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20/04/2019 Portal Secad

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CONSTRUTIVISMO TERAPÊUTICO NAS


TERAPIAS COGNITIVAS PÓS-RACIONALISTAS
LILIAN ERICHSEN NASSIF

■ INTRODUÇÃO
A ciência moderna, apoiando-se no objetivo cartesiano de conhecimento e pautada no empirismo, no positivismo e no materialismo, foi
fundamental para o desenvolvimento da psicologia enquanto disciplina separada da filosofia e da fisiologia experimental nos séculos XVIII e
XIX. Para tanto, em um contexto no qual se pressupunha um mundo regido por regularidades e leis matemáticas, a psicologia precisou
submeter o seu objeto de estudo, o homem, às regras da previsibilidade e do controle, buscando o conhecimento verdadeiro, a
representação clara e inequívoca da realidade.
A partir de alguns acontecimentos históricos, essa epistemologia da ciência tradicional, do acesso direto à verdade dos fatos reais foi,
gradativamente, questionada pelo novo paradigma pós-racionalista. Contudo, encontram-se abordagens da psicologia e da psicoterapia
cognitiva com base em perspectivas racionalistas e objetivistas, as quais, atualmente, não tratam do terreno fenomenológico e da complexa
natureza da experiência humana vivenciada.
As perspectivas racionalistas e objetivistas de abordagem da psicologia e da psicoterapia cognitiva assumem que a realidade é constituída
por uma ordem externa objetiva, existindo independentemente das observações das pessoas (pressuposto comum ao racionalismo
tradicional, ao objetivismo e ao realismo), sendo inevitável que elas deixem passar despercebidas as suas próprias particularidades e os
seus processos enquanto observadoras. As únicas possibilidades de investigação em um mundo objetivista são o refinamento ou
aperfeiçoamento das percepções deste mundo e a modificação das representações mentais, de forma que elas reflitam a realidade
objetiva.
Entretanto, com base na abordagem pós-racionalista, a terapia cognitivo-construtivista adota mudanças radicais desses pressupostos e das
formulações tradicionais da experiência humana e do trabalho terapêutico. Por tal perspectiva não objetivista, torna-se fundamental entender
de que modo as características das pessoas enquanto observadoras aparecem nesse processo de observação e, portanto, de que maneira
participam na cocriação de realidades pessoais, as quais respondem individualmente, como explica Guidano:1
O que é importante enfatizar aqui é que não há um ponto de vista externo e imparcial, capaz de analisar o
conhecimento individual independente da representação desse mesmo conhecimento; não há um “ponto de
vista do olho de Deus” (PUTNAM, 1981). Portanto, o conhecimento deve ser considerado a partir de uma
perspectiva epistemológica e ontológica, na qual o conhecer, a consciência e outros aspectos da experiência
humana são vistos do ponto de vista do sujeito que experiencia.

Neste artigo, será mostrado como o pensamento pós-racionalista se manifesta em um conjunto de princípios construtivistas. Embora haja
uma pluralidade de enfoques dentro dessa abordagem, todos eles demarcam a sua oposição a uma epistemologia objetivista.

■ OBJETIVOS
Ao final da leit ra deste artigo o leitor será capa de
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Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
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identificar a história das terapias pós-racionalistas ou da terapia cognitivo-construtivista;
reconhecer os princípios teóricos gerais da terapia cognitivo-construtivista;
analisar o papel do terapeuta na terapia cognitivo-construtivista;
diferenciar os princípios das terapias racionalistas ou objetivistas e da terapia cognitivo-construtivista;
reconhecer algumas técnicas da terapia cognitivo-construtivista e as suas aplicações em casos clínicos.

■ ESQUEMA CONCEITUAL

■ BREVE HISTÓRIA DAS TERAPIAS PÓS-RACIONALISTAS


A ciência moderna tem os seus preceitos fundamentados em construções filosóficas do século XVII, nas teorias de René Descartes (1596-
1650) e Galileu Galilei (1564-1642), as quais fazem distinção entre a realidade física e a “realidade mental da alma”.2 A primeira, passível de
descrição pela ciência; a segunda, não. Assim, criava-se o método científico, afastando-se a metafísica e a fé da realidade objetiva,
utilizando-se evidências empíricas de forma imparcial e pautando-se em regras rígidas sobre a natureza. “Nesse contexto, a atividade
científica seria concebida como a descoberta dessas leis da natureza (da realidade), e o homem seria capaz de captar fenômenos que
ocorrem sem a sua interferência”.2 Conforme Abreu e Roso:3
nessa concepção epistemológica objetivista, os significados que transitam em nossa mente são entendidos
como fruto direto das representações extraídas da realidade externa, ou seja, no desenvolvimento de nossa
cognição, exibimos uma inclinação natural para revelar internamente os significados da existência concreta
externa.

Sem dúvida, esse modelo de ciência representa uma evolução no pensamento moderno e, inclusive, foi importante para a constituição da
psicologia como uma ciência distinta da filosofia no início do século XIX. É responsável por importantes avanços científicos; porém, não se
pode dizer que seja o único modelo de ciência atualmente, uma vez que a “verdade objetiva” e a existência de uma “realidade” única e
passível de conhecimento são questionamentos que também estão presentes na história da filosofia, desde Giambattista Vico (1668-1744),
Jonh Locke (1632-1704) e Immanuel Kant (1724-1804).2,4
O cientista alemão Max Planck, no ano de 1900, anunciou que a energia era um fenômeno descontínuo, emitida em certos pacotes que ele
denominou de quanta. Com isso, “o princípio da incerteza de Werner Heisenberg, com base na hipótese quântica, postulou que não é
possível prever com exatidão a posição e a velocidade das partículas as quais parecem mostrar um comportamento conduzido pelo acaso”.5
Estando representada por uma função de probabilidade, a teoria quântica, portanto, abalou a explicação da ciência moderna sobre as
regularidades do universo e passou a ser um elemento importante e inevitável da física, como explicitado por Opazo e Suárez:5
Tanto o princípio da incerteza na física, como a posterior aparição da cibernética de segunda ordem dentro da
teoria de sistemas, têm destacado de maneira inevitável o papel do observador como eixo configuracional do
conhecimento e, portanto, das características, em maior ou menor grau, do fenômeno estudado. O ser
humano é, então, uma variável configuracional crucial na construção de modelos do conhecimento.

A diferença entre as cibernéticas de primeira e segunda ordens foi introduzida por Von Foerster (1981). A primeira baseou-se na premissa do
estudo de uma realidade externa, sem referência à atividade cognitiva. A segunda, também chamada de cibernética dos observantes ou
cibernética da cibernética, pautava-se no papel do observador na construção da realidade observada.5
O i i d l iti d é l XX bi t t ã t l i j t f id d
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Os primeiros modelos cognitivos do século XX concebiam a mente como uma estação central passiva, ou seja, como um transferidor do
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input de energia (estimulação) e do output (resposta).5 Em 1932, a partir do livro de Tolman, “Purposive Behavior in Animals and Men”,
surgiram ideias e tecnologias que caracterizam o que veio a se chamar conexionismo, quais sejam:5
a) uma mudança na ênfase do computador para o sistema nervoso vivo, como a fonte básica de informação
sobre as estruturas e funções do conhecimento humano; b) um uso criativo das contínuas evoluções da
tecnologia dos computadores, visando a aprimorar os modelos que estimulem a aprendizagem humana; e c)
o reconhecimento de que os processos computacionais não podem lidar adequadamente com uma
complexidade de processos “subsimbólicos”, que operam em grande escala em toda experiência humana.

Com isso, o conexionismo tornou-se um movimento de grandes proporções no final do século XX. Trata-se de uma abordagem com relação
à aprendizagem, à memória e ao desenvolvimento, que se apoia nas capacidades computacionais dos supercomputadores, os quais são
sistemas com capacidades para a distribuição massiva de processamento paralelo de informação. Assemelha-se a um sofisticado
associacionismo, delineando uma ponte conceitual entre essa teoria e as teorias pós-racionalistas.
Paralelamente ao conexionismo, no período entre 1950 e 1975, uma nova perspectiva começa a surgir com a publicação do livro “The
Sensory Order”, de 1952, do economista Friedrich Hayek. Nele, continha um subtítulo interessante: “Refletions on the Foundations of
Theoretical Psychology”. Ignorada por muitos anos, essa obra foi de suma importância para marcar a transição moderna de teorias
objetivistas e racionalistas para as perspectivas pós-racionalistas.5
A abordagem psicoterapêutica com base nessa epistemologia pós-racionalista Michael J. Mahoney (1946-2006) denominou de
construtivismo terapêutico ou terapia cognitivo-construtivista. Segundo o autor,5 as expressões relativas ao termo construtivismo
podem ser vistas nos escritos de Wilhelm Wundt, Pierre Janet, Charles Sherrington e William James. Contudo, o criador do conceito, tal
como é conhecido na psicologia cognitiva, foi Jean Piaget (1896-1980), biólogo e psicólogo suíço, cujo trabalho também exerceu grande
influência na mudança de visão de mundo nas terapias pós-racionalistas.
Tendo como objetivo principal da sua grande obra descobrir como se passa de um conhecimento menos complexo para um conhecimento
mais complexo, Piaget acabou descrevendo um modelo de desenvolvimento cognitivo, no qual o sujeito é o principal criador das suas
estruturas cognitivas por meio da sua ação no mundo. Vê-se que o sujeito tem um papel ativo no mundo ao assimilar a experiência aos seus
esquemas e as suas teorias ou ao mudar os seus esquemas e as suas teorias, de forma a acomodá-los à nova realidade.
Piaget é também considerado um interacionista, ou seja, uma pessoa que defende a ideia de que a gênese dos processos cognitivos se dá
como resultado da construção progressiva de esquemas de adaptação por meio da interação entre o sujeito e o meio.6
O construtivismo piagetiano, segundo Nassif,6
é uma das correntes teóricas que parte do princípio de que o desenvolvimento da inteligência é determinado
pelas ações mútuas entre o indivíduo e o meio. Isso implica na ideia de que o homem não nasce inteligente,
ao contrário, age sobre os estímulos externos para construir e organizar o seu próprio conhecimento, com
base nas suas experiências. O objetivo do conhecimento, nessa concepção, é o de adaptação do organismo
ao meio ambiente.

Dessa forma, a terapia cognitivo-construtivista tem, em geral, uma perspectiva filosófica ou uma visão de mundo que reconhece a
relatividade, a complexidade e a subjetividade da experiência humana, como explica Guidano:1
Por uma perspectiva construtivista, a racionalidade é intrinsecamente relativista e, como tal, pode apenas
referir-se a esforços situados histórica e contextualmente para alcançar significado e coerência. Em termos
da perspectiva ontológica apresentada pelos construtivistas, pode-se dizer que, através dos processos
contínuos de reordenamento da experiência imediata (eu) em um sentido consciente do si-mesmo e do
mundo (mim), um indivíduo é capaz de estruturar uma demarcação estável, porém dinâmica e em contínuo
desenvolvimento, entre o que é real e o que não é em sua própria práxis pessoal de viver em curso.

A terapia cognitivo-construtivista é uma abordagem que questiona a crença moderna de um mundo passível de conhecimento
objetivo e de um self essencialmente imutável.
A terapia cognitivo-construtivista ainda defende que a ciência é um empreendimento interpretativo da realidade e não computacional,
podendo-se dizer que2
a proposta cognitivo-construtivista fundamenta-se na concepção de que todo o processo de construção de
significados realiza-se na interface entre a cognição, a emoção e a experiência, a partir da participação ativa
do indivíduo, formando um conjunto de crenças que sustenta o processo de julgamento, a tomada de
decisões e as ações do ser humano.

As emoções assumem um lugar privilegiado no desenvolvimento humano e nos processos de mudança e são consideradas como
mecanismos humanos de adaptação. Não são nem racionais, nem irracionais, mas sim sinais internos que nos auxiliam a
permanecer vivos.
As emoções compõem um sistema biológico mais antigo que a cognição7 e apresentam as seguintes características:8
(1) processos biológicos, especialmente aqueles relacionados às funções neuroquímicas e endócrinas; (2)
expressão comunicativa, com ênfase no comportamento emocional; (3) processos cognitivos, incluindo as
operações básicas da atenção, da percepção e da avaliação; (4) experiência subjetiva, enfatizando a
fenomenologia dos sentimentos e (5) componentes motivacionais que incluem a intenção, a direção e a
prontidão diferencial para as várias classes de atividades.

Pautando se nas descrições modernas da neurociência para o construtivismo terapêutico a emocionalidade é de fundamental
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Pautando-se nas descrições modernas da neurociência, para o construtivismo terapêutico, a emocionalidade é de fundamental
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importância para as crenças e o comportamento.
É questionada a superioridade do pensamento em relação aos demais sentidos, à medida que as construções cognitivas são entendidas
como o resultado de uma organização emocional, ou seja,9
a construção e posterior atribuição de significado dado aos eventos sempre é uma atividade proveniente de
nossa percepção emocional desenvolvida ao longo da vida, e não proveniente de uma realidade externa dada
inequivocamente e que pode ser atingível pela atividade do nosso pensamento.

As emoções podem ser divididas em primárias, secundárias ou instrumentais, as quais “permitem realizar distinções clinicamente
significativas que servem de guia para a intervenção”.7
As emoções primárias são respostas emocionais iniciais aos estímulos externos, de claro valor adaptativo. Como o próprio nome indica, as
emoções secundárias constituem-se em reações secundárias ao tempo ou à sequência dos processos emocionais primários. As emoções
instrumentais ocorrem pelo aprendizado de que elas produzem uma reação dos outros, as quais resultam em um ganho para o sujeito que
a utiliza.7

Os problemas psicológicos surgem quando a síntese entre a experiência emocional (processo vivencial ou imediato) e a explicação
dada a ela (processo reflexivo ou conceitual) não é capaz de proporcionar uma ordenação adaptativa ao indivíduo.
Greenberg e Paivio7 classificam os transtornos emocionais em cinco possíveis causas, a saber:
(a) a falta de habilidade para efetuar mudanças nas relações com o mundo, que são impulsionados por uma
tendência de ação emocional, que produz estresse como resultado; (b) a evitação ou dissociação da emoção,
que leva à desorientação e à incongruência; (c) os problemas para regular a intensidade da emoção, que leva
a um enfrentamento pobre; (d) o trauma, que resulta em muitos problemas, descritos muitas vezes como
estresse pós-traumático; e (e) os processos de construção de significado disfuncionais, que resultam em
respostas emocionais desadaptativas.

O construtivismo terapêutico, então, pode ser considerado um conjunto de teorias cognitivas que enfatizam, pelo menos, três princípios da
experiência humana:4
(a) que os seres humanos são participantes pró-ativos (e não passivamente reativos) na sua própria
experiência – quer dizer, em toda percepção, memória e conhecimento; (b) a maior parte dos processos de
ordenação que organizam a vida humana operam em um nível tácito de consciência (inconsciente ou
supraconsciente); e (c) que a experiência humana e o desenvolvimento psicológico pessoal refletem a
operação em curso de processos individuais e auto-organizadores, que tendem a favorecer a manutenção
(sobre a modificação) de padrões experimentais.

Esse pensamento pós-racionalista permite uma pluralidade paradigmática à prática da terapia, desde que se esteja mantida a sua base
epistemológica, tal como aqui descrita brevemente. Para se demonstrar a variedade de enfoques atuais, que se denominam construtivistas,
recorre-se à descrição feita por Lyddon10 da teoria da metáfora-raiz concebida por Stephen Pepper (1891-1972), em 1942.
A teoria da metáfora-raiz traz a ideia de “hipótese de mundo que é a conjectura sobre como o mundo funciona de maneira a operar de
acordo com um conjunto de pressupostos tácitos, derivados do conhecimento e entendimentos do senso comum”.10 Pepper teria identificado
quatro hipóteses de mundo:10

formismo;
mecanicismo;
contextualismo;
organicismo.
Lyddon,10 então, descreve quatro formas de apresentação da psicologia e da psicoterapia construtivista, com base nas hipóteses de
mundo propostas por Pepper, respectivamente:

construtivismo material;
construtivismo eficiente;
construtivismo formal;
construtivismo finalista.
O Quadro 1 apresenta as características das diferentes formas de psicologia construtivista.
Quadro 1

FORMAS DE PSICOLOGIA CONSTRUTIVISTA


Característica Física Eficiente Formal Final

Visão de Formismo. Mecanicismo. Contextualismo. Organicismo.


mundo.

Metáfora-raiz. Similaridade. Máquina. Evento histórico. Processo orgânico.

Pressupostos Causa material: emanado Causa eficiente: Causa formal: o padrão, a forma, Causa final: aquela em nome da qual alguma
causais. da substância material da o ímpeto ou a o esboço ou a organização coisa acontece – a razão, o propósito, a
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causa s da substâ c a ate a da o peto ou a o esboço ou a o ga ação co sa aco tece a a ão, o p opós to, a
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qual uma coisa é feita. força dos reconhecível no fluxo dos intenção ou o telos dos eventos ou das ações.
eventos. eventos.

Exemplares Perspectivas radicais. Modelos de Construcionismo social. Teorias do desenvolvimento e dialéticas.


teóricos. processamentos Psicologia narrativa. Perspectivas sistêmicas.
de informação. Psicologia transpessoal.
Teoria da
aprendizagem
social.

Fonte: Lyddon (1997).10

O primeiro, construtivismo material, está mais evidenciado na perspectiva radical do construtivismo, representada por Von Glasersfeld, Von
Foerster, Humberto Maturana e Francisco Varela, que rejeita “uma teoria representacional do conhecimento, isto é, a visão de que as
pessoas constroem cópias ou representações de uma realidade externa, e, ao invés disso, argumentam que a realidade resulta de estruturas
cognitivas e perspectivas relativamente duráveis do conhecedor”.10

Para saber mais:


 
Humberto Maturana é neurobiólogo chileno, nascido em 1928, crítico do realismo matemático e criador da teoria da autopoiese e da
biologia do conhecer. Com Francisco Varela, faz parte dos propositores do pensamento sistêmico e do construtivismo radical.

O chileno Francisco Varela (1946-2001), PhD em Biologia, escreveu sobre sistemas vivos e cognição: autonomia e modelos lógicos.
Desenvolveu a teoria da autopoiese com Humberto Maturana. Trabalhou nos Estados Unidos da América (EUA) e, na França, passou a
ser diretor de pesquisas no Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), no Laboratório de Neurociências Cognitivas do Hospital
Universitário da Salpêtrière.

O construtivismo eficiente pode ser visto na teoria da aprendizagem social, proposta por Albert Bandura, e no processamento construtivo
de informações. Neste, “as interações com o mundo tornam-se uma função da capacidade do sistema cognitivo de identificar a informação
potencialmente útil, transformá-la em padrões cognitivos significativos (esquemas) e utilizar tais padrões para selecionar respostas
apropriadas”.10
A teoria da aprendizagem social, por sua vez, é cognitiva, visto que é governada por regras; construtivista, já que é interpretativa e
determinista “no sentido de que cognição e comportamento são considerados como casualmente ligados ao ambiente de um modo
recíproco”.10
Ainda que ambas as perspectivas considerem que o papel do sistema cognitivo seja o de reconstruir a informação vinda da realidade
externa, tendem a considerar o ambiente como a fonte principal de informações e a julgar a validade dos esquemas dos indivíduos e o seu
grau de correspondência com a realidade externa.10
O construcionismo social e a psicologia narrativa fazem parte do construtivismo formal que contém “a noção de que o significado emerge
do padrão de organização (ou forma) dos fenômenos através do tempo e dentro do contexto”.10

O construcionismo social de Kenneth Gergën é uma abordagem em psicologia social que se baseia em três pressupostos:11

a realidade é dinâmica, não possuindo qualquer tipo de essência ou leis imutáveis;


o conhecimento é uma construção social, com base em comunidades linguísticas;
o conhecimento tem consequências sociais, as quais determinarão se ele é válido ou não.
No construcionismo social, o conhecimento não reside nas mentes dos indivíduos (inatismo) ou no ambiente (associacionismo), mas nos
processos sociais e nas trocas simbólicas. Quanto à psicologia narrativa, ela preconiza que o indivíduo determina papéis, chamados também
de narrativas, no fluxo das suas histórias de vida, sendo autores e atores delas. Portanto, as narrativas oferecem ferramentas para as
construções, descrições e reconstruções das experiências vivenciadas.
O construtivismo finalista “vê o conhecimento como dinâmico e direcional; isto é, com o tempo, acredita-se que as estruturas do
conhecimento sofrem mudanças qualitativas ou transformações na organização em direção à abstração e complexidade crescentes”,10 e
está representado nas teorias dialéticas e do desenvolvimento, nas perspectivas sistêmicas e na psicologia transpessoal.

As teorias dialéticas e do desenvolvimento acreditam que o desenvolvimento cognitivo, ao longo da vida, é um processo constante,
ativamente construído pelo indivíduo por meio da assimilação de novos saberes e sua acomodação e adaptação.
Dentro das perspectivas sistêmicas, há dois tipos de mudanças dinâmicas:

conservativas (referem-se a um estado mantido dinamicamente que preserva a estrutura básica do sistema);
dissipativas (transformação não linear nas estruturas do sistema e uma reformulação qualitativa dele e das suas capacidades).
A psicologia transpessoal, por sua vez, considerada como a quarta força em psicologia no final da década de 1960,10 procura fazer a
ligação entre as tradições convencionais do ocidente e as contemplativas do oriente; além disso, vê as pessoas como um processo de
evolução a um todo.
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(home)oferecida pelo modelo pós-racionalista, tem-se uma mudança de entendimento em relação ao mundo e
Com essa alternativa epistemológica
ao homem, implicando radicais alterações na ciência em geral e, portanto, na psicologia e na psicoterapia. Em seguida, serão vistas algumas
teorias psicológicas com base no modelo pós-racionalista.

1. A ciência moderna tem os seus preceitos com base em construções filosóficas do século XVII, nas teorias de René Descartes
(1596-1650) e de Galileu Galilei (1564-1642), as quais:

A) fazem distinção entre a realidade física e a “realidade mental da alma”.


B) não fazem distinção entre a metafísica e a fé da realidade objetiva.
C) utilizando-se evidências empíricas e pautando-se em regras flexíveis sobre a natureza explicam a “realidade mental da alma”.
D) concebem que o homem não seria capaz de captar fenômenos que ocorrem sem a sua interferência.
Confira aqui a resposta

2. O que tem destacado, de maneira inevitável, o papel do observador como eixo configuracional do conhecimento e, portanto, das
características, em maior ou menor grau, do fenômeno estudado?

A) A criação do método científico, afastando-se a metafísica e a fé da realidade objetiva.


B) A constituição da psicologia como uma ciência distinta da filosofia, no início do século XIX.
C) A concepção da mente como uma estação central passiva, ou seja, como um transferidor do input de energia (estimulação) e
do output (resposta).
D) O princípio da incerteza na física e a aparição da cibernética de segunda ordem dentro da teoria de sistemas.
Confira aqui a resposta

3. Sobre a terapia cognitivo-construtivista, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).


( ) Michael Mahoney propôs essa denominação para as chamadas terapias pós-racionalistas.
( ) Jean Piaget, pai do construtivismo, considerava que o desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas entre o
indivíduo e o meio para fins de adaptação.
( ) O conexionismo é uma das formas de psicoterapia construtivista proposta por Pepper, segundo a qual o significado emerge do
padrão de organização dos fenômenos por meio do tempo e dentro do contexto.
( ) As teorias dialéticas e do desenvolvimento, as perspectivas sistêmicas e a psicologia transpessoal são consideradas por Pepper
como formas de construtivismo.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

A) V – V – F – V.
B) V – F – V – F.
C) F – V – F – V.
D) F – F – V – F.
Confira aqui a resposta

4. De que princípio parte a corrente teórica do construtivismo piagetiano?

A) De uma abordagem com relação à aprendizagem, à memória e ao desenvolvimento, que se apoia nas capacidades
computacionais dos supercomputadores.
B) Do princípio de que o desenvolvimento da inteligência é determinado pelas ações mútuas entre o indivíduo e o meio.
C) Do princípio de que o ser humano é uma variável configuracional crucial na construção de modelos do conhecimento.
D) Do princípio de que a atividade científica seria concebida como a descoberta das leis da natureza (da realidade), e o homem
seria capaz de captar fenômenos que ocorrem sem a sua interferência.
Confira aqui a resposta

5. Quanto à terapia cognitivo-construtivista, analise as afirmativas a seguir.


I – Tem, em geral, uma perspectiva filosófica ou uma visão de mundo que reconhece a relatividade, a complexidade e a subjetividade
da experiência humana.
II – É uma abordagem que questiona a crença moderna de um mundo passível de conhecimento objetivo e de um self
essencialmente imutável.
III – Pautando-se nas descrições modernas da neurociência, para o construtivismo terapêutico, a emocionalidade não é de
fundamental importância para as crenças e o comportamento.
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Quais estão corretas?


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A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a III.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Confira aqui a resposta

6. Correlacione as formas de psicologia construtivista da coluna da esquerda com as características da coluna da direita.

(1) Construtivismo material ( ) Considera que o papel do sistema cognitivo seja o de reconstruir a
(2) Construtivismo eficiente informação vinda da realidade externa.
(3) Construtivismo formal ( ) Vê o conhecimento como dinâmico e direcional.
(4) Construtivismo finalista ( ) A realidade resulta de estruturas cognitivas e perspectivas relativamente
duráveis do conhecedor.
( ) O significado emerge do padrão de organização dos fenômenos por meio
do tempo e dentro do contexto.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

A) 4 – 2 – 3 – 1.
B) 3 – 1 – 2 – 4.
C) 1 – 2 – 4 – 3.
D) 2 – 4 – 1 – 3.
Confira aqui a resposta

■ TEÓRICOS DO CONSTRUTIVISMO TERAPÊUTICO E SUAS RESPECTIVAS


PROPOSIÇÕES
Um dos primeiros teóricos a desenvolver proposições dentro de uma abordagem pós-racionalista foi George Alexander Kelly (1905-1967),
com sua obra escrita em dois volumes: The Psychology of Personal Constructs (1955). Nesta, Kelly apresenta a sua tese dos constructos
pessoais (terapia dos constructos pessoais [TCP]), pela qual os indivíduos agem como cientistas, procurando testar as suas teorias pessoais
sobre o mundo, sobre o seu funcionamento e sobre si próprios. Eles utilizam tais constructos para prever acontecimentos e, assim, tentam
controlar a vida e os seus comportamentos.
Para Kelly, sempre existem construções alternativas a respeito do mundo, ao que ele chamou de alternativismo cognitivo, ou seja, os
indivíduos interpretam os eventos de formas diferentes uns dos outros e não se pode dizer que nenhuma das perspectivas está certa ou
errada, pois são construídas pelos indivíduos e refletem a sua própria realidade.12 As contribuições desse e dos subsequentes teóricos dos
construtos pessoais têm sido elaboradas por Robert A. Neimeyer, de quem será falado mais adiante.
Além dos trabalhos de Kelly, a terapia cognitivo-construtivista também foi desenvolvida pelo psicólogo americano Michael J. Mahoney, que,
antes de ser um terapeuta pós-racionalista, foi behaviorista e também cognitivista.13
Mahoney interessou-se por diversas áreas, como:13

os processos básicos de mudança;


a história e os sistemas das ideias e práticas;
a relação do sujeito consigo, incluindo controle, estima e percepção;
a psicologia do esporte;
o papel do corpo na psicoterapia;
os estudos da ciência e da complexidade.
Esse autor também desenvolveu estudo sobre o autocontrole e a forma como os profissionais da ajuda sofrem mudanças ao ajudarem as
pessoas a mudar. Na sua terapia pessoal, aprendeu sobre a importância da relação terapêutica no processo de mudança.13
As suas constantes viagens a trabalho permitiram-lhe conhecer profissionais (Vittorio Guidano, Luis Joyce-Moniz, Giovanni Liotti, Giampiero
Arciero e Oscar Gonçalves) que utilizavam a terapia cognitiva (TC) em versões diferentes daquela que ele conheceu com Aaron T. Beck e
relata:13
Em 1981, conheci Viktor Frankl em uma conferência Adlerian em Viena, e começamos uma correspondência
sobre a busca de sentido e estratégias terapêuticas. Permaneci em contato com ele até pouco antes de sua
morte (Mahoney, 1997b). Ele era um amigo próximo de Paul Watzlawick, construtivista que editou um volume
clássico sobre a realidade da fantasia (Watzlawick, 1984). Quando comecei a dialogar com pessoas como
Neil Agnew e outros, aprendi sobre as incríveis obras de Humberto Maturana e Francisco Varela, que também
i fl i it d P d i h i B b Ni i i iã
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influenciaram os rumos que me vi tomando. Poucos anos depois, conheci Bob Niemeyer, na primeira reunião
(home)
da Sociedade de Exploração de Psicoterapia da Integração, e começamos a dialogar sobre um interesse
emergente que acabaria por ser chamado de “construtivismo”.

Para saber mais:


 
Aaron T. Back é médico, mundialmente conhecido como o pai da TC e um dos maiores pesquisadores do mundo em psicopatologia.
Tem modificado a psiquiatria e a psicologia americanas, sendo considerado um dos cinco psicoterapeutas mais influentes de todos os
tempos. Para maiores informações a respeito dele, acesse o seguinte site: http://www.beckinstitute.org/aaron-beck/.

Psiquiatra austríaco, Viktor Emil Frankl (1905-1997), criador da logoterapia ou terapia do sentido da vida, também chamada de Terceira
Escola Vienense da Psiquiatria, é considerado por Mahoney4 um teórico construtivista.
De acordo com a logoterapia (logos definido como “significado”), o desejo de encontrar um significado para a vida é a motivação primeira no
ser humano. Não se trata de um sentido em termos gerais, mas sim de um sentido pessoal, único para cada indivíduo, escolhido e criado por
ele.
Além desses nomes, tem-se um conjunto de acadêmicos e clínicos citados por Mahoney:4
Luiz Joyce-Moniz e Óscar Gonçalves de Portugal; Guillem Feixas, Mayte Miró e Manuel Villegas, da Espanha;
Giampiero Arciero, Vittorio Guidano, Gianni Liotti e Mario Reda, da Itália; Juan Balbi e Héctor Férnandez-
Alvarez, da Argentina; Humberto Maturana, Roberto Opazo, Alfredo Ruiz e Tito Zagmutt, do Chile; Hubert
Hermans da Holanda; e dos Estados Unidos, pessoas como Jerone Bruner, Mary Baird Carlsen, Mark Burrel,
Paul Dell, Don Ford, Harry Goolishian, Leslie Greenberg, Lynn Hoffman, Bradford Kenny, Hazel Markus, Juan-
Pascual Leone, eu próprio, Eleanor Rosch, Hug Rosen, Jeremy Safran, Ester Thelen e Paul Watzlawick.

Pela impossibilidade de serem descritos os trabalhos de todos eles, deve-se ater a alguns. O psiquiatra romano Vittorio F. Guidano (1944-
1999), por exemplo, foi o criador do Modelo Cognitivo Processual Sistêmico, tendo sido um dos fundadores da Institución Italiana de
Terapia Cognitiva y Conductual (SITCC), em 1972, a qual presidiu até 1978. Os seus trabalhos têm influência das teorias de Humberto
Maturana e Francisco Varela, ao considerar a vida um processo de autopoiésis (do grego auto [si] e poiésis [poder de criar ou construir]),
um termo introduzido na biologia e em outros campos por Humberto Maturana e que denota a constante atividade de autorregulação dos
sistemas vivos.14
No processo de autopoiésis, o indivíduo reorganiza, constantemente, a sua estrutura a fim de manter a sua organização vital frente ao
ambiente que oferece “perturbações”. O conhecimento é considerado um processo permanente e ativo de construção de hipóteses e teorias
sobre a realidade, por parte do sujeito que está em constante interação consigo e com o mundo. Portanto, o conhecimento não é somente
cognitivo, mas também perceptual, motor e emocional.
A mente é uma ativa construtora de significados, e não uma passiva processadora de informações. A natureza e a estrutura da experiência
humana intersubjetiva são vividas em dois níveis diferentes, os quais mantêm relações constantes:

experiência imediata (de tipo tácita e analógica);


explicação (explícita e ligada à linguagem).
Guidano desenvolveu uma teoria psicológica explicativa que leva em consideração o caráter evolutivo e as formas organizadoras funcionais
e disfuncionais do psiquismo, as Organizações Cognitivas de Significado Pessoal (OSP).
Cada uma dessas organizações consiste em um sistema próprio da experiência imediata, pessoal e única, de agrupar e mudar as
tonalidades emocionais básicas, mais um sistema explicativo que se relaciona com o anterior, no intuito de fazer com que a experiência seja
consistente com a imagem de si mesmo e que dê um significado viável em termos da própria existência. As regularidades encontradas por
Guidano nessas OSP permitiram a ele ordená-las em padrões, quais sejam:

organização depressiva;
organização fóbica;
organização das desordens alimentares psicogênicas;
organização obsessivo-compulsiva.
Robert A. Neimeyer, psicólogo e atual professor da University of Memphis, desde 1983, a partir de um ponto de vista construtivista, dedica-se
aos estudos de como as pessoas reconstroem um mundo de sentido desafiado por uma perda ou um luto, principalmente quando de forma
traumática. O seu trabalho tem o objetivo de ajudar as pessoas a simbolizar, explorar e renegociar as autonarrativas que elas usam para
organizar a sua experiência e as identidades como seres sociais.15,16
Leslie S. Greenberg, nascido em 1945, em Joanesburgo, PhD em Psicologia, é professor do Departamento de Psicologia na York University
atualmente. Criou a terapia focada nas emoções (EFT, do inglês emotion-focused therapy) com Sue Johnson. É cofundador da Society of
the Exploration of Psychotherapy Integration (SEPI) e da Society for Constructivism in Psychotherapy (SCP). Essa abordagem terapêutica
com base na neurociência adota a noção de que as emoções funcionam como um guia interno que orienta as ações e informa sobre os
desejos, ajudando a desenvolver vínculos interpessoais saudáveis.
Na EFT, a emoção é vista como fundamental na construção do eu e é um fator determinante da auto-organização. As pessoas não só
sentem as emoções, mas vivem em um constante processo de dar sentido a elas. Nessa terapia, as distinções entre os tipos de emoção
fornecem ao terapeuta possibilidades de intervenção diferencial. É importante que ele possa distinguir as emoções primárias das
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p p ç p q p g ç p
(home)
secundárias e das instrumentais, por exemplo. Com a terapia, os clientes, então, poderão aprender a entender, gerenciar e transformar
emoções mal-adaptativas em adaptativas.
Para Óscar Gonçalves, psicólogo português, professor e neurocientista, a vida é uma narrativa e os seres humanos são inerentes narradores
e contadores de histórias. Nesse contexto, a terapia é como um cenário onde se ensaia a construção e a desconstrução de histórias. Ele
acredita na hermenêutica (interpretação do sentido da palavra, dos textos) como uma alternativa para a tensão existente entre a narrativa e o
narrador, o sujeito e o objeto, o conhecedor e o conhecido. Argumenta, então, que o paradigma construtivista oferece uma alternativa
hermenêutica que conceitua os seres humanos como projetos, ou seja, como metáforas cuja tarefa eminente é a de existir por meio da
compreensão e entender por meio da existência.
No Brasil, ainda conta-se com poucos profissionais na terapia cognitivo-construtivista, sendo o Dr. Cristiano Nabuco de Abreu uma das mais
importantes referências na área e responsável pela formação teórica e prática de outros terapeutas, como a autora deste artigo.

Para saber mais:


 
Cristiano Nabuco é psicólogo e atua em consultório particular há 27 anos, em São Paulo. O seu enfoque terapêutico fundamenta-se na
perspectiva construtivista de Leslie Greenberg, descrita antes. Participa do Ambulatório Integrado dos Transtornos do Impulso (PRÓ-
AMITI) e, anteriormente, foi coordenador da equipe de psicólogos do Ambulatório de Transtornos Alimentares (PRÓ-AMBULIM) no
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). Tem oito livros publicados sobre
psicologia e saúde mental, entre outros trabalhos científicos. De 2009 a 2011, como Presidente da Federação Brasileira de Terapias
Cognitivas (FBTC), pode, também, contribuir para a divulgação da TC no País.

Outro importante nome no Brasil é a psicóloga Mireia Casademunt Roso. Mestre pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUCSP), coordenadora dos programas psicológicos do Grupo de Doenças Afetivas (GRUDA) do Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP, de
2001 a 2009, onde também desenvolveu projetos de pesquisa em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental. É psicoterapeuta cognitivo-
construtivista em seu consultório particular, atuando, principalmente, com transtorno do pânico, estresse pós-traumático e transtornos do
humor.

7. Os indivíduos interpretam os eventos de formas diferentes uns dos outros e não se pode dizer que nenhuma das perspectivas está
certa ou errada, pois são construídas pelos indivíduos e refletem a sua própria realidade. Sobre essa concepção de Kelly, analise
as afirmativas a seguir.
I – Foi chamada por ele de alternativismo cognitivo.
II – Aponta para a epistemologia construtivista ao entender que a realidade do indivíduo não retrata uma realidade externa passível
de correção.
III – Aponta para a epistemologia racionalista ao entender que os indivíduos interpretam os eventos.
Quais estão corretas?

A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a III.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Confira aqui a resposta

8. Para Guidano, existem dois tipos de processamento da experiência humana, que são

A) a experiência motora e a linguagem.


B) a experiência imediata e a explicação.
C) o processamento cognitivo e o comportamento verbal.
D) a vivência perceptiva e a ação no mundo.
Confira aqui a resposta

9. Correlacione os teóricos do construtivismo terapêutico da coluna da esquerda com as proposições da coluna da direita.

(1) George ( ) Criador da logoterapia ou terapia do sentido da vida, também chamada de Terceira Escola Vienense da
Alexander Psiquiatria.
Kelly ( ) Em sua obra escrita em dois volumes, a The Psychology of Personal Constructs, apresenta a sua tese dos
(2) Michael J. constructos pessoais, a TCP.
Mahoney ( ) Desenvolveu uma teoria psicológica explicativa que leva em consideração o caráter evolutivo e as formas
(3) Vikt E il i d f i i di f i i d i i OSP
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(3) Viktor Emil organizadoras funcionais e disfuncionais do psiquismo, as OSP.
(home)
Frankl ( ) Criou a EFT com Sue Johnson.
(4) Vittorio F. ( ) Desenvolveu estudo sobre o autocontrole e a forma como os profissionais da ajuda sofrem mudanças ao
Guidano ajudarem pessoas a mudar.
(5) Leslie S.
Greenberg

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

A) 3 – 1 – 4 – 5 – 2.
B) 5 – 3 – 1 – 2 – 4.
C) 2 – 1 – 4 – 5 – 3.
D) 3 – 2 – 5 – 4 – 1.
Confira aqui a resposta

■ DIMENSÕES DA PRÁTICA CLÍNICA


Quanto às dimensões da prática clínica, tratam-se, a seguir, da atuação do terapeuta cognitivo-construtivista e das técnicas na terapia
cognitivo-construtivista.

ATUAÇÃO DO TERAPEUTA COGNITIVO-CONSTRUTIVISTA

O enfoque teórico pós-racionalista, brevemente descrito até aqui, produz mudanças significativas nas perspectivas tradicionais sobre a
metodologia terapêutica.

Uma dessas mudanças significativas nas perspectivas tradicionais sobre a metodologia terapêutica diz respeito ao papel do terapeuta, o
qual, ainda que permanecendo como autoridade profissional, nunca pode estar seguro de que sabe o que está errado ou o que seria melhor
para o seu cliente.
Mahoney deixa clara essa nova perspectiva, dizendo:8
Na medida em que os profissionais de saúde mental acreditam que o seu papel seja o de “corrigir”
percepções ou adaptações a uma realidade objetiva, os seus serviços necessariamente terão uma conotação
de superioridade. Na medida em que esses profissionais possam apreciar a complexidade e a individualidade
da experiência pessoal, eles poderão se sentir paralisados ante os limites do seu poder em “saber o que é o
melhor” para qualquer cliente dos seus serviços.

Corroborando essa afirmação, Guidano1 acrescenta que, ao se considerar que os “fatos” correspondem à experiência imediata do cliente,
as suas explicações e narrativas proporcionam maneiras de autorreferenciá-los para torná-los compreensíveis e integrados ao self. A
experiência imediata indica a maneira habitual de um determinado indivíduo ser no mundo e, dessa forma, nunca poderia estar errada. As
explicações sobre as experiências podem estar em desalinho com a experiência imediata e causar sofrimentos. Portanto,
se o ordenamento da realidade na experiência pessoal é uma construção autorreferente (como sustentam os
construtivistas), então um terapeuta não pode invocar nenhum ponto de vista externo objetivo pelo qual
avaliar correção, realismo ou racionalidade de um cliente em adaptação.1

Outra mudança importante nas práticas terapêuticas pós-racionalistas diz respeito à neutralidade do terapeuta. Admite-se que não há
neutralidade, pois o profissional sempre está presente na relação terapêutica trazendo toda a sua história e emocionalidade, as quais
influenciam a sua experiência imediata frente o que lhe é apresentado pelo cliente e a sua percepção sobre este. Mahoney salienta que
“tampouco pode ele ingenuamente acreditar que as próprias experiências ou percepções sejam esforços de conhecimento livres de todo
preconceito (ou que sejam menos preconceituosos)”.17
Diferentemente da distância emocional prescrita pelos primórdios da teoria psicanalítica ortodoxa, aqui, a presença emocional do terapeuta
é considerada um fator facilitador poderoso nos processos de mudança. Contudo, Mahoney17 alerta para o fato de que manter essa presença
é, com frequência, um desafio exaustivo para o psicoterapeuta, ainda mais quando se considera a relação terapêutica como um dos recursos
de maior importância no processo de mudança do cliente:4
Na verdade, seria possível argumentar-se que os terapeutas têm a obrigação de se engajar em tal
introspecção [compreender a qualidade de seu relacionamento com um cliente]. A qualidade da experiência
do terapeuta pode, dessa forma, ser utilizada para facilitar o desenvolvimento de uma relação de papéis com
o cliente. Os terapeutas que ignoram sua própria experiência no relacionamento podem retardar
significativamente a sua habilidade em ajudar seus clientes.

Exemplo clínico 1
J A f i i 26
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d id d ái t t t i iát i d d 15 d d d ã10/19
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J. A., sexo feminino, (home)
26 anos de idade, passou por vários tratamentos psiquiátricos desde os 15 anos, com quadro de depressão
grave. Conta que, aos 6 anos, a sua mãe a colocou no colo e disse-lhe que era filha adotiva, sem maiores explicações a respeito. J.
A. desceu do colo da mãe e retornou para a brincadeira com os colegas que estavam em sua casa. Lembra-se de sempre ouvir
algum tipo de comentário dos vizinhos, dos professores e dos parentes que faziam alusão a ela ser adotiva.
Carregava uma história de relacionamentos amorosos conturbados e intensos. Durante o processo terapêutico, engravidou do
namorado, com quem se casou. No entanto, vinha tendo constantes atritos com ele e com os pais, ao ponto de o marido, algumas
vezes, agredir-lhe fisicamente e de os pais ameaçarem não cuidar mais dela com apoio emocional e recursos financeiros.
A terapeuta, aos poucos, começou a vivenciar um “desconforto” quando tomava conhecimento que era dia do atendimento de J. A.
Até que, em uma sessão ocorrida em dia quente de verão, a cliente se apresentou vestindo blusa de lã, calça e chinelo (pés suados),
que era descalçado para que ela se deitasse no sofá, o que sempre fazia, apesar de saber que não se tratava de uma terapia
psicanalítica que se utilizava de divã. Neste dia, a reação vivencial da terapeuta foi clara: raiva! Era o que sentia por J. A., em função
dessa e de outras atitudes repetidamente tomadas por ela (como, por exemplo, desmarcar as sessões em cima da hora ou não
comparecer).
Durante um tempo, a terapeuta precisou avaliar essa reação vivencial, de forma a entender o que a provocava: processos do seu
próprio self ou da cliente? De ambas? Ao ter claro para si o significado dessa reação, em momento apropriado de uma sessão
terapêutica, a profissional perguntou a J. A. se ela tinha consciência dos sentimentos que poderia estar provocando nas pessoas com
quem convivia.
Como já esperava, teve a resposta negativa. Então, sem a vivência da raiva naquela hora, a terapeuta comunicou-lhe o que se
passava consigo em relação a ela e, em seguida, disse-lhe que tinha a hipótese de que o mesmo poderia acontecer com o seu
marido, com os seus pais e outras pessoas, relembrando-lhe cenas que J. A. já havia lhe narrado.
Aos poucos, a cliente levantou-se do sofá, permanecendo sempre sentada a partir de então. Concordou com a hipótese da terapeuta,
descrevendo outros episódios de conflitos com pessoas significativas, as quais tinham sempre uma reação de rejeição a ela. Tal
reação provocava uma emoção de raiva em J. A., cuja vivência não havia sido autorizada e, portanto, conscientizada até aquele
momento. J. A. explica: “Como posso perceber que sinto raiva dos meus pais, que me deram um lar, ou do meu marido que me
aceita com todos estes problemas. Isso me entristece!”
Ao entender e compartilhar adequadamente a sua reação vivencial diante das atitudes de J. A., a terapeuta proporcionou que ela
tomasse consciência das suas emoções e dos seus padrões desadaptativos de relacionamento.

Comentários sobre o exemplo clínico 1


O exemplo clínico 1 ilustra bem o fato de que, na terapia cognitivo-construtivista, as reações subjetivas do terapeuta, ocorridas no
relacionamento com o cliente, fundamentam-se em construções a respeito daqueles e do outro. Quando interpretadas de forma apropriada,
essas reações podem revelar ao profissional dados importantes a respeito deles e dos seus clientes, além de permitirem um acesso mais
profundo aos significados pessoais e às elaborações terapêuticas desses significados.18
Para explicar melhor a questão da proximidade e do distanciamento ideais entre terapeuta e cliente, Leitner18 usa a expressão ótima
distância terapêutica. “A expressão implica em se estar próximo o suficiente do outro, para poder experienciar seus sentimentos, ao mesmo
tempo em que se está distante o bastante para reconhecê-los como sendo do outro – e não os do próprio terapeuta”.
Sabendo disso, o terapeuta deve “tomar de empréstimo” o sistema de conhecimento pessoal do cliente, ou seja, suas “lentes”, para tentar
ver o mundo e o problema tal como este.
A isso se soma uma atitude inquiridora – uma curiosidade ou fascinação com a perspectiva do cliente e suas
implicações. A partir daí, o terapeuta desenvolve um tipo de empirismo colaborador, estabelecendo um
relacionamento ativo que transporta uma vontade de unir-se ao cliente, em um processo exploratório que
pode procurar testar ou transcender as limitações da visão de mundo pessoal do cliente.19

Portanto, para os construtivistas, a natureza da relação terapêutica é uma questão importante nesse processo e é concebida como um
grande recurso das terapias pós-racionalistas. É ela quem permite e contextualiza as intervenções, ao ser uma base segura, por meio da
qual o terapeuta pode acelerar e/ou guiar os processos de mudança do cliente. Como notou Kelly:19
Os relacionamentos entre terapeuta e cliente e as técnicas empregadas podem ser tão variados quanto todo
o repertório humano de relacionamentos e técnicas... É a orquestração das técnicas e a utilização dos
relacionamentos no processo contínuo do viver e o aproveitamento da experiência que faz da psicoterapia
uma contribuição para a vida humana.

A natureza da relação terapêutica implica a responsabilidade assumida pelo terapeuta construtivista pela realidade criada entre ele e
o cliente, podendo, assim, cometer falhas no empreendimento confiado a ele, ou seja, o crescimento do cliente.
Nesse contexto, é também o terapeuta o maior responsável pelo manejo do processo de mudança do cliente, entendendo os mecanismos
autoprotetores normalmente acionados por ele, diante da ansiedade causada pela ameaça de mudança da sua já conhecida visão de
mundo, como explica Neimeyer:19
Para a maioria dos construtivistas, o self constitui uma unidade organizada de significados, e os eventos que
sinalizam profundas mudanças naquele sistema são ameaçadores. Denominadas de diferentes formas, como
“sistemas de construtos pessoais” (Kelly, 1955), “organizações de significados pessoais” (Guidano, 1991),
“estruturas cognitivas” (Liotti, 1987) e “processos de organização profunda” (Mahoney, 1991), essas redes
interligadas de significados são direcionadas a constituir o indivíduo.
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20/04/2019 Portal Secad

(home)

10. Quanto à atuação do terapeuta cognitivo-construtivista, assinale a alternativa correta.

A) O enfoque teórico pós-racionalista não produz mudanças significativas nas perspectivas tradicionais sobre a metodologia
terapêutica.
B) O terapeuta cognitivo-construtivista deve estar seguro de que sabe o que está errado e o que seria melhor para o seu cliente.
C) Na terapia cognitivo-construtivista há neutralidade, pois mesmo que o profissional sempre esteja presente na relação
terapêutica, ele não traz a sua história e emocionalidade para a terapia.
D) Na terapia cognitivo-construtivista, a presença emocional do terapeuta é considerada um fator facilitador poderoso nos
processos de mudança.
Confira aqui a resposta

11. Você concorda com a atuação do terapeuta no exemplo clínico 1? Justifique.

12. Na terapia cognitivo-construtivista dá-se atenção especial à relação entre o cliente e o terapeuta. Sobre esse tema, analise as
afirmativas a seguir.
I – Nas terapias pós-racionalistas, as reações subjetivas do terapeuta em relação ao cliente, quando interpretadas apropriadamente,
podem revelar dados importantes que permitem um acesso mais profundo aos significados pessoais e às elaborações
terapêuticas destes.
II – Para os construtivistas, a relação terapêutica é vista como um grande recurso das terapias, por meio da qual se pode acelerar e
guiar os processos de mudança do cliente.
III – A expressão “ótima distância terapêutica” quer dizer que o profissional deve ser neutro, abstendo-se das suas reações
emocionais no manejo do processo de mudança do cliente.
IV – A experiência imediata nunca está errada, uma vez que expressa a maneira de um determinado indivíduo ser no mundo.
Quais estão corretas?

A) Apenas a I, a II e a III.
B) Apenas a III e a IV.
C) Apenas a I, a II e a IV.
D) A I, a II, a III e a IV.
Confira aqui a resposta

TÉCNICAS NA TERAPIA COGNITIVO-CONSTRUTIVISTA


Em geral, os terapeutas pós-racionalistas respeitam o conflito entre manter e renunciar a padrões pessoais de significado e procuram utilizar
métodos para explorar as perspectivas alternativas antes de o cliente abandonar as existentes.
O desenvolvimento de um seguro “mundo de faz-de-conta” em terapia é um meio de cultivar as estruturas
alternativas de significados. O ponto principal do faz-de-conta é a linguagem da hipótese. [...] O uso dessa
linguagem, o desenvolvimento e a exploração de significados alternativos pode ocorrer lado a lado dos
significados existentes, ao invés de substituí-los. É a segurança, associada à preservação dos significados
existentes, que frequentemente capacita a exploração de novos.19

Contudo, esses terapeutas não se preocupam tanto com a técnica, já que entendem ser o relacionamento terapêutico o fator mais importante
para a mudança humana. Por isso, as técnicas são tomadas como recursos para pontuar, iniciar ou reorganizar a experiência, de forma
coconstruída com o cliente, dentro de um contexto específico. Para Neimeyer,19
a mudança humana ocorre em menor grau pela aplicação de uma determinada técnica em si do que pelo
significado que resulta de seu uso no processo terapêutico. De um modo direto, portanto, uma técnica não
“faz” nada por uma pessoa; sem dúvida, a pessoa faz alguma coisa com a técnica.

É comum que a auto-observação seja o método essencial para a realização das tarefas primárias de avaliação e tratamento, pois
proporciona os materiais necessários para uma reconstrução dos eventos de interesse terapêutico e age entre a experiência imediata
e a explicação simbólica. É diferenciada da introspecção, em que a dimensão imediata é privilegiada; e das técnicas de
automonitoramento, nas quais a dimensão explícita é mais importante.1
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(home)
Por meio da auto-observação, primeiramente, os clientes são treinados a distinguir a experiência imediata, as crenças e as atitudes
conscientes, para, depois, reconstruírem os seus padrões de funcionamento de forma mais adaptativa, ou seja, havendo coerência
entre os processos imediatos e os significados atribuídos a eles.
Na fase inicial da terapia, quando é necessário ensinar ao cliente a diferença entre a experiência imediata e as suas explicações para ele, o
caminho consiste em (a) reconstruir os padrões da experiência imediata, que ocorreram na situação, dando ênfase a uma concreta e
detalhada narrativa, e (b) reexaminar as emoções conscientemente experimentadas, enquanto o cliente revive a situação e especula a
respeito das suas regras de interpretação. Tudo isso pode ser reconstruído a partir do relato do cliente.
Além de considerar como eles falam consigo mesmos ou com os outros a respeito das suas emoções e de
como eles conceitualizam os sentimentos depois de um acontecimento, os clientes devem ser treinados a
focalizar-se na estrutura da sua experiência imediata, da maneira como ela se desdobra ao longo do curso da
situação perturbadora.1

Assistir a mesma cena carregada de emoções, repetidamente, em câmera lenta – avançando e retrocedendo o filme a partir de vários
pontos de vista –, também chamada de Técnica da Moviola, produz uma modificação na forma pela qual a cena é vista.
Portanto, há uma ressignificação da mesma cena, o que proporciona o surgimento de outras tonalidades emocionais. À medida que a
flexibilidade aumenta, o ponto de vista comum de si é gradativamente desafiado e novos aspectos do self tomam a cena. Ocorre, então, um
reordenamento da experiência imediata, “na qual os afetos negativos, previamente percebidos como estranhos e irreais, possam vir a ser
avaliados e tomados como reais, sendo as emoções pessoais um veículo de autorreferência para ter-se o sentido consciente de continuidade
e unicidade individual”.1 Para tanto, é necessário que os terapeutas desencadeiem mudanças progressivas nos padrões atuais de
autoconsciência, aumentando a compreensão dos clientes sobre os caminhos nos quais eles participam tacitamente para a ordenação do
fluxo de suas experiências.

Considerando que os indivíduos são os autores da própria experiência, a forma narrativa pela qual organizam essas experiências
torna-se um foco central da psicoterapia. Por isso, dá-se atenção às formas mais literais da atividade narrativa dos clientes, como
diários, anotações pessoais ou outras formas de escritos reflexivos, aos quais muitos já se dedicam espontaneamente, inclusive.
Pode-se dizer que a função das técnicas narrativas seria a ampliação do senso de construção da própria vida.19
Mahoney8 apresenta uma série de técnicas a serem utilizadas, mas salienta que elas precisam estar de acordo com as características do
terapeuta e em sintonia com o que está sendo experienciado pelo cliente no momento. Para ele, as técnicas não são habilidades isoladas ou
movimentos mecânicos, mas uma arte na qual o terapeuta as estrutura de maneira individualizada para cada cliente, em um contexto de
confiança e segurança. O objetivo das técnicas ou dos exercícios, como denomina Mahoney,8 é
o desejo de compreender melhor como é a pessoa a quem estou servindo – ou seja, experienciar o self (ou
selves), o(s) mundo(s) e as emoções que caracterizam sua vida. E, ao fazê-lo também ajudo o cliente a
explorar e desenvolver novas e mais satisfatórias compreensões e atitudes em relação a tal experiência.

Carta jamais enviada


Uma das técnicas apresentadas por Mahoney é chamada de carta jamais enviada. Sabendo que não irá entregar a carta, o cliente é
convidado a escrever tudo o que gostaria que a pessoa, com quem está vivendo algum conflito, soubesse. Feito isso, ele é
novamente convidado a escrever uma segunda carta, imaginando-se no lugar da pessoa que a recebeu e que, agora, está
respondendo-a. Por fim, o cliente escreverá uma terceira carta da forma como ele gostaria de recebê-la. Após isso, terapeuta e
cliente poderão explorar os conteúdos narrativos surgidos.
No setting terapêutico, essa técnica pode ser utilizada de várias formas, conforme a demanda do cliente, como pode ser visto a seguir
(exemplos clínicos 2 e 3).

Exemplo clínico 2

M. B., 52 anos de idade, tratado há muitos anos para transtorno bipolar, tem se sentido muito angustiado em função da sua
separação com a esposa: “É uma dor que não me deixa nem respirar”, diz ele. Em um dos momentos de grande sofrimento, M. B.
escreveu uma carta (transcrita literalmente a seguir) e a levou na sua próxima sessão.
Oi, Linda.

Quero começar esta com dois dizeres que me abriram os olhos e o coração em relação a você. O primeiro diz
o seguinte: “Quem não te procura, não sente sua falta. Quem não sente sua falta, não te ama. O destino
determina quem entra na sua vida, mas você decide quem fica nela. A verdade dói só uma vez. A mentira dói
cada vez que você se lembra dela. Então, valorize quem valoriza você e não trate como prioridade quem te
trata como opção”. O segundo dizer: “Valorize quem nas horas mais difíceis esteve ao seu lado quando
ninguém jamais esteve”.

Sabe, Linda, percebi claramente que minha proposta de darmos um tempo foi para você um refrigério, ou
seja, um alívio, porque senti que estava sendo demasiadamente insistente em ter um breve e passageiro
momento de sua atenção e carinho. No primeiro dizer, fala “quem não sente sua falta, não te ama”. Quanto a
isso você deixou bem claro: “anjo, eu não gosto de você como você gosta de mim”. Dizer “tenho um carinho e
afeto muito especial por você” é uma forma de manter algum contato e é cômodo para você.

Continuando a interpretação do primeiro dizer, “a verdade dói só uma vez, a mentira dói cada vez que você
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Continuando a interpretação do primeiro dizer, a verdade dói só uma vez, a mentira dói cada vez que você
(home) lembra”: a verdade é que você não faz mais parte da minha vida por opção sua e se você fizer um exame de
consciência verá que, desde que resolvemos nos casar com aquele suntuoso casamento que se iniciou com
uma dívida de R$25.000,00, é que seu emocional começou a degringolar, mas você justifica isso pelo meu
uso da maconha. Que desculpa estúpida e imatura, lembrando que você conhece pessoas bem próximas que
usam até hoje e nem por isso você está em crise. Desculpa sua para uma covardia de nunca mais querer
encarar meus pais diante de uma dívida acumulada de mais de R$100.000,00, fora o seu segundo grau e o
curso de gastronomia custeado por eles. Também tem sua família que me virou as costas, e tudo começou
por você. Tenho plena consciência que influenciei a nós dois com tamanha dívida e, nem por isso, acovardei-
me perante meus pais, sendo eles a única tábua de salvação que tínhamos. E você ainda insiste em gritar
aos quatro ventos: “Saí com uma mão na frente e outra atrás”. Reflita um pouco e verá quem ficou na pior.
Será que sua família sabe destes “pequenos” detalhes? Claro que não, uma vez que você se colocou como
vítima de 14 anos de um convívio que, deixo explícito, você não foi minha baby sitter, mas minha esposa,
como eu fui seu esposo. Tive meus altos e baixos em função de minha bipolaridade, o que você hoje sabe na
sua própria pele. Procure saber de sua psicóloga ou do seu psiquiatra o que é transtorno histriônico e você se
verá no espelho. Não é ruim saber o diagnóstico que recebemos, e saiba que tem tratamento, como eu
também tenho.

No momento, você quer viver sua vida do jeito que ela está e, pode ter certeza, eu não serei mais nenhum
tipo de empecilho, pois, de agora em diante, estou me desligando de você para sempre. Quando no dizer
acima diz “a mentira dói cada vez que você lembra”, interpreto como seu desamor por mim. Vai doer muito
me afastar de você, mas sei que tenho peito para aguentar seguir em frente e conquistar um verdadeiro e
novo amor. Como fala acima, não te tratarei como prioridade, pois você me trata como opção. Tenho certeza
que existe alguém muito especial reservada para minha vida e sei que esse alguém não é você. Espero que
se cuide e se trate, buscando sempre auxílio das pessoas competentes para te ajudar.

Concluindo com a segunda parte, sei que Deus Pai reserva alguém que me valorize como mereço; não
alguém que só fala que tem gratidão, carinho, afeto e outras coisas mais, menos amor.

Adeus, minha Linda, adeus, meu Anjo, e até o dia em que for marcado o divórcio.

Após lida a carta, ele disse: “Sabe o que vou fazer com essa carta?” Em seguida a amassou. Explicou que não iria entregá-la porque
seria uma forma de ofender a ex-esposa e de tentar receber dela uma resposta.
Neste momento, a terapeuta pediu que ele se colocasse no lugar da ex-esposa, como se ela estivesse recebendo a carta e a
respondesse. Segundo M. B., ela responderia dizendo não entender o motivo dessa carta e que o estava estranhando. Como ele
mesmo sinalizou, a terapeuta pediu, então, que dissesse qual resposta gostaria de receber: “Que ela falasse sobre o desejo de
querer voltar para mim e de retomar o casamento”, revelou.
Toda essa narrativa, explicitada pela sua própria necessidade de escrever uma carta dirigida a ex-esposa, possibilitou o contato de M.
B. com a sua angústia, que era tão somente um aviso da existência de emoções negligenciadas pelo cliente: o medo da solidão, a
raiva, a rejeição, a tristeza pela perda. A terapeuta, então, disse a ele: “Se você pudesse sentar sua angústia aqui (aponta a cadeira),
qual forma ela teria?”.
O cliente, à vontade com a situação, demonstrando perceber a relação com a terapeuta que lhe assegurava a possibilidade de fazê-
lo, respondeu que a angústia tinha a forma de uma pessoa escondida debaixo de um pano preto. Foi-lhe sugerido que a
cumprimentasse, pedisse desculpas a ela pelas tantas vezes que ele a negligenciou e perguntasse o que ela queria lhe dizer. M. B. o
fez em silêncio e respondeu: “Ela disse que estou sentindo essa solidão porque me isolei e parei de participar das coisas que gosto”.
A terapeuta, então, pede que M. B. pergunte à angústia o que ele deveria fazer para que ela diminuísse. Rapidamente ele responde:
“Que eu retome a minha vida”. Ao ser questionado se ele concordava em fazê-lo, respondeu que sim e que, apesar da sua
dificuldade no momento, sabia que poderia tentar. A terapeuta pede que ele comunique à angústia sobre a sua dificuldade e ele diz:
“Ela fala que eu tenho valor”. Ao final, a angústia sentada na cadeira sorri para ele, que a agradece pelas mensagens.
Esta é a descrição de uma técnica escolhida durante a sessão, em sintonia com o tema e a vivência do cliente. Foi uma dramatização
que o possibilitou aprender a entrar em contato com as suas emoções de forma vivencial.

Projeto de revisão de vida


Outra técnica é o projeto de revisão de vida, na qual o cliente irá escrever em cartões ou folhas de papel cada ano da sua vida, a
partir de um ano antes do seu nascimento. Poderão ser anotados eventos, memórias, impressões vagas ou associações
relacionadas com cada ano. Fotografias, boletins escolares ou outros documentos costumam ser adicionados e/ou são consultadas
outras pessoas, como pais, irmãos, amigos etc. Cumprida essa etapa, o terapeuta pede ao cliente que disponha a sua vida de forma
a percorrer sobre ela, selecionando os episódios que lhe chamam mais atenção. Assim, ele poderá narrar os seus sentimentos, dizer
sobre os significados dos episódios escolhidos e perceber os padrões do seu próprio funcionamento.

Linha da vida
A técnica do projeto de revisão de vida é semelhante à linha da vida, em que se pede ao cliente para marcar os episódios mais
importantes ou mais significativos em uma linha que representa a sua história de vida desde o nascimento até o aqui e agora. Da
mesma forma, tendo construído essa linha, o terapeuta pede ao cliente que percorra sobre ela, detendo-se sobre aqueles episódios a
respeito dos quais ele quer descrever, narrar, explorar.

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Cadeira vazia
As dramatizações, na terapia cognitivo-construtivista, proporcionam ao cliente a mudança na sua perspectiva ao desempenhar um
papel diferente do que está vivenciando ou já vivenciou em suas relações. Pode-se convidá-lo a assumir o papel de outra pessoa (por
exemplo, familiares, cônjuge, colegas de trabalho) como se fosse ela, tentando responder e agir como ela. Feito isso, pede-se que o
cliente novamente reassuma o seu papel frente ao personagem interpretado, agora com a experiência de ter vivenciado a perspectiva
deste.
Tal técnica também é conhecida como cadeira vazia (ver exemplo clínico 3). Outras formas de dramatizações podem ser utilizadas, como
propor que o cliente assuma o papel do terapeuta enquanto este consulta outro terapeuta a respeito do próprio cliente.19

Exemplo clínico 3

L. P., homem de 35 anos de idade, passou seis anos nos Estados Unidos (EUA), para onde foi a convite do irmão mais velho que já
residia lá há muito. Nesse tempo, o cliente cursou um Master of Business Administration (MBA) e trabalhou em uma importante
empresa de renome mundial. Teve algumas namoradas, sem pretensões de se comprometer seriamente, pois pretendia retornar ao
Brasil e constituir família aqui. Quando o fez, logo procurou a terapia para resolver quatro questões assim enumeradas por ele: 1) a
relação com o pai; 2) a sua colocação profissional no Brasil; 3) a conquista de uma relação de casamento; e 4) a sua baixa
autoestima.
A prioridade dada à relação com o pai deve-se ao fato de L. P. o responsabilizar pela sua atitude de “fugir” de casa, saindo do País. O
cliente via seu pai como um homem fraco e ausente que não o defendeu das atitudes agressivas e autoritárias do irmão mais velho,
deixando-o sem saída, a não ser a de submissão a este. No entendimento de L. P., o não reconhecimento da figura paterna como
geradora de um vínculo seguro fez com ele transferisse essa imagem para o irmão mais velho. Motivo pelo qual, inclusive, L. P.
aceitou o convite para ir para os EUA morar com ele.
Ao narrar essa história, L. P. demonstrou claras reações vivenciais de raiva e, percebendo isso, a terapeuta propôs que imaginasse a
presença do pai ali no consultório, assentado na cadeira ao lado. Diante do consentimento do cliente, pediu que ele contasse toda
essa mesma história ao pai. Feito isso, pediu que ele mudasse de cadeira, assumindo o lugar do pai e respondesse como este o
faria. Conforme L. P., o pai iria, simplesmente, balançar a cabeça e convidá-lo para comer uma pizza. Isso foi dito com perceptível
sentimento de frustração.
Voltando ao seu lugar, L. P. novamente conversa com o pai dizendo-lhe o quanto gostaria que ele reconhecesse a sua ausência e as
consequências disso para a sua formação desde a infância. Neste momento, a terapeuta perguntou a L. P. se, a partir do que
conhece do funcionamento do pai, este teria habilidades e competências para tanto. Admirado, o cliente disse que nunca havia
pensado nisso, mas que reconhece a impossibilidade de o pai fazê-lo, fundamentando-se na história de vida dele, a qual passou a
narrar.
Depois disso, L. P. só voltou a falar do pai quando a terapeuta quis saber como ele estava em relação ao seu primeiro objetivo na
terapia: “Estou muito paciente com ele, porque hoje sei que tenho mais recursos para melhorar nossa relação. Temos até ido ao
campo de futebol juntos!”.
Sabe-se que a mudança psicológica significativa, raramente, é rápida ou fácil. Portanto, como diz Neimeyer (1997), “todos esses
métodos têm em comum a qualidade de serem relativamente não diretivos e convidativos, encorajando o cliente a cultivar uma
sensibilidade poética pessoal necessária para ‘falar ao ser’ sobre os novos mundos de possibilidades”.

13. Em relação às técnicas na terapia cognitivo-construtivista, analise as afirmativas a seguir.


I – É comum que a auto-observação seja o método essencial para a realização das tarefas primárias de avaliação e tratamento, pois
proporciona os materiais necessários para uma reconstrução dos eventos de interesse terapêutico e age entre a experiência
imediata e a explicação simbólica.
II – A auto-observação é distinguida da introspecção, em que a dimensão imediata é privilegiada; e das técnicas de
automonitoramento, nas quais a dimensão explícita é mais importante.
III – Por meio da auto-observação, primeiramente, os clientes são treinados a diferenciar a experiência imediata e as atitudes
conscientes, para, depois, reconstruírem os seus padrões de funcionamento da forma menos adaptativa possível.
Quais estão corretas?

A) Apenas a I e a II.
B) Apenas a I e a III.
C) Apenas a II e a III.
D) A I, a II e a III.
Confira aqui a resposta

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14. Em relação às técnicas, Mahoney salienta que elas são “preditivos muito menos poderosos de mudança do que as características
de cliente e terapeuta (nesta ordem), combinadas com a qualidade do relacionamento humano”. Portanto, é correto afirmar que:

A) as técnicas padronizadas são instrumentos indispensáveis nas sessões de terapia cognitivo-construtivista.


B) as técnicas são recursos utilizados dentro de um contexto emocional seguro, de forma flexível e individualizada para cada
cliente.
C) as técnicas são utilizadas pelos terapeutas cognitivo-construtivistas com o objetivo de questionar a interpretação do cliente a
respeito da realidade.
D) as técnicas são instrumentos capazes de superar a importância da qualidade da relação terapêutica na terapia cognitivo-
construtivista.
Confira aqui a resposta

15. Correlacione as técnicas de terapia da coluna da esquerda com as informações sobre elas que estão na coluna da direita.

(1) Carta jamais ( ) O cliente poderá narrar os seus sentimentos, dizer sobre os significados dos episódios escolhidos e perceber
enviada os padrões do seu próprio funcionamento.
(2) Projeto de ( ) As dramatizações proporcionam ao cliente a mudança na sua perspectiva ao desempenhar um papel
revisão de diferente do que está vivenciando ou já vivenciou em suas relações.
vida ( ) Nessa técnica, pede-se ao cliente para marcar os episódios mais importantes ou mais significativos em uma
(3) Linha da vida linha que representa a sua história de vida desde o nascimento até o aqui e agora.
(4) Cadeira ( ) No setting terapêutico, essa técnica pode ser utilizada de várias formas, conforme a demanda do cliente.
vazia

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

A) 4 – 2 – 3 – 1.
B) 3 – 1 – 2 – 4.
C) 2 – 1 – 4 – 3.
D) 2 – 4 – 3 – 1.
Confira aqui a resposta

16. Você concorda com o procedimento da terapeuta no exemplo clínico 2? Justifique.

17. Você concorda com a técnica utilizada no exemplo clínico 3? Justifique.

■ PARALELO ENTRE AS TERAPIAS COGNITIVAS RACIONALISTAS E A TERAPIA


COGNITIVO-CONSTRUTIVISTA
As diferenças entre as terapias cognitivas racionalistas e a terapia cognitivo-construtivista começam a surgir no início da década de 1980,
quando, segundo Mahoney,4 tornava-se “mais evidente que o modelo de aprendizagem e psicopatologia adotados por psicoterapeutas
cognitivos de tendência racionalista era fundamentalmente diferente daquele expresso nas terapias cognitivas com ênfases epistemológicas,
evolutivas e de processos auto-organizadores”.
Em muitas psicoterapias não construtivistas, como já foi dito, o conhecimento reflete uma correspondência válida entre as representações do
conhecedor e a verdadeira natureza do objeto de conhecimento. Trata-se da ênfase na objetividade, na validação do conhecimento, no
pensamento e no papel fundamental do contato com a realidade na psicopatologia e na psicoterapia.

O psicoterapeuta construtivista não acredita na existência de apenas uma avaliação da realidade e que o conhecimento possa ser
validado por qualquer autoridade inequívoca e absoluta. Ao contrário, pressupõe que a realidade é uma construção sucessiva da
individualidade do indivíduo, na tentativa de ordenar a experiência dele. Assim, as construções cognitivas são fruto de uma
organização emocional desenvolvida tacitamente sobre a realidade.
Para os terapeutas racionalistas, então, a irracionalidade é a fonte básica de toda disfunção; o raciocínio lógico e as crenças explícitas
guiam as emoções e os comportamentos. O objetivo central para uma psicoterapia eficaz é, pois, a substituição dos padrões irracionais por
padrões racionais de pensamento, corrigindo-se as disfunções do pensamento, já que as emoções e disfunções são derivadas dos padrões
de pensamento pautados nas crenças centrais.

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(home)como alguém se sentirá, mas o juízo de valor é que provocará uma resposta emocional específica. A
Assim, os eventos não determinam
função desta, inclusive, é a de indicar ao profissional a presença de pensamentos ou crenças associados e torna-se disfuncional quando
decorrente de pensamentos irrealistas ou absolutistas. Nesse sentido, a reflexão racional e um exame realista dos pensamentos e/ou das
crenças disfuncionais oferecem condições de reparar as emoções em desalinho.
Por sua vez, os terapeutas construtivistas adotam a concepção de uma cognição pró-ativa, em vez de reativa ou representativa, e
desenvolvem um modelo de sistema complexo, no qual pensamento, sentimento e comportamento são expressões interdependentes.

As emoções são entendidas como processos primitivos e poderosos de conhecimento que refletem a organização e a
desorganização da experiência individual; influenciam os pensamentos na formação do significado e na experiência; não são
racionais nem irracionais, mas adaptativas.

Nas terapias pós-racionalistas, portanto, não são as emoções que nos afligem, mas sim a dificuldade de as pessoas entendê-las.
Frente a isso, os terapeutas devem auxiliar os clientes na construção de significados, utilizando as emoções como ponto de partida, e
não os pensamentos, como nas terapias racionalistas.
Por isso, para os construtivistas, as psicopatologias ocorrem quando as pessoas não se sentem autorizadas a reconhecer, sentir ou
legitimar determinadas emoções, as quais não são fonte de sofrimento e desequilíbrio, mas sim as interpretações dessas emoções. O
indivíduo sente-se desorientado quando a síntese entre sentir e pensar apresenta-se de maneira contraditória e os padrões desadaptativos
refletem as suas tentativas de adaptação e desenvolvimento.
Para os terapeutas racionalistas, a psicopatologia é o resultado de crenças excessivamente disfuncionais ou de pensamentos
demasiadamente distorcidos, que, em atividade, teriam a faculdade de influenciar o humor e o comportamento, enviesando a percepção da
realidade. As emoções resultam de padrões distorcidos e irracionais de pensamento geradores da patologia.

Quanto ao procedimento terapêutico, as diferenças entre os dois tipos de profissionais residem na ênfase dada pelos racionalistas na
ressignificação dos padrões negativos do pensamento e na ênfase dos pós-racionalistas na experiência e na expressão apropriada
das emoções, assim como na exploração do seu desenvolvimento (funções passadas e presentes na história de vida de cada um).
Para a melhor compreensão das diferenças entre as duas abordagens terapêuticas, reporte-se ao Quadro 2.
Quadro 2

CARACTERIZAÇÃO DOS MODELOS COGNITIVISTAS E CONSTRUTIVISTAS DE PSICOTERAPIA


Teoria Conceito de Papel das emoções Patologia Tratamento
realidade

Cognitivista A realidade é As emoções são derivadas dos As emoções negativas A ênfase está na eliminação, no
externa, podendo pensamentos e das imagens mentais, resultam dos padrões controle ou na substituição dos
ser objetivamente assim como da interpretação das distorcidos e irracionais de padrões negativos do pensamento.
observada e situações de vida. pensamento (geradores da Propõe-se a identificação, seguida da
acessada. É patologia). alteração dos padrões irracionais por
singular, estável e padrões mais lógicos e realistas.
universal.

Construtivista A realidade é uma As emoções são processos primitivos e Os padrões desadaptativos A ênfase está na experiência e na
construção poderosos de conhecimento que ou dolorosos da expressão apropriada das emoções,
sucessiva do próprio refletem a organização e a experiência emocional assim como na exploração do seu
indivíduo para desorganização da experiência refletem as tentativas desenvolvimento (funções passadas e
organizar a sua individual. Influenciam os pensamentos individuais (porém presentes na história de vida de cada
experiência. É na formação do significado na imperfeitas) de adaptação e um).
múltipla por experiência. desenvolvimento.
natureza.

Fonte: Abreu e Roso (2003).3

18. Nas terapias pós-racionalistas:

A) o que aflige as pessoas são as emoções.


B) o que aflige as pessoas é a dificuldade de entender as emoções.
C) a construção de significados usa os pensamentos como ponto de partida.
D) adota-se a concepção de uma cognição reativa ou representativa.
Confira aqui a resposta

19. Quanto à caracterização dos modelos cognitivistas e construtivistas de psicoterapia, assinale V (verdadeiro) ou F (falso).
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( ) Na teoria cognitivista, a realidade é externa, podendo ser objetivamente observada e acessada. É singular, estável e universal.
( ) Na teoria construtivista, as emoções negativas resultam dos padrões distorcidos e irracionais de pensamento (geradores da
patologia).
( ) Na teoria construtivista, as emoções são processos primitivos e poderosos de conhecimento que refletem a organização e a
desorganização da experiência individual.
( ) Na teoria cognitivista, a ênfase do tratamento está na experiência e na expressão apropriada das emoções, assim como na
exploração do seu desenvolvimento (funções passadas e presentes na história de vida de cada um).
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

A) V – F – V – F.
B) V – F – F – V.
C) F – V – F – V.
D) F – V – V – F.
Confira aqui a resposta

20. As metáforas são formas de compreender e significar o mundo. Portanto, após a leitura de todo o artigo, sinalize a alternativa que
representa a terapia cognitivo-construtivista:

A) Terapia da reconstrução narrativa, terapia da ciência pessoal e terapia da correção de disfunções.


B) Terapia da ciência pessoal, terapia da correção de disfunções e EFT.
C) Terapia da correção de disfunções, EFT e terapia da reconstrução narrativa.
D) EFT, terapia da reconstrução narrativa e terapia da ciência pessoal.
Confira aqui a resposta

■ CONCLUSÃO

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