado Evilásio disse aqui: sou
favorável, temos que ver este momento como uma oportunidade.
Temos um passivo de loteamentos irregulares e clandestinos no País,
assunto que precisa ser tratado, porque hoje a esquizofrenia da nossa regulação
é tal que quem os ocupa tem instrumentos para regularizá-los, há usucapião
coletivo, concessão coletiva, mas quem paga pelo lote não dispõe de regulação
que o ampare. Portanto, a legislação que trata do parcelamento do solo tem
que regular a admissão de novos parcelamentos, mas, na minha opinião, tem
que se ocupar também da regularização. Deveríamos aproveitar a oportunida-
de para tratar também desse assunto.
Por fim, Sandra, não conheço a fundo o debate que é feito pelo setor de
saneamento, mas acho que essa discussão sobre a parceria público-privada é
distinta da que está sendo feita no saneamento, que passa pela privatização, e
temos que ter todo o cuidado, todo o zelo para que não haja essa confusão.
O que se está propondo aqui é que o Poder Público trabalhe com um
menu, um cardápio de possibilidades de incentivo ao empreendedor privado
para que ele ofereça lotes para a população de baixa renda, não apenas para
a de alta renda. Aí, sim, teríamos como resultado uma cidade partida, na qual
uma parte da população, a que tem renda, consegue comprar lotes regulares;
a outra parte não consegue e vai morar no manancial, no loteamento clandes-
tino, na pirambeira.
Esta é a questão: para além de se ter, como afirmou o Deputado Ary
Vanazzi, uma política que capacite o Poder Público a oferecer a possibilidade de
financiamento e lotes baratos, como é que se faz parceria com a iniciativa
privada, e também, de forma subsidiária para produzir habitação de interesse
social para a população de baixa renda, o que não se faz hoje no País de forma
regular, nem pelo setor público nem pelo setor privado. A tentativa é se buscar
colocar debaixo da asa esse empreendedor que hoje está produzindo à revelia
da regulação existente.
A SRA. NÍDIA INÊS ALBESA DE RABI – Queria comentar rapidamente
sobre os condomínios. A introdução da figura do condomínio em termos de
unidades autônomas realmente combina uma questão de Direito Civil com Di-
reito Urbanístico. Essa transformação dos condomínios se aproxima muito do
negociação do direito de parcelar, se é que existe esse direito. Até agora apa-
rentemente existe, porque as cidades estão aprovando os loteamentos que
aparecem por iniciativa dos parceladores. Então, talvez seja interessante o
estabelecimento de mecanismos que possam utilizar esses instrumentos para
a reestruturação, reorganização do espaço urbano.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Evilásio) – Com a palavra o Prof. Ricardo
Moretti.
O SR. RICARDO DE SOUSA MORETTI – Sei que teremos uma audiência
específica sobre condomínios urbanísticos, mas como não sei se terei a oportu-
nidade de falar na ocasião, queria deixar registrado alguns comentários.
Campinas é uma das cidades que mais tem loteamentos fechados no
Brasil. Mais do que isso, Campinas hoje tem uma legislação que é o registro da
barbárie: ela permite que se transforme um bairro aberto em loteamento fe-
chado. Isso é um absurdo, não há outra expressão.
O que tem acontecido? Existem equipamentos públicos dentro de áreas
que antes eram loteamentos abertos. Chegamos a uma situação em que, nos
loteamentos abertos que foram transformados em condomínios urbanísticos,
se pede às crianças que vão às escolas públicas situadas em bairro onde não
moram que usem tarjas. Vocês lembram do período que antecedeu a 2a Guerra
Mundial?
Então, acho que neste momento é muito importante explicitar a proibi-
ção de que loteamentos abertos sejam transformados em condomínios ur-
banísticos.
Segundo, este livro que trata das audiências públicas anteriores cita o
caso de um conjunto habitacional da Companhia de Desenvolvimento Habitacional
do Estado de São Paulo – CDHU, cujos moradores querem agora fechá-lo.
Naturalmente, vocês já leram os registros de que as favelas estão se fechando,
os bairros populares estão se fechando.
Campinas é um reflexo disso; o futuro pode ser visto lá. Naquela cida-
de, a sucessão de loteamentos e empreendimentos fechados fez com que a
rua se transformasse em passagem. A rua deixou de existir como parte da
vida urbana. O que está acontecendo? Os moradores dos condomínios urba-
nísticos são assaltados nas ruas, que passaram a ser locais perigosos. Então,
agora temos comboios em Campinas: para chegar a seu loteamento fechado,
os moradores saem da área central em comboios, com um carro de seguran-
ça na frente e um atrás.
moteado. O lote mínimo será sempre utilizado para o pobre e, para mim,
essa questão fica desfocada. Foi algo que perdemos na última revisão da
Lei no 6.766/1979, que é o percentual de logradouro. Estamos na iminência
de disseminar os planos diretores pelo Brasil inteiro sem que tenhamos um
critério de logradouro que garanta qualidade ambiental para futuros
parcelamentos.
Claro que sempre incorreremos na questão da irregularidade, que tere-
mos de ter mecanismos alternativos de áreas especiais e juntarmos tudo isso
com os instrumentos urbanizadores. Não sei como isso será, mas o que ocorre
hoje é justamente o contrário: as áreas populares, as que têm lotes menores,
têm sempre menos áreas públicas, demandam justamente o contrário e dei-
xam de ser interesse da manutenção, o que considero seria de fato a qualidade
de vida e acesso ao solo urbano de qualidade. Onde se tem mais área pública
é onde os loteamentos são maiores e onde, de fato, há manutenção, porque
são as elites que demandam isso.
Acho que devemos recuperar de alguma forma a qualidade ambiental.
Quando os lotes são menores, eles dispõem de menos áreas verdes e normal-
mente têm ocupação maior dentro das áreas populares. Deveríamos compen-
sar isso com as áreas externas. As áreas ricas deveriam ter menos áreas
públicas, porque, do ponto de vista ambiental do verde urbano, dispõem de
mais área verde privada, mas no meio ambiente urbano temos de olhar a
quantidade de verde distribuído.
Para finalizar, há mais uma questão: o limite máximo para as áreas dos
condomínios, não apenas como questão social em áreas urbanas consolidadas.
A experiência que temos em Pernambuco é que esses condomínios são áreas
periféricas de expansão metropolitana, são condomínios de elite. Eles têm de
ter uma dimensão não para se disponibilizar o solo urbano para reforma urba-
na, mas para possibilitar a sensibilidade. O Estado de Pernambuco criou uma
lei, e acho que é necessária a intervenção do Estado ao longo das rodovias
estaduais e das áreas de interesse, como é no litoral pernambucano, onde
qualquer parcelamento tem de ter extensão máxima de 250 metros, porque
estávamos entrando numa situação em que ninguém podia mais ter acesso às
praias porque elas estavam privatizadas. Nas áreas que não são rurais, tere-
mos situações semelhantes. Precisamos ter um limite para desmembrarmos a
gleba para um novo condomínio, porque condomínios extensos são administra-
tivamente inviáveis e passam sempre a ser dissolvidos informalmente e o mu-
nicípio acaba arcando com isso.
Por último levanto uma situação que não sei como unificar. No trabalho de
apoio aos municípios para os planos diretores de Pernambuco, equiparamos
toda a área rural ao zoneamento como zona ambiental, incorporando isso ao
zoneamento da cidade para que o município pudesse ficar sem aquela separa-
ção de que a área urbana é atribuição municipal e a rural, federal. Usamos o
artifício de expandir.
Para poder legislar sobre aglomerados que seriam rurais, facultamos
aos municípios a análise à luz do Código Tributário Federal, que são aque-
les cinco itens que podem satisfazer a dois e, com isso, propor algum tipo
de regulação desses assentamentos. Não sei de que maneira, mas seria
interessante procurarmos em várias leis uma forma de incorporar isso a
essa lei.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Evilásio) – Passo a palavra aos exposi-
tores que queiram comentar a intervenção do companheiro, aproveitando para
fazer suas considerações finais.
O SR. NELSON SAULE JÚNIOR – Sobre esse último ponto, é fundamental
que tratemos essa lei como uma lei de parcelamento do solo sem caracterizar
esse componente de ser somente o solo urbano, justamente para estabelecer-
mos critérios sobre as diversas situações que existem nos municípios, conside-
rando os aspectos rural, ambiental, de patrimônio histórico, lazer.
Há uma série de diversidades que temos de tratar. Esse é o caminho em
que temos que trabalhar, porque todos os municípios estão tendo essa dificul-
dade na elaboração de seus programas diretores, todos eles, e daríamos uma
contribuição muito grande se disciplinássemos isso agora, nesta legislação.
Essa é uma diretriz fundamental da lei.
Era o comentário que tinha a fazer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Evilásio) – Dizem que errar é humano,
mas o erro político é desumano. Por isso, vivemos essa realidade cruel neste
País. Queremos fazer tudo para errar o mínimo possível, daí a necessidade de
continuarmos recebendo contribuições. Os debatedores e expositores podem
nos mandar suas propostas por escrito, as quais, com certeza, serão acatadas
porque são grandes contribuições.
Agradeço penhoradamente a presença ao Dr. Nelson Saule Júnior, do
Fórum Nacional de Reforma Urbana; à Profa. Raquel Rolnik, Secretária Na-
cional de Programas Urbanos, que, por necessidade imperiosa, precisou se
ausentar; à Dra Betânia Alfonsin, Assessora Jurídica da Prefeitura de Porto
Alegre; à Sra Nídia Inês Albesa de Rabi; e ao Prof. Ricardo Moretti. Quero
dizer-lhes que não estão prestando serviço apenas ao Relator, que prefiro
chamar de sistematizador a partir de agora, nem apenas a esta Comissão e
a esta Casa, mas ao País.
Muito obrigado.
Maioria dos
participantes da
segunda
Audiência Pública
sobre parcelamento
do solo urbano,
presidida pela
Deputada Maria do
Carmo Lara, condena
a proliferação de
condomínios
fechados nas cidades
Debatedores condenam a
volta às cidades medievais
gerado não só para os moradores que também precisam circular pela rodovia,
mas para as pessoas que se valem dela. As cidades vizinhas também são atin-
gidas por esse problema.
A gravidade não pára por aí. Na cidade de Guarujá, quatro loteamentos
privatizaram o uso de praias, exemplificando com a maior gravidade um caso
de violação ao direito público de ir e vir. Temos quatro loteamentos cuja confor-
mação arquitetônica foi moldada de tal maneira que as ruas são estreitas.
Passam por elas, quando muito, um carro para ir e outro para voltar. Não há
local para estacionamento. Há um bolsão de estacionamento muito próximo da
praia que comporta poucos carros. Esses loteamentos estão localizados entre a
estrada e a praia. Qualquer pessoa que quiser circular por dentro do loteamento
para ter acesso à praia é barrado na portaria. É solicitado das pessoas identifi-
cação. Perguntam se têm algum conhecido que seja proprietário, se têm auto-
rização de alguém para circular e atingir a praia, que acabou sendo privatizada.
Isso não acontece só na cidade do Guarujá. Várias cidades da orla marítima do
Estado de São Paulo e, acredito, do Nordeste brasileiro passam pela mesma
complicação. Que se dizer de alguns hotéis de luxo que se instalaram no litoral
do Nordeste e que acabaram privatizando espaços de praia, com vista para
contemplação somente dos turistas? Poucas pessoas têm acesso a esses espa-
ços, o acesso é muito limitado.
A justificativa para a privatização do uso das praias é a proteção ao meio
ambiente. Dizem que os compradores dos lotes – aliás, diga-se de passagem,
lotes com valores elevados, porque há vegetação nativa – têm condições de
proteger o meio ambiente. Pobre não tem nem o direito de aprender a proteger
o meio ambiente. Não tem acesso a essas praias. No verão, para não utilizarem
outras praias poluídas, as pessoas às vezes recorrem a essas praias, como vál-
vula de escape, mas não têm condições de acesso. Quando muito, permite-se a
entrada, desde que deixem o carro lá fora. A pessoa é obrigada a caminhar, com
esposa, filhos, material de praia etc., três ou quatro quilômetros para chegar à
praia.
Esse fato é grave e tem acontecido com certa freqüência. Há uma viola-
ção frontal à Constituição Federal, porque as praias marítimas são bens da
União, de acordo com o art. 20, inciso IV. Além disso, a Lei no 7.661/88, de
Gerenciamento Costeiro, no seu art. 10, dispõe que as praias são bens de uso
comum do povo, o que garante o acesso ilimitado, sem qualquer restrição.
Esse dispositivo da lei federal foi simplesmente abandonado.
têm acesso, com balão de retorno. Nesse meio, há uma área verde. Não me
pareceu que fosse área pública, mas pela conformação dessa quadra, em seu
entorno, há áreas verdes, sendo que numa delas há uma escola municipal e
em outra um comércio para a subsistência dessa comunidade, para que não
haja a necessidade de fazer compras fora. Há uma atuação conjugada com a
comunidade, todos podem usufruir desse espaço.
Então, naturalmente, formou-se uma quadra em que há a tutela do direi-
to das pessoas de se proteger, porque o direito à segurança é o que motiva a
formação dos loteamentos fechados. Se bem que segurança é um problema
não só de quem mora lá dentro, mas dos que ficam fora também, porque
vamos represar a marginalidade e fechar os olhos. Há necessidade de se en-
contrar uma fórmula para isso. Sei, é claro, que é uma realidade, que as pes-
soas estão, ao que parece, à procura dessa forma de ocupação do solo. Esse
híbrido, essa figura de loteamento em condomínio é transgênica, porque há o
mapa genético do condomínio dentro da figura do loteamento. E parece que as
pessoas pedem isso. Pelo menos é o que o setor imobiliário tem transmitido. É
tão procurado que me parece que até favela no Rio de Janeiro tem acesso
controlado. As pessoas querem proteger-se de alguma coisa, não sabemos de
quê. Mas não podemos fechar os olhos e esconder a cabeça na terra. Há ne-
cessidade de uma proposta alternativa.
Quero finalizar minha participação com uma proposta positiva, e uma
crítica construtiva seria nos seguintes termos. Se for impossível resistir a essa
figura da anistia desses loteamentos – coisa que vai sofrer questionamento
judicial, e espero que não seja incluída essa figura sem um estudo prévio, sem
uma conversa com os urbanistas, com as pessoas que lidam com essa questão
e principalmente com os moradores dessas áreas que não querem pagar mas
são obrigados a fazê-lo , se for irresistível deixar de lado essa figura transgênica,
sugeriria o seguinte. Para os loteamentos já existentes, além da anuência de
todos os moradores, conforme a proposta do substitutivo, mas essa anuência
não é suficiente, porque ela resolve um problema intramuros, mas há também
o que está fora do loteamento, proponho uma audiência pública para que a
população discuta esses loteamentos e dê seu referendo. Não me refiro ape-
nas à população do entorno, mas a todos aqueles que sofrem o impacto desses
empreendimentos. Também sugiro estudo de impacto de vizinhança e de im-
pacto ambiental, porque em alguns desses empreendimentos há área de pro-
teção ambiental. Proponho uma compensação tributária, urbanística e social.
Quanto à tributária. As pessoas que moram nessas áreas não pagam
IPTU por essas ruas. Os senhores imaginem o caso de Campinas, com mais de
534 mil metros quadrados de área sobre os quais não se paga IPTU. Quem
mora em condomínio paga, mas as pessoas que moram nessas áreas não
pagam. Com a compensação tributária, as pessoas pagariam IPTU diferencia-
do, a maior, cuja arrecadação poderia reverter-se, por exemplo, para a regula-
rização de habitações subnormais.
Proponho também uma contrapartida urbanística, uma compensação com
o fim de realizar obras ou serviços ou espaços comunitários no entorno e em
locais não servidos por essas áreas, inclusive naquelas comunidades mais ca-
rentes.
E ainda sugiro uma compensação social, com atividades, obras altruístas
em favor dessas comunidades carentes. Seria uma contrapartida que essas
pessoas teriam que suportar por terem privatizado espaço público.
Eu excluiria, na minha proposta, a dispensa de licitação, porque me pare-
ce que o dispositivo cria uma reserva de mercado. Aliás, nos artigos iniciais da
proposta, diz-se o seguinte: só esses serão admitidos, os próximos projetos a
serem feitos o serão na forma de condomínio urbanístico. Parece-me que uma
reserva de mercado está fechando essa situação num grupo determinado. Neste
caso, o princípio da impessoalidade pode ser questionado em termos constitu-
cionais, porque o legislador não pode legislar em benefício ou prejuízo de de-
terminadas pessoas, e sim em favor de todos.
Proponho a possibilidade de abertura de grandes empreendimentos para
facilitar a circulação do sistema viário e a fruição dos bens de uso comum por
qualquer pessoa do povo. Proponho que a associação dos moradores assuma
uma responsabilidade solidária junto com seus associados, porque essas asso-
ciações não têm patrimônio e se causarem dano interno ou externo não têm
com o que responder. Então, a responsabilidade deveria ser solidária com os
associados.
Proponho também a garantia de acessibilidade a esses bens públicos, em
áreas em que haja interesse ambiental. Isso para os que vão ser regulariza-
dos. Para os novos, são idênticas as propostas, sendo que muda um pouco a
figura. Para os novos, se é que essa figura vai ser aceita, porque acho que tem
que ser aceita com reservas, o projeto tem que contemplar uma contrapartida
urbanística, com áreas públicas projetadas para fora do empreendimento. É
lógico que aqui não há contradição, porque a rua também é área pública. En-
tão, loteamento com rua para fora não é loteamento. Mas me refiro às áreas
principais, às áreas de interesse comunitário, praças, áreas institucionais, elas
ficariam para fora.
Entendemos que o município tem essa competência, mas tem que observar e
resguardar as características do território rural e do território urbano.
Embora alguns condomínios tenham surgido com a intenção de burlar a
lei, sua regularização tem de ser trabalhada com limites de áreas onde poderi-
am ser estabelecidos condomínios fechados. A partir de uma determinada área,
obrigatoriamente, deveria ocorrer o parcelamento do solo. Isso para garantir
uma integração maior com o entorno e melhor acessibilidade.
Conforme o caso citado pelo Freitas, em São Paulo há uma faixa de mais de
trinta condomínios contíguos, o que forma um grande paredão de inacessibilidade.
Repito, é interessante observarmos os limites para os condomínios fechados. A
partir de determinado tamanho, deve existir a obrigatoriedade do parcelamento.
Com isso evitaríamos situações constrangedoras, como a de um condomínio fe-
chado com área maior do que a área urbana do município, o que gera à adminis-
tração municipal uma situação de total incapacidade de gestão.
Uma coisa que me chamou muito a atenção no projeto de lei foi a inten-
ção de permitir que loteamentos regularmente aprovados passem a se consti-
tuir como áreas exclusivas de um determinado grupo de moradores. Acho isso
bastante preocupante. Há a violação do preceito constitucional do direito de ir e
vir e total comprometimento do sistema de circulação.
Em relação ao exemplo aqui apresentado, o que me chamou muito a
atenção também foi o caso das cinco avenidas. Não podemos perder de vista
que todo o sistema viário de um loteamento não é pensado exclusivamente
para aquele loteamento. Ele tem toda uma articulação com o sistema do muni-
cípio, e sua limitação pode apresentar sérios comprometimentos. Além do mais,
áreas resguardadas, como praças, por exemplo, são reservadas para o lazer
de toda a coletividade, não são exclusivas dos moradores daquela área. O
interesse que vai além do dos moradores não é atendido, e isso pode trazer
sérios problemas, além de ser flagrantemente uma privatização de espaços
públicos. As ruas e praças integram o patrimônio municipal na categoria de
bem de uso comum do povo, bem esse cujo acesso não pode ser vedado a
qualquer cidadão. Qualquer cidadão tem o direito de acessar essas áreas sem
qualquer tipo de restrição ou constrangimento.
Portanto, é bastante preocupante o fato de que, a requerimento de um núme-
ro restrito de pessoas, seja dada destinação privada a um bem público que deveria
ser acessado por toda a coletividade. Penso que isso merece muita atenção.
Em relação a situações já existentes e consolidadas, particularmente sou
favorável a que sejam revertidas na medida do possível aquelas que geram
É nesse sentido que acho que, nos requisitos urbanísticos, algumas condi-
ções têm que ficar. Primeiro, é óbvio que a sucessão infindável de condomínios
conspurca a idéia da cidade e não pode ser tolerada. Então, é preciso que isso
tenha dimensões. O lote mínimo não tem dimensão de 125 metros quadrados?
Alguém podia dizer: por que não 80 metros quadrados? Eu vi um lote em Tó-
quio que tem 32 metros quadrados, e é um lote. Então, para os nossos padrões
culturais e sociais, etc., é preciso que haja limites.
A idéia é não só dizer se é possível essa forma de ocupação no município,
mas onde é possível. E também definir uma máxima extensão territorial contí-
nua. O que quero dizer com isso? É que, seja um condomínio só, seja um
somatório de condomínios pequenos, eles não podem exceder uma dada ex-
tensão territorial. Que extensão é essa? Um quarteirão, por exemplo. Se for um
quarteirão, é razoável que a idéia de cidade permanece, desde que o quartei-
rão seguinte também não seja condomínio. Aí eu diria até os dois seguintes, ou
seja, a extensão territorial mínima em que esse intervalo tenha que prevalecer,
em que a tentativa de negar a cidade tenha que coexistir harmonicamente com
a cidade. Então, são elementos nesse sentido. Se são os melhores, se as di-
mensões são essas, não sei.
Outro aspecto é a medida inversa. Há situações em que é conveniente
para o interesse urbanístico que haja o remembramento de pequenos lotes
individualizados que tornam a cidade muito rarefeita. Até no sentido de
adensamento, de melhor aproveitamento da infra-estrutura urbanística, é inte-
ressante que haja a formação de pequenos condomínios, sejam verticais, se-
jam horizontais. Então, são previstos critérios para que o remembramento de
unidades possa ocorrer, formando-se os condomínios. É a velha história de
casa de frente e fundo, formação de vilas, tipologias diferentes, que não sejam
a casa isolada ou o prédio. Há um universo entre esses dois aspectos que a
legislação pode e deve prever.
Quanto ao problema da infra-estrutura, ficou extremamente reduzida a
exigência de infra-estrutura como responsabilidade do empreendedor. Minima-
mente ele faz sistemas de drenagem e iluminação – nem isso está lá –, além de
outras obras que o município fixa. No entanto, como norma geral, não é possí-
vel que seja menos que isso. Faz o asfalto, todos sabem que é barato, bonito e
chama a atenção, mas depois a drenagem fica pesada.
Se o lote for ocupado na forma condominial, o empreendedor, que nesse
caso deve ser equiparado à figura do incorporador – no fundo é um condomínio
–, deve ser responsabilizado até que pelo menos metade dessas unidades au-
demonstra-se que esse tipo de “modelo” – entre aspas – vem causando muito
mal à saúde das nossas cidades. Então, diria que são transgênicos carregados
de agrotóxicos.
Com relação aos loteamentos fechados, vou abordar alguns pontos. Fiz
um esboço de recomendações. Primeiro ponto, devem ser rechaçadas tentati-
vas de interpretação que sugerem que por meio de lei municipal se legalizem
os loteamentos fechados, desafetando os bens de uso comum do povo e con-
vertendo o loteamento num condomínio. Ou seja, desmoralizando, na prática,
a legislação, a Lei no 6.766/1979.
Segundo ponto. A interdição dos loteamentos fechados deve ser mantida
na legislação federal com todo o rigor.
Terceiro ponto. O espaço público deve permanecer enquanto espaço pú-
blico. A privatização dos espaços públicos – dois colegas que me precederam já
falaram sobre eles – fragmenta a cidade e fere direitos espaciais básicos de
seus moradores. E isso em nome de quê? Do corporativismo territorial alimen-
tado constantemente pelo medo da violência que se difunde em grande parte,
inclusive como histeria, ao mesmo tempo acobertado pelo individualismo, que
também se dissemina pelo escapismo.
É uma solução escapista, uma pseudo-solução, uma falsa solução, e, pela
desatenção às causas profundas da criminalidade violenta, somos convidados a
refletir sobre a possibilidade de regulação de algo que não é uma solução
definitiva, apenas parcial, mas que causa mais problemas – fazendo um balan-
ço final, ou certamente mais problemas do que traria de positivo porque é
apenas parcial – aos setores mais diretamente interessados, empresariado e
parcelas da classe média, que equivocadamente acreditam ser o auto-
enclausuramento uma solução razoável. Não é. Até porque os fatos vêm de-
monstrando que os condomínios nem são tão blindados assim, na medida em
que não são inexpugnáveis. Casos de assaltos em condomínios de torres ou de
mansões de casas têm-se multiplicado.
Portanto, nem mesmo nessa microescala isso na verdade se mostra
como solução para os que partem para essa saída, o que dirá quando saem
dos seus condomínios e sofrem assalto, seqüestro etc. Enfim, significa que a
realidade das cidades brasileiras passa um rolo compressor nesse tipo de
situação, mesmo naqueles que pagam alto preço partindo para esse tipo de
solução escapista.
Com relação aos condomínios horizontais, colocaria o seguinte: em pri-
meiro lugar, o nome condomínios urbanísticos é vago e confunde mais do que
esclarece. Não vejo o que se ganha com esse nome. Parece-me ele inadequa-
do, com características de eufemismo.
Segundo ponto. Embora não firam a Lei no 6.766/1979, eles vêm se pro-
liferando ao arrepio de leis, das normas ambientais e às expensas do bom
senso de planejamento urbano, ferindo direitos básicos dos citadinos e cida-
dãos.
Terceiro ponto. Embora eles não se constituam em exemplos de apropri-
ações privadas de espaços públicos, portanto ilícitas, também contribuem para
fragmentar a cidade. Precisamos nos afastar da idéia de que os loteamentos
fechados são maus, e os condomínios horizontais seriam bons. Não. Eles tam-
bém são maus. Há uma diferença que talvez seja apenas de grau, embora
obviamente o caso de “apropriação”, entre aspas, privada de logradouros pú-
blicos seja particularmente aberrante, mas os efeitos a longo prazo de ambas
as situações são nefastos. Portanto, eles também contribuem para fragmentar
a cidade.
As propagandas, frases e slogans, como vida de interior e sentido de
comunidade abundam na mesma proporção em que proliferam os condomínios
horizontais. Isso são eufemismos e construções ideológico-publicitárias que mas-
caram o seu sentido essencialmente negativo na escala da cidade como um
todo e a longo prazo.
O controle de acesso também é um eufemismo. Na verdade, controle de
acesso é um constrangimento, uma restrição.
No caso dos parcelamentos populares vou aproveitar o momento para
fazer um adendo.
Não me parece razoável ou correta a utilização disso como uma espécie
de álibi. Ou seja, o fato de que em função inclusive de demonstração em áreas
populares comecemos a encontrar situações desse tipo. Na verdade, isso é
basicamente efeito demonstração.
Consideremos o seguinte: trata-se de fatos amplamente documentados
pela pesquisa urbana no Brasil. A violência nessas áreas periféricas de loteamentos
irregulares ou está ligada à própria polícia ou às forças da ordem. Enfim, está
ligada à banda podre, atuando de maneira atrabiliária etc. Não vou estender-
me nesse ponto, ou mesmo no caso do Rio de Janeiro, da periferia de São
Paulo, onde há tráfico de drogas. Pensar ou falar em controle de acesso a esse
respeito é ingenuidade ou piada.
Vou falar de outro ponto, ainda com relação aos condomínios horizontais.
Muito se tem falado sobre as chamadas vantagens urbanísticas dos condomíni-
os horizontais sob o ângulo da densidade. Parece-me que isso precisa ser mui-
to relativizado, sobretudo porque se empalidece, à luz do que comentei antes,
com os malefícios que eles acarretam a longo prazo e na escala da cidade.
Portanto, os condomínios devem ser o máximo possível desestimulados e
sempre fortemente regulados por meio de lei. As exigências devem ser feitas.
Cito alguns singelos exemplos. A área construída total não deve exceder à do
lote; a taxa de ocupação não deve ultrapassar 50%; a taxa de permeabilidade, que
é muito séria, não deve ser inferior a 20%, considerando a área total do condomí-
nio. Além disso, as sugestões do Bassul, com relação a evitar a sucessão ininterrupta
de condomínios, pareceu-me extremamente pertinente, algo a ser incorporado. Eu
até radicalizaria um pouco a proposta dele. Temos de evitar essa verdadeira frag-
mentação da cidade. Basta pensarmos nisso e já acontece. Vamos fazer um exer-
cício de imaginação, pensando nesse modelo continuando daqui a 5, 10 anos com
essa velocidade. Na verdade, como ele tinha dito, e como eu venho argumentando
há bastante tempo, é a própria idéia de cidade que, no sentido bastante profundo,
se perde. Vai ser uma miríade, uma coleção enorme de microguetos ensimesmados,
auto-enclausurados, onde, por exemplo, o direito de locomoção e uma série de
coisas, como a fruição da cidade, tudo vai escorrendo pelo ralo.
Tem de haver equilíbrio no sentido de evitar a ingerência abusiva do nível
federal em assuntos de competência municipal com relação ao planejamento
urbano. Por outro lado, a omissão pura e simples da legislação federal é extre-
mamente perigosa se considerarmos com realismo o quadro político-social dos
municípios brasileiros.
Vou deter-me a apenas um exemplo com relação a isso, comparando o
art. 7o do substitutivo do Projeto de Lei no 3.057/2000 com o art. 12.
O que diz o art. 7o?
“Art. 7 o Respeitando o disposto nos incisos I a IV do art. 6 o , cabe
à legislação municipal definir para cada zona em que se divida a
área urbana ou de expansão urbana do município os usos permi-
tidos e os índices urbanísticos de parcelamento e ocupação do
solo, os quais devem incluir pelo menos:
§ 1 o as áreas mínimas e máximas dos lotes e das unidades autônomas;
§ 2 o os percentuais mínimos de áreas destinadas ao uso público ou
ao uso comum dos condôminos;
§ 3 o os coeficientes máximos de aproveitamento;
Não podemos chegar aqui com fórmulas muito rígidas. Vamos ter que
enfrentar algo que a sociedade nunca enfrentou: a distância entre o discurso e
a prática, a distância entre lei e aplicação. E para isso vamos ter, sim, que
quebrar os nichos e as tribos onde estamos vivendo e onde fazemos discursos
muito cômodos. Eu digo “tribos” no bom sentido.
(Não identificado) – Ah, bom! Senão acabaríamos com o resto dos índios.
A SRA. ERMÍNIA MARICATO – Esse é outro problema ligado ao uso do
solo e à demarcação das terras.
(Não identificado) – Com certeza.
A SRA. ERMÍNIA MARICATO – Concordo com o Bassul, que aliás fez
uma leitura perfeita. Trouxe-nos uma contribuição impressionante – quando
nada pode, tudo pode. Nossa legislação é assim. Costumo lembrar muito o
Código de Obras de São Paulo. Quando era Secretária de Habitação, consegui-
mos aprovar um novo código na Câmara Municipal; porém, o resultado alcan-
çado ficou muito longe do que pretendíamos. Por exemplo, ele fixava até o
tamanho do canil de uma casa, mas para metade da cidade era totalmente
flexibilizado, para neoliberal nenhum botar defeito. Então, precisamos tomar
muito cuidado quando falamos em flexibilizar certos parâmetros. Senão, vão
achar que estamos sendo neoliberais. E mais do que em nossas cidades, é
impossível – na realidade, não na lei.
Tenho posição radical em relação ao fechamento de áreas consolida-
das, assunto tratado pelo art. 85 – para não dizerem que fui vendida ao
neoliberalismo, porque precisamos flexibilizar a lei. Tive imensa felicidade
em conviver com o Freitas. Foi incrível o nosso encontro. Fizemos vários cur-
sos juntos e, na Faculdade de Arquitetura, várias disciplinas juntos. De modo
que foi muito bom percebermos que os promotores começavam a ter a sen-
sibilidade dos urbanistas. Começávamos a perceber a importância das re-
gras. E hoje o Freitas demonstrou, quando citou o caso de Palmas, que já é
um urbanista. Fico contente de ter participado desse processo. Eu é que ain-
da não sou uma boa promotora.
Acompanhei alguns casos de Campinas. Tive contato com uma jovem
promotora cujo nome, se não me engano, é Eliane Zenardi. Ela foi muito cora-
josa. Estava sendo ameaçada de morte porque questionava o fechamento de
um bairro gigantesco, construído com dinheiro de todo mundo, da prefeitura.
Era um bairro legalizado, com ruas, locais públicos, que foi fechado. E ela me
contou vários casos. Por exemplo, o de uma criança que tinha de andar um
quilômetro circundando o loteamento, porque ela morava na parte de trás,
para ter acesso à portaria e chegar à escola pública, que ficou dentro do espa-
ço fechado. Quer dizer, é de uma agressão à esfera pública este caso que
chega a ser escandaloso. E em Campinas há vários casos como esse.
Tive oportunidade de ir a Campinas, a convite da Faculdade de Arquitetu-
ra da Pontifícia Universidade Católica, PUC, para participar de vários debates.
Pude perceber que a população que está nos loteamentos fechados se agregou
e contratou um setor que faz uma espécie de marketing, faz um jornal e traba-
lha o tempo todo com uma agressividade que me impressionou. O que eles
defendem? Eles querem tranqüilidade, segurança para seus filhos, espaço para
uma boa convivência com a vizinhança, sem sentir medo o tempo todo. Ou
seja, querem tranqüilidade para que as crianças possam ficar nas ruas. Foi isso
que ouvi das pessoas.
Tranqüilidade e segurança todo mundo quer. Na época, discutíamos que o
problema não seria resolvido simplesmente fechando as comunidades, que não
podíamos aceitar a privatização de ruas, praças de áreas institucionais, praias
– como foi o caso lembrado aqui, do Guarujá.
Outra questão levantada diz respeito ao fato de que a água do loteamento
é captada fora, a energia é produzida fora, o esgoto é tratado fora. Então, dizer
que tudo se resolve ali, que tudo é pago, não é verdade. Estamos esmagando o
conceito de cidade. Esse é o grande problema.
Antes de dar razão para quem quer se blindar, acredito que a situação
que vivemos mostra a falência da sociedade brasileira enquanto República. A
segregação no Brasil chegou a tal ponto que a vizinhança rica valoriza imóvel
quando não há pobre morando perto. A elite brasileira foge do mix. Aliás, o
mix de classes é que poderia nos trazer mais tranqüilidade, democracia, se-
gurança.
Acho bom darmos uma olhada de novo no célebre livro de Jane Jacobs,
Morte e Vida das Grandes Cidades. Retrata o dia e a noite das áreas da cidade.
É o mix de uso, de convivência, o que ela chama de olhos da rua – o padeiro da
rua diz: “Oh, entrou alguém estranho no prédio da dona Maria”. Os moradores
ficam nas janelas, nas áreas comerciais, o comércio fica aberto de dia. Ela
critica muito o funcionalismo a partir disso.
Mas o mix de uso, que traria alguma segurança, como disse, não é negado
apenas no funcionalismo. O Plano Piloto é um bom exemplo. Ele é negado pela
sociedade brasileira. É impressionante a força com que se quer esmagar o dife-
rente, o outro na sociedade brasileira a partir da diferença de renda e de classe.
Mas está todo mundo tentando fechar. Já existem umas pequenas ilegalida-
des; por exemplo, pessoas construindo salão de festas no térreo dos prédi-
os, colocando cerquinha viva e tal. Mas eu adoro atravessar o térreo dos
edifícios e sentir que aquilo é público. Agora, em Brasília, o muro não está
nas superquadras; ele está em volta do Plano Piloto. Existe realmente um
problema de segurança.
Quero terminar falando sobre a questão dos loteamentos populares. Acho
que nós precisamos, sim, dar uma saída para o mercado de produção de mo-
radia popular. Popular é modo de dizer; para a classe média, eis que eu costu-
mo situar a faixa entre cinco e dez salários. O mercado habitacional no Brasil
não atinge mais do que 30% da população, como vocês sabem. Então, a lei é
para esses 30%. Como nós discutimos lei, não vamos nos esquecer disso. Nós
estamos discutindo para 30% da cidade que é produzida; 70% da população
está fora do mercado.
No Ministério das Cidades nós estamos iniciando um desenho de um novo
Sistema Nacional de Habitação. Nós achamos que é preciso encontrar uma
saída para a produção de moradia popular, porque agora que nós estamos
discutindo regularização de áreas irregulares ocupadas, o caso de muitas fave-
las, se não dermos uma alternativa, só vamos correr atrás de prejuízo. As
favelas vão aumentar, vão se adensar, e nós vamos ficar urbanizando e regula-
rizando, sem ter alternativas.
As cidades brasileiras, o povo brasileiro precisa de alternativa de
moradia popular. E moradia popular implica terra urbanizada. Aliás, nós
estamos discutindo o que vai ser a nossa orientação para o Plano Diretor.
Uma dos pontos fundamentais vai ser este: o Plano Diretor tem que apon-
tar onde o povo vai morar. Porque Plano Diretor neste País não faz isso;
discute lei de uso do solo com o mercado mas não trabalha para determi-
nar onde o povo vai ficar. Aliás, Riviera de São Lourenço – só para discor-
dar do Freitas um pouquinho –, é uma cidade muito bonita, de classe alta.
Mas, quando o povo acaba a jornada de trabalho, tem que evaporar, e,
como ele não evapora, ele está derrubando a Serra do Mar, porque não se
tem onde morar.
Então, tem de ter lugar para o povo morar em nossas cidades. E isso tem
de ser apontado na legislação e no Plano Diretor. Nesse sentido, acho que preci-
saríamos trabalhar um pouco para tentar avançar na produção do lote urbanizado,
pelo menos fora das regiões metropolitanas, em algumas periferias.
Obrigada.
é apenas um aperitivo do que temos pela frente. Certo dia me falaram: “Evilásio,
você é louco. Você está indo para uma arena. Você tem coragem de mamar
numa onça!” Eu respondi que mamava em duas famintas. Quando elaboramos
um texto e a partir dele abrimos uma discussão, temos dois caminhos: falar
sem um texto previamente elaborado, um esqueleto, e discutirmos em cima de
algo que fosse o pressuposto de uma grande discussão. Optamos por discutir
em cima de algo concreto. Quando foram iniciadas as discussões da Reforma
da Previdência, muitos reclamaram, porque o projeto sequer estava na Câma-
ra dos Deputados.
Consideramos mais importante lançar isso aí que chamamos de ante-
projeto, ou pré-projeto, algo embrionário, a partir do qual vamos adensando,
anexando, trazendo as idéias, as propostas. Não pretendemos construir o
projeto perfeito. Queremos ser perfeitos na sua elaboração. Vamos trazer
aqui todos os agentes que possam contribuir. Não estamos fazendo apenas
uma lei ou alterando outra que já chegou atrasada, inclusive, e que hoje é
extemporânea. Estamos aqui para a tessitura daquilo que chamo da Consti-
tuição que vai disciplinar o uso e a ocupação do solo. Sabemos que para
errar menos temos de buscar o maior número de mãos na tessitura dessa
proposta.
Vou reservar-me a não ir para o debate. Quero assumir o compromisso
de levar em consideração todas as contribuições magníficas aqui apresentadas
e dizer que hoje nós discutimos pontualmente a questão dos condomínios. Mas
todos os senhores e senhoras podem trazer contribuição independente desse
foco, desse ponto, para esse projeto.
Registro aqui, além dos nossos agradecimentos, a importância da con-
tribuição dos senhores na elaboração desse projeto. É muito bom termos
aqui esta magnífica platéia, que não é pequena e está aqui, desde o início, se
manifestando. Todos os outros que ainda vão se manifestar certamente tam-
dimento que funciona muito bem lá em Goiânia, sob diversos aspectos. Seria
muito prolixo se eu fosse detalhar todos. As duas administrações – a do PSDB e
a do PT – têm aprovado nosso empreendimento. Mais de sete projetos estão
sendo aprovados agora.
Além dos pontos negativos, temos de mostrar aos senhores a enorme
quantidade de pontos positivos.
Não adianta fechar os olhos à realidade. Precisamos, sim, negociá-la. E
de que forma? Legislando sobre ela. Sabemos que a lei vem para dar uma
formatação jurídica para algo já existente de fato, como os condomínios, por
uma série de motivos – e não adianta negar isso.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Evilásio)
Concedo a palavra ao Sr. Luiz Fernando Teixeira.
O SR. LUIZ FERNANDO TEIXEIRA – Gostaria de pegar as duas questões
básicas citadas. Primeiro, agradeço ao procurador pelas manifestações elogiosas
sobre Palmas. Sou co-autor do plano diretor de lá. Quero fazer referência qua-
se que en passant ao que a secretária do Ministério das Cidades disse sobre a
questão do desenho das cidades. Na realidade, nós, urbanistas, perdemos essa
característica intrínseca de desenhar as cidades – e elas passaram a ser regidas
por lei.
O Instituto Pólis, num paper intitulado o Direito à Cidade, mostra exa-
tamente onde se tem a maior, a mais estipulada do ponto de vista urbanís-
tico das legislações urbanas. Diz o paper que as cidades estão mais
degradadas.
De 1960 ou de 1970 para cá perdeu-se o desenho das cidades. Não se
desenham mais as cidades; fazem-se leis e umas manchas e dizem que é um
plano diretor. Daí para frente, quer-se estabelecer a qualidade de vida.
Primeiro, é preciso estabelecer discussão mais clara sobre o que é um
plano diretor. Está uma confusão generalizada. Nas discussões feitas sobre
essa questão, ninguém sabe direito qual é o conteúdo de um plano diretor. A
partir daí pode-se desenhar as cidades. No momento em que essas cidades são
desenhadas, é muito fácil estabelecer as novas figuras urbanísticas que estão
aparecendo, como os condomínios, que, em muitos casos, são pessimamente
desenhados e, em outros, muito bem desenhados.
Perdemos aquilo para o qual fomos treinados: desenhar as cidades. Terí-
amos de resgatar esse assunto do ponto de vista dos planos diretores.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Evilásio) – Concedo a palavra à próxi-
ma inscrita, Diana Mota, do IPEA.
A SRA. DIANA MOTA – Cumprimento a Mesa e todos os colegas. Quero
registrar minha satisfação de participar mais uma vez da discussão da Lei no
6.766. Desde os anos 1980 temos buscado o seu aperfeiçoamento.
Gostaria apenas de fazer um grande comentário, aproveitando as pala-
vras da Secretária Executiva do Ministério das Cidades. O que ela disse é extre-
mamente oportuno, considerando que toda nossa produção imobiliária tem sido
na informalidade. Creio que dimensionar a questão com dados, com custos e
com processos de urbanização é fundamental no sentido de dar real dimensão
do enfrentamento do problema.
Por ano, no Brasil, as estimativas mostram que produzimos cerca de um
milhão de domicílios, e, desses, 700 mil vão formar ou vão compor áreas infor-
mais, sejam loteamentos clandestinos ou favelas.
Trata-se de dado extremamente desafiador que a nossa Secretaria Exe-
cutiva registrou.
Gostaria de enfatizar mais uma vez que, quando a Lei no 6.766/1979 foi
formulada, a idéia principal não era transformá-la numa legislação de desen-
volvimento urbano tão importante como ela se tornou. A idéia era – como foi
registrado aqui pelos nossos colegas – que ela fosse uma lei de defesa do
consumidor. Ao longo dos anos, ela se transformou no principal instrumento da
atividade de urbanização. Parcelar o solo é uma atividade de urbanização. Ob-
servamos que no Brasil a nossa urbanização se tornou um padrão totalmente
ilegal.
Como sempre, estamos no IPEA à disposição da Comissão para contribuir
com o debate. O esforço é muito maior do que ter uma visão mais urbanística
ou jurídica do problema. Trata-se de uma visão econômica de infra-estrutura
urbana. Temos de ser bastante criativos para tentar produzir uma urbanização
brasileira que dê conta da capacidade de pagamento dos nossos cidadãos.
Como disse a nossa secretária, 70% de todas essas pessoas estão totalmente
out, fora desse processo, e as cidades estão crescendo nesse padrão.
Enfim, gostaria de registrar a contribuição do IPEA. Necessitamos ser
muito criativos – não apenas os pesquisadores, mas todos nós. Temos de bus-
car o apoio e a cooperação do próprio setor privado e do Poder Público Munici-
pal. Necessitamos de encontrar alternativas. O Brasil tem experiências muito
sonho: que a cidade seja considerada pelas pessoas como um bem público,
para que o que não é de ninguém seja de todos. Isso precisa virar um sen-
timento nacional. Vivemos na cidade; portanto, vivemos juntos. Um depende
do outro.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Evilásio) – Concedo a palavra à nobre
Deputada e Presidenta desta Comissão, com todas as honras, nossa querida
Maria do Carmo Lara.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO CARMO LARA – Senti vontade de falar,
Deputado Dr. Evilásio. Acho que vou virar urbanista. (Risos.) Prestei atenção
nesta audiência pública e na anterior. Ainda haverá outras duas: no dia 11 para
tratar da regularização fundiária; e no dia 25 para tratar de contratos e regis-
tros. Senti vontade de dizer algumas coisas.
Não sou urbanista; sou educadora. Considero que tive o privilégio de ter
sido prefeita de uma cidade em Minas Gerais que tem todos os problemas citados
nesta Mesa. Refleti sobre algumas coisas. Acho que vou terminar este mandato
com a certeza de que valeu a pena ter vindo para a Comissão de Desenvolvimen-
to Urbano. Esta Comissão nos faz pensar numa questão muito interessante.
Estamos falando muito da importância da inclusão social. Falamos de educação,
alimentação, Fome Zero, emprego, não-violência, tudo como inclusão social.
Nesse caso, as pessoas estão exercendo seus direitos. Não há melhor inclusão
social do que dar à pessoa direito à terra, à habitação. Além de pensarmos na
educação e na saúde, devemos também pensar no direito à moradia. Estamos
vivendo sério problema nas nossas cidades. As pessoas foram expulsas do cam-
po décadas atrás, vieram para a cidade buscando o direito de morar melhor, de
educar os filhos e ter direito à saúde. Mas hoje estão sendo excluídas das cidades
por vários motivos. Quem mora em condomínio está buscando segurança. E os
que não moram em condomínios não têm direito à segurança?! Hoje as pessoas
se armam de todos os jeitos para não serem violentadas. No entanto, elas são
violentadas em qualquer lugar, até mesmo dentro de shoppings. Há algum tempo
os shoppings eram os lugares mais seguros das cidades. Hoje vemos vários
assassinatos nesses lugares. Basta ler as reportagens.
Chegamos ao ponto de pensar em planejamento, no desenho da cidade.
Nesse sentido, coloco alguns desafios. Existe a questão da privatização, da
especulação imobiliária que há algumas décadas foi o auge do ganho de di-
nheiro, e ainda continua. Vou dar um exemplo. Moro na 302 Norte. Em frente
ao meu bloco está sendo construído outro prédio. Um dia, por acaso, resolvi per-
nelas – com os diversos setores da sociedade. Devemos pensar que quem vai
ganhar é o coletivo, é a cidade. Todos ganham quando se melhora a cidade,
seja o grande, o pequeno e o médio. Se não mudarmos essa mentalidade, o
Brasil vai continuar criando exclusão social.
Deputado Dr. Evilásio, quis manifestar-me porque acho muito boa esta
audiência. Parabenizo V. Exa pela ousadia de colocar esse substitutivo em pauta
para debate, promover audiência pública e convidar os setores da sociedade
para discutir o assunto. Isso está proporcionando qualidade ao debate que ora
realizamos. Há poucos Deputados presentes, mas, quem sabe, vamos conse-
guir discutir o tema e criar uma lei que não proporcione ganhos apenas ao
Poder Público ou ao setor privado, mas a todos que moram nas cidades deste
País que queremos ver diferente. Obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Evilásio) – Agradeço à nobre Deputada
a participação. S. Exa se expressou com o físico, com a alma, com emoção, e o
fez não apenas em seu nome, mas no desta Comissão.
Concedo a palavra ao Sr. Marcelo Machado.
O SR. MARCELO MACHADO – Ia fazer este comentário quando fiz mi-
nha exposição, mas me esqueci. Faço-o agora para reforçar a posição do Mar-
celo Lopes de Souza.
Curiosamente, estou lendo um livro intitulado Cidade Partida, de Zuenir
Ventura, no qual comenta que o então Ministro da Justiça, o Sr. Tancredo Ne-
ves, em 1953, afirmara que nunca houve na face da Terra um crescimento tão
exagerado da criminalidade. Ele promete criar capacidade para colocar os con-
denados nas penitenciárias. Não dispomos, no Distrito Federal, neste momen-
to, de um só presídio, de um só lugar na penitenciária, de uma só vaga nas
penitenciárias femininas. As colônias penais existentes já não comportam nem
mais um só detento. E vejam, isso tem exatamente 50 anos. Ou seja, o proble-
ma da violência e da segurança continua absolutamente o mesmo.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Evilásio ) – Obrigado.
Concedo a palavra ao Dr. José Carlos Freitas para suas considerações
finais e para debater as questões levantadas pelos presentes.
O SR. JOSÉ CARLOS FREITAS – Sr. Presidente, Sras e Srs. Deputados,
senhoras e senhores, antes de mais nada agradeço à Casa, precisamente a
esta Comissão de Desenvolvimento Urbano e Interior, a oportunidade que con-
cede ao Ministério Público brasileiro de ser ouvido e de trazer a experiência de
pelo menos 10 anos trabalhando com o que acontece de errado nas cidades.
Sempre refletimos sobre o que pode dar certo. Queremos que as cidades se-
jam as ideais.
Não vou abrir nova polêmica. O Bassul foi profundo na sua exposição,
assim como os demais que participaram dos debates, ao comentarem a ques-
tão criminal. Aliás, eu também deveria ter tratado disso, mas me detive no
assunto condomínio. Devemos ter certo rigor, mais do que já existe na lei de
parcelamento, com algumas normas mais avançadas em termos de legislação
criminal. Concordo com a perda de bens, mas acho que não devemos deixar de
lado o crime e a pena de reclusão. Entendo que o remédio para quem faz coisa
errada, clandestina, é a cadeia e a perda dos bens. Na verdade, não vi até hoje,
apesar da lei contra o crime, da pena, um loteador preso, cumprindo pena,
porque a lei é absolutamente favorável ao loteador clandestino: dá-lhe pena de
um ano. Não vi até hoje um juiz fixar pena acima disso; quando muito, não
chega a dois. Portanto, ele tem direito à suspensão condicional da pena. Ou
seja, não vai para a cadeia. Se é preso em flagrante, não fica mais de 10 dias.
Duvido que fique mais do que dois meses. O tempo suficiente para a instrução
de um processo criminal é na verdade de 81 dias. Nenhum loteador clandestino
fica na cadeia.
Não tenho a ilusão de que a pena neste País impõe respeito. Ela deve ser
aprimorada. Aceito a sugestão; concordo com a perda de bens. Mas deve ha-
ver algo mais. Tanto o loteador clandestino quanto o agente público omisso são
bandidos. Há omissão, às vezes, orquestrada. Não se fiscaliza porque não se
quer, porque se tem vantagem de alguma forma. Há muita gente que se elegeu
à custa de loteamento clandestino, que ganha dinheiro em cima dessa questão.
O outro bandido pode estar dentro de uma administração pública ou dentro de
uma Câmara Municipal. Não citamos nomes, mas temos de pensar numa puni-
ção civil, criminal e administrativa para esses infratores, que talvez sejam os
maiores vilões depois do loteador clandestino.
O Deputado Dr. Evilásio formatou uma expressão feliz, lapidar: assim como
temos a Lei de Responsabilidade Fiscal, temos de ter uma Lei de Responsabili-
dade Territorial. Ninguém se preocupa com território. Aliás, tenho umas frases
que as pessoas chamam de frases “Feitas”. Digo o seguinte: um dos problemas
no Brasil é o fenômeno do umbigocêntrico. Quer dizer, tudo circunda em torno
do umbigo das pessoas. Tudo para nós; para o resto, nada. Há egoísmo exa-
cerbado neste País. Tudo se faz em razão do interesse particular; nada com o
Deixei para falar sobre esse ponto por último, não por ser menos impor-
tante, mas para enfatizar a transparência, a participação popular, o controle
social, sem o que caímos no balcão, como estamos vendo acontecer.
Sexto ponto. Sinto-me tentado a tocar no assunto, por ser profissional do
espaço, não para contradizer, mas para complementar a questão do traçado,
do desenho urbanístico. É importante ponderar o seguinte: em primeiro lugar,
isso é muito importante e tem sido, sim, muito negligenciado por gregos e
troianos. Em segundo lugar, isso não é panacéia.
Lembro algo que os arquitetos conhecem e que envolve toda uma discus-
são acadêmica e prática, principalmente norte-americana: os chamados espa-
ços defensivos. Isso remonta a mais de 30 anos, a Oscar Newman etc. No
fundo, isso vai desembocar em algo bastante conservador: a tentativa de evitar
a violência, de inibir situações favoráveis ao risco do crime violento por meio de
intervenções no espaço.
Não que isso seja absurdo. Há ganhos possíveis na transformação do
espaço no sentido inclusive de inibir situações de risco. O grande risco é tirar-
mos isso do contexto. No caso americano, é a regra. Há interpretação e prática
conservadoras. Uma “comunidade” – entre aspas –, uma community quer man-
ter seus privilégios por via de uma série de medidas de transformação do espa-
ço, de constituição de novos assentamentos. Nesse contexto, prevêem-se
situações em que o mendigo não tem onde ficar e, portanto, é repelido. O
pobre é expulso, repelido. O delinqüente é inibido de cometer determinado
delito. A causa do surgimento do delito é obviamente postergada ou negligen-
ciada ou nem aparece.
Portanto, o assunto precisa ser tratado com ponderação. Ninguém suge-
riu que isso seria uma panacéia. Estou apenas chamando a atenção para o fato
de que isso deve ser tratado com ponderação.
Finalmente, o último ponto é relativo aos condomínios exclusivos, aos
loteamentos, que não impedem a violência, nem sequer a mantêm totalmente
do lado de fora. Toda uma documentação empírica, digamos assim, vem de-
monstrando isso. Portanto, nem para aqueles grupos que se socorrem dessa
pseudo-solução eles são perfeitos. Que dirá então para o conjunto da cidade a
longo prazo.
Faço um gancho com o que o Freitas disse no final de sua exposição sobre
o absurdo de fazer justiça com as próprias mãos. Obviamente, a imagem que
me veio à cabeça foi a do linchamento. No fundo, parece que, em certa medida,
estamos linchando as nossas cidades ao permitir sua fragmentação.
O clima aqui foi muito bom nesse sentido. É que a democracia propicia.
Há opiniões e interesses diferentes, mas conseguimos pensar no conjunto da
sociedade brasileira. Acho que é a isso que estamos nos propondo aqui. Obri-
gada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Dr. Evilásio) – Infelizmente, as cidades são
o que são, porque não são obras de Deus. Perfeita é a obra de Deus, e as
cidades são obras dos homens. Há os mais bem-intencionados e os mal-inten-
cionados. Esse projeto, uma vez tornado lei, pode ser um instrumento. É por
isso que não podemos perder os nossos sonhos ou deixar de sonhar ou perder
as nossas utopias.
Fico feliz porque saímos daqui fechados, unanimemente, pelo menos em
um ponto: condenamos o condomínio fechado. Aquelas ilhotas ou ilhas para
poucos podem ser ilhas de fantasia ou de prosperidade, se é que o são para
quem está lá dentro, mas, por medo da agressão, são uma forma de agredir os
outros. Temos instrumento para a correção.
Falando da obra perfeita, o homem, dizem que Deus o fez à Sua seme-
lhança. Ele também não era bobo. Durante esses meses em que estarei traba-
lhando nesse projeto, se Ele me fizer um homem diferente, não só com duas
orelhas, mas com dois ou três pares, ou vários, porque precisarei ouvir muito,
não me considerarei anormal ou alienígena.
Fui Relator de um projeto cujos autores foram quase 1 milhão de brasi-
leiros. Foi o primeiro projeto de iniciativa popular, no qual agora vamos traba-
lhar para que seja transformado em lei. Cria-se o Fundo Nacional de Habitação
Popular.
É claro que não vou ter agora a oportunidade de ouvir um milhão de
brasileiros, mas, com certeza, algumas centenas de pessoas serão convidadas
a contribuir para a tessitura, para a execução desse projeto. Se ele não for o
ideal, repito, vamos criar a forma ideal de produzir o melhor.
Registro os meus agradecimentos. Os senhores e as senhoras que
aqui estiveram tanto na exposição como nos debates prestaram grande ser-
viço não só a este Relator e a esta Comissão, mas acima de tudo a esta
Casa, na tentativa de criarmos e implementarmos um paradigma de cidade
para o Brasil.
Antes de encerrar os trabalhos, comunico aos senhores que a Comissão
de Desenvolvimento Urbano realizará reunião de debate amanhã, dia 5, às 16h,
no plenário da Assembléia Legislativa do Estado de Goiás, para a discussão do
PL no 314/03, do Deputado Sandro Mabel, e do parecer favorável do Deputado
Ao longo das audiências públicas anteriores, tem sido dito que esse mo-
delo de desenvolvimento urbano no País produziu cidades fortemente marcadas
pela presença de assentamentos informais e precários, caracterizados pela
informalidade, com muita freqüência pela ilegalidade fundiária, por precaríssimas
condições de habitabilidade, precária condição também de acesso à infra-es-
trutura, aos serviços e aos equipamentos, cada vez com número maior de
pessoas vivendo em condições de risco de vida associada a escorregamentos,
inundações, contaminação do subsolo etc. Nesse sentido, a primeira lição que
trago a partir das experiências que temos analisado pelo País afora é a de que
a informalidade é a regra, não a exceção.
O desenvolvimento informal das cidades, a produção informal do espaço
urbano e da moradia não é mero sintoma de um modelo, é um modelo em si,
é a maneira brasileira de fazer as cidades. Os dados variam, mas temos condi-
ções de avaliar que, da população que vive em áreas urbanas no Brasil, de 40%
a 80% vivem informalmente. Esse número tem crescido sobretudo com o au-
mento do crescimento urbano informal em áreas periféricas, com a consolida-
ção dos assentamentos já existentes, com a maior densidade dos assentamentos
informais e, cada vez mais, com a ocupação de novas áreas: áreas de preser-
vação ambiental, áreas de proteção de manancial, áreas públicas, enfim, áreas
totalmente incompatíveis com a presença humana.
O primeiro princípio a ser destacado é que não podemos mais fechar os
olhos à necessidade de enfrentar essa questão, esse processo, esse fenômeno
da produção informal das cidades.
É importante ressaltar também que existe a idéia de que a informalidade
é um problema só de cidade grande. Os dados disponíveis têm demostrado que
esse é um fenômeno que tem crescido nas cidades médias e pequenas tam-
bém. Por exemplo, 37% dos Municípios brasileiros com menos de 20.000 habi-
tantes já possuem loteamentos irregulares, e 20% desses Municípios pequenos
têm favelas. Quer dizer, esse padrão de segregação territorial – informal e
freqüentemente ilegal – associado à exclusão social, à degradação ambiental é
hoje o padrão dominante de produção do espaço urbano nas cidades brasilei-
ras, independentemente do tamanho da cidade.
É preciso destacar também que existe uma diversidade de processos in-
formais de produção da cidade, que vai das favelas em áreas privadas e públi-
cas aos loteamentos irregulares e clandestinos – tema da audiência passada –
chegando aos conjuntos habitacionais, que, na sua grande maioria, são tam-
bém irregulares, a outras formas regionais de agrovilas no Centro-Oeste e no
sacado porque não se consegue fazer a regularização. Por isso, uma das idéias
é trabalhar fazendo o saque desse depósito judicial, ou seja, desse valor em
prestações depositadas, para financiar a obra de urbanização, porque é para
isso que ele serve, seja no momento em que a prefeitura, por exemplo, licitar
uma obra ou contratá-la, seja no momento em que executá-la e possa se res-
sarcir parcialmente e assim sucessivamente até completar todo o processo de
regularização.
Por último, a questão da regularização dos lotes. Feita a regularização
do parcelamento do solo, a última etapa do processo de regularização fundiária
em loteamentos é a regularização do lote de cada um. Não vi no substitutivo
a garantia de um direito que hoje existe para as pessoas que moram em
loteamentos irregulares, que é fazer o registro gratuito da primeira regulari-
zação.
Um grande problema é o grau de exigência para regularizar os contratos.
Nos loteamentos irregulares, há nos contratos algumas precariedades. Portan-
to, quanto mais simplificados os contratos ou os registros, considerando os
recibos como forma de quitação dos valores devidos ao loteador, para que com
isso regularizássemos os lotes, certamente haveria um número muito mais
ampliado de regularização no País.
Muito obrigada.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Maria do Carmo Lara) – Obrigada.
Antes de passar a palavra à Dra Rosângela, registro a presença do Depu-
tado Inaldo Leitão. Obrigada pela presença, Deputado.
Com a palavra a Dra Rosângela Staurenghi, do Ministério Público de São
Paulo.
A SRA. ROSÂNGELA STAURENGHI – Boa-tarde a todos. Gostaria de
agradecer pelo convite.
Contarei um pouco da experiência do Ministério Público em São Bernardo
do Campo, que tem uma vasta área de proteção aos mananciais da Represa
Billings, onde se instalaram centenas de loteamentos clandestinos ao longo de
muitos anos.
De alguns anos para cá, temos trabalhado junto com a Prefeitura, tentan-
do encontrar formas alternativas de solucionar essa questão. Contarei como é
esse trabalho daqui a pouco. Antes de começar a tratar de regularização
fundiária, queria ler o que achei em dois livros de História e que dizem respeito
ao substitutivo. O primeiro livro dizia:
Juntamos dois bairros. Sobre o segundo não havia ação judicial, mas ele
foi incorporado, e estamos fazendo um projeto ainda mais ambicioso. Isso vai
crescendo de forma muito interessante, porque as pessoas vão à Promotoria e
querem propor soluções. Elas criam e executam, o que melhora bastante a
qualidade das intervenções no Município.
Nesse terceiro TAC, a própria comunidade de um bairro vizinho, que não
faria parte, mas acabou participando só da estação de tratamento de esgoto –
o Município entrou com as obras –, parou essas obras com carros e impediu a
Prefeitura de prosseguir porque achou que estavam malfeitas. Depois disso, o
Secretário de Obras ficou bravo e não quis mais saber de nada; retirou todas
as máquinas de lá e deixou-os na mão. Então eles foram à Promotoria e disse-
ram que o material que estava sendo empregado era ruim, que o bairro vizi-
nho, nosso companheiro na estação de tratamento, tinha calçadas mais largas,
ruas mais estreitas, e que queriam o mesmo padrão de urbanização dos que
tiveram o projeto aprovado, a mesma qualidade. Daí eu oficiei ao Prefeito, que
teve de enviar o Secretário de Obras até lá para discutir com a comunidade.
Isso faz com que as pessoas adquiram autoconfiança, auto-estima. Elas aca-
bam recebendo respeito da cidade formal, o que para elas é impressionante.
É claro que nem tudo é perfeito. De vez em quando elas vão às reuniões
do subcomitê e são chamadas de invasoras. Mas elas têm um currículo para
mostrar o que estão fazendo. Então, isso faz com que o preconceito da cidade
formal seja reduzido. E esse é um assunto bem delicado e importante a ser
tratado: como o Poder Público deve intervir nesses assentamentos, quando faz
a regularização fundiária, para reduzir o preconceito da cidade formal. Já li
vários trabalhos afirmando que isso acontece mesmo. Ou seja, as favelas, os
assentamentos informais, que são bem diferentes do resto da cidade, são
urbanizados e mantêm a forma original. Não há integração social. As pessoas
continuam excluídas. Então, esse trabalho de integração da comunidade local
com a do entorno é fundamental no processo de regularização fundiária.
Outro ponto importante é a participação do Ministério Público. Acho que
ele tem, sim, de ser chamado. Eventualmente, pode haver dificuldades com um
ou outro promotor. Mas isso pode não acontecer ao se apresentarem argumen-
tos tecnicamente convincentes de que se está descumprindo isso, mas cum-
prindo aquilo. Se encararmos o loteamento dentro de regiões, sub-bacias
hidrográficas, por exemplo, teremos condições de fazer compensações. Temos
condições de flexibilizar a aplicação da lei, desde que no fundo tentemos
recuperar o meio ambiente.
Pernambuco –, não há ainda uma ação eficaz. Acho salutar que a colega de
São Paulo fale dessa ação como iniciativa clara do Ministério Público daquele
Estado, a iniciativa dos loteamentos irregulares, mas talvez ainda esteja tudo
muito no princípio. Houve um destaque claro de São Paulo. Os outros Ministérios
Públicos ainda não têm essa clareza ou essa ação eficaz. Por outro lado, como
este debate ainda é incipiente na agenda dos movimentos sociais, isso também
favorece a pouca visibilidade do processo de ação.
Do ponto de vista do avanço da legislação urbana, em relação ao
substitutivo, como diz o Sr. Edésio Fernandes, não podemos perder esta opor-
tunidade, mas tudo ainda está muito atrelado, do ponto de vista da legalidade,
sem levar em conta os aspectos do planejamento urbano, o aspecto formal,
participativo. E temos em Fortaleza a iniciativa de tentar buscar essas 16 áreas
que são, digamos assim, a meta do fórum para esses assentamentos, com a
parceria da Associação dos Notários e Registradores - ANOREG, principalmente
para, com muita articulação, encontrar um mecanismo de redução dos ônus
para os próximos assentados, para os próximos moradores que estão nessa
situação. Isso seria um grande desafio. Mas a própria lei, o substitutivo, não
tem nenhum indicativo de desburocratizar os mecanismos de acesso a essa
posse legal.
Então, do ponto de vista de contribuição, seria isso. Ainda não temos um
acúmulo, digamos assim, desses pontos de vista, porque, como disse anterior-
mente, este debate é muito recente na nossa cidade, e só agora estamos for-
talecendo-nos. Mas, apesar de o fórum ser muito recente, há esses elementos
no debate do nosso dia-a-dia. Ressalto que a Anoreg tem estado conosco,
além da Associação dos Promotores do Estado do Ceará e dos movimentos
sociais.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Maria do Carmo Lara) – Obrigada, Sra
Olinda Marques. Com certeza as experiências vão somando-se pelo Brasil afo-
ra, porque são muitos os assentamentos.
Agradecemos à visitante da África do Sul, a Sra Marie, a presença. Sejam
todos bem-vindos.
Com a palavra o Sr. Vicente Amadei, Diretor do Secovi de São Paulo.
O SR. VICENTE AMADEI – Boa-tarde a todos. Inicialmente, quero agra-
decer à Presidente da Comissão de Desenvolvimento Urbano e Interior e ao
Deputado Dr. Evilásio, Relator do Projeto no 3.057/2000, que revisa a Lei no
6.766/1979, o convite para participarmos desta importante audiência pública.
Cumprimento também os demais componentes da Mesa e todos os presentes,
naquela época não podíamos contar com infra-estrutura completa para com-
prar um imóvel. Se houver alguém aqui com essa idade, esse alguém sabe
como era sua casa ou a de seus pais, ou o lugar que morava, em termos de
infra-estrutura.
Vou contar rapidamente o meu caso. Nasci no Itaim Bibi, em São Pau-
lo, que hoje é o bairro mais caro da minha cidade. O lote no qual meu avô
em 1932 construiu uma casa para a nossa família tinha apenas cinco metros
de frente por 33 de fundo. Não havia água encanada, nem esgoto, nem
iluminação pública, mas tínhamos de morar em algum lugar, e moramos lá.
Os melhoramentos foram chegando à medida que a cidade foi progredindo,
e quando saímos daquele lugar onde nasci já estava presente toda essa
infra-estrutura.
Não quero dizer com isso que se deva fazer o parcelamento do solo sem
infra-estrutura, mas lembro que ao se exigir uma infra-estrutura completa,
como a exigida pela Lei no 9.785/1999 – bem, ela não exigiu, mas definiu, e
criou uma séria confusão –, inviabilizou-se o loteamento legal para o pobre.
Se não houver financiamento de longo prazo pelo Poder Público, para que a
prestação fique do tamanho que esse comprador de baixa renda possa pagar,
não vai haver jeito. Não adianta colocar na lei porque não vai haver lotes; vão
continuar os loteamentos clandestinos e irregulares. E isso nenhum de nós
deseja, mas temos de atentar para essa realidade, e num trabalho intenso,
com bastante dedicação de todos os envolvidos na atividade, precisamos en-
contrar uma solução.
Quero deixar, para a reflexão dos participantes desta audiência, três ques-
tões: primeiro, como evitar a continuidade dos parcelamentos clandestinos e
irregulares? Não acredito na fiscalização. Segundo, como penalizar o invasor e
os que vendem ou alugam barracos em favelas, e até entre espaços comuns de
conjuntos habitacionais construídos pelo Poder Público? No último domingo, o
jornal Folha de S.Paulo publicou matéria em que se comenta o fato de as
pessoas do Cingapura construírem em espaços destinados a garagens. O de-
tentor da garagem aluga ou vende aquele espaço para que seja construído um
barraco entre os prédios mesmo. Vejam a que ponto chegam as coisas! Há um
esforço tremendo, às vezes do Poder Público, para resolver o problema, e a
situação não se resolve.
Acredito que se tivermos uma oferta de lotes a prestações possíveis de
serem pagas pelo comprador de baixa renda tudo se resolverá. E isso já foi
possível.
órgão ao qual a Anoreg pediu não um assento com decisão de voto, mas a
possibilidade de participar dele para que, enquanto estiverem sendo feitas as
verificações necessárias, o oficial do cartório de registro de imóveis examine a
documentação. Isso evitaria que depois de percorrida toda essa via, depois de
todo o tempo despendido, o cartório tenha de dizer o seguinte: infelizmente,
seu empreendimento não pode ser registrado porque a descrição do seu imó-
vel na planta não é a constante no registro de imóveis; há um descompasso;
porém, ainda não temos assento no Grapohab. Acho que, segundo a lei que vai
ser feita, por suas alterações, no ato de entrada dos documentos na prefeitura,
o oficial do cartório de registro de imóveis competente deve ser cientificado, e
devem ser-lhe encaminhados o título de propriedade e o projeto que está sen-
do apresentado para que ele possa pelo menos olhar a coincidência de descri-
ção e a eventual titularidade. Com isso, já evitaríamos uma grande proliferação
de loteamentos irregulares.
Os contratos também têm de ser simplificados. Acho que as restrições
urbanísticas têm de constar dos documentos das prefeituras e devem ser
lançadas na matrícula do imóvel. Assim, toda pessoa que vá comprar ou exami-
nar a documentação teria condições de saber quais as restrições urbanísticas
que pesam sobre aquele empreendimento. Os procedimentos e a documenta-
ção têm de ser bem simplificados. Nos casos de regularização por parte das
prefeituras, acho que deveriam ser apresentadas simplesmente a planta devi-
damente aprovada, as licenças ambientais, se houver, a descrição que a prefei-
tura fornecer das ruas e dos lotes, e só. O cartório vai abrir a matrícula do
imóvel, se já não estiver aberta; por averbação, poderá dizer sobre a regulari-
zação do empreendimento, e, se for do seu interesse e houver condições, abrir
a matrícula de cada lote, deixando-a pronta para receber o primeiro registro.
Caso a prefeitura seja mais diligente, quando encaminhar a regularização para
o cartório, encaminhará também a relação dos beneficiários daquela regulari-
zação e o seu contrato, de forma que se possa fazer o registro do empreendi-
mento e a transferência para o particular.
Tudo isso, como já dissemos, seria feito a custo zero. Todos precisam
fazer essa renúncia, e o registrador imobiliário já está disposto a isso. Já foi
conversado e decidido: estamos dispostos a fazer essa renúncia.
Em Gravataí, a prefeitura fez um instrumento particular baseado no dis-
positivo do Código porque a transação não atingiu 30 salários mínimos. Ela já
transferiu o domínio para o ocupante. Esperamos que as demais prefeituras
sigam esse modelo. Não há necessidade de reconhecimento de firma. Basta
que a pessoa encarregada pelo prefeito faça os contratos, identifique as par-
tes, descreva o lote e envie tudo isso ao cartório para ser registrado. As pre-
feituras podem, inclusive, manter um controle desses lotes. Elas podem deter-
minar por qual prazo a pessoa terá de ocupar o lote para, depois, dispor dele,
a fim de não incentivar o comércio imediato.
Também propusemos que, ao se fazer a regularização fundiária, se faça
também a regularização da vida civil das pessoas. Estamos dispostos a fazer
registro de nascimento e de casamento de graça.
Obrigado.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Maria do Carmo Lara) – Muito obrigada
pela contribuição, Sr. Ary.
Agradeço aos membros da Mesa pelo cumprimento do horário. Ninguém
usou os 20 minutos de que dispunha. Tem a palavra o Deputado Dr. Evilásio.
O SR. DEPUTADO DR. EVILÁSIO – Sra Presidente, minhas breves pala-
vras são de agradecimento.
No plenário em frente estão solicitando minha presença para votar o rela-
tório final de uma CPI da qual sou membro, representando meu partido. Nesta
Casa, temos de fazer muitas coisas ao mesmo tempo; às vezes temos de co-
brar o escanteio e correr para cabecear, e é isso o que preciso fazer agora.
Assim, peço escusas aos debatedores presentes, que prestigiam esta audiên-
cia pública. Estamos gravando todas as manifestações e, com certeza, acolhe-
remos as contribuições apresentadas no debate que ocorrerá agora.
Enfatizo que a feitura desse projeto deve se dar com muito critério, com
muita responsabilidade e a muitas mãos. Quero dizer à companheira do Cearah
que temos, nesta Comissão, a pretensão de descentralizar ainda mais essa
discussão e, se possível, levá-la a todos os estados, aumentando a oportunida-
de de manifestação e contribuição para a proposta final deste relatório.
Foi defendida aqui por vários expositores, principalmente nas outras au-
diências, a idéia de se dar o máximo possível de atribuições às administrações
municipais. Peço apenas que se faça uma reflexão a respeito porque hoje, em
muitos municípios, a única lei que regulamenta, que disciplina o uso e a ocupa-
ção do solo é essa lei federal. Muitos municípios não têm nenhum instrumento
institucional ou legal para esse procedimento.
Como sabemos que nessa rede informal de colaboradores temos agentes
políticos em grande quantidade – e atribuo até as maiores responsabilidades a
eles, sejam vereadores, prefeitos ou deputados, temo dar-lhes atribuições sem
dar maior responsabilidade. Por isso endosso aqui a sugestão da representante
tinham mesmo mais capacidade de compra e por isso tinham mais condições
de acesso à moradia. Estamos tratando de uma garantia constitucional, que é o
acesso à moradia digna. Quanto à solução, ela já existe, para nossa alegria, e
o Sul a está usando: trata-se do urbanizador social. Então, existem mecanis-
mos utilizando instrumentos jurídicos para viabilizar acesso a lotes e moradia
subsidiada dentro de programas públicos.
Conforme apresentado pela Dra Rosângela, acho bastante interessante a
questão da penalidade, mas não adianta apenas a lei; precisamos da ação do
Ministério Público. Quantas pessoas conhecemos que foram punidas por crimes
contra a administração? A Lei no 6.766/1979, já prevê o crime, mas não vemos
ninguém ser preso ou punido por isso. Então, precisamos pensar na ação, até
pelo próprio Judiciário, pelo Ministério Público.
Com relação ao que destacou Evangelina sobre o Projeto Cingapura, te-
nho batido muito na tecla de que o conceito de regularização fundiária não
pode ser apenas um conceito de regularização urbana. Sem se fazer promoção
humana não há sustentabilidade. Então, que nesse conceito que se está elabo-
rando da regularização fundiária é preciso que a inclusão social não seja um
mero apêndice, mas que a ela seja dada a ênfase principal. Sem promoção
humana não há condições de existir promoção urbana sustentável.
Sobre a faixa non aedificandi dos cursos d’água, parece que há uma reso-
lução do Conama permitindo dispensar. Assim, penso que vale a pena conver-
sar com o pessoal do Ministério do Meio Ambiente para que se crie uma norma
compatível com o que está ocorrendo lá.
A regularização técnica independente da regularização de título me preocupa
um pouco. Entendi que a intenção é queimar etapas, mas como há pessoas e
pessoas, algumas podem se esquecer do fundamental, que é a segurança jurídica.
Então, sugiro se pensar o assunto com mais cuidado, porque o principal objetivo da
regularização fundiária, além da inclusão social, é a segurança jurídica.
Com relação àquela idéia do cancelamento do registro após 20 anos, o Dr.
Ari sugeriu cinco e eu sugiro 10 anos – e vou dizer por quê. Falam em 20 anos
referindo-se aos 20 anos da ação de usucapião extraordinária do antigo Código
Civil. Para quem não é advogado, explico que a ação de usucapião extraordiná-
ria ocorre quando se adquire a propriedade mesmo que não se tenha agido de
boa-fé e nem com justo título. Pelo novo Código Civil, se for para fins de mora-
dia, é possível adquirir com 10 anos. Por isso proponho que, em vez de 20
anos, que era o prazo anterior, que fiquemos com 10 anos, que é o prazo da
ação de usucapião extraordinária para fins de moradia.
discuti-la, porque, sem esse banco, as prefeituras não têm a mínima condição
de produzir a regularização fundiária ou retirar famílias de áreas de risco.
Quanto ao papel do Ministério Público em Goiás, temos a Promotoria de
Urbanismo, que ultimamente tem-se preocupado mais em criminalizar do que
em discutir os problemas da cidade como um todo. Quando ela ouve falar que
alguém está fazendo algo errado, reprime; contudo, quando não houve falar,
tudo fica bem, tudo fica beleza. Ela não produz debate com a cidade, tem tido
uma atuação muito amena. O Ministério Público de Goiás, realmente, tem dado
um exemplo de falta de produção, de trabalho em defesa do cidadão.
Quanto ao usucapião coletivo, precisamos trabalhar essa questão para
qualificá-la. Em Goiás, temos tentado qualificar os movimentos sociais para que
eles mesmos possam pleitear o usucapião coletivo, mas há uma grande dificul-
dade porque eles ainda não sabem que, em grande parte, têm o direito de
pedir a regularização fundiária. Temos tentado promover isso em Goiás.
O último ponto são os condomínios horizontais fechados. Precisamos
criar mecanismos para coibir a segregação do espaço dentro da cidade.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Maria do Carmo Lara) – Esse foi o tema
da audiência passada, e é objeto da lei para a qual o Deputado Dr. Evilásio está
recebendo sugestões. O Deputado Dr. Evilásio e a Comissão estão preocupados
com a questão do condomínio fechado. Muito obrigado, Sr. Walney.
Passo a palavra para a última oradora inscrita, a Sra Diana Meireles, do Ipea.
A SRA. DIANA MEIRELES – Considerando os depoimentos que ouvi hoje,
terei de comentar os feitos na audiência anterior no que diz respeito a uma
questão de fundo, quem sabe uma questão estrutural dentro da nossa urbani-
zação.
Na verdade, a Lei no 6.766/1979, atende apenas a 20% das famílias bra-
sileiras; estamos deixando de fora cerca de 80% delas. Essa é uma preocupa-
ção imensa. No meu entendimento, isso leva a Comissão a um importante
desafio: O que fazer e que parâmetros adotar para atender às demais famílias?
Nesse sentido, eu gostaria de levantar alguns pontos, que podem servir como
recomendação para a pauta das próximas reuniões da equipe que vai trabalhar
na revisão da legislação, especialmente da Lei no 6.766/1979.
O primeiro ponto seria: Como combinar a capacidade de pagamento dos
cidadãos brasileiros e a urbanização legal? Esse é um grande desafio. Todos os
observadores somos convergentes quanto a isso, imbuídos no esforço de superar
esse fenômeno que hoje é padrão da nossa urbanização, conforme pudemos veri-
ficar em todas as palestras, especialmente na do nosso colega Edésio Fernandes.
por pouca coisa, a retificação judicial de áreas demora muito e encarece de-
mais a produção, complicando a situação de todo mundo.
Registro que não sou especialista em regularização fundiária; costumo
dizer que sou clínico geral do parcelamento do solo. Trabalho nisso há 50 anos,
e, quando se precisa de um especialista, eu indico.
Como disse, acho que realmente temos muito a conversar. Concordo com
o Deputado quando diz que temos de regionalizar a discussão, ampliando-a.
Essa matéria precisa mesmo ser bastante discutida. Eu mesmo fiz muitas ob-
servações no corpo da lei, além daquelas já mencionadas, e precisaria ter a
oportunidade de conversar para mostrar as dificuldades que estão sendo cria-
das, inclusive para o comprador do lote. Temos de revisar essa lei para esgotar
todas as possibilidades de falta de clareza, de omissões, de dificuldades que
sentimos nesses 20 anos.
Em São Paulo, logo depois que a Lei no 6.766/1979, entrou em vigor, se o
Dr. Gilberto Valente, Juiz da Vara de Registros Públicos, não tivesse atendido
não reivindicações, mas pedidos de esclarecimentos do setor imobiliário, tería-
mos paralisado o processo de cara. Foram 18 reivindicações que acabaram se
transformando em provimento, e pudemos trabalhar logo que a lei entrou em
vigor.
Portanto, temos de nos unir e discutir todas as situações dessa lei para
darmos uma solução viável para os empreendimentos, para o Poder Público e
para os compradores finais. Liquidar a coisa de vez, não vejo como; mas pode-
mos reduzir bastante as dificuldades futuras, essas brigas entre o Ministério
Público e os empreendedores. Se trabalharmos bastante, e bem, resolveremos
essas situações conflitantes, que, afinal de contas, não interessam a ninguém.
Agradeço a oportunidade que nos foi dada de participar e dizer que estamos
à disposição para discutir qualquer assunto referente à Lei no 6.766/1979, não
exclusivamente os debatidos hoje.
Muito obrigado.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Maria do Carmo Lara) – Nós é que agra-
decemos, Sr. Vicente Amadei. V. Sa poderia encaminhar suas sugestões, ou
marcar uma conversa, uma audiência com o Deputado Dr. Evilásio para
apresentá-las. S. Exa estará aberto para discutir, para receber contribuições.
Passo a palavra à Sra Olinda Marques, representante do Centro de Estu-
dos, Articulação e Referência sobre Assentamentos Humanos.
de lote legal. Então, não dá para trabalhar só com repressão; temos de traba-
lhar com prevenção também.
Outro ponto: nesse substitutivo foi retirado da parte criminal um artigo
importantíssimo da Lei no 6.766/1979:
“Art. 51. Quem, de qualquer modo, concorrer para a prática dos
crimes previstos no artigo anterior desta lei incide nas penas a estes
cominadas, considerados em especial os atos praticados na quali-
dade de mandatário de loteador, diretor ou gerente de sociedade.”
Esse era o único artigo que permitia pegarmos o político que estimulava
essa prática ao prometer que levaria obras de infra-estrutura. Então, além de
condicionar as mesmas penas para um crime que é muito grave, estão supri-
mindo um artigo importantíssimo que permitia pegar os terceiros que não são
exatamente os que vendem. Acho importantíssimo exigir punição para todos
que atuam nessa atividade.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Maria do Carmo Lara) – Obrigada, Dra
Rosângela.
Tem a palavra a Sra Evangelina Pinho, a penúltima a falar, e depois o Sr.
Edésio Fernandes, para podermos encerrar.
A SRA. EVANGELINA PINHO – Primeiro vou responder à Sra Patrícia
sobre a emissão do auto de regularização independente da perfeita regularida-
de do título.
Na verdade, o trabalho público de regularização se esgota pelo menos
nessas duas etapas, a de regularização jurídica e de regularização urbanística,
além daquelas outras dimensões que foram citadas, de desenvolvimento social,
econômico e socioorganizativo. A questão é quem, dentro da esfera institucional,
tem efetivamente condição de fiscalizar e ter um completo domínio sobre as
questões dominiais. Essa é a questão.
Sinceramente, não me parece que seja a prefeitura. Não sei se na Prefei-
tura de Vitória acontece isso, mas é muito comum ser aprovado nas prefeituras
projeto em que se exige cópia das certidões de propriedade, tanto de um pro-
jeto de edificação quanto de parcelamento do solo. E o que vem gravado na
planta? Aquele carimbo dizendo que a prefeitura não se responsabiliza pela
situação de propriedade dessa área e tal. Efetivamente, a prefeitura não
tem condição de fazer isso, o que não significa que o seu trabalho, quando
empreende a ação de regularização, não tenha de chegar até o ponto de
checagem do domínio num determinado momento. É muito boa a proposta do
mês. Garanto que são pessoas extremamente rigorosas, mas dotadas de muito
bom senso, tanto aqueles que fazem parte da Coordenadoria da Habitação de
Urbanismo quanto os promotores de Habitação e Urbanismo da capital. Aproveito
a oportunidade para render a essas pessoas uma homenagem, porque têm feito
um trabalho muito bom e muita coisa em parceria com a prefeitura.
Muito obrigada.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Maria do Carmo Lara) – Muito obrigada,
Evangelina.
Tem a palavra o Sr. Edésio Fernandes, do Ministério das Cidades, para
encerrar a participação da nossa Mesa.
O SR. EDÉSIO FERNANDES – Mais uma vez, quero agradecer o convite à
Deputada Maria do Carmo e ao Deputado Evilásio, sobretudo por terem aberto
audiências públicas durante esse processo tão crucial de revisão dessa lei, que
é central à questão do planejamento, da gestão e da política urbana no Brasil.
Acho que este painel deixa muito claro aquele argumento inicial sobre
o qual falei: há uma centralidade nessa discussão sobre regularização. Ela
não pode mais ser relegada a segundo plano. Regularização não pode ser
tão-somente objeto de políticas isoladas, setoriais, marginais. Discussão
sobre como enfrentar essa dívida historicamente contraída com grande par-
cela da população brasileira, condenada a viver em condições de informali-
dade, em assentamentos cada vez mais precários sofrendo todo tipo de
implicações, tem de ser agora. E o momento é este, quando da revisão
dessa lei. Esta não se pode prestar tão-somente a regulamentar novos
parcelamentos.
Como vai ser o jogo daqui para frente. Critérios, obrigações, exigências e
contrapartidas, mas ela tem de também se destinar a enfrentar esse passivo
socioambiental criado ao longo de décadas de abandono, de tal forma que
tenhamos, no final desse processo de ampla discussão, uma lei federal de
parcelamento e regularização.
Para mim, o grande tema da reunião de hoje é a importância de se
aproveitar o momento político histórico para, por meio de uma reforma da
ordem jurídica vigente, criar as condições de alavacangem dos programas de
regularização que diversos municípios e estados têm formulado, sempre en-
contrando algum obstáculo nas leis federais existentes. Não basta o reconhe-
cimento, pela Constituição, pelo Estatuto das Cidades e pela medida provisória,
do direito à regularização. Temos de criar condições para que esse direito
possa ser exercido.
Convidados:
Helvécio Castello, do Instituto de Re- que o seu relatório não é uma peça
gistros Imobiliários do Brasil, defen- terminativa, pois deverá passar por
deu que para os loteamentos várias mãos e depois ainda será en-
consolidados há mais de 20 anos, caminhado ao Senado, onde passa-
não deva ser exigido nada para o re- rá por nova fase de debates.
gistro, “exceto para áreas de risco, “Portanto, não temos pressa. Prefe-
mananciais etc.” O Deputado Dr. rimos fazer o mais consensual pos-
Evilásio disse, ao final da Audiência, sível”, acrescentou.
muitas mãos um projeto coletivo, que substituirá uma das leis mais importan-
tes do País, a Lei no 6.766/1979.
Vou participar desta audiência na condição de ouvinte.
Obrigado, Sra Presidente.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Maria do Carmo Lara) – Obrigada,
Deputado Dr. Evilásio.
Registro a presença neste plenário do Deputado Philemon Rodrigues, que
foi Parlamentar por Minas Gerais, mas mudou-se para a Paraíba e hoje é re-
presentante daquele estado nordestino.
Concedo a palavra ao Sr. Carlos Eduardo Ferraz de Matos Barroso, da
Anoreg.
O SR. CARLOS EDUARDO FERRAZ DE MATOS BARROSO – Sra Presi-
dente, Sras e Srs. Deputados, demais colegas da Mesa, em nome da Anoreg
agradeço à Comissão mais um convite para participar desta série de debates.
Diante do tema a ser exposto hoje, contratos e registros, passei algum
tempo pensando se existe algum motivo para que ocorra essa série de
parcelamentos irregulares do solo. Analisei o projeto de lei e tomarei a liberda-
de de tecer comentários sobre algumas situações que entendo podem colabo-
rar para que o parcelamento irregular do solo seja cada vez mais o caminho
escolhido.
Sem abordar outras razões para essa série infinita de loteamentos irre-
gulares, como dificuldade de aprovação diante do Poder Público e observância
de diretrizes de plano piloto, minha primeira preocupação é com a desvaloriza-
ção da forma pública nas transações imobiliárias.
Sinto-me à vontade para dizer que não estou fazendo uma defesa de
classe. Sou registrador há apenas um ano. Exerci a magistratura estadual em
São Paulo durante 13 anos. Sou até muito novo para fazer uma defesa de
classe. Como ex-juiz, preocupo-me muito com as conseqüências do
descumprimento da lei, porque, muito embora às vezes a lei tipifique determi-
nadas rotinas para a aprovação de loteamentos, deve ter como preocupação
ímpar proporcionar aos Poderes Públicos, em especial ao Ministério Público, a
solução para eventuais descumprimentos. A utilização indiscriminada de instru-
mentos particulares, muitas vezes papeluchos, para a alienação de lotes irre-
gulares é um dos principais motivos dessa prática.
Durante este ano de exercício da carreira de registrador, várias vezes vi
gente do povo chegar ao cartório com um simples papel, um termo de cessão
de posse de um lote irregular, querendo fazer uso desse instrumento para fins
de registro. Se o instrumento particular, de um lado, facilita as negociações, de
outro abre um campo muito grande para quem queira vender um imóvel que
nunca lhe pertenceu, fazendo uso da boa-fé do adquirente. É muito comum
que, diante desse instrumento particular, uma pessoa sinta-se proprietária do
imóvel, quando na verdade somente o registro, a alienação pelo dono assegura
esse direito.
A valorização do instrumento público, principalmente para quem hoje exer-
ce a função de registrador, facilitaria tremendamente o serviço. O notário tem
por obrigação inicial, quando da alienação de um lote urbano, conferir se aque-
le lote está efetivamente registrado, se o loteamento é ou não regular, algo que
no instrumento particular não ocorre. Mesmo os instrumentos particulares fir-
mados por empreendedores de loteamentos regulares muitas vezes não são
dignos de registro, em razão de falhas na sua confecção, ou, pode-se assim
dizer, do custo de uma escritura pública, essencial para a transferência defini-
tiva do imóvel – e o próprio projeto prevê isso. Após a quitação do imóvel, em
até 30 dias a escritura definitiva deve ser passada; ou seja, ela é um custo
inerente a qualquer negociação imobiliária.
Não sei se seria chegada a hora de antecipar o custo da escritura pública
para o momento da formação da promessa. Alguém poderia perguntar: Mas
vamos exigir duas escrituras? Não. Existe a forma pública para a promessa,
para a cessão de direitos. Estaríamos apenas garantindo que a escritura públi-
ca verse sobre imóvel efetivamente regular. A partir do momento em que essa
promessa é feita de forma pública, nada impede que a lei preveja que, com a
quitação e a apresentação da certidão de pagamento de tributo, o cidadão
dirija-se ao Registro de Imóveis para consolidar sua propriedade. Esse é um
sistema aproximado do que foi feito com a alienação fiduciária de bem imóvel.
Por que a escritura pública seria interessante não só para o adquirente?
Vamos pensar no empreendedor. Por que o empreendedor muitas vezes faz
uma opção pela irregularidade no seu loteamento, por não submeter-se às
regras legais vigentes? Pelo custo da submissão às normas urbanísticas das
municipalidades e do Estado? Sim. Sem sombra de dúvida, o empreendedor
que faz uso de todas as normas legais para obter um loteamento regular sofre
a concorrência desleal daquele empreendedor que optou pelo loteamento irre-
gular. Os custos são diversos, e o tempo para a aprovação do loteamento é
diverso. A partir do instante em que só autorizarmos a negociação de lotes
urbanos devidamente cadastrados, o empreendedor regular será o único pas-
sível de negociação regular.
186
Comissão de Desenvolvimento Urbano e Interior
o autor relata que havia um sério problema de redação e afirmava que a pro-
posta do senador era muito melhor. Então, sugiro que voltemos à redação an-
terior, que é bem mais simples e clara; diz que os compromissos de compra
e venda, as cessões e promessas de cessão são irretratáveis, atribuem direito
à adjudicação compulsória, e, estando averbados, conferem direito real oponível
a terceiros. Acho que fica mais simples. É uma sugestão. Acho que o art. 47 é
muito ruim, muito mal redigido.
Quanto à regularização fundiária, minha proposta é um pouco mais hu-
milde que a do Edésio. Achei que poderia ser incluído no Capítulo de Regulari-
zação Fundiária tudo o que se refere à regularização fundiária, até mesmo os
atos registrários. O Edésio foi um pouco além; acha que seria melhor criar uma
cessão. De repente podemos ficar com a sugestão do Edésio, de incluir mais
elementos. Mas em relação ao registro do parcelamento, acho que tem de ficar
definidos documentos mínimos para que o Poder Público possa levar o loteamento
para registrar. No Rio de Janeiro só deu certo porque o provimento da
Corregedoria-Geral do Estado definiu os documentos.
Há um artigo, se não me engano o 84, que estabelece que a documentação
não seja a mínima necessária. O que é o mínimo necessário? Cada oficial vai
interpretar de forma diferente. Um vai dizer: “Não, olha, quero isso, quero aquilo,
quero abacaxi”. O outro vai dizer: “Agora quero a laranja”. Então, não podemos
perder a oportunidade de estabelecer, na lei, documentos mínimos para levar
para registrar: notificação do parcelador, declaração da área de especial interes-
se social, projeto, memorial ou minuta, declaração do órgão de meio ambiente.
São alguns documentos que podem ser estabelecidos numa lei federal e que não
vão gerar nenhum tipo de dúvida para os cartórios.
Já que não sabemos quando a Lei de Registros Públicos vai ser modifica-
da, acredito que não se deva perder a oportunidade de incluir na lei os ditos
documentos mínimos, para não ficar com uma redação que não diz nada, que
dá margem a interpretações, e depois o Poder Público vai ficar desesperado
tentando cumprir uma exigência diferenciada em cada cartório.
Deixe-me verificar se há algo mais que eu tenha escrito.
Não quero apenas deixar registrado, já que o Edésio falou que houve uma
reunião sobre regularização fundiária, o art. 63, parágrafo único, que fala das regu-
larizações promovidas por órgãos e entidades do Estado e da União que se subme-
tem à aprovação perante autoridade licenciadora, nos termos do Capítulo IV. Em
momento algum vi nessa lei a citação do instrumento das “ex”. É um instrumento
muito utilizado durante o processo de regularização de assentamentos informais.
nesta comissão e não é apenas deste deputado. Tem que ser uma peça que tenha
a condição de ser aprovada nesta comissão. Como não é terminativo aqui, terá de
ser uma peça com bastante participação para que, quando em plenário, tenhamos
as condições de aprová-lo, lembrando que esse processo ainda não termina nesta
Casa. Temos uma outra Casa pela frente. É por isso que estamos buscando a
tessitura e construção dessa peça a várias mãos.
Coloco-me apenas como um sistematizador em todo esse processo.
Quero dizer que todos serão contemplados na elaboração do novo
substitutivo, este é um pré-projeto e as contribuições de outras audiências
públicas foram grandes por meio das exposições aqui apresentadas.
Deixo meus agradecimentos ao Dr. Carlos Eduardo, ao Dr. Guilherme, ao
Dr. Edésio que já está mais familiarizado com esse projeto e já fez do cami-
nho dessa comissão o caminho da roça, à Dra Ângela e ao Dr. Caio Portugal.
Hoje discutimos pontualmente os contratos e registros, mas peço que
todos fiquem à vontade para abordar capítulos que envolvem esse projeto.
Não vamos ter pressa nem precisamos de celeridade. É como diz aquele ditado
popular: “Cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”. Eu até mesmo
estou ganhando alguns quilos de tanto tomar caldo de galinha. V. Sas fiquem
muito à vontade para contribuir nos outros aspectos com relação a capítulos
que compreendem essa lei que – eu diria – é a Constituição do Solo Urbano do
Brasil. Reconheço a grande contribuição desse projeto para que vivamos num
País cada vez melhor.
Muito obrigado. (Palmas)
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Maria do Carmo Lara) – Deputado Dr.
Evilásio, com caldo de galinha V. Exa está ficando mineiro.
Concedo a palavra ao Dr. Edésio.
O SR. EDÉSIO FERNANDES – Gostaria de pedir desculpas, pois terei que
me ausentar dos debates, mas o Ministério das Cidades continuará sendo aqui
representado pelo arquiteto Dr. Antônio Menezes Júnior que trabalha na equipe
de Regularização Fundiária.
Agradeço mais uma vez o convite. Continuaremos à disposição para tra-
balhar juntos no substitutivo.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Maria do Carmo Lara) – Obrigada, Dr.
Edésio Fernandes.
Temos duas pessoas inscritas para falar, às quais concederei a palavra.
Posteriormente concederei a palavra aos membros da Mesa.
ser exigidas certidões fiscais, assim entendidas as que digam respeito a débitos
provenientes dos imóveis. Há espantosa diversidade de interpretações sobre
esse dispositivo no País. Existem lugares que entendem, até por provimento de
corregedoria ou por portaria do juiz diretor do fórum, que dentro das certidões
fiscais devem-se exigir as certidões estaduais; outros exigem apenas a munici-
pal. Enfim, teríamos assunto para conversar durante bastante tempo.
Para finalizar a manifestação, deputada, e não, os assuntos, temos nos
empenhado, o Ari e eu – o Ari a que a Dra Patrícia se refere é o Presidente da
Anoreg de São Paulo –, junto ao Ministério das Cidades. E temos dito isso
reiteradas vezes, para que a regularização fundiária nas áreas de interesse
social – é muito fácil de ser definido por lei municipal – seja feita em nome do
primeiro possuidor de forma inteiramente gratuita, sem custo absolutamente
algum. Isso inclui isenção de Imposto de Transmissão; de laudêmio, se for
terreno da União ou se for mesmo terreno de outras entidades; gratuidade da
escritura pública; gratuidade de registro. Enfim, deve-se colocar esse registro
de forma absolutamente gratuita no nome do primeiro ocupante de imóveis
situados em área de interesse social. Essa proposta foi levada ao Ministério das
Cidades por essa parceria entre o Instituto de Registro Imobiliário do Brasil –
IRIB, e a Associação de Notários e Registradores – ANOREG.
Se V. Exa me permitir mais uma observação, serei muito rápido pois não
desejo discutir a respeito dela.
Diferentemente da DraA Patrícia – somos de Vitória e brigamos juntos o
tempo todo –, sou partidário de que todas as operações imobiliárias, principal-
mente as que envolvem pessoas de baixa renda, sejam feitas por instrumento
público de forma gratuita. Imaginem V. Exas, é um contra-senso, e está na
legislação brasileira, que a aquisição de um imóvel de 200.000 reais, 500.000
reais ou 1 milhão de reais tenha de ser feita por escritura pública. É diferente
da situação de um imóvel de uma pessoa que mora num lugar totalmente
desassistido de saúde, habitação, de alimentação etc. E esta é a realidade do
Brasil. Este é um enfoque um pouco diferente.
Vejam o que a lei faz: perversamente retira de quem precisa de assistência a
assistência jurídica do profissional, do notário, um profissional do Direito, e obriga
que essa assistência jurídica preliminar seja feita para quem tem recursos, tem
condições de contratar advogado e, via de regra, tem advogado. Então, há uma
diferença entre isso e o que a Dra Patrícia argumenta sobre o contrato particular.
Quando uma concessionária vende um carro de 200.000 reais ou de
500.000 reais – e há carros até muito mais caros –, é uma empresa consolida-
da, com sede definida e um patrimônio que está lá, via de regra, está
capacitada a responder por danos que venham a ser causados àquele com-
prador.
No caso da população de baixa renda, em áreas de interesse social, se
essa atribuição fosse dada por força de lei ao tabelião de notas, uma pessoa
que está estabelecida, é fiscalizado pelo Judiciário, tem endereço definido, te-
oricamente tem formação jurídica e técnica suficiente – e digo isto a cavaleiro,
porque não sou tabelião de notas – e ele tiver que intervir nesse processo e o
fizer de forma errada, pagar do seu bolso o prejuízo causado àquela pessoa,
duvido que teríamos a profusão de vendas de imóveis irregulares. Certamente
propiciaríamos uma redução dessas transações irregulares de forma bastante
extensa, de forma violenta. Se o cidadão precisa, vamos dar-lhe a escritura de
graça; absolutamente não há problema algum. Ao contrário do que pode pare-
cer, o custo – ressalte-se bastante – não é o principal problema. Prevenir con-
duz a melhores resultados do que remediar.
Peço desculpas por ter-me estendido.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Maria do Carmo Lara) – Obrigada, Sr.
Helvécio.
Alguém mais deseja fazer algum comentário rápido?
A SRA. PATRÍCIA GAZZOLA – Em tese não sou contra à idéia do se-
nhor, desde que viabilizemos realmente o acesso à população de baixa de ren-
da. Se se trabalhar o princípio da capacidade contributiva – quem não pode
pagar, não paga; quem pode pagar, paga –, poderemos viabilizar a simplifica-
ção desse procedimento, quando a pessoa fosse fazer a troca do IPTU, porque
a questão é a prática social. Eles não têm a prática social de procurar um
cartório. Portanto, se trabalharmos a gratuidade, não me oponho a essa mu-
dança de paradigma, mas tem de ser simplificado e aproveitada a prática
social. Mas temos de discutir este assunto com calma.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Maria do Carmo Lara) – Vou conceder a
palavra, primeiro, às pessoas da esquerda, depois, às da direita.
Concedo a palavra ao Sr. Carlos Eduardo, representante da Anoreg, para
fazer seus comentários.
O SR. CARLOS EDUARDO FERRAZ DE MATTOS BARROSO – Quero
deixar bem claro que minha defesa do instrumento público é para os loteamentos
a serem criados. É lógico que a regularização demanda sistema muito mais
simplificado, mesmo porque são situações já postas.
ria regular 50 ou 100 ou 200 unidades. Acredito que a lei deve manifestar, de
forma direta ou indireta, essa preocupação, mas deve deixar tanto para esta-
dos e municípios essa regulação, até porque as características deste País, de
tamanho continental, são muito distintas. Se analisarmos a região metropolita-
na de São Paulo, veremos que é uma coisa, a região metropolitana de capitais
menores é outra, e o interior nem se fala.
Em termos gerais, a lei deve trabalhar mais ou menos no mecanismo
feito na parte de regularização fundiária com os ajustes necessários para que
ocorra de fato. Não basta a lei. Ela tem de buscar mecanismos passíveis de
aplicação.
No que diz respeito à regulação da nova produção do desenvolvimento
urbano, acreditamos que deve estar figurada na lei a questão, como aqui está
escrito e que já aparecem algumas sugestões, do loteamento, conhecido como
loteamento aberto – esse que conhecemos, o desmembramento –, que é uma
necessidade, como há necessidade de parcelamentos menores, a questão do
condomínio urbanístico, com a salvaguarda de uma melhor regulação nas uni-
dades municipais, estaduais, a parte que chamamos de loteamento de acesso
controlado, que é um loteamento dito fechado, mas que garante todas as ques-
tões de cumprimento de áreas públicas, tão fundamentais para a administra-
ção da cidade, e a própria questão do direito de ir e vir.
Esperamos que seja passageira a preocupação com segurança e que
o desenvolvimento do País, o crescimento da economia e a melhor distri-
buição de renda façam com que a cidade cresça da forma como foi pensa-
da. A cidade é a coexistência das diferenças, mas não deve admitir núcleos
fechados, estanques, que apresentem diferenças físicas entre as classes
sociais.
Na condição de agente de desenvo e é um dos pontos que necessaria-
mente deve estar previsto na legislação.
Agradeço mais uma vez à Sra Presidente o convite o ao Dr. Evilásio pela
oportunidade desse relatório.
Obrigado.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Maria do Carmo Lara) – Agradecemos a
todos a participação. Houve uma audiência pública só sobre condomínios fe-
chados. Com certeza, nas três audiências, Dr. Evilásio, essa questão apareceu.
Há uma preocupação das pessoas de se fecharem, mas quem está pensando
na questão urbana deve fazê-lo de forma diferente.
O Presidente da República:
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1O O parcelamento do solo para fins urbanos será regido por esta lei.
Parágrafo único. Os estados, o Distrito Federal e os municípios pode-
rão estabelecer normas complementares relativas ao parcelamento do solo
municipal para adequar o previsto nesta lei às peculiaridades regionais e
locais.
CAPÍTULO I
Disposições Preliminares
CAPÍTULO II
Dos Requisitos Urbanísticos para Loteamento
CAPÍTULO III
Do Projeto de Loteamento
CAPÍTULO IV
Do Projeto de Desmembramento
CAPÍTULO V
Da Aprovação do Projeto de Loteamento e Desmembramento
CAPÍTULO VI
Do Registro do Loteamento e Desmembramento
CAPÍTULO VII
Dos Contratos
Art. 31. O contrato particular pode ser transferido por simples trespasse,
lançado no verso das vias em poder das partes, ou por instrumento em separa-
do, declarando-se o número do registro do loteamento, o valor da cessão e a
qualificação do cessionário, para o devido registro.
§ 1O A cessão independe da anuência do loteador, mas, em relação a
este, seus efeitos só se produzem depois de cientificado, por escrito, pelas
partes ou quando registrada a cessão.
§ 2O Uma vez registrada a cessão, feita sem anuência do loteador, o
oficial do registro dar-lhe-á ciência, por escrito, dentro de 10 (dez) dias.
Art. 32. Vencida e não paga a prestação, o contrato será considerado
rescindido 30 (trinta) dias depois de constituído em mora o devedor.
§ 1O Para os fins deste artigo o devedor-adquirente será intimado, a re-
querimento do credor, pelo oficial do registro de imóveis, a satisfazer as pres-
tações vencidas e as que se vencerem até a data do pagamento, os juros
convencionados e as custas de intimação.
§ 2O Purgada a mora, convalescerá o contrato.
§ 3O Com a certidão de não haver sido feito o pagamento em cartório, o
vendedor requererá ao oficial do registro o cancelamento da averbação.
Art. 33. Se o credor das prestações se recusar a recebê-las ou furtar se
ao seu recebimento, será constituído em mora mediante notificação do oficial
do registro de imóveis para vir receber as importâncias depositadas pelo deve-
dor no próprio Registro de Imóveis. Decorridos 15 (quinze) dias após o recebi-
mento da intimação, considerar-se-á efetuado o pagamento, a menos que o
credor impugne o depósito e, alegando inadimplemento do devedor, requeira a
intimação deste para os fins do disposto no art. 32 desta lei.
Art. 34. Em qualquer caso de rescisão por inadimplemento do adquirente,
as benfeitorias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel deverão
ser indenizadas, sendo de nenhum efeito qualquer disposição contratual em
contrário.
Parágrafo único. Não serão indenizadas as benfeitorias feitas em
desconformidade com o contrato ou com a lei.
Art. 35. Ocorrendo o cancelamento do registro por inadimplemento do
contrato e tendo havido o pagamento de mais de um terço do preço ajustado,
o oficial do Registro de Imóveis mencionará este fato no ato do cancelamento e
a quantia paga; somente será efetuado novo registro relativo ao mesmo lote,
se for comprovada a restituição do valor pago pelo vendedor ao titular do regis-
CAPÍTULO VIII
Disposições Gerais
ou do Distrito Federal quando for o caso, para integrar o processo judicial aqui
previsto, bem como audiência do Ministério Público.
§ 4O Após o reconhecimento judicial de regularidade do loteamento, o
loteador notificará os adquirentes dos lotes, por intermédio do Registro de Imó-
veis competente, para que passem a pagar diretamente as prestações restan-
tes, a contar da data da notificação.
§ 5O No caso de o loteador deixar de atender à notificação até o venci-
mento do prazo contratual, ou quando o loteamento ou desmembramento for
regularizado pela Prefeitura Municipal, ou pelo Distrito Federal quando for o
caso, nos termos do art. 40 desta lei, o loteador não poderá, a qualquer título,
exigir o recebimento das prestações depositadas.
Art. 39. Será nula de pleno direito a cláusula de rescisão de contrato por
inadimplemento do adquirente, quando o loteamento não estiver regularmente
inscrito.
Art. 40. A Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal quando for o
caso, se desatendida pelo loteador a notificação, poderá regularizar
loteamento ou desmembramento não autorizado ou executado sem obser-
vância das determinações do ato administrativo de licença, para evitar le-
são aos seus padrões de desenvolvimento urbano e na defesa dos direitos
dos adquirentes de lotes.
§ 1O A Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal quando for o caso, que
promover a regularização, na forma deste artigo, obterá judicialmente o levan-
tamento das prestações depositadas, com os respectivos acréscimos de corre-
ção monetária e juros, nos termos do § 1O do art. 38 desta lei, a título de
ressarcimento das importâncias despendidas com equipamentos urbanos ou
expropriações necessárias para regularizar o loteamento ou desmembramento.
§ 2O As importâncias despendidas pela Prefeitura Municipal, ou pelo Dis-
trito Federal quando for o caso, para regularizar o loteamento ou
desmembramento, caso não sejam integralmente ressarcidas conforme o dis-
posto no parágrafo anterior, serão exigidas na parte faltante do loteador, apli-
cando-se o disposto no art. 47 desta lei.
§ 3O No caso de o loteador não cumprir o estabelecido no parágrafo ante-
rior, a Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal quando for o caso, poderá
receber as prestações dos adquirentes, até o valor devido.
§ 4O A Prefeitura Municipal, ou o Distrito Federal quando for o caso, para
assegurar a regularização do loteamento ou desmembramento, bem como o
ressarcimento integral de importâncias despendidas, ou a despender, poderá
Art. 49. As intimações e notificações previstas nesta lei deverão ser fei-
tas pessoalmente ao intimado ou notificado, que assinará o comprovante do
recebimento, e poderão igualmente ser promovidas por meio dos Cartórios de
Registro de Títulos e Documentos da comarca da situação do imóvel ou do
domicílio de quem deva recebê-las.
§ 1O Se o destinatário se recusar a dar recibo ou se furtar ao recebimen-
to, ou se for desconhecido o seu paradeiro, o funcionário incumbido da diligên-
cia informará esta circunstância ao oficial competente que a certificará, sob
sua responsabilidade.
§ 2O Certificada a ocorrência dos fatos mencionados no parágrafo ante-
rior, a intimação ou notificação será feita por edital na forma desta lei, come-
çando o prazo a correr 10 (dez) dias após a última publicação.
CAPÍTULO IX
Disposições Penais
CAPÍTULO X
Disposições Finais
Art. 53. Todas as alterações de uso do solo rural para fins urbanos de-
penderão de prévia audiência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária – INCRA, do Órgão Metropolitano, se houver, onde se localiza o municí-
pio, e da aprovação da Prefeitura Municipal, ou do Distrito Federal quando for o
caso, segundo as exigências da legislação pertinente.
Art. 53-A. São considerados de interesse público os parcelamentos
vinculados a planos ou programas habitacionais de iniciativa das prefeituras
municipais e do Distrito Federal, ou entidades autorizadas por lei, em espe-
cial as regularizações de parcelamentos e de assentamentos. (Incluído pela
Lei n O 9.785, 29-1-99)
Parágrafo único. Às ações e intervenções de que trata este artigo não
será exigível documentação que não seja a mínima necessária e indispensável
aos registros no cartório competente, inclusive sob a forma de certidões, veda-
das as exigências e as sanções pertinentes aos particulares, especialmente
aquelas que visem garantir a realização de obras e serviços, ou que visem
prevenir questões de domínio de glebas, que se presumirão asseguradas pelo
Poder Público respectivo. (Incluído pela Lei n O 9.785, 29-1-99)
COMISSÃO DE DESENVOLVIMENTO
URBANO E INTERIOR
SECRETÁRIO
James Lewis Gorman Júnior
CORPO TÉCNICO
Admar Pires dos Santos,
Ana Kátia Martins Bertholdo,
Cláudia Neiva Peixoto,
Cláudio Renato Kuck,
Eliana Navarro Garcia,
Eloneide Rodrigues dos Santos Sampaio,
Emerson Paranhos Santos,
Francisco Augusto de Queiroz,
Francisco Nascimento da Silva,
Inga Michele Ferreira Carvalho,
Jaime Ferreira Lopes,
Régia Maria Moraes,
Renata Campos Aranha
Endereço:
Câmara dos Deputados, Anexo II, Ala C – Superior, Sala 188
CEP 70160-900 – Brasília – DF
Telefones: (61) 216-6550/55
Fax: 216-6560
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