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“É apenas tinta”

(Texto escrito baseado em um sonho que me foi contado)

Uma certa vez, passeando pela areia da praia, me deparei com um pintor que estava criando a sua tela.
Era a imagem sendo construída de uma criança, e os traços eram sublimes, mágicos, que a meu ver
expressava o nascimento de uma linda obra de arte. Trazia a perfeição dos traços, era um digno exemplo de
uma criação divina.
Na face do artista porém havia um traço de tristeza, de desencanto, como se ele mesmo não conseguisse ver
aquilo com os mesmos olhos que eu via.
Quando lhe comentei sobre a beleza da obra que nascia, ele simplesmente me disse: “É apenas tinta”
O por que desta resposta? O que havia de diferente entre a forma que eu via e a forma que ele via, se a tela
era a mesma?
Muitas coisas imagino. Mas, fundamentalmente as respostas estão nos olhos de quem vê.
Para mim, um leigo que apenas apreciava aquela beleza, via com encanto algo que me era impossível que eu
criasse. Via os toques do pincel, via a perfeição dos traços, via a expressão de uma ideia, via a complexidade
da obra.
Para ele, talvez fosse apenas mais uma obra, mais uma coisa que ele sabia fazer e fazia bem, que lhe era
natural.
Talvez, acostumado com o seu dom, acostumado a ter consigo na mente aquelas imagens maravilhosas,
apenas via uma a mais, sem sentido, sem propósito. Era apenas tinta jogada em uma tela. Não havia beleza
naquilo que ele via, não havia alma.
Talvez não percebeu que o dom que tinha era algo mágico, e que sua diferença na existência era justamente
aquilo que lhe era natural e cotidiano, e infelizmente não conseguia ver nada a mais do que tinta.
Talvez esperasse algo mais da vida, algo que não estava ali, algo que de alguma forma pudesse fazê-lo
“feliz”, e não aproveitava aquilo que a vida lhe dava de melhor, não conseguia ver o seu “momento”.
Talvez não viu que o melhor dom que existe é aquele que temos, e que para que isto nos seja bom, devemos
antes mudar a maneira como os nossos olhos veem a vida e as coisas. Olhar para dentro de si, olhar para o
que somos, colocar a nossa felicidade no que temos, olhar o simples, e não naquilo que está longe dos nossos
olhos e nossas mãos.
Aceitar a vida como ela se coloca, e fazer que os nossos momentos sejam válidos, porque quantas são as
vezes que a vida se torna enfadonha, as coisas rotineiras, o cotidiano massacrante, e viver é um fardo pesado
a se carregar nas costas com o passar dos dias.
O mar, a areia, o barulho das ondas, a brisa trazendo o doce cheiro do oceano, uma gaivota deslizando contra
o vento, uma tela em branco recebendo a magia da transformação, uma mão hábil movida por uma mente
brilhante; tanta beleza em volta, e tudo cegado apenas pelos olhos da insatisfação de crer que o melhor está
longe de nós.
Quantos detalhes passado em branco, quanto mistério e beleza ao redor e os olhos estão vendo “apenas
tinta”, e a alma está inquieta por aquilo que nem sabe o que é, e se soubesse e tivesse, em pouco tempo
também se tornaria “apenas tinta”.

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