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LINHAS ORIENTADORAS PARA A LEITURA DE POEMAS DE FERNANDO

PESSOA ORTÓNIMO

CONTEÚDOS ESSENCIAIS

1. Tensão sentir / pensar

A dualidade do sentir e do pensar, nas suas ambíguas significações de emoção e razão,


conhecimento e sensibilidade, manifestam-se com insistência na poesia de Pessoa , quer como
ortónimo quer como heterónimo. Há sempre entre estes termos uma tensão permanente .
Pessoa exclama « Basta pensar em sentir / para sentir em pensar »1, mas logo depois noutro
poema « Que importa , se sentir / É não se conhecer ? » ou ainda , num instante em que se
encontra exausto desse esforço de ajustar o pensamento às sensações, acaba por
desalentadamente desabafar : « Cansa sentir quando se pensa »2.
Este acordo e desacordo entre sentir e pensar é uma constante na poesia de Pessoa. Só na
linguagem poética se pode manifestar essa adequação e inadequação simultânea da razão e da
sensibilidade.
O poeta é um fingidor, um racionalizador do sentimento, e a produção poética é uma acção
lúdica. O poeta opera pelo distanciamento em relação ao real, pela criação de novas relações
significativas de uma interacção constante entre dois núcleos essenciais – o pensamento e a
sensibilidade.
Pessoa afirma que « Toda a arte é o resultado da colaboração entre sentir e pensar, não só na
acepção de que , ao construir uma obra de arte, a razão trabalha com elementos fornecidos
pela sensibilidade, mas também no sentido de o próprio sentimento com que a razão assim
trabalha, e que é matéria a que a razão impõe determinada forma- é um sentimento dentro do
qual o pensamento colabora3.

« Um dos malefícios de pensar é ver quando se está pensando. Os que pensam com o
raciocínio estão distraídos. Os que pensam com a emoção estão dormindo. Os que pensam
com a vontade estão mortos. Eu , porém , penso com a imaginação... »4

2. A dor de pensar e a tensão entre consciência e inconsciência

 A inteligência é para pessoa um instrumento de destruição que vitima aquele que o


maneja, lhe provoca dor, o cansa e corrói, que lhe mina as condições essenciais de
felicidade., mas é também graças a essa inteligência que se acorda para a existência, se
acorda do sono do nada que é não pensar.

1
Pessoa Ortónimo
2
Idem
3
Fernando Pessoa, « Páginas de Estética e de Teoria Literária » Ed. Ática
4
Fernando Pessoa- Bernardo soares , « Livro do desassossego »
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 O eu poético da poesia ortónima , experimentou a par do orgulho de conhecer a pena
de lhe ser inacessível a felicidade dos que não conhecem.Ele sabe que o privilégio de
ter uma extraordinária lucidez se paga caro. Quanto mais se conhece mais dor se sente
 Para ele racionalizar e intelectualizar excesso leva à infelicidade. A felicidade só
existe na ordem inversa do pensamento e da consciência. O eu poético deseja ser
feliz, só que a felicidade não se coaduna com reflexão, consciência e racionalidade
 O eu poético assume-se prioritariamente como alguém que submete o sentimento à
razão
 Pessoa e os seus heterónimos são unânimes em exprimir a nostalgia do estado de
inconsciência. O poeta pergunta-se se não valerá mais o bem – estar físico do gato que
brinca, obediente às leis do instinto. E pergunta-se ainda para que serve essa trituração
mental que não conduz a nada. Pessoa inveja a inconsciência de uma flor. Isenta de
duplicidade a flor não se defronta com o problema de ser sincera. Existe em muitos
passos da sua poesia uma aspiração à vida instintiva, embora normalmente esta
aspiração seja apenas momentânea e logo a seguir o poeta reconsidere. Quer e não
quer ser inconsciente. Formula então uma ambição impossível : ser inconsciente e ter
consciência disso.
 Para ele , no entanto, ser inconsciente é não ser. Só a inocência e a ignorância são
felizes mas não o sabem e para ele ser sem o saber é ser como uma pedra. A alegria
inconsciente não é alegria.
 Ser inconsciente , mas sem deixar de ser consciente é impossível. Essa
impossibilidade será a geradora de grande parte da angústia que lhe oprime a alma e
que o leva muitas vezes a uma ânsia de libertação. Só que essa libertação não passa
por deixar de ser consciente. O poeta mostra-se empenhado no conhecimento, no
pensamento , mas também na procura dessa felicidade , apesar da consciência que tem
da brevidade da vida

3. O Eu Fragmentado / Estados de espírito do eu / Eu – Mundo exterior

 No ortónimo são nítidas as marcas de isolamento, solidão, insegurança, hesitação,


dúvida, introspecção, fechamento sobre si, que revelam a incapacidade de um
verdadeiro relacionamento pessoal e afectivo.
 Vários são os poemas , do ortónimo e dos heterónimos , onde a temática da solidão
nos aparece. O eu poético aparece-nos triplamente solitário : perdido diante da
infinidade cósmica, divorciado dos outros por se ter adiantado demais aos
companheiros de viagem e afastado de si próprio por não encontrar a unidade que nem
os deuses têm
 Ao longo da vida e da obra, Pessoa, está obsessivamente só, mas é ele o criador da
sua solidão. Pessoa está só por se ter afastado de um mundo de felicidade a que não
conseguirá novamente voltar. Perdeu o paraíso e aparecem-nos um conjunto de
espaços que recordam um mundo feliz , mas também um outro conjunto de espaços
que objectivam a limitação de um presente triste. Depois de perdido o paraíso da alma,
o eu poético sente-se deslocado e situado num mundo que não é para ele. Na prisão em
que muitas vezes se acha não é mais que um exilado de uma outra vida que pensa
voltar a encontrar.
 Em muitos poemas aparece-nos dominado pelo tédio, pela náusea pelo cansaço.
Céptico, angustiado, mas lúcido. Sem vontade , abúlico, sente estranheza e
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perplexidade. Procura resposta na religião, na metafísica no esoterismo. Refugia-se na
noite, no sonho na música. Mas descobre que nenhuma destas respostas é viável e daí
a abdicação, daí o fingimento , o outrar-se. Inquieto perante o enigma do mundo, que é
indecifrável porque é opaco, sente-se só interiormente, sofre porque pensa,
desencanta-se, espera. Os seus momentos breves de plenitude aparecem associados à
música, à infância e ao sonho.
 Melancolia , nostalgia, angústia, tédio, tendência para a resignação, desilusão ,
abatimento, desalento, infelicidade, timidez, intranquilidade, provocada por uma alma
demasiado sensível que não é possível satisfazer suficientemente são assim alguns
dos estados de alma com que encontramos o eu poético ;
 O eu está permanentemente à procura mas consciente de que nunca encontrará; tem
ânsia de conhecimento, de descoberta da sua própria identidade ;
 O eu tenta a racionalização constante das sensações e está em continuo choque entre
pensar e sentir,
 Há em Pessoa , frequentemente , um desajustamento entre o querer e o fazer. O sujeito
poético quer o infinito mas fica sempre na metade. Mostra-nos por isso uma
resignação dorida de quem sofre a vida sendo incapaz de a viver. O sorriso que
traduziria a felicidade está quase sempre ausente da sua poesia. Diz ele « o sorriso é o
rumor de uma festa longínqua, em que nada de nós tomas parte , salvo a imaginação »5
A vida não lhe traz felicidade e por vezes ele alimenta o sonho da viagem, mas nunca
chega a sair do cais. Não tem alento para fazer a mala.
 Existe no eu uma tendência para o misticismo e a espiritualidade, para o misterioso, o
obscuro o fingimento;
 O eu busca o absoluto e um sentido para a vida.
 Sente muitas vezes estranheza face ao real , que é opaco e impenetrável. Ligado a este
sentimento aparece-nos os sentimento de exílio, do mistério, a ideia de que a vida é
sonho, ilusão. O sonho é o único lugar de realização do tudo.
 O exterior aparece muitas vezes como forma de expressar o mundo interior. Assim
uma flauta que trina, a brisa que sopra, a nuvem que vaga, o gato que brina, a ceifeira
que canta, são pretextos para a deambulação do seu pensamento e possibilitam o
extravasar de desencantos, frustrações, tédios, dores.
 O eu de Pessoa é assim um eu fragmentado. Continuamente sente que foi outro, que
pensou outro, que sentiu outro. « sou múltiplo . Sou como um quarto com inúmeros
espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única realidade que não está
em nenhuma e está em todas»» são afirmações que encontramos na obra de Pessoa.6
 A sucessiva mudança de tudo leva-o a sentir-se estranho a si mesmo. A auto-análise
aparece com frequência nos poemas do ortónimo. Viajando constantemente ao seu
interior, ele enrola cada vez mais o novelo das suas fragmentações . O que encontra
dentro de si é um ser perdido no labirinto de si mesmo, não encontrando o fio que
conduzirá à saída.

4. O Passado / A passagem do tempo /A nostalgia do regresso à infância /A Casa

 A obsessão do paraíso perdido vai colocar-nos no espaço do lar também perdido. O eu


perdeu a casa da infância e perdeu também o paraíso de não pensar e da
inconsciência.
 As imagens da casa e do lar encontram-se entre as mais frequentes na poesia de.
Fernando Pessoa Ortónimo em muitos dos seus poemas recorda a casa como uma
5
In Fernando pessoa « Páginas de Doutrinação Estética »
6
Fernando Pessoa , « Páginas de estética e de teoria literária »
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analogia do eu. « A casa que hoje sou » 7. A casa com múltiplas divisões. A casa
simples ( de Caeiro ) ou a casa com vários andares, com cave, com sótão e por
conseguinte símbolo de verticalidade. O Sótão podendo ser comparado ao pensamento
claro e consciente. A cave à entidade obscura, as escuras e secretas profundezas da
mente . Corresponde ao estado sombrio do isolamento.
 A casa de infância é um espaço longínquo, uma região de recordação que constitui a
zona de protecção que o poeta a cada passo precisa. Ele por vezes habita-a em sonho e
a imagem que nos dá dela é uma fixação de uma infância que ficou para trás. A casa
chorada seria o canto do mundo onde ele agora poderia ser feliz. Mas ela já não é,
porque não existe. A felicidade não é por isso possível. « Pobre velha casa da minha
infância perdida ! »

 Quando pretende reconstruir por dentro o passado depara-se com um vazio. A infância
que lembra não é a infância que teve, mas uma representação actual da infância.

 « Vivo sempre no presente. O futuro não o conheço. O passado , já não o tenho. Não
tenho esperança , nem saudade »8Apesar do que ele diz nestas frases, notamos na
leitura da sua poesia ortónima que o bem pressentido esta localizado muitas vezes no
passado, numa infância remota. Mas essa infância não é autobiográfica. A infância é
um símbolo, o símbolo da inconsciência, do sonho, de uma felicidade longínqua, de
candura e claridade. Associadas à infância andam os sinos da aldeia, o jardim, a ama, a
velha tia. Mas estas são imagens de uma idade perdida remotíssima. É um paraíso
perdido que já não se situa no tempo. De tudo isto resulta a melancolia.
 Se ao poeta fosse possível destacar um determinado período da sua existência e nele
permanecer decerto escolheria o tempo da infância. A descida ao passado da infância
tem como causa primeira a decepção e o malogro do presente. No momento actual da
sua vida infeliz de adulto, agarra-se a esse tempo que , tal , como o lar perdido, tem o
valor de um símbolo. Nele se contém a inconsciência e a irreflexão de uma felicidade
que agora quer possuir. A sua memória não guarda do passado a medida da sua
duração nem a ordem lógica dos episódio. Numa reconstituição fragmentada ,
imagina, mais que lembra, acontecimentos isolados que lhe parecem Ter sido instantes
decisivos para a construção da felicidade morta. Recorda um tempo cheio de rupturas ,
de acções sem ligação imediata de duração, só com continuidade na emoção e na razão
que a evoca. Do que passou não há referências a duração temporal
 Na poesia ortónima aparece-nos frequentemente a ideia obsessiva de que mudamos e
morremos com o tempo. Muitas vezes até o presente lhe sabe a coisa morta. Na poesia
ortónima ele chega mesmo a pensar que não passa de um ponto de convergência entre
vários tempos.. Quanto ao futuro ele sabe que está fechado pela morte e diante do
futuro fechado está a angústia. Pessoa quer por isso fugir , não ao tempo mas À
consciência dele e por isso também o desejo do sono.
.

 Fernando pessoa buscou avidamente a felicidade. Buscou sem a encontrar porque


estava obcecado pelo desejo de conhecer. Minado por uma inteligência hipertrofiada
quase não era capaz de sentimentos altruístas o que o levava a um a grande solidão.
Vive fechado no seu egotismo. No entanto, de quando em vez as brisas favoráveis
trazem-lhe visões de « coisas lindas » que estão para além do terraço, do muro. Pensar,
sonhar constitui a sua vocação.

7
Pessoa Ortónimo
8
Fernando Pessoa – Bernardo Soares , « Livro do Desassossego »
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5. Tensão sinceridade / Fingimento

 O poeta é um fingidor » diz Pessoa. A base de toda a arte é não a insinceridade mas
sim uma sinceridade traduzida. O poeta finge emoções imaginadas, sentidas no
intelecto, artisticamente sinceras e finge também outras vezes, emoções que
humanamente sentiu. Mesmo no segundo caso há fingimento porque as emoções
passam a ser forma , são filtradas. Dizer por palavras implica um processo de
intelectualização. A arte é a intelectualização da sensação ( sentimento ) através da
expressão. A emoção do leitor será ainda outra diferente da sentida e da expressa. No
acto de ler convergem o objectivo e o subjectivo.
 Um poema é um produto intelectual. O poeta exprime dor no poema, mas torna-se
estranho a essa dor escrita. A emoção é responsabilidade do leitor e não do criador. O
poeta caracteriza-se pelo fingimento. Esse fingimento é o resultado de uma
intelectualização de sentimentos. O poeta é um racionalizador de sentimentos e a
produção poética é um acto lúdico. O poeta opera pelo distanciamento em relação ao
real, pela criação de novas relações significativas, através de uma interacção constante
entre o pensamento e a sensibilidade.. è isto que se passa com o artista em geral.O
poeta diz ainda que toda a obra de arte é um trabalho de colaboração entre sentir e
pensar. A poesia não é a representação directa do real. Para ser poesia, para ser arte, é
necessário que o real seja modelizada, transformado previamente pelo fingimento. O
coração submeter-se À razão, mas esta não poderá ignorar o sentimento. Ao escrever o
poeta distancia-se das sensações, coloca-se ao nível do fingimento., do pensamento, da
racionalidade ao nível do que não está ao pé. Quando consegue ultrapassar essa
barreira do palpável pode ver a coisa linda, essa coisa que é sempre objecto de
procura, porque não é concreta nem palpável.
 « A composição de um poema lírico deve ser feita não no momento da emoção , mas
no momento da recordação dela. Um poema é um produto intelectual. « O acto poético
por excelência , diz Pessoa , resulta de um processo de despersonalização de emoções
e sentimentos, não necessariamente coincidentes com os do artista, implicando o
desdobramento do autor em várias personalidades poéticas »9
 Fingimento e mentira não são sinónimos em Pessoa . Fingir significa recriar
reelaborar, filtrando com a imaginação criadora , deixando no acto da escrita o coração
de lado.
 Coração é sinónimo de sensibilidade; razão é sinónimo de inteligência

5. Características estéticas de Fernando Pessoa Ortónimo

 Grande sentido de musicalidade


 Versificação regular e tradicional
 Eufonia
 Rimas, ritmo , aliterações , onomatopeias
9
in Maria teresa Azevedo « Em torno do Poeta Fingidor »
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 Transporte ou encadeamento dos versos
 Adjectivação expressiva
 Utilização expressiva de modos e tempos verbais
 Uso frequente do presente do indicativo
 Paralelismos e repetições
 Comparações
 Metáforas
 Uso de Símbolos
 Vocabulário geralmente simples
 Associações inesperadas
 Desvios sintácticos
 Pontuação emotiva
 Uso frequente de frases nominais
 Paradoxos – reúne numa mesma afirmação antinomias aparentemente inconciliáveis, mas
que no pensamento do poeta são conciliáveis. Se o mundo dele é incongruente,
contraditório e absurdo, porque não exprimi-lo em paradoxos ? ex- »viver e morrer são a
mesma coisa », « Teve razão porque não a teve »10
 Oxímoros- Associa um substantivo e um adjectivo contraditórios ou qualifica o mesmo
substantivo com dois adjectivos antitéticos ( ex. alegre e anónima viuvez. )
 Preferência pela métrica curta
 Uso frequente da quadra ( gosto pelo popular )
 Raciocínios antitéticos
 Uso do hipérbato
 Criação de neologismos quer de forma quer de sentido ( girassolar, almar... )- estes
neologismos pode traduzir a novidade do modo de ver ou de pensar, o sentimento do
artificial e do fabricado, das próprias vivências fingidas, o gosto de surpreender o leitor.
Se a substância do poema é produto da inteligência porque não fabricar palavras também?
 Verbos com sentidos peculiares ( ex. Doer é produzir dor moral, pesar é incomodar,
importar... )
 Emprego do particípio passado e do particípio presente muitas vezes criado
neologisticamente.
 Tendência para substantivar o adjectivo, o advérbio e até o pronome.

METÁFORAS / PALAVRAS SÍMBOLO EM FERNANDO PESSOA ORTÓNIMO E


HETERÓNIMOS

Mala – símbolo da arrancada para a viagem da vida. È condição indispensável sem a qual não
se pode partir. È a desculpa de Pessoa para não partir. Ele tem desejo de partir mas não tem
vontade e assiste-se à oscilação entre o ter de arrumar a mal e a falta de vontade de o fazer.
10
Pessoa Ortónimo
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Elo enquanto homem , e escrevendo como ortónimo ou como Campos é também uma mala.
Dentro dessa mala reina a desordem e a perturbação.
Para Campos, a mala pessoal é um espaço que não se franqueia a qualquer um , um espaço de
intimidade, um ponto de convergência de interioridade, um esconderijo que é a própria vida.

Abismo: O abismo é tudo: céu e mar, vida e morte, alma e pensamento. O poeta está situado
num mundo abismal porque desconhecido e todas as realidades materiais ou imateriais vão
encontrar lugar nesse espaço tremendo e indefinido. No Mundo de Caeiro não há acidentes
orográficos que mereçam, tal nome. Ele não tem filosofia; o seu pensamento nunca dá saltos
em despenhadeiros. Para Reis o abismo é a alma e a morte. Para Campos é toda a existência.
Para este heterónimo o destino do poeta aparece-lhe na alma como um precipício

Ilha Longínqua – O poeta não a objectiva, somente a situa algures nos mares do pacífico e
perde-a na imensidade que por ser indefinida é infinita.

Àgua - A poética de Fernando Pessoa é atravessada insistentemente por um elemento que é a


ÁGUA. Aparece-nos a água – elemento, a humidade, o orvalho, a chuva, a neve, o oceano, o
mar, o rio, catarata, regato, lago, charco. Banha espaços e temos a praia, o cais, o porto, a
doca, a ilha, o cabo, a margem. È atravessada por instrumentos- naus, navios, paquetes,
barcos. Nele estão marinheiros, gajeiros, pilotos, capitães, piratas, tripulantes. Corre, passa,
embarcam nela, naufragam nela, banha e é navegada. È uma água que pode ser parada ou
dinâmica, aceite, desejada, triste, profunda. Só não é contente, nem viva nem transparente

Rio – Símbolo do fluir do tempo é comum a Caeiro , Campos e Pessoa Ortónimo. De minuto
a minuto são águas diferentes as que passam. Do mesmo modo a substância do ser se
transforma. A mudança constante da humanidade, do indivíduo, do pensamento ou do
sentimento espelham-se no fluir das águas do rio Os rios calmos que nos aparecem em Reis
devem ser por nós imitados no seu curso. Os rios transportam consigo a marca de uma
transitoriedade da consciência, da razão e da vida. O pensamento de pessoa tem a fluência e a
profundidade de um rio, rio subterrâneo de que desconhece a foz e a nascente, mas que vai
desembocar num além que o poeta perde
Caeiro passa como o rio. Reis passa com o rio. Este é o poeta da tristeza da passagem. À sua
água está ligado o significado do correr do homem, do correr dos dias, as conjecturas do
destino funesto, da morte e por isso essa água é um elemento melancolizante..
Reis defende que devemos deixar-nos ir como a água, vivendo o momento que passa e
aceitando-nos como realmente somos, felizes porque inconscientes, divididos dentro de nós
com a certeza da brevidade da vida, com a ilusão da liberdade que é a forma de a Ter e
indiferentes a tudo. Os rios de Reis são por isso tranquilos porque o ideal de vida ou morte a
que ele se quer submeter é determinado por um movimento interior de equilíbrio e lentidão.
Na contemplação do movimento calmo da água, aprendamos a sentir-nos ir também. Para ele
contemplar a água é morrer. Por isso a poesia de Reis é triste. Contemplar a água é
contemplar-se a si próprio no caminho para o fim. Para Campos contemplar a água é ainda
conhecer-se vivido pelo tempo é deparar com o tédio e com o absurdo.
A água de Caeiro é aceite. A de reis é aceite mas triste. Triste porque nos acorda para a certeza
da morte.

Lago - Na poesia de Pessoa nem sempre a água corre. Embora raramente aparecem os lagos
parados , silencioso e solenes. Estes lagos saem do interior de si próprio, do mapa da
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desgraça que traz gravada em si. Se cada rio reflecte a morte, cada lago a contém. O lago
morto é por vezes o seu coração.

Mar- Também o mar aparece com frequência na poesia pessoana. As paisagens marítimas da
sua poesia são experiências oníricas.
Campos , em sonho, parte de um cais para o bulício da vida de todos os navios, de toda a
gente que neles passa. parte para todas as largadas e todas as chegadas, para tudo que há na
vida marítima e que ele quer sentir na própria pele. Quilhas, mastros, velas , rodas do leme,
caldeiras, escotilhas, ..., a profusão de paquetes, de navios, a agitação da vida do mar, tudo
isso o inebria, o penetra fisicamente e o delírio das coisas do mar toma-o pouco a pouco. O
prazer sádico da visão de um capitão enforcado, os fragmentos de corpos na água, as cabeças
de criança espalhadas aqui e ali, o próprio sangue derramado no mar, a dor de toda a aventura
marítima são o mal de todo o universo concentrado.
No mar vê o poeta o meio dinâmico proporcional À sua dinâmica. A do mar na sua violência
recebe facilmente todos os caracteres psicológicos de um tipo de cólera e no praiar clamo
recebe também a serenidade dos sonhos passados e dos anseios felizes.
Mas o mar cansa. Um dia regressa-se ao porto.. Desaparece o mar movimentado para aparecer
o mar calmo inatingível.
Temos ainda o mar da Mensagem. È a própria substancia dos sonhos de religiosidade e de
vida. É um mar arquétipo, cheio de profundo sentido mítico. Um mar ideia em que Pessoa
descreve destinos espirituais numa busca de Absoluto, e onde se cumpre a vida de cada ser
humano .È um mar anónimo total ou infinito sempre sinónimo de absoluto. Pessoa tem por
ele o respeito de quem o vencer e a admiração de quem o enaltece.
Na poética de Campos o mar tem a força de um adversário com quem é obrigatório medir-se.
Em todos os outros têm a tranquilidade de um símbolo materno, apela a uma existência
uterina.

A água é símbolo de horizontalidade.

Ar – O ar aparece frequentemente usado como símbolo na estética pessoana. É no ar que ele


integra os sonhos, com que constrói o tempo, os versos e a vida. O poeta tende para uma
verticalidade, para um destino de grandeza e de elevação. O ar é o elemento material
fundamental nessa ascensão.
Na obra de Pessoa temos vários modos de captar a sua vocação ascensional, através d e
objectivações que o ar tem: o vento, a brisa, o som, o voo, a nuvem, o céu, a noite.
Som céu, ar , brisa, nuvem, vento, luz , sombra, são uma escala ao longo da qual o poeta
experimenta graus de sensibilidade especial. São a substância da libertação do eu. Levam-no à
esfera da altitude imaginária, conduzem-no a um universo lírico especial de um além e de
outro além e de um mais além ainda. O ar é um dos grande s símbolos associados ao desejo
de liberdade triunfante, aspiração a uma libertação da matéria. Ao r é a conquista de um
espaço de altitude, de verticalidade e de solidão.

Árvores - O arvoredo toma jeitos de imagem de ascensão.

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Noite – a noite é para Pessoa uma totalidade. É cheia de mistério e de religiosidade. È uma
noite-ideia em que inscreve a procura de um Absoluto. Ponto de partida para o sonho, para a
emoção poética, para o acordar do pensamento, para a esperança. Noite enigma, mas noite
libertadora. Noite sem margem ou contorno porque o sonho não tem obstáculo.
Campos foi de todos o que objectivou este símbolo com mais plenitude. Nele a noite é uma
unidade em que tudo se priva da sua individuação. O espaço só tem uma dimensão. Montes e
árvores fundem-se. A realidade é incolor e informe, a matéria não tem acidentes, porque tudo
perde as arestas e as cores. A noite é o instante único em que este poeta sempre recomeça o
mundo e a esperança.

Mas em Pessoa ortónimo às vezes a noite é também morte. È sinónimo de vazio e


desconhecido À volta do poeta e dentro dele. È destruição. O poeta abandona as ilusões, os
meios com que luta na vida , abdica de tudo para apelar a um aniquilamento.

Vento – Elemento harmónico. Não é violência, nem voz agressiva, porque não participa da
cólera de um universo, mas de um sonho de sublimação libertadora. O vento contribui para a
ascensão das folhas e para a elevação das coisas depositadas no chão.

Música – a música é uma caricia do sonho puro.

Céu – lugar em que as formas não desempenham nenhum papel. É o espaço que se vê mas
onde não há nada que ver. O longínquo do céu e do imediato do poeta conjugam-se. Está
também ligado ao anseio de ascensão .Está ligado à verticalidade.

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