Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
DO DIREITO CIVIL
Com esta sebenta pretendemos facilitar o vosso trabalho realizando assim uma síntese
daquilo que é o essencial da cadeira de Teoria Geral do Direito Civil.
Gostaríamos, no entanto, de acrescentar que a leitura da presente sebenta não substitui
o estudo pelos manuais recomendados pelos professores.
Deixamos aqui expressos desde já os nossos votos de sucesso académico para o qual
esperamos que esta sebenta possa contribuir.
Bom trabalho!
Aula:26/09/17
1
Teoria da parte geral do direito civil, aquilo que será comum aos vários ramos do
direito civil, onde se pode discutir se verdadeiramente o legislador elegeu como comum
tratar da parte geral ou não se é comum, o critério poderá ou não ser discutível. Iremos
centrar-nos naquelas matérias que o legislador elegeu como sendo aspetos comuns às
vários ramos do direito civil e que os autonomizou numa parte geral do código.
Consecutivamente surge o conceito da sistematização alemã de Savigny que foi adotado
pelo código civil de 1900. Esta sistematização autonomizou a chamada parte geral. O
nosso código civil por influencia do alemão adotou esta parte na sua sistematização.
Percebemos assim que o que está em causa são as relações jurídicas (relações sociais
juridicamente relevantes, que o direito reconhece como importância). Isto leva-nos para a
razão de ser do direito. A necessidade de viver em sociedade justifica a necessidade de
existir direito, devido ao conflito, uma vez que os bens são escassos. Consecutivamente é
necessário resolver-se esses conflitos, em que surge o direito a dirimir esses mesmo
conflitos. Ainda assim podemos distinguir de forma empírica que o direito se manifesta
de duas formas: de uma forma impositiva (algo que é imposto de cima para baixo) ou de
2
uma forma horizontal, enquanto um conjunto de poderes ou faculdades que todos
possuímos no sentido de que “todos temos direitos”.
Em suma, este direito imposto corresponde ao direito público, sendo que esta perspetiva
enquanto direito permissivo corresponde ao direito civil, ao direito privado. O direito
publico é essencialmente composto por comandos, enquanto que o privado é de liberdade
e aquisição.
--> Orlando carvalho dizia “a amizade é um bem escasso, o amor é um bem escasso”.
Como se resolvem esses conflitos? Através da ação direta (numa sociedade menos
desenvolvida) ou do Direito (numa sociedade desenvolvida).
Nas relações jurídico-privadas o espaço que é deixado aos sujeitos nos conflitos de
interesses, são em grande parte dirimidos e composto através do encontro de interesses
entre particulares, os sujeitos é que compõem esses interesses da forma que lhes é
apetecível, embora com algumas balizas impostas pelo direito público, estamos num
campo de auto-concertação de interesses, falamos na auto-criação de regras. (Podemos
falar na criação de direito para as suas relações, mas que tem em vista o respeito pelo
direito publico, pois esse é a sua baliza principal)
— EX: Contrato: é um “regulamento” privado, em que as partes vão criar a sua própria
lei de forma a coincidir os seus interesses divergentes numa relação, embora esta relação
não seja totalmente livre, em que por exemplo a lei proíbe as cláusulas penais excessivas.
3
— da qualidade dos sujeitos – um sujeito é dotado de ius imperium nas relações do
direito público (um sujeito que atua de acordo com esses poderes), mas este poder não
existe nas relações do direito privado (nenhum sujeito tem o poder de império
relativamente ao outro). É o critério adotado. Assim no direito público: temos uma
relação vertical e em que os sujeitos de acordo com a posição dos sujeitos nas relações
jurídicas têm o ius imperium. Já no Direito privado temos uma relação horizontal, em que
cumpre disciplinar as relações jurídicas em que os sujeitos (que também pode ser o
estado, ou outro ente público) se encontram em posição de paridade, igualdade. Assim,
nas relações de direito privado nenhum dos sujeitos possui “ius imperium”, mesmo que
as relações sejam desiguais.
Não devemos ficar com uma divisão estanque, porque por vezes o mesmo facto
jurídico determina a aplicação de regras de direito publico e regras de direito privado. Ex:
imposto sucessório em que alguém morre, os seus bens são transmitidos por “mortis
causa”, em que o estado vai cobrar o imposto sucessório em que é devido uma quantia ao
estado. Nós para sabermos quem é devedor de imposto temos de resolver o direito das
sucessões, em que há regras imperativas e supletivas. Primeiro temos que, com base nas
regras de direito privado vamos ter que saber quem é o herdeiro, resolvida esta questão de
direito privado, vamos passar ao pagamento do imposto que é de direito público. Outro
exemplo: atropelamento, vamos saber primeiro se foram violadas as regras do código da
estrada que pertence ao direito público em que define a conduta das pessoas na estrada,
para seguidamente para efeitos punitivos sabermos o que definir perante o condutor que
cometeu o atropelamento, sendo que assim a solução civilista de responsabilidade
depende do cumprimento das normas publicas do código da estrada. Em suma, o
facto jurídico pode ser o mesmo, mas primeiramente temos de saber definir e
distinguir as relações privadas e públicas, para além de uma questão de
intelectualidade tem um interesse prático, para saber quais são as vias judiciais
concretas e aplicativas, pois os tribunais não são todos os mesmos (administrativos e
judiciais— comarca, relação e de competência especializada), uma vez que se o
litígio em causa é um litígio de direito público serão os tribunais administrativos ou
fiscais (no caso de competências fiscais) a tratar. Se o litígio em causa é um litígio de
direito privado serão os tribunais judiciais competentes (1ª instância – tribunal de
comarca e tribunais de competência especializada; 2ª instância – tribunal da
relação; e depois - supremo tribunal de justiça).
Assim na definição de responsabilidade civil isto é, na obrigação de indemnizar
os prejuízos sofridos, decorrente de uma atividade de órgãos, agentes ou representantes
do Estado está sujeita a um regime diverso, consoante os danos são causados no exercício
de uma atividade de gestão pública ou de uma atividade de gestão privada por parte do
Estado. Caso os danos resultem de uma atividade de gestão publica, os pedidos de
indemnização são apreciados pelos Tribunais Administrativos e existe lei própria (lei
67/2007), mas se estivermos perante uma atividade de gestão privada do Estado já
serão os Tribunais Judiciais e encontramos solução no CC, art.501º (responsabilidade
civil do estado naqueles casos em que o estado provoca danos, mas não está a atuar com
o seu poder de império).
4
Em contexto de conclusão: o direito privado rege-se por uma ideia de maior liberdade, já
que “tudo o que não é proibido é permitido” e em que existe a possibilidade de conferir
poderes para se auto-regular, e em contrapartida no direito público “tudo o que não é
permitido é proibido”.
— no direito privado os sujeitos podem actuar livremente com exceção de regras
imperativas que condicionam a atuação;
— no direito público a competência dos órgãos administrativos é aquela que estiver
ditada pela lei, sendo que só é licito o que for permitido, isto depois acaba por se
repercutir no tipo de normas que cada divisão de direito inclui. No direito publico há mais
regras de caracter imperativo ao contrário do direito privado, havendo mais regras de
carácter supletivo.
Quando contrapomos direito privado e publico, eles não surgem em simultâneo, em que
por exemplo surge primeiramente o direito privado, em que por regras as relações
jurídicas são reguladas pelo direito privado, surge como exceção as relações em que
intervém o estado como autoridade publica e faz uso das suas pregorrativas. Há uma
tendência de o direito privado regular todas as relações sociais. Ex: responsabilidade civil
do estado (art. 1304º CC).
Assim quando as regras de direito publico regulam a propriedade do estado não regulam
em termos exclusivos, apenas em termos especiais, pois o direito privado regula o regime
base.
Dentro do direito provado, o direito civil é direito privado comum, sendo que o direito
civil não se coloca na mesma posição dos outros ramos de direito, porque este é direito
privado comum, o que significa que em tudo o que não estiver especialmente previsto
pelos direitos privados especiais vão se aplicar as regras do direito civil, ou seja, ele surge
como o topo, pois os especiais não esgotam o regulamento das relações que tratam, sendo
que a base está no direito civil.—> Direitos privados especiais:
Direito comercial (primeiro a autonomizar-se porque as relações comerciais exigiam um
tratamento especial, uma maior celeridade) (Código Comercial - são atos
comerciais os previstos na lei comercial e os atos praticados por
comerciantes, a menos que o ato seja de natureza civil ex: um comerciante
casar-se, um comerciante adotar uma criança. Quem e comerciante? Os
comerciantes em nome individual e as sociedades comerciais). Aos atos
comerciais independentemente do sujeito aplicamos a lei comercial; aos atos
praticados por sujeitos comerciais que não sejam de natureza civil aplicamos
a lei comercial. Temos então soluções próprias que diferem das soluções do
direito civil. Antes de aplicarmos o direito civil temos de excluir a
possibilidade da relação ser tratada pelo direito comercial. Na lei comercial
vale a regra da solidariedade entre os devedores – art.6º código comercial; CC
art.513º.
Direito Laboral – dentro do direito do trabalho há uma parte privada e outra publica.
Contrato de trabalho aparece definido no CC – art.1152, mas ver art.1153º
que remete para a legislação especial. No direito do trabalho temos lei própria
(código do trabalho), lei processual própria e tribunais próprios. Tudo e
tratado a parte. No direito comercial apenas temos legislação própria.
5
O direito civil é direito privado e não é o único ramo de direito privado. Existem outros
ramos de direito privado que se autonomizaram historicamente: direito comercial e
direito do trabalho, direito do consumo, direito social, direitos de autor. Não temos
coincidência entre direito privado e direito civil. Ainda assim, o direito civil não se
encontra no mesmo patamar que os outros ramos de direito privado. O direito civil,
dentro do direito privado, assume uma posição especial. É direito privado comum:
significa que quando estes ramos de direito privado se foram autonomizando a
preocupação do legislador foi precisamente prever um conjunto de regras que se entendeu
que deveriam ser distintas daquelas previstas no código civil, preocupação em regular de
forma diferente aquilo que o merecia. Mas o legislador não voltou a repetir nestes
complexos de regras (código do trabalho, comercial, etc.) aquilo que esta previsto no
código civil e é comum a estes ramos de direito privado. O interesse do direito civil
extravasa o âmbito do próprio direito civil porque é aplicável a todas as relações de
direito privado, desde que não reguladas por legislação especial.
Num patamar diferente encontra-se o direito internacional privado: é direito privado,
mas também não se encontra no mesmo plano que o direito civil ou os direitos privados
especiais. Não regula em concreto as soluções, dá-nos as regras de conflito que nos dizem
qual é o direito que naquele caso deverá ser aplicado. Só depois da reposta do DIP é que
iremos aplicar a ordem jurídica e saberemos a solução final. A partir do artigo 25º até ao
65º do código civil encontram-se normas de DIP.
O direito civil encerra a disciplina das relações de convivência em sociedade dos sujeitos,
regula os conflitos que se geram na vida social, na interação com os outros sujeitos,
assenta em grande medida na autonomia da pessoa e na igualdade dos sujeitos, é um
instrumento privilegiado no desenvolvimento da personalidade.
Aula: 02/10/17
O direito civil é direito privado, mas não é o único ramo de direito privado. Existem
outros ramos de direito privado que se autonomizaram do direito civil concretamente o
direito comercial e o direito de trabalho. Um exemplo de outro ramo é o direito do
consumo, em que existe uma série de legislação avulsa dotada às relações entre partes e o
consumidor, por isso se entende merecer uma analise distinta do código civil. (ex.
Contratos de compra e venda, concessão de crédito); direitos de autor e o direito bancário
que se autonomizou do direito comercial.
O que importa focar é que hoje não temos coincidência entre o que é direito privado e o
direito civil. Mas ainda assim, embora o direito civil seja direito privado já que se
encontra no seio de direito em sentido subjectivo, pois o direito civil disciplina as
relações de convivência em sociedade e atividade e conflitos dos sujeitos que se geram na
vida social e na interação. Assim, assenta na autonomia e na igualdade do sujeitos, o
direito civil não se encontra no mesmo patamar que os outros ramos de direito privado,
sendo que o direito civil dentro do direito privado assume uma posição especial, é
direito privado “pulo”. Isto significa que quando estes ramos se foram autonomizando a
preocupação do legislador foi precisamente prever um conjunto de regras que se entendeu
6
que deviam de ser distintas daquelas previstas no CC. Mas o legislador não voltou a
repetir nestes complexos de regras e nas diversas legislações aquilo que está previsto no
CC e que é comum a esses ramos de direito privado, o que apenas se regulou foram
aqueles aspetos que se devia dar tratamento distinto. O interesse do direito civil extravasa
o próprio direito civil, uma vez que é aplicado a todo o direito privado, a menos que
exista regra especial prevista para essas relações.
O direito civil é a base de regulamentação de todas as relações do direito privado,
mesmo aquelas que são ramos de direito privado autónomo. Assim, tudo o que não
estiver previsto pelos direito privados especiais vão-se aplicar as regras de direito civil
geral.
Noutro patamar enquanto direito privado autónomo é o direito internacional privado, mas
também não se encontra no mesmo plano que o direito civil e os outros direitos privados
especial. A razão deve-se ao facto de: os elementos das relações terem origens jurídicas
distintas. (ex. Casamento entre pessoas de países diferentes e pretendem divorciar-se)—
ou seja, antes de termos a solução final para um problema em concreto nós temos um
problema prévio é de saber que direito é que se aplica. Isto leva a que esta solução seja
nos dada pelo direito internacional privado, mas não regula nem dá as soluções
concretas para o problema, ele dá nos é as regras de conflito que nos dizem que qual
é o direito que se deve aplicar naquele caso. Assim só depois da resposta por parte do
direito internacional privado é que vamos saber a resposta para o problema. O direito
internacional privado surge nos primeiros capítulos , precisamente a partir do artigo 25º
até ao 65º.
Fontes do direito civil: não no sentido filosófico (como surge), mas interessa sim
onde é que está o direito, ou seja onde vamos buscar as regras de aplicação.
— Lei
— Normas corporativas, embora não exista uma leitura uniforme, pois hoje em dia
fazemos uma leitura destas normas de acordo com o quadro constitucional que temos.
— CRP: os princípios constitucionais que nos interessam são as normas relativas a DLG
(artigos 24º e seguintes); artigo 36º relativo à família, casamento e filiação; direito à livre
iniciativa económica (artigo 61º); garantia de propriedade (art. 62º) ; e o principio da
igualdade que é o principio base onde vamos buscar a essência do direito civl no artigo
13º;
— CC: adotado em 1966, seguindo a raiz germânica e a sistematização pandectista de
Savigny, sendo que apresenta a divisão externa em cinco livros, quatro divisões da parte
geral que contem a teoria do normativo, as regras de direito privado e a teoria geral do
DC. No artigo 1.º do CC vemos que nos é dito que são fontes de Direito a Lei e as
normas corporativas. No que diz respeito às normas corporativas (NC) não há uma leitura
uniforme, pois hoje em dia fazemos uma leitura destas normas de acordo com o quadro
constitucional que temos.
Entendemos por NC, as normas de auto-regulação das corporações, por exemplo, as
7
normas que a Ordem dos Advogados produz para auto-regulação dos advogados. Para
que haja força vinculativa dessas disposições é necessária intervenção da chancela dos
órgãos legislativos, ou seja, têm de ser aprovadas mais tarde por DL ou L. Mas existem
outros mecanismos de auto-regulação profissionais, ou seja, disposições que se destinam
a assegurar boas práticas dentro das corporações e que produzem efeitos de D. As NC
têm um papel despiciendo neste domínio, o que nos cinge à Lei. Existem algumas
manifestações dos usos no art. 3.º, não contrários à boa-fé, mas estes também não são por
si vinculantes, tendo de ter intermediação da lei, pois carecem de força legal.
O CC tem ainda em conta a equidade, decisão “ex aequo et bono”, mas de acordo com o
artigo 4º.
O costume e a jurisprudência não são reconhecidos enquanto fonte de direito.
A lei é a fonte mais importante.
Como é que a Teoria Geral recebe estas fontes?
No topo da hierarquia das normas, temos a constituição: o código civil não pode
contrariar a constituição e é hierarquicamente superior. Logo, o primeiro diploma
a considerar é a CRP. É longa, complexa e muito abrangente, portanto a parte que
mais diz respeito à TGDC é a parte relativa aos princípios da conformação do
Direito Civil (DC), a começar pelos Direitos, Liberdades e Garantias (DLG),
nomeadamente, a parte dos Direitos das pessoas. Temos como exemplos do art.
13.º, que formula o princípio da igualdade, cada vez mais trabalhado e elaborado
em todo o D Privado e também o art. 36.º na medida em que estabelece os
princípios fundamentais da Família, Casamento e filiação, bem como o artigo
respeitante à propriedade.
A lei ordinária, que tem como assento fundamental o CC;
Uma série de diplomas avulsos, que têm completado, desenvolvido ou inovado o
conteúdo de D do CC.
O código civil de 1966 continha uma série de regras que estavam em conflito direto com
a constituição de 1976. Quando esta surgiu provocou uma revolução no direito civil e o
código foi alterado em 1977. Princípios constitucionais: normas de direitos fundamentais
nos artigos 24º e seguintes. Artigo 36º da CRP: levo a alterações profundas no CC porque
o homem era considerado superior à mulher, os filhos de “fora” não eram considerados
iguais. Princípio da igualdade é o princípio basilar do direito civil.
O código civil não é a primeira compilação de direito civil, tivemos as ordenações no
século XV. O nosso código não é o primeiro código nem a primeira codificação: tivemos
o código de Seabra (1º Código Civil português, de 1867, elaborado pelo 1º Visconde de
Seabra) marcadamente influenciado pelo liberalismo, tinha uma sistematização diferente
– 4 partes, a capacidade civil, aquisição de direitos, o direito de propriedade e ofensa aos
direitos e sua proteção, organização original que não foi continuada pelo código de 1966.
É aprovado em 1977 e entra em vigor em 1978, acabou por sofrer alterações que não
foram inseridas no código, surgiu legislação avulsa.
8
Teoria Geral do direito civil
Aula: 03/09
Na aula anterior falamos das fontes do directo civil, hoje vamos falar do processo e plano
de sistematização do nosso CC, do ponto de vista externo e do ponto de vista interno.
9
Tal com vimos o nosso CC assenta na sistematização nas relações jurídicas de direito
privado (obrigações, direitos reais, direitos da família e direitos sucessórios), que é feita
preceder de uma parte geral. Nesta parte geral atende-se, ainda além das normas sobre as
leis, sua aplicação e interpretação e aplicação à disciplina das relações jurídicas em geral,
mediante uma disciplina separada de cada um dos elementos da relação jurídica (sujeito,
objeto, facto jurídico e garantia)
1- Parte Geral: conjunto de normas do artigo 66º a 397º, contendo dois títulos: das
leis, sua interpretação e aplicação (art.1º a 66º) e das relações jurídicas (66º a 397º)
2- Direito das Obrigações: conjunto de regras das obrigações, dividindo-se em duas
partes: das obrigações em geral (iniciando se no artigo 397º a 873º), e a parte dos
contratos em especial iniciando-se no artigo 874º (sendo o primeiro contrato especial) até
ao artigo 1250º.
3- Direito das Coisas/reais: subdivide-se em seis títulos: na posse (1251º a 1302º), na
propriedade (1302º a 1438º ), no usufruto, uso e habitação (1439º), no uso (1484º nº1), na
habitação(1484º nº2) e enfiteuse (1491º a 1523º), no direito de superfície (1524º a 1542º)
e servidores prediais (1543º a 1575º).
4- Direito da Família: ela também tem uma parte geral (do artigo 1576º a 1586º) e
depois as partes especiais que são e estão divididas em quatro: casamento (1587º a 1759º
D), filiação (1796º a 1972º), adoção (1973º a 2002º) e alimentos (2003º a 2023º), ou seja
tudo o que é necessário à sobrevivência do sujeito do ponto de vista material e imaterial,
sendo isto um conceito dinâmico porque depende da sociedade em que o indivíduo se
insere.
5- Direito das Sucessões: inicia-se com uma parte geral (2024º a 2130º) e depois divide-
se em três títulos que começa pelas sucessões legítimas (2131º a 2154º) , legitimária
(2155º a 2177º) e testamentária (2178º a 2334º)
Livro II: Direito das Obrigações— a sua noção está no artigo 397º, que define que as
obrigações são um vinculo pelo qual uma pessoa foca adstrita para com a outra à
realização de uma prestação. Os sujeitos desta relação são o credor (sujeito ativo que
pode exigir a prestação) e o devedor (o que tem o dever de prestar- o sujeito passivo). O
exemplo disto é o caso do dever do comprador pagar o preço, do dever de pagar o aluguer
ou a renda e por parte do locatário, de entregar a coisa vendida por parte do vendedor,
etc… É de salientar que numa relação de compra e venda, que nesta relação termos dois
credores e dois devedores, assumem assim ao mesmo tempo a posição passiva e ativa na
relação jurídica.
Livro III: Direito das Coisas/Reais— há relações em que um sujeito tem um poder
genérico e imediato sobre uma coisa, isso significa que nestas relações jurídicas o
sujeito ativo será aquele que tem o poder sobre a coisa, e os sujeitos passivos são os
demais sujeitos, ou seja, todos aqueles que estão obrigados a não reprovar o uso da
coisa pelo titular do direito/sujeito ativo. Dentro dos direitos reais podemos fazer 3
distinções:
10
— direitos de gozo: incidem sobre uma coisa alheia, sendo que estes direitos conferem
ao titular o uso e a fruição de uma coisa. São os direitos de propriedade (1302º a 1438º),
de usufruto (1439º a 1483º), de superfície (1524º a 1542º) e de servidão (1543º a 1575º)
— direitos de garantia: direitos que se destinam a garantir uma obrigação, mas não se
encontram propriamente no livro das coisas, ou seja são considerados direitos
instrumentais que visam garantir uma relação de crédito, tais como a consignação de
rendimentos (656º a 665º); o penhor (666º a 685º); a hipoteca (686º a 732º) , os
privilégios creditórios (733º a 753) e o direito de retenção (754º a 761º).
— direitos de aquisição: direitos que asseguram preferencialmente ao titular o ingresso
na titularidade de um direitos real de gozo— são os direitos de preferência no artigo 421º
e 1410º e o contrato promessa de eficácia real.
Assim:
— linha reta: um dos parentes descende do outro (1580º nº1)
— linha colateral: nenhum dos parentes descende do outro, ambos procedem de um
progenitor comum (ex: irmãos, primos,…)
— na linha reta há tantos graus quantas as pessoas que formam a linha de parentesco,
excluindo o progenitor (art. 1581º nº1)
— na linha colateral os graus contam-se pela mesma forma, subindo por um dos ramos
11
ou descendo pelo outro, mas sem contar o progenitor comum (art. 1581º nº2).
Livro V: Direito das sucessões— regula as relações jurídicas que operam por
transmissão dos bens de mortis causa. (definição = art. 2024º). A sucessão pode ser
feita:
— pode ser afastada da vontade do seu autor, de acordo com o artigo 2027º
tratando-se da sucessão legítima. Na sucessão legítima, o sujeito é o “de cujos” e
sucessível é o que se pode suceder, o que já sucedeu é o sucessor. As classes de
sucessíveis está prevista no artigo 2133º.
— é imposto de forma forcada, sendo imperativa de forma fiscal, porque reserva
parte do património da sucessão a certos sucessores, que estão previstos anteriormente e
legalmente pelo sucessor (não podem ser afastados dessa herança), concretamente de
acordo com o artigo 2157º em que faz parte da sucessão legal, uma vez que a legítima
surge da legitimária, já que de acordo com o artigo 2156º, a legítima corresponde à
porção de bens de que o testador não pode dispor por ser legalmente destinada aos
herdeiros legitimários. Assim a parte do património do sujeito “de cujos” está
reservada por lei aos sucessíveis (cônjuge, ascendentes e descendentes) segundo o
artigo 2157º.
— por vontade/ voluntariamente pelo sujeito sucessor: a sucessão testamentária
(artigo 2179º - o testamento é um negocio jurídico unilateral e revogável pelo qual uma
pessoa dispõe para depois da morte, de todos os seus bens ou parte deles)
12
testamenteira, de acordo com o artigo 2028º nº2.
Síntese: A sucessão legal pode ser legítima ou legitimária e a voluntária pode ser
contratual ou testamental.
Sucessão legitimária: aquela é que é forçada, imperativa, que a lei impõe, porque
reserva parte do património a certas pessoas – quota indisponível, concretamente de
acordo com o ART. 2157. Quando alguém morre e deixa o cônjuge, os filhos que deixa
são obrigatoriamente seus herdeiros e o cônjuge não os pode afastar; há uma parte do
património que não pode ser tocada, chamada de parte legítima - ART. 2158 – alguém
morre, tem um cônjuge, não tem ascendentes nem descendentes, então a parte legítima é
metade; se deixar cônjuges e filhos, a legitima é 2/3 da herança; se só houver
descendentes, a legítima é metade ou 2/3, consoante exista 1 só filho ou dois ou mais)
Sucessão legítima: pode ser afastada por vontade do autor (caso faça um
testamento) – ART 2131º e seguintes. Se nada se fizer relativamente a toda a herança, a
lei estabelece um conjunto de regras que se aplicam à quota disponível (o restante) e que
se chama sucessão legítima, as tais regras supletivas (se não houver nada dito em sentido
contrário, se não houver um testamento) – ART. 2131 (herdeiros legítimos: cônjuges,
parentes e o Estado), ART. 2133 (ordem pela qual são chamados os herdeiros, sempre
que nada seja disposto em sentido contrário). Os 2/3 são dados aos forçados e o 1/3 aos
herdeiros legítimos. Se alguém morre e deixa mulher e dois filhos, primeiro temos a
questão da sucessão legitimária, que nos diz que o cônjuge e os filhos têm direito a 2/3 da
herança; e sobram 1/3, que era disponível, mas ele não dispôs (isto é, não fez testamento),
valendo as regras supletivas, que é a sucessão legítima, que diz que na primeira classe de
herdeiros legítimos está o cônjuge e os descendentes (assim recebem tudo, mas recebem a
títulos diferentes), sendo que a segunda classe são o conjugue e os ascendentes, depois
irmãos e seus descendentes. Depois outros colaterais até ao 4º grau, e, por fim o 1/3 vai
para o Estado (caso se esgotem as possibilidades anteriores).
A outra possibilidade é a sucessão voluntária, manifestação voluntária “post mortem” –
temos duas hipóteses: a sucessão testamentária (por testamento) e a sucessão contratual
(por contrato – art.2028º). Tanto o testamento como o contrato são negócios, sendo que
no testamento temos apenas aquela forma de contrato (quando eu morrer eu quero que os
meus bens sejam assim distribuídos), ao contrário do contrato em que há duas
declarações (a declaração que dá e a declaração que aceita). Esta distinção é muito
importante, porque a sucessão contratual, que resulta de um contrato com efeitos mortis
causa, é em regra proibida – os contratos só podem ser feitos em vida, o legislador
duvida de contratos com essa causa. Quando é que ele é admitido? A lei admite os factos
sucessórios nas convenções inter-nupciais – antes do casamento, com vista ao casamento.
Pode-se formar um contrato com efeitos sucessórios e o Estado pode assumir como um
testamento. A vontade do autor da sucessão é manifestada através do testamento, portanto
- remissão para o ART. 946º nº2 = Leva a que estes pactos sejam automaticamente
(sempre que possível) transformados em declarações testamentárias – se a forma de
testamento estiver lá, transforma se automaticamente num testamento.
Conclusão: pela apresentação e rigor de sistematização diríamos que o CC é perfeito, pela
sua longevidade, pelo facto de não ter tido qualquer remodelação particularmente crítica
e de continuar com capacidade de prover às necessidade públicas. Esta estrutura não é
13
consensual do ponto de vista da sistematização jurídica. —> contudo, quais são as
debilidades?
14
termos de aplicação permite soluções muito mais certeiras e sem margens para
grandes duvidas – introdução a uma linguagem cifrada é o que se faz em TGDC.
Aula: 09/10/17
15
Nas relações jurídico-privadas a proteção dos direitos constitucionais é feita
através de instrumentos próprios do direito privado, concretamente: a invalidade
dos negócios em causa e a responsabilidade civil (possibilidade de ser ressarcido
o dano). Estes institutos permitem assegurar a efetividade dos direitos
constitucionais.
A nulidade decorre da contrariedade a uma norma do CC, sendo que não é na
CRP que encontramos as soluções para estes contratos - não há qualquer alusão
à nulidade ou a responsabilidade civil. É o CC que nos dá as consequências para
estas violações. No caso da nulidade – ART. 280 CC – cláusula geral em matéria
de requisitos do objeto dos negócios – é nulo o negocio contrário à ordem
publica – esta cláusula é integrada pelos princípios constitucionais. Quando no
CC no ART. 280º apelamos à ordem pública e dizemos que a ordem pública é
um limite àquilo que pode ser objeto de um contrato, através desta cláusula
rececionamos os princípios constitucionais relativos a DLG. Assim, por
exemplo, é nulo um contrato ou uma cláusula contratual pela qual alguém se
obrigue a professar ou a abandonar certa religião. Esta estipulação contraria o
preceito constitucional sobre liberdade religiosa, cuja doutrina não pode deixar
de entrar no preenchimento do conteúdo da cláusula geral da “ordem pública” –
ART 280º, nº2, desencadeando assim uma consequência jurídica.
Em termos de responsabilidade civil teríamos a sua consequência através de
outra clausula geral – ART. 70º CC- tutela geral da personalidade.
Princípio da igualdade – ART 13º CRP – este principio levou a alterações ao CC em 77
nomeadamente em direito da família, ex: não discriminação dos filhos nascidos
fora do casamento.
De que forma e o que o principio da igualdade se articula com o principio
da liberdade contratual? Diz-nos que temos liberdade de contratar quem
quisermos, mas a decisão de contratar ou não, não pode ser discriminatória.
No entanto, os preceitos constitucionais na sua aplicação às relações jurídicas de
direito privado não podem aspirar as uma consideração rígida, devendo, pelo
contrário, conciliar o seu alcance com o de certos princípios fundamentais do
direito privado – eles próprios conformes à CRP.
Ex: Ninguém pode invocar o princípio da igualdade para impugnar um
testamento e, que o testador beneficie um ou alguns filhos relativamente a
outros.
Ex: Ninguém pode invocar o princípio da igualdade quando num contrate se
estabelece a existência de deveres de segredo e fidelidade, limitadores da
expressão de pensamento.
O principio da igualdade vincula o próprio legislador e também os próprios particulares.
Proibição da discriminação como limite à liberdade contratual. Se contrariarmos este
principio teremos como consequência jurídica a invalidade dos negócios e a
responsabilidade civil.
16
Quando não se cumprem estas regras temos legislação especifica, lei 93/2017 23 agosto
“regime jurídico de prevenção, proibição e de combate a discriminação” - ART. 14º. O
ónus da prova recai sobre quem impede alguém de aceder a certos locais pub ou bens, ou
seja, até se presume a descriminação – inversão do ónus da prova (A tem que provar que
não descriminou).
Questão que esta a ser debatida na UE: geoblocking – impedir alguém de celebrar
contratos nomeadamente na internet em função do país em que está situado. A UE está a
trabalhar sobre isto para impedir o bloqueio de acesso a determinadas pessoas em função
do seu território de origem.
*Lei nº14/2008, de 12 de março
Aula: 10/09/17
O nosso código diz no artigo 66º nº1 “a personalidade jurídica adquire-se no momento do
nascimento completo e com vida”— para o direito o conceito de personalidade jurídica
surge desde o momento do nascimento concretamente quando ha separação do corpo do
filho do copo da mãe. A lei reconhece direitos ao nascituro que já esta concebido mas
17
ainda não nasceu.
Ser sujeito para o direito = sujeito de direitos, ou seja todo o sujeito para o direito é
sujeito de direitos o que quer dizer que não existem esferas jurídicas vazias, a partir
do momento em que alguém nasce, nesse esta momento é automaticamente sujeito
de um conjunto de direitos que são inatos (não são adquiridos) e que constituem
espessura mínima da esfera jurídica.—> direitos de personalidade (são direitos que
são inatos, absolutos que se impõe aos demais sujeitos e que integram a esfera jurídica do
indivíduo desde o seu nascimento. Estes direitos parecem estipulados desde o artigo 70º e
seguintes— ex. vida, integridade física, honra, liberdade, o nome, a imagem, a reserva da
vida privada , entre outros aspetos. São direitos que merecem tutela do direito em que
alguns casos de violação mais grave desencadeia uma reação da ordem penal.
Independentemente dessas reacções penais qualquer violação dos direitos de
personalidade desencadeia uma reacção civil . A violação de direito de personalidade será
sempre ilícita dando lugar desde logo a responsabilidade civil traduzindo se na
compensação de danos sofridos (não se fala em indemnização, porque estamos a falar de
bens jurídica que não têm caracter patrimonial). Para além desta responsabilidade que se
refere o artigo 70º nº2 do cc, há lugar das providencias adequadas às evidencias do caso:
medidas preventivas, de evitar a consumação da ameaça ou atenuação das ofensas. Estas
providencias assumem até por vezes um caracter mais amplo que a compensação.
18
domínio do direito civil, surge apenas na área de modelação da vida social, pois há uma
zona em que não encontramos autonomia privada que é na zona de tutela de direitos
constituídos.— ex. Faço um contado de compra e venda (ao abrigo da minha autonomia
privada — plano da modelação da vida social) o vendedor dá me bens e eu depois não
quero pagar, isto não é possível porque existe a tutela dos direito adquiridos.
Unilateral – composto apenas por uma declaração de vontade, ou até pode ser por mais
que uma, mas todas no mm sentido. Ex: testamento, ato de instituição de
uma fundação, revogação de um mandato, repudio de uma herança.
Bilateral – composto por pelo menos duas declarações de vontade em sentido oposto,
mas convergente (no resultado que é pretendido por ambas as partes – ex:
contrato e compra e venda - uma diz “eu vendo” e a outra diz “eu
compro”). Chamamos Contrato (é uma modalidade de negocio jurídico).
Podemos ainda distinguir: segundo as obrigações assumidas pelas partes
Bilaterais – obrigações para ambas as partes. Ex: compra e venda – um tem que pagar o
preço o outro tem que dar as coisas.
Unilaterais – obrigações apenas para uma das partes. Ex: doação- o donatário não tem
obrigações, mas o doador não tem.
A autonomia privada é um principio que está subjacente a todo o direito civl no entanto
não há dúvidas que esta autonomia tem muito mais expressão no âmbito dos contratos do
que no âmbito dos negócios jurídicos.
—>No âmbito dos negócios jurídicos, a liberdade é muito mais restrita, já que prevalece
o principio da tipicidade que esta presente no artigo 457º. Os negócios jurídicos
unilaterais constitutivos de obrigações são apenas os que estão previstos na lei, não há
margem para imaginação dos intervenientes no sentido de criar. Nesses casos, porém, em
que a lei atribui eficácia vinculativa a um negócio unilateral, a parte respetiva tem o
poder de fixar livremente o conteúdo da promessa e, nessa medida, reaparece a
autonomia da vontade.
—>No âmbito dos contratos a lei diz que as partes podem celebrar contratos previstos na
lei ou não - contratos novos, existindo, assim, uma grande margem. No momento da
celebração do contrato há margem de liberdade, artigo 405º CC. No entanto, o contrato só
pode ser modificado havendo mútuo consentimento valendo o principio da pontualidade
do pacta sunt servanda, artigo 406º CC.
Artigo 405º CC: refere-se expressamente à liberdade de modelação do conteúdo do
contrato. O legislador não se refere expressamente à liberdade de celebrar contratos, mas
isto está pressuposto no artigo. Dentro do princípio da liberdade contratual distinguimos
19
estas duas dimensões:
Aula: 16/10/17
20
um imóvel próprio. As pessoas quando se casam, escolhem ou não um regime de bens.
Consecutivamente, a lei prevê um regime supletivo sempre que não há escolha de regime
de bens, aplica-se o regime supletivo que é o de comunhão de bens adquiridos, em que os
outros são os de comunhão geral de bens ou de separação de bens.
Assim, no regime de comunhão geral de bens, tudo é dos dois de grosso modo; na
comunhão de bens adquiridos é um “mix”, em que tudo o que é novo depois do
casamento é dos dois, sendo uma comunhão de bens adquiridos depois do casamento; e
no regime de separação todo o património é separado. Assim os negócios sobre imóveis
ou de interesse geral tem de ser autorizados por ambos.
O outro aspeto é o do nº2 do artigo 1682º A, em que independentemente do regime
de bens os negócios sobre imóveis ou estabelecimento comercial é sempre necessário o
consentimento de ambos os cônjuges. Mesmo o arrendamento precisa do consentimento
de ambos, é uma proteção especial relativamente à casa de morada de família sendo que
este consentimento vai diferindo consoante o regime de bens e o facto de os bens
serem móveis ou imóveis e conforme e a sua utilização.
21
regime da hospedagem não está previsto na lei, por isso, é nominado mas
não é típico.
Um outro conceito é o conceito da tipicidade social – negócios que são
socialmente típicos, cujo regime é pacífico e aceite por todos, mas que não
está previsto na lei – não é legalmente típico.
Quando se refere contratos previstos na lei, não se cinge apenas a contratos
previstos no CC, porque há outras leis especiais que surgiram depois do
CC, mas que são legalmente típicos – o contrato de agência, por exemplo.
Celebrar contratos típicos aos quais acrescentam as cláusulas que lhes aprouver.
No contrato típico, pode juntar-se uma cláusula diferente – por exemplo,
uma condição, uma situação futura e incerta que subordina o contrato. Um
pai doa a um filho um automóvel na condição de ele passar a TGDC –
temos um contrato típico no qual se insere uma cláusula que faz subordinar
os efeitos do contrato a uma situação futura e incerta (a passagem a
TGDC). Por acaso, esta cláusula é também uma cláusula típica, também
está prevista na lei, mas também existem cláusulas atípicas.
Concluir contratos diferentes dos contratos expressamente disciplinados na lei.
Para além dos contratos existentes, pode-se inventar contratos atípicos, uma
vez que não existe o princípio da taxatividade – a lei tipifica o que acha
necessário, mas deixa margem aos sujeitos para inventarem contratos que
satisfazem os seus interesses.
Dentro dos contratos atípicos, surgem os contratos atípicos em sentido
estrito e os contratos mistos – junta elementos dos contratos típicos, mas
essa mistura não está prevista na lei. Muitas vezes, essa junção leva ao
surgimento de contratos típicos (ex: leasing = compra e venda + locação).
Restrições/limitações à liberdade de modelação do conteúdo do contrato
Relativamente ao objeto do contrato: ART. 280 do CC – o objeto do negócio não pode
ser contrário à lei, à ordem pública e aos bons costumes.
No ART. 282 – os negócios usurários – consagram um limite.
No ART. 762 e 437 – o princípio da boa fé como limitação.
Há alguns contratos normativos que se impõem mesmo contra a vontade dos sujeitos, que
dizem respeito a determinadas categorias económicas ou profissionais,
contendo normas a que os contratos individuais, celebrados entre pessoas
pertencentes às referidas categorias, têm de obedecer; como é o caso das
chamadas convenções coletivas de trabalho – ART 531º CC.
Algumas normas de caráter imperativo que podem ser importantes:
ART. 1146º – a lei impõe um limite aos juros cobrados num contrato;
22
ART. 1025º – determinação do tempo limite de locação (o arrendamento é
uma locação, mas este prazo tem haver com o prazo inicial do tratado; um
contrato de locação pode ser celebrado durante 5 anos e depois ser
renovado por mais 15 anos, por exemplo; o prazo de celebração é que não
pode ser superior ao disposto na lei, depois renova-se);
ART. 800º Nº2 – cláusulas de limitação da responsabilidade.
ART. 942
– doação não pode abranger coisas futuras, uma coisa que ainda não é sua
ou que ainda não existe.
Aula:17/10/17
23
O que iremos ver é quais são as regras deste decreto e em que medida em que ele tenta
introduzir o equilíbrio nos contratos. MAS porque não proibir estes contratos? Isto é
irrealista, porque a celeridade, que se impõe a celebração de contratos, sobretudo, quando
estão em causa milhares de pessoas. Alem disso, quando temos contratos todos iguais a
gestão destes contratos é muito mais fácil, o que leva a uma diminuição de ustos, o que
em ultima instancia favorece o aderente (ex: se uma entidade fornecedora de
comunicações celebrasse contratos diferentes com cada pessoa, em termos de gestão
destes contratos, isso iria acarretar custos altíssimos, que, ao fim ao cabo, seriam pagos
pelo aderente, devido à personalização do contrato).
Contratos individualizados de adesão – pensados para uma única pessoa, mas que essa
pessoa não tenha a possibilidade de modificar. No artigo 1º nº2 prevê-se os contratos
individualizados com importação das clausulas contratuais gerais, sendo que estas
proporcionam abusos.
Por isto, o regime das clausulas contratuais gerais estabelece um sistema de controlo e
mecanismo de protecção do destinatário, através de normas materiais, em que se controla
o que pode ou não ser incluído num contrato de adesão e a extensão da sua
admissibilidade (de inclusão e de conteúdo) e o sistema de protecção derivado de
procedimentos- normas processuais através de um controlo incidental e um controlo
abstrato.
24
gerais tem o ónus de as comunicar, já que não é o contraente que tem de provar a
existência e inclusão da clausula adequada, mas o predisponente, sendo o encargo
probatório sobre este muito grave, pois se houver dúvidas quanto à natureza da
cláusula esse ónus recai sobre o predisponente. Estas cláusulas para além de serem
comunicadas devem ser explicadas, em que só as clausulas comunicadas integram o
contrato.
- Dever de informação (art. 6º e 8º alínea b)— para além de comunicadas, as cláusulas
devem ser explicadas, dever de informação. São excluídas as cláusulas relativamente
às quais não seja cumprido o dever de informação, sendo proibidas as cláusulas
surpresas ou disfarçadas.
- Proibição de clausulas surpresas (art. 8 alínea c) e alínea d)
- Redução automática do contrato (art. 9º)— o artigo 8º prevê os casos em que são
excluídas cláusulas dos contratos singulares, sendo que os contratos singulares, de
acordo com o artigo 9º mantém-se em vigor, sendo que na parte afectada vigoram as
normas supletivas aplicáveis, sendo que na falta destas ultimas recorre-se às regras de
integração dos negócios jurídicos.
2. Controlo da Interpretação:
- Regra Geral: relativamente ao controlo da interpretação de forma a resolver as lacunas
na lei, exerce-se a remissão para as regras previstas no artigo 10º.
- Cláusulas ambíguas: são objeto do artigo 11º, sendo que na dúvida prevalece o sentido
mais favorável ao aderente , segundo o nº2 do artigo 11º— em caso de duvida
prevalece o sentido mais favorável ao aderente, isto é uma preocupação de proteção de
uma das partes, que se estende mesmo à interpretação das clausulas. Este diploma faz
parte daquilo que é a intervenção legislativa de parte, em que se legisla a favor de uma
das partes. (exceção: ações inibitórias).
3. Controlo do conteúdo:
O legislador preocupa-se com o que é dito no contrato. Quando vamos analisar o
conteúdo dos contratos, o nosso critério é: principio da boa fé (em sentido objetivo –
enquanto principio geral, regra de conduta)- ART 15º e teremos que proibir tudo o que e
contrario. Mas não se basta com este principio geral, o legislador vem autonomizar
alguma clausulas consideradas contrarias a boa fé – fez-se essa recolha e estabeleceu-se
um catálogo de proibições: em função das partes no contrato e em função da gravidade da
proibição: ARTS 17º - 22º.
A nossa lei de cláusulas contratuais gerais não é uma lei exclusivamente de
proteção do consumidor. Contrariamente ao que acontece com uma diretiva comunitária.
Legislador faz uma lista em função de quem é o aderente.
25
atende àquele contrato especifico) - ART 19º.
- Controlo abstrato:
A) Ação inibitória (art. 25º)- tem por objeto impedir que no contrato sejam incluídas as
cláusulas contratuais gerais que contrariem as disposições da lei, previstas nos artigos
15º, 16º,18º,19º,21º e 22º.
B) Legitimidade (art. 26º + art. 27º + art.13º da lei nº24/96)— entidades que possuem
legitimidade para intentar uma ação inibitória de forma a condenar o desrespeito por
uma clausula contratual geral.
C) Condenação (art. 28º)- A ação inibitória é , assim, aplicada por decisão judicial do
tribunal da comarca onde se localiza o centro da atividade principal do demandado ou
da sua residência ou sede, segundo o artigo
D) Sanção pecuniária (art. 33º + art. 829º A)- é aplicada uma sanção pecuniária
compulsória de forma a garantir que o demandado vencido por ação inibitória, não
aplique cláusulas contratuais gerias que foram proibidas ou que este foi obrigado a
abster-se.
E) Nulidade da cláusula contratual geral proibida (art. 12º)- na sequência da ação
inibitória da cláusula contratual geral e sua mesma proibição, é determinada a
nulidade dessa mesma cláusula, tal como o previsto pelo artigo 12º.
26
TGDC
Aula: 23/10/17
Iremos falar agora, para além do que vimos sobre o princípio de reconhecimento da
pessoa humana e dos seus direitos de personalidade e do princípio dos limites que a
liberdade contratual pode ser alvo, iremos falar do terceiro princípio que é o princípio da
responsabilidade civil.
Existem duas formas de reintegração social e de levar a que a situação social volte
parcialmente à normalidade:
— Princípio da reconstituição natural: embora a lei privilegie a reconstituição
natural, isto pode não ser possível ou porque a reconstituição natural não é suficiente ou
porque é excessivamente morosa. Assim surge a solução da indemnização em dinheiro.
— Indemnização: art.566ºnº1
27
1. Facto: tem que haver um facto voluntário (ligação do facto à vontade do agente);
O que é o dano? Consiste numa perda, sofrida pelo lesado e, consequência de um facto
danoso, da destruição ou subtracção de um determinado bem, material ou não.
Os danos podem ser:
— Dano patrimoniais: reflexo que o dano patrimonial tem no património do
lesado, sendo que estas duas noções estão interligadas, mas são distintas.
- danos emergentes: prejuízo causado no bem ou direito já existente na
titularidade do lesado ou ofendido;
- lucros cessantes: benefícios que um lesado deixou de obter por causa de
facto lesivo, mas esses benefícios ainda não estavam na esfera jurídica, mas porque
intercede a conduta lesiva, deixou de os obter, ou seja sai benefícios que o lesado ainda
não possuía até à data da lesão.
— Danos não patrimoniais: são danos que não são susceptíveis de avaliação em
dinheiro, sendo danos morais (ex.vida, liberdade, reputação…), são bens que não
integram o património do lesado, sendo difíceis de quantificar a lesão dos sofridos.—
art.496º fala-se em compensação e não em indemnização.
Tal como vimos para existir responsabilidade civil, terá de haver dano, em que o lesado
pode ser ele próprio a suportar os danos ou poderá ser um terceiro. Para haver dano terá
existir um facto lesivo e um conexo de causalidade que provoca aquele dano. Temos
de ter a ilicitude do facto, em que há uma desconformidade deste facto com a lei e temos
que ter em regra a culpa, ou seja, o juízo de censura e de reprovação relativamente à
conduta (de reprovação), já que segundo o artigo 483º o facto tem ser ilícito onde existia
reprovação pela conduta do agente.
28
mesmo resultado da sua ação.
c) dolo eventual: o agente tem menor adesão ao resultado, sendo que a
consequência é possível e isto não persuade o agente.
29
estava no Seabra. O direito de propriedade é protegido constitucionalmente,
ART 62º, nº1. No direito civil o direito de propriedade surge como direito
subjetivo, de natureza patrimonial, que encerra um conjunto de poderes e
um conjunto de obrigações. Constitui, assim, missão fundamental do
Direito organizar, segundo os valores jurídicos, os poderes dos homens
sobre as coisas e o conteúdo das relações entre os homens a respeito das
coisas. Um proprietário: tem poderes indeterminados (não se limitam os
poderes do proprietário senão através das concretas restrições impostas pela
lei); o direito de propriedade é elástico (extinto um direito real que limite a
propriedade da coisa, reconstitui-se a plenitude da propriedade sobre ela);
direito perpétuo (imediatamente implica não poder extinguir-se pelo não
uso).
Família: é protegida pelo Direito Civil, obviamente neste momento é diferente do que
falávamos no século XIX. A família surge como um grupo social, tendo
por base já não exclusivamente o casamento. A família como produto
social pode ou não ser baseada no casamento (esse que evoluiu). Direito de
constituir família – ART 36º, nº1, primeira parte CRP.
Aula: 24/10/17
As relações jurídicas, são quaisquer relações da vida social, que em sentido amplo, são
tuteladas pelo direito e são juridicamente relevantes, são produtoras de efeitos jurídicos
Relações jurídicas em sentido amplo: toda a relação da vida social relevante para o
Direito, isto é, produtiva de efeitos jurídicos e, portanto, disciplinada pelo Direito.
Relações jurídicas em sentido restrito: ex - um credor e um devedor. Relação da vida
social disciplinada pelo Direito mediante atribuição a uma pessoa de um
direito subjetivo e a imposição a outra pessoa de um dever jurídico ou de
uma sujeição
Cabem as aparentes posições solitárias em que cada uma das pessoas se encontra numa
posição, concretamente a posição do credor ou devedor, que formam
situações jurídicas isoladas de cada um dos sujeitos.
A relação jurídica e a situação jurídica são duas faces da mesma moeda. Quando falo
em relação jurídica em sentido amplo, estou a abranger estas situações.
Partir do estudo da relação jurídica corresponde a uma opção, outras opções seriam
possíveis como a situação jurídica isolada.
Cada relação pressupõe várias posições e a existência de posições jurídicas isoladas
não e negada pelo estudo da relação jurídica.
Tradicionalmente este estudo da relação jurídica parte de um critério
30
estrutural/anatómico, na medida em que vão ser estudados os elementos da relação
jurídica – aparece-nos a relação jurídica, já em sentido estrito, disciplinada pelo
direito, em que a um sujeito é atribuído um direito subjetivo e ao outro sujeito é
imposto um dever jurídico ou uma sujeição. Podemos ainda fazer uma distinção:
Relação jurídica abstrata – reporta uma relação jurídica hipotética, um modelo que a lei
nos dá. Ex: relação jurídica que decorre da celebração da compra e venda.
Relação jurídica em sentido concreto – que se estabelece entre A e B e que utiliza o
modelo abstrato de relação jurídica dado pela lei, concretizando-se na
prática.
Instituto Jurídico (diferente de relação jurídica): conjunto de normas que disciplina uma
determinada relação jurídica em sentido abstrato. É a regulamentação da relação jurídica.
Ex: instituto do casamento, da compra e venda, das relações parentais.
Relação jurídica em sentido funcional, atendendo aos interesses e já não à estrutura.
Pressupõe uma intervenção do direito sobre a relação jurídica. A um sujeito é atribuído
um direito e a outro é imposto um dever – porque é que a um é imposto um direito e a
outro um dever? (perspetiva funcional). Reconhece-se a uma pessoa um interesse e
reconhece-se que esse interesse deverá prevalecer sobre o interesse de outros, interesses
esses que são contrapostos, por isso, deverá então o direito civil regulá-los/autoconcertá-
los. Esta relação social em que há interesses contrapostos, em que tem de se fazer
prevalecer um interesse sobre o interesse de outrem, é necessária a intervenção do direito,
que é feita através da atribuição àquele que tem um interesse prevalecente de um direito
subjetivo, e através da atribuição à outra parte de um dever jurídico ou de uma sujeição.
Nesta perspetiva, temos uma relação social em que há interesses contrapostos e estamos
num campo em que a lei permite a autocomposição de interesses, e nesse âmbito, deverá
prevalecer o interesse de um sobre o outro. Como? Como é que na pratica um interesse
vai prevalecer sobre o outro? Aquele que tem um interesse que se entenda que deve
prevalecer vai ser titular de um direito subjetivo – titularidade do direito. Sobre a outra
parte irá recair um dever jurídico ou uma sujeição.
Esta perspetiva terá que estar sempre latente para percebermos o porque da existência do
direito subjetivo e da respetiva imposição de deveres.
Estrutura da Relação Jurídica
Elementos da Relação Jurídica
Sujeitos: sujeito ativo (é atribuído um dever) e sujeito passivo (a quem é imposto um
dever). São os titulares do direito subjetivo e das posições passivas
correspondentes (dever jurídico ou sujeitção). Podem ser pessoas singulares ou
coletivas.
Objeto: a relação jurídica incide sobre um determinado objeto – aquilo sobre que
incidem os poderes do titular ativo da relação. Vamos estudar aquilo que poderá
ser objeto (ex: coisas, próprios direitos, a pessoa de outrem – exceto penalmente,
prestações).
31
Facto jurídico: elemento causal da relação jurídica, que dá origem à relação jurídica. Ex:
um contrato. A relação pode ser uma relação que se consome quase
instantaneamente (ex: compra e venda) ou relações jurídicas que se prolonguem
no tempo (ex: relação jurídica paterno-filiar – o facto que a gerou foi o
nascimento).
Garantia: a relação é jurídica porque existe uma garantia. Para que o poder jurídico, que
é atribuído ao sujeito ativo, se imponha ao sujeito passivo é necessário que a
ordem jurídica ponha à disposição do sujeito ativo meios coercitivos para que ele
possa exercer o seu poder, nomeadamente, a possibilidade de recurso aos
tribunais. É este elemento que dá juridicidade à relação.
Núcleo da relação jurídica
Ao definirmos a relação jurídica considerámo-la integrada por um direito subjetivo e por
um dever jurídico ou por uma sujeição. São eles que constituem a estrutura interna, o
conteúdo da relação.
Direito subjetivo. O exercício do direito subjetivo é posto na dependência do seu titular,
logo, o direito subjetivo é um instrumento de autodeterminação do sujeito, de
autonomia privada do sujeito. O exercício do direito é um ato de autonomia, é
uma opção do titular (o titular pode não exercer).
A norma que atribui o direito subjetivo é como que apropriada pelo seu titular,
estando na sua propriedade utilizá-la ou não.
Direito subjetivo enquanto poder: traduz-se no poder de intervir autonomamente da
esfera jurídica de outrem. Poder de exigir ou pretender de outrem, um
comportamento positivo (ação) ou negativo (omissão), de produzir efeitos
jurídicos que se impõe inevitavelmente a outra pessoa. Ou o poder de só
per si, ou através de um ato de uma autoridade produzir efeitos jurídicos
que se irão impor inevitavelmente na esfera do outro.
Direito subjetivo enquanto interesse juridicamente tutelado – Ihering – relação jurídica
em sentido funcional. O interesse é certamente o fim a prosseguir pelo
direito subjetivo. Não há verdadeiramente uma identidade entre um
direito subjetivo e um interesse juridicamente tutelado, uma vez que nem
todos os interesses juridicamente tutelados são tutelados mediante a
atribuição de um direito subjetivo (ex: …). Falamos aqui de poderes-
deveres – poder paternal, em que o poder jurídico está ao serviço do
interesse de outrem.
O exercício de um direito subjetivo não está circunscrito a esse interesse.
Uma vez reconhecido um direito subjetivo a determinada pessoa, ela
poderá exercê-lo, sem que esteja vinculada à prossecução dos interesses
que originaram esse acontecimento.
*Poderá haver uma fiscalização desses interesses por parte do direito –
abuso do direito.
Duas modalidades do direito subjetivo em sentido amplo:
32
Stricto sensu: poder de exigir ou pretender de outrem um comportamento positivo (uma
ação) ou negativo (uma omissão). Aquele a quem é exigido um
comportamento será titular de um dever jurídico – necessidade de adotar
um certo comportamento correspondente ao direito subjetivo.
Corresponde a um dever jurídico da contraparte – um dever de facere ou
non facere.
Na maioria dos casos, o titular do direito subjetivo tem à
sua disposição providencias coercitivas/coativas/aplicação de sanções,
com vista à satisfação dos seus interesses. Há um conjunto de meios
coercitivos que são postos à disposição do titular do direito com vista a
satisfação dos seus interesses. Geralmente, traduz-se na capacidade de
exigir um comportamento da contraparte. Fala-se dos casos de poder
exigir.
Nas situações mais raras, o titular do direito subjetivo não tem qualquer
meio para reagir nos casos em que o sujeito passivo opta por não cumprir
a obrigação que lhe é imposta. Falamos nas situações de poder pretender.
Nestes casos, o sujeito passivo adota espontaneamente o comportamento
que o titular do direito subjetivo pretende ou se não adota
espontaneamente esse comportamento, o titular do direito, ou seja, o
sujeito ativo não tem meios de exigir a sua adoção – domínio das
obrigações naturais, recai sobre o sujeito passivo uma obrigação natural.
Aparecem-nos no CC nos ARTS 402º e seguintes. Parece que falha a
garantia, no entanto, temos aqui um aspeto que confere o carater jurídico
desta relação: decorre do artigo 403º - (garantia) principio da não
repetição do indevido (não repetição = não devolução) – consagra o
direito do credor a reter o que foi pago e exclui, consequentemente, o
direito do devedor a reaver o que pagou (espontaneamente).
33
aposta, que normalmente são nulos, quando são lícitos são fontes de
obrigações naturais.
Aula: 30/11
Limites internos ao exercício do direito subjetivo
Há doutrina que considera que o exercício do direito subjetivo deverá obedecer a uma
norma implícita de correção de lealdade, de honestidade, de moralidade (como que
obedecer a uma lei que estaria até acima da lei). Estes casos seriam os casos de abuso de
direito.
Crítica: Esta ideia de que a existência do direito está sujeita a limites deste género
introduziria aqui uma certa relativização do direito subjetivo, tornando-o vulnerável a
intromissões que, no fundo, em nome de uma correção, iriam limitar uma liberdade
individual, acarretando uma certa administração da vida cívica (justiça de afetos). Ex: ao
senhor A é concedido determinado direito e ele exerce-o, esse direito pode ser
condicionado por um tribunal que entenda que o exercício daquele direito naquele caso é
clamorosamente injusto – então, o direito subjetivo já não é aquele poder de
autodeterminação com as características que apontamos. O senhor A fica na dependência
da conceção que aquele tribunal tiver relativamente a justiça ou injustiça do exercício do
direito. Mas não é isso que os tribunais fazem? Sim, mas aqui dissemos que o senhor A
tinha um direito – os tribunais aplicam a lei. Princípio da separação de poderes – o poder
legislativo e o judicial não se confundem – se o tribunal perante um direito consagrado
diz que um certo direito não existe, esta a modificar a lei, esta a chamar a si o poder de
legislar. Esta opção introduz uma relativização dos nossos direitos.
—> ex. Ao senhor A é lhe apresentado um direito, sendo que este direito pode ser
limitado por um tribunal que entenda que o exercício desse direito é injusto
(clamorosamente injusto). Afinal o direito subjectivo já não é de auto-determinação, pois
é lhe imposto um limite que o coloca na dependência na concessão do poder pelo tribunal
que tiver relativamente à justiça e ao exercício desse mesmo direito. Embora o tribunal
34
defina os direitos que os sujeitos possuem ao aplicar a lei no direito, aqui o senhor A tem
o direito. Assim se o tribunal perante um direito consagrado diz que o direito não existe,
então está a transformar a lei, está assim a chamar a si o poder de legislar quando o seu
poder é de aplicar o direito. Um coisa diferente é dizer que este poder de auto-
regulamentação que está na base do direito subjectivo não pode dizer que se não observa
limites, pois ele tem limites.
Concluindo, existe uma ligação entre direito subjectivo e interesse, sendo que o interesse
é o fim que o reconhecimento do direito subjectivo reconhece, é a sua razão de ser,
contudo não é inerente à estrutura do direito, na medida em que o interesse não tem de
entrar na estrutura do direito subjectivo para perceber o seu funcionamento, o interesse
fica antes é a causa. É inconveniente afirmar que todo o direito subjectivo corresponde a
um interesse, já que há interesses que não se consubstanciam em direitos subjectivo
(interesses legalmente protegidos, referidos no artigo 483º no âmbito da
responsabilidade), sendo que há interesses às quais não correspondem direitos
subjectivos, mas a todos os direitos subjectivos correspondem interesses.
3º patamar: o abuso do/de direito: aqui já estamos num plano diferente em que todos
concordam ser o ultimo patamar/ a última ratio do sistema, sendo que o que está em
causa é a imagem estruturalmente correta do direito subjectivo e a missão que foi
funcionalmente atribuída ou assinada a esse direito. Para chegarmos a esta figura temos
que fazer apelo à perspetiva funcional da relação jurídica que apela ao plano dos
35
interesses, não podendo ficar na perspetiva estrutural que pressupunha a intervenção do
direito e que fazia prevalecer o interesse de um relativamente ao outro com o
reconhecimento de um direito subjectivo. Ex. Alguém titular de direito subjectivo,
reconhecido na lei a exercer esse direito, mas exerce esse direito para alem contra os
interesses de que levaram num primeiro momento a fazer prevalecer o seu poder de auto-
revelação relativamente aos interesses dos demais. (relação entre direito subjetivo vs
interesses). Uma vez prevalecendo interesses comuns sobre os demais, o legislador
atribui um cheque em branco permitindo que o titular do direito o exerça
cumulativamente, não existindo fiscalização quanto aos interesses prosseguidos, pois
alguém que produz na pratica um direito , não era possível existir essa fiscalização
constante, pois era um próprio atentando à liberdade inerente ao direito subjectivo.
Muitas vezes, a atribuição de um direito subjetivo, fazendo prevalecer os interesses de
um nega os interesses de outro, sendo que prejudica o outro, não havendo abuso nenhum
de direito, pois isso está inerente— ex. Senhorio pode resolver o contrato caso o morador
faca do seu apartamento local para atos ilícitos, os interesses do senhorio sobrepõem se
acima do morador, sendo que daqui sai prejudicado o arrendatário. Fala-se assim em
situações limites, em que só em exceções é que os tribunais são chamados, sendo os
limites: o exercício do poder de auto-regulamentação para além dos interesses que
estiveram na origem do directo subjectivo. Os interesses inerentes a um contrato não são
fiscalizados, mas imaginemos que é detetado que a pessoa detentora do direito subjectivo
esses seus interesses pretendem unicamente prejudicar o outro, aí sim existe fiscalização.
Assim X pode alegar que o arrendatário exerceu o seu direito para prejudicar unicamente
os seus interesses, existindo um abuso de direito em que um tribunal pode dizer que
estruturalmente o direito está lá, mas o arrendatário exerceu o direito sem o interesse
inerente ao mesmo.
A ideia de abuso de direito é utilizada numa perspetiva ética e isso não pode ser
admissível, porque perante um exercício de um direito vem se apreciar se aquele
exercício é clamorosamente injusto ou não, existe assim uma base de direitos que nos são
consagrados e que não é admissível que alguém venha afirmar que esses direitos estão lá
mas ao mesmo tempo não estão lá.
Em suma adotamos uma conceção objetiva de abuso de direito, que muitas vezes
noa é seguida pela nossa jurisprudência que adota uma concepção subjetivista, sendo que
segundo a professora é um pouco perigosa de seguir.
TGDC
Aula: 31/10/17
Ao contrario do que acontece noutras ordens jurídicas o nosso legislador optou por
expressamente consagrar no CC a figura do abuso de direito, sendo que noutras ordens
jurídicas fala-se em casos de ilícitude. —> O abuso de direito está consagrado no artigo
334º.
Os problemas que se levantam são casos mais do que os que ele resolve, onde existe uma
desconformidade entre o texto e a epígrafe, sendo que ou o legislador não disse tudo na
36
epígrafe ou no texto mistura uma série de realidades.
— Um exercício de direito contrario à boa fé é ilícito, não precisamos do artigo 334º; É
licito um exercício de direito contrário aos bons costumes. Assim, o abuso de direito não
deverá ser a soma destas várias hipóteses, uma vez que cada uma delas por si já configura
a ilicitude de um abuso de direito, não sendo necessário recorrer-se ao artigo 334º de
forma a acrescentar algo. Assim a melhor interpretação deste artigo será de considerar
que de facto o legislador diz menos do que o devia dizer, o legislador leva a casos de
ilicitude através do exercício do direito. O artigo refere-se assim também à própria
desconformidade com a boa fé, aos bons costumes e na medida em que o legislador se
quer referir ao abuso do direito, o fim social ou económico seria o abuso de direito, talvez
seja assim essa a interpretação que melhor se adapta ao que o artigo refere e a hipótese de
abuso de direito seria só aquela que aparece aludida em terceiro lugar. De forma alguma
se podia interpretar que o abuso de direito seria a soma das 3 hipóteses pois cada uma
delas já tem ilicitude, logo não acrescentaria nada.
Assim qual será a importância deste artigo? Para percebemos quais as consequências do
abuso do direito. O exercício do direito é ilegítimo, sendo que a sanção para o abuso de
direito é em primeiro lugar a ilegitimidade e a irrelevância do exercício abusivo do
direito. De seguida o abuso do direito pressupõe sempre prejuízo para a contraparte,
sendo que a esse prejuízo junta-se a responsabilidade do titular do direito. Assim,
tratando-se de uma conduta ilícita, essa mesma conduta dá origem à responsabilidade por
facto ilícito e há irrelevância na actuação do sujeito.
37
prestação.
Direito potestivo- é aquele em que a garantia é mais eficaz, sendo um direito que produz
efeito intervindo na relação jurídica de forma necessária, não existe reacção, é uma
garantia total. Consiste num direito que se reflete no poder de, por um ato libre e de
vontade, per si ou internado por decisão judicial, produzir efeitos que se impõem à
contraparte. Assim, no âmbito do direito potestativo temos uma situação de sujeição,
enquanto que no Direito subjectivo temos meramente um dever jurídico. O direito
potestativo abrange três modalidades:
— constitutivos: produzem a constituição de uma relação jurídica através de um ato
unilateral do direito do titular, não existindo reacção passiva do sujeito que é submisso
nessa relação jurídica. (1550º- servidão de passagem)- O direito potestativo refere-se à
constituição da servidão, em que A está submisso ao direito de passagem, sendo que o
direito de circular é um direito subjectivo, pois A assume o deve jurídico de deixar
passar. O direito de preferencia é um direito real de aquisição, mas por vexes pode ser
potestativo.
Os direitos são exercidos e o sujeito passivo assiste ao exercício do direito e não pode
obstacular esse mesmo exercício, estando a contraparte numa situação de sujeição.
Temos assim vindo a falar da importância que o interesse tem na compreensão do DS e
até sendo uma espécie da sua confirmação, sendo que o abuso de direito é exatamente
uma fartura entre DS e o interesse que lhe esta subjacente. Contudo existem outros casos
em que existe essa mesma fartura entre o interesse e o direito subjetivo.
Poderes-deveres ou poderes funcionais: posição jurídica ativa que integra também uma
posição jurídica passiva que alguns equiparam aos poderes discricionários da
administração publica e consideram que já não estariam perante direitos subjetivos. A
posição a adotar vai no sentido de que estes poderes ainda cabem estruturalmente dentro
do direito subjetivo, são hipóteses de direito subjectivo Ou seja são posições jurídicas em
que existe um, por exemplo, responsabilidades parentais, poder que é conferido a alguém
para tutelar os interesses de outra pessoa. Verdadeiramente a sua especialidade face aos
38
direito subjectivos é que temos a intermediação de alguém entre o poder e o interesse,
porque o poder jurídico que aqui é conferido para a tutela de um interesse não existe na
titularidade do interessado, mas sim na titularidade da outra pessoa . O titular do direito
subjectivo será a pessoa a quem esse poder foi reconhecido. Nos poderes deveres ou
funcionais, o titular do poder jurídico não é a pessoa em cujo o interesse e o poder vai ser
exercido, o interessado é o outro, ou seja o direito é reconhecido a uma pessoa diferente
que é o interessado no seu exercício por parte do sujeito que detém o poder (o pai é que
tem o poder e o filho é que tem o interesse).
No fundo não ha uma separação radical porque os interesses daquele porque é exercido
são ao mesmo tempo interesses do titular do direito—> exemplo: o pai exerce os seus
direitos enquanto que a lei lhe confere como pai, ou seja poderes paternais, o interesse do
filho é do próprio interesse do pai, porque há interesse do pai no interesse do filho, sendo
que a melhor pessoa é aquela que prossegue o interesse da outra, ou seja os interesses do
principal são também os interesses de outrem. O titular deste direito subjectivo nestes
casos ainda gere a sua esfera de interesses, por exemplo os interesses do filho ainda estão
na esfera dos interesses do pai. Outro caso é os poderes do tutor, os poderes do
administrador (art.89º) e os poderes na administração legal na ausência ou na
inabilitação, no artigo 154º.
Faculdades jurídicas
—> Primárias: são poderes que são anteriores a uma relação jurídica (antes de uma
relação jurídica) e no fundo são emanações do poder de autodeterminação. Ex. Tenho o
poder de vender, de casar, de testar, de representar outrem ou de contratar em geral. São
emanações da minha autodeterminação.
—> Secundárias: contrapõem-se ao direito subjectivo na medida em que são poderes que
decorrem desse direito subjectivo, pois por mais simples que seja a posição jurídica
positiva de um sujeito, essa posição jurídica será sempre um conjunto de poderes,
nomeadamente o titular do direito de crédito (direito subjectivo), encerra o poder de
interpelar o outro para cumprir, poder de exigir juros de mora pelo não cumprimento
monetário, o poder de exigir judicialmente o cumprimento, o poder de requer a execução
especifica. Encerra um feixe de poderes, a esse conjunto de poderes chamamos
faculdades jurídicas secundarias, em que pressupomos a existência de um direito
subjectivo.
39
faculdades jurídicas como irradiação de um direito subjectivo de personalidade, o direito
de personalidade à liberdade contem uma série de poderes: de casar, vender, comprar.
Nesta perspetiva já não seriam faculdades primárias, mas sim secundarias, pois estas
figuras acabam por aparecer interligadas e misturadas num momento posterior.
Expectativas:
O direito subjectivo distingue-se daquelas situações em que ainda não são situações de
prevalência. As expectativas são antecâmaras de direito subjetivos, sendo protegidas pelo
ordenamento jurídico. Exemplo: quando falta algum dos elementos que depende o
surgimento do direito, mas temos já um embrião do direito que irá surgir, existe uma
situação intermediária mais ou menos consistente que não produz os seus efeitos normais
mas que ja é regida pelo direito, aguardando a produção da totalidade dos seus efeitos,
isso corresponde às expectativas.
São vistas como direitos em formação.
—> Direitos essenciais e não essenciais: atende ao estado em que a pessoa se encontra.
40
São direito essências aqueles de que a pessoa não se pode privar sem se privar de certas
condições essências e de direitos que lhes são inerentes (ex. Pessoa casada, sendo que os
direitos de personalidade são direitos essenciais e não se pode prescindir deles sem
prescindi do estado de pessoa).
—> Direito de natureza pessoal e direitos patrimoniais: a distinção é feita de acordo com
a natureza dos bens jurídicos em jogo. O direito de autor tem uma vertente pessoal e tem
uma verte patrimonial, na esfera de explorar o valor da sua obra. Os direitos pessoais são
os direitos de personalidade e família.
—> Direitos absolutos e relativos: classificação que atende aos titulares passivos dos
sujeitos dos direitos, ou seja, às pessoas a que os mesmos se impõem. Os direitos
absolutos são aqueles que se impõem erga omnes, à generalidade das pessoas, e são
relativos os direitos que se impõem a certas e determinadas pessoas, embora esta
distinção seja criticada por alguma doutrina. Dizem que quando se impõem erga omnes,
verdadeiramente qual é o grupo de pessoas a quem o comportamento passivo é imposto?
Ex: A vendeu uma coisa B. A tem o direito de credito sobre o preço. O direito de A
impõe-se a B - direito relativo. Em virtude deste contrato compra e venda, B tornou-se
proprietário. O seu direito de propriedade impõe-se a quem? Impõe-se erga omnes a
todos aqueles que estão numa situação que poderia perturbar a propriedade de B, esses
estão obrigados a um comportamento omissivo, no sentido de não perturbar o direito de
propriedade. Aqui entram as criticas: quem são as pessoas a quem é imposto o
comportamento passivo? Onde acaba a delimitação do grupo de pessoas que eta sujeito a
estes comportamentos omissivos? São apenas aqueles que estão em condições de
perturbar o direito.
São absolutos os direitos de personalidade, os direitos sobre pessoa de outrem e os
direitos reais. São relativos os direitos de crédito.
Aula: 06/11
41
Em sentido estrito:
— Direitos de personalidade: direitos da pessoa sobre si própria, incidem sobre o próprio
titular do direito. Do lado passivo destas relações jurídicas em que a posição ativa é o
direito de personalidade não temos o mero dever geral de abstenção. Apesar de serem
direitos absolutos, os sujeitos passivos não estão apenas obrigados a nada fazer para
perturbarem o direito de personalidade. Pode existir a necessidade de adotarmos um
dever de auxilio. (aos sujeitos passivos pode ser imposto um dever de auxilio de socorro,
por exemplo passo na rua por algum caído inconsciente, eu mesmo sendo sujeito passivo
eu sou obrigado a prestar auxilio, não assumo uma obrigação passiva de não perturbar o
indivíduo, eu assumo o dever de intervir)
— Direitos de crédito: enquanto direitos que se traduzem na necessidade de morar um
determinado comportamento positivo ou negativo. São direitos que se impõem a certas e
determinadas e pessoas, são direitos que não se impõem de forma geral á comunidade, e
o sujeito passivo está obrigado a realizar a prestação correspondente, são direitos
imediatos.
— Direitos reais: são poderes directos e mediatos sobre uma pessoa, para o seu exercício
não é necessária a intermediação de ninguém.
— Direito sobre a pessoa de outrem, em que existe a hipótese de o objecto de direito ser
de outra pessoa.— são situações excepcionais que a lei prevê, concretamente nas
responsabilidades parentais, artigo 1887º e aplicado ao sistema do tutor no artigo 1935º.
Direitos da pessoa:
- direitos de personalidade e direitos potestativos- artigo 81º nº2;
- direitos de crédito- art. 72º;
- direitos reais
Direitos de obrigações:
- Direitos de crédito
- Direitos potestativos
- Direitos reais de garantia
Direitos da família:
- Direitos sobre a pessoa de outrem
- Direitos potestativos (direito de separação judicial de bens)
- Direitos de crédito (entre os cônjuges)
- Direitos reais (a propósito do regime de bens do casamento)
42
- Direitos potestativos (herança)
- Direito de crédito (dívidas- 1068º e 2097º
- Direitos reais (propriedade dos bens de herança)
Caso da sujeição: neste caso o sujeito passivo não tem que adotar qualquer
comportamento, porque os efeitos jurídicos que se produzem ocorrem sem ele intervir, é
um mero espectador relativamente ao exercício do direito potestativo. É assim a
necessidade de aceitar sofrer as consequências do exercício do direito potestativo, que
produz os seus efeitos. Assim a opção de escolha do exercício desse mesmo direito, em
cumprir ou não esse mesmo direito, está fora da esfera do sujeito, sendo que vigora a
necessidade de aceitar sofrer as consequências do exercício do DP, que assume a
característica de produzir os seus efeitos assim que é exercido e que se repercutem
imediatamente na esfera da contratante, de quem tem a sujeição. Assim, tal com vimos
não há nada que o obrigado possa fazer , não podendo escolher não cumprir ou não se
sujeitar, porque essa possibilidade está fora do âmbito da sua esfera. É verdade que em
alguns casos podemos ter dúvidas em relação às situações de incumprimento, mas
relativamente à sujeição nunca há hipótese de incumprimento— ex. Estabelecimento de
servidões prediais, pode perturbar o dever correspondente ao direito de passagem, mas
não a situação de obrigação graças à situação de sujeição, porque fico logo onerado com
essa servidão que o sujeito cumprindo o seu dever jurídico pode ou não permitir
passagem e executar esse mesmo direito. Já quando cumpre ou assume um estado de
sujeição ele não tem possibilidade de escolher o que pretende, sofrendo as consequências
que advém o exercício do direito potestativo em causa.
ÓNUS
O ónus traduz se na necessidade de adotar um comportamento com vista à satisfação de
um determinado interesse, diferente com o que acontece com o poder jurídico, no caso do
ónus a não adoção do comportamento, não é um comportamento anti-jurídico ou seja,
não é ilícito acontecer, ele assim adota ou não o comportamento, uma vez que
relativamente à adoção do comportamento está associada uma vantagem. Já a adopção do
dever jurídico acarreta sanções.
— exemplo: Se a pessoa cumpre o ónus de comunicação, nas cláusulas contratuais gerais,
essas mesma clausulas são aplicadas.
43
—> relação entre contrato e relação jurídica: os contratos não são relações jurídicas,
sendo que o contrato é um elemento da relação jurídica. A relação jurídica possui,
sujeitos, um objeto, a garantia e o facto jurídico, que é o facto jurídico relevante que dá
origem à relação (ex. contrato, morte…). O Contrato é que gere a relação jurídica, não
é uma relação jurídica, é apenas um elemento da relação jurídica.
— singulares ou plurais: consoante temos uma única ou mais pessoa(s) a ocupar o lugar
sujeito ativo ou passivo (ex. Obrigação solidária, artigo 512º)
— bilaterais ou plurilaterais: termos só dois ou mais feitos de interesse na relação (ex.
Relação jurídica que surge com um contrato de compra e venda, temos a posição do
comprador e a do vendedor. Temos dois sujeitos ativos e dois sujeitos passivos, temos
dois interesses). Mas se pensarmos numa relação jurídica que insistiu uma sociedade
comercial por quotas, temos presente vários feixes de interesse.
— instantâneas ou duradouras: que tem a haver com o tempo, tenso relações jurídicas
que se esgotam e outras que se prolongam por um período de tempo indeterminado. (ex.
Contrato de compra e venda- é uma relação do momento, é instantânea, mas no caso do
direito de propriedade sobre esse bem é uma relação jurídica duradoura; se no contrato de
compra e venda o preço fosse pago em meses a relação é duradoura, sendo este o
exemplo dos contratos de garantia dos carros; ex. Casamento é uma relação que tende a
ser duradoura). A contrariedade dos contratos duradouros é muda-se o tempo muda-se as
vontades.
— simples ou complexas: as relações jurídicas por norma não são relações simples, em
que temos um linear de posições. Na generalidade do caso, as relações jurídicas são
complexas, mesmo no caso de compra e venda.
As relações jurídicas podem aparecer combinadas entre elas (combinação entre as RJ):
— pode ser numa relação de acessoriedade: uma relação jurídica é instrumental em
relação a outra, uma depende da outra (ex: garantias relativamente aos créditos, ex:
penhor, hipoteca – esta relação depende de uma relação creditícia anterior, ou seja, se o
credito se extingue a garantia também se vai extinguir, ou se a relação de credito não e
valida a constituição da garantia também não e válida. Ex: art 627º, 730º, a))
— pode ser numa relação de pertinência: temos uma relação deste género quando temos
uma convergência de relações jurídicas no mesmo ponto comum que pode ser para o
mesmo sujeito. As relações jurídicas estão combinadas num critério pertinente, a isto dá
se o nome de esfera jurídica que consiste num combinação de relações jurídicas que
pertence ao mesmo sujeito.
Aula: 07/11
Sucessos fundamentais na vida da relação jurídica (no plano do direito subjetivo):
Constituição e aquisição de direitos.
44
Constituição de direito- podemos ter um direito que se constitui, mas não adquire
imediatamente esfera jurídica do sujeito, não se adquire já se encontra constituído- ex.
Nascituro (direitos de personalidade). Assim a constituição de direito é o surgimento do
direito em questão pela primeira vez na ordem jurídica.
Aquisição de direito - a maior parte dos casos de aquisição de direitos não corresponde
simultaneamente a uma constituição de direitos que se tratam de direitos que já existiam
na ordem jurídica nomeadamente noutro titular e que se transfere para um novo sujeito.
Distinguimos dois tipos de aquisição: derivada (depende de direito jurídico anterior) ou
originária (não depende de direito anterior)
— constitutiva: o direito adquirido filia-se no direito anterior, mas não é tão amplo
como o direito anterior, o direito adquirido tem um conteúdo que é diferente e absorvível
pelo direito anterior —ex. usufruto: é um direito real de gozo, em que o usufrutuário tem
o direito real de usar a coisa durante determinado período de tempo, mas não é
proprietário da mesma, segundo o artigo 1439º. Sendo que o conjunto de poderes que o
usufrutuário adquire pertenciam anteriormente ao proprietário. O conteúdo do usufruto já
existia dentro do direito de propriedade, sendo que o direito de propriedade vai ser
comprimido, que dá origem ao fenómeno comum de direitos reais limitados + o exemplo
do artigo 1060º que se refere aos contratos de sub-arrendamento.
45
— translativa: o direito adquirido coincide com o direito anterior, tem a mesma
amplitude e o mesmo conteúdo que o anterior, apenas circula de um sujeito para outro
sujeito - ex. Contrato de compra e venda, doação e sucessão mortis causa. Podemos
também ter casos de aquisição derivada translativa em que não é transmitido todo o
direito, apenas uma parte por exemplo 50%).— transmite-se de um para o outro o bem
em causa. (ex. Quando A vende o seu carro a B, o direito de propriedade transita da
esfera jurídica de A para a esfera jurídica de B, mas se for no caso de usufruto, o direito
não transita integralmente, porque há partes dos poderes do trasmitente que ficam
reservados para ele, ele só transmite o usufruto.
A aquisição derivada obedece a uma regra que é imprescindível —> Principio do nemo
plus iuris: não se pode transmitir mais direitos do aquilo que se tem, ou seja, o
comprador só adquire os bens do vendedor, se estes lhe pertencerem verdadeiramente.
— 2 exceções:
A) decorre das regras do registo predial— proteção de terceiros para efeitos de
registos: o registo predial existe para dar publicidade dos negócios de determinados
móveis. (Além deste temos o registo de automóveis, embarcações, aeronaves…). A
finalidade do registo é dar publicidade à situação jurídica dos bens, existindo apenas
sobre determinados bens que pelo seu valor se torna necessário conhecer a sua
situação jurídica e quem são os titulares dos mesmos, o registo primeiramente se
assume como dar a conhecer a situação jurídica desses bens móveis. O direito é
adquirido em virtude de um determinado título e depois o registo publicita essa
mesma aquisição, mas esse registo não interfere com essa aquisição, não sendo causa
dessa aquisição. O registo também não tem a haver com a forma do contrato— ex.
Escritura pública de contrato de compra e venda, em que B torna-se proprietário do
bem e depois o direito de propriedade é escrito no registo predial, dizendo que B se
torna proprietário, sendo que B não adquire só quando é registado, mas sim logo
quando o contrato é celebrado.—> funciona o princípio do trato sucessivo em que
tem que haver um registo sucessivo, pois só se consegue registar, se o anterior tiver
46
registado esses bens em seu nome, terá de haver uma transparência de registo, em que
B só consegue registar esse bem em seu nome, se A o tiver anteriormente registado
em seu nome. (art. 34º do Código do registo predial). O registo não é assim um meio
de aquisição do direito, uma vez que por exemplo, se A vende a B um imóvel, e se B
não o registar ele não tem o seu direito invalidado por causa disso. O registo é apenas
um ónus do adquirente, içai é um requisito de validade do direito, apenas dá
publicidade e conhecimento a esse direito, permitindo ao adquirente beneficiar de
alguns benefícios por via desse registo. É assim uma mera condição de eficácia da
aquisição.— Porque é que o resgato pode ser tão importante para o afastamento da
regra do Nemo Plus iuris? Em casos em que temos terceiros para efeitos de registo,
que consistem em sujeitos que recebem direitos total ou parcialmente incompatíveis
ou conflitantes sobre o mesmo objecto: ex. A vende o mesmo prédio a B e depois a C,
se não tomarmos em linha do registo, segundo o principio do Nemo Plus iuris, quem
é possuidor do bem imóvel é B que adquiriu primeiro. Assim as coisas alteram-se ou
podem se alterar por efeito do registo, porque se A vende a B e B não regista ele não
pode opor o seu direito a terceiros e se C vai registar, ele adquire na aquisição uma
protecção e que pode opor a B, sendo que embora C veja prevalecer a sua aquisição,
B tem o direito a ser indemnizado pela decadência do seu direito. Estes casos de
desvio à regra só se verificam se o único vicio for de que o padecer de transmissão for
a ilegitimidade do trasmitente, se houver outros vícios como o caso em que o próprio
vendedor é alvo de alguma ilegalidade já se analisa outro vicio na aquisição.
47
registando esses mesmo bens ©. Adquire o terreno de B, sendo que as transmissões
não se adquirem em bens por sucessão, só apenas por efeitos mortis causa e em
função do registo, uma vez que o pai em vida não pode transmitir por não ser
proprietário, sendo que C só adquire o terreno por via do registo em efeito de
sucessão hereditária, sendo que o direito de B decai ou extingue-se por decadência
pela superveniência de um direito incompatível, sendo que quem adquire o direito de
propriedade por registo é C. — A boa fé por parte de terceiro está prevista no artigo
291º nº3 em que se considera terceiro de boa fé, o terceiro adquirente que no
momento da aquisição desconhecia, sem culpa o vicio do negocio nulo ou anulável,
existindo assim no nosso código civil duas situações em que existe a protecção da boa
fé: art. 243º nº1 e 291º, porque se aplicássemos, sem qualquer restrição o disposto no
artigo 289, assumindo essa mesma declaração de invalidado carácter retroativo, isso
faria com que se uma das relações é invalidada todos os efeitos para troas
desapareciam, não podendo mesmo o sujeito de boa fé e desconhecendo essas
invalidado registar o bem imóvel em questão. Por isso existem estes dois artigos, que
se aplicam intrinsecamente ao previsto pelo artigo 289º, de forma a proteger terceiros,
com vista a evitar ser efeito destrutivo em cadeia provocado pela invalidada do
negocio e conferir ao comércio jurídico confiança. A boa fé é assim um mecanismo
de ignorância da simulação ao tempo em que foram constituídos os direitos, sendo
desconhecido para o terceiro no momento da aquisição.
Aula: 13/11
48
tem de ignorar sem culpa. Outro requisito é que esta norma só se aplica se estiverem em
causa bens imóveis ou bens móveis sujeitos a registo, tratamento diferente dos bens que
exigem registo, assim se ele não regista não terá direito, assume um sentido lateral de
efeitos de registo. Outro requisito é o registo de aquisição, em que deve ser uma
aquisição onerosa relativamente a bens onerosos, que terá que ser anterior ao registo de
ação de invalidade que venha tratar-lhe da invalidade do negócio anterior, ou seja, se há
uma ação com vista à invalidade e se já se encontra registada, o que acontece aqui é que
não há proteção de terceiros, pois quando chego ao Registo Predial já se encontra lá
registada uma ação de invalidade e eu consecutivamente conheço essa mesma ação.
Aula: 14/11
Modificação subjetiva:
Substituição – quando a um sujeito ativo substituiu outro. Ex: numa compra e venda,
quando o sujeito A compra um direito a B. o direito de A é o mesmo que
circula para B, o direito é o mesmo, o sujeito é que é diferente. / Se A morre e
sucede o seu filho o seu único herdeiro, B, B passa a ser titular do mesmo
direito
Multiplicação: onde tínhamos apenas um sujeito vamos passar a ter mais do que um
sujeito por motivos de sucessão mortis causa (A morre e herdam B e C) ou A
vende a B e C.
Adjunção: há uma multiplicação, mas o primitivo titular de direito mantém-se titular do
direito agregando um novo sujeito àquele direito. Ex: A vende ½ da
propriedade a B
Concentração: fenómeno simétrico da multiplicação, quando existiam vários sujeitos e
passamos a ter um único titular de direito: Ex: A e B vendem um terreno a C
(passamos do regime de compropriedade para o regime de propriedade).
Modificação objetiva
Alteração do conteúdo: quando os poderes que integram o direito se alteram por qualquer
razão. Ex: 1470º do CC (consoante o objeto do usufruto, o proprietário tem a
faculdade de exigir do usufrutuário, sob pena do bem sofrer de prejuízos – o
titular em vez de usar plenamente a coisa está sujeito a que o proprietário
modifique o seu direito, o conteúdo do mesmo direito vai alterar-se) e 1482º
do CC (a lei confere proteção ao proprietário, não extingue o usufruto, mas o
49
proprietário pode exigir que o bem lhe seja entregue, mais uma vez, o
conteúdo do direito de usufruto fica alterado).
Alteração do objeto: trata-se de uma alteração relativamente ao próprio objeto sobre o
qual incide o direito. Ex: 701º do CC (direito de hipoteca – direito real de
garantia, permite a um credor ser ressarcido do seu crédito sob o valor de um
imóvel. É o único caso em que o registo é constitutivo de direitos. O credor
tem a faculdade de exigir do hipotecado, uma nova hipoteca de modo a
garantir o direito real de garantia. O conteúdo do direito do sujeito mantém-se,
só se altera o seu objeto); 1325º e seguintes do CC (acessão –suponhamos que
A é proprietário do prédio rústico C, e B é proprietário do prédio rústico D,
prédios confinantes, ocorre um período de precipitação avultante, a terra de B
junta-se ao leito do rio e junta-se ao prédio rústico de A – o conteúdo do
direito é o mesmo, o objeto é que se modifica).
Modificação na obrigação
As modificações que incidem no lado passivo da relação, são sempre
modificações subjetivas.
Distingue-se:
Substituição: sempre que há uma modificação do devedor, passa a haver uma
modificação de garantia do credor porque a garantia geral do credor é o
património geral do devedor. Pode haver substituição inter vivos (transmissão
singular da divida – 595º do CC -, só é possível na medida em que haja uma
declaração expressa do credor). Quando ocorre mortis causa o património é o
mesmo, a garantia do credor continua a ser a mesmo, apesar do mesmo
património ter sido alvo de sucessão.
Multiplicação:
o Sucessão: se ao devedor sucederem dois herdeiros, por exemplo, existem mais
devedores, apesar do património ser o mesmo, o património alvo da divida
é o património do de cuis e não o património total dos herdeiros.
o Adjunção: assunção cumulativa da divida (transmissão singular da divida sem
declaração expressa do credor à mantém o devedor primitivo e soma-se o
segundo devedor – art. 595º/2 do CC). Quando temos devedores
solidários, como neste caso, o credor pode exigir a totalidade da divida a
ambos os codevedores.
Concentração: fenómeno inverso da multiplicação. Teremos concentração sempre que a
obrigação que recaia sobre vários devedores passa a concentrar-se num único
devedor. Ex: A e B, casados, contraem uma divida, morrem durante um acidente
de viação, a divida recai sobre o seu único herdeiro, C.
Extinção de direitos
O direito deixa de existir na esfera jurídica do titular, desliga-se do titular.
Distinguem-se:
Subjetiva: o direito apenas se extingue na esfera jurídica do titular, continua a existir,
apenas muda de titular através de uma aquisição derivada translativa e com a
sucessão:
o Por vontade do titular: A vende a B
50
o Sem a sua vontade: acontece se A morrer e não tiver feito testamento, as
regras sucessórias dizem que o herdeiro será o filho – sucessão intestada
o Contra a sua vontade: pode fazer um testamento a X, mas este tem um filho,
logo a parte relativa à legitima faz-se contra a sua vontade; expropriação;
execução de bens; sucessão legitimária.
Objetiva: o direito deixa de existir, não há transmissão ou aquisição derivada translativa.
o Destruição do objeto: se o objeto é destruído, o direito extingue-se. Ex: o
direito de propriedade sobre uma casa ardida extingue-se
o Abandono do objeto: coisas móveis abandonadas podem ser adquiridas por
ocupação (aquisição originária)
o Não exercício do direito
o Decadência: o direito extingue-se por formação de um direito incompatível
que sobre ele prevalece. Ex: usucapião (A é proprietário de alguma coisa e
não a usa por um lapso de tempo considerável, B ocupa a propriedade de
A por um lapso de tem considerável, B adquire o direito de usucapião e o
direito de propriedade de A, extingue-se por decadência), resultado da
aquisição de terceiros de boa fé e de terceiros para efeitos de registo
AULA: 20/11
51
As vicissitudes podem ser:
— pendência: quando uma relação jurídica não pode funcionar plenamente porque o
sujeito ainda não existe ou não está determinado- exemplo aquisição derivada
consecutiva sujeita a uma termo ou a condição por exemplo num usufruto, é uma relação
jurídica nova ainda que filiada a um direito anterior, nunca funcionou e que ainda não
está a funcionar e que só funciona até que se verifique aquele acontecimento futuro.
Garantia:
A garantia confere juridicidade à relação, o que permite distinguir esta relação das
relações sociais, no fundo traduz-se no conjunto de providências coercivas a tornar
efetivos os poderes do titular do direito subjetivo, sendo estes meios coercivos anotados
pelo estado através dos tribunais. + Responsabilidade civil: a lei privilegia a condição
natural do lesado. No âmbito dos direitos de personalidade, no artigo 70º nº2 o lesado
poderá prover de outras providências para evitar a lesão que sofre. Sanção pencunária
compulsória artigo 829º A que surge como meio que constrange o devedor a cumprir o
pagamento, sendo uma forma de incentivar o devedor a cumprir.
Todos estes meios são meios de heterotutela de direitos, que o estado põe à disposto
do sujeito ativo a prossecução dos seus interesses.
Contudo há situações excepcionais que a lei prevê em que é possível recorrer a
meios de auto-tutela de direitos, que são situações pontuais: a lei permite isto nos casos
de ação direta (336º) e legítima defesa (337º). Assim ainda que o agente provoque danos
a outrem, a sua relação é licita sendo que ele não responde pelos danos causados.—>
recurso à força como recurso aos meios institutivos juridicionais, não podendo exceder-
se, existe a ideia de proporcionalidade. Na legitima defesa é um meio preventivo que
afasta uma agressão iminente ou já indiciada e que ainda não se consumou, sendo esta a
diferença entre ação direta e legitima defesa, pois na primeira o direito já foi lesado e na
52
segunda o direito ainda vai ser lesado.
Aquele que é sujeito para o direito necessariamente é sujeito de direitos , sendo que
a personalidade jurídica surge como condição para ser titular das relações jurídicas, ser
titular de direitos.
Capacidade jurídica /capacidade de gozo: aparece-nos no artigo 67º em que não se pode
ter personalidade jurídica e senão se tiver capacidade jurídica, a capacidade jurídica está
inerente à personalidade jurídica.
—> Esta relação estreita que existe entre a personalidade e a capacidade leva-nos à
questão de saber se é possível ter direitos que não sejam/existam na esfera jurídica do
indivíduo. Ou seja há possibilidade de termos direitos sem sujeitos? Há autores mais
recuados que negam a possibilidade lógica de direitos sem sujeito, dizendo que se o
directo subjectivo é uma situação de poder, o poder tem de estar ligado a alguém não
pode ser um poder vazio. Já outros autores admitem a figura de gritos sem sujeito,
embora como uma situação transitória ou uma fase de transição, como que uma situação
de pendência que verdadeiramente só adquire plena eficácia com a existência do sujeito,
sendo esta a pisoa atual dominante.
Aula: 21/11/17
53
Inseparabilidade: a personalidade jurídica é irrecusável(ninguém se pode recusar a ter
personalidade jurídica), é expropriável (ninguém pode ser expropriado da sua
personalidade jurídica), é indisponível (a personalidade jurídica é indisponível), e a
inabilidade (em que no momento em que surge a personalidade humana surge a
personalidade jurídica); e ilimitável (ou seja a personalidade jurídica não pode estar
sujeita a uma tutela restrita, não é possível haver um elenco de direitos sujeitos a numeros
clausus, tem de ser uma tutela tão ampla (clausula geral da pessoa e rejeita um numero
clausus de direitos de personalidade) como a personalidade e que acolhe o caracter
evolutiva da personalidade— exemplo: art. 70º.
Início da personalidade: art. 66º nº1 (nascimento completo e com vida)— 2 requisitos
que correspondem ao momento da separação do feto relativamente ao corpo da mãe,
exclui da personalidade jurídica os nados mortos ou aqueles que morrem durante o
trabalho de parto. O nº2 confere protecção aos nascituros, embora a lei proteja os
nascituros determinados direitos depende do nascimento do nascituro, mas também
confere protecção aos concepturo em que lhes é facultada a possibilidade de doação
segundo o artigo 952º.
A lei também prevê capacidade sucessória aos nascituros nos termos do artigo 2033º. Na
sucessão testamenteira contratual, tem capacidades os nascituros não concebidos.—> Art.
1798º: a fixação do momento da concepção, que nos permite a distinção entre nascitudos
e concepturo (se for dentro de 120 dias dos 300 é a um nascituro, se for além desses 300
dias antes do nascimento é a um concepturo).
Esta protecção não implica que se reconheça uma personalidade anterior ao nascimento.
Neste domínio há varias psicose: há quem defenda uma personalidade fica ou provisória,
outros referem-se a uma retroatividade da personalidade, outros admitem a existência de
um direito que ainda não tem um sujeito. Este surgimento não invalida que o pedido
anterior ao macilento seja também protegido, obviamente que também o é. A pessoa que
surge no conhecido direito protegido pelo mesmo. A pessoa tem direito a nascer enquanto
resultado de um nascimento sadio e sem interferências. A pessoa poderá ser indemnizada
por um dano causado antes do nascimento que será consumado no momento do
nascimento. Se a pessoa não chega a nascer não podemos falar em dano, estes atos
dependem do nascimento. O problema que se coloca é se se pode defender que o próprio
venha a assinar ações, quando existem malformações no nascimento, contra médicos que
não detectaram e não alertaram os pais para os problemas que o nascituro veio a sofrer já
com vida, a vida surge assim como um dano (podemos falar de um direito a não nascer?).
54
além da morte.
Quer a vida quer a morte estão sujeitas a registo civil.— art. 1º do registo civil
(obrigatório).+ arts. 193º, 194º, 202º do CRC (código do registo civil).
AULA: 27/11
Na aula anterior vimos as três hipóteses que a lei prevê relativamente à ausência de uma
pessoa.
55
Em forma de conclusão é que não existe uma consecutividade destas três medidas, na
medida em que para termos uma curadoria definitiva não temos que ter antes uma
curadoria provisória, não há passos sequenciais.
CRP: art. 24º, 25º, 26º, 27º, 34º, 35º, 37º, 42º
—> CC: art. 70º— Clausula geral de tutela de personalidade, que surge pela primeira vez
no CC de 1966 sendo que o código Seabra apenas definia no artigo 359º que existiam
direitos originários que resultavam da própria natureza do Homem.
A proteção da personalidade esta sujeita a condicionamentos que resultam da vida social,
existido limites de adequação social.
O objecto da personalidade é a própria pessoa, estamos a falar de um direito subjectivo da
pessoa sobre si própria.— aspetos parcelares presentes no CC: integridade física e moral,
nome, pseudónimo, cartas missivas confidenciais, memorais familiares e outros escritos
confidenciais, imagem, honra e reserva sobre a intimidade da vida privada. No código do
trabalho, artigos 14º a 22º, o legislador entende regular os direitos de personalidade no
âmbito da liberdade de expressão e de opinião, reserva da intimidade da vida privada,
proteção de dados pessoais, testes e exames médicos, meios de vigilância à distancia e
confidencialidade de mensagens e acesso a informação, esta proteção é de ambas as
partes na relação laboral, quer do trabalhador quer do empregador e não apenas do
trabalhador.
A) direito à vida
B) Direito à integridade Física
C) Direito à liberdade
D) Direito à inviolabilidade pessoal: direito à imagem, direito à palavra, direito à
intimidade da vida privada e direito à honra
E) Direito à identidade pessoal
F) Direito à criação pessoal
Caraterizam-se por serem direitos inatos, sendo que o direito ao nome e à moral de autor
são direitos adquiridos.
Direito à vida:
- surge na lei como direito à conservação da vida e não como direito à obtenção da vida
- Beneficia de uma tutela civil, constitucional (art. 24º) e penal (131º e seguintes:
homicídio), pois é um direito que contende com a pessoa ou a existência da pessoa,
56
sendo portanto um direito totalmente indisponível, na medida em que proíbe o homizio
a pedido das vitima, proÍbe-se o incitamento ao homizio e o auxilio ao suicídio: artigos
134º e 135º do CP
- A Lei 25/2012 é a lei do testamento vital, em que a pessoa ma infesta a sua libre
vontade quanto aos cuidados de saúde que pode ou não vir a usufruir caso dê por si
numa situação em que não pode declarar a sua vontade- art. 2º nº2.
- Prevê-se de forma especial a compensação por danos não patrimoniais em caso de
violação do direito, no artigo 496º nº2 e 3—> a própria vida pode surgir como dano?
Não, embora em alguns casos se questione em aberto se em determinados casos a vida
não é um fardo tão grande que seria melhor não ter acontecido.
Direito à liberdade:
- é o direito da pessoa se conformar pessoalmente no respeito de outra ordem jurídica,
havendo liberdades físicas (deslocação, sexual…) e morais (religiosa, política…).
- A liberdade pode ser positiva: abrange o poder da pessoa de se auto-conformar, dentro
dos limites impostos pelo respeito dos direitos dos outros, da ordem publica e dos bons
costumes; ou negativa: em que compreende a possibilidade de recusa de um determinado
comportamento, mesmo que juridicamente imposto (sujeitando-se às sanções
correspondentes), sendo que esta impede a execução especifica das limitações aos
direitos de personalidade.
Aula: 28/11/17
57
C) Projeção vital da personalidade: direito ao caracter (implica que ninguém possa ser
sujeito a meios de avaliação de caracter sem seu consentimento, embora possa ser
limitado por razões de justiça- ex. ser imputável ou inimputável). Contudo assistimos
hoje a avaliações de caracter não autorizado que, muitas vezes são imperceptíveis,
através de por exemplo os comportamentos online: conta de correio electrónico,
youtube, google, Amazon, eBay e redes sociais. + direito à historia pessoal (surge
como sentido de não divulgação da própria história que deveremos conservar para nós
sendo apenas divulgada mediante nosso consentimento- exemplo é violado nos casos
de publicação de Biografias não autorizadas, sendo que se essa biografia não
corresponder à realidade temos simultaneamente uma violação do direito à historia
pessoal e do direito à verdade, é limitado pelo próprio titular).
D) Direito à intimidade da vida privada: art. 80º- inclui o direito à solidão, consiste no
direito a estabelecer limites à entrada dos outros, sendo um direito que incide sobre a
informação do outro, inclui três esferas: esfera privada (abrange aspetos pessoais e
ligados à pessoa- onde vive, o estado civil e aspetos privado não pessoais, tais como
vida domestica, animais, sociais frequentados, bem como aspetos relativos à pessoa
que não do domínio publico); esfera pessoal (muito mais reservada, em que se
acentua o espaço de reserva da pessoa, o que afeta os conviventes e o cônjuge, é uma
esfera mais restrita, gostos e preferências e relações amorosas); e esfera de segredo
(dados secretos, diários, contas, médico ou advogado).
E) Direito à verdade profunda: é o direito de administrar a apropria verdade, o direito a
uma realização negativa, a negar a verdade de fundo. Liberdade de gerir a nossa
própria imagem face aos outros, direito à confidencialidade.
F) Direito à honra: art. 79º nº3 + art. 484º- consiste no direito à reputação e à imagem
que os outros têm da pessoa, independentemente da sua corresponderia com a
verdade. O que está aqui em causa não é a verdade pessoal, mas sim a reputação
externa da pessoa, independentemente da sua vontade. “todos temos direitos à
reputação, os outros devem respeitar-nos sem ser necessária a nossa intervenção”,
embora este direito possa ser violado pela divulgação de factos verdadeiros sobre a
pessoa, no caso de se divulgar uma noticia que viola a honra de alguém se essa
noticia for falsa temos violação da honra e da verdade, mas se essa noticia que coloca
em causa a reputação de alguém, mas é verdadeira, apenas é violada a reputação.
Assume tutela penal no âmbito dos artigos 180º (difamação) e 181º (injúria) do CP.
As esferas de honra dividem-se em duas camadas: a 1º é uma esfera de honra
invariável que diz respeito à honestidade e retidão no âmbito da honra familiar e
pessoal, sendo um círculo invariável, caraterizando-se por ser um direito indisponível,
à execução do decoro (aspeto mais disponível da honra); e a 2º conjunto de círculos
variáveis que são distintos de pessoas para pessoas: profissional ou deontológica
(bom nome e reputação), económica (direito ao crédito) e decoro (formas de vestir,
hábitos sociais). Os círculos variáveis permitem-nos avaliar a gravidade da agressão e
determinar a disponibilidade do direito pelo seu titular (a honra propriamente dita é
indisponível)—> o direito à honra pode ser limitado lei direito à informação, uma vez
que sempre que exista direito ao esclarecimento, não devendo confundir com o direito
à curiosidade mórbida do publico. (ex. Eleições, dever e direito do cidadão ser
informado pelo carácter dos candidatos que compõem a lista de votação). Um outro
limite é os limites da honra vs os limites da liberdade de expressão, em que a honra
58
deverá prevalecer dizendo que não se podem ultrapassar determinados limites, é uma
forma de garantia e protecção da honra e considera que esta liberdade poderá ser
exercida, mas sem afetar a honra. A liberdade de expressão deverá ser protegida mas
na medida em que não ponha em causa a honra.
Direito à identidade pessoal: direito inato, de identificação da pessoa sendo o que está
em causa é o direito em que uma pessoa não seja confundida com outra pessoa—> direito
ao nome (art. 72º, onde se permite a homonímia, mas o titular não pode utilizar o nome
de modo a prejudicar outrem) + direito ao pseudónimo (art. 74º só nos casos em que
tenha notoriedade, deve ser protegido nos mesmo termos que o direito ao nome.
Carateriza-se por ser mais amplo que o direito ano nome, que é uma irradiação deste,
embora este ultimo abrange outros elementos para alem do direito ao nome; + direito à
verdade pessoal: direito a que não se deforme a verdade através de informações falsas.
Direito à criação pessoal: é um direito inato, onde cabe o direito moral de alguém,
sendo violado quando é limitada a liberdade artística ou cientifica de alguém. Quando se
concretiza este direito passa-se a ser protegido como tal, através de um direito moral de
autor e patrimonial associado à exploração da obra (para falarmos em obra, os requisitos
indispensáveis são a sua originalidade e a sua objetividade). Contudo no que toca ao
direito moral de autor este já é um direito adquirido.
A lei protege:
- Direito à paternidade da obra (autoria da obra)
- Direito ao inédito (contolo da divulgação)
- Direito à intangibilidade da obra (não deformação da obra)
- Dignidade da obra (manutenção do seu sentido objetivo)
- Direito de sequência (direito do autor participar mas valorizações extraordinárias da
obra).
AULA: 04/12
Consentimento do ofendido
O consentimento do ofendido não tem por efeito extinguir o direito de personalidade, tem
como limite superior o direito à vida (ex. Doação do coração) e por outro lado, tem como
limite inferior as exigências da vida em sociedade, que excluem o próprio facto (ex.
“calcadela” no autocarro) e tem de se conformar com os princípios da ordem publica e
dos bons costumes.— artigo 340 nº2.—> o consentimento legitima comportamentos que
de outra forma seriam lesões desses mesmo direitos, pois o que o consentimento do
ofendido faz é paralisar temporariamente e de forma parcial o direito de personalidade
em questão.
59
personalidade surge no artigo 81º nº2 que se refere à possibilidade de haver
consentimento do lesado.
60
consentimento já pode ser prestado pelo menor desde que ele tenha discernimento para
tal.
- —> Em suma no caso do consentimento vinculante o representante legal, nos termos
gerais da incapacidade, acompanhado pelo menor no caso de ele já ter entendimento
suficiente para o consentimento, segue-se o mesmo para o autorizante, já no tolerante o
menor pode validamente prestar a sua concordância para a limitação do direito de
personalidade.
Aula: 05/12/17
61
(são nulos sempre que não respeitem os requisitos previstos na Lei,
nomeadamente, sempre que for estabelecida uma compensação ou se faltar a
forma – contrato necessariamente escrito, intervenção de várias entidades -). Se o
contrato é nulo, a Lei não estabelece quem será o progenitor da criança,
anteriormente, atribuía-se a maternidade à mãe gestante, a professora continua a
concordar com este entendimento, sob pena da criança ficar ao abandono.
Pelo menos um dos beneficiários tem que fornecer material genético para a
gestante, a criança não pode ser filho de outras pessoas sem que não seja de, pelo
menos, de um dos beneficiários. Se for uma mulher sozinha ou um casal
homossexual feminino tem que recorrer a um banco de esperma, caso seja um
casal heterossexual, o homem deve fornecer o seu esperma para a conceção do
embrião.
Para efeitos de declaração da parental idade, os dadores de sémen não são
relevantes. A Lei proíbe a compra e venda de material genético (art. 18º) e da
inseminação post mortem (art. 22º, com a exceção do número 3).
Capacidade
Capacidade de gozo – capacidade de ser titular de um dado circulo de relações jurídicas
Capacidade de exercício – capacidade de agir por ato próprio ou mediante um
representante.
Se passarmos para um circulo negocial, temos a aptidão para ser parte de um conjunto
de relações jurídicas e a capacidade negocial de exercer determinados direitos.
Já a incapacidade de exercício de direitos conduzirá a anulabilidade do negócio
jurídicos. Pode ser suprida através do instituto da representação legal e da assistência.
No caso da representação legal, o representante subsistiu-se ao incapaz e atua em
nome dele. O representante legal distingue-se sido representante voluntário, no primeiro é
a lei que determina em que situações é que o incapaz necessita de representação, não é
escolhido pelo incapaz porque este não tem capacidade negocial. Coisa diferente, seria a
possibilidade de um capaz escolher um representante, por exemplo, para eventos
médicos, contudo a lei civil só permite representação nos termos da lei e não por vontade
do representando mesmo que fosse capaz de escolher o representante. A representação é
utilizada em casos mais graves.
A representação surge para menores e para interditos
Na assistência, o assistente o que vai fazer é atuar ao lado do incapaz, neste sentido,
ele irá autorizar os atos que o incapaz não possa realizar por si. Neste caso, a iniciativa
negocial é do incapaz, não obstante não atua sozinho, atua mediante a intervenção do
assistente. A assistência é utilizada em casos menos graves porque permite a coadjuvação
do incapaz na atividade do assistente. A assistência é utilizada para inabilitados.
Quando existe uma situação de incapacidade de gozo esta conduz à nulidade dos
negócios jurídicos. Esta incapacidade é insuprível.
A lei prevê algumas hipóteses de incapacidade de gozo:
Incapacidades nupciais (1601º do CC)
Incapacidades de testar (2189º do CC)
Incapacidade para perfilhar (1850º do CC)
Estes casos não se confundem com as indisponibilidades relativas (art. 953º do CC).
62
Estes casos não se tratam de situações de incapacidade de gozo porque em nenhum
dos casos está em causa a proteção daquele a quem se veda a realização do negócio. O
que a lei pretende sempre é proteger o incapaz de si mesmo, protegê-lo relativamente à
sua falta de discernimento que é o que não se verifica em situações de
indisponibilidades relativas.
Relativamente às pessoas coletivas, a sua personalidade é instrumental e nestes
casos, a capacidade corresponde à personalidade, têm capacidade, na medida em que
prosseguem os seus fins, no caso das pessoas coletivas não á situações de
incapacidade de exercício, uma vez que há uma coincidência entre incapacidade de
gozo e de exercício.
63
Se o menor morrer, os seus herdeiros têm a possibilidade de vir a arguir a anulabilidade
dentro do próprio prazo que o menor tinha para arguir a anulabilidade, o prazo
é um ano a contar da morte, os herdeiros não têm só o prazo que o menor
ainda tinha.
A anulabilidade tem sempre um prazo, normalmente um ano, mas se as prestações não
estiverem a ser cumpridas, pode vir a qualquer momento. A arguição da
anulabilidade é sempre uma exceção. Numa ação que lhe é proposta com vista
ao pagamento, o individuo pode invocar a anulabilidade, nestes casos, já não
se aplica o artigo 125º do CC.
Exclui-se da anulabilidade o disposto no artigo 126º, não é dolo apenas dizer que é maior,
ele teve que usar artifícios de se fazer passar por maior (por exemplo, a
exibição de um documento falsificado). Há uma censura da lei relativamente a
este comportamento contraditório (fazer de tudo para a realização do negócio
e depois querer anulá-lo), a lei considera que o menor não é tão merecedor de
tutela
Em nenhuma hipótese a Lei permite a arguição da anulabilidade pela contraparte, apenas
os responsáveis legais e o menor podem arguir a anulabilidade.
O artigo 126º do CC deixa em aberto a possibilidade de arguição da anulabilidade por
parte dos representantes ou herdeiros. A tendência é que, relativamente aos
herdeiros, não têm também a possibilidade de arguir a anulabilidade porque se
baseia na mesma possibilidade do menor arguir a anulabilidade.
Em nenhuma hipótese a Lei vem permitir a arguição da anulabilidade pela
contra-parte, apenas os responsáveis legais e o menor podem arguir a
anulabilidade. O art. 126º CC deixa em aberto a possibilidade de arguição da
anulabilidade por parte dos representantes ou herdeiros. A tendência é que,
relativamente aos herdeiros, não têm também a possibilidade de arguir a
anulabilidade, porque se baseia na mesma possibilidade do menor arguir a
anulabilidade. Relativamente aos representantes legais, há quem entenda que
também os representantes legais não deverão ter essa possibilidade em caso de
dolo, mas também há quem entende diferentemente, uma vez que o papel dos
representantes legais é o de corrigir a atuação dos menores, o que lhes devia
dar a possibilidade de arguir a anulabilidade quando os menores agem com
dolo.
A incapacidade de menores é suprida mediante representação legal (124º do CC)
concretamente o poder parental (arts. 1877º e seguintes), compete aos pais exercer
atividades parentais no interesse dos filhos, tem um conteúdo patrimonial e pessoal.
Aula:11/12
Incapacidades de exercício
Menores
Responsabilidades parentais: arts. 1877º ss CC. O Código agora refere-se a
responsabilidades parentais, quando antes se referia a poderes paternais, para afastar a
ideia de poder.
Temos uma vertente pessoal (arts. 1885º a 1887º CC) e uma vertente patrimonial (arts.
1888º a 1900º CC), o dever de alimentos é recíproco entre pais e filhos, para os filhos
64
impõe-se após a maioridade dos filhos e na velhice dos pais.
Do art. 1888º CC exclui uma série de atos da administração dos pais, estes não podem
tudo.
O art. 1889º CC sujeita a autorização de tribunal de alguns atos dos pais.
O não cumprimento destas regras conduz à anulabilidade dos atos nos termos do art.
1893º CC.
Interdição
Segundo instituto de incapacidade de exercício. Tal como a menoridade, é uma
incapacidade geral, mas refere-se a maiores (diferentemente da menoridade). Também
diferentemente da menoridade, pressupõe um processo judicial, surge no culminar de um
processo judicial que avalia a incapacidade da pessoa em causa, a menoridade não
depende de um processo judicial, verifica-se com o facto naturalístico da idade, a menos
que seja emancipado pelo casamento antes dos 18 anos (aos 16 anos).
Tem que haver uma iniciativa processual e com motivos específicos (art. 138º CC). Os
regimes deste artigo vão ser mudados a breve prazo, o fundamento da interdição,
sobretudo relativo à surdez/mudez e à cegueira, que é considerado a nível europeu quase
pré-histórico, mas permanece a anomalia psíquica, ainda que também esta esteja a
contrair algumas convenções internacionais, nomeadamente a Convenção de Nova
Iorque, a tendência será de um aligeiramento muito grande do regime de interdição.
A incapacidade é geral, o indivíduo não pode praticar qualquer ato negocial, com
65
exceção dos previstos no art. 127º CC, aplica-se o regime da menoridade por analogia
(art. 139º CC). O legislador remete para o regime da menoridade, são em tudo
semelhantes, as únicas exceções são as previstas no art. 127º CC e os atos praticados são
anuláveis nos termos do art. 125º CC. O regime da menoridade é um regime regra para as
incapacidades gerais, que se aplica no caso das interdições.
Os fundamentos do art. 138º CC devem ser revistos brevemente, de todo modo, o
que está em causa são situações atuais, não são situações previsíveis ou passadas, exige-
se que sejam duradouros, ainda que possa haver intervalos de lucidez.
A sentença de interdição deverá ser registada (arts. 1920º-B e 1920º-C CC), ver
Código do Registo Civil, para publicitar a condição daquele incapaz. Relativamente aos
menores, a incapacidade é denotada pelo aspeto físico. Relativamente a maiores, adultos,
entendeu-se que seria necessário publicitar a situação de incapaz e isso é feito através do
registo da sentença.
Os interditos por anomalia psíquica são incapazes, mas a Lei faz distinções em relação
aos fundamentos. É mais incapacitante nos casos em que o fundamento é a anomalia
psíquica, os interditos não podem casar (art. 1601º CC) perfilhar (art. 1850º CC) 1913 e
1914 2189. A incapacidade das pessoas não varia conforme a sentença e é isto que vai ser
alterado com a Lei. O juiz define apenas se é interdito ou não, o juiz não tem qualquer
poder de afeiçoar às pessoas, não pode definir os atos interditos, define apenas se é ou
não e depois o regime aplicável é o da menoridade.
A Lei estabelece preferências sobre quem é tutor (art. 143º CC). Se recair sobre os
pais (art. 144º CC), as regras que se irão aplicar neste caso serão os arts. 1878º ss CC, as
regras das responsabilidades parentais e não as regras da tutela.
Um aspeto a ter em consideração prende-se com a validade dos atos. O regime de
interdição só se aplica no fim de um processo judicial e a Lei não se basta com a
sentença, para se aplicar o regime de interdição, só após o registo da interdição é que se
considera interdito. Então, o que se aplica antes da publicação da interdição? Depois do
registo da sentença, o negócio é anulável (art. 148º CC) e aplica-se o regime do art. 125º
CC quanto aos prazos e ao regime da interdição, por remissão do art. 139º CC.
Mas, na pendência da ação, há vários interesses em conflito, porque há um maior
perfeitamente capaz, ainda não se sabe qual o desfecho da sentença, logo, não pode ficar
privado da sua capacidade de agir, podemos estar a falar de alguém que, findo o processo,
que é perfeitamente capaz. Na pendência da ação aplica-se o art. 149º CC, é preciso
sentença e o registo da sentença, os negócios celebrados serão anuláveis, desde que se
verifiquem cumulativamente dois requisitos:
- interdição venha a ser verificada;
- e se mostre que o negócio provocou prejuízo ao interdito.
Este prejuízo reporta-se ao momento da celebração do negócio, desvalorizações
posteriores não podem ser consideradas. Por exemplo, se o interdito faz uma doação, é
gratuito, causa sempre prejuízo. Mas se for uma compra e venda por um preço justo é
válida, não causa prejuízo, ainda que venha a ser considerado interdito, os dois requisitos
têm que ser verificados.
No momento em que o negócio é celebrado não se consegue dizer se o negócio é
válido ou inválido, é necessário esperar pelo desfecho da ação, é um negócio que fica
numa expectativa, sem se saber se vai produzir os seus efeitos ou não.
Antes da interdição, estamos perante alguém perfeitamente capaz, em regra, o negócio é
66
válido e o único instrumento à disposição para proteger a pessoa são as regras gerais
aplicadas a qualquer pessoa, nomeadamente, o art. 257º CC, por remissão do art. 150º
CC. O art. 257º CC já não é uma regra de incapacidade de exercício, é aplicável a
qualquer pessoa capaz. O negócio será anulável se a pessoa não o livre exercício da sua
vontade e o facto é notório, a outra parte teria podido notar, ou, não sendo notório, é
conhecido da contraparte (aqui não precisa ser notório). Logo, alguém que disfarce muito
bem, o negócio é válido. Aqui, os requisitos já têm em conta os interesses da contraparte,
diferentemente do art. 149º CC. O art. 150º CC considera que a contraparte não pode ser
surpreendida por algo que não poderia saber, alguém maior, em plena capacidade de
exercício e cuja incapacidade não seria percetível. Incapacidade acidental
Este artigo da incapacidade acidental aplica-se em qualquer situação em que
alguém capaz se encontra acidentalmente incapaz ou é naturalmente incapaz, há uma
incapacidade de facto e não de direito. Assim sendo, apesar da Lei não o dizer, ele
também será aplicável na pendência da ação, logo, um negócio praticado na pendência da
ação, em que a pessoa relativamente à qual a ação está pendente, não sofre qualquer
prejuízo (um dos requisitos), mas a pessoa era notoriamente incapaz quando celebrou o
negócio, este não será anulável por via do regime do art. 149º CC, mas será por via do
regime do art. 257º CC. Também poderá ser aplicável nos casos excecionais em que o
interdito tem capacidade.
Nas hipóteses do art. 127º CC, excecionalmente, o interdito tem capacidade. Apesar
destes negócios, excecionalmente, serem válidos, se há uma incapacidade notória, os
negócios terão que ser anuláveis, também se aplica o art. 257º CC, mas só nos espaços
ínfimos de capacidade que o incapaz tem, casos muitos pontuais.
Aula: 12/12
Incapacidade (continuação)
Interdição
A ação judicial pode recusar a interdição de alguém, mas o juiz pode avaliar a
situação em causa e a sentença mais adequada ser a inabilitação ou vice-versa. O juiz não
está condicionado ao pedido inicial.
O que é avaliado pelo juiz é capacidade da pessoa atuar no campo negocial. A
interdição só pode ser requerida nos termos do artigo 141º, nº 1 do CC, tem que ser
alguém que esteja numa posição mais próxima da pessoa. É preciso ter atenção ao nº 2, se
a pessoa em causa estiver sujeita a poder paternal só os pais ou o MP podem interpor a
ação de interdição. Ainda há a hipótese que no último ano da menoridade se possa
interpor esta ação e que esta produza efeitos para a maioridade.
A interdição que está sujeita a sentença judicial, o seu levantamento também está
dependente da sentença nos termos do artigo 151º do CC e têm legitimidade para esse
levantamento as pessoas requerentes nos termos do artigo 141º, nº 1 e o próprio interdito.
Inabilitação
Fonte de incapacidade, também, resulta de uma decisão judicial
É uma hipótese menos grave quanto aos fundamentos, as situações que conduzem há
67
inabilitação são menos graves, o regime também é mais leve e não tão
incapacitante como na interdição.
Tem como fundamento dois grupos de causas:
o Art. 152º do CC – são fundamentos comuns da interdição e da
inabilitação, a única diferença é uma questão de grau. Avalia-se estes
fundamentos por perícias médicas porque se tratam de questões
patológicas.
o Art. 152º do CC - O abuso de estupefacientes, álcool e por isto não
consiga reger o seu património. Na interdição seria uma incapacidade
para gerir a própria pessoa e so seus bens. As situações de
prodigalidade são situações em que o sujeito esbanja o seu património
para além das suas possibilidades, é uma deficiência de caráter não é
considerada uma simples extravagância.
A sentença de inabilitação tem a possibilidade de adaptar o regime de inabilitação às
características próprias do inabilitado. A lei poderá ser alterada de forma a que
estes regimes mais favoráveis sejam alterados.
A Lei distingue:
o Atos de disposição de bens – na inabilitação apenas abrange atos de
disposição de bens deixando o inabilitado fazer a mera administração
dos seus bens. Se a sentença seguir um modelo previsto na Lei o
inabilitado não pode dispor dos seus bens, mas sim administrá-lo. Os
atos de disposição são atos que afetam a raiz, o cerne do património.
o Mera administração de bens – têm que ver com gestão do património. À
partida o inabilitado pode celebrá-los livremente a menos que a
sentença diga o contrário.
Conforme resulta dos artigos 153º e 154º o inabilitado tem que ser assistido pelo curador
para os atos de disposição e todos os demais previstos na sentença. Quanto à
administração do património esta cabe ao inabilitado nos termos do art. 154º,
nº 1 a contrario.
O artigo 156º do CC diz-nos que em tudo o que não esteja previsto no regime da
inabilitação se irá aplicar aquilo que está previsto no regime da interdição com
as necessárias adaptações. Quanto às pessoas que têm legitimidade para
propor a inabilitação, a matéria da legitimidade e prazos para arguir a
anulabilidade aplica-se o regime da interdição.
O levantamento da inabilitação está previsto no artigo 155º do CC. Para efeitos de
levantamento, a lei distingue consoante os fundamentos da inabilitação.
Relativamente à anomalia psíquica, surdez, mudez ou cegueira, a lei não
impõe qualquer restrição e se esse fundamento não se verificar não há prazo
para o levantamento, pode proceder-se ao mesmo sem mais; quanto à
prodigalidade, abuso de bebidas alcoólicas e consumo de estupefacientes o
legislador exige que um prazo “probatório” de 5 anos.
1850º do CC – o inabilitado por anomalia psíquica pode perfilhar desde que não esteja
completamente demente.
68
negócio, na media em que só têm legitimidade as pessoas a quem as incapacidades
aproveitas (os próprios através da representação e ou assistência ou os próprios quando
atingirem a maioridade).
Estes regimes distinguem-se das ilegitimidades conjugais (1682ºA e 1682ºB e
1683º do CC) como restrições ao principio da liberdade contratual que tinham que ver
com o facto de a pessoa ser casado, o facto de ser casado leva a que não se possa dispor
de bens de livre vontade e sem consulta do cônjuge. Existem atos que necessitam sempre
de autorização do cônjuge mesmo que o regime de casamento seja de separação geral de
bens, por exemplo, a questão do arrendamento da casa da família. Há outros atos que
dependem do consentimento de ambos os cônjuges em regimes de comunhão, sendo este
regime mais exaustivo do que os de separação.
Os negócios que violem esta regra são anuláveis a requerimento do cônjuge que não deu
consentimento ou os seus herdeiros se ele entretanto morrer. No entanto, há uma
especialidade quanto ao prazo, há um prazo especial nos termos do nº 2 do artigo 1687º
do CC. E um dos poucos casos em que existem dois prazos a correr em simultâneo –
prazo de 6 meses e 3 anos, respetivamente). Após estes três anos o cônjuge não pode
arguir a anulabilidade de forma alguma, o negócio fica consolidado.
69
nisto, existem duas modalidades de pessoas coletivas:
Pessoas coletivas de substrato pessoal (cooperações) – ter um substrato pessoa significa
que estas pessoas coletivas se constituem por um grupo de pessoas organizadas.
Pessoas coletivas de substrato patrimonial (fundações) – traduzem-se num conjunto de
bens organizado.
As pessoas coletivas são essenciais no tráfego negocial, a ideia aqui e potencia a ação
das pessoas humanas e permitir ás pessoas humanas ir mais alem do que aquilo que els
podiam ir por si só – as pessoas coletivas são meramente instrumentais, servem apenas de
auxilio ao Homem
Para que existam pessoas coletivas é sempre necessário o substrato, e a esse
substrato tem que se o unir um elemento de direito que é o reconhecimento so substrato,
dito de outra forma é atribuição de personalidade jurídica ao substrato.
O substrato tem que obedecer a determinadas características:
Elemento pessoal ou patrimonial, tem que haver sempre um conjunto de pessoas ou um
conjunto de bens.
Elemento teleológico – fim que pretende seguir. Pode ter um fim egoístico ou altruístico
(cooperação), contudo nas fundações o fim tem que ser sempre altruístico, a Lei
define que as fundações só podem ter um fim social.
O fim tem que ser um fim comum ou coletivo relativamente aos seus membros,
todos os membros devem prosseguir o mesmo fim.
Elemento intencional - animus personficandi. Um conjunto de pessoas tem que querer
criar a pessoa coletiva.
Elemento organizatório – a pessoas coletiva é dotada de órgãos que procedem
organização interna, esta organização interna obedece a estatutos.
Reconhecimento (elemento de Direito) – é o que dá personalidade à pessoa coletiva.
Distinguem-se dois:
o Reconhecimento normativo – a Lei estabelece determinados requisitos para
que uma modalidade de pessoas coletivas de possa formar e preenchidos
esses requisitos a personalidade jurídica adquire-se. Pode ser
incondicionado (basta o preenchimento dos requisitos seja preenchido para
ter personalidade jurídica) e condicionado (a Lei estabelece pressupostos
para além do concretizado)
o Reconhecimento de concessão – o reconhecimento é feito, caso a caso, pela
AP.
Art. 5º do Código das Sociedades Comerciais – adquire-se personalidade jurídica da
sociedade comercial.
70