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INTRODUÇÃO
1
Oliveira, E. M, Quintas, J. S. e Gualda, Maria José - Diretrizes para Execução
da Política Nacional de Meio Ambiente/Educação Ambiental - proposta preliminar
para discussão. Brasília, 1991.
Na esfera dos órgãos ambientais da administração pública federal, as
propostas resgatam formulações e experiências desenvolvidas na área de
educação ambiental formal e não formal, pela Secretaria Especial do Meio
Ambiente(SEMA), através de sua Coordenadoria de Educação Ambiental,
do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal(IBDF) , da
Superintendência do Desenvolvimento da pesca(SUDEPE) e da
Superintendência do Desenvolvimento da Borracha(SUDHEVEA),
principalmente no que se refere às atividades de extensão e difusão de
tecnologias. Neste sentido, estas Diretrizes são, a sistematização de uma
releitura das diferentes práticas educativas desenvolvidas pelos órgãos que
originaram o IBAMA.
A preocupação da proposta centra-se em promover condições para que
os diferentes segmentos sociais disponham de instrumental, inclusive na
esfera cognitiva, para participarem na formulação de políticas para o meio
ambiente, bem como na concepção e aplicação de decisões que afetem a
qualidade do meio natural e sócio-cultural. É a Educação Ambiental
comprometida com o exercício da cidadania, no processo de gestão
ambiental.
Após quase 20 anos da realização da Conferência de Tbilisi, o Brasil
ainda não conseguiu integrar de fato, a educação ambiental às suas políticas
de Educação e de Meio Ambiente e, consequentemente, implementar uma
proposta capaz de induzir a organicidade da prática continuada da educação
ambiental como bem definiu esta Conferência.
Na oportunidade em que o Presidente da República, aprovou a
Exposição de Motivos 002, de 21 de dezembro de 1994, estabelecendo
diretrizes e princípios para a implantação do Programa Nacional de
Educação Ambiental, o Departamento de Divulgação Técnico-Científica e
Educação Ambiental/Coordenadoria de Educação Ambiental do IBAMA,
2
julga oportuno colocar à disposição dos educadores estas Diretrizes de
Operacionalização do PRONEA, como instrumento norteador das práticas
da Educação Ambiental a serem desenvolvidas pelo IBAMA em conjunto
com os Órgãos Estaduais e Municipais de Meio Ambiente e de Educação,
Instituições de Ensino e Pesquisa, Organizações Não Governamentais e
Movimentos Sociais.
Finalmente, gostaríamos de ressaltar as contribuições das equipes
técnicas dos Núcleos de Educação Ambiental das Superintendências
Estaduais do IBAMA, na formulação destas Diretrizes.
________________
José Silva Quintas
Chefe do Depto de Divulg.Téc.
Cient. e Ed. Ambiental.
3
1. ANTECEDENTES*
*
Ver Programa Nacional de Educação Ambiental - documento preliminar - Proposta Técnica. IBAMA.
Brasília, 1194 páginas 03 a 05 e Subsídios para a Formulação de uma Política Nacional de Educação
Ambiental. MEC/MMA/Câmara Técnica Temporária de Educação Ambiental do CONAMA. Brasília.
1996. página 02.
4
sociedade a possibilidade e, ao mesmo tempo, a responsabilidade de respeitar
e desenvolver a sua herança cultural, lingüística e espiritual, de promover a
educação de outros, de defender a causa da justiça social, de proteger o meio
ambiente..."
2
Fórum de ONGs Brasileiras - Meio Ambiente e Desenvolvimento: Uma Visão das
ONGs e dos Movimentos Sociais Brasileiros - Fórum de ONGs Brasileiras, FASE -
Rio de Janeiro - 1992.
5
No plano nacional, desde 1981, a Lei no 6.938, que dispõe sobre os
fins, mecanismos de formulação e aplicação da Política Nacional do Meio
Ambiente, consagra a Educação Ambiental e estabelece no seu décimo
princípio:
"Educação Ambiental a todos os níveis do ensino, inclusive a educação
da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do
meio ambiente".
O Parecer 226/87, do então Conselho Federal de Educação, indicou o
caráter interdisciplinar da Educação Ambiental recomendando a disseminação
de Centros de Educação Ambiental no País.
Da mesma forma, os constituintes em 1988, preocupados em garantir
efetivamente o princípio constitucional do " direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado", previsto no Artigo 225, estabelecem ainda, no
parágrafo 1º deste artigo que "para assegurar a efetividade desse direito
incumbe ao Poder Público:
“ Promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente".
As Constituições Estaduais também consagram, em seus textos, a
promoção da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino e a
conscientização pública para a preservação do meio ambiente.
A Portaria n° 678, de 14 de maio de 1991, do Ministério da Educação
e do Desporto determina que a educação escolar deve contemplar a Educação
Ambiental, permeando todo o currículo dos diferentes níveis e modalidades
de ensino.
A Carta Brasileira para a Educação Ambiental formalizada por ocasião
da Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,
realizada em julho de 92 no Rio de Janeiro, dentre as suas recomendações
destacam-se: "A necessidade de um compromisso real do poder público
6
federal, estadual e municipal no cumprimento e complementação da
legislação e das políticas para Educação Ambiental"; que sejam "cumpridas
os marcos referenciais internacionais acordados em relação à Educação
Ambiental com dimensão multi, inter e transdisciplinar em todos os níveis
de ensino", que em "todas as instâncias, o processo decisório acerca das
políticas para a Educação Ambiental conte com a participação das
comunidades direta ou indiretamente envolvidas na problemática em
questão."
No Plano Decenal de Educação Para Todos 1993 - 2003, a dimensão
ambiental está presente, principalmente, nos objetivos referentes à satisfação
das necessidades básicas de crianças, jovens e adultos e da ampliação dos
meios e do alcance da educação básica.
O Projeto de Lei n° 3792/93, de autoria do Deputado Fábio Feldmann,
ora em tramitação na Câmara dos Deputados, propõe a instituição da Política
Nacional de Educação Ambiental, definindo conceitos básicos, competências,
prncípios e objetivos, linhas de atuação e preceitos mais importantes.
O Presidente da República aprovou em 21 de dezembro de 1994(D.O.U
22/12/94), a Exposição de Motivos, encaminhada pelos Ministérios do Meio
Ambiente e da Amazônia Legal, da Educação e do Desporto, da Cultura e de
Ciência e Tecnologia, que estabelece diretrizes para implantação do
Programa Nacional de Educação Ambiental - PRONEA.
A Portaria n° 482 de 05 de maio de 1995, do Ministério da Educação e
do Desporto, institui no Catálogo de Habilitação Profissional, para o 2° grau,
a habilitação de Técnico em Meio Ambiente, bem como a habilitação parcial
de Auxiliar Técnico de Meio Ambiente.
As propostas do Ministério da Educação e do Desporto de revisão
curricular em 1996, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais - Convívio
7
Social e Ética - Meio Ambiente, abordam a dimensão ambiental de modo
transversal em todo primeiro grau.
A Lei n° 9.276, de 09 de maio de 1996, que institui o Plano Plurianual
para o quadriênio 1996/1999, e define como um dos principais objetivos da
área de Meio Ambiente a “ promoção da educação ambiental, através da
divulgação e uso de conhecimentos sobre tecnologias de gestão sustentável
dos recursos naturais.”
Em 10 de junho de 1996, foi instalada a Câmara Técnica Temporária
de Educação ambiental, criada pela Resolução n° 11, de 11 de dezembro de
1995, do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA.
3 - CONSIDERAÇÕES**
8
naturalizada sobre a questão ambiental. Ao considerar que é possível se
desenvolver a economia do País sem provocar danos à natureza, o brasileiro
demonstra que não consegue relacionar o atual estilo de desenvolvimento,
praticado no Brasil, com a degradação ambiental observada em diferentes
pontos do território nacional.3
A compreensão da problemática ambiental como decorrente da
relação sociedade-natureza ainda não é perceptível para a maioria do povo
brasileiro.
Além do brasileiro ter uma visão conceitual incompleta sobre a
questão ambiental, observa-se ainda que o seu nível de informação a respeito
do tema é bastante pobre. Apesar de se declarar muito interessado pelo
assunto meio ambiente, poucos brasileiros demonstraram(12% da amostra) -
quando entrevistados em fevereiro de 1992 - conhecer a agenda que seria
discutida na Rio 92. Constatou-se ainda que o principal instrumento
utilizado pelo brasileiro para se informar sobre o meio ambiente é o
noticiário de TV(65%), enquanto que meios mais especializados como livros
e revistas são usados, respectivamente, por 5% e 3% dos entrevistados.4 A
superficialidade da informação detida pela população está em consonância
com o conteúdo veiculado nos telejornais sobre diferentes assuntos.
Por outro lado, em um estudo realizado junto a uma amostra integrada
de ambientalistas, políticos, empresários, cientistas, militantes de
movimentos sociais e técnicos governamentais, todos considerados
formadores de opinão e com envolvimento direto ou indireto com a questão
ambiental, concluiu-se que há indicações que “ permitem supor a existência
de uma comunidade ambiental brasileira em plena construção de suas bases
3
Crespo, Samyra, Leitão Pedro - O que o Brasileiro Pensa da Ecologia -
MAST/CNPq. CETEM/CNPq e ISER. RJ, 1993.
4
Idem
9
ideológicas”5 . Esta comunidade seria detentora de um “ elenco básico de
idéias/conceitos que torna possível aos setores se comunicarem entre si e
partilharem em uma experiência singular”.6
O êxito das articulações de vários setores da sociedade civil, junto à
Assembléia Nacional Constituinte e às Constituintes Estaduais - que
permitiu a incorporação de importantes princípios para a gestão ambiental
nas respectivas Constiuições - e a criação, em 1990, do Fórum de
Organizações Não Governamentais(ONG’s) Brasileiras parecem corroborar
estas evidências.
O Fórum produziu, num intenso processo de discussão, o
documento “ Meio Ambiente e Desenvolvimento uma
visão das ONG’s e dos Movimentos Sociais Brasileiros”, como relatório
preparatório para a Conferência da Sociedade Civil sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento que se realizou em paralelo com a Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.
4 - BASES CONCEITUAIS
5
Fórum das ONG’s Brasileiras - Meio Ambiente e Desenvolvimento Uma Visão
das ONG’s e dos Movimentos Sociais Brasileiros - Fórum de ONG’s Brasileiras,
FASE - Rio de Janeiro - 1992.
6
Crespo, Samyra, Leitão Pedro - O que o Brasileiro Pensa da Ecologia -
MAST/CNPq, CETEM/CNPq e ISER, RJ, 1993. pág. 107.
10
Todos os seres vivos têm necessidade de se apropriarem de recursos da
natureza, mesmo como condição necessária para a própria sobrevivência. Na
medida em que o ser humano é parte integrante da natureza e ao mesmo tempo
ser social e, por conseqüência, detentor de conhecimentos e valores
socialmente produzidos ao longo do processo histórico, tem ele o poder de
atuar permanentemente sobre sua base natural de sustentação (material e
espiritual), alterando suas propriedades, e sobre o meio social, provocando
modificações em sua dinâmica. Portanto, são as práticas do meio social que
determinam a natureza dos problemas ambientais e é neste contexto que surge
a necessidade de se praticar a gestão ambiental.7
A gestão ambiental é um processo de mediação de interesses e conflitos
entre atores sociais que agem sobre os meios físico natural e construído. Este
processo de mediação define e redefine, continuamente, o modo como os
diferentes atores sociais, através de suas práticas, alteram a qualidade do meio
ambiente e, também, como se distribuem na sociedade os custos e os
benefícios decorrentes da ação destes agentes.8
No Brasil, o Estado, enquanto mediador principal deste processo, é
detentor de poderes, estabelecidos na legislação, que lhe permitem promover
desde o ordenamento e controle do uso dos recursos ambientais (incluindo a
criação de mecanismos econômicos e fiscais) até a reparação e a prisão de
indivíduos pelo dano ambiental. Neste sentido, o Estado tem o poder de
estabelecer padrões de qualidade ambiental, avaliar impactos ambientais,
licenciar e revisar atividades efetiva e potencialmente poluidoras, disciplinar a
7
Quintas, J. S e Gualda, M. J. - A Formação do Educador para Atuar no Processo
de Gestão Ambiental. IBAMA, Série Meio Ambiente em Debate 1 - Brasília, 1995.
8
Price Waterhause - Fortalecimento Institucional do IBAMA - Cenários de Gestão
Ambiental Brasileira - Relatório Final - Brasília 1992 doc. mimeo.
11
ocupação do território e o uso de recursos naturais, criar e gerenciar áreas
protegidas, obrigar a recuperação do dano ambiental pelo agente causador,
promover o monitoramento, a fiscalização, a pesquisa, a educação ambiental e
outras ações necessárias ao cumprimento da sua função mediadora (Quintas e
Gualda, 1995, op. cit pg. 26 e 27).
Por outro lado, (ainda segundo estes autores) observa-se, no Brasil, que o
poder de decidir e intervir para transformar o ambiente seja ele físico, natural
ou construído, e os benefícios e custos dele decorrentes estão distribuídos,
socialmente e geograficamente, de modo assimétrico. Por serem detentores de
poder econômico ou de poderes outorgados pela sociedade, determinados
grupos sociais, por meio de suas ações, influenciam direta ou indiretamente na
transformação (de modo positivo ou negativo) da qualidade do meio
ambiental. É o caso dos empresários (poder do capital) dos políticos (poder de
legislar); dos juízes (poder de condenar e absolver); dos membros do
Ministério Público (o poder de investigar e acusar); dos dirigentes de órgãos
ambientais (poder de embargar, licenciar, multar); dos jornalistas e professores
(poder de influenciar na formação da "opinião pública"); das agências estatais
de desenvolvimento (poder de financiamento, de criação de infra-estrutura) e
de outros atores sociais cujos atos podem ter grande repercussão na qualidade
ambiental e conseqüentemente na qualidade de vida das populações.
Há que se considerar, ainda, que o modo de perceber determinado
problema ambiental, ou mesmo a aceitação de sua existência, não é meramente
uma função cognitiva. A percepção dos diferentes sujeitos é mediada por
interesses econômicos, políticos, posição ideológica e ocorre num determinado
contexto social, político, espacial e temporal.
Entretanto, estes atores, ao tomarem suas decisões, nem sempre levam
em conta os interesses e necessidades das diferentes camadas sociais direta ou
indiretamente afetadas. As decisões tomadas podem representar benefícios
12
para uns e prejuízos para outros. Um determinado empreendimento pode
representar lucro para empresários, emprego para trabalhadores, conforto
pessoal para moradores de certas áreas, votos para políticos, aumento de
arrecadação para governos, melhoria da qualidade de vida para parte da
população e, ao mesmo tempo, implicar prejuízo para outros empresários,
desemprego para outros trabalhadores, perda de propriedade, empobrecimento
de habitantes da região, ameaça à biodiversidade, erosão, poluição atmosférica
e hídrica, desagregação social e outros problemas que caracterizam a
degradação ambiental.
Portanto, concluem, que a prática da gestão ambiental não é neutra. O
Estado, ao assumir determinada postura frente a um problema ambiental, está
de fato definindo quem ficará, na sociedade e no país, com os custos e quem
ficará com os benefícios advindos da ação antrópica sobre o meio, seja ele
físico, natural ou construído.
Um dos maiores desafios para o exercício de ações educativas no
processo de gestão ambiental, é a busca necessária de mediação face à
multiplicidade de interesses e à diversidade de interlocutores. A pluralidade de
interesses dos diferentes indivíduos, grupos ou segmentos sociais, no processo
de apropriação e uso de recursos naturais, caracterizam a diversidade de
interlocutores. Os diferentes interesses afetos às questões ambientais,
normalmente evidenciam conflitos que exigem mediação para fazer viabilizar
o diálogo. Os atores que estão envolvidos no uso e na gestão dos recursos, as
relações de força e pressões que configuram o acesso ou não a estes recursos,
a maneira como os processos decisórios ocorrem, são fatores determinantes
para se avaliar como as forças sociais se articulam na apropriação e uso de
recursos naturais, por indivíduos, grupos ou segmentos sociais.9
9
Oliveira, Elísio Márcio de - Educação Ambiental, Uma Possível Abordagem.
IBAMA - Brasília 1995.
13
Esta mediação exige um aporte de conteúdos sobre a questão ambiental,
que leve a caminhos possíveis para a superação de conflitos. É necessário
conhecer, por exemplo, o problema ambiental em si, os impactos decorrentes
tanto físicos quanto sociais, os diferentes atores (pessoas, grupos ou
segmentos sociais) implicados na questão ou afetados por suas conseqüências,
os diferentes interesses e posicionamentos em jogo, os conflitos e possíveis
impasses existentes ou que possam vir a existir, os aspectos legais e
mecanismos de gestão que condicionam
ou viabilizam soluções e, principalmente, refletir sobre alternativas que
contribuam para a superação do problema ( Oliveira, Elísio Márcio, op. cit.
pg. 107).
Por outro lado, uma postura de análise crítica da realidade é fundamental
para permitir identificar situações problemas ambientais, que sejam relevantes
e estratégicas frente a um dado contexto, como questões a serem trabalhadas.
Essa análise implica em uma releitura da realidade a partir de um conceito
amplo de meio ambiente, como preconiza as orientações da Conferência
Intergovernamental de Tbilisi10, que interrelacione os sistemas naturais e
sociais, abarcando: a apropriação e uso dos recursos naturais, base de
sustentação da sociedade, de onde se obtêm a subsistência; os modos como as
coletividades estão organizadas e funcionam para satisfazer as suas
necessidades; as relações de produção e os sistemas institucionais e culturais.
Fazer implementar este novo ideário exige profissionais qualificados para
o exercício de mediação, voltados para uma melhor qualidade de vida e
eqüidade social.
A busca de novos estilos de desenvolvimento que permitam maior
equilíbrio entre o desenvolvimento e a preservação do meio ambiente têm,
14
necessariamente, que se referenciar em uma nova ordem, que se faça em torno
de um contrato, que releve maior respeito à dignidade humana, permitindo
melhor qualidade de vida, maior acesso aos bens socialmente produzidos e
bem estar social, fundado em valores que se pautem por um novo significado
do ser e do existir, por uma nova ética global.
Finalmente, deve-se considerar uma abordagem para o processo
educacional que se fundamente na vivência intensa e íntima com as
comunidades, no respeito aos diferentes saberes, criando condições para que
cada comunidade explicite o fazer educacional que lhe seja adequado
(Oliveira, Elísio Márcio, op. cit, pg 109).
A Conferência de Tbilisi considerou o meio ambiente como "o conjunto
de sistemas naturais e sociais em que vivem o homem e os demais organismos
e de onde obtêm sua subsistência. Este conceito abarca os recursos, os
produtos naturais e artificiais com os quais se satisfazem as necessidades
humanas. O meio natural se compõe de quatro sistemas estreitamente
vinculados,
a saber: Atmosfera, hidrosfera, litosfera e biosfera. Sem nenhuma intervenção
humana, este conjunto de elementos está em constante mutação, ainda que a
natureza e o ritmo desta mutação sejam bastante influenciados pela ação do
homem. O meio social compreende os grupos humanos, as infra-estruturas
materiais construídas pelo homem, as relações de produção e os sistemas
institucionais por ele elaborados. O meio social expressa o modo como as
sociedades humanas estão organizadas e funcionam para satisfazer as
necessidades de alimentação, moradia, saúde, educação e trabalho".
Assim, a Conferência de Tbilisi adotou um conceito de meio ambiente
que engloba numa totalidade os aspectos naturais e aqueles decorrentes da
ação do homem. Por conseguinte, meio natural e meio sócio-cultural são lados
de uma mesma moeda, logo indissociáveis. Na medida em que o homem é
15
parte integrante da natureza, enquanto detentor de conhecimentos e valores
socialmente produzidos, age permanentemente sobre sua base natural de
sustentação, alterando suas propriedades e, em decorrência deste processo
interativo, a sociedade também sofre modificações em sua dinâmica.
Portanto, para se compreender a questão ambiental, torna-se necessário a
ruptura com aproximações particularizadas e fragmentadas da realidade, que
mascaram as causas da problemática ambiental e levam a adoção de soluções
equivocadas e prejudiciais às populações.
Neste sentido, a Educação Ambiental enquanto prática dialógica, que
objetiva o desenvolvimento da consciência crítica pela sociedade brasileira,
deve estar comprometida com uma abordagem da problemática ambiental que
interrelacione os aspectos sociais, ecológicos, econômicos, políticos, culturais,
científicos, tecnológicos e éticos.
A Educação Ambiental enquanto processo participativo, através do qual o
indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, adquirem conhecimentos,
desenvolvem atitudes e competências voltadas para a consquista e manutenção
do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, deverá contribuir
fortemente para a construção dessa nova sociedade11.
Na Conferência de Tbilisi foram definidas as finalidades, objetivos,
princípios orientadores e estratégias para o desenvolvimento da Educação
Ambiental, a saber:
11
Oliveira, Elísio Márcio, Quintas, José Silva e Gualda, Maria José - Diretrizes
para Execução da Política Nacional do Meio Ambiente. Educação Ambiental.
Proposta preliminar para discussão. IBAMA. Brasília, 1991(doc. mimeo)
16
b) favorecer a aquisição de conhecimentos, valores, comportamentos e
habilidades práticas, a partir da reorientação e articulação das diversas
disciplinas e experiências educativas, para a participação responsável e eficaz
na prevenção e solução dos problemas ambientais e da gestão da qualidade do
meio ambiente;
c) contribuir para a formação de uma consciência sobre a importância da
preservação da qualidade do meio ambiente em sua relação com o
desenvolvimento, para o qual, a educação deverá difundir conhecimentos
sobre as alternativas produtivas menos degradantes para o meio ambiente,
assim fomentar a adoção de modos de vida compatíveis com a preservação da
qualidade do mesmo;
d) propiciar a compreensão da educação ambiental como resultado de
uma reorientação e articulação das diversas disciplinas e experiências
educativas que facilitam a percepção integrada do meio ambiente, tornando
possível uma ação mais crítica e que atenda fundamentamente as causas dos
problemas e não só seus efeitos mais evidentes;
e) favorecer todos os membros da sociedade, segundo suas modalidades e
em distintos graus de complexidade, com a aquisição de conhecimentos
científicos e tecnológicos, o sentido dos valores, as atitudes e a participação
efetiva na prevenção e resolução de problemas ambientais. Especial ênfase
deverá ser dada à capacitação de tomadores de decisões;
f) utilizar todos os meios públicos e privados disponíveis na sociedade,
para a educação da população: sistemas de educação formal, diferentes
modalidades de educação extra-escolar e os meios de comunicação de massa;
g) facilitar a compreensão das interdependências econômicas, políticas e
ecológicas do mundo atual, em que as decisões e comportamentos dos
diversos países têm consequências de alcance internacional, no que se requer
17
desenvolver um espírito de solidariedade e uma atitude mais responsável entre
eles.
De acordo com o PRONEA suas finalidades abragem desde aquisição de
conhecimentos, habilidades para a participação individual e coletiva no
processo de gestão ambiental até a construção de novos valores e atitudes na
relação homem-homem e homem-natureza.12
Não resta dúvida que a problemática ambiental se evidencia por um
conjunto de questões associadas a deterioração do meio ambiente. Se por um
lado a devastação dos recursos naturais traz sérios desequilíbrios ao ambiente
natural, estes mesmos desequilíbrios ocasionam desastres com significativas
perdas para o ambiente social. Ações educativas devem abordar as questões
ambientais na perspectiva de busca de uma nova ética na relação homem-
homem/homem-natureza.
Por outro lado, a amplitude e complexidade dos problemas ambientais
não permitem abordagens setoriais, sob a ótica de uma única ciência, exigindo
tratamento interdisciplinar para as questões. Assim a educação ambiental deve
buscar alternativas metodológicas que viabilizem o tratamento interdisciplinar
destas questões.
Nos textos legais a educação ambiental já nasceu comprometida com o
envolvimento da população, com a conquista, a elevação e a manutenção da
qualidade de vida. Isto pressupõe uma concepção de educação enquanto
prática participativa e voltada para os problemas concretos da comunidade.
5 - PRINCÍPIOS DE OPERACIONALIZAÇÃO
18
Para efeito deste documento, considera-se princípios de
operacionalização os pressupostos que devem nortear as ações de educação
ambiental.
É importante destacar que os princípios indicados a seguir fazem parte de
um mesmo processo e são interdependentes.
O crescimento integral é a base para uma percepção integral do
meio ambiente, o que por sua vez, viabiliza a abordagem interdisciplinar,
interinstitucional, participativa e contextualizada.13
Da mesma forma, a abordagem interdisciplinar é condição fundamental
para o crescimento integral e o reconhecimento da diversidade cultural. No
mesmo sentido, a problematização viabiliza e é viabilizada pela
interdisciplinaridade .
Tendo como núcleo central a concepção de educação como processo
13
Alves, Denise - Sensopercepção em ações de Educação Ambiental. IBAMA RJ
1995, doc. mimeografado.
19
5.1. Reconhecimento da Pluralidade e Diversidade Cultural
14
MEC. Diretrizes para Operacionalização da Política Cultural. Documento
Elaborado pela Secretaria da Cultura. Secretaria Geral. 1981.
20
Esses diferentes modos de relacionamento determinam a existência de
conhecimentos, valores e atitudes que devem ser considerados na formulação,
execução e avaliação da prática da Educação Ambiental.
O reconhecimento da pluralidade e diversidade cultural está interligado
ao exercício da cidadania e à participação. A medida em que constroem e
atualizam, no dia-a-dia, suas referências e suas condições de sobrevivência, os
grupos sociais delimitam suas identidades (compreendida como uma
configuração dinâmica). A identidade, ou conjunto de referências através do
qual um grupo social pode se reconhecer, viabiliza a coesão do grupo e um
maior grau de autonomia e participação nas ações sociais, políticas e
econômicas. Ao mesmo tempo, este grau de participação e autonomia reverte
no fortalecimento da identidade cultural.
Em sentido inverso, a perda da identidade cultural contribui para a
desagregação dos grupos sociais, levando-os à consolidar posições de
dependência, acomodação e impotência frente à dominação de grupos
hegemônicos.
Em relação à prática da Educação Ambiental, o reconhecimento da
pluralidade e diversidade cultural significa o respeito ao contexto cultural do
sujeito, suas vivências, necessidades e motivações. Um respeito que se traduz
na troca de saberes, na busca de uma relação dialética entre o conhecimento
científico oficial e o conhecimento produzido pelas populações envolvidas.
.Interdisciplinaridade
21
Para entender um determinado problema deve-se estabelecer um marco
de referência geral onde vão se integrar os aportes particulares das diversas
áreas de conhecimento ou disciplinas, evidenciando então, suas
interdependências. As disciplinas científicas e humanísticas devem ser
instrumento de análise e de síntese a serviço de uma prática pedagógica
sistemática.
Considerando que as abordagens setoriais de problemas ambientais
-privilegiando um tipo de atuação ou tentando entendê-lo segundo a ótica de
uma única ciência - são incompatíveis com a amplitude e complexidade do
tema, a Educação deve buscar alternativas metodológicas para o tratamento
interdisciplinar do mesmo.
No estágio atual de reflexão, procura-se aprimorar caminhos, estratégias e
propostas metodológicas que viabilizem uma abordagem interdisciplinar,
compreendida como busca de unidade na diversidade, ou seja: o respeito às
contribuições específicas de cada área de conhecimento e a maior integração
possível entre os diversos saberes.
É no decorrer do processo que se abrem as possibilidades e limites para o
trabalho com uma abordagem interdisciplinar. A interdisciplinaridade está
relacionada ao desenvolvimento de um processo dialógico, que deve ser
compreendido no sentido dialético, de confronto que gera síntese, novas
análises e novas sínteses.
Nessa perspectiva, as diversas teorias, ciências e concepções filosóficas
seriam valorizadas em sua individualidade, ao mesmo tempo em que buscaria
abrir canais e diálogos entre os diversos saberes.
A partir de problemas ambientais concretos, podem ser delineadas formas
de diálogo entre diversos saberes. Através da confrontação entre as diversas
abordagens, podem ser visualizados os impasses de concepções e formulações
que diferenciam os vários saberes, explicitando possíveis formas de
22
compatibilização. Passo a passo, são definidos os limites e as possibilidades da
integração.
Assim a abordagem interdisciplinar exige discussão e troca, através do
diálogo entre diversos saberes, sejam saberes científicos ou saberes populares.
Um diálogo consciente, travado com boa vontade, envolve necessariamente,
conflitos criativos no processo de interação.
Portanto, a complexidade da questão ambiental exige a abordagem
interdisciplinar para análise, compreensão e solução de problemas ambientais.
.Participação
23
.Descentralização
24
interinstitucional, em cada Unidade da Federação, ou de fortalecê-los onde já
existem.
6. LINHAS DE AÇÃO
Objetivos:
25
b) apoiar a capacitação de docentes visando à inserção da temática ambiental
nos currículos de ensino;
Objetivos:
26
a) apoiar a inserção da dimensão ambiental nos currículos dos diferentes
graus e modalidades de ensino.
27
j) apoiar a "Rede de Formação Ambiental para América Latina e Caribe e
Coordenar as suas ações no Brasil.
Objetivos:
28
d) implementar, no âmbito da Rede Nacional de Informações sobre Meio
Ambiente - RENIMA, uma rede sobre materiais educativos e inovações
relativas à Educação Ambiental;
29
c) promover o desenvolvimento de pesquisas sobre metodologias, materiais
educativos e outros instrumentos, para a formação de educadores e
gestores ambientais.
30
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
1- Introdução
2- Antecedentes
3- Considerações
4- Bases Conceituais
5- Princípios de Operacionalização
6- Linhas de Ação
31
EQUIPE DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL DO IBAMA - IBAMA/SEDE
32