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Matriz

energética:
futuro na
complementaridade
SUMÁRIO
QUAL A
INTRODUÇÃO SINFONIA
IDEAL?

CAPÍTULO

01
O PETRÓLEO
URGE

CAPÍTULO

02
CAPÍTULO
CRISE E
TRANSIÇÃO

03
DE ONDE
VIRÁ A
ENERGIA?

OPÇÕES
CONCLUSÃO E CAMINHOS
POSSÍVEIS
INTRODUÇÃO: QUAL A SINFONIA IDEAL?

Qual a
sinfonia
ideal?
Alguns drives
direcionam a política
energética global,
em um percurso
pró-fontes renováveis;
ao Brasil, resta crescer
sem sair tanto do tom

A matriz energética de um
país é como uma orquestra. Nela, alguns
naipes de instrumentos podem brilhar
mais do que outros, mas cada um tem
o seu papel naquela grande sinfonia.
Qualquer desafinação em uma das partes
pode causar sérios prejuízos para o
desenvolvimento harmônico do conjunto.
A comparação é do professor Nivalde
de Castro, coordenador do Grupo de
Estudos do Setor Elétrico, vinculado ao
Instituto de Economia da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (Gesel/UFRJ). O
pesquisador não detecta riscos na melodia
que vem sendo tocada pelo setor elétrico
nacional desde a grande desafinação
causada pela crise energética de 2001.

3
INTRODUÇÃO: QUAL A SINFONIA IDEAL?

A visão dele é compartilhada por


muitos outros especialistas na área. Sem
dúvidas, o cenário atual no setor e o que
se desenha à frente são benignos para o país.
No entanto, a música precisa fluir sem
pausas bruscas, especialmente por conta
de dois fatores: o mundo vive uma transição
energética centrada na necessidade de
descarbonização da economia e a demanda
no Brasil deve crescer nos próximos anos,
tão logo a sonhada retomada econômica
chegue de forma mais acentuada.
As estimativas sobre esse crescimento
de demanda são bem diversas, até porque
dependem de muitas variáveis externas
ao setor energético. Ainda assim, as
expectativas confluem para uma necessidade
de acréscimo na oferta em torno de 2% Enquanto a matriz
ao ano até 2040, o que representaria uma
expansão duas vezes superior à média
elétrica mundial
mundial. Ou seja: no que se refere à energia, tem 75% de fontes
a orquestra chamada Brasil não tem espaço não renováveis,
para notas fora do tom.
como carvão e gás,
o Brasil vive o inverso:
75% da geração
de energia
no país é oriunda de
renováveis.

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INTRODUÇÃO: QUAL A SINFONIA IDEAL?

Vendo a adesão de tantos países


centrais ao Acordo de Paris, bem como
a grande repercussão gerada, a
descarbonização é mesmo o principal drive
da transição que se vê na matriz energética
global. Outros dois fatores muito importantes
são a descentralização e a digitalização.
No entanto, é impossível analisar o primeiro
A fator e não reconhecer a boa posição do Brasil
descarbonização nesse mundo em (lenta) transformação.
De fato, enquanto a matriz elétrica
é mesmo o principal mundial tem 75% de fontes não renováveis,
drive da transição que como carvão e gás, o Brasil vive o inverso:
75% da geração de energia no país é
se vê na matriz energética oriunda de renováveis.
global. Outros dois fatores Este material tem como objetivo analisar
muito importantes os possíveis caminhos que a política
energética brasileira pode seguir nos próximos
são a descentralização anos, apontando os melhores e mais viáveis
e a digitalização. percursos diante dos cenários nacional
e internacional. Boa leitura!

Energia renovável Energia renovável


na matriz energética na matriz elétrica

45,3% 10,6% 9,7% 83,3% 24% 23,8%

Fonte: Empresa de Brasil OCDE Mundo


Pesquisa Energética (EPE)

5
CAPÍTULO

01
O PETRÓLEO
URGE
CAPÍTULO 01: O PETRÓLEO URGE

O petróleo urge
Hidroeletricidade Em termos percentuais,
a boa participação de renováveis
é uma tradição antiga na matriz energética do Brasil
só encontra rival à altura no
no país, mas o desafio Paraguai, país que compartilha
de exploração das conosco uma das maiores
usinas hidrelétricas do mundo
riquezas do pré-sal pode – Itaipu Binacional – e que tem
influenciar o futuro população, parque industrial
e economia muito menores.
da matriz energética Então, qualquer comparação
é despropositada.

7
CAPÍTULO 01: O PETRÓLEO URGE

Já a posição privilegiada do Brasil


em fontes renováveis foi construída em muitas
décadas, desde instalações pioneiras como
as da Usina de Angiquinhos, na Cachoeira
de Paulo Afonso (AL), nos idos de 1914, ou
da Usina de Marmelos, projeto do industrial
Bernardo Mascarenhas de 1889, que gerou
energia elétrica pela força das águas do rio
Paraibuna, em Juiz de Fora (MG).
Apesar disso, o momento é de perda de
espaço da hidroeletricidade na geração
de energia do país. E quando falamos
disso em um conceito mais amplo, não
podemos deixar de fora da discussão o fato
de que o país tem o desafio de explorar
a riqueza do pré-sal, o que exige recursos
vultosos e planejamento estratégico, além de
potencialmente “poluir” a matriz energética.
Nessa área de 800 quilômetros de
extensão por 200 quilômetros de largura que
vai do litoral de Santa Catarina ao do Espírito
Santo estão poços a 7 mil metros abaixo do
nível do mar com reservas estimadas em
43,8 bilhões de barris recuperáveis. Os dados
da Agência Nacional de Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis (ANP), na verdade,
são conservadores. Pesquisadores da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj) já estimaram em 176 bilhões de barris,
incluindo gás, o potencial do pré-sal.

Com a gradual retomada do setor de petróleo


& gás, aumentam as vozes que defendem a
aceleração de projetos de Exploração e Produção
(E&P) na área do pré-sal

8
CAPÍTULO 01: O PETRÓLEO URGE

No entanto, os custos são altos para


a extração, não obstante a produtividade
expressiva dos poços da região. Alguns deles,
por exemplo, geram atualmente até 50 mil
barris por dia, o que os coloca entre as mais
produtivas operações offshore do mundo.
Com a gradual retomada do setor de petróleo
& gás, aumentam as vozes que defendem
a aceleração de projetos de Exploração e
Produção (E&P) na área do pré-sal.
Roberto Castello Branco, presidente
“No longo prazo, da Petrobras, é um deles. “No longo prazo,
a eletrificação dos a eletrificação dos automóveis nos
automóveis nos aflige: aflige: a tendência é de que a demanda por
petróleo cresça menos, estagne ou até
a tendência é de caia no futuro”, disse a parlamentares
que a demanda por durante audiência recente na Câmara dos
petróleo cresça menos, Deputados, demonstrando que o título
deste capítulo não é à toa.
estagne ou até caia O desafio do pré-sal, portanto, está
no futuro.” ROBERTO lançado e a produção da região tende, de
CASTELLO BRANCO fato, a ser um fator de influência relevante
no desenho futuro da matriz energética
brasileira. Por quê? Bem, a resposta é até
simples: embora seja uma fonte suja e cara
na comparação com outras alternativas,
será necessário equilibrar interesses
econômicos do país com a demanda global
por descarbonização.

9
CAPÍTULO 01: O PETRÓLEO URGE

Trocando em miúdos, a expectativa é que


parte da produção do pré-sal seja usada como
combustível para a geração de energia, em
especial de usinas termelétricas. Neste cenário,
o gás natural produzido na região desponta Segundo estimativa
como fonte favorita para abastecer esse do Ministério de
mercado, visto que é mais competitivo do que
o óleo diesel, além de emitir menos gases de Minas e Energia
efeito estufa na atmosfera. (MME), a projeção é
Segundo estimativa do Ministério que a produção de gás
de Minas e Energia (MME), a projeção é que
a produção de gás natural no país suba 85% natural no país suba
até 2027. Em paralelo, especialistas dizem 85% até 2027.
que, sozinhas, as áreas do pré-sal acrescentam
37 milhões de metros cúbicos (m³) por dia à
geração do insumo no país até 2024.
Ao longo deste documento, vamos
aprofundar o debate sobre o papel que esse
hidrocarboneto desempenhará na formação
da matriz energética brasileira, além de avaliar
o potencial de outras fontes.

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CAPÍTULO 01: O PETRÓLEO URGE

Produção total de petróleo nacional


(meses de agosto) em barris 92.672.337

78.953.395 80.871.011 79.857.976 78.174.124


72.115.803
62.341.106

2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Produção anual de gás natural


nacional em m³
em milhões

40,11 40,85
37,89
35,12
31,89
28,17
25,83
22,93 24,07

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

+78,1%
Fonte: ANP

“Pré-sal acrescentará
37 milhões de m³
à produção nacional, montante
próximo à geração atual.”

11
CAPÍTULO 02: CRISE E TRANSIÇÃO

CAPÍTULO

02
CRISE E
TRANSIÇÃO

12
CAPÍTULO 02: CRISE E TRANSIÇÃO

Crise e
transição
Crise energética
demandou mudanças que,
em muitos casos, ajudaram
na melhor estruturação da
governança do setor

O Brasil parece muitas vezes ser


dependente de uma crise para se mover na
direção necessária. Algum episódio agudo,
eventualmente, faz com que se deixe de discutir
questões acessórias e, mais ainda, escancara a
urgência por mudanças. No setor de energia,
tivemos duas situações bastante preocupantes
nos últimos vinte anos. A primeira ficou
conhecida como “apagão”, embora um cenário
de cortes forçados de eletricidade não tenha
chegado a se concretizar de fato.
A Crise do Apagão, em 2001, teve como
causa direta a ausência de chuvas e levou
ao esvaziamento dos reservatórios, revelando
a nossa dependência da geração de
energia via hidrelétricas. Diante do baque da
percepção de que nossa matriz energética –
celebrada por sua “limpeza” em relação
à sujeira do carvão e do diesel predominante
em outros países – tinha fragilidades óbvias,
a situação teve como consequência a
adoção de um programa de construção de
usinas termelétricas nos anos seguintes.

13
CAPÍTULO 02: CRISE E TRANSIÇÃO

Essas plantas geradoras, em grande parte,


eram dependentes do fornecimento de gás, o
que é economicamente justificável na medida
em que a produção de petróleo brasileira
tinha perspectivas de avanços. Além disso,
contávamos com a Bolívia na condição de
fornecedor confiável. No entanto, houve
problemas de abastecimento, inclusive com a
crise do gás boliviano, em 2006. Só a partir
daí, finalmente, o governo brasileiro resolveu
dar alguma prioridade ao aumento da
produção desse combustível.
Apesar desses acontecimentos, a
participação de fontes renováveis na matriz
brasileira caiu apenas de 2009 a 2014, A participação
passando de 90% para 75%. Vale destacar de fontes renováveis
que, há cinco anos, o país passou por uma
segunda crise de abastecimento de energia, na matriz brasileira
novamente causada pela falta de chuvas. caiu apenas de
Dessa vez, contudo, foi algo bem localizado, 2009 a 2014,
passando de 90%
sobretudo, na região Sudeste.

para 75%

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CAPÍTULO 02: CRISE E TRANSIÇÃO

De março a agosto de 2014, a energia


elétrica que era comercializada a um
valor médio de R$ 120 por megawatts/hora
(MWh) saltou para valores superiores
a R$ 500 por MWh. As distribuidoras foram
obrigadas a aceitar o preço para cumprir
contratos, amargando prejuízos que
foram posteriormente – de várias formas,
todas penosas – bancados pelos
consumidores e pelos contribuintes.
A partir de então, começou, de fato,
a se acelerar a transição energética no Brasil.
“O que ficou claro é que a beleza da matriz
energética brasileira também pode ser
um fator de vulnerabilidade. Estamos diante
de um momento em que as mudanças
climáticas vão se acentuar. E, infelizmente,
a expansão via hidrelétricas não é um recurso
com que a gente possa contar daqui em
diante”, avalia Luiz Augusto Barroso,
diretor-presidente da Consultoria PSR e
presidente da EPE de 2016 a 2018.
É claro que essa transição, como tudo
que se refere à infraestrutura por aqui,
não pode ser nem está sendo executada
da noite para o dia. No entanto, o setor
energético é efetivamente uma espécie
de avis rara no Brasil. O país construiu, em
meio a diferentes governos, um modelo
de governança nesse mercado que vem
demonstrando certa eficiência.

Estamos diante de um momento em que as mudanças


climáticas vão se acentuar. E, infelizmente, a expansão
via hidrelétricas não é um recurso com que a gente possa
contar daqui em diante.” LUIZ AUGUSTO BARROSO

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CAPÍTULO 02: CRISE E TRANSIÇÃO

No caso brasileiro,
o foco principal está
na eólica e no bagaço
de cana (biomassa),
muito embora a
fotovoltaica viva
crescimento, ainda que
só represente
0,5% da oferta de
energia nacional

A criação da EPE, em 2004, é um grande de nomes é pequena. Na Agência Nacional de


marco nesse sentido. “De 2000 pra cá, o setor Energia Elétrica (Aneel) e no ONS, por
elétrico vem fazendo investimentos, superando exemplo, são por mandato”, explica.
dificuldades, fazendo planejamento de longo A crise da década passada acabou ainda
prazo. As empresas conseguem encontrar acelerando alterações de rota. E a mudança em
financiamento, em especial do Banco Nacional curso, no Brasil e no mundo, é rumo às energias
de Desenvolvimento Econômico e Social renováveis, fontes outrora tratadas de forma
(BNDES)”, observa Nivalde de Castro, do Gesel/ pejorativa como “alternativas”.
UFRJ. “Operador Nacional do Sistema (ONS) No caso brasileiro, o foco principal está
e a agência reguladora fazem trabalhos na eólica e no bagaço de cana (biomassa), muito
exemplares. Conseguimos trabalhar com uma embora a fotovoltaica viva crescimento, ainda
visão de dez anos, como convém”, acrescenta. que só represente 0,5% da oferta de energia
Castro acredita ainda não haver riscos maiores nacional e tenha sofrido um “baque” recente em
para a governança do setor, independente função da possível implementação de novas
do ocupante do Planalto. “Quando entra regras estabelecidas pela Aneel, que tornariam
um novo ministro das Minas e Energia, a troca a geração a partir do sol mais cara.

16
CAPÍTULO

03
DE ONDE VIRÁ
A ENERGIA?
CAPÍTULO 03: DE ONDE VIRÁ A ENERGIA?

De onde virá
a energia?
Gás natural, especialmente A questão do título é, de fato, a pergunta de
1 milhão de dólares. Hoje, é impossível cravar
a produção que virá uma resposta, mas é certo também que o
mercado apresenta várias alternativas, além das
das reservas do pré-sal, já citadas nos capítulos anteriores. Hoje, por
é aposta do mercado, exemplo, o mercado de gás natural tende a
ganhar impulso, depois de muito tempo em que
apesar de mais poluente a Petrobras, que domina amplamente o setor,
do que outras fontes parecia não saber o que fazer com o insumo.
O governo federal lançou um ambicioso
programa batizado de Novo Mercado de Gás.
Os pilares da iniciativa são a promoção da
concorrência, a harmonização das regulações
estaduais e federal, o estímulo à integração do
segmento com os setores elétrico e industrial,
bem como a remoção de barreiras tarifárias que
impedem a abertura do mercado.

18
CAPÍTULO 03: DE ONDE VIRÁ A ENERGIA?

O programa promete a redução do preço


do gás em curto prazo. Segundo Paulo Guedes,
ministro da Economia, a queda seria de 40%
em um horizonte até o final de 2020. Já Bento
Albuquerque, ministro das Minas e Energia,
destacou durante a cerimônia de lançamento
do projeto a diferença entre os preços praticados
no Brasil e no exterior. Nos Estados Unidos,
o insumo sai para as distribuidoras por US$ 3,13,
bem acima dos US$ 10 daqui. O ministro
lembrou ainda a limitação da malha de gasodutos
nacional, de apenas 11,6 mil quilômetros.
No que se refere à concorrência, um passo
importante foi dado a partir do acordo firmado
entre o Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade) e a Petrobras. Nele, a estatal
se compromete a deixar o controle da
distribuição e transporte do gás pelo país. Mais
ainda, a companhia vai se tornar uma usuária dos
gasodutos. A expectativa é que isso abra espaço
para a atuação e investimentos de outras
empresas, que antes tinham que aceitar as
condições impostas pela Petrobras, que produz
77% do gás brasileiro.
Apesar de todo o otimismo que cerca o
hidrocarboneto, a malha de gasodutos, contudo,
continua como um gargalo importante, como
destacou Albuquerque. Lançado pela EPE em
setembro de 2019, o plano de expansão da rede
prevê a construção de 16 rotas, com extensão
total de 1,7 mil quilômetros. O tamanho do
investimento demandado, entretanto, assusta:
R$ 16,8 bilhões.

Apesar de todo o otimismo


que cerca o hidrocarboneto, a malha
de gasodutos, contudo, continua
como um gargalo importante.

19
CAPÍTULO 03: DE ONDE VIRÁ A ENERGIA?

Infraestrutura atual
A malha dutoviária tem pouco mais de 21 mil quilômetros, sendo dividida da seguinte forma:

Belém
Manaus
Fortaleza

Natal

João Pessoa
Recife
Maceió
Aracajú

Salvador

Capitais Cuiabá Brasília


Goiânia

Oleodutos

Belo Horizonte
Campo Grande Vitória
Gasodutos

Minerodutos Rio de Janeiro


São Paulo
Curitiba

Florianópolis

Porto Alegre

DUTOVIAS EXTENSÃO %
Gasodutos 11.696km 54.7
Minerodutos 1.680km 7,9
Oleodutos 8.013km 37,5
Totais 21.389km 100
Fonte: EPL

20
CAPÍTULO 03: DE ONDE VIRÁ A ENERGIA?

Para Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Outra dificuldade é regulatória. Para


Eletrobras, os desinvestimentos da Petrobras Barroso, a organização da saída da Petrobras
no transporte e distribuição de gás terão e a entrada de novos competidores – empresas
efeito inverso ao pretendido pelo governo, do porte da Exxon, Equinor e BP – vai demandar
pelo menos no curto prazo. “A privatização muitos aperfeiçoamentos nas regras do
dos gasodutos vai permitir que as empresas mercado. “Muita coisa precisa acontecer até
privadas que dominarão o negócio busquem que os preços se reduzam de forma sustentável.
maximizar os lucros. Só mais tarde, com O novo mercado foi construído com base em
o aumento efetivo da produção de gás do discussões que vêm desde 2016. O montante
pré-sal, essa queda de preços para o da redução de preços e o momento em que
consumidor final vai se materializar”, acredita. isso vai começar a acontecer dependerão desse
Já Barroso chama atenção para a esforço regulatório”, avalia.
interdependência entre o avanço do setor
elétrico e o escoamento da produção de gás
do pré-sal. Este, por sua vez, ocorreria por
meio de novos projetos de termelétricas. “As
térmicas precisam ser a âncora do aumento
da produção e consumo do gás natural.
E elas ainda não estão sendo abastecidas
com o gás do pré-sal”, diz.

A privatização dos
gasodutos vai permitir
que as empresas privadas
que dominarão o negócio
busquem maximizar os
lucros. Só mais tarde, com
o aumento efetivo da
produção de gás do
pré-sal, essa queda de
preços para o consumidor
final vai se materializar.”
LUIZ PINGUELLI ROSA

21
CAPÍTULO 03: DE ONDE VIRÁ A ENERGIA?

A notável expansão da energia gerada


pelo vento chama atenção no mercado. Apenas
entre 2017 e 2018, a geração eólica
saltou 14,4%, em um cenário em que
o aumento total de geração foi de contidos 2%

O problema de toda essa equação é que a


expansão da oferta de energia deverá acontecer,
como indicam as projeções, sobretudo com
fontes renováveis. No leilão de energia de
outubro de 2019, com prazo para geração até
2025, há 760 projetos de geração eólica (com
capacidade para produzir 22,5 mil MW), contra
26 de termelétricas a gás natural (21,5 mil MW).
“A maior parte do aumento da demanda do
Brasil por energia vai ser atendida pela entrada
das renováveis. Então, o mercado pode não ter
a demanda por gás no volume que os
produtores precisam. Esse é um ponto de
atenção”, acredita Barroso.
De fato, a notável expansão da energia
gerada pelo vento chama atenção no mercado.
Apenas entre 2017 e 2018, a geração eólica
saltou 14,4%, em um cenário em que o
aumento total de geração foi de contidos 2%.
Em 2013, antes da crise dos reservatórios, a
geração de energia eólica era de modestíssimos
6,5 mil GW/h. O ano de 2018 fechou com 48,5
GW/h e há muitas usinas projetadas e com
venda de energia garantida. Isso faz com que os
mais de 7 mil aerogeradores dos 601 parques
eólicos do país produzam 7,6% de toda a oferta
energética do país. A tendência, contudo, é que
esse montante cresça ainda mais.
Ao todo, entre usinas já em construção ou
com obras ainda não iniciadas, 205 parques
eólicos estão previstos nos próximos anos. No
segundo grupo (empreendimentos com
intervenções ainda não começadas), a potência
instalada projetada corresponde a 34,7% do
total entre todos os projetos aprovados no país,
apontam dados da Aneel.

22
CAPÍTULO 03: DE ONDE VIRÁ A ENERGIA?

Capacidade instalada de usinas eólicas


no Brasil - atual e projeções
20.000

15.000

10.000

5.000

0
2005

2006

2007

2008
2009

2010
2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

2022

2023
Fonte: Associação Brasileira de
Energia Eólica (ABEEólica) Nova (MW) Acumulada (MW)

A geração eólica apresenta muitas vantagens. De O avanço recente da energia solar também
fato, trata-se de uma das fontes mais competitivas merece destaque. Apesar da base mais reduzida
de energia, o que lhe permite fazer frente aos em comparação às demais fontes, o salto na
sistemas de geração convencionais. Contribuem geração entre 2017 e 2018 foi de impressionantes
para isso os baixos gastos com manutenção, bem 316,6%. Hoje, há 115 projetos de centrais
como a boa rentabilidade do investimento. geradoras fotovoltaicas previstos no país, com
Especialistas dizem que o retorno de investimento capacidade instalada de 4,07 mil MW.
ocorre entre cinco e sete anos, por exemplo. O mercado de energia solar cresce, sobretudo,
Em contrapartida, assim como a hidrelétrica, a pela massiva adesão de consumidores que veem
geração eólica também está sujeita às intempéries vantagens a longo prazo com a implementação do
climáticas – e a falta do vento necessário para a sistema. Como citado no capítulo anterior,
produção de eletricidade vira um problema. Dessa possíveis mudanças podem atrapalhar o segmento.
forma, se pensarmos em segurança energética, Em outubro, a Aneel anunciou que pretende
existem riscos se, de fato, o país apostar todas as mudar as regras sobre a energia que o consumidor
fichas nessa fonte. gera a mais e joga na rede da distribuidora.

23
CAPÍTULO 03: DE ONDE VIRÁ A ENERGIA?

Na norma atual, a energia produzida a mais


é devolvida pela empresa de distribuição ao
consumidor praticamente sem custo. Com
isso, o cliente pode consumir quando não está
gerando eletricidade. Se aprovadas, as novas
O avanço recente da regras obrigarão o consumidor a pagar pelo
energia solar também uso da rede da distribuidora e também pelos
encargos cobrados na conta de luz.
merece destaque. Apesar Em comunicado divulgado à imprensa,
da base mais reduzida a Associação Brasileira de Energia Solar
em comparação às Fotovoltaica (Absolar) disse que a aprovação
da taxa poderia elevar em 68% a parte
demais fontes, o salto que é enviada à distribuidora. Para a entidade,
na geração entre a nova regra configuraria um tremendo
2017 e 2018 foi de desincentivo ao avanço de sistemas de
energia solar fotovoltaica pelo país.
impressionantes A medida, contudo, vem sofrendo

316,6%. ataques de todos os lados, incluindo de


parlamentares e até do presidente Jair
Bolsonaro. Ao ser questionado sobre a nova
taxação, durante visita oficial à China,
no final de outubro, Bolsonaro disse: “Taxar
o sol já vai para o deboche”. Embora uma
consulta pública para avaliar a proposta já
esteja em andamento, ela pode ser alterada.
O futuro da geração solar, portanto,
pode não avançar como seu potencial indica.
A ver as cenas dos próximos capítulos.

24
CAPÍTULO 03: DE ONDE VIRÁ A ENERGIA?

Novo momento deixa hidrelétricas em xeque


O avanço das fontes eólica No entanto, Luiz Pinguelli Rosa,
e solar, somado ao desafio de explorar ex-presidente da Eletrobras, apesar de
gás natural oriundo do pré-sal, reconhecer as dificuldades, acredita
representa uma mudança e tanto em que o Brasil ainda precisará expandir
relação ao início da década, quando seu parque hidrelétrico. “Agora, a
ainda se louvava o potencial hidrelétrico economia brasileira está estagnada,
do Brasil, sobretudo na região e isso dá margem para a postergação
amazônica. Desde então, no entanto, dos investimentos. Em algum
a visão da sociedade e dos atores momento, entretanto, o Brasil voltará
econômicos sobre a construção das a crescer e o aporte em oferta de
usinas mudou bastante. energia precisará ser feito”, argumenta.
“Na EPE, fizemos um exercício De fato, o Brasil possui no total
e, mesmo sem colocar na conta 8.050 empreendimentos de energia
as restrições ambientais, constatamos em operação, totalizando 167.199.407
que nem sempre as hidrelétricas KW de potência instalada. Está prevista
são boas, bonitas e baratas”, lembra para os próximos anos uma adição
Barroso, que destaca que o de 23.345.889 KW na capacidade de
estoque de novos projetos de usinas geração do país, proveniente dos
movidas à força da água tem se 194 empreendimentos atualmente
reduzido bastante. “Boa parte do em construção e mais 420 em projeto,
potencial hidrelétrico ainda não segundo dados da Aneel. Isso sem
explorado no Brasil está em regiões contabilizar os resultados dos leilões
que requerem investimentos de agendados recentemente, que atraíram
conexão à rede elevados”, completa. a atenção de mais de cem empresas,
Além disso, as usinas boa parte com atuação global.
construídas mais recentemente Hoje, são 715 centrais hidrelétricas
utilizam o método fio d’água, ou em funcionamento no país, contra
seja, abrem mão da construção de 610 eólicas. No entanto, quando
grandes reservatórios, como o de vemos os empreendimentos com
Itaipu Binacional, que têm impactos construção ainda não iniciada, mas já
ambiental e humano politicamente cadastrados pela Aneel, temos 151
incorretos no mundo atual. eólicas e apenas duas hidrelétricas.

25
CONCLUSÃO
O EQUILÍBRIO
DÁ O TOM
CONCLUSÃO: O EQUILÍBRIO DÁ O TOM

O equilíbrio
dá o tom
A chave do futuro para
a segurança energética
brasileira está na
harmonia entre fontes
complementares

Qual o futuro da composição da matriz


energética do Brasil? É difícil dizer por dois
fatores: porque o mercado está em transição,
com novas exigências e paradigmas, e porque
cada fonte tem seus prós e contras em termos
de custos, impactos ambientais e sociais, bem
como riscos à segurança energética. Ao
menos, na opinião dos especialistas ouvidos,
o setor tem um modelo de governança
elogiado. Então, as cartas estão na mesa.
“Por mais polemizada que seja,
a hidrelétrica é uma boa solução para as
condições brasileiras. O fator de capacidade
das usinas a fio d’água é menor, certamente.
Essa não chega a ser uma questão tão
decisiva. A média brasileira é pouco acima
de 50% e a dessas usinas é pouco abaixo de
40%”, defende Luiz Pinguelli Rosa.

27
CONCLUSÃO: O EQUILÍBRIO DÁ O TOM

Pró-renováveis,
Barroso vê uma
combinação
harmônica entre
eólica, solar,
biomassa e
hidrelétricas como Já Nivalde de Casto vê o fim da hegemonia
hidrelétrica na matriz. “Você não consegue
capaz de produzir mais construir novas hidrelétricas. Temos
uma harmonia restrições, por conta das áreas de proteção
perfeita ambiental e indígenas. Há ainda questões
geográficas, porque a região Norte é plana.
As usinas, portanto, precisam ser a fio d’água.
Com isso, a produção é necessariamente menor
e dificulta a equação dos custos”, explica.
Pró-renováveis, Barroso vê uma
combinação harmônica entre eólica, solar,
biomassa e hidrelétricas como capaz de
produzir uma harmonia perfeita. “É uma
equação muito boa. São todas fontes limpas,
com muita economicidade para as nossas
condições de país tropical. Se não tivermos
vento ou sol, teremos a hidrelétrica, que pode
sustentar a demanda”, avalia.

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CONCLUSÃO: O EQUILÍBRIO DÁ O TOM

No entanto, Barroso acredita que, por conta termelétricas sem a menor culpa. Os grandes
dos fatores impeditivos dos projetos de novas poluidores são China, Estados Unidos e
hidrelétricas, a expansão da oferta de energia nos Europa”, finaliza professor do Gesel/UFRJ.
próximos anos não virá por esse lado. “Os novos Como na alegoria da orquestra, a chave
projetos vencedores serão de energia eólica e para o futuro de segurança energética
solar. O Brasil vai crescer com essas renováveis, nacional (e da nossa matriz) não está em
que são cada vez mais competitivas. Ainda assim, um ou outro instrumento. Na verdade, a
é a hidrelétrica que garante a capacidade de complementaridade que forma o conjunto
integração dessas fontes em nosso sistema”, diz. é o que deve guiar as decisões.
A urgência do pré-sal, contudo, não é
descartada por nenhum dos especialistas ouvidos
em função do seu potencial dinamizador da
economia. Isso porque ele movimenta uma cadeia
produtiva ampla e com vários players importantes.
Pinguelli chama atenção para o fato de as
termelétricas a gás serem emissoras de gases
do efeito estufa, colaborando com o
aquecimento global. “Esse é um problema.
Os países estão fazendo pouco para prevenir
Pinguelli chama atenção
o aquecimento”, comenta.
Já Castro não considera essa uma questão para o fato de as
relevante no processo de transição da matriz
energética brasileira. “Política energética precisa
termelétricas a gás
ser feita com pragmatismo. O Brasil pode ligar serem emissoras de gases
do efeito estufa, colaborando
com o aquecimento global.

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