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PESSOA ORTÓNIMO
CONTEÚDOS ESSENCIAIS
« Um dos malefícios de pensar é ver quando se está pensando. Os que pensam com o
raciocínio estão distraídos. Os que pensam com a emoção estão dormindo. Os que pensam
com a vontade estão mortos. Eu , porém , penso com a imaginação... »4
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Pessoa Ortónimo
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Idem
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Fernando Pessoa, « Páginas de Estética e de Teoria Literária » Ed. Ática
4
Fernando Pessoa- Bernardo soares , « Livro do desassossego »
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O eu poético da poesia ortónima , experimentou a par do orgulho de conhecer a pena
de lhe ser inacessível a felicidade dos que não conhecem.Ele sabe que o privilégio de
ter uma extraordinária lucidez se paga caro. Quanto mais se conhece mais dor se sente
Para ele racionalizar e intelectualizar excesso leva à infelicidade. A felicidade só
existe na ordem inversa do pensamento e da consciência. O eu poético deseja ser
feliz, só que a felicidade não se coaduna com reflexão, consciência e racionalidade
O eu poético assume-se prioritariamente como alguém que submete o sentimento à
razão
Pessoa e os seus heterónimos são unânimes em exprimir a nostalgia do estado de
inconsciência. O poeta pergunta-se se não valerá mais o bem – estar físico do gato que
brinca, obediente às leis do instinto. E pergunta-se ainda para que serve essa trituração
mental que não conduz a nada. Pessoa inveja a inconsciência de uma flor. Isenta de
duplicidade a flor não se defronta com o problema de ser sincera. Existe em muitos
passos da sua poesia uma aspiração à vida instintiva, embora normalmente esta
aspiração seja apenas momentânea e logo a seguir o poeta reconsidere. Quer e não
quer ser inconsciente. Formula então uma ambição impossível : ser inconsciente e ter
consciência disso.
Para ele , no entanto, ser inconsciente é não ser. Só a inocência e a ignorância são
felizes mas não o sabem e para ele ser sem o saber é ser como uma pedra. A alegria
inconsciente não é alegria.
Ser inconsciente , mas sem deixar de ser consciente é impossível. Essa
impossibilidade será a geradora de grande parte da angústia que lhe oprime a alma e
que o leva muitas vezes a uma ânsia de libertação. Só que essa libertação não passa
por deixar de ser consciente. O poeta mostra-se empenhado no conhecimento, no
pensamento , mas também na procura dessa felicidade , apesar da consciência que tem
da brevidade da vida
Quando pretende reconstruir por dentro o passado depara-se com um vazio. A infância
que lembra não é a infância que teve, mas uma representação actual da infância.
« Vivo sempre no presente. O futuro não o conheço. O passado , já não o tenho. Não
tenho esperança , nem saudade »8Apesar do que ele diz nestas frases, notamos na
leitura da sua poesia ortónima que o bem pressentido esta localizado muitas vezes no
passado, numa infância remota. Mas essa infância não é autobiográfica. A infância é
um símbolo, o símbolo da inconsciência, do sonho, de uma felicidade longínqua, de
candura e claridade. Associadas à infância andam os sinos da aldeia, o jardim, a ama, a
velha tia. Mas estas são imagens de uma idade perdida remotíssima. É um paraíso
perdido que já não se situa no tempo. De tudo isto resulta a melancolia.
Se ao poeta fosse possível destacar um determinado período da sua existência e nele
permanecer decerto escolheria o tempo da infância. A descida ao passado da infância
tem como causa primeira a decepção e o malogro do presente. No momento actual da
sua vida infeliz de adulto, agarra-se a esse tempo que , tal , como o lar perdido, tem o
valor de um símbolo. Nele se contém a inconsciência e a irreflexão de uma felicidade
que agora quer possuir. A sua memória não guarda do passado a medida da sua
duração nem a ordem lógica dos episódio. Numa reconstituição fragmentada ,
imagina, mais que lembra, acontecimentos isolados que lhe parecem Ter sido instantes
decisivos para a construção da felicidade morta. Recorda um tempo cheio de rupturas ,
de acções sem ligação imediata de duração, só com continuidade na emoção e na razão
que a evoca. Do que passou não há referências a duração temporal
Na poesia ortónima aparece-nos frequentemente a ideia obsessiva de que mudamos e
morremos com o tempo. Muitas vezes até o presente lhe sabe a coisa morta. Na poesia
ortónima ele chega mesmo a pensar que não passa de um ponto de convergência entre
vários tempos.. Quanto ao futuro ele sabe que está fechado pela morte e diante do
futuro fechado está a angústia. Pessoa quer por isso fugir , não ao tempo mas À
consciência dele e por isso também o desejo do sono.
.
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Pessoa Ortónimo
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Fernando Pessoa – Bernardo Soares , « Livro do Desassossego »
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5. Tensão sinceridade / Fingimento
O poeta é um fingidor » diz Pessoa. A base de toda a arte é não a insinceridade mas
sim uma sinceridade traduzida. O poeta finge emoções imaginadas, sentidas no
intelecto, artisticamente sinceras e finge também outras vezes, emoções que
humanamente sentiu. Mesmo no segundo caso há fingimento porque as emoções
passam a ser forma , são filtradas. Dizer por palavras implica um processo de
intelectualização. A arte é a intelectualização da sensação ( sentimento ) através da
expressão. A emoção do leitor será ainda outra diferente da sentida e da expressa. No
acto de ler convergem o objectivo e o subjectivo.
Um poema é um produto intelectual. O poeta exprime dor no poema, mas torna-se
estranho a essa dor escrita. A emoção é responsabilidade do leitor e não do criador. O
poeta caracteriza-se pelo fingimento. Esse fingimento é o resultado de uma
intelectualização de sentimentos. O poeta é um racionalizador de sentimentos e a
produção poética é um acto lúdico. O poeta opera pelo distanciamento em relação ao
real, pela criação de novas relações significativas, através de uma interacção constante
entre o pensamento e a sensibilidade.. è isto que se passa com o artista em geral.O
poeta diz ainda que toda a obra de arte é um trabalho de colaboração entre sentir e
pensar. A poesia não é a representação directa do real. Para ser poesia, para ser arte, é
necessário que o real seja modelizada, transformado previamente pelo fingimento. O
coração submeter-se À razão, mas esta não poderá ignorar o sentimento. Ao escrever o
poeta distancia-se das sensações, coloca-se ao nível do fingimento., do pensamento, da
racionalidade ao nível do que não está ao pé. Quando consegue ultrapassar essa
barreira do palpável pode ver a coisa linda, essa coisa que é sempre objecto de
procura, porque não é concreta nem palpável.
« A composição de um poema lírico deve ser feita não no momento da emoção , mas
no momento da recordação dela. Um poema é um produto intelectual. « O acto poético
por excelência , diz Pessoa , resulta de um processo de despersonalização de emoções
e sentimentos, não necessariamente coincidentes com os do artista, implicando o
desdobramento do autor em várias personalidades poéticas »9
Fingimento e mentira não são sinónimos em Pessoa . Fingir significa recriar
reelaborar, filtrando com a imaginação criadora , deixando no acto da escrita o coração
de lado.
Coração é sinónimo de sensibilidade; razão é sinónimo de inteligência
Mala – símbolo da arrancada para a viagem da vida. È condição indispensável sem a qual não
se pode partir. È a desculpa de Pessoa para não partir. Ele tem desejo de partir mas não tem
vontade e assiste-se à oscilação entre o ter de arrumar a mal e a falta de vontade de o fazer.
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Pessoa Ortónimo
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Elo enquanto homem , e escrevendo como ortónimo ou como Campos é também uma mala.
Dentro dessa mala reina a desordem e a perturbação.
Para Campos, a mala pessoal é um espaço que não se franqueia a qualquer um , um espaço de
intimidade, um ponto de convergência de interioridade, um esconderijo que é a própria vida.
Abismo: O abismo é tudo: céu e mar, vida e morte, alma e pensamento. O poeta está situado
num mundo abismal porque desconhecido e todas as realidades materiais ou imateriais vão
encontrar lugar nesse espaço tremendo e indefinido. No Mundo de Caeiro não há acidentes
orográficos que mereçam, tal nome. Ele não tem filosofia; o seu pensamento nunca dá saltos
em despenhadeiros. Para Reis o abismo é a alma e a morte. Para Campos é toda a existência.
Para este heterónimo o destino do poeta aparece-lhe na alma como um precipício
Ilha Longínqua – O poeta não a objectiva, somente a situa algures nos mares do pacífico e
perde-a na imensidade que por ser indefinida é infinita.
Rio – Símbolo do fluir do tempo é comum a Caeiro , Campos e Pessoa Ortónimo. De minuto
a minuto são águas diferentes as que passam. Do mesmo modo a substância do ser se
transforma. A mudança constante da humanidade, do indivíduo, do pensamento ou do
sentimento espelham-se no fluir das águas do rio Os rios calmos que nos aparecem em Reis
devem ser por nós imitados no seu curso. Os rios transportam consigo a marca de uma
transitoriedade da consciência, da razão e da vida. O pensamento de pessoa tem a fluência e a
profundidade de um rio, rio subterrâneo de que desconhece a foz e a nascente, mas que vai
desembocar num além que o poeta perde
Caeiro passa como o rio. Reis passa com o rio. Este é o poeta da tristeza da passagem. À sua
água está ligado o significado do correr do homem, do correr dos dias, as conjecturas do
destino funesto, da morte e por isso essa água é um elemento melancolizante..
Reis defende que devemos deixar-nos ir como a água, vivendo o momento que passa e
aceitando-nos como realmente somos, felizes porque inconscientes, divididos dentro de nós
com a certeza da brevidade da vida, com a ilusão da liberdade que é a forma de a Ter e
indiferentes a tudo. Os rios de Reis são por isso tranquilos porque o ideal de vida ou morte a
que ele se quer submeter é determinado por um movimento interior de equilíbrio e lentidão.
Na contemplação do movimento calmo da água, aprendamos a sentir-nos ir também. Para ele
contemplar a água é morrer. Por isso a poesia de Reis é triste. Contemplar a água é
contemplar-se a si próprio no caminho para o fim. Para Campos contemplar a água é ainda
conhecer-se vivido pelo tempo é deparar com o tédio e com o absurdo.
A água de Caeiro é aceite. A de reis é aceite mas triste. Triste porque nos acorda para a certeza
da morte.
Lago - Na poesia de Pessoa nem sempre a água corre. Embora raramente aparecem os lagos
parados , silencioso e solenes. Estes lagos saem do interior de si próprio, do mapa da
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desgraça que traz gravada em si. Se cada rio reflecte a morte, cada lago a contém. O lago
morto é por vezes o seu coração.
Mar- Também o mar aparece com frequência na poesia pessoana. As paisagens marítimas da
sua poesia são experiências oníricas.
Campos , em sonho, parte de um cais para o bulício da vida de todos os navios, de toda a
gente que neles passa. parte para todas as largadas e todas as chegadas, para tudo que há na
vida marítima e que ele quer sentir na própria pele. Quilhas, mastros, velas , rodas do leme,
caldeiras, escotilhas, ..., a profusão de paquetes, de navios, a agitação da vida do mar, tudo
isso o inebria, o penetra fisicamente e o delírio das coisas do mar toma-o pouco a pouco. O
prazer sádico da visão de um capitão enforcado, os fragmentos de corpos na água, as cabeças
de criança espalhadas aqui e ali, o próprio sangue derramado no mar, a dor de toda a aventura
marítima são o mal de todo o universo concentrado.
No mar vê o poeta o meio dinâmico proporcional À sua dinâmica. A do mar na sua violência
recebe facilmente todos os caracteres psicológicos de um tipo de cólera e no praiar clamo
recebe também a serenidade dos sonhos passados e dos anseios felizes.
Mas o mar cansa. Um dia regressa-se ao porto.. Desaparece o mar movimentado para aparecer
o mar calmo inatingível.
Temos ainda o mar da Mensagem. È a própria substancia dos sonhos de religiosidade e de
vida. É um mar arquétipo, cheio de profundo sentido mítico. Um mar ideia em que Pessoa
descreve destinos espirituais numa busca de Absoluto, e onde se cumpre a vida de cada ser
humano .È um mar anónimo total ou infinito sempre sinónimo de absoluto. Pessoa tem por
ele o respeito de quem o vencer e a admiração de quem o enaltece.
Na poética de Campos o mar tem a força de um adversário com quem é obrigatório medir-se.
Em todos os outros têm a tranquilidade de um símbolo materno, apela a uma existência
uterina.
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Noite – a noite é para Pessoa uma totalidade. É cheia de mistério e de religiosidade. È uma
noite-ideia em que inscreve a procura de um Absoluto. Ponto de partida para o sonho, para a
emoção poética, para o acordar do pensamento, para a esperança. Noite enigma, mas noite
libertadora. Noite sem margem ou contorno porque o sonho não tem obstáculo.
Campos foi de todos o que objectivou este símbolo com mais plenitude. Nele a noite é uma
unidade em que tudo se priva da sua individuação. O espaço só tem uma dimensão. Montes e
árvores fundem-se. A realidade é incolor e informe, a matéria não tem acidentes, porque tudo
perde as arestas e as cores. A noite é o instante único em que este poeta sempre recomeça o
mundo e a esperança.
Vento – Elemento harmónico. Não é violência, nem voz agressiva, porque não participa da
cólera de um universo, mas de um sonho de sublimação libertadora. O vento contribui para a
ascensão das folhas e para a elevação das coisas depositadas no chão.
Céu – lugar em que as formas não desempenham nenhum papel. É o espaço que se vê mas
onde não há nada que ver. O longínquo do céu e do imediato do poeta conjugam-se. Está
também ligado ao anseio de ascensão .Está ligado à verticalidade.
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