Sei sulla pagina 1di 27

A PREGAÇÃO EXPOSITIVA E SUA IMPORTÂNCIA PARA O

CRESCIMENTO DA IGREJA

PAULO ANDRÉ BARBOSA DA SILVA1

RESUMO
Como é possível descrever com palavras a importância da pregação? Todos os
atos do culto são importantes e foram ordenados por Deus, entretanto, o apóstolo Paulo
afirma que a profecia é o ato de maior importância no culto, pelo fato de que por este
meio, a igreja é edificada (1 Co 14.5). A sua importância é vista também por ser a
pregação o meio pelo qual a fé é comunicada ao coração do pecador (Rm 10.13-17).
As igrejas hoje precisam ser recuperadas, colocando mais uma vez a Palavra de
Deus no centro, e, isso acontece principalmente por meio da pregação. A volta da
pregação expositiva num período marcado pela superficialidade no púlpito e pelo
analfabetismo bíblico nos bancos da igreja é uma necessidade urgente. A pregação
expositiva é um modelo que busca o sentido da passagem bíblica, apresentando com
fidelidade a mensagem central da passagem. A mensagem expositiva é sem dúvida, a
explicação da passagem rumo a uma aplicação prática. A proposta deste trabalho é
afirmar que a pregação expositiva é um dos mais eficazes instrumentos para produzir o
crescimento sadio da igreja.
Palavras-Chave: Pregação Expositiva, Crescimento da Igreja, Homilética.

ABSTRACT
How is it possible to describe in words the importance of preaching? All acts of
worship are important and have been ordained by God, however, the apostle Paul says
that prophecy is the act of utmost importance in worship, by the fact that in this way, the
church is built (1 Cor 14.5). Its importance is also seen to be preaching the means by
which faith is communicated to the heart of the sinner (Rom 10.13-17).
Churches today need to be recovered by putting again the Word of God at the
center, and this happens mainly through preaching. I believe that the return of expository
preaching in a period marked by superficiality in the pulpit and the biblical illiteracy in
the pews is an urgent need. Expository preaching is a model that seeks the meaning of
Scripture, presenting faithfully the central message of the passage. Expository message is
undoubtedly the explanation of the passage towards a practical application. The purpose
of this work is to assert that expository preaching is one of the most effective tools to
produce the healthy growth of the church.
Keywords: Expository Preaching, Church Growth, Homiletics.

1 Graduação em Teologia. Pós-Graduando em Teologia e Ministério Pastoral pela Universidade Luterana do Brasil
(ULBRA), campus Canoas/RS. Professor Orientador: Me. Paulo Proske Weirich. Mestre em Teologia Prática,
Concórdia Theological Seminary, Fort Wayne, EUA (1982), Doutorando em Teologia Sistemática, Concordia Seminay,
St. Louis, USA. Professor de Teologia na ULBRA (1999). Professor de Teologia no Seminário Concórdia, São
Leopoldo (2001).
INTRODUÇÃO
Se muitos pregadores hoje se sentem frustrados no púlpito por não terem
autoridade, a teologia moderna não oferece mais do que sugestões santificadas e muitos
pregadores receiam que seus ouvintes tenham mais fé nos palpites da ciência do que na
palavra de Deus na pregação. A despeito disto, para os escritores do Novo Testamento, a
pregação é o evento pelo qual Deus opera. Paulo afirma que “a fé vem pela pregação e a
pregação pela palavra de Cristo” (Rm 10.17).

O pregador deve vencer a tentação de pregar outra coisa que não a Palavra de
Cristo, às vezes um sistema político (de esquerda ou de direita), uma filosofia ou mesmo
uma tendência da psicologia. Quando um pregador deixa de pregar a Palavra de Deus
perde sua autoridade. O Dr. Martyn Lloyd Jones2 afirma que “a pregação é a tarefa
primordial da igreja e do ministro” ressaltando este ponto pela “tendência, hoje, de
depreciar a pregação em prol de outras formas de atividades.”3

O teólogo reformado holandês Klass Runia4 observa que o presente antagonismo


para com a pregação é fato da liberação intelectual do Ocidente. O homem moderno “não
quer que lhe digam o que é verdadeiro ou certo; quer descobri-lo por si mesmo e quer
determinar por si mesmo o que deve fazer.”5 É a aversão do homem pós-moderno a
verdades objetivas. Na sociedade pós-moderna não existe ligar para verdades concretas,
absolutas. Contudo, creio que a principal razão para o declínio da pregação no
evangelicalismo atual deve-se ao afastamento das Escrituras.

O cristianismo contemporâneo tem sido saturado por subjetivismo,


emocionalismo, pragmatismo e racionalismo. O racionalismo do iluminismo e do
liberalismo teológico minou a autoridade da Escritura e consequentemente a pregação. O
subjetivismo dos nossos tempos produziu uma pregação antropocêntrica. Quando a
pregação degenera em mera eloquência de palavras, exibição de sabedoria humana e
entretenimento, ela tende a ser substituída por outras atividades.

2 JONES, D.M. Lloyd. Pregação e Pregadores. 2ª ed. São José dos Campos: Editora Fiel, 2011. p. 26. (Foi um
teólogo calvinista pastor da Capela de Westminster em Londres, um dos líderes da ala reformada do movimento
evangélico inglês, conhecido como um dos maiores pregadores expositivos do século XX [1889-1981]).
3 Ibidem. 26
4 RUNIA, Klass. (1926-2006). Clérigo da Igreja Reformada Holandesa e professor de Teologia na Universidade de

Kampen.
5 RUNIA, Klas. The Sermon Under Attack. British Library Cataloguing: The Paternoster Press, 1983. p. 9.
Um crescimento em quantidade, qualidade e profundidade da igreja com certeza
corrige os sérios problemas que a igreja evangélica brasileira enfrenta atualmente:

a) A influência de ensinos carismáticos e místicos – Hoje nas igrejas, e


principalmente nos meios de comunicação, pastores estão usando a Bíblia contra a
própria verdade, isto é, buscando experiências e não a verdade. Ensinos como a
teologia da prosperidade, confissão positiva e novas revelações. Tudo isso é
resultado do pragmatismo que infiltrou-se na igreja evangélica. Em vez das pessoas
buscarem uma igreja que ensine a Palavra de Deus, buscam uma que supra suas
necessidades. É o cristianismo comandado pelo consumismo.
b) A influência do liberalismo teológico – O problema de se colocar a razão
humana acima das Escrituras. O liberalismo teológico produz o relativismo
ético que tem matado muitas igrejas pelo mundo afora.
c) A superficialidade do púlpito atual - Muitos pastores não pregam
expositivamente porque para expor as Escrituras com excelência é preciso
estudo constante. Liefeld diz que a pregação expositiva tem três enfoques
básicos: “hermenêutica (o enfoque bíblico do mestre), homilética (o enfoque
bíblico do pregador) e necessidade humana (o enfoque pessoal do pastor).6

1. A IMPORTÂNCIA DA PREGAÇÃO EXPOSITIVA

A pregação é sem dúvida uma interação viva em que estão envolvidos Deus, o
pregador e a congregação. John MacArthur7 destaca a importância do ministério da
pregação afirmando que:

A proclamação do Evangelho é o que produz fé nos escolhidos de Deus (Rm


10.14). Pela pregação da Palavra vem o conhecimento da verdade que resulta
na piedade (Jo 17.17; Rm 16.25; Ef 5.26). A pregação também encoraja os
crentes a viver na esperança da vida eterna, permitindo-lhes suportar o
sofrimento (At 14.21,22). A pregação fiel da Palavra é o elemento mais
importante do ministério pastoral.8
Charles Spurgeon afirmava que a pregação deve “conter ensino valioso e sua
doutrina deve ser sólida, substanciosa e abundante”.9 O celebre pregador ainda dizia que

6 LIEFELD, Walter. Exposição do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008. p. 29.
7 MACARTHUR. John Jr (1939-). Pastor e teólogo calvinista dos EUA, presidente do The Master's Seminary.
8 MACARTHUR. John Jr. Ministério Pastoral. São Paulo: CPAD, 2004. p. 279.
9 Ibidem
“o ensino saudável é a melhor proteção contra as heresias que assolam à direita e a
esquerda entre nós.”10

1.1- A crise do púlpito

O púlpito moderno está em crise o que se verifica pelo conteúdo da mensagem


entregue hoje em boa parte das igrejas e mais especialmente nas grandes celebrações
como congressos e conferências. O modelo da pregação moderna é o evangelista esperto
que exagera as emoções, traz consigo um microfone, enquanto anda pomposamente ao
redor do púlpito, levando os ouvintes a baterem palmas, movimentarem- se e fazerem
aclamações em voz bem alta, ao tempo em que ele os incita a um frenesi. Não existe
alimento espiritual na mensagem, mas quem se importa, visto que a resposta é
entusiástica?

É lógico que a pregação em muitas das igrejas conservadoras não se realiza de


maneira tão exagerada assim. Mas, infelizmente, até algumas das melhores pregações de
nossos dias contêm mais entretenimento do que ensino. Muitas igrejas têm um sermão
característico de meia hora, repleto de histórias engraçadas e pouco ensino.

Na verdade, muitos pregadores consideram o ensino de doutrinas como algo


indesejável e sem utilidade prática, razão pela qual tem se ouvido sermões tão superficiais
e desprovidos de profundidade bíblica; não poucas vezes eivados de moralismo e
legalismo. Uma grande revista evangélica recentemente publicou um artigo escrito por
um famoso pregador carismático. Ele utilizou uma página inteira para falar sobre a
futilidade tanto de pregar quanto de ouvir sermões que vão além de mero entretenimento.
Qual foi a sua conclusão?

As pessoas não recordam aquilo que você pregou; por isso, a maior parte da
pregação é perda de tempo. Procurarei fazer melhor no próximo ano, ele
escreveu. Isto significa desperdiçar menos tempo ouvindo sermões demorados
e gastando mais tempo preparando sermões curtos. As pessoas, eu descobri,
perdoarão uma teologia pobre, se o culto matinal terminar antes do meio-dia.11
Isto resume com perfeição a atitude que predomina na igreja moderna. Existe uma
semelhança entre esse tipo de pregação e os comerciais de jeans, perfume e cerveja na
televisão. Assim como os comerciais, a pregação moderna tem o objetivo de criar uma
disposição íntima, evocar uma resposta emocional e entreter, mas não o de comunicar

10 Ibidem
11 Joel Nederhood “Pulpit Freedom” – Westminster Seminary in Califórnia, vol. 5 2001 ,pg. 32
necessariamente algo da essência das Escrituras. Esse tipo de pregação é uma completa
acomodação a uma sociedade educada pela televisão. Segue o que é agradável, porém
revela pouca preocupação com a verdade. Não é o tipo de pregação ordenada nas
Escrituras. Temos de pregar a Palavra (2 Tm 4.2); falar o que convém à sã doutrina. (Tt
2.1); ensinar e recomendar o ensino segundo a piedade. (1 Tm 6.3). É impossível fazer
estas coisas se nosso alvo é entreter as pessoas.

O evangelho psicológico de autoajuda, antropocêntrico que leva as pessoas a irem


à igreja não por causa de sua necessidade espiritual (salvação), mas por outras
necessidades, isto é prosperidade, saúde, isenção de sofrimento, faz as pessoas buscarem
mais a bênção do que o abençoador, o que em nada se parece com o Evangelho de Cristo
que caracteriza-se pelo carregar diário da cruz, a negação de nós mesmos e o discipulado
comprometido com o Reino. Desta forma, almas vazias somente ficarão cheias de Deus
se os púlpitos forem cristocêntricos.

A pregação da cruz de Cristo é a única esperança para alguém sem qualquer


esperança, acima de tudo a da salvação. O vazio da alma humana só será preenchido pela
presença de Deus quando os pregadores da Palavra dedicarem-se a expor a mensagem
bíblica não as trocando por aquelas que evitam confrontos, na superficialidade de seus
interlocutores.

Diz Lloyd Jones que:

A crença nas grandes doutrinas da Bíblia começou a fenecer, e os sermões


foram substituídos por pregações e homilias secas, por estímulo moral e
discursos sócio-políticos, não é surpreendente que a pregação declinou. Sugiro
que esta é a causa primária e maior deste declínio.12
Com relação à pregação expositiva, estas questões raramente são levantadas no
movimento evangelical, pois, se presume que todos sabemos as respostas. Entretanto,
estas questões precisam ser levantadas e dois fatores em especial nos levam a esta
conclusão:

a) A tarefa de ensinar as verdades cristãs é reduzida a um mínimo – Os


ministros atualmente não perguntam:: Quanto devo ensinar? E, sim: Qual é o
mínimo que posso ensinar? Talvez uma das razões apontadas seria a relutância
em aprender por parte da congregação. Dizem que é uma perda de tempo pregar
aos ouvintes modernos lei e evangelho, por exemplo, apresentando mais Cristo

12 JONES, op. cit., p. 19.


como um super psiquiatra do que o Salvador. Se não apresentamos Cristo como
o Salvador do pecado, não estaremos pregando o Cristo da Escritura. Este tipo
de pregação pode até trazer algum alívio, mas não salvação. A minimização
leva apenas a meias verdades acerca da salvação; e uma meia verdade, exposta
como se fosse a verdade é uma mentira completa. A abordagem minimizadora
ameaça esvaziar o evangelho de elementos que lhe são essenciais

b) Existe uma incerteza generalizada sobre as implicações evangelísticas da fé


reformada - Muitas pessoas hoje estão percebendo o quão bíblica são as
doutrinas da graça expostas nos chamados “cinco pontos do calvinismo”13,
entretanto, muitos a acham “pouco evangelística”. Se as verdades da
incapacidade total do gênero humano, da eleição incondicional e do chamado
eficaz – isto é, se os homens não podem por si mesmos voltar para Deus, que a
fé, o arrependimento são dádivas dadas apenas aos eleitos – então, faz sentido
pregar a todos os homens? Se a doutrina da redenção particular é verdadeira; se
Cristo morreu para garantir a salvação não de toda humanidade de forma
inclusiva (e para muitos, ineficazmente) apenas dos eleitos – não podemos dizer
a um não convertido que Cristo morreu por ele. A igreja deve evangelizar?
Alguns, perplexos diante destes questionamentos, se sentem obrigados a pregar
como os arminianos dirigindo-se aos pecadores como se os mesmos tivessem o
poder de receberem a Cristo e como se Deus estivesse somente esperando a
oportunidade que os pecadores o façam. Não é verdade que uma redescoberta
de Calvino e sua teologia, ao invés de revigorar o evangelismo viesse a sufoca-
lo. Muitos hoje estão apresentando as pessoas uma mensagem superficial, por
estarem convencidos que não é possível fazer uma aplicação evangelística dessa

13 Os chamados cinco pontos resumem os pontos mais salientes da doutrina reformada ou calvinista, a saber: 1)
Depravação total (ou radical) da natureza humana) cf. Gn 2:17; 6:5; 8:21; 1 Rs 8:46; Sl 51:5; 58:3; Ec 7:20; Is 64:6; Jr
4:22; 9:5-6; 13:23; 17:9; Jo 3:3,19,36; 5:42; 8:43-44; 14:4; Rm 3:10-11; 5:12; 7:18,23; 8:7; 1 Co 2:14; 2 Co 4:4; Ef 2:3;
4:18; 2 Tm 2:25-26; 3:2-4; Tt 1:15., 2) Eleição incondicional e soberana, cf. Dt 4:37; 7:7-8; Pv 16:4; Mt 11:25; 20:15-
16; 22:14; Mc 4:11-12; Jo 6:37,65; 12:39-40; 15:16; At 5:31; 13:48; 22:14-15; Rm 2:4; 8:29-30; 9:11-12, 22-23; 11:5,8-
10; Ef 1:4-5; 2:9-10; 1 Ts 1:4; 5:9; 2 Ts 2:11-12; 3:2; 2 Tm 2:10,19; Tt 1:1; 1 Pe 2:8; 2 Pe 2:12; 1 Jo 4:19; Jd 1:3-4; Ap
13:8; 17:17; 20:11-21:8.3) Expiação particular (ou limitada) cf. 1 Sm 3:14; Is 53:11-12; Mt 1:21; 20:28; 26:28; Jo 10:14-
15; 11:50-53; 15:13; 17:6,9-10; At 20:28; Rm 5:15; Ef 5:25; Tt 3:5; Hb 9:28; Ap 5:9., 4) Graça irresistível cf. Jr 24:7;
31:3; Ez 11:19-20; 36:26-27; Mt 16:17; Jo 1:12-13; 5:21; 6:37,44-45; At 16:14; 18:27; Rm 8:30; 1 Co 4:7; 2 Co 5:17;
Gl 1:15; Ef 1:19-20; Cl 2:13; 2 Tm 1:9; Hb 9:15; 1 Pe 2:9; 5:10., 5) Perseverança dos Santos. Cf. Is 54:10; Jr 32:40;
Mt 18:14; Jo 6:39-40,51; 10:27-30; Rm 5:8-10; 8:28-39; 11:29; Gl 2:20; Ef 4:30; Fp 1:6; Cl 2:14; 2 Ts 3:3; 2 Tm 2:13,19;
Hb 7:25; 10:14; 1 Pe 1:5; 1 Jo 5:18; Ap 17:14.
teologia. A teologia reformada e especialmente os teólogos puritanos tem o
entendimento que o sermão evangelístico não é uma classe particular de sermão.
Defende antes que toda a Escritura dá testemunho de Cristo e que todo o sermão
obrigatoriamente tem que apontar para Cristo sendo assim obviamente
evangelístico. Desta forma, o sermão deve ser textual e expositivo, prático e
aplicativo, analítico e completo. Diz James I. Packer “A visão puritana era que
pregar sermões evangelísticos significava ensinar toda a doutrina cristã – o
caráter de Deus, a Trindade, o plano da salvação, a obra da graça em sua
totalidade.”14

2. A REFORMA PROTESTANTE E A CENTRALIDADE DA PREGAÇÃO

Foi sobre o alicerce da Escritura que a Reforma foi estabelecida. Um dos pilares
da Reforma é o “sola Scriptura”. A Reforma Protestante foi uma volta à Palavra de Deus.
Os reformadores entendiam que a Escritura é a Palavra de Deus. A Reforma envolveu
uma redescoberta da Pregação.

2.1- O Sermão expositivo na tradição reformada

2.1.1- Em João Calvino

João Calvino é considerado o maior expositor da Reforma. Em Genebra pregou


expositivamente sobre quase todos os livros da Bíblia O reformador entendia que
pregação é um sinônimo de explicação, defendendo que a Bíblia não deve se moldar a
pregação, mas a pregação deve se moldar a Bíblia. Para João Calvino, o pregador deve
ser um exegeta das Escrituras.

Para o Reformador de Genebra a principal característica da igreja é a fiel pregação


da Palavra de Deus, e dizia: “onde quer que ouçamos a Palavra de Deus puramente
pregada e ouvida não se deve duvidar, existe uma igreja de Deus”.15 Calvino defendia
que o pregador precisa ser um exegeta e afirmava que o pregador deve ser um “servo da
mensagem.”

14 PACKER, James. Entre os Gigantes de Deus: uma visão puritana da vida cristã - 1ª Ed. São José dos Campos:
Editora Fiel, 1996. p. 184.
15 BARBOSA, Paulo André. Teologia Sistemática. v. IV, 1ª Ed. Porto Alegre: IBE. 2006. p. 128.
Hernandes Dias Lopes comenta que Calvino “explicava a Escritura palavra por
palavra, ele a aplicava sentença por sentença à vida e experiência de sua congregação”.16
Como pastor titular em Genebra, Calvino pregava duas vezes no domingo e todos os dias
da semana em semanas alternadas de 1549 até sua morte em 1564. Pregou mais de dois
mil sermões só no Antigo Testamento, passou um ano fazendo a exposição de do livro de
Jó e mais de três anos expondo Isaías. Foi calculado que Calvino teria pregado
pessoalmente numa média de 290 sermões por ano.17 O reformador afirma que a Palavra
pregada é o cetro pelo qual Cristo estabelece seu domínio sobre a mente e o coração do
seu povo. O púlpito é o trono de Deus, do qual ele governa nossas almas.

2.1.2- A pregação expositva em Ulrico Zwinglio e John Knox

Zwinglio tinha o costume de pregar expositivamente livro por livro,


interrompendo a prática apenas em ocasiões especiais. Jon Knox, o reformador da Escócia
também pregou expositiva e sequencialmente sobre toda a Escritura.

2.2- A pregação expositiva no ministério dos Puritanos

O puritanismo foi um movimento pela Reforma da Igreja Anglicana que iniciou


no século XVI e floreceu no século XVII. Nem todos os puritanos devem ser cortados na
mesma peça de tecido. Havia puritanos anglicanos, separatistas, arminianos e
hipercalvinistas, radicais e moderados. Os puritanos criam na soberania de Deus, na
supremacia da Escritrura e na primazia da pregação.

William Perkins (1558-1602), um dos mais influentes teólogos puritanos escreveu


“A Arte de Profetizar” publicado primeiro em latim em 1592 e em inglês em 1606
considerado o primeiro manual de pregação da Igreja da Inglaterra, nesta obra Perkins
aponta quatro princípios que devem guiar e controlar o pregador: 1) Ler o texto
claramente nas Escrituras canônicas, 2) Explicar o seu sentido, depois de lido, de acordo
com as Escrituras; 3) Reunir pontos de doutrina proveitosos, extraídos do sentido natural
da passagem e 4) Aplicar as doutrinas explicadas à vida e prática da congregação em
palavras simples e diretas.

16 LOPES, Hernandes Dias. Pregação Expositiva. São Paulo: Editora Hagnos, 2008. p. 48.
17 Calvino pregou sobre todos os livros da Bíblia exceto Ester, parte de Ezequiel, Judas e Apocalipse.
2.3- O que é Sermão Expositivo

O método homilético predominante em muitos círculos evangélicos, desde o


século XIX, é o do sermão tópico em textos avulsos da Escritura. Cada domingo uma
passagem ou mesmo uma frase avulsa da Escritura é escolhida por vários critérios, um
tema de algum modo relacionado ao texto é anunciado, e uma divisão mais ou menos
artificial é concebida. Alguns argumentos lógicos e pressuposições entremeadas de
ilustrações são apresentadas pelo pregador, o qual fazendo uso de retórica, linguagem
persuasiva, entonação de voz e gesticulação estudada tenta alcançar resposta emocional
do ouvinte. Essa é uma descrição exagerada em alguns casos, mas em outros é bem real.

Existe o sermão textual em que as divisões principais do sermão são derivadas do


texto (geralmente breve, as vezes frases) sem exegese do texto utilizado. Cada divisão é
usada como uma linha de sugestão; o texto fornece o tema do sermão.

Contudo, qualquer que seja o sermão tópico, textual ou lectio continua18, ela pode
ter caráter expositivo, pois o sermão expositivo tem o propósito de explicar o texto da
Escritura segundo o seu significado histórico, contextual e interpretativo, transmitindo
aos ouvintes contemporâneos a clara mensagem da Palavra de Deus com aplicação
pertinente. É possível classificar a pregação expositiva como pregação expositiva textual,
pregação expositiva tópica e pregação expositiva lectio continua.

Exposição19 é trazer à luz o que existe. O sermão expositivo é o tipo mais eficaz
de sermão, porque, com o tempo produz uma congregação arraigada na Bíblia,20 este tipo
de sermão é basicamente interpretativo. O sermão expositivo é aquele em que uma porção
mais ou menos extensa da Escritura (perícope) é interpretada em relação a um tema ou
assunto. A maior parte do material deste tipo de sermão provém diretamente da passagem,
e o esboço consiste em uma série de ideias progressivas que giram em torno de um
capítulo inteiro ou mais de um capítulo.

Albert Mohler faz a seguinte afirmação:

18 Refere-se à prática da leitura das Escrituras em sequência ao longo de um período de tempo. Cada leitura (que
pode ter lugar a cada dia ou a cada domingo) etc. começa onde terminou a sessão anterior.
19 A palavra exposição vem do termo latino “expositio” que significa “divulgar, publicar” ou “tornar acessível”.
20 Esta foi a experiência do autor na Assembleia de Deus Vila Iolanda Guaíba/RS onde pastoreou por 6 anos; neste

tempo pregou expositivamente e versículo por versículo sobre o Livro de Jó, Provérbios, Eclesiastes, todo o epistolário
do NT, o livro de Apocalipse, o Sermão do Monte e o Evangelho de João.
“A pregação expositiva autêntica requer a apresentação da Palavra de Deus
como o objetivo central. O propósito do pregador é ler, interpretar, explicar e
aplicar o texto. Portanto, o texto conduz o sermão do começo ao fim. (...).
Exposição verdadeira toma tempo, preparação, dedicação e disciplina. O
fundamento da pregação expositiva é a confiança de que o Espírito Santo irá
aplicar a Palavra aos corações dos ouvintes. (...) Esse ministério – tão vital para
o povo de Deus – está faltando ou foi minimizado em muitas congregações
evangélicas. O debate atual sobre a pregação pode abalar as congregações, as
denominações e o movimento evangélico; mas saiba disto: a recuperação e a
renovação da igreja nesta geração virão apenas quando, de púlpito a púlpito, o
arauto pregar como se nunca fosse pregar novamente, e como um homem
morrendo pregando a outros homens morrendo também.21
A pregação expositiva não é mero comentário falado sobre determinada passagem
do texto bíblico, antes, é a pregação que tem como foco aquela verdade salientada em
uma passagem específica da Escritura. O pregador abre a Escritura e a expõe ao povo de
Deus. Quando o sermão não é expositivo, tende a ser constituído apenas dos tópicos que
interessam o pregador.

Diz o Pr. Isaltino G. Coelho Filho que:

Pregar é ler a Palavra, interpretar e dar o sentido para que o povo entenda o
que está escrito. A Palavra é a fonte, a Palavra é a matéria, e o conhecimento
da Palavra é a finalidade. Isto traz grande proveito para o povo, como lemos
em Neemias 8.12: Então todo o povo saiu para comer, beber, repartir com os
que nada tinham preparado e para celebrar com grande alegria, pois agora
compreendiam as palavras que lhes foram explicadas. A pregação bíblica muda
a vida dos ouvintes.22
O Senhor Jesus usou o sermão expositivo, pois, tomava um trecho da Escritura e
interpretava o seu significado para seus ouvintes (Lc 4.16-21). Os apóstolos usaram este
tipo de sermão, como Pedro no dia de Pentecostes (At 2), Estevão (At 7,8) e Paulo utilizou
este método com maestria.

3. A TEOLOGIA REFORMADA E A PREGAÇÃO EXPOSITIVA

Boa parte dos teólogos reformados como entende a pregação expositiva


primeiramente como uma pregação centrada na Bíblia, manuseando de tal forma o texto
bíblico em foco que o seu sentido real e essencial, conforme existente na mente do autor
bíblico em particular,e,à luz do contexto geral das Escrituras, é tornado claro e aplicado
as necessidades dos ouvintes de hoje. Na pregação expositiva, o texto bíblico não é nem
uma introdução convencional para um sermão em um tema diferente, nem um cabide

21 MOHLER, Albert Mohler. Deus não está em silêncio: pregando em um mundo pós-moderno. São José dos
Campos: Editora Fiel, 2011. p. 142.
22
Extraído do site: wwwibcambui.org.br – dia 07 de novembro, de 2015.
conveniente onde pendurar um saco esfarrapado de pensamentos diversos, mas antes um
mestre que determina e controla tudo o que é dito. Em resumo, a natureza essencial da
exposição consiste em deixar claro o significado de uma evento ou mensagem, onde
alguma coisa que está obscura, ou difícil de ser entendida é explicada de maneira
satisfatória. O propósito da pregação expositiva é inferido da palavra em Lucas 24.27,23
fazer com que o ouvinte compreenda com o coração e sinta como Deus quer que ele sinta.
Não é um mero comentário de textos bíblicos e, sim, uma análise pormenorizada e lógica
do texto sagrado. O pregador não deve impor sobre os textos bíblicos sentidos que estes
não contém, antes sua tarefa é extrair dos textos o que Deus imbutiu nele.
D. M. Lloyd Jones sugere que por trás da pregação expositiva praticada por
Calvino, Knox e os puritanos, está a compreensão que, “enquanto as religiões geralmente
enfatizam o papel humano na adoração a Deus, o cristianismo enfatiza a necessidade de
ouvir Deus falando na pregação”.24 A pregação expositiva é de grande valor para o
desenvolvimento - do poder espiritual e da cultura teológica do pregador e de sua
congregação. A pregação expositiva inclina-se mais à interpretação histórico-gramatical
das Escrituras do que à alegórica.

3.1- As vantagens do Sermão Expositivo

Entre as razões apresentadas por pregadores reformados e puritanos para a prática


expositiva regular e sequencial das Escrituras alisto as seguintes:

1) Economiza o tempo do pregador que poderá ser concentrado no estudo do texto


e preparação da mensagem. Os pastores sabem que é difícil a seleção do texto, seja por
falta de texto (ou seja, a negligência a leitura da Palavra) ou por abundância em caso
oposto. Assim, não é impossível passar horas indeciso em relação à escolha do texto do
sermão.

2) É o método mais natural e razoável para com qualquer livro-texto, e


especialmente com a doutrina reformada (calvinista) das Escrituras e com a
concepção do pregador como arauto de Deus. Quem ensinaria história, geografia,
ciências, ou qualquer outra disciplina escolhendo passagens aleatoriamente de um livro
texto? Que método se mostra mais coerente com o ensino bíblico sobre a sua própria

23 “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras”
(Lucas 24.27).
24 JONES, op. cit., p. 385.
inspiração, autoridade, necessidade e suficiência, e sobre a natureza do ofício do pregador
como porta-voz de Deus? A autoridade da Bíblia e o ofício do pregador demandam
pregação expositiva.

3) Tende a produzir maior fidelidade ao texto. A pregação expositiva, por se propor a


pregar o texto, tende a ser mais fiel ao propósito do Espírito Santo na passagem, e à
própria argumentação do autor. Um artigo da revista The Banner of Truth, denuncia os
perigos de uma pregação tópica simplesmente:

Mesmo quando o texto é entendido em seu sentido literal e primário, a avidez


por alguma coisa nova e uma deferência para com a coceira nos ouvidos dos
auditórios modernos seduzem o pregador a tratar o assunto de tal maneira que,
com muita frequência, transformam o sermão em mero exercício de lógica ou
habilidade retórica. Sempre que a estética é cultivada com muita atenção e a
divisão requintada dos tópicos é exaltada em primeiro lugar, percebe-se que
tudo é sacrificado em nome da engenhosidade. A base legítima de todo
discurso é uma declaração significativa da Escritura. Mas nos sermões
elegantes que são ocasionalmente ouvidos, a base real é uma divisão artificial
ou esqueleto, geralmente tríplice, e, frequentemente com uma estrutura
construída de modo a resultar em uma rima atraente de termos autênticos, e ao
mesmo tempo impedir que se perceba a verdadeira conexão e escopo do
texto.25
4) Propicia mensagens não meramente textuais, mas contextuais, ou seja, mensagens
que não somente consideram o texto, mas prezam o contexto em que o texto está
inserido. Parece mais proveitoso tanto para o pregador quanto para o ouvinte
compreender o contexto histórico e linguístico quando perícope bíblicas são estudadas e
pregadas uma após a outra, do que por meio da pregação de textos avulsos.

5) Permite a pregação de todo o conselho de Deus, fornecendo equilíbrio à pregação.


Todos nós temos textos prediletos, nos quais, se não tivermos o devido cuidado, nos
concentraremos de modo exagerado, negligenciando outros textos e assuntos que
precisam ser abordados pelo pregador para que o equilíbrio bíblico seja refletido na
pregação. Não negamos que existem passagens bíblicas que são de difícil interpretação,
as quais naturalmente evitamos. Há doutrinas bíblicas que sabemos ser indesejáveis a
muitos ouvintes tais como: a eleição e a predestinação, a doutrina do pecado, do juízo
final, e mesmo o sofrimento na vida do cristão. Há passagens bíblicas que tratam de
assuntos relacionados a problemas circunstanciais específicos pelos quais passa a
congregação ou alguns de seus membros, os quais, se deliberadamente escolhidas pelo
pregador em determinado momento, resultariam em mensagens mais difíceis de ser

25 ANGLADA, Paulo. Introdução à Pregação Reformada. 1ª Ed. Ananindeua: Knox Publicações, 2005. p. 147.
recebidas por aqueles que mais precisam delas. A pregação expositiva sequencial
preserva o pregador de todos esses riscos.

6) Confere autoridade ao pregador e a pregação. A ideia reformada (calvinista) da


autoridade do pregador está relacionada a fidelidade do pregador à mensagem tencionada
no texto bíblico. É o “apego à palavra fiel que é segundo a doutrina” que confere ao
pregador “poder, assim para exortar pelo reto ensino como para convencer os que
contradizem” (Tito 1.9).

3.2- Dificuldades do Sermão Expositivo

É possível que a tarefa de interpretar a Bíblia de modo adequado tendo o


discernimento do que deve e o que não deve ser inserido na exposição da passagem tome
muito tempo e seja bastante trabalhoso.

Outros pregadores têm dificuldade na exposição porque no estudo exegético


acham tantos pormenores que acabam perdendo de vista a mensagem principal do texto.
O sermão não pode conter inúmeros detalhes porque dificulta para o ouvinte acompanhar
a mensagem.

Outros pregadores não entendendo que o principal propósito do sermão expositivo


é a interpretação gastam tempo demais na aplicação, esquecendo-se que é o Espírito Santo
que imprime no coração do homem a Palavra pregada com clareza e simplicidade.

O pregador deve ser dedicado ao estudo da Palavra de Deus. Quem não busca
aprender não terá nada para ensinar. A vida de estudo do pregador deve ser disciplinada.
Nenhum pregador pode pregar com eficácia sem mergulhar fundo no estudo das
Escrituras. D. M. Lloyd Jones diz que:

Não é bastante que um homem deva meramente conhecer as


Escrituras; ele é obrigado a conhecê-las no sentido de captar delas a
essência da teologia bíblica, aprendendo-a de forma sistemática.
Também lhe convém estar bem versado nestas questões, para que
toda a sua pregação seja controlada.26

3.3- Uma hermenêutica indispensável

26 JONES, op. cit., p. 139.


O pregador expositivo certamente precisa saber manejar a Escritura. A
hermenêutica reformada apresenta dois princípios fundamentais que devem reger este
estudo:

a) Atos redentores na Escritura

O personagem central em toda a história bíblica é Deus, e alguns aspectos do seu


propósito redentor estão ligados ao tema principal de todas as narrativas. Deste modo,
antes do intérprete extrair quaisquer lições morais da história bíblica, deve extrair
primeiro as lições teológicas. Usamos como exemplo a história de Davi (1 Sm 17). O
ponto principal não é Davi, um moço corajoso, pastor, que matou o gigante Golias, mas
sim que tanto Golias quanto Davi viam seu conflito como uma batalha entre os seus
deuses (1Sm 17.43-47).

Quando Davi degola o gigante, ele diz que o mundo inteiro saberá que “existe um
Deus em Israel.” Isso acontecerá, diz Davi para que todos saibam que “o SENHOR salva,
não com espada, nem com lança; porque do SENHOR é a guerra, e ele vos entregará
nas nossas mãos” (1 Sm 17.47). A lição do episódio depende do entendimento que Davi
tinha e do que nós temos das verdades doutrinárias a respeito da pessoa e obras de Deus.
Infelizmente no contexto pentecostal e neopentecostal mensagens do tipo, Davi derrubou
Golias, você pode derrubar o seu gigante são frequentes, o que com certeza, não faz
justiça ao texto bíblico.

As narrativas, por exemplo, no Antigo Testamento estão centradas na aliança de


Deus com Israel e sua graça em estabelece-las, sua fidelidade em cumpri-las e sua
misericórdia para com as que as violam.27 Assim, as narrativas do Novo Testamento cada
evangelho aponta para morte e ressurreição de Cristo, revelando sua divindade,
compaixão, justiça e sabedoria.28

A Bíblia é mais que uma narrativa relatando a história humana. Existe uma
história maior por trás da história. A Bíblia não é sobre mim, ou meus problemas,
tampouco um manual de autoajuda, mas, a Bíblia é a história de Deus e sua linha de

27Jesus entendia todo o Antigo Testamento como que falando de modo real sobre ele (Lc 24.44-45).
28Os autores apostólicos são extremamente cuidadosos para que seus leitores não abstraiam qualquer parte de seus
escritos da pessoa e obra de Cristo.
história é o evangelho, isto é, o plano de Deus de redimir um povo para si e restaurar sua
criação caída por meio de Cristo.

b) Ler a Escritura como narrativa contínua (história)

Talvez não exista um exemplo mais forte sobre a centralidade da obra de Cristo
na Escritura que Lucas 24.25-27. De modo mais simples, todo o texto bíblico é predicado
sobre a obra de Cristo, preparado para obra de Cristo, refletivo da obra de Cristo, e/ou
resultado da obra de Cristo. Contudo, não somos chamados a importar alguma conexão
artificial com Jesus quando lemos ou ensinamos um trecho das Escrituras. O oposto é
verdadeiro. Somos chamados a entender e a fazer a exposição de modo específico em que
as perícopes apontam para Cristo, e Jesus pressupõe com suas palavras que, na verdade,
toda passagem aponta para ele. Para que nossa leitura seja centrada no evangelho, como
deve ser sempre o pregador deverá olhar e focar em Jesus. É tão possível fazê-lo quando
tratamos o Novo Testamento quanto quando lidamos com o Antigo Testamento.

c) Ler a Bíblia como um compêndio de perspectivas inspiradas por Deus (ou


Teologia)

A Bíblia não apenas reconta a história; ela também a interpreta. A Escritura vem
até nós em forma de declarações, promessas, provérbios, convocações e outras formas,
entretanto, inspirada por Deus em todas as suas partes. Se a Escrituras for lida como
narrativa contínua a linha de sua história é queda, redenção, e restauração. Se for lida
como uma coletânea de perspectivas teológicas, os temas em relevo são Deus, o pecado,
Cristo e a fé. A mensagem de ambas as leituras não são contraditórias, mas
complementares, pois, ambas enxergam o triunfo do propósito redentivo eterno de Deus.

d) Ler a Escritura na perspectiva de Lei e Evangelho

Entender a Lei e o evangelho de maneira adequada é a chave da vida e pregação


cristocêntricas. Nós apresentamos Cristo como àquele que cumpriu a Lei para os
pecadores debaixo da lei, que vicariamente assumiu suas transgressões da lei e o juízo
merecido, morrendo então sobre a cruz em um sacrifício justo diante de Deus pelos
injustos. "Aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós; para que, nele,
fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Co 5.21). Agora, chamamos a todos os que estão
condenados debaixo da lei a se arrepender e aceitar pela fé a reconciliação debaixo da
graça e a vida eterna.
A tradição luterana enfoca com propriedade este assunto como vemos na Fórmula
de Concórdia: “Lei é a doutrina em que a justa e imutável vontade de Deus é revelada, e
como o homem deveria ser, em pensamentos, palavras e obras, para ser agradável a Deus,
e aceitável a Deus.”29 Lutero dizia que “a lei revela a enfermidade, o evangelho é que
fornece o remédio”. A tradição luterana destaca os três usos da lei: freio, espelho e norma.

Paulo diz que o evangelho é “poder de Deus para a salvação” (Rm 1.16). A
Fórmula de Concórdia define o evangelho como: “a pregação da clemência de Deus por
causa de Cristo, pela qual os convertidos a Cristo foi perdoada e remetida a incredulidade
na qual, anteriormente, estavam atolados e que a lei de Deus perdoou.”30

Não é tão fácil distinguir Lei e Evangelho. Lutero diz: “se alguém fosse bem
versado nesta arte, quero dizer, que souber fazer esta distinção corretamente, merecerá
ser chamado de Doutor em Teologia.”31 A lei ordena a justiça que tem de ser cumprida.
O evangelho aponta para Cristo que cumpriu toda a justiça requerida pela lei que é
recebida por fé. Na lei, Deus exige; no Evangelho, Deus concede. A lei acusa e condena,
mostrando ao pecador sua verdadeira condição.

No evangelho, Deus anula a condenação dos que estão sob a lei, por havê-la
eliminado completamente na cruz, para a salvação do pecador. No entanto, a lei aponta
para o homem caído à luz do evangelho. É a partir dele que a lei torna-se pedagogo que
leva a Cristo. Em decorrência, a correta teologia depende da exata distinção entre lei e
evangelho, pois, o homem sempre corre o risco de misturar e confundir lei e evangelho,
invalidando assim a Palavra de Deus, não apontando para Cristo e fazendo do homem seu
próprio salvador (moralismo).

4. O CONTEÚDO DA PREGAÇÃO EXPOSITIVA

Ao considerar o ensino do Novo Testamento sobre a pregação, percebemos que


seu conteúdo é a Palavra de Deus (2 Tm 4.2), “todo o desígnio de Deus” (At 20.27). Em
dias que caracterizam o púlpito evangélico em termos de promessas de cura e

29 FÓRMULA DE CONCÓRDIA, Declaração Sólida. Livro de Concórdia. 6ª ed. Porto Alegre: Concórdia; São
Leopoldo: Sinodal; Editora da Ulbra: Canoas, 2006, p. 601.
30 FÓRMULA DE CONCÓRDIA, Declaração Sólida. Livro de Concórdia. 6ª ed. Porto Alegre: Concórdia; São

Leopoldo: Sinodal; Editora da Ulbra: Canoas, 2006, p.598


31 WALTER, C.F.W. Lei e Evangelho. 2ª Ed. Porto Alegre: Editora Concórdia, 1998. p. 39.
prosperidade, legalismo, moralismo e ativismo, ergue-se a pergunta qual é o conteúdo da
pregação expositiva reformada (calvinista)?

a) Bíblico

Os Reformadores pregavam a Bíblia, toda a Bíblia. Ao invés de longas e fabulosas


histórias sobre os santos e mártires, ao invés de passagens de Aristóteles e das sutilezas
dos escolásticos, os reformadores pregavam a Bíblia. Lutero condenava os pregadores
que, ao invés de Cristo e o evangelho, fazem de “fábulas inúteis” o conteúdo de suas
pregações, “botando a perder tanta gente que gostaria de ouvi-lo.”32

Calvino não admitia que imaginações humanas fossem o conteúdo da pregação,


pois, entendia que pregação é sinônimo de “explicação da Escritura”. Para ele, “toda a
obra dos ministros restringe-se ao ministério da Palavra de Deus; toda sabedoria deles
restringe-se à Palavra; toda eloquência deles, restringe-se à sua proclamação.”33

Os puritanos entendiam que pregação verdadeira é a exposição, pois assim,


ensinavam teologia por meio da pregação, ficando submissos ao texto bíblico permitindo
que a Palavra falasse por si mesma. Pregação bíblica é pregar a mensagem da Bíblia, no
seu contexto e no espírito que a Bíblia o apresenta. A pregação reformada, como é
expositiva e sequencia valoriza o contexto histórico e linguístico do texto, ou seja, pregar
as verdades bíblicas nas mesmas proporções e relações em que a Bíblia as apresenta.

b) Cristocêntrico

A pregação reformada é essencialmente cristocêntrica. Calvino, por exemplo,


pregou sobre a Bíblia toda. Mas Cristo, sua pessoa, morte expiatória, ressurreição e reino
era o assunto sempre presente em suas mensagens. A Reforma trouxe a obra vicária de
Cristo como o primeiro plano da pregação. Vemos nos Cânones de Dort que “qualquer
contraste agudo entre pregação teocêntrica e cristocêntrica era inconcebível.”34

Na pregação reformada, o Antigo Testamento e o Novo Testamento são


apresentados tendo em mente que ambos têm seu ponto em Cristo, apontando para o fato
de que a pregação bíblica não é apenas teocêntrica, mas também cristocêntrica. Como é

32 LUTERO, Martinho Obras Selecionadas Das Boas Obras, Volume 2, 2ª Edição 2000 Porto Alegre: Editora
Concórdia e São Leopoldo: Editora Sinodal. págs. 127-128
33 ANGLADA, op. cit., p. 119.
34 Bíblia de Estudo de Genebra. 2ª Ed. Revista e Ampliada. São Paulo: Cultura Cristã ; Barueri: Sociedade Bíblica do

Brasil, 2009. p. 1783.


possível aos pregadores de hoje pregarem “nada exceto Cristo” e ao mesmo tempo pregar
a Bíblia toda como ela trata de todo a gama de questões éticas e espirituais do tempo em
que vivemos?

Pregando cada passagem bíblica à luz de seu contexto na história da redenção.


Levando em consideração o caráter tipológico do Antigo Testamento. Identificando como
cada texto se relaciona com a revelação bíblica a respeito da pessoa e obra de Cristo,
como o Mediador do pacto da redenção, e seus ofícios de profeta, sacerdote e rei, com
vistas a restauração da imago Dei no povo de Deus perdida na queda. A rejeição do
método alegórico pelos reformadores nunca impediu a fé reformada de discernir o caráter
tipológico do Antigo Testamento, de modo a encontrar Cristo nele.

É o caráter tipológico da interpretação reformada que atenta para os padrões da


ação, agência e instrução de Deus no Antigo Testamento que acha seu cumprimento em
Cristo que preserva a pregação reformada em degenerar-se ou em um moralismo legalista,
que leva o pregador apenas a achar lições morais dos episódios descritos na Bíblia, bem
como livra o pregador de espiritualizar o texto em busca de uma relevância que encontra-
se apenas na imaginação fértil do pregador.

c) Teológico

Pregação e teologia atualmente são considerados termos antagônicos, entretanto,


teologia sem proclamação é vazia, da mesma forma que pregação sem teologia é cega.
Atualmente a pregação evangélica tem-se tornado cada vez mais vazia de conteúdo
doutrinário. Os chamados “tele-evangelistas” apresentam uma mensagem que nada tem
a ver com o referencial doutrinário das Escrituras, contudo, os temas teológicos,
cristológicos e soteriológicos devem ser anunciados.

O escopo da pregação reformada é a Bíblia. A essência da pregação reformada é


Cristo, mas o arcabouço teológico da pregação reformada é a soberania de Deus que “faz
todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11). A fé reformada é a fé em
um Deus que governa o universo em conformidade com seu plano eterno e imutável, e
considera a Escritura como o registro infalível e imutável de sua vontade e obra, a
pregação expositiva não proclama as verdades bíblicas como um amontoado de verdades
desconexas.

Pelo fato de a Bíblia ser a palavra inspirada de Deus e acerca de Deus, a pregação
expositiva é necessariamente teológica. Na pregação reformada, portanto, o pregador
eficaz deve ser teólogo. Não necessariamente no sentido acadêmico, mas no sentido da
busca do conhecimento e a proclamação de Deus como ele se apresenta na Escritura.

d) Evangélico

A ênfase da pregação expositiva é evangélica, ou seja, expõe a boa nova da


salvação graciosa de Deus em Cristo oferecida a todo o pecador arrependido que a receba
por fé. Uma das mais importantes contribuições da Reforma Protestante foi a valorização
da pregação da doutrina da graça. Os reformadores Lutero, Zwinglio e Calvino focavam-
se na proclamação consistente do evangelho da graça de Deus para a salvação de todo
aquele que crê.

Não por obras da lei, mas pela pregação da fé, é um lema da pregação reformada.
Isso não quer dizer, no entanto, que a lei não deva ser pregada. A lei não salva; ela revela
o pecado, avulta o pecado e condena o pecador (Rm 3.19-20; 5.20). A lei expressa a
santidade de Deus, e em si mesma é santa, justa e boa (Rm 7.12,16). O problema não é a
lei em si, mas no mau uso que o homem em sua natureza corrompida faz da lei. Assim, a
lei é o instrumento empregado pelo Espírito para revelar a pecaminosidade do coração
humano e convencê-lo da culpa, gerar arrependimento e conduzi-lo a Cristo (Gl 3.24).

A fé reformada entende que a pregação da Palavra de Deus como meio de graça


inclui tanto a pregação da lei quanto do evangelho. As igrejas reformadas desde o
princípio distinguiram entre lei e evangelho como duas partes da Palavra de Deus, em seu
caráter como meio de graça. Não identificam a lei com o Antigo Testamento e o
evangelho como o Novo, mas entende que a primeira diz respeito a vontade de Deus
revelada sobre a forma de mandamentos e proibições, e a segunda abrange as promessas
e obra de reconciliação que proclama o amor gracioso e redentor de Deus em Cristo.35

João Calvino distingue três usos ou ofícios da lei: (1) Revelar a corrupção,
conduzindo pecadores a Cristo (o uso pedagógico - Gl 3.24); (2) Reprimir as
manifestações do pecado, nos ímpios “por temor ou vergonha” (o uso político ou civil -
1 Tm 1.8-11); (3) Ensinar ao cristão a vontade de Deus, regulando sua vida e motivando
sua obediência (O uso didático ou normativo - Sl 1.2; 19.7; 119.105; 1 Jo 5.3).36

Entretanto, a ênfase de Calvino (como os demais reformadores) era na pregação


do evangelho da graça soberana de Deus em Cristo. A Confissão de Westminster reflete

35 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 1ª Ed. Campinas: Editora Luz para o Caminho, 1990. p. 730.
36 CALVINO, João. As Institutas. 1ª Ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. v. 2. p. 6-12.
o entendimento reformado quando exorta todo ministro a fazer do arrependimento e da
fé, temas essenciais da pregação. “O arrependimento para vida é uma graça evangélica,
doutrina esta que deve ser pregada por todo ministro do evangelho, tanto quanto o da fé
em Cristo.”37

5. A PREGAÇÃO EXPOSITIVA E O CRESCIMENTO DA IGREJA

Todo pastor anseia ver sua igreja crescer. A igreja deve crescer, precisa crescer.
Se ela não cresce é porque está enferma. Muitas vezes fazemos a pergunta errada: o que
devo fazer para a minha igreja crescer. A pergunta certa seria: o que está impedindo a
minha igreja de crescer. Há dois extremos perigosos quanto ao crescimento da igreja:

a) Numerolatria – É a idolatria dos números. É crescimento como um fim em si mesmo.


É o crescimento a qualquer preço. Hoje vemos muita adesão e pouca conversão. Muita
ajuntamento e pouco quebrantamento. A pregação da fé sem o arrependimento e da
salvação sem conversão.

b) Numerofobia – É o medo dos números. É desculpa infundada da qualidade sem


quantidade. A qualidade gera quantidade. A igreja é um organismo vivo. Quando ela
prega a Palavra com integridade e vive em santidade, Deus dá o crescimento. Não há
colheita sem semeadura.

O crescimento da Igreja tem sido um tema bastante discutido em congressos e


encontros de líderes evangélicos, é um assunto que não se pode desprezar. Nos Estados
Unidos, seminários e instituições teológicas gastam tempo estudando o assunto. Como o
crescimento mais acentuado tem se dado na América Latina entre os pentecostais,
especialmente a Assembleia de Deus, o foco se deslocou dos Estados Unidos para a
América Latina. O grande desafio atual é buscar as bases bíblicas de um planejamento
que esteja alerta sobre as armadilhas que existem entre aqueles que distorcem este assunto
no que diz respeito ao crescimento da igreja

5.1- O movimento de crescimento da Igreja

37 CONFISSÃO DE WESTMINSTER : Capítulo XV - 1. In.: Bíblia de Estudo de Genebra – 2ª Ed. Revista e Ampliada.
São Paulo: Cultura Cristã ; Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009. p. 1793.
O Movimento de Crescimento da Igreja confunde-se com a história do missionário
Donald MacGravan e a Escola de Missões Mundiais do Seminário Fuller. MacGravan,
nasceu na Índia filho de missionários, era membro da Igreja dos Discípulos de Cristo.

Analisando o trabalho missionário na Índia concluiu que em algumas regiões as


pessoas resistem ao Evangelho e que considerar a cultura destes povos é muito
importante, defendia também que as pessoas envolvidas com missões devem investir
devem eleger prioridade e investir todos os recursos nelas. MacGravan também defendeu
a pesquisa e mapeamento de campo para uma ação mais eficiente. Suas idéias deram
origem ao livro “The Bridges of God” (As Pontes de Deus) que delineou as linhas mestras
do movimento.

Lecionando na Escola de Missões Mundiais do Seminário Fuller contou com a


colaboração de Peter Wagner ex-missionário na América Latina e sua influência tem se
estendido a quase todas as denominações dos Estados Unidos e outros países. A ideia
principal é “o princípio da unidade homogênea”. Esta ideia defendida por McGravan
argumenta que as pessoas gostam de ser cristãs, sem ter que cruzar barreiras raciais,
linguísticas ou socioeconômicas. No contexto latino-americano, teólogos e missiólogos
como Orlando Costas, René Padilla e Samuel Escobar, entre outros, têm criticado
severamente o Movimento de Crescimento da Igreja da Escola de Fuller.

5.2- Análise do movimento de crescimento da Igreja

Aspectos positivos do movimento são a valorização do trabalho do leigo e o


envolvimento dos crentes com ministérios específicos, buscando o dom de trabalho de
cada cristão. A ênfase correta da conversão como a consequência primordial da
evangelização. Despertaram as consciências de muitos líderes cristãos a retomarem o
compromisso com a evangelização e o discipulado.

Entretanto, críticas têm sido feitas ao movimento por ser demasiadamente


pragmático, e apreciar apenas o crescimento numérico, considerando as chamadas megas-
igrejas como sinônimo de sucesso. O movimento também tem se caracterizado por uma
hermenêutica sem base teológica sólida. Outro motivo de crítica tem sido a utilização de
métodos utilizados na administração de empresas, como por exemplo, o planejamento
estratégico, sobre isso diz Solano Portela:

A metodologia prescrita e o planejamento sugerido trazem inerente em si o


conceito de que a evangelização é como uma receita de bolo: se os ingredientes
forem corretamente adicionados e misturados no tempo correto, os resultados
advirão. O próprio Peter Wagner indica que considerações teológicas são de
pouca validade prática, em sua metodologia.38
O Movimento de Crescimento de Igrejas, em suas palavras, “apoia-se
principalmente nas ciências sociais e no método científico das mesmas”.39 É construído
em cima do que ele chama de “pragmatismo consagrado.”40

5.3- O crescimento saudável da Igreja num contexto influenciado pelo movimento


de crescimento da Igreja

Não é possível medir o crescimento da igreja apenas pelo aspecto numérico. Cristo
não se impressionava com as multidões que o seguiam com motivações erradas (Jo 6.60-
71). Evidentemente como ministros devemos buscar o crescimento numérico da igreja,
contudo, a metodologia utilizada para alcançar este fim precisa passar pelo filtro das
Escrituras. A base do crescimento da igreja primitiva era pregação e oração (At 6.4).

O verdadeiro crescimento da igreja, tanto qualitativo como quantitativo, não surge


através de pesquisa social e tecnicas de marketing, mas por meio de pregação e reforma.
Muitos pregadores atualmente pensam na igreja como uma lanchonete, “fast food”, onde
devem descobrir o que faz as pessoas felizes e oferecer isso sem levar em consideração
as implicações teológicas. Assim, as mensagens são superficiais, cheias de humor e
anedotas, a fim de prender a auduência.

É claro que como pastores não podemos nos satisfazer com a esterilidade da igreja.
Entretanto, aplauso, popularidade não passam de vaidade. Toda igreja em verdadeiro
crescimento tem um púlpito acima da média. Observando o Novo Testamento,
especialmente Atos dos Apóstolos percebemos que não é possivel crescimento sem
pregação. A igreja cresce a medida que a Palavra cresce na congregação. A igreja cresce
quando a Palavra se multiplica, se espalha e prevalece.

38 "Da perspectiva puramente teológica, alguém se torna discípulo quando o poder do Espírito vem até esta pessoa
e faz uma nova criatura (2 Co 5.17). Isto é salvação. O Novo Nascimento. É o momento em que o nome de uma
pessoa é escrito no Livro da Vida do Cordeiro (sic) . . . mas embora isto seja válido teologicamente, estrategicamente
não ajuda muito" (Wagner, Estratégias, 57).
39 Ibidem
40 "Pragmatismo Consagrado" seria a concentração nos fins, como justificadores de quaisquer meios, na tarefa de

transmissão do evangelho, com a única restrição àqueles meios que explicitamente fossem "moralmente
questionáveis". Esta posição é abertamente defendida por Peter Wagner que afirma: "Deus quer que sejamos
pragmáticos" (Estratégias, 28-30). A falácia da proposição é evidente, pois meios podem até ser moralmente
aceitáveis, mas teologicamente questionáveis.
A mesma realidade vista em Atos dos Apóstolos pode ser confirmada em Genebra
no ministério de João Calvino. O reformador era acima de tudo um expositor das
Escrituras. Calvino entendia que o púlpito é o trono de onde Deus governa a sua igreja.
De Genebra, Calvino influenciou o mundo cristão de várias formas. A cidade tornou-se
um refúgio para protestantes perseguidos. Alunos vinham de todas as partes da Europa
para estudar e serem treinados para o ministério.

O crescimento saudável da igreja e a pregação expositiva são inseparáveis. D. M.


Lloyd Jones foi um grande expositor da Escritura. Milhares de pessoas se algomeravam
na Capela de Westminster todos os domingos até sua morte em 1981 para ouví-lo e
milhares de pastores em todo o mundo (inclusive eu) são edificados ainda hoje por seus
sermões em áudio ou impressos. W. A. Criswell, pastor da Primeira Igreja Batista de
Dallas, passou desessete anos pregando de Gênesis a Apocalipse. Existem centenas de
outros exemplos que poderia mencionar confirmando que a a pregação expositiva é
essencial para revitalizar a igreja e levá-la a crescer.

5.4- A Pregação Expositiva como ferramenta para o crescimento da Igreja no Brasil

Nossa sociedade é ávida por resultados. O sucesso é medido por resultados. O


número de membros tem sido considerado a medida de uma igreja. As igrejas evangélicas
crescem rapidamente na América Latina, especialmente no Brasil, sobretudo os
pentecostais. Mas os números não bastam. Uma igreja pode ser grande e continuar na
contramão do propósito de Deus. Uma grande multidão dentro da igreja não é garantia da
aprovação de Deus.

Muitas igrejas sacrificam seu compromisso com a Palavra de Deus para ganhar
mais membros. Outras adotam estratégias de marketing, mudando a mensagem para atrair
mais pessoas a seus templos. Pregam o que as pessoas querem ouvir, não o que elas
precisam ouvir. Tais igrejas pregam mensagens emocionais e sensacionalistas, fazendo
promessas às pessoas sobre o que Deus não promete nas Escrituras, anunciando em nome
de Deus o que ele não disse (Jr 23.25-32). Assim, quando vemos grandes multidões nessas
igrejas que adulteram o evangelho, não existe uma representação genuína de crescimento
de igreja.

O verdadeiro crescimento ultrapassa o crescimento numérico. O crescimento da


igreja não é alcançado às custas da fidelidade às Escrituras. Cristo não mudou sua
mensagem quando a multidão o abandonou (Jo 6.66-69). Embora as leis do pragmatismo
pareçam funcionar, não funcionam aos olhos de Deus. A igreja de Laodicéia se
considerava rica e poderosa, mas Jesus a considerava pobre, miserável e cega (Ap 3.17).
Ao observarmos a Bíblia e a história da Igreja , concluimos que pode haver crescimento
numérico sem pregação, mas é impossivel haver crescimento sadio sem uma pregação
bíblica e espiritual.

Se por um lado a pregação poderosa marcou os momentos mais importantres da


história da igreja como a Reforma, por outro lado as crises mais profundas da igreja foram
causadas pelo fracasso na pregação. A falta de crescimento é resultado na falha da
pregação. A explosão do liberalismo, misticismo e pragmatismo que influencia muitas
igrejas hoje, produziu morte em algumas delas e um falso crescimento em outras.
Entretanto, a mensagem expositiva está viva e triunfa sobre todas as dificuldades
alcançando resultados poderosos no crescimento da igreja para a glória de Deus.

CONCLUSÃO

O futuro da pregação expositiva é incerto. O que um pastor sincero tem de fazer


para alcançar pessoas que se mostram indispostas e incapazes de ouvir com atenção e
raciocínio exposições da verdade divina? Este é o grande desafio para os líderes da igreja
contemporânea. Não devemos nos render à pressão para sermos superficiais. Temos de
encontrar maneiras de fazer conhecida a Palavra de Deus a uma geração que não apenas
recusa-se a ouvir, mas também não sabe como ouvir, pois, a conclusão a que chego é que
a pregação expositiva não é somente relevante para a igreja de hoje, mas sem dúvida vital
e importante.

Verificamos dois perigosos extremos na igreja evangélica brasileira: de um lado


a multiplicação de grupos neopentecostais cuja característica é o emocionalismo e mais
ênfase na emoção que na Escritura e de outro lado o liberalismo teológico e suas variantes
que desvaloriza a Escritura e degenera a razão em racionalismo. Ao passo que as igrejas
neopentecostais juntam multidões ávidas pelo alívio imediato do sofrimento, as igrejas
liberais sepultam igrejas pelo mundo e também no Brasil. O misticismo neopentecostal
produz superficialidade e o liberalismo teológico apostasia.

A resposta para este problema complexo é a volta às Escrituras. O âmago da


pregação apostólica era a Escritura. A Reforma Protestante foi um movimento de retorno
à Escritura. A maneira de corrigir as distorções neopentecostais e liberais é a redescoberta
da pregação expositiva, pois, a Palavra de Deus deve ser proclamada fiel e integralmente.

Percebemos que o crescimento numérico não é um fim em si mesmo. Deus deseja


que sua igreja cresça, mas este crescimento precisa ser harmônico, saudável, espiritual e
numérico, tanto quanto qualitativo e quantitativo. Uma igreja pode crescer
numericamente sem a pregação expositiva, contudo, não é possível crescer
espiritualmente sem a exposição da Palavra de Deus.

Analisando o tema deste artigo cheguei a várias conclusões que apontam a importância e
o papel preponderante da pregação expositiva para a igreja de hoje. Em primeiro lugar,
há uma correlação entre o compromisso com a absoluta supremacia da Escritura, a
primazia da pregação e o crescimento da igreja, pois:

 A pregação expositiva guia a igreja para um crescimento saudável em virtude


de seu compromisso com a inerrância, suficiência e infalibilidade da Escritura.
 A pregação expositiva é vital para a igreja contemporânea porque a primazia da
pregação é a tarefa mais importante do pastor evangélico que deseja ser fiel na
proclamação da Palavra.

Em segundo lugar, há uma correlação entre o propósito bíblico da pregação e o


crescimento saudável da igreja. A pregação expositiva que promove o crescimento da
igreja não deve desviar-se de sua finalidade – glorificar a Deus. Paulo diz: “fazei tudo
para a glória de Deus” (1 Co 10.31). Segundo a ótica reformada o propósito supremo da
pregação é a glória do Trino Deus e isto está relacionado à salvação dos perdidos e à
edificação da igreja. A pregação expositiva glorifica a Deus, exaltando a Cristo mediante
o poder do Espírito Santo. Então, a pregação expositiva é a pregação centrada em Deus.
A glória da Santíssima Trindade é o centro da pregação reformada.

Em terceiro lugar, há uma ligação entre o estilo de pregação e o crescimento


saudável da igreja:

A pregação expositiva é de vital importância para a igreja, pois é centrada na


Escritura, sendo identificado o seu estilo nos sermões encontrados tanto no Antigo como
no Novo Testamento.

No passado este estilo de pregação foi o meio pelo qual a igreja manteve seu
equilíbrio no que diz respeito ao crescimento. Os grandes pregadores depois da era
apostólica como João Crisóstomo e Agostinho eram hábeis expositores da Bíblia. A
Reforma restaurou a centralidade da pregação sob a bandeira do sola scrptura.
Reformadores como Calvino, Knox, Bucer e Zwinglio eram pregadores expositivos, bem
como os puritanos. A maioria dos conhecidos pregadores modernos como D. M. Lloyd
Jones, John Stott, John MacArthur, John Piper, Donald Carson, R.C. Sproul, e no Brasil,
Hernandes Dias Lopes, Augustus Nicodemus, Antônio Elias, Nilson Faninni, João F.
Soren, Russel Shedd também são pregadores expositivos. Todos os citados como uma
nuvem de testemunhas passaram o bastão da pregação expositiva as gerações seguintes.
A pregação expositiva não é inovação, mas um retorno à herança bíblica e histórica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANGLADA, Paulo. Introdução à Pregação Reformada. 1ª Ed. Ananindeua: Knox


Publicações, 2005.
BARBOSA, Paulo André. Teologia Sistemática. v. IV, 1ª ed. Porto Alegre: IBE. 2006.
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 1ª ed. Campinas: Editora Luz para o Caminho,
1990.
CALVINO, João. As Institutas. 1ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. v. 2.
CONFISSÃO DE WESTMINSTER : Capítulo XV - 1. In: Bíblia de Estudo de Genebra.
2ª Ed. Revista e Ampliada. São Paulo: Cultura Cristã ; Barueri: Sociedade Bíblica do
Brasil, 2009. p. 1793.
CRANE, James. O Sermão Eficaz. 1ª ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1990.
DEVER, Mark. 9 Marcas de uma Igreja Saudável. 1ª ed. São José dos Campos: Editora
Fiel, 2012.
DORIANI, Dan. A verdade na Prática. 1ª Ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
FÓRMULA DE CONCÓRDIA, Declaração Sólida. Livro de Concórdia. 6ª ed. Porto
Alegre: Concórdia; São Leopoldo: Sinodal; Editora da Ulbra: Canoas, 2006.
FRANZMANN, Martin H. O Dilema Hermenêutico: o dualismo na Interpretação da
Escritura Sagrada. Porto Alegre: Casa Publicadora Concórdia.
JONES, David Martin Lloyd. Pregação e Pregadores - 2ª ed. São José dos Campos:
Editora Fiel, 2011.
KAISER, JR., Walter e SILVA Moisés. Introdução à Hermenêutica Bíblica. 1ª ed. São
Paulo: Cultura Cristã, 2002.
LEWIS, Ralph. Pregação Indutiva. 1ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.
LIEFELD, Walter. Exposição do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008.
LOPES, Hernandes Dias. Piedade e Paixão. 2ª ed. São Paulo: Editora Candeia, 2003.
LOPES, Hernandes Dias. Pregação Expositiva. São Paulo: Editora Hagnos, 2008.
MACARTHUR. John Jr. Ministério Pastoral. São Paulo: CPAD, 2004.
MOESCH, Olavo. A Palavra de Deus – Teologia e Práxis da Evangelização. 1ª ed.
Petrópolis: Editora Vozes, 1995.
MOHLER, Albert Mohler. Deus não está em silêncio: pregando em um mundo pós-
moderno. São José dos Campos: Editora Fiel, 2011.
MOHLER, Albert, MAHANEY, C.J., MACARTHUR, John, PIPER, John, Duncan III,
LIGON e SPROUL, R.C. - A Pregação da Cruz – 1ª Edição 2010 São Paulo: Cultura
Cristã
MOHLER, Albert. Apascenta o meu rebanho.1ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.
MONTGOMERY, Jonh Warwick. Hermenêutica Luterana e Hermenêutica Hoje –
Porto Alegre. Casa Publicadora Concórdia
MUELLER, J. T. Dogmática Cristã. 4ª ed. Porto Alegre: Concórdia; Canoas: Editora da
ULBRA, 2004.
PACKER, James I. Evangelização e Soberania de Deus - 1ª ed. São Paulo: Cultura
Cristã, 2002.
PACKER, James. Entre os Gigantes de Deus: uma visão puritana da vida cristã – 1ª
ed. São José dos Campos: Editora Fiel, 1996.
PIPER, Jonh. A Supremacia de Deus na Pregação. 1ª ed. São Paulo: Shedd Produções,
2003.
PRATT, JR., Richard (Editor Geral) Bíblia de Estudo de Genebra. 2ª ed. Revista e
Ampliada. São Paulo: Cultura Cristã; Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009.
RUNIA, Klas. The Sermon Under Attack. British Library Cataloguing: The Paternoster
Press, 1983.
RYKEN, Leland. Santos no mundo: Os Puritanos como realmente eram. 1ª ed. São
José dos Campos SP: Editora Fiel, 2012.
SMITH, William e PORTELA, Solano – Fazendo a Igreja Crescer. 1ª ed. São Paulo:
Editora Os Puritanos.
WALTER, C.F.W. Lei e Evangelho. 2ª ed. Porto Alegre: Editora Concórdia, 1998.
wwwibcambui.org.br ; 07 de novembro, de 2015.

Potrebbero piacerti anche