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Direito de Família Internacional:

1) Aplicação da Convenção de Nova Iorque. Ação revisional de alimentos. Não


aplicação da Convenção pois o demandante é o devedor de alimentos (que quer
reduzir o valor da pensão) e não o credor.

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO


REVISIONAL DE ALIMENTOS. ALIMENTANDO RESIDENTE
NO EXTERIOR. CONVENÇÃO DE NOVA IORQUE. ATUAÇÃO
DA PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA
COMO INSTITUIÇÃO INTERMEDIÁRIA. INOCORRÊNCIA.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.
1. A tramitação do feito perante a Justiça Federal somente se
justifica nos casos em que, aplicado o mecanismo previsto na
Convenção de Nova Iorque, a Procuradoria-Geral da República atua
como instituição intermediária. Precedentes.
2. No caso dos autos, é o devedor de alimentos que promove ação
em face do alimentando, buscando reduzir o valor da pensão
alimentícia, o que demonstra a não incidência da Convenção sobre a
Prestação de Alimentos no Estrangeiro.
3. Conflito de competência conhecido para declarar a competência
do Juízo de Direito da Vara de Pilar do Sul - SP.

RELATÓRIO

Cuida-se de conflito negativo de competência entre o JUÍZO DA 3ª VARA


FEDERAL DE SOROCABA - SP, suscitante, e o JUÍZO DE DIREITO DA
VARA DE PILAR DO SUL - SP, suscitado, em ação de modificação de cláusula
alimentar proposta por Nilson Domingos em face de sua filha, Anelise de
Franceschi Domingos.
A demanda foi proposta perante o Juízo de Direito da Vara de Pilar do Sul, sendo
apresentada pela ré exceção de incompetência, afirmando que a ação foi proposta
no local de domicílio do alimentante, quando deveria ter sido ajuizada em seu
domicílio, nos termos do art. 100, II, do Código de Processo Civil, esclarecendo que
desde 2003 reside na cidade de Schio, na Itália.
A exceção foi acolhida pelo Juízo suscitado, mas por diversos fundamentos, verbis:
(...)
Distribuídos os autos ao Juízo da 3ª Vara Federal de Sorocaba, este não reconhece
sua competência para julgamento do feito, suscitando o presente conflito, nos
seguintes termos:
"(...) por todos os elementos informativos dos autos, verifica-se que o autor
(demandante) é o devedor da prestação de alimentos objeto da presente ação de
revisão e, residindo ele no Brasil, não há elementos que justifiquem a aplicação da
Convenção de Nova Iorque, fato que, por conseqüência, afasta a atuação
do Ministério Público Federal como instituição intermediária e afasta a competência
da Justiça Federal.
(...)
VOTO
(...)
Depreende-se dos autos que não há razão para aplicação da Convenção de Nova
Iorque (Convenção sobre a Prestação de Alimentos no Estrangeiro, aprovada pelo
Decreto Legislativo 10, de 1958 e promulgada pelo Decreto 56.826, de 1965) à
espécie.
Com efeito, o art. 1º, que estabelece o objeto da mencionada Convenção, está assim
redigido:
"1. A presente Convenção tem como objeto facilitar a uma pessoa, doravante
designada como demandante, que se encontra no território de uma das Partes
Contratantes, a obtenção de alimentos aos quais pretende ter direito por parte de
outra pessoa, doravante designada como demandado, que se encontra sobre a
jurisdição de outra Parte Contratante. Os organismos utilizados para este fim serão
doravante designados como Autoridades Remetentes e Instituições Intermediárias."
(grifo nosso)
O mecanismo previsto na Convenção funciona da seguinte forma - o credor de
alimentos se vale da autoridade remetente de seu país, entregando a ela toda
documentação pertinente ao pedido de alimentos. Essa entidade, por sua vez,
encaminha os documentos à instituição intermediária do país signatário onde reside
o devedor, que então propõe a ação de alimentos.
No Brasil, é a Procuradoria-Geral da República que faz o papel tanto de autoridade
remetente, como de instituição intermediária.
No caso vertente, o devedor de alimentos reside no Brasil, sendo por ele proposta
ação de revisão do valor da pensão, não havendo, portanto, razão para aplicação
do mecanismo previsto na Convenção, nem tampouco para atuação da
Procuradoria-Geral da República na qualidade de instituição intermediária, o que
somente iria acontecer se o alimentando, residente no exterior, valendo-se da
Convenção, pretendesse a cobrança de alimentos em face do devedor,
domiciliado no Brasil, hipótese em que o processamento da demanda seria de
competência da Justiça Federal.
(...)
Nesse contexto, não havendo intervenção da Procuradoria-Geral da República, o
feito deve ser processado na Justiça comum estadual.
Em face do exposto conheço do conflito para declarar a competência do JUÍZO DE
DIREITO DA VARA DE PILAR DO SUL - SP, o suscitado.

(STJ, CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 103.390 – SP,


2009⁄0032608-2, Segunda Seção, Rel. Min. FERNANDO
GONÇALVES, Data de Julgamento: 23 de setembro de 2009, DJe:
30/09/2009)

2) Processo de dissolução de casamento em curso no Brasil. Possibilidade de o Poder


Judiciário Brasileiro reconhecer direito decorrente de dissolução de sociedade
conjugal/divórcio relativo a bem do casal localizado no exterior. Eficácia executiva
esteja limitada pela soberania.

CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL. DISSOLUÇÃO


DE SOCIEDADE CONJUGAL. PARTILHA DE BENS. CPC⁄73,
ART. 89, II. DEPÓSITO BANCÁRIO FORA DO PAÍS.
POSSIBILIDADE DE DISPOSIÇÃO ACERCA DO BEM NA
SEPARAÇÃO EM CURSO NO PAÍS. COMPETÊNCIA DA
JURISDIÇÃO BRASILEIRA.
1. Ainda que o princípio da soberania impeça qualquer ingerência
do Poder Judiciário Brasileiro na efetivação de direitos relativos a
bens localizados no exterior, nada impede que, em processo de
dissolução de casamento em curso no País, se disponha
sobre direitos patrimoniais decorrentes do regime de bens da
sociedade conjugal aqui estabelecida, ainda que a decisão tenha
reflexos sobre bens situados no exterior para efeitos da referida
partilha.
2. Recurso especial parcialmente provido para declarar competente o
órgão julgador e determinar o prosseguimento do feito.

RELATÓRIO

Trata-se de recurso especial interposto de acórdão que recebeu a seguinte ementa


(e-STJ fl. 217):

FAMÍLIA. CASAL. INVENTÁRIO. COMPETÊNCIA. BEM MÓVEL SITUADO


NO EXTERIOR.
1 - O ordenamento processual, como corolário do princípio da soberania de Estado e
sem distinguir o motivo causa mortis ou extinção do vínculo matrimonial, estabelece
a exclusividade da jurisdição brasileira para processar o inventário e a partilha de
bem situado no país.
2 - Nesse aspecto, presente o mesmo princípio, o alcance da finalidade social da
norma processual indica a ausência da jurisdição brasileira para processar o
inventário e partilha de bem situado em outro país.
(...)
Ressalta que a separação do casal foi requerida no Brasil pelo próprio ex-
cônjuge, de forma que partilha dos bens decorrente da separação deve ser
requerida e processada nos próprios autos, no juízo da execução, como efeito
secundário da sentença, conforme já havia sido decidido em fase anterior pela mesma
Câmara do Tribunal de origem prolatora do acórdão ora recorrido.
(...)
É o relatório.

VOTO

A pretensão veiculada no recurso, a meu ver, merece acolhida.


Registro que a separação do casal foi decretada por autoridade
judiciária brasileira e, em seguida, requerida a partilha de um único bem, a
saber, U$ 208.357,00 depositados em instituição financeira nos Estados Unidos
da América.
Em primeiro grau foi acolhido o pedido, para o fim de reconhecer o direito de crédito
da recorrente à metade dos valores depositados no exterior, que deverão
ser convertidos para o real levando-se em conta o câmbio da data da transferência, ou
seja, o dia 05 de julho de 2001, corrigindo-se desde então o valor apurado pelos
índices da Corregedoria Geral de Justiça, mais juros de mora do Código Civil a partir
da citação.
Reformando a sentença, entendeu o Tribunal de origem que "embora se reconheça
o direito oriundo do regime de bens do casamento - no caso a meação -, este
Tribunal de Justiça afigura-se incompetente para processar o inventário e a
partilha do dinheiro depositado em conta de banco situado em outro país" (e-STJ
fl. 218).
(...)
A jurisprudência deste Tribunal registra precedente, da relatoria do saudoso
Ministro Menezes Direito, acolhendo a tese esposada no recurso especial, a saber, de
que a competência exclusiva prevista no art. 89, II, do CPC⁄73 aplica-se apenas
ao inventário causa mortis.
(...)
Essa distinção não mais tem relevância no direito processual civil vigente, após a
edição do CPC⁄2015, o qual passou a dispor expressamente competir
à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra, "em divórcio,
separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de bens
situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha
domicílio fora do território nacional" (art. 23, III).
Mesmo que se admita, todavia, na linha do entendimento do acórdão recorrido,
incidente o revogado preceito do art. 89, II, do CPC⁄73 também na hipótese
de partilha decorrente de dissolução do vínculo conjugal, observo que tal norma
apenas dispunha sobre a exclusividade da jurisdição brasileira, e não sobre sua
ausência de jurisdição, não permitindo extensão interpretativa para se afastar por
completo a competência para processar partilha decorrente de separação decretada no
Brasil, levando em conta a existência de bem situado em outro país.
Não se pode perder de vista que a regra do art. 89, II, do CPC⁄73 é de natureza
processual e não deve ser interpretada de modo a impedir a realização do direito
material interno disciplinador do regime de bens do casamento.
(...)
Nessa linha de compreensão, essa 4ª Turma, sob a relatoria do saudoso Ministro
Sálvio de Figueiredo Teixeira, assentou que a despeito da pluralidade de juízos de
inventário, decorrente da regra do art. 89, II, do CPC⁄73, na partilha feita no
Brasil deve ser considerado, para efeito de compensação, o valor dos bens
partilhados no exterior, conforme entendimento sumariado na seguinte ementa:

DIREITOS INTERNACIONAL PRIVADO E CIVIL. PARTILHA DE BENS.


SEPARAÇÃO DE CASAL DOMICILIADO NO BRASIL. REGIME DA
COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS. APLICABILIDADE DO DIREITO
BRASILEIRO VIGENTE NA DATA DA CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO.
COMUNICABILIDADE DE TODOS OS BENS PERSENTES E FUTUROS COM
EXCEÇÃO DOS GRAVADOS COM INCOMUNICABILIDADE. BENS
LOCALIZADOS NO BRASIL E NO LIBANO. BENS NO
ESTRANGEIRO HERDADOS PELA MULHER DE PESSOA DE
NACIONALIDADE LIBANESA DOMICILIADA NO BRASIL.
APLICABILIDADE DO DIREITO BRASILEIRO
DAS SUCESSÕES. INEXISTÊNCIA DE GRAVAME FORMAL
INSTITUÍDO PELO DE CUJUS. DIREITO DO VARÃO À MEAÇÃO DOS
BENS HERDADOS PELA ESPOSA NO LIBANO. RECURSO DESACOLHIDO.
I - Tratando-se de casal domiciliado no Brasil, há que aplicar-se o direito brasileiro
vigente na data da celebração do casamento, 11.7.1970, quanto ao regime de bens,
nos termos do art. 7º-§ 4º da Lei de Introdução.
II - O regime de bens do casamento em questão é o da comunhão universal de bens,
com os contornos dados à época pela legislação nacional aplicável, segundo a qual,
nos termos do art. 262 do Código Civil, importava "a comunicação de todos os bens
presentes e futuros dos cônjuges e suas dívidas passivas", excetuando-se dessa
universalidade, segundo o art. 263-II e XI do mesmo Código "os bens doados ou
legados com a cláusula de incomunicabilidade e os subrogados em seu lugar", bem
como "os bens da herança necessária, a que se impuser a cláusula de
incomunicabilidade".
III - Tratando-se da sucessão de pessoa de nacionalidade libanesa domiciliada no
Brasil, aplica-se à espécie o art. 10, caput, da Lei de Introdução, segundo o qual "a
sucessão por morte ou por ausência obedece à lei em que era domiciliado o defunto
ou desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens".
IV - Não há incomunicabilidade dos bens da herança em tela, sendo certo que no
Brasil os bens da herança somente comportam incomunicabilidade quando expressa
e formalmente constituído esse gravame pelo de cujus, nos termos dos arts. 1.676,
1.677 e 1.723 do Código Civil, complementados por dispositivos constantes da Lei
de Registros Públicos.
V - Não há como afastar o direito do recorrido à meação incidente sobre os bens
herdados de sua mãe pela recorrente, na constância do casamento sob o regime da
comunhão universal de bens, os que se encontram no Brasil e os localizados no
Líbano, não ocorrendo a ofensa ao art. 263, do Código Civil, apontada
pela recorrente, uma vez inexistente a incomunicabilidade dos bens herdados pela
recorrente no Líbano.
VII - O art. 89-II, CPC, contém disposição aplicável à competência para o
processamento do inventário e partilha, quando existentes bens localizados no Brasil
e no estrangeiro, não conduzindo, todavia, à supressão do direito material garantido
ao cônjuge pelo regime de comunhão universal de bens do casamento,
especialmente porque não atingido esse regime na espécie por qualquer obstáculo da
legislação sucessória aplicável.
VIII - Impõe-se a conclusão de que a partilha seja realizada sobre os bens do casal
existentes no Brasil, sem desprezar, no entanto, o valor dos bens localizados no
Líbano, de maneira a operar a equalização das cotas patrimoniais,
em obediência à legislação que rege a espécie, que não exclui da comunhão os bens
localizados no Líbano e herdados pela recorrente, segundo as regras brasileiras de
sucessão hereditária. (REsp. 275.985-SP, relator Ministro Sálvio de Figueiredo, DJe
13.10.2003)

Dessa forma, ainda que o princípio da soberania impeça qualquer ingerência do


Poder Judiciário Brasileiro na efetivação de direitos relativos a bens localizados
no exterior, nada impede que, em processo de dissolução de casamento em curso
no País, se disponha sobre direitos patrimoniais decorrentes do regime de bens
da sociedade conjugal aqui estabelecida, ainda que a decisão tenha reflexos
sobre bens situados no exterior para efeitos da referida partilha.
Caberá à parte, assim entendendo, promover a efetivação de seu direito material
aqui reconhecido mediante os trâmites adequados conforme o
direito internacional.
(...)
Por ocasião do mencionado julgamento, assim ficou registrado no voto condutor do
acórdão:

A lei de introdução prevê obedecer, no art. 7º, § 4º, o regime de bens, legal ou
convencional, "à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for
diverso, a do primeiro domicílio conjugal".
E o art. 9º reconhece que para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do
país em que se constituírem.
As duas regras conduzem à aplicação da legislação brasileira, estando diretamente
voltadas ao direito material vigente para a definição da boa partilha dos bens entre os
divorciantes.
Para o cumprimento desse mister, impõe-se ao magistrado, antes de tudo, a
atenção ao direito material, que não excepciona bens existentes fora do Brasil,
sejam eles móveis ou imóveis.
Se assim o fosse, para dificultar o reconhecimento de direito ao consorte ou
vilipendiar o que disposto na lei brasileira atinente ao regime de bens, bastaria que
os bens de raiz e outros de relevante valor fossem adquiridos fora das fronteiras
nacionais, inviabilizando-se a aplicação da norma a determinar a
distribuição equânime do patrimônio adquirido na constância da união.

O acórdão recorrido, tendo em conta a lei material brasileira estabelecer a


necessidade de partilha igualitária entre os cônjuges, pois assim decorre do seu
regime de bens, houve por bem equilibrar os patrimônios de acordo com o valor
dos aquestos existentes no Brasil e fora dele, integrando-se bens móveis ou imóveis.
Não se sugeriu ou determinou violação do direito alienígena ou invasão de território
estrangeiro para cumprimento da decisão. Tampouco a eventual eficacização da
decisão judicial brasileira naquela nação mediante os meios próprios para tanto.
Determinou-se apenas que se deve levar em consideração os valores dos bens que
lá se apurarem quando do rateio do patrimônio, registrando-se, "na
impossibilidade de entrega do bem, ou extinção do condomínio deste, basta a
simples compensação de valores para equalização dos direitos, pagando, aquele que
permanecer com o patrimônio, a diferença da meação daquele que deixar de receber
bens em espécie."
A exegese respeita, expressamente, as normas de direito material acerca do
regime de bens, assim como os arts. 7º e 9º da LICC, não revelando qualquer
afronta ao art. 89 do CPC.
O referido dispositivo legal disciplina a competência internacional exclusiva do
Poder Judiciário brasileiro para dispor acerca de bens imóveis situados no Brasil e
para proceder a inventário e partilha de bens (móveis e imóveis) situados no Brasil.
Dele se extrai que a decisão estrangeira que viesse a dispor sobre bens imóveis ou
móveis (estes em sede de inventário e partilha) mostrar-se-ia ineficaz no Brasil.
(...)
O reconhecimento de direitos e obrigações relativos ao casamento, com apoio em
normas de direito material a ordenar a divisão equalitária entre os cônjuges
do patrimônio adquirido na constância da união não exige que os bens móveis e
imóveis existentes fora do brasil sejam alcançados, pela Justiça Brasileira, a um
dos contendores, apenas a consideração dos seus valores para fins da propalada
equalização. (grifos não constantes do original)

Assim, em tese, é possível, pois, que o Poder Judiciário Brasileiro reconheça


direito decorrente de dissolução de sociedade conjugal relativo a bem do casal
localizado no exterior, mesmo que sua eficácia executiva esteja limitada
pela soberania.

No caso em exame, em que o bem cuja partilha se pretende é dinheiro, bem fungível
e consumível, não tem relevância indagar em que local estará ele
hoje depositado, ou mesmo se já foi consumido, pois o que se irá reconhecer em
favor da recorrente, caso procedente seu pedido, é direito de crédito, a ser
executado dentro das possibilidades do patrimônio do devedor no Brasil ou no
exterior, de acordo com as regras vigentes no País onde se pretenda executar a
sentença.
Em face do exposto, dou parcial provimento ao recurso especial para anular o acórdão
de apelação e reconhecer a competência do juízo, bem como para determinar o
prosseguimento do feito, com a apreciação da apelação quanto aos demais aspectos.
É como voto.

(STJ, RECURSO ESPECIAL Nº 1.552.913 – RJ, 2008⁄0194533-2, Rel.


Min. MARIA ISABEL GALLOTTI, Quarta Turma, Data de
Julgamento: 08 de novembro de 2016, DJe: 02/02/2017)

RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DIREITO


INTERNACIONAL PRIVADO. AÇÃO DE DIVÓRCIO. PARTILHA
DE BENS ADQUIRIDOS NA CONSTÂNCIA DA UNIÃO E, APÓS,
O CASAMENTO. BENS LOCALIZADOS NO EXTERIOR.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA BRASILEIRA PARA A
DEFINIÇÃO DOS DIREITOS E OBRIGAÇÕES RELATIVOS AO
DESFAZIMENTO DA INSTITUIÇÃO DA UNIÃO E DO
CASAMENTO. OBSERVÂNCIA DA LEGISLAÇÃO PÁTRIA
QUANTO À PARTILHA IGUALITÁRIA DE BENS SOB PENA DE
DIVISÃO INJUSTA E CONTRÁRIA ÀS REGRAS DE DIREITO
DE FAMÍLIA DO BRASIL. RECONHECIMENTO
DA POSSIBILIDADE DE EQUALIZAÇÃO DOS
BENS. PRECEDENTE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL.
AUSÊNCIA DE SIMILITUDE. RECURSO ESPECIAL A QUE SE
NEGA PROVIMENTO.
VOTO
(...)
Enfim, inegável que o Judiciário Brasileiro não tem competência para interferir
na esfera jurisdicional de outro país. No entanto, não é esse o caso dos autos,
porquanto estamos aqui tratando de direitos, ou créditos, decorrentes e
regulados pela Lei Nacional, o que torna plenamente competente a autoridade
judiciária brasileira para definir quais são os direitos das partes envolvidas na
demanda, de acordo com o disposto no artigo 7º da LICC. A questão relativa à
execução de possível crédito decorrente do direito reconhecido deverá ser tratada em
liquidação, ou, se for o caso, até mesmo em execução no país onde estão localizados
os bens, nos termos da legislação própria.

A alegação do agravante de que a manutenção da decisão agravada dificultaria


a partilha dos bens é absolutamente infundada. Ora, conforme ordinariamente
se decide em questões de partilha, na impossibilidade de entrega do bem, ou
extinção do condomínio deste, basta a simples compensação de valores para
equalização dos direitos, pagando, aquele que permanecer com o patrimônio, a
diferença da meação daquele que deixar de receber bens em espécie.
Não posso deixar de referir, por fim, que a reforma da decisão agravada, nos
termos da petição inicial, tornaria a divisão dos bens do casal injusta e contrária
à lei, porquanto, repito, é certo o direito da agravada à metade de todo o
patrimônio adquirido pelo esforço comum do casal.
(...)
Assim, entendo imperiosa a manutenção da decisão agravada, porquanto o
patrimônio amealhado pelo casal durante a união deve ser dividido de forma
igualitária, e a única maneira de garantir os direitos assegurados pela legislação
brasileira à ex-esposa é trazer ao monte partilhável a totalidade dos bens
adquiridos pelo casal, conforme bem entendeu a magistrada a quo" (e-STJ Fls.
359⁄360, grifei).
(...)
Por fim, cumpre asseverar que o recurso especial não pode ser conhecido quanto
à interposição pela alínea "c" do permissivo constitucional, pois, no caso concreto, o
recorrente aponta julgado desta Corte que não guarda similitude fática com o caso
dos autos.
Não se tratava, no paradigma indicado, de hipótese de divisão de patrimônio
consoante o regime de bens do casamento, nem mesmo da possibilidade de
equalização de meações.
O reconhecimento de direitos e obrigações relativos ao casamento, com apoio
em normas de direito material a ordenar a divisão equalitária entre os cônjuges do
patrimônio adquirido na constância da união não exige que os bens móveis e imóveis
existentes fora do brasil sejam alcançados, pela Justiça Brasileira, a um dos
contendores, apenas a consideração dos seus valores para fins da propalada
equalização.
Ante o exposto, nego provimento ao recurso especial.
É o voto.

(STJ, RECURSO ESPECIAL Nº 1.410.958 – RS, 2011⁄0244043-3,


TERCEIRA TURMA, Rel. Min. PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, Data de Julgamento: 22 de abril de 2014, DJe:
27/05/2014)

3) Brasil aderiu Convenção da Haia sobre Aspectos Civis do Sequestro Internacional


de Crianças, que trata do deslocamento ilegal da criança de seu país e⁄ou sua
retenção indevida em outro local que não o de sua residência habitual. Escopo da
Convenção não se volta a debater o direito de guarda da criança, mas, sim, a
assegurar o retorno da criança ao país de residência habitual

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. CONVENÇÃO DA HAIA


SOBRE ASPECTOS CIVIS DO SEQUESTRO INTERNACIONAL
DE CRIANÇAS. COOPERAÇÃO JURÍDICA ENTRE ESTADOS.
BUSCA, APREENSÃO E RESTITUIÇÃO DE INFANTE. GUARDA
COMPARTILHADA. OCORRÊNCIA DE RETENÇÃO ILÍCITA
POR UM DOS GENITORES. EXCEÇÕES NÃO CONFIGURADAS.
ÔNUS DA PROVA QUE INCUMBE À RECORRENTE.
RETENÇÃO NOVA. NECESSIDADE DE RETORNO DA
CRIANÇA AO PAÍS DE RESIDÊNCIA HABITUAL, JUÍZO
NATURAL COMPETENTE PARA DECIDIR SOBRE A SUA
GUARDA.
1. No caso concreto, a criança, nascida no Brasil e portadora de
dupla cidadania, tinha residência habitual na Itália, sob a guarda
compartilhada da mãe (cidadã brasileira) e do pai
(cidadão italiano). Em viagem de férias dos três ao Brasil, a mãe
reteve a criança neste país, informando ao seu então companheiro
que ela e o filho não mais retornariam à Itália.
2. Nos termos do art. 3º da Convenção da Haia sobre Aspectos Civis
do Sequestro Internacional de Crianças,
o "sequestro internacional" diz respeito ao deslocamento ilegal da
criança de seu país e⁄ou sua retenção indevida em outro local que
não o de sua residência habitual.
3. O escopo da Convenção não se volta a debater o direito de
guarda da criança, mas, sim, a assegurar o retorno da criança ao
país de residência habitual, o qual é o juízo natural competente
para julgar a sua guarda.
4. A presunção de retorno da criança não é absoluta, mas o ônus da
prova da existência de exceção que justifique a permanência do infante
incumbe à pessoa física, à instituição ou ao organismo que se opuser
ao seu retorno. Ademais, uma vez provada a existência de exceção, o
julgador ou a autoridade tem a discricionariedade de formar seu
convencimento no sentido do retorno ou da permanência da criança.
5. Na hipótese dos autos, a genitora pleiteou a produção de prova
pericial atinente às condições psíquicossociais da criança, tendo o
magistrado a quo indeferido a perícia por entender que não
haveria necessidade de parecer técnico em casos de retenção nova.
Assim, viável o indeferimento da perícia com base no art. 12 da
Convenção, pois o pai da criança foi célere no sentido de tomar as
providências administrativas e diplomáticas pertinentes à repatriação,
agindo dentro do tempo-limite de 1 ano recomendado pelo documento
internacional, lapso dentro do qual, salvo exceção comprovada, a
retenção nova da criança autoriza o seu retorno imediato.
6. O Brasil aderiu e ratificou a Convenção sobre os Aspectos Civis
do Sequestro Internacional de Crianças, devendo cumpri-la de
boa-fé, respeitadas, obviamente, eventuais exceções, as quais não
foram comprovadas pela recorrente. Recurso especial conhecido em
parte e, nesta parte, improvido.

VOTO
(...)
A partir de uma interpretação técnica, se o Brasil aderiu e ratificou formalmente a
Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças, deverá
cumpri-la de boa-fé, respeitadas, obviamente, eventuais exceções.

Nesse sentido, já se manifestou a Ministra ELLEN GRACIE:


"A primeira observação a ser feita, portanto, é a de que estamos diante de um
documento produzido no contexto de negociações multilaterais a que o País
formalmente aderiu e ratificou. Tais documentos, em que se incluem os tratados,
as convenções e os acordos pressupõem o cumprimento de boa-fé pelos Estados
signatários. É o que expressa o velho brocardo: "Pacta sunt servanda". A
observância dessa prescrição é o que permite a coexistência e a cooperação entre as
nações soberanas cujos interesses nem sempre são coincidentes. Os tratados e os
acordos internacionais prevêem em seu próprio texto, a possibilidade de retirada de
uma das partes contratantes se e quando não mais lhe convenha permanecer
integrada no sistema de reciprocidades ali estabelecido.
(...).
Atualmente, porém, a Convenção é o compromisso internacional do estado
brasileiro em plena vigência e sua observância se impõe. Mas, apesar dos esforços
em esclarecer conteúdo e alcance desse texto, ainda não se faz claro para a
maioria dos aplicadores do Direito o que seja o cerne da Convenção.
O compromisso assumido pelos Estados-membros, nesse tratado multilateral, foi o
de estabelecer um regime internacional de cooperação, tanto administrativa, por
meio de autoridades centrais, como judicial. A Convenção estabelece regra
processual de fixação de competência internacional que em nada colide com as
normas brasileiras a respeito (...). Verificando-se que um menor foi retirado de sua
residência habitual, sem consentimento de um dos genitores, os Estados-partes
definiram que as questões relativas à guarda serão resolvidas pela jurisdição de
residência habitual do menor, antes de sua subtração, ou seja, sua jurisdição
natural. O juiz do país de residência habitual da criança foi o escolhido
pelos Estados-membros da Convenção como o juiz natural para decidir as questões
relativas à sua guarda." (Excerto extraído do voto da Ministra ELLEN GRACIE,
proferido na ADPF 172-MC-REF, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO, Pleno, julgado
em 10.6.2009, DJe-157 DIVULG 20.8.2009 PUBLIC 21.8.2009 - Grifo meu.)

Por conseguinte, ausente a violação do art. 12 do Decreto n. 3.413⁄2000 (Convenção


sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Criança), bem como não
configuradas nem comprovadas pela mãe quaisquer das exceções que recomendem a
permanência do infante no Brasil, o retorno do menor à Itália (juízo natural para
decidir a sua guarda) é a medida que mais se amolda à Convenção.
Fica a genitora da criança autorizada a acompanhar, caso queira, o retorno do
menor à Itália, sob diligência do representante da autoridade central italiana ou de
quem lhe fizer as vezes.
Ante o exposto, conheço do recurso especial em parte e, nesta parte, nego-lhe
provimento.
É como penso. É como voto.

(STJ, RECURSO ESPECIAL Nº 1.351.325 – RJ, 2012⁄0227705-3,


SEGUNDA Turma, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, Data do
Julgamento: 10 de dezembro de 2013, DJe: 16/12/2013)

4) Ação de alimentos. Credor domiciliado em Portugal. Observância da Convenção


sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro. A circunstância de o credor contrair
novo casamento não altera sua obrigação alimentar.

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO INTERNACIONAL E DIREITO


CIVIL. AÇÃO DE ALIMENTOS. CREDOR DOMICILIADO NO
EXTERIOR. CONVENÇÃO SOBRE PRESTAÇÃO DE
ALIMENTOS NO ESTRANGEIRO. DECRETO 56.826/65. ART. 26,
LEI 5.478/65. ALIMENTOS ENTRE CÔNJUGES. DEVER DE
ASSISTÊNCIA (OBRIGAÇÃO DE FAZER) E OBRIGAÇÃO
ALIMENTAR (OBRIGAÇÃO DE DAR). SENTENÇA DE
DIVÓRCIO. HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA.
NOVO CASAMENTO DO DEVEDOR.
POSSIBILIDADE/NECESSIDADE. IMPROVIMENTO. 1. O tema
em debate diz respeito ao suposto direito a alimentos em favor da
Autora, esposa do Apelante, que sempre residiu e foi domiciliada
em Portugal, considerando o binômio possibilidade-necessidade. 2. À
luz do disposto no art. 26, da Lei n° 5.478/68, é competente a justiça
federal para conhecer e julgar a ação de alimentos em que o credor
é domiciliado no exterior. Nos termos do Artigo I, da Convenção
sobre Prestação de Alimentos no Estrangeiro, promulgada pelo
Decreto n° 56.826, de 02.09.1965, "a presente Convenção tem como
objeto facilitar a uma pessoa, doravante designada como demandante,
que se encontra no território de uma das Partes Contratantes, a obtenção
de alimentos aos quais pretende ter direito por parte de outra pessoa,
doravante designada como demandado, que se encontra sob jurisdição
de outra Parte Contratante." 3. De acordo com a natureza jurídica dos
alimentos provisórios, não é possível sua revogação, no curso da ação
de alimentos, sendo devidos até o trânsito em julgado da sentença,
inclusive do recurso extraordinário porventura interposto, na forma do
§ 3° do art. 13 da Lei n° 5.478/68, embora o seu quantum possa ser
modificado, se verificadas as alterações supervenientes na situação
econômica das partes - se reduzida a necessidade dos alimentando ou
a possibilidade do alimentante. Tal não ocorre com os alimentos
provisionais, que podem ser revogados a qualquer tempo, já que se
inserem nas ditas medidas cautelares. 4. Para que produza efeitos em
território brasileiro, a homologação de sentença estrangeira é
imprescindível, sendo necessária em qualquer caso, quer se trate de
sentença meramente declaratória ou quer demande execução. 5. Uma
vez cessada de fato ou de direito a convivência sob o mesmo teto e uma
vez extinta a comunhão do casal, sob todos os seus aspectos, a
obrigação de socorro entre os cônjuges resolve-se através da prestação
de alimentos. O dever de assistência, portanto, é uma prestação mais
abrangente, que poderia ser classificada como 'obrigação de fazer'; já
os alimentos, prestação mais específica, a ser entendida como
'obrigação de dar'. 6. A tese de que não houve casamento entre as
partes, à evidência, não tem como ser acolhida, tanto assim o é que
o próprio Apelante ingressou com a ação de divórcio perante o
Poder Judiciário de Portugal, em nítida postura de
reconhecimento da existência e validade do casamento realizado
em Portugal. Tal casamento se deveu à circunstância de haver
relacionamento afetivo entre as partes no período anterior ao
casamento, o que, inclusive, gerou o nascimento de filha comum do
casal. O dever de assistência material sob a perspectiva do dever de
socorro, impõe o amparo financeiro e econômico entre os cônjuges de
modo, inclusive, a permitir a manutenção do mesmo status social
inerente à família constituída pelo casamento. 7. Na época da
propositura da ação de alimentos no Brasil as partes estavam
regular e validamente casadas, fundando uma família baseada na
conjugalidade. Assim, tendo a ação de divórcio somente sido
proposta em momento bem posterior ao início da ação de
alimentos, obviamente que ela não interfere no pressuposto da
conjugalidade quando da proposição da primeira demanda. 8.
Atualmente reconhece-se a possibilidade de, mesmo após o divórcio,
ser possível a continuidade da obrigação alimentar que se baseia,
obviamente, em fundamento existente no momento que ainda existia
vínculo matrimonial. Assim, no caso de pessoas idosas, por exemplo,
o ex-cônjuge poderá continuar como credor dos alimentos diante da
continuidade dos pressupostos da necessidade/possibilidade que enseja
o reconhecimento do direito a alimentos. 9. A circunstância de o
Apelante haver contraído novo casamento, da mesma forma, não
altera sua obrigação alimentar. Nos termos do atual art. 1.709, do
Código Civil, o novo casamento do cônjuge devedor não extingue a
obrigação alimentar, tal como já previa o art. 30, da Lei n° 6.515/77 (e
o sistema do Código Civil de 1916). Além de não alterar o an debeatur,
o novo casamento não tem o condão de modificar o quantum debeatur
10. Recurso conhecido e improvido, para o fim de manter a sentença

(TRF 2, 0004649-79.2001.4.02.0000, TRF2 2001.02.01.004649-5, 6ª


Turma Especializada, Relator: GUILHERME CALMON NOGUEIRA
DA GAMA, Data de Julgamento: 12/08/2009, Data de
disponibilização: 15/09/2009)

5) Ausência de competência da Justiça brasileira. Processamento e julgamento da


ação que visa à dissolução do casamento de brasileiros realizado no estrangeiro,
ainda que tenha sido celebrado perante a autoridade consular brasileira, foge da
competência da Justiça Brasileira, no caso em que os cônjuges ainda mantenham
domicílio no lugar do matrimônio.

DIVÓRCIO. CASAMENTO CONSULAR DE


BRASILEIROS.CELEBRADO DO ESTRANGEIRO, PERANTE A
AUTORIDADE CONSULAR BRASILEIRA. CÔNJUGES AINDA
DOMICILIADOS NO LOCAL DA REALIZAÇÃO.
COMPETÊNCIA INTERNACIONAL. REGRA DO ART. 7º DA LEI
DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO.
ESTUTO PESSOAL. CRITÉRIO DO LUGAR DO DOMICÍLIO.
INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA BRASILEIRA. JURISDIÇÃO
DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. RECURSO
DESPROVIDO. SENTENÇA CONFIRMADA. O art. 7º da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro acolhe a lei do
domicílio como critério fundamental do estatuto pessoal - que
inclui, dentre outras, questões relacionadas ao casamento. Sendo assim,
"o brasileiro domiciliado no exterior será regido, em suas relações
familiares, pela lei do lugar de seu domicílio." (Nelson Rosenvald e
Cristiano Chaves, Direito Civil. Teoria Geral). Nessa orientação, o
processamento e julgamento da ação que visa à dissolução do
casamento de brasileiros realizado no estrangeiro, ainda que tenha
sido celebrado perante a autoridade consular brasileira, refoge da
competência da Justiça Brasileira, no caso em que os cônjuges
ainda mantenham domicílio no lugar do matrimônio. Recurso
desprovido.

(TJMG, Apelação Cível 1.0280.13.002039-7/001, Relator(a): Des.(a)


Eduardo Andrade, 1ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 18/02/2014,
publicação da súmula em 26/02/2014)

6) Sequestro de crianças. Peculiaridades excepcionais do caso. Não retorno imediato


das crianças.

DIREITO INTERNACIONAL E PROCESSUAL CIVIL.


RECURSO ESPECIAL. CONVENÇÃO DE HAIA SOBRE OS
ASPECTOS CIVIS DO SEQUESTRO INTERNACIONAL DE
CRIANÇAS. DECRETO N. 3.413, DE 14 DE ABRIL DE 2000.
DUAS IRMÃS MENORES ALEGADAMENTE RETIDAS DE
MODO INDEVIDO PELA MÃE NO BRASIL.
LEGITIMIDADE ATIVA DA UNIÃO. PECULIARIDADES
EXCEPCIONAIS DO CASO DEVIDAMENTE CONSIDERADAS
PELO ARESTO RECORRIDO. ART. 13 DA CONVENÇÃO DE
HAIA. MANUTENÇÃO DAS MENORES NO BRASIL. RECURSO
ESPECIAL NÃO PROVIDO.
1. Há de se frisar que, na forma da Constituição Federal de 1988
e visando ao cumprimento de obrigações internacionais assumidas
pela República Federativa do Brasil, a União atua como legitimada
ordinária, ou seja, em nome próprio e na defesa de interesse
próprio. A sua legitimação em demandas de busca, apreensão e
restituição de menores não decorre de interesse privado dos
genitores das crianças e, sim, de interesse público consistente no
cumprimento de obrigações assumidas em Convenção
Internacional. Dessa forma, a legitimidade ativa ad causam da União
decorre das regras atinentes, apresentando em sua estrutura a Secretaria
Especial de Direitos Humanos, a qual atua na qualidade de
representante do Estado brasileiro, na forma do disposto no art. 21, inc.
I e IV, da CF⁄1988.
2. Demais disso, a alegação de ilegitimidade ativa da União,
suscitada pelo Ministério Público Federal no seu parecer, revela-se tese
inovadora na lide, porque nem sequer foi tratada nas contrarrazões da
parte recorrida.
3. Ainda que comprovada a conduta da genitora em reter
indevidamente as duas filhas menores no Brasil, deixando de retornar
para a residência habitual na Espanha, onde reside o pai das crianças,
mesmo assim e em situações excepcionalíssimas, nos termos da
Convenção de Haia e no propósito de se preservar o superior interesse
dos menores, possível será o indeferimento do pedido de imediato
retorno dos infantes. Precedente: REsp 1.214.408⁄RJ, Rel. Ministro
Sérgio Kukina, Primeira Turma, julgado em 23⁄6⁄2015, DJe 5⁄8⁄2015.
4. No caso concreto, tal como avaliado pela Corte de origem, com
base em idôneo acervo probatório, em verdade, as crianças mais
viveram no Brasil do que na Espanha. E tal assim ocorrera com o
consentimento, no mínimo tácito, do genitor, o qual jamais reclamou
dos longos períodos de convivência das filhas no Brasil,
exclusivamente em companhia da mãe. Na precisa anotação do aresto
regional, "o período de permanência e convivência da família na
Espanha foi marcado por constantes interrupções". E acrescenta que
"as crianças passaram longos períodos no Brasil, inclusive a filha mais
nova é nascida no País".
5. Ora, desconhecer essa peculiaridade, que se traduz
na excepcionalidade do caso, devidamente abordada no acórdão
recorrido, seria desconsiderar a norma constante do art. 13 da
Convenção, a qual constou como fundamento suficiente do julgado
prolatado pelo eg. TRF da 4ª Região.
6. Diante disso, no caso em exame, considerando, seja o disposto no
art. 13 da Convenção de Haia – Decreto n. 3.413, de 14 de abril de
2000 –, sejam as peculiaridades excepcionais decorrentes do caso,
não se há de acolher a conclusão de que as crianças devam
retornar, de imediato, ao país onde inicialmente tinham residência
e onde mora o seu genitor.
7. Recurso especial a que se nega provimento.

(STJ, RECURSO ESPECIAL Nº 1.387.905 - RS (2013⁄0160212-


0), Segunda Turma, Rel. Min. OG FERNANDES, 18 de maio de 2017
(Data do Julgamento), DJe: 24/05/2017)

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