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Luís Carlos Timm

Vítor Emanuel Quevedo Tavares


Carlos Reisser Junior
Carina Costa Estrela
(Editores)

Morangueiro Irrigado

Morangueiro Irrigado: aspectos técnicos e ambientais do cultivo


Aspectos técnicos e ambientais do cultivo
Morangueiro Irrigado
Aspectos técnicos e ambientais do cultivo
Luís Carlos Timm
Vitor Emanuel Quevedo Tavares
Carlos Reisser Júnior
Carina Costa Estrela
Editores

Morangueiro Irrigado
Aspectos técnicos e ambientais do cultivo

Pelotas – RS – Brasil

Universidade Federal de Pelotas

2009
Obra publicada pela Universidade Federal de Pelotas
Reitor: Prof. Dr. Antonio Cesar Gonçalves Borges
Vice-Reitor: Prof. Manoel Luiz Brenner de Moraes
Pró-Reitor de Extensão e Cultura: Prof. Dr. Luiz Ernani Gonçalves Ávila
Pró-Reitor de Graduação: Prof. Dra. Eliana Póvoas Brito
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof. Dr. Manoel de Souza Maia
Pró-Reitor Administrativo: Eng. Francisco Carlos Gomes Luzzardi
Pró-Reitor de Planejamento e Desenvolvimento: Prof. Ms. Élio Paulo Zonta
Pró-Reitor de Recursos Humanos: Admin. Roberta Trierweiler
Pró-Reitor de Infra-Estrutura: Mario Renato Cardoso Amaral
Pró-Reitoria de Assistência Estudantil: Assistente Social Carmen de Fátima de Mattos do Nascimento

CONSELHO EDITORIAL
Profa. Dra. Carla Rodrigues Prof. Dr. José Estevan Gaya
Prof. Dr. Carlos Eduardo Wayne Nogueira Profa. Dra. Luciane Prado Kantorski
Profa. Dra. Cristina Maria Rosa Prof. Dr. Luiz Alberto Brettas
Profa. Dra. Flavia Fontana Fernandes Profa. Dra. Maria Tereza Fernandes Pouey
Profa. Dra. Francisca Ferreira Michelon Prof. Dr. Volmar Geraldo da Silva Nunes

Editora e Gráfica Universitária


R Lobo da Costa,447 – Pelotas, RS – CEP 96010-150
Fone/fax:(53)3227 8411
e-mail: editora@ufpel.edu.br
Diretor da Editora e Gráfica Universitária: Prof. Dr. Volmar Geraldo da Silva Nunes
Gerência Operacional: Bel. Daniela da Silva Pieper
Chefe da Seção Gráfica: Carlos Gilberto Costa da Silva
Impresso no Brasil
Edição: 2009
© Copyright 2009 by – Luís Carlos Timm, Vitor Emanuel Quevedo Tavares, Carlos Reisser Júnior, Carina Costa
Estrela
ISBN: 978-85-7192-612-7
Tiragem: 150 exemplares
Capa, layout e editoração eletrônica: Vitor Emanuel Quevedo Tavares

Apoio: Processo CNPq/ CT-Agronegócio nº 554299/2006-2

Dados de catalogação na fonte:


(Marlene Cravo Castillo – CRB 10/744)

M829 Morangueiro irrigado: aspectos técnicos e ambientais do cultivo /


editado [por] Luís Carlos Timm.../et al./. Pelotas : Ed. da
Universidade Federal de Pelotas, 2009
163 p. : il.

1. Irrigação. 2. Qualidade da água. 3. Atributos do solo.


4. Sistemas de produção de morango. 5. Fragaria x ananassa Duch.
I. Timm, Luís Carlos. II Tavares, Vitor Emanuel Quevedo. III Reisser
Júnior, Carlos. IV. Estrela, Carina Costa. V. Título.
CDD 634.75
Informações sobre os Autores e Co-Autores
Luís Carlos Timm - Eng. Agrícola, Prof. Adjunto, Depto de
Engenharia Rural, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel,
UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista de
Produtividade em Pesquisa CNPq – Nível 2,
lctimm@ufpel.edu.br.

Vítor Emanuel Quevedo Tavares - Eng. Agrícola, Prof. Associado,


Depto de Engenharia Rural, Faculdade de Agronomia Eliseu
Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970,
Bolsista PET/SESu/MEC, vtavares@ufpel.tche.br.

Carlos Reisser Júnior - Eng. Agrícola, Pesquisador, Embrapa Clima


Temperado, Cx. Postal 403, Pelotas-RS, 96001-970,
reisser@cpact.embrapa.br.

Carina Costa Estrela - Ecóloga, MSc. em Ciências, Pelotas-RS.


ccestrela@terra.com.br

Denise de Souza Martins – Eng. Agrônoma, Mestranda no


PPGSPAF, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel,
Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista CAPES.

André Samuel Strassburger – Eng. Agrônomo, Doutorando no


PPGSPAF, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel,
Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista FAPEG.

Roberta Marins Nogueira Peil – Eng. Agrônoma, Profa. Associada,


Depto de Fitotecnia, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel,
UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.

José Ernani Schwengber – Eng. Agrônomo, Pesquisador, Embrapa


Clima Temperado, Estação Experimental Cascata, Cx. Postal
403, Pelotas-RS, 96001-970.
Leonardo Göetzke Furtado – Eng. Agrônomo, Depto de Solos,
Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal
354, Pelotas-RS, 96001-970.

Luís Carlos Philipsen – Técnico Agrícola, EMATER – Escritório


Municipal de Turuçu-RS.

Luís Eduardo Correa Antunes - Eng. Agrônomo, Pesquisador,


Embrapa Clima Temperado, Cx. Postal 403, Pelotas-RS,
96001-970.

Noel Gomes da Cunha - Eng. Agrônomo, Pesquisador, Embrapa


Clima Temperado, Cx. Postal 403, Pelotas-RS, 96001-970.

Maria Laura Turino Mattos – Eng. Agrônoma, Pesquisadora,


Embrapa Clima Temperado, Cx. Postal 403, Pelotas-RS,
96001-970.

Leandro Sanzi Aquino – Eng. Agrônomo, Mestrando do PPGA-


Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx.
Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista CAPES.

Gabrieli da Cunha Pereira – Tecnóloga em Gestão Ambiental,


Pelotas-RS.

Manoela Terra de Almeida – Acadêmica do Curso de Química


Ambiental, Universidade Católica de Pelotas, Pelotas-RS.

Carla Denize Venzke – Tecnóloga em Gestão Ambiental, Pelotas-


RS.

Adilson Luís Bamberg – Eng. Agrícola, Doutorando do PPGA-


Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx.
Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista CAPES.

Eloy Antonio Pauletto – Eng. Agrônomo, Prof. Associado, Depto de


Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx.
Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970, Bolsista de Produtividade
em Pesquisa CNPq – Nível 2.

Luiz Fernando Spinelli Pinto – Geólogo, Prof. Associado, Depto de


Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx.
Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.

Álvaro Luiz Carvalho Nebel – Eng. Agrícola, Doutorando do


PPGA-Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel,
Cx. Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.

Wildon Panziera – Graduando em Agronomia, Faculdade de


Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS,
96001-970.

Gláucia Oliveira Islabão – Química, Doutoranda do PPGA-Solos,


Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal
354, Pelotas-RS, 96001-970.

Ledemar Carlos Vahl – Eng. Agrônomo, Prof. Titular, Depto de


Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx.
Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.

Danilo Dufech Castilhos – Eng. Agrônomo, Prof. Associado, Depto


de Solos, Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx.
Postal 354, Pelotas-RS, 96001-970.

Rodrigo Bubolz Prestes – Graduando em Agronomia, Faculdade de


Agronomia Eliseu Maciel, UFPel, Cx. Postal 354, Pelotas-RS,
96001-970, Bolsista BIC FAPERGS.
Colaboradores

• Sérgio Leal Fernandes (DER/FAEM/UFPel-Pelotas-RS)


• Eroni Emilio Konrad (Secretaria da Agricultura-Turuçu-RS)
• Lauro Francisco Schneid (EMATER – Escritório Municipal
de Turuçu-RS)
• Dalgisa Philipsen (EMATER – Escritório Municipal de
Turuçu-RS)
• Michel David Gerber (CEFET/RS-Pelotas-RS)
• Fioravante Jaekel dos Santos (DER/FAEM/UFPel-Pelotas-
RS)
• Jocelito Saccol de Sá (CEFET/RS-Pelotas-RS)
• João Carlos Medeiros Madail (Embrapa Clima Temperado-
Pelotas-RS)
• João Soares Viegas Filho (DEA/FEA/UFPel-Pelotas-RS)
• Marco Moro (EMATER – Escritório Regional de Pelotas-
RS)
• Gilnei Manke (Eng. Agrônomo-Pelotas-RS)
• Clênio Nailto Pillon (Embrapa Clima Temperado-Pelotas-
RS)
• Marilice Cordeiro Garrastazu (Embrapa Clima Temperado-
Pelotas-RS)
• Orlando Pereira Ramirez (DEA/FEA/UFPel-Pelotas-RS)
• Endrigo Pereira Lima (CEFET/RS-Pelotas-RS)
• Gabriel Rodrigues Bruno (CEFET/RS-Pelotas-RS)
Agradecimentos

Para a concretização do presente trabalho, os autores


receberam apoio financeiro bem como a concessão de bolsas de
estudo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico, CNPq. Também agradecem a CAPES e a
FAPERGS pela concessão de bolsas de estudo.
Os autores agradecem aos produtores de morango que
contribuíram para a realização do projeto intitulado
“VARIABILIDADE ESPACIAL E TEMPORAL DA
QUALIDADE DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO E SEU
IMPACTO AMBIENTAL NO SISTEMA FAMILIAR DE
PRODUÇÃO DE MORANGO DO PÓLO PRODUTIVO DO
MUNICÍPIO DE TURUÇU-RS”, especialmente aos produtores
Abel Winter, Arnildo Weinert, Cassio Peter, Dioni Stern,
Ermindo Milech, Fábio Zitzke, Gilso Zuge, Ildo Beiersdorf,
Paulo Scherdien, Paulo Tuchtenhagen, Pedro Bonow, Silmo
Stocker, Teodorico Kabke, Valdenir Hartwig e Valdomiro de
Souza, os quais pertencem a Associação dos Produtores de
Morango do Município de Turuçu-RS.
A todos, NOSSO MUITO OBRIGADO pela
colaboração e compreensão ao longo do projeto.
SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................ 14

CAPÍTULO 1 - FISIOLOGIA DA PRODUÇÃO


DE MORANGUEIRO ........................................................... 16
1.1 INTRODUÇÃO ................................................................. 16
1.2 CARACTERÍSTICAS DA PLANTA ...................................... 17
1.2.1 Botânica ............................................................... 17
1.2.2 Sistema radicular .................................................. 18
1.2.3 Fisiologia da planta .............................................. 20
1.2.4 Exigência hídrica.................................................. 22
1.3 CULTIVARES .................................................................. 23
1.3.1 Características das cultivares utilizadas em
Turuçu-RS ............................................................ 24
1.3.2 Novas cultivares para a Região Sul...................... 25
1.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................ 27
1.5 LITERATURA CITADA ..................................................... 28

CAPÍTULO 2 - SISTEMA DE PRODUÇÃO


DO MORANGUEIRO: FATORES QUE
INFLUENCIAM O MANEJO DA IRRIGAÇÃO............... 30
2.1 INTRODUÇÃO ................................................................. 30
2.2 UTILIZAÇÃO DE COBERTURA DO SOLO ........................... 31
2.2.1 Materiais de origem vegetal ................................. 32
2.2.2 Materiais sintéticos .............................................. 33

9
2.2.3 Influência da cobertura do solo no aporte
de água ................................................................. 33
2.3 UTILIZAÇÃO DE TÚNEIS ................................................. 34
2.3.1 Manejo dos túneis ................................................ 34
2.3.2 Influência dos túneis de cultivo sobre
a irrigação ............................................................. 36
2.4 ESCOLHA DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO ............................ 36
2.4.1 Aspersão ............................................................... 36
2.4.2 Gotejamento ......................................................... 37
2.4.3 Influência dos sistemas de irrigação na
incidência de doenças e pragas ............................ 38
2.5 FERTIRRIGAÇÃO ............................................................ 41
2.5.1 Aspectos nutricionais do morangueiro ................. 42
2.5.2 Tipos e fontes de nutrientes para a fertirrigação .. 44
2.5.3 Utilização de soluções de origem orgânica .......... 45
2.5.4 Estrutura necessária.............................................. 46
2.5.5 Manejo da fertirrigação ........................................ 47
2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................ 48
2.7 LITERATURA CITADA ..................................................... 48

CAPÍTULO 3 - SOLO E MANEJO DA ÁGUA................ 51


3.1 O SOLO .......................................................................... 51
3.2 ATRIBUTOS FÍSICO-HÍDRICOS DO SOLO .......................... 54
3.2.1 Textura do solo..................................................... 54
3.2.2 Estrutura do solo .................................................. 55
3.3 ÁGUA NO SOLO .............................................................. 59
3.3.1 Umidade do solo .................................................. 59
3.3.2 Retenção de água no solo ..................................... 61

10
3.3.3 Capacidade de campo e ponto de murcha
permanente ........................................................... 62
3.3.4 Capacidade de água disponível ............................ 62
3.3.5 Armazenamento de água no solo ......................... 63
3.4 DETERMINAÇÃO DA UMIDADE DO SOLO ......................... 65
3.5 MANEJO DA ÁGUA ......................................................... 69
3.5.1 Produção de mudas .............................................. 69
3.5.2 Produção de frutos ............................................... 72
3.5.3 Resposta do morangueiro à disponibilidade
hídrica................................................................... 80
3.5.4 Manejo da irrigação localizada ............................ 84
3.5.5 Fertirrigação ......................................................... 87
3.6 LITERATURA CITADA ..................................................... 88

CAPÍTULO 4 - QUALIDADE DA ÁGUA ........................ 92


4.1 A ÁGUA USADA NA AGRICULTURA ................................. 92
4.1.1 A água usada na cultura do morangueiro ............. 94
4.2 QUALIDADE DA ÁGUA USADA NA IRRIGAÇÃO ................ 95
4.2.1 Qualidade da água usada na irrigação
localizada ............................................................. 97
4.3 FONTES DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PARA IRRIGAÇÃO ........ 99
4.4 ESTUDO DE CASO: QUALIDADE DA ÁGUA USADA
PARA IRRIGAÇÃO DO MORANGUEIRO NO MUNICÍPIO
DE TURUÇU-RS ........................................................... 100
4.4.1 Caracterização e origem das fontes de
captação de água para irrigação ......................... 103
4.4.2 Potencial de risco de danos ao sistema de
irrigação do morangueiro ................................... 106

11
4.4.3 Variabilidade espacial e temporal da
qualidade da água de irrigação ........................... 109
4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................. 110
4.6 LITERATURA CITADA ................................................... 111

CAPÍTULO 5 - QUALIDADE FÍSICO-HÍDRICA


DO SOLO E A PRODUÇÃO DE MORANGO................. 115
5.1 QUALIDADE DO SOLO................................................... 115
5.1.1 Solos do Município de Turuçu-RS..................... 118
5.1.2 Qualidade do solo e a produção de morango ..... 121
5.2 ESTUDO DE CASO: INDICADORES DA QUALIDADE
FÍSICO-HÍDRICA DO SOLO ............................................. 125
5.2.1 Estabilidade de agregados em água: distribuição
de agregados do solo em classes de tamanho e
diâmetro médio ponderado (DMP) .................... 125
5.2.2 Porosidade do solo ............................................. 130
5.2.3 Curva de retenção de água no solo..................... 132
5.2.4 Capacidade de Água Disponível (CAD) ............ 134
5.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................. 135
5.4 LITERATURA CITADA ................................................... 136

CAPÍTULO 6 - INDICADORES QUÍMICOS E


MICROBIOLÓGICOS DO SOLO NA PRODUÇÃO
DE MORANGO .................................................................. 140
6.1 INDICADORES DE QUALIDADE DO SOLO ........................ 140
6.1.1 Indicadores químicos ......................................... 141
6.1.2 Indicadores microbiológicos .............................. 145
6.1.3 Indicadores relacionados à fertilidade................ 146

12
6.2 ESTUDO DE CASO: INDICADORES QUÍMICOS E
MICROBIOLÓGICOS DO SOLO NA PRODUÇÃO DE
MORANGO DO MUNICÍPIO DE TURUÇU-RS .................... 148
6.2.1 Indicadores químicos ......................................... 148
6.2.2 Indicadores microbiológicos .............................. 154
6.2.3 Indicadores de fertilidade ................................... 156
6.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................. 159
6.4 LITERATURA CITADA ................................................... 160

13
CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Ao longo dos últimos anos, a técnica de irrigação vem


sendo usada em sistemas de produção de morango em
propriedades familiares no município de Turuçu-RS.
Entretanto, as informações regionais sobre a qualidade da água
que vem sendo utilizada na irrigação, a eficiência dos sistemas
já implantados bem como os possíveis impactos da água de
irrigação sobre os atributos do solo são escassas. Aliado a este
fator, a dificuldade de assistência, a falta de informações e a
não disponibilização e apropriação de conhecimentos e
tecnologias aos produtores, tem conduzido a um manejo de
irrigação completamente empírico, causando impactos
negativos que estão comprometendo o desenvolvimento da
cultura e afetando os recursos naturais, trazendo conseqüências
tanto sociais como para a atividade econômica propriamente
dita. Em vista disso, informações referentes ao solo, à planta,
ao clima e aos sistemas de irrigação podem ser úteis para o
manejo de água, além de permitir o uso dos recursos hídricos
de modo mais eficiente.
As relações entre os componentes do Sistema Solo-
Água-Planta-Atmosfera são complexas, o que torna o manejo
da irrigação uma tomada de decisão criteriosa. Este manejo
compreende o uso combinado de informações, sendo o nível
técnico e o grau de interesse do produtor fatores primordiais
para o seu sucesso. Ressalta-se que tal manejo deve ser
praticado e analisado continuamente, para que com o decorrer
dos anos o produtor adquira maior experiência e conhecimento
técnico, e se torne mais eficiente quanto ao uso da água. Desta
forma, o objetivo do presente texto é apresentar, de modo
simples e direto, aos técnicos e produtores, como as

14
informações do solo, da planta, do clima e do sistema de
irrigação são importantes ao manejo de irrigação.
O texto está dividido em seis capítulos. O primeiro
trata da fisiologia da cultura do morangueiro; o segundo tem
como enfoque os diferentes sistemas de produção de morango;
o terceiro traz informações básicas sobre o solo do ponto de
vista agronômico e manejo da água de irrigação; o quarto
aborda questões ligadas a qualidade da água de irrigação; o
quinto e o sexto capítulos abordam aspectos relativos a
qualidade do solo do ponto de vista físico-hídrico, químico e
microbiológico. Acreditamos que a apresentação de estudos de
casos, nos capítulos quarto, quinto e sexto, seja um importante
diferencial deste texto em relação aos demais nesta mesma
temática.
Palavras-chave: irrigação, qualidade da água, atributos
do solo, sistemas de produção de morango, Fragaria x
ananassa Duch.

15
CAPÍTULO 1 - FISIOLOGIA DA
PRODUÇÃO DE MORANGUEIRO

Denise de Souza Martins


André Samuel Strassburger
Roberta Marins Nogueira Peil
José Ernani Schwengber
Carlos Reisser Júnior
Leonardo Göetzke Furtado

1.1 INTRODUÇÃO
O morangueiro é cultivado e suas frutas apreciadas nas
mais diversas regiões do planeta. A produção mundial é
estimada em cerca de 3,1 milhões de toneladas e, a brasileira,
em 100 mil toneladas (CARVALHO, 2006).
No Rio Grande do Sul, a área plantada é estimada em
600 ha, com produção aproximada de 18 mil toneladas anuais
(IBGE, 2005 apud CARVALHO, 2006), sendo a cultura
conduzida, predominantemente, em propriedades agrícolas
familiares, devido à grande necessidade de mão de obra.
No município de Turuçu, o cultivo do morangueiro
passou a ganhar maior importância a partir do ano de 2001,
pela implantação de tecnologias como túneis baixos, sistema de
irrigação por gotejamento, cobertura do solo e fertirrigação, e,
sobretudo, pela organização dos agricultores. Hoje a

16
Capítulo I

Associação de Produtores de Morango de Turuçu - RS conta


com 22 agricultores, com predominância de áreas de até 1 ha.
As cultivares mais utilizadas em Turuçu são Camarosa
e Camino Real. Para alcançar o potencial produtivo destas
cultivares, assim como para outras recomendadas para nossa
região, é necessário entender a fisiologia da planta, ou seja,
como a planta responde aos estímulos ambientais externos
durante o seu ciclo.
Neste capítulo serão abordados aspectos relativos à
botânica e fisiologia da planta, caracterização de algumas
cultivares utilizadas e de outras com potencial para utilização
na região.

1.2 CARACTERÍSTICAS DA PLANTA

1.2.1 Botânica

O morangueiro pertence à família Rosaceae, ao gênero


Fragaria e à espécie Fragaria x ananassa Duch. É um híbrido
interespecífico resultante do cruzamento das espécies
F. chiloensis e F. virginiana. As plantas que compõem o gênero
Fragaria são herbáceas, atingem de 15 a 30 cm de altura,
podendo ser rasteiras ou mais eretas. Formam pequenas
touceiras (hábito de crescimento em roseta) que aumentam de
tamanho à medida que a planta envelhece. É uma planta perene
cultivada como planta anual, principalmente por questões
sanitárias e fisiológicas (RONQUE, 1998).
A folha do morangueiro normalmente é constituída por
um pecíolo longo e três folíolos. Os folíolos são dentados e
apresentam um grande número de estômatos (300 a 400 por
mm2 de folha) o que confere ao morangueiro uma maior
sensibilidade à falta de água, à baixa umidade relativa do ar e às
altas temperaturas (SANHUEZA et al., 2005 apud SILVA et
al., 2007).

17
Morangueiro Irrigado

Os estolões são caules verdadeiros, muito flexíveis,


que se desenvolvem em contato com o solo, permitindo que, a
partir da roseta foliar existente em seus nós, cresçam raízes que
penetram no solo, dando origem a novas plantas independentes
(RONQUE, 1998). O estolão é a forma mais utilizada de
multiplicação vegetativa do morangueiro (SILVA et al., 2007).
As flores do morangueiro estão agrupadas em
inflorescências do tipo cimeira, ou seja, depois de aberta a
primeira flor, os botões laterais vão se abrindo um a um,
acompanhando o desenvolvimento da inflorescência. O número
de inflorescências por planta é variável dependendo da cultivar,
assim como o número de flores por inflorescência. As
inflorescências se formam a partir das gemas existentes nas
axilas das folhas. A primeira flor normalmente origina o
primeiro fruto, em geral o mais desenvolvido de cada
inflorescência (SILVA et al., 2007).
Os frutos do tipo aquênio são minúsculos de coloração
vermelho amarronzados, duros e superficiais, que normalmente
as pessoas confundem achando que é a semente. Na verdade
estes aquênios são os frutos verdadeiros. O que chamamos de
fruta do morangueiro é, na verdade, o receptáculo floral que
engrossa e se torna carnoso e doce, de formato e sabor variável
de acordo com a cultivar utilizada (SILVA et al., 2007).
As características botânicas da planta são importantes,
pois as cultivares de morangueiro são caracterizadas com base
nas diferenças morfológicas da folha, da planta ou do fruto
(CONTI et al., 2002 apud SILVA et al., 2007).

1.2.2 Sistema radicular

O sistema radicular do morangueiro é formado por


raízes adventícias e fasciculadas. As raízes adventícias ou
primárias são grandes e perenes (não morrem de um ano para o

18
Capítulo I

outro), com função de reserva, contribuindo na absorção de


água e nutrientes (PIRES et al., 2000).
As raízes fasciculadas ou secundárias são longas e se
desenvolvem lateralmente ao rizoma, em camadas sobrepostas,
ficando as camadas de raízes mais novas acima das raízes mais
velhas. Estas raízes têm a vida mais curta (NATIVIDADE,
1940 apud INFORZATTO; CAMARGO, 1973).
As raízes do morangueiro se renovam continuamente
durante o ciclo da cultura, e devido a essa forma de renovação
das raízes, o sistema radicular do morangueiro é pouco
profundo (GALLETA; BRINGHURTS, 1990 apud PIRES et
al., 2000).
A distribuição do sistema radicular no solo depende de
muitos fatores, como a compactação do solo, a umidade, a
aeração e a fertilidade do mesmo. Para fins de irrigação, a
profundidade efetiva das raízes (que representa a camada desde
a superfície do solo até onde se encontra a maior parte das
raízes absorventes) é um dos parâmetros básicos para projetos
de manejo de água para a cultura (PIRES et al., 2000).
A quase totalidade das raízes do morangueiro
encontra-se até 60cm de profundidade. Todavia, a maior parte
do sistema radicular se concentra nos primeiros 30cm do solo,
profundidade recomendada para fins de irrigação (RONQUE,
1998; PIRES, et al., 2000).
As raízes servem de órgão de reserva de
fotoassimilados da planta, para que ocorra a brotação do
próximo ano.
A vida saudável do morangueiro, no que diz respeito
às suas raízes, depende da contínua produção de novas raízes
principais do caule e da possibilidade dessas raízes produzirem
novos tecidos, assegurando a existência duradoura da planta
(INFORZATTO; CAMARGO, 1973).
Como o sistema radicular do morangueiro é bastante
superficial, a área de cultivo deve ser mantida sempre limpa e

19
Morangueiro Irrigado

protegida por cobertura morta, mantendo úmida a camada


superficial do solo, evitando que as plantas espontâneas
concorram por nutrientes e água com o morangueiro.

1.2.3 Fisiologia da planta

Para a melhor exploração da cultura do morangueiro é


de fundamental importância o conhecimento sobre os aspectos
fisiológicos da planta.
Segundo Duarte Filho et al. (1999), durante a série de
transformações que a planta passa em seu ciclo, existem
diferenças marcantes entre as fases de desenvolvimento
vegetativo - formação de biomassa como folhas, caules e
estolões, e desenvolvimento reprodutivo - formação de
componentes da flor como pétalas, estames e pistilo.
A fase vegetativa é verificada logo após o transplante
das mudas, que no município de Turuçu geralmente ocorre no
mês de abril (ESTRELA, 2008).
A diferenciação do meristema vegetativo para floral,
que resultará no florescimento, é muito dependente de um
conjunto de fatores, sendo o fotoperíodo (duração do dia), a
temperatura e a interação entre estes os de maior relevância
(SILVA et al., 2007; RONQUE, 1998).
Em função da resposta da planta ao fotoperíodo, as
cultivares se classificam em cultivares de dias curtos, cultivares
de dias neutros (ou indiferentes ao fotoperíodo) e cultivares de
dias longos. Atualmente, as cultivares de dias longos não são
utilizadas no Brasil (WREGE et al., 2007).
As cultivares de dias curtos são aquelas que florescem
quando há redução do comprimento do dia (menor que 14 horas
de luz) e da temperatura (menor que 15°C) (SILVA et al.,
2007). Nesse grupo, encontram-se a maioria das cultivares
utilizadas no Brasil, como Camarosa e Camino Real,

20
Capítulo I

amplamente utilizadas no município de Turuçu (ESTRELA,


2008).
As cultivares de dias neutros são aquelas que
apresentam uma menor sensibilidade ao fotoperíodo em
comparação às de dias curtos, prolongando o florescimento até
que as baixas temperaturas paralisem suas atividades (SILVA
et al., 2007). As cultivares Diamante, Aromas e Albion são
cultivares de dias neutros que já estão sendo introduzidas nos
municípios da região Sul do Rio Grande do Sul.
Para que o florescimento seja abundante é preciso que
a planta tenha suprido as horas de frio necessárias para a
indução floral no período anterior ao transplante (período em
que está no viveiro), que varia de acordo com a cultivar. Esse
requerimento de horas de frio, geralmente abaixo de 7°C, é
necessário para uma normal formação de folhas e flores na
planta (SILVA et al., 2007).
Segundo Ronque (1998) é interessante que os viveiros
de mudas estejam localizados em regiões de latitude e/ou
altitudes elevadas, a fim de que o número de horas acumuladas
de frio (380 a 700 horas, dependendo da cultivar) seja suprida.
Devido a este aspecto fisiológico e também pelo
aspecto sanitário, a grande maioria das mudas utilizadas no Rio
Grande do Sul é importada do Chile e Argentina, pois os
viveiros destes países possuem as condições climáticas mais
favoráveis.
Wrege et al. (2007) realizaram um zoneamento
agroclimático para produção de mudas no Rio Grande do Sul e
verificaram que, na Região Sul do Estado, as horas de frio estão
abaixo das exigência da cultura. Assim, a produtividade das
mudas produzidas nessa região pode ser inferior àquelas
produzidas em locais mais recomendados para a produção de
mudas, conforme demonstra Oliveira e Scivittaro (2006).
Dependendo do estímulo de luz (fotoperíodo) e
temperatura que a planta recebe após o transplante nos

21
Morangueiro Irrigado

canteiros, ela pode vir a ter uma florada precoce, sem que a
parte vegetativa esteja bem desenvolvida. Nestes casos,
aconselha-se que estes primeiros cachos florais sejam
removidos da planta, ainda quando pequenos, para que haja um
incremento no crescimento vegetativo da planta e, assim, ela
suporte o crescimento das frutas que virão posteriormente. Em
plantas que são mantidas com cultivo de 18 meses, além do
incremento no crescimento vegetativo que ocorre no primeiro
ano quando se adota esta prática, existe um incremento na
produtividade das plantas no segundo ano (DAUGAARD,
1999).
Em cultivares de dias curtos, como a Camarosa e a
Camino Real, o aumento do fotoperíodo e da temperatura
estimulam a planta a emitir estolões, em detrimento da emissão
de inflorescências. As cultivares de dias neutros ou
indiferentes, como Aromas e Albion, são menos influenciadas
por esses dois fatores, e, portanto, apresentam uma menor
emissão de estolões e uma continuidade na emissão de
inflorescências. Se a intenção é a produção de frutas, se
aconselha retirar os estolões das plantas, pois eles são fortes
drenos, favorecendo o desenvolvimento das inflorescências e
das frutas.

1.2.4 Exigência hídrica

O morangueiro é extremamente sensível ao déficit


hídrico do solo. A irrigação é, portanto, uma prática cultural
indispensável para que a lavoura atinja níveis satisfatórios de
produtividade e qualidade das frutas (SANTOS et al., 2005).
Pela característica do sistema radicular pouco
profundo, a cultura do morangueiro exige um bom manejo da
irrigação, evitando-se deficiências, assim como excessos,
reduzindo a incidências de doenças.

22
Capítulo I

As necessidades hídricas do morangueiro estão


relacionadas ao clima, às condições de umidade do solo e à fase
de desenvolvimento da planta, necessitando de 900 a 1100 mm
de chuvas bem distribuídas durante o ciclo de cultivo
(CARVALHO, 2006).
A fase de maior exigência hídrica do morangueiro é a
de frutificação. Nessa fase, a planta necessita mais água para
formar os frutos, que possuem baixos teores de matéria seca, e,
também, por ser a fase que coincide com a primavera-verão,
quando a transpiração da cultura aumenta devido ao calor.
Segundo Severo et al. (2006), 86% da água consumida
durante o ciclo do morangueiro é durante a fase de frutificação.
Como essa fase é longa, atenção especial deve ser dada para o
manejo da água neste período, para que não ocorram excessos e
nem déficits.

1.3 CULTIVARES
As principais cultivares de morangueiro utilizadas no
Brasil provêm dos programas de melhoramento dos Estados
Unidos, destacando-se: Aromas, Camarosa, Camino Real,
Diamante, Dover, Oso Grande, Sweet Charlie e Ventana; da
Espanha: Milsei-Tudla; do programa de melhoramento genético
da Embrapa Clima Temperado: Bürkley, Santa Clara e Vila
Nova; e do Instituto Agronômico – IAC: cultivar Campinas
(OLIVEIRA et al., 2005 apud OLIVEIRA; SCIVITTARO,
2006).
No Rio Grande do Sul, as cultivares Aromas e
Camarosa são, respectivamente, as cultivares de dias neutros e
de dias curtos mais utilizadas, sendo ambas indicadas para
consumo in natura e industrialização (OLIVEIRA;
SCIVITTARO, 2006).

23
Morangueiro Irrigado

1.3.1 Características das cultivares utilizadas em Turuçu-


RS

Segundo ESTRELA (2008) as cultivares de


morangueiro mais utilizadas no município de Turuçu são
Camarosa e Camino Real, ambas de dias curtos.
A cultivar Camarosa (Figura 1.1) foi obtida na
Universidade da Califórnia, em 1993, apresentando plantas
vigorosas, com folhas grandes de coloração verde-escura, ciclo
precoce, com alta capacidade de produção, frutas grandes,
uniformes, de coloração vermelho-escura, polpa firme e sabor
sub-ácido, sendo indicada tanto para consumo in natura quanto
para industrialização (SANTOS, 2003).

Figura 1.1 - Cultivar Camarosa (foto: Denise de Souza


Martins).

A cultivar Camino Real (Figura 1.2) é nova no


mercado brasileiro. Foi desenvolvida na Universidade da
Califórnia em 2001 e introduzida no Brasil a partir de 2006
(OLIVEIRA et al., 2007). Mostra-se tão produtiva quanto a
Camarosa e a Aromas, com até 1 Kg de frutas comerciais por
planta, sendo a colheita concentrada no período de agosto a
dezembro (OLIVEIRA et al., 2007).
24
Capítulo I

Figura 1.2 - Cultivar Camino Real (foto: Denise de Souza


Martins).

1.3.2 Novas cultivares para a Região Sul

Algumas cultivares de dias neutros vem sendo testadas


com sucesso na região Sul do RS. Como exemplos, pode-se
citar as cultivares Aromas e Albion.
A cultivar Aromas (Figura 1.3) também foi obtida na
Universidade da Califórnia, porém em 1997. É uma cultivar
muito produtiva, com hábito de crescimento ereto. As frutas são
de tamanho grande, coloração vermelha-escura, sabor
agradável e qualidade excelente para consumo in natura e
industrialização (SHAW, 2004). Essa cultivar já está sendo
implantada na região, com resultados de produtividade
semelhantes às cultivares Camarosa e Camino Real, que
possuem maior produção na fase intermediária do período
produtivo, enquanto a Aromas apresenta maior produção na
fase final do ciclo produtivo (OLIVEIRA; SCIVITTARO,
2006).

25
Morangueiro Irrigado

Figura 1.3 - Cultivar Aromas (foto: Denise de Souza Martins).

Outra cultivar que está sendo introduzida no Estado é a


Albion (Figura 1.4). Essa cultivar apresenta folhas mais
coriáceas e mais eretas que a Camino Real, assim como as
inflorescências, que também são mais eretas, deixando os frutos
suspensos, diminuindo o ataque de insetos como a broca das
frutas e os danos por queimaduras devido ao contato com o
plástico. É relativamente resistente à antracnose (SHAW, 2004)
o que pode facilitar seu cultivo a céu aberto. As frutas são de
tamanho grande, de sabor excelente, com formato cônico
alongado, sendo de coloração vermelho escuras quando bem
maduras, tanto internamente quanto externamente, mostrando
aptidão tanto para consumo in natura quanto para
industrialização.
Uma das principais vantagens do cultivo de plantas de
dias neutros juntamente com as de dias curtos é o
escalonamento da produção durante o ciclo, pois as plantas de
dias curtos são mais precoces e as de dias neutros produzem até
janeiro ou fevereiro, aumentando o período de oferta da fruta
no mercado.

26
Capítulo I

Figura 1.4 - Cultivar Albion (foto: Denise de Souza Martins).

1.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS


O conhecimento da fisiologia da produção e os
aspectos botânicos da planta são de fundamental importância
para o adequado manejo da cultura. A utilização de cultivares
de dias neutros conciliadas às cultivares de dias curtos, já
cultivadas no município de Turuçu, mostra-se uma alternativa
interessante para aumentar o período de oferta da fruta no
mercado.
O maior conhecimento sobre fatores como a
característica do sistema radicular, a exigência hídrica da
cultura, a qualidade da muda e as respostas da planta aos
fatores climáticos, permite uma otimização do sistema de
produção e, consequentemente, melhores resultados em relação
à produtividade.

27
Morangueiro Irrigado

1.5 LITERATURA CITADA


CARVALHO, S. P. Boletim do morango: cultivo
convencional, segurança alimentar, cultivo orgânico. Belo
Horizonte: FAEMG, 2006. 160p.
DAUGAARD, H. The effect of flower removal on the yield
and vegetative growth of A+ frigo plants of strawberry
(Fragaria x ananassa Duch). Scientia Horticulturae, v. 82,
n. 1-2, p. 153-157, 1999.
DUARTE FILHO, J. et al. Aspectos do florescimento e
técnicas empregadas objetivando a produção precoce em
morangueiros. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 20,
n. 198, p. 1-9, 1999.
ESTRELA, C. C. Variabilidade espacial e temporal da
qualidade da água de irrigação no sistema de produção de
morango em propriedades familiares no município de
Turuçu-RS. Pelotas, 2008. 98p. Dissertação (Mestrado em
Sistemas de Produção Agrícola Familiar) – Faculdade de
Agronomia “Eliseu Maciel”, Universidade Federal de Pelotas,
2008.
INFORZATTO, R.; CAMARGO, L. S. Sistema radicular do
morangueiro (Fragaria híbridos), em duas fases do ciclo
vegetativo. Bragantia, Campinas, v. 32, n. 8, p. 185-191, 1973.
OLIVEIRA, R. P.; SCIVITTARO, W. B. Desempenho
produtivo de mudas nacionais e importadas de morangueiro.
Revista Brasileira de Fruticultura, Jaboticabal - SP, v. 28,
n. 3, p. 520-522, 2006.
OLIVEIRA, R. P.; SCIVITTARO, W. B.; FERREIRA, L. V.
Camino Real: nova cultivar de morangueiro recomendada
para o Rio Grande do Sul. Pelotas: Embrapa Clima
Temperado, Comunicado Técnico 161, 4p., 2007.

28
Capítulo I

PIRES, R. C. M. et al. Profundidade efetiva do sistema


radicular do morangueiro sob diferentes coberturas do solo e
níveis de água. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília,
v. 32, n. 4, p. 793-799, 2000.
RONQUE, E. R. V. Cultura do morangueiro; revisão e
prática. Curitiba: Emater, 1998. 206 p.
SANTOS, A. M. Cultivares. In: SANTOS, A. M.; MEDEIROS,
A. R. M. (Ed.) Morango: produção. Pelotas: Embrapa Clima
Temperado; Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2003.
p. 24-30. (Frutas do Brasil, 40).
SANTOS, A. M.; MEDEIROS, A. R. M.; WREGE, M. S.
Sistema de produção do morango: irrigação e fertirrigação.
Embrapa Clima Temperado, ISSN 1806-9207 Versão
Eletrônica, novembro 2005. Disponível em:
<http://sistemasdeproducao. cnptia.embrapa.br/>. Acesso em
18 de março de 2009.
SEVERO, F. D. et al. Consumo hídrico do morangueiro
cultivado em ambiente protegido. CD do Congresso de
Iniciação Científica – UFPel, 2006.
SILVA, A. F.; DIAS, M. S. C.; MARO, L. A. C. Botânica e
Fisiologia do morangueiro. Informe Agropecuário, Belo
Horizonte, v. 28, n. 236, p. 7-13, 2007.
SHAW, D. V. Strawberry Production Systems, Breeding and
Cultivars in Califórnia. In: II Simpósio Nacional do
Morango; I Encontro de Pequenas Frutas e Frutas Nativas
do Mercosul. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, p. 16-21,
2004.
WREGE, M. S. et al. Zoneamento agroclimático para
produção de mudas de morangueiro no Rio Grande do Sul.
Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2007. 27p. Documento
187, versão online.

29
CAPÍTULO 2 - SISTEMA DE
PRODUÇÃO DO MORANGUEIRO:
FATORES QUE INFLUENCIAM O
MANEJO DA IRRIGAÇÃO

André Samuel Strassburger


Denise de Souza Martins
Carlos Reisser Júnior
José Ernani Schwengber
Roberta Marins Nogueira Peil
Luís Carlos Philipsen

2.1 INTRODUÇÃO
Dentre as práticas culturais empregadas na cultura do
morangueiro, a irrigação apresenta-se como uma das mais
importantes. Esta prática torna-se fundamental, pois a cultura é
altamente exigente em relação à disponibilidade hídrica e os
regimes de chuvas em algumas regiões podem não ser
suficientes ou não apresentar uma distribuição adequada.
Para que as plantas expressem o seu potencial
produtivo, é necessário que as condições adequadas de cultivo
sejam proporcionadas, tornando-se fundamental a manutenção
da umidade do solo dentro dos parâmetros exigidos pela
cultura. O déficit hídrico, assim como o excesso por períodos
de tempo prolongados, pode causar danos irreversíveis à planta,
reduzindo a produtividade.

30
Capítulo II

Algumas práticas culturais adotadas no cultivo do


morangueiro influenciam de maneira significativa o manejo da
irrigação, como a utilização de cobertura do solo e túnel baixo.
O sistema de produção predominante entre os agricultores do
município de Turuçu-RS caracteriza-se pela utilização de
cobertura do solo com plástico de coloração preta, pela
utilização de túneis baixos e irrigação por gotejamento.
A adubação segue as recomendações tradicionais,
utilizando-se adubos químicos. Alguns produtores
eventualmente utilizam adubos de origem orgânica e
fertirrigação. O controle de pragas e doenças é realizado com
agrotóxicos tradicionais ou, menos comumente, produtos
alternativos.
O manejo da cultura e o sistema de produção adotado
exercem fundamental importância para o sucesso da lavoura.
Neste capítulo, as principais práticas culturais utilizadas para o
cultivo do morangueiro serão abordadas destacando-se o
adequado manejo e a influência destas sobre a irrigação.

2.2 UTILIZAÇÃO DE COBERTURA DO SOLO


Uma das práticas culturais mais importantes para a
cultura do morangueiro é a utilização de cobertura do solo, que
consiste na aplicação de qualquer cobertura na superfície do
solo que forme uma barreira física à transferência de energia e
vapor d’água entre o solo e a atmosfera.
Tem como principais objetivos: evitar o contato direto
dos frutos com o solo, aumentando sua qualidade; reduzir a
incidência de plantas invasoras; reduzir as perdas de nutrientes
por lixiviação; modificar o microclima do solo; reduzir as
oscilações de temperatura; e reduzir as perdas de água do solo
por evaporação (RONQUE, 1998; SANTOS; MEDEIROS,
2003).

31
Morangueiro Irrigado

Os materiais utilizados como cobertura do solo para a


cultura do morangueiro podem ser de origem vegetal (como a
acícula de pinus e a casca de arroz) ou sintéticos (como os
filmes de polietileno).
A cobertura do solo deve ser realizada
aproximadamente 30 dias após o transplante, quando as mudas
já estiverem com o sistema radicular bem desenvolvido,
evitando maiores danos ao manuseá-las (RONQUE, 1998;
SANTOS; MEDEIROS, 2003).

2.2.1 Materiais de origem vegetal

Os principais materiais de origem vegetal utilizados


como cobertura do solo na cultura do morangueiro são: casca
de arroz, acícula de pinus, sabugo de milho picado, serragem,
maravalha, palhas, hastes de cereais e folhas diversas.
Ronque (1998) destaca que os materiais utilizados
como cobertura do solo devem ser isentos de contaminantes ou
qualquer outra substância que possa vir a prejudicar o adequado
desenvolvimento das plantas.
A camada formada pelos resíduos vegetais deve ter
uma espessura suficiente para evitar que os raios solares
penetrem, mantendo a umidade do solo devido à menor
evaporação da água.
Dentre as vantagens da utilização da cobertura com
resíduos vegetais destacam-se: menor ataque de ácaros, em
razão do microclima úmido abaixo das folhas; menor custo; e
enriquecimento do teor de matéria orgânica do solo, com a
incorporação da cobertura morta após o término do cultivo
(SANTOS; MEDEIROS, 2003). A dificuldade de manejo e
danos físicos às frutas são os principais limitantes da utilização
de materiais de origem vegetal em comparação aos materiais
sintéticos.

32
Capítulo II

2.2.2 Materiais sintéticos

Os primeiros materiais sintéticos a serem utilizados


como cobertura do solo foram o papel e resíduos de petróleo.
Com o surgimento da indústria petroquímica, a partir da década
de 50, materiais mais baratos, como os filmes de polietileno,
passaram a ser utilizados como cobertura do solo (STRECK et
al., 1994). Atualmente, para a cultura do morangueiro a
cobertura mais utilizada é o polietileno opaco preto, com 30 ou
50 micras de espessura.
As coberturas plásticas têm como principais
vantagens: a redução da umidade relativa, o que diminui a
incidência de fungos, especialmente aqueles que ocasionam
podridões de frutos, preservando sua qualidade; o estímulo à
produção precoce; e a redução da mão-de-obra de transporte e
colocação, em comparação com outras opções de coberturas.
As principais desvantagens são o elevado custo do
plástico, o estímulo ao desenvolvimento de ácaros pela
formação de microclima seco (SANTOS; MEDEIROS, 2003) e
o impacto ambiental causado pelo plástico após sua retirada do
solo.

2.2.3 Influência da cobertura do solo no aporte de água

Um dos principais efeitos esperados pela utilização de


cobertura do solo é a redução da perda de água do solo. A
magnitude da redução da evaporação pelo material de cobertura
depende da sua natureza. A cobertura morta de palha seca reduz
menos a evaporação da água do solo que os materiais sintéticos,
possivelmente porque o vapor d'água difunde-se através da
camada de resíduos (STRECK et al., 1994).
Com a utilização de cobertura plástica a evaporação da
água da superfície do solo pode ser reduzida em até 21%, em
comparação ao solo nu (STRECK et al., 1994). Dessa forma, a

33
Morangueiro Irrigado

utilização de cobertura mantém a umidade do solo por um


período de tempo maior que o solo descoberto, o que significa
um aumento da eficiência da irrigação e uma economia de água
e energia, caso a irrigação não seja por gravidade.

2.3 UTILIZAÇÃO DE TÚNEIS


Com a introdução da plasticultura na produção
agrícola, o morangueiro passou a ser cultivado com algum tipo
de proteção plástica, seja em túneis baixos, altos ou casas
plásticas. Grande parte dos agricultores tem preferência pela
utilização de túneis baixos para a cultura do morangueiro em
comparação a outras estruturas de maior porte, devido ao
menor custo de implantação e a possibilidade de rodízio das
áreas de cultivo, fator importante para evitar maiores problemas
com doenças.
Dentre as vantagens que os túneis proporcionam em
relação ao cultivo a céu aberto, podem ser citadas a antecipação
da colheita, maior produção e melhor qualidade, oriundas da
maior proteção quanto aos fenômenos climáticos como geadas,
excesso de chuvas, queda acentuada de temperatura durante a
noite, proteção do solo contra a lixiviação e, consequentemente,
redução dos custos com fertilizantes e agrotóxicos. Como
principais desvantagens têm-se o elevado custo do plástico e o
aumento da mão-de-obra para abrir e fechar os túneis.

2.3.1 Manejo dos túneis

Para que as vantagens da utilização dos túneis sejam


obtidas, é importante que o manejo adotado seja adequado.
Caso contrário, pode ocorrer aumento na incidência de doenças,
culminando em uma redução da produção. Abaixo segue o
manejo adequado dos túneis a ser adotado, baseado nas

34
Capítulo II

recomendações de Santos e Medeiros (2003) e em observações


da equipe.
Abertura dos túneis: deve ser realizada logo pela
manhã. Ambas laterais devem ser abertas de forma que toda a
umidade seja eliminada. Em dias de ventos moderados, pode-se
abrir apenas o lado oposto àqueles predominantes, evitando
danos ao plástico e as plantas. Quanto maior a ventilação menor
será a ocorrência de doenças;
Fechamento dos túneis: no final da tarde, deve-se
realizar a operação inversa, ou seja, deve-se fechar as laterais
dos túneis para aumentar o acúmulo térmico, elevando a
temperatura noturna dentro dos túneis. Em dias de chuva, os
túneis devem ser mantidos fechados, sendo abertos assim que
as condições climáticas melhorarem.
A manutenção do túnel fechado durante o dia aumenta
a temperatura do ar e a umidade relativa dentro do túnel.
Nessas condições, tem-se um aumento da ocorrência de
doenças que se desenvolvem sob condições de alta umidade
relativa. O cultivo protegido, desde que bem manejado, e a
irrigação localizada constituem práticas valiosas para o manejo
de doenças na cultura do morangueiro e possibilitam a redução
do uso de agrotóxicos.
Outra questão importante a ser observada em relação
ao manejo dos túneis é a polinização. Na cultura do
morangueiro a polinização é realizada principalmente pelas
abelhas. O acesso às flores deve ser facilitado, ou seja, os túneis
devem estar abertos no horário de maior atividade das abelhas.
Quanto maior o número de visitas, melhor será a
polinização e, consequentemente, a qualidade das frutas. Em
locais nos quais não exista uma grande ocorrência de abelhas,
para melhorar a polinização recomenda-se colocar caixas de
abelhas próximas à lavoura.
Caso os túneis sejam mantidos fechados por um
período de tempo prolongado, o número de visitas será

35
Morangueiro Irrigado

reduzido, com reflexos negativos sobre a polinização, assim, a


qualidade e a produtividade da lavoura serão afetadas.

2.3.2 Influência dos túneis de cultivo sobre a irrigação

A utilização de abrigos plásticos está diretamente


ligada à necessidade de um sistema de irrigação, mesmo
quando a estrutura de proteção utilizada é o túnel baixo. O ciclo
natural da água nesse tipo de estrutura é quebrado e o
fornecimento de água para as plantas na forma de precipitação
não ocorre.
Em se tratando do cultivo do morangueiro em túneis
baixos, embora ocorram precipitações elevadas, a água
acumula-se nos corredores, sendo que parte dela infiltra nos
canteiros, parte volta para a atmosfera na forma de vapor e
parte é perdida por percolação.
Muitas vezes a fração infiltrada nos canteiros não é
suficiente para manter a umidade do solo em níveis adequados.
Assim, mesmo com precipitações abundantes, pode existir a
necessidade de se realizar a irrigação, sendo necessária a
observação da umidade do solo, para a definição do momento
de irrigar.
Quando se utilizam túneis para o cultivo, a irrigação
por aspersão fica inviabilizada, sendo necessária a implantação
de irrigação localizada.

2.4 ESCOLHA DO SISTEMA DE IRRIGAÇÃO

2.4.1 Aspersão

No Brasil, até a década de 80, grande parte das


lavouras de morangueiro era irrigada por aspersão (SANTOS et
al., 2005). Esse sistema propicia condições favoráveis ao
aparecimento de doenças, devido ao molhamento que ocorre na
36
Capítulo II

parte aérea das plantas. As gotas de água da irrigação também


servem como disseminadoras dos esporos de patógenos.
Para Santos et al. (2005) e Carvalho (2006), os únicos
benefícios de um sistema de irrigação por aspersão são a
diminuição do ataque de ácaros e o controle de geadas,
podendo evitar dano às flores e frutos pequenos. Atualmente,
esse método de irrigação é mais utilizado após o plantio, para
garantir a sobrevivência das mudas a campo (SANTOS et al.,
2005) e na produção de mudas de morangueiro em viveiros.

2.4.2 Gotejamento

O sistema de irrigação por gotejamento vem sendo


amplamente adotado na cultura do morangueiro. Isso ocorre
devido à maior eficiência no uso da água e menor incidência de
doenças, pela redução do molhamento da parte aérea da planta.
Como consequência, há um aumento na produtividade, no
tamanho e na qualidade da fruta (SANTOS et al., 2005).
Além da redução do molhamento foliar, o sistema de
irrigação por gotejamento reduz o consumo de energia elétrica
e possibilita o uso de fertirrigação. Todavia, necessita água
limpa, filtrada e manutenção constante dos equipamentos, o que
acarreta um custo inicial mais elevado em comparação ao
sistema de irrigação por aspersão (CARVALHO, 2006).
Mesmo com essas desvantagens, o sistema de irrigação por
gotejamento é o mais indicado para a cultura do morangueiro e
amplamente utilizado entre os agricultores do município de
Turuçu.
Porém, se o sistema não for bem manejado, pode
conduzir a resultados negativos, como o excesso de água no
solo, o que pode aumentar a incidência de fungos de solo,
reduzindo a produtividade e até causando a morte das plantas
(SANTOS et al., 2005; CARVALHO, 2006).

37
Morangueiro Irrigado

2.4.3 Influência dos sistemas de irrigação na incidência de


doenças e pragas

A irrigação por aspersão, pela característica do


molhamento da parte aérea da planta, favorece o aparecimento
de doenças nas folhas e nas frutas.
A mancha da micosferela (Figura 2.1) é causada pelo
fungo Micosphaerella fragaria (Tul.) Lindau e ocorre na fase
inicial e final do ciclo. Maiores danos ocorrem quando se
utiliza altas densidades, irrigação por aspersão e excesso de
adubação nitrogenada (FORTES; OSÓRIO, 2003).

Figura 2.1 - Mancha da micosferela (foto: Denise de Souza


Martins).

A antracnose, causada pelos fungos Colletotrichum


gloreosporioidis, C. acutatum e C. Fragariae, produz lesões e
estrangulamento em estolões, pecíolo, pedúnculo, fruta (Figura
2.2) e coroa da planta. Quando ataca os botões florais causa a
chamada flor-preta. Maior ataque às plantas é observado com o
aumento da umidade. Assim, a irrigação por aspersão pode ser
prejudicial, favorecendo o aparecimento da doença. Como
controle preventivo recomenda-se a eliminação de restos
culturais, uma vez que o fungo pode sobreviver neles e a
utilização de túneis de polietileno que evitam o molhamento da
parte aérea da planta.

38
Capítulo II

Figura 2.2 - Antracnose na fruta (foto: Denise de Souza


Martins).

O mofo cinzento (Botrytis cinerea Pers) ataca


principalmente as frutas (Figura 2.3) em qualquer estádio de
desenvolvimento, desde que ocorram longos períodos com
umidade. A água da chuva e da irrigação por aspersão são
veículos para disseminar os esporos do fungo.

Figura 2.3 - Mofo cinzento na fruta (foto: Denise de Souza


Martins).

39
Morangueiro Irrigado

As principais pragas que atacam a cultura do


morangueiro são o pulgão e o ácaro rajado. Os pulgões (Figura
2.4) são insetos de corpo mole, de coloração variada,
dependendo da espécie. Vivem agrupados, em colônias, na face
inferior das folhas. O dano dos pulgões ao morangueiro é
devido à sucção da seiva da planta e pela possível transmissão
de viroses que levam ao enfraquecimento e eventual morte da
planta (SANTOS et al., 2005).

Figura 2.4 - Pulgão verde na folha. (foto: Denise de Sousa


Martins).

O ácaro rajado (Tetranychus urticae Koch) ocorre no


Sul do Brasil e onde são aplicados sistematicamente inseticidas
e acaricidas no cultivo do morangueiro. Ele tem cor verde
amarelado a verde escuro, com duas manchas escuras nos lados
do corpo, não sendo visível a olho nu.
Os ácaros vivem em colônias, na face inferior das
folhas, principalmente junto à nervura central, formando uma
espécie de teia. Eles removem os tecidos superficiais da folha,
causando perda de seiva junto às primeiras camadas do tecido
foliar, ocorrendo amarelecimento ao longo da nervura central e
um tipo de bronzeamento lateral da folha.
O período ou época de incidência dos pulgões e ácaros
depende mais das condições climáticas (temperaturas elevadas

40
Capítulo II

e longas estiagens) do que do estádio de desenvolvimento da


planta. Os ácaros predadores (ácaros vermelhos – Figura 2.5)
ocorrem naturalmente nas lavouras, desde que não haja a
aplicação de acaricidas.

Figura 2.5 - Ácaro predador, na parte superior da figura, e


ácaros rajados, na parte inferior da figura (foto:
Denise de Sousa Martins).

Como os pulgões e ácaros aparecem nas lavouras


devido a altas temperaturas e baixa umidade, a irrigação por
aspersão diminui a incidências destas pragas.

2.5 FERTIRRIGAÇÃO
A fertirrigação é o processo de aplicação de
fertilizantes juntamente com a água de irrigação, visando
fornecer as quantidades de nutrientes requeridas pela cultura no
momento adequado para obtenção de altos rendimentos e
produtos de qualidade (CARRIJO et al., 2004).
A utilização de sistemas de irrigação por gotejamento
permite a aplicação concomitante de água e fertilizantes, pois
apresenta características estruturais e operacionais que

41
Morangueiro Irrigado

favorecem a implantação dessa prática. É uma maneira racional


e eficiente de nutrir as plantas na agricultura irrigada.
Representa aproximadamente 10% do custo de implantação do
sistema de irrigação (COELHO et al., 2003), necessitando
apenas a aquisição do sistema de injeção de fertilizantes quando
o sistema de irrigação já está instalado.
Dentre as vantagens da fertirrigação podem ser citadas
o atendimento das necessidades nutricionais das plantas, de
acordo com a curva de absorção dos nutrientes; a aplicação dos
nutrientes restrita ao volume molhado, na região de maior
abundância das raízes; as quantidades e concentrações dos
nutrientes podem ser adaptadas às necessidades da planta em
função de seu estádio fenológico e condições climáticas;
proporciona economia de mão-de-obra; reduz as perdas; e
reduz a atividade de pessoas ou máquinas na área de cultivo,
diminuindo a compactação e favorecendo as condições físicas
do solo (COELHO et al., 2003).
Como inconvenientes do sistema podem ser citados
possíveis entupimentos que podem ocorrer durante o processo,
a salinização e a contaminação de solos e mananciais devido à
lixiviação de nutrientes. Esses inconvenientes estão
relacionados principalmente com o manejo incorreto do sistema
de fertirrigação, pela não diluição total do fertilizante e pela
aplicação em excesso.

2.5.1 Aspectos nutricionais do morangueiro

A primeira etapa para a determinação dos fertilizantes


e corretivos a serem aplicados para o cultivo do morangueiro é
a análise química do solo. De posse desta, deve-se realizar a
correção da acidez do solo, se necessário, buscando alcançar
pH próximo a 6,0 e com no mínimo três meses de antecedência
ao transplante das mudas (COMISSÃO DE QUÍMICA E
FERTILIDADE DO SOLO - RS/SC, 2004).

42
Capítulo II

Como o período de cultivo do morangueiro é longo,


recomenda-se o parcelamento da recomendação total da
adubação para a cultura, visando reduzir as perdas de nutrientes
e manter os níveis de fertilidade do solo sempre próximo ao
ideal em cada fase de crescimento das plantas, reduzindo
perdas por lixiviação. Dessa forma, o suprimento de nutrientes
pode ser realizado todo via fertirrigação, começando o
procedimento logo após o transplante das mudas ou com uma
aplicação na base e o restante parcelado (CARVALHO, 2006).
Segundo Filho et al. (1999), até o início das primeiras
colheitas, a planta absorve 37,2% do nitrogênio (N); 28,7% do
fósforo (P) e 23,1% do potássio (K) requerido durante todo o
período, fator importante a ser levado em consideração para o
planejamento da aplicação dos fertilizantes.
O nitrogênio, apesar de ser um dos nutrientes mais
exigidos pela cultura, não pode ser adicionado de forma
indiscriminada. O excesso pode causar crescimento vegetativo
exuberante em detrimento da produção (PACHECO et al.,
2007), favorecendo o aparecimento de doenças devido ao
desequilíbrio nutricional. Em contrapartida, a deficiência de N
causa redução no crescimento das plantas. Por ser um nutriente
móvel no solo, deve-se atentar ao fato de que irrigações pesadas
podem causar lixiviação do nutriente, causando perdas
substanciais.
A deficiência de P causa paralisia tanto no crescimento
vegetativo (emissão de folhas e estolões), quanto no
reprodutivo (emissão de flores). Os frutos tornam-se ácidos e
com aroma desagradável. A adequada nutrição fosfatada é
importante para aumentar a resistência do morangueiro às
doenças, a consistência e o tamanho dos frutos (PACHECO et
al., 2007).
O K é o nutriente que mais favorece a qualidade da
fruta, aumentando os teores de sólidos solúveis totais, de ácido
ascórbico e melhorando o aroma, o sabor, a cor e a firmeza

43
Morangueiro Irrigado

(FILHO et al., 2000). Além disso, confere maior longevidade à


planta, tornando-a mais produtiva por um período de tempo
maior (PACHECO et al., 2007).
O cálcio (Ca) melhora a firmeza e resistência da fruta.
Sua deficiência avançada ocasiona mortalidade das gemas
associadas à emissão de novas folhas e raízes, sendo importante
para definir a firmeza das frutas (PACHECO et al., 2007).
Os micronutrientes, embora absorvidos em menor
quantidade, são tão importantes quanto os macronutrientes para
um adequado crescimento e produção. O zinco e o boro são os
dois micronutrientes para os quais as plantas mais comumente
apresentam sintomas de deficiência (PACHECO et al., 2007).
A carência de ambos os elementos produz uma diminuição na
fertilidade do pólen e na frutificação e, consequentemente, na
produtividade final.

2.5.2 Tipos e fontes de nutrientes para a fertirrigação

Para a cultura do morangueiro, tanto os


macronutrientes como os micronutrientes podem ser aplicados
via fertirrigação. Como fonte de nitrogênio, pode-se utilizar a
uréia, o nitrato de amônio, o sulfato de amônio, o nitrato de
cálcio, o nitrato de potássio, o fosfato monoamônico (MAP) e o
fosfato diamônico (DAP).
As fontes de potássio mais utilizadas são o cloreto de
potássio, o nitrato de potássio, o sulfato de potássio e o fosfato
monopotássico. Para a adubação fosfatada, podem ser
utilizados o ácido fosfórico, o fosfato monopotássico, o fosfato
monoamônico purificado e o fosfato diamônico.
Para a adição de micronutrientes, existem outras
fontes, que são menos utilizadas e mais difíceis de serem
encontradas no mercado como nitrato de magnésio, sulfato
ferroso, Fe EDTA, ácido bórico, sulfato de cobre, sulfato de
manganês, sulfato de zinco e molibidato de sódio.

44
Capítulo II

A escolha de um desses fertilizantes para suprir a


demanda de um determinado nutriente deve ser realizada de
acordo com o teor de cada nutriente presente no fertilizante,
com a disponibilidade no mercado e com o preço.
Alguns desses fertilizantes são fontes de mais de um
nutriente, como o nitrato de cálcio, que além de ser fonte de
nitrogênio, também é fonte de cálcio, outro nutriente
importante para a cultura do morangueiro. Dessa forma, em
alguns casos, pode ser mais interessante a aplicação de um
fertilizante que forneça mais de um nutriente do que a
utilização de outro fertilizante que forneça apenas um nutriente.

2.5.3 Utilização de soluções de origem orgânica

Além dos fertilizantes químicos de alta solubilidade,


também podem ser utilizadas soluções de origem orgânica para
a fertirrigação. É uma das alternativas que os agricultores que
se dedicam a produção orgânica de morangos encontraram para
a aplicação de nutrientes juntamente com a irrigação durante o
ciclo produtivo.
Uma das opções para a utilização desse tipo de fonte
de nutrientes é o húmus líquido. A fertirrigação com húmus
líquido tem sido utilizada com sucesso nos experimentos
realizados na Estação Experimental Cascata (Embrapa Clima
Temperado), demonstrando bons resultados para a cultura do
morangueiro. O preparo do húmus líquido é simples. A seguir
seguem as recomendações para a elaboração do húmus líquido
de acordo com Schiedeck et al. (2006).
Para preparar 100 L de húmus líquido, na proporção de
1:10, utiliza-se 10 kg de húmus e mistura-se em 100 L de água,
obtendo-se uma concentração aproximada de 5%, uma vez que
a umidade do húmus é cerca de 50%. Em um recipiente,
adiciona-se primeiramente a água e posteriormente o húmus,
agitando-se de forma vigorosa para que todo o sólido se

45
Morangueiro Irrigado

dissolva na água. Pode ser preparado em qualquer recipiente


evitando que a solução fique exposta ao sol. Concentrações
superiores a 5% não são recomendadas, pois são difíceis de
serem filtradas. A mistura deve ser agitada pelo menos uma vez
ao dia para que o máximo de nutrientes e microorganismos do
húmus seja liberado na água. O processo de preparo dura cerca
de 4 a 7 dias. Anteriormente a aplicação, o material deve ser
muito bem filtrado em peneira fina, removendo-se todo o
material sólido para evitar o entupimento do sistema de
irrigação.

2.5.4 Estrutura necessária

Para realizar a fertirrigação, é necessário além do


sistema de irrigação, equipamentos adequados para injeção dos
nutrientes no sistema. Segundo Silva e Marouelli (2002), a
injeção dos fertilizantes no sistema de irrigação pode ser
realizada por três diferentes sistemas:
a) com tanques de injeção com cilindro
hermeticamente fechado, onde o fertilizante é colocado e por
onde parte da água que se destina às plantas passa por diferença
de pressão, transportando, dessa forma, o produto até os
emissores;
b) com bomba injetora de fertilizantes que retira o
fertilizante a ser aplicado de um reservatório e o injeta
diretamente no sistema de irrigação;
c) com o tubo de Venturi, que se baseia no princípio
hidráulico de Venturi, que consiste de um estrangulamento de
uma tubulação, causando uma sucção resultante da mudança na
velocidade do fluxo e, assim, injeta a solução a ser aplicada no
sistema de irrigação.
De acordo com as necessidades, qualquer um desses
mecanismos pode ser utilizado. Observa-se que o mais simples,
mais barato e que vem sendo amplamente utilizado para a

46
Capítulo II

cultura do morangueiro, apresentando uma distribuição


satisfatória da solução no sistema de irrigação é o tubo de
Venturi.

2.5.5 Manejo da fertirrigação

O manejo adequado da fertirrigação requer que a


injeção de fertilizantes seja iniciada quando toda tubulação
estiver cheia de água e os emissores em pleno funcionamento.
Caso contrário, a uniformidade de distribuição de fertilizantes
será prejudicada. O processo de fertirrigação pode ser dividido
em três etapas: a primeira para enchimento da tubulação; a
segunda para aplicação propriamente dita da solução na água de
irrigação; e a terceira para promover a lavagem da tubulação e
dos emissores (MAROUELLI et al., 1996; SOUSA et al.,
2003).
Em relação à frequência da fertirrigação, esta pode ser
feita todas as vezes que for realizada a irrigação ou em
intervalos maiores. A frequência depende de fatores como a
capacidade do sistema, mão-de-obra disponível, tipo de solo,
tipo de cultura ou mesmo da preferência do produtor.
O parcelamento deve ser realizado de acordo com os
parâmetros químicos do solo ou pela taxa de absorção dos
nutrientes pela cultura. Salienta-se que é importante o
monitoramento do estado nutricional das plantas para
determinar a necessidade da fertirrigação, observando-se
sintomas de deficiências ou excessos de nutrientes nas plantas
ou pela análise química foliar.
Aplicações de fertilizantes em regime de alta
frequência e em pequenas quantidades têm a vantagem de
reduzir a lixiviação dos nutrientes e manter o nível de
fertilidade próximo do ótimo (SILVA; MAROUELLI, 2002).
Em solos arenosos, onde as perdas de água e nutrientes
ocorrem com maior intensidade, o uso da fertirrigação permite

47
Morangueiro Irrigado

reduzir significativamente essas perdas com aplicações mais


frequentes de forma pontual, principalmente em relação a
adubação nitrogenada (VÁSQUEZ, 2003).

2.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS


A cultura do morangueiro reveste-se de importância
para os horticultores da Região Sul do Estado, em especial no
município de Turuçu, tornando-se uma alternativa que
proporciona uma fonte de renda durante um longo período do
ano.
O morango é uma fruta muito apreciada e de alto valor
no mercado, no entanto, apresenta em seu sistema de produção
uma série de detalhes que dificultam a produção de frutas de
alta qualidade, sem contaminantes químicos ou biológicos.
Se o sistema de produção for bem manejado, ocorre
uma redução na incidência de doenças e na necessidade de
aplicação de agrotóxicos, obtendo-se um produto com um baixo
nível de contaminantes químicos e, ainda, com um menor custo
de produção.

2.7 LITERATURA CITADA


CARRIJO, O. A.; SOUZA, R. B. de; MAROUELLI, W. A.;
ANDRADE, R. J. de. Fertirrigação de hortaliças. Brasília:
Embrapa Hortaliças, 2004. 13p. (Circular Técnica).
CARVALHO, S. P. Boletim do Morango: cultivo
convencional, segurança alimentar, cultivo orgânico. Belo
Horizonte: FAEMG, 2006. 160p.
COELHO, E. F.; SOUZA, V. F. de; PINTO, J. M. Manejo de
fertirrigação em fruteiras. Bahia Agrícola, Salvador, v. 6, n. 1,
p. 67-70, 2003.

48
Capítulo II

COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO -


RS/SC. 2004. Manual de adubação e calagem para os
Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Porto
Alegre: SBCS - Núcleo Regional Sul UFRGS, p. 258-259,
2004.
FILHO, H. G.; SANTOS, C. H. dos; CRESTE, J. E. Nutrição e
adubação do morangueiro. Informe Agropecuário, Belo
Horizonte, v. 20, n. 198, p. 36-40, 1999.
FORTES, J. F.; OSÓRIO, V. A. Morango. Fitossanidade.
Embrapa Clima Temperado. Brasília: Embrapa Informação
Tecnológica, 2003.
MAROUELLI, W. A.; SILVA, W. L. C.; SILVA, H. R.
Fertirrigação em hortaliças. In: MAROUELLI, W. A.; SILVA,
W. L. C.; SILVA, H. R. Manejo da irrigação em hortaliças.
Brasília: Embrapa informação tecnológica CNPH, 1996. p. 48-
52.
PACHECO, D. D.; DIAS, M. S. C.; ANTUNES, P. D.;
RIBEIRO, D. P.; SILVA, J. J. C.; PINHO, D. B. Nutrição
mineral do morangueiro. Informe Agropecuário, Belo
Horizonte, v. 28, n. 236, p. 40-49, 2007.
SANTOS, A. M.; MEDEIROS, A. R. M. Frutas do Brasil.
Embrapa Informações Tecnológicas: Brasília, 2003. 81p.
RONQUE, E. R. Cultura do morangueiro, revisão e prática.
Curitiba: EMATER-Paraná, 1998. 206 p.
SANTOS, A. M.; MEDEIROS, A. R. M.; WREGE, M. S.
Sistema de produção do morango: irrigação e fertirrigação.
Embrapa Clima Temperado, ISSN 1806-9207 Versão
Eletrônica, novembro 2005. Disponível em:
<http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/>. Acesso em:
20 mar. 2009.

49
Morangueiro Irrigado

SCHIEDECK, G.; GONÇALVES, M. de M.; SCHWENGBER,


J. E. Minhocultura e produção de húmus para a agricultura
familiar. Pelotas: Embrapa Clima Temperado. 2006. 12 p.
Circular Técnica. Versão online. Disponível em:
<http://www.cpact.embrapa.br/publicacoes/download/circulare
s/Circular_57.pdf> Acesso em: 10 mar. 2009
SILVA, W. L. C.; MAROUELLI, W. A. Fertirrigação de
hortaliças. Irrigação Tecnologia Moderna, Brasília, n. 52/53,
p. 45-47, 2002.
SOUSA, V. F.; FOLEGATTI, M. V.; FRIZZONE, J. A.;
CORRÊA, R. A. L.; ALENCAR, C. M. Distribuição de
fertilizantes em um sistema de fertirrigação por gotejamento.
Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental,
Campina Grande, v. 7, n. 1, p. 186-189, 2003.
STRECK, N. A.; SCHNEIDER, F. M.; BURIOL, G. A.
Modificações físicas causadas pela cobertura do solo. Revista
Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 2, p. 131-
142, 1994.
VÁSQUEZ, A. N. Fertirrigação por gotejamento superficial
e subsuperficial no meloeiro (Cucumis melo L.) sob
condições protegidas. 2003. 174 p. (Doutorado em
Agronomia). Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz.
Universidade de São Paulo.

50
CAPÍTULO 3 - SOLO E MANEJO DA
ÁGUA

Carlos Reisser Júnior


Vitor Emanuel Quevedo Tavares
Luís Carlos Timm
Carina Costa Estrela
Luís Eduardo Correa Antunes
Noel Gomes Cunha

3.1 O SOLO
Do ponto de vista agronômico, o termo solo refere-se à
camada externa e agricultável da superfície terrestre sendo
constituído das fases sólida, líquida e gasosa. O material de
origem, o tempo, o clima, a topografia da região e os
organismos vivos são os fatores que atuam no processo de sua
formação. Sua origem é a rocha que, por ação de processos
físicos, químicos e biológicos de desintegração, decomposição
e recombinação, se transformou, no decorrer das eras
geológicas, em material poroso de características peculiares.
O solo é o reservatório de água e nutrientes para as
plantas, além de permitir a sustentação dos vegetais. A Figura
3.1 ilustra um corte vertical no perfil de um solo, constituído de
uma série de camadas superpostas, denominadas horizontes do
solo.

51
Morangueiro Irrigado

A00 M.O. não decomposta


A0 M.O. humificada
A A1 hor. mineral c/ m.o
A2 hor. de perdas
A3 hor. de transição
B1 hor. de transição
B
B2 hor. de iluviação
B3 hor. de transição

C
Rocha em decomposição

D Rocha matriz

Figura 3.1 - Ilustração dos horizontes de um perfil completo


de solo (REICHARDT; TIMM, 2008).

Um solo completo é formado de quatro horizontes:


- horizonte A (horizonte de eluviação) - é a camada superficial
do solo, exposta diretamente à atmosfera. Ele é o horizonte que
perde elementos químicos por lavagens sucessivas com a água
da chuva. Subdivide-se em Aoo (camadas superficiais em solos
de florestas com grande quantidade de material orgânico, não
decomposto: galhos, folhas e frutos); Ao (situa-se abaixo do
Aoo, constituído de material orgânico decomposto); A1 (já é
horizonte mineral, mas com alta porcentagem de matéria
orgânica decomposta que lhe confere uma cor escura); A2 (que
é o típico horizonte A, de cor mais clara, correspondendo à
zona de máxima perda de elementos minerais) e A3 (é um

52
Capítulo III

horizonte de transição entre A e B, possuindo características de


ambos);
- horizonte B (horizonte de iluviação) - é o horizonte que ganha
elementos químicos provenientes do horizonte A, situado
acima;
- horizonte C – é o horizonte formado pelo material que deu
origem ao solo, em estado de decomposição;
- horizonte D – é o horizonte formado pela rocha matriz.
As espessuras dos horizontes são variáveis e a falta de
alguns horizontes em determinados solos é bastante comum.
Tudo isto depende da intensidade da ação dos fatores de
formação do solo sobre o material de origem. A Figura 3.2
ilustra um perfil de solo ARGISSOLO VERMELHO-
AMARELO Eutrófico Típico encontrado em uma propriedade
situada no município de Turuçu-RS.

Figura 3.2 - Ilustração do perfil de um solo ARGISSOLO


VERMELHO-AMARELO Eutrófico Típico
encontrado em uma propriedade situada no
município de Turuçu-RS.

53
Morangueiro Irrigado

3.2 ATRIBUTOS FÍSICO-HÍDRICOS DO SOLO


Em se tratando do dimensionamento e do manejo de
sistemas de irrigação é importante o conhecimento dos
atributos físico-hídricos do solo que estão diretamente
relacionados à retenção e o armazenamento de água no seu
perfil. Aqui serão abordados de forma sucinta os seguintes
atributos:

3.2.1 Textura do solo

A fase sólida do solo é constituída pela matéria


mineral e orgânica que variam em termos de qualidade e de
tamanho. Quanto ao tamanho, algumas são suficientemente
grandes para serem vistas a olho nu, ao passo que outras são tão
diminutas que apresentam propriedades coloidais.
Na maioria das vezes, as partículas do solo são
divididas em três frações de tamanho, chamadas frações
texturais: areia, silte e argila. Determinadas as quantidades
relativas das três frações, o solo é enquadrado em uma dada
classe textural (arenoso, siltoso ou argiloso) em função das
diferentes proporções de areia, silte e argila. O tamanho das
partículas é de grande importância, pois ele determina o
número de partículas por unidade de volume ou peso e a
superfície que estas partículas expõem. Por exemplo: partículas
mais finas (argila) possuem uma maior superfície específica
(maior relação entre área da superfície e o volume da partícula)
e, portanto, possuem maior superfície de contato com a água e
nutrientes o que confere ao solo uma maior capacidade de reter
estas substâncias.

54
Capítulo III

3.2.2 Estrutura do solo

O arranjo, a orientação e a organização das partículas


sólidas do solo definem a geometria dos espaços porosos, ou
seja, a estrutura de um solo. Como o arranjo das partículas do
solo é geralmente muito complexo para permitir qualquer
caracterização geométrica simples, não há meio prático de
medir a estrutura de um solo. Devido a isso, o conceito de
estrutura do solo é qualitativo.
A junção das partículas do solo dá origem aos
agregados, os quais são classificados segundo a forma
(prismáticos, laminares, colunares, granulares e em blocos) e o
tamanho do agregado (de acordo com seu diâmetro). Um solo
bem agregado (ou estruturado) apresenta boa quantidade de
poros de tamanho relativamente grande (macroporos). Dizemos
que possui alta macroporosidade, qualidade que afeta a
penetração das raízes, circulação de ar (aeração), operações de
cultivo (manejo do solo) e a infiltração de água (irrigação).
O solo possui poros de variadas formas e dimensões,
que condicionam um comportamento peculiar a cada solo. A
fração sólida do solo que mais decisivamente determina seu
comportamento físico é a fração argila, já que é a mais ativa em
processos físico-químicos que ocorrem no solo. As frações
areia e silte têm áreas específicas relativamente pequenas e, em
conseqüência, não mostram grande atividade físico-química.
Elas são importantes quando o solo se encontra próximo à
saturação onde predominam fenômenos capilares.
Tanto a textura como a estrutura conferem ao solo um
espaço poroso, ou volume de poros, onde se encontram a parte
líquida e a gasosa. Desta forma, a quantidade de água que o
solo retém (capacidade de retenção), a passagem da água pela
superfície do solo (infiltração) e a distribuição de água no
interior do solo (drenagem) são dependentes da textura e da
estrutura do solo.

55
Morangueiro Irrigado

Se coletarmos uma amostra de solo (Figura 3.3)


contendo as três frações e que represente certa porção do perfil
do solo, é possível discriminar as massas e os volumes de cada
fração e as seguintes relações massa-volume podem ser
obtidas:

ms,Vs (sólidos)
ml,Vl (líquidos)
mt , Vt
mg,Vg (gases)
Poros ou vazios: Vv = Vl +Vg
Figura 3.3 - Amostra do perfil de um solo ilustrando a fração
sólida, líquida e gasosa.

mt = ms + ml + mg (3.1)

Vt = Vs + Vl + Vg (3.2)

onde: mt é a massa total da amostra de solo; ms é a massa das


partículas sólidas do solo; ml é a massa líquida do solo, que por
ser diluída, é tomada como massa de água; mg é a massa de gás,
isto é, ar do solo, que é uma massa desprezível em relação a ms
e ml; Vt é o volume total da amostra de solo; Vs é o volume
ocupado pelas partículas sólidas; Vl pela água e Vg o volume
dos gases (não desprezível como no caso de sua massa).
As seguintes definições relacionadas à fração sólida do
solo são importantes tanto no dimensionamento como no
manejo de um sistema de irrigação:
A densidade do solo (Ds, g/cm3), definida como a
relação entre a massa das partículas sólidas ms (g) e o volume
total de solo Vt (cm3), é um parâmetro útil que indica se um

56
Capítulo III

solo está estruturado (menor densidade) ou compactado (maior


densidade). Coletando-se amostras de solo de estrutura
preservada com anéis cilíndricos de volume conhecido, a Ds
pode ser calculada por meio da seguinte equação:
ms
Ds = (3.3)
Vt
A densidade do solo varia de acordo com o seu
volume total Vt. Ao se compactar (comprimir) uma amostra, ms
permanece constante e Vt diminui, por conseguinte Ds aumenta.
A densidade do solo é, portanto, um indicativo do grau de
compactação de um solo. Para solos de textura grossa, mais
arenosos, as possibilidades de arranjo das partículas não são
muito grandes e, por isso, os níveis de compactação também
não são grandes. Pelo fato de possuírem partículas maiores, o
espaço poroso também é constituído, sobretudo, de poros
grandes denominados, de modo arbitrário, de macroporos; de
forma aparentemente paradoxal, nesses, o volume de poros é
pequeno. A faixa de variação dos valores de densidade do solo
para solos arenosos é de 1,40 a 1,80 g/cm3. Para um mesmo
solo arenoso, esse intervalo de variação, a diferentes níveis de
compactação, é bem menor. A compactação do solo representa
uma mesma massa de solo ocupando um volume de solo
menor. Isso modifica sua estrutura, seu arranjo e seu volume de
poros.
Para solos de textura fina, mais argilosos, as
possibilidades de arranjo das partículas são bem maiores. Seu
espaço poroso é constituído, essencialmente, de microporos e o
volume de poros Vv é grande, razão pela qual os valores Ds
apresentam uma faixa de variação maior (0,90 a 1,60 g/cm3).
A relação entre a densidade do solo e a densidade da
água (1,0 g/cm3) é denominada densidade relativa do solo (Dr),
a qual é adimensional.

57
Morangueiro Irrigado

A densidade das partículas do solo (Dp, g/cm3) é a


relação entre a massa das partículas sólidas ms (g) e o
respectivo volume ocupado pelas partículas Vs (cm3).
ms
Dp = (3.4)
Vs
A densidade das partículas depende da constituição do
solo e como varia relativamente pouco de solo para solo, não
varia de modo excessivo entre diferentes solos. A densidade
das partículas aproxima-se da densidade das rochas. O quartzo
tem Dp = 2,65 g/cm3 e como é um componente freqüente nos
solos, a densidade das partículas oscila em torno desse valor. A
média para uma grande variedade de solos é 2,70 g/cm3. Se a
constituição do solo for muito diferente, como é o caso de solos
turfosos (com muita matéria orgânica), seu valor pode ser mais
baixo.
A porosidade total do solo (P), que está diretamente
ligada à definição de densidade, é uma medida do espaço
poroso do solo. É definida pela relação entre o volume de poros
(Vv) e o volume total do solo (Vt):
VV  VT − VS 
P= =  × 100 (3.5)
Vt  Vt 
Ela é adimensional e, em geral, expressa em
porcentagem.
Quanto maior a porosidade total de um solo, maior a
sua capacidade de reter água. Por isso os solos de textura fina
(argilosos), em geral, têm maior capacidade de retenção de
água. A porosidade total também é, logicamente, afetada pelo
nível de compactação. Quanto maior Ds, menor P.
Uma equação muito utilizada para estimar, de forma
indireta, P a partir de dados de Ds e Dp é a seguinte:

58
Capítulo III

 D 
P = 1 − s  × 100 (3.6)
 D 
 p 

A fase gasosa do solo (ar do solo) ocupa os espaços


vazios não ocupados pela água do solo. A presença de camadas
de impedimento (compactação) pode diminuir essa aeração, por
meio da redução dos poros, resultando em uma infiltração e
redistribuição mais lenta da água no solo.
A fase líquida do solo é uma solução aquosa de sais
minerais e substâncias orgânicas, sendo os sais minerais os de
maior importância.

3.3 ÁGUA NO SOLO

3.3.1 Umidade do solo

A determinação quantitativa da fase líquida, que não


leva em conta os solutos, ou simplesmente da água do solo é
feita de várias formas, dependendo da finalidade da medida:
- Umidade à base de peso U
ml mt − ms
U= = (3.7)
ms ms
onde mt, ml e ms foram definidos na equação 3.1.
A umidade U é adimensional (g/g), mas suas unidades
devem ser mantidas para não confundir com a umidade à base
de volume, que também é adimensional, mas numericamente
diferente. A umidade U também é, com freqüência, apresentada
em porcentagem. Sua medida é bastante simples: a amostra é
pesada úmida mu (= mt) e, em seguida, deixada em estufa à
105oC, até peso constante ms (24 a 48 h ou até peso constante),
sendo a diferença entre essas massas a massa de água ml. A
amostra pode ter qualquer tamanho, desde que não seja muito

59
Morangueiro Irrigado

pequena, nem muito grande (ideal de 50 a 500 g) e pode ter sua


estrutura deformada. Para sua determinação servem, portanto,
amostras retiradas no campo com qualquer instrumento (trado,
pá, enxada, colher etc.), devendo-se, porém, ter o cuidado de
não deixar a água evaporar antes da pesagem úmida.
- Umidade à base do volume θ
Vl ml mu − ms
θ= = = (3.8)
Vt Vt Vt
onde Vl e Vt foram definidos na equação 3.2.
A umidade θ é adimensional (cm3/cm3) e, com
freqüência, é apresentada em porcentagem. Sua medida é mais
complicada, pois envolve a medida do volume Vt e, por isso, a
amostra não pode ser deformada. Normalmente toma-se Vl = ml
(considerando a densidade da solução do solo como 1,0 g/cm3).
O volume Vt é o mais difícil de ser medido. A técnica mais
comum é a do uso de anéis volumétricos, idênticos aos
utilizados para a medida da densidade do solo.
O procedimento mais conveniente para determinar θ é
medir U e depois multiplicar o resultado por Dr:
θ = U × Dr (3.9)
sendo U dado em g de água/g de solo e Dr adimensional
resultando θ em cm3 de água/cm3 de solo. Logicamente Dr
precisa ser conhecido, mas a densidade do solo não varia muito
no tempo, a não ser quando são realizadas operações de manejo
(aração, gradagem, subsolagem, dentre outras). Mas, em geral,
as maiores variações de Dr ocorrem nos primeiros 30 cm. Para
maiores profundidades, geralmente considera-se Dr constante.

Exemplo:
Coletou-se uma amostra de solo com um volume de
3
150 cm , cuja massa úmida é 228 g e a massa seca é 193 g.
Dessa forma:
60
Capítulo III

228 − 193
U= = 0,181 g/g ou 18,1 %
193

228 − 193
θ= = 0,233 cm 3 / cm3 ou 23,3 %
150
Note-se que para a mesma amostra, U é diferente de θ,
daí a necessidade de manter as unidades, mesmo sendo ambos
os valores adimensionais.
193
DS = = 1,287 g / cm3
150

1,287
Dr = = 1,287
1,0

θ = U × Dr = 0,181×1,287 = 0,233 cm3 / cm3


Vê-se, portanto, que só para o caso particular de Dr =
1, θ = U, que é o caso de solo bem fofo. Ainda usando o valor
médio de 2,65 g/cm3 para a densidade das partículas:
DS 1,287
P = 1− = 1− = 0,514 cm3 / cm3 ou 51,4 %
Dp 2,650

3.3.2 Retenção de água no solo

A retenção de água no solo ocorre devido a


fenômenos de capilaridade e adsorção. A capilaridade atua na
retenção da água no solo quando os poros estão cheios de água
(solo úmido). A medida que o solo vai secando, os poros vão se
esvaziando, filmes de água recobrem as partículas sólidas do
solo e a adsorção passa a predominar na retenção de água. A

61
Morangueiro Irrigado

energia requerida para se retirar a água na condição seca é


muito maior que na condição úmida.

3.3.3 Capacidade de campo e ponto de murcha


permanente

Diz-se que um solo está saturado quando todos os


poros estão cheios de água. Nesta condição, a água que drena é
aquela retida devido à capilaridade nos poros maiores. Quando
essa drenagem cessa, o solo atinge a capacidade de campo
(θcc). Continuando a drenagem, a adsorção passa a predominar
no processo de retenção de água e, neste caso, os poros
menores passam a perder água. Quando a umidade do solo é tão
baixa que a quantidade de água existente faz com que a planta
murche, sem recuperar o turgor mesmo com o umedecimento
do solo, diz-se que o solo atingiu o ponto de murcha
permanente (θPMP).

3.3.4 Capacidade de água disponível

A diferença de umidade entre a capacidade de campo e


o ponto de murcha permanente é definida como a capacidade
de água disponível (CAD). A CAD (mm) é calculada pela
seguinte equação:
CAD = (θ cc − θ PMP ) × z (3.10)

onde θcc é a umidade do solo na capacidade de campo


(cm3/cm3), θPMP é a umidade do solo no ponto de murcha
permanente (cm3/cm3) e z é a espessura da camada de solo
(mm).
A quantidade de água disponível em um solo está
relacionada com a energia com que a água é retida na matriz do
solo, ou seja, o potencial matricial da água no solo (Reichardt e

62
Capítulo III

Timm, 2008). Essa relação origina a curva de retenção de água


no solo, que é elaborada em laboratório.

3.3.5 Armazenamento de água no solo

Dados os valores de umidade do solo, que são


pontuais, como se determina a quantidade de água armazenada
em uma dada camada de solo?
A quantidade de água que cai sobre um determinado
local, comumente, é expressa em termos de altura. Por
exemplo, em Turuçu/RS chove em média 1.900 mm por ano. O
que representa isso? A água de chuva é medida em
pluviômetros, que são recipientes coletores de água expostos ao
tempo (Figura 3.4). Eles têm uma área de captação S (m2)
(seção transversal de sua boca) e coletam um volume V (m3) de
água durante a chuva. A altura de chuva é h (m) = V/S, que
pode ser convertida em mm. O interessante é que h independe
do tamanho da boca do pluviômetro, pois um pluviômetro de
boca 2S coletará o dobro do volume, isto é, 2V, resultando no
mesmo valor de h. O significado de h pode, então, ser melhor
visualizado para o caso de S = 1 m2, isto é, h igual ao volume
de água que cai sobre a superfície unitária.

63
Morangueiro Irrigado

Figura 3.4 - Ilustração de um pluviômetro tipo “Ville Paris”


utilizado para medir a quantidade de água da
chuva em uma propriedade no município de
Turuçu/RS.

Se jogarmos 1 L de água sobre uma superfície plana e


impermeável de 1 m2, obteremos uma altura de 1 mm. Assim,
1 mm de chuva corresponde a 1 L/m2 e, portanto, 1.900 mm a
1.900 L/m2. Então, se toda a água que precipita em Turuçu não
infiltrasse, nem escorresse ou evaporasse, ao final de um ano
teríamos 1,9 m de água distribuídos por toda a área. Água
aplicada via irrigação, água perdida por evaporação, etc., são
todas medidas em mm. Seria interessante, portanto, medir
também a água do solo em mm. Este é o armazenamento da
água no solo (A, mm). É calculado multiplicando-se a umidade
do solo (θ, cm3/cm3) de uma camada de interesse pela sua
espessura (z, mm), ou seja:
A =θ × z (3.11)

64
Capítulo III

Assim como no caso da chuva, a altura de água


armazenada pelo solo independe da área e, para o caso de uma
superfície unitária, A = V. Para que esse conceito possa ser
mais bem visualizado didaticamente, será utilizado o
centímetro como unidade de comprimento. Tomemos, então,
como superfície unitária (S) o cm2 e consideremos o primeiro
cm de profundidade do solo. Nesse caso V = 1 cm3 de solo com
umidade θ1 (cm3 de H2O por cm3 de solo) e S = 1 cm2. Temos,
então, um volume de água V igual a θ1 cm3 de água em uma
área de 1 cm2 e, então, θ1 = A1. Vejamos um exemplo: se 1 cm3
de solo tem θ = 0,30 cm3/cm3, isso significa que nesse cubo de
solo cuja base é 1 cm2 temos 0,30 cm3 de água. Portanto, a
altura de água é 0,30 cm ou 3,0 mm.

3.4 DETERMINAÇÃO DA UMIDADE DO


SOLO
Um dos atributos do solo mais comumente utilizado
para o manejo de irrigação é a umidade do solo. Conhecendo-o
em uma determinada camada de solo, pode-se determinar o
momento e a quantidade de água a ser aplicada em uma
irrigação.
O instrumento mais prático para se medir o potencial
matricial de água no solo é o tensiômetro, que consiste,
basicamente, de uma cápsula porosa conectada a um tubo de
PVC (Figura 3.5), onde se encontra conectado um vacuômetro
de Bourdon (Figura 3.6). As leituras de potencial neste
vacuômetro são obtidas em mm de Hg (escala externa - cada
traço equivale a -20 mmHg) ou em polegadas de Hg (inHg,
escala interna – cada traço equivale a –0,5 inHg). Quanto mais
úmido o solo, menor são os valores lidos de potencial matricial
e vice-versa. Por exemplo, em um solo em condições de
saturação o potencial matricial lido seria “0 mmHg”.

65
Morangueiro Irrigado

Figura 3.5 - Ilustração de um tensiômetro (figura extraída de


REICHARDT, 1994).

Figura 3.6 - Ilustração de um vacuômetro de Bourdon


utilizado para a realização das leituras de
potencial matricial na profundidade de interesse.
intere

66
Capítulo III

Por meio das leituras do potencial matricial no


tensiômetro e da curva de retenção de água no solo, são obtidos
os valores da umidade do solo.
As unidades de potencial matricial podem ser
convertidas pelas seguintes relações aproximadas:

1 atm = 1 bar = 760 mm Hg = 1000 cm H2O

1 atm = 100 kPa = 0,1 MPa = 14,7 psi


onde: atm = atmosfera;
bar = bar;
mm Hg = milímetros de mercúrio;
cm H2O = centímetros de coluna de água;
Pa = Pascal;
kPa = quilo Pascal = 1.000 Pa = 103 Pa;
MPa = mega Pascal = 1.000.000 Pa = 106 Pa;
PSI = pound ou libra por polegada quadrada (1 pound
ou libra = 453,6 gramas; 1 polegada = 25,4 cm).

A Figura 3.7 ilustra dois tensiômetros instalados em


um canteiro de solo cultivado com morango em uma
propriedade localizada no município de Turuçu/RS. Os
tensiômetros foram instalados em um determinado local do
canteiro próximos a uma linha de irrigação com gotejadores,
com o auxílio de um trado, nas profundidades de 20 e 30 cm,
tomando-se o cuidado de garantir um bom contato entre a
cápsula porosa e o solo. Eles foram instalados com o objetivo
de avaliar e comparar o manejo empírico de irrigação que vem
sendo adotado pelo produtor de morango ao longo do ciclo da
cultura com o manejo baseado em informações técnicas que
foram levantadas ao longo do projeto.

67
Morangueiro Irrigado

Figura 3.7 - Ilustração de dois tensiômetros instalados em um


canteiro de solo cultivado com morangueiro.

Exemplo de aplicação do tensiômetro:


Um tensiômetro com um vacuômetro de Bourdon, foi
instalado a 30 cm de profundidade (altura correspondente à
metade da cápsula porosa até a superfície do solo) e com uma
altura do vacuômetro a superfície do solo de 10 cm,
apresentando uma leitura de 160 mm Hg. Então, o potencial
matricial (Ψm ) a 30 cm é:
160 mm Hg = 211 cm H2O
Ψm = 211 – 30 – 10 = 171 cm H2O
Para se conhecer a umidade do solo, basta entrar com
este valor de Ψm na curva de retenção de água no solo,
previamente elaborada no laboratório.

68
Capítulo III

3.5 MANEJO DA ÁGUA


O manejo da água na cultura do morangueiro Fragaria
x ananassa Duch apresenta-se de maneira diferenciada de
outros sistemas de produção visto que a cultura apresenta
particularidades importantes.
Apesar de ser uma planta perene, o morangueiro
possui uma fase em que as mudas são produzidas e
comercializadas e outra onde seus frutos são comercializados
para o consumo “in natura” ou para industrialização (Figura
3.8). Para cada uma destas fases, que representam sistemas de
produção diferentes, o manejo recomendado e normalmente
adotado apresenta características totalmente distintas, como se
fossem culturas diferentes.

3.5.1 Produção de mudas

O sistema de produção de mudas é baseado na fase de


multiplicação da planta incentivada pelo fotoperíodo diário da
época do ano, que faz com que a planta seja estimulada a
desenvolver sua parte vegetativa/reprodutiva, em forma de
estolhos.
Para esta etapa da produção, as mudas se desenvolvem
ao redor da planta matriz, produzindo até 300 plântulas
(filhotes) por planta mãe.
Como nesta etapa se formam as raízes, a partir de nós
existentes nos estolhos, que necessitam de umidade no solo
para que estas se desenvolvam, a disponibilidade de água é
fundamental para o sucesso da produção. Todas as propriedades
com esta atividade possuem a irrigação como fator fundamental
no desenvolvimento desta fase.

69
Morangueiro Irrigado

Figura 3.8 - Planta de morangueiro durante a formação de


plântulas na fase reprodutiva (fase de produção de
mudas).

A irrigação recomendada é a aspersão ou micro


aspersão visto que toda a área ao redor das plantas matrizes
necessita de umidade adequada ao longo de todo o ciclo (do
transplante das matrizes até coleta das mudas). Quando as
matrizes estão cultivadas no espaçamento adequado e existe
crescimento compatível, o solo de toda a área fica coberto pelas
plântulas a serem coletadas (Figura 3.9).
Em alguns sistemas de produção as mudas são
cultivadas sob cobertura plástica e substrato artificial, que são
recomendados em regiões com alta probabilidade de ocorrência
de chuvas no período de produção de mudas. Nestes sistemas, o
uso de irrigação por gotejamento é utilizado e recomendado,
pois as plantas se desenvolvem dentro de recipientes que
concentram as mudas juntas aos tubos gotejadores. Sempre que

70
Capítulo III

possível a irrigação por gotejamento deve ser usada, pois


eliminando ou reduzindo o molhamento foliar, o risco de
ocorrência de doenças é quase eliminado.

Figura 3.9 - Viveiro de produção de mudas na Argentina. Fase


de cobertura total do solo cultivado (foto:
Proplant Argentina).

O manejo da irrigação em viveiros de produção de


mudas deve ser feito de modo que a umidade permaneça o
maior tempo possível próxima à superfície. Isto é conseguido
com irrigações freqüentes e volumes de irrigação menores.
Para o morangueiro, a boa disponibilidade de água
durante a fase de crescimento vegetativo é fundamental, o que
justifica o uso de irrigação complementar em regiões onde as
chuvas são insuficientes para o consumo da planta (DWIER et
al., 1987). Farias (1997) verificou que para uma maior
produção de mudas e para produção de mudas de melhor
qualidade, o potencial matricial da água no solo de -10 kPa é o

71
Morangueiro Irrigado

mais adequado. No estudo este potencial foi assumido como


equivalente à umidade do solo na capacidade de campo.
Portanto, recomenda-se, para se manejar a água de
irrigação para produção de mudas de morangueiro com melhor
qualidade e maior quantidade, o uso de tensiômetros, deixando
a umidade no solo sempre próxima à capacidade de campo.
O método recomendado para o manejo é o de
microaspersão ou de aspersão convencional, devendo-se fazer
irrigação ao amanhecer ou nas primeiras horas da manhã.
Atenção especial deve ser dada à qualidade da água de
irrigação, com o objetivo de reduzir inóculos de doenças.
Conforme Balbino et al. (2004), a água pode ser portadora de
linhagens patogênicas de Esclerotínia coli, Salmonella sp.,
Vibrio cholerae, Shigella sp., Cryptosporidium parvum,
Giardia lambia, Cyclospora cayetanensis, Toxiplasma gondii e
os vírus Nowalk e hepatite A.

3.5.2 Produção de frutos

O sistema de produção de frutos inicia quando se faz o


transplante das mudas ou plântulas para o canteiro definitivo.
Normalmente nos canteiros são cultivadas duas linhas de
plantas, estas espaçadas por aproximadamente 35 cm. Também
podem ser usadas três ou quatro linhas de cultivo em cada
canteiro (Figura 3.10).
O sistema radicular do morangueiro, que é fasciculado
e superficial, surge na volta da coroa da planta. Apesar de poder
chegar a 50 cm de profundidade, 95% das raízes encontra-se
nos primeiros 20 cm (RONQUE, 1998).
Logo após o transplante das mudas, inicia-se um
período vegetativo, onde o crescimento é rápido. Períodos de
dias longos e temperaturas elevadas favorecem o crescimento
vegetativo, que é fundamental para o número de gemas florais
e, por conseqüência, para a produção (BRANZANTI, 1989). A

72
Capítulo III

qualidade de formação da muda também é um aspecto


importantíssimo no potencial produtivo do morangueiro. A
partir desta fase inicia-se a produção, que se dá juntamente com
a ocorrência de novas flores, frutos, aumento da área foliar e do
porte da planta.

Figura 3.10 - Canteiro de morangueiro em fase inicial de


desenvolvimento, cultivado em três linhas no
canteiro, com plantas espaçadas de 30 cm na linha
(foto: Carlos Reisser Júnior).

O cultivo de morangos no Rio Grande do Sul, tem


como características a utilização de túneis baixos, construídos
com filmes plásticos transparentes, cobertura do solo dos
canteiros com filmes plásticos pretos e irrigação por
gotejamento sob a cobertura (REISSER JÚNIOR et al., 2004),
tendo estas características elevada influência sobre o manejo de
água da cultura, conforme descrito a seguir.
Cobertura do solo ou “mulching”: considera-se
cobertura do solo todo o elemento colocado junto ao solo, que
73
Morangueiro Irrigado

tenha elevada resistência à transferência de vapor de água ou


totalmente impermeável. Este tipo de cobertura, além de
reduzir ou eliminar a evaporação da água nos canteiros,
também é capaz de modificar totalmente o regime térmico do
solo, conforme sua composição e coloração.
A variável que melhor se relaciona com o consumo de
água pela planta, logo após o transplante das mudas, é a
evapotranspiração de referência (ETo), com pouca influência
da planta visto que esta se encontra com as folhas pouco
desenvolvidas e sem a cobertura, a qual normalmente é
colocada após o pegamento total das plântulas. A partir da
análise da Figura 3.11 Coelho Filho et al. (2007) mostraram
que no início do ciclo da cultura (até 50 dias após o plantio -
DAP) a evapotranspiração da cultura ETc é totalmente
dependente da ETo e semelhante na magnitude de seus valores.

Figura 3.11 - Variação da Evapotranspiração do morangueiro


irrigado por gotejamento (ETc got) e por
microaspersão (ETc mic) (A) e Evapotranspiração
de referência (ETo) (B), no mesmo período, em
função de dias após o plantio (DAP), município
de Nova Porteirinha, MG (COELHO FILHO et
al., 2007).

Estes valores semelhantes devem-se ao fato de que o


solo no canteiro se apresentava sem cobertura. Logo após a

74
Capítulo III

colocação de cobertura, os valores de Kc (coeficiente de


cultivo) (que relaciona ETo com ETc) se tornam dependentes
da área foliar da cultura e do método de irrigação (Figura 3.12).

KC Got KC Got = f (AF) Kc Micro Kc Micro = f (AF)


2
1.8
1.6
1.4
1.2
Kc

1
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 0.02 0.04 0.06 0.08 0.1 0.12 0.14 0.16 0.18
AF (m2)

Figura 3.12 - Coeficiente de cultivo do morangueiro irrigado


por gotejamento (Kc Got) e por microaspersão
(Kc Micro) em função da área foliar (AF),
município de Nova Porteirinha, MG (COELHO
FILHO et al., 2007).

Além dos filmes de polietileno, outros tipos de


cobertura do solo também são importantes no aspecto consumo
de água da cultura. Reisser Júnior et al. (2008) verificaram que
em coberturas de polipropileno de tecido não tecido (TNT) a
ETc é maior do que em coberturas de filme de polietileno preto.
Os mesmos autores verificaram também que filmes de TNT
branco, por não controlarem as plantas invasoras, tornam o
consumo de água do sistema, mais elevado. Outro efeito das
coberturas de solo impermeáveis verificado pelos autores é o
retardo da infiltração de água da chuva ou redução do volume
infiltrado junto à planta, quando comparado a outros sistemas
de produção.
Cobertura das plantas (túneis e estufas): o uso de
coberturas sobre as plantas dos canteiros é uma prática que está

75
Morangueiro Irrigado

presente nas lavouras de melhor qualidade, nas regiões onde


ocorrem precipitações pluviométricas abundantes durante o
ciclo de produção (Figura 3.13). A prática reduz a ocorrência
de doenças ligadas à disponibilidade de água livre na folha e
por este motivo reduz o aparecimento de doenças e o número
de aplicações de fungicidas, melhorando a qualidade dos frutos.

Figura 3.13 - Sistema de produção de morangueiro com


cobertura do solo e túnel baixo de polietileno
branco (esquerda) e transparente (direita), no
início do ciclo de produção de frutos.

Esta prática também produz impactos importantes no


manejo da irrigação e outros aspectos ligados à água. A barreira
exercida pelo plástico, além de reduzir a presença de água livre
sobre a superfície das plantas, também apresenta outros
benefícios como: aumento da temperatura junto ao dossel
vegetativo, redução de danos mecânicos causados pelo vento e
pela chuva e redução da radiação (dependendo da composição
da cobertura), quando esta é excessiva (verão).
Com relação ao consumo de água, a evaporação e a
evapotranspiração das culturas é reduzida dentro destes

76
Capítulo III

ambientes, visto que em trabalhos comparativos verificou-se


que tanto a evaporação do tanque classe A (FARIAS et al.,
1994), quanto a evapotranspiração das culturas, medida com
lisímetros (REISSER JÚNIOR, 1991), dentro de abrigos são
menores. Sabe-se também que existe uma relação direta entre a
redução da evapotranspiração das culturas em estufas plásticas
e a redução da radiação global incidente sobre a cultura,
provocada pela cobertura (REISSER JÚNIOR, 1991).
O polietileno de baixa densidade aditivado contra raios
ultravioleta (PEbd anti-uv) apresenta transmissividade em torno
de 80% da radiação solar global. Porém, com o
envelhecimento, aderência de poeira e em conjunto com o
efeito dos elementos estruturais, que lhe dão suporte, sua
transmissividade média é reduzida para 70%. Outros materiais
podem reduzir mais a radiação, como as telas de sombreamento
ou os filmes não tecidos de polipropileno.
O motivo do aumento de produção em ambientes
cobertos com polietileno, conforme Martinez Garcia (1978) é a
redução do período diário de fechamento dos estômatos que,
como conseqüência, aumenta a produção de matéria seca. Já
para Reisser Júnior et al. (2003), as alterações morfológicas que
ocorrem nas plantas cultivadas em estufas plásticas, típicas de
plantas de sombra, contribuem para que estas mantenham os
mesmos níveis de produção de biomassa em ambientes com
redução de radiação. Outro efeito benéfico que influencia a
produtividade é o aumento da eficiência de uso de radiação
pelas plantas cultivadas nestes ambientes (RADIN, 2002).
Irrigação: os métodos de irrigação utilizados no
sistema de produção de morangos são: irrigação localizada
(sistema de gotejamento) e aspersão (sistema de aspersão
convencional). Atualmente o sistema de gotejamento é o mais
indicado, principalmente pela presença da cobertura plástica
nos canteiros com túneis e pela redução do molhamento da
folha da planta. Alguns sistemas de produção de morango,

77
Morangueiro Irrigado

como é o caso da “Produção Integrada”, não aceitam outro


sistema que não seja o de gotejamento.
-Aspersão: atualmente o sistema de irrigação por
aspersão convencional e outros de alto consumo de energia, se
encontram em desuso. Somente pequenos produtores menos
tecnificados ainda adotam a prática, que somente seria
recomendada para materiais genéticos de morangueiro
resistentes às doenças, porém com baixo potencial produtivo.
Estas lavouras, normalmente, utilizam baixa tecnologia e
alcançam produtividades reduzidas, tornando o
empreendimento pouco rentável (Figura 3.14).
Uma vantagem que o sistema apresenta é a
possibilidade de uso para controle de geadas. Em locais onde é
elevada a probabilidade de ocorrência de geadas tardias e é
planejada a produção precoce (no início da safra gaúcha) é
recomendado o uso desta técnica de controle de geadas.

Figura 3.14 - Lavoura de morangueiro irrigada por aspersão


convencional, cobertura do solo com casca de
arroz e mudas de baixa qualidade (foto: Carlos
Reisser Júnior).

78
Capítulo III

-Gotejamento: o sistema de gotejamento se adequou


perfeitamente ao sistema de produção de morangueiro, visto
que a presença dos tubos gotejadores sob o filme de cobertura
do solo (Figura 3.15) permite que se façam adubações em
cobertura, sob o plástico, com adubos solúveis junto à água de
irrigação (fertirrigação). A evolução deste sistema deve-se,
além de sua eficiência de aplicação, à simplicidade dos seus
componentes e dos acessórios que permitem outras utilizações.
Uma das vantagens é a possibilidade de aplicação de produtos
químicos no solo para controle de pragas.

Figura 3.15 - Lavoura de morangueiro irrigada por


gotejamento, com cobertura do solo com filme
plástico.

79
Morangueiro Irrigado

3.5.3 Resposta do morangueiro à disponibilidade hídrica

De acordo com Krüger et al. (1999), o morangueiro é


classificado como uma cultura susceptível e de baixa
resistência ao estresse hídrico. Isto quer dizer que a cultura
reduz muito seu potencial produtivo com pequenas reduções da
umidade do solo. Os mesmos autores demonstraram que a
produção, o tamanho e a qualidade dos frutos estão
relacionados à irrigação.
O consumo de água das plantas varia dependendo de
fatores como estágio de crescimento, potencial produtivo,
condições climáticas e seus efeitos sobre a área foliar da
cultura. Hoppula e Salo (2007) salientaram que estas variáveis
podem se resumir na medida de umidade ou tensão da água no
solo e proporcionar ao agricultor a informação mais importante
na hora que ele desejar.
O morangueiro é tão sensível à falta de água que
tentativas de elevar a eficiência do uso da água (relação entre a
produção da planta e o consumo de água), mediante a redução
da água aplicada, não foram eficientes para viabilizar a
produção, visto que a redução da produtividade torna-se
expressiva. Liu et al. (2007) verificaram que a redução do
fornecimento de água para parte do sistema radicular é sentido
pela planta como deficiência hídrica.
Em trabalhos em andamento na região sul do Brasil,
verificou-se que a cultura responde claramente à
disponibilidade de água ao longo do ciclo cultural. Manejando
a irrigação com tensões mais elevadas (restrição de água) o
morangueiro reduz sua produção (Figura 3.16).
O mesmo trabalho mostrou que a produção total por
planta também apresenta relação com a tensão da água
manejada. De acordo com a Figura 3.17, a tensão de água no
solo mais adequada para produtividade máxima é próxima a 10
kPa ou 75 mmHg.

80
Capítulo III

1800
1600
1400
1200
Prod acum (g/pl)

1000
800
160
600
80
400 120

200
0
0 25 50 DAIC 75 100 125 150

Figura 3.16 - Produção acumulada de morangos em função de


dias após o início da produção (DAIC) para
manejo da cultura com tensiômetros indicando
tensões de 80, 120 e 160 mmHg. Caxias do Sul,
2008.

2
Produção (Kg/planta)

1,5

0,5

0
0 5 10 15 20
Tensão (KPa)

Figura 3.17 - Produtividade do morangueiro (Kg/planta) em


função da tensão de água no solo, manejada com
tensiometria. Caxias do Sul-RS, 2008.

81
Morangueiro Irrigado

Costa et al. (2007) recomendam que a disponibilidade


de água não seja reduzida em mais do que 35% dos valores
ideais indicados, mesmo em regiões ou períodos de baixa
demanda atmosférica. Também recomendam que em períodos
de alta demanda (ETo > 5mm/dia) esta redução não ultrapasse a
20%. Este tipo de informação indica que o produtor maneje a
irrigação com alta freqüência e com redução do volume. Esta
mesma recomendação é valida também para cultivos em solos
de baixa capacidade de armazenamento.
Na região produtora de morangos do município de
Turuçu-RS vários produtores já estão testando o uso de
tensiômetros para o manejo da irrigação em suas lavouras. A
Figura 3.18 apresenta a distribuição dos valores diários de
tensão de água no solo, verificados em tensiômetros instalados
a 20 cm de profundidade, em 15 lavouras pertencentes a
produtores de morango de Turuçú, indicando os valores de
tensão de água no solo adotados por cada produtor no manejo
de irrigação.
500

400

300
Tensão (mmHg)

200

100

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17

Produtores

Figura 3.18 - Valores de tensão da água no solo medidos em


tensiômetros instalados a 20 cm de profundidade
em lavouras de produtores de morango do
município de Turuçu-RS. Turuçu, 2007.
82
Capítulo III

Foi verificado que os produtores que atingiram as


maiores produtividades, manejaram a água com tensões
semelhantes entre os primeiros 30 cm de profundidade do solo
(Figura 3.19). Também foi constatado que, nos períodos de
maior demanda (próximo ao verão), a frequência de irrigação
era de dois dias e o sistema ligado durante uma hora. Neste
período, as tensões foram manejadas de modo a manter a tensão
entre 40 e 70 mmHg (5,3 kPa e 9,2 kPa).
Na mesma Figura 3.19, observa-se que, na maior parte
do tempo, a lâmina de água armazenada no solo permaneceu
entre 60 e 80 mm, logo após as chuvas, quando cessava a
drenagem de água livre, ou seja, umidade do solo referente à
capacidade de campo.

Figura 3.19 - Leituras dos tensiômetros a 20 e 30 cm (20 e 30)


de profundidade, utilizados para o manejo de
irrigação na cultura de morangueiro, chuva,
tempo de irrigação (irrig) e lâmina armazenada de
água (LamDisp), até 30 cm de profundidade, no
ano de 2007. Turuçu-RS, 2007.

Outras formas de manejo da irrigação da cultura, como


os métodos climatológicos, baseados em balanços da água no
83
Morangueiro Irrigado

solo, são possíveis porém há uma maior necessidade de dados


do clima e do solo. Com manejos deste tipo, Trout e Gartung
(2004) verificaram que o morangueiro atingiu as maiores
produtividades (0,8 kg/planta) quando se aplicavam lâminas de
água via irrigação iguais a 125% da ETc. No trabalho destes
autores, a cultura foi cultivada sobre plástico preto e sem
cobertura de túneis de cultivo.
Outros autores, usando um manejo climatológico
semelhante, onde a ETo era calculada a partir dos dados de
evaporação do tanque Classe A, verificaram que as maiores
produtividades foram conseguidas com a aplicação de lâminas
de água iguais a ETo (Kc=1,0) (YUAN et al., 2004). Estes
autores realizaram o trabalho em estufas plásticas, onde a
demanda atmosférica normalmente é menor do que em
ambiente natural. Esta redução permite que se trabalhe com
valores de umidade no solo mais baixos.

3.5.4 Manejo da irrigação localizada

A resposta às perguntas básicas, “quando?” e


“quanto?” irrigar, é que definem a maneira correta de se aplicar
água no solo para atender as necessidades hídricas da cultura,
de forma a proporcionar a condição ideal de umidade do solo
para o seu desenvolvimento. Porém, não é a maximização da
produtividade o principal desafio do manejo correto, mas sim a
viabilidade econômica da prática.
As formas de programação da irrigação baseiam-se em
dados climáticos, ou em função da umidade do solo, ou
também em função de indicadores de estresse hídrico.
a) Dados Climáticos: o manejo por meio dos dados
climáticos é função do balanço hídrico do solo. Os volumes de
água a considerar como “entrada” são os precipitados na área
(chuva e irrigação). Estes volumes devem ser avaliados, pois
devem ser considerados somente aqueles que ficam

84
Capítulo III

efetivamente disponíveis para a cultura. Já dentre os volumes


considerados como “saída” de água, a evapotranspiração de
referência (ETo) deve ser calculada ou estimada utilizando-se
um dos vários métodos de cálculo descritos na literatura. O
método de Penman é um dos que melhor calcula a ETo, porém
apresenta como desvantagem a necessidade de medida de
vários parâmetros meteorológicos. Outra maneira de se estimar
a ETo é por meio da medida de Evaporação do tanque “Classe
A”, que, juntamente com alguns coeficientes, permite estimar a
evapotranspiração da cultura do morangueiro, quando
multiplicado pelo coeficiente de cultura Kc (Figura 3.12).
Na Tabela 3.1 encontram-se valores de Kc do
morangueiro determinados para as condições do Estado da
Califórnia-EUA.

Tabela 3.1 – Coeficientes de cultivo (Kc) para o morangueiro


em condições de ETo entre 1,5 a 4,7 mm/dia.
DAP 0 15 30 45 60 75 90
Kc 0,15 0,18 0,25 0,35 0,45 0,55 0,62
DAP 105 120 135 150 165 180 195
Kc 0,65 0,68 0,69 0,69 0,69 0,79 0,70
DAP- Dias após o plantio. Adaptada de Hanson e
Bendixen (1985).

Os volumes ou lâminas de água a serem aplicados


devem ser administrados considerando o espaçamento da
cultura (dentro do canteiro) e a profundidade do sistema
radicular (em torno de 30 cm). A aplicação de água via
gotejadores forma um bulbo úmido que deve ser considerado na
hora de irrigar (Figura 3.20).

85
Morangueiro Irrigado

Figura 3.20 - Movimento da água no sentido vertical e


horizontal, a partir dos pontos de emissão.

b) Umidade do solo: o manejo da irrigação em função


da umidade do solo baseia-se na informação da tensão com que
a água se encontra retida no solo. A tensão, quando medida
com equipamentos como o tensiômetro, é relacionada com a
umidade do solo (curva de retenção de água no solo) e pode ser
medida em kPa, mmHg e também em bar.
Alguns problemas inerentes ao sistema, como falta de
representatividade do ponto medido, podem ser reparados com
um número maior de pontos de medição.
No caso de tensiômetros, recomenda-se a sua
colocação em duas profundidades, uma informa o momento de
iniciar a irrigar (o mais superficial) e o outro o momento de
parar a irrigação (o mais profundo). Para o morangueiro, a
instalação nas profundidades de 20 e 30 cm pode promover um
bom manejo.
c) Indicadores de estresse hídrico: esta forma de
manejar a irrigação é a mais técnica e também necessita de
maior número de equipamentos e informações da fisiologia da
planta. Mesmo sendo a mais correta, pois indica quando a

86
Capítulo III

planta necessita ou possui água em demasia, é a mais difícil,


sendo indicada para pesquisas científicas.

3.5.5 Fertirrigação

Como foi comentado anteriormente, o uso de irrigação


por gotejamento permitiu que fosse criada uma forma nova de
aplicar adubos agrícolas. Nos sistemas brasileiros de produção,
a colocação de adubos era feita em forma sólida e normalmente
aplicada na base, pouco antes da implantação da cultura e por
cobertura, quando a cultura estava em desenvolvimento.
A aplicação de base se recomendava para adubos
menos solúveis e os de cobertura para os mais solúveis e
necessários nos estágios finais da cultura.
O uso de coberturas plásticas para o controle de
invasoras tornou a adubação de cobertura uma prática quase
impossível de ser feita. Com o aparecimento das fitas
gotejadoras ou tubos gotejadores e os adubos solúveis, esta
prática viabilizou-se criando uma nomenclatura nova para esta
prática que é a fertirrigação.
Por um lado a técnica promove economia de adubos,
melhora a assimilação dos nutrientes, permite fracionar
aplicações e adequá-las às necessidades das plantas, permite
rapidez na correção das fertilizações e reduz o custo da prática.
Por outro lado, pode reduzir a uniformidade de aplicação de
água devido a entupimentos dos gotejadores, necessita de
maiores conhecimentos técnicos para o manejo e pode salinizar
o solo.
Basicamente o sistema é composto por um tanque de
adubação, onde se realiza os preparos dos adubos a serem
aplicados, um injetor e um dosador de adubos.
Cuidados devem ser tomados com esta prática,
principalmente nas dosagens utilizadas e nas necessidades
momentâneas da planta.

87
Morangueiro Irrigado

O morangueiro é uma cultura que apresenta alta


sensibilidade à salinidade. Esta sensibilidade é dependente do
material genético, sendo que algumas cultivares apresentam
maior tolerância ao estresse salino. Casierra-Posada e Riaño
(2006) verificaram que níveis elevados de sais no solo,
variando de 2,6 a 12,6 dS/m, determinaram reduções de até
20% na produtividade da cultivar Sweet Charlie. O aumento
nos níveis de salinidade reduziu em até 50% a produtividade da
cultivar Camarosa, a mais susceptível a este problema.

3.6 LITERATURA CITADA


BALBINO, J. M de S.; ATHAYDE, M. O.; TEIXEIRA, C. P.;
COSTA, H. Tecnologias para produção de mudas e cultivo
comercial de morango. In: BALBINO, J. M. de S.
Tecnologias para produção colheita e pós-colheita de
morangueiro. Vitória-ES, Incaper, p. 25-34. 2004. Incaper
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BRANZANTI, E. C. La fresa. Madrid: Mundi-Prensa, 1989.
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CASIERRA-POSADA, F.; RIAÑO, N. G. Produción y
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COELHO FILHO, M. A.; COELHO, E. F.; COSTA, E. L.;
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norte de Minas Gerais. In: Congresso Nacional de Irrigação e
Drenagem, 2007, Mossoró. Anais do XVII Congresso Nacional
de Irrigação e Drenagem, 2007.

88
Capítulo III

COSTA, E. L. da; COELHO, E. F.; COELHO FILHO, M. A.


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89
Morangueiro Irrigado

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90
Capítulo III

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TROUT, T. J.; GARTING, J. Irrigation water requirements of
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2004.

91
CAPÍTULO 4 - QUALIDADE DA ÁGUA

Carina Costa Estrela


Maria Laura Turino Mattos
Luís Carlos Timm
Vitor Emanuel Quevedo Tavares
Leandro Sanzi Aquino
Gabrieli da Cunha Pereira
Manoela Terra de Almeida
Carla Denize Venzke

4.1 A ÁGUA USADA NA AGRICULTURA


Desde a antiguidade as principais civilizações
originaram-se em regiões áridas e fixaram-se à margem de rios
como o Nilo no Egito, Tigre e Eufrates na Mesopotâmia,
Ganges na Índia e Huang Ho e Iang-tse-Kiang na China. O uso
dos recursos hidráulicos possibilitou o surgimento e a
conservação destes povos demonstrando que a irrigação sempre
foi um fator de riqueza, prosperidade e segurança
(MANTOVANI; BERNARDO; PALARETTI, 2006).
Considerada no passado como uma opção técnica para
a garantia de produção em locais ou períodos onde predomina a
seca, a irrigação passou a ser utilizada na atualidade, como
estratégia para o aumento da produção e rentabilidade da
propriedade agrícola (MANTOVANI; BERNARDO;
PALARETTI, 2006). A irrigação proporciona ainda uma

92
Capítulo IV

produtividade considerada segura, pois, independentemente da


ocorrência de precipitações, possibilita que normalmente a
produção próxima à máxima esperada seja alcançada,
viabilizando os investimentos de capital necessários à
exploração agrícola (OLITTA, 1984).
O uso da irrigação na produção de alimentos é a
atividade que mais utiliza água no mundo (MAÑAS; FUSTER;
BELMONTE, 2005; TUNDISI, 2003). A irrigação é a técnica
que complementa a necessidade de água, naturalmente
fornecida pela precipitação, promovendo teor de umidade
adequado ao solo que permite o crescimento normal das
plantas, garantindo a produção agrícola (SETTI et al., 2001).
Portanto, sendo considerada como elemento fomentador do
desenvolvimento socioeconômico (TESTEZLAF; MATSURA;
CARDOSO, 2002).
A alta demanda hídrica pela irrigação, embora esteja
relacionada ao alto consumo das plantas, muitas vezes, também
se deve a baixa eficiência no uso da água. Devido ao emprego
incorreto dos métodos e/ou das técnicas de manejo da irrigação
no Brasil, as perdas de água chegam ao valor estimado de
37,7% (CHRISTOFIDIS, 1999 apud VANZELA, 2004).
Quirino et al. (1999) descrevem que não só as águas
superficiais, como também os mananciais subterrâneos tem
sido prejudicados pelo desenvolvimento agropecuário devido às
condições climáticas e ao despreparo dos agricultores quanto à
utilização de um manejo adequado.
A agricultura brasileira, conforme descrevem
Rodrigues et al. (2004), gera problemas ambientais tais como:
destruição da cobertura vegetal e a consequente destruição dos
solos; utilização de insumos e máquinas em excesso na
tentativa de dirimir os problemas de fertilidade, associados a
problemas de qualidade da produção e comprometimento da
saúde dos trabalhadores e consumidores; e o avanço das áreas

93
Morangueiro Irrigado

agrícolas sobre as reservas naturais como forma de reposição


dos solos tornados inadequados à agricultura.

4.1.1 A água usada na cultura do morangueiro

Os estudos que fornecem a sustentação ao uso racional


da água sob diferentes circunstâncias ambientais são de grande
importância segundo Pires et al. (2006), sendo que no Brasil a
irrigação é uma técnica essencial para o cultivo do morango,
devido à sensibilidade da cultura aos déficits hídricos, podendo
exercer forte interferência no crescimento da planta e na
produtividade.
O nível tecnológico da irrigação empregado nos
diferentes Estados é bastante variado, adaptando-se às
condições de clima e à capacidade de investimento do produtor.
Nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, em
virtude da ocorrência de registros pluviométricos elevados
durante o ciclo da cultura, mais de 50% dos cultivos ocorrem
sob plástico (túneis baixos, túneis altos e casas de vegetação).
No Brasil, até a década de 80, a maior parte das
lavouras de morangueiro era irrigada por aspersão que, por
meio dos respingos causados pelo impacto das gotas d'água,
contribui na disseminação de patógenos, tornando
indispensáveis os tratamentos fitossanitários, oferecendo alto
risco à saúde do produtor e do consumidor. Estes fatores,
conforme Santos, Medeiros e Wrege (2003), favoreceram a
adoção da irrigação por gotejamento.
A irrigação por gotejamento permite que se mantenha
o solo úmido e com boa aeração, devido ao fato de que este
sistema permite aplicar pequenas quantidades de água com alta
frequência de irrigação, mantendo sua umidade sempre
próxima à capacidade de campo na zona radicular. Bernardo,
Soares e Mantovani (2006) destacaram que o sistema de
irrigação localizada permite uma maior eficiência no controle

94
Capítulo IV

fitossanitário, não interfere nas práticas culturais e se adapta a


diferentes tipos de solos e topografia.

4.2 QUALIDADE DA ÁGUA USADA NA


IRRIGAÇÃO
A irrigação é definida por Lima et al. (2004), como o
conjunto de técnicas destinadas a deslocar a água no intuito de
modificar as possibilidades agrícolas de cada região, visando
corrigir a distribuição natural das chuvas. Os mesmos autores
ainda comentam que, enquanto complementação às demais
técnicas agrícolas, a irrigação proporciona ao produtor alcançar
a máxima produção, com o mínimo desperdício de água e
energia quando desenvolvida por meio de um manejo racional,
fornecendo a cultura a quantidade de água necessária e a
aplicação no momento correto.
Qualquer atividade humana que altere o regime das
águas influencia a qualidade e a disponibilidade da água em
uma bacia hidrográfica, afetando drasticamente a qualidade dos
recursos hídricos superficiais e subterrâneos (SETTI et al.,
2001; COSTA et al., 2005). A irrigação, quando utilizada de
forma incorreta sem a adoção de técnicas especiais para o
aproveitamento racional visando o mínimo desperdício de água,
além de afetar a qualidade do solo pode causar problemas
quantitativos nos corpos hídricos.
Como forma consuntiva de água, onde parte da água
utilizada não retorna ao seu curso original, a irrigação pode
causar a redução efetiva da disponibilidade do manancial e a
contaminação por meio da água que retorna, além de
modificações no meio ambiente, salinização do solo nas regiões
áridas e semi-áridas e problemas de saúde pública (LIMA et al.,
2007).

95
Morangueiro Irrigado

Os impactos negativos, gerados por sistemas de


irrigação inadequadamente projetados e manejados de forma
não apropriada, podem comprometer o desenvolvimento da
irrigação, pois esses impactos afetam geralmente os recursos
naturais (água, solo, flora e fauna) tendo consequências sociais
(qualidade de vida) e econômicas (TESTEZLAF; MATSURA;
CARDOSO, 2002). Ainda segundo os autores, o primeiro
recurso natural que irá sofrer os efeitos do uso da irrigação é o
recurso hídrico, pois a aplicação desuniforme e incorreta
proporciona desperdício de água e de insumos químicos que
venham a ser aplicados via irrigação. Além disto, as aplicações
excessivas de água podem contaminar, por meio da lixiviação,
águas superficiais e subterrâneas, prejudicando e
comprometendo a fauna e a flora da região. O solo é outro
recurso natural que pode sofrer o impacto destas aplicações
excessivas, que podem vir a causar tanto a compactação quanto
a desagregação de partículas. O escoamento superficial pode
causar erosão, transportando sedimentos e nutrientes, retirando
a camada superficial e expondo horizontes mais profundos
inférteis.
Entretanto, os efeitos adversos acima citados, podem
ser solucionados e algumas ações são recomendadas para
aperfeiçoar o seu uso e minimizar os impactos, tais como: i) os
dimensionamentos dos sistemas de irrigação devem estar
adequados às necessidades da cultura e às condições da
propriedade; ii) o manejo de água deve ser realizado
racionalmente, atendendo as necessidades da cultura e as
limitações do solo da propriedade; iii) a operação dos
equipamentos deve atender as especificações de projeto e as
técnicas de cultivo devem ser apropriadas à lavoura irrigada
(TESTEZLAF; MATSURA; CARDOSO, 2002).
Os problemas mais comuns estão relacionados com a
salinidade do solo, infiltração de água, toxicidade de íons
específicos e outros problemas tais como excesso de nutrientes,

96
Capítulo IV

oligoelementos ou corrosão de equipamentos (AYERS;


WESTCOT, 1999). Em relação à contaminação dos produtos
agrícolas, os diferentes métodos de irrigação, devido a
características que cada um apresenta, podem levar à
contaminação de toda a planta, da parte aérea ou apenas do
sistema radicular (MATTOS, 2003).

4.2.1 Qualidade da água usada na irrigação localizada

A irrigação localizada consiste na distribuição de água


por uma rede de tubos que apresentam emissores afixados,
responsáveis por aplicar a água muito próximo da zona
radicular, em pequenas intensidades e alta freqüência,
apresentando um elevado potencial de produtividade e uso
eficiente da água na irrigação (MANTOVANI; BERNARDO;
PALARETTI, 2006).
O sistema de cultivo e o sistema de irrigação adotados
são determinantes quanto à caracterização da qualidade da
água, especialmente na produção de vegetais consumidos crus,
sem remoção de película, para os quais uma melhor qualidade
de água é exigida a fim de evitar a contaminação dos produtos
agrícolas. Neste sentido, a irrigação localizada por gotejamento
propicia a aplicação de água diretamente ao volume de solo
explorado pelo sistema radicular diminuindo a contaminação de
folhas e frutos (MATTOS, 2003). A irrigação pode ser
complementada pela cobertura do solo, que segundo Ronque
(1998) e Santos e Medeiros (2003), tem como um dos
principais objetivos evitar o contato direto dos frutos com o
solo, proporcionando uma melhor qualidade.
Vieira et al. (2004) descrevem a uniformidade na
distribuição de água como um dos aspectos mais importantes
no método de irrigação localizada por gotejamento, porém,
obstruções físicas dos emissores podem comprometer esta
uniformidade, causando danos às culturas.

97
Morangueiro Irrigado

De acordo com diversos autores (OLITTA, 1984;


NAKAYAMA; BUCKS, 1986 apud VANZELA, 2004;
VIEIRA et al., 2004; ZAMBERLAN, 2007), a obstrução física
de tubulações e emissores é um dos principais problemas
relacionados à qualidade da água usada neste método de
irrigação.
As origens do entupimento de emissores foram
classificadas quanto à causa como: físicas - entupimento por
partículas minerais e orgânicas; químicas - precipitação de sais;
e biológicas - desenvolvimento de microrganismos
(MANTOVANI; BERNARDO; PALARETTI, 2006).
As partículas minerais e orgânicas podem e devem ser
evitadas instalando sistemas de filtragem (filtros de areia, ou de
tela, ou de discos ou de ação centrífuga), comumente usados na
irrigação localizada. Os filtros de discos, que são os mais
utilizados pelos produtores de morango do município de
Turuçu-RS, são compostos por um conjunto de pequenos anéis,
com ranhuras, presos sobre um suporte central cilíndrico e
perfurado, filtrando a água ao passar pelos pequenos condutos
formados entre os anéis consecutivos. São mais eficientes que
os filtros de tela e mais fáceis de limpar quando comparados
aos demais (BERNARDO; SOARES; MONTAVANI, 2006).
A sensibilidade ao entupimento dos diferentes tipos de
gotejadores e a qualidade da água a ser usada na irrigação são
determinantes no dimensionamento do sistema a ser adotado
bem como a viabilidade do uso deste método de irrigação.
Sendo assim diversos trabalhos vêm destacando a importância
de avaliar a qualidade da água principalmente em sistemas de
irrigação por gotejamento: Resende et al. (2001), Ribeiro et al.
(2005), Scatolini e Paterniani (2001) e Testezlaf et al. (2001),
dentre outros.

98
Capítulo IV

4.3 FONTES DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA PARA


IRRIGAÇÃO
As principais fontes de captação de água para irrigação
são rios, lagos ou reservatórios onde diversos fatores devem ser
considerados na análise da adaptabilidade da fonte para sua
utilização na irrigação. Dentre estes estão o volume de água
disponível e a qualidade da água (ALBUQUERQUE;
DURÃES, 2008).
O correto manejo das lavouras e das áreas que
influenciam as fontes de captação de água pode evitar danos à
qualidade da água. Dentre estas práticas, a manutenção da
vegetação ciliar é um exemplo, pois atua como uma barreira
física entre os sistemas terrestres e aquáticos, promovendo a
estabilização das margens, reduzindo as perdas de solo pela
erosão e o assoreamento nos mananciais, reduzindo também, a
possibilidade de contaminação dos cursos d’água por
sedimentos e resíduos agroquímicos, por ser um excelente
consumidor de nutrientes provenientes de agroecossistemas
vizinhos. Sendo assim, a falta da vegetação ciliar pode levar à
redução não só da quantidade e da disponibilidade como
também da qualidade da água dos corpos hídricos (COSTA et
al., 2005).
A irrigação depende tanto da qualidade quanto da
quantidade de água de um determinado corpo hídrico, que pelos
usos intensivos atuais vêm sofrendo alterações. Por este
motivo, a demanda de água para irrigação, torna-se um assunto
a ser tratado com mais atenção, devido à qualidade da água
exigida para garantir uma produção que atenda as demandas,
impostas pelos exigentes mercados compradores de frutas e
produtos agrícolas in natura (RODRIGUES et al., 2004).
O conhecimento e a habilidade no manejo da água no
sistema de irrigação, por parte do usuário, além do clima e do
tipo de solo, são determinantes quando se trata de problemas

99
Morangueiro Irrigado

relativos à qualidade da água de irrigação (AYERS;


WESTCOT, 1999). Desta forma, é importante o
desenvolvimento de estudos mais detalhados sobre a dinâmica
da água e o manejo do solo no entorno das fontes de captação
de água para irrigação, no que se refere a seus parâmetros de
qualidade, que possam vir a interferir na eficiência da irrigação,
por oferecerem riscos ao sistema e à qualidade do produto.

4.4 ESTUDO DE CASO: QUALIDADE DA


ÁGUA USADA PARA IRRIGAÇÃO DO
MORANGUEIRO NO MUNICÍPIO DE
TURUÇU-RS
No município de Turuçu-RS, as principais atividades
econômicas desenvolvidas são a pecuária leiteira, a produção
de frutíferas de clima temperado, de fumo e de pimenta
vermelha. Dentre as frutíferas, destaca-se o morangueiro que
proporciona aos produtores rurais deste município, boa
rentabilidade constituindo-se em instrumento de geração de
emprego e renda, inclusão social e assim incrementando o
padrão de qualidade de vida destes produtores.
A irrigação localizada por gotejamento foi um dos
incrementos tecnológicos adotados na produção do
morangueiro em Turuçu-RS, que possibilitou aos produtores
alcançarem produtividades maiores desta cultura. Embora
reconhecida a sua importância e seus benefícios pelos
agricultores, existe uma carência de informações relacionadas à
qualidade da água que vem sendo aplicada à cultura,
justificando desta forma o presente estudo de caso.
Este estudo envolveu 14 produtores que pertencem à
Associação de Produtores de Morangos de Turuçu – RS e teve
como objetivos: i) caracterizar e avaliar as fontes de captação
de água usada para irrigação das lavouras de morangos;
ii) quantificar os parâmetros de qualidade dessa água, que
100
Capítulo IV

indicam o potencial de ocorrência de danos ao sistema de


irrigação localizada; iii) avaliar e quantificar a variabilidade
espacial e temporal da qualidade dessa água.
Para o atendimento dos objetivos acima descritos,
foram caracterizadas as fontes de captação de água usada para
irrigação, sob os aspectos de recarga e origem de
abastecimento. Também foram coletadas mensalmente
amostras de água em cada uma das propriedades envolvidas,
durante um período de 14 meses (outubro de 2007 a novembro
de 2008), determinando suas características físicas (sólidos
suspensos, sólidos dissolvidos e turbidez), químicas (pH, ferro
total, oxigênio dissolvido, condutividade elétrica e dureza), e
microbiológicas (coliformes totais e fecais).
Estas características foram avaliadas quanto ao
potencial de causar danos ao sistema de irrigação por
gotejamento (Tabela 4.1) e quanto a sua distribuição espacial e
temporal ao longo do período utilizando gráficos em caixa.

101
Morangueiro Irrigado

Tabela 4.1 – Classificação da qualidade da água de irrigação


quanto ao potencial em causar danos no sistema de irrigação
localizada, quanto ao excesso de sólidos e carga orgânica,
quanto ao risco de salinização do solo e quanto ao risco de
precipitação de sais (VANZELA, 2004).
Problema Limites Estabelecidos Referência
Classificação Baixo Médio Alto

Sólidos
Suspensos < 50 50 – 100 > 100
Dano a (mg/L)
Nakayama
sistemas de Sólidos e Bucks
irrigação Dissolvidos < 500 500 – 2.000 > 2.000
(1986)
localizada (mg/L)

pH < 7,0 7,0 – 8,0 > 8,0


Ferro Total
< 0,2 0,2 – 1,5 > 1,5
(mg/L)

Excesso de Classificação Adequado Inadequado Resolução


sólidos e Turbidez (NTU) ≤ 40 > 40 CONAMA
carga Oxigênio nº 357/05
≥ 6,0 < 6,0
orgânica Dissolvido classe I

Classificação Baixo Médio Alto U.S.D.A.


Risco de
Condutividade Agriculture
salinização
elétrica < 250 250 - 750 > 750 Handbook
do solo
(µS/cm a 25ºC) nº 60

Classificação Baixo Médio Alto Pitts;


Risco de
Haman;
precipitação Dureza
< 150 150 – 300 > 300 Smajstla
de Sais (mg CaCO3/L)
(1990)

102
Capítulo IV

4.4.1 Caracterização e origem das fontes de captação de


água para irrigação

A água para irrigação das lavouras de morangos em


Turuçu é captada em reservatórios artificiais exceto em uma
das 14 propriedades envolvidas, que utiliza como fonte de
captação um corpo de água corrente. Os reservatórios artificiais
utilizados nas propriedades envolvidas não foram construídos a
partir de projetos técnicos, mas sim a partir da experiência e do
conhecimento do produtor, em áreas identificadas com
potencialidade de acumular água.
Em cada uma das propriedades, os reservatórios
construídos apresentaram características diferentes quanto à
origem e quanto ao tipo de recarga, sendo: seis fontes de
captação com reservatórios originados por nascentes e
abastecidos por água subterrânea; cinco fontes originadas de
banhados e abastecidas por nascentes ou cabeceiras de cursos
d’água; e três fontes de reservatórios construídos a partir de
barramentos, utilizando a declividade natural do terreno sendo
abastecidos pelo escoamento superficial.
As atividades agrícolas desenvolvidas em cada uma
das propriedades apresentaram particularidades quanto à
ocupação e uso do solo no entorno das fontes de captação.
Foram identificadas: fontes de captação mais isoladas com
difícil acesso pela densidade da vegetação do entorno (Figura
4.1); fontes com presença de animais domésticos em seu
entorno, incluindo estábulos para o abrigo dos mesmos na área
de contribuição do reservatório (Figura 4.2); fontes com
lavouras de fumo em seu entorno (Figura 4.3); e reservatórios
circundados por estrada sem barreira de proteção (Figura 4.4).

103
Morangueiro Irrigado

Figura 4.1 - Fonte de captação isolada com difícil acesso pela


densidade da vegetação do entorno, Turuçu, RS.

Figura 4.2 - Fonte de captação de água com estábulo para o


abrigo de animais, na área de contribuição do
reservatório, Turuçu, RS.

104
Capítulo IV

Figura 4.3 - Entorno de fonte da captação com lavoura de


fumo, Turuçu, RS.

Figura 4.4 - Reservatório circundado por estrada, Turuçu, RS.

105
Morangueiro Irrigado

4.4.2 Potencial de risco de danos ao sistema de irrigação


do morangueiro

Dentre os parâmetros físicos utilizados para avaliar o


risco de entupimento dos gotejadores, nos sistemas de irrigação
do morangueiro em Turuçu-RS, a concentração de sólidos em
suspensão apresentou o maior número de amostras classificadas
como baixo potencial de risco. Os maiores valores foram
obtidos nas fontes de captação em que o entorno apresentava
pouca cobertura do solo, com presença de lavouras de fumo.
Também foram encontrados valores elevados na água coletada
em um reservatório circundado por uma estrada.
A concentração de sólidos dissolvidos apresentou
baixo potencial de risco em quase todas as amostras analisadas,
exceto em uma fonte, que apresentou potencial de risco
moderado em uma amostra coletada no período em que o solo
estava sendo preparado para a implantação da lavoura de fumo
(Figura 4.5). Este fato possibilita relacionar o resultado mais
alto da concentração de sólidos dissolvidos com o manejo do
solo no entorno do reservatório.
Os valores de turbidez foram menores nas fontes de
captação nas quais o entorno estava protegido pela cobertura
vegetal. Os reservatórios construídos a partir de barramentos,
utilizando a declividade natural do terreno e abastecidos pelo
escoamento superficial, apresentaram maior número de
amostras classificadas como inadequadas, em relação a este
parâmetro.

106
Capítulo IV

Valores Máximos da concentração de sólidos dissolvidos


Severo
2.500,00

2.000,00
Moderado
mg/L

1.500,00

1.000,00
Baixo
500,00

0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Propriedades

Figura 4.5 - Valores máximos da concentração de sólidos


dissolvidos na água de irrigação, em cada uma das
propriedades, ao longo do período de coleta, e o
padrão de qualidade da água quanto ao potencial
de risco de danos no sistema de irrigação.

Dentre os parâmetros químicos, os valores da


concentração de ferro total, na maioria das amostras de água
analisadas, apresentaram valores que caracterizam moderado
potencial de risco de dano ao sistema, sendo que os valores
máximos obtidos em cada uma das propriedades envolvidas
estiveram muito acima dos limites estabelecidos para a
classificação do potencial de risco como severo (Figura 4.6).
Já os parâmetros químicos condutividade elétrica e
dureza total apresentaram potencial de risco baixo em todas as
amostras de água analisadas ao longo deste estudo.

107
Morangueiro Irrigado

Valores Máximos da concentração de ferro total

16,00
14,00
12,00 Severo
mg/L

10,00
8,00
6,00
4,00 Moderado
2,00 Baixo
0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

Propriedades

Figura 4.6 - Valores máximos da concentração de ferro total


na água de irrigação, em cada uma das
propriedades, ao longo do período de coleta, e o
padrão de qualidade da água quanto ao potencial
de risco a causar danos no sistema de irrigação.

Nas análises dos parâmetros microbiológicos, a


presença de coliformes totais não foi detectada em quatro
amostras de água. As bactérias do grupo coliformes são
encontradas na água e no solo, sendo assim, dificilmente sua
presença não é detectada em águas superficiais. Já as bactérias
do grupo coliformes fecais são indicadoras de organismos
originários do trato intestinal humano e de outros animais de
sangue quente, sendo assim indicadoras de contaminação por
fezes de animais. Na grande maioria das propriedades
envolvidas foi observada a presença de animais no entorno das
fontes de captação, o que explicaria os percentuais elevados de
amostras com presença de coliformes fecais.

108
Capítulo IV

4.4.3 Variabilidade espacial e temporal da qualidade da


água de irrigação

Foram realizadas coletas mensais de água em cada


fonte de captação, sendo feita uma avaliação do comportamento
de cada um dos parâmetros acima descritos, ao longo do
período, em cada uma das propriedades envolvidas.
Para cada um dos parâmetros analisados, a qualidade
da água usada para irrigação do morangueiro nas propriedades
envolvidas apresentou variabilidade espacial e temporal com
diferentes magnitudes. A concentração de sólidos dissolvidos
apresentou a maior variabilidade dentre os parâmetros físicos e
o oxigênio dissolvido dentre os parâmetros químicos. A
variabilidade destes parâmetros pode ser observada nos gráficos
em caixa apresentados na Figura 4.7 e na Figura 4.8,
respectivamente.

700
Concentração de Sólidos Dissolvidos

600

500

400
(mg/l)

300

200

100

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Meses

Figura 4.7 - Variabilidade espacial e temporal da concentração


de sólidos em suspensão nas 14 propriedades
durante os 14 meses de coleta de amostras de
água utilizada para irrigação.

109
Morangueiro Irrigado

14

Concentração de Oxigênio Dissolvido


12

10

8
(mg OD/l )
-1

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Meses

Figura 4.8 - Variabilidade espacial e temporal da concentração


de oxigênio dissolvido nas 14 propriedades
durante os 14 meses de coleta de amostras de
água utilizada para irrigação.

A variabilidade, tanto espacial como temporal, dos


parâmetros químicos de qualidade da água de irrigação
apresentou maior amplitude, quando comparada à variabilidade
dos parâmetros físicos.

4.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


As fontes de captação de água para irrigação das
lavouras de morangos em Turuçu – RS merecem especial
atenção, principalmente quanto às características de ocupação e
uso do solo no entorno das mesmas.
Uma das fontes apresentou altas concentrações de
sólidos em suspensão, sólidos dissolvidos e turbidez, com
valores acima dos encontrados nas fontes de captação das
demais propriedades. A particularidade desta fonte é a ausência
de vegetação e a proximidade de uma lavoura de fumo, sistema
de produção que exige o revolvimento do solo, não só para sua
110
Capítulo IV

implementação, mas também pelos tratos culturais, deixando o


solo exposto durante boa parte do ciclo da cultura.
Os resultados obtidos indicaram que pode haver
correlação entre os parâmetros químicos (pH e condutividade
elétrica) com o tipo de fonte de captação e entre os parâmetros
físicos com o manejo no entorno destas fontes, indicando que
futuros estudos deverão ser desenvolvidos no sentido de avaliar
estas correlações.
A concentração de ferro total na água usada para
irrigação apresentou o maior potencial de risco de danos no
sistema de irrigação dentre todos os parâmetros analisados,
podendo estar relacionada com as classes de solos da região
abrangida neste estudo, sugerindo a necessidade de
investigações futuras quanto às possíveis causas dos elevados
valores deste parâmetro.

4.6 LITERATURA CITADA


ALBUQUERQUE, P. E. P. de; DURÃES, F. O. M. Uso e
manejo de irrigação. Brasília: Embrapa Informação
Tecnológica, 2008. 527 p.
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(Estudos FAO: Irrigação e Drenagem, 29. Revisado 1).
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111
Morangueiro Irrigado

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Capítulo IV

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113
Morangueiro Irrigado

Agronomia) – Faculdade de Engenharia de Ilha Solteira,


Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira, 2004.
VIEIRA, G. H. S. et al. Recuperação de gotejadores obstruídos
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Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2007.

114
CAPÍTULO 5 - QUALIDADE FÍSICO-
HÍDRICA DO SOLO E A PRODUÇÃO DE
MORANGO

Adilson Luís Bamberg


Luís Carlos Timm
Eloy Antonio Pauletto
Luiz Fernando Spinelli Pinto
Álvaro Luiz Carvalho Nebel
Wildon Panziera

5.1 QUALIDADE DO SOLO


Ao longo desses últimos anos, a preocupação voltada
para a produção agrícola vem sendo modificada, com base na
busca da sustentabilidade ambiental, incluindo a preocupação
com os efeitos dos métodos de produção sobre a diversidade da
fauna, da flora e do próprio recurso solo. Isso tem sido mais
evidente em países desenvolvidos e industrializados, onde a
função da agricultura moderna de fornecer alimentos em
quantidades e a preços acessíveis já não é suficiente. As
atenções também estão voltadas à qualidade da água, do ar e do
solo, onde o manejo desses recursos naturais é determinante
para a qualidade e sanidade dos produtos agropecuários e, ao
mesmo tempo, para a conservação do ambiente e para o bem
estar do produtor.

115
Morangueiro Irrigado

O solo é considerado como um sistema aberto,


continuamente inter-relacionado com o ambiente devido às
transferências e trocas de matéria e energia com a atmosfera
(BRADY; WEIL, 2002; HILLEL, 2003). Por isso, ele deve ser
capaz de exercer suas funções naturais, funcionando como um
meio para o crescimento das plantas, regulando o fluxo de água
no ambiente, estocando e promovendo a ciclagem de elementos
na biosfera e servindo como um tampão ambiental para a
formação, atenuação e degradação de compostos prejudiciais ao
ambiente (LARSON; PIERCE, 1994; DORAN, 1997;
KARLEN et al., 1997).
A utilização do solo como ferramenta para o ser
humano, na produção agrícola e pecuária, teve papel decisivo
na evolução da espécie. O homem passou a se alimentar mais e
melhor, possibilitando um maior crescimento intelectual. Mas a
ação antrópica de hoje é muitas vezes desorientada,
desordenada e impactante. A camada superficial do solo
composta pelo horizonte A, é a região de maior atividade
biológica e geralmente enriquecida com matéria orgânica e
nutrientes em relação às camadas inferiores, sendo, por isso,
mais fértil. Entretanto, por situar-se na interface com a
atmosfera é também a mais vulnerável quanto à perda de sua
habilidade em cumprir suas funções no meio ambiente
(HILLEL, 2003).
Mais do que nunca, a exploração racional dos solos é,
atualmente, a condição necessária para que haja uma produção
agrícola moderna e sustentável. Essa condição envolve a
conscientização do produtor sobre a importância de minimizar
os processos de degradação ambiental, que atingem grandes
proporções em algumas áreas. Os agricultores hoje querem não
só produzir bastante para garantir o sustento financeiro da
família, mas também melhorar as condições de trabalho, o
acesso à saúde, à educação e ao lazer, que influenciam o modo
de viver no campo. Associado a isso, a percepção sobre a

116
Capítulo V

qualidade do ambiente rural passa a ser também motivo de


reflexão e de cuidado. Danos ao ambiente solo, como a erosão,
a desagregação, a desestruturação, o encrostamento superficial,
a compactação, a lixiviação acelerada de bases, a acidificação,
a salinização e outros são, muitas vezes, decorrentes da
utilização de sistemas de cultivo com técnicas que se
contrapõem ao bom uso e conservação dos solos e da água e,
conseqüentemente, à sustentabilidade da agricultura.
O conhecimento sobre as características específicas e
as diferenças entre os tipos de solos são informações essenciais
que contribuem para o seu uso adequado. Explorar os solos
conforme sua aptidão agrícola, considerando as suas limitações
de uso são ferramentas essenciais que os técnicos do setor
agrícola precisam conhecer para a sua melhor aplicação.
Neste sentido, avaliar e conhecer a qualidade do solo e
a velocidade das suas mudanças com o tempo são os primeiros
passos para se buscar um manejo mais adequado e sustentável
(DORAN, 1997). Para Costa et al. (2006), entretanto,
determinar ou quantificar a qualidade do solo não é tarefa fácil.
A dificuldade advém do fato de que a qualidade do solo
depende de suas propriedades intrínsecas, de suas interações
com o ecossistema e, ainda, de aspectos socioeconômicos e até
políticos que definem prioridades para o uso do solo.
Ao se fazer uma análise mais clara e consistente a
respeito do solo e de sua qualidade é fundamental definir
(CAMARGO, 2000): o solo deve ter boa qualidade para que?
Quais funções o solo deve ser capaz de cumprir? O que analisar
do solo para avaliar a sua capacidade de desempenhar e
suportar diferentes funções? A multifuncionalidade é, sem
dúvida, a realidade mais observada na produção agrícola
familiar. Nessa situação, o agricultor depende muito da
fertilidade natural do solo e da manutenção de sua capacidade
produtiva ao longo do tempo para manter o seu sustento.

117
Morangueiro Irrigado

A seguir será feita uma abordagem com relação às


características naturais dos solos do município de Turuçu-RS e
suas implicações na produção de morango na região.

5.1.1 Solos do Município de Turuçu-RS

O Estado do Rio Grande do Sul pode ser separado em


onze regiões fisiográficas. (Figura 5.1).

Figura 5.1 - Regiões Fisiográficas do Rio Grande do Sul


(Fonte: http://coralx.ufsm.br/ifcrs/fisiografia.htm).

Dentre elas, a Encosta do Sudeste ocupa uma estreita e


extensa faixa territorial situada entre o Litoral e a Serra do
Sudeste. A parte mais elevada dessa região fisiográfica é

118
Capítulo V

composta, em essência, por sedimentos graníticos e granitóides


erodidos do Escudo Sul-rio-grandense, associada com maciços
de rochas graníticas que, em muitos locais, afloram na
superfície.
No Estado do Rio Grande do Sul, particularmente na
Mesorregião da Metade Sul, grandes diferenças podem ser
reconhecidas com relação à utilização e à ocupação do
território. Enquanto que na maioria das várzeas e campos da
região predominam médias a grandes propriedades, ocupadas
com orizicultura e pecuária extensiva, algumas regiões da Serra
do Sudeste e da Encosta do Sudeste, estão sustentadas na
agricultura de base familiar, onde o solo é cultivado de forma
mais intensiva e diversificada com hortigranjeiros, grãos e
oleaginosas, frutíferas, pecuária de leite e de corte. Nos últimos
anos, essa realidade vem sendo modificada pela introdução de
florestas plantadas e, principalmente pela utilização mais
intensa com a cultura do fumo. Apesar do aumento da renda,
esse modelo estabelece uma mudança importante na forma de
produção da pequena propriedade de base familiar, com
reflexos na qualidade do solo e da água.
Inserido nesta realidade está o município de Turuçu,
onde o sistema de produção agrícola familiar é predominante e
que tem como principais atividades a pecuária leiteira, a
produção de frutíferas, de fumo e de pimenta vermelha, cultura
que deu ao município de Turuçu o título de Capital Nacional da
Pimenta Vermelha, por ser o município com maior área
plantada desta cultura em todo o Brasil. Dentre as frutíferas,
destaca-se a produção de morango que vem ocupando uma área
e importância cada vez maior no município.
A produção e a comercialização de morango “in
natura” têm propiciado aos produtores uma boa rentabilidade,
constituindo-se, portanto, em atividade alternativa para a
diversificação das fontes de renda. As áreas de Turuçu que são
utilizadas para a produção de morango in natura estão situadas

119
Morangueiro Irrigado

em locais de relevo suave ondulado a ondulado e, em algumas


situações, com relevo forte ondulado associado à presença de
afloramentos rochosos. Nessas condições podem ser
encontrados solos rasos a pouco profundos (Neossolos)
associados aos solos mais profundos (Argissolos) (Figura 5.2).

Figura 5.2 - Mapa de Solos do Município de Turuçu-RS


(Fonte: Tagliani, 2007).

A agricultura é a principal atividade econômica de


Turuçu e região. Mas o seu desenvolvimento limita-se pela
aptidão agrícola dos solos, pois a maior parte das terras
120
Capítulo V

agricultáveis situadas na parte alta é mais indicada para a


produção de culturas perenes do que para culturas anuais
(CUNHA; SILVEIRA, 2000; CUNHA et al., 2006). Pelo fato
do relevo ser ondulado e o solo frequentemente raso e pouco
desenvolvido, as terras possuem uma alta susceptibilidade à
erosão hídrica. Além disso, os solos possuem horizonte
superficial com CTC (capacidade de troca de cátions) e
fertilidade natural baixas, em consequência da textura arenosa e
dos baixos teores de matéria orgânica (ELTZ; ROVEDDER,
2005).

5.1.2 Qualidade do solo e a produção de morango

A adequação do manejo da cultura do morango é uma


das formas para melhorar a qualidade do fruto produzido,
reduzir os custos de produção e também evitar a degradação do
solo e da água. Para tal, é importante seguir algumas
recomendações básicas que favorecem o desenvolvimento da
cultura.
O morangueiro tem algumas exigências relacionadas
às condições físicas e hídricas do solo: desenvolve-se bem nas
áreas onde o horizonte A tem a textura média; prefere solos
bem drenados, ricos em matéria orgânica e de boa estrutura;
não tolera a falta de água tampouco o seu excesso, por isso, o
emprego da irrigação e o seu correto controle é indispensável.
Como o morangueiro é delicado, principalmente o seu sistema
radicular, a técnica de construção de canteiros a cada novo ciclo
de produção é amplamente utilizada para deixar o solo solto e
remover camadas superficiais compactadas, além de facilitar o
plantio das mudas e crescimento das raízes (DAROLT, 2001).
No entanto, a falta de ações estratégicas e coletivas de
proteção e conservação do solo contribui para agravar os
processos de degradação do solo e da água que causam sérios
prejuízos. Entre eles, podem ser destacados:

121
Morangueiro Irrigado

a) Erosão hídrica e assoreamento: segundo Omuto


(2008), a erosão resulta da ação de chuvas torrenciais de alta
intensidade (mm/h), provocando enxurradas que levam
sedimentos, nutrientes e resíduos de agro-químicos para as
partes mais baixas. A camada superficial e mais rica do
horizonte A do solo é transportada para o leito de riachos,
açudes, lagos e outros. Na região de Turuçu ainda predomina o
sistema de preparo convencional do solo sem o uso de
instrumentos de proteção como a implantação dos canteiros em
nível ou pequeno desnível, a manutenção dos corredores entre
os canteiros cobertos com palha, o uso de terraços e cordões
vegetados nas áreas mais íngremes. Surgem também problemas
de assoreamento e contaminação de rios e lagos, largamente
utilizados para irrigação de hortifrutigranjeiros, além de afetar a
qualidade da água consumida e a saúde da população. O
prejuízo também ocorre para os peixes e outros organismos que
habitam esses locais. No município de Turuçu e região, as
chuvas com maior energia e potencial erosivo ocorrem nos
meses de janeiro, fevereiro e março, sendo fevereiro
considerado como o mês de maior erosividade (LAGO, 2000).
A erosão no campo pode ser visualizada pela presença de
sulcos e ravinas (Figura 5.3).

Figura 5.3 - Erosão em sulcos em Turuçu-RS (esquerda);


Cobertura morta entre os canteiros para evitar a
erosão (direita).
122
Capítulo V

Outra forma de erosão não muito perceptível, mas


muito danosa, é a erosão laminar. Ela acontece quando a água
da chuva carrega uniformemente o solo, sem formar canais
definidos sendo, portanto, mais difícil de ser visualizada.
Tomando como exemplo os Argissolos dessa região, a presença
de um horizonte A arenoso com baixos teores de matéria
orgânica, torna-os muito suscetíveis à erosão hídrica e sujeitos
à rápida decomposição de resíduos culturais, exigindo intensas
práticas de manejo e conservação do solo (STRECK et al.,
2008).
b) Dispersão e perda da fração argila, óxidos e
materiais orgânicos: os componentes mais finos do solo
precisam estar floculados (agregados) para evitar a sua
lixiviação e a sua desagregação (LAVELLE; SPAIN, 2001).
Quando alguns fertilizantes como o Salitre do Chile (que possui
na sua composição química o íon dispersante Na+) são
aplicados em excesso, podem ocorrer perdas da fração mais
fina do solo (argila) pelo processo de lixiviação, a qual é a mais
importante do ponto de vista físico-químico do solo para a
produção agrícola.
c) Alterações na estrutura do solo: a produção
agropecuária intensiva, em solos de baixa resistência a
processos de degradação, requer a aplicação de práticas rígidas
e permanentes de conservação do solo. O solo, submetido ao
cultivo, tende a perder sua estrutura original, pelo
fracionamento dos agregados maiores em unidades menores,
com consequente redução da macroporosidade e aumento da
microporosidade e da sua densidade (CARPENEDO;
MIELNICZUK, 1990). A falta de cobertura vegetal no inverno
e de utilização de culturas diversificadas em rotação e sucessão
tem desequilibrado a ciclagem e reposição da matéria orgânica,
particularmente nos Argissolos, Neossolos, e Cambissolos da
região. Segundo Tisdall e Oades (1982) e Golchin et al. (1994),

123
Morangueiro Irrigado

a contínua perda de matéria orgânica influencia diretamente o


processo de degradação estrutural do solo.
d) Acidificação do solo: a manutenção do pH em
valores adequados para a produção agrícola é uma condição
importante no manejo do solo, pois afeta a disponibilidade de
nutrientes e, consequentemente, a nutrição das plantas
(JOHNSTON, 2004). Este tipo de degradação é comum nos
solos da região, dado a facilidade de lixiviação dos nutrientes
em face da textura arenosa. Uma alternativa para melhorar a
capacidade de troca de cátions (CTC) desses solos é o
incremento do teor de matéria orgânica, via adubação orgânica.
e) Redução da Capacidade de Água Disponível: a
degradação da estrutura e a perda da matéria orgânica nestes
solos diminuem a quantidade de água disponível para as
plantas, fazendo com que as culturas fiquem mais susceptíveis
aos períodos de estiagem.
Por outro lado, a forma como é cultivado o morango
em Turuçu demonstra a capacidade dos produtores em aceitar e
adotar técnicas apuradas para a maximização da produção: o
uso da fertirrigação, da plasticultura e de variedades com alta
sanidade e alto potencial produtivo são alguns exemplos. É
fundamental que os produtores e os técnicos visualizem
também a necessidade de preservar o solo e os mananciais
hídricos, visando a manutenção da quantidade e da qualidade
destes recursos para as gerações futuras.
A produção de morango, dentro dessa realidade, tem o
desafio de cumprir requisitos que abrangem não só as
necessidades humanas. Ela também requer a adoção de
tecnologias e o controle de variáveis do ambiente (solo-água)
onde a planta se desenvolve, levando em consideração as
características e peculiaridades regionais. A avaliação de
parâmetros físico-hídricos indica a condição atual do solo para
o desenvolvimento das plantas, podendo também ser
relacionada com o estado de conservação do solo.

124
Capítulo V

5.2 ESTUDO DE CASO: INDICADORES DA


QUALIDADE FÍSICO-HÍDRICA DO SOLO
A seguir são apresentados alguns resultados de
pesquisas realizadas em propriedades de produção de morango
no município de Turuçu-RS, ao longo da safra agrícola de
2007. Foram determinados parâmetros que avaliam a relação
solo-água-planta, no intuito de diagnosticar o seu estado atual
no sistema de produção, fazendo-se uma comparação com áreas
no seu estado natural (mata nativa). Também buscou-se
compreender como o sistema de produção de morango é
afetado e/ou como ele interfere no ambiente enquanto se
desenvolve o ciclo produtivo. Espera-se que esses resultados
possam servir de base para ações concretas de recuperação e
conservação dos recursos naturais utilizados no sistema de
produção, bem como para ampliar a capacidade produtiva, a
qualidade do fruto e a melhoria das condições de trabalho e
renda para os agricultores familiares.

5.2.1 Estabilidade de agregados em água: distribuição de


agregados do solo em classes de tamanho e diâmetro
médio ponderado (DMP)

O termo estabilidade é usado para descrever a


habilidade do solo em manter o seu arranjo de sólidos e espaços
porosos, quando submetido a diferentes situações de estresse
(ou perturbações). A estabilidade dos agregados e a sua
distribuição em classes de tamanho são utilizadas como
indicadores da qualidade do solo (KARLEN; STOTT, 1994),
sendo intimamente relacionadas com os processos envolvidos
na degradação do solo (TIPPKÖTTER, 1994). A importância
também está nas relações que estes parâmetros têm com a
erosão, a infiltração e o movimento de água no perfil do solo,
além da penetração das raízes e da aeração do solo.

125
Morangueiro Irrigado

A determinação da distribuição de agregados estáveis


em água em diferentes classes de tamanho e do diâmetro médio
ponderado (DMP) é realizada com base no peneiramento úmido
de agregados (KEMPER; ROSENAU, 1986). Os agregados são
distribuídos em peneiras, totalizando seis classes de tamanho:
C1 = 9,52 - 4,76 mm; C2 = 4,76 - 2,00 mm; C3 = 2,00 - 1,00
mm; C4 = 1,00 - 0,25 mm; C5 = 0,25 - 0,105 mm e C6 < 0,105
mm.
A quantidade de agregados estáveis em água retida em
cada classe foi obtida conforme a expressão (PALMEIRA et
al., 1999):
 
 MAGR − m 
AGRi =  n i i
 × 100 (5.1)
 (MAGR − m )
 ∑
i =1
i i 

Onde:
AGRi = proporção de agregados estáveis em água na
classe i (g.g-1);
MAGRi = massa de agregados + material inerte na
classe i (g);
mi = massa de material inerte na classe i (g).
Na Figura 5.4 são comparadas as quantidades de
agregados estáveis em água (distribuídos em seis diferentes
classes de diâmetro) de 14 áreas de produção de morango, em
quatro diferentes épocas de coleta (1ª, 2ª, 3ª e 4ª) ao longo do
ciclo produtivo do morango, e em 14 áreas tomadas como Área
de Referência - AF (área de campo natural, sem cultivo) onde
foram coletadas amostras de solo somente na primeira coleta.
Observa-se que a distribuição dos agregados das AF se
concentrou nas classes de maior tamanho (C1 e C2),
apresentando, nessas classes, valores médios significativamente
superiores (aplicando-se o teste de Tukey a 5% de nível de

126
Capítulo V

significância) em relação às demais épocas de coleta. Nas áreas


cultivadas, a maior parte dos agregados se concentrou nas
classes de menores diâmetros, C3, C4 e C6, 6, sobretudo na C4.
Apesar de esses valores demonstrarem a degradação da
estrutura do solo, não significa que simplesmente o fato de se
cultivar morango, da forma que vem sendo feito, por si só, leva
a tal situação. Isso se deve, provavelmente, aos sucessivos
sucessi
cultivos com alto revolvimento do solo e sem as devidas
práticas conservacionistas, resultando em um decréscimo do
teor de matéria orgânica. Além disso, ocorrem na região dois
agravantes naturais: as áreas que têm sido utilizadas para o
cultivo do morango possuem médiaa a alta declividade e os
solos apresentam, em sua maioria, elevados teores da fração
areia, fato este que facilita a rápida decomposição da matéria
orgânica, tornando-os também mais erodíveis.

Figura 5.4 - Agregados estáveis em água, distribuídos em seis


classes de tamanho, coletados em 14 lavouras de
produção de morango, em 4 épocas do ciclo da
cultura (1ª, 2ª, 3ª e 4ª) e áreas de referência (AF)
somente na primeira coleta. Teste aplicado: Tukey
a 5% de nível de significância.

127
Morangueiro Irrigado

Outra constatação importante é que houve efeito do


tempo na agregação. No início do ciclo produtivo a construção
dos canteiros mediante uso de enxada rotativa fraciona os
macroagregados. Com o tempo, cerca de quatro meses (3ª
coleta) após a construção dos canteiros, o solo apresentou sinais
de reacomodação e a quantidade de macroagregados aumenta
significativamente nas classes C1 e C2, com um correspondente
decréscimo na classe C4.
A predominância de agregados com diâmetros
inferiores a 2 mm relaciona-se intimamente com a degradação
da estrutura do solo. Esse fato também está ligado com a
pulverização ou fragmentação, tornando o solo mais propenso
ao transporte pela água, lixiviação rápida dos nutrientes
adicionados via adubação, além de favorecer a diminuição da
quantidade de matéria orgânica, mais protegida no interior dos
agregados. O DMP é uma média ponderada do tamanho dos
agregados, que está diretamente relacionada com o grau de
desagregação do solo.
Para o cálculo do diâmetro médio ponderado (DMP) é
utilizada a expressão (PALMEIRA et al., 1999):
 n 
 ∑ (DM i × (MAGRi − mi ))
DMP =  i =1 n  (5.2)
 (MAGRi − mi ) 
 ∑
i =1 
onde:
DMP = diâmetro médio ponderado (mm);
DMi = diâmetro médio da classe i (mm).

O diagrama de caixa dos dados de DMP das 14 áreas


cultivadas com morango (TS, TM e TI), ao longo das quatro
épocas de coletas de solo durante o ciclo do morango no ano de
2007, é apresentado na Figura 5.5.

128
Capítulo V

Figura 5.5 - Diagrama de caixa dos dados de DMP.


DMP

Os valores médios de DMP encontrados nas áreas


cultivadas (em torno de 1 mm) são considerados baixos quando
comparados com os encontrados em amostras de solos de
outras regiões e quando comparados com os apresentados pelas
áreas de referência (AF) (Figura 5.5). A figura ainda mostra
que houve um aumento considerável do DMP, após seis mesesm
de cultivo (4ª coleta). Isso pode ter sido causado pela
acomodação das partículas do solo, fato esse que aumentou
gradualmente após a construção dos canteiros e,
principalmente, devido aos sucessivos ciclos de umedecimento
e secagem regidos pela prática
ca da irrigação, o que favoreceu a
aproximação das partículas e, conseqüentemente a sua
agregação. Também pode ser considerado, em menor escala, o
efeito das raízes do morangueiro que, ao se desenvolverem
causaram a aproximação das partículas.
Um aumento considerável do DMP dos agregados do
solo está muito relacionado com o aumento da matéria orgânica
no solo e com o número de vezes que este foi revolvido

129
Morangueiro Irrigado

(WOHLENBERG et al., 2004). Sabe-se que é indispensável


construir os canteiros para o morangueiro; porém, é
recomendável diminuir o número de vezes que o solo é
revolvido e também reaproveitar os canteiros para culturas
posteriores ao máximo possível, visando aproveitar a adubação
residual, a proteção da lona plástica e o sistema de irrigação já
instalado.
O plantio de espécies forrageiras após a destruição dos
canteiros, durante o período de pousio (descanso) da terra, e a
sua posterior incorporação da palha ao solo também é uma
prática recomendada. Exemplos de espécies tradicionalmente
utilizadas para esse fim são: aveia, azevém, ervilhaca, nabo
forrageiro, entre outras. A aplicação de resíduos de culturas e
adubos orgânicos também são práticas reconhecidamente
efetivas para a recuperação e conservação do solo.

5.2.2 Porosidade do solo

O espaço poroso do solo é constituído por cavidades de


diferentes tamanhos e formas, dependentes do arranjo das
partículas sólidas, que influencia na aeração, na condução e
retenção de água, na resistência à penetração das raízes das
plantas, bem como na sua ramificação e, conseqüentemente, no
aproveitamento da água e dos nutrientes disponíveis (HILLEL,
2003).
Costuma-se fazer uma separação dos poros do solo
em: i) macroporos: poros com diâmetro maior que 0,05mm,
responsáveis pela aeração e drenagem do excesso de água no
perfil; e ii) microporos: poros com diâmetro menor que
0,05mm, responsáveis pela retenção e armazenamento da água
e dos nutrientes dissolvidos na solução, podendo estar
disponíveis para as plantas.
Para os solos, de forma geral, a porosidade total ótima
é próxima de 50% (0,5 cm3 de poros/cm3 de solo) normalmente

130
Capítulo V

dividida na razão de 1/3 de macroporos e 2/3 de microporos.


No entanto, deve-se considerar que solos utilizados por vários
anos com agricultura normalmente se apresentam mais
compactados, com menor porosidade, sendo os macroporos os
mais afetados.
A natureza do solo também exerce influência na
porosidade: solos de textura argilosa apresentam entre 40 e
60% do seu volume ocupado por poros, principalmente se
tiverem altos conteúdos de matéria orgânica, ao passo que solos
arenosos raramente ultrapassam os 50%.
Relacionada ao crescimento radicular das plantas, a
porosidade de aeração (PA) corresponde ao volume de poros
ocupado pelo ar. Para o desenvolvimento adequado da maioria
das culturas, é desejável ter, no mínimo, 0,1 cm3 de poros/cm3
de solo (10% do volume total), de modo a proporcionar boas
condições de aeração para as raízes e o desenvolvimento dos
microrganismos aeróbios, importantes para a biociclagem de
nutrientes para as plantas.
Nas 14 lavouras de morango de Turuçu (Figura 5.6),
observa-se que, logo após a construção dos canteiros o solo
apresentava bons níveis de porosidade total, macro e
microporosidade. Com o término do ciclo produtivo do
morango (4ª coleta), cerca de seis meses após a implantação da
lavoura, ocorreu uma redução da porosidade total e da
macroporosidade, enquanto que a microporosidade aumentou
consideravelmente. Com isso, o solo passou a ter uma maior
capacidade de armazenamento de água, com uma redução da
capacidade de infiltração e de drenagem da água bem como da
aeração para as raízes.

131
Morangueiro Irrigado

Figura 5.6 - Variação da porosidade total, macro e


microporosidade do solo ao longo de um ciclo de
produção de morango no ano de 2007.

5.2.3 Curva de retenção de água no solo

A curva de retenção de água está relacionada à


quantidade de água retida no solo e a energia com que esta é
retida. Na medida em que se aumenta a energia de sucção
aplicada para extrair água de uma amostra de solo (potencial
matricial), menor quantidade de água (θ, conteúdo de água no
solo expresso em base volumétrica) permanece retida. Essa
relação pode ser expressa graficamente, sendo conhecida como
curva de retenção da água no solo. Essa é fundamental para
saber o quanto e quando irrigar uma cultura, perguntas
freqüentes durante o manejo da irrigação.
No manejo da irrigação podem ser utilizados
tensiômetros, que permitem medir o potencial matricial com
132
Capítulo V

que a água encontra-se retida no solo e, conseqüentemente,


responder se é o momento de irrigar ou não.
Para tal determinação, uma amostra de solo é coletada
em anéis de aço inox, mantendo o solo na sua condição natural,
e é submetida a diferentes valores de sucção (ou tensão quando
expressa em módulo) que são aplicados por meio de
equipamentos: pontos de baixas tensões (1 kPa a 10 kPa) são
aplicados via Mesa de Tensão e os pontos de altas tensões (>10
kPa até 1500 kPa), via Câmaras de Pressão de Richards
(RICHARDS, 1949), conforme Reichardt e Timm (2004). A
partir dos pares de pontos, que relacionam a tensão aplicada (ou
Potencial matricial quando expresso negativamente: -Ψm) com
o conteúdo de água volumétrico (θ), elabora-se a curva de
retenção de água no solo. Nesse estudo foram determinados
sete pares experimentais θ – tensão aplicada.
A partir desses sete pares de pontos, obtém-se
graficamente a curva de retenção de água. Estes dados podem
ser ajustados a uma equação que permite calcular o conteúdo de
água no solo em qualquer tensão, desde a saturação do solo
(condição mais úmida) até tensões mais altas (condição de solo
mais seco). A equação mais amplamente utilizada é a proposta
por van Genuchten (1980), sendo necessária a aplicação de um
programa computacional (software) para a determinação dos
parâmetros dessa equação. O software SWRC, desenvolvido
por Dourado-Neto et al. (1996), faz o ajuste dos dados
experimentais da curva ao modelo de van Genuchten.
Na Figura 5.7 são apresentadas, como exemplo, as
curvas de retenção de água em amostras de solo coletadas em
uma lavoura de morango em Turuçu, elaboradas em quatro
diferentes épocas de coleta ao longo de um ciclo produtivo no
ano de 2007. A retenção de água no solo é influenciada pelo
tempo, especialmente em baixas tensões e altas tensões.
Comparando a curva da 1ª com a curva da 4ª coleta, a
quantidade de água retida na condição de saturação diminuiu de

133
Morangueiro Irrigado

0,53 para 0,38 cm3·cm-3, do mesmo modo que na condição de


Ponto de Murcha Permanente (tensão de 1500 kPa), onde a
quantidade de água retida diminuiu de 0,15 para 0,07 cm3·cm-3.

0,6


0,5

0,4 4ª
θ (cm .cm )
-3

0,3
3

0,2

0,1

0
1 10 100 1000 10000 100000

Log Tensão aplicada (cm coluna de água)

Figura 5.7 - Curvas de retenção de água em amostras de solo


coletadas em uma lavoura de morango, em quatro
diferentes epocas de coleta, ao longo de um ciclo
de produção de morango, ano de 2007.

5.2.4 Capacidade de Água Disponível (CAD)

A CAD pode ser definida, de forma simples, como


toda a água que se encontra retida e armazenada no solo de
forma acessível para as plantas. Para uma melhor definição da
CAD é preciso definir também outros dois conceitos: a

134
Capítulo V

Capacidade de Campo (CC) e o Ponto de Murcha Permanente


(PMP). Também de forma simplificada, pode-se definir que a
CC representa o conteúdo de água no solo quando o movimento
de descida de água no perfil do solo, após uma chuva ou
irrigação, é mínimo. O PMP, por sua vez, representa a
quantidade de água remanescente no solo, que está tão
fortemente retida que as raízes das plantas não conseguem mais
absorvê-la. Conhecendo-se a CAD de um determinado tipo de
solo, pode-se estimar a quantidade de água a ser recolocada no
solo em lavouras irrigadas.
De acordo com dados preliminares do estudo das 14
lavouras de produção de morango de Turuçu, pode-se constatar
que houve um aumento no valor médio da CAD da ordem de
20 a 25%, após seis meses do início do ciclo produtivo em
relação à construção dos canteiros (4ª coleta). Com isso, pode-
se concluir que o solo, no final do ciclo apresentou uma maior
retenção de água, em face da acomodação do solo nos
canteiros, resultado de um aumento da microporosidade.

5.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS


O solo é um recurso natural lentamente renovável,
imprescindível para a sobrevivência humana. A manutenção da
sua qualidade depende da função que se deseja que ele
desempenhe e da forma como é manejado e conservado. A
qualidade físico-hídrica dos solos de Turuçu-RS, quando
direcionada para a produção de morango, pode ser considerada
boa, pois estes solos apresentam características estruturais que
favorecem o desenvolvimento dessa cultura, sobretudo dentro
do sistema adotado atualmente, com a construção de canteiros.
Entretanto, é preciso dirigir atenção para a conservação do solo,
principalmente no intuito de minimizar a erosão e a redução
dos teores de matéria orgânica.

135
Morangueiro Irrigado

5.4 LITERATURA CITADA


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139
CAPÍTULO 6 - INDICADORES
QUÍMICOS E MICROBIOLÓGICOS DO
SOLO NA PRODUÇÃO DE MORANGO

Gláucia Oliveira Islabão


Leandro Sanzi Aquino
Vitor Emanuel Quevedo Tavares
Ledemar Carlos Vahl
Danilo Dufech Castilhos
Rodrigo Bubolz Prestes

6.1 INDICADORES DE QUALIDADE DO SOLO


Os indicadores de qualidade do solo formam um
conjunto de dados mínimos que são utilizados para avaliar o
comportamento das principais funções do solo (KARLEN;
DITZLER; ANDREWS, 2003). Segundo Doran e Parkin
(1994), um bom indicador deve integrar processos e atributos
físicos, químicos e/ou biológicos do solo, ser acessível aos
diferentes usuários, ser aplicável em diversas condições de
campo e ser sensível às variações do manejo e do clima.
Os critérios para a seleção de indicadores relacionam-
se, principalmente, com a sua utilidade em definir os processos
do ecossistema. Stenberg (1999) enfatizou que nenhum
indicador individualmente consegue descrever e quantificar
todos os aspectos da qualidade do solo, existindo uma relação
entre todos os atributos do solo. Na literatura os indicadores

140
Capítulo VI

químicos e microbiológicos têm sido apontados como os


principais indicadores de qualidade do solo, entretanto, neste
texto também será proposta a utilização de alguns elementos
relacionados à fertilidade do solo como indicadores de sua
qualidade.

6.1.1 Indicadores químicos

Dentre os indicadores químicos do solo destacam-se a


matéria orgânica (MO), a capacidade de troca de cátions
(CTC), a acidez ativa (pH em água) e a acidez potencial (H +
Al), a saturação por alumínio (M%) e a saturação por bases
(V%) que serão descritos nesse capítulo.

a) Matéria orgânica

O termo matéria orgânica do solo refere-se a todos os


compostos que contêm carbono orgânico no solo, incluindo os
microrganismos vivos e mortos, resíduos de plantas e animais
parcialmente decompostos, produtos de sua decomposição e
substâncias orgânicas microbiologicamente e/ou quimicamente
alteradas (SILVA; CAMARGO; CERETTA, 2006).
Conceição et al. (2005) consideraram a matéria
orgânica como um eficiente indicador para discriminar a
qualidade do solo induzida por diferentes sistemas de manejo,
sendo, ainda, fonte primária de nutrientes às plantas,
influenciando na infiltração, na retenção de água e na
susceptibilidade à erosão (GREGORICH et al., 1994). As
diferentes práticas de manejo, de acordo com Karlen et al.
(1994), que podem adicionar ou manter o carbono orgânico no
solo, parecem estar entre as mais importantes para restabelecer,
manter ou melhorar a qualidade do solo.

141
Morangueiro Irrigado

b) Acidez ativa e potencial

Existem dois tipos de acidez no solo: a acidez ativa e a


acidez potencial. A acidez ativa refere-se à concentração dos
íons H+ na solução do solo e sua medida é expressa pelo pH do
solo em água.
A acidez potencial é constituída pelo somatório de
todas as fontes de H+ que existem nos componentes sólidos do
solo, principalmente, o alumínio trocável e os grupos
funcionais orgânicos e inorgânicos. Ela é, portanto,
proporcional aos teores de alumínio, de argila e de matéria
orgânica existentes no solo e determina a necessidade de
calcário (ERNANI, 2008). Um esquema dos principais
componentes de acidez, em relação às frações ativas da matéria
orgânica, minerais de argila e sesquióxidos de ferro e alumínio
é mostrado na Figura 6.1, para uma consolidação mais efetiva
destes conceitos.

Figura 6.1 - Componentes da acidez do solo, na fase sólida e


na fase líquida. Fonte: Lopes & Guilherme (2004)
adaptado de van Raij & Quaggio (1994).

142
Capítulo VI

c) CTC efetiva e CTC pH 7,0

Os cátions retidos (adsorvidos) nos colóides do solo


podem ser substituídos por outros cátions, ou seja, em termos
práticos, significa que são trocáveis (LOPES; GUILHERME,
2004). A capacidade de troca de cátions (CTC) expressa a
quantidade de cátions que o solo pode reter na forma de
complexos de esfera-externa (íons trocáveis), representando
indiretamente a quantidade de cargas negativas presentes no
solo (MEURER, 2006). A CTC é de grande importância no que
diz respeito à fertilidade do solo, uma vez que indica a
capacidade total de retenção de cátions, os quais, em geral,
estarão disponíveis às plantas (CHAVES et al., 2004). A Figura
6.2 apresenta uma visão esquemática do potencial de
capacidade de troca de cátions entre dois solos de texturas
diferentes e suas implicações práticas.
Segundo Ernani (2008), existem basicamente dois
tipos de CTC: a efetiva e a potencial (determinada a pH 7,0). A
CTC efetiva é a quantidade de cargas negativas existentes no
solo em seu pH atual. O princípio de determinação de sua
magnetude se baseia na troca de cátions. Por isso, ela é
quantificada por meio do somatório das quantidades de todos os
cátions trocáveis [cálcio (Ca+2), magnésio (Mg+2), sódio (Na+1),
potássio (K+1) e alumínio (Al+3)] que se encontram
neutralizando essas cargas até esse pH (pH atual do solo). Esses
cátions são extraídos do solo com uma solução salina não
tamponada. Uma vez presentes na solução, os cátions são
quantificados e somados. Já a CTC determinada com solução
tamponada a pH 7,0 quantifica o somatório das cargas
negativas existentes no solo em seu pH atual com as que serão
criadas por meio da dissociação dos grupos funcionais (saída de
H+), desde o valor do pH atual do solo até o pH 7,0.

143
Morangueiro Irrigado

Figura 6.2 - Visão esquemática do potencial de capacidade de


troca de cátions (CTC) entre dois solos de
texturas diferentes e suas implicações práticas.
Fonte: Lopes & Guilherme (2004) adaptado do
texto publicado pelo Instituto da Potassa e Fosfato
(1998).

d) Saturação por alumínio

Expressa a fração da CTC efetiva que é “ocupada” por


alumínio trocável, fornecendo um indicativo da probabilidade
de fitotoxidez deste elemento às espécies vegetais (MEURER,
2006). De acordo com Lopes e Guilherme (2004), em termos
práticos, ela reflete a percentagem de cargas negativas do solo,
próximo ao pH natural, que está “ocupada” por Al trocável. Em
geral, quanto mais ácido um solo, maior o teor de Al trocável
em valor absoluto, menores os teores de Ca, Mg e K, menor a
soma de bases e maior a percentagem de saturação por
alumínio.

144
Capítulo VI

e) Saturação por bases

Segundo Lopes e Guilherme (2004), este parâmetro


reflete a percentagem dos pontos de troca de cátions do
complexo coloidal do solo que estão ocupados por bases, ou
seja, a percentagem das cargas negativas, passíveis de troca a
pH 7,0, que estão ocupadas por cálcio (Ca+2), magnésio (Mg+2),
sódio (Na+1) e potássio (K+1) em comparação com aquelas
ocupadas por H+Al.

6.1.2 Indicadores microbiológicos

Dentre os indicadores microbiológicos do solo


destacam-se a biomassa microbiana do solo (BMS), a
respiração basal (RB) e o quociente metabólico (qCO2) que
serão descritos a seguir.

a) Biomassa microbiana do solo

A BMS compreende a parte viva da matéria orgânica


do solo, excluídas as raízes e os organismos maiores que 5x103
µm3, contendo em média 2 a 5% do carbono orgânico e 1 a 5%
do nitrogênio total do solo (CERRI; VOLKOFF; EDUARDO,
1985; DE-POLLI; GUERRA, 1999). Atua como agente de
transformação da matéria orgânica, na ciclagem de nutrientes e
no fluxo de energia. O conhecimento da dinâmica da BMS
pode auxiliar os estudos que visam à conservação da matéria
orgânica do solo e ao melhor aproveitamento da matéria
orgânica adicionada.

b) Respiração basal

A respiração basal do solo, que é a oxidação biológica


da matéria orgânica ao CO2 pelos microrganismos aeróbios,

145
Morangueiro Irrigado

ocupa uma posição chave no ciclo do carbono nos ecossistemas


terrestres. A avaliação da respiração basal é a técnica mais
frequente para quantificar a atividade microbiana, sendo
positivamente relacionada com o conteúdo de matéria orgânica
e com a biomassa microbiana (ALEFF; NANNIPIERI, 1995).

c) Quociente metabólico

O quociente metabólico (qCO2) é um índice que


combina os resultados de biomassa microbiana com as
determinações das taxas de respiração, representado pela taxa
de respiração por unidade de biomassa microbiana na forma de
carbono microbiano (ANDERSON; DOMSCH, 1993).
Sistemas agrícolas que promovam menores qCO2
indicam uma microbiota em equilíbrio, com menores perdas de
CO2 pela respiração e maior incorporação de carbono à
biomassa microbiana.

6.1.3 Indicadores relacionados à fertilidade

a) Nitrogênio

O nitrogênio (N) é o macronutriente absorvido em


maior quantidade pelas culturas, sendo o solo a sua principal
fonte. A exceção fica por conta das culturas leguminosas como
a soja, que obtêm grande parte do nitrogênio via fixação
simbiótica com bactérias do gênero Rhizóbium (BAYER, 1993;
AMADO; MIELNICZUK; AITA, 2002). A dinâmica do N no
solo é complexa, cujas transformações envolvem reações de
natureza química e biológica, além de tratar-se de um nutriente
muito móvel no solo, o que potencializa as suas perdas por
lixiviação (AITA, 2003).
A transformação de N orgânico (resíduos vegetais e
MO do solo) em N mineral é denominada de mineralização,

146
Capítulo VI

enquanto a incorporação de formas de N mineral (NH4+ e NO3-)


na biomassa microbiana é denominada imobilização. Os
processos de imobilização e mineralização do N ocorrem
concomitantemente no solo, sendo que a intensidade de cada
um é dependente, principalmente, do tipo de resíduo vegetal em
decomposição (MARY; RECOUS, 1994; JENSEN, 1997;
AITA, 2003).

b) Fósforo

Segundo Vale , Guilherme e Guedes (1993), dentre os


macronutrientes, o fósforo é o exigido em menores quantidades
pelas plantas. Todavia, trata-se do nutriente aplicado em
maiores quantidades em adubação no Brasil. A explicação para
este fato relaciona-se com a baixa disponibilidade de fósforo
nos solos do Brasil e, também, com a forte tendência do fósforo
aplicado ao solo reagir com outros componentes, formando
compostos de baixa solubilidade. Portanto, ao contrário da
adubação com os demais nutrientes, com o fósforo existe a
necessidade de acréscimos superiores à exigência nutricional
das plantas, pois é necessário satisfazer também a exigência do
solo, saturando os componentes consumidores do elemento.

c) Potássio

O potássio é o segundo macronutriente em teor contido


nas plantas. Depois do fósforo, é o nutriente mais consumido
como fertilizante pela agricultura brasileira. Os teores totais em
solos bem supridos podem superar a 1% de potássio. Grande
parte desse nutriente encontra-se em rochas minerais que
contêm o elemento nas formas cristalinas (van RAIJ, 1991).

147
Morangueiro Irrigado

6.2 ESTUDO DE CASO: INDICADORES


QUÍMICOS E MICROBIOLÓGICOS DO
SOLO NA PRODUÇÃO DE MORANGO DO
MUNICÍPIO DE TURUÇU-RS
No intuito de exemplificar e estabelecer uma discussão
mais prática desses conceitos é apresentado, neste item, um
estudo de caso avaliando o comportamento da variabilidade
espacial e temporal de atributos químicos e microbiológicos ao
longo do ciclo de produção da cultura do morango no ano de
2007. A área que abrange este estudo compreende a Associação
de Produtores de morango do município de Turuçu–RS,
totalizando quatorze propriedades que estão situadas nas
microrregiões Picada Flor, Centenário e São Domingos.

6.2.1 Indicadores químicos

a) Matéria orgânica

O cultivo do morangueiro é altamente exigente,


necessitando um solo com boa estrutura física, rico em matéria
orgânica, bem arejado e com boa capacidade de drenagem
(SANTOS; MEDEIROS, 2003). Na maioria das lavouras
estudadas, os teores médios de matéria orgânica (MO) do solo
encontrados ao longo do tempo são classificados como baixos
(MO ≤ 2,5%) segundo CQFS (2004), com exceção de duas
propriedades que, de acordo com as atividades desenvolvidas
anteriormente pelos produtores, contribuíram para o incremento
da matéria orgânica (Tabela 6.1). Como a matéria orgânica é
fonte fundamental de nutrientes para as plantas,
disponibilizando elementos como nitrogênio (N), fósforo (P) e
enxofre (S), se o solo apresenta pouca matéria orgânica,

148
Capítulo VI

disponibiliza poucos nutrientes, comprometendo o


desenvolvimento das plantas.
Tabela 6.1 – Teores médios de matéria orgânica do solo
(MO, %) nas lavouras de morango de 14 propriedades, em
quatro coletas.
MO (%)
Coleta
Propriedades Média
1 2 3 4
1 1,4 a 1,3 a 1,2 a 1,6 a 1,4
2 1,6 b 1,7 ab 1,6 b 2,1 a 1,8
4 0,9 a 1,0 a 0,9 a 1,1 a 1,0
5 1,5 a 1,0 b 1,1 ab 1,4 ab 1,2
6 1,6 a 1,5 a 1,5 a 1,8 a 1,6
7 1,2 a 1,2 a 1,1 a 1,4 a 1,2
8 2,4 a 2,8 a 2,4 a 2,9 a 2,6
9 1,1 a 1,1 a 1,3 a 1,5 a 1,3
10 1,4 a 1,5 a 1,4 a 1,5 a 1,4
11 0,8 a 1,0 a 1,1 a 1,2 a 1,0
12 2,2 ab 2,1 ab 1,9 b 2,4 a 2,1
13 2,3 a 2,5 a 2,1 a 2,5 a 2,4
14 2,0 a 2,2 a 2,0 a 2,4 a 2,1
15 3,0 a 2,9 a 2,9 a 2,9 a 2,9
Média 1,7 1,7 1,6 1,9
Letras iguais ao longo da mesma linha não diferem entre si, ao nível de 5%
de significância, aplicando o teste DMS.

A manutenção ou recuperação dos teores de matéria


orgânica e da qualidade do solo pode ser alcançada pela
utilização de pastagens ou em casos de sistemas agrícolas
intensos, pela utilização de métodos de preparo sem
revolvimento, ou com a mínima mobilização do solo e por
sistemas de cultura com alta adição de resíduos vegetais. Isso
resulta em menores taxas de perdas e maiores taxas de adição
de matéria orgânica ao sistema solo (BAYER; MIELNICZUK,
2008).

149
Morangueiro Irrigado

b) Acidez ativa e potencial

Analisando os valores médios de acidez ativa do solo


em cada uma das quatorze lavouras estudadas, nas diferentes
épocas de coleta (Tabela 6.2), verifica-se que estes se
classificaram desde muito baixo (≤ 5,0), até alto (>6,0).
A necessidade de calagem (aplicação de calcário)
depende do pH atual do solo e do pH considerado adequado
para a cultura. Segundo CQFS (2004), o pH ideal do solo para
o cultivo do morango é 6,0, sendo que em valores de pH mais
elevados, o desenvolvimento da planta é prejudicado.
Baseado nisto, verifica-se que, nas amostras de solo
coletadas nas lavouras das Propriedades 1, 6, 14 e 15, por
apresentarem valores de pH em água acima de 6,0, não
necessitam de corretivo de acidez. Nas lavouras das demais
propriedades a calagem é necessária. A quantidade de corretivo
a ser aplicada depende da acidez potencial, que é determinada
pelo índice SMP. Conforme indicações da Tabela 6.3, o solo da
lavoura pertencente à Propriedade 8 é o que necessita maior
dosagem de corretivo (3,7 t.ha-1), por apresentar o menor índice
SMP (5,9).
Nas lavouras das propriedades 4 e 11, as quantidades
calculadas de corretivo a serem aplicadas foram de 0,68 t·ha-1 e
0,51 t·ha-1, respectivamente. Essas quantidades foram
calculadas a partir dos teores de MO e Al, conforme sugerido
pela CQFS (2004), pois em solos com baixo poder tampão de
pH, o método SMP não é eficiente.

150
Capítulo VI

Tabela 6.2 – Teores médios de acidez ativa e acidez potencial


nas lavouras de morango de 14 propriedades, em quatro coletas.
a) Acidez ativa
Coleta
Propriedades Média
1 2 3 4
1 5,90 a 6,24 a 6,21 a 6,10 a 6,11
2 5,33 b 5,27 b 5,84 a 5,67 ab 5,52
4 5,56 a 5,59 a 5,90 a 5,90 a 5,73
5 4,86 a 4,69 a 4,65 a 4,53 a 4,68
6 6,21 a 6,11 a 6,51 a 6,09 a 6,22
7 5,92 a 5,52 a 5,88 a 5,77 a 5,77
8 4,58 a 4,26 a 4,26 a 4,37 a 4,36
9 4,84 a 4,67 a 4,43 a 4,53 a 4,62
10 4,94 a 4,88 a 4,68 a 4,61 a 4,77
11 5,93 a 5,73 ab 5,82 ab 5,44 b 5,73
12 5,48 ab 5,08 b 5,57 a 5,43 ab 5,39
13 5,04 a 5,03 a 5,12 a 5,15 a 5,08
14 5,96 b 5,75 b 6,47 a 6,13 a 6,07
15 6,50 a 6,76 a 6,71 a 6,92 a 6,72
Média 5,50 5,40 5,57 5,47
b) Acidez Potencial
Coleta
Propriedades Média
1 2 3 4
1 1,60 a 1,27 a 1,54 a 1,43 a 1,46
2 1,97 a 2,21 a 1,73 a 1,88 a 1,95
4 1,31 a 1,35 a 1,16 a 1,23 a 1,26
5 2,99 a 1,95 b 2,46 ab 2,39 ab 2,45
6 1,25 a 1,20 a 1,19 a 1,20 a 1,21
7 1,69 a 2,00 a 1,82 a 1,82 a 1,83
8 4,40 b 5,34 a 4,94 ab 4,77 ab 4,86
9 2,52 b 2,79 ab 3,31 a 2,61 ab 2,80
10 3,71 ab 2,95 b 3,80 a 3,60 ab 3,51
11 1,26 a 1,37 a 1,48 a 1,70 a 1,45
12 2,46 a 3,05 a 2,51 ab 2,58 ab 2,65
13 2,85 a 2,97 a 2,86 a 2,91 a 2,90
14 2,19 a 2,26 a 1,86 a 1,92 a 2,06
15 1,43 a 1,41 a 1,48 a 1,35 a 1,42
Média 2,26 2,29 2,30 2,24
Letras iguais ao longo da mesma linha não diferem entre si ao nível de 5% de
significância aplicando o teste DMS.

151
Morangueiro Irrigado

Tabela 6.3 – Quantidade de calcário (t.ha-1) necessária para


elevar o pH em água do solo a 6,0, estimada pelo índice SMP.
Propriedade Índice SMP Quantidade de Calcário
(média) (t·ha-1)
2 6,7 0,5
5 6,5 1,1
7 6,8 0,3
8 5,9 3,7
9 6,4 1,4
10 6,2 2,2
12 6,5 1,1
13 6,4 1,4

c) CTC efetiva CTC pH 7,0

A CTC está muito relacionada com os teores de


matéria orgânica. A capacidade de troca de cátions reflete o
poder de retenção de cátions que o solo tem, sendo que os
fatores que alteram o poder de retenção de cátions também
alteram a CTC. Por exemplo: se diminuir o teor de matéria
orgânica, também diminuirá a CTC do solo. Solos argilosos,
com argilas de alta atividade, podem reter grandes quantidades
de cátions. Solos arenosos, com baixo teor de matéria orgânica
e, conseqüentemente, baixa CTC, retêm pequenas quantidades
de cátions, ocorrendo com mais frequência sua perda por
lixiviação.
Na Tabela 6.4 pode-se observar que nas propriedades
onde se tem os maiores teores de matéria orgânica, têm-se
também os maiores valores de CTC, sendo que na microrregião
da Picada Flor estes valores apresentam um patamar mais
elevado do que nas microrregiões Centenário e São Domingos.

152
Capítulo VI

Tabela 6.4 – Teores médios de CTC efetiva e de CTC pH 7,0 no solo


nas lavouras de morango de 14 propriedades, em quatro coletas.
a) CTC Efetiva (cmolc.dm-3)
Coleta
Propriedades Média
1 2 3 4
1 4,54 a 3,63 a 3,77 a 4,46 a 4,10
2 5,41 a 5,11 a 5,98 a 5,92 a 5,61
4 5,16 a 4,29 a 4,06 a 5,41 a 4,73
5 2,44 a 2,49 a 1,82 a 2,34 a 2,27
6 5,54 a 5,21 a 5,16 a 6,34 a 5,56
7 4,88 a 4,23 a 4,00 a 4,20 a 4,17
8 4,33 a 3,82 a 4,45 a 4,98 a 4,40
9 2,77 a 3,27 a 2,48 a 3,01 a 2,98
10 3,79 a 2,88 a 3,06 a 2,99 a 3,18
11 3,19 a 3,29 a 3,84 a 3,45 a 3,28
12 9,46 a 7,83 ab 6,32 b 8,62 a 8,06
13 6,81 a 5,68 a 6,32 a 5,09 a 5,90
14 5,62 a 6,62 a 6,19 a 6,60 a 6,26
15 9,95 a 9,50 a 9,22 a 10,38 a 9,76
Média 5,27 4,85 4,76 5,27
b) CTC pH 7,0 (cmolc.dm-3)
Coleta
Propriedades Média
1 2 3 4
1 5,96 a 4,62 a 5,25 a 5,82 a 5,41
2 7,18 ab 7,24 ab 5,61 b 7,70 a 6,93
4 6,32 a 5,56 a 5,19 a 6,53 a 5,90
5 4,71 a 4,07 a 3,71 a 4,24 a 4,18
6 6,64 a 6,35 a 6,31 a 7,44 a 6,69
7 6,41 a 6,12 a 5,75 a 5,90 a 6,04
8 7,70 a 7,90 a 8,15 a 8,69 a 8,11
9 4,87 a 4,52 a 5,20 a 5,04 a 4,91
10 6,36 a 5,23 a 6,28 a 6,12 a 6,00
11 4,35 a 4,56 a 4,26 a 5,05 a 4,56
12 11,75 a 10,67 a 8,68 b 11,07 a 10,54
13 9,33 a 8,37 a 8,72 a 7,86 a 8,57
14 7,61 a 8,73 a 7,99 b 8,44 a 8,19
15 11,22 a 10,86 a 10,64 a 11,63 a 11,09
Média 7,17 6,77 6,55 7,25
Letras iguais ao longo da mesma linha não diferem entre si ao nível de 5% de
significância aplicando o teste DMS.

153
Morangueiro Irrigado

6.2.2 Indicadores microbiológicos

a) Biomassa microbiana

A biomassa microbiana determinada através dos teores


de carbono microbiano se encontra na Tabela 6.5.

Tabela 6.5 – Teores médios de carbono microbiano (C) no solo


nas lavouras de morango de 14 propriedades, em quatro coletas.
Cmicrob (mg.kg-1)
Coleta
Propriedades Média
1 2 3 4
1 162 a 141 a 63 a 146 a 128
2 234 ab 170 ab 94 b 321 a 205
4 114 a 111 a 208 a 127 a 140
5 302 a 137 a 168 a 296 a 226
6 253 a 225 a 73 a 172 a 181
7 216 a 133 a 123 a 205 a 170
8 358 b 591 a 505 ab 601 a 514
9 264 ab 215 ab 171 b 401 a 263
10 313 ab 266 ab 160 b 393 a 283
11 98 b 184 ab 68 b 337 a 173
12 505 a 360 a 118 b 296 ab 320
13 272 a 359 a 267 a 375 a 319
14 458 a 389 a 55 b 400 a 326
15 510 a 223 b 219 b 496 a 363
Média 290 251 164 327
Letras iguais ao longo da mesma linha não diferem entre si ao nível de 5%
de significância aplicando o teste DMS.

Na maioria das lavouras, o teste de comparação de


médias DMS, ao nível de 5% de significância, indicou
diferenças entre os teores médios de carbono microbiano
determinados ao longo do tempo nas amostras de solo. Este fato
era esperado, visto que o carbono microbiano é um indicador

154
Capítulo VI

muito sensível a interferências causadas no sistema (por


exemplo, variações na temperatura do solo, umidade do solo,
etc.).
Os valores mais altos de carbono microbiano foram
encontrados nas amostras de solos com os maiores teores de
matéria orgânica, indicando que, apesar do teor de carbono da
biomassa microbiana ser influenciado por outros fatores, ele
representa a fração ativa e biodegradável da matéria orgânica,
refletindo as mudanças que ocorrem nesse atributo do solo.

b) Respiração basal

As bactérias e os fungos são os principais responsáveis


pela maior liberação de CO2 via degradação da matéria
orgânica. A medida da respiração do solo é bastante variável e
dependente de vários fatores, dentre eles a temperatura e a
umidade do solo.
Na Tabela 6.6 são encontrados os valores médios de
respiração basal (RB) determinados nas amostras de solo
coletadas nas quatorze lavouras de morango ao longo do tempo.
Verifica-se que os valores médios de RB variaram de 0,08 µg
CO2.h-1.g-1 de solo (Propriedade 11) a 0,26 µg CO2.h-1.g-1 de
solo (Propriedade 8). Dentre os indicadores microbiológicos
estudados, os valores médios de RB não diferiram entre si ao
longo do tempo, i.e. entre as coletas, somente nas amostras de
solo coletadas na lavoura da Propriedade 11, quando aplicado o
teste DMS ao nível de 5% de significância.

155
Morangueiro Irrigado

Tabela 6.6 – Teores médios de respiração basal (RB) no solo


nas lavouras de morango de 14 propriedades, em quatro coletas.
RB (µg CO2 h-1 g-1 solo)
Coleta
Propriedades Média
1 2 3 4
1 0,29 a 0,09 b 0,11 b 0,17 b 0,17
2 0,21 a 0,17 ab 0,12 bc 0,06 c 0,14
4 0,17 a 0,06 b 0,10 ab 0,06 b 0,09
5 0,24 a 0,03 b 0,11 b 0,06 b 0,11
6 0,43 a 0,15 b 0,12 bc 0,06 c 0,19
7 0,18 a 0,13 ab 0,15 a 0,06 b 0,13
8 0,39 a 0,26 b 0,23 bc 0,17 c 0,26
9 0,20 a 0,06 b 0,13 ab 0,06 b 0,11
10 0,17 a 0,08 bc 0,14 ab 0,05 c 0,11
11 0,12 a 0,06 a 0,09 a 0,07 a 0,08
12 0,39 a 0,17 b 0,09 b 0,14 b 0,20
13 0,25 a 0,13 b 0,09 b 0,09 b 0,14
14 0,28 a 0,11 bc 0,18 b 0,08 c 0,16
15 0,26 a 0,17 b 0,13 bc 0,08 c 0,15
Média 0,25 0,12 0,13 0,09
Letras iguais ao longo da mesma linha não diferem entre si ao nível
de 5% de significância aplicando o teste DMS.

6.2.3 Indicadores de fertilidade

a) Nitrogênio

Como observado para outros atributos que são


influenciados pela matéria orgânica do solo, os maiores valores
de nitrogênio total do solo foram verificados nas lavouras em
que se encontraram os maiores valores de matéria orgânica
(Tabela 6.7).

156
Capítulo VI

Tabela 6.7 – Teores médios de nitrogênio total (Ntotal) no solo


nas lavouras de morango de 14 propriedades, em quatro coletas.

Ntotal (g.kg-1)
Coleta
Propriedades Média
1 2 3 4
1 0,58 a 0,58 a 0,58 a 0,51 a 0,56
2 0,72 a 0,78 a 0,70 a 0,73 a 0,73
4 0,37 a 0,45 a 0,31 a 0,41 a 0,39
5 0,57 a 0,34 a 0,47 a 0,45 a 0,46
6 0,68 a 0,54 a 0,47 a 0,60 a 0,57
7 0,49 a 0,56 a 0,54 a 0,48 a 0,52
8 1,10 a 1,12 a 0,98 a 0,99 a 1,05
9 0,55 a 0,54 a 0,57 a 0,51 a 0,54
10 0,64 a 0,73 a 0,64 a 0,53 a 0,63
11 0,46 a 0,45 a 0,46 a 0,38 a 0,44
12 0,88 a 0,83 a 0,72 a 0,86 a 0,82
13 0,99 b 1,04 b 1,35 a 0,87 b 1,06
14 0,92 a 1,02 a 0,95 a 1,03 a 0,98
15 1,28 a 1,40 a 1,42 a 1,18 a 1,32
Média 0,73 0,74 0,73 0,68
Letras iguais ao longo da mesma linha não diferem entre si ao nível
de 5% de significância aplicando o teste DMS.

b) Fósforo

A Tabela 6.8 apresenta a distribuição dos teores


médios de fósforo (P) determinados a partir da coleta de
amostras de solo em cada uma das 14 lavouras de morango ao
longo do tempo e do espaço. O teor médio de fósforo foi
classificado como muito alto em todas as amostras coletadas,
de acordo com a classificação encontrada em CQFS (2004).

157
Morangueiro Irrigado

Tabela 6.8 – Teores médios de fósforo no solo nas lavouras de


morango de 14 propriedades, em quatro coletas.

Fósforo (mg.dm-3)
Coleta
Propriedades Média
1 2 3 4
1 161 b 161 b 232 a 199 ab 189
2 140 b 210 a 166 ab 192 ab 177
4 248 a 209 a 211 a 236 a 226
5 70 b 131 a 118 ab 88 ab 102
6 125 a 116 a 131 a 169 a 136
7 110 a 101 a 138 a 110 a 115
8 50 ab 49 b 111 a 79 ab 73
9 106 a 114 a 139 a 117 a 120
10 127 a 99 a 143 a 146 a 130
11 78 a 77 a 85 a 101 a 86
12 155 b 139 b 218 a 178 ab 173
13 104 a 125 a 88 a 94 a 103
14 72 a 88 a 133 a 120 a 104
15 224 a 189 a 185 a 183 a 196
Média 127 129 150 145
Letras iguais ao longo da mesma linha não diferem entre si ao nível
de 5% de significância aplicando o teste DMS.

c) Potássio

Os teores médios de potássio (K) determinados nas


amostras de solo coletadas em cada uma das quatorze lavouras
de morango envolvidas neste trabalho são apresentados na
Tabela 6.9. Segundo a CQFS (2004), a classificação dos teores
médios de K variou de muito alto (Propriedades 4, 5, 9, 11, 12,
13, 14 e 15) a alto (Propriedades 1, 2, 6, 7, 8 e 10). O teste de
comparação de médias indica que os teores de K não diferiram
significativamente ao longo do tempo nas amostras de solo
coletadas nas Propriedades 1, 5, 6, 7, 8, 10 e 11.

158
Capítulo VI

Tabela 6.9 – Teores médios de potássio no solo nas lavouras de


morango de 14 propriedades, em quatro coletas.

Potássio (cmolc.dm-3)
Coleta
Propriedades Média
1 2 3 4
1 0,36 a 0,27 a 0,23 a 0,26 a 0,26
2 0,46 a 0,28 ab 0,22 b 0,33 ab 0,33
4 0,72 a 0,30 b 0,27 b 0,44 b 0,43
5 0,33 a 0,27 a 0,17 a 0,25 a 0,26
6 0,30 a 0,27 a 0,24 a 0,39 a 0,30
7 0,31 a 0,24 a 0,23 a 0,24 a 0,25
8 0,34 a 0,28 a 0,18 a 0,21 a 0,25
9 0,46 a 0,29 ab 0,26 ab 0,24 b 0,31
10 0,34 a 0,26 a 0,21 a 0,24 a 0,26
11 0,35 a 0,30 a 0,22 a 0,40 a 0,32
12 1,03 a 0,59 b 0,30 c 0,65 b 0,64
13 0,62 a 0,32 b 0,27 b 0,30 b 0,38
14 0,50 a 0,48 a 0,24 b 0,44 a 0,41
15 1,18 a 0,30 b 0,27 b 0,30 b 0,51
Média 0,52 0,31 0,24 0,33
Letras iguais ao longo da mesma linha não diferem entre si ao nível
de 5% de significância aplicando o teste DMS.

6.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Esse estudo possibilitou identificar que o manejo do
solo utilizado pelos produtores deve ser conduzido em função
de elevar os teores de matéria orgânica. Também, constatou-se
que a aplicação de fertilizantes está acima do necessário, não
seguindo as recomendações fornecidas pela análise de solo.

159
Morangueiro Irrigado

6.4 LITERATURA CITADA


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Impressão:
Graphos Ltda
Rua Gonçalves Chaves, 659 – Lj. 09 – Pelotas, RS.
2009
Pelotas, RS

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