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REVISTA DO CFCH • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ISSN 2177-9325 • www.revista.cfch.ufrj.br


Edição Especial SIAC 2017

“Paternidade verdadeira” – delineamentos jurídicos da filiação


socioafetiva e biológica
Ana Paula Agra
anapaulaagra@gmail.com
Instituto de Psicologia

Raiana Cassia Fulan Gomes


raianafulan@gmail.com
Instituto de Psicologia

Orientadoras:
Hebe Signorini Gonçalves
hebe@globo.com
Instituto de Psicologia

Claudia Macedo Gonçalves


claumg48@gmail.com
Instituto de Psicologia
Palavras-chave:
Paternidade socioafetiva. Paternidade biológica.Multiparentalidade.

O presente trabalho integra o projeto de extensão "Psicologia e Direitos da


Infância" e tem por objetivo desenvolver o recorte da multiparentalidade através da
relação entre paternidade biológica e paternidade socioafetiva em processos de
destituição do poder familiar,colocando em evidência a relação entre Psicologia e
Direito.A partir da incidência de disputas sobre a paternidade no judiciário brasileiro e
da utilização do exame de DNA como principal instrumento para resolução desta
questão, surgiu a problematização na literatura sobre a relevância do biológico em
detrimento do socioafetivo na definição da “paternidade verdadeira”. A discussão sobre
a prevalência do elemento biológico atribuído à paternidade como prova fática do
vínculo parental se intensificou após a entrada da afetividade no mundo jurídico, uma
vez que o conflito entre a filiação biológica e a filiação socioafetiva, na tradição do
direito de família brasileiro, se resolvia historicamente em benefício da primeira(LÔBO,
2006).
A paternidade socioafetiva começou a se mostrar como realidade jurídica a partir
de processos de adoção e de guarda surgidos em diferentes situações, como por
exemplo, pela ausência do pai biológico, que ainda hoje muitas vezes é significado
como “pai verdadeiro”. É comum que o pai biológico reapareça e reivindique a

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paternidade da criança, criando uma disputa pela paternidade, pois em alguns casos já
existe outra pessoa cumprindo aquele papel. Quando isso acontece, a questão é levada à
justiça, cabendo ao juiz decidir quem irá ocupar o lugar de pai.
O delineamento axiológico dado à família ora requeria a biologia como elemento
configurador da paternidade, ora o afeto, revelando uma disputa de sentidos atribuídos
às relações familiares. A partir desta nova realidade, as Varas de Família e as Varas da
Infância, da Juventude e do Idoso, através de instrumentos distintos, auferiam a
paternidade, seja pelo critério biológico, o exame de DNA, seja pelo critério
socioafetivo, os estudos sociais e psicológicos (BRITO; AYRES, 2004). Este impasse
acerca do “pai verdadeiro” parece ter sido dirimido em 2016, quando o Supremo
Tribunal Federal (STF) reconheceu juridicamente a paternidade socioafetiva e concedeu
igualdade jurídica ao vínculo socioafetivo e ao vínculo biológico, através do
reconhecimentoda possibilidade jurídica da multiparentalidade.
A multiparentalidade surge como conceito jurídico após o julgamento do
Recurso Extraordinário nº 898.060 pelo STF, que trouxe a debate o tema da prevalência
ou equiparação da filiação socioafetiva em relação à biológica. A decisão criou a
Repercussão Geral 622, tese que servirá de parâmetro para casos futuros, que afirma
que “A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o
reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com
os efeitos jurídicos próprios” (STF, REx nº 898.060, Rel Min. Luiz Fux, Plenário, pub.
24/08/2017). Com esta decisão o STF rompeu com dois dogmas que permeavam o
direito de família: (i) a dualidade parental, de que cada pessoa tem apenas um pai e uma
mãe e (ii) a “verdade” biológica, de que só é mãe ou pai aquele quedetém vínculo
biológico/genético com o filho.
Diante destas novas configurações de relações familiares e do reconhecimento
da paternidade socioafetiva no mundo jurídico, o exame de DNA, ao buscar a “verdade”
sobre a filiação, parece não ser mais um instrumento adequado a pôr fim à presunção da
paternidade, deixando ainda em aberto a certeza e a definição de quem são os pais.
Neste sentido, alguns autores compreendem que "as mudanças presenciadas nas
relações familiares, aliadas ao advento dos métodos de reprodução assistidas,
remetem, constantemente, à dúvida sobre quem são os pais das crianças." (BRITO;
AYRES, 2004, p. 130).

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O conceito de família, antes adstrito à ideia de família nuclear e biológica,


tornou-se aberto de forma a dar conta das inovações trazidas pelas tecnologias
genéticas. A maternidade de substituição - a famosa “barriga de aluguel” -, a reprodução
assistida e a inseminação artificial apontam um desmembramento entre
paternidadebiológica e genética, já que muitas vezes quem deu à luz não
necessariamente doou o material genético à criança. A partir destas novas formas de
reprodução, a paternidade aproximou-se mais de uma função do que de algo da ordem
do “ser” ou da “naturalidade” biológica. Este abalo à dualidade natureza-cultura
provocada pela dissociação entre paternidade biológica e genética se torna ainda mais
radical com a paternidade socioafetiva.
O objetivo deste trabalho é analisar quais contornos sociais e jurídicos estão
sendo dados à multiparentalidade em casos de destituição do poder familiar, em que há
a necessidade de se fazer prevalecer um dos critérios definidores da paternidade. Alguns
questionamentos que podem nortear a discussão: 1. A multiparentalidade poderia se
aplicar em casos de destituição do poder familiar de forma a preservar o vínculo
biológico e socioafetivo concomitantemente?2. Em que casos é possível decidir de
forma a coexistir as múltiplas formas de vínculo parental e em que casos é preciso optar
pelo critério biológico ou pelo critério socioafetivo?
A metodologia utilizada neste estudo inclui, além da pesquisa bibliográfica,a
análise de processos de destituição do poder familiar da II Vara da Infância, da
Juventude e do Idoso (II VIJI) a fim de depreender novos delineamentos dados
àpaternidade, uma vez que o direito passou a reconhecer a possibilidade de múltiplos
vínculos, não sendo mais necessária a opção por um deles.
Durante os meses de experiência na II VIJI, nos chamaram a atenção,
principalmente, os processos de destituição do poder familiar, que requeriam a escolha
por um dos pais ou mães, sendo incabível, até então, pela própria natureza deste
processo, a concomitância de dois ou mais pais ou mães no exercício da função
parental.
De acordo com o artigo 41 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a
destituição do poder familiar é pré-condição para o andamento e conclusão do processo
de adoção: “Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos
direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e
parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.” (grifo nosso)

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Apesar de o artigo 45 do ECA estabelecer que a adoção depende do


consentimento dos pais ou do representante legal do adotando, o parágrafo 1º deste
mesmo artigo afirma que dois fatores dispensam este consentimento: (i)o
desconhecimento dos pais e (ii) a destituição do poder familiar: “Art. 45. § 1º. O
consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente cujos pais sejam
desconhecidos outenham sido destituídos do poder familiar.”(grifo nosso)
Os casos de destituição do poder familiar se referem à violação de direitos da
criança ou adolescente a um desenvolvimento sadio e harmonioso. Casos de abandono,
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão são punidos
com a destituição do poder familiar dos pais biológicos, mantendo assegurado, à criança
ou ao adolescente, o direito de serem criados e educados no seio da família (Art. 227 da
Constituição Federal e Art. 7º do ECA). Nesses casos, imbuídos de modo recorrente de
um sentido punitivo, a decisão pela multiparentalidade se torna dificilmente aplicável,
uma vez que modificaria completamente a destituição do poder familiar, priorizando a
permanência dos laços familiares, em vez de seu rompimento. Caso o entendimento dos
juízes, em tais situações, fosse pela aplicação do instituto da multiparentalidade, a ação
de destituição do poder familiar perderia o seu objeto e finalidade.Problematiza-se:
haveria a possibilidade de manter o poder familiar dos pais nos casosde violação de
direitos de crianças e adolescentes em detrimento da punição? Em que situações isto
seria possível? Em casos de adoção haveria a possibilidade de implementar a
multiparentalidade?
Parece-nos que, nos casos de desconhecimento de ambos ou de um dos pais,
uma das possibilidades trazidas pelo art. 45 do ECA, a multiparentalidade pode ser uma
opção por não terem sido praticadas violações de direitos. Apresentaremos um caso da
II VIJI que caminhou neste sentido afim de ilustrar como estão sendo decididos os casos
que envolvem destituição do poder familiar após o reconhecimento da
multiparentalidade pelo STF.
F., ainda criança,pelo desconhecimento de seu pai e por “abandono” de sua mãe
biológica, teve seu poder familiar destituído, sendo acolhido em família substituta. Após
um ano e alguns meses de acolhimento, o pai biológico surge e requer a guarda de F.
Como o pai era desconhecido à época da ação, a destituição do poder familiar só
abarcou a mãe biológica, permitindo ao pai biológico requerer a sua guarda. Diante da
tensão sobre qual paternidade deveriaprevalecer, uma vez que a acolhedora tem um

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marido, volta-se à juíza o pedido de esclarecimento:afinal, quem é o “pai verdadeiro”?


Em audiência, a juíza decidiu no sentido da multiparentalidade, reconhecendo o pai
biológico e socioafetivo concomitantemente, através do registro de ambos como pais.
Além disso,concedeua guarda definitivade F. à acolhedora e ao marido, assim como a
opção pela adoção,uma vez que o pai biológico concordava com a ação por não dispor
de condições materiais no momento. Assim, F.permaneceem seu registro, com dois pais
e uma mãe. Este caso é interessante por três motivos: (i) revela a possibilidade de
manutenção demais de um vínculo familiar paterno ou materno em relações em que não
ocorreram violações de direitos; (ii)flexibiliza o instituto da adoção ao admitir a
manutenção do vínculo com o pai biológico e com o futuro pai adotivo e (iii) adota uma
postura não punitiva com relação à ausência de condições financeiras para cuidar do
filho, valorizando o desejo de permanência dos laços afetivos.

Referências
BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e
do Adolescente e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069Compilado.htm. Acesso em 28 ago.
2017.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 898.060, Rel. Min.


Luiz Fux, Plenário, pub. 24/08/2017. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28RE%24%2E
SCLA%2E+E+898060%2ENUME%2E%29+OU+%28RE%2EACMS%2E+ADJ2+898
060%2EACMS%2E%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/oxbmklf. Acesso
em 30 ago. 2017.

BRITO, L. M. T.; AYRES, L. S. M. Destituição do poder familiar e dúvidas sobre


filiação. Revista Brasileira de Direito de Família, Porto Alegre, nº 26, p. 129-143,
out./nov. 2004.

LÔBO, P. A paternidade socioafetiva e a verdade real. Revista CEJ, Brasília, n. 34, p.


15-21. jul./set. 2006. Disponível em: http://www.jf.jus.br/ojs2/index.php/revcej/article
/viewFile/723/903. Acesso em: 9 set. 2017.

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