Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Festival de MPB
recebe jovens talentos de
todo o país neste mês
Shows de Ito Moreno, Ná Ozzetti e Zélia
Duncan também são atrações nas fases
semifinais e final
Novo visual
Conservatório de Tatuí ganha seu primeiro logotipo oficial;
saiba tudo sobre a história da nova marca
Coro da Hungria
Collegium Musicum faz apresentação gratuita em março
ensaio artístico
EXPEDIENTE
GOVERNO DE SÃO PAULO
Governador do Estado
Geraldo Alckmin
Secretário de Estado da Cultura
Andrea Matarazzo
Coordenadora da Unidade de Formação Cultural
Carla Almeida Carvalho
CONSERVATÓRIO DE TATUÍ
Diretor Executivo
Henrique Autran Dourado
Assessor Pedagógico
Antonio Tavares Ribeiro
Assessor Artístico
Erik Heimann Pais
Conselho de Administração
Alcely Aparecida Araújo
Cimira Cameron
Deise Juliana de Oliveira
Edson Luiz Tambelli
Jorge Rizek
José Everaldo de Souza
Marcos Pupo
Mauro Tomazela
Raquel Fayad Delázari
Ubirajara Interdonato Feltrin
Jornalista Responsável
Deise Juliana de Oliveira - Mtb 30803
(comunica@conservatoriodetatui.org.br)
Analista de Marketing
Fernanda Ap. Sancinetti
(marketing@conservatoriodetatui.org.br)
Programador Visual
Paulo Rogério Ribeiro
(pribeiro@conservatoriodetatui.org.br)
Fotógrafo
Kazuo Watanabe
(cezar.kazuo@conservatoriodetatui.org.br)
Redes Sociais
Realização
2
SOBRE A MUDANÇA DE LOGOTIPO
DO CONSERVATÓRIO DE TATUÍ
Henrique Autran Dourado A marca de uma empresa, instituição ou produto reflete sua face cunhada como
Diretor Executivo um rosto em uma moeda, para que não seja confundida. Ela é quem identifica
do Conservatório de Tatuí visualmente a entidade, e lhe confere personalidade especial – devendo para isso
ser inconfundível, fácil de ser assimilada, e principalmente original.
A marca se mostra visualmente por meio de um logotipo, ou logomarca, a que
chamamos coloquialmente “logo”. Logotipo é usado modernamente com sentido
diverso do original, que seria um sistema de tipos (caracteres) móveis criado no
século 18 para impressão de materiais como livros ou jornais. Hoje, fala-se em
logotipo como sendo um produto de alto valor na identificação, um símbolo que
perenize espaço, instituição, ideias. São “logos” famosos a taça com a serpente,
da farmacêutica, a foice e o martelo, que simbolizam todo o ideário comunista,
a execrável “Swastika” nazista, assim como a simples caligrafia de um famoso
refrigerante ou a letra “M” de uma monumental rede de fast-food.
Uma marca, ou um “logo”, não se faz por um gesto simples, um “achado”
de inspiração. Pelo contrário, um bom “logo” somente transborda como
ideia pronta após longos estudos, trabalho que escapa à imaginação de quem
simplesmente o vê. Exemplo é o de certo refrigerante popular no mundo inteiro,
que foi usado em experiência feita nos EUA, se não me engano nos anos 1960.
No passado – alertamos os mais jovens, que somente conhecem o digital
-, o cinema era feito pela passagem de uma sequência de “quadros” com
pequeníssimas e sutis diferenças, mais precisamente 24 deles por segundo. (Existe
um belo documentário de Luís Alberto Pereira, de 1981, sobre o ex-Presidente
Jânio da Silva Quadros, chamado “Jânio a 24 Quadros”, que usa o trocadilho
como título).
Voltando à experiência realizada nos EUA, apenas um em cada 24 desses
quadros por segundo, em uma sessão de cinema, foi trocado pela marca do
famoso refrigerante, gerando uma imagem imperceptível, mas que foi induzida
no cérebro dos espectadores de forma chamada “subliminar” – ou seja, por
um processo subconsciente. Após a sessão, na saída do saguão do cinema,
os espectadores formaram filas para comprar o “anunciado” invisivelmente
refrigerante daquele “um” entre cada “vinte e três” quadros. Isso serve para
mostrar até onde pode ir a informação visual.
O Conservatório optou pela prestigiosa UniversDesign, cujo presidente Marcelo
Aflalo produziu pessoalmente todo o novo sistema de comunicação visual e
logomarca da instituição. Formado na FAU da USP, tem em seu currículo um
MFA em Design pela conceituada STAI de Chicago, em cujo braço em MBA
no Brasil ele também leciona. Entre seus prêmios, destacam-se o da Bienal
Internacional de Arquitetura e o Prêmio de Design da Casa Brasileira.
Conversar com Marcelo é extremamente especial, chega a ser prazeroso discutir
Em tempo: sinto-me particularmente com ele e trocar conhecimentos, aprendendo com a vasta experiência que
honrado e à vontade por ter sido ele e sua empresa têm. E nós desfrutamos com ele muitos desses momentos,
convidado para escrever este texto, ajudando-o a empreender uma pequena – porém silenciosa – revolução no
pois paralelamente à música fiz alguns conceito visual do Conservatório.
cursos de Design e Comunicação Chegou-se a uma logomarca que prima por vários fatores de extrema
visual na PUC-RJ e ESDI (Escola importância, desde a originalidade, a fácil comunicação, a identificação com o
Superior de Desenho Industrial) no trabalho do Conservatório (a clave musical e a pauta de cinco linhas), e, por
Rio de Janeiro, por volta de 1971/72. último – porém talvez o mais importante -, o nome da Cidade de Tatuí, que de
Ali conheci mitos como Uwe Khonen agora em diante passa a ser símbolo indelével na comunicação do Conservatório
e Décio Pignatari. Valeu a pena. desta Capital da Música com o público local, nacional e de todos os países.
ensaio 3
especial
Como Música
Marcelo Aflalo Estamos cercados de marcas. Marcas indeléveis que contam histórias e são repletas
artista responsável pela de simbolismos e referências. As marcas são assinaturas que dizem muito sobre
nova marca (Universdesign) seus donos e adquirem valores com o passar do tempo, e, bons ou maus, grudam
como ostras em um velho casco. O processo inverso também é possível, pois as
marcas podem ser criadas a partir de valores e atributos existentes e, nesse caso,
tem como desenho a forma mais eficiente de comunicação desses atributos.
Passados mais de cinquenta anos, o Conservatório de Tatuí adquiriu valores sólidos
e atributos positivos que, por força das circunstâncias, não são representados
pelas suas instalações e sua expressão gráfica. A atual gestão do Conservatório e a
Secretaria de Estado da Cultura, percebendo esse descompasso, promoveram uma
mudança que situasse a instituição no seu tempo e com o seu devido valor.
O tempo, aliás, é um componente importante na criação de uma identidade, podendo
envelhecê-la rapidamente ou preservá-la graças a soluções gráficas e um conteúdo
contemporâneo. O passado e a história nos ajudam a perceber os símbolos e
valores que suportaram o tempo com dignidade e esse pode ser um bom ponto de
partida na criação de uma nova identidade. Mas é para o presente e para o futuro
que temos de projetar nossa visão, sabendo quem somos e onde queremos chegar,
usando esse conhecimento para contar uma boa história.
Existem outros componentes que nos ajudam a contar uma boa história e, na
música, temos uma infindável coleção de referências sem paralelo nas outras
formas de arte. Existem imagens que simplesmente não são nada sem uma trilha
musical adequada e o cinema aprendeu isso muito cedo, tomando emprestado
ainda a noção de ritmo e de andamento nativos da linguagem musical.
4
Nossa nova marca fez esse exercício À primeira vista não parece encontrada na música. Essa quebra
em vários planos, até se consolidar informação relevante, mas essas nas palavras nos inspirou a quebrar
em um desenho simples que funciona formas e a belíssima proporção o longo texto “Conservatório”, assim
como um grande sistema com diversas entre altura e largura das letras como quebramos os compassos na
faces, atendendo a grande diversidade determinaram o desenho do alfabeto notação musical e nos textos literários.
de dialetos dentro da universal ocidental e até hoje produzem Com o texto devidamente instalado em
linguagem da música. releituras que procuram emular sua um rigoroso quadrado negro, com o
A primeira referência vem da história, elegância. hífen e o elemento separador destacados
da Coluna de Trajano, erguida por A variação de largura entre alguns em vermelho, começamos a nossa
ordem do próprio imperador em traços dessas letras denunciam a busca por um símbolo abrangente que
113 d.C., para celebrar as vitoriosas origem caligráfica do alfabeto romano, contivesse um grande significado dentro
campanhas contra os Dácios. Na e essa sutil variação e a forma como da música e pudesse ser aceito como
base há uma inscrição em latim, as palavras são divididas lembram a um identificador culto, ou seja, que
em baixo-relevo, feita com cinzel sobre notação musical e tem a combinação denotasse preocupação com o estudo
letras desenhadas com pincel chato. de racionalidade e poesia também da música e não apenas sua prática.
4b a
a
1/18b
b
9a
A construção da marca
4b 9a
A versão InsƟtucional
ensaio 5
especial
performance histórica
percussão sinfônica
práƟca de conjunto
música de câmara
sopro madeiras
violão
choro
sopro metais
artes cênicas
de produção
MPB/Jazz
teóricas
luteria
canto
as marcas complementares idenƟficam as áreas pedagógicas
ensaio 7
ensaio artístico
ensaio 9
ensaio artístico-pedagógico
12
Coro da Hungria faz
apresentação gratuita em Tatuí
O Teatro “Procópio Ferreira” recebe pela fundação do Chorus Colegii
única apresentação do coral Collegium Jaurini. Nos séculos seguintes, esse
Musicum, da Hungria, no próximo coral teve papel importante na vida
dia 3 de março. A apresentação terá musical da cidade. Alguns maestros e
entrada franca, a partir das 20h30. compositores reconhecidos no cenário
O concerto será marcado por musical, como Valentin Rathgeber e
composições do século XVII, uma Benedek Istvánffy, conduziram o coral
tradição de quase 400 anos do colégio até que este deixou de existir quando a
interno fundado pelos jesuítas. O Ordem Jesuíta foi dissolvida em 1773.
programa é constituído por oratórios de O grupo foi reestabelecido em
Giacomo Carissimi (1605-1674) – como setembro de 2002 – depois de ter sido
“Abraham et Isaac”, “Jephte”, “A Ceia interrompido totalmente por ação
de Balthazar”e “Liber Prophetae Job”; do regime comunista em 1948 – e
as missas “Concertata” (de Carissimi) e é reconhecido como sucessor legal
“Tre Voci” (de Lotti); “Lauda Sion” e do “Collegium” original. O grupo
“Salve Regina” (de Claudio Monteverdi); atua na pesquisa histórico-artística
“Passio Secundum Matthaeum” e de música renascentista e barroca
“Venite Sitientes” (de Tomás Victoria); dos séculos XVI e XVII, edição de
além de canto gregoriano e obras do obras do período, prática de canto
folclore húngaro. polifônico, orquestra de câmara e
Os cantores profissionais e o organista canto gregoriano.
que integra o grupo farão um turnê O coral é formado por alunos do
pelo Brasil no próximo mês. Este é Colégio Interno Beneditino Gergely
o único coral da Hungria que pode Czuczor, atuando sob orientação do
ser considerado sucessor de todos fundador Áron Kelemen e de Tamás
os corais de meninos e de orquestra Bubnó. O organista é Gabor Soos.
de câmara das igrejas húngaras do O coral já realizou turnês na Itália,
período compreendido entre o século Espanha, Brasil, Bélgica e França.
XVII e o ano de 1948. Esse coral Atualmente, possui 80 membros,
também dá continuidade às tradições mas excursiona somente com os
de 400 anos do Colégio Interno profissionais.
Beneditino Gergely Czuczor e da Os ingressos para apresentação
Igreja Beneditina de Santo Inácio. podem ser retirados gratuitamente na
Sua origem foi em 1628, quando os bilheteria do teatro, à rua São Bento,
Jesuítas de Györ foram responsáveis 415, a partir do dia 28 de fevereiro.
ensaio 11
ensaio acadêmico
‘Esperando Gordô’
é atração teatral, em março, no
Conservatório de Tatuí
O espetáculo teatral “Esperando trabalhavam há seis anos como clown
Gordô” será apresentado no dia num projeto de humanização hospitalar
13 de março, no teatro “Procópio em São Paulo - Carina Prestupa e Thaís
Ferreira”, do Conservatório de Tatuí, Póvoa. A idéia de realizar um espetáculo
um equipamento do Governo de São inspirado em “Esperando Godot”, de
Paulo. A apresentação acontece às 11h, Samuel Beckett, trazia a possibilidade
com workshop das 14h às 16h30. O de pesquisar a linguagem do clown
espetáculo é realizado pelo ProAC – no palco, um interesse comum, já que
Programa de Ação Cultural 2010, uma o treinamento realizado até aquele
iniciativa da Secretaria de Estado da momento era baseado no jogo para a
Cultura. A entrada é franca. performance e improvisação. O diretor
“Esperando Gordô” foi inspirado Marcelo Gianini foi então trazido para
nos personagens de Samuel Beckett compartilhar desse projeto.
e propõe o resgate das brincadeiras “Nosso processo de criação era baseado
simples como estímulo para a em improvisações. Não houve um texto
imaginação. Enquanto acompanha o ou encenação propostos antes. Houve
que duas palhaças fazem enquanto a condução de uma pesquisa prática
esperam alguém chegar, a platéia torna- que buscava alguns caminhos nos quais
se cúmplice de todas as surpresas e acreditávamos cenicamente dentro desta
confusões vivenciadas em cena. fascinante linguagem”, afirmam.
O elenco é formado por Carina Desde 2006, o espetáculo já passou
Prestupa, Thaís Póvoa, Vinícius por várias cidades de São Paulo, fez
Meloni, Marcelo Gianini – este último temporada no Clã Estúdio das Artes
também diretor do espetáculo. A peça Cômicas, no Centro Cultural São Paulo
tem figurino de Renata Régis, cenário e no Teatro Alfredo Mesquita; também
de Cida Ferreira, iluminação de Jorge passou pelos SESCs Vila Mariana e
Pezzolo e sonoplastia de Marcelo Santo André. “Esperando Gordô”
Gianini. participou de festivais nacionais em
O espetáculo é uma concepção da Cia. diversos estados do Brasil, sendo
Lona de Retalhos, criada em 2006 a premiado no FEMSA (melhor trilha
partir da parceria de duas atrizes que sonora).
12
Entre a História e a Música:
fronteiras, impasses e possíveis
diálogos interdisciplinares1
Caminhando paralelamente por por exemplo, as possíveis afinidades
longas décadas, a recente abertura entre ambas as disciplinas. No
Lígia Nassif Conti a um diálogo interdisciplinar entre artigo intitulado “Música e história:
História e Música levantou as desafios da prática interdisciplinar”,
possibilidades de um intercurso publicado pela Anppom na Revista
enriquecedor para ambas as áreas. “Pesquisa em Música: métodos,
Historiadores negligenciavam a música domínios, perspectivas” em 2009, os
como possível manancial revelador autores consideram que a principal
de uma memória social que muito das afinidades entre história e música
poderia contribuir para a tentativa de seria a “relação essencial com o
compreender uma época. Do outro tempo. De fato, o fenômeno musical
lado, musicólogos se valiam da história institui uma temporalidade própria,
apenas numa tentativa de dar aporte praticamente destacando-se do tempo
às narrativas biográficas dos gênios histórico maior que o envolve. No
da música ocidental, sem se dar conta limite, poderíamos mesmo dizer
das construções historiográficas que que Música é História [...]” (ASSIS,
fundamentam o binômio vida/obra. BARBEITAS, LANA, CARDOSO
A pergunta principal que conduz as FILHO, 2009, p. 7). Mas se assim
propostas da presente apresentação for, outra pergunta se faz necessária:
é: de que possíveis maneiras um um estudo musicológico voltado
Lígia Nassif Conti é doutoranda do
Programa de Pós-Graduação em História encontro interdisciplinar entre a intrinsecamente à obra musical e
Social da Universidade de São Paulo (USP), História e a Música contribuiria para sua estrutura interna pressupõe por
professora de História da Música, Canto as pesquisas acadêmicas e para uma si só suas significações históricas?
Coral e Teoria Musical do Conservatório prática docente mais enriquecedora Ou é necessário recorrer a outras
de Tatuí - Pólo de São José do Rio Pardo, da disciplina, cujo título evoca a noções, externas à análise musical
e tutora do curso de Educação Musical, necessária intersecção, História propriamente dita, e que dêem conta
modalidade à distância, da Universidade da Música? É possível começar a dessas interpretações e atribuições de
Federal de São Carlos (Ufscar). refletir sobre o assunto avaliando, sentido?
Conforme mencionamos, é tardio História e Música –, menciona a verdade revela que dois importantes
o interesse dos historiadores pela sintomática opção dos historiadores historiadores do século XX procuraram
música como objeto de pesquisa Eric Hobsbawn e Henry-Irenée Marrou resguardar, por algum motivo, seus
ou como fonte reveladora de certa de publicar sob pseudônimos seus nomes em obras que tratavam da
facetas sociais obscurecidas ou pouco textos que versavam sobre música.2 música, mais especificamente a
dadas a conhecer. Negligenciando Eric Hobsbawn publica em 1959 o livro popular” (2007, p. 10)
a música enquanto objeto ou fonte História Social do Jazz, sob o pseudônimo A musicóloga francesa Myriam
histórica, a prática historiográfica de Francis Newton e Henri-Irenée Chimènes mostra que até os anos
levou gerações para voltar um olhar Marrou publica os livros Introduction 1980/90 poucos pesquisadores se
mais atento às possíveis contribuições à la connaissance de la chanson populaire dedicaram a essa área de pesquisa
trazidas pela música como elemento française. Le livre des chansons e Traité de la situada entre a história e a música, a
revelador de aspectos ignotos de uma musique selon l’espirit de saint Augustin, sob que ela chama de “terra de ninguém”,
dada sociedade num dado momento o pseudônimo de Henry Davenson, “um terreno de encontro, cujo
histórico. O historiador José Geraldo ambos publicados nos anos 1940. Nas desbravamento está em curso e cuja
Vinci de Moraes, no texto de abertura palavras de José Geraldo: “Esse fato conquista necessita das colaborações
da Revista de História da USP – dossiê não pode passar despercebido, pois na interdisciplinares.” (2007, p. 17) As
ensaio 13
ensaio acadêmico
pesquisas historiográficas que se circundam a produção acadêmica com os significados verbais ou funções
dedicavam à cultura e à arte ofereciam no campo das relações entre história culturais para que se possa verificar
poucas páginas à música, situação que e música, em especial no que diz a ação complementar que há entre a
a musicóloga critica na historiografia respeito à música popular brasileira. música e o texto” (PERRONE, 1988,
francesa e que encontra paralelo na Uma das possíveis razões para a Apud NAVES, 1998, p. 18) .
produção historiográfica brasileira, “surdez dos historiadores”, para usar A necessidade de um diálogo
cujo interesse pela música é igualmente a expressão da musicóloga francesa maior com a musicologia é um
bastante recente. Até os anos 1960 Myrian Chimènes, está na dificuldade desses aspectos lacunares a ser
a música ocupava apenas um espaço diante da não-simples decodificação evidenciado, já que a historiografia
tangencial na historiografia, quando da escrita musical. Talvez por essa apresenta articulações bastante
nesse período surgiram os primeiros mesma razão é que, mesmo com significativas com as vertentes
estudos mais sistemáticos acerca do o aumento de estudos dedicados literária, sociológica, antropológica,
tema, que só então passou a despertar à área, a indiscutível maioria dos mas poucas ou fracas articulações
interesse entre os pesquisadores e a trabalhos historiográficos sobre com a vertente musicológica, o que
ser tratado como objeto relevante de música se voltam antes à canção poderia trazer valiosas contribuições
estudo e reflexão acadêmica. Mas, que à música instrumental, atendo- para os trabalhos historiográficos
tal como no caso da historiografia se muita vezes à letra e deixando que tomam a música como objeto
francesa, foi nos anos de 1980 e de lado os elementos musicais. Há ou fonte. A grande dificuldade é,
90 que a historiografia brasileira ainda uma lacuna muito grande a esse como destacamos, a análise interna
se afastou da vertente folclorista, respeito, já que o pesquisador desse da obra musical, cuja linguagem
que vislumbrava a “colheita” e a entre áreas deve procurar articular os historiadores pouco ou nada
preservação do material folclórico, os elementos musicais e poéticos, conhecem. Talvez esse seja o grande
autêntico substrato da cultura nacional. conferindo atenção tanto à sua letra desafio dos historiadores que se
No entanto, a despeito do significativo (indicativos textuais) quanto à sua dedicam à música como fonte ou
aumento de estudos – particularmente música, seguindo orientação de como objeto de suas pesquisas:
a partir da década de 1980, conforme Charles Perrone (1988) para que “seja considerar as especificidades da
apontam Alberto Ikeda (2000) e qual for o enfoque” o pesquisador música para compreender o fenômeno
Marcos Napolitano (2005) – muitas “leve em conta as características musical sem reduzi-lo a documento de
lacunas historiográficas ainda musicais de uma canção juntamente uma época.
Muitos são os estudos no campo da curso de Música da UFG: “Enquanto obra, investigar o vasto universo
musicologia que ainda tendem a uma Adler trata a História da Música que circunda o meio musical, como
mera análise da estrutura interna da como um fenômeno a ser estudado os meios de difusão da música, os
obra, e se valem da História apenas por si mesmo, Bücken considera a mediadores culturais dessa produção
como “pano de fundo”, como música como uma das formas inter- artística, a recepção de uma obra,
panorama, descrição histórica. Com relacionadas através da qual o homem entre outros. Outro aspecto a ser
relação aos livros de História da expressa a si mesmo, não podendo, considerado é o afastamento estético,
Música, entre os séculos XVIII e pois, ser plenamente entendida sem o não envolvimento do pesquisador
XIX, “o que ali se apresentava nada algum conhecimento de pintura, com uma obra em razão de sua
mais era que o relato – totalmente arquitetura, escultura e literatura.”. qualidade e valor monumental. Obras
interno ao próprio campo musical e (2002, p. 37) “menores” são igualmente reveladoras
alheio, portanto, ao desenvolvimento Nesse sentido, uma contribuição de elementos sociais e culturais e, por
metodológico da História – destinado significativa que a prática essa razão, podem igualmente ser fonte
a afirmar e justificar a autonomia historiográfica poderia oferecer ou mesmo objeto de pesquisa.
social e estética da Música.” (ASSIS, às pesquisas musicológicas é a Pensando na prática docente da
BARBEITAS, LANA, CARDOSO necessária inclusão na análise musical disciplina História da Música, os
FILHO, 2009, p. 5). Até o século XIX de elementos externos à análise diálogos entre História e Música
as Histórias da Música apresentavam propriamente musicológica, e que podem igualmente promover
perfil predominantemente biográfico. ultrapassem o estudo meramente intercursos enriquecedores. Ana
No início do século XX um debate técnico de análise da obra. Para evitar Guiomar Rego Souza traz um
se instaura entre Ernest Bücken e essa análise voltada sobremaneira ao exemplo assaz interessante que pode
Guido Adler. Nas palavras de Ana objeto musical, o musicólogo poderia, ilustrar o quanto uma abordagem
Guiomar Rego Souza, professora do para além do foco no artista e sua interdisciplinar pode enriquecer o
14
ensino e a compreensão da história 1
Texto apresentado na forma de comunicação
da música (op. cit, p. 42-43). Se oral durante o I Seminário Internacional para
a Pedagogia da História da Música – SIPHM,
tomarmos, por exemplo, uma pintura realizado na ECA/USP, em Ribeirão Preto,
românica e um canto gregoriano, agosto de 2010.
poderemos estabelecer analogias tanto 2
Eric Hobsbawn publica em 1959 o livro
do ponto de vista estético quanto História Social do Jazz, sob o pseudônimo
de Francis Newton e Henri-Irenée Marrou
estabelecer correlações com a própria publica os livros Introduction à la connaissance
mentalidade medieval. Comparando de la chanson populaire française. Le livre des
sumariamente as duas formas de chansons e Traité de la musique selon l’espirit
expressão, a pintura desse período é de saint Augustin, ambos publicados nos anos
1940.
organizada de forma bidimensional,
não traz ainda a dimensão da
profundidade, posteriormente Referências Bibliográficas:
retratada na forma de perspectiva. ASSIS, Ana Cláudia; BARBEITAS, Flávio; LANA,
Jonas; CARDOSO FILHO, Marcos Edson. “Música
Também o canto gregoriano apresenta e história: desafios da prática interdisciplinar”, In:
apenas duas dimensões: uma estrutura Pesquisa em Música: métodos, domínios, perspectivas.
Goiânia: Anppom, 2009.
melódica (monodia) acompanhada
CHIMÈNES, Myriam. “Musicologia e História.
de uma letra a ser cantada. Não Fronteira ou terra de ninguém entre duas
traz as características musicais do disciplinas?” In: Revista de História, São Paulo: USP,
ritmo medido, do acompanhamento nº 157, 2007, pp. 15-29.
ensaio 19