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Adriana ALVES1
Resumo: Ao refletir sobre a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino
de História no primeiro ciclo do Ensino Fundamental, percebe-se a grande
resistência que muitos docentes possuem para mudanças. Porém, na 4ª série de
uma escola Pública Estadual na cidade de Ribeirão Preto/SP, foi desenvolvido um
projeto de ensino de História para os alunos com objetivo de proporcionar
condições para que estes conhecessem a si próprios e aos outros, além de
estabelecerem diferenças e semelhanças sociais, econômicas e culturais dentro de
seu próprio grupo social. Para isto, foi organizado um conteúdo partindo da
realidade do aluno que o conduzisse a questionamentos em torno de seu cotidiano.
O objetivo geral do ensino de História para o ciclo I é, conforme o Plano Diretor da
escola, estabelecer um processo de diferenciação entre os indivíduos no contexto
das relações sociais, identificar noções de trabalho e noções elementares de
tempo. Com orientação nos Parâmetros Curriculares Nacionais, é proposto estudar
maneiras de integrar a este conteúdo, o estudo de História do Brasil observando as
devidas limitações e implicações.
INTRODUÇÃO
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Colaboradora do Projeto – Disciplina: História (Faculdade de História, Direito e Serviço Social – UNESP – Franca).
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identificando as relações sociais em várias dimensões e de diferentes maneiras, acompanha as
propostas dos PCN para o primeiro ciclo do Ensino Fundamental.
São nas séries iniciais que as primeiras lições de História como disciplina são
apresentadas para as crianças. Estas, por sua vez, trazem para a escola suas próprias histórias
com base em suas experiências pessoais que vão se ampliando no grande encontro cultural
que a escola proporciona para a vida. É nesse ambiente propício que esse projeto de pesquisa
foi desenvolvido.
O segundo módulo com o tema: O Índio hoje e o Índio ontem, foi abordado no
decorrer de aulas que permitiram as crianças expressarem suas próprias condições de vida
hoje, pesquisarem as condições do índio no passado e no presente, e compararem suas vidas
com a dos indígenas do país.
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O último módulo reuniu os resultado obtidos com o projeto para a produção de
um material de ensino em forma de relatório das atividades desenvolvidas na sala de aula, para
um possível aproveitamento nos anos seguintes, pela escola e pelos professores.
1.1. A COMPARAÇÃO DA VIDA SOCIAL DA CRIANÇA HOJE, CULTURA, ECONOMIA E A DOS TEMPOS DA
COLÔNIA NO BRASIL
Vigotsky (1992, p. 109) discute essa bagagem cultural que acompanha o aluno
de casa para a escola, e a classifica como uma “[...] pré-história [...]”, ressaltando que a “[..]
aprendizagem escolar nunca parte do zero [...]”.
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Ao trabalhar a questão da temporalidade, foi desenvolvida uma breve discussão
na lousa sobre séculos, contagem de tempo, algarismos romanos, e depois foi proposta uma
atividade que elas levaram para fazer em casa. Essa atividade foi uma espécie de linha do
tempo pessoal na qual dados importantes que aconteceram na vida de cada criança, desde seu
nascimento, foram registrados no gráfico.
______ ______ _____ _____ _____ _____ _____ _____ ______ ______ _____
O que Aconteceu O que O que O que O que O que O que O que O que O que O que
aconteceu aconteceu aconteceu Aconteceu Aconteceu Aconteceu Aconteceu Aconteceu Aconteceu Aconteceu
Um ou dois eventos foram anotados por elas, a cada ano. De maneira que
puderam analisar a questão do tempo em forma linear.
Partindo dos habitantes que já estavam aqui, foi apresentado seu modo de vida,
bem como a questão do achamento do Brasil, sua intencionalidade ou casualidade, em
pequenos textos para as crianças fazerem comparações e darem suas opiniões. Após lidos e
levantadas as palavras difíceis, foram discutidas as duas versões. As crianças se expressaram
elaborando uma pequena dissertação, suas opiniões sobre o achamento do Brasil.
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Os textos:
“Eu acho que Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil por engano porque ele
queria chegar a Índia. (...) Eu acho que Pedro Alvares Cabral foi o primeiro a
descobrir o Brasil. (...) Eu acho que os Índios chegaram primeiro ao Brasil que
Duarte Pacheco. (...) Eu acho que os Índios descobriram primeiro o Brasil. Mas
o Pedro Álvares Cabral se apossou das terras dos Índios, e disse que ele achou
a terra. Eu acho que os Índios descobriram.”
Nesse contexto, foi proposta uma atividade de comparação entre hábitos dos
membros da família da criança no passado e seus próprios hoje, que é de grande ajuda para o
reconhecimento de mudanças e permanências através do tempo.
As crianças levaram uma pesquisa para fazerem em casa com seus familiares e,
então, todo um debate foi montado sobre ela na sala de aula.
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Com a pesquisa pronta na mão das crianças na sala de aula, foi aberto um
debate comparativo. Com a lousa dividida em duas partes: passado e presente, foi colocado no
lado passado todas as respostas das pesquisas, levando em conta que várias eram
semelhantes, fazendo-se assim somente acréscimos; e no lado presente, as crianças
descreveram a escola e as brincadeiras de hoje. Após essas conversas, as crianças concluíram
que algumas coisas da escola como: alunos, professores e o prédio permaneceram. Porém, a
violência aumentou, e os professores de hoje são menos rígidos. Em relação às brincadeiras,
as crianças levantaram que a maioria permaneceu. Foi possível notar, que nenhuma criança
levantou brincadeiras eletrônicas como vídeo-games e computadores utilizados hoje. Talvez por
não perceberem no contexto das brincadeiras tais aparelhos, visto que a maioria conhece e
alguns têm ou já tiveram acesso a eles.
O próximo passo foi então apresentar o conteúdo: A posse das terras brasileiras
– As Capitanias Hereditárias e o Governo Geral. Foi usada a aula expositiva como recurso,
porém sempre aberta a debates comparativos entre o passado e o atual. Como atividade para
as crianças desenvolverem em sala de aula sobre o assunto, foi proposta uma questão para
pensar, dissertar e também avaliar como o conteúdo tem sido aproveitado e a questão da
temporalidade que o envolve. A questão era: Se você recebesse, só para você e sua família,
uma Capitania naquela época, o que você faria com ela para morar, comer e estudar?
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Plantaria, construía uma casa de madeira e para estudar eu fazia a minha
própria aula.
Eu se não tivesse fogão eu pegava pau.
Pra mim comer eu ia plantar, pra mim eu fazia uma casa de madeira pra mim
estudar eu ia escrever numa folha e também eu escrevia as coisas com um
bambu pontudo.
Para morar eu procuraria madeiras para fazer uma oca. E para comer eu
plantaria mandioca. E para estudar eu mandaria buscar um professor.
Eu e minha mãe e meu pai faria casa de madeira para a gente viver e também
plantava semente de arroz, feijão [...] Eu falaria para minha mãe me dar aula da
1, 2, 3 e 4 série e etc.
Eu construiria uma casa um pouco grande para eu, minha mãe, meu pai e meus
irmãos morarmos e essa casa seria de madeira também e faria todas as
crianças estudar com uma pessoa que soubesse ler e escrever [...]
PARA LEMBRAR:
Os portugueses no Brasil não encontraram um povo como o seu, ou seja, comerciantes
e produtores. Aqui não encontraram também ouro como esperavam e usaram o Pau-brasil para
vender.
Portugal estava interessado em lucro e no momento conseguia isso na Ásia e na África.
Em 1530, o rei de Portugal enviou ao Brasil uma expedição chefiada por Martim Afonso
de Sousa para começar a colonizar e defender as novas terras.
O Rei Dom João III dividiu o Brasil em 14 partes, chamadas Capitanias Hereditárias, com
homens escolhidos para cuidar dessas capitanias.
Com grandes partes para cada um, ficou difícil de controlar essas terras, então é
organizado um Governo Geral na cidade de Salvador para controlar e defender o Brasil, agora
Colônia de Portugal.
(texto Para Lembrar)
Na aula seguinte, foi feita uma espécie de recordação e avaliação desse primeiro
módulo.
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maneira que os alunos pudessem representá-los em dois momentos (1500 e 2003) da História
do Brasil. Em grupos divididos pela atividade de escolha de líder, numa cartolina, as crianças
puderam representar os temas nos períodos por meio de desenhos, que depois foram
apresentados para toda a sala por cada equipe e avaliado por eles. No término da aula, as
crianças expuseram seus trabalhos no corredor da escola.
2.1. CARACTERIZAR A VIDA HOJE DAS CRIANÇAS, PERMITINDO QUE ELAS MESMAS EXPRESSEM SUAS
CONDIÇÕES DE VIDA ATRAVÉS DE CONVERSAS NA SALA.
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poderá aparecer, o que exigirá uma maior energia do professor para a organização do debate
com as crianças.
2.2. APRESENTAR O MODO DE VIDA INDÍGENA MAIS PRÓXIMO POSSÍVEL DA REGIÃO, PERMITINDO QUE
AS CRIANÇAS LEVANTEM QUESTÕES RELACIONADAS AO MODO DE VIDA DELES E AO SEU
PRÓPRIO MODO DE VIDA
Nesse momento, o conteúdo foi elaborado por elas sobre a questão do encontro
de culturas entre Portugal e Nativos no Brasil de 1500.
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2.3. AJUDAR AS CRIANÇAS A IDENTIFICAREM DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS DE ESPAÇO, VIVÊNCIA,
CULTURA E RELIGIÃO
2.1. A ESCOLA INDÍGENA ANTIGA E A ATUAL, RELACIONANDO COM A PRÓPRIA VIDA ESCOLAR DA
CRIANÇA
3 AS RELAÇÕES DE TRABALHO
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Em continuidade ao assunto anterior, uma aula sobre o Engenho Colonial foi
elaborada, com o objetivo de ajudar as crianças a questionarem a sociedade do Engenho no
período Colonial do Brasil. Exploramos objetos de trabalho como a foice que tanto é utilizada
hoje em dia como foi no passado. Discutimos o processo de industrialização do açúcar,
especialmente no que se refere à mão-de-obra escrava do passado e a atual do coletor de cana
de nossa região.
Para nós o açúcar é doce, mas você acha que para os negros o açúcar é doce?
O trabalhador de hoje é quase igual os escravos só que não tem castigo. Só
que o trabalho é duro e o açúcar ainda é amargo.
O açúcar é amargo? Bom, essa é a questão para os negros que são açoitados.
Sim porque quando uma pessoa não sente mais o doce da vida, até açúcar fica
amargo. Bom, como eu disse nada mais faz sentido.
O açúcar é amargo para os cortadores de cana porque eles sofrem dia por dia,
sol por sol para sobreviverem.
Antigamente os negros não ganhavam um tostão, hoje mesmo os trabalhadores
de cana ganhando dinheiro, eles acham o dinheiro miserável.”
Após a discussão das duplas, cada uma apresentou seu trabalho explicando
suas respostas.
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As crianças inventaram nomes para os meios de transporte, relataram suas
observações, etc.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Título com base na obra “Açúcar Amargo” de Luiz Puntel da Ed: Ática
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com estudos de outros tempos e pessoas que também fizeram suas histórias.
Assim sendo, o aluno passa a questionar sua realidade individual, que é uma
experiência histórica, fazendo-o despertar para sucessivos exercícios de reflexão que levarão a
produção de conhecimento não só no âmbito escolar, mas para a vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CABRINI, Conceição. et al. O ensino de História: Revisão urgente. 2. ed. São Paulo:
Brasiliense, 1986
DEMO, Pedro. Desafios Modernos da Educação. 10. ed, Rio de Janeiro: Vozes, 2000
NADAI, E., BITTENCOURT, C. M. F. Repensando a noção de tempo histórico no Ensino. In:
PIASKY, Jaime (Org.). O ensino de história e a criação do fato. 3. ed. São Paulo: Contexto,
1991.
NIDELCOFF, M. T. A escola e a compreensão da realidade. São Paulo: Brasiliense. 1987
Parâmetros Curriculares Nacionais: História, Geografia. Secretaria de Educação Fundamental.
– Brasília: MEC/SEF, 1997.
PETRUCI, Maria das Graças, R, M. O Ensino de História na Escola Fundamental: a proposta e
a prática. Franca, SP – UNESP – FHDSS, 1997.
VIGOTSKY, L. S. A Formação social da mente. Ed: Martins Fontes, São Paulo, 1991
FURLAN, S.A., SCARLATO, F.C., CARVALHO, A. F. Eu e o outro: a construção da cidadania.
Coleção Verso e Reverso. Geografia e História. Livros 3 e 4. Editora Nacional. São Paulo, 2000
ROMEU, Gabriela. Quem trabalha não brinca. Folha de São Paulo, São Paulo, 19 de abril de
2003. Folhinha, p.3.
Secretaria de Estado da Educação de São Paulo. Educação Indígena. 2. ed. São Paulo. 2002.
WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. Ed: Ática, 2 Ed, São Paulo, 2001.
OUTRAS FONTES
FILMES
História do Brasil. Vol. I – A descoberta e o início da colonização. SBJ Produções. São Paulo,
Brasil.
TELEVISÃO
Socorro às crianças. Reportagem. Jornal Hoje. Rede Globo de Televisão (Brasil).16/04/2003
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