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Petrópolis
2019
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PETRÓPOLIS
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
FACULDADE DE DIREITO
Petrópolis
2019
Patrick Molter Fonseca
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(Prof.ª. Dr.ª DENISE MERCEDES NUÑEZ NASCIMENTO LOPES SALLES)
_________________________________________
(Prof. Me. MAURICIO PIRES GUEDES)
Nota: _________
BANCA EXAMINADORA:
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(Nome completo, titulação e instituição a que pertence)
Dedico este trabalho aos meus pais, que
me ensinaram a ser um migrante de ideias.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, também, aos meus queridos pais e meu pequeno irmão que,
mesmo sem me entenderem muito bem, me apoiam incondicionalmente nas minhas
aventuras. Eu não seria quem eu sou se não fosse por vocês. Obrigado.
À minha namorada, por ter estado comigo pelas noites a fio em que
pesquisava, lia e escrevia, me assegurando que tudo iria se encaixar. Você me faz
ser a melhor versão de mim em tudo. Amo você.
Esta Monografia tem como objetivo fazer uma análise crítica das soluções duráveis
do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados em território pátrio, com o
cenário histórico internacional — e nacional também, no que couber —, servindo
como pano de fundo. Ao traçar uma digressão histórica do Direito Internacional dos
Refugiados, esta pesquisa analisa as convenções e tratados relativos ao instituto, o
que leva à análise do cenário nacional sob a égide do Direito dos Refugiados na
Modernidade pós-Declaração de Cartagena. Além disto, o presente trabalho de
conclusão de curso apresenta uma breve síntese histórica que possibilita a melhor
compreensão do trato dos refugiados no Brasil e, assim, proporcionar um olhar
crítico sobre as soluções duráveis implementadas no mundo e, por fim, em território
nacional. Esta pesquisa se deu mediante estudo da abundante bibliografia sobre o
tema. A partir disto, foi possível compreender o fenômeno do refúgio e o relacionar
com a atuação do longa manus da Organização das Nações Unidas no Brasil desde
sua criação.
This undergraduate theses aims to critically analyze the durable solutions from Unit-
ed Nations’ High Commissioner for Refugees in Brazil, along with the historical inter-
national scenario that serves as its background. When outlining a historical digres-
sion concerning the International Refugees’ Law, this paper analyzes the Conven-
tions and Treaties that relate to such institution, which follows through with the further
analysis of the national scenario under the aegis of modern Refugees’ Law, in the
post Cartagena state of affairs. Moreover, this term paper presents a brief historical
synthesis that allows us to better understand the refugees’ treatment in Brazil and,
therefore, cast a critical eye about the durable solutions that have been implemented
in the world and, thus, in Brazil. This research took place through thorough study of
the abundant bibliography apropos of such theme. Therefrom, it was possible to un-
derstand the refuge phenomenon and relate it to the procedure of United Nation’s
agency in Brazil since its inception.
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10
INTRODUÇÃO
Portanto, a questão que moveu esta pesquisa foi: quais são as soluções
duráveis propostas pelo ACNUR e como este órgão as põem em prática, tanto a
nível internacional, quanto dentro do território brasileiro e se a atuação da agência é
facilitada pelos convênios e pelo próprio órgão interno para tratar desta questão, o
Comitê Nacional para Refugiados (CONARE)?
Pelo fato da produção científica ter por objetivo tomar para si a realidade para
analisa-la de uma forma melhor e, a posteriori, afetar transformações, a discussão
sobre as soluções duráveis e a aplicabilidade destas na atuação do Alto
Comissariado dentro do Estado Brasileiro, além dos dados estatísticos e do aspecto
prático, está revestida de importância e relevância para o meio acadêmico. Neste
mesmo contexto, uma produção mais extensa com um olhar para esta atuação pode
ser o reflexo de um processo de deslocamentos que já teve início, além de trazer
para o estudo jurídico as reverberações inerentes das relações interpessoais, que se
aprofundam quando passam a ser internacionais.
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Esta pesquisa tem por objetivo traçar uma análise teórica das soluções
duráveis aplicadas ao cenário internacional, bem como analisar as reverberações
destas soluções no ordenamento jurídico brasileiro e como elas se dão, por força da
legislação específica do Brasil. Além disso, este trabalho presta-se a expor dados
estatísticos sobre o refúgio no mundo e no Brasil, de forma a traçar uma
comparação e melhor compreender o número crescente de refugiados em território
brasileiro.
Pelo exposto, fica visível que se acreditava que a problemática dos refugiados
era apenas algo decorrente da guerra e que seria solucionado após esta. Esta
convenção não previa as grandes e futuras mudanças nos regimes mundiais,
levando a um aumento significativo no número de refugiados do mundo. Com a
limitação temporal e, mesmo que não universal, mas existente reserva geográfica,
quando houve as descolonizações africanas, a aplicação da Convenção se tornou
impossível.
RAÇA
Logo, para que haja uma proteção eficaz, pautada no respeito aos Direitos
Humanos e no Direito Internacional dos Refugiados, e uma vez que o racismo é
latente na sociedade moderna, ainda, foi estabelecido que a perseguição em função
da raça devesse, então, servir de motivo para oferecer a tutela do refúgio (JUBILUT,
2007, p.117).
NACIONALIDADE
É o vínculo jurídico que une indivíduo e Estado. Este tema também encontrou
discussão longa no âmbito internacional e, apesar dos avanços, a Declaração
Universal dos Direitos Humanos (DUDH), em seu artigo 10º estabeleceu que “(1)
Todo homem tem direito a uma nacionalidade. (2) Ninguém poderá ser privado
arbitrariamente de sua nacionalidade e a ninguém será negado o direito de trocar de
nacionalidade”.
OPINIÃO POLÍTICA
RELIGIÃO
Além disto, de acordo com Julia Bertino Moreira (2006, p.70), esta
perseguição “pode assumir várias formas”, e, portanto, pode se dar na proibição
“de fazer parte de uma comunidade religiosa, de praticar o culto em público
ou privado, de receber educação religiosa”, ou, até mesmo “ser discriminado pela
prática de uma determinada religião ou por pertencer a uma comunidade religiosa”.
Por fim, não basta apenas ter uma raça, opinião política divergente da do
governo, pertencer a uma comunidade religiosa ou grupo social. É necessário que
se prove que existe uma perseguição ocorrendo. Além de provar a perseguição que
justifica o temor, há que se atenderem dois outros requisitos. É preciso que o
solicitante se encontre fora do país de origem e que este solicitante não possa ou
queira, devido à insegurança ou temor, pedir a proteção de seu Estado (MOREIRA,
2006, p. 72).
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A segunda conclusão pedia que os Estados que ainda não tivessem ratificado
ou aderido À Convenção de 51 e ao Protocolo de 67 o fizessem, e sem reservas.
Isso se justifica porque até a elaboração da Declaração, apenas treze Estados
latino-americanos haviam assinado a estes documentos, quatro dos quais ainda
mantinham a reserva geográfica, da qual se desfizeram a partir de 1972. Os demais
países somente a retiraram após a Declaração. Em destaque, o Brasil, que apenas
levantou a reserva em oito de dezembro de 1989 (MOREIRA, 2006, p. 121).
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Por causa disto, foi elaborado o Estatuto do Refugiado, a lei 9474/1997, que
positivava a definição ampliada de refugiado prelecionada na Declaração de
Cartagena de 1984. Esta lei marcou a proteção ampla do Brasil aos refugiados e é a
legislação nacional sobre o tema que vige até hoje e que serve como “base para a
elaboração de uma legislação uniforme sobre o tema no Cone Sul”. O Brasil,
atualmente, é o segundo maior acolhedor da América Latina. (JUBILUT, 2007, p.
174-6).
resultou a Carta da Organização das Nações Unidas, que foi posteriormente aberta
às assinaturas dos países que desejassem a ela integrar, em 26 de junho de 1945.
1948 adotou-se a Declaração Universal dos Direitos Humanos, escrita por Eleanor
Roosevelt e René Cassin.
É um órgão inclusivo que deve basear sua atuação no diálogo e ser aberto a
ajudar os Estados-membros que se encontrem em situação de crise envolvendo
Direitos Humanos. Se algum membro do conselho cometer repetidas violações
flagrantes aos direitos humanos durante seu mandato, a Assembleia Geral pode
suspender, através de votação com maioria de dois terços.
Alguns anos depois, passando por alguns órgãos subsidiários que foram
criados para atuarem como longa manus do Escritório, houve a eclosão da Segunda
Guerra Mundial. Com a perda de credibilidade da Liga das Nações, a atuação do
Escritório se tornou ineficiente e em 1946, a Liga das Nações foi extinta, dando fim,
assim, também, ao Escritório.
Em 1949, foi criado também o Organismo das Nações Unidas das Obras
Públicas e Socorro aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (A sigla em
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inglês é United Nations Relief and Works Agency for Palestinian Refugees in the
Near East — UNRWA) que, segundo Júlia Bertino Moreira (2006, p.56) tinha por
objetivo “assistir refugiados palestinos que se encontrassem no Líbano, Jordão, na
Síria, Cisjordânia, e Faixa de Gaza. Em face disso, esse grupo foi excluído da
competência do ACNUR”.
Por este motivo, a UNRWA não será objeto de estudo aprofundado neste
trabalho, tendo em vista não guardar relação com a proteção de outros refugiados
se não aqueles aos quais seu nome se refere.
Como sua atuação é ampla, por óbvio, o ACNUR também atua no Brasil, que
concede proteção a refugiados de diversos países. O Brasil é reconhecido como
país acolhedor, mas parte da atuação dos funcionários do Comissariado no Brasil
consiste de ajudar os refugiados a integrarem-se à sociedade, já que tal processo é
dificultado por preconceito e diferenças culturais. No entanto, a atuação deste órgão
no território nacional será tratada em capítulo a parte.
1“Ao tentar alcançar o primeiro objetivo, o ACNUR busca promover a adoção de padrões
internacionais de tratamento dos refugiados e a efetiva implementação destes em campos como
emprego, educação, moradia, liberdade de ir e vir, e salvaguarda contra o retorno forçado para um
Estado em que o refugiado tenha razões para temer uma perseguição. Ao buscar o segundo, o
ACNUR procura facilitar a repatriação voluntária dos refugiados, ou, quando esta não é uma solução
possível, procura auxiliar os governos dos países de asilo para que eles possibilitem a
autossubsistência dos refugiados o mais rápido possível” (tradução nossa).
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Enquanto esta solução pode servir como um importante instrumento para que
o refugiado se reestruture no país acolhedor, é importante se atentar para as
ressalvas de que, muitas vezes, a cultura da sociedade em que se busca inserir o
refugiado é diferente daquela de sua origem, além da possibilidade de não haver
receptividade por parte da comunidade em que está se integrando. Como Júlia B.
Moreira (2006, p. 39) aponta, isto pode ocorrer “tanto em razão de suas diferenças
culturais, quanto em razão dos encargos sociais e econômicos que os refugiados
representam para estes países”. Por conta disso, é possível ver, nestes meios,
algumas “atitudes de intolerância, como práticas xenófobas e racistas, contra os
refugiados, nos países de acolhimento”.
2 “As três soluções são complementares por natureza e, quando aplicadas em conjunto,
podem formar uma estratégia viável e abrangente para resolver a situação dos refugiados”, tradução
nossa.
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Para que isto seja evitado e que a integração se dê da melhor e mais efetiva
maneira possível, o ACNUR estabelece ao menos cinco condições para que esta
integração seja bem sucedida (MOREIRA, 2006, p.39).
A primeira delas é que o país acolhedor deve estar de acordo, além de apoiar,
com os esforços que tenham por objetivo a facilitação da integração local, visto que
tal situação impõe diversas demandas ao indivíduo e à sociedade a que se integra.
A segunda condição mencionada no “A situação dos refugiados no mundo 1997-98:
um programa humanitário”, do próprio ACNUR, é a aceitação da presença dos
refugiados por parte da comunidade local à qual eles devem ser integrados, a fim de
evitar uma transição e integração problemática que gere rupturas futuras.
3 “refugiados recebem uma maior gama de direitos progressivamente (similar à daqueles dos
que desfrutam os cidadãos), levando, assim, eventualmente, à residência permanente e, em salguns
casos, à naturalização”, tradução nossa.
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Para o país acolhedor, esta modalidade pode trazer alguns benefícios, como
as habilidades e diversidade cultural do refugiado. No entanto, há circunstâncias que
podem dificultar este processo, por exemplo, quando há o sentimento de que os
refugiados estão competindo pelos já escassos recursos e/ou empregos, o que pode
desencadear xenofobia (ACNUR, 2011, p.36).
REASSENTAMENTO
O reassentamento é a solução que tem lugar quando as demais não se
mostram possíveis (SAMPAIO, 2010, p.1). Como a autora preceitua, esta solução
“caracteriza-se pela transferência de refugiados, que já se encontram sob a proteção
de um país, a um terceiro país”, por causa da permanência do risco de perseguição,
morte, ameaça à liberdade, saúde e segurança “continuarem em risco neste país
onde solicitaram e receberam refúgio pela primeira vez” (SAMPAIO, 2010, p.1).
específicas de indivíduos refugiados cujas vidas, liberdade, segurança, saúde ou outros direitos
fundamentais estão em risco no país onde eles buscaram refúgio”, tradução nossa.
6 “[uma] expressão tangível de solidariedade internacional e um mecanismo de
compartilhamento de responsabilidade”, tradução nossa.
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REPATRIAÇÃO
Ainda segundo o Manual do Alto Comissariado, a repatriação trata-se do
retorno em segurança e dignidade do refugiado ao país de origem, com seu
consentimento livre e esclarecido (ACNUR, 2011, p. 31). É considerada a solução
mais benéfica, justamente por resolver de uma só vez a questão do deslocamento
(displacement, RAJARAM, 2002), além de ser a desejada, por permitir que os
refugiados retornem à vida “in a familiar setting under the protection and care of their
home country”8 (ACNUR, 2011, p. 31). No entanto, quando estas condições não são
propícias, o refugiado pode tornar a buscar proteção no país de asilo, como o
próprio manual preceitua.
7 “With the active involvement of States, refugees and civil society, resettlement can open avenues for
international responsibility sharing and, in combination with other measures, can open possibilities for self-
reliance and local integration. When used strategically, resettlement can bring about positive results that go well
beyond those that are usually viewed as a direct resettlement outcome”, tradução nossa.
8 “em uma condição familiar sob a proteção e cuidado do país natal”, tradução nossa.
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[...] (como dito, o ACNUR estabelece as regras e critérios para a ajuda, bem
como fornece as verbas para tal, cabendo a elas a função de colocar essas
diretrizes em prática). Elas atuam tanto nos aspectos sociais (como, por
exemplo, habitação, alimentação, cursos de português, medicamentos, etc.)
quando contam com a participação da sociedade civil brasileira quanto nas
questões jurídicas.
decisão sobre sua solicitação, bem como a expedição de uma Carteira de Trabalho
provisória. Após isso, o solicitante é encaminhado aos Centros de Acolhida, para
que seja analisada sua solicitação de refúgio, já que, como pontua Jubilut (2007, p.
197), “um solicitante pode ser reconhecido como refugiado pela ONU e não o ser
pelo governo, quando então essa organização passa a ser responsável por sua
proteção, ou vice-versa, quando então o refugiado pode viver legalmente no Brasil”.
sido negado por decisão irrecorrível resta sob a proteção do Estatuto do Estrangeiro,
“não devendo ocorrer sua transferência para o seu país de nacionalidade ou de
residência habitual, enquanto permanecerem as circunstâncias que põem em risco
sua vida, integridade física e liberdade” (BRASIL, 1997) a não ser, contudo, nos
casos dos incisos III e IV do art. 3º da Lei.
os efeitos da proteção para 309 pessoas. Dentre estas decisões, os solicitantes têm,
majoritariamente, entre 30 e 59 anos e são do sexo masculino (CONARE, 2019).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O labéu que gera a condição de ser uma pessoa deslocada estende seus
reflexos não só sobre a pessoa do refugiado e seu núcleo familiar, quando o há, mas
também sobre a sociedade como um todo.
vinte e cinco pessoas deslocadas sendo forçadas a deixarem seus lares a cada
minuto, o trabalho que o Alto Comissariado realiza se mostra cada vez mais crucial
para a proteção e tutela dos refugiados.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
UNICAMP:<http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/281565/1/Moreira_Julia
Bertino_M.pdf>. Acesso em: 20 maio 2019.
OLIVEIRA, Catarina Reis; PEIXOTO, João; GOIS, Pedro. A nova crise dos
refugiados na Europa: o modelo de repulsão-atração revisitado e os desafios para as
políticas migratórias. Rev. bras. estud. popul., São Paulo , v. 34, n. 1, p. 73-
98, Abril 2017 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
30982017000100073&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 02 maio 2019.