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UNIVERSIDADE DE EDUCAÇÃO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS DA
EDUCAÇÃO
DISCIPLINA: EDF0116 - PROF. JOSÉ SÉRGIO FONSECA DE CARVALHO
CRISLAINE DO NASCIMENTO FERREIRA - Nº USP 7613903

Resenha
Vanessa Sievers de Almeida em sua tese intitulada “Amor mundi e educação: reflexões
sobre o pensamento de Hannah Arendt” pondera a respeito da obra da filósofa alemã e
defende a importância do amor ao mundo como algo fundamental para a educação.

No primeiro capítulo, denominado “A crise na educação” a autora discorre sobre o teor


global e periódico de uma crise que se espelha também na educação. Para ela, o embate
geral que impacta o campo da pedagogia alude ao fato de que as atividades
especificamente humanas perderam importância, tendo cedido espaço a critérios
utilitaristas e à preocupação exacerbada com a satisfação de necessidades reais ou
inventadas da sociedade massas. Porém a crise é vista como algo que pode ser positivo
desde que levada como um momento de reflexão e desconstrução de preconceitos, assim
Almeida cita Arendt e seu entendimento de que a existência de crianças na sociedade
humana nos obriga a pensar a educação.

Para desenvolver esta concepção, o capítulo divide-se em cinco seções: “A natalidade


e o mundo comum”; “A educação entre o privado e o público”; “O lugar da autoridade e
da tradição na educação”; “A perda da autoridade e da tradição e suas consequências” e
“O impasse na educação” sendo o objetivo desta resenha descrevê-los e comentá-los.
Na primeira parte, “A natalidade e o mundo comum”, desenvolve-se a ideia de que “a
educação é a essência da natalidade” (ARENDT, 1990, p. 223 apud ALMEIDA, 2009,
p.15), uma vez que sua tarefa é introduzir as crianças no mundo. Sendo que este não é
apenas o que nos rodeia, mas sim um lugar feito pelo trabalho e pela ação do homem.
Assim, não se trata apenas de mantermos nossa subsistência, mas também nossa
possibilidade de participar do mundo. Há, portanto, duas importantes atividades durante
a existência na Terra: a que está relacionada à vida – cujo objetivo é suprir as carências
vitais – e a relacionada ao mundo – associada ao consumo de estilos de vida, cultura,
emoções etc. Existe ainda, a possibilidade de interferir no mundo através da fabricação,
que supera o ciclo animal e nos permite criar artefatos que construam o mundo. Isto nos
permite agir e criar algo singular no mundo que não está necessariamente ligado à
utilidade, mas tem sua finalidade em si mesmo. Logo, Almeida deixa claro que embora
haja tentativas de delimitar a existência do homem na Terra esta está relacionada a
diversas possibilidades e necessidades e não pode ser compreendida a partir de um único
princípio. Além disso, a autora afirma existir dificuldade em definir com clareza o que
vem a ser o mundo para Arendt e faz um apanhado pelos significados do conceito em
várias obras, por fim, remanesce a ideia de que mundo é algo que temos em comum, isto
é, espaço público. A linguagem é tida como exemplo de algo comum à humanidade: algo
individual, porém compartilhado. A fala, fator individual, possibilita a manutenção e
renovação do código, contudo esta só faz sentido em meio a um contexto mais amplo de
linguagem: a comunicação, que permite a construção do mundo.

A educação, ao introduzir as crianças no mundo, autoriza que estas possam participar


dele fazendo uso das novas ideias que engendram. Antiteticamente, o novo permite a
continuidade do mundo; os adultos, por conseguinte, têm a responsabilidade de apresentá-
lo aos mais novos para que, no futuro, estes cuidem do que é comum e, mais do que isso,
sejam livres para recriá-lo.

Uma educação comprometida com o mundo comum procura, portanto,


contribuir para que os novos se apropriem dele, de modo que
futuramente tenham a possibilidade de cuidar dele. (ALMEIDA, 2009,
p. 21)

A segunda parte “A educação entre o privado e o público” fala sobre a liberdade


exercida entre os espaços privado e público. Almeida descreve a importância da educação
como um lugar interregno em que a criança ainda não pode ser exposta ao mundo público
e por isso exerce sua liberdade na vida familiar, isto é, o privado. Neste sentido, o mundo
privado é associado à vida e às necessidades vitais. É necessário proteger as crianças da
exposição do mundo público, para isso, a autora usa como exemplo o caso de “Little
Rock” em que, no processo de dessegregação, alunos negros foram hostilizados por
frequentar uma escola pública. Arendt se indigna com os adultos – e sua falta de
responsabilidade - ao ler uma notícia em que uma menina negra é escoltada na saída da
escola sob atitudes hostis, pois para ela a garota não deveria ter sido exposta à humilhação.
Almeida defende que, neste caso, os direitos políticos deveriam ter sido resolvidos antes
da educação. É interessante destacar as críticas feitas a Arendt sobre este artigo,
principalmente a fala de Ralph Ellison que indica a diferença responsabilização para pais
brancos e negros.

escreve que preparar as crianças para viver no mundo, para os pais


negros, significa justamente não proteger as crianças demasiadamente.
O mundo no qual elas viverão não é marcado pela igualdade, mas pela
desigualdade e pela violência e, por isso, os jovens precisam aprender
a lidar com essas situações. (ALMEIDA, 2009, p. 28)

A terceira parte “O lugar da autoridade e da tradição na educação” alude à


responsabilidade dos professores no que tange à educação das crianças e na proteção do
mundo, ou seja, trata-se de uma responsabilidade dupla, pois o professor é um mediador
entre conhecimento e aluno. É relevante, no entanto, destacar que também o mundo deve
ser cuidado e preservado, ainda que não concordemos com tudo o que representa. O
professor deve ter algum tipo de apreço pelo mundo e tê-lo como constitutivo de sua
subjetividade. Sua posição como aquele que introduz os mais novos ao mundo é o que
caracteriza sua autoridade.
Arendt descreve uma crise de autoridade cuja origem reside na ausência desta no âmbito
político. Como a modernidade questiona o que era anteriormente sagrado, a tríade
autoridade-religião-tradição foi posta de lado e nada colocou-se em seu lugar. Assim, com
o espaço esvaziado, a autoridade perde seu fundamento.

Assim, a perda do tripé autoridade-religião-tradição26 ensejou


profundas mudanças no modo de nos situar no mundo, o que finalmente
refletiu também na esfera da educação. (ALMEIDA, 2009, p. 33)

Na quarta parte, “A perda da autoridade e da tradição e suas consequências” analisa-se


os impactos da mudança abordada anteriormente. Para Arendt, a crise consiste na recusa
quase total de assumir responsabilidade pelo mundo. Almeida escreve que os adultos não
veem como o mundo como algo que gostariam e, portanto, acreditam que não têm a ver
com a construção – e consequentemente, nem com a sua conservação. Esta postura
impossibilita o ato educativo.

Faz parte desta consequência enxergar apenas o futuro, porém não se observa que este
tempo é inacessível, já que cabe o futuro cabe aos novos. Além disso

Sem tradição [...] parece não haver nenhuma continuidade consciente


no tempo, e portanto, humanamente falando, nem passado e nem
futuro, mas tão-somente a sempiterna mudança do mundo e o ciclo
biológico das criaturas que nele vivem” (ARENDT, 1990a, p. 31 apud
ALMEIDA, 2009, p. 34).
A citação acima é importante, pois retoma a ideia da diferença entre os humanos e os
animais, o legado é necessário para nos distanciar do ciclo biológico já que representa
uma continuidade consciente. Também pode-se pensar legado enquanto tradição e outra
observação que corrobora a crise da tríade autoridade-religião-tradição é a rejeição do
termo e do conceito de “educação tradicional”. Almeida explica que este termo é usado
quase sempre com um pano de fundo negativo, em detrimento da “nova educação”.

A “educação tradicional” é criticada porque se supõe que ela implica


automaticamente em métodos e condutas reprováveis não somente por
motivos de ordem prática, mas por razões de natureza moral.
(ALMEIDA, 2009, p.35)
O choque entre a relevância da tradição e um mundo que se estrutura como moderno
gera um impasse que é abordado na quinta e última parte “O impasse na educação”. Nesta
divisão a autora aborda o mal-estar que ronda o mundo. Acontece que

alunos e professores experimentam aquilo que, segundo Arendt,


caracteriza a sociedade de massas – sociedade composta por indivíduos
isolados que não tomam decisões sobre o mundo nem assumem
responsabilidade por ele, mas apenas funcionam no grande processo de
produção e consumo. (ALMEIDA, 2009, p.38)
Entretanto, apesar deste embate, Arendt defende que é necessário “apesar de tudo”
apostar no mundo e cuidar dos mais novos, mais do que isso, é preciso amá-los antes de
assumir a dupla responsabilidade.
Assim, este primeiro capítulo serve como preparo do leitor para a continuidade da tese
defendida. Abordou os conceitos fundamentais de Arendt a respeito da educação como
seu caráter de espaço intermediário entre privado e público; a dupla responsabilidade que
esta envolve quando é mister proteger não só as crianças, mas também o mundo. Além
disso, é de extrema relevância pensar que a crise não é da educação, mas sim na educação
já que é um reflexo de uma crise global, muito mais arraigada: o conflito entre tradição e
autoridade, pensamentos em decadência no mundo moderno.

Dar-te-ei
Referência bibliográfica

ALMEIDA, Vanessa Sievers de. A crise na educação. In:________________.


Amor mundi e educação: reflexões sobre o pensamento de Hannah Arendt. 2009.
193 f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2009.

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