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Como enfrentar o contrabando na fronteira Brasil/Paraguai:


reduzir tributos ou investir em cooperação internacional?
Micael Alvino da Silva1
Alexandre Barros da Costa2

» Apresentação » As teses abstratas

A Portaria 263, do Ministério da Justiça e No mercado nacional do seguimento de


Segurança Pública instituiu, em 23 de março cigarros de baixo custo, há um grande
de 2019, um Grupo de Trabalho (GT) “para concorrente: o cigarro produzido no Paraguai.
avaliar a conveniência e oportunidade da O motivo é o preço, já que um maço do
redução da tributação de cigarros fabricados cigarro contrabandeado é vendido a um preço
no Brasil, e, assim, diminuir o consumo de médio de R$2,40,4 enquanto que o
cigarros estrangeiros de baixa qualidade, o equivalente da marca brasileira custa em
contrabando e os riscos à saúde dele torno de R$5,75. Quem observa os dois
decorrentes”. Trata-se de especificamente do valores, pode concluir que a diferença de
cigarro produzido no Paraguai, na região da preço é fruto da concorrência desleal
Tríplice Fronteira, que ingressa como proporcionada pelo contrabando. Portanto, é
contrabando no Brasil. razoável que se busque alternativas para a
solução do problema.
Desde 2016, no âmbito da Universidade
Federal da Integração Latino-Americana, o Contudo, antes do contrabando ser um
Grupo de Pesquisa Tríplice Fronteira e problema, é preciso lembrar que o cigarro em
Relações Internacionais3 se dedica a estudar si é um problema de saúde em todo o mundo.
temáticas vinculadas fronteira, à região e à Dentre os esforços dos Estados e de
criminalidade transnacional. Este documento organismos internacionais como a
apresenta os resultados parciais de uma Organização Mundial da Saúde (OMS),5 o
pesquisa intitulada “A Tríplice Fronteira e os aumento de impostos sobre o cigarro é
Crimes Transnacionais”. A seguir, após considerado a forma mais eficaz de se
descartar as “teses abstratas”, argumentar-se-á dificultar o acesso ao produto.
que há duas tendências na análise do
problema do contrabando de cigarros De acordo com a Revista Forbes, em países
envolvendo o Brasil e o Paraguai: redução de de primeiro mundo, uma carteira de cigarro
tributo e investimento em cooperação chegou a custar 20 dólares em 2018. Nos
internacional. Ao final do texto, foram Estados Unidos, o preço médio foi de 7
apontadas quatro recomendações ao GT. dólares, próximo do valor praticado na
Alemanha. No Reino Unido, o maço de
cigarro custou 12,2 dólares e, no Brasil, o
preço foi de 2,2 dólares (em Israel o preço foi
de 9,7 dólares).
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O Brasil não inventou a taxação alta comunidade internacional e capaz de
para o cigarro com a finalidade de apresentar resultados no longo prazo. Esta
abordagem trata o consumo de cigarro como
diminuir o consumo. Trata-se de uma
um problema de saúde pública e de comércio
prática reconhecida e recomendada por
internacional.
especialistas e organismos internacionais.
Mesmo assim, graças ao cigarro de baixo
custo, o Brasil é um dos países do mundo Tese relativizada
onde o produto é altamente acessível às
classes populares. Dentre as dez maiores
economias internacionais, o país comercializa » O cigarro no Brasil é caro por
cigarro a um dos menores preços. Além disso, conta da alta carga tributária
a indústria nacional não descobriu uma brasileira.
fórmula para um “bom” cigarro. No Brasil e
no mundo, ainda não há cigarro que não traga
consequências nefastas para a saúde do Tese descartada
fumante.

O discurso de que o “mau cigarro” (indústria » Há o “bom” (indústria


paraguaia) “mata mais rápido” que o “bom brasileira) e o “mau” cigarro
cigarro” (indústria brasileira) é muito cruel (indústria paraguaia).
para uma sociedade que perde 7 milhões de
pessoas por ano para o tabagismo. Seriam as
próprias vítimas as culpadas por “morrer mais
rápido” ao optar pelo produto mais barato?

Dos mortos em 2018, pais, mães, filhos, » A abordagem nacional


esposos, etc. estariam entre nós por mais
tempo, caso mudassem a marca do cigarro?
Teria a sociedade brasileira perdido menos de O cigarro do Paraguai é produzido na Região
57 bilhões de reais com despesas médicas e Metropolitana de Ciudad del Este, área da
perda de produtividade econômica? Se Tríplice Fronteira entre Brasil, Argentina e
aceitássemos a tese do “mau” e do “bom” Paraguai. A diferença na carga tributária
cigarro, sendo que esse prolongaria a vida do nacional é o principal motivo pelo qual o
fumante, só nos restaria a alternativa de preço do cigarro paraguaio é mais barato que
combater o contrabando a qualquer custo.6 o brasileiro. O Instituto de Desenvolvimento
Econômico e Social de Fronteiras (IDESF),
O contrabando (junto com o descaminho) é usou dados de importação de tabaco pela
um problema que deve ser enfrentado pelo indústria paraguaia para estimar sua
Estado. Mas, não a qualquer custo como seria capacidade. Como resultado, se conclui que,
a redução drástica nos tributos, por exemplo. em 2014, um maço de cigarro custava em
Especificamente no que se refere ao cigarro média R$0,85 e a capacidade máxima de
produzido no Paraguai, há duas estratégias produção foi de 2,65 bilhões de reais.7
que merecem atenção.
De acordo com a OMS, em 2012 o
Por um lado, está a abordagem nacional que é
defendida por setores da indústria brasileira e
Brasil ocupava a 15ª posição entre os
apoiada na simpatia indiscriminada da países que mais taxam o cigarro no
sociedade com qualquer medida de redução mundo.
da carga tributária. Esta abordagem considera
o alto tributo como um problema. Por outro
lado, está a abordagem internacional que é
não é imediata, mas respaldada pela
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No continente americano, Chile, Uruguai,
Argentina, México e Canadá ficaram à frente
do Brasil.8 Naquele ano, a carga tributária
Descartados os tributos que
sobre o cigarro no Paraguai foi de 17% e no impactam na Previdência, o
Brasil de 63,15%. A proximidade física e a Governo Federal possui margem
atuação de contrabandistas levam a formação para reduzir somente o IPI.
de grupos criminosos com a finalidade de
explorar esta diferença e vender produtos Se os atuais 36% forem
mais baratos e potencializar seus lucros.9
reduzidos a 0%, o preço do
Nesta lógica, a indústria nacional brasileira cigarro será R$3,67 contra
fica em desvantagem. Observada de maneira R$2,40 do cigarro
simples, a fórmula mais eficiente para contrabandeado.
proteger a indústria nacional e combater o
contrabando seria reduzir o tributo do
Conclusão: nenhum impacto no
produto. No Brasil, há dois níveis de tributos
para o cigarro: o federal (IPI, contrabando; impacto negativo
PIS/PASEP/COFINS) e o estadual (ICMS). de R$5,12 bilhões nas contas
públicas.
Calculando a tributação pelo Regime Especial
ou Misto, sobre o preço de venda do maço do
cigarro incide uma carga tributária de
79,13%. O percentual é a soma de 36,17% de
IPI, 11% de PIS/PASEP/COFINS e 32% de
ICMS, no caso do estado de São Paulo. » A abordagem internacional

Diante dos argumentos expostos pelo


Ministério da Economia na proposta de Desde que o Governo do Brasil concedeu ao
reforma da Previdência, é preciso medidas Paraguai uma saída para o mar, o grande
para aumentar a receita daquela área no longo mercado do Sudeste do Brasil foi conectado
prazo. Então, é razoável que o Grupo de ao Leste do Paraguai. Assim como os fluxos
Trabalho do Ministério da Justiça não lícitos, há um histórico de comércio ilícito de
considere alteração da alíquota do ambos os lados. De acordo com o IDESF, os
PIS/PASEP/COFINS (11%), que são tributos números de exportação brasileira de tabaco
relacionados à seguridade social. Já o ICMS revelam que 44% da matéria prima dos
(32%) é de responsabilidade dos Estados da cigarros paraguaios é fornecida
Federação, e, portanto, não compete à esfera legalmente pelo Brasil.
federal avaliar sua redução.
O contrabando na fronteira é um problema
A avaliação da redução do tributo deverá compartilhado. Até os anos 1980, o
considerar, portanto, somente o IPI (36%). contrabando era majoritariamente de produtos
Neste caso, se a recomendação ao governo for do Brasil em direção ao Paraguai. O Regime
para que se reduza a 0% este tributo, o cigarro de Turismo do Paraguai levou ao sucesso
do Paraguai continuaria a custar R$2,4 e o do comercial de Cidade do Leste. Somente nos
Brasil reduziria para R$3,67. Logo, a redução últimos dez anos, os produtos importados
de preço não representaria, por si, um exclusivamente para triangulação rumo ao
estímulo ao fim do contrabando. Para a Brasil, registraram uma média anual de
arrecadação do país, se o IPI fosse 0% em US$3,81 bilhões. Deste valor, 89% ingressou
2018, o Brasil teria deixado de arrecadar no país como descaminho, totalizando 7,9
R$5,12 bilhões. bilhões de reais, em média, por ano, sem
contar o contrabando de armas e drogas.10
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Se o ponto focal for a indústria nacional, a A disposição do Presidente Benítez é
triangulação comercial (R$7,9 bilhões) é mais oportuna porque a primeira medida eficiente
prejudicial à indústria, em geral, do que o para o enfrentamento do contrabando de
contrabando de cigarro (R$2,5 bilhões – cigarro é o Paraguai aumentar o tributo sobre
considerando 95% da capacidade de o cigarro. Se houver uma alíquota de em torno
produção) em relação à indústria do tabaco. de 77% (média de Brasil e Argentina) em
todos os países membros do Mercosul, o
Se reduzir tributos para combater cigarro do Paraguai no Brasil custaria R$3,84.
Ajuda, mas não resolve. A segunda medida
o contrabando fosse eficiente, teria de ser o enfrentamento conjunto das
poderia se avaliar sua aplicação autoridades de ambos os países ao comércio
para outros produtos. ilícito.

Em suma, reduzir o IPI do cigarro abriria A boa disposição do governo paraguaio


margem para se pleitear a redução do tributo também coincide com um evento previsto
para outros itens comercializados em Ciudad para ocorrer a cada 50 anos. O Paraguai e o
del Este, como perfumes, eletrônicos, Brasil precisam renegociar o Anexo C do
informática, dentre outros. Nesses casos, Tratado de Itaipu. O Paraguai conta com
ainda se poderia argumentar que tais produtos consultoria internacional de alto nível para
não trazem malefícios à saúde. Este não é o atingir seus objetivos. Dentre eles, a justa
caminho mais adequado. demanda por negociar ao preço de mercado e
com quem quiser o excedente da energia
Se um problema é transnacional, seu elétrica. Igualmente justa é a demanda
enfrentamento só será efetivo por meio de brasileira por eliminar o descaminho e o
cooperação internacional.11 Para enfrentar o contrabando nas regiões de fronteira.
descaminho e o contrabando que vem do
Paraguai, é preciso implementar a Tarifa
Externa Comum (TEC) do Mercosul em sua
totalidade. O que permite o comércio de Relações Brasil-Paraguai
Ciudad del Este em larga escala é a lista de
exceção à TEC. Tornar o Mercosul uma união » Energia
aduaneira de fato poderia ser uma das metas R$15,5 bilhões (50% para cada).
do governo para reduzir o descaminho.
Obviamente enfrentaria resistência, já que o
comércio de triangulação, foi responsável por
» Triangulação
17% do PIB do Paraguai nos últimos 10 anos. R$7,9 bilhões (descaminho).

No que se refere ao contrabando de cigarros, » Cigarro


o Brasil e o Paraguai não os únicos países do R$2,5 bilhões (contrabando).
mundo que enfrentam o problema. Em 2003,
os países membros da Organização Mundial
da Saúde adotaram a Convenção-Quadro
sobre Controle do Uso do Tabaco. A maior
parte dos problemas que Brasil e Paraguai se
deparam hoje, já possuem diretrizes
apontadas naquele protocolo internacional, o
qual apenas o Brasil ratificou.12 Nos últimos
anos, o Paraguai se recusava até mesmo a
discutir o assunto. Mas, em 2018, o governo
de Abdo Benítez voltou para a Conferência
das Partes da Convenção-Quadro para o
Controle do Tabaco (COP8).
5
» Recomendações

• A tarefa de enfrentar o contrabando e • Se recomenda incentivar o Paraguai a


o descaminho é um dever do Estado. É ratificar Convenção-Quadro sobre
necessário abandonar as teses abstratas Controle do Uso do Tabaco e seguir as
como “o cigarro do Paraguai faz mal à normas internacionais que implicarão
saúde” e “reduzir a carga tributária no aumento da carga tributária
diminuirá o contrabando”. nacional e combate ao comércio
ilícito.
• A cooperação internacional é uma
estratégia historicamente eficiente • O Governo Brasileiro pode utilizar a
para a resolução de problemas oportunidade de renegociação do
transnacionais. Se recomenda a Anexo C do Tratado de Itaipu para
criação de um Grupo de Trabalho para aprimorar a cooperação, construir
diagnóstico e aprimoramento as consensos e compartilhar vantagens
relações Brasil-Paraguai. com o Paraguai.

» Notas

1
Micael Alvino da Silva é Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP), Professor Adjunto da
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Pesquisador do Grupo de Pesquisa Tríplice Fronteira
e Relações Internacionais (CNPq). Possui experiência de pesquisa com financiamento da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e da UNILA, com estágios de pesquisa no National Archives
(Washington, Estados Unidos), no Arquivo Histórico do Itamaraty (Rio de Janeiro) e no Arquivo Público do Paraná
(Curitiba). Atualmente pesquisa a inserção internacional da Tríplice Fronteira no contexto pós-Guerra Fria,
prioritariamente as implicações da criminalidade transnacional com foco no comércio ilícito e no terrorismo. E-mail:
micael.silva@unila.edu.br
2
Alexandre Barros da Costa é Economista pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Mestrando pelo Programa de
Pós-Graduação em Políticas Públicas e Desenvolvimento (UNILA), Especialista em Relações Internacionais
Contemporâneas (UNILA). Pesquisador do Grupo de Pesquisa Tríplice Fronteira e Relações Internacionais (CNPq).
3
O Grupo de Pesquisa Tríplice Fronteira e Relações Internacionais (GTF) é o primeiro centro no Brasil dedicado a
ensinar, pesquisar e formar recursos humanos aptos a atuar e compreender as questões da fronteira mais importante da
América do Sul (Argentina, Brasil e Paraguai). O GTF é um grupo de pesquisa cadastrado no Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e certificado pela Universidade Federal da Integração Latino-
Americana (UNILA). https://triplicef.org/
4
IDESF. O custo do contrabando. 2015.
5
Organização Mundial da Saúde.
6
Ministério da Saúde.
7
IDESF. Com base em dados do Ministério da Indústria e do Comércio.
8
Organização Mundial da Saúde.
9
Ver: Fernando Masi. Paraguai-Brasil e o projeto Mercosul. Política Externa, São Paulo, 14, n. 3, 2006. 23-32.
10
Ver: Micael Alvino da Silva; Alexandre Barros da Costa. Tributando o consumo: uma análise sobre as políticas
tributárias do Brasil e do Paraguai. Orbis Latina, 8, n. 2, dez 2018; Micael Alvino da Silva; Rafael Dolzan; Alexandre
Barros da Costa. O custo triangular: reexportação e descaminho nas relações Brasil-Paraguai. In: BARROS, L.;
LUDWIG, F. (Re)Definições das Fronteiras: os desafios para o Século XXI. Foz do Iguaçu: IDESF, 2019.
11
Ver: Rodrigo Carneiro Gomes. O crime organizado na visão da Convenção de Palermo. Belo Horizonte: Del Rey,
2008. Ver também: G. C. Werner. O Crime organizado transnacional e as redes criminosas: presença e influência nas
Relações Internacionais Contemporâneas. São Paulo, 2009. 241 f. Tese (Doutorado em Ciência Política), Universidade
de São Paulo; e A. Roder. A agenda externa brasileira em face aos ilícitos transnacionais: o contrabando na fronteira
entre o Brasil e o Paraguai. 2007. 107 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.
12
Brasil. Decreto nº 5658/2006.

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