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HISTÓRIA GERAL

Eventos lembrados em 2009

Veja, abaixo, os principais acontecimentos históricos lembrados no ano de 2009:

No mundo

 Bicentenário de Charles Darwin e 150 anos de "A origem das espécies"


Com sua obra Sobre a origem das espécies através da seleção natural, publicada em
1859 e elaborada a partir de investigações realizadas principalmente nas Ilhas
Galápagos, Charles Darwin (1809-1882) contrapôs-se à versão cristã da criação do
mundo - e às chamadas teorias criacionistas. A obra colocou o naturalista inglês entre os
cientistas mais criticados e mais elogiados da história. As ideias de Darwin -
basicamente, a teoria da seleção natural, que explica a evolução das espécies - o mantêm
atual e polêmico.

 40 anos da chegada do homem à Lua

O Programa Espacial Apollo, dos EUA, lançado em 29 de julho de 1960, chegou ao seu
auge a 20 de julho de 1969. Em plena Guerra Fria, a nave Apollo 11 levou o primeiro
homem a pisar na Lua, o que representou uma vitória tecnológica sobre o mundo
comunista, representado, à época, pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas -
URSS. "É um pequeno passo para um homem, mas um salto para a humanidade", disse
o astronauta Neil Armstrong, ao desembarcar do módulo Eagle. Ele e Edwin "Buzz"
Aldrin fincaram a bandeira dos EUA em solo lunar e permaneceram na superfície da
Lua durante 21 horas, coletando amostras de rochas e poeira. Com isso, a Nasa cumpriu
a promessa feita nove anos antes pelo presidente John Kennedy, de levar os norte-
americanos à Lua ainda naquela década.

 20 anos da derrubada do Muro de Berlim

Durante 28 anos, o Muro de Berlim foi o símbolo por excelência da Guerra Fria, da
bipolarização do mundo e da divisão da Alemanha. Formado por duas barreiras de
concreto de 2,40 m, cercas de arame farpado com armadilhas e torres de guarda, o muro
separou amigos, famílias e uma nação. A queda do Muro foi consequência direta das
reformas realizadas por Mikhail Gorbatchev na União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas - URSS: desmontagem da estrutura repressiva; fim do regime de partido
único; e redução drástica dos poderes da KGB (serviço secreto comunista) e da presença
de tropas soviéticas nos países da Europa Oriental. Assim, entre 1989 e 1991, todos os
países do Leste Europeu passaram por revoluções internas que varreram os antigos
governos comunistas apoiados pela URSS. Na Alemanha Oriental, o colapso do regime
foi simbolizado pela queda de Eric Honecker, presidente do Conselho de Estado, que
renunciou em 18 de outubro de 1989, e pela derrubada do Muro, destruído pela própria
população. Em 1991, a Alemanha Oriental foi reunificada à Alemanha Ocidental.

 20 anos do Massacre de Tiananmen

Com a queda do Muro de Berlim, o fim da União Soviética e a ruína dos regimes
comunistas no Leste Europeu, os estudantes chineses ocuparam a praça da Paz Celestial
(Praça Tiananmen) em abril de 1989. Em termos locais, uma das causas do movimento
pacífico dos estudantes foi a morte do líder partidário Hu Yaobang, que apoiava
reformas políticas no país. Os protestos pediam democratização do país, fim da
corrupção e melhores condições de vida. As passeatas chegaram a reunir mais de 300
mil pessoas, concentrando-se na Praça da Paz Celestial, e repetiram-se por cerca de três
meses. Em 4 de junho de 1989, contudo, o exército da República Popular da China
tomou a praça e sufocou os protestos. Dados oficiais apontam 241 mortos, mas fontes
independentes calculam em até 7 mil as vítimas do massacre, sendo que os principais
líderes estudantis foram exilados.

No Brasil

 30 anos da Lei da Anistia

Em de 28 de agosto de 1979, no último governo da ditadura militar, o


presidente da República, general João Baptista de Oliveira Figueiredo,
promulgou a lei nº 6.683, anistiando todos os cidadãos punidos por
atos de exceção desde 9 de abril de 1964, data da edição do Ato
Institucional nº 1. A lei foi o marco do processo de liberalização política
iniciado, gradualmente, no final do governo anterior, do general
Ernesto Geisel. A Lei da Anistia permitiu o retorno ao país de milhares
de exilados políticos e concedeu perdão àqueles que cometeram
crimes políticos, deixando de fora os que haviam cometido atos
terroristas, os chamados "crimes de sangue", posteriormente
perdoados. A anistia foi mútua, ou seja, também livrou da justiça os
militares envolvidos em ações repressivas. Entre presos, cassados,
banidos, exilados ou simplesmente destituídos de seus empregos, a
Lei de Anistia beneficiou cerca de 4.700 pessoas.

 15 anos do Plano Real

O Plano Real interrompeu, em 1994, uma sucessão de altos índices


inflacionários na história da economia do Brasil, o país que, durante a
segunda metade do século 20, teve a maior inflação do mundo. Além
de ser uma espécie de imposto contra o pobre, a inflação dificultava o
planejamento da vida de todas as pessoas, famílias e empresas,
criando um sistema em que os preços subiam aceleradamente; o que
transformava o futuro, portanto, numa incógnita. O Plano Real,
proposto, durante o governo Itamar Franco, pelo então ministro da
Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, seguiu três etapas: (a)
aprovação no Congresso Nacional de leis que permitissem ao governo
o controle das contas públicas; (b) criação da URV (Unidade Real de
Valor), que servia como unidade de valor estável para a moeda (à
época, o cruzeiro novo); e (c) com o alinhamento dos preços
alcançado graças à URV, criou-se a nova moeda, o Real. Esse plano
consolidou a estabilidade econômica do país.

Revolução Industrial
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

Convencionou-se chamar de Revolução Industrial o período histórico durante o qual a


Inglaterra se transformou, de sociedade feudal-mercantil, de economia
preponderantemente agrária, em uma sociedade de tipo novo para o século 18, ou seja,
numa economia industrial, caracterizada pela produção em grande escala, mediante a
utilização crescente de máquinas.

Apesar de a Inglaterra ter entrado tardiamente na era dos descobrimentos - e, portanto,


na competição com Portugal e Espanha pela divisão das terras descobertas -, ela foi a
nação europeia que mais rapidamente adaptou suas estruturas internas às novas
condições competitivas que se instauraram no mundo.

Outro fato que contribui à reestruturação da Inglaterra foi a reforma protestante, o que
levou à diminuição da influência da nobreza, à liquidação do poder do clero e ao
sequestro e à redistribuição das terras e dos bens da Igreja.

Numa fase seguinte, durante a Revolução Inglesa, a burguesia nascente consegue


debilitar também o poder do rei, criando assim uma nova classe dirigente, voltada ao
comércio e à busca de enriquecimento.

Lentamente, a Inglaterra se especializa em não só tirar proveito das colônias alheias,


mas em comerciar com elas, transportando inclusive escravos. Para se ter uma idéia
desse comércio, entre 1700 e 1750, as indústrias inglesas voltadas para o consumo
interno (alimentos e lã, por exemplo) aumentaram sua produção em 7%; ao passo que as
indústrias destinadas à exportação (tecidos de algodão) aumentaram a produção em
75%.

A rápida industrialização inglesa também foi favorecida pelos "cercamentos": as terras


que, durante o feudalismo, haviam sido de uso dos camponeses e moradores das vilas,
começaram a ser apropriadas por aquela nova classe dirigente. Nessas propriedades, a
agricultura era mais eficiente e a pecuária mais produtiva. Ao mesmo tempo, os
camponeses emigravam para as cidades, criando uma massa em busca de emprego.

As principais etapas da Revolução Industrial

 A expansão do comércio externo - e seus lucros fabulosos -


ampliam o volume de capital e estimulam a expansão das
manufaturas.

 Em 1733, um tecelão, John Kay, inventa uma lançadeira volante,


pequeno aperfeiçoamento do tear manual. Cria-se, assim, um
desequilíbrio tecnológico, pois as rocas de fiar passam a não ter
capacidade de produção suficiente para suprir com fios os teares mais
rápidos.

 Inventam-se novas máquinas de fiar. Uma delas, criada por


Richard Arkwright, por volta de 1764, era movida não mais
manualmente, mas por força hidráulica.

 A produtividade maior das novas máquinas de fiar e tecer causa


um novo problema: começa a faltar algodão, pois este não podia ser
descaroçado com suficiente rapidez.

 James Watt aperfeiçoa a máquina a vapor (usada na minas de


carvão para bombear água), criando um sistema de transmissão que
imprime movimentos a outros mecanismos.

 Eli Whitney, em 1793, inventa o cotton gin, que descaroçava


algodão três vezes mais rapidamente que um trabalhador.

 As plantações de algodão são expandidas.

 Surgem as grandes manufaturas, mecanizadas. O ritmo do


trabalho se acelera.

 Crescente tensão social, fruto da urbanização desordenada, dos


baixos salários e do aumento do número de desempregados.

 O Estado regulamenta as horas de trabalho e amplia as formas de


prestar assistência aos trabalhadores.

 Adapta-se a máquina a vapor às carruagens. Surgem as primeiras


locomotivas, ainda rudimentares.

 George Stephenson aperfeiçoa a locomotiva a vapor, consegue


uma concessão governamental para construir e operar uma linha e,
em 1825, inaugura a primeira estrada de ferro do mundo. Vinte anos
depois, a Inglaterra estava cruzada em todas as direções por ferrovias.

 Em 1808, o primeiro navio a vapor, de madeira, cruza o Atlântico.


Em 1837, vapores já iam regularmente à Índia. Em 1838 foi construído
o primeiro navio de ferro, o Great Britain.

 Aumenta a produção siderúrgica e metalúrgica na Inglaterra. Em


1856, Bessemer descobre, ao purificar o ferro, a maneira de fabricar
aço.

 A Inglaterra se transforma na oficina mecânica do mundo

Crise econômica mundial


Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
Uma crise é, basicamente, um desequilíbrio que ocorre em setores
isolados da economia, mas que pode contaminar todo o sistema
econômico. Esses desequilíbrios sempre ocorreram, mesmo antes do
capitalismo, quando acontecia, por exemplo, a escassez súbita de um
bem, provocada, quase sempre, por fatores naturais (secas,
inundações, etc.) ou acontecimentos sociais (guerras, revoluções,
etc.).

À medida que o capitalismo evoluiu e que a economia se tornou mais


complexa, as crises continuaram a ocorrer, pois elas fazem parte de
um processo cíclico, inerente ao próprio desenvolvimento econômico.
São flutuações periódicas e alternadas de expansão e contração da
atividade econômica, e podem ocorrer com diferentes intensidades.

Entenda a crise econômica mundial em 15 etapas:

 1) A partir de 2001, o mercado imobiliário dos Estados Unidos passou por uma fase
de expansão acelerada.

 2) Com a ajuda do Federal Reserve (o Banco Central norte-americano), que passou


a reduzir a taxa de juros, a demanda por imóveis cresceu, atraindo compradores.

 3) Ao mesmo tempo, com os juros baixos, cresceu o número de pessoas que


hipotecavam seus imóveis, a fim de usar o dinheiro da hipoteca para pagar dívidas ou
consumir.

 4) Em meio à febre de comprar imóveis ou hipotecá-los, as companhias


hipotecárias passaram a atender clientes do segmento subprime (de baixa renda, às
vezes com histórico de inadimplência). Contudo, como o risco de inadimplência desse
setor é maior, os juros cobrados também eram maiores.
 5) Diante da promessa de retornos altos aos empréstimos, os bancos compravam
esses títulos subprime das companhias hipotecárias e liberavam novas quantias de
dinheiro, antes de o primeiro empréstimo ser pago.

 6) Ao mesmo tempo, esses títulos lastreados em hipotecas eram vendidos a


outros investidores, que, por sua vez, também emitiam seus próprios títulos,
igualmente lastreados nos subprime, passando-os, a seguir, para frente.

 7) Todos se esqueceram, no entanto, de que se o primeiro tomador do empréstimo


não consegue pagar sua dívida inicial, ele dá início a um ciclo de não-recebimento, de
tal maneira que todo o mercado passa a ter medo de continuar emprestando dinheiro ou
comprando novos títulos subprime.

 8) A partir de 2006, os juros, que vinham subindo desde 2004, encareceram o


crédito e afastaram os compradores de imóveis. Como a oferta começou a superar a
demanda, o valor dos imóveis passou a cair.

 9) Com a subida dos juros, as dívidas ficaram mais caras (e também as prestações
das hipotecas), o que aumentou a inadimplência, fazendo com que a oferta de crédito
também diminuísse.

 10) Sem oferta de crédito, a economia dos EUA se desaqueceu, pois, se há menos
dinheiro disponível, compra-se menos, o lucro das empresas diminui e empregos não
são gerados.

 11) Preocupado com os pagamentos de créditos subprime nos EUA, o banco BNP
Paribas congelou cerca de 2 bilhões de euros de alguns fundos.

 12) O mercado imobiliário, então, entrou em pânico, pois o ciclo de empréstimos


sobre empréstimos havia sido congelado. Começaram a surgir os pedidos de
concordata.

 13) A crise passou a afetar todo o sistema bancário, afinal, as instituições financeiras
apostavam nos títulos subprime. Várias instituições se viram à beira da falência. E se
descobriu que, com a globalização, o sistema financeiro internacional estava
contaminado e sofreria graves consequências.

 14) Instalou-se, assim, uma crise de confiança e os bancos pararam de emprestar,


congelando a economia, reduzindo o lucro das empresas e provocando desemprego.

 15) Muitos países entraram em recessão, e seus respectivos governos têm, desde
então, tomado diferentes medidas para aquecer a economia e, ao mesmo tempo, garantir
que o sistema financeiro volte a emprestar.

Crise de 1929 - crash na Bolsa e New


Deal
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

O maior período de crise econômica mundial ocorreu entre os anos de 1929 e 1933.
Atingiu, em primeiro lugar, a economia norte-americana, espalhando-se em seguida
para a Europa e, a seguir, para todos os continentes.

Veja, a seguir, as etapas da crise:

 Em 1929 vivia-se um momento de euforia, de intensa especulação na Bolsa de


Valores dos Estados Unidos. Os valores das ações estavam em níveis elevadíssimos,
fora da realidade.

 De repente, em 24 de outubro, 70 milhões de títulos foram jogados no mercado -


mas não encontraram quem os comprasse. Sem demanda pelos papéis, os preços das
ações e dos títulos despencaram, gerando uma onda de desconfiança irracional. O dia
passou à história como "Quinta-Feira Negra".
 A desconfiança contaminou outras áreas da economia, inclusive o setor produtivo.
Os bancos congelaram os empréstimos, as fábricas começaram a parar, a demanda se
retraiu, os lucros despencaram.

 Como uma bola de neve, as falências se sucederam e milhões de trabalhadores


perderam o emprego.

 Quando a crise atingiu proporções internacionais, o comércio mundial ficou


reduzido a um terço do que era antes de 1929.

 Tentando proteger suas economias, os países aumentaram as taxas alfandegárias, o


que reduziu ainda mais o comércio internacional.

 Coube aos Estados instituir mecanismos para controlar a crise e reativar a produção.

New Deal

 Nos EUA, o presidente Herbert Hoover preferiu deixar que o


próprio mercado se regulasse, o que provocou uma crise social sem
precedentes.

 Em 1933, com a eleição de Franklin Delano Roosevelt, criou-se o


New Deal, um programa de intervenção estatal na economia.

 Roosevelt interveio em todo o sistema econômico. Criou um


audacioso plano de obras públicas, controlou o sistema financeiro,
desvalorizou o dólar (para favorecer as exportações) e criou a
Previdência Social.

 O plano de Roosevelt fortaleceu e consolidou o sistema capitalista


nos EUA. Nos anos de sua aplicação, o grande capital passou por um
intenso processo de desenvolvimento e concentração, enquanto
pequenas empresas eram eliminadas ou absorvidas.
 O período de 1929 a 1933 deixou uma lição: os mercados vivem
crises periódicas - e se não ocorrem respostas rápidas para os
problemas, essas crises tendem a se alastrar, afetando vários setores
da economia e podendo alcançar um poder de destruição em massa.

Revolução Francesa
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

A Revolução Francesa foi o ponto culminante do Iluminismo, um movimento de ideias


que mudou a face do mundo e que tem raízes não somente na França, mas em todos os
centros vitais do pensamento europeu nos séculos 17 e 18.

A Guerra de Independência dos EUA, deflagrada em 1775, também exerceu profunda


influência nos rumos da França. Não criou somente um modelo revolucionário a seguir,
mas foi responsável pelo agravamento da crise das finanças francesas, em consequência
do apoio concedido pela França aos Estados Unidos durante a guerra contra a Grã-
Bretanha.

Antecedentes

 Em 1787, o pagamento da dívida pública francesa absorvia mais da metade da


receita. A balança comercial entrou em déficit e a agricultura sofreu tremenda crise,
causada pela seca. O custo de vida subiu rapidamente.

 Começam a eclodir motins causados pela fome, quer nos campos quer nas cidades,
que eram invadidas pelos trabalhadores agrícolas desempregados. Os esbanjamentos da
família real, em 1788, fazem o tesouro público suspender todos os pagamentos,
prenunciando a bancarrota.

 O ministro das finanças propõe a criação de novos impostos sobre a nobreza e o


clero. A Assembleia dos Notáveis (que representava a nobreza e o clero) reage
energicamente, declarando que tal medida só poderia ser decretada pelos Estados
Gerais (nobreza, clero e povo).

 O rei convoca os Estados Gerais para 1792. O parlamento de Paris (na época, uma
espécie de corte suprema) reage, reclamando a convocação dos Estados Gerais para
1789.

 Após enfrentar distúrbios em várias cidades, o rei cede, convocando os Estados


Gerais para 1º de maio de 1789. São convocadas eleições para escolher os deputados. O
rei instala os Estados Gerais em 5 de maio de 1789.

 Os deputados declaram-se em "assembleia nacional" e atribuem-se o direito de criar


impedimentos à política financeira do governo. O rei manda tropas cercarem o edifício
da Assembleia Nacional.

 Pressionado, o rei apresenta um programa de reformas, mas omitindo-se nas


questões cruciais. O rei intima os deputados a se dissolverem e se reunirem não como
"assembleia nacional", mas divididos por Estados (nobreza, clero e povo). Os
representantes do clero e da nobreza obedecem, mas os do Terceiro Estado se recusam.

 A Assembleia Nacional continua seus trabalhos, declarando-se, a 9 de julho,


Assembleia Nacional Constituinte.

Tomada da Bastilha e Revolução

 Uma tropa de 20 mil soldados cerca Paris, que acompanha o


desenrolar dos acontecimentos em grande tensão. Os parisienses,
contudo, enfrentam as tropas e tomam de assalto, a 14 de julho, a
fortaleza da Bastilha, depósito de armas e também prisão do Estado.

 O povo se organiza e improvisa uma guarda nacional armada e


uma administração formada de notáveis que passa a governar Paris.
Outras cidades da França seguem o exemplo da capital.
 Os camponeses se sublevam, atacando castelos e queimando os
registros dos tributos feudais.

 Os eventos espalham o pânico pela França - é o chamado "grande


medo".

 A Assembleia aprova, na noite de 4 de agosto, a abolição do


regime e dos privilégios feudais, a supressão dos dízimos e a
igualdade perante os impostos.

 A 26 de agosto, a Assembleia aprova a Declaração dos Direitos do


Homem, documento de significação universal, válida para qualquer
país ou forma de governo.

 O rei, alarmado, recusa-se a sancionar a Declaração. Na verdade,


articula medidas de força contra a insubordinação da Assembleia.

 O povo se rebela novamente. Um numeroso grupo marcha para


Versalhes e prende o rei e a rainha, mantendo-os como reféns.

 A Assembleia Constituinte passa a governar o país.

 Em 1791, aprova-se uma nova Constituição.

 As crises se sucederão, contudo, inclusive com a resistência


francesa contra as tropas prussianas, que tentam tomar o país e
restabelecer a monarquia.

 Uma nova sublevação popular, em 10 de agosto de 1792,


radicaliza ainda mais a revolução. Em 21 de janeiro de 1793, o rei é
executado.

Iluminismo
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
O termo Iluminismo - ou Século das Luzes - designa o movimento filosófico, religioso,
científico e político iniciado na segunda metade do século 17 e que dominou a Europa
durante o século 18.

As raízes do Iluminismo remontam a Erasmo de Roterdã e Maquiavel, cujas obras


abalaram a mentalidade medieval. Posteriormente, o pensamento científico de Galileu e
o racionalismo de Descartes também teriam papel predominante nas mudanças que
nasceriam da chamada "crise da consciência europeia", nascida de sucessivas guerras
religiosas, da descoberta de novos continentes e das conquistas da física e da
astronomia.

Características do Iluminismo

1. Busca de um cristianismo sem dogmas, sem revelação divina, sem


mistérios e, sobretudo, sem milagres.

2. Inviolabilidade das leis da natureza: exclusão de qualquer


intervenção sobrenatural (a natureza é movida por uma regularidade
pontual e racional).

3. A razão como supremo critério de valor e de análise do real (o


direito e as instituições não devem mais seguir preceitos supostamente
divinos, mas humanos e racionais).

4. Liberalismo filosófico e religioso (que prepara o liberalismo


econômico).

5. Otimismo: crença no progresso e na capacidade de se aperfeiçoar


do gênero humano e de suas instituições.

6. França como centro de irradiação do Iluminismo para toda a Europa


(obras de Voltaire, Diderot, etc.)

7. Despotismo esclarecido: monarcas absolutos realizaram reformas


profundas, inspirados pelo Iluminismo: tolerância religiosa, limitação ou
abolição dos privilégios do feudalismo, modernização do processo
penal e outras reformas administrativas.

O Iluminismo inspirou revoluções e processos de independência em


vários países; e influenciou parte da filosofia posterior, como o
hegelianismo. As idéias iluministas também se encontram na base das
reformas democráticas ocorridas no século 19 e no ideal socialis

Revolução Americana
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A Guerra da Independência dos EUA, um movimento emancipador das colônias
inglesas na América, teve início com manifestações de descontentamento contra a
situação injusta a que os colonizadores foram submetidos pela Grã-Bretanha. Pouco a
pouco, essas manifestações se transformaram em rebelião aberta, culminando na
proclamação de uma república independente, com base em princípios democráticos que,
pela primeira vez, ganharam forma estatal.

Antecedentes

 Ao fim da Guerra dos Sete Anos (conflito entre a França, a Áustria e seus aliados,
de um lado, e a Inglaterra, Portugal e seu aliados, de outro), recaiu sobre os colonos
norte-americanos a obrigação de pagar parte da dívida inglesa contraída com a guerra.

 Em 1764, é baixado o Sugar Act, lei de imposto sobre o açúcar. O novo tributo
passou a pesar não somente sobre o açúcar refinado importado pelas colônias, mas
também sobre vinhos, café, tecidos e outras mercadorias.

 Em 1765, criado o Stamp Act (lei do selo): papéis referentes a transações comerciais
e até jornais deveriam ser selados, o que representava novo encargo. Os novos impostos
provocam alta do custo de vida.

 Protestos se alastram por várias regiões. Cria-se uma organização de luta, os Filhos
da Liberdade, composta sobretudo de trabalhadores afetados pela carestia.
 Os corpos legislativos das nove províncias coloniais decidem negar ao parlamento
britânico o privilégio de decretar novos impostos sem o assentimento das assembléias
norte-americanas.

 Boicote dos comerciantes às taxas inglesas se estende por diversos portos.

 Londres revoga a lei do selo, mas cria novas e pesadas taxas, conhecidas como
Townshend Acts.

 Seguem-se protestos em várias regiões e forte boicote. As importações da Inglaterra


caem.

 Londres abole alguns tributos, mas os choques prosseguem. Bandeiras inglesas são
queimadas em público.

 Sentimento de independência começa a ganhar corpo.

 Londres concede à Companhia das Índias Orientais o monopólio do comércio do


chá nas colônias.

A Revolução e Independência

 Motim de Boston: um grande lote de chá é recebido em Boston sob


violento protesto. Disfarçados de índios, patriotas sobem a bordo do
navio e jogam ao mar toda a carga. É o começo da revolução.

 O governo inglês ordena a repressão.

 O parlamento inglês vota o Quebec Act, pelo qual o Canadá


recebe mais privilégios do que as colônias norte-americanas.
 Em 5 de setembro de 1774, reúne-se em Filadélfia um congresso
continental, onde se elabora uma declaração de direitos enérgica,
reiterando-se o repúdio aos impostos.

 O rei Jorge 3º exige a submissão total das colônias.

 Tem início a guerra, em 19 de abril de 1775: insurretos armados


impedem o governador militar britânico de se apoderar de um depósito
de armas (em Concord, perto de Boston).

 Em junho de 1775, batalha de Bunker Hill (forças inglesas perdem


2.500 homens).

 Novo congresso em Filadélfia decreta mobilização geral e cria um


exército próprio, sob o comando de George Washington.

 Alguns governadores ingleses voltam para Londres; outros são


aprisionados.

 Britânicos sofrem nova derrota, em Charleston.

 Em maio de 1776, novo congresso aprova a tese da


independência. No dia 7 de junho, proposta de formação de uma
federação norte-americana livre e independente.

 4 de julho de 1776: congresso aprova a Declaração de


Independência, redigida por Thomas Jefferson.

 A guerra se prolonga. São feitas alianças com países europeus,


principalmente com a França, que apóia os norte-americanos.

 Após várias batalhas, os ingleses aceitam a independência. A paz


é ratificada em 3 de setembro de 1783.
 Em 1787, depois de enfrentar inúmeros problemas na organização
da nova nação (dentre eles, uma crise financeira quase catastrófica),
vota-se a Constituição definitiva dos EUA, que colocava em prática,
pela primeira vez na história, o princípio da separação dos poderes
formulado por Locke e Montesquieu.

Revoluções de 1848
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Durante o ano de 1848 a Europa foi sacudida por uma série de revoluções de cunho
liberal ("Primavera dos Povos"). O que levava os cidadãos a participarem das barricadas
foi uma mescla de aspirações que iam do socialismo utópico à redução da jornada de
trabalho. O movimento em cadeia iniciou-se com a insurreição da Sicília e se estendeu
até a guerra na Hungria.

Itália

O movimento italiano não teve um sentido social. Seus líderes, animados por ideais
liberais e republicanos, desejavam a unificação do país, o que ocorreria apenas em 1861.
A Sicília rebelou-se contra a dominação da dinastia dos Bourbons em 1848. Apesar de
esmagada em poucos dias, a rebelião provocou reações em Milão - que se insurgiu
contra a dominação austríaca -, Veneza e no Piemonte. Garibaldi teve papel estratégico
nas lutas, mas acabou aprisionado e condenado ao exílio. A ordem foi restabelecida.

França

O rei, da dinastia dos Orleans, enfrentava dois grupos oposicionistas:


os legitimistas, que defendiam a monarquia, mas eram adeptos dos
Bourbons, e os liberais, que se opunham à política ultraconservadora.
A crise agrícola provocava escassez de alimentos, enquanto uma crise
financeira fazia as sociedades conspiradoras proliferarem. As pressões
políticas exigiam o sufrágio universal, mas o governo proibiu
manifestações públicas. O povo se rebela. No dia 23 de fevereiro de
1848, um grupo de exaltados se manifesta em frente ao Ministério do
Exterior. A tropa abre fogo e centenas morrem. Tem início a
insurreição. A Guarda Nacional, aderindo à rebelião, força o rei a
abdicar.

Vitoriosa, a massa não sabe como agir, mas um governo provisório é


formado, composto de republicanos moderados (maioria) e
comunistas. A instabilidade se alastra. Há corrida aos bancos,
fechamento da bolsa de valores e falências. Surgem as primeiras
divisões entre moderados e comunistas. A assembléia constituinte é
instalada em 4 de maio. Dias depois, a multidão invade a assembléia.
Os líderes extremados são presos. Há uma nova tentativa de
revolução em junho, vencida com rapidez: mais de dez mil são presos,
banidos para a Argélia ou fuzilados. A nova constituição é votada em
fevereiro de 1849. Na eleição presidencial, em dezembro, os
moderados vencem. O novo presidente daria um golpe de Estado - "O
18 Brumário de Luís Bonaparte" - em 2 de dezembro de 1851, criando
o Segundo Império.

Alemanha

Nesse país igualmente desunido, as aspirações liberais eram representadas pela


intelectualidade. Operários e camponeses fizeram levantes em vários Estados (a
Alemanha só seria unificada em 1871). No dia 18 de março, as forças da monarquia
prussiana mataram centenas que haviam levantado barricadas em Berlim. Aceitando as
reclamações liberais, a monarquia convocou uma assembléia nacional, eleita de forma
indireta. Apesar dos debates para a elaboração da nova constituição, ela foi recusada
pelo rei, que dissolveu o parlamento.

Áustria

Contra o regime monárquico formou-se uma corrente oposicionista que incluía setores
da aristocracia. Em março de 1848, o movimento realiza barricadas e manifestações em
Viena. O rei forma um ministério liberal e promete nova constituição. Em maio, o povo
volta à carga. Há rebeliões em Praga, então sob domínio austríaco. O governo outorga
uma constituição provisória e, em julho, a assembléia constituinte se reúne. Ocorre um
novo levante popular, mas o exército ataca, fuzilando inclusive deputados radicais. Em
novembro, o imperador abdica, mas a monarquia seria restabelecida em 1852.

Hungria

O movimento pela independência do domínio austríaco vinha crescendo desde 1830. As


eleições de 1847 deram vitória aos liberais. As primeiras rebeliões ocorrem em
fevereiro e março de 1848. Em abril, forma-se um governo no qual a Hungria torna-se
virtualmente livre, mas no início de setembro o país é invadido pelo exército da Áustria.
A lei marcial é decretada, o novo ministério se demite. A guerra se amplia em 1849.
Com a ajuda dos russos, que invadem a Hungria pelo norte, a revolução é liquidada. A
repressão é implacável, com centenas de cidadãos executados.

Guerra Fria - meio século de rivalidades


Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

O fim da Segunda Guerra Mundial deu início à Guerra Fria, um processo que marcou as
relações internacionais ao longo da segunda metade do século 20 e significou a
bipolarização do mundo, dividido entre os dois países que saíram daquele conflito como
potência - a União Soviética (comunismo) e os Estados Unidos (capitalismo).

Em 1947, os EUA aprovaram o Plano Marshall, com o objetivo de prestar ajuda


econômica a países da Europa ocidental e aprofundar sua influência na região, criando
um bloco de nações a seu favor. Os soviéticos reagiram com a criação de um plano de
ajuda econômica ao bloco de países do Leste europeu, cujos partidos comunistas
ficaram sob sua orientação ("Cortina de Ferro").

A tensão entre as duas potências provocou também a divisão de Berlim - o Muro de


Berlim foi construído em 1961 - e da própria Alemanha (em República Federal Alemã,
capitalista, e República Democrática Alemã, socialista). Além disso, os EUA
patrocinaram a criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN (1949),
ao que a URSS respondeu com o Pacto de Varsóvia (1955).

Guerra da Coréia e Revolução Cubana

Ao longo da década de 1950, a polarização aumentou, resultando num conflito armado


na península coreana que acabou dividida em dois países: Coréia do Sul (capitalista) e
Coréia do Norte (comunista). Ao mesmo tempo, alguns países europeus rejeitaram a
condição de satélites dos EUA. A URSS rompeu relações com a China (país que se
tornara comunista em 1949) e se viu às voltas com contestações da Iugoslávia e da
Hungria. Em 1956, tropas do Pacto de Varsóvia invadiram a Hungria, promovendo um
massacre.
Em 1959, a tensão entre norte-americanos e soviéticos voltou a crescer. Cuba passou
por uma Revolução e aproximou-se, gradativamente, da União Soviética. Dois anos
depois, os Estados Unidos autorizaram a invasão da ilha por um grupo de exilados
cubanos, derrotados na Baía dos Porcos. Cuba aderiu oficialmente ao comunismo. Para
evitar que a América Latina seguisse pelo mesmo rumo, os EUA interferiram na
política interna de diversos países do continente, favorecendo ditaduras militares de
direita (por exemplo, no Brasil).

Primavera de Praga e Vietnã

Nos últimos anos da década de 1960, enquanto os países do mundo ocidental explodiam
num quadro de contestação à ordem vigente, a Tchecoslováquia passou a exigir maior
independência da URSS. O movimento recebeu o nome de Primavera de Praga e foi
sufocado pelas tropas do Pacto de Varsóvia em agosto de 1968.

Ao fim dos anos 1960, a economia da URSS dava os primeiros sinais de


desaquecimento, fruto da ineficiente máquina burocrática e dos gastos militares. No
início da década seguinte, os Estados Unidos sofriam reveses no plano internacional,
sendo forçados a se retirar do Vietnã, que caía sob a influência do comunismo chinês, e
perdendo aliados na Nicarágua, com a Revolução Sandinista, de inclinação socialista, e
no Irã, com uma revolução fundamentalista islâmica.

Na Cortina de Ferro, a crise política e econômica se aprofundava. Em 1979, na Polônia,


o movimento Solidariedade reivindicava liberdade e melhores condições de vida. Os
Estados Unidos endureceram as relações com a URSS e não só defenderam a instalação
de mísseis nucleares na Europa como empreenderam o projeto de levar ao espaço
sideral a corrida armamentista que travavam com seu adversário.

Colapso comunista

O esforço soviético para acompanhar o desenvolvimento tecnológico-


militar norte-americano resultou no colapso. A economia soviética
começou a dar sinais de esgotamento. Diante da situação caótica, a
União Soviética decidiu reduzir as despesas com o setor militar e
realizar amplas mudanças: a Perestroika (reestruturação, no sentido
econômico) e a Glasnost (transparência, significando desmontagem
da estrutura repressiva, fim do regime de partido único e retirada das
tropas soviéticas dos países da Cortina de Ferro).
Os efeitos foram imediatos. Entre 1989 e 1991, os países do Leste
Europeu passaram por revoluções internas que varreram os
comunistas. Em Berlim, o Muro foi derrubado por populares. A
Alemanha foi reunificada. Na Iugoslávia, lutas nacionais desintegraram
o país e geraram uma série de conflitos étnicos e religiosos.

Em agosto de 1991, os comunistas perderam o poder na União


Soviética, que se desintegrou, voltando a ser a Rússia e uma
comunidade de repúblicas independentes. Os EUA saíram vitoriosos
da Guerra Fria, introduzindo o mundo na Era do neoliberalismo e da
globalização.

Herdeiros da aristocracia construíram a


República
Roberson de Oliveira
Especial para a Folha de S. Paulo
O fim da escravidão nos EUA, após a Guerra de Secessão, e a participação de milhares
de ex-escravos nas fileiras do Exército brasileiro na Guerra do Paraguai sensibilizaram
setores urbanos e estimularam o surgimento do movimento abolicionista.

O movimento começou timidamente, mas suas mobilizações e pressões foram


responsáveis por medidas como a Lei do Ventre Livre e a do Sexagenário, durante o
Império. A partir de 1885, a estratégia das elites, que era a de acabar com a escravidão
de forma gradual, precipitou uma divisão no movimento abolicionista.

Luis Gama, um ex-escravo, firmou-se como líder da ala que decidiu se manter na luta
respeitando os limites legais, por meio de processos na Justiça.

Um outro grupo, denominado caifazes, resolveu se organizar, invadir as fazendas e


libertar os escravos, desafiando o direito de propriedade, as forças policiais e a ordem
escravista-imperial.

A instabilidade provocada por essas pressões culminou na Lei Áurea de 1888 que
libertou, nas principais províncias escravistas (Minas, Rio e São Paulo),
aproximadamente 461 mil escravos.

Considerando que o tráfico africano foi proibido em 1850, o período de 38 anos até a
Lei Áurea demonstra que a estratégia de abolição gradual empreendida pelas elites
escravocratas foi bem sucedida. O objetivo era adiar ao máximo a abolição para que
pudessem explorar o trabalho dos escravos até que morressem com a morte, a
escravidão acabaria naturalmente. Foram os herdeiros dessa aristocracia que
construíram a república no Brasil.
Democracia
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
Suponha que você se tornou amigo de um estrangeiro que acabou de chegar ao Brasil
para passar as férias. Imagine que, um dia, ele lhe perguntará se o Brasil é uma
democracia. O que você iria responder?

Em princípio, é bem provável que sua resposta seja afirmativa e, de fato, se for assim,
ela estará correta. Há cerca de 20 anos, o Brasil é uma democracia e essa condição foi
conquistada pelo nosso próprio povo, que agüentou um governo ditatorial, imposto
pelos militares, de 1964 a 1985.

Mas o que significa dizer que o Brasil é uma democracia? Bem, num primeiro
momento, talvez seja possível dizer que o Brasil é uma democracia porque elegemos
nossos governantes, porque os direitos dos cidadãos brasileiros são estabelecidos por
leis, que também os garantem, porque - ao menos em tese - somos todos iguais perante
as leis, porque existe liberdade de imprensa, etc.

Por outro lado, alguém poderia questionar o caráter democrático de nosso país, levando-
se em conta nossos altos índices de pobreza e miséria, isto é, o fato de estarmos num
país que coloca entre aqueles com pior distribuição de renda no mundo. Além disso,
sabemos que há uma diferença muito grande do tratamento que o Estado dedica aos
ricos e aos pobres. Isso sem falar na questão da corrupção que - entra governo e sai
governo - parece jamais acabar.

Forma e substância
Bem, o Brasil é uma democracia, mas isso - por si só - não resolve todos os seus
problemas. Para resolvê-los, talvez o primeiro passo fosse justamente aprofundar a
compreensão que temos do conceito de democracia. Para isso, em primeiro lugar, é
importante estabelecer uma distinção entre os aspectos formais e substanciais de uma
democracia.

O aspecto formal da democracia constitui-se no conjunto das instituições características


deste regime político. Entre elas, destacam-se as eleições livres, o voto secreto e
universal, a autonomia dos poderes de Estado (Executivo, Legislativo e Judiciário), a
existência de mais de um partido político, e a liberdade de pensamento, expressão e
associação. Em outras palavras, estamos nos referindo às regras do "jogo" democrático,
ao estabelecimento dos meios pelos quais a democracia é posta em prática.

Já o aspecto substancial é aquele que se refere aos resultados do processo, aos fins a
serem alcançados. Aqui se destaca, em primeiro lugar, a existência efetiva - e não
somente em tese - da igualdade jurídica e política dos cidadãos. Ao mesmo tempo,
deve-se levar em conta também as desigualdades econômicas, que deveriam ser as
menores possíveis.

Ainda que as pessoas sejam diferentes e integrem grupos sociais diversos, ninguém
pode ser privilegiado ou discriminado no tocante a direitos básicos. Todos devem ter a
possibilidade de acesso aos bens materiais básicos como moradia, alimentação e saúde,
e ainda aos bens culturais, em todos os níveis: educação, profissionalização, lazer, arte,
etc.

Os meios e os fins
Atingir uma democracia substancial, porém, só é possível a partir do momento em que
se respeitam as regras do jogo. Nesse sentido, antes de mais nada, a democracia
pressupõe a existência de um estado de direito, ou seja, o respeito às leis, das quais a
principal é a Constituição do país. Além disso, é fundamental a autonomia dos Poderes
Legislativo e Judiciário. Uma das características do autoritarismo e da ditadura é a
submissão dos poderes Legislativo e Judiciário ao Executivo.

Na época da última ditadura militar no Brasil, a presidência da República emitia Atos


Institucionais e Decretos-Leis, que não precisavam ser nem debatidos nem aprovados
pelo Congresso Nacional. Na verdade, a democracia brasileira ainda não conseguiu se
livrar totalmente desse viés autoritário e ainda é constante o recurso às Medidas
Provisórias pelo Poder Executivo, que temporariamente passam por cima do
Legislativo.

Para ser de fato substancial, a democracia não pode permitir a prevalência de um poder
Executivo sobre os outros e deve estar baseada em uma legislação que realmente atenda
ao interesse da sociedade. Ao mesmo tempo, precisa contar com um poder Judiciário
eficiente e capaz de resistir às pressões, em especial do poder econômico, de modo que
qualquer cidadão - rico ou pobre - possa obter justiça.

O público e o privado
É particularmente importante observar o respeito à res publica, à coisa pública, que não
pode se sujeitar a interesses privados ou particulares. Por isso, o poder político deve ser
exercido de modo institucional e não pessoal. Quem está no poder encontra-se nessa
posição enquanto representante do povo. Ele não é o dono do poder. Sua posição é
transitória e será ocupada também por outras pessoas, pois está estabelecida a
rotatividade do exercício do poder.

Aliás, na democracia, o acesso ao poder se faz de forma ascendente, isto é, de baixo


para cima. A maioria da população, a base da sociedade, escolhe seus governantes,
contando com os recursos de, no mínimo, dois partidos políticos: o que é governa (após
eleito) e o que a ele se opõe, fiscalizando e questionando seus atos, tendo em vista o
interesse geral da população.

De fato, a democracia supõe o consenso, isto é, a aceitação geral das regras


estabelecidas após as discussões. Isso, porém, não elimina a existência do dissenso, isto
é, a possibilidade de discordar, sempre que necessário. Aliás, uma característica
essencial da democracia é a aceitação do confronto ou do conflito, como expressão das
opiniões divergentes. Faz parte do processo democrático a conversação e a negociação
para solucionar os conflitos.

Sociedade civil
Além disso, a multiplicação dos órgãos representativos da sociedade civil - ou seja, de
quem não está nas instâncias governamentais - amplia e aprofunda o regime
democrático na medida em que ativa as formas de participação popular. É isto que faz
da democracia um regime que não tem apenas um único centro, mas cujo poder se
irradia de diversas alas da sociedade.
Nesse sentido, são fundamentais as organizações - ocasionais ou permanentes - que
representam interesses de setores da coletividade. É o caso das associações de bairros,
dos mutirões, grupos contra a violência, grupos ecológicos, ao lado de outras
importantes instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil, a Associação de
Imprensa, os partidos políticos, os sindicatos, etc. A difusão de poderes dá condições
para o melhor cumprimento da vontade geral, bem como para o controle dos abusos e
arbitrariedades. Ao mesmo tempo, colabora com a transparência das ações nas diversas
instâncias de poder.

Para você pensar:


O processo democrático pode ser prejudicado pelo desvirtuamento da atividade
política, quando ela se volta para interesses particulares, ou se faz ao sabor de
casuísmos, oportunismos e conchavos. Mas será que a culpa disso pode ser atribuída
somente à classe política? A própria população, também, não seria responsável pelo
problema, caso ela assuma uma postura despolitizada e não-participante?

Irã rejeita acordo nuclear


Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
O resultado da décima eleição presidencial do Irã, realizada em junho de 2009,
reconduziu ao poder o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, reeleito com 62,63%
dos votos, enquanto seu principal opositor, Mir Hossein Mousavi, da Frente Reformista,
obteve 33,75% dos votos.

Ex-prefeito de Teerã, Ahmadinejad permanece no poder desde agosto de 2005, quando


foi eleito para seu primeiro mandato como presidente, após vencer as eleições com
quase 62% dos 47 milhões de eleitores. Depois de oito anos do governo reformista de
Mohammad Khatami, Ahmadinejad surpreendeu, naquela época, a comunidade
internacional, que apostava na vitória do ex-presidente Hashemi Rafsanjani, líder
religioso moderado que recebeu apoio dos reformistas.

Com uma retórica dirigida à parcela mais pobre dos iranianos, Ahmadinejad representa
a retomada dos valores e dos princípios da Revolução Islâmica liderada pelo aiatolá
Khomeini no final dos anos 70. Reeleito, prometeu novamente combater a corrupção,
implantar programas sociais e distribuir as enormes riquezas do país, que é o terceiro
maior produtor mundial de petróleo.

Programa nuclear e tentativa de acordo

Se em 2005 o resultado das eleições causou preocupação nos EUA e nos países da
União Europeia, o mesmo ocorreu em 2009. Washington continua afirmando que Teerã
não está em sintonia com a onda democrática em curso no Oriente Médio. Em resposta,
Ahmadinejad defende a continuação de seu programa de enriquecimento de urânio e
reafirmou o "direito inalienável" do Irã de investir em tecnologia nuclear para fins
pacíficos.
Preocupada, a União Europeia, alinhada aos EUA, suspeita que Teerã tenha a intenção
de desenvolver armas nucleares. Por esse motivo, desde a reeleição de Ahmadinejad, a
ONU, por meio de sua Agência Nuclear, tenta firmar um acordo com o Irã.

Contudo, apesar da conquista de vários avanços durante as negociações iniciadas em


outubro de 2009, as autoridades europeias e americanas afirmaram que os
representantes iranianos se recusaram a seguir adiante com o principal ponto do acordo:
uma provisão que exigiria que o Irã enviasse pelo menos três quartos de seu estoque
atual de urânio para a Rússia, onde seria processado e devolvido para uso em um reator
que fabrica isótopos medicinais em Teerã.

Na opinião de vários analistas, a recusa em assinar o acordo mostra que as verdadeiras


intenções de Ahmadinejad são bélicas, apesar de ele se declarar disposto ao diálogo.

Para o governo Obama, a questão é clara: se a estimativa sobre o estoque de


combustível nuclear iraniano for precisa, o acordo deixaria o país com pouco
combustível para fabricar armas até que o estoque seja preenchido com combustível
adicional, que o Irã está produzindo em violação aos mandatos do Conselho de
Segurança da ONU.

Estude o Renascimento sem precisar da


"decoreba"
Silvio Adega Pera*

Especial para o VestibUOL


O Renascimento pode ser definido como um processo de renovação cultural que se
desenvolveu na Europa entre os séculos XIV a XVI, mas que teve profundas
repercussões em toda a Idade Moderna (séc.XV a XVIII). Manifestou-se em todas as
áreas da produção cultural e artística, como por exemplo na música, na literatura, na
educação, filosofia, artes plásticas e nas ciências em geral. Este movimento foi muito
influenciado pela retomada vigorosa da cultura clássica (de Grécia e Roma antigas) que
vinha sendo feita pela elite intelectual do período, os humanistas. Pode ser considerado
também como uma espécie de ruptura com a Cultura Medieval, que tinha como sua
temática principal Deus e os valores da religião cristã católica.

O Renascimento constituiu-se numa das manifestações mais fecundas e criativas da


história do Ocidente e permitiu uma reflexão mais profunda acerca das estruturas
sociais vigentes, a renovação do pensamento religioso e uma nova imagem que o
homem tinha de si mesmo.

Uma das formas mais ricas para se mergulhar neste assunto é através das obras
produzidas pelos artistas e intelectuais da época. Filmes, passeios a museus e viagens
pela internet podem ser um bom caminho para isso. Vão aqui algumas sugestões:
Literatura
A melhor maneira de conhecer a literatura produzida no Renascimento é ler suas obras,
sendo que as principais são publicadas por várias editoras e facilmente encontrada em
bibliotecas e livrarias. Dom Quixote , de Miguel de Cervantes (1547 - 1616) conta a
história do famoso cavaleiro de La Mancha em um aventura errante pela Espanha para
fazer uma crítica aos valores da época medieval, que já não mais serviam nesse novo
mundo. Shakespeare (1564 - 1616) foi um escritor de enorme popularidade em sua
época e suas peças eram assistidas por milhares de pessoas, em geral gente do povo da
cidade, que lotavam a platéia do Globe ou do Rose, os dois teatros mais importantes de
Londres naqueles tempos. Seus textos também podem ser documentos fundamentais
para se entender a Inglaterra do século XVI, além de serem leituras maravilhosas. A
Edições de Ouro lançou recentemente a obra completa de Shakespeare em 3 volumes e
bastante acessíveis. Além disso procure saber se alguns desses textos não estão sendo
encenados no momento. Numa cidade como São Paulo, por exemplo, que tem uma
atividade teatral muito rica, é raro que não haja uma ou mais de suas peças em cartaz.
Convide alguém e vá ao teatro!

Cinema
Algumas sugestões cinematográficas que estão disponíveis em vídeo-cassete: Há
diversas versões cinematográficas da obra de Shakespeare e o ator Laurence Olivier é
um especialista nelas: Henrique V (1944), Hamlet (1948), Ricardo III (1956), Otelo
(1965),entre outras foram estreladas por ele e você pode encontrá-las nas boas video-
locadoras. Outro especialista em filmes a partir das obras de Shakespeare é o
ator/diretor inglês Kenneth Branagah que dirigiu Henrique V(1989), Muito Barulho por
Nada (1991), Hamlet (1995) e Sonhos de Uma Noite de Verão(1999). Vale a pena
conferir! Há ainda o famoso Romeu e Julieta (Franco Zefirelli.1968) que faz uma bela
reconstituição de época da Verona medieval onde se passa a história, mas também há
uma versão modernosa, de 1997, com Leonardo di Caprio e Claire Danes, que mantém
todo o texto original. Veja também: Shakespeare Apaixonado (John Madden. 1998),
uma fantasia em torno do processo de criação da tragédia Romeu e Julieta e a vida
sentimental de William Shakespeare, ao final do século XVI, quando o governo inglês
proibia que mulheres trabalhassem no teatro.

Conquista Sangrenta ( de Paul Verhoeven.1985) conta a história de um nobre que no


século XVI usa de recursos científicos e algumas invenções de Leonardo da Vinci para
vencer uma guerra contra um bando de guerreiros.

Agonia e Êxtase (de Carol Reed. 1965) O papa Julio II contratou Michelangelo em 1505
para pintar o teto da Capela Sistina, no Vaticano. O filme mostra os conflitos entre o
papa e o artista que cercaram a execução a execução da obra.

Passeio
Um dos maiores acervos do Renascimento, fora da Europa, está no Brasil, no MASP
(Museu de Arte de São Paulo) que fica na avenida Paulista 1578 (tel: 251 - 5644).Lá
você encontra obras dos maiores artistas daquele período como Botticelli, Tintoreto,
Rafael, El Greco, Rembrandt e muitos outros. Uma visita ao MASP vale por muitas
aulas de história.

Internet
Dá para acessar parte do acervo do Masp pela Internet. Lá você encontra diversas
exposições virtuais, duas delas ligadas a esse nosso assunto: desenhos de Michelângelo
e uma mostra de arte italiana, com obras dos séculos XIII ao XIX. Não perca! É só
clicar aqui.

Sangue, Heroísmo e Terror (Guerra Civil


Espanhola)
Por João Bonturi*
A Guerra Civil Espanhola é o símbolo de uma luta global da década de 1930. Coloca de
um lado a democracia e a revolução social; do outro, a contra-revolução e a reação.

A Espanha, embora dentro do continente europeu, era um país periférico. Sua história
estava fora do compasso do resto da Europa. Em 1931, um grupo de liberais anti-
clericais e maçons, no estilo do século XIX, proclama a República. Bem intencionados,
promovem uma Constituinte, cujo resultado é insatisfatório para as correntes
extremistas.

A fermentação social é intensa nos campos e nas cidades. O leque esquerdista, que vai
desde o moderado PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) até a ultra-esquerda
anarquista, cuja ação revolucionária transgride os limites constitucionais, exige
reformas, principalmente a agrária, já que 1% dos proprietários detém 51,5% de toda a
terra.

A lentidão da direita liberal levanta uma onda anarquista de greves, atentados à bomba,
assaltos a quartéis e ocupação de prefeituras nas regiões de Valência e Catalunha. Isso
apavora a ultra-direita, composta por monarquistas, católicos conservadores, grupos
pequenos de tendência fascista como a Falange Espanhola e militares direitistas.

O estopim do conflito é o resultado das eleições de 1936. A esquerda, no embalo das


coligações anti-fascistas, mirando o exemplo francês, formou a Frente Popular. O
programa da coalizão inclui a anistia geral, a aplicação
da reforma agrária e do estatuto de autonomia da
Catalunha, a modificação das leis Municipal ,
Provincial e da Ordem Pública, e a ampliação do
ensino público primário e secundário.

A vitória esquerdista é apertada, com 4.654.116 votos


contra 4.503.524 dos direitistas. Os centristas fizeram Francisco Franco e o então príncipe Juan
526.615 votos. A Espanha estava dividida. Carlos, em 1971

Os setores ultraconservadores se aliam e buscam uma solução extralegal, diante da


possibilidade de reformas progressistas. Optaram pelo golpe de Estado, comandado
pelos setores conservadores do Exército. Essa fórmula surrada teria chances se houvesse
um distanciamento das massas, ou se o governo tivesse perdido a sua legitimidade. Não
era, naquele momento, o caso espanhol.
O golpe se inicia na África, no Marrocos espanhol, em 17 de julho de 1936, onde está
um contingente de 30 mil homens, mais 12 mil marroquinos sob ordens espanholas. No
dia seguinte, o general Francisco Franco rebela-se nas ilhas Canárias, toma um avião e,
no dia 19, assume o comando marroquino. Desde o início, o futuro Caudillo por gracia
de Dios conta com a colaboração da Alemanha nazista e da Itália fascista que o ajudam
no transporte das tropas da África para a Espanha.

O sucesso africano não se repete nas principais cidades espanholas. Só Sevilha é


controlada. Os grandes núcleos industriais, principalmente Madri e Barcelona, repelem
os golpistas, a partir de uma resistência sustentada pelos militantes dos partidos
esquerdistas e das centrais sindicais aliados aos militares legalistas. O governo
republicano constitucional não controla a situação.

"Guernica", de Pablo Picasso

Comitês se organizam nas cidades, para controlar a justiça e a polícia. Cada partido ou
sindicato organiza patrulhas de controle e promove prisões. A persistência de ambos os
lados transforma a tentativa de golpe em guerra civil.

Em 10 de outubro de 1936, uma junta de militares golpistas nomeia Franco chefe do


governo do Estado e generalíssimo dos exércitos, oficializando-o como cabeça da
insurreição, apoiado por uma colcha de retalhos direitista batizada como Falange
Tradicionalista Espanhola.

A luta apenas começava. Nesse ponto, toma corpo a discussão internacional sobre o
conflito. Nazistas e fascistas fazem da Espanha um laboratório de testes, enviam tropas,
armas, munições e suprimentos em geral. Grã-Bretanha e França fazem um ingênuo
acordo de não intervenção buscando deter o auxílio ítalo-germânico. A URSS ratifica o
acordo, porém através da Internacional Comunista organiza as Brigadas Internacionais,
das quais participam cerca de 40 mil jovens estrangeiros, originários de mais de 50
países, que lutam pela República.

Todavia, por trás desse delírio de solidariedade, o


ditador soviético Stálin só entrega armas à República
se os comunistas pró-URSS dominassem as ações
militares esquerdistas. Isso provoca uma batalha entre
as esquerdas, travada nas ruas de Barcelona, entre 3 e
8 de maio de 1937, com aproximadamente 500 mortos
e 1000 feridos, na qual os anarquistas e o Poum
(Partido Operário de Unificação Marxista), são
Ingrid Bergman em desarticulados. Barcelona é um dos laboratórios do
"Por quem os sinos tocam"
terror stalinista.

A guerra prossegue até a ocupação das grandes cidades pelos nacionalistas da Falange.
Para atingir esse objetivo, Franco isola o território republicano do Atlântico. É durante a
execução desse plano que ocorre, em abril de 1937, o bombardeio da cidade basca de
Guernica, pela aviação nazista. A representação dos horrores desse ataque é
imortalizada em tela por Pablo Picasso, numa das obras de arte mais significativas do
século XX. Esse bombardeio deixa 1654 mortos e 900 feridos.

A vitória franquista afasta do país artistas e intelectuais. Os pintores Pablo Picasso e


Salvador Dalí, o cineasta Luís Buñuel e o violoncelista Pablo Casals viveram no exílio.
O poeta Federico Garcia Lorca foi fuzilado por um pelotão falangista.

A paixão pela luta republicana produziu uma vasta literatura de ficção. A mais famosa é
"Por Quem os Sinos Dobram", de Ernest Hemingway, transformada em filme estrelado
por Gary Cooper e Ingrid Bergman; mais recente é Terra e Liberdade, do inglês Ken
Loach.

A Guerra Civil Espanhola é um aperitivo daquilo que aconteceria na Segunda Guerra


Mundial, a partir de setembro de 1939. A Espanha continuou isolada em relação ao
mundo até a morte de Franco, na década de 1970, quando, de acordo com seu próprio
desejo, o governo foi entregue aos Bourbons, família real espanhola conduzida pelo rei
Juan Carlos. Portanto, só na década de 1980 o Estado espanhol entrou para o século
XX, ao se integrar ao Mercado Comum Europeu.

HISTÓRIA GERAL

As Guerras de Spartacus
Por João Bonturi*
O papel dos meios de comunicação de massa é fundamental para a história do século
XX. O jornal, o cinema, o rádio e a televisão pesam na formação da consciência
popular. Esses veículos proporcionam momentos mágicos, cujos efeitos
inesperadamente podem transcender os limites da diversão ou da simples informação.

Esse é o caso do filme "Spartacus", produzido em 1959 por Kirk Douglas, encabeçando
um elenco "all-star" que conta também com Peter Ustinov, Sir Lawrence Olivier,
Charles Laughton e Jean Simmons, dirigidos por Stanley Kubrick.

Naquele momento, Hollywood vivia a febre dos filmes épicos como "Os Dez
Mandamentos", "O Manto Sagrado", "Quo Vadis?" e "Ben-Hur". Quando Kirk Douglas
leu o romance homônimo, escrito por Howard Fast, lembrou-se do discriminado Issur
Danielovich Demsky (seu nome original), filho de imigrantes judeus russos
paupérrimos, e do seu povo, que havia sido escravo dos babilônios e egípcios na
Antigüidade.

Democrata liberal convicto, desejou realizar o filme no mesmo momento, pois era a
história de um escravo que liderou uma revolta entre os anos 73 e 71 a.C. contra a
majestosa Roma, senhora do mundo ocidental na época. Diz em sua autobiografia que
"ao consultar livros de história, encontra-se, quando muito um pequeno parágrafo a seu
respeito. Este homem cobrira Roma de vergonha, e queriam relegá-lo ao esquecimento".
Ao iniciar a produção, não podia imaginar a importância da película para a história do
século XX. Pensou apenas nas lutas do seu povo, desde a Antigüidade.

Na mesma época em que o filme era produzido, vivia-se nos Estados Unidos sob o eco
do macartismo, a "caça às bruxas" empreendida pelo senador Joseph
Mc Carthy, fanático anticomunista, no clima da "Guerra Fria". Por
coincidência, o autor do romance era comunista, estava na lista
cinza, pois para se isentar das acusações, escrevera uma série de
baboseiras patrióticas sobre George Washington e Tom Paine. Porém
o roteirista escolhido, Dalton Trumbo, era um dos Unfriendly Ten
(Dez Indesejáveis), punidos em Hollywood.

Desde 1947, quando os estúdios cinematográficos assinaram o


Waldorf Amendment, ninguém podia contratar qualquer pessoa que Daltom Trumbo
tivesse vínculo com o Partido Comunista. Embora Trumbo
trabalhasse sob o pseudônimo de Sam Jackson, Kirk mandou às favas o acordo, pois,
em sua opinião, "gastamos muito tempo combatendo o comunismo, em vez de melhorar
a democracia".

Um incidente com o diretor Kubrick o fez ir mais longe. Na hora de


fazer os créditos do filme, houve uma divergência quanto ao nome
do roteirista. Kubrick, na maior cara-de-pau, queria que o seu nome
constasse como autor do que não fizera. Kirk telefona para a
Universal, e manda deixar um passe na portaria com o nome de
Dalton Trumbo. Em seu gesto impulsivo, não percebeu que rasgara a
lista negra dos "Unfriendly Ten".
Stanley Kubrick
O nome expresso de Trumbo nos créditos desperta o ódio dos
anticomunistas. A American Legion, a maior associação de veteranos de guerra em todo
o mundo, envia uma carta às suas 17 mil agências: "NÃO ASSISTAM SPARTACUS".

Hedda Hopper, uma das maiores fofoqueiras de Hollywood, fulmina: "Há (no filme),
campos cobertos de cadáveres, e mais sangue do que jamais se viu. Na cena final, a
amante de Spartacus, carregando seu bebê ilegítimo, passa pela via Apia, onde há 6.000
homens crucificados, ainda presos às cruzes. Essa história foi vendida à Universal e
tirada de um livro escrito por um comunista, com um roteiro elaborado por outro
comunista... Por isso, não vá vê-lo".

Essas acusações aguçaram a curiosidade do presidente John Kennedy, que pertencia ao


Partido Democrático, enquanto os mais ferrenhos anticomunistas eram do Partido
Republicano. Durante uma noite, em plena tempestade de neve, Kennedy saiu
sorrateiramente da Casa Branca para ver Spartacus, tornando-se fã do filme. O fato foi
contado muito tempo depois por Bobby Kennedy a Kirk Douglas: "Sabe, meu irmão
ajudou-o muito para Spartacus".

Naturalmente, os agentes da KGB soviética também se interessaram. A história, contada


sob o ponto de vista dos escravos, era para eles a revolução proletária. Poucas vezes um
filme americano fez tanto sucesso na URSS. O fato acontece justamente quando começa
a crescer a crise dos mísseis, envolvendo os Estados Unidos, Cuba e a União Soviética,
no ponto mais alto da "Guerra Fria".

Para Assur Danielovitch, o triunfo fecha um círculo: um filho de imigrantes russos teve
a liberdade de filmar na América uma história de perseguidos e explorados. "Spartacus"
não ganha o Oscar de melhor filme, que fica para "Se Meu Apartamento Falasse", mas
detona os restos do macartismo, abrindo as portas para outras lutas contra a
discriminação. Portanto, se os escravos foram derrotados pelos romanos, 2.000 anos
depois a sua história abriu uma porta para a liberdade.

Finalmente, em 1996, a Academia concede o Oscar especial para Kirk Douglas, em


homenagem a toda sua obra cinematográfica. Porém, antes dessa cobiçada estatueta, o
seu talento e a postura democrática lhe valeram a Medalha da Liberdade e a Legião de
Honra, as mais altas condecorações dos Estados Unidos e da França, respectivamente.

A mulher na época do Renascimento


Por João Bonturi*

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Os historiadores se desmancham em elogios sobre a época renascentista. Segundo


Agnes Heller, "a um momento estático sucedera um momento dinâmico. O homem
novo, o homem moderno, era um homem que ia se fazendo, construindo, e estava
consciente disso. Era, precisamente, o homem do renascimento".

Essas idéias se adaptam ao sexo masculino, pois a mulher pouco compartilha desse
brilhantismo.

Numa primeira visão, a mulher é Maria. Na pintura "Madona


del Parto", de Piero della Francesca (à esq.), Nossa Senhora
aponta para o ventre onde traz Jesus Cristo, representando
também a figura da mulher comum que está prestes a gerar
uma nova vida. Porém, trazer em si um filho é um privilégio e
um fardo para a mulher.

Na Europa, a mortalidade infantil oscila de 20% a 50%. As


Madona del Parto
crianças são vítimas de peste, diarréia, constipação,
tuberculose e inanição. A preocupação com a morte da criança
é constante em cada nascimento. Os sobreviventes são amamentados durante 18 a 24
meses, pelas mulheres das camadas inferiores da população.

As mulheres das camadas dominantes não o fazem, pois nesses estratos sociais deseja-
se uma taxa de nascimentos mais elevada, para garantir a transmissão da riqueza,
conhecimentos e poder. A prática é baseada na crença de que a amamentação tem efeito
contraceptivo. O filho da mulher rica é amamentado pela mulher pobre, que recebe o
pagamento dobrado de uma doméstica por essa função.

Quando não tem leite em abundância, nega-o ao próprio filho, ou o acostuma a mamar
diretamente nas tetas de uma cabra. Quando não possui tal animal, é capaz de cometer o
infanticídio, principalmente se o filho é ilegítimo. Outra alternativa é o abandono,
atestado pela existência de asilos de crianças desde o século VIII. Os destinos opostos
que assinalam a maternidade também estão presentes na união conjugal. O casamento
resulta de um cálculo, servindo como mecanismo de produção, conservação e
transmissão da propriedade. Bons casamentos aumentam o patrimônio. A família
Donato, de Veneza, contabiliza um saldo positivo de 127.177 ducados, em dois séculos,
entre receitas e despesas com dotes.

Na maioria das vezes, os casamentos são decididos pelos pais. Os filhos devem aceitá-
los. O contrário produz severas punições. Margery Paston,
filha de um lorde inglês, foi isolada e espancada durante
meses. Alberti, mercador florentino, aconselha deserdar os
rapazes que não casassem até os 25 anos.

O casamento é mercenário. Entretanto, humanistas e religiosos


realçam a importância de uma relação de amizade entre os
cônjuges. Em 1509, Cornelius Nettesheim, erudito alemão,
afirma que, "se o casamento se baseasse no amor e na
amizade, e não no dinheiro e no interesse, não haveria mais
adultérios nem divórcios".
Litta

Amar e obedecer ao marido

Todavia, se a amizade é importante, também é exigida a relação de tipo patriarcal. A


mulher deve amar e obedecer ao marido. Um inglês, W. Whately, em 1617, recomenda:
"Uma mulher devia sempre reconhecer que o marido é seu superior e seu senhor".
Calvino considera a submissão da mulher ao marido como um modelo da sua normal
submissão ao próprio Deus. Quanto às desobedientes, frei Querubino, na sua obra "A
Regra da Vida Matrimonial", recomenda que na falha das boas maneiras e da persuasão,
" a mulher deve ser espancada ruidosamente (não com fúria, mas com amor), para
salvação da sua alma".

Na Inglaterra existe a expressão "rule of the thumb" (regra do polegar), referindo-se a


uma norma tradicional da lei consuetudinária, pela qual uma mulher só podia ser
espancada com um pau cujo diâmetro não ultrapassasse o de um polegar.

Segundo a religião, Deus, ao expulsar Eva do paraíso a


condena, e também a todas as suas filhas, a dois castigos: as
canseiras de um trabalho sem fim e as dores do parto. Com
exceção das mulheres das camadas sociais mais elevadas,
mães e filhas executam vários tipos de trabalho.
As Fiandeiras
No campo participam dos trabalhos agrícolas, reúnem o
rebanho, tratam do galinheiro, recolhem os ovos, ordenham as vacas, transportam a
palha, plantam e preparam o linho e o cânhamo, que depois lavam, batem, fiam e tecem
para fazerem as roupas e toalhas; tosquiam as ovelhas, fiam e tecem a lã para fazerem as
capas e as mantas; tratam da horta, colhem legumes e ervas para cozinharem. As
mulheres da aristocracia também se ocupam dos trabalhos agrícolas, porém no aspecto
organizativo, quando os maridos se ausentam, principalmente em caso de guerra. Ricas
ou pobres, as mulheres sempre fiam e tecem. Na língua inglesa, solteirona é "spinster",
que deriva do verbo fiar, "to spin".

Catálogo de prostitutas

A prostituição também é freqüente. Em 1500, com uma população de 100 mil


habitantes, Veneza possui cerca de 12 mil prostitutas. No final do século XVI, essa
cidade, famosa também pelas suas liberalidades, permite que as meretrizes exibam
publicamente os seios no submundo, junto à ponte do Rialto. Mas até aí existem
distinções. Esplêndidos apartamentos acolhem "honradas cortesãs", que são objeto
inclusive de um catálogo, editado em 1570, mencionando 215 nomes.

O oposto da prostituição é o convento. Durante o século XV, em Florença, Veneza e


Milão, cerca de 13% das mulheres eram monjas. Boa parte delas provinha das camadas
altas e médias da população. Um número excessivo de filhas podia ser a ruína de um
pai, caso viesse a despender altas somas com os dotes. Nesse caso, Jesus era o genro
ideal.

Por outro lado, um número reduzido de mulheres faz surgir no Renascimento um papel
alternativo ao de Maria ou ao de Eva. É a amazona, uma mulher-homem perigosamente
hábil. Joana D'Arc, a primeira delas, paga caro como comandante militar: é condenada à
morte como feiticeira pelo seu papel masculino.

Caterina Sforza, após a morte do marido Girolamo, duque de Milão, assume o comando
das operações militares. Derrotada, é presa, talvez violentada e conduzida sob prisão a
Roma por Cesar Bórgia. As duas maiores exceções foram
Catarina de Médicis, viúva de Henrique II, rei da França,
regente dos seus dois sucessores, Francisco II e Carlos IX, e
Elisabeth Tudor, rainha da Inglaterra.

Entre elas, Elisabeth define melhor o papel da amazona. Nunca


se casou. Difamada pelos adversários como lésbica, designava-
se como "príncipe", com o corpo de mulher e o coração de um
rei. Seus partidários a consideravam virgem viril. Como Joana
D'Arc, Elisabeth era considerada (e considerava-se) uma
amazona. Em sua época, é profunda a sensação de incômodo
provocada por uma virgem armada, uma fêmea racional, uma
força emotiva que não podia ser limitada pela ordem natural Elisabeth 1ª
das coisas.

Joana e Elisabeth na tela

Figuras fortes para qualquer época, Joana e Elisabeth inspiraram uma vasta filmografia,
sendo recentemente retratadas mais uma vez, por Luc Besson (1999) e Shekar Kapur
(1998), em produções supercaprichadas.
A Joana D'Arc encarnada pela ucraniana Milla
Jovovich (na foto ao lado), corresponde ao padrão de
beleza que sempre acompanha a idéia de herói. A
França, ou o que restava dela, havia sido praticamente
derrotada pelos ingleses, na Guerra dos 100 Anos
(1337-1453). Em 1420, pelo tratado de Troyes, o rei
Carlos VI da França deserdou seu filho, também
chamado Carlos, denominado no filme como Delfim,
título aplicado exclusivamente ao herdeiro do trono
francês, em favor do rei Henrique V da Inglaterra.
Mortos os reis signatários do acordo, a guerra poderia
recomeçar.

É nesse quadro que surge a donzela Joana, crente na sua missão de fazer coroar o
Delfim (John Malkovitch), como rei da França; ele a recebeu na sua corte em Chinon,
no dia 6 de março de 1429, ouvindo dela a mensagem da voz do povo afirmando que a
realeza não é uma coisa terrestre, que os homens não podem dispor da coroa de acordo
com as suas vontades, e só Deus tem o poder de passá-la através de seus anjos, àquele
que merece recebê-la, em virtude do seu nascimento; essa voz também dizia que o lugar
dos ingleses não é na França, mas para lá do canal da Mancha, onde foram estabelecidos
por Deus.

A identificação entre a mística Joana, o pensamento popular e as pretensões do Delfim,


produzem um efeito extraordinário; na soma, o discurso é moderno, patriótico, ao
contrário dos seus adversários ingleses. Essa conjunção foi a mola propulsora das
vitórias da "chefe de guerra", posto criado para Joana pelo Delfim. Carlos VII foi
coroado em Reims, em 17 de julho de 1429.

Depois disso Joana não pára; no auge do seu prestígio queria empurrar os ingleses para
a sua ilha, pretensão que não era compartilhada pela coroa. A partir daí torna-se
incômoda ao rei da França e aos ingleses. Na película, ao deixar de receber apoio do rei,
sua consciência torna-se cada vez mais perturbada, mergulhada em conflitos sobre a
incerteza da sua missão, sobretudo se essa deveria ser banhada em sangue; as cenas
realistas das batalhas parecem inspiradas em quadros como o Triunfo da Morte de
Brueghel. Em 24 de maio de 1430, é presa em
Compiègne pelos partidários do duque de Borgonha,
que por sua vez a vende aos ingleses.

Na tela, durante o seu julgamento as autoridades


eclesiásticas hesitam diante do mito por ela
representado; as acusações de bruxaria e pacto com o
demônio são inconsistentes. No processo inquisitorial,
o argumento decisivo para a sua condenação é a Triunfo da Morte
acusação de "cisma", termo que no vocabulário
eclesiástico significava rebelião: Joana recusava-se obstinadamente a se submeter à
Igreja, dirigindo-se diretamente à autoridade de Deus; guiada pelas vozes, mantinha-se
fiel a elas.

Finalmente, excomungada pelos inquisidores, é entregue à justiça de Rouen que a


manda queimar em 30 de maio de 1431, com apenas 19 anos de idade. Destaque-se o
fato de que na realidade a Inquisição ou a Igreja não condenam ninguém à morte, mas
sim excomungam; daí o indivíduo, afastado da comunidade cristã, é condenado à morte
pelas autoridades civis.

A Elizabeth I ou Isabel I, vivida por Cate Blanchett (à esquerda), não é camponesa.


Filha de Henrique VIII com a segunda esposa Ana Bolena, foi herdeira presuntiva do
trono até a morte de sua irmã consangüínea Maria a Sanguinária, a Bloody Mary, filha
de Catarina de Aragão, casada com Felipe II, rei da Espanha, com o qual não teve
filhos. Enquanto princesa, o filme exibe uma sensual e nada virgem Elizabeth, curtindo
uma "dolce vita" com Robert Dudley, conde de Leicester (Joseph Fiennes), numa visão
até generosa do apetite sexual herdado do pai, que ostentou seis esposas e uma lista de
amantes.

Com a morte de Maria, em 1558, a maioria da corte aceita Elizabeth como rainha.
Inicialmente, seu ministro e conselheiro lorde Burghley (Richard Attenborough), busca
induzi-la ao casamento, que no caso de uma rainha definiria a posição diplomática e
futuras possíveis alianças.

Na película, impossibilitada de amar na plenitude e com a única perspectiva de um


consorte indesejado, o que se destaca nas atitudes homossexuais do duque de Anjou
(Vincent Cassel), e na repulsa a Felipe II (George Yiasoumi), viúvo de sua irmã Maria,
decide adotar a postura de virgem, aproveitando que a religião anglicana mantivera a
hierarquia sacerdotal e a crença nos santos, tendo a própria rainha como chefe para as
questões políticas.

Lord Burghley é por ela aposentado e Walsingham (Nick Shalmann) ascende como o
maquiavélico principal conselheiro; no filme, há o corte dos cabelos como símbolo da
mudança de uma personalidade feminina para uma assexuada, acompanhada pelo
Requiem de Mozart. A cena, embora de uma fotografia maravilhosa, seria mais
histórica com as músicas do trovador John Dowland, o predileto de Elizabeth, o qual
não deve ter apenas cantado seus versos para a rainha. Mozart compôs o Requiem no
final do século XVIII, um tanto quanto distante da segunda metade do século XVI em
que se passa a história.

Amor ao poder

Na realidade Elizabeth amava o poder acima dos homens, coisa difícil de entender para
os simples mortais que nunca o tiveram. Ela aplicava o termo conveniência para
designar qualquer meio para preservar a paz. Tinha de sobra a virtú requerida por
Maquiavel em "O Príncipe". Foi uma verdadeira equilibrista na política cuja cena era
compartilhada por Inglaterra, França, Holanda e Espanha.

A Holanda e a Inglaterra entraram em guerra contra a Espanha; a primeira pela


independência e a segunda pela rejeição do catolicismo e adoção do anglicanismo, que
afastava definitivamente as pretensões de Felipe II de realizar uma aliança com os
ingleses. Elizabeth não queria uma vitória total da Espanha na Holanda, para não
fortalecer demais os espanhóis, nem uma derrota completa da Espanha contra os
holandeses, para não ampliar o crescente poderio francês.

Se todas se enfraquecessem, a Inglaterra se sobressairia. Não é por acaso que os ingleses


chegaram ao domínio dos mares e na seqüência atingiram a Revolução Industrial. A
gestação da "Rainha dos Mares" começa com Elizabeth.

Além da Elizabeth de Shekar Kapur, houve uma deliciosa presença da personagem,


ainda em 1998, na fantasiosa comédia romântica "Shakespeare Apaixonado", ganhadora
do Oscar de melhor filme, em 1999, onde aparece mais velha, vivida por Judy Dench
que rouba a cena no final do filme da mesma maneira como Sean Connery fez no Robin
Hood protagonizado por Kevin Costner, como Ricardo Coração de Leão.

Tirando a capa que tinha como disfarce, a rainha que acabara de assistir "Romeu e
Julieta", de Shakespeare, surge para perdoar a presença feminina de lady Viola De
Lesseps (Gwineth Paltrow) num papel teatral, fato então proibido na Inglaterra para as
mulheres. Diante da confusão criada, ironicamente declara: "Sei o que é ser mulher num
ofício de homem". E sabia mesmo!

Fotos: arquivos de museus e divulgação

HISTÓRIA GERAL

Islamismo unifica mundo árabe


Por Claudio B. Recco*

Especial para a Folha


Enquanto o feudalismo se estruturava na Europa, o Oriente Médio passava por uma
transformação bastante diferente. No século 7º, a península arábica era habitada por
povos que levavam uma vida nômade, divididos em tribos, incapazes de constituir uma
federação mais ampla e estável. Ao sul da península, no Iêmen, havia formas de
sociedade mais desenvolvidas, caracterizadas pela vida urbana e pelo comércio,
principalmente de produtos vindos do Oriente, que ganhavam o interior da península
por meio de caravanas de camelos, que seguiam até a Síria. Persas, árabes e etíopes
disputavam a posse de pontos essenciais.

Nesse período, Meca tornara-se um centro comercial importantíssimo, rota de passagem


de mercadorias e, portanto, de contato entre diversas culturas. Esses povos eram
politeístas e a religião absorvia essa realidade, visto que a fé refletia um pouco de todas
as crenças populares do Oriente. Outras cidades se desenvolveram na região, muitas
vezes rivais, devido aos interesses comerciais das grandes famílias de mercadores.

Porém, desde o século 5º, Meca já era o principal centro urbano árabe graças às
peregrinações a Caaba. Durante quatro meses ao ano, suspendiam-se as guerras entre as
tribos para que beduínos e habitantes das cidades pudessem visitar o templo e cumprir
suas obrigações religiosas. Se eram politicamente divididos, os árabes, separados em
tribos ou em cidades independentes, possuíam elementos de unidade, como as práticas
religiosas e uma língua comum.

Coube a Muhammad liderar o processo de unificação completa dos povos árabes. Em


Medina, já não é só a pregação de uma fé. Muhammad organiza uma comunidade
dentro dos princípios islâmicos, cuja lei não está dissociada da fé, já que sua origem é
divina. Ao morrer, em 632, ele tinha deixado uma religião consciente de sua
especificidade, esboçara um regime social externo e superior à organização social e
unificara a Arábia, coisa até então inconcebível.

A unificação árabe completara-se no campo político e religioso ao mesmo tempo. Para


Muhammad, a centralização era fundamental para a coesão do povo, ou seja, para a
superação das diferenças tribais. Na verdade, foi o processo de expansão que permitiu,
em pouco tempo, a unificação de fato do mundo árabe e a formação de um império.

HISTÓRIA GERAL

Liberalismo burguês reorganiza


sociedade
Por Eliane Yambanis Obersteiner*

Especial para a Folha


O período histórico denominado Idade Moderna, que se estendeu aproximadamente do
século 15 até meados do século 18 na Europa, organizava-se em um sistema chamado
Antigo Regime e caracterizava-se pelo Absolutismo, Mercantilismo e Sociedade
Estamental.

No Absolutismo, o poder real era considerado de origem divina, concentrando-se,


assim, nas mãos dos monarcas.

O princípio da lógica social era baseado na origem de nascimento, determinando uma


organização onde não havia mobilidade social, já que esse dado não podia ser alterado.

Por exemplo, se o indivíduo nascesse em uma família nobre, teria até o final de seus
dias um lugar privilegiado socialmente, o que lhe garantiria direitos políticos
diferenciados.

Essa concepção de valores interferiu, inclusive, no desenvolvimento das atividades


econômicas, predominantemente comerciais, que dependiam da legalização do monarca
para serem realizadas.

Numa economia baseada no princípio do monopólio, era o Estado quem fazia ou não as
concessões comerciais.

A atividade comercial era desenvolvida pela burguesia, cuja origem social remonta ao
campesinato medieval. Portanto, por mais que a burguesia se desenvolvesse e adquirisse
importância econômica, sua origem social humilde atuava como uma barreira no que se
referia aos privilégios sociais, criando uma progressiva insatisfação na mesma, que
culminou com a Revolução Francesa em 1789.
O rompimento com a nobreza e a implantação de uma ordem social, denominada liberal
burguesa, inaugurou novos parâmetros, onde o poder econômico passou a determinar o
status social dos indivíduos em detrimento da origem de nascimento, definindo a forma
de estruturação das sociedades capitalistas contemporâneas.

Os princípios liberais foram importantes na América Latina, estimulando e embasando


os processos de independência, porém sendo adaptados aos contextos locais.

No Brasil, a elite agrária incorporou esses ideais e passou a buscar o fim do pacto
colonial. Porém, manteve inalterada a estrutura social interna, baseada na escravidão,
fonte de riqueza para essa elite, adaptando, assim, as idéias liberais aos seus interesses
de classe social. O fim do pacto colonial garantiu o status de nação independente ao
Brasil, embora estruturalmente não tenham ocorrido mudanças, já que o principal limite
do liberalismo brasileiro tenha sido a propriedade de bens, caracterizada pelo latifúndio
e escravidão.

HISTÓRIA GERAL

Conheça as origens da globalização


Por Roberto Nasser*

Especial para o Fovest


Globalização é uma palavra constante nos meios de comunicação. Para muitos
historiadores, esse processo de interligação do mundo começou com a expansão
comercial marítima européia dos séculos 15, 16, a chamada Era das Grandes
Navegações. Que fatores permitiram ao homem europeu romper com os laços do mundo
medieval e lançar-se na conquista dos "mares nunca dantes navegados"?

O primeiro foi a crise de crescimento do século 15. A produção agrícola não atendia às
necessidades dos centros urbanos; a produção artesanal desses centros não encontrava
mercados suficientes no campo; o comércio internacional, além de escoar os poucos
metais preciosos que a Europa possuía, tinha preços altos em função dos intermediários
existentes entre o produtor e o comprador final. A solução era alargar a Europa por
meio do comércio e da expansão marítima.

O segundo fator foi a aliança entre burguesia e reis nas monarquias nacionais. Um
empreendimento da grandeza das grandes navegações só seria possível com um Estado
centralizado, aliado ao capital da burguesia. O terceiro fator foi o avanço técnico e
científico (caravelas, bússola, sextante, astrolábio, desenvolvimento da cartografia e da
astronomia), possibilitando as condições tecnológicas para as navegações. O quarto
fator estava no campo das mentalidades. Renascimento e grandes navegações fizeram
parte da mesma aventura humana.
Entenda os motivos da guerra civil
americana
Por Roberto Nasser*

Especial para o Fovest


A guerra civil americana ou Guerra de Secessão (separação), ocorreu de 1861 a 1865.
As razões para tal conflito estão na discórdia entre a burguesia industrial nortista, que
não aceitava a extensão da escravidão para as novas terras do Oeste americano, e a
aristocracia sulina que desejava essa extensão e nas tarifas alfandegárias.

A economia nortista tinha uma forte base industrial. Dessa forma, defendia a existência
de uma política protecionista para dificultar as importações dos produtos industriais de
outros países. A consequência dessa política foi a transformação da economia sulina
numa compradora dos produtos industriais produzidos pelos nortistas.

Em contrapartida, a economia sulina era tipicamente agrária-exportadora (sistema de


plantation), portanto, os latifundiários exportadores queriam comprar os produtos
industrializados de quem pudesse vendê-los mais baratos, para isso era necessário uma
política livre-cambista.

A consequência dessa atitude da elite sulina é que ela não aceitava a situação de ser um
mercado consumidor dos artigos produzidos pela indústria nortista.

A causa imediata da guerra foi a vitória do candidato do Partido Republicano e


representante dos interesses nortistas, Abraham Lincoln, em 1860. A vitória nortista
ocorreu em 1865, deixando um saldo de aproximadamente 600 mil mortos, o Sul
devastado e a consolidação dos interesses políticos e econômicos da região Norte.

Adam Smith cria a bíblia do liberalismo


Renan Garcia Miranda*

Especial para a Folha de S.Paulo


Robinson Crusoé foi parar numa ilha deserta depois que o navio em que viajava
naufragou. Sem pestanejar, Crusoé decidiu suas prioridades: primeiro, construir um
abrigo onde pudesse evitar o frio e os animais selvagens; depois, pescar e colher frutas
para se alimentar. Já instalado, e com a sobrevivência garantida, pôde investir:
melhorou as condições da casa improvisada, construiu equipamentos para pescar mais
eficientemente e tomou algumas medidas para proteger-se contra outros habitantes da
ilha que talvez fossem pouco amistosos.

Esse é o foco do romance profundamente atraente de Daniel Defoe (1660-1731), "A


Vida e Estranhas e Surpreendentes Aventuras de Robinson Crusoé de York,
Marinheiro", escrito em 1719.
A habilidade fantástica de Crusoé representa o triunfo do individualismo, da capacidade
humana de dominar a natureza. Um indivíduo completamente dominado pela busca
racional dos interesses materiais. Foi essa imagem da capacidade individual que o
economista Adam Smith (1723-1790) reafirmou.

Inglês, como Defoe, vivendo na época em que seu país experimentava o início da
Revolução Industrial e assistindo ao triunfo das fábricas e ao desejo voraz de conquistar
mercados, ele se tornou um observador do homem de negócios independente, o
empresário. Seu livro, "A Riqueza das Nações" (1776), em que postulou a liberdade à
atividade empresarial, tornou-se uma espécie de bíblia do liberalismo.

Havia aí a noção de que o interesse individual deveria ser aceito e estimulado. Caberia
aos governos ajudar os homens a expressarem seus interesses e, com isso, encontrarem
a felicidade. Num mundo liberal regido pelas forças do mercado, uma mão invisível
garantiria a sustentação da economia sem que fosse necessária a presença da "mão
pesada" dos Estados mercantilistas. A mão invisível do mercado conciliaria o interesse
pessoal com o interesse comum ou público.

O inglês Adam Smith expressava sua fé no progresso da sociedade, no indivíduo,


tornando-se cada vez mais habilidoso em seu trabalho e, dessa forma, aumentando a
quantidade de ciência. O conhecimento seria progressivo e, como resultado, a condição
humana melhoraria constantemente. Seria o triunfo de uma sociedade de homens com o
espírito de Robinson Crusoé

Década de 60 é marcada pela


efervescência
Flavio de Campos*

Especial para a Folha de S. Paulo


México. 1968. Olimpíada. No pódio, dois atletas negros dos EUA, John Carlos e
Tommy Smith, primeiro e terceiro colocados, usando luvas pretas, fazem uma saudação
com o punho cerrado e erguido. O protesto dirigia-se contra o racismo nos Estados
Unidos. O gesto _uma alusão ao grupo radical Panteras Negras_ provocou severas
punições aos corredores por parte do comitê olímpico.

Àquela altura, o mundo vivia uma impressionante efervescência. Os EUA estavam


envolvidos na Guerra do Vietnã e patrocinavam ditaduras na América Latina. Cuba
tornava-se modelo para os revolucionários de todo o continente. Ernesto Che Guevara,
morto em 1967 na Bolívia, firmava-se como a imagem da rebeldia de sua geração.

A contestação era a marca da juventude. As minissaias e os biquínis expunham com


ousadia os corpos femininos. A pílula anticoncepcional liberava as práticas sexuais. Em
lugar dos ternos e gravatas, do cabelo curto e dos valores da sociedade de consumo, os
jovens usavam jeans, cabelos longos e acreditavam em sociedades igualitárias. "Black
Power"; "Make love, not war"; "Sex, drugs and rock'n'roll".

Ainda em 1968, os estudantes tomaram as ruas de Paris, Praga e Washington com


slogans desafiadores: "É proibido proibir!"; "Chega de atos, queremos palavras!"

No Brasil, a ditadura instalada em 1964 era questionada nas ruas. De um lado, bombas
de gás e cavalaria. De outro, coquetéis molotov e muitas palavras de ordem.

Em junho de 1968, na Guanabara, uma passeata reuniu 100 mil pessoas, divididas por
dois slogans: "Só o povo organizado derruba a ditadura" e "Só o povo armado derruba a
ditadura".

Em dezembro, o governo impunha o Ato Institucional nº 5. O Congresso Nacional era


fechado e estavam suspensos todos os direitos civis e constitucionais. A imprensa
passava a ser censurada. Ocorreram centenas de prisões e cassações políticas. A
mordaça que calava as palavras de ordem fazia ecoar os gritos daqueles que eram
submetidos à tortura nos porões da ditadura.

Consolidava-se, assim, o Estado de Segurança Nacional, que identificava, como seus


inimigos internos, setores da sociedade tidos como agentes internacionais do
comunismo. A oposição ao regime era considerada oposição à nação, e criticar o
governo, uma ação antipatriótica.

Estudantes, intelectuais e escritores eram suspeitos. Um slogan autoritário faria sucesso


entre os apoiadores da ditadura: "Brasil: ame-o ou deixe-o". E a luta armada ganharia
corpo entre os jovens.

Santo Agostinho estava à frente de seu


tempo
Renan Garcia Miranda*

Especial para a Folha de S.Paulo


"Que é, pois, o tempo? Se ninguém me pergunta, eu o sei; se desejo explicar a quem o
pergunta, não o sei", afirmou Santo Agostinho, um homem entre dois tempos. Entre um
tempo romano que desmoronava e o tempo medieval em formação. O jeito romano de
olhar para o mundo cedia lugar ao olhar cristão medieval.

"O homem destrói uma civilização, mas constrói outra usando os tijolos da anterior",
afirmou o cineasta polonês Andrew Wajda. Dos escombros de Roma os cristãos
construiriam uma nova sociedade.

Em 410, Roma, absolutamente fragilizada, foi saqueada pelos godos. Os pagãos _nome
com que a Igreja designa os não-cristãos_ atribuíram a invasão ao fato de os romanos
terem abandonado os deuses antigos. De acordo com eles, enquanto fora adorado,
Júpiter protegera a cidade; ao ser "trocado" pelo cristianismo, deixara de fazê-lo.
Entre 412 e 427, Santo Agostinho escreveu "A Cidade de Deus", um livro cuja base era
a filosofia grega e que exerceria forte influência nos tempos medievais. Nele respondeu
a tais acusações, argumentando que coisas piores haviam ocorrido em tempos pré-
cristãos. Que os deuses pagãos eram perversos. Ele não negava a existência de entidades
como Baco, Netuno e Júpiter, considerados demônios.

Demônios que ordenavam aos homens, por exemplo, que criassem peças teatrais,
definidas por Santo Agostinho como "espetáculos da imundície". Em razão desses
deuses, Roma sempre fora perversa e pecaminosa.

Com o cristianismo, ela se salvaria. E, se a cidade dos homens fora invadida, pouco
importava, já que o objetivo maior dos homens era a salvação por meio da bondade para
atingir a cidade de Deus, a sociedade dos eleitos.

A busca central não era a cidadania na sociedade dos homens, mas a salvação no reino
de Deus.

Para falar sobre o mal que habitaria os homens, Santo Agostinho relatou, em suas
"Confissões" _história apaixonada de sua descoberta de Deus_, que na infância roubara
peras da árvore de um vizinho, embora não estivesse com fome e na casa de seus pais
houvesse melhores.

Fizera-o por maldade e considerava tal ato um de seus maiores pecados. O pecado para
ele habitava todos os homens. E, se os bebês são inocentes, não é porque lhes falte o
desejo de fazerem o mal, mas por carecerem de força.

Muçulmanos e cristãos travam guerra no


século 9º
Flavio de Campos*

Especial para a Folha de S.Paulo


No século 9º, pertenciam aos domínios muçulmanos o noroeste da Índia, o norte da
África, a Palestina, diversas ilhas mediterrâneas e a maior parte da península Ibérica.

A conquista das terras ibéricas obrigou os cristãos a submeterem-se ao Islão ou a se


refugiarem no norte da península, onde constituíram-se pequenos reinos independentes,
que depois viriam a formar Portugal e Espanha.

Apesar das diferenças étnico-culturais e das disputas de terras, o combate aos


muçulmanos tornou-se o principal fator de alianças entre os cristãos ibéricos. Em nome
da mesma fé, construíram sua identidade cultural e política.

Em meados do século 9º, os cristãos ganharam um valioso reforço. Em Compostela (de


compostum, cemitério), foram descobertos restos mortais identificados como sendo do
apóstolo Tiago. Fiel seguidor de Jesus, Tiago teria sido decapitado em Jerusalém, e seu
corpo, milagrosamente levado para a península.

Na verdade, a mística da região ligava-se a tradições bem mais antigas. Compostela


situava-se no extremo oeste da Europa, no Ocidente, onde o sol se põe, lugar simbólico
da morte. Ali situavam-se cemitérios romanos e suevos. À frente, o Atlântico, o mar
Tenebroso, que se supunha habitado por seres monstruosos.

A descoberta teve notável repercussão em toda a cristandade. Santiago de Compostela,


como o local passou a ser chamado, atraiu peregrinos de toda a Europa. A proximidade
dos domínios muçulmanos aumentava os riscos e a importância das peregrinações. A
partir do século 11, cavaleiros cristãos dirigiam-se para lá, ampliando as forças militares
contra os "infiéis". Uma guerra santa era travada em solo ibérico.

No caminho até Santiago, outras localidades receberam novo impulso econômico. O


comércio e os serviços ampliaram-se para atender aos peregrinos. A população cristã
cresceu, fixando-se em áreas até então desocupadas.

Aproveitando-se desse reforço populacional e espiritual, os reinos cristãos acentuaram


sua ofensiva contra os domínios muçulmanos. Em 1492, concluía-se a conquista da
península, com a incorporação de Granada.

A reconquista representou, para os ibéricos, uma primeira expansão feudal.


Caracterizou-se pela incorporação de novas terras, pelo crescimento demográfico, pelo
desenvolvimento das cidades, das atividades mercantis e pela expansão cristã. No
entanto 1492 não se encerra em Granada. Meses depois, em outubro, Colombo daria
continuidade à conquista material e espiritual. Do outro lado do Atlântico.

Os gregos criam o método científico


Renan Garcia Miranda*

Especial para a Folha de S.Paulo


O médico grego Hipócrates (460-377 a.C) foi o primeiro a olhar para um homem que
sofria um ataque epiléptico _consequência da doença que faz com que as pessoas caiam
ao solo, comportando-se como se já não mais tivessem o controle de seu corpo_ e dizer:
"Não há nenhum deus aí dentro; é um fenômeno do corpo desse indivíduo".

Todos os outros povos da Antiguidade davam uma explicação religiosa para esse
fenômeno. Viam deuses e demônios na epilepsia, que era chamada de "doença sagrada".

O médico Hipócrates, porém, afirmava que todas as doenças possuem uma causa
natural, não devendo ser encaradas como uma punição divina.

A explicação de Hipócrates para a epilepsia ilustra o que a Grécia Antiga nos


proporcionou: a idéia da investigação sistemática, de que o mundo é regido por leis da
natureza, e não por deuses cheios de caprichos.
Matemáticos indianos inventaram o zero, chave da aritmética. A civilização chinesa
inventou a pólvora e a bússola.

Nenhuma dessas civilizações, entretanto, conseguiu desenvolver um método científico


que duvidasse de tudo, investigador e experimental. Esse método veio dos gregos
antigos.

Uma civilização que desenvolveu uma assembléia, onde os homens aprenderam a


persuadir uns aos outros por meio do debate, da polêmica; uma economia marítima que
impedia o isolamento e, ao mesmo tempo, desenvolvia uma classe mercantil
independente, que podia contratar seus próprios professores; que escreveu as obras
"Ilíada" e "Odisséia" e que construiu uma religião que não era dominada por sacerdotes.

E, o fundamental, uma civilização que persistiu em conjugar esses fatores durante mil
anos.

Como dizia o pensador romano Lucrécio, os gregos viam "a natureza livre e
desembaraçada de seus senhores arrogantes, agindo espontaneamente por si mesma,
sem a interferência dos deuses".

Mas isso não representou o fim da religiosidade entre os gregos antigos. O próprio
juramento dos médicos, atribuído a Hipócrates, começa com uma invocação aos deuses
Apolo, Esculápio, Higiéia e Panacéia.

Claro que libertar-se da superstição é uma condição necessária, mas não suficiente, para
a ciência. Então, interessa ao estudante observar que percurso histórico explicaria o
aumento do racionalismo. O que teria levado os gregos a se diferenciarem dos outros
povos da Antiguidade?

Riquezas geradas pelas conquistas


construíram Roma
Renan Garcia Miranda*

Especial para a Folha de S. Paulo


O grande orgulho de Otávio Augusto, primeiro imperador romano, era ter encontrado
uma cidade de tijolos e tê-la vestido de mármore.

As riquezas geradas pelas conquistas permitiram aos imperadores realizar inúmeras


obras públicas. Aquedutos, arenas, esgotos, portos, estradas: símbolos visíveis do poder
de Roma.

"Pão e circo" se tornaram a marca da relação dos imperadores com a plebe


marginalizada. Aumentaram a distribuição de cereais gratuitos e o financiamento dos
populares combates de gladiadores. Para facilitar a frequência a tais espetáculos, 159
dias foram assinalados como feriados públicos.

E havia ainda os edifícios para os banhos: vastos recintos, que lembravam templos, com
banhos quentes, frios e tépidos, salas para massagens e até mesmo bibliotecas. O banho
era um ritual que evidenciava a adoração ao corpo.

Culturalmente, o Império era um ambiente cosmopolita, em que as características


regionais iam sendo absorvidas e fundidas, criando uma sociedade extraordinariamente
aberta e diversificada. Tendências diferentes e muitas vezes divergentes coexistiam até
num mesmo monumento.

Diante disso, a arte romana não revela um estilo coerente, como o que encontramos no
Egito e na Grécia. Aliás, boa parte das obras de arte não era assinada, e seus autores
poderiam ter vindo de todas as partes do território imperial. É nesse mosaico de estilos
que reside a romanidade.

Essa romanidade se estendeu pelo Oriente e pelo Ocidente, por meio da progressão do
uso do latim, da criação de cidades e do direito romano. As barreiras entre italianos e
habitantes das províncias iam sendo rompidas à medida que espanhóis, gauleses,
africanos e outros povos dominados alcançavam postos no Exército e na administração
imperial, chegando até a imperadores.

Os romanos deram o nome de "pax romana" ao período de estabilização das fronteiras,


que foi, para eles, a realização do sonho de uma ordem pública universal. Nesse
período, 300 mil soldados, deslocando-se rapidamente pelas estradas, defenderam as
fronteiras junto dos rios Reno e Danúbio contra as incursões das tribos germânicas,
contiveram invasões orientais e sufocaram rebeliões internas.

A paz romana foi, antes de tudo, uma "paz armada", o maior símbolo de seu apogeu,
que, no entanto, já carregava em seu interior os sinais da decadência do Império.

Portugueses colonizavam em nome de


Deus
Flavio de Campos*

Especial para a Folha de S.Paulo


Os costumes dos diversos povos americanos chocaram os conquistadores europeus.
Enquanto o Novo Mundo, por sua natureza abundante, parecia o paraíso terrestre, sua
população foi considerada bárbara, sujeita a todo o tipo de pecado: a nudez, a luxúria e
até o canibalismo.

A cultura indígena foi catalogada sob rótulos já conhecidos. Como se o olhar europeu
fosse focado através de óculos medievais, confirmava-se aquilo que eles já sabiam. A
disposição era para reconhecer, e não para conhecer.
A cada passo da aproximação e da conquista das novas terras, os portugueses repetiam
as atitudes de Adão ao tomar conhecimento dos animais: conferiam nomes aos lugares.

Primeiro Monte Pascoal, ao avistarem terras à época da Páscoa. Terra de Vera Cruz e
Terra de Santa Cruz para definir a vinculação das possessões à cristandade.

Baía de Todos os Santos, São Vicente, São Sebastião do Rio de Janeiro, São Paulo,
todos os nomes referiam-se ao santo padroeiro do dia de sua conquista pelos
portugueses.

O batismo da nova terra antecedeu o batismo dos nativos. Como na Bíblia, nomear era
uma forma de exercer o domínio e o controle simbólicos daquilo que se nomeia.

Os mínimos sinais da natureza eram compreendidos como indícios de mensagens de


Deus aos conquistadores. A constelação do Cruzeiro do Sul no céu era interpretada
como a evidência da bênção de Deus sobre a terra.

A existência de aves falantes, os papagaios, era mais um sinal da proximidade das novas
terras com o paraíso, onde os animais se comunicavam com os seres humanos.

O termo nativo "zomé" foi compreendido como uma referência bíblica a uma presença
milagrosa do apóstolo são Tomé, e o mito indígena do dilúvio foi registrado como
indício de que eles tiveram conhecimento da grande inundação descrita pela tradição
judaico-cristã.

No teatro que se desenrolava nesse cenário idilizado, os indígenas eram figurantes. A


incorporação de novas terras e gentes ao mundo conhecido dos europeus desencadeou
uma espécie de febre de "fim de mundo".

A conquista do Novo Mundo foi interpretada como o acontecimento mais importante


desde a encarnação de Cristo. Para muitas pessoas, a história estava chegando ao fim.

Assim, vivia-se uma época de preparação para o Juízo Final, antecedida pela conversão
de todos os povos segundo os relatos bíblicos. A descoberta do Novo Mundo anunciava
o fim do mundo

New Deal dá vida nova aos EUA


Renan Garcia Miranda*

Especial para a Folha de S.Paulo


Em 1932, a música da moda nos Estados Unidos era: "Brother, Can You Spare a Dime?
("Irmão, Você Pode me Emprestar um Trocado?"). Esse era o espírito de um país com
14 milhões de desempregados. E, pior, tinha-se a nítida impressão de que a crise não
iria ter fim, de que não existia um ponto de virada: era a Grande Depressão.

Famílias aninhavam-se, em busca de calor, junto aos incineradores dos edifícios


municipais, enquanto outras procuravam restos de comida nos caminhões de lixo. Boa
parte da população norte-americana responsabilizava o presidente Hoover e os
republicanos pela crise.

A política liberal do governo, de não interferir no mercado, teria sido a responsável pela
quebra da Bolsa de Nova York em 1929 e pela depressão.
Assim, em 1932, o democrata Franklin Delano Roosevelt venceu facilmente as eleições
presidenciais norte-americanas.

Durante a campanha eleitoral, Roosevelt havia se comprometido a estabelecer um


"Novo Ajuste" (New Deal) para o povo americano. Em seu discurso de posse, declarou:
"A única coisa a temer é o próprio medo".

E, audaciosamente, contrariando as teorias ultraliberais que defendiam uma mínima


intervenção estatal na economia, procurou empenhar o Estado na ajuda aos "de baixo".
Para resolver o problema do desemprego e reaquecer a economia, deu início a um
enorme programa de obras públicas.

O New Deal estabeleceu um amplo programa de apoio aos desempregados.


Construíram-se ou restauraram-se 400 mil quilômetros de estradas, colocaram-se em
funcionamento 40 mil escolas, com a contratação de 50 mil professores, instalaram-se
mais de 3,5 milhões de metros de tubulações de água e esgoto, além de praças e quadras
esportivas em todo o país.

Na habitação popular, uma agência estatal avalizava financiamentos imobiliários,


viabilizando um grande programa que impulsionou a construção civil.

A idéia era: o Estado gera empregos, as pessoas voltam lentamente a consumir, as


fábricas e as fazendas aumentam a produção, contratam mais mão-de-obra, mais
pessoas são reintegradas ao sistema e o capitalismo voltaria a florescer.

O consumo aumentou em 50% depois de três anos de investimentos governamentais.


No entanto ainda havia 9 milhões de desempregados no país ao final da década de 30.

O problema do desemprego e do crescimento econômico só foi resolvido a contento


durante a Segunda Guerra Mundial.

Calvinismo regula vida política e social


da população
Renan Garcia Miranda*

Especial para a Folha de S.Paulo


Em 1533, o religioso francês João Calvino conheceu o luteranismo e converteu-se, o
que significou problemas com seu Estado natal, que apoiava a Igreja Católica. A
situação obrigou-o a exilar-se na cidade de Genebra, centro das discussões reformistas.
Bem recebido, Calvino estabeleceu na cidade uma sociedade na qual a Igreja regularia a
vida política e social dos cidadãos. Ali fincaria pés a moralidade calvinista, impondo
uma disciplina rigorosa quanto ao vestuário, aos costumes sexuais, ao comparecimento
à igreja e aos negócios comerciais.

As atividades econômicas foram particularmente beneficiadas, liberadas do preceito


religioso de pecado e tendo consentida a cobrança de juros, prática condenada pela
Igreja Católica.

Os calvinistas tornaram-se cristãos militantes, atuantes em suas congregações e


dispostos a eliminar o mal em si mesmos e nos outros, capazes de governar sua cidade
com a mesma vontade de ferro que empregavam para controlar as paixões.

Como Lutero, Calvino ressaltava a submissão dos cristãos às autoridades políticas. Mas,
se apenas a dedicação à lei de Deus poderia ser vista como sinal de salvação, então a
obediência às leis humanas seria sempre condicionada por sua fé e moral cristãs.

Quanto à predestinação, Calvino, que discutira muito pouco o assunto, argumentava


que, embora estivesse predestinado à salvação ou à danação, o homem jamais poderia
conhecer antecipadamente sua sorte. A escolha de uns e a rejeição de outros era um
sinal do mistério de Deus.

Enquanto o católico se salvaria pela virtude, pelo arrependimento e pela penitência, o


protestante viveria sem saber se já estaria salvo ou condenado, buscando em cada
momento vislumbrar indícios de que a graça divina recaíra sobre ele.

Após a morte de Calvino, seus seguidores foram, lentamente, tornando a predestinação


algo crucial e estabelecendo parâmetros lógicos para um homem reconhecer os sinais de
Deus.

O trabalho passou a ser visto como uma vocação divina, e o sucesso decorrente dele, um
sinal da predestinação. Isso levou muitos teóricos a considerarem o calvinismo a
religião do capitalismo, por não condenar o comércio, o empréstimo a juros e por
valorizar o trabalho.

Vendo na riqueza sinais exteriores da graça divina, os protestantes estabeleceram uma


violenta disciplina moral em que todas as energias seriam canalizadas para a
acumulação de bens.

Colonizadores espanhóis acabam com


Império Asteca
Renan Garcia Miranda*

Especial para a Folha de S.Paulo


Para os mexicas, que erroneamente chamamos de astecas, termo que designa apenas
seus ancestrais distantes, a religião desempenhava papel central nas relações entre o
Estado e a sociedade.

A guerra era sagrada, pois por meio dela se obtinham escravos para o sacrifício
humano, elemento central na ligação entre a comunidade e o Estado.

Quando os espanhóis invadiram a América, os mexicas reinavam sobre um império


aberto a dois oceanos, controlando as rotas da América Central.

Sustentado por um exército de elite, o império, a partir de sua capital, México-


Tenochtitlán, afirmava sua superioridade sobre 20 milhões de súditos.

Em 1519, o vale do México, com cerca de 5 milhões de habitantes, era a maior


concentração urbana do mundo. Hernán Cortés, conquistador espanhol, dominaria esse
império com 600 soldados, 16 cavalos, 10 canhões e 13 arcabuzes.

Em 1539, 20 anos após o início do domínio espanhol, México-Tenochtitlán tornou-se


um conjunto de ruínas e obras espanholas: um mosaico de capelas e conventos, bairros
indígenas e palácios mexicas, estes transformados em casa dos conquistadores.

A análise histórica dessas civilizações ordenou excessivamente o desenvolvimento dos


fatos, dando-lhes feições europeizadas.

É bastante comum encontrarmos nos livros referências às semelhanças entre elas e as


civilizações do Egito antigo, modelo com que os europeus tinham mais familiaridade.
Porque era isso que eles pretendiam: construir na América uma cópia da sociedade
européia, submetendo culturas locais.

Era a ocidentalização do mundo, a difusão do modo de pensar europeu.

No ano passado, foram encontradas na cordilheira dos Andes, crianças incas


mumificadas.

Elas chamavam a atenção para os sacrifícios humanos praticados entre os incas. Os


corpos estavam em tumbas, rodeados de objetos e com marcas de pancadas leves no
crânio.

O arqueólogo norte-americano Johan Reinhard, que encontrou as múmias, falando a


respeito das dificuldades de analisar o material, afirmou à revista "Superinteressante": "
Tudo o que temos, por ora, são relatos dos colonizadores espanhóis, que não são
confiáveis".

As concepções de tempo desses povos eram diferentes das nossas. Desprovidos de uma
escrita comparável à européia, eles deixaram somente vestígios de pouca utilidade para
compreendê-los.

A cultura dos incas, por exemplo, desintegrou-se tão rapidamente após o domínio
espanhol que hoje é extremamente difícil sua reconstituição histórica. Quase tudo que
sabemos desses povos pré-hispânicos vem de documentos de conquistadores europeus.
Os historiadores Carmen Bernard e Serge Gruzinski formulam a seguinte questão:
"Como penetrar nesse "outro mundo" sem reduzi-lo demais à nossa forma de perceber
os seres e as coisas?

Darwinismo acaba com as referências


bíblicas
Renan Garcia Miranda*

Especial para a Folha de S.Paulo


A palavra "cientista" foi criada em 1840 pela Associação Britânica para o Progresso da
Ciência. Nessa época, surgiram, em vários países, periódicos científicos. Era a
popularização da ciência.

Em 1859, quando foi publicada "A Origem das Espécies", de Charles Darwin, toda a
edição foi vendida no primeiro dia. O princípio da seleção natural determina quais
membros da espécie têm mais chance de sobrevivência. As crias não são reproduções
idênticas de seus pais. Um leão pode ser ligeiramente mais rápido ou mais forte do que
os pais; uma girafa pode desenvolver um pescoço mais comprido do que o dos pais.

A cada geração, a característica favorável torna-se mais pronunciada e mais difundida


nas espécies. Com o passar dos séculos, a seleção natural elimina as espécies antigas e
produz novas. Hoje sobrevivem ainda poucas espécies das que habitavam a Terra, havia
10 milhões de anos, mas apareceram muitas outras, entre elas os humanos. Os homens
seriam produtos da seleção natural.

A Teoria da Evolução teve consequências revolucionárias fora da área científica. A


evolução desafiou a tradicional crença religiosa de que um número fixo de espécies
havia sido criado instantaneamente há cerca de 6.000 anos. Ao contrário, dizia Darwin,
as várias espécies, até a humana, evoluíram gradativamente por milhões de anos e há
ainda espécies novas em evolução.

Em última análise, o darwinismo ajudou a acabar com a prática de ter a Bíblia como
referência em questões científicas. Darwin havia tirado dos homens o privilégio de
terem sido a criação especial de Deus.

Alguns pensadores sociais aplicaram as conclusões darwinianas à ordem social,


produzindo teorias que as transferiram à explicação dos problemas sociais. As
expressões "luta pela existência" e "sobrevivência do mais capaz" foram tomadas de
Darwin para apoiar a defesa que faziam do individualismo econômico.

Os empresários bem-sucedidos, afirmavam esses pensadores, haviam demonstrado sua


capacidade de vitória no mundo competitivo dos negócios. Os que fracassavam na luta
pela existência demonstravam sua incapacidade.
A aplicação da biologia de Darwin às teorias sociais fortalecia o imperialismo, o
racismo, o nacionalismo e o militarismo. Os darwinistas sociais insistiam em que as
nações e as raças estavam empenhadas numa luta pela sobrevivência, em que apenas o
mais forte sobrevive e, na realidade, apenas o mais forte merece sobreviver.

Eles dividiam a humanidade em raças superiores e inferiores e consideravam o conflito


racial e o nacional uma necessidade biológica e um meio para o progresso.

HISTÓRIA GERAL

11 de setembro abala hegemonia dos


EUA
Geraldo Teruya*

Especial para a Folha de S.Paulo


O impacto provocado pelos ataques terroristas nos EUA levantou uma série de questões,
a começar pela hegemonia econômica americana. Como ela foi conquistada? Uma
passagem pela sua história fornece elementos para uma reflexão.

Durante a colonização, a região centro-norte construiu uma economia forte, comercial e


industrial, voltada para o mercado interno. Isso explica por que os EUA emergiram do
processo de independência no século 18, como nação rica, liberal e capitalista, mas
herdaram graves contradições que se desdobraram na Guerra Civil (1861-65) com a
vitória do norte industrial sobre o sul agrário.

Vale lembrar que a riqueza americana foi obtida por um imperialismo interno, pelo
massacre de índios, pela exploração de escravos e pela ocupação violenta de terras a
oeste do território. No final do século 19, alimentados por um poderoso parque
industrial, lançaram o "Big Stick", a política externa imperialista e agressiva, legitimada
pela doutrina racista do "destino manifesto". Vieram as guerras mundiais, centradas na
Europa, e nelas os EUA entraram na metade do conflito, conquistando a hegemonia
mundial "sob os escombros das duas guerras".

Com a Guerra Fria, os EUA patrocinaram ditaduras, financiaram conflitos e


massacraram povos pelo mundo em nome da luta contra o comunismo soviético. Entre
1989 e 1991, a Guerra Fria acabou. Instalou-se uma nova ordem mundial e, com ela, a
globalização da economia, da qual os EUA assumiram a liderança. Nesse contexto, os
novos conflitos tendem a superar fronteiras e Estados.

Os ataques questionam o poder dos EUA e talvez a sua própria hegemonia mundial. Ao
mesmo tempo, estimulam o nacionalismo e podem criar uma nova Guerra Fria, tendo
como inimigo o terrorismo internacional. Recrudesceram os movimentos racistas e
xenófobos.

O novo e o velho interagem. O velho discurso da civilização (ocidental) contra a


"barbárie" (fundamentalismo islâmico) deixa expostas as contradições desse mundo
globalizado.

Para quem achava que a história não mais mudaria, é bom abrir os olhos. O que vem por
aí só o tempo dirá.

Conheça as origens do terrorismo


Geraldo Teruya*

Especial para a Folha de S.Paulo


A perplexidade causada pelos atentados nos EUA suscitou um intenso debate sobre as
raízes do terrorismo, as contradições da globalização e as relações entre o Ocidente e o
islamismo.

Nas Cruzadas, durante a Idade Média, houve conflito entre cristãos e muçulmanos.
Foram guerras santas de ambos os lados. Mas não se limitaram a isso. Os árabes
islâmicos criaram uma brilhante civilização e influenciaram o Ocidente.

Nesse sentido, deram sua contribuição ao Renascimento, movimento cultural que criou
a ciência moderna. Esta seria incorporada pelo desenvolvimento do capitalismo, que
submeteu o mundo aos interesses das grandes potências. Nas nações islâmicas, as
potências aliaram-se às elites locais que utilizaram a religião para dominar o povo. Esse
domínio gerou violentas contradições e reações que explodiram nas várias revoluções e
guerras ocorridas no século 20.

A atual guerra não é um conflito de civilizações nem de religiões. Também não é um


confronto nos moldes tradicionais. Trata-se de uma guerra oculta e difusa, uma guerra
global. Nela atuam grupos pequenos, porém poderosos e obscuros, que se aliam no
plano internacional, formando uma teia, que, unida, é capaz de promover pânico no
mundo e desafiar as maiores potências. É o caso dos radicais islâmicos, que reagem
contra o desprezo e a exclusão social imposta pelas potências ocidentais -lideradas pelos
EUA- e se nutrem do fanatismo e da miséria de milhões de muçulmanos.

O que se questiona é esse tipo de economia globalizada, baseada no apartheid social e


no pensamento único neoliberal, que exclui milhões de pessoas e marginaliza culturas.
Estão aí as origens do terrorismo, da violência urbana e do fanatismo religioso. Nesse
sentido, um novo mundo torna-se cada vez mais necessário. Um mundo onde
israelenses e palestinos se entendam, em que a ciência seja usada apenas para o bem,
onde se respeitem os direitos de todas as culturas e onde os excluídos sejam incluídos
no sistema econômico-social. Utopia, dirá o leitor. Mas nunca foi tão necessário que a
realidade se aproximasse da utopia.

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