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Pela
Lei de Direitos Autorais em vigor, o texto abaixo não pode ser comercializado, reeditado,
republicado, disponibilizado, divulgado ou distribuído a terceiros de forma alguma. O texto original
em inglês se encontra disponível no site https://tendaiuk.files.wordpress.com
INTRODUÇÃO
Meu nome é Seishin e sou sacerdote budista na Escola Japonesa do Budismo Tendai. Tem havido
muitos grandes trabalhos acadêmicos sobre Meditação Tendai ao longo dos anos. No entanto,
há bem poucas introduções básicas sobre a Meditação Tendai. Dado que tais instruções
geralmente são passadas oralmente de professores para praticantes. Através deste livreto,
espero, propiciar um guia acessível para praticantes da Meditação Tendai. Ao invés de
instrucional, este livreto deve ser visto como um guia a ser usado juntamente com um professor
qualificado. Este livreto, assim como eu, não é perfeito e conterá erros tipográficos e
gramaticais. Não sou um erudito, nem sou um mestre e também não me considero um
'sensei'. Embora o assunto seja Tendai Shikan e seja baseado nos textos de Meditação T'ian T'ai
de Chih-i, também é a minha compreensão e interpretação. Qualquer erro é meu e não deve ser
encarado como um reflexo dos meus professores ou do assunto em questão. Espero, no
entanto, que beneficie aqueles que o leem.
A maioria das práticas de meditação no Tendai japonês vem do T'ian t'ai chinês (também Tiantai
ou Tientai) que são textos de meditação compilados pelo fundador do T'ian T'ai chinês,
Ven. Zhiyi (também Chih-i). Estas meditações são todas baseadas em seus predecessores
indianos, portanto, a Meditação Tendai ainda é muito baseada nas práticas iniciais de meditação
da Índia. Todos os sacerdotes Tendai, em algum momento do seu treinamento, devem estudar
e praticar esses textos de meditação, sendo os quatro principais:
MOHO-CHIHKUAN (MAKASHIKAN)
O texto em si possui sete capítulos, em dez fascículos, cujo objeto principal é a prática de
Samatha (shi em japonês) e Vipasyana (kan em japonês). Estes são relacionados em três
categorias:
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Esta tradução é material de leitura dos membros das Sanghas Hokekyoji da Nichiren Shu Brasil. Pela
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(*) “ capacidades e habilidades” aqui descritas como “inferiores” ou “superiores” não se referem
ao intelecto ou conhecimento, mas à "Prajna". Prajna é frequentemente traduzida como
sabedoria, mas refere-se ao insight obtido através da absorção meditativa, que está além das
palavras e do intelecto. Estas categorias não pretendem diminuir o praticante. Apenas afirmam
que estamos todos em estágios diferentes no que diz respeito à nossa Sila (moralidade), nosso
Samadhi (absorção meditativa) e nosso Prajna (sabedoria). Por isso, podemos adotar
abordagens muito diferentes da meditação. Portanto, é possível alguém começar pela
meditação gradual e sequencial e ainda progredir rapidamente para a meditação perfeita e
repentina nesta vida. A iluminação é possível em qualquer estágio.
SHIKAN
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SHI
'Shi' é a pronúncia japonesa da palavra chinesa 'chih', que pode significar 'acalmar' ou 'parar', e
é usada como tradução da palavra sânscrita 'samatha 'que pode significar 'descansar', 'acalmar'
ou 'pacificar'. Samatha é uma forma de 'cultivo' (bhavana) para acalmar a mente (citta) e suas
'formações' (sankharas), que são feitas focando a mente em uma tarefa ou fenômeno específico,
geralmente descrito como concentração unifocalizada. A forma mais comum de Samatha é
anapanasmṛti em sânscrito ou em Pali Anapanasati, em japonês An'na pan'na nen, que significa
'Atenção plena na respiração', e, é a principal forma de Samatha no Budismo Tendai, destaque
nos textos de meditação de Chih-i com seu 'Seis Portões para o Sublime”, sendo todos sobre
respiração.
Para iniciar na prática da atenção plena, aconselhasse o iniciante, a contar sua respiração
(susokukan). Isto pode ser feito de várias maneiras, porém, a abordagem mais tradicional é
contar cada expiração ou inspiração até 10 e repetir processo. Voltaremos a isso mais tarde.
KAN
'Kan' é a pronúncia japonesa da palavra chinesa 'Kuan', que pode significar 'ver', é a tradução
chinesa da palavra sânscrita Vipasyana, que pode significar 'insight' ou 'visão clara'. Praticando
Vipasyana, obtém-se 'insight' da verdadeira natureza da realidade, que é impermanente, que é
dukkha (insatisfatória) e não-eu (insubstancial). O Tendai considera Samatha como a prática de
pré-requisito conducente à Vipasyana, pois com uma mente calma, somos mais capazes de
penetrar na verdade. É por isso que a Meditação Tendai é chamada 'Shikan', visto que, nossa
meditação é ambas Samatha e Vipasyana, em uma única prática, em vez de duas práticas
distintas. Esta é chamada 'ichigyō zanmai' que significa 'Uma Rodada de Samadhi, ou Samadhi
de Uma Prática'(Ekavyuha Samadhi).
Existem muitos métodos de Vipasyana que utilizam várias contemplações e visualizações para
obter insight. Uma forma tradicional de Vipasyana é meditar sobre a verdadeira natureza dos
Cinco Agregados** (Neste texto, vou me basear nos ensinamentos de 'Os Seis Portões para o
Sublime ', com foco na respiração).
Ainda que estas duas meditações sejam uma única prática, elas são feitas em duas seções. Para
um iniciante, é recomendável treinar primeiro, por algum tempo, a atenção plena à respiração
antes de tentar a meditação do insight. Então, quando o praticante estiver pronto, dívida a
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meditação em duas partes iguais, por exemplo, 20 minutos em Samatha e outros 20 minutos
em Vipasyana. É melhor praticá-las com um professor, pois essas meditações podem gerar
sensações, sentimentos e formações incomuns, algumas que podem ser agradáveis e outras
nem tanto. Para que não se tornem uma distração ou um destrutivo, é aconselhável ter um
professor qualificado com quem se possa falar sobre essas coisas e guiá-lo propriamente.
A seguir, é apresentado um guia básico do Tendai Shikan, baseado nos manuais de meditação
de Chih-i e minhas próprias experiências.
A preparação para a meditação é tão importante quanto a meditação em si e constitui uma parte
importante dos manuais de meditação de Chih-i. Com uma preparação correta, é possível
acalmar melhor a mente. Nossa mente tem um relacionamento muito próximo com o nosso
ambiente e com as coisas que fazemos, portanto, este aspecto não deve ser desprezado. Muitas
vezes, ouço as pessoas alegarem que não conseguem meditar em casa, ou, que elas meditam
melhor no templo do que em casa. Mas, quando lhes pergunto sobre sua preparação, elas
geralmente não respondem, porque a subestimam ou acham que é inútil. Não é inútil.
Ajustes da comida e do sono: a primeira coisa a fazer é ajustar nossos hábitos diários : hábitos
de sono, estilo de vida e alimentação. A alimentação pesada e gordurosa ou muito estimulante
com alto teor de açúcar ou de cafeína, comer demais ou de menos também inibe a meditação e
obscurece a mente. Dormir em excesso ou insuficiente tem o mesmo efeito.
Ajustes das roupas: use roupas limpas e confortáveis. Roupas apertadas comprometem a
circulação e a respiração.
Ajustes do corpo, da mente e da fala: enxague as mãos e a boca com água fresca. Este ato,
embora seja popular no Japão, não é exclusivamente japonês, e, é incrivelmente
simbólico. Segundo o Budismo, cometemos transgressões através do nosso corpo, da nossa fala
e das nossas mentes. Ao lavar as mãos e a boca, estamos reconhecendo que cometemos
transgressões através da fala e de atos, e a prática que estamos prestes a empreender, é para
superá-las e nos tornarmos pessoas melhores.
Recitar a liturgia Tendai é ir além de um mero ato religioso. Recitamos para transformar a
mente, mudar nossos hábitos e alcançar a iluminação. Recitamos para nos recordar dos
ensinamentos budistas, para reafirmar nosso desejo de salvar todos os seres sencientes (hotsu
bodaishin - despertar a mente de iluminação) e admitir que cometemos transgressões no
passado, mas desejamos superá-las, para nos tornarmos pessoas melhores.
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A postura completa do lótus (kekka) é considerada a melhor para estabilidade. Esta postura
consiste em sentar-se com as pernas dobradas e posicionar os pés em cima das coxas
opostas. Três pontos tocam o chão criando um tripé estável (com joelhos e nádegas). Ajuda abrir
e elevar os quadris, tirar a pressão da coluna e abrir a caixa torácica, para melhor respirar. No
entanto, poucas pessoas conseguem dobrar as pernas dessa maneira, e sem alongamento e
exercícios de fortalecimento, sentar-se nessa postura por longos períodos, pode até danificar os
tornozelos e os joelhos.
A segunda melhor postura é chamada meio lótus (hanka fuza). Semelhante a lótus completa,
posiciona-se apenas um pé está na coxa oposta, o outro pé permanece embaixo da coxa
oposta. Novamente, forma-se um tripé estável (com joelhos e nádegas) e tira alguma pressão
dos tornozelos e dos joelhos.
A terceira melhor postura é conhecida como postura birmanesa. Nesta postura, ambas as
pernas repousam no chão, uma ligeiramente em frente da outra. Essa é a postura ideal para
iniciantes ou para aqueles que não conseguem permanecer sentados nas posturas acima, por
longos períodos de tempo.
Outra opção, é usar um banquinho de meditação. Nesta postura, senta-se em seiza (postura
ajoelhada) com o banco dobrado sob as nádegas, tirando a pressão dos joelhos e
tornozelos. Esta postura e a birmanesa são as melhores para aqueles que não conseguem se
sentar em nenhuma das posturas de lótus, ou para aqueles com problemas nos quadris, joelhos
e tornozelos. No Japão, senta-se em seiza sem o uso do banquinho, mas para quem não está
acostumado a isso, logo, pode sentir dores nos pés.
Outra opção viável é sentar-se em uma cadeira firme (koshikakeza), como uma cadeira de
cozinha (não um sofá). No entanto, é importante não apoiar as costas no encosto, a menos que
seja necessário, por algum problema de saúde, pois o praticante pode acabar desleixado ou ficar
muito relaxado e sonolento. Existem até modernas cadeiras de meditação que ajudam a manter
a coluna ereta, que podem ser usadas, desde que haja uma verdadeira razão médica para confiar
nelas. Usar uma cadeira dessas, é simplesmente se render a preguiça, quando se é capaz de se
sentar sem uma! Até é possível meditar deitado, mas não é recomendável, porque é provável
que a pessoa adormeça. Independente das posturas ou das almofadas escolhidas, é importante
lembrar dos seguintes pontos-chaves:
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Mantenha os quadris elevados em um plano mais alto que os joelhos: Elevando os quadris, gire-
os levemente. Essa rotação dará a sua coluna, a suavidade natural do formato da letra "S", em
vez de um pós-reto, e aliviará a pressão na coluna lombar. Se você estiver sentado no chão,
sente-se em almofadas suficientes para elevar os quadris. Mas, se você estiver ajoelhado, você
pode preferir colocar uma almofada entre suas nádegas e pernas ou mesmo colocar uma
almofada enrolada entre as pernas para assentar seu traseiro. Se você estiver sentado em uma
cadeira, mova-se a frente, para afastar as costas do encosto e mantenha os dois pés apoiados
no chão, diretamente sob os joelhos. Se você estiver deitado, dobre as pernas e as posicione em
aproximadamente 45 graus com as solas dos pés no chão.
Encontre o seu centro de gravidade: Balance para trás e para frente, lado a lado. Isso vai ajudá-
lo a encontrar seu centro de equilíbrio. Você deve sentir como se toda parte superior do seu
corpo estivesse apoiada nos quadris. Os músculos do seu coração e parte superior das costas
devem estar relaxados.
Mantenha os ombros relaxados: Não os puxe de volta, nem os apresse para frente. Encontre o
equilíbrio entre os dois. Tente rolar e encolher os ombros até ficarem confortáveis. Os ombros
ajudam a abrir as costelas, permitindo que você respire profundo. Quando respiramos
profundamente, mais oxigênio chega aos nossos órgãos, membros e, mais importante, ao nosso
cérebro. Com a ajuda do nosso foco mental e da nossa circulação, evitaremos que nossos
membros fiquem dormentes.
Coloque o queixo para trás, mas não para baixo: Isso alinhará a cabeça com a coluna, e, é um
movimento tão leve, quase imperceptível. De novo, não exagere.
Imagine sua cabeça sendo puxada por uma corda do alto do crâneo: Isso ajudará a manter a
coluna reta e alinhada.
Pouse as mãos no colo em dhyana mudra (mudra de meditação): Tenha em mente que quando
a meditação é intensa, seus polegares se pressionam. Quando se está relaxado demais, os
polegares se afrouxam.
Sente-se em uma postura estável e confortável: Agora, você deve se sentir estável e firme, não
vacilante. Seu centro de gravidade deve estar logo abaixo do seu umbigo.
Verifique se os cotovelos estão pressionados as costelas: Mas, existe uma boa lacuna suficiente
para respirar adequadamente.
Levante o peito levemente, como se oferecesse seu coração: Isso abrirá sua caixa torácica para
ajudá-lo a respirar profundamente. Tente respirar pelo diafragma e não pelas costas.
Feche a boca, mas não aperte com força: Os dentes não devem se tocar. Isso relaxará os
músculos da sua cabeça. Coloque delicadamente a língua, na parte macia do palato (céu da
boca), atrás dos seus dentes da frente superiores. Isso ajudará manter sua mandíbula relaxada
e reduzir a salivação.
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Você pode optar por fechar os olhos ou mantê-los abertos: Se os mantiver abertos, tente
"olhar" para um ponto, aproximadamente dois pés (ou 0,60 cm), à sua frente, no chão. Não se
fixe nele, nem olhe ao redor da sala.
Inspire e expire pelo nariz: Se isto não for possível, pode ser pela boca. O nariz é preferido
porque, se estiver um dia frio, as narinas aquecerão o ar, facilitando a retirada do oxigênio do
ar pelo corpo. Respirar pela boca, pode também deixar sua garganta seca, levando você a salivar
ou precisar tossir, o que pode perturbar você e os que estão ao seu redor.
Dores e tensões: Você sentirá algum desconforto durante meditação. Quando isso acontecer,
mova-se! Não pense que você precisa permanecer completamente imóvel para meditar. Tente
não se mexer, porque você perturbará sua própria mente e os que estão ao seu redor, mas se
precisar se mover, faça valer a pena! Se a sua perna adormecer, endireite-a, não se sente nem
se mexa, esperando que a dor desapareça. Se suas costas doem, dobre para frente e para trás,
para alongá-la. Também é bom, durante a meditação, se levantar. Lembre-se de manter as
costas reta, com a cabeça erguida e as mãos em dhyana mudra. Ao sentir a circulação sanguínea,
volte a se sentar. Você pode querer coçar ou arranhar. Esta é uma estratégia da sua mente para
entretê-lo. Realmente, não há necessidade física de coçar, a menos que, você tenha algum
problema de saúde. Então, se você sentir necessidade de coçar, deixe passar.
A maioria das pessoas sentem dores nos tornozelos, joelhos, quadris, região lombar e parte
superior das costas quando começam a meditar. Pode haver várias razões para isso, mas, tem
a ver principalmente com uma má postura corporal na vida cotidiana e membros tensos. É
importante não manter forçadamente qualquer postura que lhe seja desconfortável. Para ser
capaz de permanecer sentado por longos períodos de tempo, você precisará fazer alguns
alongamentos. Sensações de formigamentos, também são bem comuns, seja por ficar parado
ou pela pressão no fluxo sanguíneo. Tente mexer os dedos dos pés, de vez em quando, para
liberar o fluxo sanguíneo. Com o tempo, você descobrirá que é capaz de ficar sentado por longo
período sem sentir formigamentos.
ENTRANDO
Agora, você está preparado para meditar no corpo, na fala e na mente. Prestar a atenção na
respiração e entrar em Samatha.
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PERMANÊNCIA
Entrando em Vipasyana
Tão importante quanto tudo o que foi dito acima, é 'sair' da meditação. Mais uma vez, isso é
algo frequentemente ignorado e não deveria ser. Sair indevidamente, faz com que a mente fique
nublada e perturbada, o corpo fique lerdo e também pode causar males físicos, tais como dores
de cabeça. É como acordar de um sono profundo, portanto, deve ser feito devagar e com
cuidado.
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RESUMO
Quando essas etapas estiverem dominadas, elas se tornam uma meditação única, em vez de
sequencial. Assim, a prática se torna 'Perfeita e Repentina' e pode ser feita a cada momento
('nem sentado nem andando').
(**) Cinco Agregados (em sânscrito Skandhas) que compõem um ser ou individuo a saber:
1.matéria (corporalidade) 2. sensação 3. percepção 4. formação mental 5. consciência
(fonte Ensinamentos do Buda por Nisshin Coen)