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Alessio Brandolini – poemas

Atrás de nós

a cancela

se fecha sozinha

enquanto no ar

um melro traça

em enxame de cruzes

que fogem da terra.

Morangos ainda verdes

pequenos e redondos

no canto da horta

escondidos

por trás e sob

as moitas de louro

nas crinas da vala.

As palavras se abrem

como cogumelos nascidos

do tronco

claro da azinheira

e tu que esparges

as pedras

para vê-las se afundarem.

Dietro di noi

il cancello
si richiude da solo

mentre nell’aria

un merlo traccia

uno sciame di croci

in fuga dalla terra.

Fragole acerbe

piccole e tonde

nell’angolo dell’orto

nascoste

dietro e sotto

i cespugli d’alloro

sul crinale del fosso.

Le parole in fiore

sono funghi cresciuti

nel legno

chiaro dei lecci

e tu che annaffi

le pietre

per vederle affondare.

– Alessio Brandolini [tradução Geraldo Holanda Cavalcanti] em ‘Poesia

Estrangeira’. Revista Brasileira nº 47″. Academia Brasileira de Letras, Fase VII –

ano XII, Abril-maio-junho/2006.

Tens uma face

doce e tranqüila

talvez por isso


às vezes penso

que te conheço

desde sempre

que posso dialogar

contigo, estando sentado

encostado no tronco

liso do castanheiro

a refugiar-me

dos ruídos e do sol.

Aqui havia um poço

faz tempo

no centro do terreno

num caminhão vermelho

carregavam a uva.

Tens uma face

doce e tranqüila

que se reconstrói por si só

quando me assalta

a vontade

de raspá-la de vez

dos muros

arcaicos da mente

Hai un volto

dolce e tranquillo

forse per questo

a volte penso
di conoscerti

da sempre

di poter dialogare

con te, stando seduto

la schiena contro il legno

spianato del castagno

a ripararmi

dai rumori e dal sole.

Qui c’era un pozzo

una volta

al centro del terreno

su camion rossi

caricavano l’uva.

Hai questo volto

dolce e tranquillo

che si recostruisce da solo

quando mi prende

la voglia

di raschiarlo per sempre

dalle pareti

arcaiche della mente.

– Alessio Brandolini [tradução Geraldo Holanda Cavalcanti] em ‘Poesia

Estrangeira’. Revista Brasileira nº 47″. Academia Brasileira de Letras, Fase VII –

ano XII, Abril-maio-junho/2006.

Nuvens densas e escuras


são refúgios atômicos

inteiras cidades obliteradas

exércitos que avançam

lutando contra o vento.

Nesta hora, depois

que o odor intenso

da bruma e do calor

incita à busca

da água mais fresca.

Além da rede metálica

com os fios retesados

estão uns sobre os outros

os ramos cortados

que insistem em florir.

Vejo-os

preso a uma bolha

de vidro que volteja

entre a folhagem espalmada

da acácia que ri.

Nuvole dense e scure

sono rifugi atomici

intere città cancellate

exerciti che avanzano

contrastati dal vento.

A quest’ora, poi

che l’odore intenso


della foschia e del caldo

spinge in cerca

dell’acqua più fresca.

Oltre la rete metallica

con i fili spinati

stanno uno sull’altro

i rami tagliati

che seguitano a fiorire.

Li osservo

piegato in una bolla

di vetro che volteggia

tra le foglie palmate

dell’acacia che ride.

– Alessio Brandolini [tradução Geraldo Holanda Cavalcanti] em ‘Poesia

Estrangeira’. Revista Brasileira nº 47″. Academia Brasileira de Letras, Fase VII –

ano XII, Abril-maio-junho/2006.

As árvores

foram abandonadas?

já não têm nome

sob o espesso córtice

não há mais que o vazio

uma passagem aberta

sem linfa

um ninho de mofo, de traças.

Por isso em três dias


virão abatê-la.

Por terra os frutos

carcomidos pelos vermes

tomados de assalto

pelas formigas esfomeadas

e as aranhas vermelhas

com suas bocas de tenazes.

Em volta da árvore

o tapete de folhas

maceradas na água.

Gli alberi

sono stati abbandonati?

non hano più nome

sotto la spessa corteccia

c’è solo un buco

un passaggio sbarrato

privo di linfa

un nido di muffa, di tarli.

Per questo fra tre giorni

verranno ad abbatterli.

A terra i frutti

svuotati dai vermi

presi d’assalto

da formiche affamate

dai ragi rossi

con la bocca a tenaglia.


Intorno all’albero

il tappeto di foglie

macerate nell’acqua.

– Alessio Brandolini [tradução Geraldo Holanda Cavalcanti] em ‘Poesia

Estrangeira’. Revista Brasileira nº 47″. Academia Brasileira de Letras, Fase VII –

ano XII, Abril-maio-junho/2006.

Duas nogueiras que tive de presente

nascem e morrem

sempre que as contemplo.

Pálido o córtice

intato, elegante

mesmo esculpido pelo vento.

À sua sombra escuto

a mais bela história

ou durmo

o quieto sono

do esquilo misterioso.

Como a noite que deixa

suas marcas suaves

ou sinais de fumaça

uma misteriosa penugem

sobre a terra que sofre

privada que está

de sentido, e de amor.

.
Due noci avuti in dono

nascono e muoiono

ogni volta que li sento.

Pallida la corteccia

salda, elegante

ma scolpita dal vento.

Sotto di loro ascolto

il raconto più bello

o dormo

il quieto sonno

del ghiro misterioso.

Lo stesso che la notte

lascia soffici impronte

o segnali di fumo

una misteriosa peluria

sulla terra che soffre

priva com’è

di sostaza, e d’amore.

– Alessio Brandolini [tradução Geraldo Holanda Cavalcanti] em ‘Poesia

Estrangeira’. Revista Brasileira nº 47″. Academia Brasileira de Letras, Fase VII –

ano XII, Abril-maio-junho/2006.

As rosas

não têm odor

as pétalas murchas

deixam-se
lacerar pelo vento

ressecar ao sol.

Sobre o arame da cerca

as urtigas devoram

as amoras ainda verdes

com os espinhos presos

nos fios de erva seca

formando frágeis ninhos.

As rosas

as puseste

com os delicados gestos

que por séculos

transmigram

de mãe para filha.

As rosas

são a reserva

de calor e alegria

o sonho da água

que se derrama

pelo bosque em chamas.

Le rose

non hanno odore

i petali piegati

si lasciano

lacerare dal vento

essiccare dal sole.


Sul filo del recinto

ortiche divorano

le more ancora acerbe

con le spine legate

da fili d’erba secca

a formare fragili nidi.

Le rose

le hai messe tu

con gesti calmi

che da secoli

si tramandano

da madre in figlia.

Le rose

sono la scorta

di calore e di gioia

il sogno d’acqua

che si riversa

sul bosco in fiamme.

– Alessio Brandolini [tradução Geraldo Holanda Cavalcanti] em ‘Poesia

Estrangeira’. Revista Brasileira nº 47″. Academia Brasileira de Letras, Fase VII –

ano XII, Abril-maio-junho/2006.

Limitar-se a pouco, sussurros

e de repente penso: vírgulas

sim, quem sabe, de vez em quando

um belo ponto.
Escavar

em um escorredouro

um poço

para a água da chuva

pôr a estaca em pé

para amparar

o novo damasqueiro

e o tempo que passa

contá-lo

escandi-lo

sem repetir-lhe a trama.

Nas tuas mãos

há um sol

não muito luminoso

mas claro e necessário

que quieto adormece

em sua luz opaca.

Não lhe acrescente outro

mexe-te

e corre a dar às vinhas

a água que pedem.

Limitarsi a poco, sussurri

e io subito penso: virgole

sì, magari ogni tanto

qualque bel punto.

Scavare
un fossato di scolo

un pozzo

per l’acqua piovana

mettere il palo dritto

per sostenere

il giovane albicocco

e il tempo che passa

enumerarlo

scandirlo

senza rifargli il trucco.

Nelle tue mani

c’è un sole

non troppo luminoso

ma chiaro e necessario

che calmo s’addormenta

nella sua luce opaca.

No aggiungi altro

già metti in moto

corri a dare alle viti

l’acqua ramata.

– Alessio Brandolini [tradução Geraldo Holanda Cavalcanti] em ‘Poesia

Estrangeira’. Revista Brasileira nº 47″. Academia Brasileira de Letras, Fase VII –

ano XII, Abril-maio-junho/2006.

As figueiras têm os dedos copiosos

suas folhas protegem


do ar quente de junho

e as veias rebentam de alegria.

Mesmo em setembro dão frutos

e não são aqueles negros

mas dulcíssimos que apartam

a vontade de fugir.

Mais adiante agitam-se as folhas

verde-esmeralda da ameixeira

brincam com o vento e horas a fio

falam sem um instante de trégua.

Com a enxada até o pôr-do-sol

acariciando a terra

em volta ao tronco,

a devorá-la com os olhos.

I fichi hanno le dita larghe

le loro foglie sorreggono l’aria

calda de giugno

e le vene scoppiano di gioia.

Anche a settembre danno il frutto

e ce ne sono di quelli neri

ma dolcissimi che strappano

la voglia di fuggire.

Più in là s’agitano le foglie

verde-smeraldo del grande susino

giocano con l’aria e per ore

parlano senza un attimo di tregua.


Con la zappa fino al tramonto

ad accarezzare la terra

intorno al tronco,

a divorarla con gli occhi.

– Alessio Brandolini [tradução Geraldo Holanda Cavalcanti] em ‘Poesia

Estrangeira’. Revista Brasileira nº 47″. Academia Brasileira de Letras, Fase VII –

ano XII, Abril-maio-junho/2006.

Esclareço com um exemplo

vê, te digo

estas mãos estão cheias de arranhões

arrancaram os espinhos

a erva má do campo

na aba do monte alcantilado

o fizeram

mesmo se quando aí se torna

esteja tudo como dantes

o capinzal de novo alto

às vezes mesmo até mais denso.

Então não diga nada

inclina o olhar azul

cava com os olhos

um poço que se desprenda

direto ao céu.

Com os pés no ar

a face levantada
olho e admiro

a luminosa simplicidade

de teu pensamento.

Chiarisco con un esempio

vedi, te dico

queste mani sono piene di graffi

hano strappato le spine

l’erba cattiva del campo

sotto il monte scosceso

lo hanno fatto

anche se quando si torna

è tutto come prima

l’erbacce sono già alte

talvolte persino più folte.

Allora non parli più

chini lo sguardo azzurro

scavi con gli occhi

un pozzo che se ne va

dritto verso il cielo.

Con i piedi in aria

il mento all’insù

guardo e ammiro

la luminosa semplicità

del tuo pensiero.

– Alessio Brandolini [tradução Geraldo Holanda Cavalcanti] em ‘Poesia

Estrangeira’. Revista Brasileira nº 47″. Academia Brasileira de Letras, Fase VII –


ano XII, Abril-maio-junho/2006.

Ontem trouxe para casa

um grande cesto de vime

cheio de damascos maduros

cor do sol

e mais doces que o mel.

Então a mim me olhaste

com um sorriso novo

aquele com que sonho

desde que estou no mundo.

Cheirava a giesta vermelha

a sálvia aveludada

a menta romana

a lavanda

a alecrim

que tem pequenas flores azuis

folhas delicadas

mas afiadas

como dentes de bebê.

Ieri a casa ho portato

un grande cesto di vimini

pieno di mature albicocche

color del sole


e dolci più del miele.

Allora mi hai guardato

con un sorriso nuovo

quello che sogno

da quando sono al mondo.

Sapeva di ginestra rossa

di salvia vellutata

di menta romana

di lavanda

di rosmarino

che ha piccoli fiori azzurri

foglie sottili

ma aguzze

come denti di neonato.

– Alessio Brandolini [tradução Geraldo Holanda Cavalcanti] em ‘Poesia

Estrangeira’. Revista Brasileira nº 47″. Academia Brasileira de Letras, Fase VII –

ano XII, Abril-maio-junho/2006.

Mais forte que uma dor de cabeça

em essência desprovido

de janelas e alicerces.

Tetos vermelhos

suspensos entre as nuvens

uma gata mia

sobre o tenso fio do horizonte.

Não há mãos nem bandeiras


saudando a passagem

vitoriosa da noite.

Caminhos de areia

difícil é dizer se de deserto

que avança ou a lenta

pulverização dos edifícios

(guerras, ou o quê?)

e no alto, chegando à aldeia,

o carvalho selvagem,

a terra recém-arada.

Più forte di un mal di testa

in sostanza privo

di finestre e fondamenta.

Tetti rossi

impiccati tra le nuvole

una gatta miagola

sul filo teso dell’orizzonte.

Non mani né bandiere

salutano il passaggio

vittorioso della notte.

Strade di sabbia

difficile dire se di deserto

che avanza o per il lento

sbriciolamento degli edifici

(guerre o che altro?)

e lassù, sotto il paese


la quercia selvatica,

la terra appena arata.

– Alessio Brandolini [tradução Geraldo Holanda Cavalcanti] em ‘Poesia

Estrangeira’. Revista Brasileira nº 47″. Academia Brasileira de Letras, Fase VII –

ano XII, Abril-maio-junho/2006.

Eis-me, a ti me acerco em fins de agosto

e já no teu olhar leio

o início do outono.

As árvores já não têm folhas

o capim seco, descorado

a trilha recoberta

de espinhos, de urtiga.

Há tristeza no grito

tardio dos pássaros.

Juntam-se cansados e sem ânimo

como se voassem dentro d’água

por isso caminho

prudente, a passo lento.

Contemplo de um lugar secreto

mas aberto ao olhar

às mãos dos outros

aos braços de todos

à ampla face

milenária do mundo.

.
Ecco te raggiungo a fine agosto

e già nel tuo sguardo leggo

l’inizio dell’autumno.

Gli alberi senza foglie

l’erba secca, ingiallita

il sentiero ricoperto

dalle spine, dall’ortica.

C’è tristezza nel grido

tardivo degli uccelli.

Appaiono stanchi e svogliati

come se volassero nell’acqua

per questo muovo i passi

con prudenza, a rilento.

Mi affaccio in un luogo segreto

ma allargato allo sguardo

alle mani degli altri

alle braccia di tutti

al volto esteso

millenario del mondo.

– Alessio Brandolini [tradução Geraldo Holanda Cavalcanti] em ‘Poesia

Estrangeira’. Revista Brasileira nº 47″. Academia Brasileira de Letras, Fase VII –

ano XII, Abril-maio-junho/2006.

É como se eu devesse recomeçar

tudo desde o início, desde os primeiros

passos tentativos.
Agora o sei e não espero outra coisa.

Sim, eu deveria tê-lo compreendido

dez anos atrás

mas talvez não o pudesse.

Porém: antes tarde do que nunca,

não é assim que se diz?

Pedirei vosso auxílio

assídua colaboração

para não isolar-me novamente

dividir-me em mais partes

no corpo e no espírito.

Ainda assim, tudo bem

pode-se viver em silêncio

mudar bruscamente

método e direção

tender a um pensamento calmo e puro.

Fazer-se mais pequeno

para dormir nos ninhos dos pássaros

mais ágil para escalar as árvores

mais leve para estender-se sobre os ramos

para depois cortá-los e colher os frutos.

Mais tênue para passar

entre as barras das cancelas.

È come se dovessi rincominciare

tutto dall’inizio, daí primi

stentati passi.
Ora lo so e non aspetto altro.

Sì, avrei dovuto capirlo

dieci anni fa

ma forse non potevo.

Però: meglio tardi che mai,

non è così che si dice?

Chiederò il vostro aiuto

assidua collaborazione

per non isolarmi di nuovo

dividermi in più parti

nel corpo e nello spirito.

Anche così va bene

si può vivere in silenzio

cambiare in modo brusco

metodo e direzione

tendere a un pensiero calmo e puro.

Farsi più piccoli

per dormire nei nidi degli uccelli

più agile per arrampicarsi sugli alberi

piè leggeri per stendersi sui rami

per poi potarli e raccoglierne il frutti.

Più sottili per passare

tra le sbarre dei cancelli.

– Alessio Brandolini [tradução Geraldo Holanda Cavalcanti] em ‘Poesia

Estrangeira’. Revista Brasileira nº 47″. Academia Brasileira de Letras, Fase VII –

ano XII, Abril-maio-junho/2006.

§
Alessio Brandolini

BREVE BIOGRAFIA

Alessio Brandolini nasceu em 1958, em Frascati, e vive atualmente em Roma,

onde se destaca por sua intensa atividade cultural. É um dos mais importantes

poetas italianos da atualidade e tem representado o seu país em numerosos

festivais internacionais. Estreou na poesia em 1991, na revista Galleria, e recebeu

nesse mesmo ano o prestigioso Premio Montale, reservado a livros inéditos.

Em 2002, publicou Divisori orientali, (Manni Editor, Lecce), distinguido com o

Premio Alfonso Gatto 2003 – Opera Prima. Em 2004, saiu o livro Poesia della terra

(LietoColle, 2004), com prefácio do crítico Mario Santagostini, e em 2005 Il male

inconsapevole (Il Ramo d’Oro Editore, Trieste).

Fonte: poesia.net (acessado em 5.8.2016)

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