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Informativo 643-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
FUNDEF
É vedada a retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito relativo a diferenças do FUNDEF.
DIREITO MILITAR
Nos casos em que não há nexo de causalidade entre a moléstia sofrida e a prestação do serviço militar e o militar
temporário não estável é considerado incapaz somente para as atividades próprias do Exército, é cabível a
desincorporação.
DIREITO AMBIENTAL
CÓDIGO FLORESTAL
A legislação municipal não pode reduzir a proteção conferida às áreas de preservação permanente previstas pelo
Código Florestal.
DIREITO CIVIL
CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS
A abusiva a resilição unilateral e imotivada do contrato de prestação de serviços advocatícios na hipótese em que
houver cláusula de êxito.
DIVÓRCIO
Ação de partilha posterior ao divórcio deve tramitar no juízo que decretou o divórcio, mesmo que um dos ex-
cônjuges tenha mudado de domicílio e se tornado incapaz.
JUSTIÇA GRATUITA
Caso a parte faça o requerimento da gratuidade da justiça no recurso e o relator indefira o pedido, deverá intimar
o recorrente para realizar o preparo antes de decretar a deserção.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
É vedada a retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito relativo a diferenças do FUNDEF.
ASTREINTES
A Súmula 410 do STJ continuou válida mesmo após a edição das Leis nº 11.232/2005 e 11.382/2006 e mesmo depois
que entrou em vigor o CPC/2015.
AGRAVO DE INSTRUMENTO
A decisão interlocutória que rejeita a ocorrência de prescrição ou decadência é uma decisão de mérito, que enseja
a agravo de instrumento com base no inciso II do art. 1.015 do CPC/2015.
Se a parte ajuizou ação urgente sem juntar procuração (art. 37 do CPC/1973), ela também poderá, dentro do prazo
de 15 dias previsto neste dispositivo, interpor recurso sem procuração.
EXECUÇÃO
É possível a cumulação da verba honorária fixada nos embargos à execução com a arbitrada na própria execução
contra a Fazenda Pública, vedada a compensação entre ambas.
DIREITOS DIFUSOS
Transportadora pode ser condenada, em ACP, a não trafegar com excesso de peso nas rodovias, sob pena de multa
civil (astreinte), e, além disso, ser condenada a pagar indenização por danos morais coletivos e danos materiais.
DIREITO PENAL
DOSIMETRIA DA PENA
A existência de condenações definitivas anteriores não se presta a fundamentar o aumento da pena-base como
personalidade voltada para o crime.
DIREITO TRIBUTÁRIO
COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA
Comprovação que é necessária para o MS impetrado objetivando a declaração do direito à compensação tributária.
PROTESTO DE CDA
É possível o protesto de CDA.
DIREITO ADUANEIRO
O termo inicial para fins de multa e juros moratórios que decorrem da não exportação de produtos que foram isentos
do recolhimento de tributos em razão do Drawback-suspensão é a data em que se encerra a condição suspensiva.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
DECADÊNCIA
O prazo decadencial de 10 anos (art. 103 da Lei 8.213/91) aplica-se para o requerimento de benefício previdenciário
mais vantajoso, cujo direito fora adquirido em data anterior à implementação do benefício previdenciário ora em
manutenção.
DIREITO ADMINISTRATIVO
FUNDEF
É vedada a retenção de honorários advocatícios contratuais
sobre crédito relativo a diferenças do FUNDEF
Mudança de entendimento!
Atualize o Info 585-STJ
Importante!!!
É vedada a retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito relativo a diferenças
do FUNDEF.
Os valores relacionados ao FUNDEF, hoje FUNDEB, encontram-se constitucional e legalmente
vinculados ao custeio da educação básica e à valorização do seu magistério, sendo vedada a
sua utilização em despesa diversa, tais como honorários advocatícios contratuais.
Ex: determinado Município do interior do Estado ingressou com ação contra a União com o
objetivo de conseguir o repasse integral de verbas do FUNDEF. Como o Município não possuía
procuradores municipais concursados, foi contratado um escritório de advocacia privado
para patrocinar a causa. No contrato assinado com os advogados ficou combinado que, se o
Município vencesse a demanda, pagaria 20% do valor da causa ao escritório. O pedido foi
julgado procedente e transitou em julgado. O Município requereu, então, que 20% do valor da
condenação (verbas do FUNDEF a serem pagas pela União) fosse separado para pagamento
dos honorários contratuais dos advogados que atuaram na causa, nos termos do art. 22, § 4º
da Lei nº 8.906/94. Esse pedido não deve ser acolhido. Não é possível a aplicação do art. 22, §
4º, da Lei nº 8.906/1994 nas execuções contra a União em que se persigam quantias devidas
ao FUNDEF/FUNDEB, devendo o advogado credor buscar a satisfação de seu crédito por outros
meios.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.703.697-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10/10/2018 (Info 643).
DIREITO MILITAR
Nos casos em que não há nexo de causalidade entre a moléstia sofrida e a prestação do serviço
militar e o militar temporário não estável é considerado incapaz somente para as atividades
próprias do Exército, é cabível a desincorporação
O militar temporário não estável, considerado incapaz apenas para o serviço militar, somente
terá direito à reforma ex officio se comprovar o nexo de causalidade entre a moléstia sofrida e
a prestação das atividades militares.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.123.371-RS, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. Acd. Min. Mauro Campbell
Marques, julgado em 19/09/2018 (Info 643).
Existem dois grupos de militares estáveis: O militar temporário é aquele que permanece na
a) militares de carreira; e os ativa por prazo determinado e enquanto for da
b) praças com estabilidade. conveniência da administração militar.
Militar de carreira: são os da ativa que, no Destina-se a completar as Armas e os Quadros de
desempenho voluntário e permanente do serviço Oficiais e as diversas Qualificações Militares de
militar, tenham vitaliciedade assegurada ou Praças.
presumida. Ex: o oficial militar de carreira oriundo Está previsto no art. 3º, II, da Lei nº 6.391/76 (Lei
da Academia Militar de Agulhas Negras. que trata sobre o Pessoal do Ministério do
Praça com estabilidade: é aquele com 10 anos ou Exército.
mais de efetivo serviço.
Possuem um vínculo permanente com as Forças Possuem um vínculo precário e por tempo
Armadas. determinado com as Forças Armadas.
No caso de o militar temporário contar com mais de 10 anos de efetivo serviço e preencher os demais
requisitos legais autorizadores ele adquirirá a estabilidade no serviço militar (art. 50, IV, “a”, da Lei nº
6.880/80), não podendo ser livremente licenciado ex ofício:
Art. 50. São direitos dos militares:
IV - nas condições ou nas limitações impostas na legislação e regulamentação específicas:
a) a estabilidade, quando praça com 10 (dez) ou mais anos de tempo de efetivo serviço;
No entanto, antes de alcançada a estabilidade, o militar não estável poderá ser licenciado ex officio, sem
direito a qualquer remuneração posterior.
A reforma por incapacidade pode de estágio; b) por conveniência do por conveniência do serviço; d) a
atingir tanto militares estáveis serviço; c) a bem da disciplina. bem da disciplina.
como temporários.
Em regra, não é possível o retorno. Em regra, não é possível o retorno. É possível o retorno ao serviço ativo
(o reservista pode ser convocado).
É sempre remunerada (militar Não é remunerada (o licenciado não Como o próprio nome indica, o
reformado continuará recebendo). continuará recebendo). reservista continuará recebendo.
Portanto, nos casos em que não há nexo de causalidade entre a moléstia sofrida e a prestação do serviço
militar e o militar temporário não estável é considerado incapaz somente para as atividades próprias do
Exército, é cabível a desincorporação, nos termos do art. 94 da Lei nº 6.880/80 c/c o art. 31 da Lei de
Serviço Militar e o art. 140 do seu Regulamento - Decreto nº 57.654/1966.
Em suma:
O militar temporário não estável, considerado incapaz apenas para o serviço militar, somente terá
direito à reforma ex officio se comprovar o nexo de causalidade entre a moléstia sofrida e a prestação
das atividades militares.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.123.371-RS, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. Acd. Min. Mauro Campbell Marques,
julgado em 19/09/2018 (Info 643).
DIREITO AMBIENTAL
CÓDIGO FLORESTAL
A legislação municipal não pode reduzir a proteção conferida às áreas de preservação
permanente previstas pelo Código Florestal
A legislação municipal não pode reduzir o patamar mínimo de proteção marginal dos cursos
d'água, em toda sua extensão, fixado pelo Código Florestal.
A norma federal conferiu uma proteção mínima, cabendo à legislação municipal apenas
intensificar o grau de proteção às margens dos cursos d'água, ou quando muito, manter o
patamar de proteção (jamais reduzir a proteção ambiental).
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.312.435-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 07/02/2019 (Info 643).
Diante disso, o Ministério Público ajuizou ação civil pública contra a empresa pedindo que ela fosse
condenada a:
A empresa contestou a ação afirmando que existe lei municipal considera como área de preservação
permanente a faixa de 15 metros de largura para os cursos d’água de menos de 10 metros de largura.
Em outras palavras, o antigo (e o atual) Código Florestal previa/prevê que a APP é de 30 metros e a lei
municipal de 15 metros.
A ré, contudo, invocou o parágrafo único do art. 2º do antigo Código Florestal, que dizia o seguinte:
Art. 2º (...)
Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros
urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em
todo o território abrangido, obervar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso
do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo.
Assim, para a empresa, em razão deste parágrafo único, deveria prevalecer o critério escolhido pelo
legislador municipal.
Antinomia
A antinomia ocorre quando existem duas normas jurídicas conflitam entre si fazendo com que surja uma
dúvida no intérprete sobre qual delas deverá ser aplicada no caso concreto.
Existem duas espécies de antinomia:
a) antinomia APARENTE: ocorre quando a incompatibilidade entre as duas normas pode ser resolvida por
meio de um dos critérios de solução dos conflitos. É chamada de aparente porque, na verdade, só uma
das normas será aplicada, fazendo com que a incompatibilidade desapareça.
Há três critérios para solução das antinomias aparentes.
i) critério cronológico: a norma posterior prevalece sobre a anterior;
ii) critério da especialidade: a norma especial (específica) prevalece sobre a geral;
iii) critério hierárquico: a norma superior prevalece sobre a inferior.
b) antinomia REAL: ocorre quando o conflito entre as normas não pode ser resolvido mediante a utilização
dos critérios acima explicados.
Ex: norma X (superior, mas geral) conflita com a norma Y (inferior, porém especial).
Veja que há uma mistura entre os critérios e não se pode apontar qual norma venceria esta disputa com
base apenas nos critérios para solução de antinomias.
Desse modo, a antinomia real torna impossível a convivência normativa, gerando o afastamento de uma
das normas por meio da interpretação ab-rogante. Já a antinomia aparente permite a conciliação entre os
dispositivos supostamente diversos por meio da técnica da interpretação corretiva.
Antinomia real
Nesta situação, temos uma hipótese de antinomia real entre a norma federal e a norma municipal.
Nesse diapasão, cumpre verificar o valor jurídico-positivo apto a elucidar a antinomia.
A competência legislativa em matéria ambiental é concorrente entre a União, Estados e os Municípios.
Compete à União a competência para legislar sobre normas gerais, e aos Estados, ao Distrito Federal e aso
Municípios a competência para suplementar estas normas gerais.
Existindo omissão legislativa por parte da União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios podem
editar as normas gerais.
Em suma:
A legislação municipal não pode reduzir o patamar mínimo de proteção marginal dos cursos d'água, em
toda sua extensão, fixado pelo Código Florestal.
A norma federal conferiu uma proteção mínima, cabendo à legislação municipal apenas intensificar o
grau de proteção às margens dos cursos d'água, ou quando muito, manter o patamar de proteção
(jamais reduzir a proteção ambiental).
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.312.435-RJ, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 07/02/2019 (Info 643).
Ocorre que, segundo alega o Ministério Público, toneladas de rejeitos de minérios (com elevado teor de
chumbo) foram deixadas no local, à céu aberto, sem a menor proteção. Esses rejeitos foram carregados
pelas chuvas até o leito do Rio Ribeira, causando graves danos ambientais.
Além disso, a poeira tóxica foi levada pelo vento e aspirada pela população da cidade e dos arredores,
gerando danos para a saúde da população local. Diversos moradores da região se contaminaram com
chumbo, conforme apontam estudos científicos realizados com amostras de sangue coletadas.
Ações individuais
As ações coletivas ganharam grande destaque na imprensa e os moradores passaram a ter consciência do
risco e dos danos que estiveram submetidos.
Assim, além das ações coletivas, os moradores do local passaram a ingressar com ações individuais
pedindo indenização por danos morais.
Tais ações individuais foram propostas na Justiça Estadual.
Curiosidade: até 2016, havia mais de 2.230 ações individuais sobre o tema.
Condenação genérica
Em caso de procedência do pedido formulado nas ações civis públicas, a condenação da empresa será
genérica, fixando a responsabilidade da ré pelos danos causados, nos termos do art. 95 do CDC:
Obs: o art. 95 do CDC aplica-se, indiscutivelmente, ao presente caso considerando que os artigos presentes
no Capítulo II do Título III do CDC (onde está o art. 95) e a Lei de Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85)
formam, em conjunto, um microssistema próprio do processo coletivo, devendo ser, portanto,
interpretados sistematicamente. É o que prevê o art. 21 da LACP:
Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for
cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor.
Assistência
Vale ressaltar que, em tese, seria possível que os lesados ingressassem nas ações coletivas como
litisconsortes, conforme prevê o art. 94 do CDC:
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados
possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos meios
de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.
Essa possibilidade de litisconsórcio, contudo, é excepcional, e deverá ser examinada com temperamento,
uma vez que existem peculiaridades processuais que deverão ser adequadas à respectiva tutela coletiva,
pois, apesar de assumir a condição de litisconsorte (facultativo e unitário - em que a decisão deverá ser
uniforme com relação a todos), não poderá apresentar novas demandas, ampliando o objeto litigioso da
ação coletiva à consideração de seus direitos pessoais, o que contrariaria todo o espírito de
“molecularização” da causa.
Em suma:
Até o trânsito em julgado das Ações Civis Públicas n. 5004891-93.2011.4004.7000 e n.
2001.70.00.019188-2, em tramitação na Vara Federal Ambiental, Agrária e Residual de Curitiba,
atinentes à macrolide geradora de processos multitudinários em razão de suposta exposição à
contaminação ambiental decorrente da exploração de jazida de chumbo no Município de Adrianópolis-
PR, deverão ficar suspensas as ações individuais.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.525.327-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/12/2018 (recurso
repetitivo) (Info 643).
Conceito
A ideia geral da Justiça Multiportas é, portanto, a de que a atividade jurisdicional estatal não é a única nem
a principal opção das partes para colocarem fim ao litígio, existindo outras possibilidades de pacificação
social. Assim, para cada tipo de litígio existe uma forma mais adequada de solução. A jurisdição estatal é
apenas mais uma dessas opções.
Como o CPC/2015 prevê expressamente a possibilidade da arbitragem (art. 3, §1º) e a obrigatoriedade,
como regra geral, de ser designada audiência de mediação ou conciliação (art. 334, caput), vários
doutrinadores afirmam que o novo Código teria adotado o modelo ou sistema multiportas de solução de
litígios (multi-door system).
Vejamos como Leonardo Cunha, com seu costumeiro brilhantismo, explica o tema:
“Costumam-se chamar de ‘meios alternativos de resolução de conflitos’ a mediação, a conciliação
e a arbitragem (Alternative Dispute Resolution - ADR).
Estudos mais recentes demonstram que tais meios não seriam ‘alternativos’: mas sim integrados,
formando um modelo de sistema de justiça multiportas. Para cada tipo de controvérsia, seria
adequada uma forma de solução, de modo que há casos em que a melhor solução há de ser obtida
pela mediação, enquanto outros, pela conciliação, outros, pela arbitragem e, finalmente, os que
se resolveriam pela decisão do juiz estatal.
Há casos, então, em que o meio alternativo é que seria o da justiça estatal. A expressão multiportas
decorre de uma metáfora: seria como se houvesse, no átrio do fórum, várias portas; a depender
do problema apresentado, as partes seriam encaminhadas para a porta da mediação, ou da
conciliação, ou da arbitragem, ou da própria justiça estatal.
O direito brasileiro, a partir da Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de Justiça e com o
Código de Processo Civil de 2015, caminha para a construção de um processo civil e sistema de
justiça multiportas, com cada caso sendo indicado para o método ou técnica mais adequada para
a solução do conflito. O Judiciário deixa de ser um lugar de julgamento apenas para ser um local
de resolução de disputas. Trata-se de uma importante mudança paradigmática. Não basta que o
caso seja julgado; é preciso que seja conferida uma solução adequada que faça com que as partes
saiam satisfeitas com o resultado.” (CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em Juízo.
13ª ed., Rio de Janeiro: Forense, p. 637).
Vantagens
Marco Aurélio Peixoto e Renata Peixoto, citando a lição de Rafael Alves de Almeida, Tânia Almeida e
Mariana Hernandez Crespo apontam as vantagens do sistema multiportas:
a) o cidadão assumiria o protagonismo da solução de seu problema, com maior comprometimento e
responsabilização acerca dos resultados;
b) estimulo à autocomposição;
c) maior eficiência do Poder Judiciário, porquanto caberia à solução jurisdicional apenas os casos mais
complexos, quando inviável a solução por outros meios ou quando as partes assim o desejassem;
d) transparência, ante o conhecimento prévio pelas partes acerca dos procedimentos disponíveis para a
solução do conflito.
(PEIXOTO, Marco Aurélio Ventura; PEIXOTO, Renata Cortez Vieira. Fazenda Pública e Execução. Salvador:
Juspodivm, 2018, p. 118).
Origem da expressão
A origem dessa expressão “Justiça Multiportas” remonta os estudos do Professor Frank Sander, da
Faculdade de Direito de Harvard, que mencionava, já em 1976, a necessidade de existir um Tribunal
Multiportas, ou “centro abrangente de justiça”.
DIREITO CIVIL
palavras, existia uma pressão muito forte da OAB para proibir que os advogados fizessem contratos de
honorários com cláusula ad exitum.
Em 2010, o Conselho Federal da OAB decidiu que o contrato de prestação de serviços jurídicos com cláusula
quota litis, em princípio, por si só, não fere o regime ético-disciplinar. No entanto, segundo a OAB, este tipo
de contrato deve ser excepcional (quando a parte não tiver condições de pagar antecipadamente), não
podendo o advogado transformá-lo em algo corriqueiro (Consulta 2010.29.03728-01).
O cliente, ao fazer a resilição unilateral e injustificada do contrato praticou um ato antijurídico porque
violou o dever que ele tinha de agir segundo os padrões de lealdade e confiança previamente
estabelecidos, frustrando, assim, inesperadamente, a justa expectativa criada na outra parte (advogado)
de que iria acompanhar o processo até o fim.
O cliente, ao fazer a resilição unilateral, prejudica também o advogado, ao menos de forma potencial,
porque tira deste profissional a possibilidade de continuar fazendo todo o esforço necessário para
conseguir ter êxito na ação e, assim, receber a remuneração combinada.
Com esse comportamento, enfim, o cliente impõe infundado obstáculo ao implemento da condição – êxito
na demanda – estipulada no contrato de prestação de serviços advocatícios, impedindo que o advogado
faça jus à devida remuneração.
Em suma:
Configura abuso de direito a denúncia imotivada pelo cliente de contrato de prestação de serviços
advocatícios firmado com cláusula de êxito antes do resultado final do processo, salvo quando houver
estipulação contratual que a autorize ou quando ocorrer fato superveniente que a justifique.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.724.441-TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/02/2019 (Info 643).
Diante deste fato, o que deve ser feito? O advogado terá direito à remuneração?
SIM. Em situações como essa, o STJ tem afirmado que deverão ser arbitrados honorários para remunerar
o advogado pelo trabalho desempenhado até o momento da resilição unilateral e imotivada do contrato
pelo cliente, a fim de evitar o locupletamento ilícito deste com a atividade realizada por aquele.
Aplica-se, por analogia, o art. 22, § 2º do Estatuto da OAB:
Art. 22 (...)
§ 2º Na falta de estipulação ou de acordo, os honorários são fixados por arbitramento judicial, em
remuneração compatível com o trabalho e o valor econômico da questão, não podendo ser
inferiores aos estabelecidos na tabela organizada pelo Conselho Seccional da OAB.
Nas hipóteses em que a revogação do mandato dá-se por iniciativa do constituinte (mandante), é
facultado ao advogado mandatário propor ação de arbitramento judicial dos honorários advocatícios
contratuais, ainda que avençados sob a cláusula ad exitum.
STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 1138656/RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2018.
(...) 6. Não se aplica o art. 22, § 4º, da Lei n. 8.906/1994 quando o advogado não mais representa a parte,
devendo para tal fim ajuizar ação autônoma para cobrança dos valores.
7. Os advogados têm direito ao arbitramento judicial de honorários na hipótese de resilição unilateral do
contrato por parte do cliente. Precedentes.
8. Possibilidade de arbitramento judicial em ação de conhecimento que versa sobre o próprio contrato de
prestação de serviços advocatícios. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1632766/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/06/2017.
Vale ressaltar que, mesmo ainda não tendo havido o julgamento definitivo do processo, já será possível
ocorrer o arbitramento dos honorários a serem pagos ao advogado. Em outras palavras, João já poderá
ser condenado a pagar os honorários pelos serviços desempenhados por Dr. Ruy mesmo antes do trânsito
em julgado da ação de indenização.
DIVÓRCIO
Ação de partilha posterior ao divórcio deve tramitar no juízo que decretou o divórcio, mesmo
que um dos ex-cônjuges tenha mudado de domicílio e se tornado incapaz
Importante!!!
A incapacidade superveniente de uma das partes, após a decretação do divórcio, não tem o
condão de alterar a competência funcional do juízo prevento.
Assim, a ação de partilha posterior ao divórcio deve tramitar no juízo que decretou o divórcio,
mesmo que um dos ex-cônjuges tenha mudado de domicílio e se tornado incapaz.
Não se aplica, no caso a regra do art. 50 do CPC/2015, que prevê a competência do domicílio
do incapaz (competência territorial especial). Isso porque a competência funcional,
decorrente da acessoriedade entre as ações de divórcio e partilha, possui natureza absoluta.
Por outro lado, a competência territorial especial conferida ao autor incapaz, apesar de ter
como efeito o afastamento das normas gerais previstas no diploma processual, possui
natureza relativa.
As regras de competência absoluta preponderam em relação às das de competência relativa.
STJ. 2ª Seção. CC 160.329-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/02/2019 (Info 643).
Flávio Tartuce explica que a partilha posterior dos bens pode ser efetivada por meio de três caminhos
(Manual de Direito Civil. Volume único. São Paulo: Método, 2011, p. 1.075):
• nos próprios autos da ação de divórcio;
• em ação autônoma de partilha de bens (que também deverá tramitar na vara de família);
• por escritura pública de partilha extrajudicial (Lei nº 11.441/2007).
Havendo partilha posterior ao divórcio, surge um critério de competência funcional do juízo que decretou
a dissolução da sociedade conjugal, em razão da acessoriedade entre as duas ações (art. 61 do CPC/2015):
Art. 61. A ação acessória será proposta no juízo competente para a ação principal.
Há, entre as duas demandas (divórcio e partilha), uma interligação decorrente da unidade do conflito de
interesses, pois a partilha é decorrência lógica do divórcio. Existe uma relação de conexão substancial
entre as ações, o que gera a prevenção do juízo que julgou a ação de divórcio.
Em outras palavras, o legislador permitiu a partilha posterior, mas esta deverá ser feita no mesmo juízo
do divórcio.
Trata-se de regra especial de competência territorial que protege o incapaz, por considerá-lo parte mais
frágil na relação jurídica.
João, por sua vez, insistiu que a competência seria da 5ª Vara de Família de BH em razão da prevenção.
Temos, então, no caso, um conflito entre uma regra de competência funcional (prevenção por
acessoriedade) e outra de competência territorial especial (domicílio do incapaz). O que prevaleceu?
Qual o juízo competente para essa ação de partilha posterior?
Prevaleceu a regra de competência funcional (prevenção por acessoriedade).
Será competente para essa ação o juízo da 5ª Vara de Família de Belo Horizonte.
A competência absoluta não admite, em regra, derrogação, prorrogação ou modificação, sendo que a
ulterior incapacidade de uma das partes (regra especial de competência relativa) não altera o Juízo prevento.
Em suma:
A incapacidade superveniente de uma das partes, após a decretação do divórcio, não tem o condão de
alterar a competência funcional do juízo prevento.
STJ. 2ª Seção. CC 160.329-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/02/2019 (Info 643).
DIREITO NOTARIAL
E REGISTRAL
PROTESTO DE CDA
É possível o protesto de CDA
Importante!!!
A Fazenda Pública possui interesse e pode efetivar o protesto da CDA, documento de dívida,
na forma do art. 1º, parágrafo único, da Lei n. 9.492/1997, com a redação dada pela Lei nº
12.767/2012.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.686.659-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/11/2018 (recurso
repetitivo) (Info 643).
Regulamentação:
O protesto é regulado pela Lei nº 9.492/97.
3) Se o título não apresentar vícios formais, o tabelião realiza a intimação do suposto devedor no endereço
apresentado pelo credor (art. 14 da Lei de Protesto);
4) A intimação é realizada para que o apontado devedor, no prazo de 3 dias, pague ou providencie a
sustação do protesto antes de ele ser lavrado;
6) Se ocorrer a situação 4.4: o título será protestado (será lavrado e registrado o protesto).
Lei nº 12.767/2012
A fim de espancar quaisquer dúvidas, foi publicada a Lei nº 12.767/2012 incluindo um parágrafo único ao
art. 1º da Lei nº 9.492/97 e permitindo, expressamente, o protesto de certidões da dívida ativa. Confira:
Art. 1º (...)
Parágrafo único. Incluem-se entre os títulos sujeitos a protesto as certidões de dívida ativa da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas autarquias e fundações
públicas. (Incluído pela Lei nº 12.767/2012)
Desse modo, foi incluída expressa previsão do protesto de CDA na Lei nº 9.492/97.
Constitucionalidade
Como vimos acima, a Lei nº 12.767/2012 incluiu um parágrafo único ao art. 1º da Lei nº 9.492/97 prevendo
expressamente a possibilidade de haver protesto de CDA.
A mudança, contudo, não agradou a todos.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) ajuizou ação direta de inconstitucionalidade contra este
dispositivo.
O STF, contudo, julgou improcedente a ADI decidindo que:
O protesto das certidões de dívida ativa constitui mecanismo constitucional e legítimo por não restringir
de forma desproporcional quaisquer direitos fundamentais garantidos aos contribuintes e, assim, não
constituir sanção política.
STF. Plenário. ADI 5135/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3 e 9/11/2016 (Info 846).
Meio alternativo
O protesto, além de representar instrumento para constituir em mora e/ou comprovar a inadimplência
do devedor, é meio alternativo para o cumprimento da obrigação.
Sob essa ótica, não se faz legítima qualquer manifestação do Poder Judiciário tendente a suprimir a adoção
de meio extrajudicial para cobrança dos créditos públicos.
Mesmo existindo a execução fiscal persiste o interesse da Fazenda Pública no protesto da CDA
A circunstância de a Lei nº 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal) disciplinar a cobrança judicial da dívida ativa
dos entes públicos não deve ser interpretada como uma espécie de “princípio da inafastabilidade da
jurisdição às avessas”, ou seja, engessar a atividade de recuperação dos créditos públicos, vedando aos
entes públicos o recurso a instrumentos alternativos (evidentemente, respeitada a observância ao
princípio da legalidade) e lhes conferindo apenas a via judicial - a qual, como se sabe, ainda luta para
tornar-se socialmente reconhecida como instrumento célere e eficaz.
É indefensável, portanto, o argumento de que a disciplina legal da cobrança judicial da dívida ativa impede,
peremptoriamente, a Administração Pública de instituir ou utilizar, sempre com observância do princípio
da legalidade, modalidade extrajudicial para cobrar, com vistas à eficiência, seus créditos.
Em suma:
A Fazenda Pública possui interesse e pode efetivar o protesto da CDA, documento de dívida, na forma
do art. 1º, parágrafo único, da Lei n. 9.492/1997, com a redação dada pela Lei nº 12.767/2012.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.686.659-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/11/2018 (recurso repetitivo)
(Info 643).
COMPETÊNCIA
Compete à 1ª Seção do STJ (e não à 3ª Seção) julgar MS impetrado contra Portaria do Ministro
da Justiça que regulamenta o direito dos presos à visita íntima nas penitenciárias federais
Órgãos do STJ
Ocorre que o STJ é divido em órgãos julgadores internos da seguinte forma:
CORTE ESPECIAL SEÇÕES TURMAS
Composta pelos 15 Ministros mais Existem três Seções no STJ Existem seis Turmas no STJ (da
antigos do STJ. (Primeira, Segunda e Terceira). Primeira até a Sexta).
Cada Seção abrange duas Turmas. Cada Turma é composta por 5
1ª Seção: engloba a 1ª e 2ª Turmas. Ministros, sendo divididas por
2ª Seção: abrange a 3ª e 4ª Turmas. assunto (cada Turma é
3ª Seção: inclui a 5ª e 6ª Turmas. especializada em certos temas).
Suas competências estão previstas Suas competências estão previstas Suas competências estão previstas
no art. 11 do RISTJ. no art. 12 do RISTJ. no art. 13 do RISTJ.
Principais competências: Principais competências: As Turmas julgam todos os
• julgar as ações penais de • mandado de segurança contra ato processos do STJ que não se
competência originária do STJ (ex: de Ministro de Estado; enquadram nas competências das
Governadores, Desembargadores, • Conflitos de competência que são Seções e da Corte Especial.
Conselheiros do TCE etc.); de atribuição do STJ (ex: conflito de Assim, por exemplo, em regra,
• embargos de divergência se a competência entre juiz de direito e todos os recursos especiais que não
divergência for entre Turmas de juiz federal); sejam “repetitivos” são julgados
Seções diversas, entre Seções, entre • recursos especiais repetitivos que pelas Turmas.
Turma e Seção que não integre ou envolvam os assuntos das Turmas Da mesma forma, a maioria dos
entre Turma e Seção com a própria que compõe aquela Seção. habeas corpus são apreciados pelas
Corte Especial. Turmas.
A competência interna do STJ é definida de acordo com a natureza da relação jurídica posta em discussão.
Nesse sentido é a determinação do art. 9º do RISTJ:
Art. 9º A competência das Seções e das respectivas Turmas é fixada em função da natureza da
relação jurídica litigiosa.
JUSTIÇA GRATUITA
Caso a parte faça o requerimento da gratuidade da justiça no recurso e o relator indefira o
pedido, deverá intimar o recorrente para realizar o preparo antes de decretar a deserção
Importante!!!
O interessado deverá ser intimado para a realização do preparo recursal nas hipóteses de
indeferimento ou de não processamento do pedido de gratuidade da justiça.
Nesse sentido é o art. 99, § 7º do CPC/2015:
PREPARO
O que é preparo?
Preparo consiste no pagamento das despesas relacionadas com o processamento do recurso.
No preparo incluem-se:
• taxa judiciária (custas);
• despesas postais com o envio dos autos (chamado de “porte de remessa e de retorno” dos autos).
Desse modo, “preparar” o recurso é nada mais que pagar as despesas necessárias para que a máquina
judiciária dê andamento à sua apreciação. O pagamento do preparo é feito, comumente, na rede bancária
conveniada com o Tribunal.
O CPC afirma que a parte que está recorrendo da decisão precisa comprovar o preparo no momento da
interposição do recurso. Logo, o preparo (recolhimento do valor) deve ser feito antes da interposição do
recurso e, junto com o recurso interposto, o recorrente deve juntar o comprovante do pagamento.
O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento do preparo, inclusive
porte de remessa e de retorno, será intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar o recolhimento
em dobro, sob pena de deserção (art. 1.007, § 4º, do CPC/2015).
Deserção é a inadmissibilidade do recurso pela falta de preparo. Se o recurso foi deserto, significa que ele
não foi conhecido (não foi sequer apreciado). Gramaticalmente, desertar é mesmo que abandonar.
A pessoa beneficiada pela justiça gratuita está dispensada do pagamento de quais verbas?
A gratuidade da justiça compreende:
Dispensa parcial
A gratuidade da justiça poderá ser concedida em relação a algum ou a todos os atos processuais, ou pode
consistir apenas na redução percentual das despesas processuais que o beneficiário tiver de adiantar no
curso do procedimento (§ 5º do art. 98 do CPC/2015).
Parcelamento
A depender do caso concreto, o juiz poderá conceder ao requerente o direito de parcelar as despesas
processuais que tiver de adiantar no curso do procedimento (§ 6º do art. 98 do CPC/2015).
Multas processuais
Mesmo sendo beneficiária da justiça gratuita, a pessoa terá o dever de pagar, ao final, as multas
processuais que lhe foram impostas (§ 4º do art. 98 do CPC/2015). Ex: multa por litigância de má-fé.
Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição inicial, na contestação,
na petição para ingresso de terceiro no processo ou em recurso.
§ 1º Se superveniente à primeira manifestação da parte na instância, o pedido poderá ser
formulado por petição simples, nos autos do próprio processo, e não suspenderá seu curso.
(...)
Caso o pedido de justiça gratuita seja formulado no momento do recurso, ele deverá ser realizado por
meio de petição avulsa ou pode ser feito no corpo do próprio recurso?
No corpo do próprio recurso:
É possível a formulação de pedido de assistência judiciária gratuita na própria petição recursal,
dispensando-se a exigência de petição avulsa, quando não houver prejuízo ao trâmite normal do processo.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 1.222.355-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 4/11/2015 (Info 574).
STJ. Corte Especial. EAREsp 693.082/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 21/11/2018.
Como vimos acima, em regra, a parte que interpuser um recurso precisa comprovar o preparo no
momento da interposição. Imagine que o juiz já deferiu para a parte o benefício da justiça gratuita no
curso do processo. Se essa parte for interpor um recurso, ela precisará fazer preparo?
NÃO. A parte beneficiária da justiça gratuita não precisa de preparo para a interposição de recurso.
E se a parte ainda não é beneficiária da justiça gratuita e está formulando esse pedido somente agora,
no momento do recurso? Dito de outro modo: se a parte, ao interpor o recurso, está pedindo a concessão
do benefício da justiça gratuita, ela precisa fazer o preparo? O preparo prévio é exigido da parte que
recorre e, no recurso, pede a justiça gratuita?
NÃO. O § 7º do art. 99 do CPC/2015 dispensa o preparo nesses casos:
Art. 99 (...)
§ 7º Requerida a concessão de gratuidade da justiça em recurso, o recorrente estará dispensado
de comprovar o recolhimento do preparo (...)
Providências que o relator deverá adotar quando chegar o recurso com pedido de gratuidade
O relator, ao receber um recurso no qual há pedido de gratuidade, deverá apreciar imediatamente esse
requerimento e adotar uma das seguintes posturas:
a) deferir o requerimento de gratuidade; ou
a) indeferi-lo se entender que há elementos nos autos que afastem a alegada hipossuficiência do
requerente.
Se o relator indeferir esse requerimento, ele deverá fixar um prazo para que o recorrente realize o
recolhimento do preparo.
Assim, mesmo que o relator considere que o recorrente não tem direito à gratuidade, ele não pode
declarar imediatamente a deserção.
No caso de indeferimento, há que se oportunizar à parte o pagamento do preparo.
Essa é a previsão da parte final do § 7º do art. 99 do CPC/2015:
Art. 99 (...)
§ 7º Requerida a concessão de gratuidade da justiça em recurso, o recorrente estará dispensado
de comprovar o recolhimento do preparo, incumbindo ao relator, neste caso, apreciar o
requerimento e, se indeferi-lo, fixar prazo para realização do recolhimento.
Essa solução é a que melhor atende os direitos fundamentais de assistência jurídica das pessoas
economicamente hipossuficientes (art. 5º, LXXIV, da CF/88) e de amplo acesso à Justiça (art. 5º, XXXV)
para que seja assegurada ao jurisdicionado não somente a possibilidade de protocolizar o pedido de
assistência judiciária por qualquer meio processual e em qualquer fase do processo, mas também, caso
indeferido o pedido, sua intimação para que realize o recolhimento das custas e porte de remessa e
retorno, quando for o caso.
Entendimento diverso vai na contramão da evolução histórica do direito processual e dos direitos
fundamentais dos cidadãos, privilegiando uma jurisprudência defensiva em detrimento do princípio da
primazia do julgamento de mérito.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
É vedada a retenção de honorários advocatícios contratuais
sobre crédito relativo a diferenças do FUNDEF
Mudança de entendimento!
Atualize o Info 585-STJ
Importante!!!
É vedada a retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito relativo a diferenças
do FUNDEF.
Os valores relacionados ao FUNDEF, hoje FUNDEB, encontram-se constitucional e legalmente
vinculados ao custeio da educação básica e à valorização do seu magistério, sendo vedada a
sua utilização em despesa diversa, tais como honorários advocatícios contratuais.
Ex: determinado Município do interior do Estado ingressou com ação contra a União com o
objetivo de conseguir o repasse integral de verbas do FUNDEF. Como o Município não possuía
procuradores municipais concursados, foi contratado um escritório de advocacia privado para
patrocinar a causa. No contrato assinado com os advogados ficou combinado que, se o Município
vencesse a demanda, pagaria 20% do valor da causa ao escritório. O pedido foi julgado procedente
e transitou em julgado. O Município requereu, então, que 20% do valor da condenação (verbas do
FUNDEF a serem pagas pela União) fosse separado para pagamento dos honorários contratuais
dos advogados que atuaram na causa, nos termos do art. 22, § 4º da Lei nº 8.906/94. Esse pedido
não deve ser acolhido. Não é possível a aplicação do art. 22, § 4º, da Lei nº 8.906/1994 nas
execuções contra a União em que se persigam quantias devidas ao FUNDEF/FUNDEB, devendo o
advogado credor buscar a satisfação de seu crédito por outros meios.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.703.697-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10/10/2018 (Info 643).
FUNDEF
FUNDEF significa Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério e vigorou de 1997 a 2006. O FUNDEF foi substituído pelo FUNDEB (Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), que está em vigor
desde janeiro de 2007 e se estenderá até 2020.
Em alguns Estados, o FUNDEF era complementado com verbas repassadas pela União; em outros, não era
necessária essa complementação. Isso porque o art. 6º da Lei do FUNDEF (Lei 9.424/96, revogada pela Lei
nº 11.494/2007) dispunha: “A União complementará os recursos do Fundo, a que se refere o art. 1º
sempre que, no âmbito de cada Estado e do Distrito Federal, seu valor por aluno não alcançar o mínimo
definido nacionalmente.”
Atualmente, o FUNDEB é regulado pela Lei nº 11.494/2007, que impõe à União o dever de complementar
os recursos do FUNDEF/FUNDEB “sempre que, no âmbito de cada Estado e no Distrito Federal, o valor
médio ponderado por aluno, calculado na forma do Anexo desta Lei, não alcançar o mínimo definido
nacionalmente, fixado de forma a que a complementação da União não seja inferior aos valores previstos
no inciso VII do caput do art. 60 do ADCT”.
A União não concordou com o pedido de retenção dos 20% alegando que os recursos do FUNDEF/FUNDEB
possuem destinação específica (manutenção e desenvolvimento da educação básica e à remuneração
condigna dos trabalhadores da educação - art. 60 do ADCT da CF/88), motivo pelo qual não é possível a
utilização para pagamento de honorários advocatícios. Para a União, esta retenção violaria o art. 23, I, da
Lei nº 11.494/2007:
Art. 23. É vedada a utilização dos recursos dos Fundos:
I - no financiamento das despesas não consideradas como de manutenção e desenvolvimento da
educação básica, conforme o art. 71 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996;
A questão chegou até o STJ. O que foi decidido? É possível a retenção dos valores para pagamento dos
honorários advocatícios contratuais?
NÃO. Depois de muito polêmica, a 1ª Seção do STJ pacificou o tema decidindo que:
É vedada a retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito relativo a diferenças do
FUNDEF.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.703.697-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10/10/2018 (Info 643).
Honorários advocatícios destacados do montante principal: são os honorários contratuais que o advogado
da parte vencedora pode pedir ao juiz para que sejam “destacados” (reservados, separados) do valor que
o seu cliente irá receber da Fazenda Pública.
Ex.: João e Dr. Rui celebraram contrato de prestação de honorários advocatícios por meio do qual ficou
combinado que o advogado, como remuneração pelo seu trabalho, teria direito a 20% do valor que a parte
fosse receber da União caso se sagrasse vencedora na lide. Essa verba constitui-se em honorários
advocatícios contratuais. O que nem todos sabem é que o advogado pode pedir que essa quantia seja
destacada do montante principal que a parte irá receber. Assim, imagine que a sentença determina que a
União pague R$ 1 milhão a João; por força de contrato, Dr. Rui terá direito a 20% disso (R$ 200 mil); a fim
de se precaver e evitar um inadimplemento por parte de seu cliente, Dr. Rui poderá pedir que seus
honorários sejam destacados do montante principal. Dessa forma, no momento de “sacar” o valor do
precatório, João irá receber apenas R$ 800 mil e Dr. Rui poderá, ele próprio, sacar R$ 200 mil. O que vou
falar agora não é tecnicamente correto e serve apenas para você entender melhor: esse destaque é como
se fosse uma penhora; o cliente do advogado tem um crédito para receber, mas ele também tem uma
dívida com seu advogado; logo, o Poder Judiciário autoriza que, antes de a parte receber o valor total da
condenação, a quantia que pertence ao advogado já seja separada para ser entregue ao causídico. Vale
ressaltar, mais uma vez, que esses R$ 200 mil são apenas os honorários contratuais. Além deles, o
advogado irá receber os honorários sucumbenciais que estão incluídos na condenação.
Portanto, não restam dúvidas de que a Lei nº 8.906/94 e a jurisprudência do STJ e STF admitem que os
honorários advocatícios contratuais possam ser destacados da quantia a ser recebida pelo constituinte na
via do precatório ou de requisição de pequeno valor.
STF
O STF possui o mesmo entendimento do STJ acima exposto:
As verbas do FUNDEF não podem ser utilizadas para pagamento de despesas do Município com honorários
advocatícios contratuais.
STF. 1ª Turma. ARE 1066281 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 19/11/2018.
Ficam suspensas todas as decisões judiciais que tenham autorizado o destaque de honorários advocatícios
contratuais em precatórios expedidos pela União para o pagamento de diferenças de complementação de
verbas do FUNDEB.
STF. Decisão monocrática. SL 1186 MC, Rel. Min. Presidente Dias Toffoli, julgado em 11/01/2019.
ASTREINTES
A Súmula 410 do STJ continuou válida mesmo após a edição das Leis nº 11.232/2005 e
11.382/2006 e mesmo depois que entrou em vigor o CPC/2015
Importante!!!
É necessária a prévia intimação pessoal do devedor para a cobrança de multa pelo
descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer antes e após a edição das Leis nº
11.232/2005 e 11.382/2006, nos termos da Súmula n. 410 do STJ.
Súmula 410-STJ: A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a
cobrança de multa pelo descumprimento da obrigação de fazer ou não fazer.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.360.577-MG, Rel. Min. Humberto Martins, Rel. Acd. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 19/12/2018 (Info 643).
Astreintes
A multa cominatória, também conhecida como astreinte, é prevista no art. 537 do CPC/2015:
Art. 537. A multa independe de requerimento da parte e poderá ser aplicada na fase de
conhecimento, em tutela provisória ou na sentença, ou na fase de execução, desde que seja
suficiente e compatível com a obrigação e que se determine prazo razoável para cumprimento do
preceito.
Assim, a multa coercitiva pode ser aplicada pelo magistrado como uma forma de pressionar o devedor a
cumprir:
• uma decisão interlocutória que concedeu tutela provisória; ou
• uma sentença que julgou procedente o pedido do autor.
Ex: em uma ação envolvendo contrato empresarial, o juiz determinou que a empresa “X” entregasse para
a empresa “Y” 8 mil sacas de soja em determinado prazo, sob pena de multa diária de R$ 16 mil. Essa
multa é chamada de astreinte.
• A parte beneficiada com a imposição das astreintes somente continuará tendo direito ao valor da multa
se sagrar-se vencedora. Se no final do processo essa parte sucumbir, não terá direito ao valor da multa
ou, se já tiver recebido, deverá proceder à sua devolução.
A multa pode ser imposta ao agente público pelo descumprimento da obrigação de fazer?
Depende. Se ele foi parte na ação, sim. Caso não tenha sido parte, não é possível, por ofensa aos princípios
do contraditório e da ampla defesa. Confira:
(...) 1. O ora agravante, à época Secretário de Estado da Administração e dos Recursos Humanos do
Governo do Rio Grande do Norte, foi condenado, ante sua responsabilidade pessoal, pela Corte de origem
ao pagamento de astreintes devido ao não cumprimento imediato de determinação judicial no bojo de
mandado de segurança do qual ele foi, efetivamente, parte impetrada.
(...)
3. As astreintes podem ser direcionadas pessoalmente às autoridades ou aos agentes responsáveis pelo
cumprimento das determinações judiciais, em particular quando eles foram parte na ação. (...)
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1388716/RN, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 23/10/2014.
Não é possível a responsabilização pessoal do agente público pelo pagamento das astreintes quando ele
não figure como parte na ação, sob pena de infringência ao princípio da ampla defesa.
STJ. 2ª Turma. REsp 1633295/MG, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 17/04/2018.
É possível que o juiz, após o devedor já ter descumprido a multa fixada, reduza o seu valor?
SIM. É possível que o juiz, adotando os critérios da razoabilidade e da proporcionalidade, possa limitar o
valor da astreinte, a fim de evitar o enriquecimento sem causa do exequente. Essa possibilidade está
prevista no CPC:
Art. 537 (...)
§ 1º O juiz poderá, de ofício ou a requerimento, modificar o valor ou a periodicidade da multa
vincenda ou excluí-la, caso verifique que:
I - se tornou insuficiente ou excessiva;
II - o obrigado demonstrou cumprimento parcial superveniente da obrigação ou justa causa para
o descumprimento.
Diante disso, pode-se dizer que a decisão que comina astreintes não preclui e não faz coisa julgada.
Assim, o juiz poderá, mesmo na fase de execução, alterar o valor da multa:
A decisão que comina astreintes não preclui, não fazendo tampouco coisa julgada.
A multa cominatória não integra a coisa julgada, sendo apenas um meio de coerção indireta ao
cumprimento do julgado, podendo ser cominada, alterada ou suprimida posteriormente.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 9/4/2014 (recurso
repetitivo) (Info 539).
Vale ressaltar que, mesmo se a multa foi fixada em sentença transitada em julgado, será possível a
modificação de seu valor e/ou periodicidade, considerando que o que se tornou imutável foi a obrigação
reconhecida na sentença, mas não a multa. Em outras palavras, o que fez coisa julgada foi a obrigação,
sendo a multa apenas uma forma executiva de cumpri-la.
O autor pode exigir o pagamento das astreintes antes do final do processo (antes do trânsito em
julgado)? Em outras palavras, é possível a execução provisória das astreintes fixadas em tutela
provisória de urgência?
Sim, é possível. Neste caso, o devedor da multa será obrigado a depositar o valor em juízo. Caso não faça
voluntariamente, poderão ser tomadas medidas de expropriação (ex: penhora on line). No entanto, o
credor não poderá levantar imediatamente a quantia.
O valor da multa permanecerá depositado em juízo e o credor somente poderá “sacar” a quantia após o
trânsito em julgado da sentença favorável a ele.
Veja o dispositivo do CPC/2015 que trata sobre o tema:
Art. 537. (...)
§ 3º A decisão que fixa a multa é passível de cumprimento provisório, devendo ser depositada em
juízo, permitido o levantamento do valor após o trânsito em julgado da sentença favorável à parte.
(Redação dada pela Lei nº 13.256/2016)
Para que a multa comece a produzir efeitos, é necessário que o destinatário da ordem seja intimado.
Como é feita esta intimação?
É interessante analisar o tema tanto sob a égide do CPC/1973 como do CPC/2015.
CPC/1973
Intimação do devedor para cumprir a obrigação, sob pena de multa.
No CPC/1973, o cenário era o seguinte:
• Obrigação de pagar quantia certa: a intimação podia ser feita na pessoa do advogado.
• Obrigação de fazer, não fazer e entregar coisa diferente de dinheiro: a intimação deveria ser pessoal
(não era suficiente a intimação na pessoa do advogado).
O descumprimento de uma obrigação de fazer, não fazer ou entregar coisa diferente de dinheiro gera para o
devedor consequências mais graves do que o inadimplemento de uma obrigação de pagar quantia. Por essa
razão, é plenamente justificável que se tenha um cuidado maior, exigindo a intimação pessoal. Nesse sentido:
“(...) o devedor de obrigação de fazer, não fazer ou entrega de coisa, quando tem contra si ordem
para cumprimento da decisão judicial, deve ser intimado pessoalmente, justamente pelas
múltiplas e graves consequências de seu eventual desatendimento ao mandamento jurisdicional
(como as astreintes, contempt of court ou a configuração de crime de desobediência). (...)”
(WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Revista de Processo. Ano 35. nº 182. abr/2010. São Paulo: RT,
2010, p. 188)
Essa exigência a mais no caso das obrigações de fazer e não fazer motivou o STJ a editar, em 25/11/2009,
um enunciado explicitando o tema:
Súmula 410-STJ: A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança de
multa pelo descumprimento da obrigação de fazer ou não fazer.
CPC/2015
O CPC/2015 previu o seguinte no art. 513, § 2º:
Art. 513. (...)
§ 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença:
I - pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos;
II - por carta com aviso de recebimento, quando representado pela Defensoria Pública ou quando
não tiver procurador constituído nos autos, ressalvada a hipótese do inciso IV;
III - por meio eletrônico, quando, no caso do § 1o do art. 246, não tiver procurador constituído nos
autos
IV - por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido revel na fase de conhecimento.
Quando o § 2º fala em “sentença”, ele está utilizando essa expressão em sentido amplo abrangendo toda
e qualquer decisão judicial.
Assim, diante dessa previsão, a doutrina majoritária passou a sustentar que, agora, com o CPC/2015, tanto
na obrigação de pagar como nas obrigações de fazer, não fazer e dar coisa diferente de dinheiro, a
intimação pode ser feita na pessoa do advogado do devedor, na forma do art. 513, § 2º.
Desse modo, para a doutrina, a Súmula 410 do STJ estaria superada com o CPC/2015.
Nesse sentido: NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. Salvador:
Juspodivm, 2017, p. 1202.
Repetindo a pergunta: para que a multa comece a produzir efeitos, é necessário que o destinatário da
ordem seja intimado. Como é feita esta intimação?
• Obrigação de pagar quantia certa: a intimação é feita na pessoa do advogado.
• Obrigação de fazer, não fazer e entregar coisa: a intimação deve ser pessoal.
Súmula 410-STJ: A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança de
multa pelo descumprimento da obrigação de fazer ou não fazer.
A Súmula 410 do STJ continuou válida mesmo após a edição das Leis nº 11.232/2005 e 11.382/2006 e
mesmo depois que entrou em vigor o CPC/2015.
Em suma:
É necessária a prévia intimação pessoal do devedor para a cobrança de multa pelo descumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer antes e após a edição das Leis nº 11.232/2005 e 11.382/2006, nos termos
da Súmula 410 do STJ, cujo teor permanece hígido também após a entrada em vigor do CPC/2015.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.360.577-MG, Rel. Min. Humberto Martins, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 19/12/2018 (Info 643).
AGRAVO DE INSTRUMENTO
A decisão interlocutória que rejeita a ocorrência de prescrição ou decadência é uma decisão de
mérito, que enseja a agravo de instrumento com base no inciso II do art. 1.015 do CPC/2015
Importante!!!
A decisão interlocutória que afasta (rejeita) a alegação de prescrição é recorrível, de imediato,
por meio de agravo de instrumento com fundamento no art. 1.015, II, do CPC/2015. Isso
porque se trata de decisão de mérito.
Embora a ocorrência ou não da prescrição ou da decadência possam ser apreciadas somente
na sentença, não há óbice para que essas questões sejam examinadas por intermédio de
decisões interlocutórias, hipótese em que caberá agravo de instrumento com base no art.
1.015, II, do CPC/2015, sob pena de formação de coisa julgada material sobre a questão.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.738.756-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/02/2019 (Info 643).
Agravo de instrumento
O réu interpôs agravo de instrumento contra esta decisão insistindo na tese de que teria ocorrido a
prescrição.
O Tribunal de Justiça não conheceu do recurso afirmando que as hipóteses de cabimento do agravo de
instrumento estão elencadas exaustivamente no art. 1.015 do CPC/2015 e que neste rol não há previsão
de agravo contra decisão interlocutória que afasta a alegação de prescrição:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1º;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias
proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de
execução e no processo de inventário.
E a decisão que REJEITA a ocorrência de prescrição ou decadência? Também se pode dizer que é uma
decisão de mérito?
O conceito de “decidir sobre a ocorrência” é claramente mais amplo do que apenas “pronunciar”, motivo
pelo qual é correto afirmar que o art. 487, II, do CPC/2015, passou a abranger, indiscutivelmente, o
acolhimento e também a rejeição da alegação de prescrição ou decadência, com aptidão inclusive para,
em ambas as hipóteses, formar coisa julgada material sobre essas questões.
Mas a prescrição ou decadência não tem que ser decididas apenas ao final, na sentença?
NÃO. Embora a ocorrência ou não da prescrição ou da decadência possam ser apreciadas somente por
ocasião da prolação da sentença, não há vedação alguma para que essas questões sejam antecipadamente
examinadas, por intermédio de decisões interlocutórias.
A praxe forense, aliás, revela que as hipóteses de rejeição da alegação de prescrição ou de decadência ou
de reconhecimento de sua ocorrência sobre parte ou sobre algum dos pedidos, na verdade, normalmente
ocorrem antes da sentença, mais precisamente na decisão saneadora, ocasião em que usualmente são
decotadas as questões de fato e de direito relevantes da controvérsia para a subsequente fase instrutória.
II - mérito do processo;
Assim, tendo sido proferida uma decisão interlocutória que diga respeito à prescrição ou à decadência
(art. 487, II), o recurso de agravo de instrumento é cabível com base no inciso II do art. 1.015, pois a
prescrição e a decadência são, na forma da lei, questões de mérito.
Se o juiz, por meio de decisão interlocutória, rejeitar a ocorrência de prescrição e decadência, e a parte
prejudicada não interpuser agravo de instrumento, ela poderá impugnar novamente isso no momento
da apelação?
NÃO. Se o juiz rejeitar a alegação de prescrição ou decadência por meio de decisão interlocutória e a parte
prejudicada não recorrer de imediato mediante agravo de instrumento haverá coisa julgada e esse tema
não poderá ser novamente debatido na apelação.
Veja a lição da doutrina:
“No curso do procedimento, é possível haver decisões de mérito. O juiz pode, por exemplo, rejeitar
a alegação de prescrição ou de decadência, determinando a instrução probatória. De decisões
assim cabe agravo de instrumento, tal como prevê o art. 1.015, II, do CPC.
O disposto no art. 1.015, II, do CPC, confirma a possibilidade de ser proferida, no processo civil
brasileiro, decisão interlocutória de mérito definitiva. Se o dispositivo prevê agravo de
instrumento contra decisão de mérito, está, em verdade, a admitir a existência de decisão
interlocutória que trate do mérito com caráter de definitividade.
Se o agravo de instrumento não for interposto, haverá coisa julgada. Não será possível impugnar
a decisão interlocutória de mérito ou a decisão parcial de mérito na apelação a ser interposta da
sentença que ainda será proferida.” (DIDIER JR., Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de
Direito Processual Civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processos nos tribunais. 15ª
ed. Salvador: Juspodivm, 2018. p. 252/253).
“4.1. Outrossim, as decisões que rejeitarem incidentalmente questões afeitas ao mérito permitem
o manejo do agravo de instrumento. Cogite-se da situação em que o juiz rejeite a alegação de
prescrição em decisão interlocutória, tal provimento será atacável na via do agravo de
instrumento, sob pena de ser coberto pela coisa julgada no particular.” (GAJARDONI, Fernando da
Fonseca; DELLORE, Luiz; ROQUE, André Vasconcelos; OLIVEIRA JR., Zulmar. Execução e recursos:
comentários ao CPC de 2015. São Paulo: Método, 2017. p. 1.072)
Em suma:
A decisão interlocutória que afasta (rejeita) a alegação de prescrição é recorrível, de imediato, por meio
de agravo de instrumento com fundamento no art. 1.015, II, do CPC/2015. Isso porque se trata de
decisão de mérito.
Embora a ocorrência ou não da prescrição ou da decadência possam ser apreciadas somente na
sentença, não há óbice para que essas questões sejam examinadas por intermédio de decisões
interlocutórias, hipótese em que caberá agravo de instrumento com base no art. 1.015, II, do CPC/2015,
sob pena de formação de coisa julgada material sobre a questão.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.738.756-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/02/2019 (Info 643).
AGRAVO DE INSTRUMENTO
Se a parte ajuizou ação urgente sem juntar procuração (art. 37 do CPC/1973), ela também
poderá, dentro do prazo de 15 dias previsto neste dispositivo, interpor recurso sem procuração
É admissível, em caso de urgência, nos termos do art. 37 do CPC/1973 (art. 104, § 1º, do
CPC/2015), a regularização da representação processual do autor/agravante, em segunda
instância, a partir do translado do instrumento de procuração a ser juntado na origem no
prazo assinado em lei.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.265.639-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 12/12/2018 (Info 643).
Agravo de instrumento
O agravo de instrumento é um recurso interposto diretamente no juízo ad quem, ou seja, é encaminhado
diretamente para o Tribunal que irá julgá-lo.
Ex.: “A” ingressa com uma ação de alimentos contra “B” e pede a concessão de alimentos provisórios no
valor de R$ 2 mil. O juiz, em decisão interlocutória, nega a fixação dos alimentos provisórios. “A” interpõe
agravo de instrumento contra a decisão do juiz de 1ª instância (juízo a quo) diretamente no Tribunal de
Justiça (juízo ad quem).
O nome do recurso é agravo de instrumento porque neste tipo de agravo deverá ser formado um
“instrumento”, ou seja, um conjunto de documentos para que o Tribunal analise se as razões invocadas
pelo recorrente são procedentes ou não. Isso ocorre porque o processo continua tramitando no juízo a
quo e, para o juízo ad quem examinar as razões do recurso, será necessário que ele tenha cópias de alguns
documentos presentes naqueles autos originários.
Em nosso exemplo, “A” irá preparar a petição do recurso, tirar cópias de vários documentos dos autos,
juntá-los à petição e protocolá-los, como agravo de instrumento, no Tribunal de Justiça.
O que acontece caso a parte agravante não junte algum dos documentos considerados obrigatórios?
CPC/1973 CPC/2015
Se o agravante não apresentava alguma das peças Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de
obrigatórias (art. 525, I), o agravo de instrumento algum outro vício que comprometa a
Informativo 643-STJ (29/03/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 37
Informativo
comentado
não era conhecido (seu mérito nem era admissibilidade do agravo de instrumento, o
apreciado). relator deverá, antes de considerar inadmissível o
Caso o agravante não anexasse, junto com a recurso, conceder o prazo de 5 dias ao agravante
petição do recurso, alguma peça obrigatória, o STJ para que seja sanado vício ou complementada a
considerava que tinha ocorrido preclusão documentação exigível (art. 1.017, § 3º do
consumativa e que, portanto, era proibido que o CPC/2015).
recorrente juntasse posteriormente. Caso, mesmo intimado, o agravante não junte o
documento faltante ou corrija o vício, aí sim
deverá o relator julgar inadmissível o agravo de
instrumento manejado.
Na ação, proposta no dia 02/02/2012, o autor pediu para o juiz conceder liminarmente a produção de
prova considerada urgente.
O magistrado, no mesmo dia, negou a liminar.
No dia seguinte (03/02/2012), o autor interpôs agravo de instrumento contra a decisão.
Vale ressaltar que, ao interpor o agravo de instrumento, o advogado não juntou com o recurso o
instrumento do mandato (procuração).
No dia 10/02/2012, o recorrente juntou a procuração nos autos do agravo de instrumento.
Apesar disso, no dia 11/02/2012, o Relator do processo no Tribunal de Justiça proferiu decisão não
conhecendo do recurso sob o argumento de que a procuração representa documento obrigatório, nos
termos do art. 525, I, do CPC/1973 (art. 1.017, I, do CPC/2015), e que, portanto, deveria ter sido juntado
no momento da interposição do agravo.
O Relator afirmou, ainda, que a juntada posterior de documento obrigatório não tem o condão de
regularizar o agravo de instrumento interposto sem a sua presença.
Agiu corretamente o Relator, ainda que analisado o tema sob a ótica do CPC/1973?
NÃO. O Tribunal não decidiu de forma acertada. Isso porque o autor tinha o direito de interpor o agravo
de instrumento sem juntar, naquele momento, a procuração, por força do art. 37 do CPC/1973 (art. 104,
§ 1º do CPC/2015).
Assim como a ação cautelar, o agravo de instrumento também foi interposto em regime de urgência e,
portanto, não era necessária a juntada da procuração porque ainda estava em curso o prazo de 15 dias
conferido pelo art. 37 do CPC/1973. Antes que esse prazo terminasse o autor/recorrente juntou o
instrumento de mandato aos autos. Logo, ele agiu amparado pelo art. 37 do CPC/1973.
O art. 37 do CPC/1973, na mesma linha do art. 104 do CPC/2015, autorizava o advogado a “em nome da
parte, intentar ação, a fim de evitar decadência ou prescrição, bem como intervir, no processo, para
praticar atos reputados urgentes”, hipótese em que O “advogado se obrigará, independentemente de
caução, a exibir o instrumento de mandato no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável por até outros 15
(quinze) dias, por despacho do juiz.”
A interposição de agravo de instrumento visando à reforma de decisão que indeferiu o pedido liminar é
ato praticado no curso do processo no qual corre o prazo para a juntada de procuração, embora dirigido
à instância superior. Em outras palavras, o agravo de instrumento também estava abrangido pelo art. 37
do CPC/1973.
Em suma:
É admissível, em caso de urgência, nos termos do art. 37 do CPC/1973 (art. 104, § 1º, do CPC/2015), a
regularização da representação processual do autor/agravante, em segunda instância, a partir do
translado do instrumento de procuração a ser juntado na origem no prazo assinado em lei.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.265.639-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 12/12/2018 (Info 643).
CPC/2015
Se o caso acima tivesse ocorrido sob a égide do CPC/2015, a decisão do Relator também seria equivocada
e teria violado dois dispositivos legais:
1) o art. 104, § 1º do CPC/2015;
2) o art. 1.017, § 3º do CPC/2015 porque, conforme já explicado, atualmente, faltando alguma peça do
agravo de instrumento, o Relator deverá, antes de considerar inadmissível o recurso, conceder o prazo de
5 dias ao agravante para que seja complementada a documentação exigível.
EXECUÇÃO
É possível a cumulação da verba honorária fixada nos embargos à execução com a arbitrada na
própria execução contra a Fazenda Pública, vedada a compensação entre ambas
Importante!!!
Os embargos do devedor são ação de conhecimento incidental à execução, razão porque os
honorários advocatícios podem ser fixados em cada uma das duas ações, de forma
relativamente autônoma, respeitando-se os limites de repercussão recíproca entre elas, desde
que a cumulação da verba honorária não exceda o limite máximo previsto no § 3º do art. 20
do CPC/1973.
STJ. Corte Especial. REsp 1.520.710-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/12/2018
(recurso repetitivo) (Info 643).
A ação foi julgada procedente condenando, de forma genérica, a União a pagar a referida gratificação em
favor dos servidores do Ministério da Saúde. Houve trânsito em julgado.
Execução individual
João é servidor público federal do Ministério da Saúde e filiado à referida associação.
Diante disso, ele propôs execução individual cobrando o pagamento das verbas relacionadas com a
gratificação referente aos anos de 2008 a 2014.
A União terá que pagar honorários advocatícios neste processo de execução mesmo que não apresente
embargos à execução (mesmo que não se “oponha” ao pedido do exequente)?
SIM. Esse é o entendimento consolidado do STJ. Confira:
Súmula 345-STJ: São devidos honorários advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções individuais de
sentença proferida em ações coletivas, ainda que não embargadas.
Vale ressaltar que essa súmula continua válida mesmo com o advento do CPC/2015: STJ. Corte Especial.
REsp 1648238-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 20/06/2018 (recurso repetitivo) (Info 628).
Em outras palavras, é possível a cumulação da verba honorária fixada na execução com os honorários
estipulados nos embargos à execução.
Por quê?
Porque os embargos à execução possuem natureza jurídica de ação autônoma em relação à execução.
Assim, temos duas ações autônomas:
• a execução; e
• os embargos à execução.
fixados de forma autônoma e independente em cada uma das referidas ações, desde que a cumulação da
verba honorária não exceda o limite máximo previsto no § 3º do art. 20 do CPC/1973.
STJ. 2ª Turma. REsp 1670357/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/08/2017.
O STJ reiterou a posição fixando a seguinte tese em sede de recurso especial repetitivo:
Os embargos do devedor são ação de conhecimento incidental à execução, razão porque os honorários
advocatícios podem ser fixados em cada uma das duas ações, de forma relativamente autônoma,
respeitando-se os limites de repercussão recíproca entre elas, desde que a cumulação da verba
honorária não exceda o limite máximo previsto no § 3º do art. 20 do CPC/1973.
STJ. Corte Especial. REsp 1.520.710-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/12/2018
(recurso repetitivo) (Info 643).
Nesta situação, seria possível haver a compensação dos honorários? É possível a compensação dos
honorários fixados nos embargos à execução com os arbitrados no processo de execução do mesmo título?
NÃO. O STJ nega a possibilidade de compensação entre as verbas honorárias fixadas na execução e nos
embargos à execução.
Quando há condenação ao pagamento de honorários advocatícios surge uma nova relação jurídica
(relação creditícia – crédito e débito) entre a parte vencida e o advogado do vencedor. Essa relação é
autônoma em relação à relação entre autor e réu.
Uma comprovação de que essa relação é autônoma está no fato de que o advogado (titular do crédito de
honorários) poderá executar seu crédito nos próprios autos ou em processo independente.
A compensação é um instituto jurídico previsto no art. 368 do Código Civil nos seguintes termos:
Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas
obrigações extinguem-se, até onde se compensarem.
Os honorários advocatícios pertencem ao advogado (e não à parte vencedora). Logo, não se pode querer
compensar um crédito que é do advogado com uma dívida que é da parte. A parte não se confunde com
o advogado. Não há, portanto, reciprocidade das obrigações ou bilateralidade de créditos. Por essa razão,
não é possível a compensação.
Em suma:
Inexiste reciprocidade das obrigações ou de bilateralidade de créditos (pressupostos do instituto da
compensação, art. 368 do Código Civil), o que implica a impossibilidade de se compensarem os
honorários fixados em embargos à execução com aqueles fixados na própria ação de execução.
STJ. Corte Especial. REsp 1.520.710-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/12/2018
(recurso repetitivo) (Info 643).
CPC/2015
Vale ressaltar que o tema acima foi debatido sob a égide do CPC/1973, não se podendo afirmar, com
certeza, qual seria a solução caso a situação já envolvesse o novo CPC.
EXECUÇÃO FISCAL
(In) aplicabilidade do incidente de desconsideração da personalidade jurídica na execução fiscal
Importante!!!
Não é necessária a instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica
(art. 133 do CPC/2015) no processo de execução fiscal no caso em que a Fazenda Pública
exequente pretende alcançar pessoa distinta daquela contra a qual, originalmente, foi
ajuizada a execução, mas cujo nome consta na Certidão de Dívida Ativa, após regular
procedimento administrativo, ou, mesmo o nome não estando no título executivo, o Fisco
demonstre a responsabilidade, na qualidade de terceiro, em consonância com os arts. 134 e
135 do CTN.
Por outro lado, é necessária a instauração do incidente de desconsideração da personalidade
da pessoa jurídica devedora para o redirecionamento de execução fiscal a pessoa jurídica que
integra o mesmo grupo econômico, mas que não foi identificada no ato de lançamento
(Certidão de Dívida Ativa) ou que não se enquadra nas hipóteses dos arts. 134 e 135 do CTN.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.775.269-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 21/02/2019 (Info 643).
Desse modo, na desconsideração da personalidade jurídica, o juiz, mediante requerimento, autoriza que
os bens particulares dos administradores ou sócios sejam utilizados para pagar as dívidas da pessoa
jurídica, mitigando, assim, a autonomia patrimonial.
Obs: alguns autores criticam essa divisão entre teorias maior e menor da desconsideração da
personalidade jurídica, afirmando que essa dicotomia está ultrapassada. É o caso, por exemplo, de Fábio
Ulhoa Coelho (Curso de Direito Comercial, Vol. 2. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012). Tais expressões,
contudo, continuam presentes na jurisprudência do STJ e são cobradas em concurso, razão pela qual vocês
deverão saber.
Recurso
O sócio ou pessoa jurídica atingidos pela desconsideração, caso não se conformem com a decisão, deverá
interpor apelação.
Enunciado 390 FPPC: Resolvida a desconsideração da personalidade jurídica na sentença, caberá apelação.
Previsão no CPC/2015
O Código dedicou um único dispositivo para tratar sobre o tema:
Art. 134 (...)
§ 2º Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica for
requerida na petição inicial, hipótese em que será citado o sócio ou a pessoa jurídica.
Pressupostos
O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos legais específicos para
desconsideração da personalidade jurídica.
Esses pressupostos estão previstos no “direito material” (art. 50 do Código Civil, art. 28 do CDC, art. 34 da
Lei nº 12.529/2011 etc.).
Suspensão do processo
A instauração do incidente suspenderá o processo.
Assim, com o pedido de instauração, suspende-se o processo, suspensão que perdurará até a decisão que
resolver o incidente.
Procedimento
1) A instauração do incidente é pedida pela parte ou pelo Ministério Público.
2) O juiz admite a instauração e determina a suspensão do processo.
3) No caso de desconsideração direta, será realizada a citação do sócio. Em se tratando de
desconsideração inversa, será determinada a citação da pessoa jurídica.
4) Depois da citação, o sócio ou a pessoa jurídica terão 15 dias para se manifestar e requerer as provas
que entender necessárias.
5) Havendo necessidade, será realizada instrução probatória (oitiva de testemunhas, perícia etc.).
6) Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória.
Recurso
• Se o incidente tramitou em 1ª instância (pedido foi decidido pelo juiz de 1º grau): a parte prejudicada
poderá interpor agravo de instrumento (art. 1.015, IV).
• Se o incidente tramitou originalmente no Tribunal (pedido foi decidido monocraticamente pelo Relator):
cabe agravo interno (art. 136, parágrafo único).
Informativo 643-STJ (29/03/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 47
Informativo
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Indaga-se: neste primeiro caso, para a inclusão da Moraes no polo passivo da execução, será necessária
a instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica?
NÃO.
Não é necessária a instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica (art. 133 do
CPC/2015) no processo de execução fiscal no caso em que a Fazenda Pública exequente pretende
alcançar pessoa jurídica distinta daquela contra a qual, originalmente, foi ajuizada a execução, mas cujo
nome consta na Certidão de Dívida Ativa, após regular procedimento administrativo.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.775.269-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 21/02/2019 (Info 643).
A inclusão do nome do devedor ou dos corresponsáveis na CDA somente pode acontecer após processo
administrativo no qual é assegurado contraditório.
Em razão disso, a jurisprudência do STJ entende que, mesmo se a execução fiscal foi inicialmente proposta
unicamente contra o devedor, durante o curso do processo poderá haver o redirecionamento para cobrar
a dívida do corresponsável que figura na CDA.
Em atenção à presunção relativa de legitimidade da CDA, o STJ pacificou entendimento segundo o qual a
execução fiscal pode ser redirecionada ao corresponsável nela indicado, cabendo à parte então executada
defender-se por meio dos embargos do devedor.
Assim, se, após regular processo administrativo, a CDA indica outra sociedade empresária como
corresponsável pelo crédito tributário em cobrança, não há necessidade de instauração do incidente de
desconsideração da personalidade jurídica da pessoa jurídica executada.
O redirecionamento pode ser feito de forma “direta”, sem mais formalidades.
HIPÓTESE 2: REDIRECIONAMENTO PARA TERCEIROS NAS HIPÓTESES DOS ARTS. 134 E 135 DO CTN
Imagine uma segunda situação hipotética:
A União ajuizou execução fiscal contra a Cristal Vestuário Ltda. cobrando débitos tributários.
Não se conseguiu fazer a citação da executada. Isso porque a empresa (Cristal) não estava mais em
funcionamento no local indicado na sua última declaração do imposto de renda.
Diante disso, a União peticionou ao juiz requerendo o redirecionamento da responsabilidade tributária a
João, sócio-gerente da empresa, com base no art. 135, III, do CTN e na Súmula 435 do STJ:
Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias
resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos:
(...)
III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.
Súmula 435-STJ: Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio
fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para
o sócio-gerente.
Vale ressaltar que o nome de João (sócio-gerente) não constou expressamente na CDA, ou seja, ele não
figurava no título executivo.
Indaga-se: neste segundo caso, para a inclusão de João no polo passivo da execução, será necessária a
instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica?
Também NÃO.
Não é necessária a instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica (art. 133 do
CPC/2015) no processo de execução fiscal no caso em que a Fazenda Pública exequente pretende
alcançar pessoa distinta daquela contra a qual, originalmente, foi ajuizada a execução, mesmo que o
nome não esteja no título executivo (CDA), desde que o Fisco demonstre a responsabilidade dessa
pessoa distinta, na qualidade de terceiro, em consonância com os arts. 134 e 135 do CTN.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.775.269-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 21/02/2019 (Info 643).
Em outras palavras, a atribuição de responsabilidade tributária fundada nos art. 134 e 135 do CTN não
depende da instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica (art. 133 do
CPC/2015).
Relembre as hipóteses dos arts. 134 e 135 do CTN:
Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo
contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões
de que forem responsáveis:
I - os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores;
II - os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados;
III - os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes;
Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias
resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou
estatutos:
I - as pessoas referidas no artigo anterior;
II - os mandatários, prepostos e empregados;
III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.
Assim, caso o pedido de redirecionamento da execução fiscal tenha por objetivo alcançar pessoas jurídicas
não elencadas na CDA, mesmo assim isso é possível, sem instauração de incidente de desconsideração,
bastando para tanto que o Fisco demonstre que a situação se enquadra em algum dos incisos dos arts.
134 ou 135 do CTN.
Feita esta comprovação, o magistrado também pode decidir pela inclusão no polo passivo sem a
instauração do incidente de desconsideração.
O redirecionamento da execução para a responsabilização de terceiros prevista nos arts. 134 e 135 do CTN
não necessita da desconsideração da pessoa jurídica devedora porque essa responsabilidade já decorre
da própria lei.
Nas exatas palavras do Min. Gurgel de Faria:
“(...) não há necessidade de desconsiderar a personalidade da pessoa jurídica devedora, pois a
legislação, estabelecendo previamente a responsabilidade tributária do terceiro, permite a
cobrança do crédito tributário diretamente dos terceiros que elenca.
Daí porque o art. 4º, incisos V e VI, da Lei n. 6.830/1980 explicita a possibilidade de ajuizamento
da execução fiscal contra o responsável legal por dívidas, tributárias ou não, das pessoas jurídicas
de direito privado e contra os sucessores a qualquer título.”
Inaplicabilidade do IDPJ quando houver responsabilidade tributária fundada em lei (arts. 134 e 135 do CTN)
A razão de ser do incidente de desconsideração é a necessidade de se garantir o contraditório prévio e
efetivo nas ações em que é requerida a desconsideração da personalidade jurídica de uma das partes.
Logo, o pressuposto básico e primeiro da instauração do incidente é a efetiva pretensão à desconsideração
da personalidade jurídica posta em juízo pela parte ou pelo Ministério Público.
Ocorre que a responsabilidade tributária dos arts. 134 e 135 do CTN não é o mesmo que desconsideração
da personalidade jurídica.
Na verdade, a prática de atos com excesso de poderes ou infração à lei, contrato social ou estatutos,
prevista no art. 135 do CTN, não representa hipótese de desconsideração da personalidade jurídica que,
de acordo com o que dispõe o art. 50 do Código Civil, só pode ser aplicada quando caracterizado o abuso
da personalidade jurídica por desvio de finalidade ou confusão patrimonial.
Os casos previstos no art. 135 do CTN denotam, na realidade, hipóteses de imputação de responsabilidade
pessoal e direta às pessoas previstas nos seus incisos.
Assim, o fenômeno da responsabilidade não se confunde com a desconsideração da personalidade
jurídica, pois não pressupõe a caracterização de situações em que a personalidade da pessoa jurídica é
utilizada para fins não condizentes com a sua função social nem pressupõe a caracterização de confusão
patrimonial ou mesmo a intenção de prejudicar terceiros.
Nos casos de responsabilidade pessoal do sócio ou administrador não se vislumbra o uso desvirtuado da
pessoa jurídica pelo sócio para a prática de atos contrários à sua finalidade social, sendo, dessa forma,
incabível a desconsideração da personalidade jurídica nessas hipóteses.
Nessa linha, a responsabilização do administrador em razão da dissolução irregular da empresa é um típico
caso de aplicação do art. 135, III, do CTN por infração à lei.
Logo, como decidido pelo STJ, não se aplica o IDPJ quando há regra de responsabilidade fundada em lei,
tal qual na hipótese dos arts. 134 e 135 do CTN.
Corroborando esse entendimento, a Escola da Magistratura Regional Federal - 2ª Região publicou o
enunciado nº 6 , aprovado no Fórum de Execuções Fiscais 2015, segundo o qual “a responsabilidade
tributária regulada no art. 135 do CTN não constitui hipótese de desconsideração da personalidade
jurídica, não se submetendo ao incidente previsto no art. 133 do CPC/2015”.
No mesmo sentido, a Escola Nacional de Formação de Aperfeiçoamento de Magistrados aprovou
enunciado contra o cabimento do incidente de desconsideração nas execuções fiscais nos casos de
requerimento de redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente: “53) O redirecionamento da
execução fiscal para o sócio-gerente prescinde do incidente de desconsideração da personalidade jurídica
previsto no art. 133 do CPC/2015 ”.
HIPÓTESE 3: REDIRECIONAMENTO PARA PESSOA DO MESMO GRUPO ECONÔMICO, QUE NÃO FIGUROU
NA CDA NEM SE ENQUADRA NOS ARTS. 134 E 135 DO CTN
Por fim, imagine uma terceira situação hipotética:
A União ajuizou execução fiscal contra a Palmeira Indústria de Alimentos Ltda. cobrando débitos tributários.
A empresa foi citada, não pagou e também não foram encontrados bens penhoráveis da devedora.
Diante disso, a União, por intermédio da Procuradoria da Fazenda Nacional, pediu o redirecionamento da
execução fiscal para a Topázio Indústria alimentícia Ltda. alegando que ela integra o mesmo grupo
econômico da executada.
A exequente argumentou que haveria solidariedade pelo interesse comum e que a Lei nº 8.212/91
atribuiria a responsabilidade solidária. Fundamentou, portanto, o pedido no art. 124 do CTN e no art. 30,
IX, da Lei nº 8.212/91
Art. 124. São solidariamente obrigadas:
I - as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação
principal;
II - as pessoas expressamente designadas por lei
Vale ressaltar que a Topázio não foi apontada como codevedora no momento do lançamento tributário
nem constou seu nome na Certidão de Dívida Ativa.
Importante ressaltar também que a empresa Topázio não se enquadra em nenhuma das situações
previstas nos arts. 134 e 135 do CTN, ou seja, não se está imputando a ela a chamada responsabilidade de
terceiro.
Indaga-se: neste terceiro caso, para a inclusão da Topázio no polo passivo da execução, será necessária
a instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica?
SIM.
Em conclusão
O redirecionamento de execução fiscal à pessoa jurídica que integra o mesmo grupo econômico da
sociedade empresária originalmente executada, mas que não foi identificada no ato de lançamento (nome
da CDA) ou que não se enquadra nas hipóteses dos arts. 134 e 135 do CTN, depende mesmo da
comprovação do abuso de personalidade, caracterizado pelo desvio de finalidade ou confusão
patrimonial, tal como consta do art. 50 do Código Civil. Daí porque, nessa hipótese, é obrigatória a
instauração do incidente de desconsideração da personalidade da pessoa jurídica devedora.
Sem a indicação da pessoa jurídica no ato de lançamento, ou sendo inexistentes as hipóteses dos arts. 134
e 135 do CTN, a imputação da responsabilidade ao grupo econômico ou à pessoa jurídica dele integrante
dependerá da desconsideração da personalidade jurídica, cujo reconhecimento somente pode ser obtido
com a instauração do referido incidente (art. 133 do CPC/2015).
Agradecimento
Agradeço ao amigo Felipe Duque pela troca de ideias e pelas valiosas contribuições.
DIREITOS DIFUSOS
Transportadora pode ser condenada, em ACP, a não trafegar com excesso de peso nas rodovias,
sob pena de multa civil (astreinte), e, além disso, ser condenada a pagar indenização por danos
morais coletivos e danos materiais
Neste caso, além da condenação a pagar a indenização, a transportadora também poderá ser
condenada a não mais trafegar com excesso de peso, sendo viável a aplicação de multa civil
(astreinte), como medida coercitiva, mesmo que já tenham sido imputadas as multas
administrativas previstas no CTB.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.574.350-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/10/2017 (Info 643).
Contestação
A empresa contestou a ação alegando que não seria possível a sua condenação judicial, considerando que
já existe no Código de Trânsito Brasileiro penalidade administrativa para quem trafega com excesso de
peso, sendo a questão resolvida, portanto, no âmbito do direito administrativo sancionador.
Art. 99. Somente poderá transitar pelas vias terrestres o veículo cujo peso e dimensões atenderem
aos limites estabelecidos pelo CONTRAN.
§ 1º O excesso de peso será aferido por equipamento de pesagem ou pela verificação de
documento fiscal, na forma estabelecida pelo CONTRAN.
(...)
O descumprimento dessa regra configura infração administrativa de trânsito, que enseja a aplicação das
seguintes penalidades:
Art. 231. Transitar com o veículo:
(...)
V - com excesso de peso, admitido percentual de tolerância quando aferido por equipamento, na
forma a ser estabelecida pelo CONTRAN:
Infração - média;
Penalidade - multa acrescida a cada duzentos quilogramas ou fração de excesso de peso apurado,
constante na seguinte tabela:
a) até seiscentos quilogramas - 5 (cinco) UFIR;
b) de seiscentos e um a oitocentos quilogramas - 10 (dez) UFIR;
c) de oitocentos e um a um mil quilogramas - 20 (vinte) UFIR;
d) de um mil e um a três mil quilogramas - 30 (trinta) UFIR;
e) de três mil e um a cinco mil quilogramas - 40 (quarenta) UFIR;
f) acima de cinco mil e um quilogramas - 50 (cinquenta) UFIR;
Medida administrativa - retenção do veículo e transbordo da carga excedente;
Vale ressaltar que o dano moral coletivo, neste caso, é in re ipsa, ou seja, deriva do fato por si só.
(...) 1. O dano moral coletivo, assim entendido o que é transindividual e atinge uma classe específica ou
não de pessoas, é passível de comprovação pela presença de prejuízo à imagem e à moral coletiva dos
indivíduos enquanto síntese das individualidades percebidas como segmento, derivado de uma mesma
relação jurídica-base.
2. O dano extrapatrimonial coletivo prescinde da comprovação de dor, de sofrimento e de abalo psicológico,
suscetíveis de apreciação na esfera do indivíduo, mas inaplicável aos interesses difusos e coletivos. (...)
STJ. 2ª Turma. REsp 1057274/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 01/12/2009.
Fato notório que tráfego de veículos com excesso de peso causa danos materiais às vias públicas
É fato notório (art. 374, I, do CPC) que o tráfego de veículos com excesso de peso provoca sérios danos
materiais às vias públicas, ocasionando definhamento da durabilidade e da vida útil da camada que reveste
e dá estrutura ao pavimento e ao acostamento, o que resulta em buracos, fissuras, lombadas e
depressões, imperfeições no escoamento da água, tudo a ampliar custos de manutenção e de
recuperação, consumindo recursos públicos.
Ademais, acelera a depreciação dos veículos que utilizam a malha viária, impactando, em particular, nas
condições e desempenho do sistema de frenagem da frota do embarcador/expedidor.
Além disso, afeta as condições gerais de segurança das vias e estradas, o que aumenta o número de
acidentes, inclusive fatais.
Em consequência, provoca dano moral coletivo consistente no agravamento dos riscos à saúde e à
segurança de todos, prejuízo esse atrelado igualmente à redução dos níveis de fluidez do tráfego e de
conforto dos usuários.
Em suma:
Transportadora que constantemente descumpre o Código de Trânsito e trafega com seus veículos com
cargas acima do peso permitido pode ser condenada ao pagamento de danos morais coletivos e danos
materiais.
O tráfego de veículos com excesso de peso gera responsabilidade civil em razão dos danos materiais às vias
públicas e do dano moral coletivo consistente no agravamento dos riscos à saúde e à segurança de todos.
Neste caso, além da condenação a pagar a indenização, a transportadora também poderá ser condenada
a não mais trafegar com excesso de peso, sendo viável a aplicação de multa civil (astreinte), como
medida coercitiva, mesmo que já tenham sido imputadas as multas administrativas previstas no CTB.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.574.350-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/10/2017 (Info 643).
DIREITO PENAL
DOSIMETRIA DA PENA
A existência de condenações definitivas anteriores não se presta a fundamentar
o aumento da pena-base como personalidade voltada para o crime
Importante!!!
A existência de condenações definitivas anteriores não se presta a fundamentar a
exasperação da pena-base como personalidade voltada para o crime.
Condenações transitadas em julgado não constituem fundamento idôneo para análise
desfavorável da personalidade do agente.
STJ. 5ª Turma. HC 466.746/PE, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 11/12/2018.
STJ. 6ª Turma. HC 472.654-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 21/02/2019 (Info 643).
Sistema trifásico
A etapa judicial adotou o sistema trifásico da dosimetria, conforme explicitado no item 51 da Exposição
de Motivos da Parte Geral do Código Penal e delineado no art. 68 do Código Penal.
Assim, a dosimetria da pena na sentença obedece a um critério trifásico:
1º passo: o juiz calcula a pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, CP;
2º passo: o juiz aplica as agravantes e atenuantes;
3º passo: o juiz aplica as causas de aumento e de diminuição.
Este critério trifásico, elaborado por Nelson Hungria, foi adotado pelo Código Penal, sendo consagrado
pela jurisprudência pátria: STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1021796/RS, Rel. Min. Assusete Magalhães,
julgado em 19/03/2013.
Para que o magistrado faça a valoração da personalidade do agente, ele deverá se valer de perícia? É
necessária a realização de um estudo técnico?
NÃO.
A valoração da personalidade do agente na dosimetria da pena envolve o “sentir do julgador”, que tem
contato com as provas, com os meandros do processo. Justamente por isso, não é necessária a realização
de qualquer estudo técnico.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 438.168/MS, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 21/06/2018.
Vale ressaltar, no entanto, que o juiz, para considerar como negativa a personalidade do agente, não pode
fazer considerações vagas e genéricas. É necessário que o julgador aponte elementos concretos extraídos
dos autos.
A consideração desfavorável da personalidade do agente, portanto, deve ser aferida a partir do seu modo
de agir, podendo-se avaliar a insensibilidade acentuada, a maldade, a desonestidade e a perversidade
demonstrada e utilizada pelo criminoso na consecução do delito. Sua aferição somente é possível se
existirem, nos autos, elementos suficientes e que efetivamente possam levar o julgador a uma conclusão
segura sobre a questão (Min. Laurita Vaz).
O conceito de maus antecedentes, por ser mais amplo do que o da reincidência, abrange as condenações
definitivas, por fato anterior ao delito, transitadas em julgado no curso da ação penal e as atingidas pelo
período depurador, ressalvada casuística constatação de grande período de tempo ou pequena gravidade
do fato prévio.
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 924.174/DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 06/12/2016.
Logo, não é possível que se queira utilizar as condenações anteriores para exasperar a pena com base na
“personalidade do agente”.
A exasperação da pena pela consideração desfavorável do vetor “personalidade” deve ser realizada com
fundamentos próprios e diversos daquela relativa aos “antecedentes”. Isso porque, repita-se, o objetivo
do legislador foi o de prever oito vetores que possuem conceitos diferentes e que não se confundem.
Conduta social
Sobre o tema acima, vale a pena relembrar também que:
Não é possível a utilização de condenações anteriores com trânsito em julgado como fundamento para
negativar a conduta social.
STF. 2ª Turma. RHC 130132, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/5/2016 (Info 825).
STJ. 6ª Turma. REsp 1760972-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 08/11/2018 (Info 639).
Não confundir
• Personalidade: análise da insensibilidade, desonestidade e modo de agir do criminoso.
• Antecedentes: histórico criminal do agente (aqui entram as condenações anteriores definitivas).
• Conduta social: representa o comportamento do agente no meio familiar, no ambiente de trabalho e no
relacionamento com outros indivíduos.
DIREITO TRIBUTÁRIO
COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA
Comprovação necessária para o MS impetrado objetivando
a declaração do direito à compensação tributária
Tratando-se de Mandado de Segurança impetrado com vistas a declarar o direito à
compensação tributária, em virtude do reconhecimento da ilegalidade ou
inconstitucionalidade da exigência da exação, independentemente da apuração dos
respectivos valores, é suficiente, para esse efeito, a comprovação de que o impetrante ocupa
a posição de credor tributário, visto que os comprovantes de recolhimento indevido serão
exigidos posteriormente, na esfera administrativa, quando o procedimento de compensação
for submetido à verificação pelo Fisco.
De outro lado, tratando-se de Mandado de Segurança com vistas a obter juízo específico
sobre as parcelas a serem compensadas, com efetiva investigação da liquidez e certeza dos
créditos, ou, ainda, na hipótese em que os efeitos da sentença supõem a efetiva homologação
da compensação a ser realizada, o crédito do contribuinte depende de quantificação, de
modo que a inexistência de comprovação cabal dos valores indevidamente recolhidos
representa a ausência de prova pré-constituída indispensável à propositura da ação.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.715.256-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 13/02/2019
(recurso repetitivo) (Info 643).
COMPENSAÇÃO TRIBUTÁRIA
O que é compensação?
Compensação é a extinção de duas ou mais obrigações, cujos credores são ao mesmo tempo devedores
um do outro.
Assim, se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações
extinguem-se, até onde se compensarem (art. 368 do CC).
Ex: João deve 10 mil reais a Pedro por conta de uma obrigação (contrato de compra e venda); por força
de outra obrigação (contrato de prestação de serviços), Pedro deve 10 mil reais a João.
No exemplo acima, a compensação foi total (as dívidas eram iguais). Mas é possível (e bem mais comum)
que a compensação seja parcial (quando os valores são diferentes). Seria a hipótese caso Pedro devesse
apenas 6 mil reais a João. Logo, somente restaria um crédito de 4 mil reais.
O Fisco autuou a empresa, exigindo o pagamento da diferença não paga (R$ 50 mil), acrescida dos
encargos legais.
Diante disso, a contribuinte impetrou mandado de segurança pedindo que o Secretário de Fazenda se
abstenha de exigir o recolhimento do imposto, em virtude da compensação realizada.
Nesse sentido:
(...) 1. É cabível a impetração do mandado de segurança visando a declaração ao direito à compensação
tributária (Súmula 213/STJ). Todavia, essa ação não tem o condão de convalidar o procedimento
compensatório efetuado pelo contribuinte, tendo em vista a necessidade de dilação probatória e por ser
essa tarefa reservada à Autoridade Administrativa competente.
2. Na espécie, há pedido expresso na ação mandamental no sentido de que se reconheça válida a
compensação efetuada pela contribuinte, por sua conta e risco, providência que não se coaduna com a
via eleita, que não comporta a dilação probatória necessária para o reconhecimento do pleito. (...)
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 728.686/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 28/10/2008.
Em suma:
Súmula 212-STJ Súmula 213-STJ Súmula 460-STJ
A compensação de créditos O mandado de segurança É incabível o mandado de
tributários não pode ser deferida constitui ação adequada para a segurança para convalidar a
em ação cautelar ou por medida declaração do direito à compensação tributária
liminar cautelar ou antecipatória. compensação tributária. realizada pelo contribuinte.
DOCUMENTOS QUE DEVEM SER JUNTADOS PELO AUTOR DO MS QUE PLEITEIA A DECLARAÇÃO DA COMPENSAÇÃO
Como se sabe, no mandado de segurança não existe dilação probatória. Desse modo, o impetrante deve
apresentar, já na petição inicial, todos as provas pré-constituídas (documentos) que possam comprovar o
seu direito líquido e certo.
Quais documentos deverão ser juntados pelo impetrante no caso de MS no qual se busca a declaração
do direito à compensação tributária?
Depende da extensão do pedido.
É possível identificarmos duas hipóteses:
1) O impetrante se limita a pedir para que seja reconhecido o direito à compensação, mas sem fazer
considerações sobre os elementos concretos da compensação.
acréscimos de juros e correção monetária sobre ele incidente, inexistência de prescrição do direito de
compensar), ou (b) pedido de outra medida executiva que tem como pressuposto a efetiva realização da
compensação (v.g.: expedição de certidão negativa, suspensão da exigibilidade dos créditos tributários
contra os quais se opera a compensação). Nesse caso, o reconhecimento da liquidez e certeza do direito
afirmado depende necessariamente da comprovação dos elementos concretos da operação realizada ou
que o impetrante pretende realizar. Precedentes da 1ª Seção (EREsp 903.367/SP, Min. Denise Arruda, DJe
de 22.09.2008) e das Turmas que a compõem. (...)
STJ. 1ª Seção. REsp 1111164/BA, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 13/05/2009 (recurso
repetitivo) (Tese 118).
O STJ decidiu reiterar o entendimento exposto no REsp 1111164/BA, mas explicando melhor a tese fixada:
Tratando-se de Mandado de Segurança impetrado com vistas a declarar o direito à compensação
tributária, em virtude do reconhecimento da ilegalidade ou inconstitucionalidade da exigência da
exação, independentemente da apuração dos respectivos valores, é suficiente, para esse efeito, a
comprovação de que o impetrante ocupa a posição de credor tributário, visto que os comprovantes de
recolhimento indevido serão exigidos posteriormente, na esfera administrativa, quando o
procedimento de compensação for submetido à verificação pelo Fisco.
De outro lado, tratando-se de Mandado de Segurança com vistas a obter juízo específico sobre as
parcelas a serem compensadas, com efetiva investigação da liquidez e certeza dos créditos, ou, ainda,
na hipótese em que os efeitos da sentença supõem a efetiva homologação da compensação a ser
realizada, o crédito do contribuinte depende de quantificação, de modo que a inexistência de
comprovação cabal dos valores indevidamente recolhidos representa a ausência de prova pré-
constituída indispensável à propositura da ação.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.715.256-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 13/02/2019 (recurso
repetitivo) (Info 643).
PROTESTO DE CDA
É possível o protesto de CDA
Importante!!!
A Fazenda Pública possui interesse e pode efetivar o protesto da CDA, documento de dívida,
na forma do art. 1º, parágrafo único, da Lei n. 9.492/1997, com a redação dada pela Lei nº
12.767/2012.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.686.659-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/11/2018 (recurso
repetitivo) (Info 643).
DIREITO ADUANEIRO
O termo inicial para fins de multa e juros moratórios que decorrem da não exportação de
produtos que foram isentos do recolhimento de tributos em razão do Drawback-suspensão é a
data em que se encerra a condição suspensiva
No regime especial Drawback-suspensão, o termo inicial para fins de multa e juros moratórios
será o 31º dia do inadimplemento do compromisso de exportar, ou seja, quando escoado o
prazo da suspensão.
Antes disso, o contribuinte não está em mora, em razão do seu prazo de graça.
Assim, somente a partir do 31º dia ocorre a mora do contribuinte em razão do
descumprimento da norma tributária a qual determina o pagamento do tributo no regime
especial até 30 dias da imposição de exportar.
Ex: empresa importou peças e tinha 1 ano para exportar as máquinas fabricadas com essa
matéria-prima. Depois que esgotado o prazo de 1 ano, se a empresa não tiver exportado as
máquinas, terá 30 dias para pagar o imposto de importação que estava suspenso. Enquanto
não esgotado esse prazo, não há mora (não são devidos juros nem multa).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.310.141-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 26/02/2019
(Info 643).
Drawback
Drawback é uma palavra de origem inglesa, cuja tradução literal seria algo como “arrastar de volta”.
Trata-se de uma operação pela qual o contribuinte se compromete a importar a mercadoria, beneficiá-la
e, depois, mandá-la de volta ao exterior (exportá-la).
Nas palavras do Min. João Otávio de Noronha, “drawback” é a operação mediante a qual o contribuinte,
para fazer jus a incentivos fiscais, importa mercadoria com o compromisso de exportá-la após o
beneficiamento (STJ REsp 385634/BA).
Com a maestria de quem conhece muito sobre o assunto, a Min. Regina Helena Costa explica em que
consiste o drawback:
“O drawback constitui um regime aduaneiro especial, que pode apresentar-se em três
modalidades - isenção, suspensão e restituição de tributos - e é classificado como incentivo à
exportação, nos termos dos arts. 1º, I, da Lei nº 8.402/92 e 383, caput, do Decreto nº 6.759/09. O
incentivo consubstancia-se na desoneração do processo de produção o que acaba tornando a
subsequente mercadoria nacional mais competitiva no mercado global.” (STJ REsp 1313705/PR).
Exemplo: uma indústria de automóveis importa matérias-primas, fabrica carros no Brasil e os revende
para o exterior. Para o Brasil, isso é algo produtivo, considerando que favorece a balança comercial, já que
houve o ingresso de uma mercadoria que será em seguida reenviada para o exterior com um valor maior
em razão do melhoramento do produto (agregou-se valor à mercadoria que será exportada). Com isso,
em tese, mais divisas ficam no país, gerando aqui emprego e renda.
Diante desse cenário, o país incentiva a referida operação, concedendo benefícios fiscais para o
contribuinte que se compromete a realizar o drawback.
Modalidades
Existem três modalidades de drawback:
MODALIDADES DE DRAWBACK
ISENÇÃO SUSPENSÃO RESTITUIÇÃO
Consiste na concessão É a suspensão dos tributos incidentes na É a devolução, em
de isenção dos tributos importação de mercadoria a ser utilizada na forma de créditos,
que incidem na industrialização de produto que deve ser do valor dos tributos
importação das exportado. pagos na importação
mercadorias que serão As obrigações tributárias ficam suspensas por de insumo
utilizadas na determinado prazo e, caso não ocorra a importado utilizado
industrialização do comprovação das exportações nos termos e em produto
produto a ser condições previstos na legislação, os tributos exportado.
exportado. suspensos deverão ser recolhidos com os devidos
acréscimos legais.
Drawback suspensão
Drawback suspensão é o regime aduaneiro especial que permite a importação de insumos sem a
incidência do Imposto de Importação (mediante a suspensão da exigibilidade desse crédito tributário),
condicionada à exportação desses bens, conforme previsto no art. 71 do DL 37/1966 e atualmente
disciplinado no art. 383 do Decreto 6.759/2009 (Regulamento Aduaneiro):
Art. 383. O regime de drawback é considerado incentivo à exportação, e pode ser aplicado nas
seguintes modalidades:
Fato gerador
O fato gerador do imposto de importação ocorreu com o desembaraço aduaneiro das peças que
futuramente seriam destinadas à exportação. Neste momento, surgiu, teoricamente, a obrigação
tributária do imposto de importação.
O que significa “acréscimos legais devidos” previsto no art. 390, I, “c”, do Decreto nº 6.759/2009? Seriam
os juros e multa?
NÃO. O termo “acréscimos legais devidos” diz respeito, exclusivamente, à correção monetária do valor do
tributo devido, com o intuito de compensar a perda do valor econômico da moeda perante à inflação.
Os juros de mora e a multa moratória ocorrem somente com o não cumprimento da obrigação tributária
no prazo estabelecido pela legislação a partir do trigésimo primeiro dia do inadimplemento do
compromisso de exportar.
Em suma:
No regime especial Drawback-suspensão, o termo inicial para fins de multa e juros moratórios será o
31º dia do inadimplemento do compromisso de exportar, ou seja, quando escoado o prazo da
suspensão.
Antes disso, o contribuinte não está em mora, em razão do seu prazo de graça.
Assim, somente a partir do 31º dia ocorre a mora do contribuinte em razão do descumprimento da
norma tributária a qual determina o pagamento do tributo no regime especial até 30 dias da imposição
de exportar.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.310.141-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 26/02/2019 (Info 643).
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
DECADÊNCIA
O prazo decadencial de 10 anos (art. 103 da Lei 8.213/91) aplica-se para o requerimento de
benefício previdenciário mais vantajoso, cujo direito fora adquirido em data anterior à
implementação do benefício previdenciário ora em manutenção
Importante!!!
Incide o prazo decadencial previsto no caput do art. 103 da Lei nº 8.213/91 para
reconhecimento do direito adquirido ao benefício previdenciário mais vantajoso.
No âmbito da previdência social, é garantido ao segurado o direito adquirido sempre que,
preenchidos os requisitos para o gozo de determinado benefício, lei posterior o revogue,
estabeleça requisitos mais rigorosos para a sua concessão ou, ainda, imponha critérios de
cálculo menos favoráveis a ele.
O direito de pleitear o benefício mais vantajoso e que não foi garantido no momento da
concessão do benefício atual, deve ser exercido por seu titular no prazo decadencial de 10
anos. Isso porque o reconhecimento do direito adquirido ao benefício mais vantajoso
equipara-se ao ato revisional e, por isso, está submetido ao regramento legal.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.612.818-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 13/02/2019
(recurso repetitivo) (Info 643).
Ocorre que João entende que o valor do benefício concedido foi menor do que teria direito.
João procurou o INSS e requereu o aumento do valor de seu benefício, o que foi negado
administrativamente.
Inconformado, João quer ingressar com uma ação judicial para aumentar o valor de seu benefício.
Esse prazo decadencial nem sempre existiu. Vejamos um histórico sobre o tema:
• Antes da MP 1.523-9/97 (28/06/1997): não havia prazo para a ação de revisão de benefício
previdenciário, que, portanto, podia ser ajuizada a qualquer tempo.
• Depois da MP 1.523-9/97 (convertida na Lei nº 9.528/97): foi fixado o prazo decadencial de 10 anos para
a revisão do benefício previdenciário.
• Com a MP 1.663-15/98 (convertida na Lei nº 9.711/98): o prazo decadencial para revisão foi reduzido
para 5 anos.
• Com a MP 138/2003, de 20.11.2003 (convertida na Lei nº 10.839/2004): o prazo decadencial para revisão
voltou a ser de 10 anos.
Desse modo, repita-se: antes da MP 1.523-9/97 (28/06/1997), não havia prazo para ajuizar ação de revisão
de benefícios previdenciários.
Diante dessa constatação, indaga-se: o prazo de 10 anos de decadência, fixado pela MP 1.523-9/97
(28/06/1997), aplica-se aos benefícios concedidos em data anterior à sua vigência? Em outras palavras,
se o benefício foi concedido antes da MP 1.523-9/97 (28/06/1997), haverá prazo máximo de 10 anos
para revisão ou não haverá qualquer prazo?
Haverá prazo máximo de 10 anos, contados da edição da MP 1.523-9/97 (28/06/1997).
Ex: Antônio recebeu benefício previdenciário em 01/05/1990.
Na época em que Antônio recebeu o benefício ainda não havia prazo decadencial para ajuizar ação de
revisão de benefício previdenciário (foi antes da MP 1.523-9/97).
Logo, Antônio poderia ajuizar a ação de revisão a qualquer tempo.
Em 28/06/1997 entrou em vigor a MP 1.523-9/97 fixando prazo de 10 anos para a revisão.
Essa MP irá influenciar em eventual ação de revisão do benefício proposta por Antônio?
SIM. A partir da vigência da MP (28/06/1997), Antônio terá um prazo decadencial de 10 anos para ajuizar
eventual ação de revisão de seu benefício.
Logo, nesse exemplo, Antônio poderia ajuizar ação de revisão até 28/06/2007.
Esse foi o entendimento da Primeira Seção do STJ no REsp 1.309.529-PR, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 28/11/2012 (recurso repetitivo).
O STF também comunga do mesmo entendimento:
(...) 1. O direito à previdência social constitui direito fundamental e, uma vez implementados os
pressupostos de sua aquisição, não deve ser afetado pelo decurso do tempo. Como consequência, inexiste
prazo decadencial para a concessão inicial do benefício previdenciário.
2. É legítima, todavia, a instituição de prazo decadencial de dez anos para a revisão de benefício já
concedido, com fundamento no princípio da segurança jurídica, no interesse em evitar a eternização dos
litígios e na busca de equilíbrio financeiro e atuarial para o sistema previdenciário.
3. O prazo decadencial de dez anos, instituído pela Medida Provisória 1.523, de 28.06.1997, tem como
termo inicial o dia 1º de agosto de 1997, por força de disposição nela expressamente prevista. Tal regra
incide, inclusive, sobre benefícios concedidos anteriormente, sem que isso importe em retroatividade
vedada pela Constituição.
4. Inexiste direito adquirido a regime jurídico não sujeito a decadência. (...)
STF. Plenário. RE 626489, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 16/10/2013 (repercussão geral) (Info 724).
Recapitulando:
Foram muitas informações. Vamos resumi-las:
• A lei prevê um prazo decadencial de 10 anos para a propositura de ação de revisão de benefício
previdenciário (art. 103 da Lei nº 8.213/91);
• Esse prazo decadencial de 10 anos foi instituído em 28/06/1997, pela MP 1.523-9/97. Antes desta MP,
não havia prazo para a revisão dos benefícios;
• Se um benefício foi concedido antes da MP 1.523-9/97 (28/06/1997), a revisão desse benefício também
se sujeita ao prazo decadencial de 10 anos. Porém, esse prazo de 10 anos teve início não na data em que
o benefício foi concedido, mas no dia 28/06/1997, data em que entrou em vigor a MP 1.523-9/97;
• Dessa forma, as pessoas cujos benefícios previdenciários foram concedidos até 28/06/1997 (data da MP
1.523-9/97), se desejavam a revisão do benefício, tiveram que ingressar com a ação até 28/06/2007 (10
anos após a MP). Após esse prazo, houve a decadência do direito;
• O STF também comunga desse entendimento. Para a Corte, não existe direito adquirido à inexistência
de prazo decadencial para fins de revisão de benefício previdenciário, ou seja, mesmo para as pessoas que
tiveram benefícios concedidos antes da MP 1.523-9/97 vale o lapso decadencial de 10 anos, que será
contado a partir da vigência da referida medida provisória.
(...) 1. O prazo decadencial previsto no art. 103 da Lei 8.213/1991 aplica-se somente aos casos em que o
segurado busca a revisão do ato de concessão do benefício previdenciário.
2. Por conseguinte, não incide a decadência prevista no art. 103, caput, da Lei 8.213/1991 nas pretensões
de aplicação dos tetos das Emendas Constitucionais 20/1998 e 41/2003 a benefícios previdenciários
concedidos antes dos citados marcos legais, pois consubstanciam mera revisão das prestações
supervenientes ao ato de concessão.
3. A Instrução Normativa INSS/PRES 45, de 6 de agosto de 2010, corrobora tal entendimento: “art. 436.
Não se aplicam às revisões de reajustamento e às estabelecidas em dispositivo legal, os prazos de
decadência de que tratam os arts. 103 e 103-A da Lei 8.213, de 1991”.
4. Ressalte-se que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 564.354/SE, submetido à sistemática
da repercussão geral, nos termos art. 543-B, § 3º, do CPC, afirmou que "não ofende o ato jurídico perfeito
a aplicação imediata do art. 14 da Emenda Constitucional n. 20/1998 e do art. 5º da Emenda Constitucional
n. 41/2003 aos benefícios previdenciários limitados a teto do regime geral de previdência estabelecido
antes da vigência dessas normas, de modo a que passem a observar o novo teto constitucional"
5. Embargos de Declaração acolhidos, sem efeitos infringentes, apenas para prestar esclarecimentos.
STJ. 2ª Turma. EDcl no AgRg no REsp 1444992/RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/04/2015.
Assim, o STF garantiu a possibilidade de os segurados verem seus benefícios deferidos ou revisados de
modo que correspondam à maior renda mensal inicial (RMI) possível no cotejo entre aquela obtida e as
rendas mensais que estariam percebendo na mesma data caso tivessem requerido o benefício em algum
momento anterior, desde quando possível a aposentadoria proporcional, com efeitos financeiros a contar
do desligamento do emprego ou da data de entrada do requerimento, respeitadas a decadência do direito
à revisão e a prescrição quanto às prestações vencidas.
Logo, se ficar demonstrado que o valor da RMI de João era maior se calculada com base no ano de 1978,
ele terá direito a esse cálculo, mesmo tendo se aposentado somente em 1980. Isso se justifica porque,
uma vez incorporado o direito à aposentação ao patrimônio do segurado, sua permanência na ativa não
pode prejudicá-lo.
Ao não exercer seu direito assim que cumpridos os requisitos mínimos para tanto, o segurado deixaria de
perceber o benefício mensal desde já e ainda prosseguiria contribuindo para o sistema. Dessa feita, não
faria sentido que, ao requerer o mesmo benefício posteriormente (aposentadoria), o valor da sua RMI
fosse inferior àquele que já poderia ter obtido.
Assim, para se apurar o direito adquirido ao melhor benefício, recalcula-se o benefício fazendo retroagir
hipoteticamente a data do início do benefício à data em que já teria sido possível exercer o direito à
aposentadoria. Os pagamentos é que não retroagem à nova data de início do benefício, pois dependentes
do exercício do direito. Logo, em nosso exemplo, o benefício seria recalculado com base na RMI do ano
de 1978, sendo que os pagamentos seriam feitos, contudo, somente a partir de 1980 (quando houve o
requerimento).
Esse entendimento continua sendo aplicado pela jurisprudência:
O acórdão do Tribunal de origem está alinhado à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido
de que, em reconhecimento do direito adquirido ao melhor benefício, ainda que sob a vigência de uma
mesma lei, teria o segurado direito a eleger o benefício mais vantajoso.
STF. 1ª Turma. RE 1156918 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 26/10/2018.
A decadência justifica-se como respeito ao erário, ao dinheiro público, como ele é gasto, evitando
descompasso nas contas da previdência social. Se há, realmente, um direito ao melhor benefício de
aposentadoria, esse direito deve ser exercido em 10 anos, considerando que o reconhecimento do direito
adquirido ao melhor benefício equipara-se à revisão, quando já em manutenção na vida do trabalhador
segurado uma aposentadoria.
O segurado tem, portanto, 10 anos para aferir a viabilidade de alteração do seu ato de concessão de
aposentadoria, após o qual caducará o direito adquirido ao melhor benefício.
EXERCÍCIOS
Julgue os itens a seguir:
1) O militar temporário não estável, considerado incapaz apenas para o serviço militar, somente terá direito
à reforma ex officio se comprovar o nexo de causalidade entre a moléstia sofrida e a prestação das
atividades militares. ( )
2) A legislação municipal pode reduzir o patamar mínimo de proteção marginal dos cursos d'água, em toda
sua extensão, fixado pelo Código Florestal. ( )
3) Explique em que consiste a chamada Justiça Multiportas.
4) Configura abuso de direito a denúncia imotivada pelo cliente de contrato de prestação de serviços
advocatícios firmado com cláusula de êxito antes do resultado final do processo, salvo quando houver
estipulação contratual que a autorize ou quando ocorrer fato superveniente que a justifique. Neste caso,
o advogado deverá receber integralmente o valor do êxito. ( )
5) A incapacidade superveniente de uma das partes, após a decretação do divórcio, tem o condão de alterar
a competência funcional do juízo prevento. ( )
6) A Fazenda Pública possui interesse e pode efetivar o protesto da CDA, documento de dívida, na forma
do art. 1º, parágrafo único, da Lei n. 9.492/1997, com a redação dada pela Lei nº 12.767/2012. ( )
7) O interessado deverá ser intimado para a realização do preparo recursal nas hipóteses de indeferimento
ou de não processamento do pedido de gratuidade da justiça. ( )
8) (Juiz Federal TRF2 2018) A gratuidade da justiça não compreende:
A) Os emolumentos devidos a notários ou registradores.
B) as despesas com a realização de exame de código genético - DNA.
C) A dispensa da publicação em outros meios que não oficiais.
D) Os honorários do advogado.
E) As obrigações decorrentes da sucumbência, que ficarão sob condição suspensiva.
17) (PGE/AP 2018 FCC) No tocante ao incidente de desconsideração da personalidade jurídica, considere os
enunciados seguintes:
I. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no
cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial.
II. A instauração do incidente dar-se-á mesmo que a desconsideração da personalidade jurídica tenha
sido requerida na petição inicial, em respeito ao contraditório e à ampla defesa.
III. Concluída a instauração no incidente instaurado, será ele resolvido por meio de sentença.
IV. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida em fraude de
execução, será ineficaz em relação ao requerente.
Está correto o que se afirma APENAS em
A) II e IV.
B) I e IV.
C) I, II e IV.
D) II, III e IV.
E) I, II e III.
18) (MP/MS 2018) O incidente de desconsideração da personalidade jurídica não suspende o processo e não
pode ser instaurado na execução fundada em título executivo extrajudicial ou no cumprimento da
sentença. ( )
19) (DPE/PE 2018 CESPE) Beatriz ajuizou ação de cobrança contra determinada empresa. Paralelamente, por
petição simples, ela instaurou, contra a mesma empresa, incidente de desconsideração da personalidade
jurídica contemporânea e em apenso à petição inicial. No âmbito da ação de cobrança, foi julgado
procedente o pedido de desconsideração da personalidade jurídica que havia sido formulado.
Com relação ao incidente referido na situação hipotética, assinale a opção correta.
A) A alienação de bens será sempre ineficaz em relação à Beatriz, bastando, para tanto, que o seu pedido
do referido incidente seja julgado procedente.
B) Como o referido incidente foi instaurado paralelamente à inicial, dispensa-se a comunicação ao
distribuidor.
Informativo 643-STJ (29/03/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 72
Informativo
comentado
C) Seria dispensável a instauração do referido incidente caso a desconsideração tivesse sido requerida
na petição inicial da ação de cobrança.
D) A instauração do referido incidente não provoca, em nenhuma hipótese legal, a suspensão do
processo.
E) Contra a decisão que julgará o referido incidente, caberá agravo interno.
20) (MPE GO 2016 banca própria) Segundo o Código de Processo Civil, o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica não se aplica ao processo de competência dos juizados especiais, tendo em vista
o princípio da celeridade processual. ( )
21) O tráfego de veículos com excesso de peso gera responsabilidade civil em razão dos danos materiais às
vias públicas e do dano moral coletivo consistente no agravamento dos riscos à saúde e à segurança de
todos. ( )
22) A existência de condenações definitivas anteriores pode ser utilizada para fundamentar a exasperação
da pena-base como personalidade voltada para o crime. ( )
23) Tratando-se de Mandado de Segurança impetrado com vistas a declarar o direito à compensação
tributária, em virtude do reconhecimento da ilegalidade ou inconstitucionalidade da exigência da exação,
independentemente da apuração dos respectivos valores, é suficiente, para esse efeito, a comprovação
de que o impetrante ocupa a posição de credor tributário, visto que os comprovantes de recolhimento
indevido serão exigidos posteriormente, na esfera administrativa, quando o procedimento de
compensação for submetido à verificação pelo Fisco. ( )
24) O termo inicial para fins de multa e juros moratórios que decorrem da não exportação de produtos que
foram isentos do recolhimento de tributos em razão do Drawback-suspensão é a data em que se encerra
a condição suspensiva. ( )
25) Não incide o prazo decadencial previsto no caput do art. 103 da Lei nº 8.213/91 para reconhecimento do
direito adquirido ao benefício previdenciário mais vantajoso. ( )
Gabarito
1. C 2. E 3. - 4. E 5. E 6. C 7. C 8. Letra E 9. C 10. C
11. C 12. Letra D 13. C 14. E 15. E 16. Letra B 17. Letra B 18. E 19. Letra C 20. E
21. C 22. E 23. C 24. C 25. E