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Resumo
Introdução
Tornou-se lugar- comum no Brasil lembrar que 40 milhões de
pessoas saíram da pobreza na última década. No entanto, o “Mapa da Violência de
2013 – os homicídios de jovens no Brasil” conta que os “12 maiores conflitos – que
ocasionaram 81,4% do total de mortes diretas no total dos 62 conflitos – vitimaram
169.574 pessoas nos últimos quatro anos computados. No Brasil, país sem disputas
territoriais, (...) foram contabilizados, nos últimos quatro anos disponíveis – 2008 a
2011 –, um total de 206.005 vítimas de homicídios, número bem superior aos 12
maiores conflitos armados acontecido no mundo entre 2004 e 2007, quase o
que os 62 conflitos armados do mundo todo no mesmo período” (WAISELFISZ,
2013: p. 28 a 30).
1 Este texto dá continuidade a uma reflexão e agenda de pesquisa iniciada em 2009, quando comecei
a estudar e escrever sobre a mobilização da juventude negra no Brasil, época em que ganhava relevo
a denúncia contra o chamado “genocídio da juventude negra”. Assim, este projeto soma-se a uma
monografia (2011), papers apresentados em congressos nacionais e internacionais, uma dissertação
e o envolvimento com pesquisas sobre violência e relações raciais.
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mostrava negros e jovens sobrerrepresentados entre as vítimas da letalidade policial
do Estado paulista.
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direito deixa a população negra morrer, é o mesmo que tenta fazer a juventude negra
viver?” (RAMOS, no prelo).
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Fonte: http://uneafrobrasil.blogspot.com.br/2011/03/voce-esta-
convocadao.html
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É consolidada a visão de que o Estado é o detentor do monopólio
legítimo do exercício da violência (WEBER, 2004). Entretanto, guerras étnicas, civis,
conflitos como o entre Israel e Palestina, violações de direitos humanos etc. levaram à
identificação de um novo paradigma de violência (WIEVIORKA, 1997), que considera
um conjunto de transformações sociais políticas e no qual o inimigo do Estado não é
a outra nação, mas muitas vezes são grupos investidos de uma mesma missão
(ADORNO e DIAS, 2014: p. 187). Por outro lado, em contextos de “divisão racial”,
como em países europeus, nos Estados Unidos e n a América Latina, a ação
repressiva do Estado é aumentada pela “afinidade eletiva entre raça e punição”
(WACQUANT, 2014). É este um primeiro corpo referencial no qual a questão racial
tem um lugar destacado na interpretação sobre violência.
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relações raciais são variações de uma mesma pergunta: qual é/como se dá a
integração dos negros à sociedade brasileira? Pesquisas sobre a competitividade no
mercado de trabalho, a discriminação e o preconceito, a pertinência da cor na
sociabilidade comunitária, as lutas antirracistas, as grandes agendas de pesquisa
sobre relações raciais, tudo isso passou, quando muito, pela tangente do tema da
violência, seja esta interpessoal ou policial conduzida pelo Estado.
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Outro lado desta perspectiva é que no Brasil a violência seria criada
pela mídia com um propósito, ainda que indireto, de ativar dispositivos de poder
estatal ou privado a fim de controlar as camadas mais pobres ou marginalizadas da
população. É nesta esteira que se encontram questões como a escalada da
sensação de insegurança independentemente do aumento da violência. A mídia
tematiza a violência, e o Estado sente-se pressionado a dar respostas e aumentar a
vigilância e o controle, levando a um maior controle de ilegalidades, que, por sua
vez, alimenta as notícias para que a mídia complete o ciclo, voltando a tematizar
a violência. Ocorre, assim, uma profecia que se autorrealiza: quanto maior o
controle da criminalidade, maior será a detecção das ilegalidades (Silva, 2014: p.
14).
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social desse fenômeno” (Silva, 2014: p. 22). Nela, o Estado surge como perpetrador
da violência, seja pela repressão aos mais pobres, seja pela omissão de
direitos sociais. As mazelas sociais seriam a causa mais profunda da violência, e a
solução para ela viria da profunda transformação da estrutura social. Porém, a
crítica à situação de violência e à segurança poderia incrementar aparatos
repressivos e agravar a violência contra populações pobres. É o que demonstra
Flauzina (2006), em sua dissertação de mestrado, ao relacionar o encarceramento de
negros. Sua construção teórica e argumentativa perfaz uma boa síntese, mas
não apresenta um quadro empírico para ser analisado.
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Os estudos citados perfazem um quadro bastante recente do que tem
sido produzido no Brasil de mais relevância em termos de relações raciais e
violência/segurança. Todos são produções de pesquisadores e pesquisadoras
ligados ao campo da segurança pública e da violência pública. Exceção se faz em
Ribeiro (2009) e cujo autor é Oficial da Polícia Militar e produziu no campo da
educação, e SANSONE (2002).
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