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Sebenta Teoria Geral do Direito Civil II

Teoria Geral do Direito Civil (Universidade do Porto)

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Baixado por Alexandre mmm (samuel_marques_1@hotmail.com)
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Teoria Geral do Direito Civil

O Facto Jurídico
É todo o facto da vida real, juridicamente relevante, que nao é indiferente para o direito. É
o que dá existência à relação jurídica. O facto juridicamente relevante contrapõe-se ao
facto juridicamente irrelevante (simples ou neutro). Os factos excluídos são por exemplo
as preferências clubisticas de alguém, ou a cor de cabelo de alguém. Vamos centrar nós
nos factos jurídicos. Vamos estudar classificações relevantes dentro do facto jurídico:
Os factos jurídicos ou são consequência de uma vontade, manifestação de uma atuação
de uma vontade e dizemos que são factos voluntários – ações humanas; ou a vontade é
irrelevante para a sua produção e aí temos factos involuntários (nascimento ou morte de
alguém, por exemplo)– obras da natureza.
- dentro dos factos voluntários temos factos lícitos e ilícitos – lícitos são os que
estão de acordo com a ordem jurídica e os ilícitos são contrários à ordem jurídica e
os seus efeitos são reprovados pela mesma. Os ilícitos podem ser civis ou penais e
as sanções penais são distintas das civis, mas o mesmo facto pode desencadear
as duas sanções.

Os factos voluntários lícitos são os que nos interessam – factos jurídicos em sentido lato.
Dentro destes podemos distinguir os atos jurídicos em sentido estrito, e os negócios
jurídicos.
Os atos jurídicos em sentido estrito: também chamados simples atos jurídicos,
também são ações humanas lícitas mas os efeitos jurídicos, embora possam ser
concordantes com a vontade, decorrem da lei, independentemente da haver uma
vontade nesse sentido. Por exemplo, art. 805º CC, que se refere à interpelação do
credor pelo devedor, é um simples ato jurídico, é juridicamente relevante mas os
efeitos produzem-se porque a lei assim o estabelece. Dividem-se em:
1. Os quase negócios jurídicos consistem na manifestação de uma vontade
ou ideia mas não é a essa vontade a que se ligam os efeitos jurídicos, estes
advém da lei. Interpelação do credor pelo devedor, art. 805º. Outro exemplo
é a gestão de negócios 464º.
2. As operações jurídicas traduzem-se na produção de um resultado material
ou técnico a que a ordem jurídica liga determinados efeitos. Por exemplo, a
ocupação de animais art. 1318º, é alguém que “ocupa” um animal, é um ato
material, e é juridicamente relevante, os efeitos deste ato provêem da lei. A
descoberta de uma tesouro, art. 1324º, é também um ato material a que a lei
faz corresponder efeitos jurídicos.

Capítulo I
Do negócio jurídico e do simples ato jurídico

Conceito

Os negócios jurídicos são atos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações de
vontade, dirigidas à realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar sob
tutela do direito.

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O que é verdadeiramente constitutivo do negócio é o comportamento declarativo -
manifestação de uma vontade de certos efeitos prático sob a sanção do ordenamento
jurídico.

A função do negócio jurídico é servir como meio de autogoverno pelos particulares da sua
esfera jurídica própria.

Relação entre a vontade e os efeitos jurídicos

Teoria dos efeitos jurídicos: para esta doutrina os efeitos jurídicos produzidos, tais como a
lei os determina, são perfeita e completamente correspondentes ao conteúdo da vontade
das partes.

Sucede é que as partes dos vários negócios não têm uma representação completa e
exata de todos os efeitos que o ordenamento jurídico atribui às suas declarações de
vontade.

Teoria dos efeitos práticos: as partes manifestam apenas uma vontade de efeitos práticos
ou empíricos, normalmente económicos e sociais, a que a lei faria corresponder efeitos
jurídicos concordantes.

Mas desta forma, o negócio jurídico não se distingue dos compromissos ou convenções
celebrados sob o império de outros ordenamentos normativos (cortesia, moral, praxes
sociais, etc.).

Teoria dos efeitos prático-jurídicos: os autores dos negócios jurídicos visam certos
resultados práticos ou materiais e querem realizá-los por via jurídica. têm, pois, também
uma vontade de efeitos jurídicos. A vontade dirigida a efeitos práticos não é a única nem é
a decisiva - decisiva para existir um negócio é a vontade de os efeitos práticos queridos
serem juridicamente vinculativos, a vontade de se gerarem efeitos jurídicos,
nomeadamente deveres jurídicos, correspondentes aos efeitos práticos.

Basta uma representação global prática - de profanos - dos efeitos jurídicos imediatos e
fundamentais do negócio. Esta é a teoria que releva para nós.

Negócios de pura obsequidade:


São promessas ou combinações da vida social, às quais é estranho o intuito de criar,
modificar, ou extinguir um vínculo jurídico. Falta a intenção de efeitos jurídicos.

“Gentleman’s Agreements”:
Estas são convenções sobre matéria que é normalmente objeto de negócios jurídicos,
mas que, excepcionalmente, estão desprovidas de intenção de efeitos jurídicos.

Nota: Obsequidade ou negócio jurídico? É a parte interessada em demonstrar a existência


do negócio jurídico que tem o ónus da prova respectivo. Gentlemans agreement ou
negócio jurídico? É a parte interessada em demonstrar a inexistência da intenção negocial
que tem o onus probandi.

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Elementos dos negócios jurídicos

Classificação tripartida dos elementos dos negócios jurídicos:


- elementos essenciais (essentialia negotti);
- elementos naturais (naturalia negotti);
- elementos acidentais (accidentalia negotti).

Elementos essenciais
O negócio jurídico é um acto que só desempenha a sua função na medida em que for
válido. A sistematização tradicional considera elementos essenciais de todo e qualquer
negócio jurídico os requisitos ou condições gerais de validade de qualquer negócio. São
eles:
- capacidade das partes (e a legitimidade);
- declaração de vontade (sem anomalias);
- idoneidade do objeto.

Elementos essenciais de cada negócio típico ou nominado: cláusulas que


contradistinguem um certo tipo negocial dos restantes tipos; são as características
próprias de cada modalidade negocial, que a separam dos tipos vizinhos (ex. locação).

Elementos naturais
São os efeitos negociais derivados de disposições legais supletivas. Não é necessário
que as partes configurem qualquer cláusula para a produção destes efeitos, podendo,
todavia, ser excluídos por estipulação adrede formulada.

Elementos acidentais
São as cláusulas acessórias dos negócios jurídicos. Trata-se das estipulações que não
caracterizam o tipo negocial em abstrato, mas se tornam imprescindíveis para que o
negócio em concreto produza os efeitos a que elas tendem. Ex. cláusulas de juro,
condicional, etc.

Classificações dos negócios jurídicos

Negócios jurídicos unilaterais e bilaterais (contratos)

I - O critério classificativo é o do número e modo de articulação das declarações


integradoras do negócio. Nos negócios unilaterais há só uma declaração de vontade, ou
várias, mas paralelas, formando um só grupo. Ex. Testamento, procuração, renúncia à
prescrição, etc.
Nos constratos ou negócios bilaterais há duas ou mais declarações de vontade, de
conteúdo oposto, mas convergente, ajustando-se na sua comum pretensão de produzir
resultado jurídico unitário, embora com um significado para cada parte. Há assim a oferta
ou proposta e a aceitação, que se conciliam num consenso.

II - Negócios unilaterais:
- a eficácia do negócio não carece da concordância de outrém;

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- vigora o princípio da tipicidade ou do numerus clausus (art 457ºCC);
- negócios unilaterais receptícios (ou recipiendos) e não receptícios. Nos primeiros a
declaração só é eficaz se for e quando for dirigida e levada ao consentimento de certa
pessoa, enquanto nos segundos basta a emissão da declaração, sem ser necessário
comunicá-la a quem quer que seja.

III - Negócios bilaterais ou contratos


Não são integrados por dois negócios unilaterais; antes cada uma das declarações
(proposta e aceitação) é emitida em vista de um acordo.
A proposta é irrevogável a partir do momento em que de facto chega ao conhecimento do
destinatário - art.230º CC. Já para a declaração (aceitação), o nosso legislador consagrou
a doutrina da receção (224ºCC), portanto, a declaração torna-se eficaz logo que chega ao
seu destinatário ou no momento em que tem possibilidade de ter conhecimento.

Contratos unilaterais: geram obrigações apenas para uma das partes.


Contratos bilaterais ou sinalagmáticos: geram obrigações para ambas as partes,
obrigações ligadas entre si por um nexo de causalidade ou correspectividade.

Importância desta distinção: a exceção de não cumprimento do contrato (428º) é privativa


dos contratos bilaterais; mas não já a faculdade de resolução com fundamento em
inadimpedimento ou mora - esta, existindo nos contratos bilaterais (“condição resolutiva
tácita”, art 801º,2 e 808º), pode ter lugar também em alguns contratos unilaterais (1140º e
1150º).

Contratos bilaterais imperfeitos: nestes há inicialmente apenas obrigações para uma das
partes, surgindo eventualmente mais tarde obrigações para a outra parte, em virtude do
cumprimento das primeiras e em dados termos.

Negócios entre vivos e mortis causa

Os primeiros destinam-se a produzir efeitos em vida das partes; os segundos destinam-se


a produzir efeitos só depois da morte da respetiva parte ou de alguma delas.
À primeira categoria pertencem quase todos os negócios jurídicos, mas também temos
importantes negócios mortis causa, como o testamento (2179º).
A lei atual proíbe, em princípio, os pactos ou contratos sucessórios, sob pena de nulidade,
apenas os admitindo em alguns casos particulares (2028º).

A regra da proibição dos pactos sucessórios comporta exceções (convenção antenupcial):


- instituição contratual de herdeiro ou legatário em favor de qualquer dos esposados, feita
pelo outro esposado ou por terceiro (1700º, 1 a));
- instituição contratual de herdeiro ou legatário em favor de terceiros, feita por qualquer
dos esposados (1700º, 1, b)).

Negócios consensuais ou não solenes e negócios formais ou solenes

Os negócios formais ou solenes são aqueles para os quais a lei exige a observância de
determinada forma. Os não solenes ou consensuais são os que podem ser celebrados por

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quaisquer meios declarativos aptos a exteriorizar a vontade negocial, porque a lei não
impõe determinada roupagem exterior para o negócio.

O princípio geral do CC em matéria de formalismo negocial é o princípio da liberdade


declarativa, liberdade de forma ou consensualidade (2190º).
Quando, nos casos excecionais em que a lei prescrever uma certa forma e esta não for
observada, a declaração negocial é nula (220º).

Exemplos de negócios formais:


- para os quais a lei exige documento autêntico: exarado pelo notário ou outro oficial
público dotado de fé pública e documentos análogos.
- para os quais a lei exige documento particular: não são autênticos, são os próprios
particulares que realizam o documento, que podem ser autenticados por um notário ou
outro oficial público dotado de fé pública.

Negócios obrigacionais, reais, familiares e sucessórios

O critério desta classificação diz respeito à natureza da relação jurídica constituída,


modificada ou extinta pelo negócio. A sua importância resulta da diversa extensão
reconhecida à liberdade contratual (405º) em cada uma das categorias.

Quanto aos negócios reais, fala-se deles no sentido de negócios com efiácia real, isto é,
reais quanto aos efeitos. Nestes, o princípio da liberdade contratual sofre considerável
limitação, derivada do princípio da tipicidade, ou do numerus clausus, visto que ‘’não é
permitida a constituição de restrições ao direito de propriedade de figuras parcelares
deste direito senão nos casos previstos na lei (1306º).

Relativamente aos negócios familiares pessoais (casamento, adopção, perfilhação), a


liberdade contratual está praticamente excluída, podendo os interessados apenas celebrar
ou não o negócio. No tocante aos familiares patrimoniais existe liberdade de convenção
(1698º), embora sofrendo limitações (1699º e 1714º).

Quanto aos sucessórios, este princípio sofre importantes restrições, resultante de normas
imperativas de direito das sucessões.

Negócios onerosos e gratuitos

Os negócios onerosos ou a título oneroso pressupõe atribuições patrimoniais de ambas


as partes, existindo, segundo a perspetiva destas, um nexo ou relação de entre as
referidas atribuições patrimoniais. Ou seja, cada uma das prestações/atribuições é o
correspectivo (contrapartida) da outra.

Os negócios gratuitos ou a título gratuito caracterizam-se pela intervenção liberal (animus


donandi e beneficiandi). Uma parte tem a intenção de efetuar uma atribuição patrimonial a
favor de outra, sem contrapartida ou correspectivo. A outra parte procede com vontade de
receber essa vantagem sem sacrifício correspondente.

Negócios de mera administração e de disposição

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Os atos de disposição vão afetar a própria raiz do património, sendo atos através dos
quais o titular do direito patrimonial dispõe do património. Enquanto que os negócios de
mera administração não afetam a raiz do património.

Capítulo II
A declaração negocial
A declaração negocial é um elemento integrante do negócio jurídico, conduzindo a sua
falta à inexistência material do negócio.
Pode definir-se como o comportamento que, exteriormente observado, cria a aparência de
exteriorização de um certo conteúdo de vontade negocial, caracterizando depois a
vontade negocial como a intenção de realizar certos efeitos práticos, com ânimo de que
sejam juridicamente tutelados e vinculantes. Temos um comportamento declarativo que
visto exteriormente tem a aparência de declaração.

Atos jurídicos e de natureza não negocial

O art. 295º manda aplicar aos atos não negociais as disposições da doutrina geral do
negócio jurídico, “na medida em que a analogia das situações o justifique”. Esta questão
será diferente se estivermos perante atos pessoais.

Elementos constitutivos da declaração negocial

A declaração negocial pode decompor-se em 2 elementos:


- elemento externo: a declaração propriamente dita, portanto o comportamento
declarativo;
- elemento interno: a vontade – consiste na realidade volitiva que normalmente coincidirá
com o sentido objetivo da declaração. Este elementos pode ainda decompor-se em 3
subelementos:
• A vontade de ação – consiste na voluntariedade do comportamento declarativo;
• A vontade da declaração – consiste no declarante atribuir ao comportamento
querido o significado de uma declaração negocial;
• A vontade negocial – consiste na vontade de celebrar um negócio jurídico de
conteúdo coincidente com o significado exterior da declaração.

Declaração negocial expressa e tácita

Ø Expressa: quando feita por palavras, escrito, ou quaisquer outros meios diretos,
frontais, imediatos de expressão de vontade – art. 217º,1.
Ø Tácita: deduz-se de factos que revelam uma vontade num sentido, decorre de um
comportamento concludente.

O valor do silêncio como meio declarativo

Em regra, o silêncio não tem valor declarativo, mesmo que o sujeito pudesse/devesse
falar. O código civil resolve o problema no art 218º, estabelecendo que “ o silêncio não

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vale como declaração negocial, a não ser que esse valor lhe seja atribuído por lei,
convenção ou uso”.
Artigos 217º e SS, 923º e 1163º.

Declaração negocial presumida ou ficta

A presumida tem lugar quando a lei liga a determinado comportamento o significado de


exprimir uma vontade negocial, em certo sentido, podendo ilidir-se tal presunção mediante
prova em contrário.

A ficta tem lugar sempre que a um comportamento seja atribuído um significado legal
tipicizado, sem admissão de prova em contrário.

Protesto e reserva

Ø Protesto: uma contradeclaração para acautelar o sentido da declaração negocial.


Quando se quer assegurar que a declaração é tida numa determinada direção.
Ø Reserva: uma modalidade de protesto, consiste na declaração de que certo
comportamento não significa a renúncia à um direito próprio ou reconhecimento de
direito alheio.

Forma da declaração negocial

Vantagens do formalismo negocial:


§ Assegura uma maior reflexão das partes;
§ Separa os termos definitivos do negócio da fase pre contratual;
§ Permite uma configuração mais precisa e completa da vontade das partes;
§ Proporciona uma maior certeza sobre a celebração do negócio e os seus termos;
§ Possibilita uma certa publicidade do ato, o que interessa ao esclarecimento de
terceiros.

Inconvenientes:
§ Redução da fluência e celeridade do comércio jurídico;
§ Eventuais injustiças (custos).

O princípio geral é o da liberdade de forma, mas existem muitas exceções. Este princípio
significa que as partes podem adotar ou não uma forma, quando a lei não o exija.

v Forma convencional: as partes escolhem a forma;


v Forma legal: abrange não só os elementos essenciais do negócio, mas todas as
clausulássemos que acessórias, típicas ou atípicas, relativamente às quais se
tenha celebrado o acordo.

Estipulações verbais anterior à forma ou contemporâneas: só serão válidas de não


contrariarem o documento, ou se forem correspondentes à vontade das partes. Limitação
– art. 394º, prova testemunhal.

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Cláusulas posteriores: se estiverem abrangidas pela razão que levou à exigência da
norma, também serão formalizadas, se for um aspecto secundário as partes podem
chegar a acordo de forma informal.

Formalidades

Substanciais: prendem-se com a substância do negócio.


Probatórias: a forma tem um intuito probatório, logo sem forma o negócio terá de ser
provado por outros meios, mais difíceis de obter.

Inobservância da forma

A inobservância da forma leva à nulidade do negócio. Mas podem existir outras


consequências. Se o negócio for considerado nulo e as partes o quiserem manter, tem de
se verificar a forma estabelecida na lei.

Nos casos em que a forma é convencional, presume-se que as partes não se quiseram
vincular. Mas se chegam a acordo e nesse momento ou posteriormente o colocam por
escrito, a forma é meramente probatória.

Perfeição da declaração negocial

A declaração negocial com um destinatário ganha eficácia logo que chegue ao seu poder
ou é dele conhecida. As declarações não receptícias tornam-se eficazes logo que a
vontade se manifesta na forma adequada.

O contrato está perfeito quando a respostas, contendo a aceitação, chega à esfera de


ação do proponente, isto é, quando o proponente passa a estar em condições de a
conhecer.

A declaração será ineficaz se for recebida ‘’pelo destinatário em condições de, sem culpa
sua, não poder ser conhecida’’ – artigo 224º,3.

Recebida a proposta temos 3 possibilidades:


- Aceitação da proposta;
- Rejeição da proposta;
- Aceitação da proposta mas instroduzindo alterações. O que corresponde a uma
rejeição da proposta, visto que não existe acordo sobre todos os pontos para a
formação do contrato. Acaba por ser emitida uma nova proposta e os papéis de
proponente e destinatário invertem-se – art 233º.

Emissão de uma proposta a favor de pessoas indeterminadas

Entende-se que existe enquanto um convite a contratar e que não equivale realmente a
uma proposta.

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O DL24/2014 resulta da transposição de uma diretiva europeia sobre contratos celebrados
à distância, e pronuncia-se em especial sobre a venda por catálogo. Segundo o artigo 21º
deste DL, estes catálogos, em princípio, têm o conteúdo de uma proposta contratual.
Já o artigo 32º do DL 7/2004 (acerca do comércio eletrónico), diz que a oferta em rede,
em linha, representa uma proposta contratual quando preencher todos os requisitos (do
artigo 32º).

São verdadeiras propostas contratuais, se contiverem todos os elementos necessários


para que o contrato se forme com a aceitação.

A publicidade, por sua vez, é um mero convite a contratar.

No caso de responsabilidade na formação dos contratos, aplica-se o artigo 227º - culpa en


contrahendo – que remete para os prazos do 498º - 3 anos.

Interpretação e integração

A interpretação nos negócios jurídicos é a atividade dirigida a fixar o sentido e alcance


decisivo dos negócios. Trata-se de determinar o conteúdo das declarações de vontade, e
os efeitos que o negócio visa produzir, em conformidade com tais declarações.

Para as posições subjetivistas o intérprete deve buscar, através de todos os meios


adequados, a vontade real do declarante. Isto é, o negócio vale como foi querido pelo
autor da declaração.

Para as posições objetivistas o intérprete vai pesquisar um sentido exteriorizado ou


cognoscível através de certos elementos objetivos. Não se dá relevo à vontade real do
declarante ou do declaratário. O objeto da interpretação é a declaração. É uma
interpretação normativa e não psicológica.

• Teoria da impressão do destinatário


A declaração deve valer com o sentido que um destinatário razoável, colocado na
posição concreta do real declaratário, lhe atribuiria. Esta é a posição adotada pelo
nosso código, no artigo 236º. No entanto, existe uma limitação, o artigo 236º, 2 que
estabelece que sempre que se conheça a vontade real do declarante, é de acordo
com ela que vale a declaração emitida. Mesmo nos casos de formulação ambígua
ou inexata, releva o sentido querido pelo declarante (artigo 238º, 2).

Se, porém, a dúvida a que se chegar no termo do labor interpretativo foi insanável, parece
que a declaração é ineficaz, por aplicação, ao menos analógica, do artigo 224º,3.

O critério a utilizar para o efeito de realizar a integração dos negócios jurídicos lacunosos
é a enunciado no artigo 229º.

Divergência entre a vontade e a declaração

Divergencia intencional:
• Simulação
• Reserva mental
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• Declarações não sérias

Divergencia não intencional


• Coação
• Divergência não intencional ignorada
o Erro/obstáculo
o Falta de consciência

Simulação
O declarante emite uma declaração não coincidente com a sua vontade real, por força do
conluio com o declaratário, com intenção de enganar terceiros.

Reserva Mental
O declarante emite uma declaração não coincidente com a sua vontade real, sem
qualquer conluio com o declaratário, visando precisamente enganar este.

Declarações não sérias


O declarante emite uma declaração não coincidente com a sua vontade real, sem ter
consciência dessa falta de coincidência.

Falta de consciência da declaração


O declarante emite uma declaração, sem sequer ter consciência (vontade) de estar a
fazer uma declaração negocial, podendo até faltar completamente a vontade de agir.

Coação física ou violência absoluta


O declarante é transformado num autómato, sendo forçado a dize ou escrever o que não
quer, por força do emprego de uma força física irresistível.

Teorias que visam resolver esta divergência

a) Teoria da vontade: propugna a invalidade do negócio (não vale a vontade de


nenhuma das partes), desde que se verifique uma divergência entre a vontade e a
declaração.
b) Teoria da ‘’culpa en contrahendo’’: parte da teoria da vontade, mas acrescenta-
lhe a obrigação de indemnizar a cargo do declarante .
c) Teoria da responsabilidade: assenta na ideia da teoria da ‘’culpa en
contrahendo’’, com a diferença de, em caso de dolo ou culpa do declarante, e
estando de boa fé o declaratário, o negócio ser válido.
d) Teoria da declaração: esta dá relevo fundamental à declaração, ou seja, ao que
foi exteriormente manifestado. O negócio seria válido.

O código civil não contém uma norma que resolva, em geral, o problema da divergência
entre a vontade e a declaração. Podemos dizer que seguimos uma vertente declarativista,
ou seja, trta-se da proteção e preservação do negócio jurídico em detrimento da vontade
do declarante. No entanto temos de ver caso a caso.

Simulação

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Conceito

O conceito de negócio simulado está explicitamente formulado no artigo 240º,1. Os


elementos integradores do conceito são:
a) Intencionalidade da divergência entre a vontade e a declaração;
b) Acordo entre declarante e declaratário;
c) Intuito de enganar terceiros.

Modalidades da simulação

Uma primeira distinção é a que se estabelece entre simulação inocente e fraudulenta. A


simulação é inocente se houve o mero intuito de enganar terceiros, sem os prejudicar
(animus decipiendi) e é fraudulenta, se houve o intuito de prejudicar terceiros ilicitamente
ou de contornar qualquer norma da lei (animus nocendi). A simulação fraudulenta é, de
longe, a mais frequente.

Outra destrinça é a que se faz entre simulação absoluta e relativa.


A simulação absoluta acontece quando as partes fingem celebrar um negócio jurídico e
na realidade não querem nenhum negócio jurídico.
A simulação relativa acontece quando as partes fingem celebrar um certo negócio
jurídico e na realidade querem um negócio jurídico de tipo ou conteúdo diverso.
• Negócio dissimulado é o negócio que se pretendia efetivamente realizar.

Estas destrinça é importante na medida em que os negócios simulados são nulos, e no


caso de simulação absoluta não se coloca mais questões, mas no caso de simulação
relativa surge o problema do tratamento a dar ao negócio dissimulado.

Efeitos da simulação absoluta

A simulação importa a nulidade do negócio simulado, - art. 240º,2 – a menos que a lei
preveja um regime diferente (o testamento e o casamento simulados são anuláveis, art.
2200º e 1635º).

De acordo com o regime geral, pode qualquer interessado invocar a nulidade e o tribunal
pode declará-la oficiosamente (art. 242º e 286º).

Pode ser arguida a todo o tempo (art. 286º), quer o negócio não esteja cumprido (art.
287º,2), quer tenha tido lugar o cumprimento.

Modalidades da simulação relativa

A simulação relativa manifesta-se em espécies diversas consoante o elemento do negócio


dissimulado a que se refere (simulação subjetiva ou dos sujeitos e simulação objetiva ou
sobre o conteúdo dos negócio).

Ø Simulação subjetiva ou dos sujeitos


Podem ser simulados os sujeitos do negócio jurídico, mais frequentemente um
apenas. (ver interposição fictícia de pessoas)

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Ø Simulação objetiva ou sobre o conteúdo do negócio
a) Simulação sobre a natureza do negócio;
b) Simulação sobre o valor.

Interposição fictícia de pessoas: há um conluio entre os sujeitos reais da operação e o


interposto. Este é um simples testa de ferro, um ‘’homem de palha’’. Não devemos
confundir com a interposição real, nesta não existe conluio entre os sujeitos, não temos
uma simulação mas sim um mandato sem representação (art. 1180º e ss.).

Efeitos da simulação relativa

O negócio simulado está ferido de nulidade, tal como na simulação absoluta.


Já o negócio real ou dissimulado será objeto do tratamento jurídico que lhe caberia se
tivesse sido concluído sem siddimulação (art. 241º). Logo, o negócio pode ser válido e
eficaz ou inválido, consoante as consequências que teriam lugar, se tivesse sido
abertamente concluído.

a) Simulação em prejuízo da fazenda pública


De acordo com o disposto no artigo 39º LGT, em caso de simulação, a tributação recai
sobre o negócio real, e não sobre o negócio simulado, dependendo, porém, a tributação
de negócio real que conste de documento autêntico, de decisão judicial a declarar a sua
nulidade.

b) Efeitos da simulação quanto aos negócios formais


Os problemas suscitados pela aplicação aos negócios formais da doutrina geral da
simulação relativa encontram a sua resposta no nº2 do artigo 241º. Aí se estatui que “ se,
porém, o negócio dissimulado for de natureza formal, só é válido se tiver sido observada a
forma exigida por lei”.

Resulta do teor desta disposição que, se não se cumpriram, no negócio simulado, os


requisitos de forma exigidos para o dissimulado, este será nulo por vício de forma, mesmo
que se tenham observado as formalidades exigidas para o negócio aparente. O negócio
simulado é nulo por simulação e o dissimulado é nulo por vício de forma.

Há autores que defendem que o negócio simulado não devia ser nulo, se as razões que
estão na base da exigência da sua forma ficaram satisfeitas com a observância das
soleinidades próprias do negócio simulado.

A doutrina exposta é que a vale para a simulação de pessoas e simulação sobre a


natureza do negócio. Quanto à simulação de preço, quer o preço seja maior ou menor,
não há obstáculo de natureza formal a que seja eficaz a venda pelo preço efetivamente
convencionado.

Restrições à arguição da simulação pelos simuladores

A nulidade a ser invocada pelos próprios simuladores entre si, sofre uma apreciável
restrição indirecta por força do artigo 394º,2. Aí se estabelece que é inadmissivel a prova
testemunhal do acordo simulatório e do negócio dissimulado, quando invocados pelos
simuladores. A prova de simulação pelos simuladores é assim praticamente restringida à
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prova documental e à confissão, pois não é admissivel a prova por presunções, nem a
testemunhal.

A simulação e terceiros

O conceito de terceiros, para efeitos de invocação da simulação, é, normalmente, definido


de forma a abranger quaisquer pessoas, titulares de uma relação, jurídica ou praticamente
afectada pelo negócio simulado e que não sejam os próprios simuladores ou os seus
herdeiros (depois da morte de cujus).

A nulidade do negócio simulado pode, como todas as nulidades, ser invocada por
qualuqer interessado e declarada ex officio pelo tribunal (art. 286º, ressalvado no art.
242º,nº1).

O artigo 243º, consagra expressamente a regra da inoponibilidade da simualção contra


terceiros de boa fé. Mas não se limita a inoponibilidade a certa ou certas categorias de
terceiros: a simulação é oponível a quaisquer terceiros de boa fé, quer derivem os seus
direitos de um acto oneroso, quer os derivem de um acto gratuito.

Conflitos de interesses de terceiros na nulidade/validade do negócio jurídico

Se não se entender que o artigo 243º é aplicável apenas à arguição da nulidade pelos
simuladores, tornam-se possíveis conflitos entre terceiros que pretendem arguir a
nulidade do negócio simulado e terceiros cujos interesses exigem que o negócio simulado
seja tratado como válido.

Vejamos algumas hipoteses tipicas deste conflito:

a) Conflito entre credores comuns, ou quirográficos, do simulado alienante, e credores


comuns do simulado adquirente. Parece mais plausível aceitar que se deve dar
preferência aos interesses dos últimos, salvo se os créditos de uns e de outros são
anteriores ao nnegócio simulado.
b) Conflitos entre credores comuns do simulado alienante e subadquirentes do
simulado adquirente. Parecem ser de prevalecer os interesses dos subadquirentes
do simulado adquirente.
c) Conflito entre subadquirentes do simulado alienante e subadquirente do simulado
adquirente. Prevalece a venda mais antiga ou a que foi primeiro registada.

Prova da simulação

A prova do acordo simulatório e do negócio dissimulado por terceiros é livre, podendo ser
feita por qualquer dos meios admitidos na lei: confissão, documentos, testemunhas,
presunções, etc., dado que a lei não estabelece qualquer restrição.

Quanto à prova da simulação pelos próprios simuladores, a lei estabelece, quando o


negócio simulado conste de documento autêntico ou particular, a importante restrição
constante do artigo 394º, nº2: não é admissivel o recurso à prova testemunhal e,
consequentemente, estão também excluídas as presunções judiciais (art. 351º).

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Outras figuras de divergência intencional


Reserva Mental

Conceito:
1. Emissão de uma declaração contrária à vontade real;
2. Intuito de enganar o declaratário.

Efeitos

Os efeitos desta figura são determinados pelo nº2 do artigo 244º, onde se estatui a
irrelevância da reserva mental, excepto se for conhecida do declaratário.
Se a reserva mental for desconhecida, a declaração produz os seus efeitos.
Independentemente da reserva mental ser inocente ou fraudulenta, se ela é
desconhecida, a reserva não prejudica a validade da declaração. A lei protege o
declaratário, protegendo um negócio que não corresponde à vontade real do declarante.
Se a reserva mental é conhecida do declaratário, então já não faz sentido proteger o
declaratário, porque ele tem conhecimento de que está a ser enganado e a declaração é
nula.

Em algumas hipóteses de reserva mental feita com intuitos piedosos ou caridosos, em


que alguém emite uma declaração que não corresponde à sua vontade, mas não para
enganar a contraparte, mas para a proteger, a doutrina tem avocado a aplicação da figura
do abuso de direito nos casos em que o declaratário vem pedir o cumprimento das
obrigações.
Declarações não sérias

Esta declaração não visa enganar ninguém. O sujeito pena que o declaratário não
desconhece a falta de seriedade da declaração. Cabem aqui as declarações jocosas,
cênicas, didáticas, etc.
Se houver o intuito de enganar alguém, deixamos de ter uma declaração não seria e
passamos a ter uma situação de reserva mental.

Consequências: nulidade, art. 245º. No entanto, o nº2 do mesmo art. diz que poderão
existir outros efeitos, como uma indemnização, verificados alguns requisitos. Protegendo
a confiança gerada na contraparte.

Coação física ou absoluta ou ablativa


A coação física ou absoluta importa, nos termos do artigo 246º, a ineficácia da declaração
negocial.

Falta de consciência da declaração

Nestas duas figuras acima mencionadas (coação física e falta de consciência da


declaração) não há uma vontade, e a divergência que vai haver não é intencional. Art.
246º - a declaração não produz qualquer efeito. Falta a vontade, o que leva à ausência

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material da declaração. Para termos uma nulidade temos de ter materialmente um corpus
de declaração, mas aqui até seria um caso de inexistência jurídica (discutível).

Não produz efeitos, mas se a falta de consciência for imputável ao declarante, este pode
ter de indemnizar o declaratário (no caso da falta de consciência da declaração).

Erro na declaração ou erro-obstáculo

O declarante emite uma declaração que não corresponde à sua vontade, mas o
declarante enganou-se, ele não sabe da divergência, ele julga estar a declarar o que quer,
mas está em erro ou julgava que as suas palavras tinham outro sentido.

Consequência: anulabilidade – uma invalidade menos grave, mas esta não é automática
porque a lei estabelece um requisito para que o negócio seja anulável. A lei não exige que
a lei conheça o erro, nem sequer impõe que o erro seja desculpável. Mas impõe com um
requisito que se prende com o declaratário: “conhecesse ou não devesse ignorar a
essencialidade, para o declarante, do elemento sobre que incidiu o erro”. O declaratário
tem de saber que há um determinado aspecto no negócio que é essencial para a
contraparte, e o facto de incidir um erro sobre essa questão já não tem de saber.

Se o erro do declarante não incide sobre um aspecto essencial, o negócio não é anulado.
Para que o negócio seja anulado, é preciso que o aspecto sobre o qual recai a
divergência seja decisivo para a formação da vontade do declarante. Art. 232º.

Portanto:
1. Se o declaratário se apercebeu do dissídios entre a vontade real e a declarada e se
conheceu a vontade real do declarante, o negócio valerá de acordo com a vontade
real (art.236º,2).
2. Se o declaratário conheceu, ou devia ter conhecido, o próprio erro, o regime
aplicável continua a ser a anulabilidade.
3. Se o declaratário aceitar o negócio como o declarante queria, a anulabilidade
fundada em erro não procede (art.248º).

Erro na transmissão da declaração

Esta hipotese está prevista no artigo 250º, que a disciplina nos mesmos termos do erro-
obstáculo. O erro na transmissão da declaração não tem, portanto, relevância autónoma;
desencadeará o efeito anulatório apenas nos termos do artigo 247º.

Estabelece-se, porém, uma excepção a este regime geral do nº2 do 250º, admitindo-se a
anulação sempre que o intermediário emite intencionalmente (com dolo) uma declaração
diversa da vontade do dominus negotti.

Vícios da Vontade

Conceito

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Trata-se de perturbações do processo formativo da vontade, operando de tal modo que
esta, embora concorde com a declaração, é determinada por motivos anómalos e
valorados, pelo direito, como ilegítimos. A vontade não se formou de um modo “julgado
normal e são”.

Vícios a que o nosso direito atribui em geral relevância autónoma: erro-vício, dolo,
coacção moral, incapacidade acidental e estado de necessidade.

Duas figuras próximas dos vícios de vontade, são os negócios usurários e os vícios
redibitórios.

Negócios usurários: há um desequilíbrio de prestações, alguém pretende retirar


benefícios injustificados relativamente a certas pessoas que se encontram em situação de
inferioridade, art. 282º. Nos contratos de mútuo a lei estabelece um regime especial, art.
282º,2.

Vícios redibitórios: vícios ocultos da coisa, que tornam a coisa imprópria para o fim a
que se destina, ou então, reduzem de tal maneira a aptidão para o uso a que se destina,
que se o pagante conhecesse esse vício não teria adquirido a coisa.
A nossa lei não confere autonomia a estes vícios, temos um regime de compra e venda
de coisa defeituosa, mas um contrato de compra e venda de coisa defeituosa só será
inválido se se verificarem os fundamentos da anulabilidade-913º e SS. No entanto, para
além do regime a compra venda defeituosa, temos um regime especial no DL67/2003 de
garantia na compra e venda de bens de consumo. Quando o vício da coisa surge no
contexto de uma compra e venda de consumo, em que temos um vendedor e consumidor,
o regime aplicável não é o do CC, mas sim o regime deste DL. O regime do código é
secundário na medida em que os problemas surgem no contexto de contratos celebrados
com o consumidor.
A possibilidade de anular o negócio com vício redibitório caduca no prazo de 30 dias e
dentro dos 6 meses da entrega da coisa.

O erro como vício da vontade

O erro-vício traduz-se numa representação inexata ou na ignorância de uma qualquer


circunstância de facto ou de direito que foi determinante na decisão de efetuar o negócio.
Trata-se, pois, de um erro nos motivos determinantes da vontade.

Distinção entre erro-vício e erro-obstáculo


O primeiro é um vício da vontade, o segundo é uma divergência entre a vontade e a
declaração. O erro-vício é um erro na formação da vontade; o erro-obstáculo ou erro na
declaração é um erro na formulação da vontade.

Condições gerais de relevância do erro-vício como motivo de anulabilidade

Essencialidade
Só é relevante o erro essencial, isto é, aquele que levou o errante a concluir o negócio em
si mesmo e não apenas nos termos em que foi concluído. O erro foi causa da celebração
do negócio e não apenas dos seus termos. O erro é essencial se, sem ele, se não
celebraria qualquer negócio ou se celebraria um negócio com outro objeto ou de outro tipo
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ou com outra pessoa. Já não relevaria o erro incidental, isto é, aquele que que influiu
apenas nos termos do negócio, pois o errante sempre contrataria, embora noutras
condições. O erro é incidental se, sem ele, o errante, embora noutros termos, sempre
celebraria o mesmo negócio. Artigos 251º e 252º CC.

Propriedade
O erro só é próprio quando incida sobre uma circunstância que não seja a verificação de
qualquer elemento legal da validade do negócio. Ou seja, o erro tem de ser próprio, tem
de ser fundamento autónomo de invalidade do negócio, tem de incidir sobre um elemento
que não seja um elemento legal.

Havendo um erro determinante na formação da vontade, tem de ter havido um acordo


entre as partes, no qual elas acordaram que aquele motivo era um motivo essencial na
formação da vontade, para o negócio ser anulável. Ou seja, em regra, o erro/vício não é
fundamento da anulabilidade do negócio.

Condições especiais de relevância do erro-vício como motivo de anulabilidade

Erro sobre a base do negócio: se o erro incidir sobre as circunstâncias que constituem a
chamada base “base negocial”, haverá lugar à anulabilidade do contrato, nos termos em
que, nos artigos 437º a 439º, se dispõe acerca da resolução por alteração das
circunstâncias vigentes no momento em que o negócio foi concluído: “desde que a
exigência das obrigações assumidas afete gravemente os princípios da boa-fé e não
esteja coberta pelos riscos próprios do contrato”. Não se exigirá, portanto, nestes casos,
uma cláusula de “condicionamento”.

Erro sobre o objeto do negócio: está previsto no artigo 251º, quer na hipótese do erro
sobre a identidade, quer na do erro sobre as qualidades. O negócio será anulável nos
termos previstos no artigo 247º para o erro-obstáculo, isto é, “desde que o declaratário
conhecesse ou não devesse ignorar a essencialidade, para o declarante, do elemento
sobre que incidiu o erro”.

Erro sobre a pessoa do declaratário: abrange igualmente o erro sobre a identidade e o


erro sobre as qualidade. Está também previsto no artigo 251º, cabendo-lhe, portanto, o
regime correspondente ao erro na declaração.

Dolo

Conceito

A noção de dolo consta do nº1 do artigo 253º. Trata-se de um erro determinado por um
certo comportamento da outra parte. Só existirá dolo quando se verifique o emprego de
qualquer sugestão ou artifício com a intenção ou consciência de induzir ou manter em erro
o autor da declaração (dolo positivo ou comissivo), ou quando tenha lugar a dissimulação,
pelo declaratário ou por terceiro, do erro do declarante (dolo negativo, omissivo ou de
consciência).

Modalidades
A) Dolo positivo e negativo – art. 253º.
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B) Dolus bonus e dolus malus. Só é relevante, como fundamento de anulabilidade e
de responsabilidade, o dolus malus. A lei tolera a simples solércia ou astúcia,
reputada legítima pelas concepções imperantes num certo setor negocial. Com
efeito, a lei declara não constituírem dolo ilícito, sendo, portanto, dolus bonus, as
sugestões ou artifícios usuais, considerados legítimos, segundo as concepções
dominantes no comércio jurídico (art. 253º,2).
C) Dolo inocente e dolo fraudulento. No primeiro há mero intuito enganatório,
enquanto no segundo há o intuito ou a consciência de prejudicar. A distinção não
tem interesse prático, em ambos os casos se verificam os mesmos efeitos.
D) Dolo proveniente do declaratário e dolo proveniente de terceiro. A distinção tem
grande importância, pois, para a relevância do dolo de terceiro, são exigidas certas
condições suplementares que devem acrescer às do dolo do declaratário e o seu
efeito é mais restrito. Existirá, não apenas dolo de terceiro, mas também dolo do
declaratário, se este for cúmplice daquele ou conhecer a atuação de terceiros (art.
254º, 2).
E) Dolo essencial ou determinante e dolo incidental. A distinção põe-se nos termos em
que se pôs para o erro. No dolo essencial o enganado foi induzido pelo dolo a
concluir o negócio em si mesmo e não apenas nos termos em que foi concluído;
sem dolo não se teria concluído qualquer negócio. No dolo incidental i enganados
apenas foi influenciado quanto aos termos do negócio, pois sempre contrataria,
embora noutras condições. O dolo incidental não conduz, desde logo,
necessariamente, à anulação, nos termos já indicados a propósito do erro.

Condições de relevância do dolo como motivo de anulação

I – O principal efeito do dolo é a anulabilidade do negócio (art. 254º,1); mas carece a


responsabilidade pré-negocial do autor do dolo (deceptor), por ter dado origem à
invalidade, com o seu comportamento contrário às regras da boa-fé, durante os
preliminares e a formação do negócio (art. 277º).

A responsabilidade do autor do dolo é uma responsabilidade pelo dano da confiança ou


interesse contratual negativo. Em suma: o deceptus tem o direito de repristinação da
situação anterior ao negócio e a cobertura dos danos que sofreu por ter confiando no
negócio e que não teria sofrido sem essa confiança. Ao invés, não pode pretender ser
colocado na situação em que estaria se fossem verdadeiros os factos fingindo-a perante
ele.

II – Condições:
1. Deve tratar-se de dolus malus (art. 253º,2);
2. Deve ser essencial ou determinante;
3. Existência no deceptor da intenção ou consciência de induzir ou manter em erro;
4. O próprio dolo bilateral ou recíproco pode ser invocado como fundamento de
anulação (2ª parte do nº1 do artigo 254º).

III – Condições de relevância do dolo de terceiro como motivo de anulação


1. Se o declaratário conheceu ou lhe foi cognoscível o dolo de terceiro, o negócio será
totalmente anulavel.
2. Se o declaratário não conheceu nem devia conhecer o dolo de terceiro, o negócio
só será anulavel, se ao terceiro deceptor adveio, por força do negócio, diretamente
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algum direito (isto é, se existir no contrato cláusula a seu favor) e a anulação será
limitada à cláusula a favor do terceiro (invalidade parcial).

A coação

Conceito

I – Consta do artigo 255º,1, e consiste no “receio de um mal de que o declarante foi


ilicitamente ameaçado com o fim de obter dele a declaração”. É, portanto, a perturbação
da vontade, traduzida no medo resultante de ameaça ilícita de um dano (de um mal),
cominada com o intuito de extorquir a declaração negocial.
Só há vício da vontade quando a liberdade do coato não foi totalmente excluída, quando
lhe foram deixadas possibilidades de escolha, embora a submissão à ameaça fosse a
única escolha normal. Assim estaremos dentro do campo da coação moral (coação
relativa ou compulsiva), mesmo no caso da ameaça com arma de fogo ou no caso de
emprego da violência física, como começo de execução do mal cominado, par compelir ao
negócio.

II – Não basta um simples medo ou receio; a lei exclui, desde logo, o chamado temor
referencial (art. 255º,2). Torna-se necessário que o receio provenha de uma ameaça
ilícita. Exige-se igualmente que a cominação do mal vise extorquir a declaração negocial.

Modalidades

I – Coação física (absoluta) e coação moral (relativa)


A primeira reduz o coagido à condição de mero instrumento ou autómato, e dá lugar à
inexistência do negócio (art. 246º). A segunda reduz a liberdade do coagido mas não a
elimina, ou seja, a liberdade é cercada mas não excluída, sendo o coagido ameaçado de
um mal se não emitir a declaração; esta dá lugar à mera anulabilidade (art. 256º).

II – Coação principal ou incidental


A distinção põe-se nos termos expostos a propósito do erro e do dolo.

III – Coação dirigida à pessoa ou à honra ou à fazenda do declarante ou terceiro


No regime geral da coação não há qualquer diferença de tratamento. A ameaça pode
dizer respeito à pessoa como à honra ou fazenda do declarante ou de terceiro (art.
255º,2).

Condições de relevância da coação como motivo de anulabilidade

I – A coação moral origina a anulabilidade do negócio (art. 256º) e dá lugar igualmente à


responsabilidade pré-negocial do coator (art. 227º).

II – Coação exercida pelo outro contraente – só produzirá anulabilidade quando ocorram


os seguintes requisitos:

1. Que se trate de uma coação essencial ou principal;


2. Intenção de extorquir a declaração;
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3. Ilicitude da ameaça:
- ilegitimidade dos meios empregues
- ilegitimidade do fim, ou melhor, da prossecução daquele fim com aquele meio.

Já não haverá coação, se há apenas a ameaça do uso de um direito para conseguir a


satisfação ou a garantia de um direito existente (p. ex. ameaça de recurso às vias de
direito).

III – Coação exercida por terceiro


Provoca a anulabilidade do negócio e põe a cargo do coator uma obrigação de indemnizar
o declarante, coagido, e o declaratário, se não for cúmplice do terceiro.

Requisitos: art. 256º, 2ª parte


- gravidade do mal cominado, apreciada objetivamente, mas em relação aos vários tipos
de indivíduos.
- justificado receio da consumação do mal: deve ser uma ameaça de viável execução,
atendendo à capacidade de resistência, em confronto com as possibilidades do
cominante, tipo médio de indivíduo com as condições pessoais (sexo, idade, cultura, etc.)
do declarante.

Coação moral e o simples temor reverencial

O nº3 do artigo 255º, consagra expressamente o princípio, segundo o qual, o temor


reverencial (medo de incorrer no desagrado ou desafeto de outrem, a quem se deve
respeito, gratidão, etc.) não constitui coação, sendo assim, irrelevante como motivo
determinante da vontade.

Estado de necessidade e outras situações como vícios da vontade negocial

Conceito

Situação de receio ou temor gerada por um grave perigo que determina o necessitado a
celebrar um negócio para superar o perigo em que se encontra.

Confronto com a coação

A confusão só pode surgir quando o estado de necessidade for ocasionado por um facto
humano. Neste caso, estaremos perante a figura do estado de necessidade quando a
situação de perigo não for criada com o desígnio de extorquir um negócio (falta de
intenção de coagir).

Valor dos negócios jurídicos realizados em estado de necessidade

I – No nosso código civil, a hipótese dos negócios em estado de necessidade deve


subsumir-se na previsão do artigo 282º, onde se estatui a anulabilidade dos chamados
negócios usurários. No entanto, devem verificar-se os seguintes requisitos:
1. Requisitos objetivos: benefícios excessivos ou injustificados. Tem de haver uma
desproporção clara entre as prestações. Só haverá benefícios excessivos ou

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injustificados quando, segundo todas as circunstâncias, a desproporção ultrapassa
os limites do que pode ter alguma justificação.
2. Requisitos subjetivos: a exploração de situações tipificadas, é uma situação de
necessidade, inexperiência, ligeireza, dependência, estado mental ou fraqueza de
caráter.

A anulabilidade, prescrita no art. 282º, pode, porém, a requerimento do necessitado ou da


parte contrária, ser substituída (art. 283º) pela modificação do negócio, segundo juízos de
equidade (redutibilidade).
O prazo para requerer a anulabilidade começa a contar desde a cessação da situação de
inferioridade.
Sobre o especial regime da anulabilidade ou modificação, no caso de usura criminosa, cfr.
artigo 284º.

II – Este regime dos artigos 282º e 283º não se aplicará, havendo antes lugar à nulidade,
quando a pessoa que se aproveita conscientemente da situação de necessidade tinha o
dever de auxiliar o necessitado (ato contrário à lei ou aos bons costumes).

Incapacidade acidental

A incapacidade acidental consiste num desvio no processo formativo da vontade da


pessoa em relação às circunstâncias normais do seu processo deliberativo.
A hipótese está prevista no artigo 257º, onde se prescreve a anulabilidade, desde que se
verifique o requisito da notoriedade ou conhecimento da perturbação psíquica. Este
requisito significa a cognoscibilidade por uma pessoa média, colocada na posição
concreta do declaratário.

A representação nos negócios jurídicos

Conceito

I - A representação traduz-se na prática de um ato jurídico em nome de outrem, para na


esfera desse outrem se produzirem os respectivos efeitos. Para que ela, todavia, seja
eficaz torna-se necessário que o representante atue “nos limites dos poderes que lhe
competem” – artigo. 258º- ou que o representado realize, supervenientemente, uma
ratificação. Os poderes de representação podem ser atribuídos, por um ato voluntário,
pelo representado ao representante: fala-se em representação voluntária e o acto
voluntário atribuidor de poderes representativos chama-se procuração. Podem resultar
dos estatutos de uma pessoa coletiva ou, verificadas certas situações, ser concedidos
pela lei a representantes legais (pais, tutores, administrador de bens, etc.).

II – Não há coincidência entre as noções de representação e de mandato. O mandato é


um contrato pelo qual uma das partes se obriga a praticar um ou mais atos jurídicos por
conta da outra (artigo.1157º); trata-se de uma modalidade particular do contrato de
prestação de serviço. A representação já ficou definida acima e, do confronto entre as
duas noções resulta que:

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a) Pode haver mandato sem haver representação, quando o mandatário não recebeu
poderes para agir em nome do mandante;
b) Pode haver representação sem haver mandato, não só na hipótese da
representação legal, mas também no que toca à representação voluntária.

Espécies

a) Representação legal e representação voluntária


Na representação legal, o representante é indicado, verificada certa situação pela
lei, ou por decisão judicial em conformidade com a lei. São poderes de grande
amplitude, traduzindo-se em legitimidade para representarem, em princípio, o menor
ou o interdito em todos os seus assuntos pessoais ou patrimoniais. Verificam-se,
porém, limitações, e, em certos casos indicados na lei, os representantes legais
carecem de autorização judicial.
Na representação voluntária, os poderes do representante e a respectiva extensão
provêm da vontade do representado, manifestada na procuração. Esta pode ser geral,
isto é, abrangendo todos os atos patrimoniais, e, neste caso, só legitima para atos de
administração ordinária, ou especial, abrangendo apenas os atos nela referidos e os
necessários à sua execução.

b) Representação ativa e representação passiva.


A primeira é a atuação em nome de outrem na emissão de declarações negociais. A
segunda modalidade traduz-se em receber declarações negociais em nome de
outrem, para se produzirem os mesmos efeitos que se produziriam se tais declarações
fossem recebidas por esse outrem.

Confronto com institutos afins

a) O representante e o simples núncio


O representante emite uma declaração em nome de outrem enquanto o núncio
transmite uma declaração de outrem. O núncio é um mero longamanus, um braço
comprido. O representante consuma e o núncio transmite o já consumado.

1. O representante voluntário não precisa de ter plena capacidade legal, mas


carece de capacidade natural de entender e querer, exigida pela natureza do
negócio que haja de efetuar (artigo. 263º); enquanto ao núncio, bastará a
capacidade natural para transmitir a declaração de vontade, podendo uma
criança atuar como núncio. A plena capacidade legal do representante é
desnecessário, o que se justifica por o negócio ser indiferente para o
representante. O representado é que não pode ser incapaz, dado que os efeitos
do negócio se irão reproduzir na sua esfera jurídica.

b) A representação própria e a representação imprópria


A representação imprópria ou mediata – na qual o agente embora atuando no
interesse de outrem, age em nome próprio – é uma forma de mera representação de
interesses, que não torna o “dono do negócio” parte ou sujeito do ato jurídico praticado
pelo “representante”.
Na representação própria o negócio representativo produz efeitos na esfera do
representado.
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Na representação imprópria (mandato sem representação) o mandatário age em nome
próprio (arts. 1180º, 1181º, 1182º e 453º).

Admissibilidade da representação

A representação própria é regulada nos artigos 258º e ss do nosso código.

• Representação legal. A sua admissibilidade e o seu domínio de aplicação


resultam das disposições que a consagram para o efeito de se suprir a
incapacidade de menores (art.124º), a dos interditos (art.139º) e até dos
inabilitados (art.154º).
• Representação voluntária. É admitida nos termos dos artigos 262º e ss. O
mandato com representação (art.1178º), no qual está envolvida uma
procuração, é a fonte mais frequente de representação voluntária (art. 219º).

Pressupostos da representação

I – Pressuposto de eficácia da representação


O negócio só vale em relação ao representado. Não vale em relação ao representante;
este não é parte negocial. Artigo 259º,2.

II – Representação sem poderes e abuso de representação


Os atos praticados por um representante sem poderes ou “falsus procurator” são
ineficazes em relação à pessoa em nome da qual se celebrou o negócio, salvo se tiver
lugar a ratificação (artigo. 268º,1).
Nota: Estes negócios sem representação nem sempre são negativos, na medida em que
pode existir interesse do representado naquele negócio, mas o representante não ter tido
tempo para consultar com o representado, e para não deixar “fugir” a oportunidade de
celebrar o negócio, fá-lo, e se o representado sempre quiser o negócio ratifica-o.

Haverá abuso de representação, quando o representante atuar dentro dos limites formais
dos poderes conferidos, mas de modo substancialmente contrário aos fins da
representação. O artigo 269º, manda aplicar o regime do artigo 268º à hipótese de abuso
de representação, se a outra parte conhecia o abuso ou se este lhe era cognoscível.

Forma
O caráter formal ou consensual da ratificação, como, aliás, da procuração, depende das
exigências formais do negócio representativo (art. 268º,2 e 262º,2). Por uma questão de
prova é mais conveniente que a procuração esteja num documento escrito.

III – Aparência de poderes de representação


Temos de saber se nos casos em que o representante atuou sem poderes de
representação, o terceiro, que contratou com ele, confiando na aparência jurídica de
titularidade de poderes de representação, é protegido pela atribuição de efeitos ao
negócio em relação ao representado.
A resposta é negativa, sendo antes ao terceiro que incumbe exigir ao representante a
justificação dos seus poderes representativos (art. 260º).

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IV – Negócio consigo mesmo
O chamado negócio consigo mesmo é uma manifestação particular da representação sem
poderes (na medida em que o negócio é perfeitamente válido, desde que o representado
tenha especificadamente consentido na celebração), está ferido de anulabilidade (art.
261º) e não de ineficácia, como, prima facie, se poderia pensar e se teria de concluir se o
caso não estivesse expressamente hipotizado me norma especial (artigo 261º).
A razão de ser da proibição do negócio consigo mesmo é impedir, dada a colisão de
interesses, um prejuízo para o representado ou para um dos representados.

Elementos acidentais dos negócios jurídicos


(cláusulas acessórias típicas gerais)

Condição
Conceito, natureza e importância

I – As noções de condição suspensiva e de condição resolutiva constam do artigo 270º:


subordinação pelas partes a um acontecimento futuro e incerto, ou da produção dos
efeitos do negócio jurídico (condição suspensiva) ou da resolução dos mesmos efeitos
(condição resolutiva).

II – Natureza da estipulação condicional: trata-se de uma vontade hipotética, embora


actual e efetiva, exteriorizada numa declaração única e incindível.

III – Razão de ser e importância prática da condição: superação da incerteza objetiva do


futuro, através de um regulamento de interesses apto a, em qualquer hipótese, realizar a
representação que os sujeitos têm do seu interesse. Numa especial modalidade (condição
potestativa “a parte creditoris”) permite influir sobre o comportamento de outrem.

As chamadas condições impróprias

I – Noção Geral
Não reúnem todas as qualidades que caracterizam a condição verdadeira e própria:
1. evento futuro, ao qual está subordinada a eficácia do negócio;
2. caráter incerto do evento;
3. subordinação resultante da vontade das partes e não diretamente ex lege.

II – Diversas figuras de condições impróprias


a) condições referidas ao passado ou ao presente, visto que o evento condicionante
não é futuro, não existe, portanto, incerteza objetiva.
b) condições necessárias, visto que o evento não é incerto; trata-se antes de um
termo “certus na incertus quando”.
c) condições impossíveis, visto que a não verificação do evento é, desdo logo, certa.
d) condições legais, que são circunstancias posteriores a um negócio, que a lei exige
como requisito de eficácia do mesmo.
e) a anteriormente chamada condição resolutiva tácita ou resolução por
inadimplemento.

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A aponibilidade da condição

I – Princípio geral: a cláusula condicional é um elemento acidental, suscetível de ser


inserido na generalidade dos negócios, por força do princípio da liberdade negocial
(consagrado no artigo 405º, quanto aos contratos). Certos negócios são, porém,
incondicionáveis, por razões ligadas ao teor qualitativo (pessoal) dos interesses
respetivos ou por motivos de certeza e segurança jurídica. Por exemplo: artigos 848º
(declaração de compensação), 1618º,2 (casamento), 1852º (perfilhação), 2054º,1
(aceitação de herança), 2064º (repúdio da herança), 2323º,2 (aceitação testamentária).

II – Valor de condição aposta a um negócio incondicionável


A consequência da aposição de uma condição a um negócio incondicionável é a nulidade
do negócio. Tal solução, na falta de disposição que expressamente preceitue, resultará da
aplicação analógica do artigo 271º e até genericamente do artigo 294º.
A lei sanciona, por vezes, porém, uma solução diversa. Assim, quanto ao casamento,
dado o artigo 1618º,2 (considera-se não escrita a cláusula pela qual as partes queiram
submeter o casamento a uma condição), é válido o negócio, sendo nula apenas a
condição estipulada.

Classificação das condições

I – Condições suspensivas e resolutivas


O critério da distinção, nos termos do artigo 270º, é o da influência que a verificação do
evento condicionante tem sobre a eficácia do negócio: se a verificação da condição
importa a produção dos efeitos do negócio, não tendo estes lugar doutro modo, trata-se
de uma condição suspensiva, se a verificação da condição importa a destruição dos
efeitos negociais, aquela diz-se resolutiva.

II – Condições potestativas, casuais e mistas


O critério é o da natureza do evento condicionante, segundo a sua causa produtiva, isto é,
segundo o evento condicionante procede da vontade de uma das partes ou consiste num
acontecimento natural ou de terceiro ou é de caráter misto.

III – Condições possíveis e impossíveis. As chamadas condições ilícitas (contrárias à lei)


Os conceitos de condição impossível (física ou legalmente) e de condição contrária à lei
ou à ordem pública (ilícita por ilegalidade), ou ofensiva dos bons costumes (ilícita por
imoralidade), resultam claramente das considerações acerca dos requisitos legais do
objeto negocial: sempre que o evento condicionante não possa realizar-se por
impossibilidade física ou legal, ou seja, contrário à lei, à ordem pública ou ofensivo dos
bons costumes, a condição respectiva terá a qualificação correspondente.

IV – O critério desta distinção é o da forma de actuação do evento condicionante. Na


condição positiva, o evento condicionante traduz-se na alteração de um estado de coisas
anterior. Na condição negativa, o facto condicionante consiste na não alteração de uma
situação pré-existente.

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V – Condições perplexas e não perplexas: as primeiras são as condições contraditórias,
em que o evento condicionante é incompatível com o efeito jurídico querido (A doa o
prédio a B, sob condição suspensiva de o ter vendido primeiro a C): o negócio é nulo.

Verificação e não verificação da condição

Determinado, por interpretação da vontade das partes, qual seja o facto condicionante,
verificar-se-á a condição se tal acontecimento tiver lugar; nos temos do artigo 275º,1, a
certeza de que a condição se não pode verificar equivale à sua não verificação.

Efeitos da condição suspensiva

I – Na pendência da condição, isto é, enquanto o evento condicionante não se verificou,


nem deixou de se poder verificar. Neste período, o credor condicional não tem ainda um
direito exercitável em relação ao devedor, embora as partes estejam já vinculadas, de tal
modo que estão sujeitas à produção dos efeitos do negócio, uma vez verificado o evento
condicionante.
A aquisição de um direito à custa de outrem (de quem se obrigou sob condição ou dispôs
sub conditione de um direito) não pode ser já impedida por esse outrem.
A posição subjetiva do credor sub conditione consiste numa mera expectativa de
aquisição eventual de um direito, com a correspondente obrigação da outra parte.
Quanto aos requisitos pessoais de eficácia do negócio (capacidade negocial, boa fé do
adquirente, e conhecimento ou cognoscibilidade de determinados factos), é relevante
apenas o momento da celebração do negócio e não o da verificação da condição.
Assim, o credor condicional pode praticar actos dispositivos sobre os bens ou direitos que
constituem objeto do negócio condicional; só que esses actos ficarão sem efeito, se a
condição suspensiva se não verificar; as coisas passar-se-ao ao invés com os actos de
disposição do devedor condicional (art. 274º,1). Assim, a coisa comprada sob condição
suspensiva poderá ficar alienada pelo comprador, mas a alienação só surtirá efeito se se
verificar o evento condicionante.
O credor condicional pode igualmente praticar atos conservatórios, pendente conditione,
p. ex. Interromper a prescrição nas relações com terceiros. Tal possibilidade resulta do
art. 273º.
Portanto, os efeitos do negócio sob condição suspensiva estão em suspenso, não tendo
existência atual. O negócio produz, todavia, dados efeitos provisórios e preparatórios, na
expectativa da produção dos efeitos definitivos.

II – Verificada a condição
Os efeitos do negócio que estavam suspensos tornam-se efetivos ipso iure e desde a data
da conclusão do negócio, sem mais requisitos. O princípio da retroatividade da condição é
afirmado no art. 276º é considerado como efeito efeito natural da cláusula condicional,
pois os efeitos do preenchimento da condição podem ser, pela vontade das partes ou pela
natureza do ato, reportados a outro momento.

III – Não verificada a condição


Neste caso não se produzem os efeitos definitivos a que o negócio tendia e desaparecem
os próprios efeitos provisórios ou preparatórios que tiveram lugar medio tempore.

Efeitos da condição resolutiva


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I – A situação do devedor no negócio sob condição resolutiva é idêntica à do credor no


negócio sob condição suspensiva, pois a condição resolutiva é suspensiva da dissolução
do negócio condicionado.

II – Pendente Conditione
O negócio produz os seus efeitos normais, mas está suspensa sobre a sua eficácia à sua
possibilidade de verificação do evento condicionante. O devedor condicional é titular de
uma expectativa com certa tutela jurídica. Por esse motivo, o credor condicional deve
proceder segundo boa fé (art. 272º); o devedor ou alienante condicional pode praticar atos
conservatórios (art. 273º) e pode até praticar atos de disposição, cuja eficácia fica sujeita
à verificação da condição resolutiva.

III – Verificada a condição


O preenchimento da condição importa a destruição automática e reativa dos efeitos dos
negócios, o que fará perder a eficácia aos atos dispositivos do credor condicional.

IV – Não verificada a condição


Os efeitos do negócio consolidam-se, radicando-se, definitivamente, a posição do credor
sub conditione.

O termo
Cláusula acessória típica pela qual a existência ou a exercibilidade dos efeitos de um
negócio são postas na dependência de um acontecimento futuro mas certo, de tal modo
que os efeitos só começam a fazer efeito ou se tornam exercitáveis a partir do momento
(termo suspensivo ou inicial) ou começam desde logo, mas cessam a partir de certo
momento (termo resolutivo ou final).

Efeitos

Faltando aqui o estado de incerteza característico do negócio condicional, no período da


pendência, pois o acontecimento de que dependem os efeitos do negócio é certo(será
normalmente um momento temporal ou um prazo), não se verifica qualquer retroatividade.
Haverá, também aqui, uma obrigação de proceder segundo boa fé, a cargo de uma das
partes, a fim de não comprometer a integridade do direito da outra, bem como poderá a
parte interessada praticar atos atos conservatórios do seu direito tal como sucedia na
pendência da condição (art. 278º).

Aponibilidade do termo

O termo pode ser aposto, em princípio, a qualquer negócio jurídico. Esta regra tem
exceções, contudo, visto que há negócios que não admitem termo – negócios
inaprazáveis - , os quais coincidem, em regra, com os negócios incondiconáveis.

Modalidades

I – Termo inicial, suspensivo ou dilatório e termo final, resolutivo ou peremptório

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Se os efeitos do negócio só começam ou só se tornam exercitáveis a partir de certo
momento, o termo diz-se suspensivo ou inicial; se começam desde logo, mas cessam a
partir de certo momento, o termo diz-se resolutivo ou final.

II – Termo certo e termo incerto


O termo é certo quando se sabe antecipadamente o momento exato em que se verificará,
é incerto quando esse momento é desconhecido.

III - Termo expresso ou próprio, e termo tácito ou impróprio


O termo, cláusula acessória do negócio jurídico, existe por vontade das partes. São estas
que decidem sobre a aponibilidade de termo nos negócios que efetuam. Quando assim
sucede, estamos perante termo expresso ou próprio. Pode acontecer, porém, que o termo
exista, não por vontade das partes, mas por imposição da lei – termo legal. Deparar-se-
nos-á, então, o termo dito tácito ou impróprio.

IV – Termo essencial e termo não essencial


O termo diz-se essencial quando a prestação deve ser efetuada até à data estipulada
pelas partes (termo próprio) ou até um certo momento, tendo em conta a natureza do
negócio e/ou a lei (termo impróprio). E diz-se não essencial o termo que, depois de
ultrapassado, não acarreta logo a impossibilidade da prestação, apenas gerando uma
situação de mora do devedor (art. 804º e ss).

Modo, encargo ou cláusula modal


Conceito

Cláusula acessória típica, pela qual, nas doações e liberalidades testamentárias, o


disponente impõe ao beneficiário da liberalidade um encargo, isto é, a obrigação de
adotar um certo comportamento no interesse do disponente, de terceiro ou do próprio
beneficiário.
Referem-se-lhes os art. 963º e 2244º (doações e instituição de herdeiro, respetivamente).

Valor do modo impossível ou ilícito

A cláusula modal impossível (física ou legalmente) tem-se por não escrita e não prejudica
o donatário, herdeiro ou legatário, salvo declaração do doador ou do testador em
contrário. Os encargos ilícitos têm-se igualmente por não escritos, ainda que o disponente
disponha o contrário. 963º -> 2245º -> 2230º CC.

Inadimplemento do modo

Para as doações, tenha o encargo valor patrimonial ou moral, parece inferir-se do artigo
966º que o doador ou os seus herdeiros poderão “pedir a resolução” de toda a doação,
apenas quando, por interpretação do contrato, esse direito lhes seja concedido. Não
bastará, portanto, provar, por qualquer meio, que a cláusula modal foi causa impulsiva da
doação, isto é, que o doador a não teria feito se soubesse que o inadimplemento teria
lugar; é necessário que o direito de resolução lhe seja conferido pelo contrato e, portanto,

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corresponda uma vontade real suscetível de desentranhar a sua eficácia e, sede
interpretativa.
Para os testamentos, resulta do artigo 2248º que qualquer interessado pode “pedir a
resolução da disposição testamentária” com fundamento em não cumprimento do
encargo, havendo cláusula testamentária nesse sentido, ou se tiver alguma expressão no
testamento a consideração de que o cumprimento do encargo foi a causa impulsiva da
liberalidade. O direito de resolução não pode ser exercido a todo o tempo, pois caduca
passados 5 anos sobre a mora do cumprimento do encargo ou vinte sobre a abertura da
sucessão.

Distinção do modo e da condição

I - O modo só pode ser aposto às liberalidades, enquanto a cláusula condicional é


aponível, salvas as excepções constantes da lei, a todos os negócios (gratuitos ou
onerosos).
Enquanto a cláusula modal se traduz na imposição, ao beneficiário da liberalidade, do
dever de adotar uma conduta, a condição pode ter como evento condicionante um facto
de qualquer das partes (credor ou devedor condicional), um facto natural ou de terceiro ou
um evento de caráter misto.

II - A condição suspensiva suspende mas não obriga e o modo obriga mas não suspende.
- A condição resolutiva resolve automaticamente, mas não obriga e o modo obriga, mas
dá apenas o direito de pedir resolução.
Portanto, o modo não interfere na eficácia do negócio como acontece com a cláusula
modal.

Cláusula Penal
Conceito

Cláusula penal é a estipulação em que as partes convencionam antecipadamente uma


determinada prestação, normalmente uma quantia em dinheiro que o devedor terá de
satisfazer ao credor em caso de não cumprimento, ou de não cumprimento perfeito
(máxime, em tempo) da obrigação. Pode assim, revestir duas modalidades: cláusula penal
compensatória ou moratória, conforme tenha sido estipulada para o não cumprimento da
obrigação ou para a simples mora do devedor. Mas pode, igualmente, referir-se a
qualquer hipótese de cumprimento defeituoso da prestação.

A cláusula penal é acessória da obrigação principal, pelo que as vicissitudes desta se


refletirão na pena convencional (designação por que também é conhecida). Assim, se a
obrigação principal for nula, nula é a cláusula penal (artigo. 810º CC).

Espécies de cláusulas penais e respetivos regimes

I – Chamamos cláusulas de fixação antecipada da indemnização àquela em que as


partes, ao estipulá-la, visam, tão-só, liquidar antecipadamente, de modo ne varietur, o
dano futuro. Pretendem as partes, desta forma, evitar os litígios, as despesas e demoras
que uma avaliação judicial da indemnização acarretará, à qual é inerente por outro lado,

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uma certa álea. Ao mesmo tempo que o credor se furta ao encargo de ter de provar a
extensão do prejuízo efetivo, o devedor previne-se quanto a uma indemnização avultada,
superior às suas expectativas.

II – Uma outra espécie de cláusula penal é aquela cujo escopo é puramente coercivo e a
sua índole, por isso, exclusivamente compulsivo-sancionatória. A especificidade desta
cláusula traduz-se no facto dela ser acordada como um plus, como algo que acresce à
execução específica da prestação ou à indemnização pelo não cumprimento. Ou seja,
visa compelir o devedor ao cumprimento, não substitui a indemnização, constituindo, por
definição, um plus, algo que acrescerá àquela, que terá assim, de apurar-se nos termos
gerais.

III – Cláusula penal em sentido estrito ou cláusula penal propriamente dita


Esta visa compelir o devedor ao cumprimento – nisto se distingue ela da pena como
liquidação do dano e se aproxima da pena estritamente compulsória. Todavia, ao
contrário da última, a pena propriamente dita substitui a indemnização, quer dizer, não
acresce a esta nem à execução específica da prestação – o que a aproxima da cláusula
penal como indemnização predeterminadas. Numa palavra, em sentido estrito, a cláusula
penal visa compelir o devedor ao cumprimento, ao mesmo tempo que leva à satisfação do
interesse do credor.

IV – A cada figura ou espécie de cláusula penal corresponde um regime jurídico próprio.


As soluções consagradas no artigo 811º pressupõem, tão-só, uma dessas espécies, mais
exatamente, a cláusula de fixação antecipada da indemnização, que o artigo 810º, nº1,
define. Só dessa se ocupa (diretamente, pelo menos) a lei. E só nesse caso é que a pena,
objeto da cláusula, será uma indemnização predeterminada.
Nos restantes casos, a pena é uma sanção de índole compulsória, podendo acrescer à
indemnização ou, ao invés, substituí-la, em conformidade com o escopo visado. O que
não impedirá, em todo o caso, uma vez verificados os respetivos pressupostos, o recurso
ao artigo 812º, ainda que por analogia.

V - Pode acontecer, com efeito, que o montante da pena se venha a revelar, nas
circunstâncias concretas, manifestamente excessivo.
A possibilidade de reduzir a pena depende de o seu montante se mostrar manifestamente
excessivo, e não apenas de ser superior não dano. Só em casos excecionais, pois, é que
o tribunal poderá reduzir o montante estipulado na cláusula penal, a fim de evitar abusos,
pois de outra forma, isto é, se fosse permitida a redução da pena sempre que, fosse
superior ao prejuízo efetivo, anular-se-iam as vantagens que a cláusula penal apresenta.
Ver artigo. 812º CC.

E se o montante fixado pelas partes se revelar muito inferior aos danos


efetivamente sofridos pelo credor?
A lei parece impedi-lo sempre de exigir indemnização pelo dano excedente, isto é, pelo
dano que ultrapasse o montante fixado na cláusula penal, salvo se tiver havido um acordo
prévio entre as partes no sentido da reparação desse mesmo dano excedente (artigo.
811º,2). Assim, na falta de convenção sobre a reparação desses prejuízos, não permitindo
ao tribunal o reforço de cláusula penal manifestamente baixa, diversamente do que dispõe
a respeito de cláusulas penais manifestamente excessivas.

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VI – Note-se, por fim, que o credor não fica, no caso de o devedor se recusar a cumprir,
estritamente vinculado à pena estabelecida, podendo optar pelo cumprimento forçado da
obrigação, através da execução específica.

Cláusulas limitativas e de exclusão de responsabilidade civil

Conceito

I - Cláusulas limitativas de responsabilidade são estipulações através das quais os


contraentes, no momento da celebração do contrato – ou posteriormente, desde que
antes da verificação do facto gerador da responsabilidade – acordam em limitar, de
alguma forma, a responsabilidade do devedor pelo não cumprimento, cumprimento
defeituoso ou mora das obrigações assumidas. A limitação da responsabilidade verificar-
se-á, quer condicionando-a a determinado grau de culpa, quer limitando-a no seu
montante.
Particularmente generalizada, esta última – cláusula limitativa do montante da
indemnização – consiste num valor máximo acordado pelos contraentes como limite que a
indemnização não poderá ultrapassar. As partes convencionam antecipadamente que a
indemnização não poderá ir além de certo montante, recebendo o credor uma soma
inferior à que lhe seria devida, nos termos gerais, desde que esta, no caso concreto,
ultrapasse aquele limite, previamente acordado.
Mas o acordo das partes poderá ir mais longe, visando não apenas a limitação da
responsabilidade, mas a sua exclusão, e, consequentemente, o afastamento, em certos
termos, da própria obrigação de indemnização.

II - Compreende-se o interesse dos contraentes, numa época marcada por um elevado


número de acidentes e por danos de toda a espécie – devidos, em larga medida, à
utilização de meios técnicos arriscados - , em acautelar-se contra danos imprevistos que
podem atingir somas muito elevadas.
Tal como as partes podiam ter-se abstido de contratar, parece que, contratando deve
reconhecer-se-lhes a liberdade de serem elas próprias a definirem, por acordo, as
consequências de um eventual inadimplemento (ou de um cumprimento defeituoso) do
contrato, designadamente ao nível da obrigação de indemnização. Negar, em absoluto, tal
possibilidade, traduzir-se-ia, muitas vezes, em impedir a realização de operações
econômicas realizadas delicadas, em prejuízo assim do tráfico jurídico e das
possibilidades de autodeterminação dos contraentes, descurando-se a importante função,
que o direito deve desempenhar, de respostas às necessidades práticas da vida.

Regime

I – O código civil não trata da disciplina das cláusulas limitativas e de exclusão de


responsabilidade em termos claros e sistemáticos, referindo-se apenas a elas no art.
800º,2. Aí se permite que a responsabilidade do devedor por atos dos representantes
legais ou auxiliares possa ser convencionalmente excluída ou limitada, mediante acordo
prévio, “desde que a exclusão ou limitação não compreenda atos que representem a
violação de deveres impostos por normas de ordem pública.

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Quanto à cláusula limitativa de responsabilidade, pensamos não ser abrangida pela
proibição constante do art. 809º, norma que impede o credor de renunciar
antecipadamente a certos direitos, entre eles, o de indemnização.
Por outro lado, admite a lei, como vimos, no artigo 810º, a possibilidade de as partes
fixarem por acordo o montante da indemnização exigível. Apesar desta norma se referir à
cláusula penal e de o modo de atuação desta não coincidir com o da cláusula limitativa do
montante da indemnização, cremos que os termos em que o artigo 810º está redigido
permitem que a fixação do montante exigível possa consistir na estipulação de um limite
máximo ao quantum respondeatur.

II – Devemos fazer uma interpretação restritiva do art. 809º, por forma a subtrair do seu
alcance uma cláusula que condicione a responsabilidade do devedor ao dolo e culpa
grave, exonerando-o assim por comportamentos que só lhe podem ser imputados por
mera culpa leve. No mesmo sentido depõe o próprio texto do art. 809º, visto que neste
caso não haverá propriamente uma renúncia à indemnização.

III – O DL 446/85, 25 de outubro, apenas proibiu (no art. 18º,c)) as cláusulas que “excluem
ou limitem, de modo direto ou indireto, a responsabilidade por não cumprimento definitivo,
mora ou cumprimento defeituoso, em caso de dolo ou culpa grave”. Pode assim dizer-se
que foi o próprio legislador a confirmar a posição que vimos defendendo sobre a
compatibilidade com o art. 809º das cláusulas de exclusão de responsabilidade em caso
de culpa leve, uma vez que, mesmo no domínio dos contratos de adesão, apenas as
proibiu para casos de dolo ou culpa grave.

IV – Quanto à exclusão da responsabilidade do devedor por atos dos seus auxiliares (art.
800º,2), cremos que a mesma só poderá valer, em princípio, nos mesmos termos em que
é de admitir a cláusula de irresponsabilidade por atos diretamente praticados pelo
devedor, ou seja, apenas em caso de incumprimentos imputáveis a título de simples culpa
leve. Porém, se os auxiliares de que o devedor se serve, na circunstância concreta, forem
pessoas autônomas e independentes da sua organização, poderá admitir-se uma
exclusão da responsabilidade ao devedor em termos mais amplos, desde que haja acordo
prévio do credor nesse sentido. Parece que só neste último caso se justificará um
tratamento diferenciado da cláusula exoneratória, permitindo-a em termos mais altos do
que se fosse o próprio devedor – ou um auxiliar dependente – a cumprir a obrigação.

V – Importa destacar, por último, mais alguns aspectos.


Em primeiro lugar, há que esclarecer que a cláusula de exclusão de responsabilidade, se
for válida, afasta apenas um dos direitos do credor, o direito à indemnização; mantém-se
os demais direitos que a ordem jurídica lhe proporciona para defesa da sua posição, até
porque está cláusula não deve confundir-se com uma outra, através da qual se afasta a
própria obrigação do contrato.
Em segundo lugar, tratando-se de uma situação geradora de um concurso de
responsabilidades, a cláusula de exclusão afastará, em princípio, a obrigação de
indemnização seja qual for o fundamento (contratual ou extracontratual) invocado, desde
que se apure, por via hermenêutica, que se trata de um facto ilícito coberto pela mesma
cláusula de exclusão. Mas obviamente que isso não leva a que o devedor/lesante fique
isento de responsabilidade extracontratual em que incorra perante terceiros, aos quais
essa cláusula, a que não deram o seu consentimento, é inoponível.

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Finalmente, sendo a cláusula nula, impor-se-á, em princípio a redução obrigatória do
contrato e até da própria cláusula.

O problema da pressuposição ou da alteração das circunstâncias


que fundaram a decisão de contratar

Conceito

A alteração das circunstâncias do negócio implica a não verificação de um circunstância


pressuposta ou de uma pressuposição, sempre que a evolução do circunstancialismo não
foi considerada pelo declarante.
A noção de pressuposição consiste na convicção, consciente ou subconsciente, da
verificação no futuro de uma dada circunstância ou estado de coisas, convicção
determinante da realização de um contrato, pois, de outro modo, não se teria celebrado o
negócio ou só teria tido lugar a sua realização noutros termos. Se lhes ocorresse a
possibilidade de falhar tal circunstância pressuposta, não teriam contratado sem inserir no
negócio uma cláusula correspondente. Dai que a pressuposição tenha sido já
caracterizada como condição não desenvolvida ou não explicitada ou como uma reserva
virtual.

Critérios de relevância da alteração da base do negócio

Quais serão os requisitos a exigir, em nome da estabilidade contratual, para que a


alteração anormal das circunstâncias que fundaram a decisão de contratar por um
ou por ambos os contratantes possa levar à resolubilidade ou à modificação do
negócio e, assim, o possa reconduzir à justiça contratual?

O artigo 437º,1, dispõe que “se as circunstâncias em que as partes fundaram a decisão
de contratar tiverem sofrido uma alteração anormal, tem a parte lesada direito à resolução
do contrato, ou à modificação dele segundo juízos de equidade, desde que a exigência
das obrigações, por ela assumidas, afecte gravemente os princípios da boa fé e não
esteja coberta pelos riscos próprios do contrato”.

Os pressupostos da aplicação desse remédio são definidos através das seguintes


exigências, destinadas a limitar o arbítrio do julgador e a servir de critério auxiliar da sua
apreciação valorativa.
A) Alteração anormal das circunstâncias em que as partes fundaram a decisão de
contratar.
B) Manutenção do conteúdo contratual afetando gravemente os princípios da boa fé e
não estando abrangida pela área própria do contrato.

A alteração das circunstâncias deve, pois, ser uma alteração anormal e com
consequências tais que a exigência do cumprimento inalterado implicaria,
cumulativamente, uma ofensa aos princípios da boa fé e a imposição de uma situação
que não corresponderia aos riscos próprios do contrato.

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Consequências

I – Verificados os requisitos do artigo 437º, a parte lesada tem direito à resolução do


contrato ou à sua modificação segundo juízos de equidade. A parte contrária pode,
também, requerida a resolução, opor-se ao pedido, desde que aceite a recondução do
conteúdo contratual aos termos correspondentes àqueles juízos de equidade (437º,2).

II – Parece que o artigo 437º não limita à resolução dos contratos por alteração das
circunstâncias aos contratos bilaterais, podendo lançar-se mão dessa providência, desde
que se verifiquem os requisitos respectivos, nos contratos unilaterais ou bilaterais
imperfeitos.

Ineficácia e Invalidade dos Negócios Jurídicos


Ineficácia dos negócios jurídicos (lato sensu). Noção. Ineficácia stricto sensu e invalidade.
Outras formas de ineficácia em sentido lato

A ineficácia em sentido amplo tem lugar sempre que um negócio não produz, por
impedimento decorrente do ordenamento jurídico, no todo ou em parte, os efeitos que
tenderia a produzir, segundo o teor das declarações respectivas.
A invalidade é uma espécie do género ineficácia: enquanto a ineficácia lato sensu
compreende todas as hipóteses em que, por causas intrínsecas ou extrínsecas, o negócio
não deve produzir os efeitos a que tendia, a invalidade é apenas a ineficácia que provém
de uma falta ou irregularidade dos elementos internos (essenciais, formativos) do negócio.
O conceito de ineficácia em sentido estrito definir-se-á, coerentemente, pela circunstancia
de depender, não de uma falta ou irregularidade dos elementos internos do negócio, mas
de alguma circunstância extrínseca que, conjuntamente com o negócio, integra a situação
complexa (fattispecie) produtiva de efeitos jurídicos.
Na invalidade, a ausência de produção dos efeitos negociais resulta de vícios ou de
deficiências do negócio, contemporâneos da sua formação. O mesmo sucede em muitos
casos de ineficácia em sentido estrito.
Há, porém, casos de cessação dos efeitos negociais – e, portanto, de ineficácia em
sentido lato – por força de eventos posteriores ao momento da sua celebração. Surgem-
nos com estas características, no quadro conceitual e terminológico do Código Civil,
figuras como à resolução, a revogação, a caducidade, a denúncia.

Modalidades de ineficácia em sentido estrito

I - Ineficácia absoluta e ineficácia relativa


A ineficácia é absoluta quando actua automaticamente, erga omnes, podendo ser
invocada por qualquer interessado. A ineficácia será relativa se se verificar apenas em
relação a certas pessoas (inoponibilidade), só por elas podendo ser invocada (o negócio,
embora eficaz noutras direcções, é inoponível a certas pessoas).
Exemplo de ineficácia absoluta: negócio sob condição suspensiva, se a condição não se
verificar (art.274º), a situação fica como que "adormecida".
Exemplo de ineficácia relativa: negócios do representante sem poderes (art.268º,1), atos
sujeitos a registo, não registados (art.5º CRPredial).
Os negócios feridos de ineficácia relativa produzem, pois, efeitos, mas não estão dotados

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de eficácia relativamente a certas pessoas. A ineficácia relativa surge-nos em situações
caracterizadas pela existência de um direito, de uma expectativa ou de um interesse
legítimo de um terceiro, que seriam prejudicados pelo negócio de disposição ou de
vinculação em causa. O negócio é relativamente ineficaz, por força do impedimento,
resultante daquela posição legítima do terceiro acerca do conteúdo do ato. Esta posição
legítima do terceiro pode consistir numa pretensão fundada de aquisição ou execução dos
bens alienados ou onerados pelo negócio. É necessário proteger o terceiro na medida
apropriada à não frustração do seu direito, mas não se deve limitar o poder de disposição
(ou de legitimidade para agir) do titular mais do que for necessário a essa proteção. Logo,
o negócio só é ineficaz em face do terceiro, mas não o é entre as partes ou em face de
outras pessoas.
II - Ineficácia total e ineficácia parcial
A distinção refere-se à circunstância de o vício impedir a produção de quaisquer efeitos ou
só afetar parte dos efeitos negociais.

Inexistência e invalidade (nulidade e anulabilidade) dos negócios jurídicos

I - Inexistência
A inexistência é uma figura autónoma, com consequências mais graves do que a nulidade
e a anulabilidade. Estes dois últimos conceitos serão precisados adiante.
Quanto à inexistência, afirma-se estarmos perante esta figura quando nem sequer
aparentemente se verifica o corpus de certo negócio jurídico (a materialidade
correspondente à noção de tal negócio), ou, existindo embora essa aparência material, a
realidade não corresponde a tal noção.
Pelo contrário, a valoração de um negócio como nulo ou anulável pressupõe, pelo menos,
que o negócio exista, isto é, que se verifiquem os elementos correspondentes ao seu tipo,
sem embargo de ocorrer, nesses elementos, alguma anormalidade.
O código civil de 1966 consagrou, explicitamente, a figura da inexistência jurídica dentro
das invalidades do casamento. As hipóteses de inexistência jurídica do casamento estão
enumeradas no artigo 1628º, determinando-se no artigo 1630º que a inexistência pode ser
invocada por qualquer pessoa, a todo o tempo, independentemente de declaração judicial,
e que o casamente inexistente não produz qualquer efeito jurídico e nem sequer é havido
como putativo. Diversamente, os casamentos anulados produzem efeitos de casamento
putativo.

II – Nulidade e anulabilidade. Invalidades mistas


O negócio nulo não produz, desde o início (ab initio), por força da falta ou vício de um
elemento interno ou formativo, os efeitos a que tendia.
O negócio anulável, não obstante a falta ou vício de um elemento interno ou formativo,
produz os seus efeitos e é tratado como válido, enquanto não for julgada procedente uma
ação de anulação; exercido, mediante esta ação, o direito potestativo de anular
pertencente a uma das partes, os efeitos do negócio são retroativamente destruídos.
O regime e os efeitos mais severos de nulidade encontram o seu fundamento teleológico
em motivos de interesse público dominante. As anulabilidades fundam-se na infração de
requisitos dirigidos à tutela de interesses predominantemente particulares.
Alei , por vezes, afasta-se da simetria das construções para estabelecer invalidades de
caráter misto (p.ex. Art. 410º, 3 e 1939º, 1 e 2). Quebra, assim, a harmonia estética do
sistema, mas configura soluções (invalidades mistas) mais adequadas aos interesses que
constituem a matéria da respetiva regulamentação.
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Regime das nulidades

a) Operam ipso iure ou ipsa vi legis. Não se torna necessário intentar uma ação ou
emitir uma declaração nesse sentido, nem sequer uma sentença judicial prévia, e
podem ser declaradas ex officio pelo tribunal (art.286º).
b) São invocáveis por qualquer interessado, isto é, pelo sujeito de qualquer relação
jurídica afetada, na sua consistência jurídica ou prática, pelos efeitos a que o
negócio se dirigia (art.286º).
c) São insanáveis pelo decurso do tempo, isto é, são invocáveis a todo o tempo (art.
286º).
d) São insanáveis mediante confirmação (art.288º, a contrario).

Regime das anulabilidades

O negócio anulável é, em princípio, apesar do vício, tratado como válido. Se não for
anulado, no prazo legal e pelas pessoas com legitimidade, passa a ser definitivamente
válido. Se for anulado, no tempo e forma devidos, considera-se que os efeitos visados não
se produziram desde o início, como nunca tenham tido lugar.
São as seguintes características das anulabilidades:
a) Têm de ser invocadas pela pessoa dotada de legitimidade. Não podem ser
declaradas ex officio pelo juiz. Exigem uma ação especialmente destinada a esse
efeito, ressalvada a possibilidade da sua arguição por via de exceção, isto é, a
possibilidade de as pessoas legitimadas se defenderem, arguindo a anulabilidade
de qualquer negócio jurídico que contra elas seja invocado (art. 287º).
b) Só podem ser invocadas por determinadas pessoas e não por quaisquer
interessados. Resulta, com efeito, do artigo 287º,1, que só têm legitimidade para
arguir a anulabilidade os titulares do interesse para cuja específica tutela a lei
estabeleceu.
c) São sanáveis pelo decurso do tempo. O novo código estabelece o prazo de um ano
para a arguição das anulabilidades (art. 125º e 287º). Na hipótese dos atos
afetados por ilegitimidade conjugais, o prazo máximo é de três anos (1687º,2).
Quanto ao momento a partir do qual se conta o prazo, a lei fixa-o, expressamente,
para certas hipóteses: assim, artigos 125º (varia com a pessoa legitimada para
invocar a anulabilidade) e 1687º (desde a celebração do ato); ou seis meses desde
o seu conhecimento); quando a lei nada disser expressamente, o prazo deve
contar-se desde "a cessação do vício que lhe serve de fundamento" (art. 287º).
d) São sanáveis mediante confirmação (art. 288º). a confirmação é um negócio
unilateral (cremos que não receptício, embora haja divergências na doutrina), pelo
qual a pessoa com legitimidade para arguir a anulabilidade declara aprovar o
negócio viciado.
Trata-se de um negócio jurídico e, como tal, está sujeito aos requisitos gerais de
validade dos negócios; só é eficaz, se for posterior à cessação do vício que
fundamenta a anulabilidade.
A confirmação não depende de forma especial e pode ser tácita ou expressa (art.
288º, 3). A confirmação tem eficácia retroativa, mesmo em relação a terceiro (art.
288º,4).

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Efeitos da declaração de nulidade e da anulação

1) Operam retroativamente (art. 289º), o que está em perfeita coerência com a ideia
de que a invalidade resulta de um vício intrínseco do negócio e, portanto,
contemporâneo da sua formação. Não se produzem os efeitos jurídicos a que o
negócio tendia.
2) Não obstante a retroatividade, há lugar à aplicação das normas sobre a situação
do possuidor de boa fé, em matéria de frutos, benfeitorias, encargos, etc. (289º,3).
3) Em consonância com a retroatividade, haverá lugar à repristinação das coisas no
estado anterior ao negócio, restituindo-se tudo o que tiver sido prestado ou, se a
restituição em espécie não for possível, o valor correspondente (art. 289º,1). Tal
restituição deve ter lugar, mesmo que se não verifiquem os requisitos do
enriquecimento sem causa, isto é, cada uma das partes é obrigada a restituir tudo
o que recebeu e não apenas aquilo com que se locupletou.
4) A retroatividade da nulidade e da anulação, levada às suas últimas consequências
lógicas, conduziria à oponibilidade da destruição dos efeitos do negócio em face de
terceiros. Em princípio, tais formas de invalidade são oponíveis a terceiros, salvo o
caso especial da simulação, que é inoponível a terceiros de boa fé (art. 243º). Em
nome da proteção dos legítimos interesses de terceiros e dos interesses do tráfico
jurídico estabeleceu-se, contudo, que a declaração de nulidade ou a anulação do
negócio respeitante a bens sujeitos a registo, se não for proposta a registada nos
três anos posteriores à conclusão do negócio, é inoponível a terceiros de boa fé,
adquirentes, a título oneroso, de direitos sobre os mesmos bens (art.291º).

A invalidade e outras formas de cessação dos efeitos negociais (resolução, revogação,


caducidade e denúncia)

I - O código civil de 1966 admite a chamada resolução do contrato, com fundamento na


lei ou em convenção das partes (art. 432º). Os seus efeitos estão regulados nos artigos
433º. Assim:
a) A resolução pode fazer-se mediante declaração à outra parte (art. 436º); a invalidade,
ou atua automaticamente (nulidade), ou implica uma ação judicial (anulabilidade).
b) A resolução tem, em princípio, efeito retroativo entre as partes, mas tal efeito não se
verifica se contrariar a vontade das partes ou a finalidade da resolução, bem como, em
princípio, nos contratos de execução continuada ou periódica; a invalidade tem efeito
retroativo inter partes, sem estas limitações.
c) A resolução nunca prejudica os direitos adequiridos por terceiro (art. 435º), salvo se o
terceiro adquiriu o seu direito posteriormente ao registo da ação de resolução, a invalidade
opera os seus efeitos em relação a terceiros, ressalvada a hipótese contemplada no artigo
291º.

II – Em alguns casos a lei autoriza um dos sujeitos do negócio jurídico a revogá-lo. A


revogação tem apenas a consequência de extinguir os efeitos do negócio para o futuro
(ex nunc), não opera, portanto, retroativamente. Pode ter lugar, igualmente, uma
revogação dos contratos por comum acordo, eventualente com eficácia retoativa inter
partes. É o chamado contrato extintivo ou abolitivo ou "contrarius consensus" (art.406º).
Com este "contrarius consensus" as partes, por mútuo consentimento, extinguem a
relação contratual existente entre eles.
Algumas vezes a faculdade de revogação é conferida ad libitum, sem sujeição a
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quaisquer pressupostos (art.265º, 448º, 1170º,1) e em outras hipóteses, a revogação só
pode ter lugar ocorrendo certos motivos designados na lei (970º, 974º, 1411º, 2029º).

III – A cessação dos efeitos negociais pode ter lugar, sem caráter retroativo, sob a forma
de caducidade. Ver artigos 328º a 333º. No nosso sistema jurídico abrange este conceito
uma série numerosa de situações em que as relações jurídicas duradouras de tipo
obrigacional criadas pelo contrato ou pelo negócio se extinguem para o futuro por força do
decurso do prazo estipulado, da consecução do fim visado ou de qualquer outro facto ou
evento superveniente a que a lei atribui o efeito extintivo, ex nunc, da relação contratual.
Artigos: 1051º, 1141º, 1716º, 1174º, 2317º.
A caducidade aplica-se aos direitos potestativos, a dado que é o direito de acionar. A lei
admite que as partes convencionem sobre a caducidade (330º). E é apreciada
oficiosamente pelo tribunal (333º). Os prazos de caducidade, em regra, são curtos, dado
que é exigida uma reação rápida, com consequência do beneficiário/titular não poder
exercer o seu direito (potestativo).

Esta figura distingue-se da prescrição. Nesta última, um direito subjetivo extingue-se pela
inércia do seu titular. A prescrição supõe, então:
- a existência de um direito (subjetivo);
- que o seu titular não o exerça;
- que decorra um determinado tempo.

O regime da prescrição está previsto nos artigos 300º a 327º.


O titular do direito deixa de poder exigir o cumprimento da outra parte. O tribunal não pode
suprir oficiosamente a prescrição, esta tem de ser invocada pelo beneficiário, para que
este se possa valer da mesma. Segundo o artigo 309º, o prazo ordinário de prescrição
são0 anos, mas o código civil prevê prazos inferiores para alguns casos, como por
exemplo, de 5 anos, 6 meses (316º), 2 anos (317º). Em legislação especial também são
fixados prazos especiais. Caso o titular do direito mude, a prescrição continua (art. 308º).
A prescrição pode ser suspensa ou interrompida (318º e 323º). Na primeira não se conta
o período no qual o prazo está suspenso, mas conta-se o que já correu, o que ficou para
trás. Na segunda, o prazo já corrido fica inutilizado (323º), ou seja, não se conta no prazo
que ficou para trás.

IV – Entre as formas de pôr termo à eficácia de um negócio jurídico a denúncia


caracteriza-se especificamente por ser a faculdade existente na titularidade de um
contratante de, mediante mera declaração, fazer cessar numa relação contratual ou
obrigacional em sentido amplo, a que se está vinculado, emergente de um contrato
bilateral ou plurilateral. Assim, a denúncia:
- aplica-se a relações contratuais cujos efeitos se prolongam no tempo;
- é um declaração unilateral;
- e é feita com pré aviso, que a lei ou o contrato fixa.

O problema da redução dos negócios jurídicos

Trata-se de saber se, no caso de um fundamento de invalidade ser relativo apenas (afetar
apenas) a uma parte do conteúdo negocial, o negócio deve valer na parte restante (não
afetada) ou deve ser nulo ou anulável na sua totalidade.

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Na doutrina propõe-se, predominantemente, o critério da vontade hipotética ou conjectural
das partes. Trata-se de averiguar aquilo que as partes teriam querido provavelmente, se
soubessem que o negócio se opunha parcialmente a alguma disposição legal e não
pudessem realizá-lo em termos de ser válido na sua integridade. Se é de admitir que as
partes, nessa hipótese, prefeririam não realizar qualquer negócio, deve concluir-se pela
invalidade total. Se se concluir que as partes, provavelmente, sempre o teriam realizado
na parte não diretamente atingida pela invalidade, deve ter lugar a redução do negócio.

O problema da conversão dos negócios jurídicos

Trata-se de saber se, declarado nulo ou anulado totalmente um negócio, este não
produzirá quaisquer efeitos negociais ou se, dados certos requisitos, não poderá
reconstituir-se, com os materiais do negócio totalmente inválido, um outro negócio, cujo
resultado final económico-jurídico, embora mais precário, se aproxime do tido em vista
pelas partes com a celebração do contrato totalmente inválido.
Requisitos de admissibilidade:

1) É necessário que o negócio inválido contenha os requisitos essenciais de forma e


substancia (capacidade, objeto, vontade), necessários para a validade do negócio
sucedâneo.
2) Exige-se que a vontade hipotética ou conjectural das partes seja no sentido da
conversão.
3) É frequentemente exigido pela doutrina que o negócio sucedâneo diga respeito ao
mesmo objeto material a que respeitava o negócio principal.
Deve entender-se, também, com fundamento nos arts. 239º e 334º, que a conversão
poderá ter lugar, independentemente da vontade hipotética das partes, se a boa-fé assim
o exigir. Ver ainda, art. 946º e 1416º (conversão sem atender à vontade hipotética).

Objeto da relação jurídica

Artigo 280º dá-nos os requisitos do objeto da relação jurídica; são nulos os negócios cujo
objeto seja:
- física ou legalmente impossíveis;
- contrário à lei;
- indeterminável.

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