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R. Museu Arq. Etn.

, 27: 5-20, 2016

História indígena e arqueologia:


Uma reflexão a partir dos estudos sobre os Jê Meridionais

Fabíola Andréa Silva *


Francisco Silva Noelli **

SILVA, F.A.; NOELLI, F.S. História indígena e arqueologia: Uma reflexão a partir dos
estudos sobre os Jê Meridionais. R. Museu Arq. Etn., 27: 5-20, 2016.

Resumo: Este artigo trata da história recente da pesquisa arqueológica, no cam-


po interdisciplinar de pesquisas sobre os povos Jê Meridionais. Trata-se também
de uma reflexão sobre o impacto da teoria do degeneracionismo nos fundamentos
da arqueologia praticada na região sul do Brasil e sobre as possibilidades de novos
temas de investigação sobre os povos Jê Meridionais.

Palavras-chave: Jê Meridionais; Arqueologia; Antropologia; Interdisciplina-


ridade; História da Ciência.

N as primeiras décadas do século XX a


arqueologia no continente americano
tratou das histórias indígenas do período do
indígena, na segunda metade do século XX, e a
incorporação de novos aportes teóricos, o estu-
do das histórias indígenas americanas, dentre
contato colonial, estudando principalmente, vários temas, vem sendo direcionado para o
os sítios que evidenciavam o encontro entre entendimento da complexidade e da brutali-
povos indígenas e colonizadores europeus. dade das experiências vividas por esses povos
Procurava-se entender como foram as relações frente ao colonialismo. Várias investigações
entre esses diferentes coletivos humanos e, na foram desenvolvidas para mostrar: 1) a plurali-
maioria das vezes, os povos indígenas eram dade e as especificidades históricas e locais do
considerados vítimas do colonialismo. Em colonialismo; 2) as estratégias de interação e de
vista desta perspectiva, aos encontros coloniais resistência dos povos indígenas ao longo deste
foram atribuídos, por um lado, o desapareci- processo caracterizado por tentativas de domi-
mento de alguns povos indígenas e, por outro, nação econômica e social (p. ex. Silliman 2001,
as perdas culturais e a aculturação daqueles 2005, 2009; Oliver 2010). Ao se debruçar nas
que sobreviveram (Lightfoot 1995; Funari, Hall questões relacionadas à expansão mercanti-
& Jones 1999; Rubertone 2000). lista e aos projetos colonialistas europeus, a
No entanto, com o advento da arqueologia arqueologia procura compreender a dialética
do colonialismo e da arqueologia histórica entre os diferentes mecanismos de dominação
europeia e resistência indígena que atuaram
neste período e as consequências disso, até os
(*) Docente e pesquisadora do Museu de Arqueologia e Etnolo-
gia da Universidade de São Paulo. <faandrea@usp.br>
dias de hoje, no que se refere à expansão do
(**) Professor aposentado da Universidade Estadual de Ma- capitalismo e ao neo-colonialismo (Funari,
ringá. <chico.noelli@gmail.com> Hall & Jones 1999).

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Um aspecto fundamental desta nova agen- Este tipo de perspectiva de pesquisa tam-
da de pesquisas é a crítica ao pressuposto de bém se aplica aos povos Jê meridionais. Cabe
que as populações indígenas se comportaram lembrar que nas últimas décadas, vários pesqui-
passivamente frente aos projetos colonialis- sadores se dedicaram a investigar as suas traje-
tas das nações europeias. Cada vez mais fica tórias culturais, a partir de diferentes pontos
evidente que, ao contrário de sucumbirem, a de vista teórico-metodológicos e disciplinares,
maioria dos povos indígenas reelaborou suas gerando dados muito diversificados e amplian-
identidades e tradições culturais a partir do do o conhecimento sobre as suas dinâmicas
contato com os europeus. Assim, o modelo ex- culturais ao longo do tempo.
plicativo da aculturação foi repassado pela no-
ção de agência indígena (Silliman 2001, 2009).
Incorporando a noção de história indígena de 1. Uma agenda de pesquisa sobre os povos Jê
longa duração, e procurando romper com a meridionais
dicotomia entre pré-história e história pós-colo-
nial, essas pesquisas destacam a complexidade Na década de 1994-2004, um grupo de
dos processos de continuidade e transformação professores universitários, alunos de graduação
das identidades e dos modos de vida dos povos e pós-graduação e pesquisadores independentes
indígenas (Lightfoot 1995). Paralelamente, reuniu-se diversas vezes em eventos científicos,
os arqueólogos estão compromissados com a no Grupo de Trabalho (GT) “Estudos Inter-
construção de uma narrativa mais inclusiva disciplinares dos Jê do sul”, com o objetivo de
e não-eurocêntrica sobre as formas de colo- ampliar a agenda de investigações sobre esses
nialismo no continente americano e sobre as povos. A partir de uma perspectiva interdisci-
trajetórias culturais dos povos nativos. plinar o GT propôs trocar informações, debater
Além disso, em diferentes lugares são resultados e articular linhas de pesquisa em
desenvolvidas pesquisas arqueológicas sobre comum, para ter maior eficiência e ampliar ao
o passado recente das populações indíge- máximo a produção de conhecimento sobre a
nas. Elas tratam de forma crítica as fontes e trajetória cultural destes povos desde o perío-
interpretações históricas e mostram a rele- do pré-colonial até o presente etnográfico. A
vância dos relatos orais dos povos indígenas, perspectiva daquele momento era superar o
para a compreensão das suas etnohistórias e arraigado isolamento e a falta de comunicação,
dinâmicas culturais frente ao neocolonialismo evidentes na produção bibliográfica anterior
e à expansão capitalista. Elas também têm à década de 1990, entre pesquisadores das
procurado ressaltar que o encontro entre as diversas disciplinas envolvidas na pesquisa
perspectivas históricas, etnográficas, linguísti- sobre os Jê do sul. Também se procurava novos
cas e arqueológicas pode trazer aportes diver- caminhos para envolver e atrair os Kaingang e
sificados e complementares ao entendimento os Xokleng na produção de conhecimento sobre
das questões relacionadas com as trajetórias os seus modos de vida e histórias, a partir dos
históricas e culturais dos povos indígenas seus próprios regimes de conhecimento e de
(Lightfoot 1995; Rubertone 2000; Colwell- historicidade.
Chanthaphon & Ferguson 2006; Ferguson & As publicações que resultaram dos encon-
Colwell-Chanthaphon 2008; Silliman 2008; tros do GT foram várias (livros, artigos, capítu-
Oliver 2010; Flexner 2014; Silva & Noelli los de livros, dissertações e teses), divulgando
2015). Para além das analogias etnográficas, a grande parte das ideias e perspectivas lançadas
relação entre os diferentes dados é feita para e debatidas. A linha mestra do posicionamento
ressaltar uma história indígena onde não intelectual defendido pelo GT foi publicada
há rupturas, mas continuidades, transições nas apresentações de três livros que são coletâ-
e transformações culturais, desde o período neas de artigos produzidos pelos seus partici-
pré-colonial até hoje (Lightfoot 1995; Silliman pantes: 1) Bibliografia Kaingang. Referências sobre
2001, 2005, 2009). um povo Jê do Sul do Brasil (Noelli et al. 1998);

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2) Uri e Wãxi. Estudos Interdisciplinares dos conhecimento da história das ideias como fator
Kaingang (Mota, Noelli & Tommasino 2000); fundamental para avançar e formular novas
3) Novas Contribuições aos Estudos Interdisciplina- pesquisas. Ou seja, defendíamos o princípio de
res dos Kaingang (Tommasino, Mota & Noelli que o conhecimento somente poderia avançar
2004). A maioria dos pesquisadores, de uma a partir da construção de um diálogo crítico
maneira ou outra, também teve um envolvi- com a produção científica anterior, revisando,
mento político com as causas a favor da autode- reforçando ou abandonando ideias e pres-
terminação Kaingang e Xokleng, participando supostos por ela definidos. Considerávamos
de “inúmeras atividades governamentais e não – e ainda consideramos – que era antiético e
governamentais relacionadas com a demarcação anticientífico ignorar o que foi produzido por
de terras, com a retomada de áreas de onde eles outros pesquisadores sobre os Jê meridionais,
foram expulsos, com a educação indígena, com independentemente das suas teorias, metodo-
a saúde, com a retomada e a manutenção das logias e posicionamentos políticos, como ainda
práticas e ritos tradicionais e com a defesa dos é possível observar em várias publicações do
ecossistemas dentro e fora das terras indígenas século XXI. Fundamentalmente, nosso objetivo
tuteladas pela FUNAI” (Tommasino, Mota & era propor a busca por uma erudição inter-
Noelli 2004). disciplinar e incentivar que os gaps entre os
Naquele momento o GT levantou e conteúdos das várias disciplinas fossem supe-
debateu várias questões: 1) a correlação entre rados e que se fizesse um esforço – com uma
as diferentes tradições arqueológicas (Taquara, perspectiva “americanista” – para elaborar uma
Itararé e Casa de Pedra) e os povos Jê meridio- síntese de abrangência temática e geográfica
nais historicamente conhecidos; 2) a relação mais ampla dos problemas. Uma nova síntese
linguística entre os Kaingang e Xokléng e com de viés arqueológico que pudesse substituir
as demais populações Jê setentrionais; 3) o o nível mais básico atingido pelas sínteses do
problema dos chamados vazios demográficos e século XX, cujo objetivo geral dos autores foi
a escassez de estudos históricos sobre o colonia- procurar compreender e definir o registro ma-
lismo e a expansão capitalista nos territórios terial relativo às tradições Taquara e Itararé e a
tradicionalmente ocupados por essas popu- sua dispersão espacial (Schmitz 1988; Brochado
lações indígenas; 4) as diferentes referências 1984; Prous 1992) e suas relações com as popu-
históricas sobre os povos não Tupi meridionais lações historicamente conhecidas (Miller 1978;
em termos da sua denominação representada Noelli 1999, 1999-2000).
nas fontes escritas (p.ex. cabeludos, botocudos, Várias dessas questões do GT ainda estão
gualachos, chiquis); 5) a relação dos povos Jê em pauta, juntamente com outras que foram
meridionais com os povos Tupi meridionais; 6) introduzidas nesta última década, nos novos
a relação dos povos Jê meridionais com as prá- projetos desenvolvidos para revisitar os “velhos”
ticas de uso e manejo de plantas; 7) a dinâmica problemas levantados desde o início das pesqui-
de ocupação territorial e os sistemas de assen- sas. No âmbito da pesquisa arqueológica houve
tamento dos Jê meridionais; 8) as tecnologias um aumento no número de pesquisadores, de
de produção e uso da sua cultura material, ao projetos com novas perspectivas teórico-meto-
longo do tempo; 9) a necessidade de se buscar dológicas e, consequentemente, uma qualida-
novos problemas e temas de pesquisa de rele- de e quantidade maior de coleta de dados e
vância para esses povos na atualidade. análise de informações em campo e laborató-
Uma história da pesquisa, dos temas e rio – tanto em nível local (intra-sítio) quanto
dos problemas relativos à arqueologia dos Jê regional (inter-sítio). Estamos mais próximos
meridionais foi por nós publicada (Noelli 1996, de compreender como era o padrão de implan-
1999, 1999-2000, 2000, 2004, 2005; Silva tação na paisagem, o sistema de assentamento,
1999, 2000; Silva & Noelli 1996). Também a monumentalidade, a subsistência, os modos
refletimos sobre os temas elencados acima e, ao de produção e utilização da cultura material e
mesmo tempo, reforçávamos a importância do alguns aspectos da vida ritual desses povos Jê.

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No entanto, precisamos continuar desen- em vários túmulos, inclusive mentindo para


volvendo a pesquisa e investindo com maior o cacique Braga que não os havia profanado.
vigor no diálogo interdisciplinar, na criação de Mas Mabilde (1983: 105) falou com bastante
bancos de dados públicos e nas abordagens co- minúcia sobre a indignação dos Kaingang,
laborativas, em temas ainda pouco explorados declarando que em suas “fisionomias via-se,
como, por exemplo: 1) as histórias de formação claramente, o abalo que sofriam diante da irre-
dos territórios ocupados pelas populações indí- verência com que tinham sido tratados os seus
genas no sul e sudeste do Brasil; 2) as redes de túmulos”. O caso de Hensel foi possível porque
interrelação entre os Jê meridionais e as demais atuou no momento em que a política pública
populações que viviam na região; 3) as especifi- era dedicada ao etnocídio, como deixava muito
cidades dos estilos tecnológicos, nomenclatura claro o relatório do Vice-Presidente da Província
e significados funcionais/simbólicos da cultura do Rio Grande do Sul à Assembleia Legislativa,
material dos Jê meridionais; 4) as relações e em 1854 (apud Hörmeyer [1854] 1986: 81): “De-
as particularidades linguísticas entre/dos Jê pois que o aumento da nossa população tenha
meridionais e os demais grupos da família Jê; restringido os índios por todos os lados a um
5) a relação dos Jê meridionais com a formação espaço pequeno e seus meios auxiliares... não
de paisagens e a constituição de lugares signifi- sejam mais suficientes, quando surgirem neles
cativos; 6) as dinâmicas de uso do espaço e os novas necessidades que não mais podem ser
padrões de mobilidade dos Jê meridionais; 7) satisfeitas pelos antigos meios, então também
as relações entre os Jê meridionais e os coloni- entre eles a civilização entrará por si, vigorosa e
zadores europeus. duradouramente...”.
Nesta última década surgiu uma pauta de
pesquisas em outra direção, valorizando o co-
2. Pontos de partida para a pesquisa sobre os nhecimento e a participação dos povos Jê meri-
povos Jê do sul: a superação da arqueologia da dionais. Temos inclusive propostas de pesquisas
desqualificação e da desigualdade arqueológicas colaborativas com os Laklãnõ
(Xokleng) (Machado 2013) e com os Kaingang
Consideramos que ao longo da história (Silva 2001; Rodrigues 2007). Portanto, investir
da arqueologia brasileira, nos séculos 19 e 20, no diálogo colaborativo, interdisciplinar e na
houve de modo mais ou menos explícito o construção de uma agenda de temas de inves-
racismo e a desqualificação dos Jê meridionais tigação pressupõe considerar alguns “pontos
no meio acadêmico. O fato de alguns conside- de partida” que foram definidos ao longo da
rarem Reinhold Hensel ([1867] 1928) como o história da pesquisa, como apontamos a seguir.
primeiro arqueólogo que atuou no Rio Grande
do Sul, na década de 1860, quando desenter-
rou um contexto funerário Kaingang, é sinto- 2.1. Tradução de conceitos, definições e nomen-
mático dessa postura que considerava como claturas
“escavação arqueológica” qualquer intervenção
arbitrária em um sítio indígena (arbitrária Desde o GT “Estudos Interdisciplinares
no sentido de atuar sem autorização explíci- dos Jê do sul” considerávamos de fundamental
ta dos indígenas). De fato, Hensel saqueou importância que os conceitos, definições e
dois túmulos monticulares Kaingang que há nomenclaturas fossem comuns e mutuamente
pouco haviam sido erigidos, com as carnes dos compreendidos pelos arqueólogos, antropólo-
mortos ainda em decomposição. Imaginemos gos, linguistas, historiadores e pesquisadores de
os sentimentos dos Kaingang ao testemunha- outras disciplinas. Isto seria uma primeira etapa
rem tal cena, ocorrida dentro de uma colônia na direção de uma perspectiva americanista,
militar, onde estavam cercados pela milícia ou seja, de elaboração de um corpus conceitual
imperial. Pierre Mabilde (1983: 102-110) já ha- interdisciplinarmente inteligível para referir as
via feito em 1836 o mesmo tipo de intervenção populações estudadas e sua cultura material.

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O uso de definições de significado restrito a mica que considere os processos e dinâmicas de


uma única comunidade de cientistas dificulta ocupação da região sul do Brasil.
o diálogo interdisciplinar. Exemplo disso é a O avanço recente da pesquisa linguística
situação histórica de separação, de preconceito e histórica trouxe novidades para o cenário da
e de ignorância dos não iniciados nos “jargões” investigação sobre os Jê meridionais, resgatan-
da arqueologia brasileira, e que se manifesta na do informações importantes esquecidas nas
grande maioria das publicações de antropólo- investigações anteriores. Trata-se do reconheci-
gos, historiadores e linguistas. mento e inclusão de duas populações extintas,
Neste sentido, entendemos que as nomen- consideradas como Jê meridionais (ver abaixo).
claturas Jê do sul, Jê meridional, Kaingang e Trata-se dos Ingáin e dos Kimdá (Jolkeski
Xokleng, já estão consagradas na literatura cien- 2010), cujo território e registro arqueológico
tífica e são úteis para designar essas populações ainda são praticamente desconhecidos em
indígenas no âmbito acadêmico. O fundamen- Misiones e Canindeyu. Seriam similares aos
to dessas nomenclaturas, diante de todas as já conhecidos pela arqueologia dos Jê do sul?
informações coletadas e analisadas até agora, Se o registro arqueológico deles está nas áreas
está assentado sobre quatro aspectos gerais em já conhecidas ou prospectadas, a sua cultura
relação aos Kaingang e Xokleng: 1) eles possuem material e padrões de implantação dos assenta-
uma origem cultural comum na língua Proto- mentos possuem características já mensuradas.
Jê-Meridional e na família linguística Jê; 2) seus Essas duas populações teriam um status similar
conjuntos artefatuais e sistemas de implantação ao dos Xokleng e Kaingang, como povos indíge-
de aldeias na paisagem apresentam elementos nas caracterizados individualmente no contexto
semelhantes e recorrentes no registro arqueo- americanista ou seriam “parcialidades”, como
lógico e podem/devem ser comparados com ocorre entre os Guarani?
os dados históricos e etnográficos; 3) apesar Este problema por resolver gerou outro,
das suas particularidades culturais os Kaingang que também não foi desenvolvido em termos
e Xokleng compartilham uma matriz cultural de história e arqueologia no século 20, mas que
comum como evidenciam estudos linguísticos foi apenas levantado por Noelli (1999), quando
e antropológicos; 4) as correlações linguísticas sugeriu o uso do termo Jê do Sul. A proposição
entre os Kaingang e Xokleng sugerem que eles visava um termo que desse conta do impasse ge-
tiveram uma história cultural comum. rado pela incapacidade (pela falta de problemas
Entendemos que o termo proto-Jê aplica- de pesquisa) de diferenciar o contexto arqueoló-
se apenas para as evidências relativas a um gico Xokleng e Kaingang.
período determinado. Não há sentido em tratar
todos contextos arqueológicos, indistintamente
em termos cronológicos, como proto-jê, pro- 2.2. As tipologias artefatuais e a sua relação com
to-kaingang ou proto-xokleng, como sugeriram os Jê meridionais
Silva (2001) e Iriarte et al. (2013), pois apenas
uma parte da evidência arqueológica foi produ- Desde o final da década de 1960, os ar-
zida pelas “proto” populações. Seria relativo a queólogos convencionaram chamar de Tradição
um período inicial da história dos Kaingang e Itararé, Tradição Taquara e Tradição Casa de
dos Xokleng, não para todo o período pré-co- Pedra as evidências materiais que estariam
lonial. Até porque ainda temos relativamente relacionadas aos ascendentes dos Jê meridio-
poucas datações e evidências analisadas que nais, ignorando os processos de continuidade
permitam reconhecer as variações entre os histórica, apesar de fazer algumas relações entre
conjuntos artefatuais. Isto precisa ser pensado contexto arqueológico e os Kaingang e Xokleng
considerando o que dizem os linguistas sobre (cf. histórico da criação das terminologias
deriva genética e processos de separação de em Noelli 1999). Definir estas categorias, na
comunidades que culminam em ramificação perspectiva do PRONAPA (Dias 1995; Barreto
linguística e cultural, em uma perspectiva sistê- 1999-2000), fazia sentido na medida em que

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o programa tinha como pressuposto “tratar a (Brochado 1984; Noelli 1999, 2004; Araújo
cultura de uma maneira artificialmente sepa- 2001; Corteletti 2013). Já está óbvio que houve
rada dos seres humanos” (Meggers 1955: 129). um processo de ocupação de partes dessas áreas
Naquele momento, as pesquisas ainda estavam a partir do crescimento demográfico de uma po-
em sua fase inicial, e se fazia o primeiro mapea- pulação que tinha uma matriz cultural comum,
mento dessas evidências. Ainda se tinha muita que transmitia regionalmente os seus conheci-
precaução em estabelecer relações de continuida- mentos tecnológicos que permitiam a contínua
de entre as populações historicamente conheci- reprodução dos padrões da cultura material e
das e aquelas dos contextos arqueológicos. Isto é, da subsistência, e a manutenção dos sistemas de
não havia uma proposta/metodologia estabeleci- implantação dos sítios na paisagem.
da para reconhecer que as populações Kaingang Se alguém realizar um projeto de estudo de
e Xokleng faziam parte de uma história indígena larga escala e comparado de todas as coleções
de longue durée. Ao mesmo tempo, não havia museológicas de vasilhas cerâmicas (arqueológi-
uma investigação sistemática e comparativa entre cas e etnográficas), irá constatar que as mesmas
os registros arqueológicos e a cultura material apresentam atributos comuns. Além disso, que
(histórica e etnográfica) desses povos. a variabilidade (sincrônica) e as variações (dia-
Atualmente, o campo científico é outro e já crônicas) em cada uma das classes de vasilhas
existe uma preocupação em buscar indicadores ficam estatisticamente próximas não havendo
materiais deste processo de continuidade histó- modificações que formem conjuntos artefatuais
rica e das diferenças regionais, mesmo que sutis, relevantemente distintos entre si. Contudo,
no registro arqueológico. Procura-se evidenciar Souza (2011) vem mostrando que é na análise
tanto os aspectos de continuidade como de de vasilhas completas que se poderá ter con-
variabilidade (local e regional) e transformação dições de verificar variações regionais (com.
nos seus modos de vida a partir do estudo de pessoal 2016). As classes funcionais das vasilhas
diferentes aspectos dos seus sistemas culturais Kaingang foram reconhecidas por Miller (1978)
(p.ex. Noelli 1999; Silva 1999; Araújo 2001; e Robrahn-González (1997), enquanto que as
Silva 2001; Souza 2011; Corteletti 2013; Iriarte Xokleng ainda não foram estudadas devido à
et al. 2014). Considerando a longa duração situação histórica que impediu a permanên-
da presença Jê no sul do Brasil, em uma área cia das cerâmicas entre eles (existem algumas
ampla e diversificada ecológica e geomorfologi- coleções de vasilhas inteiras feitas no século XX,
camente era de se esperar a diferenciação local no MArquE/UFSC, em Santa Catarina). Mas
e regional da sua cultura material e dos padrões as vasilhas cerâmicas Kaingang e Xokleng e a
de implantação dos sítios na paisagem. Porém, cadeia operatória da sua produção foram obser-
tais diferenças não se revelaram discrepantes, vadas desde o século XIX, permitindo constatar
sugerindo uma permanência dos processos de que apresentavam um estilo tecnológico muito
transmissão de conhecimentos e de reprodução semelhante (Silva 1999).
da cultura material ao longo do tempo. Da mesma forma ainda se faz necessário um
levantamento sistemático das fontes históricas
e linguísticas sobre a cultura material e sua
2.3. Os dados arqueológicos da ocupação terri- terminologia indígena, sobre os sistemas de as-
torial Jê do sul sentamento e o manejo do ambiente, a exemplo
do que fizemos para os Guarani (Noelli 1993)
Os registros arqueológicos Jê meridionais e Asurini do Xingu (Silva 2000). Os museus e
(fig. 1) permitem concluir que as populações que outras instituições científicas possuem vários
colonizaram os Estados de São Paulo, Paraná, conjuntos artefatuais arqueológicos e etnográ-
Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Província ficos com enorme potencial para uma pesqui-
de Misiones (Argentina) e o Departamento de sa comparada em nível interdisciplinar. As
Canindeyu (Paraguai), o fizeram de uma forma matérias publicadas nos jornais locais também
sistemática por aproximadamente 2 mil anos são um campo inteiramente aberto à pesquisa,

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Fig. 1. Mapa dos sítios arqueológicos Jê do Sul e áreas dos municípios com sítios registrados.

sendo uma lacuna enorme a ser explorada e que caso de August Kunert, sobre os contatos com
poderá revelar e complementar inúmeros casos os Jê nas áreas de colonização de imigrantes
cotidianos e outros tipos de informação de europeus no sul do Brasil. Kunert (1890, 1892),
interesse arqueológico, etnográfico e histórico. a partir do relato de um colono alemão prisio-
E há muitas fontes conhecidas em listas biblio- neiro dos Kaingang, parece ser um raro caso
gráficas, mas que ainda permanecem inéditas que fez menção ao contexto etnográfico sobre
para os arqueólogos contemporâneos, como é o a forma e o uso dos aterros anelares, inclusive

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arqueológicos e isto não gerava dados sobre o


contexto sistêmico de implantação dos sítios na
paisagem. Muitas dessas pesquisas partiam de
pressupostos degeneracionistas (Noelli & Ferrei-
ra 2007), que regularmente tendiam a considerar
os Jê meridionais como “primitivos”, “atrasa-
dos”, “pobres” e “nômades” (Noelli 2004).
O século XXI trouxe novas perspectivas e
Fig. 2. Croqui de aterro anelar no final do século estratégias que levaram os conhecimentos do
XIX, perto do Morro do Diabo, São Vendelino\RS,
contexto arqueológico a um patamar inimagi-
por August Kunert
nável anteriormente. Atualmente, áreas com
pesquisas mais intensas têm revelado paisagens
rituais altamente estruturadas, com densos
publicando um croqui do Kreislaufspur (“círculo agrupamentos de casas subterrâneas na vizinhan-
do zodíaco”) (fig. 2): ça de aterros anelares e montículos funerários
Ele estava localizado nas imediações do (Saldanha 2005; Panek & Noelli 2006; Souza
Morro do Diabo (município de São Vendeli- 2012; Iriarte et al. 2013). Investigações recentes
no – RS): “Quando os primeiros colonos ali mostram a existência de centros cerimoniais com
penetraram a mata ainda encontraram os fogos formas arquitetônicas complexas, dimensões
de acampamento queimando, velha cabana feita que chegam aos 180m de diâmetro, evidências
de juncos e grande círculo do zodíaco bastante de festins mortuários e tratamentos funerários
pisoteado. (Eles designam, o local de bailão dos diferenciados para poucos indivíduos (Iriarte et
bugres = Buger Tanzplatz). Dentro desse círculo al. 2008, 2013; De Masi 2009; Souza 2012). Ao
haviam estado sentados os assistentes, o que é mesmo tempo, os sítios de casas subterrâneas
reconhecível nos afundamentos existentes no têm cada vez mais sido interpretados como per-
solo, e muito provavelmente haviam executado manentes, previamente planejados e organizados
música em flautas de bambu, pois em toda a par- em hierarquias regionais, com lugares centrais
te havia dessas flautas. Não havia rasto condu- e sítios-satélites (Saldanha 2005; Copé 2006;
zindo para fora do círculo” (Kunert 1892:504). Iriarte et al. 2013; Souza 2015).
Em outro artigo, Kunert (1890: 34-35) trata do
aspecto externo e do uso do aterro anelar: “O
que mais chamou a atenção foi uma grande linha 2.4. Os estudos linguísticos
de circulação do zodíaco, em cujo centro se encon-
trava elevação construída com argila dura. [O] Os avanços recentes na linguística am-
colono que esteve alguns meses prisioneiro entre pliaram os conhecimentos produzidos até os
indígenas contou-me que quando da morte de primeiros anos do século XXI, permitindo
um homem era aceso fogo fumegante e que a revisar e atualizar a nossa primeira perspectiva
assembleia, dependendo da direção da fumaça interdisciplinar sobre a ocupação Jê no sul do
dançava sobre a linha de circulação com alegria Brasil (Noelli 1999, 1999-2000, 2004). D´An-
ou lamento” (a forma truncada da redação origi- gelis (2007-2008) e Jolkeski (2010) publicaram
nal dos dois artigos foi fielmente traduzida por uma nova síntese baseada em análises mais
Martin Dreher 2015). completas e sistemáticas, explicitando suas
A monumentalidade dos sítios Jê entrou fontes de informação como antes não acontecia
na pauta de investigações no final da década de e oferecendo novas perspectivas teóricas e meto-
1990 – a partir de uma mudança nas estratégias dológicas alinhadas com o que há de melhor em
de campo – avançando com resultados cada vez nível internacional. Continuamos acreditando
mais expressivos até o presente. Antes, a maioria na importância dos arqueólogos estarem atentos
das pesquisas estava dedicada à realização de ao trabalho dos linguistas, seguindo de perto os
prospecções e levantamentos expeditos dos sítios seus progressos e usando os seus modelos para

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orientar suas interpretações dos processos ocor- anteriormente (Becker 1976; Schmitz 1988;
ridos no passado. A interdisciplinaridade devia Prous 1992: 310), os Jê do sul partilhavam do
ser uma regra, para que linguistas e arqueólogos sofisticado sistema de manejo agroflorestal simi-
possam calibrar mutuamente suas análises, pois lar ao identificado para os Kayapó (Posey 1987;
o resultado dessa colaboração deverá aportar Noelli 1996, 1999-2000, 2000). Agora, a partir
modelos e teorias mais completos. desta nova perspectiva, podemos compreender
D´Angelis e Jolkesky atualizaram e refina- porque ainda não se conseguiu distinguir os
ram as pesquisas anteriores sobre as relações conjuntos cerâmicos Kaingang e Xokleng. A sua
dos Jê meridionais com a família linguística Jê, separação é recente como mostra Jolkesky, ao re-
apesar das limitações que ainda existem para dor de 700 anos atrás, sendo necessário buscar
determinar a classificação interna desta família compreender as causas de haver mais semelhan-
(Jolkesky 2010: 6). Isto é um fato que confir- ças que diferenças no conjunto artefatual Taqua-
ma que os Kaingang e os Xokleng descendem ra-Itararé a partir de premissas semelhantes às
de populações que ocuparam a região sul e o que deram sustentação ao subgrupo oriental
Estado de São Paulo a partir do norte, onde do PJM, partindo da perspectiva dos estudos de
se encontravam os demais falantes das línguas transmissão e manutenção do conhecimento
Jê e Macro-Jê. Isso confirma o que apontamos tradicional.
anteriormente (Noelli 1999), de que a Tradição
Taquara-Itararé não era um desenvolvimento da
Tradição Humaitá (Altoparanaense). Esta era a 2.5. A relação entre os Jê do sul e os demais Jê
hipótese de Menghin (1956-1957), sobre uma ao norte de São Paulo
população meridional antiga que adotou a cerâ-
mica e agricultura por difusão. Ao contrário, foi A maior lacuna está na falta de conexão em
uma população ceramista e agricultora que se relação aos conjuntos artefatuais das populações
expandiu por partes de São Paulo, da região sul Jê do sul com os Jê ao norte de São Paulo, a
do Brasil, de Misiones e Canindeyu. partir de Minas Gerais e Rio de Janeiro, onde
D´Angelis e Jolkesky denominaram a ainda não foi desenvolvida uma investigação
língua falada por esta população original como comparativa apropriada, como foi primeiramen-
Proto-Jê Meridional (PJM). Ela deu origem a te sugerida por Brochado (1984). O problema
dois subgrupos: 1) ocidental, com as línguas ex- central reside no fato dos arqueólogos ainda
tintas Ingain e Kimdá (áreas de Misiones e Ca- estarem presos aos conceitos que definem as
nindeyu); 2) oriental, com as línguas Xokleng, “Tradições Arqueológicas” e não ficarem mais
Kaingang e Kaingang Paulista. Conforme a atentos aos elementos estatisticamente compa-
análise das “porcentagens de retenção lexical ráveis do registro arqueológico, bem como não
com as respectivas divergências temporais”, tentarem atualizar as comparações etnológicas
Jolkesky (2010: 269) concluiu que os Xokleng estabelecidas por Hermann Ploetz e Alfred Mé-
se separaram do grupo oriental ao redor de traux (1930), como já sugerimos anteriormente
1390 d.C. e ele mostra que a porcentagem de (Noelli 1999, 2004). Isto já começou a ser
retenção lexical entre o Xokleng e as línguas sanado (Souza 2011; Araújo et al. 2016) e está
Kaingang é de 97%. em andamento nas investigações mais recentes,
Na língua PJM (Jolkelsky 2010: 249), já a exemplo de outros capítulos deste livro.
existia a palavra “panela”, reconstruída como
*kukrũ{w}, assim como diversas palavras
associadas à agricultura e ao processamento de 3. A Arqueologia dos Jê do sul e a sua relevân-
alimentos, demonstrando claramente que os cia social
falantes do PJM eram agricultores e ceramistas.
Ao contrário de serem “agricultores incipientes” Não se deve esquecer que os temas da pes-
e “neolitizados” pela difusão cerâmica, com quisa sobre os povos Jê do sul têm uma relação
“expressão apenas regional”, como se acreditava direta com as experiências reais vivenciadas por

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História indígena e arqueologia: Uma reflexão a partir dos estudos sobre os Jê Meridionais
R. Museu Arq. Etn., 27: 5-20, 2016

eles. Vários dos problemas ligados à demarcação a arqueologia se caracterizou como tecnicista e
territorial, à exploração dos recursos ambientais descritiva. O PRONAPA tinha seus objetivos
nas suas terras, à subsistência, às necessidades voltados à definição de tipologias artefatuais e
materiais, preconceitos, violências e abusos quadros cronológicos de distribuição de con-
diversos, dentre outros, podem encontrar subsí- juntos arqueológicos (tradições e fases), para
dios nas pesquisas interdisciplinares. entender o passado pré-colonial, em termos da
Para nós existem claras relações entre o distribuição no tempo e no espaço das culturas
passado arqueológico, o passado histórico e arqueológicas. A Missão Francesa se dedicou à
o presente etnográfico. Tais relações, porém, aplicação de técnicas de escavação em superfícies
nem sempre apareceram de forma clara para os amplas e análises artefatuais – embasadas na
arqueólogos e, em parte, isto está relacionado tradição francesa de Leroi-Gourhan – com o
ao modo como a arqueologia se desenvolveu no objetivo de compreender pontualmente aspectos
Brasil – quase sempre distanciada das demais da vida e das tecnologias das populações pré-his-
disciplinas e dos povos indígenas. tóricas (Dias 1995; Barreto 1999-2000).
Cabe lembrar que a institucionalização da O legado desta história foi a construção de
arqueologia no Brasil iniciou no século XIX, um passado indígena pré-colonial que não se co-
no âmbito dos museus (Museu Paulista, Museu nectava com as trajetórias histórico-culturais das
Nacional, Museu Paraense, Museu Paranaense) populações indígenas no presente. Os arqueólo-
e se caracterizou pela relação da disciplina com gos – com algumas exceções – foram se alienan-
o nacionalismo, a mundialização da ciência e o do dos conhecimentos produzidos pela história,
colonialismo (Ferreira 2010). Influenciada pelo linguística e etnologia indígenas e, ao mesmo
naturalismo e evolucionismo, a arqueologia deste tempo, se colocavam distantes das questões rela-
período estava aliada à antropologia biológica cionadas com as lutas dos povos indígenas. A ar-
e concentrou sua atenção, principalmente, nas queologia relativa aos povos Jê meridionais não
investigações sobre a origem e evolução humana foi uma exceção. Para Noelli (1999) até o final
e na classificação das evidências arqueológicas da década de 1980 as relações entre os conjuntos
no quadro evolutivo de raças e culturas. Na cerâmicos (Itararé, Casa de Pedra e Taquara), sua
primeira metade do século XX, a arqueologia se distribuição geográfica e a trajetória cultural das
distancia dos museus e vai se constituindo como populações Jê meridionais não foram investiga-
uma disciplina interessada na pré-história das das com o objetivo de incluir sistematicamente
populações. Este é o período de consolidação da os dados linguísticos, etnográficos e históricos. A
pesquisa arqueológica no âmbito acadêmico, com honrosa exceção foi Tom Miller (1978), com seu
a criação de centros de pesquisa, de investimento estudo sobre as cerâmicas dos Kaingang paulistas
na capacitação profissional e de campanhas pre- que abriu o caminho sobre o tema no contexto
servacionistas. Intelectuais como Luis de Castro da arqueologia brasileira.
Faria, Paulo Duarte e José Loureiro Fernandes Este cenário de descolamento da pesquisa
foram grandes incentivadores do debate sobre arqueológica em relação às pesquisas etnológicas
a importância da pesquisa e preservação dos e históricas começou a se transformar de forma
registros arqueológicos, atuando para a promulga- mais substantiva a partir de 1984, quando a
ção e regulamentação de legislações de proteção tese de José Brochado defendia a premissa de se
do patrimônio arqueológico – incluindo a Lei construir uma relação de continuidade entre o
Federal 3924 de 26/07/1961 (Barreto 1999-2000; passado pré-colonial e as populações indígenas
Fernandes 2007). As décadas de 1950 e 1960 se no presente, ou seja, de fazer a história cultu-
caracterizaram pela presença de pesquisadores ral das populações indígenas. No entanto, foi
franceses (Missão Francesa) e norte-americanos somente a partir da década de noventa, com a
(PRONAPA/Programa Nacional de Pesquisas retomada do diálogo com a antropologia, a his-
Arqueológicas) que atuaram na formação teórica tória indígena e a linguística que a pesquisa com
e metodológica de uma geração de arqueólogos povos indígenas começou de fato a fazer parte da
brasileiros. Pode-se dizer que até a década de 1980 agenda arqueológica (p. ex. Wüst 1991; Noelli

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Fabíola Andréa Silva
Francisco Silva Noelli

1993; Eremites de Oliveira 1996, 2002; Hec- ta no drama do encontro colonial e a distância
kenberger 1996; Neves 1998; Silva 2000; Silva entre as populações indígenas do passado e as
2001). Na última década, surgiram as primeiras atuais era reiterada pela arqueologia (Viveiros de
pesquisas arqueológicas colaborativas com povos Castro 2002).
indígenas no âmbito da arqueologia acadêmica,
da consultoria indigenista e da arqueologia de
contrato (referências em Silva 2012). Apesar das 4. Conclusão
novas perspectivas de pesquisa, o legado das prá-
ticas arqueológicas distanciadas das realidades Nos últimos vinte anos, com a diversificação
indígenas ainda se faz presente. das instituições de ensino e pesquisa em arqueo-
Alguns autores apontam que a história da logia e a ampliação do número de pesquisadores
arqueologia brasileira precisa ser entendida no com posicionamentos teórico-metodológicos dos
contexto das políticas colonialistas, tutelares e mais diversos, a arqueologia brasileira está re-
assimilacionistas dos governos brasileiros em vendo suas práticas e pressupostos científicos e,
relação aos povos indígenas – dentre as quais ao mesmo tempo, buscando aproximar os povos
a política indigenista é um exemplo. Segundo indígenas do passado e do presente. Além disso,
Noelli & Ferreira (2007), no século XIX, apoiada tem refletido sobre o seu papel e responsabili-
na teoria da degeneração indígena, a arqueologia dade em relação à gestão do patrimônio arqueo-
contribuiu para produzir uma imagem das popu- lógico neste cenário pluricultural que define o
lações indígenas como estagnadas e degeneradas Brasil. Porém, a situação que estamos vivendo –
em processo que se explicava por um suposto no âmbito das políticas econômicas e ambientais
determinismo ambiental e pela miscigenação. e dos trâmites burocráticos da legislação indige-
Esta percepção dos povos indígenas foi reiterada nista e do patrimônio arqueológico – nos mostra
nos primeiros anos do período republicano sob que ainda temos um longo caminho pela frente
a roupagem de uma arqueologia embasada no até conseguirmos entrelaçar a arqueologia com a
neo-evolucionismo e na ecologia cultural e que história dos povos indígenas no Brasil.
nos legou as classificações das populações indíge- Cabe dizer que esta reconfiguração da ar-
nas em áreas culturais e em tipologias definidas queologia – resultado das críticas pós-colonialis-
a partir de níveis de integração sociocultural e tas e do fortalecimento dos movimentos sociais
estágios de evolução cultural. Com o PRONA- nas últimas décadas – acompanha um movi-
PA, sob a influência da obra de Betty Meggers, mento que vem sendo realizado pela disciplina
se intensificaria o legado determinista ecológico, no mundo ocidental. Neste processo tem sido
colocando mais uma vez os povos indígenas enfatizada a reflexão sobre a relevância social da
sob o estereótipo da degeneração cultural, arqueologia, bem como o reconhecimento de
com seus modos de vida determinados pelas que o conhecimento arqueológico precisa ser
potencialidades e deficiências ambientais. Este compartilhado para além do campo científico.
legado persistiu até o final do século XX quando Portanto, uma abordagem sobre a trajetória
começaram a surgir novas estimativas sobre a histórica, a dinâmica cultural e o processo de
densidade populacional no período pré-colonial, expansão e ocupação territorial dos povos Jê
as ideias sobre a complexidade social dos povos do sul que tenha como objetivo apreender as
amazônicos e os dados sobre os aspectos cultu- suas particularidades e vicissitudes ao longo do
ralmente construídos das paisagens ameríndias. tempo, a nosso ver, necessariamente, pressupõe
No entanto, este novo paradigma que, por um a utilização de todas as informações possíveis
lado, apontava para a sofisticação das culturas (linguísticas, históricas, arqueológicas e etnográfi-
indígenas no período pré-contato, por outro, cas). Além disso, o interesse manifesto dos povos
evidenciava a perda das populações atuais, indígenas em reafirmar sua tradição cultural e
daquela plenitude e complexidade de outrora. identidade, através da sua tradição oral e memó-
A partir disso mais uma vez a degeneração das ria pode ser respaldado ainda mais pela história
populações indígenas reaparecia, desta vez envol- indígena, linguística, antropologia e arqueologia.

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História indígena e arqueologia: Uma reflexão a partir dos estudos sobre os Jê Meridionais
R. Museu Arq. Etn., 27: 5-20, 2016

Agradecimentos drigo Venzon pela referência de Joseph Hörme-


yer. A Jonas Gregório de Souza, pelas sugestões
Ao CNPq pela bolsa produtividade (F.A. importantes e elaboração da figura 1. A Martin
Silva) e ao MAE/USP pelo auxílio para realizar Dreher, pela tradução do texto em alemão dos
em 2014 o Simpósio LINTT/LAPGEO. A Ro- artigos de August Kunert.

SILVA, F.A.; NOELLI, F.S. Indigenous history and archaeology: A reflection from the
studies on Southern Jê. R. Museu Arq. Etn., 27: 5-20, 2016.

Abstract: This article is a explanation of the recent history of archaeological


research in the interdisciplinary field of research on the indigenous people Jê
Meridionais. It is also a reflection on the impact of degeneracionist theory in the
fundamentals of archeology practiced in southern Brazil, and it is a consideration
on the possibilities of new research topics about indigenous people Jê Meridionais.

Keywords: Southern Jê; Archaeology; Anthropology; Interdisciplinarity;


History of Science

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