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SCRUTON, Roger. Conservadorismo: um convite à grande tradição. 1ªed.

Rio de Janeiro,
Record, 2019.

A sociabilidade é uma das caraterísticas intrínsecas, essências e distintivas do ser humano.

A postura conservadora é uma inclinação ou disposição presente em qualquer organismo que


deseja viver.

O conservadorismo moderno é ao mesmo tempo produto e reação do iluminismo. A


ideogênese – a origem das ideias – a historiogênese – as forças sociais que formaram tal ideia.

“É um erro comum entre os historiadores do intelecto presumir que as ideia possuem uma
história autônoma própria e que uma ideia dá origem a outra, mais ou menos como um
sistema climático dá origem ao seguinte. Os marxistas, que veem as ideias como subproduto
das forças econômicas, cometem o erro oposto, afirmando que a vida intelectual é totalmente
subserviente às causas materiais. A vasta e destrutiva influência da teoria marxista é uma clara
refutação dessa afirmação. Como disse o conservador americano Richard Weaver no título de
seu famoso e influente livro, As ideias têm consequências (1948), e isso é verdade tanto para
as ideias conservadoras quanto para as propagadas pela esquerda. Para entender a pré-
história do conservadorismo, portanto, é preciso aceitar que as ideias possuem ampla
influência sobre os assuntos humanos, mas também, reconhecer que não surgem apenas de
outras ideias e frequentemente possuem raízes em condições biológicas, sociais e políticas
mais profundas que o argumento racional.” [SCRUTON, 2019, p.9-10]

“Nós, seres humanos, vivemos naturalmente em comunidades, unidos por laços de confiança
mútua. Precisamos de uma casa partilhada, um lugar seguro no qual nossa ocupação
permaneça indisputada e possamos pedir a ajuda de outros em caso de ameaça. Precisamos
de paz com nossos vizinhos e procedimentos que a assegurem. E precisamos do amor e da
proteção fornecidos pela vida familiar. Revisar a condição humana em qualquer um desses
aspectos é violar imperativos enraizados na biologia e nas necessidades da reprodução social.
Mas conduzir um argumento político como se esses fatores estivessem longe demais do reino
das ideias para merecer menção é ignorar todos os limites que devemos ter em mente se
quisermos que nossa filosofia política seja remotamente plausível. É precisamente o caráter
das utopias modernas ignora esses limites – imaginar sociedades sem lei (Marx e Engels), sem
famílias (R.D. Laing), sem fronteiras ou defesas (Sartre). E muita tinta conservadora foi
desperdiçada ( por mim, entre outros) na refutação de tais visões, adotadas somente por
pessoas incapazes de perceber a realidade e que, consequentemente, jamais serão
persuadidas por argumentos.” [SCRUTON, 2019, p.10-11]

“Comecemos, portanto, por listar algumas das características da condição humana que
definem os limites do pensamento político e que, de acordo com a maioria dos conservadores,
recebem a devida proeminência em sua filosofia. A primeira dessas características é o
pertencimento social. Os seres humanos vivem em comunidades e dependem delas para sua
segurança e felicidade. Em uma sociedade tribal, as pessoas se relacionam umas com as outras
através do parentesco ( que pode ser parcialmente mítico); em uma sociedade política, as
relações sociais são governadas pela lei, no Estado secular moderno, a lei é criada pelos
cidadãos, usualmente através de representantes eleitos, e pelos cidadãos, usualmente através
de representantes eleitos, e imposta por uma autoridade soberana. Essas três forma de
sociedade – tribal, religiosa e política – podem ser encontradas no mundo de hoje, embora
tenha sido a emergência da ordem política e inspiração original para o conservadorismo
moderno. Em uma leitura dos eventos, aliás, o conservadorismo surgiu como tentativa de
manter os valores do parentesco e da religião em comunidades que estavam sendo
reorganizadas por uma lei puramente política.” [SCRUTON, 2019, p.11]

“o pertencimento social caminha de mão dadas com a ligação individual. Os seres humanos
começam a vida ligados à mãe e à família que os abrigam e nutrem. Conforme avançam em
direção à idade adulta, os laços se afrouxam e se expandem. O jovem precisa menos da mãe e
da família, mas mais de amigos e de cooperação. Durante o curso da vida, costumes, lugares,
redes, instituições e maneiras partilhadas de ser amplifica nossas ligações e criam a sensação
de que estamos em casa no mundo em meio a coisa familiares e confiáveis. Essa sensação nos
é preciosa e sua perda causa ansiedade e luto. O mais importante impulso para o pensamento
conservador é o desejo de sustentar as redes de familiaridade e confiança das quais a
comunidade depende para sua longevidade. O conservadorismo é o que diz seu nome: a
tentativa de conservar a comunidade que temos – não em todas as suas particularidades, uma
vez que, como afirmou Edmund Burke, “precisamos reformar a fim de conservar”, mas em
todos os aspectos que asseguram a sobrevivência de longo prazo de nossa comunidade.”
[SCRUTON, 2019, p.11-12]

A obra O livro da selva (The Jungle Book) de Rudyard Kipling, escritor britânico nascido na Índia
em 1865, foi publicado em 1894. Tal obra exercei uma enorme influência no imaginário
popular. Sendo a estória de Mowgli adaptada ao cinema pela produtora Walt Disney.

Kipling, Lobato proporcionou importantes traduções para a língua portuguesa de contos


reunidos em dois de seus livros mais conhecidos, The Jungle Book e The Second Jungle Book,
traduções essas reeditadas por décadas e ainda em circulação no mercado editorial brasileiro,
apesar da existência de pelo menos meia dúzia de outras traduções de igual ou superior
qualidade e mérito. Este estudo pressupõe que Lobato parece ter tomado de Kipling um
razoável sopro de vento para o impulso de suas velas narrativas na longa travessia de
formação do literato reconhecido e empreendedor que se tornou.

Eliane Debus, em sua obra Monteiro Lobato e o leitor, percorre o extenso itinerário do leitor
Lobato em áreas tão diversas como a literária, a sociológica e a filosófica e apresenta-o como
um ficcionista cuja apropriação do material lido é, inegavelmente, formadora de seu projeto
literário como escritor e editor: Acreditamos que a relação de Lobato com o livro deve ser
pensada como algo anterior ao seu ofício de escritor e editor, pois antes de tudo ele foi leitor,
e ao exercer esse papel, refletiu sobre a partilha e a comunhão entre quem lê e o objeto lido.
Pressente-se, assim, do seu testemunho sobre o ato da leitura, muito do que ele realizou como
homem de letras e empresário do livro. (DEBUS, 2004, p. 27)

ê-se, desse ato de recepção de Kipling, construir-se em Lobato aquela capacidade admirável
referida por T. S. Eliot – seu “talento individual”. Esse talento individual, que emerge a partir
da reconstrução da tradição, sempre pontuado pelos reajustes e re-arranjos que o tempo de
Lobato impõe, parece estar a serviço de impulsos não menos modernos: da velocidade dos
periódicos
“Gosto imenso de traduzir certos autores. É uma viagem por um estilo. E traduzir Kipling,
então? Que esporte! Que alpinismo! Que delícia remodelar uma obra d’arte em outra língua!”
(LOBATO, 1951, v. 12, p. 327)

Kipling satisfazia ao gosto de Lobato e o teria inspirado grandemente no desenvolvimento de


seu próprio estilo de escrever, bem como na escolha de alguns de seus temas e na construção
da ambientação de seus contos.

“O francês anda a me engulhar todas as tripas. Como cansa aquela eterna historinha dum
homem que pegou a mulher do outro – como se a vida fosse só, só, só isso! A literatura inglesa
é muito mais arejada, variada, mais cheia de horizontes, árvores, bichos. Não há tigres nem
elefantes na literatura francesa, e a inglesa é toda uma arca de Noé. Só em Kipling há material
para um tremendo jardim zoológico: Kaa, Bagheera, Shere Khan, a macacada...” (LOBATO,
1951, v. 11, p. 225-226)

As próprias ideias democráticas de Lobato, que foi buscar da política inglesa, são ilustradas
com histórias contidas no The jungle book de Kipling. Em seu artigo “A rosa artificial”, explica
ele a origem do parlamentarismo inglês e a forma como o povo opina na constituição das leis,
sendo por ele descrita como “nascida por força da utilidade comum, como nasce a roseira”
(LOBATO, 1951, v. 6, p. 175). Elogia assim o sistema parlamentarista britânico. Mas diz que há
macacos no mundo e que os Bandar-Logs de Kipling não constituem ficção de novelista:

“ Os povos macacos, vendo o bom resultado do sistema inglês, adotaram-no bananescamente,


esquecidos de que imitar o inglês, seria, não tomar a rosa da roseira inglesa, mas deixar, como
ele, que a planta nacional abrochasse a tempo na sua flor, qualquer que fosse. O resultado
desse erro a história o vem registrando. (LOBATO, 1951, v 6, p. 175)”

Os Bandar-Logs são aqui comparados aos políticos brasileiros integrantes do Congresso. Em


nota do editor a esse artigo, escrito no tempo da presidência de Bernardes e começos da de
Washington Luís, diz-se que seu tom mostra como estava agudo o cepticismo em relação ao
Congresso nos últimos anos da República Velha. Mas quem são os Bandar- 576 Logs e em que
medida podem ser assim comparados aos personagens da política nacional da época de
Lobato? Vejamos na própria tradução de Lobato para O Livro da Selva:

“Eles não têm lei. São proscritos. Não têm linguagem. Usam palavras furtadas aqui e ali, pois
vivem escutando e espiando de cima dos galhos o que nós outros dizemos cá embaixo. Seus
usos não são os nossos. Chefes, não possuem. Também não guardam memória de nada.
Basofiam sem parar, pretendendo ser um grande povo prestes a iniciar grandes coisas na
Jangal. Mas assim que uma noz cai da árvore, põem-se a rir e esquecem de tudo. ... Eles são
numerosíssimos, maus, sujos, sem brio, animados pelo desejo único de serem vistos e
admirados por nós.” (KIPLING, 1954, p. 35)

Na leitura crítica da obra de Kipling, Lobato busca parâmetros para criticar o sistema político-
social que o cerca, tomando emprestados do universo ficcional elementos para ilustrar a falta
de rumo de nossas políticas. Põe-nos dessa forma em diálogo direto com a literatura inglesa,
por comparação, e mostra-nos que nosso problema é que não possuímos a segurança e o bom
senso de uma “lei da jângal”

Lobato criticava a falta de opções do leitor brasileiro e o despotismo das editoras. Em um de


seus ensaios críticos, elogia a Editora Nacional, dizendo:
“ A Editora Nacional rompeu com o mito. Começou a dar livros de autores outros que não os
franceses, e nessa literatura o povo, com certo espanto, começou a ver que o mundo não é
apenas bordel ou alcova, com uma eterna historinha de “lui, elle et l’autre”. Que há
descampados e florestas imensas, montanhas, planuras de neve, tigres e panteras e elefantes.
Que há perspectivas, em suma, e ar livre.”(LOBATO, 1951, v. 10, p. 324)

Todos esses cenários são encontrados na obra de Rudyard Kipling, cujo fascínio é indisfarçável
para Lobato. Ele urge tanto pelo contato do público brasileiro com a obra de 578 Kipling que
investe ele próprio, como tradutor, em duas delas, The Jungle Book e Kim, esta última
traduzida durante seu período de reclusão penitenciária e publicada em 1941 pela Companhia
Editora Nacional. Na selva e nas feras de Kipling, Monteiro Lobato vê representadas as diversas
facetas do ser humano, nas suas misérias e ambições, na sua engenhosidade e na sua
interação com o meio em que se acha inserido:

“O cenário de Kipling é quase sempre a Índia, como o de Jack London, outra alma pânica, é
quase sempre a fria terra do Alaska. Seus personagens nunca são os personagens franceses –
um macho que caça uma fêmea pertencente a um terceiro e num hotel exercita uma função
fisiológica que o deixa desapontado e de crista caída. É o tigre crudelíssimo e covarde – Shere
Khan; é a pantera negra de movimentos elásticos – Bagheera; é a tribo dos Bandar-logs, que
nas ruínas de uma cidade morta, engolida pela jângal, brinca de cidade, como nós aqui,
bandarloguissimamente, brincamos de país; é a serpente das rochas, Kaa, magnífica de velhice
e arte; é Jacala o Mugger do Mugger-Ghaut, velho crocodilo comedor de coolies; é Purun
Bhagat, o Primeiro Ministro de um principado indiano que se fez santo e gastou meia vida num
píncaro do Himalaia, meditando sobre o grande milagre da vida; é Quiquern, o cachorrinho do
esquimau Kotuko; é Dick Heldar, gênio artístico vitimado pela inferioridade egoística de uma
tal Maisie – a Mulher; é Kim, o menino que cavalgava canhões... “(LOBATO, 1951, v. 10, p. 325)

Segundo Lobato, Kipling é a vida, a natureza, o Ar Livre, a Fera, a Índia inteira e cada um de
seus contos é uma obra-prima. Quem percorre os dois tomos de A barca de Gleyre não terá
dificuldades em comprovar esse ato de recepção em Lobato.

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Rudyard Kipling é um célebre escritor britânico, conhecido por suas poesias,


romances e contos. Nascido em 1865, em Bombaim, Índia, então sob o domínio
imperialista inglês, o autor cresceu aprendendo os costumes ingleses e indianos, já
que vivia em um contexto que lhe dava experiências de ambas as culturas.

Um de seus livros mais conhecidos, senão o mais conhecido (principalmente depois


da adaptação cinematográfica da Disney, em 1967) é O livro da selva (The Jungle
Book), escrito em 1894. Mesmo que somente com a obra A luz que não se apagou o
autor tenha sido laureado com o Nobel, em 1907; foram as diversas histórias que
compõe as aventuras d’O livro da selva ficaram imortalizadas na versão Disney das
aventuras de Mowgli.

Longe de querer aqui atribuir maior importância a essa ou aquela obra, quero apontar
algumas considerações sobre as histórias curtas que integram a obra de 1894. Vale
lembrar ainda que Kipling é autor de outros clássicos como O homem que queria ser
rei (1888), Gunga Din (1890) e Kim (1901) entre outros.

Escrito em um período onde a Inglaterra era conhecida como o “Império onde o Sol
nunca se punha”, O livro da selva traz como personagens e ambientação elementos
da Índia, na época um protetorado britânico. Kipling, que viveu em Bombaim em sua
infância, soube captar aquilo que via em seu dia-a-dia através daquele olhar que
valorizava o exótico e a novidade vinda dos territórios imperiais da Coroa.

A Jungle ou a Selva é um mundo a parte, um universo coeso que existe com suas
próprias leis e próprias regras, sendo que os seus habitantes são deveras peculiares
em seus comportamentos e suas personalidades: há a sorrateira pantera negra
Bagheera, o nobre lobo cinzento Akela, o urso-professor Baloo, o sinistro tigre Shere
Khan, a pérfida cobra Kaa, o reservado abutre Chil, os insubmissos macacos (bandar
log) que não vivem conforme os preceitos da Lei da Selva, e muitíssimos outros
personagens. O autor consegue dar características particulares a cada um dos
personagens, dando-lhes uma plausibilidade dentro do contexto da Jungle muito
interessante, pois a Jungle se auto-gere, ela mesmo possui seus mecanismos de
regulação. Há Hathi, o elefante, rei da Jungle, cuja honra e bravura não são desafiadas
por nenhum animal, a cargo de quem fica a responsabilidade de mediar os conflitos
entre os animais.

Esse mundinho a parte, embora particular, não está descolada das aldeias dos homens,
onde cresce a flor vermelha (fogo), arma tão temida pelos animais; sendo qu e em
alguns contos (O livro da selva é formado por diversas pequenas histórias) os homens
penetram na Jungle em busca de riquezas ou para caçar os animais, ao passo que
esses últimos se organizam para expulsa-los de seus territórios. Os homens (não via
de regra, pois temos os pais de Mowgli que são exceção) costumam aparecer nas
histórias como gananciosos exploradores que não se preocupam com a preservação
da Jungle ou com o respeito aos seres que nela habitam; que não desejam nada senão
satisfazer seus desejos de riquezas e/ou vingança.

Cabe lembrar aqui que, justamente por ser uma reunião de histórias, existem várias
edições d’O livro da selva, que trazem muitas vezes somente uma parte dos contos
de Mowgli e os habitantes da Jungle. Vale a pena procurar mais a fundo para
encontrar mais contos. (Deixo aqui a minha dica por dois contos em especial que me
cativaram: Rikki-tikki-tavi e A foca branca)

Com enredos simples, mas amarrados e personagens carismáticos com


personalidades muito humanas, Kipling consegue fazer transparecer aquele ambiente
exótico e cheio de mistérios que é o território indiano para os que viviam na
Inglaterra. Cabe pensar aqui, conforme já apontado por Edward Said, que a literatura
produzida sobre os territórios dominados imperialisticamente tem um papel
importante na própria formação da “opinião pública” e das visões sobre esses povos
e culturas tão profundamente diferentes da cultura britânica.

Ao escrever talvez o seu poema mais polêmico, O fardo do homem branco (1899),
em que aparece essa visão de colonização e civilização das populações dos territórios
imperiais como “nobre tarefa” dos britânicos, Kipling fez com que o passar dos anos
lhe trouxesse muitos críticos, que viam com maus olhos essa sua convicção. Porém,
essa visão eminentemente britânica, que acreditava ser essa nação a defensora e
difusora da civilização, imprimiu marcas profundas em sua literatura e também nas
leituras que se fizeram dela. É preciso ter em mente esse fato, bem como que suas
obras, por mais que passassem uma imagem singular de uma realidade tida como
exótica e misteriosa, ainda possuem um valor literário a ser considerado e discutido,
criticado e pensado.

A Lei da Selva, que regulava a caça e organizava a vida na Jungle, muitas vezes se
mostrava mais “civilizada” que a do Imperialismo e todo o impacto que essa expansão
trouxe para os países dominados. Realmente, é algo de maior complexidade a ser
pensado.

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Bibliografia

KIPLING, Rudyard. Just So Stories. Kent: Wordsworth Editions, 1993. ______. Kim. London:
House of Stratus, 2001. ______. Kim. Tradução de Monteiro Lobato. São Paulo: Nacional, 1941.
______. Many Inventions. London: House of Stratus, 2001. ______. Mowgli – O Menino Lobo.
Tradução de Monteiro Lobato. São Paulo: Nacional, 1949. ______. The Jungle Book. London:
Penguin Books, 1994. ______. O Livro da Jangal. Tradução de Monteiro Lobato. São Paulo:
Nacional, 1954. LOBATO, Monteiro. A barca de Gleyre. 1º Tomo. São Paulo: Brasiliense, 1951.
11 v. ______. A barca de Gleyre. 2º Tomo. São Paulo: Brasiliense, 1951. 12 v. ______. América.
São Paulo: Brasiliense, 1951. 9 v. 582 ______. Idéias de Jeca Tatu. São Paulo: Brasiliense, 1951.
4 v. ______. Mundo da lua e miscelânea. São Paulo: Brasiliense, 1951. 10 v. ______. Na
antevéspera. São Paulo: Brasiliense, 1951. 6 v. ______. Negrinha. São Paulo: Brasiliense, 1951.
3 v. ______. Prefácios e entrevistas. São Paulo: Brasiliense, 1951. v. 13. ______. Urupês. São
Paulo: Brasiliense, 1951. 1 v.

Joseph de Maistre

Na obra “Considerações sobre a França” (1797) no Capítulo VI “Da influência divina nas
constituições políticas” onde condensa as ideias da obra Étude sur la Souveraineté escrita entre
1794-1796 e que só foi publicado em 1870.

“O homem pode modificar tudo dentro de sua esfera de atividade, mas não cria nada: essa é a
sua lei, para a física como para a moral. Pode, indubitavelmente, plantar uma semente, fazer
uma árvore crescer e apefeicoá-la por meio de enxerto ou centenas de podas diferentes;
porém, jamais imaginaria que tivesse o poder de fazer uma árvore. Como imaginou que tivesse
o de fazer uma constituição? Seria pela experiência? Observemos o que ela nos ensina.”
[MAISTRE, p.214]

“Todas as constituições livres conhecidas no mundo originaram-se de duas maneiras: algumas


vezes germinaram, por assim dizer, de uma maneira insensível, pela reunião de uma multidão
dessas circunstâncias que designamos como fortuitas; em outras, tiveram um autor único que
apareceu como um fenômeno e fez-se obedecer. Em ambos os casos, vê-se como Deus nos
recorda de nossa fraqueza e do direito que ele se reservou na formação dos governo:
I. Nenhuma Constituição é o resultado de uma deliberação; os direitos dos povos jamais são
escritos, ou, ao menos, os atos constitutivos ou as leis fundamentais escritas são apenas título
declaratórios de direitos anteriores, dos quais não se pode dizer outra coisa senão que existem
porque existem.” [MAISTRE, p.214-215]

“Todavia, não se trata do mérito intrínseco da Constituição. [...] Indicarei apenas o erro teórico
que serviu de base a essa Constituição, e que extraviou os franceses desde a primeira hora da
Revolução. A Constituição de 1795, como suas predecessoras, foi feita para o homem. Mas
não existe no mundo nada que se possa chamar de homem. Ao longo da minha vida, tenho
visto franceses, italianos, russos, etc.; sei também, graças a Montesquieu, que se pode ser
persa. Mas, quanto ao homem, afirma que, em toda minha vida, jamais o encontrei; se ele
existe, desconheço-o completamente. [...] Pode-se propor essa Constituição a todas as
associações humanas, da China até Genebra. Mas uma Constituição que é feita para todas as
nações, não é feita para nenhuma: é uma pura abstração, uma obra escolástica feita para
exercitar o espírito, partindo de uma hipótese ideal, e que está destinada ao homem, nos
espaços imaginários em que habita. O que é uma Constituição ? Não é a solução do seguinte
problema? Dados a população, os costumes, a religião, a situação geográfica, as relações
políticas, as riquezas, os bons e maus atributos de uma determinada nação, encontrar as leis
que lhe convenham. Porém, esse problema nem sequer foi abordado na Constituição de 1795,
que só conseguiu pensar no homem.” [MAISTRE, p.219]

“O legislador assemelha-se ao Criador: não trabalha sempre, engendra e depois repousa. Toda
legislação verídica possui seu sabbat, e a intermitência é seu caráter distintivo, de sorte que
Ovídio enunciou uma verdade de primeira ordem quando proferiu: Quo caret alternâ requie
durabile non est. [O que se priva da alternância do repousa não é duradouro] Se a perfeição
fosse um apanágio da natureza humana, cada legislador só falaria uma vez; mas, ainda que
todas as nossas obras sejam imperfeitas e, na medida em que as instituições políticas se
deterioram, o soberano esteja obrigado a sustentá-las com o apoio de novas leis, todavia, a
legislação humana aproxima-se de seu modelo por essa intermitência que falava há um
instante.” [MAISTRE, p.220]

“O edifício de tais leis é uma obra de atlantes, cuja contemplação produz vertigem. Mas o
estupor logo se converte em compaixão, quando se pensa na nulidade dessas leis; e não se vê
senão crianças que se matam para construir um castelo de cartas.” [MAISTRE, p.221]

Maistre denominou a Constituição francesa de 1791, fruto da revolução de 1789, “a


Constituição de 1791 foi um belo monumento de desatino” [MAISTRE, p.221]

“Se essa Constituição estivesse feita para os franceses, todos os dias a força invencível da
experiência conquistar-lhe-ia novos partidários. Ora, ocorre justamente o contrário: cada
minuta testemunha um novo desertor da democracia: somente a apatia e o medo conservam
o trono dos Pentarcas, e todos os viajantes mais esclarecidos e isentos que percorreram a
França, repetem um uníssomo: é um república sem republicanos. E se, como se pregou em
demasia aos reis, a força dos governos residir inteiramente no amor dos súditos; se o temor
for, por si só, um meio insuficiente para manter as soberanias, o que pensar da República
francesa? Abri os olhos e vereis que ela não vive! Que imenso aparato, quantas molas e
engrenagens, que estrepitoso chocar de peças, que enorme quantidade de homens
mobilizados para repara os danos! Tudo anuncia que a natureza está ausente nesses
movimentos, pois a primeira caraterística de suas criações é o poder unido à economia de
meios: como tudo está no seu lugar, não há ondulações ou abalos; como os atritos são suaves,
não há ruídos, e este silêncio é augusto. É assim que, na mecânica física, a ponderação
perfeita, o equilíbrio e a simetria exata das partes fazem que da própria celeridade do
movimento resulta uma grata aparência de repouso. Não há, pois, soberania na França. Tudo é
factício e violento; tudo anuncia que tal ordem de coisas não pode durar.” [MAISTRE, p.222]

“A filosofia moderna é ao mesmo tempo demasiado materialista e presunçosa para perceber


o verdadeiro funcionamento do mundo político. Um de seus desatinos consiste em acreditar
que uma Assembléia possa constituir uma nação; que uma Constituição, isto é, o conjunto de
leis fundamentais que convêm a uma nação e que hão de lhe dar uma forma de governo ou
outra, seja uma obra como outra qualquer, que exige apenas inteligência, conhecimentos e
prática; que alguém possa aprender o ofício de constituinte, e que alguns homens, no dia que
se lhes ocorra, possam dizer a outros homens: faça-nos um governo, como se diz a um
operário: faça-nos uma bomba a vapor ou um tear de meias.” [MAISTRE, p.222]

Metapolítica

“Entretanto, há uma verdade tão certa, em seu gênero, quanto uma proposição matemática:
que nenhuma grande instituição é o resultado de uma deliberação, e que as obras humanas
são frágeis em proporções ao número de homens que delas participam e ao aparato de ciência
e de razoamento que nelas se empregam a prior. Uma Constituição escrita tal como a que
atualmente rege os franceses, não passa de um autômato, que só possui formas exteriores de
vida. O homem, por suas próprias forças, logra no máximo ser um Vaucanson; para ser
Prometeu, é preciso remontar ao céu, pois o legislador não se pode fazer obedecer nem pela
força nem pelo raciocínio.” [MAISTRE, p.223]

“[...] a Constituição só existe no papel. É observada ou violada segundo a conveniência dos


governantes: o povo não conta para nada e os ultrajes que lhe são endereçados sob o véu do
respeito por seus líderes, são bem próprio para curá-lo dos seus erros.” [MAISTRE, p.223]

“Tão incrível é a fragilidade do poder humano abandonado a si mesmo, que nem sequer é
capaz de estabelecer uma moda.” [MAISTRE, p.224]

“O funcionário público coberto desses símbolos desonrosos é muito semelhante a um desses


ladrões, que se pavoneia com o traje da última vítima.” [MAISTRE, p.224]

Na verdadeira Constituição de um povo deve haver algo que supere a arbitrariedade humana.

Numa verdadeira Constituição o governo não governo senão pela lei e não tem o poder de
fazer tudo o que lhe apeteça. As clausulas pétreas são leis essenciais, portanto, mais
importantes que as leis circunstanciais e os hábitos.

As forças armadas não devem se interpor na vida civil. As forças armadas devem ser utilizadas
contra os inimigos, e não contra o cidadão que está submetido à justiça nacional.
“[...] quando um povo não sabe tirar proveito de suas leis fundamentais, é inútil que busque
outras: é sinal de que não está feito para a liberdade ou de que está irremissivelmente
corrompido. [MAISTRE. P.233]

“Mas importa, sobretudo, precaver-se contra o enorme erro de crer em que a liberdade seja
qualquer coisa de absoluta, não suscetível de mais ou de menos. [...] Outro erro muito funesto
é o de ater-se rigidamente aos monumentos antigos. É necessário, sem dúvida, respeitá-los;
porém, acima de tudo, há de se levar em conta o que os jurisconsultos chamam de o último
estado. Toda Constituição livre é, por natureza, variável, e variável na medida em que é livre;
querer reconduzi-la a seus rudimentos, sem renunciar a nada, seria puro desatino.” [234-235]

Problema da mentalidade revolucionária.

“Tudo concorre para demonstrar que os franceses almejaram ultrapassar o poder humano;
que esses esforços desordenados os conduzem à escravidão; que não necessitam senão
conhecer o que já possuem, já que, se estão feitos para um grua superior de liberdade do que
o experimentado há sete anos (o que não é de todo claro), encontram à mão, em todos os
monumentos de sua história e de sua legislação, tudo o que for necessário para restituir-lhes a
honra e a inveja da Europa.” [MAISTRE, p.235]

“Nada se iguala a paciência desse povo que se proclama livre. Em cinco anos, fizeram-lhe
aceitartrês constituições e o governo revolucionário. Os tiranos sucedem-se, e o povo segue
obedecendo. Jamais se viu triunfar um único esforço de sua parte para escapar à sua nulidade.
Seus senhores chegaram a aniquilá-lo, escarnecendo-se dele ao mesmo tempo. Disseram-lhe:
Crede que não quereis esta lei, mas podeis estar seguros de que a quereis. Se ousardes recusá-
la, sereis metralhados como punição por não quererdes o que quereis. – E assim o fizeram.”
[MAISTRE, p.240]

“Porém, que somos nós, débeis e cegos humanos, e o que é essa luz trêmula que chamamos
Razão? Quando tivermos reunido todas as probabilidades, interrogado a história, discutido
todas as dúvidas e todos os interesses, ainda podemos abraçar uma névoa enganosa no lugar
da verdade. [...] Ah, uma nuvem sombria oculta o porvir, e nenhum olho pode trespassar essas
trevas.” [MAISTRE, p. 243]

“O povo não conta para nada nas revoluções ou, ao menos, conta só como instrumento passivo.”
[MAISTRE, p.244]

“Na política, como na mecânica, as teorias enganam, se não se levarem em conta as diferentes
qualidades dos materiais que formam as máquinas.” [MAISTRE, p.245]

“Na Revolução Francesa, o povo tem sido constantemente acorrentado, ultrajado, arruinado,
mutilado por todas as facções; e as facções, por sua vez, joguetes umas das outras, têm ido
constantemente à deriva, apesar de seus esforços, para finalmente espatifar-se no escolho que
as esperava.” [MAISTRE, p. 246-247]

“Para fazer a Revolução Francesa, foi preciso abater a religião, ultrajar a moral, violar todas as
propriedades e perpetrar todos os crimes: para esta obra diabólica foi preciso empregar um tal
número de homens viciosos, que nunca talvez tantos vícios tenham agido em concerto para
operar mal. Ao contrário, para restabelecer a ordem, o rei convocará todas as virtudes: em
dúvida, será este seu desejo; contudo, pela própria natureza das coisas, será forçado a isso. Seu
interesse mais premente será o de aliar a justiça à misericórdia; os homens mais estimáveis virão
por si mesmos a ocupar os lugares em que possam ser úteis; e a religião, emprestando seu cetro
à política, dar-lhe-à forças que só desta augusta irmã pode receber.” [MAISTRE, p.250]

Mentalidade Conservadora

“Porém, quando o homem trabalha para restaurar a ordem, associa-se ao seu autor; e vê-se
favorecido pela natureza, isto é, pelo conjunto das causas secundárias, que são os ministros da
Divindade. Sua ação tem algo de divino sendo, ao mesmo tempo, suave e imperiosa. Nada força,
e nada lhe resiste. Saneia as coisas ao ordená-las: à medida que opera, vê-se cessar essa
inquietude, essa agitação penosa, que é o efeito e o sintoma da desordem; como, sob as mão
de um cirurgião hábil, o membro deslocado é advertido de que voltou a se encaixar pelo
cessamento da dor.” [MAISTRE, p.250]

“Franceses, é em meios aos cantos infernais, das blasfêmias do ateísmo, dos gritos de morte e
dos prolongados gemidos da inocência degolada; é o resplendor das chamas, sobre as ruínas do
trono e dos altares – regada com o sangue do melhor dos reis e de outras inumeráveis vítimas -
; é no desprezo dos bons costumes e da fé pública, em meio a todos os crimes, que vossos
sedutores e vossos tiranos fundaram aquilo que chamam de vossa liberdade.” [MAISTRE, p.250-
251]

“Como todas as peças da máquina política têm uma tendência natural para o lugar que lhes é
designado, essa tendência, que é divina, favorecerá todos os esforços do Rei; e como a ordem é
o elemento natural do homem, nela encontrareis a felicidade que em vão buscais na desordem.
A Revolução fez-vos sofrer porque foi obra de todos os vícios, e os vícios são, com toda justiça,
os verdugos do homem.” [MAISTRE, p.251]

“Em vossos planos de criação e de restauração, esqueceis ninguém menos que Deus; separaram-
vos dele: é só mediante um esforço de raciocínio que elevais vossas reflexões até a fonte
inesgotável de toda existência. Quereis enxergar apenas o homem – sua ação tão débil, tão
dependente, tão circunscrita; sua vontade tão corrompida, tão vacilante – e a existência de uma
causa superior é somente uma teoria para vós.” [MAISTRE, p.251]

Observação : sem o conhecimento da natureza das coisas o homem é forte somente para
destruir .

“Não vereis nenhuma instituição, por menor que seja sua força e duração, que não repouse
sobre uma ideia divina, independente de sua natureza: pois não há sistema religiosa que seja
inteiramente falso. [MAISTRE, p.251-252]

“O poder usurpador imolava os inocentes...” [MAISTRE, p.254]

O problema da Soberania na República

“Se se considera a questão sob um ponto de vista mais geral, ver-se-á que a Monarquia é,
inequivocamente, o governo que mais distribui distinções a um maior número de pessoas. A
soberania, nessa espécie de governo, possui suficiente brilho para comunicá-lo em parte, com
as gradações necessárias, a uma multidão de agentes aos quais distingue mais ou menos. Na
República, a soberania não é palpável como na monarquia; é um ente puramente moral, e sua
grandeza é incomunicável: assim, os empregos da República nada são fora da cidade me que
reside o governo e, ainda por cima, só valem quando ocupados por membros do governo. É o
homem, portanto, que honra o emprego, e não em prego que honra o homem: este não brilha
como agente, mas como parte do soberano.” [MAISTRE, p.255]

Joseph de Maistre se utiliza de Vico para tratar da religião natural. Na sua nota 728: “Um sábio
italiano fez uma singular observação. Após ter observado que a nobreza é a guardiã natural e,
num certo sentido, depositária da religião natural, e que este caráter é mais evidente à medida
que se remonta à origem das nações e das coisas, acresce: [“É tal modo um grande signo de
decadência para uma nação que os nobres desprezem a religião nativa.”] Vico. Principi di Scienza
nuova, Lib. II., Napoli, 1754, in-8º, p.246. Quando o sacerdócio é membro político do Estado e
suas altas dignidades estão ocupadas, em geral, pela nobreza, disso resulta a mais forte e
durável de todas as Constituições possíveis. Assim, o filosofismo, que é o solvente universal,
acaba de empreender sua obra-prima sobre a Monarquia francesa.” [MAISTRE, p.267]

“O retorno à ordem não pode ser doloroso, porque será natural, e porque será favorecido por
uma força secreta, cuja ação é totalmente criadora. Ver-se-á precisamente o contrário do que
se tem visto. Ao invés daquelas comoções violentas, daquelas dilacerações dolorosas, daquelas
oscilações perpétuas e desesperadoras, uma certa estabilidade, um repouso indefinível, um
bem-estar universal, anunciarão a presença da soberania. Não haverá abalos, nem violências,
nem sequer suplícios, salvo aqueles que a verdadeira nação aprovar: mesmo o crime e a
usurpação serão tratados com uma severidade comedida, como um justiça tranquilo que só
pertence ao poder legítimo. [MAISTRE, p.271]

Degradação perpetuada

“Ofereceram tamanhas provas de paciência que não há nenhum gênero de degradação que não
possam temer.” [MAISTRE, p.241]

Transplante de Instituições, invencionices e estrovengas.

A Constituição tem por função salvar a nação de flutuações aviltantes.

Indivíduo isolado e o indivíduo associado.

Os indivíduos isolados são como fios que se rompem facilmente, mas quando unidos formam
um cabo que suporta as tensões e cargas.

“Mal foram plantados e semeados, mal se arraigou na terra o seu tronco, já se secam, quando
um sopro passa por eles, e uma tempestade os leva como palha.” [Isaías 40:24]

“Nenhuma nação pode-se atribuir um governo: só quanto tal ou qual direito existe em sua
Constituição...” [MAISTRE, p. 248] Na nota feita pelo próprio Joseph de Maistre, nota 703, ele
diz: “Refiro-me à sua Constituição “natural”, pois sua Constituição “escrita” é apenas papel.”

“[...] a razão humana, reduzida às suas forças individuais, é perfeitamente incapaz não apenas
da criação, mas também da preservação de qualquer associação religiosa ou política, uma vez
que só engendra disputas enquanto homem, para ser conduzido, não necessita de problemas,
mas de crenças.” REESCREVER

JOSEPH DE MAISTRE

Maistre no prefácio à obra Essai sur le príncipe Générateur des constitutions politiques et des
autres institutions humaines. (Ensaio sobre o princípio gerador das constituições políticas e de
outras instituições humanas.) de maio de 1814.

“Mais c’est dans ce que la politique a de plus substantiel et de plus fondamental, je veux dire
dans la constitution même des empires, que l’observation dont il s’agit revient le plus souvent.
J’entends dire que les philosophes allemands ont inventé le mot métapolitique pour être à
celui de politique ce que le mot métaphysique est à celui de physique. Il semble que cette
nouvelle expression est fort bien inventée pour exprimer la métaphysique de la politique; car il
y en a une, et cette science mérite toute l'attention des observateurs.” [MAISTRE, p.227-228]

“Un écrivain anonyme qui s'occupait beaucoup de ces sortes,de spéculations, et qui cherchait
à sonder les fondements cachés de l'édifice social, se croyait en droit, il y a près de vingt ans,
d'avancer, comme autant d'axiomes incontestables, les propositions suivantes;
diamétralement opposées aux théories du temps.” [MAISTRE, p.228]

“1° Aucune constitution ne résulte d’une délibération : les droits du peuple ne sont jamais
écrits, ou ils ne le sont que comme de simples déclarations de droits antérieurs non écrits.

2° L’action humaine est circonscrite dans ces sortes de cas, au point que les hommes qui
agissent ne sont que des circonstances.

3° Les droits des peuples proprement dits, partent presque toujours de la concession des
souverains, et alors il peut en conster historiquement: mais les droits du souverain et de
l’aristocratie n’ont ni date ni auteurs connus.” [MAISTRE, p.228]

“4° Ces concessions même ont toujours été précédées par un état de choses qui les a
nécessitées et qui ne dépendait pas du souverain.

5° Quoique leslois écrites ne soient jamais quedes déclarationsde droits antérieurs, il s'en faut
de beaucoup cependant que tous ces droits puissent être écrits.

6° Plus on écrit, et plus l'institution est faible.

7° Nulle nation ne peut se donner la liberté, si elle ne l'a pas; l'influence humaine ne s'étendant
pas au delà du développement des droits existants.” [MAISTRE, p.228-229]

“8° Les législateurs proprement dits sont des hommes extraordinaires qui n'appartiennent
peutêtre qu'au monde antique et à lajeunesse des nations.

9° Ces législateurs, même avec leur puissance merveilleuse, n'ont jamais fait que rassembler
des élements préexistants, et toujours ils ont agi au nom de la Divinité.

10° La liberté, dans un sens, est un don des Rois; car presque toutes les nations libres furent
constituées par des Rois.” [MAISTRE, p.229]
“11° Jamais il n’exista de nation libre qui n’eùt dans sa constitution naturelle des germes de
liberté aussi anciens qu’elle, et jamais nation ne tenta efficacement de développer par ses lois
fondamentales écrites d’autres droits que ceux qui existaient dans sa constitution naturelle.

12° Une assemblée quelconque d’hommes ne peut constituer une nation. Une entreprise de ce
genre doit même obtenir une place parmi les actes de folie les plus mémorables.” [MAISTRE,
p.230

Depois do prefácio no início desse mesmo ensaio Maistre é categórico.

“I. Une des grandes erreurs du siècle qui les professa toutes, fut de croire qu'une constitution
politique pouvait être écrite et créée à priori, tandis que la raison et l'expérience se réunissent
pour établir qu'une constitution est une oeuvre divine, et que ce qu'il y a précisément de plus
fondamental et de plus essentiellement constitutionnel dans les lois d'une nation ne
sauraitêtre écrit.” [MAISTRE, p.235]

[Um dos grandes erros do século que professava a todos eles era acreditar que uma
constituição política poderia ser escrita e criada a priori, enquanto razão e experiência se
reúnem para estabelecer que uma constituição é uma obra divina, e que precisamente o que é
mais fundamental e essencialmente constitucional nas leis de uma nação não pode ser
escrito.]

Observação: Maistre é crítico daquela concepção do estado de natureza liberal onde o homem
é um indivíduo libre, pacífico e autossuficiente. E perde todos essas qualidades ou
propriedades naturais ao entrar na sociedade, o convívio é o modo pelo qual a vontade
particular, ou seja, todas as liberdades individuais são renunciadas. É como que se a sociedade
fosse a porta do inferno da “Divina Comédia” de Dante Alighieri: “Ó, vós que entrais,
abandonai toda a esperança”.

Maistre na obra “Étude sur la Souveraineté” (Estudo sobre a Soberania) escrita entre 1794-
1796 e que só foi publicado em 1870.

No capítulo II “Origine de la société”.

“Ainsi, par exemple, on a longuement disputé sur l'origine de la société; et au lieu de la


supposition toute simple qui se présente naturellement à l'esprit, on a prodigué la
métaphysique pour bâtir des hypothèses aériennes réprouvées par le bon sens et par
l'expérience.” [MAISTRE, p.315]

“Lorsqu'on met en problème les causes de l'origine de la société, on suppose manifestement


qu'il a existé pour le genre humain un temps antérieur à la société ; mais c'est précisément ce
qu'il faudrait prouver.” [MAISTRE,p.315]

“L'homme isolé n’est donc point l’homme de la nature; l'espèce humaine même n'était point
encore ce qu'elle devait être lorsqu'un petit nombre d'hommes était répandu sur une grande
surface de terrain. Alors il n'y avait que des familles, et ces familles ainsi disséminées n'étaient
encore, individuellement ou par leur réunion future, que des embryons de peuples.” [MAISTRE,
p.316]

“L'histoire nous montre constamment les hommes réunis en sociétés plus ou moins
nombreuses, régies par différentes souverainetés. Dès qu'ils se sont multipliés jusqu'à un
certain point, ils n'ont pu exister autrement. Donc, à proprement parler, il n'y a jamais eu pour
l'homme de temps antérieur à la société, parce qu'avant la formation des sociétés politiques,
l'homme n'est point tout à fait homme, et qu'il est absurde de chercher les caractères d'un
être quelconque dans le germe de cet être.
Donc la société n'est point l'ouvrage de l'homme, mais le résultat immédiat de la volonté du
Créateur qui a voulu que l'homme fût ce qu'il a toujours et partout été.” [MAISTRE, p. 317]

“Rousseau et tous les raisonneurs de sa trempe se figurent ou tâchent de se figurer un peuple


dans l'état de nature (c'est leur expression), délibérant en règle sur les avantages et les
désavantages de l'état social et se déterminant enfin à passer de l'un à l'autre. Mais il n’y a pas
l'ombre de bon sens dans cette supposition. Que faisaient ces hommes avant cette Convention
nationale où ils résolurent enfin de se donner un souverain? Ils vivaient apparemment sans
lois, sans gouvernement; et depuis quand?

C’est une erreur capitale de se représenter l'état social comme un état de choix fondé sur le
consentement des hommes, sur une délibération et sur un contrat primitif qui est impossible.
Quand on parle de l’état de nature par opposition à l’état social, on déraisonne
volontairement.” [MAISTRE, p.317-318]

“«L'ordre social», dit Rousseau, «est un droit sacré qui sert de base à tous les autres.
Cependant ce droit ne vient point de la nature : il est donc fondé sur des conventions. »
(Contrat social, ch. 1.) Qu’est-ce que la nature ? Qu’est-ce qu’un droit? Et comment un ordre
est-il un droit ?... Mais passons sur ces difficultés: les questions ne finiraient pas avec un
homme qui abuse de tous les termes et n'en définit aucun. On a droit au moins de lui
demander la preuve de cette grande assertion: «L'ordre social ne vient point de la nature». —
« Je dois », dit-il lui-même, «établir ce queje viens d'avancer.» C'est en effet ce qu'il aurait fallu
faire; mais la manière dont il s'y prend est vraiment curieuse. Il emploie trois chapitres à
prouver que l'ordre social ne vient ni de la société de famille, ni de la force ou de l'esclavage
(chap.2, 3, 4), et il en conclut (chap. 5) qu'il faut toujours remonter à une première convention.
Cette manière de démontrer est commode; il n'y manque que la formule majestueuse des
géomètrès: «ce qu'il fallait démontrer».
Il est aussi singulier que Rousseau n’ait pas seulement essayé de prouver l’unique chose qu’il
fallait prouver: car si l’ordre social vient de la nature, il n’y a point de pacte social.” [P.319]

«Avant que d'examiner », dit-il, « l'acte par lequel un peuple élit un roi, il serait bon
d'examiner l'acte par lequel un peuple est un peuple : car cet acte, étant nécessairement
antérieur à l'autre, est le vrai fondement de la société.» (Ibid., chap. 5.)— «C’est la manie
éternelle des philosophes», dit ailleurs ce même Rousseau, «de nier ce qui est et d’expliquer
ce qui n’est pas (Nouvelle Heloïse).» Ajoutons de notre côté; C'est la manie éternelle de
Rousseau de se moquer des philosophes (Emile), sans se douter qu'il était aussi un philosophe
dans toute la force du sens qu'il attribuait à ce mot: ainsi par exemple le Contrat social nié d'un
bout à l'autre la nature de l'homme, qui est, — pour expliquer le pacte social, qui n'existe pas.”
[MAISTRE, p.319-320]
A Revolução Francesa submeteu a religião à filosofia operando um movimento inverso mas
não menos danoso do que aconteceu no Islam onde a falsafa (filosofia) foi submetida à
teologia (kalam).

“C'est ainsi qu'on raisonne quand on sépare l'homme de la Divinité. Au lieu de se fatiguer pour
ne trouver que l'erreur, il en coûterait peu de tourner les yeux vers la source des êtres ; mais
une manière de philosopher si simple, si sûre et si consolante n'est pas du goût des écrivains
de ce malheureux siècle dont la véritable maladie estl'horreur du bon sens. Ne dirait-on pas
que l'homme, cette propriété de la Divinité (3), est jeté sur la terre par une cause aveugle; qu'il
pouvait être ceci ou cela, et que c'est par un effet de son choix qu'il est ce qu'il est ?
Certainement, Dieu en créant l'homme se proposait une fin quelconque: la question se réduit
done à savoir si l'homme est devenu animal politique, comme disait Aristote, par ou contré la
volonté divine. Quoique cette question énoncée ouvertement soit un véritable trait de folie,
elle est faite cependant d'une manière indirecte, dans une foule d'écrits dont les auteurs
décident même assez souvent pour la négative. Le mot de nature a fait prononcer une foule
d'erreurs. Répétons que la nature d'un être n'est que l'assemblage des qualités attribuées à
cet être par le Créateur. M. Burke a dit, avec une profondeur qu'il est impossible d'admirer
assez, que l'art est la nature de l'homme : oui, sans doute, l'homme avec toutes ses affections,
toutes ses connaissances, tous ses arts, est véritablement l'homme de la nature, et la toile du
tisserand est aussi naturelle que celle de l'araignée. [MAISTRE, 320-321]

Crítica ao Bom Selvagem de Rousseau

“L'état de nature pour l'homme est donc d’être ce qu’il est aujourd'hui et ce qu’il a toujours
été, c’est-à-dire sociable : toutes les annales de l'univers établissent cette vérité. Parce qu'on
atrouvédans les forêts de l'Amérique, pays nouveau sur lequel on n’a pas encore tout dit, des
hordes vagabondes que nous appelons sauvages, il ne s'ensuit pas que l'hommene soit
naturellement sociable: le sauvage est une exceptionet par conséquent ne prouve rien ; il est
déchu de l'état naturel, ou il n'y est point encore arrivé. Et remarquez bien que le sauvage
même ne forme pas une exception à proprementparler: carcette espèce d'hommes vit en
société et connaît la souveraineté tout comme nous. Sa Majesté le Cacique est couverte d’une
peau de castor graisseuse, au lieu d’une pelisse de renard de Sibérie ; il mange royalement son
ennemi prisonnier, au lieu de le renvoyersur sa parole, comme dans notre Europe dégradée.
Mais, enfin, il y a parmi les sauvages une société, une souveraineté, un gouvernement et des
lois quelconques. Quant aux histoires vraies ou fausses d’individus humains trouvés dans les
bois et vivant absolumentcommedes animaux, on est dispensé, sans doute, d’examiner des
théories fondées sur ces sortes de faits on de contes.” [MAISTRE, p.321-322]

No capítulo III “De La Souveraineté en Géneral.”

“Si la souveraineté n'est pas antérieure au peuple, du moins ces deux idées sont collatérales,
puisqu'il faut um souverain pour faire un peuple. Il est aussi impossible de se figurer une
société humaine,un peuple sans souverain qu'une ruche et un essaim sans reine: car l’essaim,
en vertu des lois éternelles de la nature, existe de cette manière ou n’existe pas. La société et
la souveraineté naquirent donc ensemble; il est impossible de séparer ces deux idées. Vous
représentez-vous l'homme isolé: alors il ne s’agit ni de lois ni de gouvernement, puisqu’il n’est
point tout à fait homme et qu'il n'y a point encore de société. Mettez-vous l’homme en contact
avec ses semblables: dès ce moment vous supposez le souverain. Le premier homme fut roi de
ses enfants; chaque famille isolée fut gouvernée de la même manière.” [MAISTRE, p.323]

Observação: não pode haver nenhum associação humana sem autoridade. A autoridade da
paterna e a família são um claro exemplo.

“Mais dès que les familles se touchèrent, il leur fallut un souverain, et ce souverain en fit un
peuple en leur donnant des lois, puisqu'il n'y a de société que par le souverain. Tout le monde
connaît ce vers fameux: Le premier qui fut roi fut un soldat heureux. On n'a peut-être jamais
rien dit de plus faux; il faut dire, au contraire, que: le premier soldat fut soldé par un roi.
Il y a eu un peuple, une civilisation quelconque et un souverain aussitôt que les hommes se
sont touchés. Le mot de peuple est un terme relatif qui n’a point de sens séparé de l’idée de la
souveraineté : car l’idée de peuple réveille celle d'une agrégation autour d'un centre commun,
et sans la souveraineté il ne peut y avoir d’ensemble ni d’unité politique.
Il faut donc renvoyer dans les espaces imaginaires les idées de choix et de délibération dans
l’établissement de la société et de la souveraineté. Cette opération est l’oeuvre immédiate de
la nature ou, pour mieux dire, de son auteur.

Si les hommes ont repoussé des idées aussi simples et aussi évidentes, il faut les plaindre.
Accoutumons-nous à ne voir dans la société humaine que l’expression de la volonté divine.
Plus les faux docteurs ont tâché de nous isoler et de détacher le rameau de sa TIGE, plus nous
devons nous y attacher, sous peine de sécher et de pourrir.” [MAISTRE, p.324]

No capítulo IV “Des souverainetés particulières et des Nations.”

“La même puissance qui a décrété l'ordre social et la souveraineté a décrété aussi différentes
modifications de la souveraineté suivant le différent caractère des nations. Les nations
naissent et périssent comme les individus; les nations ont des pères, au pied de la lettre, et des
instituteurs ordinairementplus célèbres que leurs pères, quoique le plus grand mérite de ces
instituteurs soit de pénétrer le caractère du peuple-enfant, et de le placer dans les
circonstances qui peuvent en développer toute l’énergie. Les nations ont une âme générale et
une véritable unité morale qui les constitue ce qu’elles sont. Cette unité est surtout annoncée
par la langue.” [MAISTRE, p.325]

“Toutes nous montrent le berceau de la souveraineté environné de miracles ; toujours la


divinité intervient dans la fondation des empires; toujours le premier souverain, au moins, est
un favori du Ciel: il reçoit le sceptre des mains de la divinité. Elle se communique à lui, elle
l’inspire, elle grave sur son front le signe de sa puissance; et les lois qu’il dicte à ses semblables
ne sont que le fruit de ses communications célestes.
Ce sont des fables, dira-t-on. Je n'en sais rien en vérité; mais les fables de tous les peuples,
même des peuples modernes, couvrent beaucoup de réalités. La sainte ampoule, par exemple,
n'est qu'un hiéroglyphe: il suffit de savoir lire. La puissance de guérir attribuée à certains
princes ou à certaines dynasties de princes tient aussi à ce dogme universel de l’origine divine
de la souveraineté. Ne soyons donc pas surpris que les anciens instituteurs des peuples aient
tant parlé de la part de Dieu. Ils sentaient qu'ils n'avaient pas droit de parler en leur nom. C'est
à eux d'ailleurs qu'il appartenait de dire sans figure : « Est Deus in nobis, agitante calescimus
ipso ». Les philosophes de ce siècle se sont beaucoup plaints de la ligue de l’empire et du
sacerdoce, mais l’observateur sage ne peut se dispenser d’admirer l’obstination des hommes à
mêler ces deuxchoses; plus on remonte dans l'antiquité, et plus on trouve la législation
religieuse. Tout ce que les nations nous racontent sur leur origine prouve qu'elles se sont
accordées à regarder la souveraineté comme divine dans son essence :autrement elles nous
auraient fait des contes tout différents. Jamais elles ne nous parlent de contrat primordial,
d'association volontaire, de délibération populaire. Aucun historien ne cite les assemblées
primaires de Memphis ou de Babylone. C'est une véritable folie d'imaginer que le préjugé
universel est l'ouvrage des souverains.” [MAISTRE, p.331-332]

“L'intérêt particulierpeut bien abuser de la croyance générale, mais il ne peut la créer. Si celle
dont je parle n'avait pas été fondée sur l'assentiment antérieur des peuples, non-seulement on
n'aurait pu la leur faire adopter, mais les souverains n'auraient pu imaginer une telle fraude.”
[MAISTRE, p.332]

Maistre no capítulo VII “Des Fondateurs et de la Constitution Politique des Peuples.”

“L'instituteur d’un peuple est précisément cette main habile; doué d’une pénétration
extraordinaire, ou, ce qui est plus probable, d’un instinct infaillible (car souvent le génie ne se
rend pas compte de ce qu’il opère, et c’est en quoi surtout il diffère de l’esprit), il devine, ces
forces et ces qualités occultes qui forment le caractère de sa nation, les moyens de les
féconder, de les mettre en action et d’en tirer le plus grand parti possible. On ne le voit jamais
écrire ni argumenter; sa manière tient de l’inspiration: et si quelquefois il prend la plume, ce
n’est pas pour disserter, c’est pour ordonner.
Une des grandes erreurs de ce siècle est de croire que la constitution politique des peuples est
une oeuvre purement humaine; qu’on peut faire une constitution comme un horloger fait une
montre. Rien n’est plus faux; et ce qui l’est encore plus, c’est que ce grand oeuvre puisse être
exécuté par une assemblée d’hommes.” [MAISTRE, p.343-344]

“Ce qu’il y a de sûr, c’est que la constitution civile des peuples n’est jamais le résultat d’une
délibération. Presque tous les grands législateurs ont été rois, et les nations même nées pour
la république ont été constituées par des rois; ce sont eux qui président à l’établissement
politique des peuples et qui créent leurs premières lois fondamentales. Ainsi toutes les petites
républiques de la Grèce furent d’abord gouvernées par des rois, et libres sous l’autorité
monarchique. Ainsi, à Rome et à Athènes, les rois précédèrent le gouvernement républicain et
furent les véritables fondateurs de la liberté.
Le peuple le plus fameux de la haute antiquité, celui qui a le plus attiré la curiosité des
observateurs anciens, qui était le plus visité, le plus étudié, l’Egypte, n’a jamais été gouverné
que par des rois. Le plus fameux législateur de l’univers, Moïse, fut plus qu’un roi; Seryius et
Numa furent des rois; Lycurgue fut si près de la royauté qu’il en eut toute l’autorité.
C’était Philippe-d’Orléans, avec l’ascendant du génie, de l’expérience et des vertus. Dans le
moyen-âge, Charlemagne, saint Louis et Alfred peuvent encore être mis au rang des
législateurs constituants.” [MAISTRE, p.346]

“Observez toutes les constitutions de l’univers, anciennes et modernes: vous verrez que
l’expérience des âges a pu dicter de temps à autre quelques institutions destinées à
perfectionner les gouvernements d’après leurs bases primitives, ou à prévenir quelques abus
capables de les altérer: institutions dont il est possible d’assigner la date et les auteurs; mais
vous remarquerez que les véritables racines du gouvernement ont toujours existé et qu’il est
impossible d’en montrer l’origine, par la raison toute simple qu’elles sont aussi anciennes que
les nations, et que, n’étant point le résultat d'un accord, il ne peut rester de trace d’une
convention qui n’exista jamais.” [MAISTRE, p.347]

“Toute institution importante et réellement constitutionnelle n’établit jamais rien de nouveau;


elle ne fait que déclarer et défendre des droits antérieurs: voilà pourquoi on ne connait jamais
la constitution d’un pays d’après ses lois constitutionnelles écrites, parce que ces lois ne sont
faites à différentes époques que pour déclarer des droits oubliés ou contestés, et qu’il y a
toujours une foule de choses qui ne s'écrivent point.” [MAISTRE, p.347-348]

“De là vient qu’une constitution libre n’est assurée que lorsque les différentes pièces de
l'édifice politique sont nées ensemble et, s’il est permis de s’exprimer ainsi, à côté l’une de
l’autre. Les hommes ne respectent jamais ce qu’ils ont fait: voilà pourquoi un roi électif ne
possède point la force morale d’un souverain héréditaire, parce qu’il n’est pas assez noble,
c’est-à-dire qu’il ne possède pas cette espèce de grandeur indépendante des hommes et qui
est l’ouvrage du temps.” [MAISTRE, p.352-353]

Maistre no capítulo VIII “Faiblesse du Pouvoir Humain” [Fraqueza do poder humano]

“Plus la raison humaine se confie en elle-même, plus elle cherche à tirer tous ses moyens
d'elle-même; et plus elle est absurde, plus elle montre son impuissance. Voilà pourquoi le plus
grand fléau de l'univers a toujours été, dans tous les siècles, ce qu'on appelle philosophie,
attendu que la philosophie n'est que la raison humaine agissant toute seule, et que la raison
humaine réduite à ses forces individuellesn'est qu'une brute dont toute la puissance se réduit
à détruire.” [MAISTRE, p.357-358]

“Les véritables législateurs ont tous senti que la raison humaine seule ne pouvait se tenir
debout, et que nulle institution purement humaine ne pouvait durer. C’est pourquoi ils ont
entrelacé, s’il est permis de s’exprimer ainsi, la politique et la religion, afin que la faiblesse
humaine, forte d'un appui surnaturel, pût se soutenir par lui. Rousseau admire la loi judaïque
et celle de l'enfant d'Ismaël qui subsistent depuis tant de siècles: c'est que les auteurs de ces
deux institutions célèbres étaient tout à la fois pontifes et législateurs: c'est que, dans l'Alcoran
comme dans la Bible, la politique est divinisée; que la raison humaine, écrasée par l'ascendant
religieux, ne peut insinuer son poison isolant et corrosif au milieu des ressorts du
gouvernement: en sorte que les citoyens sont des croyants dont la fidélité est exaltée jusqu’à
la foi, et l’obéissance jusqu’à l’enthousiasme et le fanatisme.
Les grandes institutions politiques sont parfaites et durables à mesure que l’union de la
politique et de la religion s’y trouve plus parfaite.” [MAISTRE, p.361]

“Plus on étudiera l'histoire et plus on se convaincra de la nécessité indispensable de cet alliage


de la politique et de la religion.” [MAISTRE, p.366]
“Je voulais seulement montrer que la raison humaine, ou ce qu’on appelle la philosophie, est
aussi nulle pour le bonheur des Etats que pour celui des individus; que toutes les grandes
institutions tiennent d’ailleurs leur origine et leur conservation, et qu’elle ne s’en mêle que
pour les pervertir et les détruire.” [MAISTRE, p.367]

“Vous verrez, en second lieu, que, dans les premiers temps de la République, on ne trouve
presque pas de lois, et qu’elles se multiplient à mesure que l’Etat penche vers sa ruine.”
[MAISTRE, p.370]

“De même, en matière de gouvernement, les hommes, ne créent rien. Toute loi
constitutionnelle n’est qu’une déclaration d’un droit antérieur ou d’un dogme politique.
Et jamais elle n’est produite que par la contradiction d’un parti qui méconnaît ce droit ou qui
l’attaque: en sorte qu’une loi qui a la prétention d’établir à priori un nouveau mode de
gouvernement est un acte d’extravagance dans toute la force du terme.” [MAISTRE, p.374]

No capítulo X “De L’Ame Nationale.”

“La raison humaine réduite à ses forces individuelles est parfaitement nulle, non-seulement
pour la création, mais encore pour la conservation de toute association religieuse ou politique,
parce qu’elle ne produit que des disputes, et que l’homme pour se conduire n’a pas besoin de
problèmes, mais de croyances.” [MAISTRE, p.375]

Patriotismo e Fé.

“Qu’est-ce que le patriotisme? C’est cette raison nationale dont je parle, c’est l’abnégation
individuelle. La foi et le patriotisme sont les deux grands thaumaturges de ce monde. L’un et
l’autre sont divins: toutes leurs actions sent des prodiges; n’allez pas leur parler d’examen, de
choix, de discussion: ils diront que vous blasphémez; ils ne savent que deux mots : soumission
et croyance: avec ces deux leviers ils soulèvent l’univers; leurs erreurs mêmes sont sublimes.
Ces deux enfants du Ciel prouvent leur origine à tous les yeux en créant et en conservant; mais
s’ils viennent à se réunir, à confondre leurs forces et à s’emparer ensemble d’une nation, ils
l’exaltent, ils la divinisent, ils centuplent ses forces.” [MAISTRE, p.377]

Obras de Lobato sobre Vianna

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Editora Globo, 2010.

FRAGMENTOS, OPINIÕES E MISCELÂNEA.


Gânglios pensantes

“Curiosa investigação, mas fora do alcance humano, seria, num dado momento, estudar o
cérebro de um povo. Mas se nada há mais complexo que um cérebro humano, que dizer-se do
cérebro de um povo, composto de milhares de gânglios esparsos pelo pais inteiro,
correspondendo cada qual a um cérebro individual autônomo? Os dirigentes julgam que
dirigem, mas não dirigem coisíssima nenhuma. Quem na realidade dirige ou, melhor, quem
elabora as diretrizes sociais são os pensadores, são os gânglios esparsos do cérebro coletivo.”

“Onde está neste momento o cérebro do Brasil? Quais os gânglios autônomos cujo
pensamento justo e certo no encaminhará a todos pela força de sedução da lógica e da
verdade pragmática, para uma justiça e um certeza? Impossível dizê-lo, mas muito possível
acertar com a indicação de um ou outro lóbulo elaborador do pensamento construtivo,
realmente orgânico. Em São Paulo há um, Carlos Inglês de Sousa, de feição intuitivamente
econômica e dotado da grande força persuasiva necessária para fazer adeptos, formar
corrente e atuar com a benéfica eficiência do jato de luz nas trevas do nosso caos econômico.
[...] Da Anarquia monetária, de Carlos Inglês de Sousa, vai sair o reajuste da economia nacional
à base única da prosperidade: a fixidez da moeda. Carlos Inglês é pois um gânglio cerebral do
país – o gânglio do bom-senso econômico. Outro reside em Niterói, ignorado dos grandes do
dia, esses medalhões que remoçam a velha fábula de La Fontaine – “L’âne portant les
reliques”. É Oliveira Viana. Em seu modesto retiro, à rua São Boaventura, esse gânglio
pensante erigiu um laboratório de análise sociológica para onde conflui o melhor instrumental
do mundo. Em suas estantes não falta a mais recente obra dos penetrantes sociólogos
americanos e ingleses, como nenhum dos clássicos universais da ciência que estuda o jogo das
raças, sua interpenetração recíproca, seu condicionamento pelo meio físico.

Mas o valor de Oliveira Viana está em que desses mestres não toma as ideias, e sim apenas os
métodos de estudo, Por meio deles apenas apura a sua técnica, apenas aperfeiçoa o seu
aparelho mental de análise e observação. O objeto de estudo é o nosso povo, sua contextura,
os movimentos que nele se operaram e se operam, a dose do eugenismo dos vários fatores, o
modo por que se comportam na reação contra o meio físico formação e evolução, em suma,
do povo brasileiro.

Sua obra de revisão de valores, de exame e refugo de ideias feitas, de visão e previsão social,
dará outro norte ao país, uma vez concluída. Os dirigentes que hoje atuam às cegas, sem uma
diretriz cientificamente deduzida a lhes guiar os passos, ver-se-ão por fim na posse de bússola
e roteiros. Oliveira Viana está criando “olhos de ver”, que mais tarde lhes substituam na cara
os olhos de olhar apenas.

Os livros que já deu a público impressionaram fundamente, como algo nuevo em nossas letras.
Eram ciência da boa, ciência crioula, cujos princípios qualquer criatura de mediano bom-senso
pode controlar por meio da observação própria e comezinha. Mas apesar desses livros
representarem muito, nada são diante da obra que Oliveira Viana elabora com paciência de
frade bolandista, no recesso do seu laboratório de ideias. Em duas partes ele a divide. A
primeira, “O problema étnico brasileiro”, virá esclarecer para sempre a nossa constituição
racial, com a minúcia e clareza com que Fabre esclarece a biologia de um inseto.

O nosce te ipsum é conselho de verdade eterna. Não há construção possível sem o


conhecimento exato do material que entra na construção. E o nosce te ipsum até hoje nos
faltou. A extensão territorial e a variedade de fatores componentes do nosso povo têm
desnorteado a nossa visão ligeira, o nosso concluir apressado, a nossa meia ciência livresca e
mais de reportagem do que construtiva.

Grandes homens tivemos, como Rui, cuja ignorância do povo foi grande. Nossos presidentes
da República em regra imaginam um Brasil teórico que em nada se ajusta ao de carne e osso.

Quando veio a República e os constituintes se meteram à tarefa de coser para o país um novo
terno constitucional, nenhum se lembrou de tomar medidas ao corpo do gigante nu, recém-
despido do casacão monárquico. Importaram dos Estados Unidos uma roupa feita – muito
bem cosida, de muito bom pano, lindo corte, mas com o grave defeito de não servir para o
gigante. Vem daí que para que as coisas funcionem é mister um periódico despi-lo e enfiá-lo
na camisola de força do estado de sítio.

Não contente com essa obra que vai ser a pedra mestra das nossas construções futuras,
Oliveira Viana elabora outra, deduzida da primeira e de consequências práticas evidentíssimas.
A primeira é a lei. A segunda será o regulamento da lei: “A educação das classes dirigentes”.

Até aqui vem acontecendo entre nós o mais curioso dos contrassensos. Exige-se habilitação
para tudo, menos para dirigir o país. Ninguém toma uma cozinheira que não saiba cozinhar,
nem um pedreiro que não saiba assentar tijolos, nem uma datilógrafa que não saiba dar ao
teclado. Mas se se trata de presidir a uma municipalidade, a um estado ou à União, qualquer
indivíduo serve. Não é preciso que entenda de coisa nenhuma, como o marechal Hermes; nem
que tenha ideias sãs e operativas. Daí a nossa permanência numa eterna “insolução de
problemas”.

Ora, no dia em que um homem de governo possua um guia, uma verdadeira obra de ciência
que lhe dê ideias claras e justas, fará como os bacharéis recém-formados, que dão a ilusão de
saber alguma coisa à custa dos “vade-mécuns” e “assessores forenses”. Estarão dispensados
de pensar com suas próprias cabeças e nos vitimar com as lamentáveis ideias que elas
partejam. Uma luz os guiará – e como essa luz se terá difundido pela elite orientadoramente, a
elite se achará habilitada a impor ao chefe diretrizes sãs nos casos em que a cegueira suprema
se mostre cega além do coeficiente tolerável.

Para a treva só há um remédio, a luz. A treva em matéria de inteligência tem o nome de


estupidez. Ideias claras, ciência: eis a única luz que bate a treva da estupidez. Quem elabora
ideias claras como as de Oliveira Viana, ciência de verdade como a sua, não pode deixar de ser
um dos gânglios pensantes do cérebro da nação. Os homens de hoje não percebem isso. Mas
os do futuro far-lhe-ão justiça.

O quarto poder
Neste artigo de 1923 e no seguinte M. L. descreve o começo da submissão dos jornais ao
controle do Estado – pelo suborno inicialmente e por fim à força, por meio do DIP na ditadura
de Getúlio Vargas.

“A imprensa evoluiu num sentido imprevisível aos seus ingênuos criadores – aqueles velhos
sacerdotes que manejavam a “alavanca do progresso”. Fez-se a picareta do progresso, e
cresceu como força social a ponto de penetrar no Estado como um quarto poder. Na futura
reforma da nossa Constituição os legisladores serão forçados a aceitar a coisa, legalizando
assim uma situação de fato.

É a imprensa o poder que completa os outros e lhes manipula os atos para uma conveniente
apresentação ao público. Os governos dependem da harmonia dos poderes. Sem esta
sobreviria o caos, a guerra intestina – e o governo se devoraria a si próprio.”

O grande palco

“O palco dos grandes dramas é a mentalidade.”

A arte

“A arte nasce quando o homem domina o meio adverso; como um luxo, como floração da
planta após a vitória desta sobre todos os óbices opostos à sua desenvoltura. Na Grécia, a
amenidade ambiente, não opondo resistências ao homem, permitiu que, em vez de dispersar
suas forças na luta contra a natureza agressiva, ele as convergisse para a inflorescência.

Nós no Brasil ainda estamos a crescer, a enfolhar, a radicar. Por isso o que chamamos arte não
passa de simples reflexos de artes alheias. Arte como a grega – em bloco, conglomerada, todas
reunidas em torno dum mesmo tronco (um ideal racial) como vergônteas de igual pujança –
tê-la-emos um dia, no ano 2000 ou 2500, quem o sabe? E tê-la-emos porque não há planta
que não venha a flor. Se vem a rosas ou a flor de abóbora, já é outro caso.”

O subsolo

“Uma rápida vista d’olhos pelo mundo só nos mostra riqueza e poder nos povos que
industrializam o subsolo, dele tirando a hulha, o ferro, o petróleo e todas as mais riquezas
entesouradas. Os que se limitam a arranhar a superfície por meio da agricultura, esses jamais
serão estrelas de primeira grandeza, jamais serão poderosos, jamais passarão de satélites
inermes.

Até aqui vivemos como os demais bichos da terra, a explorar umas tantas plantinhas que
crescem na superfície – a cana, o cacau, o café, o fumo, o coco etc. – produtinhos coloniais.
Daí nossa fraqueza econômica, a nossa pobreza intensa, o nosso encarangamento. Temos de
mudar de política. Fazer o que os Estados Unidos fizeram. Arrancar do seio da terra o ferro e
transformá-lo em mil máquinas que nos aumentem a eficiência dos músculos. Arrancar o
petróleo para o reduzir a essa potente energia mecânica que move as máquinas. Não mais
homens resignados que se repimpam na anca de pobres jegues e minúsculos cavalicoques –
mas he-men que chispem em autos, que risquem o céu em aviões, que espantem os sururus
das lagoas com a velocidade dos motor-boats.”

Colonialismo

“Somos um povo de mentalidade colonial. Nascemos colônia e até agora só conquistamos a


independência política. Econômica, espiritual, mental e cientificamente, continuamos colônia.
Damo-nos pressa em adotar tudo quanto vem das várias metrópoles que nos seguram pelo
barbicacho – Paris, Berlim, Nova York, Londres. Mal surge entre nós uma criação original,
olhamo-nos desconfiados uns para os outros, incapacitados de formular juízo até que das
metrópoles venha o placet.”

O que deve ser o governo

Uma nação é o conjunto organizado das criaturas humanas que habitam um certo território.
Para promover a ordem e a justiça essas criaturas delegam poderes a certos indivíduos para a
aplicação de uma coisa chamada lei, a qual não passa da vontade coletiva aceita por consenso
unânime. Tais homens constituem o governo. O governo é, pois, um delegado, uma criatura da
Nação. Só esta é soberana, porque só esta é a força e a vontade.

Quando os delegados fogem aos seus deveres e voltam contra a Nação os aparelhos
defensivos que ela lhes entregou para salvaguardar a sua soberania das agressões externas,
esse governo deixa de ser governo. Cessa de funcionar legalmente e – ou rei como Luís xvi, ou
ministro, ou presidente, ou congresso – deve ser incontinênti varrido por todos os meios, a
guilhotina como na França, ou a processo criminal como nas repúblicas livres.

O dever mais elementar dos delegados da Nação é aplicar sensatamente os dinheiros públicos.
O povo dá o imposto para receber em troca um certo número de benefícios de caráter geral.
Para fiscalizar esse emprego existe a imprensa, plenário onde se ventila o abuso, o qual abuso,
competentemente autuado, sobe à Opinião Pública para o julgamento supremo. Se a opinião
pública, por vício incurável, não toma as providências do caso, paciência. A imprensa não tem
culpa disso. O seu papel limita-se a esclarecer o público.

Assim, todo jornalista, ou todo cidadão, tem o dever de agarrar pela gola os funcionários
relapsos, sejam reis ou ministros, e expor os seus crimes na grande montra.

Melting pot

“São Paulo é um cadinho. Variados fatores étnicos para ele confluem e, sob a preponderância
do fator italiano, borbulham na fervura da decantação em que se plasma o futuro. Do mosaico
virá a unidade. O sistema de cristalização, entretanto, é imprevisível. O elemento indígena
bem pequena contribuição dá, porque, acuado na concorrência, ou foge à luta, abandonando
o campo, ou acantoa-se nos palanques da bacharelice e do funcionalismo. E que frutos dão
estas árvores?”

Quem molda a Pauliceia?

“Quem molda a cidade e a enfibra de caráter próprio é o operário, é o comerciante, é o


industrial, é o artista – é o que confeiçoa a matéria-prima, o que a mobiliza, o que imprime às
coisas a forma estética. Assim, na vegetação seivosa com que o alienígena cria em nossa casa
um estado sui generis de civilização, nós, os donos da casa, com pouco mais contribuímos além
do doutor – a orquídea; o funcionário público – o cipó; e o governo – o mata-pau.”

A influência americana

“Ponto em que a influência americana se faz sentir por cá é nas pequenas invenções
jornalísticas – paginação, escolha da matéria, dosagem das ideias, cinematografismo policial
etc.

Partimos da convicção de que os nossos jornais não prosperam por não darem o que o público
instintivamente deseja.

Erro. O de que precisamos é melhorar o público. Enquanto for o que é, o melhor jornal do
mundo levará aqui a mesma vida precária que caracteriza os atuais. Basta frisar o seguinte: ou
por pilhagem, ou por arranjo com as agências, temos em nossos periódicos a flor do jornalismo
mundial, os Lausanne, os Brisbane, os Harden. E o público não o percebe.

Isto de perceber não é para qualquer. Casagrande não percebeu que para transvoar o
Atlântico a frieza de cálculo vale mais que o d’annunziano eretismo da imaginação. A retórica
ensopada em nitroglicerina do Duce terá forças para arrastar multidões de camisas-pretas ao
assalto dos focos oposicionistas, mas é impotente para corrigir um defeito de lubrificação num
motor. E se o óleo não circula matematicamente bem, não há Casagrande que chegue ao fim
da prova.”

O literalismo

“A tradução literal, isto é, de absoluta fidelidade à forma literária em que, dentro de sua
língua, o autor expressou o seu pensamento, trai e mata a obra traduzida. O bom tradutor
deve dizer exatamente a mesma coisa que o autor diz, mas dentro da sua língua de tradutor,
dentro da sua forma literária de tradutor; só assim estará realmente traduzindo o que importa:
a ideia, o pensamento do autor. Quem procura traduzir a forma do autor não faz tradução –
faz uma horrível coisa chamada transliteração, e torna-se inintelígivel...”
Conhecer-se...

“Nosce te ipsum, eterna verdade psicológica, fonte única do aperfeiçoamento moral, mental,
social e físico, tanto nos indivíduos como nas coletividades. Só quem se conhece progride e
vence. A apatia do nosso viver coletivo, explicada em parte pela rarefação do habitante, exige
o agrumar de núcleos sistematizadores e orientadores. Mil boas vontades desligadas entre si,
trabalhando fora do amplexo fecundo de uma norma comum, ou não trabalhando de todo (e é
este o nosso caso) em virtude do sentimento de impotência de quem se vê só, valem menos
do que meia dúzia unidas em ação conjunta.

Só no dia em que bem nos conhecermos teremos nas mãos todos os dados do “nosso
problema”. E só quando tivermos nas mãos todos os dados dos nossos problemas é que se nos
depararão as soluções exatas. Soluções nossas aos nossos problemas – eis o rumo verdadeiro.

***

Um meu amigo, grande patriota, dizia sempre:

– Meu ideal é a diplomacia. Viver do Brasil, mas longe dele, de modo a sentir sempre doces
saudades da pátria, que delícia!”

Do português degenerado

“É assombroso como do português retaco, robustíssimo, que de sol a sol brita pedra nas
pedreiras do Rio, o “meio” extrai em duas gerações... um candidato a porteiro de grupo
escolar!”

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AMÉRICA

Editora Globo, 2009

CAPÍTULO XXXIV Crises cíclicas. Sensibilidade da Bolsa. Opinião dum metalurgista sobre o
Brasil. Ferro e carbono. O ferro como antídoto do separatismo.

Na parte onde trata da opinião da personagem, o metalurgista W.H. Smith,

“Têm eles nas vísceras, herdada do inglês, a intuição do que é o ferro. Têm diante dos olhos o
esplendor duma civilização saída inteirinha do ferro. Sabem que são ricos e poderosos e
temidos e donos do mundo porque compreenderam desde os inícios a verdadeira significação
do ferro. Como explicar a uma mentalidade dessas que a palavra “ferro” nada significa para os
países de pau?”

“O grande metalurgista W. H. Smith, no nosso encontro na sala azul do Detroit Golf Club,
expôs a sua visão do Brasil. A mesa onde almoçáramos já estava desimpedida, de modo que
ele pôde figurá-la como o mapa da minha terra. Apoiou a mão no centro, onde devia ser o
estado de Minas, e disse: – Vocês têm aqui uma montanha de minério do mais alto teor. E cá
em redor (e esse em “redor” era o resto da mesa, isto é, do Brasil) têm a floresta, ou,
siderurgicamente falando, carbono. Com esses dois elementos a Ciência produz ferro, matéria-
prima da civilização. Vocês possuem em grande os dois elementos primeiros da civilização:
óxido de ferro e carbono.”

Ceticismo em relação ao governo.

“O governo está empenhado nisso. Um dos meios de enganar americanos é falar em governo.
Por inexplicável anomalia, eles, que tudo fazem por iniciativa particular e, portanto, não creem
em governo, engolem essa palavra como algo mágico, sempre que se trata dum país
estrangeiro, sobretudo sul-americano.”

“Produzindo ferro, terão a máquina, e produzindo carbono, terão a energia mecânica


necessária para mover a máquina. Só assim a unidade territorial do seu país, que é a maior das
riquezas, poderá ser assegurada.

Espantei-me. Aquela conclusão fora em absoluto imprevista. As rugas interrogativas da minha


testa levaram-no a ser mais explícito.

– Os países de grande território – disse ele – correm o risco do esfacelamento, da subdivisão


em pequenas repúblicas, quando por meio do ferro não homogeneízam a massa da população.
A primeira significação do ferro é transporte em todas as suas modalidades. Só o transporte,
na intensidade em que o temos aqui, suprime o regionalismo e, portanto, só o
transporte nacionaliza.

Semelhantes palavras de fino sociólogo impressionaram-me a fundo.

– A escassez de transporte – continuou ele – regionaliza. Faz que os grupos de população se


diferenciem de mentalidade e acabem antagônicos. Não se visitam, não se conhecem, não se
intercambiam, e acabam por se julgarem diferentes e melhores, mais merecedores de coisas
do que os outros grupos.

Enquanto o meu homem ia falando assim em tese, ia eu dando nomes aos bois. Grupos de
população: Minas, São Paulo, Rio Grande. Melhores que os outros: Minas, São Paulo, Rio
Grande.

– A diferenciação de mentalidade acarreta antagonismos invencíveis, fomenta a ideia


secessionista e acaba desagregando o país. O remédio é homogeneizar a massa. Fazê-la
circular. O homem do Kentucky ou do Texas que jamais saiu do seu estado natal julga-se
superior ao homem de Kansas ou do Missouri e constitui terreno apto à germinação de ideias
desagregacionistas. No dia, porém, em que adquire meios fáceis de locomoção e sai de visita
aos estados que até então via de revés, volta transformado. Verifica que é igual aos que
julgava inferiores – e morre-lhe n’alma o separatismo.”
“Vi que nos viajados a ideia da superioridade própria, em contraste com a inferioridade dos
vizinhos, desaparecera, ao passo que se conservava cada vez mais viva, e ativa, nos nunca
saídos do buraquinho natal. E compreendi o alcance das palavras do grande metalurgista. O
Brasil, devido à sua grande extensão territorial e à segregação, por falta de transporte, dos
seus vários núcleos de gente semeada pelos portugueses iniciais, estava cada vez mais
ameaçado de perder a unidade. Esses núcleos não se conheciam uns aos outros e todos se
tinham como superiores aos demais. Só a criação intensa do transporte, pelo desenvolvimento
da indústria do ferro, os levaria à convicção de que tal superioridade jamais existiu. Saídos do
mesmo barro, gestados no mesmo útero, equivalem-se. A convicção da equivalência, só ela,
mata o espírito de secessão.

– Sim, sim, sim – murmurei com o pensamento distante dali. – Compreendo agora o alcance
das suas palavras. Só o ferro unifica, porque só ele dá transporte, o grande homogeneizador.

– Aqui na América – concluiu o metalurgista sociólogo –, o espírito de bairro desapareceu de


todo, sobretudo depois da expansão do automóvel. As células componentes do país de tal
modo se mobilizam, ou se intercambiam, que apesar da extensão territorial somos o país mais
homogêneo do mundo. Daí a nossa força.”

“– As palavras do metalurgista sociólogo não me saem da cabeça – disse ele. – Realmente só o


ferro une, só o ferro cria, só com ele o homem adquire a eficiência explicadora de todas as
vitórias. Se eu fosse resumir num vocabulário esta América que juntos andamos a “conversar”,
não vacilaria um segundo na escolha da palavra certa: “Eficiência”.”

CAPÍTULO XVII
Ainda a censura. Como se exerce. Ninguém escapa da mutilação, seja Tolstoi ou Theodor
Dreiser. O caso de Fatty Arbuckle. O perigo do álcool para os indivíduos que pesam mais de
cem quilos.

“ - A Censura – continuou Mister Slang – é o meio insidioso com que a Moral – e por Moral não
quero dizer a moral natural ou filosófica, conjunto de princípios e normas de conduta que, sem
infração das leis da natureza humana, permitem a vida em sociedade. Quero dizer a tirania da
religião e da política, associadas em simbiose, com olho na dominação das massas em proveito
dos que fazem da religião e da política um negócio. A esperteza está em arrastar as massas a
se convencerem de que é de interesse social o que na realidade é do interesse apenas dessas
elites dirigentes. A Censura constitui a grande arma secreta de tal fascio. Eu disse grande
porque é realmente grande.”

“Sendo de todas as artes a que se industrializou em mais alta escala e, portanto, a que exerce
maior ação direta nas células cerebrais do público, criando impressões que nelas vão perdurar
pelo resto da vida, era necessário, era negócio, que a Moral se insinuasse na raiz do cinema,
nas suas nascentes, para com pequeno esforço deformar no gérmen os seus produtos,
alcançando desse modo a tremenda ação que alcança. Surgiu, então, em nome dos mais altos
interesses sociais, a Censura.”

“O público jamais pediu isso. O público, no seu instintivo bom senso – que é o senso de acertar
– jamais pediu censura de nenhuma espécie. Sabe muito bem, com o seu aplauso ou repulsa,
incentivar ou censurar o que lhe cai no agrado ou desagrado. Mas acima do público pulam os
“moralistas” fanáticos, vítimas de perturbações glandulares, gente de molas íntimas muito
bem desvendadas por Freud e seus discípulos – bichos de má infância, com recalques levados
a grau agudo. E como os cortes que eles fazem nos filmes representam grandes prejuízos para
as empresas produtoras, tiveram estas, sempre atentas à parte financeira, de submeter-se.

É espantoso, é incrível, é abracadabrante, isto dos maiores artistas modernos, as mais altas
mentalidades criadoras, terem de deformar seu pensamento e mutilar suas criações porque
um certo número de percevejos humanos foram vítimas de má infância! E, no entanto, assim
é.”

CAPÍTULO XXIX
Igrejas conjugadas com hotéis e mais negócios. Um olhar de dúvida. A resposta de Mister
Slang. Nosso almoço numa igreja. Desconfiança em si próprio.

“Não pode existir prova mais perfeita de insuficiência mental, de pobreza criadora ou, para
falar língua mais positiva, de imbecilidade congênita. Desse mal está livre a América. Jamais o
americano, quando uma ideia nova surge, olha em roda para ver se já recebeu o placet de
outro povo. Não se considerando inferior a ninguém, estuda o caso, mede, calcula e, se
encontra vantagens, adapta-a, qualquer que seja a opinião estrangeira. Tudo quanto existe foi
criado. Um dia nasceu. Alguém abriu caminho. Admitir que os outros possam abrir caminho e
a gente não não é reconhecer-se visceralmente incapaz?”
CAPÍTULO XXX
Um professor hostil à riqueza. Idealismo. Mister Slang, porém, queria mais. Abuso do crédito.
Ideias dum magnata. As procelárias. Figuração concreta dum milhão.

“Infelizmente, ou felizmente, o mundo é o que é. Jogo de interesses pessoais que se chocam.


Se um país consegue, por meio dum conjunto de leis e duns tantos princípios de moral, manter
em equilíbrio esses interesses, evitando que os homens (Homo homini lupus) se entredevorem
na praça pública, o ideal está atingido.”

A opinião de Mister Slang sobre a riqueza.

“– Mas acha, Mister Slang, que a riqueza excessiva realmente esteja danificando a educação e
outras instituições da América? – A riqueza, como tudo, apresenta duas faces. Nada é
absolutamente bom nem absolutamente mau. O contrário da riqueza é a pobreza, que
também não é coisa absolutamente boa nem absolutamente má. Mas não creio que haja uma
só criatura humana que, de instinto, não prefira sofrer os males da riqueza a sofrer os males da
pobreza. Riqueza significa poder; pobreza significa não poder. Ora, não poder é para mim o
mal dos males. Além disso, apesar de a América ser o país mais rico do mundo, e rico em
escala nunca julgada possível, acho que ainda está longe do que pode e tem de ser. Espantei-
me de ver Mister Slang querer ainda mais para a América.”

“– Sim – respondeu ele –, a América tem muito, se a compararmos com inúmeros povos que
nada têm. Mas isto é apenas um começo. Com o aparelhamento industrial de que se dotou, e
os laboratórios de que se vem enchendo, e com todas as conquistas da ciência a serviço da
exploração do seu imenso território, esta riqueza de hoje parecerá mediana a um século
daqui.”

CAPÍTULO XXXVI
Processo secessionista. Antagonismo dos grupos regionais. Minas, São Paulo e Rio Grande.
Previsões nem tristes nem alegres. Revolver...

Mister Slang aborda o problema do separatismo, guerra civil ou secessão.

“O processo da desagregação do Brasil já foi iniciado com a separação da província Cisplatina,


há um século.

– Mas a Cisplatina era platina. Tinha a sua órbita natural em torno de Buenos Aires, não do Rio
de Janeiro. Natural que se integrasse no sistema planetário a que pertencia.

– Perfeitamente. Mas não lhe parece que o Rio Grande, embora em escala menor, pende mais,
pertence mais ao sistema platino do que ao brasileiro? Já esteve separado por um decênio
durante a rebelião de Bento Gonçalves, e se voltou ao Brasil não o fez à força, mas por efeito
da sedução e em troca de vantagens. Desde aí vem o Rio Grande guardando na chamada
Federação brasileira uma posição sui generis. Continua, ou permanece, federado em troca do
tributo que o Brasil lhe paga. – Tributo? – exclamei com cara lorpa. – Não entendo...

– Reflita que entenderá. Nenhum estado lucra mais com deixar-se ficar na Federação do que o
Rio Grande. O quase monopólio que tem dos altos postos do Exército, as subvenções federais
que recebe, a autonomia absoluta de que goza, tudo isso não passa de formas disfarçadas de
tributos para que não se separe. Outra forma é a voz que tem no concerto da trindade que
dirige o Brasil: – São Paulo, Minas e Rio Grande.
Todos os presidentes têm governado, e só podem governar, com apoio nesse tríplice sistema
de equilíbrio. O primeiro que o romper levará o Rio Grande à rebelião, na qual ou vencerá e
permanecerá federado, ou não vencerá e destacar-se-á numa república à parte.

– Impossível! O Rio Grande está sempre dividido e isso o enfraquece. O maquiavelismo dos
governos federais empenha-se em manter essa fraqueza.

– O instinto de conservação o unirá no dia em que for preciso. O Rio Grande gira mais em
torno de Buenos Aires do que do Rio. Despreza o resto do Brasil – a baianada, como dizem os
gaúchos. Possui ou é dominado por um orgulho infinito. Tem-se na conta de povo privilegiado,
eleito de Deus. A velha concepção dos povos eleitos é irredutível.

Donde provém, donde se origina esse estado de espírito? Da fraqueza econômica do país, da
escassez de transporte, da segregação. A maioria dos gaúchos nasce e morre sem nunca visitar
as outras partes do Brasil. Ora, o remédio para esta fraqueza é um só – ferro, como muito bem
disse o metalurgista sociólogo. Ferro e petróleo – máquina e energia. Se o Brasil souber, ou
puder criar a indústria do ferro e a da energia, evitará a desagregação. Em caso contrário, não
sei... Pelo menos ao Rio Grande é capaz de perder.

E se um separar-se, outros também se separarão. Os mineiros e os paulistas já se


entremotejam. Enquanto viverem politicamente aliados, tudo irá bem. No dia em que
divergirem e um estado tiver de subordinar-se ao outro, quero muito saber qual dos dois se
sujeitará. Também não se conhecem e se julgam feitos duma massa especial. Só um intenso
desenvolvimento econômico, devido ao ferro e ao petróleo, os misturará, matando as ideias
erradas que a respeito de si próprios alimentam.”

“Só o desenvolvimento econômico, trazido pela expansão da indústria do ferro e da energia,


tem elementos para sanar a situação.

Como se vê, a pobreza do Brasil, decorrente de não produzir ferro e não haver desentranhado
o seu petróleo, numa era em que ferro e petróleo constituem a base econômica dos grandes
países, vai lentamente conduzindo o trabalho de sapa da desagregação.”

“E espero que a força da língua, da religião e da raça neutralize a força dos fatores
econômicos. – São, de fato, forças bastante fortes, mas não esqueça de que nada fala mais
alto, nem com maior eloquência, do que o bolso. As razões que o bolso começa a apresentar
em favor da desagregação crescem dia a dia – e são razões mais claras do que as puramente
sentimentais. Toda federação tem por base o interesse das partes. Quando tais interesses se
sentem prejudicados, o instinto de conservação força a ruptura do equilíbrio artificial. – E
haverá um equilíbrio natural no sistema dos estados do Brasil? – Sim. São Paulo (e por São
Paulo entendo o São Paulo geográfico, compreendendo o Paraná, que é uma projeção
paulista, o Triângulo Mineiro e Mato Grosso, que lhe gravitam comercialmente na órbita), São
Paulo tem todos os elementos para ser uma grande nação.

Também os tem Minas, a Minas que incorpore ao seu território essas faixas sem significação
própria que a isolam do mar – estados do Rio e do Espírito Santo. O mesmo digo do Rio Grande
e do grupo nortista que se prende a Pernambuco.
– E o resto? – Impossível qualquer previsão lógica quanto ao resto. Territórios conquistáveis,
colonizáveis.”

Visconde do Uruguai (1807-1866)

Visconde do Uruguai. São Paulo: Ed.34, 2002.

“Para copiar as instituições de um país e aplicá-las a outro, no todo ou em parte, é preciso,


primeiro que tudo, conhecer o seu todo e o seu jogo perfeito e completamente. Essas
instituições, principalmente as inglesas, americanas e francesas, formam um todo sistemático
e harmonioso. Cada uma das suas molas supõe o concurso e jogo de outras, certo espírito,
hábitos, caráter nacional e certas circunstâncias, cuja falta não é possível suprir. Cada uma das
suas partes sustenta e é sustentada pelas outras e com elas se liga. É necessário muito estudo,
muito critério, para separar uma parte dessas instituições e aplicá-la a outro país diverso, cuja
organização, educação, hábitos, caráter e mais circunstâncias são também diversos. O que
uma nação deve ter em vista nas suas instituições é assegurar a liberdade, direito, garantias e
bem-estar dos cidadãos.” [URUQUAI, 2002, p. 468]

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