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LEI DA

LIBERDADE
ECONÔMICA
oportunidades
e novidades
LEI DA
LIBERDADE
ECONÔMICA
oportunidades
e novidades
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA:
OPORTUNIDADES E NOVIDADES

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS

CONSELHO EDITORIAL
Luiz Fernando Casagrande Pereira
Fernando Vernalha Guimarães

APRESENTAÇÃO
Luiz Fernando Casagrande Pereira

CONTEÚDO
Andressa Saizaki
Angélica Petian
Dayana Dallabrida
Guilherme Guerra
Guilherme Nadalin
Patrick Rocha de Carvalho
Silvio Guidi
Thiago Lima Breus

Ana Carolina Martinez


Bruno Herzmann Cardoso
Clóvis Alberto de Pinho
Diandra Domingues Cesário
Larissa Braga Casares
Larissa Quadros do Rosário
Marcus Paulo Röder
Escaneie o código
QR com a câmera
Murilo Taborda Ribas
do seu celular e
Pedro Henrique Braz De Vita
acesse o texto da
Tayane Tanello
Lei da Liberdade
Vitor Beux Martins
Econômica
Wyvianne Rech Zanicotti

DIREÇÃO DE ARTE
Luiz André Velasques
Carlos Eduardo Pereira
Nicole Wibe Silva

REVISÃO
Oficina Só Português

Todos os direitos reservados 2019. ©


SUMÁRIO

06 Apresentação

08 Direito Administrativo

23 Cível, Contratos e Estruturação de Negócios

45 Direito do Trabalho

52 Direito Tributário

57 Mercado de Capitais

61 Currículo dos Autores


APRESENTAÇÃO
A Lei 13.874/2019 ou, como foi bem batizada, a da Liberdade Econômica, alterou
regras relevantes em todas as áreas de atuação do VGP. E as alterações foram quase
todas muito positivas para o mercado. Já a partir da edição da Medida Provisória, que
antecedeu a aprovação da Lei, surgiu a ideia de tentar explicar as principais mudanças prá-
ticas da aos clientes e parceiros. Assim nasceu o e-book VGP sobre a MP da Liberdade
Econômica e agora, ampliado e atualizado, o e-book VGP sobre a Lei da Liberdade Eco-
nômica, com textos assinados por profissionais do escritório que atuam em São Paulo,
Brasília e Curitiba.
Como todos poderão constatar, os textos não foram produzidos para advogados (em-
bora leitores advogados sejam bem-vindos). A ideia é falar com os clientes, com baixa
dose de juridiquês; destacar pontos principais e explicar a repercussão prática. O título do
e-book revela o objetivo: Lei da Liberdade Econômica - oportunidades e novidades. Aqui
vai um resumo do conteúdo.
A importância da previsão de Análise do Impacto Regulatório é demonstrada em um
dos textos da parte do Direito Administrativo. A Lei é toda orientada por uma atuação
estatal consequencialista. Há uma saudável interação jurídica com a renovada Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB). O primeiro texto também já faz refe-
rência à nova Lei nº 13.848/19 (a nova Lei das Agências Reguladoras). Além disso, com a
Lei aumenta o compromisso da Administração Pública em respeitar a boa-fé objetiva,
melhorando o diálogo com os particulares. E veda o abuso do poder regulamentar. Em
particular, há específico para abordar a repercussão da Lei na área da saúde.
No Direito Privado, os textos do e-book VGP indicam que a Lei incrementa a liberdade
de empreender, de contratar e de inovar. É a alforria das startups. A interpretação dos con-
tratos recebe um aporte de parâmetros mais objetivos. A autonomia privada e a liber-
dade de contratar são valorizadas. E a Lei ainda aproveita para diminuir a insegurança
gerada pela banalização da desconsideração da personalidade jurídica. O investidor
ganha segurança. No Direito Societário, indica-se a repercussão da Lei para a Sociedade
Limitada Unipessoal e também a desburocratização de registros de empresas.

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


A criação de critérios mais restritivos para a desconsideração da personalidade jurídica
também repercute positivamente no Direito do Trabalho. Reforça-se a responsabilidade
exclusiva do patrimônio social da empresa pelas dívidas da empresa individual de res-
ponsabilidade limitada. Também há um texto explicando como a Lei supera o anacrônico
modelo de anotações e registros na CTPS. É o que está explicado nesta parte do e-book.
No ambiente do Direito Tributário, embora a Lei aumente a força vinculante das orien-
tações, o texto específico do e-book aborda aspectos controvertidos da competência do
CARF para editar súmulas em matérias tributárias.
A Lei também é responsável por modernizar alguns instrumentos e mecanismos dos
fundos de investimento no Brasil, desburocratizando sem déficit de segurança. O e-book
traz um texto específico da área de Mercado de Capitais do VGP.
Com textos objetivos e em linguagem acessível, a partir da contribuição de profissio- 07

nais de áreas importantes de atuação do escritório, o VGP apresenta o e-book Lei da


Liberdade Econômica – oportunidades e novidades.

Por Luiz Fernando Casagrande Pereira


Sócio-fundador do VGP
DIREITO
ADMINISTRATIVO
São mundialmente retratadas as passagens da viagem a Londres de um dos principais assessores políticos de Mik-
hail Gorbachev, o último presidente da União Soviética, visando obter subsídios para o processo da Perestroika. Na capi-
tal inglesa, o representante da então URSS participou de sessões acadêmicas na London School of Economics, de pre-
gões na Bolsa de valores e conversou com entusiastas da mão invisível smithiana.
Ainda não plenamente convencido da eficiência do modelo londrino, o assessor passou a um experimento prático,
relativo à forma da distribuição de pães, uma vez que em Moscou o governo destacava suas mentes mais brilhantes
para solucionar o problema do suprimento matinal de pães aos cidadãos, e que, mesmo assim, ele permanecia contur-
bado. Já em Londres ele percebeu que em todas as esquinas o english breakfast era sempre bem servido, com grande
variedade de pães, além de não haver filas nas portas dos mercados. Intrigado com a genialidade do modelo, solicitou

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que o apresentassem ao responsável pelo suprimento de pães na cidade, para que entendesse tamanha eficiência. A
resposta foi a de que não havia nenhum responsável pelo suprimento de pães.
No Brasil, por sua vez, centenas de milhares de núcleos de poder setorial têm a faculdade e a possibilidade de inter-
vir excessivamente na atuação privada, sem contar as dezenas de milhares de autoridades judiciais que proferem deci-
sões que afetam tanto a efetividade da ordenação pública quanto a liberdade dos agentes econômicos, sempre sob a
invocação de um pretenso, genérico e abstrato interesse público. Essa disfunção burocrática contribui para que o país
figure hoje na 150º posição de 180 no ranking de Liberdade Econômica da Heritage Foundation/Wall Street Journal, e
na 144º posição de 160 no ranking de Liberdade Econômica do Fraser Institute. Uma certa perestroika à brasileira, por-
tanto, poderia contribuir para a melhoria do ambiente de negócios no Brasil. Nesse sentido é que se destaca a Lei da
Liberdade Econômica como primeiro passo para reduzir interferências ineficazes, exageradas ou inconstitucionais na
vida econômica privada, em prejuízo da produtividade do país.
Mas é preciso ir além. Especificamente no campo tradicionalmente chamado de “poder de polícia” administrativo é
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que as mudanças mais intensas precisam ainda acontecer. Para além de atualizar a nomenclatura de uma vez por todas
é indispensável aprimorar as relações entre Estado e particulares, eliminando definitivamente exigências que já perde-
ram utilidade, além das inequivocamente improdutivas, que limitam indevidamente a competição entre agentes eco-
nômicos, afetando a eficiência econômica. Por fim, os excessos de burocracia, que só incentivam a corrupção, devem
ser banidos definitivamente.

Por Thiago Lima Breus


Sócio da área de direito administrativo do VGP
A análise do impacto regulatório como
requisito para a regulação estatal

A Lei nº 13.874/2019 reforça a exigência de uma atuação estatal consequencialista ao demandar


análise dos efeitos da edição e da alteração de atos normativos regulatórios.

Por Angélica Petian


Sócia da área de Infraestrutura e Projetos do VGP
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

O tema da regulação sempre suscitou debates flitantes, a discussão ficou primordialmente adstrita a
tanto de índole técnica como política, dada sua rela- uma perspectiva quantitativa que gerou embate
ção direta com a ação de intervenção do Estado na entre posicionamentos defensivos de menor ou
economia. maior regulação.
O cerne da discussão, que se intensificou com o A evolução da regulação está, no entanto, no aper-
advento das Agências Reguladoras, no final da feiçoamento da ação estatal, em busca de uma
década de 90, está na definição do papel regulador melhor regulação (better regulation), voltada para
do Estado e de seus limites, dentro da garantia consti- resultados que possam ser alcançados pela utilização
tucional da livre-iniciativa, retratada pelos arts. 1º, IV e de ferramentas que garantam a participação da socie-
170, caput, da Lei Maior. dade no âmbito de elaboração da norma regulatória,
A partir de premissas amparadas de um lado na que exijam fundamentação técnica e analisem o

10 teoria da regulação do interesse público, que aponta impacto regulatório da intervenção estatal.
a necessidade de atuação estatal diante de falhas de É nesse contexto que a Lei nº 13.874/2019, oriunda
mercado (como monopólio natural, concorrência des- da conversão da Medida Provisória nº 881/2019 e bati-
leal, assimetria de informação e externalidades nega- zada de Lei da Liberdade Econômica, apresenta rele-
tivas), e, de outro lado, no interesse privado, que des- vante avanço ao impor que as propostas de edição e
taca falhas de governo, como excesso de discriciona- de alteração de atos normativos de interesse geral de
riedade técnica dos reguladores, déficit de credibili- agentes econômicos ou de usuários dos serviços, edi-
dade institucional, plúrimos marcos regulatórios con- tadas por órgão ou entidade da administração
2008, quando implementou o Programa de Melhoria
do Processo de Regulamentação.
A Presidência da República, por meio da Casa Civil,
instituiu o Programa de Fortalecimento da Capaci-
dade Institucional para Gestão em Regulação – PRO-
REG -, disciplinado pelos Decretos nº 6.062/07 e nº
8.760/16. O objetivo do Programa é melhorar a quali-
dade da regulação e, dentre outras ações, compre-
ende a consolidação e a expansão do uso da análise

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de impacto regulatório (AIR).
Não obstante essas louváveis iniciativas, foi a MP
da Liberdade Econômica, datada de 30 de abril de
2019, que impôs a obrigatoriedade da análise de
pública federal, incluídas as autarquias e as fundações impacto regulatório de uma forma mais abrangente,
públicas, sejam precedidas da análise do impacto como condição antecedente da propositura da edi-
regulatório. ção e da alteração de atos normativos de interesse
A norma, estabelecida pelo art. 5º da respectiva lei, geral, destinados a agentes econômicos ou a usuários
condiciona a atuação da Administração Pública fede- dos serviços.
ral, incluindo todas as Agências Reguladoras, as quais Oportuno registrar que no período compreendido
passam a ter o dever de analisar os possíveis efeitos entre a edição da citada medida provisória e sua con-
do ato normativo que pretendem produzir, para veri- versão em lei, ocorrida em 20 de setembro de 2019, 11
ficar a razoabilidade do seu impacto. foi editada a Lei nº 13.848/19, a qual dispõe sobre a
Necessário destacar que a análise do impacto regu- gestão, a organização, o processo decisório e o con-
latório não é uma ferramenta desconhecida pelo trole social das agências reguladoras. Esse diploma,
Estado brasileiro. Algumas agências reguladoras já seguindo os passos da então MP, ao tratar do pro-
fazem uso desse mecanismo previamente à edição de cesso decisório das agências inseriu a análise do
atos normativos. A Agência Nacional de Vigilância impacto regulatório, delegando ao regulamento a
Sanitária (Anvisa), por exemplo, adota a prática desde prescrição sobre os casos em que será obrigatória sua
realização, bem como sobre seu conteúdo e sua meto- que sejam consideradas as consequências práticas da
dologia. decisão.
A análise de impacto regulatório impõe a demo- O disposto no art. 5º do diploma em análise corro-
cratização da discussão sobre as normas que regerão bora a atuação estatal consequencialista ao impor
a exploração de determinada atividade econômica ou que o agente regulador considere a perspectiva prag-
prestação de serviço público, a partir da convocação mática dos resultados que serão ocasionados pela
para que a sociedade discuta as premissas, compre- regulação, como isso impacta a atuação dos regula-
enda as análises e conheça as concussões que se dos e, portanto, a economia setorial.
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

imporão a partir da norma reguladora. Não obstante a norma dependa da edição, pelo
A ferramenta imposta pela Lei nº 13.874/2019 auxi- Presidente da República, de regulamento que disporá
lia no desenvolvimento de políticas públicas porque sobre a data de início da exigência da análise do
permite o aprofundado conhecimento do problema, impacto regulatório, sobre o conteúdo, metodologia,
com base em diferenciadas óticas trazidas ao ambi- quesitos mínimos, hipóteses de obrigatoriedade e
ente de discussão (audiências e consultas públicas); a exceções ao dever geral, a sua edição já representa
identificação dos prováveis benefícios e limitações um avanço no ambiente regulatório.
que decorrerão do ato normativo e os custos econô- Cabe salientar que inexiste impedimento para que
micos e sociais que dele advirão. os entes reguladores adotem, desde já, a análise do
A missão de antever o impacto regulatório, tanto impacto regulatório, a partir de premissas e metodo-
quanto possível, objetiva oferecer aos tomadores de logias definidas por cada um deles. A inexistência do
decisão visões plurais, a partir do conhecimento cien- regulamento não obsta a ação.

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tífico ou empírico, para que possam avaliar as conse- Nesse sentido, embora a norma se dirija especifi-
quências da regulação. camente aos agentes reguladores de âmbito federal,
Essa atividade de examinar o impacto regulatório pode servir de inspiração para que os demais entes
está alinhada com a recente alteração da Lei de Intro- federados imponham a análise do impacto regulató-
dução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB - (De- rio como ferramenta que auxilie no aperfeiçoamento
creto-Lei nº 4.657/42), a qual passou a prever que nas da regulação e contribua para o desenvolvimento eco-
esferas administrativa, controladora e judicial não se nômico e social do país, já que ela tem potencial para
decidirá com base em valores jurídicos abstratos, sem atrair ou repelir investimentos
A tensão entre liberdade x autoridade na
Lei da Liberdade Econômica

A Lei da Liberdade Econômica estabelece condicionantes à atuação do Estado na economia,


privilegiando a liberdade em detrimento da atuação disfuncional da Administração Pública.

Por Clóvis Alberto Bertolini Por Murilo Taborda Ribas


Sócio da área de Direito Administrativo do VGP Sócio da área de Direito Administrativo do VGP

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A Lei da Liberdade Econômica (Lei nº 13.874/2019) com o livre mercado; (iii) tratamento isonômico dos
estatui em seus arts. 3º e 4º uma série de direitos e órgãos da Administração Pública; (iv) possibilidade de
garantias que reforçam a possibilidade do livre exercí- livre desenvolvimento de tecnologias, entre outros
cio das atividades econômicas pelos agentes privados. direitos elencados.
Boa parte de suas disposições buscam estabelecer limi- O art. 4º da referida norma preceitua as garantias
tes e condicionantes à atuação do Estado, especial- da livre-iniciativa, de modo a evitar que a Administra- 13

mente no que tange a atos regulatórios que venham a ção Pública (i) crie reservas de mercado; (ii) redija enun-
limitar o exercício das atividades econômicas. ciados que impeçam a entrada de novos competido-
O art. 3º da Lei prescreve uma série de direitos que res nacionais ou estrangeiros; (iii) crie privilégios ou
devem reger o desenvolvimento econômico do país, mesmo utilize a regulação econômica de modo a privi-
tais como (i) a possibilidade de desenvolver atividades legiar os destinatários das normas regulatórias (fenô-
sem a ingerência da Administração Pública; (ii) não ter meno da captura); (iv) estabeleça demandas artificiais.
restringida a liberdade de definir preços, de acordo Destaca-se que as previsões dos arts. 3º e 4º da Lei
da Liberdade Econômica centram-se na tensão quase das amarras burocráticas que a Administração Pública
inerente à relação do Estado com o exercício de qual- brasileira estende àqueles que decidem empreender.
quer atividade econômica pelos agentes econômicos Deste modo, a tentativa da lei de estabelecer a
privados, especialmente quanto à calibragem da dico- liberdade econômica como uma premissa, impondo
tomia autoridade x liberdade, tão presente no Direito alguns ônus à atividade regulatória estatal, deve ser
Administrativo Econômico. encarada como positiva. Até porque a livre-iniciativa
O conceito de autoridade normalmente está atre- consiste em um dos únicos preceitos da ordem eco-
lado a conferir prerrogativas ao Estado de impor uni- nômica brasileira que ainda não contava com um
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

lateralmente obrigações aos particulares. A liberdade, marco legislativo claro, ao contrário de outros funda-
por sua vez, é preceito que assegura aos agentes o mentos, como a defesa do consumidor, do meio ambi-
livre exercício de atividades econômicas, prescindindo ente e do trabalho, com os quais a liberdade econô-
de prévia anuência ou regulação da Administração mica deverá, necessariamente, dialogar.
Pública. No entanto, não é possível identificar, imediata-
mente, se a Lei nº 13.874/2019 se revelará um meca-
nismo eficaz para conferir maior relevância ao pre-
ceito da liberdade na atuação do Estado sobre os
agentes econômicos privados. Muito embora bem-
intencionada, a legislação estabelece diretrizes vagas
e imprecisas à atividade regulatória, contando com
poucos instrumentos concretos - como a Análise de

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Impacto Regulatório, abordada em outro texto da pre-
sente coletânea - para condicionar a figura da autori-
dade.
Nesse sentido, a Lei nº 13.874 busca afinar a ten- Assim, é necessário aguardar para descobrir como
são existente nesse binômio, em prol do desenvolvi- os entes públicos e os órgãos de controle interpreta-
mento econômico. Mas o caminho escolhido pelo rão esses preceitos, verificando, assim, se a Lei nº
legislador foi dar maior ênfase à atuação livre dos 13.874 conseguirá, enfim, deslocar o referido binômio
empreendedores, buscando romper com algumas em direção à liberdade econômica.
A incidência da boa-fé objetiva na atuação do
Estado como agente normativo e regulador
da ordem econômica e financeira

Ao impor ao Estado o dever de observar a boa-fé objetiva, nos casos em que ele intervenha na
ordem econômica e inanceira, a MP da Liberdade Econômica supre importante lacuna
legislativa e gera efeitos jurídicos relevantes.

Por Pedro Henrique Braz De Vita Por Vitor Beux Martins

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


Sócio da área de Direito Administrativo do VGP Sócio da área de Direito Administrativo do VGP

A sujeição da Administração Pública à figura da A questão era ainda mais rarefeita quanto à neces-
boa-fé objetiva sempre foi tratada de maneira escassa sidade de a Administração Pública observar a boa-fé
pela legislação. no exercício do seu papel de agente normativo e regu-
Por muito tempo, a submissão da Administração lador da ordem econômica e financeira.
Pública aos ditames da boa-fé foi fundamentada no Nesse sentido, a Lei federal nº 13.874/2019 supre
princípio da moralidade, inscrito no art.5º, caput, da importante lacuna legislativa.
Constituição Federal. Nos termos do art. 2º, inc. II da Lei, restou estabe-
lecido que a boa-fé do particular perante o poder
público é um princípio que deve nortear o Estado em
sua atuação normativa e reguladora, dentre outros
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aspectos.
Merece nota que a redação da Lei não faz distinção
entre a boa-fé subjetiva (ligada à intenção dos sujei-
tos) e objetiva (relativa a um padrão de comporta-
mento lícito e correto, que deve ser auferido a partir
da conduta objetiva do agente).
Assim, no que diz respeito à boa-fé subjetiva, per-
cebe-se que a lei positiva a obrigação de a Adminis- sobre atividades econômicas privadas devem ser
tração Pública respeitar o consectário basilar do direi- interpretadas em favor da boa-fé.
to, de que a má-fé é sempre demonstrada e nunca No mesmo sentido, o art. 3º inc. V da Lei obriga a
presumida. Administração Pública a resolver as dúvidas interpre-
Mandamento que é de ímpar relevância nos pro- tativas em matéria civil, empresarial, econômica e urba-
cessos administrativos sancionadores vinculados ao nística, de forma a preservar a autonomia da vontade
descumprimento de normas regulatórias. do administrado, exceto se houver expressa disposi-
De outro lado, a boa-fé objetiva é fonte de direitos ção legal em contrário.
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

e deveres tanto para os particulares, que exercem ati- Quanto a esse último dispositivo, entende-se que a
vidades econômicas, como para a Administração legislação atrelou a interpretação de outras disposi-
Pública, ao regular a atividade empresarial. ções legais (lacunosas e obscuras) à necessária preser-
A necessária observância da boa-fé objetiva pela vação da autonomia da vontade do particular, que
Administração Pública impõe que ela aja de forma passa a representar um padrão de comportamento
leal e transparente, veda que ela se comporte de leal e correto e, portanto, legalmente aceito.
forma contraditória e garante, aos particulares, even- Em virtude dessa determinação, sempre que a
tuais renúncias ou constituições de direitos em face Administração Pública avaliar determinado comporta-
do Poder Público, quando houver eventual conduta mento relativo ao exercício de atividade econômica
reiterada. por particular, e não contar com norma incidente
Em síntese, o dever da Administração Pública de sobre o caso que forneça resposta precisa quanto à
respeitar os consectários da boa-fé objetiva obriga a legalidade desse comportamento, deverá primar pela

16 atuação administrativa a ter uma racionalidade, preservação da autonomia da vontade, modelo de atu-
importando na obrigação do Estado de agir de forma ação adequado a partir de agora.
coerente no exercício do poder regulatório das ativi- Os dispositivos avaliados se coadunam à finalidade
dades econômicas. da nova legislação - alterar a racionalidade do papel
A Lei positivou ainda a função de baliza hermenêu- regulatório do Estado, atribuindo à boa-fé as relevan-
tica da boa-fé, nos termos da doutrina de Judith Mar- tes funções de servir como elemento integrativo do
tins-Costa. Isso porque o art. 1º §2º da novel legislação sistema normativo e de fonte de direitos aos particula-
dispõe que todas as normas de ordenação pública res (e restrições à Administração Pública).
Saúde, novas tecnologias e a liberdade econômica

A lei da liberdade econômica como instrumento de ampliação do acesso a serviços de saúde.

Por Silvio Guidi


Sócio da área Contencioso Empresarial do VGP

Poucos eventos na história da sociedade foram tão no setor da saúde, a discussão ganha outro standart.
impactantes quanto a revolução digital que hoje se Serviços de saúde, ainda que privados, são de relevân-

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


vive. Não só pela força com a qual ela veio, mudando cia pública e nem poderia ser diferente. Esse status
de forma radical relações e mercados, mas também revela a dupla faceta desse perfil de atividade. Se bem
pelo fato de ter ocorrido em um curtíssimo espaço de prestados, estes serviços contribuem de forma signifi-
tempo. No Brasil, os efeitos negativos e positivos dessa cativa com a sociedade, sendo, por isso, dever do
revolução são freados pelo direito. Em boa medida, a Estado incentivá-los. Se mal prestados, podem gerar
idealização da Lei da Liberdade Econômica vem com a danos catastróficos e, por conterem esse risco, devem
missão de calibrar essa frenagem, de forma a ampliar as ser restringidos. Esse é o grande desafio da regulação
externalidades positivas dessa revolução. Ela pretende na área da saúde: estimular o mercado sem expor a
fazer isso garantindo o exercício da livre-iniciativa. população a riscos.
Para alguns setores do mercado, essa forma de Enfrentar esse desafio já era um dever estatal antes
incentivo tem serventia imediata. Ao passo que a Lei mesmo do surgimento da Lei da Liberdade Econômi-
impõe que a Administração Pública evite o abuso do ca. Mas existia uma enorme dificuldade no exercício e 17

poder regulatório (art. 4º), permite também afastar exi- no controle desse dever. Havia uma ideia, especial-
gências que se revelem como meramente burocráti- mente no âmbito dos Tribunais, de que o exercício da
cas. Essa burocracia, segundo a inteligência da lei, tem competência regulatória era um fim em si mesmo. Eis
vocação nociva, reservando mercados, aumentando o raciocínio que vigia: como determinado órgão ou
os custos de transação, criando artificialmente certas entidades públicas (ANS, ANVISA, CFM, v.g.) têm atri-
necessidades, etc. buição legal de estabelecer normas técnicas a respeito
Mas quando o exercício da livre-iniciativa ocorre de dada atividade, bastava a norma conter a mensa-
gem de que se voltava à proteção da saúde para
ganhar, além de ares de legalidade, uma blindagem
contra o controle judicial. Essa postura impunha aos
empreendedores da saúde o seguimento de regras de
conduta extremamente questionáveis (sob a perspec-
tiva de sua utilidade) ou a obrigação de demonstrar a
ausência de nocividade da atividade desenvolvida.
Esse ambiente se revelou desestimulante ao setor
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

da saúde, que teve seu desenvolvimento bastante pre-


judicado, principalmente sob a perspectiva de não
poder se reinventar no mesmo passo da revolução
digital. Ainda que as inovações tecnológicas tenham
passado a fazer parte do mundo da saúde, o modelo
de relação entre prestadores e consumidores continua É que a restrição à liberdade de iniciativa, vinculada

sendo rigorosamente o mesmo das décadas passa- ao risco de nocividade da atividade, tende a ocorrer

das. Ou seja, a prestação de serviços de saúde não em relação às atividades mais complexas. Tradicional-

acompanha os avanços da sociedade porque, mente, na saúde, essas atividades estão mais conecta-

segundo recado dos regulamentadores estatais, esse das com prestações relacionadas à cura de doenças

avanço é nocivo à saúde. Maiores e mais recentes em grau avançado e/ou situações de urgên-

exemplos disso são os obstáculos regulamentares à cia/emergência. São essas situações que exigem inter-

utilização da telemedicina como ferramenta para a venções cirúrgicas, equipamentos médicos avançados,
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prestação de serviços no país. medicamentos de alto custo ou de última geração, etc.

A Lei da Liberdade Econômica inverte essa lógica, Mas há uma boa parte de serviços de saúde volta-

inclusive para o setor da saúde. A garantia da livre- dos para satisfazer necessidades que não só são mais

iniciativa ganha contornos mais concretos, de maneira simples, mas também estão conectadas com ações

que sua limitação exige demonstração efetiva de que que visam a prevenção ou proteção de doenças. Em

ocorre para proteger indivíduos ou toda a sociedade. relação a esse perfil de atividades, a presença da regu-

Disso surge um benefício imensurável à saúde do país. lamentação tende a diminuir ou, ao menos, a ser util-
VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS
mente direcionada para a promoção da saúde da consumirá serviços privados de saúde de maneira
população. mais adequada ou ainda porque, evitando a materiali-
Num cenário como esse, espera-se que o avanço zação de riscos graves que demandam atenção de
da prestação de serviços de saúde ocorra em razão da alto custo, preservará seu próprio orçamento ou o
revolução digital. Está-se a falar da ampliação do orçamento público. Por isso, para a saúde a Lei da
acesso a informações (incluindo aquelas veiculadas no Liberdade Econômica é uma excelente notícia.
formato publicitário) e a serviços por meio de plata- Por certo que essa abertura esperada para o mer-
formas digitais, capazes de otimizar a relação e de cado de saúde trará também, aos prestadores, um
diminuir o custo, tornando-os, por isso, mais acessíve- número maior de responsabilidades. Ao passo que 19

is. Essa ampliação de acesso tem como resultado a diminui a intervenção estatal na forma de prestação
melhoria da saúde da população, porque está a con- de serviço, as hipóteses de materialização do risco ten-
sumir mais serviços de saúde e também porque utili- dem a atrair a responsabilidade dos prestadores em
zará serviços preventivos ou que são canalizados para grau mais severo. Nesse cenário aumenta também a
auxiliar as pessoas nas etapas iniciais de suas doenças. intensidade no cumprimento dos deveres de informa-
É possível prever, portanto, que haverá um aumento ção adequada e de busca pelo consentimento
da qualidade de vida da população. Seja porque ela expresso daqueles que irão usufruir desses serviços.
A vedação ao abuso do poder regulamentar
como norma orientadora da atuação estatal

Novos contornos à atuação estatal na regulação econômica.

Por Larissa Casares Por Regina Rillo


Sócio da área de Infraestrutura e Projetos do VGP Sócio da área de de Infraestrutura e Projetos do VGP
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

A Constituição Federal elegeu a livre-iniciativa Mantida a harmonia com os demais valores, a livre-
como um dos fundamentos da República Federativa iniciativa representa uma das vertentes dos princípios
do Brasil, alçada ao mesmo patamar da soberania, da da liberdade e da propriedade (art. 5º). Assegura a
cidadania e da dignidade da pessoa humana, dos valo- todos “o livre exercício de qualquer atividade econô-
res sociais do trabalho e do pluralismo político, logo mica, independentemente de autorização de órgãos
no primeiro artigo do texto constitucional. públicos”, observadas as disposições legais (art. 170).
Enquanto fundamento do Estado Democrático de Foi precisamente em vista de todo o resguardo
Direito brasileiro, a livre-iniciativa constitui uma das dado pela Constituição à livre-iniciativa que a Lei
bases sobre as quais se assenta a República nacional 13.874/2019 dedicou-se a evitar o abuso do poder
(Silva, 2009, p. 35), e é um dos valores da ordem eco- regulatório do Estado, em seu artigo 4º. É que o Esta-
nômica instituída pela Constituição de 1988 (art. 170). do, enquanto agente normativo e regulador, intervém
Por ser evidente, embora constitua um valor ele- diretamente na atividade econômica.

20 mentar do Estado Liberal, a livre-iniciativa deve se con- Em termos simples, a regulação consiste na produ-
formar aos demais valores e princípios resguardados ção normativo-regulamentar que visa a definição de
pela Constituição. Encontra limites, por exemplo, na regras voltadas para determinada atividade.
função social da propriedade e na valorização do tra- A regulação estatal possui sentido e alcance diver-
balho, assim como nos objetivos fundamentais do sos, a depender de se tratar de atividade econômica
Estado brasileiro, que visam uma sociedade livre, justa ou serviço público. No caso da prestação de serviço
e solidária, com redução da pobreza, da marginaliza- público, por constituir atividade de titularidade do Esta-
ção e das desigualdades sociais e regionais (art. 3º). do, normalmente exercida em regime de monopólio
nimo de burocracia e pode ter o efeito de gerar, ironi-
camente, um ambiente de alta insegurança jurídica
para o cidadão e o meio empresarial. É justamente
esse o cenário nacional.
Estudo formulado pelo Instituto Brasileiro de Pla-
nejamento e Tributação – IBPT - chegou à conclusão
de que o Brasil possui “uma das legislações mais com-
plexas, confusa e de difícil interpretação do mundo”.
Segundo levantamento realizado entre 1998 e 2017,

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


ano em que a pesquisa foi concluída, foram editadas
769 normas por dia útil, entre leis, medidas provisóri-
as, instruções normativas, emendas constitucionais,
decretos, portarias, instruções normativas, atos decla-
ratórios, entre outras.

natural, ela pressupõe um controle estatal mais inten- Temas como saúde, educação, trabalho, salário e

so. Isso porque, na ausência de incentivos concorren- tributação, que possuem impacto direto na atividade

ciais, será a regulação estatal o instrumento apto a esti- econômica, apareceram em 45% de todas as normas,

mular a eficiência e a qualidade na prestação dos ser- ao passo que somente 4,13% das regras editadas per-

viços, assim como no controle dos preços praticados, maneceram sem mudanças; isso demanda uma cons-

evitando-se práticas abusivas propícias em situações tante adaptação às alterações.

de falhas de mercado. É contra essa realidade que se propôs a Lei 21

Já no caso da atividade econômica desempenhada 13.874/2019, a qual oferece um limite ao poder regu-

com base na livre-iniciativa, a regulação estatal, ao lamentador da Administração e uma atuação respon-

lado do incentivo e do planejamento, busca assegurar sável. Nesse sentido, a lei prestigia a liberdade do exer-

seu desenvolvimento dentro da normalidade (Silva, cício das atividades econômicas num ambiente de

2009, p. 721), precipuamente por meio da garantia à livre concorrência; para os casos que exigem regula-

livre concorrência e do abuso do poder econômico. ção, ela traz orientações que têm como objetivo evitar

Quando excessiva, a regulação passa a ser sinô- que a atuação estatal se dê sem critérios objetivos e
fundamentados. Tudo isso gera um ambiente de segu- São previsões que parecem elementares num cená-
rança jurídica. rio de regular desenvolvimento de mercado com
Para isso, o art. 4º institui como dever da Adminis- ampla competitividade. Nada obstante, num país de
tração evitar o abuso do poder regulatório estatal, hipernomia, foi preciso uma lei a mais para garantir
exceto se para estrito cumprimento de previsão explí- que o “exercício regulador pelo Estado, conforme
cita em lei. Busca-se impor limites à regulação estatal, determina o art. 174 da Constituição Federal, não atu-
de modo que sejam mitigadas possíveis produções ará em sentido contrário ao da liberdade econômica”,
normativas que resultem em prejuízo à livre concor- conforme a exposição de motivos da Medida Provisó-
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

rência e ao desenvolvimento normal da livre-iniciativa. ria que precedeu esta lei.


São consideradas indevidas, por exemplo, regula- Os incisos do art. 4º impõem aos agentes econô-
mentação que crie reserva de mercado, por favorecer micos privados uma análise prévia sobre as conse-
determinado grupo através de regulação, em prejuízo quências práticas do ato normativo. Poder-se-ia dizer
dos demais concorrentes; a utilização da regulação que se trata de uma outra faceta do consequencia-
como forma de instituir impedimentos para novos lismo jurídico, que se buscou incluir no âmbito decisó-
competidores – nacionais ou estrangeiros; o aumento rio do Estado por meio do artigo 20 do Decreto-Lei nº
dos custos de transação sem demonstração de bene- 4.657/1942 (a Lei de Introdução às Normas do Direito
fícios; e a instituição de limites à livre formação de soci- Brasileiro – LINDB).
edades empresariais ou de atividades econômicas. A Lei federal nº 13.874/2019 chega em boa hora,
Numa realidade de fintechs e Uber, chama a aten- trazendo consigo o estímulo ao equilíbrio natural das
ção a previsão do inciso IV do artigo 4º, que proíbe relações econômicas quando inclui o impedimento do
enunciados que impeçam ou retardem a inovação e a abuso regulatório como norte orientador da atuação
22
adoção de novas tecnologias, processos ou modelos estatal no exercício da competência regulamentar.
de negócios, exceto em situações consideradas como
de alto risco. Outro ponto interessante é a previsão do
inciso VI do mesmo artigo, que combate a criação de
demanda artificial ou compulsória de produto, serviço
ou atividade profissional, inclusive de uso de cartórios,
registros ou cadastros.
CÍVEL, CONTRATOS E
ESTRUTURAÇÃO DE NEGÓCIOS
No âmbito do Direito Privado, a Lei da Liberdade Econômica trouxe altera-
ções relevantes que privilegiam a liberdade individual e o desenvolvimento eco-
nômico. Foram alterados dispositivos do Código Civil que: (i) modificam regras
de interpretação dos contratos; (ii) restringem os critérios para desconsideração
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

da personalidade Jurídica e (iii) criam a Sociedade Limitada Unipessoal.


As principais alterações são:
Prevalência do princípio da intervenção mínima, com alterações excepcionais
em relação ao que as partes estabeleceram, com presunção de simetria;
Respeito a parâmetros objetivos para a interpretação dos contratos;
Criação de critérios objetivos e mais restritivos para caracterização de abuso e
desconsideração da personalidade jurídica;
Recuperação da garantia de proteção decorrente da separação patrimonial;
Segurança de que a mera existência de grupo econômico, sem a presença dos-
requisitos objetivos, não autoriza a desconsideração da personalidade jurídica;
Separação entre o patrimônio pessoal do empresário individual e aquele des-
tinado ao desenvolvimento da sua atividade profissional;
Essas modificações demonstram os principais objetivos desta lei: liberdade
24
de empreender, de contratar e de inovar.

Por Dayana Dallabrida


Sócia da área de contratos e estruturação de negócios do VGP
A Sociedade Limitada Unipessoal a partir
da Lei da Liberdade Econômica

A Lei da Liberdade Econômica, reconhecendo uma necessidade prática, trouxe, através


da inclusão dos parágrafos 1º e 2º no art. 1.052 do Código Civil, expressa previsão da
possibilidade de constituição de sociedade limitada formada por um único sócio.

Por Diandra Domingues Cesário


Advogada da área de Contratos e Estruturação de Negócios do VGP

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


A limitação da responsabilidade é um dos princi- destacam as sociedades limitadas e as anônimas.
pais incentivos para que o empreendedor se arrisque Em contrapartida, o empresário que exerce indivi-
a desempenhar uma atividade econômica. Isso por- dualmente uma atividade econômica não podia con-
que se evita que as dificuldades do negócio atinjam o tar com a separação entre seu patrimônio pessoal e
seu patrimônio pessoal. Fato é que a atividade aquele afetado ao exercício do seu negócio, respon-
empresarial tem como principal característica o risco; dendo com todos os seus bens (direitos e obrigações)
assim, empreender significa considerar duas situações pelos riscos da atividade empresarial. Essa diferença
hipotéticas: a possibilidade de sucesso ou de fracasso. de tratamento, existente no direito brasileiro até a
A dinamicidade da atividade empresarial, aliada ao publicação da MP nº 881/2019, posteriormente con-
seu risco inerente, fez com que se buscassem solu- vertida na Lei nº 13.874/2019, ocasionou a criação fre-
ções jurídicas para resguardar o patrimônio do quente de sociedades simuladas, nas quais um dos 25

empreendedor diante de um inesperado contratem- sócios é titular de cerca de 99% do capital social e o
po, que, ocorrendo, poderia levá-lo à completa ruína. outro, “sócio de fachada”, detém 1%.
Sendo assim, criou-se o regime de responsabilidade Essas sociedades fictícias escondiam o empresário
limitada com a separação do patrimônio da socie- individual que procurava restringir sua responsabili-
dade e de seus sócios, o que, no entanto, estava res- dade ao patrimônio que estava disposto a arriscar na
trito a somente alguns tipos societários, dos quais se exploração de sua atividade econômica. Esta situação
decorria da inexistência, até então, de um instru- dedores na informalidade, muitas vezes sem regulari-
mento jurídico eficaz que atribuísse ao empresário zação dos postos de trabalho, sem recolhimento dos
individual responsabilidade limitada. Nesse quesito, tributos necessários e sem a segurança jurídica que a
cabe destacar que a Empresa Individual de Responsa- formalização da atividade poderia proporcionar, além
bilidade Limitada — Eireli —, criada através da Lei nº da não limitação da responsabilidade pelos riscos do
12.441/2011, não foi capaz de mudar essa realidade. negócio, com o comprometimento do patrimônio
Apesar de a Eireli conceder limitação da responsa- pessoal do empresário.
bilidade ao empreendedor individual, os seus requisi- Muito embora o empresário individual, ao dispor
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

tos de constituição geram um ônus desproporcional de seu capital, pudesse superar as dificuldades eco-
se comparado aos de constituição de uma sociedade nômicas e financeiras para o exercício desacompa-
limitada. Em primeiro lugar, destaca-se a exigência de nhado da atividade empresarial, ele até então não con-
um capital social mínimo de integralização no valor seguia superar os obstáculos jurídicos, uma vez que,
de 100 vezes o maior salário mínimo vigente na época ao assumir as obrigações decorrentes da sua ativi-
de sua criação, o que corresponde hoje a aproxima- dade econômica, estaria comprometendo todo o seu
damente 100 mil reais. patrimônio pessoal, mesmo aquela parte que não esti-
Isso significa que, independente da atividade a ser vesse envolvida na exploração do seu empreendi-
desenvolvida, o empresário individual deverá mobili- mento.
zar imediatamente um capital de 100 mil reais para a Com o propósito de modificar essa situação de
constituição da Eireli. Por outro lado, na sociedade limi- desigualdade entre a sociedade e o empresário indi-
tada não se exige um capital social mínimo para sua vidual, a Lei da Liberdade Econômica (Lei nº

26
criação. Além disso, outro ônus imposto pela lei é de 13.874/2019) incluiu os parágrafos 1º e 2º ao art.
que cada pessoa física só poderia constituir uma única 1.052 do Código Civil, prevendo expressamente que
Eireli. Novamente, para a sociedade limitada não há “A sociedade limitada pode ser constituída por uma
essa restrição. ou mais pessoas” e que “Se for unipessoal, aplicar-se-
Dessa forma, a lei impôs requisitos excessivos para ão ao documento de constituição do sócio único, no
a constituição da Eireli, impedindo que ela atingisse o que couber, as disposições sobre o contrato social”.
seu propósito de pôr fim à prática de criação de soci- Sendo assim, desde 30 de abril de 2019, quando da
edades simuladas ou de manutenção dos empreen- publicação da MP 881/2019, reiterada, nessa parte,
nos mesmos termos na Lei nº 13.874, publicada em damental garantir o exercício da liberdade econômica
20 de setembro de 2019, o sistema jurídico brasileiro pelos empreendedores individuais, uma vez que a
permite a criação da sociedade limitada unipessoal. burocracia excessiva dificulta o ingresso e a perma-
A possibilidade de constituição de uma sociedade nência dos agentes econômicos no mercado.
limitada unipessoal é na verdade o reconhecimento Dessa forma, percebe-se que a Lei da Liberdade
de uma necessidade fática de limitação da responsa- Econômica, ao incluir os parágrafos 1º e 2º ao art.
bilidade do empresário, sem a imposição de requisi- 1.052 do Código Civil, trouxe um incentivo e uma
tos e entraves onerosos para o seu alcance. Inclusive, garantia à iniciativa individual, minimizando as dificul-
a sociedade unipessoal já é reconhecida em outros dades que impedem o desenvolvimento de ativida-

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


países, como Itália (admitida desde 1993), Alemanha des produtoras de bens e serviços, além de proporci-
(admitida desde 1980), Reino Unido (admitida desde onar segurança ao empresário individual em relação
1897 — caso Broderip vs. Salomon & Co. Ltd.) e ao patrimônio não empregado no exercício de sua
Colômbia (admitida desde 1995). atividade econômica, contribuindo também para evi-
A sociedade limitada unipessoal é um instituto jurí- tar a criação de sociedades fictícias e o fechamento
dico que permite e garante a liberdade de entrada no irregular de empresas que muitas vezes desaparecem
mercado pelos empresários individuais, dando eficá- sem deixar vestígios.
cia ao princípio constitucional da livre-iniciativa. É fun-

27
Startups e a Lei da Liberdade Econômica

Quais são os aspectos mais positivos da Lei da Liberdade


Econômica para o empreendedorismo inovador?

Por Dayana Dallabrida


Sócia da área de Contratos e Estruturação de Negócios do VGP

As startups despontaram e multiplicaram no Brasil ções que reduzem, em tese, a possibilidade de inter-
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

desafiando os mais diversos segmentos econômicos. venção do Estado. Seus princípios e regras prezam
Suas soluções penetraram o mercado de seguros, de pela segurança jurídica empresarial, buscando estabe-
transporte, da saúde, financeiro, imobiliário, jurídico e lecer um ambiente mais flexível para o desenvolvi-
tantos outros ambientes quanto a criatividade dos mento do mercado, inclusive pelas soluções inovado-
empreendedores permitiu. Introduziram (e seguem ras.
introduzindo) soluções que modificaram o comporta- No interesse das startups, destaque-se no texto da
mento em sociedade, tornando rapidamente obsole- lei a possibilidade de desenvolvimento, execução, ope-
tas atividades tradicionais que dominaram o mercado ração ou comercialização de novas modalidades de
por décadas. As startups são uma realidade indomá- produtos e serviços quando as normas infralegais se
vel do mercado, fortemente influenciadas pela tornarem desatualizadas por força do desenvolvi-
mudança do mindset no cenário econômico interna- mento tecnológico consolidado internacionalmente.
cional e abastecidas pela crescente e veloz democrati- O dispositivo permite que uma atividade inovadora se
zação das ferramentas tecnológicas — iniciada com a desenvolva em um cenário de regulação desatuali-
28
expansão da internet na década de 90. zado à luz da experiência internacional. Em outras
A Lei da Liberdade Econômica reconhece que o tra- palavras, nessa circunstância, o empreendedor não
tamento institucional era em alguma medida incom- será paralisado pela falta e à espera de regulação ou,
patível com essa nova realidade e aponta uma maior ainda, não atuará sob a ameaça de ordens judiciais res-
liberalização ao mercado. A livre-iniciativa e o livre tritivas e sanções.
exercício da atividade econômica são princípios cons- A lei também estabeleceu limites à atuação regula-
titucionais reforçados pela lei com inúmeras disposi- tória para que sejam evitados abusos, garantindo um
maior espaço para o desenvolvimento das novas ati- era a criação de uma Eireli (Empresa Individual de Res-
vidades. Ela cuidou-se de evitar medidas indesejáveis ponsabilidade Limitada), mas cujos requisitos de cria-
à livre concorrência, tais como as que possam ter ção eram incompatíveis com a realidade de muitas
como efeitos a criação de reserva de mercado, exi- startups. Como exemplo, a exigência de um capital
gências técnicas desnecessárias, imposições que social mínimo de 100 salários mínimos é um obstá-
retardem a aplicação de novas tecnologias, entre culo para o empreendedor que está concentrado no
outros. São garantias importantes para que as novas desenvolvimento da solução e na busca por investi-
soluções concebidas pelas startups ingressem no mer- dores no mercado. Portanto, a sociedade de respon-
cado, estabelecendo a necessária e saudável concor- sabilidade limitada do empreendedor individual,

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


rência com os agentes tradicionais. cujos requisitos são mais acessíveis à realidade das
Além de um elenco de direitos e obrigações a faci- startups, é importantíssima para a formalização e ace-
litar a relação do empreendedor com o Estado no inte- leração de muitos negócios.
resse de ampliar as oportunidades e iniciativas do mer- Pelos aspectos destacados neste texto, e por mui-
cado, a lei também aprimorou institutos jurídicos pri- tos outros apresentados neste e-book, a Lei da Liber-
vados no propósito de fortalecer a segurança jurídica. dade Econômica, que traz à tona a pauta de liberaliza-
Isso se verifica, por exemplo, nas normas sobre os ção da economia, é muito bem-vinda ao mercado de
contratos empresariais, que ensejam limitar as hipóte- startups. Porém, ainda haverá muito debate sobre a
ses de revisão judicial, conferindo maior segurança e sua aplicação, especialmente à relação empreende-
previsibilidade aos instrumentos. dor-Estado. Todos querem desfrutar dos benefícios
Outra novidade de especial relevância para as star- das inovações tecnológicas, mas nem sempre elas
tups é a possibilidade de criação da sociedade limi- podem ser lançadas no mercado à revelia do filtro do 29
tada de uma única pessoa, cujos benefícios estão bem poder público. Nesse quesito, o empreendedor deve
apresentados neste e-book por Diandra Domingues estar muito bem preparado, conhecendo profunda-
Cesário. Não raro, a startup é comandada por um mente sua solução e com boa noção dos seus efeitos
único empreendedor, que necessita desenvolver sua sociais, facilitando o diálogo e o consequente reco-
atividade empresarial por uma pessoa jurídica, iso- nhecimento daquilo que pode ser ou não caracteri-
lando seu patrimônio pessoal do risco do negócio e zado como uma intervenção abusiva.
viabilizando investimentos. Até aqui, sua única opção
A Declaração de Direitos da Liberdade Econômica e
o resgate da segurança da separação patrimonial

A necessidade e a importância de critérios mais objetivos para desconsideração da


personalidade jurídica.

Por Marcus Paulo Röder


Sócio da área de Contratos e Estruturação de Negócios do VGP
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

No mês de abril deste ano de 2019, pela 1ª vez a mente 209 milhões de habitantes, o percentual de
Bolsa de Valores de São Paulo (B3) alcançou mais de investidores pessoas físicas não representa nem
1 milhão de investidores pessoas físicas no mer- sequer meio por cento do total da população brasi-
cado de renda variável. Tal fato histórico foi bas- leira. Mesmo se nos restringirmos aos integrantes
tante comemorado pelo mercado, o que se explica da População Economicamente Ativa, que é de
pela gradual redução da taxa de juros adotada pelo aproximadamente 100 milhões segundo o IBGE
Banco Central, na tentativa de reaquecer a econo- (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o
mia, o que fez com que os brasileiros começassem a número de brasileiros que investem na Bolsa repre-
perceber as oportunidades na Bolsa e, consequen- senta apenas 1%, enquanto que, em diversos
temente, o número de investidores ativos subisse. outros países do mundo, este percentual supera os
Apesar da compreensível euforia comemorativa 15%.
do mundo financeiro, quando comparado com o É evidente que existem diversos outros tantos
30
restante do mundo, o número ainda se revela bas- fatores, de naturezas diversas (não apenas de
tante tímido. Nos Estados Unidos, por exemplo, o macro e microeconomia), que influenciam e con-
número de investidores pessoas físicas em 2010 formam essa nossa realidade socioeconômica. Con-
chegava a 90 milhões, o que representava 30% da tudo, não é apenas em razão da complexidade
população. No Japão, o número atingia a marca de decorrente dos múltiplos fatores que incidem sobre
27 milhões. o tema que poderíamos deixar de analisá-lo sob o
Considerando o número atual de aproximada- ponto de vista jurídico. Afinal, o avanço de estudos
multidisciplinares culminou no surgimento e forta- sideração. De forma clara e direta, a alteração do
lecimento da corrente doutrinária da análise econô- referido dispositivo buscava aprimorar a disciplina
mica do direito, que já nos brindou com resultados da desconsideração da personalidade jurídica, medi-
interessantes — especialmente ao influenciar o jul- ante a especificação de requisitos mais restritivos
gamento de importantes temas pelas Cortes supe- para medida que deveria ser aplicada de forma
riores. excepcional.
Em linhas gerais, a Análise Econômica do Direito Especialmente em razão de excessos no uso e
busca analisar as consequências econômicas decor- aplicação da desconsideração da pessoa jurídica
rentes do conjunto normativo vigente (edições e principalmente pelos tribunais brasileiros, ainda

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


alterações legislativas) e das decisões judiciais (seja que bastante influenciados por parte da doutrina e
individual ou consolidação de entendimento juris- por alterações legislativas pretéritas, sobretudo a
prudencial). partir da década de 90, a desconsideração pratica-
É neste viés que se pretende analisar rapida- mente deixou de ser uma medida excepcional.
mente um dos efeitos pretendidos com a edição da Como resultado disso, gradativamente observa-
Medida Provisória nº 881, de 30/04/2019, autopro- mos uma inequívoca fragilização da personalidade
clamada “Declaração de Direitos de Liberdade Eco- jurídica, inclusive de modo a colocar em risco a
nômica” (art. 1º), que promoveu relevantes altera- importante e necessária segurança (ao menos do
ções no âmbito do Direito Privado, Direito Econô- ponto de vista econômico e como estímulo ao
mico e do Direito Administrativo. Ademais, também empreendedor e ao investidor) da separação patri-
serão abordadas as recentes alterações operadas monial.
em razão da conversão da MP 881 (pelo PL de Con- Deste modo, de forma concreta, a alteração ini-
31
versão nº 17/2019, aprovado pela Comissão Mista cialmente operada no art. 50 do Código Civil pela
do Congresso Nacional) na Lei nº 13.874, de 20 de MP 881 procurou resgatar a proteção e separação
setembro de 2019. patrimonial ao restringir a ocorrência da desconsi-
O texto original da MP 881 alterou a redação do deração ao caso de abuso da personalidade jurídi-
art. 50 do Código Civil brasileiro, que trata sobre ca, caracterizado pelo desvio de finalidade ou pela
abuso da personalidade jurídica, visando ao estabe- confusão patrimonial.
lecimento de critérios mais objetivos para a descon- Durante o processo de conversão da MP 881 na
Lei nº 13.874/19, tal intenção do legislador (em criava um ônus probatório bastante excessivo, e em
recepção ao objetivo do texto encaminhado pelo alguns casos até mesmo impossível, para demons-
Executivo) deixou ainda mais claro o propósito do tração dos elementos necessários à configuração
resgate da proteção e separação patrimonial em de tal hipótese por quem pretendesse proceder à
razão da proposição e aprovação de um dispositivo desconsideração da personalidade jurídica.
imediatamente anterior (art. 49-A) nos seguintes Por sua vez, a redação do § 2º foi mantida con-
termos: “[a] pessoa jurídica não se confunde com os forme havia sido proposta pela MP 881, que definiu
seus sócios, associados, instituidores ou adminis- a hipótese da confusão patrimonial como sendo “a
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

tradores”. Em complemento, o parágrafo único ausência de separação de fato entre os patrimônios,


deste mesmo dispositivo (art. 49-A) dispõe que: “[a] caracterizados por: I – cumprimento repetitivo pela
autonomia patrimonial das pessoas jurídicas é um sociedade de obrigações do sócio ou do adminis-
instrumento lícito de alocação e segregação de ris- trador ou vice-versa; II – transferência de ativos ou
cos, estabelecido pela lei com a finalidade de esti- de passivos sem efetivas contraprestações, exceto o
mular empreendimentos, para a geração de empre- de valor proporcionalmente insignificante; e III –
gos, tributo, renda e inovação em benefício de outros atos de descumprimento da autonomia
todos”. patrimonial”.
Assim como já havia sido proposto na MP 881, a Também foram igualmente mantidos pela Lei nº
mudança significativa surge a partir do acréscimo 13.874/19 os demais parágrafos inseridos no art. 50
de parágrafos ao art. 50, especialmente para definir pela MP 881, que, apesar de serem pressupostos
o conteúdo e incluir requisitos e critérios objetivos mínimos e decorrências lógicas da separação patri-

32
para a caracterização das hipóteses de desvio de monial e do direito de empresa, mas também em
finalidade e confusão patrimonial. razão dos excessos e aplicações equivocadas, exigi-
A relevante, e também positiva, alteração feita ram a necessidade de positivação, a partir da afir-
no momento da conversão na Lei nº 13.874/19 con- mação: de que as regras dispostas no caput e nos
siste na alteração da redação do parágrafo 1º para parágrafos 1º e 2º também se aplicam à extensão
exclusão da expressão “utilização dolosa” quando das obrigações de sócios ou de administradores (§
da definição da hipótese de desvio de finalidade. Tal 3º); que a mera existência de grupo econômico, mas
redação era passível de críticas exatamente porque sem a presença dos requisitos objetivos menciona-
dos acima, não autoriza a desconsideração (§ 4º); e
que a mera expansão ou a alteração da finalidade
original da atividade econômica específica da
empresa não constitui desvio de finalidade (§ 5º).
É certo que uma única alteração legislativa não é
capaz, por si só, de estancar todos os problemas
relacionados à aplicação de um determinado insti-
tuto jurídico, tampouco prever todos os seus efeitos
(especialmente o seu efeito econômico pretendido,

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


que muitas vezes se confunde com a própria moti-
vação da edição ou alteração da norma).
No caso específico da desconsideração da per-
13.874/19, não deixa de ser importante e elogiável.
sonalidade jurídica, o problema simplesmente não
Afinal, a “Declaração de Direitos de Liberdade Eco-
se encerra e permanece existindo a possibilidade de
nômica” busca fortalecer as normas de proteção à
se fundamentar a desconsideração a partir de
livre-iniciativa, expressamente reconhecida como
outros critérios menos restritivos, a partir de outros
fundamento da República Federativa do Brasil,
diplomas normativos igualmente vigentes (como
tanto quanto os valores sociais do trabalho e a dig-
no caso do Código de Defesa do Consumidor, no
nidade da pessoa humana (art. 1º da Constituição
Código Tributário Nacional, na legislação trabalhis-
Federal).
ta, etc.). Inclusive, a própria recente criação de um
O resgate da proteção à livre-iniciativa, aqui tra-
incidente de desconsideração da personalidade jurí- 33
duzida no fortalecimento da separação patrimonial
dica, pelo novo Código de Processo Civil, em 2015,
(como regra, excetuados os casos de efetivo abuso
também procurava enfrentar o mesmo problema
da personalidade jurídica), é essencial para a garan-
de excessos no uso e atropelos na aplicação pelos
tia da segurança jurídica de modo a, a partir disso,
tribunais brasileiros.
se estimular o desenvolvimento das atividades eco-
Mesmo assim, o esforço legislativo, revelado
nômicas, seja por meio do empreendedorismo dire-
tanto pela MP 881 como pelas recentes alterações
to, coletivo ou individual, ou ainda pela captação de
realizadas no processo de conversão na Lei nº
investimentos.
Desburocratizar é preciso: as mudanças trazidas
pela Lei nº 13.874 no procedimento
de registro de empresas

Lei da Liberdade Econômica trouxe um conjunto de novidades aos registros públicos


empresariais, facilitando procedimentos e conferindo e iciência ao sistema.

Por Bruno Herzmann Cardoso


LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

Advogado da área de Contratos e Estruturação de Negócios do VGP

Burocracia. Só a palavra já é suficiente para evocar A Lei nº 13.874/2019, que tem por objetivo dar pro-
sentimentos de desconforto, principalmente para os teção ao livre exercício da atividade econômica, não
empresários que buscam formalizar sua empresa. A poderia deixar de aproveitar a oportunidade de atacar
imagem de filas, carimbos, cartórios, exigências e o problema. Com a sua aprovação, alteraram-se duas
taxas vem logo à mente. Tudo isso, além de desafia- outras leis: (i) Lei nº 12.682, que regula a elaboração e
dor e desgastante, constitui um custo considerável arquivamento de documentos em meios eletromag-
para as empresas, tanto de dinheiro quanto de tem- néticos; e (ii) Lei nº 8.934, que contém as normas do
po. Em 2017, as empresas brasileiras gastaram em registro público de empresas mercantis.
média 1.958 horas somente para vencer a burocracia Na Lei nº 12.682, incluiu-se o art. 2º-A, que auto-
tributária e pagar os impostos devidos, por exemplo. riza o armazenamento em meio exclusivamente ele-

34 Embora a situação tenha melhorado nos últimos trônico de documentos públicos e privados, sendo
anos, estima-se que o tempo médio para abrir uma que, após a digitalização, a via física original pode ser
empresa é de 119 dias (Banco Mundial, 2018), o que destruída (§ 1º). E, acima de tudo, os documentos digi-
representa melhora em comparação aos anos anteri- tais e sua reprodução têm o mesmo valor probatório
ores, mas ainda assim deixa o Brasil em último lugar do documento original, para todos os fins de direito (§
entre os Brics. Estamos muito longe do tempo da pri- 2º). A integridade e autenticidade dos documentos
meira colocada, Nova Zelândia, onde é possível abrir públicos deverá sempre ser garantida por certificação
uma empresa em menos de um dia. digital (§ 8º).
Em relação à Lei nº 8.934, a primeira alteração rele- série de pequenas alterações que, embora não
vante foi a vinculação do cadastro federal ao estadual, tenham tanto impacto individualmente, representam
obrigando os sistemas de todas as Juntas Comerciais uma mudança principalmente nos princípios do sis-
a se comunicarem com o CNPJ. Além disso, não tema como um todo, buscando a simplificação dos
haverá mais cobrança de taxas sobre inclusão de seus procedimentos. Se consolidadas na prática, tais
informações no cadastro nacional (art. 4º, parágrafo alterações trarão benefícios em larga escala, sendo o
único). Ademais, fixou-se o prazo de 2 dias para aná- mais relevante deles a segurança jurídica, uma das
lise de atos societários mais simples, sob pena de ser bases de que a economia necessita para crescer com
considerado arquivado se houver pedido nesse sen- estabilidade.

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


tido (art. 42, § 4º). Também foi incluída previsão de “A simplicidade é o último grau de sofisticação”. A
deferimento automático de registro em alguns casos frase, atribuída a Leonardo da Vinci, não é à toa: um
que cumpram os requisitos da lei (art. 42, § 3º). Por bom sistema de registros públicos, e mesmo um sis-
fim, o advogado ou contador agora pode declarar, tema jurídico como um todo, tem de ser rigoroso a
sob sua responsabilidade, que os documentos apre- ponto de fornecer segurança, mas simples a ponto de
sentados são autênticos, dispensando as cópias ser intuitivo, de ser acessível e compreensível por qual-
autenticadas (art. 63, § 3º). quer cidadão. A Lei da Liberdade Econômica, nesse
Vê-se, portanto, que a Lei nº 13.874 trouxe uma quesito, foi um passo na direção certa.

35
A mitigação da intervenção em favor da liberdade
de contratar: o artigo 421 do Código Civil

Entenda como a nova redação dada Lei da Liberdade Econômica ao artigo 421 do Código Civil
poderá mitigar a intervenção Judicial dos contratos empresariais.

Por Wyvianne Rech Zanicotti Por Tayane Priscila Tanello


Sócia da área Cível Corporativo do VGP Trainee acadêmica da área Cível Corporativo do VGP
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

O intervencionismo judicial nas relações privadas e sariamente a intenção das partes quanto às cláusulas
comerciais foi profundamente mitigado com o contratuais. Assim, fica evidente a racionalidade da
advento da Lei nº 13.874/2019, denominada Lei da legislação, que anseia tornar medida excepcional a revi-
Liberdade Econômica (LLE). Concedendo maior liber- são contratual pelo Judiciário, de modo a fazer preva-
dade às partes, as alterações contidas em todo o texto lecer o princípio da intervenção mínima, respeitando-
da LLE visam, tanto quanto for possível, a retirar do se os riscos intencionalmente (ou não) alocados pelas
âmbito de atuação do Poder Judiciário a ingerência e a partes.
revisão das relações contratuais. Nesse sentido, foram A redação do art. 421 do Código Civil foi modifi-
estabelecidos princípios norteadores da proteção à cada pela nova Lei, a qual também acresce ao ordena-
livre-iniciativa e ao livre exercício de atividade econô- mento o art. 421-A. A mudança de redação confirma o
mica, tais como (i) a liberdade como uma garantia no aspecto geral da nova legislação, que busca reafirmar
36
exercício da atividade econômica, (ii) a boa-fé do par- a força vinculante dos contratos e a liberdade de con-
ticular perante o poder público, (iii) a intervenção sub- tratar, princípios mencionados reiteradamente pela
sidiária e excepcional do Estado no exercício de ativi- LLE.
dades econômicas e (iv) o reconhecimento da vulne- Os dispositivos aqui já referidos estipulam diretri-
rabilidade do particular perante o Estado. zes para atuação, ou melhor, abstenção do Poder Judi-
Nos casos em que não for possível afastar a jurisdi- ciário em face das demandas que envolvem discussão
ção estatal, a LLE ao menos reduz o campo de atuação de contratos privados. Primeiramente, prevalecerá a
do Estado, de modo que deverá ser observada neces- intervenção mínima e excepcionalidade da revisão do
instrumento firmado por particulares. Foi mantida, no tratantes podem igualmente estipular parâmetros que
entanto, a redação original do Código Civil no que orientarão a atuação do Poder Judiciário na interpreta-
tange à ressalva à inércia estatal. Dessa forma, a maior ção das cláusulas negociais e estabelecer pressupos-
liberdade concedida aos contratantes deverá respeitar tos e situações específicas que permitam a eventual
a função social do contrato, conforme previsão do revisão ou resolução contratual — isso em clara inten-
caput do art. 421 (premissa essa utilizada na grande ção de delimitar o âmbito de atuação dos juízes sobre
maioria dos casos como justificativa, pelo Poder Judi- o caso concreto. Essa hipótese é reforçada pela reda-
ciário, para a alteração e revisão contratual). O caráter ção dada ao art. 113, § 2º do Código Civil. Vale aqui

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excepcional da intervenção judicial nos contratos é rei- destacar que tais condutas, se observadas pelas par-
terado pelo inciso III do art. 421-A, evidenciando a tes, contribuem à restrição da ingerência judicial sobre
intenção do legislador. as disposições e termos negociados.
Além disso, terá proeminência, na hipótese concre- Por fim, merece destaque o fato de que, além das
ta, a presunção de paridade e simetria dos contratos hipóteses já mencionadas, não estão livres da revisão
civis e empresariais, devendo o contrário ser cabal- judicial os casos em que se evidenciar o abuso de dire-
mente demonstrado em juízo, se for o caso. Pretende- ito, que poderá ensejar a nulidade, em parte ou no
se, dessa forma, impossibilitar que o Poder Judiciário todo, do contrato submetido a juízo.
suponha a hipossuficiência de uma das partes ou abu- Desta forma, é de se concluir que, muito embora
sividade do contrato (afastando as hipóteses de inter- seja clara a intenção legislativa de promover o exercí-
venção por vício do consentimento, por exemplo). cio livre da atividade econômica e estabelecer normas
Sendo assim, é imprescindível prova do desequilíbrio e princípios de proteção à iniciativa e às relações nego- 37
inter partes para autorizar a revisão judicial do conte- ciais privadas, há ainda uma margem de atuação e dis-
údo pactuado pelas partes. cricionariedade do Estado, pelo Poder Judiciário, que
Mesmo que superado o requisito autorizador da pode interferir em diversos âmbitos dessas relações —
submissão ao Judiciário, cabe ressaltar que a interven- isso sob a justificativa de proteção à função social do
ção estatal não deverá ser exercida livremente. contrato e do combate ao abuso de direito.
Segundo a redação do inciso I do Código Civil, os con-
Impactos da Declaração de Direitos de Liberdade
Econômica no Incidente de Desconsideração
da Personalidade Jurídica

Há perspectivas de mudança no posicionamento dos tribunais brasileiros


em relação à desconsideração da personalidade jurídica?

Por Guilherme Nadalin Por Larissa Quadros do Rosário


Sócio da área Cível Corporativo do VGP Sócia da área Cível Corporativo do VGP
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

Sempre que há alterações legislativas, surgem pre- questão foi tamanha que, no parágrafo único do dis-
ocupações quanto aos possíveis impactos no enten- positivo, resguardou-se de forma expressa a licitude
dimento jurisprudencial predominante. Esse cenário da utilização da autonomia patrimonial como forma
não é diferente em relação à conversão em lei da MP lícita de gestão de riscos pelos empresários.
da Liberdade Econômica. O dispositivo incluído pretende proporcionar
Nesse contexto, é importante investigar se a inclu- maior segurança jurídica aos empresários. Afinal, a
38
são do art. 49-A e da alteração da redação do art. 50 própria lei passa a reconhecer que a constituição de
do Código Civil impacta as discussões judiciais sobre empresas somente se dá como forma de afastar do
desconsideração da personalidade jurídica e o posici- empresário e de seu patrimônio pessoal os riscos da
onamento dos tribunais sobre o tema. atividade empresarial que desenvolve ou passará a
O art. 49-A apresenta em seu caput o conceito de desenvolver.
autonomia patrimonial: separação entre o patrimônio Aqui, a lei positivou entendimento consolidado na
dos sócios e o da empresa. A preocupação com a jurisprudência. O STJ (Superior Tribunal de Justiça)
reconhece o uso da personalidade jurídica da empre- do STJ exige, cumulativamente, a existência de confu-
sa, e a consequente autonomia patrimonial, como ins- são patrimonial (uma das hipóteses legais de caracte-
trumento de promoção do empreendedorismo “por rização do abuso da personalidade).
meio da limitação de seus riscos, fomentando, assim, Embora a Lei tenha mantido a amplitude da carac-
o desenvolvimento econômico da sociedade por terização do abuso de personalidade — em especial
meio da produção de riquezas, do aumento da arre- em razão da redação do inciso III do § 2º do disposi-
cadação de tributos, da criação de empregos e da tivo que trata genericamente de “outros atos de des-
geração de renda. Essa limitação dos riscos ocorre por cumprimento da autonomia patrimonial” —, ela pas-
meio da previsão de autonomia do patrimônio da pes- sou a definir de forma mais clara o que se considera

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soa jurídica em relação aos seus sócios; uma forma de como confusão patrimonial apta a ensejar a desconsi-
'blindagem patrimonial'”. deração. E, ao final, a Lei especifica que a expansão e
O art. 50, por sua vez, trata das hipóteses de des- alteração do objeto social das empresas não caracte-
consideração da autonomia patrimonial (personali- riza desvio de finalidade suficiente a ensejar a desper-
dade jurídica) da empresa. Com redação mais com- sonalização.
pleta do que o dispositivo anterior, pretende restringir Em primeira análise, tendo em vista o posiciona-
a atuação dos magistrados na desconsideração da mento atual do STJ a respeito das hipóteses de des-
personalidade jurídica e responsabilização dos sócios consideração, nota-se que foi o entendimento juris-
e administradores pelas obrigações contraídas pelas prudencial que influenciou a alteração legislativa. Há
empresas. diversos precedentes do STJ no sentido de que a
Novamente houve incorporação do entendimento mera existência de grupo econômico não é suficiente
jurisprudencial predominante no STJ, o qual já reve- para a desconsideração da personalidade jurídica e, 39
lava a excepcionalidade da medida, cuja adoção também, quanto à necessidade de demonstração da
“pressupõe a ocorrência de abusos da sociedade, existência de abuso da personalidade.
advindos do desvio de finalidade ou da demonstra- A jurisprudência influenciou a lei; do que se pode
ção de confusão patrimonial”. concluir que não haverá maiores impactos na juris-
O mesmo se percebe em relação à vedação prudência sobre o tema.
expressa da despersonalização em razão da existên- O que não significa que não haverá consequênci-
cia de grupo econômico, para a qual o entendimento as. Em análise de precedentes nos tribunais, nota-se
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

que no primeiro grau de jurisdição há decisões de Por fim, em matéria cível, é sempre importante
toda a sorte, com uma maior tendência à aplicação lembrar que a alteração legislativa ocasionada pela
dos requisitos necessários à desconsideração da per- conversão em lei da MP não implica modificação das
sonalidade jurídica de forma menos restritiva do que hipóteses de despersonalização mais amplas previs-
40
os tribunais, principalmente no STJ. As mudanças tra- tas na legislação consumerista (Código de Defesa do
zidas pela lei podem contribuir para extirpar — ou ao Consumidor). A aplicação das modificações em ques-
menos reduzir — essa profusão de decisões e unificar tão permanece restrita às relações paritárias entre par-
de vez, de cima a baixo, a jurisprudência sobre o tema. ticulares.
A Hermenêutica contratual reexaminada
pela Lei da Liberdade Econômica

Alterações no Código Civil propiciam um novo passo para a


valorização da autonomia privada nas relações interempresariais.

Por Ana Carolina Martinez


Trainee Acadêmica do VGP

Primando pela liberdade de pactuar e buscando

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propiciar uma interpretação mais condizente com os
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados con-
pactos interempresariais, a Lei nº 13.874/19 sedimen-
forme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
tou a relevante modificação na normativa civil já apon-
§ 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o
tada pela denominada “MP da Liberdade Econômi- sentido que:
ca”. Alterando a redação dos arts. 113 e 421 e inclu- I - for confirmado pelo comportamento das partes pos-

indo o art. 421-A, essa Lei procurou reavivar a auto- terior à celebração do negócio;
II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mer-
nomia privada, valorizando-a em oposição às interfe-
cado relativas ao tipo de negócio;
rências estatais. Em relação à MP 881/19, na seara rela-
III - corresponder à boa-fé;
tiva à interpretação contratual, foram afastadas as alte- IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o disposi-

rações pretendidas no art. 423 e as inclusões dos arts. tivo, se identificável; e


V - corresponder a qual seria a razoável negociação das
480-A e 480-B.
partes sobre a questão discutida, inferida das demais dispo-
41
Ao art. 113 do Código Civil foram acrescidos os
sições do negócio e da racionalidade econômica das partes,
parágrafos 1º e 2º, que visam balizar a forma de inter- consideradas as informações disponíveis no momento de
pretação dos contratos. Sua função é essencialmente sua celebração.

declaratória, uma vez que apenas reiteram parâme- § 2º As partes poderão livremente pactuar regras de inter-
pretação, de preenchimento de lacunas e de integração dos
tros que se encontram esparsos no Código Civil, e já
negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei.
são amplamente adotados pelos Tribunais nacionais.
Entre estas balizas, há a confirmação do negócio pelo
comportamento das partes em momento subse- Ademais, o § 2º remodela a alteração presente na
quente à celebração do negócio. Há ainda a referência MP 881/19, que adicionava o art. 480-A. Este pará-
a usos, costumes e práticas do mercado e à boa-fé, já grafo estipula a licitude do estabelecimento de parâ-
presentes no caput deste artigo. metros objetivos para a interpretação de requisitos de
O inciso IV do § 1º, contudo, merece maior aten- revisão ou de resolução do pacto contratual. Repetida
ção. Isso porque substitui a alteração prevista na MP em diferente localização, o que se vislumbra é a
881/19 ao art. 423. Esta recebeu numerosos elogios, outorga aos contratantes da faculdade de regerem
em virtude de a noção de interpretação mais favorável seus negócios jurídicos, inclusive em eventuais oca-
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

ao aderente ser ampliada. Ela deixa, a partir da reda- siões imprevisíveis. Por essa consolidação do que já
ção dada pela lei, de se restringir aos contratos de ade- previa o Enunciado nº 23 da 1ª Jornada de Direito
são e aos casos de ambiguidade ou contradição. Fala- Comercial, procura-se estabelecer maior segurança
se, ainda, na aproximação dos princípios da eticidade jurídica.
e da socialidade, idealizados por Miguel Reale. Não
obstante, remanesce a dificuldade de identificação de
quem é o aderente em cada cláusula da relação jurí-
dica estabelecida.

42
Tal dispositivo demanda leitura conjunta com a
alteração proposta para o art. 421. Quanto a esta, cabe
retomar que a função social do contrato se volta para a Redação anterior à MP e à Lei: Art. 421. A liberdade

tutela de interesses que transbordam os meros interes- de contratar será exercida em razão e nos limites da
função social do contrato.
ses individuais em garantias institucionais. Em outros
Redação dada pela Lei: Art. 421. A liberdade contra-
termos, cabe o reconhecimento de que o contrato,
tual será exercida nos limites da função social do
embora com caráter individual prevalecente, é instru- contrato.

mento de organização social e econômica. A Liberdade Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas,
prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a
Econômica trazida por esta Lei excluiu a expressão “em

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excepcionalidade da revisão contratual.
razão” e incluiu o que denominou “princípio da inter-
venção mínima e da excepcionalidade”, quando da veri-
ficação desta função social estipulada.

Embora tais alterações permitam a realização em substituição ao art. 480-B da MP 881/19 —


de críticas, haja vista que é o próprio Estado, através expressa a conjugação de dois enunciados forjados na
de suas normas, que dá força obrigatória aos contra- 1ª Jornada de Direito Comercial e na 5ª Jornada de
tos, ela é digna de maior cuidado. Afinal, a intenção Direito Civil. Essa constatação, bem como a topografia
dessa Lei foi evitar que revisões judiciais de contratos em que é inserido o dispositivo, permite notar que se
resultem em alterações excessivas em relação ao que privilegiou a revisão contratual em observância da
as partes estabeleceram, limitando-as a hipóteses sofisticação dos contratantes e da assunção de risco
excepcionais. O que se objetiva é a previsibilidade das contratual. Não obstante as implicações econômicas
43
regras do jogo, coibindo surpresas interpretativas. para a formação dos contratos empresariais com,
Conclui-se que a atuação estatal não é excluída, mas novamente, o aumento da segurança jurídica, esta
meramente sujeita à disciplina propiciada pelos sujei- redação recebe algumas críticas, especialmente por-
tos que participaram da formação do contrato. que possuísse pouca relevância, ante a presunção já
Por fim, este interesse do legislador fica ainda mais existente de simetria nas relações civis e empresariais,
evidenciado quando observado o art. 421-A, o qual — em regra geral. Ademais, a alocação de riscos, con
forme a estipulação dos contratantes, deve preva- expressão da liberdade como valor jurídico. Ainda que
lecer em qualquer espécie contratual, independente- permeada de princípios modernos, como as próprias
mente dos sujeitos. alterações reconhecem, como a boa-fé e a própria fun-
Sem embargo, notável é a tentativa, já esboçada ção social, a autonomia privada é um grande pilar no
na MP que originou esta lei, de revalorizar a autono- direito privado. A Lei da Liberdade Econômica tem seu
mia privada. Afinal, como Tartuce diz, esta é a própria grande mérito por, ao menos, buscar reavivá-la
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétricos até a presença de elementos concretos
que justifiquem o afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, garantido
também que:
I - as partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das cláusulas negociais e de seus
pressupostos de revisão ou de resolução;
II - a alocação de riscos definida pelas partes deve ser respeitada e observada; e
III - a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excepcional e limitada.

44
DIREITO DO
TRABALHO
A Lei nº 13.874/2019 veio estabelecer regras de interpretação e de aplicação
do direito do trabalho (§ 1º do art. 1º), dentro das chamadas normais gerais de
direito econômico. Dentre os princípios introduzidos, foi estabelecido o direito
da empresa de desenvolver atividade econômica em qualquer horário ou dia da
semana, inclusive feriados, sem que para isso esteja sujeita a cobranças ou encar-
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

gos adicionais, observada a legislação trabalhista (art. 3º). Nas alterações, para
estudo do direito do trabalho, ressalvam-se os seguintes pontos de importância:
(a) a alteração do art. 50 do Código Civil (CCB), que trata da desconsideração da
personalidade jurídica (inclusive a sua desconsideração na forma inversa, na qual
as obrigações dos sócios e administradores afetam o ente jurídico); (b) a respon-
sabilidade exclusiva do patrimônio social da empresa pelas dívidas da empresa
individual de responsabilidade limitada (nova redação do art. 980-A do CCB); (c)
a ampla autorização de armazenamento eletrônico, óptico ou equivalente de
documentos privados (inclusive trabalhistas), conforme o art. 10 da lei; (d) a
observação das jurisprudências do Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tri-
bunal de Justiça (STJ), Tribunal Superior do Trabalho (TST), Tribunal Superior Elei-
toral (TSE) ou da Turma Nacional de Uniformização de Jurisprudência nas ativi-
dades da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, Procuradoria-Geral da União,
46
Procuradoria-Geral Federal, Procuradoria-Geral do Banco Central do Brasil e dos
Auditores-Fiscais da Secretaria Especial da Receita Federal (impedindo, inclusive,
o próprio lançamento de créditos), conforme a nova redação dos incisos V e VI
dos arts. 19, 19-A e 19-B da Lei nº 10.522/2002.

Por Patrick Rocha de Carvalho


Sócio da área de direito do trabalho do VGP
A responsabilidade patrimonial dos
sócios e administradores e seus
reflexos no Direito do Trabalho

A responsabilidade patrimonial dos sócios e administradores e seus


re lexos no Direito do Trabalho (nova redação do art. 50 do Código Civil).

Por Patrick Rocha de Carvalho


Sócio da área de direito do trabalho do VGP

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


A Lei nº 13.874/2019 modificou a redação do art. patrimonial consiste na ausência de separação de
50 do Código Civil (CCB), o qual dispõe sobre a des- fato entre os patrimônios da empresa e seus sócios ou
consideração da personalidade jurídica (com a res- administradores nas seguintes situações: (a) quando a
ponsabilidade patrimonial dos sócios e administrado- pessoa jurídica cumpre, reiteradamente, com as obri-
res) nos casos de abuso. gações do sócio ou administrador e vice-versa (exem-
A primeira alteração estabelece que a responsabili- plos: a pessoa jurídica ou seus empregados atendem
dade dos sócios e administradores somente ocorrerá interesses particulares dos sócios ou administradores;
nos casos em que essas pessoas forem beneficiadas, quando um sócio ou administrador paga as obriga-
direta ou indiretamente, pelo abuso da personalidade. ções da sociedade empresarial com finanças própri-
Sem benefício direto ou indireto, mediante prova, a as); (b) quando há transferências de ativos ou passivos
desconsideração não poderá ser realizada. (débitos) entre a sociedade e seus administradores ou 47

Outra novidade envolve a definição sobre o que sócios, sem as efetivas contraprestações (exemplo:
configura o abuso, que pode ocorrer mediante desvio quando o sócio ou administrador toma valores da
de finalidade ou confusão patrimonial. O desvio de empresa sem qualquer instrumento contratual), exce-
finalidade ocorre quando há utilização da pessoa jurí- tuados os valores proporcionalmente insignificantes;
dica com o objetivo de lesar credores e para a prática (c) quando ocorrerem outros atos de descumpri-
de atos ilícitos de qualquer natureza. A confusão mento da autonomia patrimonial da empresa.
As situações do desvio de finalidade e da confusão dade: a maior e a menor. A tese denominada teoria
patrimonial se aplicam também nos casos de descon- maior tem como fundamento o art. 50 do CCB, o qual
sideração inversa da personalidade jurídica, quando a foi alterado pela Lei da Liberdade Econômica. Essa teo-
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

empresa pode responder patrimonialmente pelas obri- ria defende que a desconsideração da personalidade
gações dos sócios ou administradores (conforme situ- se justifica quando verificada a comprovação de
ações acima). abuso da personalidade, por desvio de finalidade ou
Outra inovação envolve afirmar que a mera exis- confusão patrimonial. A segunda tese (teoria menor)
tência de grupo econômico sem a presença dos tem como fundamentos o art. 28 do Código do Con-
requisitos de que trata o art. 50 do CCB (abuso de per- sumidor (CDC) e o art. 4º da Lei 9.605/1998. Essa teo-
sonalidade, por desvio de finalidade ou confusão ria defende que a inidoneidade financeira do devedor
patrimonial, com benefício direto ou indireto pelo abu- que inviabilize a satisfação dos créditos viabiliza a des-
so) não autoriza a desconsideração da personalidade consideração de sua personalidade jurídica, com a
da pessoa jurídica. consequente inserção dos sócios ou administradores
A última novidade é a afirmação de que a mera como responsáveis no processo trabalhista, a fim de
expansão ou a alteração da finalidade original da ati- que respondam pela dívida com seu patrimônio pes-

48
vidade econômica específica da pessoa jurídica não soal.
constitui desvio de finalidade. Assim, para o Direito do Trabalho, a novidade tra-
Essas são as novidades trazidas ao Código Civil. zida pela Lei da Liberdade Econômica, no tocante à
Agora importa saber se tais condições afetam ou desconsideração da personalidade jurídica, não trará
não os processos trabalhistas (direito material e pro- alterações (inclusive por ausência de menção legal
cessual do trabalho). expressa quanto à sua aplicabilidade ao direito do tra-
Sobre o tema da desconsideração da personali- balho), conforme se depreende do posicionamento
dade jurídica há duas teorias quanto à sua aplicabili- externalizado pelo Tribunal Superior do Trabalho
(ARR-3148-91.2014.5.05.0251, 3ª Turma, Relator inserção dos respectivos sócios ou administradores
Ministro Alexandre de Souza Agra Belmonte, DEJT como responsáveis pelo débito trabalhista, não se
05/04/2019). observando, porém, a determinação contida na Lei da
Concluindo, para os processos trabalhistas persis- Liberdade Econômica, por falta de previsão específica
tirá a regra de que, constatada a inidoneidade finan- da sua incidência no direito processual e material do
ceira da pessoa jurídica, será plenamente viável a trabalho.

Particularidades da nova Carteira de


Trabalho e Previdência Social (CTPS)

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


Inovações e modi icações trazidas pela Lei da Liberdade Econômica
na Carteira de Trabalho e Previdência Social.

Por Patrick Rocha de Carvalho


Sócio da área de direito do trabalho do VGP

A Lei da Liberdade Econômica trouxe novidades exceção, a substituição do eSocial por um sistema sim-
em diversas áreas do Direito, inclusive para o Direito plificado de escrituração digital e, por último, um
do Trabalho. novo modelo de Carteira de Trabalho e Previdência
Essas novidades envolvem o exercício de atividade Social (CTPS) – ponto sobre o qual se concentra o pre-
econômica em qualquer horário ou dia da semana, sente texto.
49
desde que observada a legislação trabalhista, o arqui- Pela nova lei, restou estabelecido que caberá ao
vamento de documentos pela via digital (os quais são Ministério da Economia (que assumiu as atribuições
equiparados aos originais físicos), a obrigatoriedade do Ministério do Trabalho e Emprego) estipular os
do controle de jornada para as empresas que pos- novos modelos e procedimentos para a emissão da
suem mais de 20 trabalhadores, o registro (manual, CTPS, sendo que esse documento, a partir de agora,
mecânico ou eletrônico) do trabalho realizado exter- será emitido preferencialmente na forma eletrônica.
namente, a possibilidade de instituição do ponto por A emissão física desse documento continuará a ser
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

realizada, mas de forma excepcional (por unidades des- ver. Um sistema manual, mecânico ou eletrônico
centralizadas do Ministério da Economia; por órgãos poderá ser adotado pelo empregador, somente como
federais, estaduais e municipais da administração faculdade (conforme instruções a serem expedidas
direta ou indireta, mediante convênio; e por serviços pelo Ministério da Economia).
notariais e de registro, sem custos para a administra- Agora, a comunicação pelo empregado do
ção e mediante convênio específico). número de inscrição no CPF equivale à apresentação
A nova CTPS terá como identificação única do da CTPS em meio digital, sendo dispensada a emissão
empregado o número de inscrição no Cadastro de Pes- do recibo de entrega pelo empregador. Realizada essa
soas Físicas (CPF) – antes dessa modificação, a CTPS anotação (no prazo de cinco dias úteis), o empregado
50
era emitida com diversos elementos para a sua identi- deverá ter acesso às suas informações no prazo de 48
ficação (número, série, NIT, foto, impressão digital, horas, a contar daquele ato. Essas anotações ainda
assinatura, número de inscrição no PIS, etc.). têm validade em processos trabalhistas, para a prova
A anotação inicial da CTPS poderá ser feita em até do salário, férias ou tempo de serviço do empregado.
cinco dias úteis, com a identificação da data de admis- Dando maior efetividade ao ambiente digital, a
são, a remuneração e as condições especiais, se hou- nova lei estabelece que os registros eletrônicos gera-
dos pelo empregador (desde que utilizado o sistema como as anotações e registros na CTPS eram efetua-
informatizado) equivalem às anotações mencionadas dos: de um procedimento burocrático e físico para um
na CLT (por exemplo: os registros de concessão das ambiente eletrônico, com a utilização de sistemas
férias, nos casos de CTPS eletrônica – sendo desneces- informatizados. Isso, com certeza, trará maior agili-
sárias as suas anotações em documentos físicos, dade aos registros dos contratos de trabalho e às suas
como livros e fichas de registro dos empregados). alterações, tornando ultrapassada a antiga necessi-
A intenção da Lei da Liberdade Econômica foi a de dade de apresentar um documento físico (CTPS) para
atualizar as relações de trabalho, alterando a forma a realização das anotações legais.

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


51
DIREITO
TRIBUTÁRIO
A Lei da Liberdade Econômica tem como ponto de destaque a introdução de um viés de desburocratização
necessário e relevante para o desenvolvimento das atividades econômicas. No que diz respeito aos aspectos tribu-
tários, contudo, poucas alterações foram realizadas em decorrência direta da nova legislação, nem mesmo
quando foi votada a conversão da Medida Provisória em lei. É que, via de regra, o regime jurídico das incidências
tributárias está sujeito a uma reserva de lei que não se compatibiliza com as mudanças possíveis de serem feitas
por medida provisória, como ocorreu com a Lei da Liberdade Econômica. O próprio texto da lei excepciona diver-
sas situações, quando estas repercutirem na esfera das relações fazendárias e nas operações que tiverem por obje-
tivo exclusivamente a economia tributária. Pontos mais sensíveis e relacionados à liberdade econômica, como a
falta de segurança jurídica tributária, a extrema complexidade normativa, o alto custo de conformidade e a elevada

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


carga tributária não foram objetos da Lei da Liberdade Econômica.
Isso não quer dizer que a Lei da Liberdade Econômica tenha deixado em branco este aspecto da economia, já
que alterações nos aspectos fiscais e nas políticas fazendárias efetivamente foram contempladas no texto norma-
tivo. Vale mencionar a previsão da possibilidade de substituição dos arquivos físicos de documentos fiscais por
arquivos digitais, medida que foi regulamentada pelo Ato Declaratório Interpretativo RFB nº 4/2019, e a relevante
ampliação das hipóteses de dispensar a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional de praticar atos processuais em
casos nos quais já há um posicionamento firmado pela jurisprudência em favor do contribuinte. Há, por exemplo,
a possibilidade de dispensa em função de critérios de racionalidade, de economicidade e de eficiência, medida
essa que tem a perspectiva de gerar uma razoável diminuição do volume do contencioso judicial. Outro ponto
que possivelmente impactará os contribuintes, embora não de forma tão positiva, é a alteração de competência
do CARF na edição de súmulas, que, da forma como se encontra na lei, pode implicar em redução da participação
dos contribuintes.
53
É preciso reconhecer que há um inegável avanço promovido pela nova lei, sobretudo por constituir uma sinali-
zação do Governo no sentido de pôr em prática diretrizes de liberdade econômica que, grosso modo, já se acham
previstas no texto constitucional. Todavia, a operacionalização das iniciativas da nova lei, que vem muito carregada
de conceitos abertos e poucos afetos no ambiente normativo, precisa ser conjugada com uma alteração de mind-
set do Poder Público, ou fatalmente será suplantada pela ânsia regulatória que poderá torná-la inócua.

Por Andressa Saizaki


Sócio da área de direito tributário do VGP
A competência do CARF para edição de súmulas
após a Lei da Liberdade Econômica

A Lei da Liberdade Econômica estabelece condicionantes à atuação do Estado na economia,


privilegiando a liberdade em detrimento da atuação disfuncional da Administração Pública.

Por Andressa Saizaki


Sócia da área de Direito Tributário do VGP
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

Das diversas propostas de mudança trazidas pela a súmula serve como orientação tanto para futuras
MP da Liberdade Econômica (agora convertida na Lei decisões do próprio CARF quanto para a própria atua-
nº 13.874), uma delas afeta diretamente a competên- ção da administração federal tributária.
cia do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais Até a sanção da lei, a CSRF era composta, dentre
(CARF) para editar súmulas sobre matérias tributárias. outros, pelas confederações representativas de cate-
54 Verificada a existência de decisões repetitivas sobre gorias econômicas ou profissionais que, através de
determinada matéria, o CARF pode editar súmula para seu Presidente, tinham competência para submeter
unificar o entendimento em um só enunciado. Para propostas tanto para a criação de nova súmula
isso, uma proposta de súmula deve ser dirigida ao Pre- quanto para a atribuição de efeito vinculante a uma já
sidente do CARF, que convocará o Pleno da Câmara existente, por ato do Ministro da Economia.
Superior de Recursos Fiscais (CSRF) para deliberação. Ocorre que com a sanção da Lei da Liberdade Eco-
Atualmente, o Pleno é composto pelo próprio Presi- nômica houve a alteração do art. 18--A da Lei nº
dente e demais integrantes da CSRF. Uma vez editada, 10.522/02, o qual instituiu o Cadastro Informativo de
créditos não quitados do setor público federal apenas órgãos fazendários deveriam compor o comi-
(CADIN), ficando estabelecida a criação de um comitê tê, a portaria foi alvo de diversas críticas.
especial para a edição de súmulas relativas a matérias Tanto a Lei quanto a portaria reproduziram, tal
da administração tributária federal. Este Comitê seria como consta no Regimento Interno do CARF, os mem-
formado por: i) integrantes do CARF; ii) da Secretaria bros que compõem o Pleno, mas deixaram de incluir
Especial da Receita Federal do Ministério da Econo- expressamente as confederações que representam os
mia; iii) da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. contribuintes. O receio é que a ausência das confede-
A criação do referido comitê tomou forma por rações influencie a edição de súmulas cujos conteú-
meio de portaria do Ministério da Economia publicada dos tenham majoritariamente caráter arrecadatório, as

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


no Diário Oficial da União, no dia 2 de outubro de quais seriam privilegiadas. Isso porque, da forma
2019, ganhando o nome de Comitê de Súmulas da como foi constituído o comitê, as deliberações fica-
Administração Tributária Federal (COSAT). Tendo em riam a cargo tão somente de órgãos ligados à admi-
vista que a criação deste comitê implicou no prejuízo nistração fazendária, o que acabaria ferindo a pari-
da competência do Pleno da CSRF em editar, rever e dade na representação garantida, hoje, aos contribu-
revogar súmulas, e que houve a determinação de que intes integrantes do CARF.

Comitê
55
para edição de súmula

- Integrantes do CARF;
- Integrantes da Secretaria Especial
da Receita Federal do Ministério
da Econômia;
- Integrantes da Procuradoria-Geral
da Fazenda Nacional.
No passado, os contribuintes já tiveram parte de
sua representação prejudicada, quando o CARF foi
alvo de investigações que apuraram diversos indícios
de corrupção praticada por conselheiros específicos,
em julgamentos de autuações contra empresas priva-
das. Isto levou a reformulações internas e mudança de
regras quanto às pessoas que poderiam ocupar a fun-
ção de conselheiro, impedindo-se, por exemplo, o
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

exercício da advocacia em paralelo com o mandato de


conselheiro.
Frente as críticas impostas à portaria, o Ministério
da Economia achou por bem revogá-la, informando
que quando realizar a edição de uma nova portaria
sobre o tema, a submeterá à consulta pública, previa-
mente a sua publicação, garantindo, assim, a partici-
pação dos representantes.
Embora seja de grande importância a discussão
sobre formas de se desburocratizar o exercício da ativi-
dade econômica e incentivar o empreendedorismo bra-
sileiro, é necessário atentar para os impactos negativos,

56
a longo prazo, de determinadas alterações em pontos
que afetam indiretamente os objetivos principais da
proposta legislativa, como determina o art. 5º da pró-
pria lei. Neste caso, a incerteza quanto à presença das
confederações neste novo comitê e a criação deste
novo procedimento são, sem dúvida, elementos que
suscitam questionamentos, os quais visam evitar que
se alcance o oposto do que pretende a lei.
MERCADO DE
CAPITAIS
Em setembro de 2019, a Medida Provisória 881/19 foi transformada em lei, após sanção presidencial.
A Lei 13.874, conhecida como Lei da Liberdade Econômica, instituiu no Brasil a Declaração de Direitos de
Liberdade Econômica. A DDLE estabeleceu normas de proteção à livre-iniciativa e ao livre exercício de
atividade econômica, além da regular parte da atuação do Estado enquanto agente normativo.

A Lei teve como objetivo simplificar a atuação de empreendedores e investidores, reforçando a ten-
dência do atual governo em diminuir os impactos do aparato burocrático do Estado no dia a dia da inici-
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

ativa privada. Já na Exposição de Motivos Interministerial (EMI) 83/2019, foi reforçada a necessidade de
se afastar a percepção por parte dos setores produtivos de que o exercício das atividades econômicas no
Brasil estaria necessariamente atrelado às permissões prévias do aparelho estatal.

A lei enfrentou três principais temas sensíveis ao funcionamento da economia:

b) eliminação ou simplifica-
a) diretrizes interpretati- c) diretrizes interpretativas
ção de procedimentos admi-
vas para o Poder Público e desburocratizadoras nas
nistrativos e judiciais no
perante os particulares; relações entre particulares.
âmbito da Administração
Pública;

Em especial, a lei abordou questões envolvendo a modernização de mecanismos de fundos de inves-


58
timento, tema essencial para o desenvolvimento pleno dos mercados financeiro e de capitais. Dois tópi-
cos sensíveis e que sempre foram pleiteados pelo mercado foram abordados de forma efetiva pela lei: as
responsabilidades objetivas envolvendo os cotistas dos fundos e a questão da responsabilidade solidá-
ria entre os prestadores de serviços de carteiras.

Por Guilherme Guerra


Sócio da área de mercado de capitais do VGP
A Lei da Liberdade e os Fundos de Investimentos

Ao estabelecer novos limites legais para os fundos de investimentos e de inições mais


claras de responsabilidades dos agentes, a Lei da Liberdade Econômica
fortalece o mercado de capitais no Brasil.

Por Guilherme Guerra


Sócio da área de Mercado de Capitais do VGP

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


Não obstante o mercado de fundos de investi- fundos de investimentos, no ordenamento jurídico,
mento tenha assumido nos últimos anos uma alta rele- definindo-os como “uma comunhão de recursos,
vância no cotidiano da economia, no Brasil, ainda não constituídos sob a forma de condomínio, destinados
havia uma lei geral regulamentando estes veículos à aplicação em ativos financeiros”. Nos termos da lei, a
(com exceção à lei dos FII - Fundos Imobiliários – Lei competência para regulamentação das normas
8.668/93). Até a edição da Lei, a regulamentação dos envolvendo fundos de investimento continuará sendo
fundos era desenvolvida pelas instruções e normas edi- da CVM, a qual deverá implementar as novas regras.
59
tadas pela CVM. Apesar do poder normativo conce- A despeito de a lei se referir a ativos financeiros no seu
dido à autarquia, tais normas não possuem força de lei. texto, não nos parece que as novas regras estejam res-
Uma das inovações trazidas pela Lei da Liberdade tritas ao art. 2º da ICVM 555, mas àqueles e aos
foi a inclusão de um capítulo especial na Parte Especial demais incluindo os fundos ICVM 555 e os fundos
do Código Civil para tratar exclusivamente de fundos estruturados.
de investimento (arts. 1.368-C a 1.368-E). O novo Capí- Dois pontos ganharam destaque atendendo a
tulo X do Livro III da Parte especial do CC qualificou os uma demanda antiga por parte do mercado: as limi-
tações de responsabilidades em relação aos cotistas e damente restritas às atividades e responsabilidades
o fim da responsabilidade solidária obrigatória em de cada agente, ou seja, ao administrador, aos gesto-
relação aos prestadores de serviços dos fundos. Nos res e aos custodiantes caberão apenas - às suas esfe-
termos do art. 1368-D, o regulamento poderá, a partir ras de atuação - as possíveis sanções aplicadas pelo
de agora, dispor acerca da limitação das responsabili- regulador.
dades de cada condômino dos fundos (cotistas) e dos O cenário até então vigente do mercado apontava
prestadores de serviços. para uma concentração entre as grandes instituições
O inciso I do art. 1.368-D. do CC permitiu a limita- para as atividades de administração e gestão de fun-
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

ção da responsabilidade de cada cotista, ou seja, que dos. Como a maioria dos administradores de fundos
cada condômino fique responsável até o limite do são instituições financeiras de médio e grande porte,
valor das suas cotas. Nos casos extremos em que os havia uma tendência para a restrição da atuação de
fundos fiquem com patrimônio negativo, esta limita- gestoras de menor porte devido às ressalvas quanto
ção de responsabilidade permite que os cotistas não ao compartilhamento de responsabilidades. No
mais sejam obrigados a responder por estes cenários modelo onde as responsabilidades são solidárias e
negativos, tendo que aportar mais recursos nos fun- compartilhadas entre gestores, administradores e cus-
dos com eventual PL negativo. todiantes, qualquer movimento por parte de um des-
O inciso II do mesmo artigo trouxe uma novidade tes agentes poderia ser excessivamente restringido
há muito demandada pelo mercado de fundos no Bra- por meio de uma atuação preventiva do outro.
sil: o fim da responsabilidade solidária entre os presta- O modelo anterior de responsabilidade solidária
dores de serviços dos fundos de investimento, ou seja, contribuía para que as instituições financeiras crias-

60
do administrador fiduciário, do gestor e do custodian- sem excessivos entraves para a administração fiduciá-
te, desde que restritos aos fatos posteriores à publica- ria de fundos geridos por gestoras independentes, res-
ção da lei. Esta delimitação de responsabilidades entre tringindo, desta forma, o mercado como um todo. No
os agentes de fundos de investimentos é uma nosso entendimento, esta delimitação das responsa-
demanda antiga do mercado financeiro e de capitais bilidades restrita à esfera de atuação de cada presta-
no Brasil. Na prática, ao acabar com esta responsabili- dor de serviço irá permitir que os administradores fidu-
dade solidária, a lei permite que as ações de enforce- ciários revejam as suas matrizes de risco no sentido de
ments do mercado financeiro e de capitais sejam devi- abrir as portas para as gestoras de menor porte.
CURRÍCULO DOS
AUTORES
Coordenadores

LUIZ FERNANDO CASAGRANDE PEREIRA


Advogado e Consultor na área do Direito Público e Privado. Doutor e Mestre em Direito Processual Civil pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR). Professor de direito de diversas instituições. Autor de livros, artigos e congressos em diversas áreas
do direito.

luizfernando.pereira@vgplaw.com.br
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

ANDRESSA SAIZAKI
Advogada. Especialista em Gestão, Planejamento e Contabilidade Tributária (TAX) pela Universidade Positivo (UP) e em Direi-
to Público pela Escola da Magistratura Federal do Paraná. Graduada pela Faculdade de Direito de Curitiba.

andressa.saizaki@vgplaw.com.br

ANGÉLICA PETIAN
Advogada. Pós-doutoranda em Direito pela Universidade de São Paulo (USP). Doutora e Mestre em Direito Administrativo
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Especialista em Direito Administrativo pela PUCSP. Graduada pela
Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo.

angelica.petian@vgplaw.com.br

DAYANA DALLABRIDA
Advogada. Pós-graduada em Teoria Geral do Direito pela Academia Brasileira de Direito Constitucional – ABDCONST. Pós-
graduada em Teoria Geral do Direito (Estado Democrático de Direito) pela FEMPAR. Pós-graduada no curso LLM em Direito
Empresarial da Fundação Getúlio Vargas - FGV.

dayana.dallabrida@vgplaw.com.br
62

GUILHERME GUERRA
Advogado e Economista. Mestre em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Graduado em
Direito pela Faculdade de Direito de Curitiba e em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

guilherme.guerra@vgplaw.com.br
GUILHERME NADALIN
Advogado. Mestre em Direito Comercial pela Universidade de São Paulo (USP). Especialista LL.M. em Business and Law, pelo
Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC).

guilherme.nadalin@vgplaw.com.br

VERNALHA GUIMARÃES & PEREIRA ADVOGADOS


PATRICK ROCHA DE CARVALHO
Advogado. MBA em Direito da Economia e da Empresa pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Material e Pro-
cessual do Trabalho pela Unicuritiba. Pós-graduado em Direito Administrativo e em Direito Processual Civil pelo Instituto de
Direito Romeu Felipe Bacellar.

patrick.rocha@vgplaw.com.br

SILVIO GUIDI
Advogado. Doutorando e Mestre em Direito Administrativo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP). Espe-
cialista em Direito Administrativo pela SBDP-SP.

silvio.guidi@vgplaw.com.br

THIAGO LIMA BREUS


63
Advogado. Doutor e Mestre em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Visiting-researcher nas Uni-
versidades de Coimbra (Portugal) e Bolonha (Itália). Graduado pela Universidade Federal do Paraná. Professor Adjunto de
Estado, Direito e Administração Pública da UFPR e da Escola da Magistratura do Estado do Paraná.

thiago.breus@vgplaw.com.br
Advogados
BRUNO HERZMANN CARDOSO
Graduando em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

bruno.cardoso@vgplaw.com.br
LEI DA LIBERDADE ECONÔMICA: OPORTUNIDADES E NOVIDADES

CLÓVIS ALBERTO DE PINHO


Advogado. Mestre em Direito do Estado pela Universidade de São Paulo (USP). Graduado pela Universidade Federal do
Paraná (UFPR). Possui Certificação Profissional para implementação de Programas de Compliance e Anticorrupção (CPC-A)
pelo Instituto Legal, Ethics & Compliance (LEC) e a Fundação Getúlio Vargas (FGV Projetos).

clovis.pinho@vgplaw.com.br

DIANDRA DOMINGUES CESÁRIO


Advogada. Especialista em Direito Público pela Escola de Magistratura Federal do Paraná (ESMAFE). Graduada pela Universi-
dade Federal do Paraná (UFPR).

diandra.cesario@vgplaw.com.br

LARISSA BRAGA CASARES


Advogada. Mestranda e Especialista em Direito Administrativo pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP).
Graduada pela PUCSP.

larissa.casares@vgplaw.com.br

LARISSA QUADROS DO ROSÁRIO


64 Advogada. Graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Possui experiência na área do Direito Civil e
Empresarial, com dois anos de treinamento e desenvolvimento profissional pelo Programa Trainee Acadêmico VGP.

larissa.rosario@vgplaw.com.br

MARCUS PAULO RÖDER


Advogado. Pós-graduado em Direito Civil e Empresarial pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Graduado
pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

marcus.roder@vgplaw.com.br
MURILO TABORDA RIBAS
Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Possui experiência na área do Direito Administrativo, com
dois anos de treinamento e desenvolvimento profissional pelo Programa Trainee Acadêmico VGP.

murilo.ribas@vgplaw.com.br

PEDRO HENRIQUE DE VITA


Advogado. Mestre em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduado pela Universidade Federal
do Paraná (UFPR).
pedro.vita@vgplaw.com.br

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VITOR BEUX MARTINS
Advogado. Graduado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

vitor.martins@vgplaw.com.br

WYVIANNE RECH ZANICOTTI


Advogada. Mestre em Direito do Estado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pós-graduada em Direito Empresarial e
Civil pela Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDCONST).

wyvianne.rech@vgplaw.com.br

Trainees Acadêmicas
ANA CAROLINA MARTINEZ BAZIA
65
Graduanda de Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

ana.bazia@vgplaw.com.br

TAYANE PRISCILA TANELLO


Graduanda em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

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