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APOSTILA DE DIREITO CIVIL Professor Affonso Pernet Júnior

DIREITO CIVIL
Lei de introdução ao Código Civil – Decreto-Lei n° 4.657/42

1. Nota introdutória - A LICC mudou em 2003? Não, não houve alteração com o novo
CC.
Prevaleceu a tese de haver uma lei autônoma, pela maior facilidade de fazer uma
mudança, se necessário. Não é parte integrante do CC.

Deveria chamar “Lei de introdução às leis” porque é uma lei geral, que se aplica a todos
os ramos do Direito.

2. Conceito - Descreve as linhas mestras da ordem jurídica, exercendo a função de lei


geral.

Rege os conflitos da norma no espaço e no tempo. Os conflitos da norma no espaço são


estudados no Direito Internacional. Já o conflito de normas no tempo é de nosso
interesse, principalmente com o surgimento do NCC.

3. Conteúdo e Função

a) obrigatoriedade da lei – art. 3°, LICC – ninguém pode descumprir a lei alegando a
sua ignorância. Trata-se de ficção ou presunção? É uma ficção legal, que corresponde a
um fato que é sabidamente falso, mas que a lei transforma em verdadeiro.

Presunção – é estudada na prova do negócio jurídico. Como regra, quem alega deve
provar. Art. 333, I, CC. Com a presunção inverte-se o ônus da prova. As presunções de
direito sequer permitirão prova em contrário;

b) conflito de normas no tempo e no espaço;


c) hermenêutica – significa interpretação;
d) critérios de integração.

4. Fontes do Direito - O termo é utilizado como metáfora. Fonte é o lugar de onde surge
o direito.
O professor Limongi França entende que o termo mais adequado é “Formas de
expressão do Direito”.

4.1. Lei – norma geral e abstrata emanada de autoridade competente, que deve ser
obedecida por todos. Lei cogente – normas de ordem pública, que não podem ser
afastadas pelas partes. Ex: art. 51 do Código de Defesa do Consumidor.

Uma norma cogente pode ser identificada quando a punição legal imposta é a nulidade.
Leis supletivas ou de direito dispositivo – aquelas que podem ser afastadas por vontade
das partes. Ex: vícios do CC.
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Cláusulas comuns nos contratos de locação são aquelas em que o fiador renuncia ao
direito de pedir exoneração da fiança. Art. 835 do CC. O STJ tem debatido se essa
renúncia fere ou não a ordem pública, se isso é direito dispositivo ou não. Art. 2035,
parágrafo único, CC – o professor entende que essa renúncia fere a ordem pública e, caso
os particulares afastem o art. 835, o contrato será nulo.

4.2. Costumes – são usos reiterados de determinada comunidade, por determinado


período de tempo. O direito comercial baseia-se no costume. Os usos também são fonte
do direito e não necessitam de muito tempo como os costumes, para serem aceitos. Art.
445, §2°, CC.

4.3. Princípios Gerais de Direito – são mandamentos que não necessariamente estão
convertidos em texto de lei. Formam a base do ordenamento jurídico. São princípios de
justiça. Ex: vedação do enriquecimento sem causa; o juiz sempre julga com base na boa-
fé (privilegiando a boa-fé).

4.4. Eqüidade - art. 127, CPC. - É a justiça no caso concreto. Utilizar a equidade
significa suavizar os rigores da lei. O CC/16 não trazia nenhum artigo que possibilitasse a
equidade.

No CC/02 devemos estudar os seguintes artigos: 944, parágrafo único; 928 e 413.

Art. 944, parágrafo único, CC – no CC/16 só havia a disposição do “caput”.

No NCC, o juiz poderá reduzir a indenização se houver desproporção entre a culpa e o


dano causado.
O juiz não pode se valer da equidade cerebrina – não pode julgar de acordo com suas
convicções políticas, pessoais ou religiosas.

5. Validade da norma – é um aspecto dogmático fundamental, pois significa a sua


identificação como compatível ao sistema jurídico que integra.

Se a norma não for válida tem que ser retirada do Sistema.

Validade formal – diz respeito à observância das normas do processo legislativo. A


própria CF, em seu art. 60, diz que não pode ser emendada durante o estado de sítio. Se
isso ocorrer, haverá invalidade formal.

Validade material – diz respeito à competência para legislar. O art. 22 da CF traz a


competência da União.

6. Vigência – é um critério puramente temporal. Uma norma está em vigência até que
ocorra sua revogação.
Vigência é diferente de vigor. Vigor é a força vinculante da norma.

Uma norma pode estar em vigor mesmo tendo sido revogada? Sim. Ver o art. 2.038 do
CC/02. O CC/16 está revogado, mas a regra que trata da enfiteuse está em vigor.
7. Eficácia – aptidão para a produção de efeitos.
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A norma produz efeitos a partir de sua vigência? Depende. Se entrar em vigor a partir de
sua publicação, sim, porém há leis que possuem “vacatio legis”.

8. Aplicação das normas

Subsunção – é o enquadramento do fato ao conceito abstrato contido na norma.

9. Hermenêutica ou interpretação – é a busca do exato conteúdo de uma norma jurídica.

O brocardo “in claris cessat interpretatio”, que significa que, sendo a lei clara, não pode
haver interpretação, deve ser visto com reservas porque não é verdade que a norma possa
ter essa clareza absoluta.

Espécies de interpretação:

a) gramatical ou literal – a partir do vocábulo, da gramática;

b) sistemática – analisa-se o texto de acordo com o sistema em que está inserido;

c) finalística ou teleológica – busca-se o motivo, os fins do texto.

Quanto à origem:
a) intepretação autêntica – emana do próprio legislador;

b) doutrinária – no Brasil, hoje, ocorrem as jornadas de Direito Civil da justiça


Federal. É uma reunião de doutos para interpretar os artigos da lei. Essas
interpretações saem em forma de enunciados da CJF (Conselho da Justiça Federal);

c) jurisprudencial – feita pelos órgãos do Poder Judiciário.

Regra fundamental de interpretação – é a contida no art. 5° da LICC.

É a regra máxima de interpretação. Deve inspirar toda a interpretação legislativa.

10. Integração do Direito – ocorre por razões de lacuna na lei (e não no direito), e
decorre da indeclinabilidade da jurisdição.art. 4°, LICC. As três formas de integração são:
analogia, costumes e princípios gerais de direito.

Na analogia usa-se uma lei que trata de um caso semelhante, ao caso concreto, para o
qual não há lei específica. É a analogia legis. Pode haver a analogia júris, em que se
busca a solução não em outra lei, pois esta não existe, mas nas outras fontes do direito.

Analogia e interpretação analógica – se o texto não é claro, mas existe, busca-se


interpreta-lo com base em outro texto. A analogia ocorre na lacuna da lei (não existe lei).

11. Vigência da lei no tempo – a publicação da lei é importante para que se dê


conhecimento de seu conteúdo.
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Pode entrar em vigor a partir da publicação ou ficar com sua eficácia suspensa: “vacatio
legis” ou vacância da lei. A lei existe, mas não produz efeitos.

O prazo de “vacatio legis” no Brasil é de 45 dias, para a aplicação da norma no Brasil


três meses para o exterior. Só será aplicado tal prazo se não houver prazo especial.

Se antes da entrada em vigor da lei houver modificação do seu texto por lei nova,
reinicia-se a “vacatio legis”.

O prazo de “vacatio legis” no Brasil é único – a lei entra em vigor simultaneamente em


todo o território nacional.

Quando o CC entrou em vigor, no dia 11 ou no dia 12 de janeiro de 2003?


Ver art. 2004 do CC.

O CC foi publicado no Diário Oficial em 11 de janeiro de 2002.

O professor Nelson Nery entende, baseado na Lei Complementar 95/98, que o CC entrou
em vigor no dia 12/01/03.

A maioria esmagadora da doutrina entende que entrou em vigor no dia 11/01/03.

12. Obrigatoriedade das Leis.

A lei produz efeitos até que ocorra a sua revogação. Art. 2º, LICC.

13. Revogação - Revogar é tornar sem efeito uma norma, retirando sua obrigatoriedade.

Uma lei só é revogada por outra lei. Os usos e costumes e o tempo não têm o condão de
revogar a lei.

1ª espécie – ab-rogação. É a revogação total de uma lei;


2ª espécie – derrogação. É a revogação parcial de uma lei.

Ver art. 2045, NCC. O NCC ab-rogou o CC/16 e derrogou a 1ª parte do Código
Comercial.

Formas de revogação:
1. revogação expressa – art. 2045, NCC.

2. revogação tácita – temos duas leis ordinárias tratando de bem de família.

Art. 1711 do CC, parte final: “mantidas as regras sobre a impenhorabilidade sobre a
impenhorabilidade do imóvel residencial estabelecida em lei especial”. A lei nº. 8.009/90
– também trata do bem de família. O Código não revogou totalmente esta lei.
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Questões Polêmicas

1. União estável
No CC tratam desse assunto os arts. 1.723 e 1.790. Antes da vigência do CC tínhamos as
leis nº. 9.278/96 e nº. 8.971/94. Essas leis foram revogadas ou ainda são aplicadas?

Se entendermos que o Código revogou tais leis, como o professor Francisco José Cahali,
as companheira não tem o direito real de habitação. Se entendermos que foram
derrogadas, como Euclides de Oliveira, haverá direito real de habitação do companheiro.
O professor entende que, tecnicamente, Cahali está com a razão.

2. Condomínio edilício – era regido pela Lei nº. 4.591/64. O Código também trata desse
assunto hoje. A lei foi revogada totalmente? O professor Sílvio Venosa entende que se
aplica a lei no que não for contrária ao NCC.

Critérios para a revogação da lei:

a) lei hierarquicamente superior revoga a lei inferior;


b) lei especial revoga lei geral;
c) lei posterior revoga lei anterior.

Quando ocorre antinomia, o que acontece?

Ex: sobre o inquilinato temos a Lei nº. 8.245/91, que é especial e o Código Civil de 2002,
que é lei geral posterior. O professor entende que o critério da especialidade se sobrepõe
ao da posteridade.

Maria Helena Diniz entende que, neste caso, buscar a suprema justiça – entre duas
normas incompatíveis deve-se buscar a mais justa.

14. Repristinação – é o fenômeno da volta da vigência de uma lei revogada por meio da
revogação da lei revogadora. Pode existir no Brasil, desde que prevista expressamente.

15. Irretroatividade da lei – a lei em vigor tem eficácia imediata e só poderá alcançar
fatos futuros. Não retroage.

Tanto a CF quanto a LICC dizem que a nova lei não poderá prejudicar o direito
adquirido, o ato jurídico e perfeito e a coisa julgada.

Questão prática de retroatividade e irretroatividade da norma:

1) art. 977, NCC – sociedade entre cônjuges. Evita a fraude ao regime da separação
obrigatória de bens.

E quanto à comunhão universal? Explica-se a proibição da sociedade para evitar que os


credores fossem prejudicados - haveria menos garantia para os credores pela confusão
patrimonial que se formaria.
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Os casais que possuem sociedade desde 1975, precisam alterar o contrato social, porque a
norma de 2005 diz que não podem ser sócios? A norma retroage ou não?

O contrato de sociedade é um ato jurídico perfeito?

Alguns entendem que sim, mas que o problema são os efeitos do ato produzidos no
tempo, que são fatos pendentes produzidos sucessivamente.

O Registro de Comércio de Brasília, que cuida das Juntas Comerciais no Brasil todo,
soltou uma portaria dizendo que “todas as sociedades de cônjuges que já existiam antes
da vigência do NCC são sociedades regulares, perfeitas e que não precisam ser alteradas,
pelo Princípio da preservação do ato jurídico perfeito”.

Essa questão é muito polêmica.

2) art. 1336, §1º do CC – multa condominial. A lei do condomínio (Lei nº. 4.591/64) dizia
que a multa podia chegar até 20% (cláusula penal). O NCC diz que não pode ser superior
a 2%. Os condomínios que já existiam e possuem seus estatutos de acordo com a lei
precisam alterá-los para adequação ao NCC? Os primeiros julgados em São Paulo
entenderam que não, que tais convenções de condomínio são atos jurídicos perfeitos e
não precisam ser alterados.

No TAC surgiram duas teses:

1ª) as prestações condominiais vencidas antes da entrada em vigor do CC possuem multa


de 20%;

2ª) as posteriores ao NCC devem ter multa de 2%.


O STJ, recentemente, apoiado na opinião de Nelson Nery, entendeu que o condomínio
emite mensalmente suas cobranças e, portanto, a convenção de condomínio não é um ato
que se esgota, mas contém os fatos pendentes, que devem ser adequadas à nova lei
(NCC). O NCC não atinge os chamados fatos pretéritos.
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II - TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL


1º PONTO: DAS PESSOAS - 1 - PERSONALIDADE

É o poder, aptidão para praticar atos da vida civil. Só podem praticá-los quem é
dotado de personalidade (os dois atos da vida civil são contrair direitos e obrigações).

ENTES 1 - físico (corpóreo)


2 - moral (incorpóreo)

PESSOA : ente, físico ou moral, a quem a lei confere personalidade.

1 - pessoa física ou natural (arts. 2º e 6º CC)


2 - pessoa jurídica
Art. 2º : o único ente físico dotado de personalidade é o homem.
Não basta nascer, mas nascer com vida.
Nascer = sair das vísceras da mãe
Nascer com vida » basta respirar uma vez somente

Art. 6º : fim da pessoa natural (morte).

Nascituro : já foi concebido mas ainda não nasceu com vida (logo, ainda não é
uma pessoa TEORIA NATALISTA – (FALAR DA TEORIA
CONCEPTUALISTA).

Nascituro é uma pessoa em potencial, haja vista que há uma maior


probabilidade d’ ele nascer com vida. Destarte, põe o legislador a salvo os seus
direitos para, se nascer com vida, serem incorporados ao seu patrimônio. Se não
nascer com vida, seu direito caduca. Assim, percebe-se que se trata de
EXPECTATIVA DE DIREITOS.

1 - doação ; 4 - adoção ;
2 - reconhecimento de paternidade ; 5 - alimentos ;
3 - herança ; 6 - investigação de paternidade.

Obs. 1 : em todos os casos, as obrigações são condicionais, resolvendo-se caso


o nascituro não venha a nascer com vida.

Obs. 2 : os 5 e 6 são direitos controvertidos, razão pela qual serão objeto de


estudo mais aprofundado quando se estudar estes temas especificamente.

CAPACIDADE

Capacidade : 1 - de direito; genérica; de gozo e fruição


2 - de fato; de exercício
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1 - é a aptidão de praticar os atos da vida civil pessoalmente ou através de
outrem (art. 1º » todo o homem que nasceu com vida e não morreu);

2 - é a aptidão de praticar os atos da vida civil pessoalmente, sozinho.

1 - REGRA
2 - EXCEÇÃO (quem não detém esta espécie de competência é incapaz).
A Lei dividiu a incapacidade em 2 espécies:

a - absoluta;
b - relativa

a - nenhum ato da vida civil pode ser praticado per si;


b - há certos atos que podem ser praticados

Ex.: art. 1.860, parágrafo único CC » os pais não podem ajudar o filho a
fazer o seu testamento, apenas ele o pode.

a - representação (arts. 115 a 120)


b - assistência (art. 1.634, V e 1.690)

a - seus atos praticados são nulos (art. 166, I)


b - atos praticados são anuláveis (art. 171, I)

a - não corre prescrição contra os absolutamente incapazes (art. 198, I)


b - corre prescrição (art. 198, I - a contrário senso)

Art. 3º :
I - menores impúberes
Representantes : pais (art. 1.634,V e 1.690; art. 21 da Lei nº 8.069/90)
tutor, no caso dos órfãos ou filhos de pais destituídos do pátrio
poder (art. 1.747)

Obs: a representação dos pais é automática; a do tutor requer a proposição de


ação própria para sua nomeação (Ação de Tutela).

II - representados pelo curador (art. 1.767, I), nomeado por sentença oriunda da
Ação de Interdição.

III - representado pelo curador (art. 1.767, I), que é alguém da família ou da
confiança do juiz.

IV - Art. 22 : é aquele que desaparece do seu domicílio sem deixar notícia ou


representante.

Obs. 1 : alguém só é ausente se houver pronunciamento judicial neste sentido.


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Obs. 2 : CUIDADO » sentença não é declaratória, e sim constitutiva, pois os
seus efeitos não retroagem à data do desaparecimento (ex tunc); seus efeitos incidem a
partir da data da sentença em diante (ex nunc).

Após 1 ano da data da sentença, pode-se promover a sucessão provisória. Após


10 anos de promovida a sucessão provisória, pode-se promover a sucessão definitiva
(arts. 37 e 38 CC). Só então a morte será presumida.

Quem desejar contrair novo patrimônio antes da morte do ausente ser


presumida deve ajuizar Ação de Divórcio após 2 anos do seu desaparecimento.

Curador - arts. 22 ; 23 e 24. Neste caso, a curatela é sui generis porque não
curatela de pessoas (como nos demais casos), mas sim de bens.

EVENTOS CATASTRÓFICOS (mortes do Ulisses Guimarães, do dono do


Hotel Glória, dos soterrados pelos escombros do Palace II que não foram encontrados
etc) » nestes casos deve ser proposta Ação de Justificação perante o Juízo de
Registros Públicos (art. 88 da Lei dos Registros Públicos). A sentença determinará a
lavratura do óbito.

Decreto-Lei nº 891/38 » TOXICÔMANOS : são os dependentes de


substâncias consideradas entorpecentes. Deve ser proposta Ação de Interdição (antes
da sentença, ninguém pode ser considerado toxicômano).

INTERDIÇÃO - total : incapacidade absoluta


- parcial : incapacidade relativa

Obs: álcool não é considerado substância entorpecente.

Decreto nº 24.559/31 » PSICOPATAS : são os loucos de todo o gênero.

A interdição, teoricamente, ocorre nos mesmos moldes dos toxicômanos.


Igualmente, só será alguém psicopata após sentença que assim o declare.

Art. 4º :
I - menores púberes (art. 1.634, IV CC e art. 21 da Lei nº 8.069/90)
Tutor (art. 1.747)

Se o tutor já houvera sido nomeado quando o menor ainda impúbere, a tutela é


automática para quando este atinge a incapacidade relativa (não há necessidade sequer
de requerimento nos autos).

II - é aquele que dilapida o seu patrimônio desordenadamente. Somente fica


privado de praticar os atos descritos no art. 1.782 CC.

Art. 1.768 e 1.769: elenca os legitimados ativos

Não esquecer : sentença que decreta a interdição é CONSTITUTIVA.


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Cessa a interdição - cura


- não mais existem os legitimados ativos

A sentença de interdição nomeará o curador que prestará assistência ao pródigo.

Pode o Ministério Público promover a interdição ?

Art. 1.769 CC.

E aí ? Bem, segundo o art. 1.178 CPC, o MP deverá atuar nos casos de


anomalia psíquica. Ora, mas ainda resta a dúvida : o pródigo é dotado de uma
anomalia psíquica ?

Se a pergunta é de um concurso para o MP a resposta correta é sim, logo o MP


atua.
ATENÇÃO : quando não mais existem os legitimados ativos, o MP não
atua mesmo pois não há interesse a ser tutelado.

Art. 4º par. Úni. tratam-se somente daqueles que não estão inseridos na vida
civilizada, i.e., apenas os índios selvagens.

O silvícola é assistido por um tutor (art. 6º, parágrafo único), o qual será a
FUNAI (Lei nº 6.001/73).

Contudo, o art. 129, V CF/88 estipula ser função do MP defender os interesses


das populações indíginas. No mesmo sentido, já estipulava o art. 82 CPC que cabe ao
MP defender os interesses dos incapazes.

Pergunta-se : todo índio é incapaz ? NÃO !

Então, se o CPC já dispunha sobre a tutela do MP em relação aos índios


selvagens, o que inovou a CF/88 ?

Interesse - 1)* coletivo (arts. 231 e 232 CF/88)


- 2)* individual (não se aplicam os arts. acima)

- capaz
1)* coletivo » art. 129 CF - J.F. - Procur. da República
- incapaz (MP federal)

- capaz
2)* individual » art. 89 CPC - J.Est. - Promotor de Justiça
- incapaz** (MP Estadual)

**(assistido pelo tutor da FUNAI)

Art. 5º, caput :


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18 anos » maior
» capaz (de fato)

§ único » tornar capaz que ainda é menor = emancipação.

emancipado » menor
» capaz

- EMANCIPAÇÃO VOLUNTÁRIA OU EXPRESSA : único caso na


legislação brasileira é o previsto no art. 5, § 1º, I CC.

- EMANCIPAÇÃO LEGAL OU TÁCITA : não se visa à emancipação, mas ela


ocorre por força de lei.

I - pessoa tem que ter, no mínimo, 16 anos


Obs : poder familiar é exercido igualmente entre pai e mãe (art. 226, § 6º CRFB
e art. 21 Lei nº 8.069/90)

Assistência - pais (art. 22 lei nº 8.069/90)


- tutor » juiz » ação (CPC) » sentença

pais : - pai diz sim » sentença judicial somente supri a vontade da


- mãe diz não mãe, mas não emancipa (mero substitutivo)

Quando os pais registrarem a emancipação de seu filho, esta não precisa ser
mediante instrumento público, pelo o que se entende da própria redação do art. 90 da
Lei nº 6.015/73 (... se for de escritura pública ...). Todavia, afirma CAIO MÁRIO que
o instrumento tem que ser público. Portanto, cuidado na hora da prova (verifique
antes o entendimento da banca).

Obs : nem é preciso dizer que quando o artigo diz “sentença”, ele se refere ao
tutor; quando utiliza a palavra “instrumento”, refere-se aos pais.

II - casamento
art. 1.521 e 1.517 - Salvo os casos de casamento nulo ou de má-fé (atenção: não
se falou em putativo).

III - CARGO EFETIVO : concurso público através de provas ou provas e


títulos, decorrido o período de estágio probatório.

CUIDADO : CORRENTE MAJORITÁRIA entende que a capacidade é


conferida no momento em que se entra em exercício, haja vista a impossibilidade de
alguém exercer um cargo público destituído de plena responsabilidade civil.

Idade mínima : 2 correntes :


16 anos » por ser, pelo menos, relativa a sua incapacidade.
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18 anos » somente a partir daqui poderá responder criminalmente (já pensou,
cometeu peculato e não responde porque é inimputável ?). Este é o entendimento mais
comum na prática.

IV - significa dizer que completou o 3º grau. A Idade mínima é 16 anos.

V - Estabelecimento - civil : 16 anos


- comercial : 18 anos (crimes falimentares, lembra ?).

Atenção : economia própria, ou seja, se o papai montar uma franquia do Mac


Donalds para o filinho à toa, não ser-lhe-á conferida capacidade.

Comoriência - São pessoas que falecem na mesma ocasião sem que se possa
determinar qual pré-morreu à outra. Art. 8º CC

Premoriência  Comoriência
PESSOA JURÍDICA (ou Pessoa Moral ou de Existência Corpórea)

É o ente moral a quem a lei confere personalidade.

- Direito Público (art. 41) » lei (início e fim)

Pessoa Jurídica
- associações
- Direito Privado (art. 44) - sociedades
- fundações

Art. 16, III CC/16 (acrescentado pela Lei nº 9.096/95) : incluiu os partidos
políticos no rol das pessoas jurídicas de Direito privado. NÃO TEM
EQUIVALENTE NO CC/2002, MAS ESTÁ EM VIGOR ESSE ENTENDIMENTO.

As sociedades e associações são formadas por pessoas que desejam se reunir.


Porém, as sociedades possuem um fim econômico (fim lucrativo ?) e as associações
não, pois se obtiver lucro será este usado na sua subsistência.

ATENÇÃO : EMPRESA PÚBLICA E EMPRESA


DE ECONOMIA MISTA SÃO S/A » DIREITO PRIVADO

Fundações : são criadas por DOTAÇÃO PATRIMONIAL (conjunto de bens


destacados de um patrimônio).

Quem tem o dever de fiscalizar as fundações particulares é o Ministério


Público.

IMPORTANTE : o testamento, por via de regra, só pode dispor de bens a favor


de quem já existe. Entretanto, AS FUNDAÇÕES constituem a ÚNICA EXCEÇÃO,
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pois podem ser criadas por testamento. Em suma, não existem, mas passarão a existir
devido às disposições testamentárias.

» INÍCIO DAS PESSOAS JURÍDICAS (art. 45 CC) :

- Contrato levado a registro - as sociedades de fato ou irregulares podem ser


rés; pelo art. 12 CPC podem figurar tanto no pólo ativo quanto no passivo.

Obs : este último dispositivo legal vem do princípio geral de direito que impede
o enriquecimento ilícito.

- Autorização ou aprovação do Governo - todavia, a despeito da regra do art.


45, o entendimento majoritário é que, mesmo nesses casos, é necessário o registro,
sendo somente então que passará a existir a pessoa jurídica, tudo conforme os ditames
do art. 119, parágrafo único da Lei nº 6.015/73.

Condomínio - - autor
Massa Falida - pessoa formal - art. 12 CPC
Espólio - - réu

» NATUREZA JURÍDICA DAS PESSOAS JURÍDICAS :

- da Ficção Jurídica (personalidade emprestada da pessoa


Teoria física
- da Realidade (art. 45, caput)

A Teoria da Realidade foi a adotada pela ordem jurídica brasileira. Tanto a


pessoa jurídica é distinta da pessoa física e tem existência própria que possui NOME,
DOMICÍLIO e PATRIMÔNIO próprios, distintos das pessoas físicas que as compõem.

Se assim não fosse, como responderíamos as respostas abaixo:

a) Qual pessoa física empresta personalidade a uma pessoa jurídica de direito


público, como a União, por exemplo ?

b) Quem empresta personalidade às pessoas jurídicas quando as decisões são


tomadas por maioria ?

Então, na forma o art. 45, caput, a pessoa jurídica, para o Direito brasileiro, é
uma realidade.

FALAR DA TEORIA DA PRESENTAÇÃO E REPRESENTAÇÃO

TEORIA DE DISREGARD
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(ou da Desconsideração da Pessoa Jurídica)

Consideremos que alguém deseja dedicar-se a um determinado negócio, mas,


concomitantemente, quer deixar seus bens particulares a salvo. Sabe esta pessoa que
se exercer suas atividades enquanto pessoa física será o seu patrimônio particular que
responderá por eventuais demandas. O que fazer ?

Resposta : criar uma sociedade de fachada (ele tem 98% das cotas e sua esposa
2%), pois sabe que a pessoa jurídica tem personalidade conferida por lei e,
conseqüentemente, patrimônio próprio.

Certa ocasião, a sociedade é acionada e condenada a reparar danos materiais e


morais causados a uma senhora, sua cliente. A autora, ao executar a pessoa jurídica,
descobre que o imóvel onde esta se estabeleceu, bem como todos os utensílios,
móveis, maquinários e adornos que lá se encontram, são alugados, pertencem a um dos
sócios.

O que deve fazer a exeqüente ? Requer que seja desconsiderada a pessoa


jurídica e que sejam executados os bens pessoais dos seus membros - Teoria de
Disregard (art. 28, Lei nº 8.078/90).

2º PONTO : D O M I C Í L I O

» Morada - local onde a pessoa se encontra sem ser de modo estável (passando
dias).

» Residência - é a morada habitual, i.e., com estabilidade (morando aqui).

» Domicílio - é a residência com ânimo definitivo (moro aqui sem previsão de


mudança - que seja eterno enquanto durar).

Obs : estabeleçamos a seguinte comparação :

morada = namoro residência = noivado domicílio = casamento

- residência » requisito externo / objetivo


DOMICÍLIO
- ânimo definitivo » requisito interno / subjetivo

A mudança de domicílio exige a modificação dos dois requisitos (subjetivo e


objetivo) - art. 74 CC. A jurisprudência considera como a maior prova da mudança do
ânimo definitivo a transferência do domicílio eleitoral.

IMPORTÂNCIA DO DOMICÍLIO :

1 - determina a competência para propositura da ação;


2 - é o local da abertura da herança e do processamento de inventário.
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Art. 71 » pluralidade de domicílios (mais de uma residência) :

Ex: filho de pais separados; mora uns dias com a mãe e outros com o pai; tem
seu próprio quarto em cada residência » qualquer dos dois endereços será o seu
domicílio.

Ex: mais de um centro de ocupação habitual (muito comum no caso dos


médicos.

Art. 73 CC » na verdade, não se trata de ausência de domicílio, e sim de


residência (o domicílio será onde a pessoa se encontrar).

REGRA : domicílio voluntário


EXCEÇÕES : domicílio legal (arts. 76 e 77 CC)

1) art. 76, caput : atenção, apesar da lei somente se referir aos absolutamente
incapazes (pela expressão “representante”), ela também é aplicada aos relativamente
incapazes.

Este é o denominado DOMICÍLIO DE ORIGEM (aquele donde todos viemos).

2) art. 76 » funcionários públicos em exercício. E quando o servidor está de


licença ?

Há 2 correntes :

- MINORITÁRIA : o domicílio passa a ser o voluntário.

- MAJORITÁRIA : permanece o domicílio legal, ainda que licenciado. o


objetivo é manter a estabilidade do domicílio.

- sem pena (prisão cautelar)


3) art. 76 E Par. Único » PRESO
- com pena (sentença condenatória)

Aplica-se a este artigo apenas o 2º caso, i.e., somente haverá mudança do


domicílio voluntário para o legal após sentença penal condenatória transitada em
julgado.

E no caso de aplicação de Medida de Segurança ? Qual será o domicílio ?

Existem 2 entendimentos :

- DOUTRINÁRIO : prevalece o domicílio do internado (“preso”), pois ali


estará o indivíduo.
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- TRIBUNAIS : aplica-se o domicílio do representante - o indivíduo é
inimputável, louco, logo incapaz.

4) art. 78 : domicílio de eleição ou contratual (é a famosa cláusula contratual


de eleição de foro).

3º PONTO : B EN S J U R Í D I C O S

O conceito de bens é obtido por exclusão; é o que não for ente físico ou moral a
que a lei confere personalidade.

Bem Jurídico é tudo aquilo que satisfaz à necessidade legalmente protegida de


uma pessoa. Portanto, em outras palavras, bem jurídico é todo o interesse,
necessidade, protegido por lei.

PATRIMÔNIO = bem jurídico passível de ser valorável em dinheiro.

Obs : créditos e dívidas podem ser valáveis em dinheiro e são interesses


protegidos por lei; logo, compõem o patrimônio da pessoa.
IMPORTÂNCIA DO PATRIMÔNIO : garantia dos credores quanto ao
pagamento da dívida.

ATENÇÃO : a lei considera e regulamenta expressamente certos direitos como


bens.

CLASSIFICAÇÃO :

- imóveis (conceituado por exclusão do texto do art. 82)


I - BENS
- móveis (arts. 82 e 83 CC)

Semoventes (bens móveis por natureza) » terminologia doutrinária

Art. 82 » bens móveis por natureza


Art. 83 » bens móveis por força de lei

ATENÇÃO : é muito importante a ciência de que créditos e débitos são


definidos como bens móveis, principalmente no que se refere à forma de aquisição e
transferência.

BENS IMÓVEIS (art. 79) :

I - por natureza (acredite e não discuta com a lei - nada de geografia)

II - por acessão física (termo doutrinário) - era móvel até o homem unir ao solo
de forma permanente.
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ART. 93 - PERTENÇAS (por acessão intelectual) - por natureza, é bem
móvel; porém, foi inserido no imóvel com ânimo permanente (por comodidade,
aformoseamento, por trabalho).

Ex: gado » por natureza, é bem móvel; por lei, é imóvel (acessão intelectual).
A mesma coisa é o ar-condicionado.

Art. 80 : direitos que a lei classifica como bens imóveis - da mesma forma que
os móveis, é importante quanto à aquisição e transferência.

II - BENS FUNGÍVEIS E INFUNGÍVEIS (art. 85)

No caso concreto, dependerá da vontade humana, i.e., a pessoa pode valorar um


bem qualquer de tal forma que este não poderá ser substituído por outro do mesmo
gênero, qualidade e quantidade. A princípio, o bem é fungível, porém, pela vontade
humana, passou a ser infungível.
Tal consideração é deveras importante quando se tratar dos contratos de mútuo
e comodato.

Importante guardar os três elementos : qualidade, quantidade e gênero.

III - BENS DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS (art. 87)

- mantém as mesmas características do todo


O fracionamento
- não mantém as mesmas qualidades do todo

Ex: porco ... vaca são bens INDIVISÍVEIS ; carne suína ou bovina é que são
bens DIVISÍVEIS.

Ex: apartamento é bem INDIVISÍVEL ; fazenda é bem DIVISÍVEL

IV - BENS PRINCIPAIS E ACESSÓRIOS (art. 92 e ss.)

Bem Principal tem existência autônoma, existe por si só, independente de


qualquer outro.

Bem acessório precisa da existência do bem principal para existir.

O que acontece com o bem principal ocorre com o acessório (“... o bem
acessório segue a sorte do principal”).

Ex.: locação : o que garante o cumprimento do contrato quanto ao pagamento


dos alugueres ? O patrimônio do locatário. A lei permite que hajam outras garantias,
tais como a fiança.
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Contrato de fiança » sempre acessório, celebrado entre fiador e locador.
Justamente devido à sua natureza acessória é que o fiador somente pode ser executado
a fim de satisfazer o crédito locatício caso o patrimônio do locatário não o possa.

CLASSIFICAÇÃO DOS BENS ACESSÓRIOS :

1 - FRUTO : é a utilidade que a coisa principal gera periodicamente sem


desfalque da sua substância . Tem ciclo de produção.

Ex. : laranjeira - laranja


galinha - ovos
leitoa - porquinhos

Existem duas classificações relativas aos frutos :

- natural : não há qualquer participação do homem


FRUTO - industrial : só é gerado se houver participação do homem*
- civil : cessão do uso da coisa principal mediante
remuneração**

*Ex.: produção de uma fábrica (viu, leite Parmalat é fruto da fábrica).

** FRUTO CIVIL = RENDIMENTO


(é o caso da pessoa que vive de renda)

IMPORTANTE : é a remuneração que é igual ao fruto civil; quando a cessão


do uso da coisa principal é feito sem remuneração diz-se que há um empréstimo.

Exemplos de fruto civil :

a - locação de um imóvel (cessão de uso da coisa principal mediante


remuneração).

b - empréstimo mediante juros » primeiro paga-se os juros (acessório) para


depois pagar a dívida (bem principal). Muitas vezes ocorre do devedor apenas pagar
os juros e a dívida persistir, tal como acontece com a dívida externa brasileira : paga-se
altas somas em juros e a dívida não sofre qualquer desfalque na sua substância, ou
seja, permanece o mesmo montante (bom negócio, viver de juros ...).

JUROS = utilidade (remuneração) periódica gerada pela cessão de uso da


coisa principal (capital emprestado), que não sofre qualquer desfalque na sua
substância.

JUROS = FRUTO CIVIL = REMUNERAÇÃO

Natureza jurídica dos juros : fruto civil acessório ao contrato de emprétimo.

EMPRÉSTIMO MEDIANTE JUROS = MÚTUO FENERATÍCIO


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 Pendentes  Percipiendos
 Percebidos  Consumidos
 Estantes

São PENDENTES, quando ainda unidos à árvore que os produziu, tanto pelos ramos
como pelas raizes. Depois de colhidos, denominam-se PERCEBIDOS. Armazenados ou
acondicionados para venda são ESTANTES. Os que deviam ter sido, mas ainda não foram
colhidos, chamam-se PERCIPIENDOS. Os que já não existem, por utilizados pelo
possuidor, são CONSUMIDOS

- percipiente : não gerado / não colhido


FRUTO - pendente : já gerado / não colhido
- percebido : já gerado / já colhido

- consumido : já recebeu sua finalidade


FRUTO PERCEBIDO
- estante : guardado, armazenado
Ex. : aluguel ...
percipiente » não venceu ainda
pendente » já venceu, mas ainda não foi recebido pelo credor
percebido » venceu e já foi devidamente pago

2 - PRODUTO : utilidade retirada da coisa principal, afetando a sua


substância de forma a diminuí-la.
Ex. : petróleo.

3 - BENFEITORIA art. 96: toda obra ou despesa realizada na coisa principal.

- necessária : seu fim é conservar a coisa principal


BENFEITORIA - útil : seu fim é melhorar o uso da coisa
- voluptuária : o fim é mero prazer, deleite da coisa

V - BENS FORA DE COMÉRCIO

Bens disponíveis : pode ser alienado


Bens indisponíveis : não pode ser transferido, alienado

Bens Indisponíveis :

a - naturalmente: são aqueles naturalmente não prmitem apropriação e


alienação.
Ex.: ar, luz do sol ...
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b - legalmente : são aqueles que a lei arbitra a proibição de alienação.
Ex.: art. 1.691 CC

c - voluntariamente : quando o bem está gravado com cláusula de


inalienabilidade (bom p/ devedor, ruim p/ credor).
Dois casos em que se pode gravar o bem com cláusula de inalienabilidade :

- doação (somente podendo ser gravado pelo doador)


- testamento (somente pelo testador)

BEM DE FAMÍLIA
(Art. 1.711 e 1.715 CC / Lei nº 8.009/90)

Conceito : bem que serve de residência para uma família.

O que gera família ?

1 - casamento (art. 226, §§ 1º e 2º CRFB e 1.511 e ss CC)


2 - união estável (art. 226, § 3º CRFB e 1.723 e ss CC)
3 - monoparentalidade (art. 226, § 4º CF)
4 – família sócio-afetiva (art. 227 caput CRFB e 1.593 in fine CC)

viúva* sem filhos menores


Logo, rapaz que mora sozinho não constituem bem de família.
amigas que moram juntas

(*lembre-se que a morte extingue o casamento)

INTENÇÃO DA LEI : PROTEÇÃO DA FAMÍLIA

Daí a importância de se saber o que gera família.

O bem de família, por força de lei, é impenhorável, não respondendo, assim,


por dívidas.

Destarte, se o marido, antes de falecer, tornara-se devedor e o imóvel onde


moravam era bem de família, este não responderá. Entretanto, se a dívida fora
contraída após a morte do marido e a viúva não tem mais filhos menores sob sua
dependência, este bem passará a responder por qualquer dívida, haja vista não mais se
tratar de bem de famíla.

Logo, importante saber o momento em que a dívida é contraída (atenção


advogados !!!).

Igualmente, não respondem por dívidas os móveis que guarnecem o bem de


família, salvo automóvel, obras de arte e adornos suntuosos (exceções legais).
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Obs : é matéria controvérsia a apreciação do que é e o que não é adorno
suntuoso.

ENTENDIMENTO PACÍFICO DO TJRJ : linha de telefone que guarnece o


bem de família não é adorno suntuoso ! Todavia, telefone celular ainda é matéria
controvertida.

IMÓVEL ALUGADO : os móveis que pertencem ao locatário não respondem


por dívidas, i.e., são impenhoráveis, salvo os casos acima relacionados.

A lei ainda não tratou, especificamente, dos casos do promitente comprador e


do comodatário, porém os tribunais têm igualado ao tratamento dos locatários.

No caso de alguém ser proprietário de vários imóveis, a lei diz que o bem de
família será aquele de menor valor e que serve de sua residência.

IMÓVEL 1 IMÓVEL 2 IMÓVEL 3 IMÓVEL 4


R$ 10,00 R$ 20,00 R$ 30,00 R$ 40,00
comodato alugado fechado residência

O imóvel 4 é que será o bem impenhorável, pois é o único que serve de


residência da família. Porém, se esta família possuir uma casa de campo que utilizada
para os fins-de-semana, cujo valor é da ordem de R$ 100,00, o imóvel 4 ainda será o
único bem impenhorável.

IMPORTANTE : ressalte-se que o imóvel de maior valor pode ser considerado


como o bem de família e, assim, tornar-se impenhorável, desde que seja dada
publicidade exigida pelo Cód. Civil, arts. 1.711 e 1.715 (escritura pública levada a
registro no RGI competente).

» ANTES DA LEI Nº 8.009/90 : somente havia o Código Civil, pelo que o bem
de família necessitava, para ser como tal considerado, de escritura pública e o registro
competente.

» DEPOIS DA LEI Nº 8.009/90 : as formalidades passaram a ser dispensadas,


sendo um bem considerado bem de família automaticamente, pela força dos fatos, i.e.,
no momento em que ali se verificar que reside uma família (art. 5º, parágrafo único).

ATENÇÃO : a lei expressamente acolhe o Cód. Civil ao referir-se ao arts.


1.711 e 1.715 CC (art. 5º, parágrafo único).

INALIENABILIDADE : não é tratada pela lei, mas o é pelo Decreto-lei nº


3.200/41, no caso de existência de filhos menores (o intuito é protegê-los).
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4º PONTO : ATOS JURÍDICOS

Orlando de Almeida Secco dividiu os fatos jurídicos da forma demonstrada abaixo:

Fato jurídico - acontecimentos naturais


(sentido restrito) independentes da vontade (conduta) humana
(que gerem efeitos jurídicos)

Ato meramente lícito – conduta lícita sem um


fim específico, que acaba por ocasionar efeitos
jurídicos

Ato jurídico (stricto sensu) – conduta humana


destinada a um fim (que a norma jurídica
protege)
Ato jurídico
Lato senso
FATO JURÍDICO Negócio jurídico – acordo de vontades
dirigido a um fim protegido pela norma jurídica
(de natureza patrimonial, para Paulo Dourado de
Gusmão)

Crimes
Penal
Contravenções

Ato ilícito
Ilícito contratual
Civil
Ato ilícito (stricto sensu)

Fato jurídico, em sentido amplo (sentido lato), é todo acontecimento, dependente


ou não da vontade humana, a que a lei atribui certos efeitos jurídicos.

Fato jurídico, em sentido estrito, são apenas os acontecimentos que independem


da vontade humana, pois a manifestação da vontade que provoca efeitos jurídicos
denomina-se ato jurídico.

Ex.: Idade, nascimento com vida, a morte, o simples decurso do tempo, tempestade,
terremoto, geada, seca.
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Ato jurídico - ...é toda a declaração de vontade feita por um particular e
dirigida a um fim protegido pela norma jurídica. De Ruggiero

Fato = Todo acontecimento ou situação ocorrido no mundo exterior.

Fato Jurídico ( jurígeno) = Todo fato a que a Lei atribui efeitos jurídicos, ou seja, todo
acontecimento relevante para o direito, ainda que ilícito.

Segundo Washington de Barros Monteiro são os acontecimentos, contemplados


em lei, em virtude dos quais nascem, subsistem, modificam-se e se extinguem as
relações jurídicas. (são estes os fatos jurídicos lato sensu).

Classificação dos Fatos Jurídicos:

Naturais – São aqueles que se produzem independentemente da vontade humana,


também chamados de fatos jurídicos stricto sensu.(sentido estrito)

Dividem-se em:
 Ordinários- nascimento, morte, maioridade, decurso do tempo.
 Extraordinários- terremoto, tempestade, raio, e outros fatos que se encaixam na
categoria do caso fortuito e força maior.

Voluntários - São aqueles cujos os efeitos jurídicos resultam da vontade ou ação


humana, também chamados de atos jurídicos lato sensu. (sentido amplo)

Espécies de fatos jurídicos voluntários ou humanos:

Atos lícitos art.185 CC– São aqueles em que a manifestação da vontade


humana RESPEITA a norma jurídica. A lei defere os efeitos queridos pelo agente. Ex:
Reconhecimento de um filho havido fora do casamento, contrato de compra e venda.

Atos Ilícitos art.186 CC– São aqueles em que a manifestação de vontade


OFENDE ou VIOLA a norma jurídica. Aqui o agente age dolosa ou culposamente
causando dano a outrem. Em vez de direitos, criam deveres para o agente.

Fatos jurídicos voluntários lícitos – Em sentido lato, são os ATOS


JURÍDICOS que têm por fim imediato ADQUIRIR, RESGUARDAR, TRANSFERIR,
MODIFICAR ou EXTINGUIR DIREITOS (art 81CC/16)
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Obs: Tal conceito corresponde ao que denominamos NEGÓCIO JURÍDICO.

Distinção doutrinária entre ato e negócio jurídico:

 ATO JURÍDICO - é o fato jurídico voluntário lícito em que a manifestação da


vontade se dirige a um fim determinado, produz efeitos jurídicos.

OBS: Ato meramente lícito = É um ato humano com intuito não negocial, sem
intenção imediata de alcançar um efeito jurídico . Ex: mudança de domicílio, um
encontro casual de um tesouro, ocupação de uma coisa sem dono.

 NEGÓCIO JURÍDICO - é o ato humano de manifestação de vontade dirigido a


obtenção de efeitos previstos pelas partes e amparados pela norma jurídica. Ex:
Contratos.
ATO JURÍDICO = manifestação da vontade que tem por fim ...
M E R T A ... direitos.

M - odificar ; E - xtingüir ; R - esguardar ; T - ransferir ; A - dquirir

» NEGÓCIO JURÍDICO = manifestação da vontade que busca os efeitos


previstos na lei.
Ex.: todos os contratos.

» ATO JURÍDICO STRICTU SENSU = a manifestação da vontade não é no


sentido da produção dos efeitos legais, ocorrendo estes como mera conseqüência.

Ex.: alguém que se muda de São Gonçalo para o Rio; em decorrência, várias
são as conseqüência jurídicas, tais como a modificação do lugar da abertura da
sucessão, a modificação da competência territorial nas ações que lhe forem movidas
etc sem que estejam na esfera da finalidade almejada por esta pessoa. Ato lícito,
efeitos jurídicos mera conseqüência.

CASO CONCRETO MUITO CONTROVERTIDO : CASAMENTO

» Alguns consideram NEGÓCIO JURÍDICO (contrato)

» Alguns consideram ATO JURÍDICO STRICTU SENSU

Obs : União Estável » Ato Jurídico Strictu Sensu

TRÊS PLANOS - DOS ATOS JURÍDICOS


(Planos = aspectos)
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1º aspecto : EXISTÊNCIA

O ato jurídico existe quando estão presentes os seus elementos essenciais (art.
82 CC). Quando ausentes, ato jurídico inexistente.

- AGENTE
ELEMENTOS ESSENCIAIS - OBJETO
- FORMA

AGENTE = PESSOA (vontade somente pode ser manifestada pela pessoa,


porque está é a única que detém personalidade).

OBJETO = conteúdo da vontade (vontade sem conteúdo não é vontade - quem


quer tem que ter o que querer senão não quer).

FORMA = é o modo, meio pelo qual a vontade será exposta; não há ato se a
vontade não é manifestada, se é apenas um pensamento.

2º aspecto : VALIDADE

O ato jurídico só vale se obedece, respeita à ordem legal. São requisitos de


validade do ato jurídico :

substantivo adjetivos
AGENTE » CAPAZ
OBJETO » LÍCITO
FORMA » PREVISTA OU NÃO DEFESA EM LEI

Note que os requisitos de validade do ato são os adjetivos dos elementos


essenciais de existência do ato jurídico.

Assim, o ato jurídico válido é aquele que apresenta todos os seus reqisitos, sem
exceção. Quando tal não ocorre, a lei está sendo desobedecida, i.e., não está sendo
observado o seu preceito primário. Destarte, nestes casos, a lei prevê sanção: a
invalidade do ato.

Assim como o Direito Penal estipula sanções relativas ao nível de gravidade da


infração (detenção e reclusão), a lei civil também determina sanções diversas,
dependendo da gravidade da infração.

- A) NULIDADE
INVALIDADE
- B) ANULABILIDADE
(gênero) (espécies)

3º aspecto : EFICÁCIA
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» É a aptidão que tem o ato jurídico de gerar efeitos.

Regra : ato jurídico válido = ato eficaz


ato jurídico inválido = ato jurídico inválido
Exceções : ...

A) não gera efeitos no plano do Direito, ou seja, é ineficaz.


B) gera efeitos no plano do Direito, sendo eficaz apesar de inválido (exceção)

Razões: Nulidade » transgride a ordem pública


Anulidade » fere apenas interesses de ordem particular

A) Sentença que diz da nulidade é sempre meramente declaratória (antes não


gerava efeitos e vai continuar não gerando - sentença não tem o condão de modificar a
natureza nula do ato)
B) A sentença que diz da anulabilidade é constitutiva (antes gerava efeitos e
passou a não mais gerar - sentenção tem o condão de modificar a situação jurídica).

A) O juiz pode declarar a nulidade do ato ex officio (como o interesse é público,


não favorece ninguém , apenas mantém a ordem pública)
B) Como o interesse é particular, o juiz somente pode decretar a anulabilidade
do ato mediante provocação das partes.

A) Qualquer interessado e o MP podem alegar a nulidade do ato


B) Somente a quem diz respeito (interessado) pode alegá-la.
Ex.: marido doa bens à adúltera, sua comparsa; somente a esposa e os
herdeiros poderão argüir a anulabilidade da doação.

A) A nulidade não convalece com o tempo


B) A anulabilidade pode convalecer com o transcurso do tempo
Nulidade » imprescritível
Anulabilidade » sofre os efeitos da decadência e da prescrição

A) Não admite ratificação (um ato que não gerou efeito não pode ser
confirmado)
Ex.: alguém, aos 12 anos de idade (absolutamente incapaz), praticou um ato
jurídico com outrém; aos 21 anos, não poderá ratificá-lo » será como tivesse
praticado o ato pela 1ª vez.
B) Admite ratificação.
Ex.: o mesmo caso, sendo que, porém, o menor é relativamente incapaz (18
anos) » o ato poderá ser ratificado quando atingir a maioridade.

- absolutamente incapaz » nulidade (art. 145, I)


AGENTE
- relativamente incapaz » anulabilidade(art. 147, I)
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OBJETO » Ilícito » nulidade (art. 145, II)

* FORMA » Contrária à lei » nulidade (art. 145, III)

* REGRA : Art. 129 CC » CONSENSUALISMO


(liberdade)
** EXCEÇÕES : quando a lei exige a forma (ad solemnitatem)

**IMPORTANTE : Direito formal é que irá se ocupar da prova da observância


da forma » ad probationem. ÚNICA EXCEÇÃO : Contrato de Depósito (art. 1.281
CC).

ATENÇÃO : Não esquecer MACETE :

Existência do ato jurídico » elementos válidos » SUBSTANTIVO


AGENTE / OBJETO / FORMA

Validade do ato jurídico » Requisitos de validade » ADJETIVOS


CAPAZ / LÍCITO / PREVISTA OU NÃO DEFESA EM LEI

CONTRÓVERSIA IMPORTANTE : OS ATOS PRATICADOS PELO


LOUCO ANTES DA SENTENÇA DE INTERDIÇÃO SÃO NULOS,
ANULÁVEIS OU INEXISTENTES ?

Existem 4 correntes :

1ª - CAIO MARIO : o que torna uma pessoa absolutamente incapaz é a


loucura, o evento fático, e não a sentença de interdição (sentença é meramente
declaratória). Logo, o ATO é NULO.

2ª - SILVIO RODRIGUES : a pessoa é absolutamente incapaz em razão do


fato (loucura), e não da sentença interditória. Contudo, o ato gera efeitos. Assim, se a
pessoa estava de boa-fé, não estando ciente de que se tratava de um louco, o ato gera
efeitos até a sentença (assume aqui a natureza constitutiva). Neste caso específico, o
ATO é ANULÁVEL, podendo, portanto, convalescer com o tempo.

Se a pessoa que realiza o ato com o louco estava de má-fé, i.e., ciente do seu
estado psíquico, o ATO é NULO.

3ª - TRIBUNAIS : a pessoa é absolutamente incapaz devido à doença em si.


Entretanto, o ato será válido caso não venha a gerar qualquer dano ao louco. Caso o
ato seja razão de prejuízo para o incapaz, o ATO é NULO.

4ª - PROCESSUALISTAS (dentre eles, Humberto Theodoro Jr.) : não é a


loucura que torna a pessoa absolutamente incapaz, e sim a sentença de interdição,
mesmo porque a sentença será averbada, ficando registrada junto à Certidão de
Nascimento do interditado a sua doença mental e sua condição de curatelado. Assim,
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devido à publicidade dada à loucura, será conferido às relações jurídicas a segurança
necessária para sua realização (ninguém traz na testa a sua sanidade mental). Destarte,
o ATO é ANULÁVEL.

MODALIDADES DE ATOS JURÍDICOS

ATO JURÍDICO PURO : contém apenas os elementos essenciais.

ATO JURÍDICO MODAL : elementos essenciais + elementos acidentais.


ELEMENTOS ACIDENTAIS DO ATO JURÍDICO : São aqueles que, às
vezes, acidentalmente, podem fazer parte do ato jurídico válido. Os elementos
essenciais estão sempre presentes, sob pena do ato ser inexistente; a ausência dos
elementos acidentais não compromente a existência do ato. São os elementos
acidentais : 1 - Condição ; 2 - Termo ; 3 - Encargo.

Os elementos acidentais mexem com os efeitos do ato jurídico de tal forma que
atos válidos, muitas vezes, permanecerão ineficazes. Atos jurídicos válidos »
ineficazes.

1 - CONDIÇÃO : evento futuro e incerto a que se subordinam os efeitos do


ato jurídico.

Efeito = futuro + incerto

Ex.: casamento e aprovação em concurso público são eventos futuros e incertos.

Única classificação de condição que é cobrada em concursos no RJ :

- Condição Suspensiva : a condição impede o ato jurídico de gerar efeitos. O


ato é válido, mas é ineficaz. Com implemento da condição é que o ato a gerar efeitos,
i.e., adquire eficácia.

Ex.: mãe empresta casa para a filha se ela casar-se.

- Condição Resolutiva : com o implemento da condição resolutiva, o ato


jurídico, que vinha gerando efeitos, perde a sua eficácia.

Ex.: mãe empresta casa ao filho até ele se casar.

2 - TERMO : evento futuro e certo a que se subordinam os efeitos do ato


jurídico válido.

Efeito = futuro + certo

Ex.: morte, dia das mães etc.

Classificação de termo :
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- Certo e Incerto

Certo » sabe-se quando vai ocorrer (ex.: natal)


Incerto » sabe-se que vai acontecer, mas não se sabe quando (ex.: morte).
- termo determinado
LOCAÇÃO
- termo indeterminado

- Inicial e Final

Termo inicial é o momento em que o ato jurídico começa a gerar efeitos.


Termo final é o momento em que cessa a eficácia do ato jurídico.

O mesmo ato jurídicopode ter termo inicial e final. O lapso temporal entre
ambos é denominado PRAZO.

A contagem do prazo no Direito Civil (art. 132 CC) exclui o termo inicial e
inclui o termo final.

prazo
x-----------------------------------------------x
termo inicial termo final

DEFEITOS DO ATO JURÍDICO

Quando está viciado, o ato jurídico é defeituoso (art. 171, II CC).

Ato Jurídico = vontade + lei

O vício pode atuar tanto na vontade do agente quanto na consonância do ato


com a lei.

Vício de consentimento : defeito na manifestação da vontade » Erro, Dolo e


Coação.

Vício Social : defeito na consonância do ato jurídico com os dispositivos da lei


» fraude contra credores e simulação (atinge a outras pessoas, não só os agentes do
negócio ou ato jurídico).

C oação
D olo
E rro
L esão
E stado de perigo
F raude contra credores
S imulação
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Obs : perceba que está na ordem exatamente contrária a do Código.

1 - ERRO (art. 138 e ss. CC)

» É a falsa ou má interpretação da realidade. Por mal interpretar um fato, a


pessoa é levada a erro.

O ato jurídico somente será anulado quando o erro for substancial (= essencial
= principal) » arts. 139, I e II CC.

Erro acidental (aquele que não é essencial)não é anulável por ser irrelevante
para o Direito.

Art. 139, I :
- Natureza do ato : pessoa acredita estar praticando um ato jurídico, mas, na
realidade, pratica outro.

Ex.: esposa pede ao marido R$ 50,00 para almoçar no sábado; uma semana
depois, ele cobra a dívida e ela se faz de desentendida; ele insiste e ela diz que ele não
emprestou, porque o dinheiro também pertence a ela (pensou ele que se tratava de
contrato de empréstimo, mas, devido à sociedade conjugal, a renda do casal pertencem
a ambos).

- Objeto do ato : o erro está no conteúdo, no que almeja o agente.


Ex.: alguém deseja comprar vidro e compra plástico em erro (natureza,
compra-e-venda, está em acordo, porém o objeto não).

- Qualidade do objeto : alguém deseja comprar (e compra) um relógio (e


compra o relógio) de ouro (e leva chapeado bem dourado por erro).

Art. 139, II CC : erro quanto à pessoa, muito aplicado ao casamento (arts.


1.556 e 1.557 CC).
Obs : nem todo erro anula casamento (apenas os previstos no art. 219 CC).

Direito Civil : erro = ignorância


(as conseqüências são as mesmas)

Erro » conhecer mal


Ignorância » desconhecer

Direto Penal : erro é mal interpretar a lei.

Erro de Direito no Direito Civil » existem duas correntes :


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1 - Art. 3º LICC : não cabe erro de direito porque ninguém pode alegar
desconhecer a lei para não cumpri-la. Para o Direito Civil, somente o erro de fato
pode ser relevante (erro de direito é sempre irrelevante).

2 - Como a lei civil é lacunosa, deve-se recorrer às fontes subsidiárias de


direito. A primeira é a analogia, e esta deve ser feita com o que já existe na órbita do
Direito Penal : erro de direito escusável pode anular o ato jurídico.

2 - DOLO (art. 145 e ss.)

» É o ato de induzir, de gerar, de provocar o erro, de falsear a realidade.

Erro » ato espontâneo


Dolo » ato (erro) provocado

Obs : mesmo o silêncio pode constituir-se em dolo, quando intencional na


finalidade de levar alguém a erro.

Como o dolo ocorre a todo instante, o legislador limitou os casos que são
passíveis de anulação, isto é, o dolo juridicamente relevante : dolo substancial = dolo
essencial = dolo principal » dolo anulável

IMPORTANTÍSSIMO : será dolo substancial aquele que deu causa ao ato


jurídico.

Art. 146 : dolo acidental » não deu causa ao ato jurídico, i.e., o ato teria sido
praticado, porém de outro modo.

O dolo acidental não autoriza a anulação do ato jurídico, mas enseja a


postulação de perdas e danos quando dele decorrer danos que geram prejuízo a outrem.

Classificação doutrinária :

- BONUS : imbuído de boa-fé; não-intencional


DOLO
- MALUS : intencional; imbuído de má-fé

Dolo bonus não enseja qualquer punição, nem quando se tratar de dolo
substancial (anulação) nem quando se tratar de dolo acidental (perdas e danos).

Dolo malus, devido ao ardil empregado pelo agente, pela má-fé, pela torpeza, o
dolo é passível de punição.

3 - COAÇÃO (art. 151 e ss.)

» É o emprego da força para obtenção da manifestação da vontade do coagido.


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Existem duas espécies de coação :

- FÍSICA » VIS ABSOLUTA


FORÇA
- MORAL » VIS COMPULSIVA

Coação = mal injusto X mal injusto

Ex. : ou você me vende o seu relógio (mal injusto) ou eu furo os quatro pneus
do seu carro (mal injusto)

VIS ABSOLUTA : não há a menor possibilidade margem para escolha (ou você
me vende o seu filho ou eu o mato)

VIS COMPULSIVA : existe a possibilidade de opção, ainda que difícil de ser


feita.

IMPORTANTE LEMBRAR : a vida, pelo Direito Civil, é um bem


indisponível.

Já é possível perceber que os conceitos de força física e força moral no Direito


civil é absolutamente diferente do Direito Penal :

Direito Civil # Direito Penal


Vis Compulsiva # grave ameaça
Vis Absoluta # violência

ATENÇÃO : a banca examinadora costuma pegar muitos desavisados com


essas distinções. Portanto, cuidado para não confundir.

CONTROVÉRSIA : há duas correntes para as conseqüências da coação física,


i.e., para a vis absoluta, pois não existe previsão legal :

1ª - ATO JURÍDICO INEXISTENTE » entende que inexiste agente atuando e


agente é elemento essencial para existência do próprio ato jurídico (na verdade, trata-
se de uma ficção jurídica, ou seja, considera-se a inexistência do agente, apesar dele
estar realizando o ato).

2ª - ATO JURÍDICO NULO » o ato existe, bem como o agente, que atua para
a sua produção. Contudo, a pessoa sob coação física está incapacidade de expressar a
sua vontade, equiparando-se ao absolutamente incapazes. Ato jurídico realizado por
absolutamente incapaz é um ato inválido, fulminado de nulidade » CORRENTE
MAJORITÁRIA.

Art. 152 : coação deverá ser apreciada de acordo com cada caso concreto, pois
o que amedronta uns passa desapercebido por outros.
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Art. 153 : Temor reverencial » ainda assim é necessário apreciar o caso
concreto, pois pode o temor reverencial tomar proporções tão grandes que se
constituem em verdadeira coação.

ATENÇÃO : o exercício do direito tem que ser normal; se for anormal,


extrapolando os limites do direito e atuando de forma contrária, aquele que sofre o
abuso do direito poderá alegar coação e postular a anulação do ato, bem como perdas e
danos, caso tenha sofrido danos de ordem patrimonial ou extrapatrimonial.

ESTADO DE PERIGO ( ART. 156 CC)

LESÃO (ART. 157 CC)

4 - SIMULAÇÃO (arts. 167, § 1º CC.)

Pessoa pratica um ato jurídico almejando que seja, produzidos os efeitos de


outro ato jurídico.

Art. 167, § 1º CC : o rol elencado é exemplificativo, pois há outros casos de


simulação dispersos no Código Civil.

Art. 103 CC/16 – ERA A SIMULAÇÃO INOCENTE. NÃO FOI REPETIDA


NO CC/02, ENTÃO, QUALQUER ESPÉCIE DE SIMULAÇÃO LENA À
NULIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO.

Simulação » instrumento de fraude à lei (porque há proibição legal).

Não basta que o caso concreto, ato praticado pelas partes, seja um daqueles
previstos no art. 167§ 1º CC. É preciso que a simulação seja um ato jurídico defeso
em lei.

- ATO DEFESO EM LEI


SIMULAÇÃO SEMPRE
- CAUSA PREJUÍZO A TERCEIROS

A simulação acima é denominada de SIMULAÇÃO MALICIOSA.

Ex.: a lei proíbe a doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice; para burlar a
proibição legal, forja um contrato fictício de compra-e-venda » típico caso de
simulação maliciosa : além de desrespeitar a lei, causam prejuízo a terceiros (cônjuge
inocente e os herdeiros).

Art. 1168 : “representante do poder público a bem da lei” = Ministério Público


» é o fiscal da lei e a simulação é um defeito social que vem de encontro com a
determinação normativa.
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Portanto, quando se tratar de simulação, pode o MP postular a anulação do ato.

5 - FRAUDE CONTRA CREDORES (art. 158 e ss.)

» É a diminuição maliciosa do devedor em seu patrimônio em prejuízo do seu


credor.

A função e a própria razão da relevância jurídica do patrimônio é que ele


garante a satisfação dos credores.

A lei presume que o devedor quis desfalcar o seu patrimônio em detrimento do


credor.

Há dois casos em que a lei presume a má-fé, a malícia do devedor : arts. 158 e
159.

Art. 158 : ato gratuito » somente gera vantagem para uma das partes que
praticou o ato jurídico.

Ex.: remissão de dívida (somente gera vantagem para quem devia).

Art. 159 : ato oneroso » gera vantagem para ambas as partes.


Ex.: compra-e-venda, troca etc (para o direito, a simples troca constitui em
vantagem).

NESTES CASOS, A FRAUDE É MALICIOSA QUANDO ...

- o devedor é insolvente
Art. 158
- tornou-se insolvente devido à prática do ato

- a insolvência é notória
Art. 159
- a insolvência não era notória, mas o outro contratante
estava ciente da insolvência do devedor

Somente o interessado poderá postular a anulação do ato jurídico nos casos de


fraude contra credores, i.e., o próprio credor lesado.

Ação cabível para requerer a anulação da alienação do patrimônio que visa a


fraudar o crédito : AÇÃO PAULIANA OU REVOCATÓRIA.

IMPORTARTÍSSIMO : não é qualquer credor que poderá propor Ação


Pauliana em face do devedor para postular a anulação do ato; somente o
CREDOR QUIROGRAFÁRIO poderá fazê-lo porque é o credor sem
preferência no Concurso de Credores, ou seja, é destituído de quaisquer
privilégios.
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FRAUDE A CREDORES X FRAUDE À EXECUÇÃO

1 - Fraude a Credores constitui-se em ato anulável; Fraude à Execução não.

2 - Fraude a Credores independe de anterior propositura de ação judicial para


configurar-se, enquanto que somente é possível a ocorrência de Fraude à Execução
quando estiver em curso uma ação de conhecimento ou uma ação executiva

3 - Fraude a Credores pode ocorrer mesmo sem má-fé (casos em que a fraude
não é maliciosa); quando se tratar de Fraude à Execução, sempre haverá má-fé.

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
Único ponto em comum entre os dois institutos : são sempre efeitos do
transcurso do tempo » TEMPO + INÉRCIA (o Direito não socorre quem dorme).

PRESCRIÇÃO :

Nasce de um direito subjetivo.

Direito » possibilidade de agir


Direito subjetivo » sempre está ligado a um dever a si correlato

Existem duas espécies de direito subjetivo :

a - Direito pessoal (ou obrigacional ou de crédito) :

Sujeito ativo ou credor X sujeito passivo ou devedor

Direito obrigacional » estabelece uma obrigação de alguém em face de


outrem)

b - Direito real (ou das coisas) :

O direito do titular X toda a coletividade

100,00
Credor ----------------------- devedor
empréstimo

Quando o titular do dever não o cumpre, o direito do credor sofre lesão.


Art. 198 : o que é lesionado é o direito ; o que assegura a reparação do direito
lesionado é a ação. Logo, enquanto não houver direito lesionado, não há direito a
ser assegurado, bem como direito de ação.

Nasce a PRETENSÃO quando há direito a ser reparado.


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Contudo, a paz precisa ser mantida nas relações jurídicas, i.e., estas requerem
segurança. Destarte, a lei estipula prazos para que o credor propor a ação objetivando
reparar o seu direito lesionado, sob pena de sua inércia causar-lhe a perda do próprio
direito de ação.

PRESCRIÇÃO é a perda do direito de ação que está ligada a um direito


subjetivo devido à inércia do seu titular.

IMPORTANTE : perde-se A PRETENSÃO (DESEJO DE SUBMISSÃO DO


INTERESSE ALHEIO AO INTERESSE PRÓPRIO), mas ainda existe o direito
subjetivo lesionado. Assim, apesar do credor ter perdido o direito de ação, ainda
persiste o seu direito a satisfação do crédito, ou seja, ainda deve o devedor pagar a
dívida que ainda existe.

A importância da distinção do parágrafo anterior está no fato de que a


prescrição pode ser renunciada (art. 191 CC). A renúncia não pode ser indeferida
porque o dever de satisfação do direito subjetivo do credor não foi perdido com a
extinção do direito de ação.

Contudo, a renúncia somente pode ser operada transcorrido o prazo


prescricional e alega apenas pela pessoa a quem beneficia (devedor).

Art. 193 : a prescrição pode ser alegada a qualquer momento, em qualquer


instância.

CUIDADO : Requisito de Admissibilidade dos Recursos Especiais e dos


Recursos Extraordinários : Pré - Questionamento. Portanto, se a prescrição não for
alegada antes, não mais será possível pré-questionar, perdendo-se o direito de alegar
em fase recursal para os tribunais superiores.

CONCLUSÕES : a prescrição ...

1 - tem sua origem nos direitos subjetivos


2 - atinge a pretensão( e não o direito)
3 - é renunciável
4 - pode ser declarada de ofício
5 - pode ser alegada em qualquer fase processual

DECADÊNCIA
Direito Potestativo » sempre ligado à submissão, sujeição de alguém ao direito
de outrem.
Ex.: direito de anular ato jurídico
Ex.: contrato de Mandato » direito do mandante de revogar o contrato é um
direito potestativo (mandatário simplesmente submete-se à vontade do mandante, não
lhe cabendo qualquer direito a postular).
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Anular ato jurídico somente pode ser anulado por meio de ação. Por tal razão,
quando a lei cria um direito potestativo, simultaneamente nasce o direito de ação. Este
assegurará a própria existência do direito potestativo.

Destarte, caso o titular do direito permanecer inerte e o prazo para propositura


da ação escoar, perde-se não somente o direito de ação, bem como o próprio direito,
haja vista não haver outro modo de sujeitar o dever de alguém que não pela ação.
Assim, perecendo o direito de ação, peerce o próprio direito, pois este não susiste
àquele.

DECADÊNCIA é a perda do próprio direito potestativo correlato devido à


inércia do seu titular.

O direito potestativo não se refere ao direito patrimonial das partes. Está


relacionado a interesses de ordem pública, atingindo toda a sociedade.
Conseqüentemente, a decadência ...
- pode ser declarada de ofício
- é irrenunciável a decadência legal (art. 209 CC)
- é renunciável, a contrário senso a convencional
- a decadência convencional pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição,
mas depende de provocação da parte (art. 211 CC)

RAZÃO DE EXISTÊNCIA DE
AMBOS INSTITUTOS

» necessidade de segurança nas relações jurídicas.

EXCEÇÃO : AÇÕES IMPRESCRITÍVEIS


(nomenclatura vigente, apesar de inadequada)
Ex.: Ação de Investigação de Paternidade » direito potestativo : não há
maneira do filho impor ao seu pai a submissão ao seu direito, salvo pela via judicial,
propondo a ação correspondente » Ação e direito imprescritíveis (ou ação e direitos
perpétuos).

Art. 205 : trata apenas de direitos subjetivos, referindo-se, portanto, somente


para os casos de prescrição.

Regra geral - 10 anos (prescrição decenal)

A lei é lacunosa (o Direito nunca o é) no caso de regra geral para os prazos


decadenciais que não estiverem especificamente dispostos. Aplica-se, então, a 1ª fonte
subsidiária do Direito prevista na LICC : ANALOGIA.

TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES

1. Considerações Gerais: O Direito pode ser dividido em dois grandes ramos: direitos
não patrimoniais (que tratam dos direitos da personalidade, direito à vida, à liberdade, à
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honra etc.) e direitos patrimoniais (que tratam dos direitos que envolvem valores
econômicos).

O Direito das obrigações e o Direito das coisas integram os direitos


patrimoniais. Entretanto, apesar de integrarem o mesmo ramo, não podem ser
confundidos, porque o primeiro trata de direitos pessoais e o segundo trata dos direitos
reais.
Direito pessoal é o direito do credor contra o devedor, tendo por objeto uma
determinada prestação. Forma-se uma relação de crédito e débito entre as pessoas
.
Direito real é o poder – direto e imediato – do titular sobre a coisa, com
exclusividade e contra todos. Cria um vínculo entre a pessoa e a coisa (direito de
propriedade), e esse vínculo dá ao titular uma exclusividade em relação ao bem (erga
omnes).

Há, ainda, outras diferenças entre os direitos pessoais e os direitos reais: a)


Quanto à formação: Direitos reais: têm origem na lei, não podem ser criados em um
contrato entre duas pessoas, sendo, por esse motivo, limitados. Seguem o princípio do
numerus clausus (número limitado). Direitos pessoais: não resultam da lei, nascem de
contratos entre pessoas. Há 16 contratos nominados pela lei, entretanto, é possível a
criação de contratos inominados, pois, para exsurgir um direito pessoal, basta que as
partes sejam capazes e o objeto seja lícito. Segue o princípio do numerus apertus
(número aberto.);

b) Quanto ao objeto: Direito das coisas: o objeto é sempre um bem corpóreo.


Direito pessoal: o objeto é a prestação. Sempre que duas pessoas celebram um contrato
uma delas torna-se devedora de uma obrigação em relação à credora;

c) Quanto aos sujeitos: Direito pessoal: os sujeitos são o credor e o devedor


(sujeito ativo e sujeito passivo). Direitos reais: costuma-se dizer que o direito real
somente possui o sujeito ativo porque esse é ligado à coisa (de um lado o titular e do
outro lado a coisa). A explicação, entretanto, é didática. Nos direitos reais, em princípio,
o sujeito passivo é indeterminado porque todas as pessoas do universo devem abster-se
de molestar o titular (são direitos oponíveis erga omnes). No instante em que alguém
viola o direito do titular, o sujeito passivo se define;

d) Quanto à prescrição: A ação que protege os direitos pessoais é chamada de


ação pessoal e prescreve em 10 anos, a não ser que exista uma regra especial (exemplo:
ações pessoais contra a Fazenda Pública prescrevem em 5 anos). As ações reais também
prescrevem em 10 anos, adotando o Código Civil uma única sistemática para ambas as
ações. Pela sistemática do Código Civil de 1916 é que as ações pessoais prescreviam em
20 anos e as reais em 15 ou 10 anos, dependendo se era entre ausentes ou presentes;

e) Quanto à duração: Direitos pessoais: são transitórios, pois nascem, duram


um certo tempo e se extinguem (pelo cumprimento, pela compensação, pela prescrição,
pela novação etc.). Direitos reais: são perpétuos, significa dizer que não se extinguem
pelo não uso, entretanto, extinguem-se pelas causas expressas em lei (por exemplo:
desapropriação, usucapião em favor de terceiros, perecimento da coisa, renúncia etc.).
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1.1. Conceito de Obrigação: Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor o


direito de exigir do devedor o cumprimento da prestação. Se há um direito pessoal, é
porque duas pessoas se obrigaram uma com a outra.

1.2. Fontes das Obrigações: Pode-se dizer que a obrigação resulta da vontade do
Estado, por intermédio da lei (exemplo: obrigação de prestar alimentos, obrigação do
patrão responder pelo ato do empregado, obrigação do pai responder pelo ato do filho
etc) ou da vontade humana, por meio dos contratos (obrigação de dar, fazer ou não
fazer), das declarações unilaterais da vontade (promessa de recompensa e título ao
portador) e dos atos ilícitos (obrigação de reparar o prejuízo causado a terceiro– ato
ilícito civil, previsto na Parte Geral do Código Civil).

1.3. Elementos Constitutivos da Obrigação


1.3.1. Elemento subjetivo: Diz respeito aos sujeitos da obrigação. Os sujeitos da
obrigação são chamados de credor (sujeito ativo) e devedor (sujeito passivo). Os
sujeitos podem ser pessoas naturais ou jurídicas, devendo ser determinados ou, ao
menos, determináveis. Não se considera, como capaz de gerar uma obrigação, um
contrato em que os sujeitos sejam indeterminados.
Pode haver contrato em que, a princípio, um dos sujeitos seja indeterminado,
mas no qual existam elementos que permitam determinar o sujeito (exemplo:
alguém coloca um anúncio prometendo recompensa para quem encontrar um
cachorro; de imediato não se sabe quem é o credor da obrigação, mas a declaração traz
elementos que podem determinar o sujeito ativo: quem encontrar o cachorro).

1.3.2. Elemento objetivo: Toda obrigação tem o seu objeto. O objeto da obrigação é
sempre uma conduta humana que se chama prestação (dar, fazer ou não fazer). A
prestação também tem o seu objeto, que se descobre com a pergunta: o quê? (alguém se
obriga a fazer – fazer O QUÊ?)
Pode-se dizer que o objeto imediato da obrigação é a prestação, e o objeto
mediato da obrigação é aquele que se descobre com a pergunta o quê?.

1.3.3. Vínculo jurídico: O vínculo jurídico, segundo a ótica de Brinz, doutrinador


alemão, é composto por dois elementos, que são o débito e a responsabilidade
(SCHULD e HAFTUNG). Schuld é o débito e Haftung é a responsabilidade.
Portanto, a obrigação civil apresenta Schuld e Haftung, débito e responsabilidade, o
vínculo jurídico está perfeito. Se faltar o elemento responsabilidade, a obrigação é
chamada de natural, como as dívidas de jogo tolerado. Se faltarem ambos, sequer
teremos obrigação. Teremos, apenas, o dever de consciência.

1.4. Classificação das Obrigações


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Quanto ao objeto: É sempre uma conduta humana – dar, fazer ou não fazer alguma
coisa – e se chama prestação. Duas delas são positivas (dar e fazer) e uma é negativa
(não fazer).

Quanto aos elementos constitutivos: Leva em conta o número de sujeitos e o número


de objetos.

As obrigações, quanto aos elementos constitutivos, podem ser simples e compostas


(complexas).

Obrigação simples é aquela que tem um único sujeito ativo, um único sujeito passivo
e um só objeto. Basta que um desses elementos seja em número de dois para que a
obrigação seja composta.

Quando possui mais de um objeto, a obrigação é chamada de obrigação


composta pela multiplicidade de objetos; quando possuir mais de um sujeito, é chamada
de composta pela multiplicidade de sujeitos.

a) Compostas pela multiplicidade de objetos: Podem ser cumulativas (também


chamadas de conjuntivas) e alternativas (também chamadas de disjuntivas).

Nas obrigações cumulativas, os vários objetos ligados pela conjunção “e” (exemplo: o
devedor obriga-se a entregar ao credor um automóvel e um animal).

Nas obrigações alternativas os vários objetos estão ligados pela disjuntiva ou


(exemplo: o devedor obriga-se a entregar ao credor um automóvel ou um animal).

Obrigação facultativa com faculdade de substituição possui apenas um


objeto e a faculdade de substituição por outra prestação à época do pagamento. Mas
ressalte-se que existe apenas uma prestação possível, a forma de pagamento é que se
faculta, através de contrato prévio, ao devedor.

b) Compostas pela multiplicidade de sujeitos: As obrigações podem ser divisíveis,


indivisíveis e solidárias.

São divisíveis quando o objeto da prestação pode ser dividido entre os vários credores ou
os vários devedores. São indivisíveis quando o objeto da prestação não pode ser dividido
entre os vários credores ou os vários devedores.

Quando o objeto é indivisível e um só dos devedores é encontrado– embora


cada um deva cumprir sua quota-parte –, esse terá de cumprir integralmente a
obrigação, tendo direito de regresso em face dos demais devedores.

Nas obrigações solidárias não se toma por base a divisibilidade ou não do


objeto, devendo-se observar se existe alguma cláusula contratual ou um dispositivo
de lei que disponha ser a obrigação solidária.

Quando a obrigação é solidária, cada devedor responde sozinho pela dívida


integral. O artigo 932 do Código Civil dispõe que os pais respondem pelo atos dos filhos
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menores; que o patrão responde pelos atos dos seus empregados; etc. A obrigação dessas
pessoas é solidária (artigo 942 do Código Civil).
Quanto aos efeitos, há uma certa semelhança entre a indivisibilidade e a solidariedade, pois nas duas,
ainda que haja vários devedores, somente de um o credor poderá cobrar a obrigação integral.

OBRIGAÇÃO INDIVISÍVEL OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA


Embora um dos devedores possa ser Nesse caso, o devedor poderá ser obrigado
obrigado a cumprir sozinho a obrigação a cumprir sozinho a obrigação integral
integral, isso só ocorrerá porque o objeto é porque cada devedor responde pela dívida
indivisível, pois na verdade cada devedor inteira.
só deve sua quota-parte.

Converte-se em perdas e danos se o objeto Se a obrigação se converter em perdas e


perecer por culpa dos devedores, passando danos, continuará sendo solidária porque a
a ser, portanto, divisível. solidariedade não depende da
indivisibilidade ou não do objeto.

Há outras modalidades de obrigações, tais como

Obrigações de meio: a obrigação é de meio quando o devedor não se


responsabiliza pelo resultado e se obriga apenas a empregar todos os meios
ao seu alcance para consegui-lo. Se não alcançar o resultado, mas for diligente
nos meios, o devedor não será considerado inadimplente (exemplo: obrigações
dos advogados, obrigações dos médicos).

Obrigação de resultado: a obrigação é de resultado quando o devedor se responsabiliza


por esse. Se o resultado não for obtido, o devedor será considerado inadimplente
(exemplo: médicos que fazem cirurgia plástica , trabalho de natureza estética; a não ser
que seja para correção de doença).

Obrigações civis: aquelas cujo cumprimento pode ser exigido porque encontra
amparo no direito positivo (a todo direito corresponde uma ação que o assegura). O
ordenamento jurídico dá apoio ao credor.

a) Obrigações naturais: são as dívidas prescritas, dívidas de jogo e os juros não


convencionados. Não podem ser cobradas em Juízo.

b)Obrigações de execução instantânea: as contraídas para serem cumpridas


instantaneamente (exemplo: compra e venda à vista).

C) Obrigações de execução diferida: aquelas que devem ser cumpridas em momento


futuro. É diferida porque transferida para data futura.

d) Obrigações de prestações sucessivas: são cumpridas em vários atos, como ocorre com
as prestações periódicas.
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e) Obrigações puras e simples: são aquelas sob as quais não pesa nenhum ônus
(exemplo: doação).

f) Obrigações condicionais: aquelas cuja eficácia está subordinada a um evento futuro e


incerto, geralmente aparecem com a partícula se.

g) Obrigações a termo: aquelas cuja eficácia está subordinada a um evento futuro e certo.

h) Obrigações com encargo: aquelas sob as quais pesa um determinado encargo.


Verifica-se nas doações e nos testamentos, que são chamados atos de liberalidade.

i) Obrigações híbridas: as que constituem um misto de direito real e de direito


pessoal (exemplo: obrigação propter rem, que recai sobre uma pessoa em razão de
sua condição de titular de um determinado direito real).

2. OBRIGAÇÕES EM GERAL

2.1. Obrigação de Dar Coisa Certa: Na obrigação de dar coisa certa, o credor não pode
ser compelido a aceitar coisa diversa, ainda que mais valiosa. A dação em pagamento
(dar coisa diversa) depende da concordância do credor e extingue a obrigação (artigo 313
do Código Civil).

Perecimento e deterioração da coisa: Prevalece a regra res perit domino, ou seja, a coisa
perece para o dono. Portanto, se a coisa desapareceu antes da alienação, quem perde é o
alienante.

Perecimento: havendo o perecimento (perda total) da coisa, deve-se verificar se houve


ou não culpa do devedor. Não havendo a culpa, resolve-se a obrigação, sem qualquer
responsabilidade. Se o perecimento ocorreu por culpa do devedor, haverá obrigação
de pagar o equivalente em dinheiro – mais perdas e danos, desde que provado o
prejuízo.

Deterioração: é a perda parcial da coisa; também nesse caso deve-se observar se houve
ou não a culpa do devedor. Não havendo culpa, o credor poderá optar por desfazer o
negócio, ou ficar com a coisa mediante abatimento do preço avençado. Se houve
culpa do devedor, as opções continuam as mesmas, acrescidas do pedido de perdas e
danos, desde que provado o prejuízo.

2.2. Obrigação de Dar Coisa Incerta: A coisa incerta não deve ser entendida como
coisa totalmente indeterminada. Ao menos, deve ser determinada pelo gênero e
quantidade (artigo 243 do Código Civil). Há coisa incerta quando alguém se obriga a
entregar coisa sem determinar sua qualidade. Faltando, porém, a determinação do
gênero ou da quantidade, não existe obrigação.

A escolha da qualidade caberá ao devedor, se o contrário não for


convencionado. Pode-se, no contrato, convencionar que a escolha caberá ao comprador
ou a um terceiro.
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Quando a escolha couber ao devedor, ele não poderá escolher a pior


qualidade, entretanto, também não será obrigado a entregar a melhor qualidade. O
legislador optou pelo princípio da qualidade média nos casos de escolha pelo devedor.

Se existirem apenas duas qualidades, e a escolha couber ao devedor, o


critério lógico seria poder escolher qualquer delas, entretanto a lei é omissa nesse
caso.

Feita a escolha (concentração), a coisa não é mais incerta. A obrigação de dar


coisa incerta passa a reger-se pelas regras da obrigação de dar coisa certa. A escolha,
depois de manifestada, exteriorizada, chama-se concentração (é uma denominação
doutrinária).

Antes da escolha o devedor não poderá alegar caso fortuito ou força maior
(artigo 246 do Código Civil), porque antes da escolha não existe coisa certa. Tem-se
apenas o gênero e esse nunca perece (genus nunquam perit).

2.3. Obrigação de fazer infungível e fungível: Obrigação infungível é aquela que não
pode ser substituída por outra de mesmo gênero, quantidade ou qualidade.

A obrigação sempre será infungível quando a pessoa for contratada em


razão de suas condições pessoais, de suas qualidades técnicas ou artísticas. O credor
ainda pode dispor, nesse tipo de contrato, que somente aquele devedor poderá cumprir
a obrigação.

Então, pode-se dizer que há duas hipóteses de obrigações de fazer infungíveis:


a) quando é evidente que a pessoa foi contratada em razão de suas qualidades
pessoais (exemplo: contrato de show com um artista conhecido); b) quando houver
cláusula expressa, no contrato, dizendo que somente o devedor poderá cumprir a
obrigação.

O não cumprimento das obrigações infungíveis pode se dar, ou por


impossibilidade ou por recusa: a) Impossibilidade: se a obrigação se tornar impossível,
sem culpa do devedor, resolve-se a obrigação; se o devedor der causa a essa
impossibilidade, responderá por perdas e danos:

b) Recusa: o devedor não cumpre a obrigação porque não quer. Será sempre
culposa e, por este motivo, o devedor responderá por perdas e danos. Às vezes o credor
não exige indenização, querendo que o devedor cumpra a obrigação.

A obrigação será fungível sempre que o devedor ou a coisa puder ser


substituído, por não haver necessidade de determinadas qualidades para o cumprimento
da obrigação.

2.4. Obrigação de Não Fazer: O contratante lesado pode exigir o desfazimento do que
foi feito, sob pena de desfazer-se às suas custas, mais perdas e danos. Há casos de
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obrigação de não fazer em que a única saída que resta ao lesado é perdas e danos porque,
se foi feito, não poderá ser desfeito.

Extingue-se a obrigação do devedor se se tornou impossível cumpri-la (exemplo: se


uma lei sobrevier ao contrato obrigando a fazer o que o devedor se obrigou a não
fazer, torna-se impossível o cumprimento da obrigação de não fazer e, por esse
motivo, ela se extingue).

2.5. Obrigações Alternativas: Obrigação alternativa é aquela composta pela


multiplicidade de objetos, ligados pela disjuntiva ou. Alguém se obriga a entregar ou
restituir – uma coisa ou outra –, bastando a entrega de um dos objetos para que o devedor
seja considerado adimplente. Quando são mais de dois objetos, há uma obrigação
alternativa múltipla.

Não se deve confundir obrigação alternativa com obrigação de dar coisa


incerta. A obrigação alternativa tem sempre dois ou mais objetos. A obrigação de
dar coisa incerta tem um único objeto e ele é indeterminado quanto à qualidade.

No silêncio do contrato, a escolha cabe ao devedor. Pode haver convenção no


sentido de que a escolha caberá ao credor ou a um terceiro, previamente determinado e de
comum acordo.

O Código se omite no caso de, após a assinatura do contrato, o terceiro –


escolhido de comum acordo – não aceitar a incumbência da designação. Acabou
sendo adotada a seguinte solução: aplicar por analogia o artigo 485 do Código Civil,
que trata da fixação de preço. Se o terceiro não aceitar a incumbência, os contratantes
devem, de comum acordo, escolher uma outra pessoa; se não houver acordo para a
substituição, a solução é desfazer o negócio.

O devedor não pode obrigar o credor a aceitar parte de um objeto e parte


de outro (exemplo: se há a obrigação de entregar 10 sacas de arroz ou 10 sacas de
feijão, o devedor não pode obrigar o credor a aceitar 5 sacas de cada espécie).

Quando as prestações forem anuais, elas podem se alternar (exemplo: um


testador, para deixar um legado, impõe ao legatário a condição de, uma vez por ano,
entregar 10 sacas de arroz ou 10 sacas de feijão à uma instituição de caridade; o devedor
poderá alternar, entregando em um ano arroz, no outro feijão).

Em alguns casos fica impossível para o devedor cumprir a obrigação. Ex.:


perecimento do objeto. Se não ocorreu culpa do devedor, a obrigação se extingue. Se
houver, entretanto, culpa do devedor pelo perecimento da coisa, há duas soluções: a) Se a
escolha for do devedor: perecendo um dos objetos, a obrigação se concentra no outro. Se
perecerem os dois objetos, o devedor pagará, em dinheiro, o equivalente do último objeto
que pereceu, mais perdas e danos;

b) Se a escolha for do credor: perecendo um dos objetos, o credor poderá


ficar com o remanescente, ou exigir em dinheiro o equivalente do que pereceu, mais
perdas e danos. Havendo o perecimento dos dois objetos, o credor pode exigir, em
dinheiro, o equivalente de qualquer deles, mais perdas e danos.
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2.6. Obrigação Solidária: A solidariedade pode ser de três espécies: ativa (quando há
uma pluralidade de credores); passiva (quando há pluralidade de devedores) ou
mista (quando há vários credores e vários devedores).

Para que haja solidariedade é preciso que essa resulte da lei ou da vontade das
partes (artigo 265 do Código Civil), não podendo ser presumida. Se não existir lei ou
contrato dispondo que a dívida é solidária, a mesma será divisível (cada credor somente
poderá cobrar a sua parte, e cada devedor responderá somente pela sua cota).

O único caso de solidariedade ativa que resulta de lei é a forma de


pagamento dos débitos dos pecuaristas (Lei Rural n. 209/48).

Nos casos de solidariedade ativa, o devedor se exonera pagando a qualquer


dos credores antes de a dívida estar sendo cobrada judicialmente. Se a dívida já
estiver sendo cobrada em Juízo, o devedor somente poderá pagar ao credor que
ingressou com a ação.

Nos casos de solidariedade passiva, o credor pode cobrar a dívida de


qualquer dos devedores ou de todos eles (artigo 275 do Código Civil). Quando o
credor escolhe somente um dos devedores, esse, que paga a dívida, terá direito de
regresso contra a cota parte de cada um dos co-devedores solidários, pois entre eles a
obrigação é divisível (artigo 283 do Código Civil).

O devedor principal é aquele a quem a dívida interessa exclusivamente. Se


um dos co-devedores pagar a dívida na íntegra, terá o direito de cobrar a mesma do
devedor principal (artigo 285 do Código Civil). Quando o co-devedor move ação contra o
devedor principal, sub-roga-se no crédito.

O credor poderá renunciar à solidariedade em favor de um ou de vários


credores solidários, entretanto, para cobrar dos outros deverá descontar a cota-
parte daquele a quem remitiu.

2.7. Obrigações Naturais: Como já vimos, as obrigações são civis ou naturais, conforme
o fundamento.

O nosso Código Civil não trata da matéria, havendo uma definição sobre o
tema no artigo 2.º do Código Libanês. Ali está estabelecido: "A obrigação natural é
um dever jurídico cujo cumprimento não pode ser exigido, mas cuja execução
voluntária tem o mesmo valor e produz os mesmos efeitos de uma obrigação civil".

Da mesma forma, o Código Civil Português também cuidou de disciplinar


a obrigação natural, destinando à ela uma seção do seu Diploma Civil:
SECÇÃO II
Obrigações naturais

ARTIGO 402º
(Noção)
A obrigação diz-se natural, quando se funda num
mero dever de ordem moral ou social, cujo
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cumprimento não é judicialmente exigível, mas
corresponde a um dever de justiça.

ARTIGO 403º
(Não repetição do indevido)
1. Não pode ser repetido o que for prestado
espontaneamente em cumprimento de obrigação
natural, excepto se o devedor não tiver capacidade
para efectuar a prestação.

2. A prestação considera-se espontânea, quando é


livre de toda a coacção.

ARTIGO 404º
(Regime)
As obrigações naturais estão sujeitas ao regime das
obrigações civis em tudo o que não se relacione com a
realização coactiva da prestação, salvas as disposições
especiais da lei.

Obrigação natural e obrigação civil: A obrigação natural, conforme verificamos acima,


é aquela da qual não se pode exigir o cumprimento, enquanto a obrigação civil é aquela
cujo cumprimento pode ser exigido, porque encontra respaldo no direito positivo.

Sistema legal: O Código Civil prevê a obrigação natural.

Os artigos 882 e 883, ao tratarem do pagamento indevido, dispõem: não se


pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita ou cumprir obrigação
judicialmente inexigível. Como bem assinala o Professor LIMONGI, com a prescrição
ocorreu o desaparecimento da pretensão, persistindo o direito ao crédito. Já, no artigo
883, a obrigação natural aparece como forma de sanção para os que querem violar a
ordem jurídica e a ética.

O artigo 564, inciso III, do Código Civil, ao tratar da doação, diz que não
se revogam por ingratidão as doações que se fizerem em cumprimento de obrigação
natural.

O artigo 814 do Código Civil, quando trata do jogo de aposta determina:


"Não obriga a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia que voluntariamente se
pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor, ou interdito”. Aqui a
obrigação natural tem o caráter de sanção.

3 TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

3.1. Cessão de crédito – conceito: Cessão de crédito é um negócio jurídico bilateral,


gratuito ou oneroso, pelo qual o credor de uma obrigação (cedente) transfere, no
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todo ou em parte, a terceiro (cessionário), independentemente do consentimento do
devedor (cedido), sua posição na relação obrigacional, com todos os acessórios e as
garantias, salvo disposição em contrário, sem que se opere a extinção do vínculo
obrigacional.

Trata-se de um contrato em que o cedente transmite seu direito de crédito, no


todo ou em parte, ao cessionário, que o adquire, assumindo sua titularidade.

O cedido (devedor) não intervém no negócio jurídico, pois sua anuência é


dispensável. Basta que se lhe comunique a cessão, para que se saiba quem é o legítimo
detentor do crédito para que se efetue o pagamento no momento oportuno. O cedente ou
o cessionário notifica o cedido.

Modalidades: a) Gratuita ou onerosa: o cedente pode exigir ou não uma


contraprestação do cessionário;

b) Total ou parcial: se total, o cedente transferirá todo o crédito; se parcial, o cedente


poderá permanecer na relação obrigacional, caso retiver parte do crédito;

c) Convencional, legal ou judicial: a convencional é a que decorre da livre e espontânea


declaração de vontade entre cedente e cessionário. A legal resulta da lei,
independentemente de qualquer declaração de vontade, determinando, a mesma, a
substituição do credor. Ex.: sub-rogações legais (artigo 346 do Código Civil). O sub-
rogado adquire os direitos do credor primitivo. A judicial advém da sentença judicial.
Exemplo: sentença condenatória que supre declaração de cessão por parte de quem
era obrigado a fazê-la;

d) “Pro soluto” e “pro solvendo”: cessão pro soluto é aquela em que há quitação plena
do débito do cedente para com o cessionário, operando-se a transferência do crédito,
que inclui a exoneração do cedente. O cedente transfere o seu crédito com a intenção
de extinguir imediatamente uma obrigação preexistente, liberando-se dela,
independentemente do resgate da obrigação cedida. O cessionário corre o risco de
insolvência do devedor (cedido), desde que o crédito exista e pertença ao cedente,
considerando-se extinta a dívida antiga desde o instante da cessão.

A cessão pro solvendo é a transferência de um direito de crédito, feita com o intuito


de extinguir uma obrigação, o que não acontecerá de imediato, mas apenas na
medida em que o crédito cedido for definitivamente cobrado.

Requisitos: De acordo com o artigo 104 do Código Civil, temos como requisitos a
capacidade das partes, o objeto lícito e a forma legal.

Capacidade das partes: a cessão exige tanto a capacidade genérica como a


capacidade especial do cedente e do cessionário. O cedente precisa ter poder de
disposição. Se o cedente for incapaz, necessita de prévia autorização judicial (artigo
1.691 do Código Civil). A cessão por procuração exige instrumentos especiais. Tratando-
se de cessão de direito real é necessária a anuência expressa do outro cônjuge. O
cessionário também deverá ter o poder de tomar o lugar do cedente, pois estará
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adquirindo direito creditício. Exemplo: o tutor não poderá, de nenhuma forma, constituir-
se cessionário de crédito do pupilo (artigo 1.749 do Código Civil).

Objeto da cessão: qualquer crédito pode ser cedido (artigo 286 do Código
Civil). São incedíveis: a) direitos personalíssimos. Exemplo: créditos alimentícios,
salários;

b) direitos legalmente incedíveis. Exemplo: herança de pessoa viva (artigo


426 do Código Civil), os pactos adjetos à compra e venda, como, por exemplo, pacto de
melhor comprador (artigo 1.158 do Código Civil de 1916);

c) direitos convencionados com o devedor.

Forma da cessão: o sistema legal não exige forma específica para a cessão de
crédito. A cessão é um negócio não solene, podendo ser aperfeiçoado com a simples
declaração de vontade do cedente e do cessionário. Para surtir efeitos em relação a
terceiros, de acordo com o artigo 288 do Código Civil, a mesma deve ser celebrada por
instrumento público ou particular. Se efetuada por instrumento particular, deverá ser
subscrita por duas testemunhas e transcrita no registro competente (arts. 127 e seguintes
da Lei de Registros Públicos).

Efeitos Jurídicos: Entre as partes contratantes (cedente e cessionário): o cedente


assume uma obrigação de garantia, responsabilizando-se perante o cessionário pela
existência do débito ao tempo da cessão. O cedente responde: a) caso o crédito não exista
no momento da cessão, o negócio será nulo por falta de objeto; b) quando o cedente não
for o titular do crédito; c) quando houver vício no crédito; d) quando o crédito for
incessível.

São obrigações do cedente: a) prestar as informações solicitadas pelo


cessionário; b) entregar os documentos para que o cessionário possa realizar o crédito.

O principal efeito da cessão é transmitir para o cessionário a titularidade da


relação jurídica. Com o óbito do cedente, o cessionário poderá prosseguir na causa,
juntando aos autos seu respectivo título e provando sua identidade (artigo 404 do Código
Civil). O cessionário terá direito de promover a execução ou nela prosseguir (artigo 567,
inciso II, do Código de Processo Civil).

Em relação ao devedor:antes da notificação: o devedor poderá pagar válida e


legitimamente ao credor originário como se não tivesse havido cessão. Aliás, até a
notificação, o cessionário só pode acionar o cedente (artigo 292 do Código Civil);

após a notificação: a cessão passa a vincular o devedor ao cessionário, de tal


forma que deverá pagar o débito a ele. Se, por ventura, mais de uma cessão for notificada,
pagará ao cessionário que lhe apresentar o título da cessão da obrigação cedida (artigo
292 do Código Civil). Caso nenhum cessionário apresente o título da dívida, o devedor
deverá consignar em juízo para obter a exoneração. O devedor poderá opor as exceções
tanto ao cessionário quanto ao cedente. Se a obrigação for passível de anulação por vício,
o devedor poderá argüir tal exceção contra o cedente e contra o cessionário.
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ASSUNÇÃO DE DÍVIDA

Existem 02 espécies: a assunção liberatória e a cumulativa (= adesão ou adjunção)

Art. 299 – é a liberatória.


A cumulativa não está prevista.
A diferença entre elas é que o fenômeno sucessório só ocorre na primeira.
Na cumulativa o devedor que transmite e o que assume continuam responsáveis pelo
pagamento. Para Leoni, ficam solidariamente responsáveis, ao passo que Marco Aurélio
Bezerra de Mello entende que não há solidariedade.

Requisitos da assunção de dívida:


1 –consentimento do credor;
2 – existência e validade da obrigação originária;
3 – validade do negócio de transmissão;
4 – solvência do terceiro ao tempo da assunção.
Art. 301

O acordo pode ser entre o credor e o novo devedor ou entre o devedor originário e
o novo credor. Na primeira hipótese tem-se aquilo que a doutrina denomina de
expromissão, enquanto que na segunda hipótese tem-se o denominado delegação( nesse
caso o devedor tem que ser notificado e aceitar expressamente).

Doutrina: As duas modalidades são admitidas pelo 299, já que este não especifica
nenhuma delas.

Art. 303 – é a única hipótese de consentimento tácito do credor.

PAGAMENTO DIRETO

» QUEM EFETUA O PAGAMENTO ? O SOLVENTE (solvens)

O próprio devedor paga a dívida.

Art. 930 : terceiro não é devedor, mas pode pagar a dívida desde que a
obrigação não seja personalíssima.

OBS.: as obrigações de dar e não-fazer também podem ter caráter


personalíssimo, bastando que, para tal, somente o devedor em pessoa esteja autorizado
a cumprir a obrigação.

Casos em que o terceiro não está autorizado a cumprir a obrigação :

- obrigação intuito personae


ou
- credor e devedor acordam a exclusão da possibilidade da prestação ser
realizada por terceiro.
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O terceiro pode assumir duas naturezas :

a - Interessado : apesar de não ser o devedor da relação jurídica, está


indiretamente ligado à obrigação.

Ex.: fiador » obriga-se a cumprir a obrigação caso o devedor não o faça.

Na hipótese de pagamento realizado pelo terceiro interessado, este subroga-se


nos direitos do credor.

b - Não-interessado : não é devedor e nem tampouco está indiretamente ligado


à obrigação. Jamais poderia sofrer execução pelo descumprimento da prestação.
Contudo, apesar da inexistência de interesse jurídico, há interesses de outras naturezas.

Na hipótese do terceiro interessado pagar a dívida em nome próprio, não poderá


subrogar-se nos direitos do credor para exigir do devedor a realização da prestação.
Todavia, poderá propor ação de cobrança em face do mesmo.

Caso o terceiro não-interessado pagar a dívida em nome do devedor, o ato


constituir-se-á em mera liberalidade, ou seja, asumirá a natureza de doação (art. 1.165
CC).

» QUEM RECEBE O PAGAMENTO ? O ACIPIENTE (accipiens)

Obrigação direta : o acipiente é o credor ou seu representante.

O representante pode ser :

- Legal : não somente o representante, mas também os assistentes dos


incapazes.

- Judicial : ex: credor é comerciante falido; quem receberá o pagamento é o


síndico da massa falida.

- Voluntário : muito comum nos casos de locação (administradora é quem


recebe o pagamento dos alugueres).

E quando o accipiens for um terceiro ? (“quem paga mal, paga duas vezes”)

O credor pode exigir que o devedor pague-lhe a dívida.

Entretanto, existem casos que a lei considera válido o pagamento a terceiro :

- Credor ratifica o pagamento : devedor, p.ex., restitui a coisa ao porteiro para


que este entregue o bem ao seu proprietário. Caso o terceiro (porteiro) efetue a entrega
e o credor ratifique-a, a prestação estará realizada (o problema será o caso do credor
receber a coisa e afirmar o contrário).
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CUIDADO ! Porteiro não é representante do credor, é um mero terceiro !!!

- Se o devedor provar que o pagamento da obrigação a terceiro reverteu-se em


benefício do credor

- Credor putativo ou aparente : tudo leva a crer que o terceiro é o credor,


estando o devedor de boa-fé (aparência do credor + boa-fé do devedor). O
pagamento, neste caso, será plenamente válido.

Ex.: credor morre; devedor procura o herdeiro e paga-lhe a dívida; após o


transcurso de dois meses, abre-se o testamento particular do de cujos (credor) e
descobre-se que aquele herdeiro fora deserdado.

» O QUE SE PAGA ? O OBJETO DA OBRIGAÇÃO

O objeto é a prestação da obrigação.

Prova do pagamento : quitação. Na sua ausência, qualquer outro meio de


prova.

Art. 940 : quitação regular (direito do devedor solvente)

Art. 1.093 : o pagamento não é acessório da obrigação !

Ex.: a compra-e-venda de imóveis é feita por inscritura pública. A quitação,


todavia, pode ser feita por instrumento particular (o que é o mais comum).

Existem casos em que se presume o pagamento da prestação pelo devedor,


sendo tal presunção de natureza relativa (juris tantum) :

a - pagamento em cotas periódicas : a quitação da última prestação pressupõe o


pagamento das anteriores.

Nesta hipótese, o mais indicado é que o credor ressalve expressamente, no


próprio corpo da quitação, que esta refere-se apenas ao pagamento daquela prestação
específica, indicando textualmente quais ainda restam a serem satisfeitas, as que ainda
estão em aberto.

Se o devedor tiver certeza que cumprira as obrigações ressalvadas, não deve


aceitar a quitação, devendo consignar o pagamento.

ATENÇÃO : tribunais não têm aceitado como prova em contrário à presunção


de pagamento a cláusula contratual que dispõe não servir a quitação da prestação atual
de comprovação do pagamento das cotas anteriores.
Ex.: locação.
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b - dívida representada por um título : se o devedor portar o título, presume-se
que a prestação foi paga, pois o mesmo permanece na posse do credor até a satisfação
do crédito.

Ex.: cheque, nota promissória.

Em caso de furto do título, deve o credor :


- registrar o furto
- notificar o devedor para que ele não pague quem lho apresentar.

c - os juros presumir-se-ão pagos quando o devedor obtiver a quitação da dívida


principal : os juros são os frutos colhidos quando se realiza um empréstimo. Diante
da sua natureza acessória, devem ser pagos antes do principal, sob pena de
presumirem-se satisfeitos.

» ONDE SE PAGA ? LUGAR (art. 950)

No nosso ordenamento jurídico existem :

- dispositivas : podem ser afastadas pela vontade


NORMAS
- cogentes : devido à sua natureza de ordem pública, sua
aplicação é imposta, pelo que não podendo
ser afastadas.

O lugar do pagamento da obrigação é regulado por normas dispositivas.

Regra : credor busca o pagamento no domicílio atual do devedor » obrigação


quesível (ou querable)

Exceções :

- devedor porta o pagamento até o domicílio do devedor » obrigação portável


(ou portable)

- pagamento deve ser realizado em local diverso do domicílio do credor e do


devedor.

» QUANDO SE PAGA ? TEMPO (art. 952)

As regras que regulamentam o tempo do pagamento da obrigação também são


dispositivas.

Regra : obrigação sem termo (pagamento imediato)

Exceções :

- a termo : pagamento em data determinada


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OBRIGAÇÃO
- condicional (ex.: quando o credor casar)

CUIDADO !!! Existem casos concretos em que a regra não poderá ser aplicada,
i.e., nos casos em que for impossível cumprir a obrigação imediatamente.

PAGAMENTO INDEVIDO (art. 964 CC)

Devedor realiza prestação a qual não se obrigara ou à pessoa diversa do


acipiente de direito.

- solvente paga mal


Enriquecimento ilícito
- acipiente recebe mal
Ex.: Caio deve x a Tício; à data do vencimento da obrigação, Caio encontra, ao
invés de Tício, seu irmão gêmeo e, levado a erro, entrega a este o pagamento, que o
aceita.

- devido : extingüe a obrigação


PAGAMENTO
- indevido : nasce obrigação de restituição (art. 964)

REGRA : pagamento é modo de extinção da obrigação (pagamento direto)


EXCEÇÃO : pagamento é fonte de obrigação (pagamento indevido)

Quando o pagamento indevido não é restituído, existe um direito subjetivo


lesionado e, por conseqüência, nasce de direito de ação : Ação de Repetição = Ação
Restituição de Indébito = Ação de Regresso = Ação in rem verse.

Há ainda duas espécies de pagamento indevido :

- Subjetivo : sujeito deve, mas paga a quem não é o credor do direito.

- Objetivo : solvente pensa que deve, mas, na verdade, não deve, e, por
conseqüência, paga ao falso credor.

Art. 965 CC : ERRO ; falsa apreciação da realidade tem que ser provada.

Ex.: devedor pensa estar pagamento a Tício, porém paga a Caio.

Quando alguém paga o que não deve, a lei presume relativamente que foi feita
uma liberalidade, uma doação. Logo, para postular e conseguir a repetição do
indébito, o mal pagador deverá que provar o erro, i.e., que não houve doação, que
inexistia o animus para a prática da aparente liberalidade.

Quanto ao tempo do pagamento :


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- Obrigação a termo : o pagamento antes do vencimento é devido; o solvente
paga bem porque o termo da obrigação, de qualquer forma, consolidar-se-á.

- Obrigação condicional : o pagamento antes do implemento da condição é


indevido, haja vista que a obrigação pode nunca se tornar exigível, pois tal somente
ocorrerá com o advento de um evento futuro e incerto. É a incerteza do implemento da
condição que faz o pagamento ser indevido.

OBS : REPETIR = PEDIR DE VOLTA

Art. 970 CC : não cabe repetição de indébito porque o que é fulminado é o


direito de ação, e não o direito subjetivo. Este existe, apesar de não ser exigível.
Portanto, o pagamento é devido, pelo que afasta a Ação de Repetição de Indébito.

PAGAMENTO INDIRETO

» A obrigação é extinta de modo diverso daquele pelo qual nasceu.

PAGAMENTO INDEVIDO = CAUSAS (OU MODOS) EXTINTIVAS


DA OBRIGAÇÃO

Ex.: perdão da dívida

Satisfação do credor : satisfação jurídica, i.e., prestação é realizada, percebendo


o titular do direito o que a obrigação firmada conferia-lhe.

MODALIDADES DE PAGAMENTO INDIRETO

1 - PAGAMENTO POR CONSIGNAÇÃO (art. 972 e ss. CC)

» É o depósito judicial ou extrajudicial (banco » $) da coisa devida.

CUIDADO !!! A maior parte das regras do Código Civil sobre o pagamento em
consignação está revogada pelo atual Código de Processo Civil.

O pagamento por consignação cabe apenas nos casos que a lei expressamente
prever. Em outras palavras, somente existe hipóteses legais de consignação em
pagamento.

Ex.: credor emprestou Cr$ 200,00 ao devedor em 1979. Em 04/06/98, o


devedor paga R$ 0,30 como valor atualizado do crédito. Credor não aceita receber,
pois, pelos seus cálculos, devem ser-lhe pagos R$ 300.000,00. A única via possível de
compor o conflito é a propositura da Ação de Consignação em Pagamento para a
discussão do real valor da dívida sem que o devedor esteja em mora.

Consignação bem feita : devedor pagou o que realmente devia, crédito pago,
credor satisfeito.
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Consignação mal feita : juiz manda complementar o restante para perfazer o
montante devido (R$ 0,30 + R$ 299,70) ou, em alguns casos, nem mesmo recebe a
ação.
Consignação : obrigação de dar.

Alguns autores entendem que é cabível consignação quando a obrigação de


fazer possa materializar-se.

Ex.: o credor alega que o pintor que contratara (devedor) não pintou o quandro
da forma que deveria e decide não aceitá-lo. Este, afirmando que a prestação está
realizada devidamente, consigna a tela, que fica em depósito judicial, para discussão
quanto ao cumprimento da obrigação.

2 - SUB-ROGAÇÃO (art. 985 e ss. CC)

» É sinônimo de substituição. Destarte, é a substituição de um credor por


outro, mantendo-se todo o restante da obrigação. Em outras palavras, a única
modificação é a pessoa do credor, permanecendo-se igual o restante (modo, lugar,
garantias etc).

Ex.: devedor oferece como garantia da obrigação : seu patrimônio (garantia


legal do crédito), mais a hipoteca sobre um imóvel seu de alto valor, mais uma pessoa
que assume a dívida como fiador.
Este último, sabedor que o devedor não irá pagar a dívida, efetua o pagamento
antes do vencimento visando a evitar a incidência de juros moratórios. Assim, assume
o fiador o lugar do antigo credor, cabendo-lhe todos os direitos a este conferidos, tais
como a garantia hipotecária.

ATENÇÃO : o fiador, sempre que cumprir a obrigação no lugar do devedor,


por lei, sub-roga-se nos direitos do credor.

Em relação ao credor, a dívida está plenamente satisfeita, restando extinta a


obrigação.

- pessoa : sub-rogação pessoal


Sub-rogação de
- coisa : sub-rogação real

Exemplo de sub-rogação real : alguém recebe em legado um imóvel gravado


com cláusula de inalienabilidade. O Poder Público desapropria o imóvel para a
construção de uma rodovia, recebendo o legatário determinada quantia em dinheiro. O
que for adquirido com tal valor sub-rogar-se-á no lugar do bem deixado em legado,
ficando, assim, gravado com cláusula de inalienabilidade.

Existem duas espécies de sub-rogação pessoal :

- sub-rogação legal : determinação legal (art. 985)


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- sub-rogação convencional : ocorre por vontade do credor (art. 986, I) ou
mediante vontade do devedor (art. 986, II).

Ex.: art. 986, II : devedor não tem meios para saldar uma dívida e rocorre a um
amigo; este realiza a prestação e, conseqüentemente, assume o lugar do antigo credor,
ou seja, sub-roga-se nos direitos do antigo credor.

3 - IMPUTAÇÃO (art. 991 e ss.)

» É a escolha de qual débito, dentre vários, será pago.


Ex.: credor tem direito de receber do devedor : 100,00 em 01/03; 50,00 em
01/04; 150,00 em 01/05. Este entrga-o 150,00. Qual dívida está sendo paga ?

A escolha de qual prestação está sendo paga cabe ao devedor. caso este não a
realize, caberá então ao credor determinar qual está quitada.

Art. 994 : devedor não escolheu prestação que pagou e o credor, por sua vez,
não especificou qual delas foi quitada. Nesta hipótese, a lei presume que estão
quitadas as prestações que venceram primeiro.

Caso o relatado no parágrafo anterior ocorra em relação a prestações que


vençam no mesmo dia, consideram-se pagas as prestações de maior valor.

4 - DAÇÃO EM PAGAMENTO (art. 995 e ss. CC)

Art. 995 : é a entrega de coisa diversa da dívida, que não seja dinheiro, com a
concordância do devedor.

Credor não pode ser compelido a receber coisa diversa quando se tratar de
obrigação de dar coisa certa, mesmo que mais valiosa (art. 964). Todavia, o credor não
está impedido de aceitar a coisa diversa. caso o faça, a obrigação estará extinta de
modo indireito.

Quando se tratar de dação em pagamento, é necessário a entraga da coisa, sob


pena de desclassificação para outra forma de pagamento indireto da obrigação.

IMPORTANTE : “que não seja dinheiro ...” (art. 995) - se a coisa perde-se ou é
deteriorada por culpa do devedor, a lei já estipula o pagamento de perdas e danos, ou
seja, o pagamento em dinheiro. portanto, não é conferido ao credor aceitar ou não a
entrega de dinheiro porque a lei já prevé que esta é a maneira de ressarcir o não-
pagamento da obrigação, i.e., será o que receberá o credor no lugar da coisa que se
perdeu ou se deteriorou.

5 - NOVAÇÃO (art. 999 e ss. CC)

É a criação de uma nova obrigação com fins de extinguir obrigação anterior.


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IMPORTANTE : é necessário o elemento subjetivo, i.e., o animus das partes
em substituir a obrigação anterior pela nova, sob pena de criar uma segunda obrigação.

Art. 1000 CC : animus novandi

Outrossim, a obrigação nova deve ser diferente da anterior, sob pena de mera
repetição.

O pagamento é indireto porque a obrigação anterior foi extinta de forma diversa


pela qual fora inicialmente convencionada.

Há três espécies de novação : quando é substituído o ...

- Sujeito Ativo : NOVAÇÃO SUBJETIVA ATIVA

- Sujeito Passivo : NOVAÇÃO SUBJETIVA PASSIVA

- Objeto : NOVAÇÃO OBJETIVA

CUIDADO - 1 :

NOVAÇÃO OBJETIVA # DAÇÃO EM PAGAMENTO

devia : peixe
credor ------------------------------ devedor
ofereceu : anel

Dação em Pagamento : na data em que a prestação deveria ser realizada, o


devedor, ao invés de entregar o peixe que devia, entrega ao credor um anel. Este,
apesar de não ser obrigado a receber coisa mais valiosa do que a coisa certa, aceita e a
recebe no ato. Obriagação extinta.

Novação Objetiva : na data em que a prestação deveria ser realizada, o devedor,


ao invés de entregar o peixe que devia, propõe ao credor firmarem uma nova
obrigação, pela qual, no lugar do peixe, compromete-se a entegar-lhe em anel
valiosíssimo. O credor, apesar de não ser obrigado a receber coisa mais valiosa do que
a coisa certa, concorda. A nova obrigação extinguiu a obrigação anterior.

No 1º caso, o credor recebe a coisa dada em pagamento no ato em que deveria


ter-lhe sido realizada a prestação referente à obrigação antiga. No momento do
recebimento da coisa diversa que não dinheiro estará extinta a obrigação.

No 2º caso, o credor somente receberá a coisa nova que substituiu a antiga em


novo prazo, ou seja, não ocorre no momento em que a prestação antiga deveria ter sido
realizada. Além do que, não mais poderá postular a entrega do peixe, pois firmou
obrigação simples pela qual somente poderá exigir a entrega do anel, objeto desta.
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FIXAÇÃO : a diferença está no momento de entrega da coisa : na DAÇÃO EM
PAGAMENTO, o que extingue é a entrega da coisa diversa da coisa certa, que não seja
dinheiro; na NOVAÇÃO OBJETIVA, o que extingue a obrigação anterior é uma nova
firmada para substituir a anterior.

OBS : a cobrança de perdas e danos pelo descumprimento da obrigação por


culpa do devedor nada mais é do que um caso de novação objetiva (antiga obrigação,
prestação não-cumprida; nova obrigação, dinheiro).

CUIDADO - 2 :

NOVAÇÃO SUBJETIVA ATIVA # SUB-ROGAÇÃO

R$ 100.000,00
credor -------------------------------- devedor
hipoteca
2 fiadores
Sub-Rogação : o fiador pagou ao credor o débito, pelo que o substituiu em
todos os direitos que detinha, i.e., permanecem os direitos acessórios que garantem a
dívida. Não houve uma nova obrigação firmada, e sim uma mera substituição de
credores.

Novação Subjetiva Ativa : a obrigação principal foi extinta por uma nova
obrigação firmada entre um terceiro e o devedor, em que fica estipulado que aquele
paga a totalmente a dívida ao credor, pelo que passa a Ter direito sobre o objeto da
obrigação extinta. Logo, como os direitos acessórios seguem a sorte do principal,
também foram extintos. Resultado, o novo credor não terá direito às garantias da
obrigação anterior (hipoteca e fiador), e sim somente ao objeto da nova obrigação.

Assim, quando há bens acessórios que garantem a obrigação, está em desuso a


novação subjetiva ativa devido às desvantagens que apresenta em relação à sub-
rogação. Quando inexistem acessórios, a distinção entre os institutos é irrelevante.

6 - COMPENSAÇÃO (art. 1.009 e ss. CC)

É o encontro de dívidas recíprocas.

credor R$ 100,00 devedor venc. 01/03/98


A ------------------------------------ B
devedor R$ 100,00 credor venc. 01/04/98

IMPORTANTE : ambas as dívidas estão vencidas.

Caso A for a juízo para cobrar o crédito de B, este contestará alegando a


existência de compensação de dívidas.

IMPORTANTE : somente a lei ou a vontade expressa de ambas as partes é que


poderá afastar a compensação.
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REQUISITOS :

1 - ambas as dívidas devem estar vencidas, sob pena de não serem exigíveis;

2 - objetos das obrigações devem ser fungíveis (= substituíveis; = da mesma


natureza)

Ex.: A deve R$ 100,00 e B deve um anel : não poderá haver compensação


porque os objetos não são da mesma natureza (credor não pode ser obrigado a aceitar
coisa diversa da coisa certa);

3 - líquidas (art. 1.533 CC)

Dívida líquida = certa (quanto à existência) e determinada (quanto ao valor)

Ex.: dívida de Cr$ 100,00 contraída em 1979 : certa quanto à existência, mas
não está determina da quanto ao valor - dívida ilíquida.

Ex.: atropelamento : juízo decidirá se a culpa do evento danoso foi do


motorista ou do pedestre : a indenização postulada pela suposta vítima é dívida
ilíquida porque não é certa (não se sabe se realmente existe) e não é determinada.

- art. 1.015 CC
Casos em que expressamente exclui a compensação - art. 1.024 CC
- art. 1.017 CC

7 - TRANSAÇÃO (art. 1.025 e ss. CC)

É o acordo mediante concessões recíprocas para evitar litígios ou extingui-los.

Obs.: o instituto possui aspectos materiais e processuais.

- para evitar litígios : transação extrajudicial


Transação
- para extinguir litígios : transação judicial

Natureza Jurídica : causa extintiva da obrigação (pagamento indireto)

CUIDADO !!! TRANSAÇÃO # CONTRATO

Contrato : acordo que cria obrigação

Transação : acordo que extingue obrigação

IMPORTANTE 1 : somente é possível transacionar quando há dúvidas,


incertezas.
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Ex.: a dívida contrída em 1979 no valor de Cr$ 100,00, atualizada pelo credor,
corresponde ao valor atual de R$ 1.000,00; o devedor calcula o valor de R$ 0,10. Face
à dúvida, transicionam o pagamento de R$ 500,00, pelo que o devedor paga mais do
que supõe dever, porém menos do que supõe o credor ser o seu direito.

IMPORTANTE 2 : haverá liberalidade das partes quando houver certeza do


valor da dívida. Se o ...

- credor aceitar receber menos : perdão da dívida (perdoou R$ 500,00)

- devedor aceitar pagar mais : doação (doou R$ 999,90)

Ex.: acordos firmados nas audiências preliminares da Justiça do Trabalho, das


varas especial cíveis, das varas cíveis comuns quando as ações têm por objeto bens
disponíveis etc. O credor aceita pagar para evitar os aborrecimentos de uma demanda
judicial; o devedor aceita receber menos devido à morosidade do judiciário.

8 - COMPROMISSO (art. 1.037 e ss. CC)

Lei nº 9.307/96 : Arbitragem

Revogou o Código Civil e o CPC (juízo arbitral)

9 - CONFUSÃO (art. 1.049 e ss. CC)

Ocorre quando, por fato exterior, credor e devedor encontram-se na mesma


pessoa.

- 1 pessoa é credor
Obrigação
- outra pessoa é o devedor

Ex.: filho único R$ 100.000,00 ao pai viúvo. Este falece, recebendo o filho
todos os seus bens em herança, inclusive tal o crédito de R$ 100.000,00. Resultado,
credor e devedor encontram-se na mesma pessoa, o que extingue a dívida.

Art. 1.052 CC : CONTROVÉRSIA DOUTRINÁRIA

1ª Corrente : entendem contrariamente ao artigo, consideram-o um erro técnico


do legislador. Assim, a confusão extingue a obrigação, pelo que segue a sua sorte os
acessórios.

2ª Corrente : entendem na forma do artigo 1.052 CC, pelo que não consideram
a confusão causa extintiva da obrigação, mas uma causa de neutralização da obrigação.
Ora, se a obrigação fosse extinta, os acessórios necessariamente deveriam
também sê-lo, haja vista que seguem a sorte do principal. Portanto, se os acessórios
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não são fulminados é porque a obrigação principal não é extinta, e sim somente
neutralizada.

10 - REMISSÃO (1.053 e ss. CC)

É o ato pelo qual o credor dispensa o devedor de pagar a dívida.

OBS.: remissão = perdão

- tácita
Remissão
- expressa

Código Civil : perdão = renúncia

CPC (lei mais recente) : perdão # renúncia

- ato bilateral
Perdão
- dependem da aceitação do devedor

Renúncia : ato unilateral do credor


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4.2 - Descumprimento da Obrigação :

Ocorre quando o devedor não realiza a prestação no tempo, lugar e forma


convencionados.

Existem duas formas de descumprimento da obrigação :

1 - Descumprimento relativo : quando a realização da prestação ainda é útil ao


credor

2 - Descumprimento absoluto : quando a realização da prestação tornou-se


completamente inútil para o credor.
Ex.: fotógrafo que deveria ter registrado a cerimônia de casamento, mas não
compareceu.

OBS : os termos descumprimento relativo e absoluto são doutrinários

Código Civil : descumprimento relativo = MORA (art. 955 e ss. CC)

Descumprimento absoluto = inadimplemento = INEXECUÇÃO (arts. 956,


parágrafo único, 1.056 e ss. CC)

1 - MORA (art. 955 e ss. CC)

Art. 955 : a mora configura-se de forma diversa para credores e devedores :

Mora do devedor = atraso no pagamento + culpa (requisito objetivo +


requisito subjetivo)

Em outras palavras, a mora do devedor requer a incidência dos arts. 955 + 963
CC.
Tal fato é importantíssimo para o Direito, pois caso, p.ex., o devedor deixa de
cumprir a obrigação porque foi vítima de bala perdida, não estará em mora, não
podendo ser-lhe aplicadas as sanções legais daí advindas.

Mora do credor : simples ocorrência do não recebimento da prestação.


Ex.: o comprador de um cavalo entrega o preço relativo ao animal,
comprometendo-se retornar no dia seguinte para buscá-lo. Caso não o faça, estará em
mora, independentemente das razões que o levaram a não receber a prestação a que
tinha direito.

Portanto, a mora do credor é objetiva, na medida que é totalmente irrelevante se


a sua conduta é culposa ou não.

Conseqüências da mora do credor (art. 958)


- credor moroso isenta, automaticamente, o devedor da conservação da coisa,
ou seja, não está mais o devedor obrigado a preferir as coisas do credor às suas, i.e.,
dar preferência à conservação dos bens do credor em detrimento dos seus bens
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pessoais (antes do vencimento da obrigação deve o devedor conservar a coisa do
credor, sob as penas contratuais e legais).

- Credor deve ressarcir as despesas que o devedor tiver para conservar suas
coisas.

- Credor pagará o preço mais favorável ao devedor se houver oscilação do valor


da coisa.

Conseqüências da mora do devedor

O devedor ressarcirá os prejuízos a que sua mora deu causa, cumulando o


pagamento das perdas e danos sofridas pelo credor (art. 956, caput CC)

CUIDADO !!! O art. 956, parágrafo único utiliza o termo “mora”


impropriamente, pois, em verdade, se trata de um típico caso de inexecução.

OBS.: evidentemente, o valor da perdas e danos será maior nos casos de


inexecução, haja vista que, nestas hipóteses, não é possível ressarcir o prejuízo.

CONFIGURAÇÃO DA MORA
Art. 960 CC : obrigações positivas = obrigações realizadas por uma ação (dar
e fazer).

Obrigações a termo : configurar-se-á se até o tempo determinado para o


vencimento da obrigação o devedor não cumprir a prestação - mora ex re (nasce com
o termo da obrigação).

Obrigação sem termo (art. 952 CC) : é aquela que não tem data determinada
para o seu vencimento, ocorrendo este imediatamente. Destarte, configurar-se-á a
mora apenas se houver notificação, interpelação ou protesto - mora ex personae
(nasce com o ato do credor).

Art. 961 CC : obrigações negativas = realizadas pela omissão (obrigações de


não-fazer).

Os institutos mora e obrigação negativa são totalmente incompatíveis devido às


suas próprias natureza.

Ex.: Xuxa participou de um programa dominical do SBT quando houvera


firmado um contrato com a Rede Globo de não aparecer publicamente em nenhum
outro canal de televisão. Ora, é possível não mais aparecer quando já apareceu. Logo,
o descumprimento da obrigação tornou-a completamente inútil para o credor, não mais
havendo meios para o devedor satisfazer o credor.

Portanto, toda vez que a obrigação descumprida for negativa, não se tratará de
mora, e sim de inexecução.
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Art. 962 CC : obrigações provenientes de atos ilícitos

Delito = ato ilícito (art. 159 CC); faz surgir obrigação de ressarcir o dano
(perdas e danos).

A mora surge imediatamente com o advento do delito, com a prática do ato


ilícito, mesmo porque as obrigações sem termo devem ser cumpridas imediatamente.

Causar prejuízo » ato contrário à ordem jurídica » ato ilícito

INTERESSANTE : vítima pode pedir perdas e danos pela demora no


pagamento da indenização, i.e., pelo lapso temporal que o credor teve que suportar o
prejuízo sem o devido ressarcimento (juros legais decorrentes da mora).

Assim, a lei procura compelir o devedor a reparar o dano causado o quanto


antes, se possível sem a necessidade de propositura de uma ação judicial.

CONSEQÜÊNCIAS DA INEXECUÇÃO

- Pagamento de perdas e danos

- Devedor somente arcará com os ônus das perdas e danos quando a


inexecução ocorrer devido à sua conduta culposa

CLÁUSULA PENAL - (multa convencional)

É o acordo pelo qual o devedor obriga-se a entregar ao credor dinheiro ou


qualquer outro bem economicamente apreciável em caso de descumprimento da
obrigação.

ATENÇÃO : cláusula penal é uma obrigação acessória (art. 920 CC); logo,
precisa estar ligada a uma obrigação principal, i.e., não tem vida própria.

RAZÕES

- Inibe o descumprimento da obrigação

- Antecipa o arbitramento das perdas e danos (ou seja, faz as vezes das perdas e
danos)

Assim, não se pode cumular pedido de aplicação da cláusula penal e


condenação em perdas e danos, sob pena de bis in idem.

Existem duas naturezas de cláusulas penais :


- Cláusula Penal Moratória : casos de mora » devedor deve cumprir a
prestação + cláusula penal (faz as vezes das perdas e danos)
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- Cláusula Penal Compensatória : casos de inexecução

- credor não é precisa ter sofrido qualquer prejuízo


Cláusula Penal
- é devida mesmo que não tenha havido culpa do
devedor *

* IMPORTANTE : elemento distintivo entre a cláusula penal e a mora

CUIDADO !!! Lei de Usura estipula um valor máximo da cláusula penal em


10% (dez por cento) da obrigação principal.

EXCEÇÕES :

- Lei nº 4.591/64 : taxas condominiais podem estipular cláusula penal em até


20% (vinte por cento) do valor da obrigação principal

- Lei nº 8.078/90, art. 52 : nas relações de consumo, a cláusula penal não pode exceder a
2% (dois por cento) do valor da obrigação principal.
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CONTRATOS

CONCEITO: É o acordos de vontades que gera obrigações, conforme a ordem


jurídica, com o escopo de MERTA direitos de natureza patrimonial. Portanto ...

- É FONTE DE DIREITO PESSOAL (jamais de direito real)

- É O ENCONTRO DE VONTADES DE AMBAS AS PARTES.

CUIDADO !!! Há contratos que criam a obrigação de transferência da propriedade,


contudo não a conferem. Logo, ninguém torna-se dono da coisa porque comprou, e sim
devido a tradição ou transcrição, dependendo da natureza do bem.

CONTRATO É ATO JURÍDICO. Assim, é necessário analisar considerações sobre os


atos jurídicos :

- UNILATERAL: formado pela manifestação


de uma vontade apenas (mudança de domicílio,
testamento etc)
ATO JURÍDICO
- BILATERAL OU SINALAGMÁTICO : formado
pela manifestação de duas vontades.

REQUISITOS

Como TODO CONTRATO É NEGÓCIO JURÍDICO e negócio jurídico é espécie de


ato jurídico, devem ser observados os requisitos do art. 104 CC, sob pena de
invalidade do ato.

PODEM OS REQUISITOS SER PARTIDOS EM:

1 – SUBJETIVO: Referem-se aos sujeitos que realizam o contrato.

A) EXISTÊNCIA DE DUAS OU MAIS PESSOAS : compõe o que se chama "requisito


de existência", ou seja, um daqueles elementos que, ausente, não há ato jurídico.
Neste caso, é relevante haver duas ou mais pessoas haja vista se tratar de negócio
jurídico bilateral ou plurilateral (manifestação de vontade de duas ou mais pessoas).

B) CAPACIDADE GENÉRICA DOS CONTRATANTES : compõe o "requisito de


validade". Os sujeitos devem estar aptos para a prática dos atos da vida civil ou
devem estar assistidos ou representados, sob pena de invalidade do ato por anulação
ou declaração de nulidade.

C) APTIDÃO ESPECÍFICA PARA CONTRATAR : deve haver legitimação dos


contratantes para prática de determinados contratos, pois a ordem jurídica impõe
limitações (ex.: art. 496 e 497 CC), sob pena de invalidação do ato.
D) LIVRE E CONSCIENTE CONSENTIMENTO : o contrato deve ser originado do
acordo de vontades isento de quaisquer vícios sobre a sua existência e natureza.
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2 – OBJETIVOS: Referem-se à prestação obrigacional que corresponde ao contrato.


Assim, a validade e eficácia do contrato dependem da:

A) LICITUDE : o objeto do contrato não pode ser contrário à lei, à moral, aos
princípios de ordem pública e aos bons costumes (ex.: contrato que firme
pagamento por homicídio; que trate de usura; exercício ilegal de uma profissão; que
excluam direitos de família).

B) POSSIBILIDADE FÍSICA E JURÍDICA : são inválidos os contratos em que o


agente tenha de enfrentar obstáculos impossíveis de ser vencidos, seja por
contrariar as leis naturais (levar o Pico das Agulhas Negras a Brasília), por estar
além das forças humanas (empreender uma viagem ao redor do mudo em 2 horas)
ou por inexistir (obtenção do Monstro do Lago Ness para um aquário). O resultado
é a exoneração do devedor e a resolução do contrato por sua invalidade (quem se
obriga a executar algo insuscetível de realização, a nada se obrigou).

CUIDADO !!! A impossibilidade material é examinada ao tempo do nascimento do


contrato. Caso seja SUPERVENIENTE, ocorrerá inexecução do contrato, absoluta
ou relativa, pelo que incidirão perdas e danos, desde que culpado o devedor.

IMPORTANTE : o fato do objeto não existir ao tempo da constituição do contrato


não significa impossibilidade de cumprimento, visto ser perfeitamente válida a
contratação sobre prestação futura, desde que esta possa realmente existir
futuramente.
Ex.: colheita futura de café » CONTRATOS ALEATÓRIOS (objeto de estudo em aulas
futuras)

ATENÇÃO: somente a impossibilidade absoluta fulmina o contrato de nulidade


(obstáculo que não pode ser vencido pelo homem médio). Se a impossibilidade for
relativa, ou seja, relativa a circunstâncias pessoais do devedor, o contrato não é
invalidado, sendo imposta a condenação de pagamento por perdas e danos
(inadimplemento contratual).

IMPOSSIBILIDADE LEGAL OU JURÍDICA : o objeto poderia ser possível de ser


realizado, porém o Direito impõe barreira intransponível.

Ex.: "herdeiro de pessoa viva" (pessoa obriga quinhão hereditário antes da abertura da
sucessão).

C) ESPECIFICAÇÃO : o objeto deve ser certo ou, ao menor, determinável. Neste


caso, o contrato deverá conter os elementos necessários (gênero, espécie,
quantidade ou outras características) para que se possa conhecer o objeto até o
momento da realização da prestação. Se o objeto for indeterminável, o contrato
será inválido.

D) ECONOMICIDADE : deverá versar sobre interesse apreciável economicamente,


capaz de ser convertido, direta ou indiretamente, em dinheiro.
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Ex.: não é possível o contrato sobre um grão de arroz ou de areia ou qualquer outra
coisa que não tenha o condão de compor o patrimônio de alguém por não ter valor
econômico.

3 – FORMAIS: São atinentes à forma, solenidade.

REGRA: liberdade de forma, pois a simples manifestação de vontade tem o condão


de estabelecer o liame obrigacional (escrita, oral, gestual ou tacitamente) » art. 107 e
425 CC.

EXCEÇÃO : contratos que, sob pena de nulidade, deverão observar as formalidades


prescritas em lei (ex.: contrato de compra e venda mediante escritura pública;
transferência da propriedade por ato inter vivos dependendo de registro no cartório
competente; contrato de mútuo mediante juros tem de ser escrito etc.)

IMPORTANTE: não confundir forma (conjunto de solenidades que devem ser


observadas para a prática do ato jurídico válido) com prova do ato jurídico (conjunto de
meios empregados para demonstrar a existência de um ato jurídico) !!!! Estão
intimamente ligados, mas não são sinônimos.

Ex.: compra e venda de imóvel » escritura pública


Prova do domínio » certidão do RGI competente

OBS: as normas que tratam das provas relativas aos contratos são as mesmas que
tratam das provas do ato jurídico (arts. 212 a 232 CC).

ATENÇÃO : se o ato jurídico for livre de formas, qualquer meio de prova em Direito
admitido poderá ser empregado para prová-lo.

NULIDADE / ANULABILIDADE / INEFICÁCIA

DOS CONTRATOS

» REPORTAR-SE SUCINTAMENTE A DIREITO CIVIL I

» INVALIDADE # INEFICÁCIA

» CONVALESCENÇA : ato jurídico inicialmente inválido que torna-se convalidado, o


que pode ocorrer de três maneiras:
- Confirmação: declaração negocial de renúncia à faculdade de requerer a anulação
do contrato, tornando definitivos seus efeitos precários. Ex.: contrato realizado
com menor de 16 anos (ato anulável), posteriormente confirmado por seus assistentes
(pais ou tutores).

- Convalidação : superveniência de requisito apurável depois da formação


contratual, sendo possível somente nos negócios complexos de execução diferida,
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pois nestes é possível o posterior suprimento de omissão de requisito. Ex.: art.
1649, parágrafo único CC

- Prescrição

INEFICÁCIA

A - TRANSITÓRIA e PERMANENTE

- transitória : obstáculo suspende a execução do contrato por período que tenha


previsão de fim (ex.: condição ou termo suspensivo);

- permanente : fato impeditivo de eficácia definitivamente, salvo se houver


convalescimento (ex.: procurador que age em excesso de poder), que pode cessar se
o obstáculo for removido (ex.: mandante ratifica os atos do procurador que excedeu
seus poderes).

B - ABSOLUTA e RELATIVA
- absoluta : contrato não gera efeitos a ninguém

- relativa : gera efeitos entre as partes, mas não gera perante terceiros (ex.: contrato
de gaveta)

C - TOTAL e PARCIAL
- total : se atingir todo o conteúdo do contrato

- parcial : ineficácia somente de algum ou algumas cláusulas.

D - ORIGINÁRIA e SUPERVENIENTE
- originária : quando presente no contrato desde a sua celebração

- superveniente : surge quando o contrato já está a produzir seus efeitos normais,


os quais desapareceriam por ter o fato impeditivo alcance retroativo (ex.: encargo
não realizado).

PRINCÍPIOS CONTRATUAIS

REGEM AS RELAÇÕES CONTRATUAIS OS PRINCÍPIOS:

1 – AUTONOMIA DA VONTADE : ninguém é obrigado a contratar; proposta e


aceitação são atos livres. Tal princípio decorre do fato de ser a vontade dos sujeitos
fonte de obrigações, o que difere os direitos pessoais dos direitos reais.

ASSIM, surgem os chamados CONTRATOS INOMINADOS, ou seja, aqueles que não


estão previstos expressamente na lei, mas podem ser firmados em razão deste
princípio.
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TODAVIA, tal poder de contratar ou não contratar segundo a própria vontade, bem
como escolher com quem se deseja contratar, encontra exceções na lei (ex.: serviços
essenciais prestados pelo Estado ou por suas concessionárias).

ADEMAIS, a liberdade de contratar não é absoluta, já que é limitada por leis de


ordem pública, as quais vedam convenções que lhe sejam contrárias e aos bons
costumes » PRINCÍPIO DA SUPREMACIA DA ORDEM PÚBLICA (ex.: CDC).

POR FIM, existem dirigismos contratuais que, por muitas vezes, são impostos aos
contratos pelo Poder Público, quando o Estado, p. ex., cria indexadores financeiros
obrigatórios para correção de valores ou fixa juros máximos a ser adotados nas relações
contratuais.

2 - CONSENSUALISMO : a maioria dos contratos seguem este princípio, segundo o


qual o contrato é válido e eficaz independentemente de forma, ou seja, livre de
solenidade, bastando-lhe o livre e consciente consentimento dos sujeitos envolvidos.

3 – OBRIGATORIEDADE : o contrato tem que ser cumprido; é lei entre as partes.


Como nasce obrigação do contrato, incidem de imediato todas as normas que regem os
direitos das obrigações, mesmo porque ninguém está obrigado a contratar. Logo, se
contratou em razão da vontade sem vícios, terá de realizar o seu objeto – PACTA SUNT
SERVANDA.

A sanção pelo descumprimento da norma contratual é a execução patrimonial contra o


inadimplente. A auto-regulamentação nascida do princípio da autonomia da vontade
sucede à necessidade social de proteção à confiança depositada pelos contratantes.

REGRA: intangibilidade e imutabilidade contratual, salvo a vontade mútua de


rescindir ou modificar ou caso fortuito ou força maior. Aliás, nem mesmo
judicialmente poderão ser alterados ou rescindidos os contratos firmados conforme
o Direito.

EXCEÇÕES : Cláusula rebus sic stantibus e a Teoria da Imprevisão.

O CONTRATO PODER SER :

- INSTANTÂNEO : obrigação é cumprida pela prática de um ato apenas


(Ex.: contrato de compra e venda).

- EXECUÇÃO DIFERIDA : o pagamento é efetuado em uma única prestação


tempos após a celebração do contrato. Logo, há um lapso temporal entre o
nascimento da obrigação e o momento de cumprimento. (ex.: pagamento
a prazo)

- DE EXECUÇÃO CONTINUADA : sua execução prolonga-se ao longo


do tempo (Ex.: contrato de locação).
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Os dois institutos excepcionais e extraordinários aplicam-se somente aos contratos
de execução diferida ou continuada, conforme os art. 478 a 480 CC, art. 6º, V e 51, §§
1º e 2º CDC e o art. 5º da LICC.

OBS: a maioria dos autores que não determinam diferença entre a Cláusula Rebus Sic
Stantibus e a Teoria da Imprevisão. Aliás, entendem que aquela decorre desta.

CLÁUSULA REBUS SIC STANTIBUS : não precisa constar expressamente no


contrato, pois está presente em todos implicitamente. Incide quando, ao longo do
tempo do cumprimento do contrato, um evento externo retirou equilíbrio necessário
às relações contratuais. Este EVENTO, para ter o condão de suscitar a cláusula rebus,
tem que ser POSTERIOR ao nascimento da obrigação e IMPREVISÍVEL àquela época
pelas partes contratantes.

A Cláusula rebus autoriza o descumprimento da obrigação, mediante pagamento de


perdas e danos à outra parte, em valor diminuído, haja vista que o contrato já terá
sido parcialmente cumprido. Tal ocorre porque a rescisão é realizada sem que tenha
havido culpa do devedor.

TEORIA DA IMPREVISÃO : foi inspirada na cláusula Rebus. É também aplicada


quando um evento externo, futuro e imprevisível pelas partes, ocorre durante o
período de cumprimento do contrato.

Ex.: Fato Príncipe (fato do governo); são sempre externos aos contratos e imprevisíveis
ao homem médio. Aliás, a previsão do homem médio é sempre no sentido de que o Fato
Príncipe lhe será benéfico; o prejuízo é que lhe é sempre imprevisível.

A Teoria da Imprevisão não autoriza o descumprimento do contrato, mas sim sua


revisão perante o judiciário.
RESUMO :

- cláusula implícita em todos os contratos


REBUS - provocada pelo desequilíbrio contratual
- autoriza o descumprimento do contrato mediante perdas
e danos

- fato externo
TEORIA DA IMPREVISÃO - imprevisível
- revisão sub judice

4 – RELATIVIDADE : o contrato obriga, vincula apenas as partes que o


celebraram. Assim, somente poderá gerar efeitos entre os contratantes, na medida
em que seus efeitos são relativos, já que constitui espécie de direito pessoal.

EXCEÇÃO : estipulação em favor de terceiros.


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Ex.: Contrato de Seguro de Vida : segurado paga prêmio à seguradora (partes
contratantes) para que, em caso de sinistro, o beneficiário (terceiro) receba uma
indenização.

OBS.: o terceiro não é parte vinculada ao contrato; logo, os contratantes (mais


especificamente, o segurado) podem alterar a pessoa do beneficiário sem que o mesmo
nem sequer seja cientificado (afinal, ele não celebrou contrato algum).

5 - PRINCÍPIO DA BOA FÉ : não está ligado apenas à interpretação dos contratos


(a interpretação literal da linguagem não pode prevalecer sobre a intenção das partes ao
declararem vontade), mas também ao interesse social nas relações jurídicas, haja
vista que as partes devem agir mediante lealdade e confiança recíprocas.

IMPORTANTE: tal princípio já encontra-se positivado no Código Civil (art. 422), além
dos preceitos no CDC.

6 - FUNÇÃO SOCIAL DOS CONTRATOS : o contrato não pode ser usado como
instrumento de empobrecimento de um sujeito em benefício exclusivo da outra parte,
tampouco pode ser meio de enriquecimento dos contratantes em prejuízo da sociedade »
art. 421

PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR : poderia o MP pleitear a invalidação de um


contrato cuja execução fira sua função social por prejudicar a sociedade ?

FORMAÇÃO: Contrato, por excelência, é um ato jurídico bilateral. Não existe


contrato como ato jurídico unilateral, até porque tal concepção vai de encontro à sua
própria essência. O mero consentimento unilateral não tem o condão de cria o contrato,
sendo necessário o encontro de vontades que convergem para o mesmo fim »
conciliação de interesses.

- proposta ou policitação » PROPONENTE ou


OFERTANTE
FORMAÇÃO +
- aceitação ou consentimento » ACEITANTE ou
OBLATO

Em suma, contrato é um ato jurídico bilateral que nasce pela aceitação de uma
proposta.
- oblato anui : contrato formado
PROPOSTA
- oblato não anui : não se formou o contrato
Art. 538 CC : doação é contrato; destarte, somente será um ato jurídico perfeito
quando houver aceitação da liberalidade.

Ex.: Auê oferece ao Carlos cocaína gratuitamente (proposta do contrato de doação);


caso este não aceite, a doação não terá sido constituída (sem aceitação, nada de doação,
nada de contrato).
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ATENÇÃO : juridicamente, ninguém é obrigado a aceitar qualquer proposta !!! Moral e
boa educação não podem ser confundidos com o direito.

» É JUSTAMENTE entre estes dois elementos indispensáveis para a formação dos


contratos é que jaz toda a controvérsia sobre a FORÇA OBRIGATÓRIA DO
CONTRATO, ou seja, sobre o exato momento em que ambos se fundem para formar
a relação contratual e sobre o lugar em que se reputará formado o negócio jurídico.

DECLARAÇÃO DE VONTADE: em regra, não é mister que seja formal (escrita,


expressa etc.) » importa que seja INEQUÍVOCA, EVIDENTE e CERTA (art. 107
CC).

FASES DA FORMAÇÃO DO - VÍNCULO CONTRATUAL

A determinação do momento em que o contrato se forma é fundamental para:

- verificar até que momento os sujeitos podem retirar o consentimento;

- constatar a capacidade dos contraentes em obrigar-se;

- identificar as normas que regerão o negócio jurídico (vigência);

- determinar a autoridade competente para julgá-lo.

1 - NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES - (OU TRATATIVAS): São conversações,


sondagens e estudos sobre interesses de cada contratante sem que haja qualquer
vinculação jurídica entre os sujeitos. Estes ainda somente trocam impressões, formulam
hipóteses e verificam a situação mútua financeira sem nada realizar.

Ex.: pesquisa para compra do carro novo » reflexões sobre a oferta até se encontrar
solução satisfatória.

IMPORTANTE: não há previsão na lei !!! São decorrentes do Princípio da Autonomia


Privada ou da Liberdade Contratual. Portanto, tais acordos preparatórios carecem de
força vinculante, já que não estão imbuídos de obrigatoriedade.

TODAVIA: se um dos participantes criar no outro tamanha expectativa de que o


negócio será celebrado, a ponto deste efetuar despesas, alterar planos imediatos e
não realizar outros contratos, e depois desistir injustificada e arbitrariamente,
deverá ressarcir-lhe os danos causados.
Neste caso, a responsabilidade civil ainda é aquliana (art. 159 CC), haja vista ter
alguém faltado com a boa fé nas relações jurídicas.

CUIDADO !!!! Jamais poderá ser cobrada a realização ou cumprimento de um


contrato que não chegou a ser firmado (fase pré-contratual) » pretensão possível seria
indenização pelos prejuízos sofridos.
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2 - PROPOSTA OU POLICITAÇÃO : É a declaração de vontade receptícia de
vontade, dirigida por uma pessoa a outra, por força da qual a primeira manifesta
sua intenção de vincular-se caso a oferta seja aceita.

AS VONTADES QUE FORMAM O CONTRATO NÃO SÃO EMITIDAS


CONCOMITANTEMENTE, MAS SUCESSIVAMENTE.

ATENÇÃO : não confundir negociações prelimirares e proposta

NEGOCIAÇÕES PRELIMINARES: meras sondagens sem intenção de obrigar, visando


apenas a verificar a possibilidade de eventual formação contratual futura.

PROPOSTA: vontade definitiva de formação do contrato, sendo que uma das partes
solicita a manifestação de vontade da outra em aceitá-la ou não. Caso a aceitação
contenha alterações, importar-se-á em nova policitação.

CARACATERÍSTICAS

a) DECLARAÇÃO DE VONTADE UNILATERAL DO PROPONENTE;

b) Reveste-se de força vinculante, dependendo apenas da aceitação do oblato »


logo, responderá o policitante por perdas e danos caso retire a oferta, tendo gerado
despesas ao aceitante;

c) ATO RECEPTÍCIO : declaração de vontade que, para produzir os efeitos almejados,


precisa ser recebida por outra pessoa, subordinando-se ao consentimento desta;

d) Deve designar todos os elementos que comporão o negócio jurídico a ser


formado, deixando ao oblato a faculdade de aceitá-lo ou não (preço, prazos,
características do objeto contratual etc)

e) BOA FÉ DO PROPONENTE : proposta deve ser clara, precisa, inequívoca, sob pena
de levar o oblato à falsa apreciação da realidade.

PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA PROPOSTA (art. 427 CC) : ônus


imposto ao proponente de não revogar a oferta, por um certo tempo, sob pena de
ressarcimento pelas perdas e danos do oblato.

FINALIDADE : assegurar a estabilidade das relações sociais, sob pena de prejuízos


ao outro contratante, convicto da boa fé do policitante. Daí a imposição legal de
manutenção da oferta sob pena de perdas e danos (art. 430)

- proposta deve ser mantida por tempo necessário para que o oblato possa
manifestar aceitação;

- subsiste ainda que faleça o ofertante ou advenha incapacidade superveniente


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Caso o proponente não tenha mais interesse na formação contratual e, então, pretenda
revogar a proposta, deverá enviar a retratação para que esta chegue ao oblato antes
ou simultaneamente à oferta.

IMPORTANTE: força vinculante não é absoluta, prevendo o art. 428 casos em que
perde da obrigatoriedade.

OBS.: o rol legal é exemplificativo, porque há outras hipóteses em que a proposta não
tem força vinculante :

a) se assim resultar de seus próprios termos (ex.: cláusula de não obrigatoriedade


junto à proposta, pela qual o policitante reserva-se no direito de retirar a proposta)

b) se a falta de obrigatoriedade fluir da natureza do negócio » casos em que a oferta é


aberta, formando-se o contrato se a aceitação for manifestada em tempo em que
ainda estiver vigendo a proposta (ex.: anúncio em classificados de um bem à venda)

ART. 428 :

I - PROPOSTA INTER PRAESENTES » considera-se presente a pessoa contatada


por telefone ou representada por mandatário » aplica-se a Teoria de Gabba : o que
importa não é o espaço físico, mas a possibilidade dos contraentes se manifestarem
diretamente.

II - PRAZO MORAL: tempo razoável » nem longo demais a ponto de manter o


ofertante em expectativa exagerada, nem curto demais a ponto de impossibilitar ao oblato
expressar aceitação.

III - PRAZO ARBITRÁRIO : difere do caso anterior porque o proponente está fixando
prazo certo.

IV - já tratada

Fora esses casos, a proposta vincula o policitante, criando-lhe obrigação de cumpri-


la, sob pena de perdas e danos para reparar os prejuízos sofridos pelo oblato.

3 – ACEITAÇÃO: MANIFESTAÇÃO da vontade do destinatário da proposta,


expressa ou tácita, realizada num determinado prazo, a fim de aderir a todos os seus
termos, tornando o contrato definitivamente concluído, desde que chegue ao
conhecimento do policitante.

Desta definição, podem ser extraídos os requisitos essenciais da aceitação:

a) é dispensada obediência à forma, salvo nos casos de contratos solenes (vide art. 432
CC e 39, parágrafo único CDC);
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b) somente terá força vinculante se manifestada tempestivamente, pois a aceitação tardia
não produz qualquer conseqüência jurídica, já que extinta estará a proposta (art. 434,
III).

OBS: nos casos de aceitação tácita, se foi a proposta que tornou tardia a aceitação, o
oblato deverá comunicar o fato ao proponente se não quiser que o contrato seja
concluído » ex. art. 539.

c) Caso a aceitação imponha condição ou qualquer outro elemento, bem como realizada
fora do prazo, importará em nova proposta » art. 431 » não haverá aceitação, mas
duas propostas, sendo invertidos os papéis, assumindo então o policitante a
posição de oblato.

RETRATAÇÃO DO ACEITANTE: recusa oportuna do negócio jurídico, desde que a


retratação chegue ao conhecimento do proponente antes ou simultaneamente à
aceitação - art. 433 CC.

MOMENTO DA CONCLUSÃO DO CONTRATO: Não há qualquer questão no que


tange aos contratos entre presentes, pois as manifestações de vontade são expostas no
mesmo momento. O problema existe entre ausentes, em que há um intervalo mais ou
menos longo entre a proposta e a aceitação devido à ausência do oblato e o
conhecimento desta pelo policitante.

SOLUÇÃO : depende da teoria adotada.

A - TEORIA DA INFORMAÇÃO ou COGNIÇÃO : reputa perfeito o contrato no


momento em que o proponente tem ciência da aceitação do oblato, pois não é
possível a formação do negócio sem que ambas as partes conheçam suas vontades
recíprocas.

CRÍTICA: está em decadência porque deixa ao arbítrio do policitante o momento de


abrir a correspondência e tomar conhecimento da resposta, o que favorece a fraude
e a má fé. Ademais, seria também necessário que o oblato soubesse da ciência do
proponente e assim sucessivamente.

B - TEORIA DA AGNIÇÃO ou DECLARAÇÃO : contrato aperfeiçoa-se no


momento em que o oblato manifesta sua aquiescência à proposta. Desta teoria,
destacam-se três orientações, as quais formam espécies:

b1) TEORIA DA DECLARAÇÃO PROPRIAMENTE DITA: ato jurídico perfeito


quando o aceitante formula sua resposta.

b2) TEORIA DA EXPEDIÇÃO: não basta a formulação da aceitação, mas também é


preciso o envio ao proponente, pelo que se presume que o aceitante tudo fez para
expressar sua anuência.

b3) TEORIA DA RECEPÇÃO: contrato é efetivado quando o proponente recebe a


resposta do oblato, não importando se tomou ciência dos seus termos.
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CÓDIGO CIVIL: em regra, adotou a Teoria da Agnição, pela orientação da


expedição - art. 1086 CC.

EXCEÇÕES:

- art. 434 II (adotou a Teoria da Recepção);

- art. 434, III (conclusão somente é válida dentro do prazo


convencional)

ART. 433: não constitui exceção !!! somente dispõe de regra para retratação válida da
aceitação já postada ou transmitida (ex.: aceitação pelo correio e retratação via fax)

LUGAR DA CELABRAÇÃO DO CONTRATO: CUIDADO !!!! Apesar da aceitação


ser realizada no momento da expedição da resposta, o lugar o contrato será onde houve
a proposta !!! A regra é importante no que tange às leis que incidirão sobre o negócio
jurídico » art. 1087 CC e art. 9º, § 2º LICC

INTERPRETAÇÃO DOS CONTRATOS: A interpretação dos contratos é similar à


das leis, havendo coincidência entre as duas. Logo, aplicam-se a hermenêutica os
mesmos princípios da interpretação das leis.

Existe uma dificuldade extra para o hermeneuta dos contratos, haja vista dever buscar a
intenção das partes contratantes quando firmaram o acordo de vontades.

A lei preceitua normas interpretativas, não havendo, porém, um capítulo exclusivo


para tal assunto :

a) PRINCÍPIO DA INVESTIGAÇÃO DA VONTADE REAL (art. 112): intérprete


deve reconstituir o ato volitivo, pesquisando qual a real intenção e os fins
econômicos perseguidos pelos contratantes - assim, poderá corrigir sua manifestação
erroneamente expressa (verbal ou escrita).

b) ART. 114 : não poderá ser ampliado o sentido do contrato, sendo vedada a
interpretação com dados alheios ao seu texto - ex.: art. 819,

OBS: arts. 111, 113, 422 e 423.


FORMA E PROVA DOS CONTRATOS

» APLICAM-SE AS MESMAS REGRAS DOS ARTS. 212 a 232 CC


REGRA : contrato tem formação livre, ou seja, lei não exige qualquer formalidade para a
sua constituição (art. 107). A emissão de vontade, a princípio, é dotada de poder
criador, SALVO QUANDO A SOLENIDADE INTEGRA A SUBSTÂNCIA DO ATO
JURÍDICO (art. 425 » lei permite que o contrato seja fonte de obrigações)

EXCEÇÃO : contratos devem obedecer solenidade, ou seja, lei exige a observância de


normas formais para a formação válida do contrato (atos ad solemnitatem).
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A doutrina reconhece três espécies de forma:

- LIVRE OU GERAL: qualquer meio de manifestação da vontade é válido »


escrito, verbal, tácito e gestual

- ESPECIAL ou SOLENE: lei estabelece a maneira pela qual o ato jurídico


tem de ser praticado. A forma pode ser ÚNICA (não pode ser preterida
por outra - ex.: compra e venda de imóvel); PLURAL (lei permite que o
ato seja realizado por várias solenidades, facultando a escolha ao agente
- ex. renúncia de herança; testamento).

- contratual: o ato é livre por lei, porém as partes determinam solenidade.

PROVA : conjunto de meios empregados para demonstrar legalmente a existência de


um negócio jurídico.

CONSENSUALISMO : como é a regra, qualquer meio em direito admitido pode


provar a existência do contrato.
Ex.: locação verbal.

OBS: como o mais importante para interpretação dos contratos é a vontade das partes,
ainda que o CONTRATO seja SOLENE, servirá de prova para o ato o negócio firmado
sem a formalidade que lhe é inerente

Ex.: contrato de compra e venda - prova : escritura pública. Sebastião firmou contrato
com Raimundo, sendo que este pagou o preço de R$10.000,00 pelo imóvel; não há
escritura pública, mas sim instrumento particular, em que o vendedor declara ter recebido
o preço e sua firma está autenticada; este nega-se a transferir a propriedade e tampouco
devolver o valor.

CLASSIFICAÇÃO

1 - QUANTO À PESSOA EM QUEM RECAI A OBRIGAÇÃO


CONTRATO UNILATERAL : ato jurídico bilateral que cria obrigações para apenas
uma das partes. Ex.: mandato.
CONTRATO BILATERAL ou SINALAGMÁTICO : ato jurídico bilateral que cria
obrigações para ambas as partes. Ex.: compra e venda.

- formado sempre por ato jurídico bilateral


CONTRATO
- pode ser unilateral ou bilateral, dependendo em
quem a obrigação recaia

2 – QUANTO À VANTAGEM :
CONTRATO GRATUITO : gera vantagens apenas para uma das partes. Ex.:
mandato, doação.
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CONTRATO ONEROSO : gera vantagens para ambas as partes. Ex.: compra e


venda, locação etc.

- contratos unilaterais são gratuitos


REGRA
- contratos bilaterais são oneroso

EXCEÇÕES : serão estudadas em aulas futuras

IMPORTANTE : se o contrato for bilateral e oneroso, pode-se classificá-los em :

CONTRATO COMUTATIVO : há equivalência entre a obrigação devida e o preço


estipulado - REGRA. Ex.: depósito.

CONTRATO ALEATÓRIO : álea = risco; não se sabe, quando nasce a obrigação,


se haverá prevalência ou equilíbrio entre o preço e a obrigação.

Ex.: contrato de seguro (pode-se pagar uma vida inteira e nunca obter a vantagem pela
qual se obriga a seguradora – há mera expectativa de obtê-la)

3 – QUANTO À FORMA :
CONTRATO SOLENE ou FORMAL : lei exige a observância de normas formais
para a formação válida do contrato. Ex.: contrato de compra e venda de bens imóveis.

CONTRATO NÃO-SOLENE : lei não exige qualquer formalidade para a sua


constituição. O contrato de formação livre é a regra no Direito brasileiro. Logo,
somente haverá solenidade se estiver expressamente prevista.

4 – QUANTO À PREVISÃO LEGAL :


CONTRATO TÍPICO ou NOMINADO : está previsto e regulado pela lei. Ex.:
compra e venda, locação, depósito, empréstimo etc.

CONTRATO ATÍPICO ou INOMINADO : não está previsto e regulado pela lei, mas,
desde que não sendo defeso em lei, é juridicamente possível. Ex.: factoring, franquia, de
crédito etc.
5 – QUANTO À FORMAÇÃO CONTRATUAL
CONTRATO CONSENSUAL : o contrato é formado pela aceitação de uma
proposta (proposta + aceitação) - REGRA.

CONTRATO REAL : não são suficientes apenas os elementos proposta e anuência para
a formação do contrato. É necessária a entrega da coisa como um terceiro elemento.
Esta não ocorrendo, não há contrato, não há obrigação (formação do contrato =
proposta + aceitação + entrega da coisa) - EXCEÇÃO.

Ex.: empréstimo, depósito.


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RAZÃO DA LEI : não há melhor prova da inexistência de quaisquer dúvidas quanto
à celebração do contrato quando a coisa é entregue (“toma o meu relógio” –
presunção de que a coisa foi realmente alienada).

IMPORTANTE : quando a lei cria uma regra, apenas a lei pode excepcioná-la.

6 – QUANTO À PARTICIPAÇÃO DOS CONTRAENTES


CONTRATO PARITÁRIO ou NEGOCIAL : as partes negociam, discutem as
cláusulas que nortearão o contrato - REGRA.

CONTRATO DE ADESÃO : uma das partes formula todas as cláusulas, cabendo à


outra apenas aceitar ou não todo o conjunto. Não há qualquer discussão quanto à
formulação e aplicação das cláusulas. Presume-se a prevalência de uma partes sobre a
outra, pois impõe todas as condições contratuais.

Ex.: planos e seguros de saúde, conta bancária, cartão de crédito etc.

OBS. : contratos standart são contratos de adesão que permitem uma certa
flexibilidade (“preencha as lacunas”). São classificados entre os contratos de adesão.

7 - QUANTO AO TEMPO DE EXECUÇÃO


CONTRATO DE EXECUÇÃO IMEDIATA : esgotam-se num instante apenas, mediante
uma única prestação. Ex.: troca, compra e venda à vista etc.

CONTRATO DE EXECUÇÃO CONTINUADA ou de TRATO SUCESSIVO : ocorrem


quando a prestação de um ou ambos os contraentes se estende ao longo do tempo.
Ex.: planos de saúde, locação, compra e venda a prazo etc.

SEGUNDO CAIO MARIO, este é o tipo de contrato que sobrevive em razão da


persistência da obrigação, muito embora ocorram soluções periódicas, até que, pelo
implemento de condição ou termo, cessa o próprio contrato.

IMPORTANTE: enquanto não encerrado o contrato, não haverá ato jurídico perfeito.
Logo, será atingido pela lei nova que entrar em vigência ao tempo em que estiver em
vigor o contrato.
EXCEÇÃO DE CONTRATO NÃO CUMPRIDO (EXCEPTIO NON ADIMPLETI
CONTRACTUS) ART. 476 / 477 CC
É uma defesa do contratante demandado contra o co-contratante inadimplente, em
que o demandado se recusa a cumprir sua obrigação sob alegação de não ter havido
cumprimento pelo demandante, pois cada contratante está sujeito ao estrito
adimplemento do contrato.

OBS : O mesmo pode ocorrer nos casos de cumprimento incompleto, defeituoso ou


inexato da prestação até que esta seja melhorada ou completada.

RAZÃO DA LEI : em contratos desta espécie, há uma dependência recíproca das


prestações que, por serem simultâneas, são exigíveis no mesmo momento.
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Ex.: contrato de compra e venda » dever de pagar o preço e a entrega da coisa estão
funcionalmente numa relação de dependência.

Assim, cada contraente pode negar-se a cumprir sua prestação se o outro não o
fizer; caso também não o tenha cumprido, não poderá opor a exceptio non adimpleti
contractus.

ATENÇÃO : compra e venda a crédito não comporta a exceção porque o momento


de cumprimento das obrigações não é simultâneo.

IMPORTANTE: não pode se argüida a exceção se houver renúncia, OU se o contrato


contiver a cláusula solve et repete (cláusula que torna a exigibilidade da prestação imune
a qualquer pretensão contrária do devedor).
SUCESSIVIDADE : REGRA - a parte que deve satisfazer a prestação antes da outra
não pode alegar exceção de contrato não cumprido.

EXCEÇÃO : a parte que deve cumprir a obrigação primeiro poderá exigir que a outra
parte realize sua prestação primeiro ou ofereça garantia se, depois de concluído o ato
negocial, sobrevenha diminuição patrimonial a ponto de tornar duvidosa ou
comprometer a realização da prestação.

DISTRATO (art. 472) É o acordo entre as partes contratantes a fim de extinguir


vínculo obrigacional estabelecido pelo contrato.

OBS : ocorre no lapso temporal compreendido após a formação do contrato e antes


de ser executado por completo ou expirado seu prazo de vigência, sob pena de ser
supérfluo.

Art. 472 : não pode ser interpretado literalmente. Somente quando a lei determina
solenidade para a realização de um determinado contrato, o distrato tem de seguir a
mesma formalidade.
Ex.: contrato de compra e venda de imóvel » distrato também tem de ser realizado por
escritura pública.

EFEITOS DOS CONTRATOS: PRINCIPAL EFEITO : criar vínculo jurídico entre


as partes de tal sorte que funciona como lei entre as partes » força vinculante dos
contratos. Assim, cada contratante permanece ligado ao contrato sob pena de
execução ou perdas e danos.

OBS.: o juiz deverá observar estritamente o contrato, salvo as hipóteses em que o


modifica em razão de caso fortuito, força maior ou imprevisão.

Conseqüências da força vinculante dos contratos :

- IRRETRATABILIDADE : uma vez perfeito e acabado, não pode ser


desfeito senão por distrato.
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- INALTERABILIDADE : em regra, os contratos não podem ser
modificados pela vontade exclusiva de um dos contratantes.

- RELATIVIDADE : força obrigatória não atinge terceiros, e sim somente


as partes que firmaram o contrato.

EXCEÇÃO : existem casos em que, apesar de relativos, os efeitos do contrato podem


atingir terceiros (retrovenda, estipulação em favor de terceiros, contrato por terceiro,
etc.).

OBS.: a força vinculante não é relativa somente no que tange às pessoas, mas também
ao objeto. Logo, é eficaz apenas nos limites do que os contratantes quiseram obrigar-se
(dar, fazer ou não fazer).

ATENÇÃO : se o contrato não for intuito personae, seus efeitos atingirão os


sucessores a título universal, tanto em relação aos créditos quanto aos débitos, desde
que dentro dos limites da herança.

ESTIPULAÇÕES EM FAVOR DE TERCEIROS: É o contrato por via do qual uma


das partes se obriga a atribuir vantagem patrimonial gratuita a pessoa estranha à
formação do vínculo contratual.

FIGURAS :
- ESTIPULANTE : é o sujeito que determina a vantagem patrimonial em
favor de alguém;

- PROMITENTE : quem deverá cumprir a obrigação que resultará em


vantagem econômica;

- BENEFICIÁRIO

IMPORTANTE : as partes contratuais são apenas o estipulante e o promitente »


beneficiário é terceiro estranho ao contrato, cujos efeitos lhe atingem (exceção ao
princípio da relatividade dos contratos). As relações entre promitente e beneficiário
surgem na fase de execução do contrato, assumindo o terceiro a posição de credor.

ART. 436, parágrafo único : somente se não for alterada a pessoa do beneficiário pelo
estipulante.

OBS.: apesar de ser terceiro, é necessária a aceitação do beneficiário. Sua anuência


torna o contrato irretratável.

IMPORTANTE : é necessário que, do contrato, advenha vantagem patrimonial gratuita


para o beneficiário, ou seja, o benefício tem de ser recebido sem contraprestação e
representar vantagem suscetível de apreciação econômica.
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ARRAS (art. 417 CC): Entrega de quantia em dinheiro ou qualquer outro bem
economicamente apreciável que conduz à presunção da celebração do contrato e da
sua obrigatoriedade.

FORMAÇÃO DO CONTRATO = PROPOSTA + ACEITAÇÃO

ARRAS = SINAL

ARRAS EM DINHEIRO = INÍCIO DE PAGAMENTO : somente se as arras


tiverem a mesma natureza da prestação principal (art. 417, in fine). Caso contrário,
terão de ser restituídas ao final do cumprimento da obrigação principal » CAUÇÃO.

Ex. : dar dinheiro; entrega de coisa diversa de dinheiro.

CARACTERÍSTICAS:
- somente cabível nos contratos bilaterais que tem por fim a transferência de
patrimônio;

- pressupõe um contrato perfeito devido sua qualidade acessória;

- exige, para se aperfeiçoar, na entrega de soma em dinheiro ou outra coisa


fungível que tenha apreciação econômica;

- destina-se a confirmar um contrato ou assegurar seu cumprimento através da


fixação de pena.

ESPÉCIES :
A – ARRAS CONFIRMATÓRIAS (art. 417 CC) : é a regra; o contrato está firmado
e confirmado. Consubstancia triplo objetivo : confirmar o contrato, antecipar o
pagamento do preço (se início de pagamento) e determinar previamente as perdas e danos
(art. 418).

AS ARRAS CONFIRMATÓRIAS não prevêem o arrependimento, determinando a


resolução da relação contratual. Há ainda para as partes efeitos próprios para quem deu
causa à resolução :

- SE QUEM PAGOU : a outra parte tem direito de reter as arras como


parte do pagamento indenizatório pela inexecução culposa do contrato.

- QUEM RECEBEU : é obrigado a devolvê-las mais seu equivalente (duas


vezes o valor), bem como ressarcir por todos as despesas de cobrança,
monetariamente atualizadas.

IMPORTANTE 1 : a indenização pode ser superior ao valor das arras se a parte inocente
provar que o dano que soma quantia maior, seja a título de dano emergente, lucro
cessante ou mesmo dano moral.
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IMPORTANTE 2 : parte final do art. 419 refere-se às obrigações de fazer, as quais, em
caso de descumprimento de execução judicial, podem ser convertidas em dinheiro (CPC).

B – ARRAS PENITENCIAIS : EXCEÇÃO; há previsão de arrependimento (art.


420), ou seja, quem paga ou recebe as arras tem o direito de se arrepender
posteriormente. O valor das perdas e danos é o valor das arras. Portanto ...

- QUEM PAGOU : perde as arras que já entregou (pagamento das perdas e


danos já foi prestado)

- QUEM RECEBEU : devolve em dobro, porque paga o valor das arras


(perdas e danos) e restitui o que recebeu.

As arras penitenciais antecipam as perdas e danos, ou seja, fazem as suas vezes.


Destarte, não há que se postular o arbitramento das perdas e danos em juízo devido
ao descumprimento da obrigação, pois estas já estão contratualmente previstas nas arras.

ATENÇÃO : não comportam direito à indenização suplementar, como as arras


confirmatórias.

IMPORTANTE : caso não esteja expressamente especificada a natureza das arras,


estas serão confirmatórias, haja vista ser esta a regra.

VÍCIO REDIBITÓRIO (art. 441 CC) : É a falha ou defeito oculto da coisa


alienada, objeto de contrato comutativo, que a torna imprópria para o fim a que se
destina ou que lhe diminui o valor, de tal modo que o adquirente jamais teria
realizado o negócio jurídico se sabedor do vício.

- DEFEITO OCULTO : aquele que passa desapercebido pelo homem médio.

- DEFEITO APARENTE : aquele facilmente constatável.


Ex. de defeito aparente : produto fora ou sem o prazo de validade; aberto; com a
embalagem rasgada ou furada etc.

RATIO LEGIS – PRINCÍPIO DA GARANTIA : direito do adquirente à utilidade


natural do bem, o que, por muitas vezes, não pode ser examinada no momento da
realização do ato jurídico.

REQUISITOS :
- coisa adquirida em razão de contrato comutativo ou doação mediante
encargo (art. 1101, parágrafo único);

- vício ou defeito grave e oculto;

- uso da coisa prejudicado ou sensível diminuição de seu valor em razão do


vício oculto (art. 1101);

- defeito já existente ao tempo da celebração do contrato (art. 1104).


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OBS: adquirente pode exigir que o alienante responda pelo vício redibitório, mesmo
quando este não era sabedor da existência do vício (art. 443).

- não conhece o vício : apenas resolução contratual


ALIENANTE
- sabe do vício : responde + perdas e danos

IMPORTANTE : o adquirente assume os riscos do negócio se os contraentes decidirem


isentar o alienante ou alterar os limites da garantia (prazos e valores de ressarcimento)
porque as normas do CC são de natureza dispositiva.

CUIDADO : se a relação jurídica for de consumo, qualquer isenção ou alteração das


garantias é nula de pleno direito porque o CDC é norma congente !!!

AÇÃO EDILÍCIA (gênero) : ação que tem por objeto a reparação de vício redibitório
» não poderá ser proposta nos casos de renúncia da garantia.

ESPÉCIES :
AÇÃO REDIBITÓRIA (art. 441) : quando houver rejeição da coisa, pelo que se
postula ou a devolução do preço ou outra coisa do mesmo gênero, espécie e
quantidade (redibir o contrato » rejeição da coisa).

AÇÃO ESTIMATÓRIA (art. 442) : quando a coisa for aceita, porém é postulado o
abatimento do seu preço (devolução parcial do preço).

PRAZOS DECADENCIAIS PARA A PROPOSITURA DA AÇÃO :

REGRA : 30 dias para coisas móveis e 1 ano para coisas imóveis, a contar da aquisição
do domínio da coisa.
EXCEÇÕES :
- metade do tempo se o adquirente já tinha a posse da coisa ao tempo em que
se tornou proprietário;

- 180 dias para bens móveis e 1 ano para imóveis se, pela natureza da coisa ou
da relação, somente for possível conhecer o vício após o uso da coisa »
termo a quo : quando o adquirente tem ciência do defeito oculto.

OBS : em caso de animais, deve ser observada a seguinte regra, nesta ordem » 1º lei
especial / 2º costume / 3º art. 445, § 1º CC

(SOMENTE SE QUESTIONADO PELO ALUNO) caso a coisa seja adquirida por um


terceiro, este não sofrerá as conseqüências da redibição

EVICÇÃO (art. 447 CC): É a perda da coisa por força da sentença que declara ser o
domínio pertencente a um terceiro, desde antes da realização do negócio jurídico,
i.e., da venda da coisa.
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Ex.: TÍCIO vende à MÉVIA, demonstrando ser o dono do imóvel pela certidão do RGI
(antiga) / CAIO já tinha realizado o contrato antes e registrara a escritura no RGI
competente, enquanto MÉVIA toma posse da coisa / CAIO propõe AÇÃO
REIVINDICATÓRIA para que tenha posse do imóvel.

– EVICTO : adquirente (MÉVIA)


SUJEITOS – ALIENANTE : quem transfere a coisa (TÍCIO)
– EVICTOR : terceiro, real dono ou possuidor (CAIO)

REQUISITOS :
- aquisição decorrente de contrato oneroso;
- decisão judicial definitiva que reconheça a evicção;
- anterioridade do direito do evictor
- perda total ou parcial da posse ou propriedade da coisa adquirida;

O que deve ela fazer para se proteger de sofrer a evicção do seu bem (o que deve
fazer o adquirente evicto para garantir que o alienante responda pela evicção) ?

RESPOSTA : denunciação da lide nos autos da Ação Reivindicatória ou Possessória, no


prazo da contestação, sob pena de perda do direito de regresso » art. 456 CC e art.
70, I CPC.

OBS.: este é o único caso que a denunciação da lide é obrigatória, sob pena de
presunção de renúncia do direito de regresso ao alienante.

REDUÇÃO ou EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE DO ALIENANTE PELA


EVICÇÃO : contrato prevê Cláusula de Irresponsabilidade (art. 448 CC) +
conhecimento do risco da evicção pelo adquirente (art. 449) + adquirente assume os
riscos (art. 449) OU art. 457.

Ex.: TÍCIO anuncia alienação de um imóvel em Vargem Grande, evidenciando que não
é o proprietário da coisa, mas somente possuidor. CAIO, já alertado do risco de sofrer
futuramente evicção, mas fascinado pelo preço mais barato devido ao risco da evicção,
resolve assumi-lo. Assim, reza o contrato de compra e venda a Cláusula de
Irresponsabilidade perante evicção.

OBS : nos casos de evicção, a perda somente ocorre por força de decisão judicial.

CUIDADO : existe risco de evicção mesmo se a coisa foi adquirida em alienação judicial
(art. 447, 2ª parte).

IMPORTANTE !!!! Há um único caso que os tribunais têm entendido, por analogia,
tratar-se de evicção : APREENSÃO DE VEÍCULO POR AUTORIDADE POLICIAL.

Ex.: TICIO comprou carro usado na Larapius Veículos. Esta apresenta-lhe a


documentação do carro, que, aparentemente, é idônea. O adquirente registra o carro sob
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sua propriedade no Detran e viveu feliz para sempre, até que foi parada em uma operação
policial (blitz) : seu veículo foi apreendido porque era fruto de um latrocínio cometido
por uma quadrilha em que, até mesmo, funcionários do Detran estavam envolvidos.

Nosso heroí ficou sem carro, mas faminto de justiça » O tribunal do Rio de Janeiro
acolhe a pretensão de reconhecer a evicção causada pela concessionária, a qual
deverá denunciar à lide aquele que lhe vendeu o veículo para ter, ao final, direito de
regresso.

DEMAIS DIREITOS DO EVICTO EM FACE DO ALIENANTE :

- art. 450 : frutos restituídos, despesas e ônus

- art. 453 : indenização pelas benfeitorias úteis e necessárias;

CUIDADO : se as benfeitorias tiverem sido realizadas pelo alienante, este terá direito de
compensar o valor equivalente às despesas na indenização que terá de pagar pela evicção.

- art. 455 » evicção parcial : para ser "considerável" dependerá da apreciação


subjetiva do juiz

- perceber o valor das vantagens , desde que não tenha sido condenado a
indenizá-las (art. 1111).

ATENÇÃO : se o evicto tiver auferido vantagens decorrentes de deteriorações e não tiver


sido obrigado a indenizar o evictor, terá o alienante direito à quantia, que deverá ser
compensada da indenização a ser paga pela evicção (art. 452)
IMPORTANTE : responsabilidade do alienante transmite-se aos seus herdeiros.

OBS.: o preço da evicção é relativo ao valor do tempo em que o dano ocorreu ou, se
parcial, proporcional ao desfalque sofrido (art. 450, parágrafo único).

Ex.: quando adquirido, não havia favela perto do imóvel; quando ocorrida a evicção,
existia uma favela perigosíssima vizinha ao prédio.

CONTRATOS ALEATÓRIOS (art. 458) É aquele cuja prestação de uma ou ambas


as partes depende de um risco futuro e incerto, sendo impossível antecipar seu
montante. Ex.: bilhete de loteria, seguro etc.

ALEA (latim) = risco, perigo, sorte, incerteza

- CONTRATO : firmado entre as parte pela manifestação da vontade

- PRESTAÇÃO : incerta, relegada para evento posterior o qual submete


os efeitos do contrato.
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OBS : o risco pode se referir tanto a coisa objeto contratual quanto à sua
quantidade.

RISCO pode ser :


a) TOTAL ou ABSOLUTO : risco pesa somente a uma das partes, cabendo a outra o
cumprimento da sua prestação sob a possibilidade de nada receber em troca

b) PARCIAL ou RELATIVO : ainda que desproporcionais, cada um dos contraentes


fornece sua prestação e cada um está sujeito a um certo risco.

IMPORTANTE : o risco de perder ou ganhar pode sujeitar somente uma das partes,
porém a incerteza tem de ser de ambas as partes, sob pena de nulidade da obrigação.

ESPÉCIES :
- ALEATÓRIOS PELA PRÓPRIA NATUREZA : o risco é inerente ao
próprio contrato. Ex.: loteria, seguro, constituição de renda vitalícia etc.

- EMPTIO SPEI (art. 458) : é negociada a esperança ou a probabilidade


das coisas existirem no futuro (cuidado : “sem culpa do alienante”). Ex.:
pesca que o pescador vier a realizar; colheita futura etc.

- EMPTIO REI SPERATAE (art. 459) : risco versa somente sobre a


quantidade da coisa (vide parágrafo único). Ex.: os mesmos.

ATENÇÃO : se não houver a coisa em quantidade alguma, terá o alienante de restituir o


preço, pois assegurou a existência da prestação.

- ÁLEA RELATIVA À COISA JÁ EXISTENTE (arts. 460 e 461) : é o típico


caso de mercadoria embarcada que é vendida no seu destino, assumindo o
adquirente os riscos decorrentes do transporte.

OBS.: o alienante é responsável se ficar provado que conhecia a consumação do risco e o


escondeu do adquirente para auferir vantagem indevida.

CONTRATOS COMUTATIVOS # ALEATÓRIOS


- nos comutativos, as partes podem antever o que receberão pela prestação
realizada;

- vícios redibitórios referem-se somente aos contratos comutativos;

- o instituto da lesão (art. 157) não tem lugar nos contratos aleatórios.

CONTRATOS CONDICIONAIS # ALEATÓRIOS


- Nos contratos condicionais, a eficácia depende de evento futuro e
incerto; nos aleatórios, o negócio jurídico nasce perfeito;
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- Nos contratos condicionais, o lucro de uma das partes não representa o
prejuízo da outra; nos aleatórios, muitas vezes, a vantagem de uma parte
significa a perda da outra;

- Nos contratos condicionais, o evento é sempre futuro; nos aleatórios, o


risco pode ser presente, importando tão somente que seja desconhecido de
ambas as partes.

EXTINÇÃO DA RELAÇÃO CONTRATUAL

EXTINÇÃO : termo genérico para todos os casos em que os contratos deixam de


existir.

- NORMAL : cumprimento das prestações contratuais


EXTINÇÃO
- ANORMAL : antes de alcançado o fim contratual

EXTINÇÃO NORMAL: É a consecução do fim contratual pela execução de todas as


cláusulas estipuladas pelos contraentes, tal como ocorresse morte natural do contrato.

EXTINÇÃO ANORMAL: Dá-se quando o contrato é encerrado sem que se tenha


atingido seus fins.

- causas anteriores e contemporâneas *


EXTINÇÃO ANORMAL
- causas supervenientes
* A causa de extinção é anterior ou surge ao tempo da celebração do contrato »
são as hipóteses de contratos inválidos
EXTINÇÃO DE CONTRATO POR CAUSAS SUPERVENIENTES À SUA
FORMAÇÃO :

a) Resolução; b) Resilição; c) Rescisão; d) Cessação

A) RESOLUÇÃO: É um remédio concedido à parte para romper o vínculo


contratual mediante ação judicial quando a outra parte é inadimplente.

- SEM CULPA : somente resolução


INEXECUÇÃO
- COM CULPA : resolução + perdas e danos

CLÁUSULA RESOLUTIVA TÁCITA : por força de lei, em todos os contratos


bilaterais existe, implicitamente, cláusula resolutiva, pela qual a inexecução de uma
parte autoriza a outra a postular a extinção do contrato.

IMPORTANTE : Brasil adotou o sistema francês, em que a resolução somente opera


efeitos após sentença judicial.
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CLÁUSULA RESOLUTIVA EXPRESSA : opera tal qual condição ou termo


resolutivo, em que é previsto um evento futuro, certo ou incerto, do qual resulta a
ineficácia do contrato.

OBS: há controvérsia doutrinária sobre a necessidade de ação judicial nestes casos;


de qualquer forma, os efeitos do contrato estão encerrados desde o advento da causa
resolutiva prevista entre as partes.

» RESOLUÇÃO POR INEXECUÇÃO VOLUNTÁRIA

- pressupostos : inadimplemento, ilicitude, culpa, dano e nexo causal entre


fato e prejuízo

- extinção opera-se ex tunc (restituição do status quo ante), devendo ser


procedida as restituições recíprocas

OBS : quando a execução do contrato é sucessiva, a extinção somente opera efeitos ex


nunc.
- em relação a terceiros que tenham adquirido direitos entre o tempo de
conclusão e resolução do contrato, a retroatividade somente atinge os
direitos de crédito

- no caso anterior, quanto aos direitos de natureza real de terceiros, há duas


correntes : uma entende que o credor somente terá direito a perdas e danos
contra o devedor, não sendo atingido o direito real do terceiro adquirente;
outra entende não poder alguém alienar mais direitos do que possui, pelo
que os efeitos da resolução são os mesmos em face de terceiros.

» RESOLUÇÃO POR INEXECUÇÃO INVOLUNTÁRIA

- devedor, embora queira, não pode satisfazer a prestação a que se obrigou por
razão intransponível e superveniente

- resolução opera-se de pleno direito, retroativamente

- talo qual na hipótese de cláusula expressa, é desnecessária a intervenção


judicial, salvo nos casos de surgimento de conflito para restituição do status
quo ante

- o devedor poderá ser responsabilizado se ocorrer caso fortuito ou força


maior que resolva o contrato, desde que tenha consentido em cláusula
expressa

IMPORTANTE : o devedor responderá pela resolução tal qual se culposa fosse se


estiver em mora.
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» RESOLUÇÃO POR ONEROSIDADE EXCESSIVA (art. 478 a 480): É oriunda de
um advento extraordinário e imprevisível, absolutamente alheio à vontade dos
contraentes, o qual dificulta por extremo o adimplemento contratual por uma das
partes por tornar excessiva a diferença do valor da prestação ao tempo da
celebração do contrato e da sua execução.

IMPORTANTE : onerosidade objetivamente excessiva, ou seja, prestação torna-se


onerosa a qualquer sujeito que se encontrasse na posição de devedor.

» INEVITÁVEL O ARBÍTRIO JUDICIAL !!! Dar-se-á resolução contratual somente


mediante sentença, haja vista não existir critério objetivo de extinção, não podendo
ficar a critério de uma das partes dizer quando há onerosidade excessiva ou não (sob pena
de ser feita tábula rasa do princípio da força obrigatória dos contratos).

OBS: ao invés de extinguir o contrato, o juiz pode restabelecer o equilíbrio contratual,


intervindo na economia do contrato para reajustar as prestações em bases razoáveis (art.
480)

CUIDADO !!! a dificuldade não pode ser confundida com impossibilidade, sob pena
de se caracterizar resolução por inexecução involuntária.

ATENÇÃO : somente é cabível resolução por onerosidade excessiva nos contratos


comutativos de execução continuada ou diferida !!! Nos contratos aleatórios a
imprevisão é parte constituinte, não cabe a resolução mediante alegação de onerosidade
excessiva.

» ESTÃO SUBENTENDIDAS : Teoria da Imprevisão (não autoriza a resolução, mas o


reajuste do contrato) e a cláusula rebus sic stantibus (resolução mediante perdas e danos
em valor diminuído)

NÃO TEM CABIMENTO A RESOLUÇÃO SE :


- a prestação já foi cumprida;

- a onerosidade é posterior à inadimplência » responde o devedor

B) RESILIÇÃO: É o modo de extinção do contrato mediante simples declaração


vontade de um ou de ambos os contratantes.

RESILIÇÃO BILATERAL = DISTRATO : extinção do contrato, por vontade das partes,


antes de exaurido o objeto contratual.

RESILIÇÃO UNILATERAL » varia de acordo com a modalidade contratual.

b.1) CONTRATOS POR TEMPO INDETERMINADO : lei presume que as partes não
pretendem obrigar-se perpetuamente. Assim, reservam-se a faculdade de, a
qualquer tempo, resilir o contrato (ex.: contrato de conta bancária, plano de saúde etc)
» declaração receptícia da vontade.
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b.2) CONTRATOS FIDUCIÁRIOS : seu elemento é a fidúcia, ou seja, a confiança.
Resilição pode ser declarada pela parte que perdeu a confiança na outra (ex.:
mandato)

b.3) CLÁUSULA DE ARREPENDIMENTO : os próprios contratantes podem


reservar-se expressamente o direito de resilir o contrato.

JUS POENITENDI » qualquer das partes poderá resilir o contrato por arrependimento,
desde que haja cláusula expressa que autorize. Todavia, é comum a estipulação de
multa penitencial a ser paga pela parte que se arrepende como forma de compensar
a resilição contratual como compensação pecuniária pela perda da vantagem contratual
perdida.

OBS : multa penitencial não se confunde com cláusula penal, pois esta pressupõe a
inexecução culposa do contrato. Aquela é devida pela compensação do direito
potestativo de resilir acordado entre as partes.

EFEITOS DA RESILIÇÃO
- não opera efeitos ex tunc » somente ex nunc

- não são restituídas as prestações cumpridas em se tratando de o contrato de


trato sucessivo;

REVOGAÇÃO : é a retratação de uma das partes autorizada pela lei, tendo em


vista as particularidades da relação negocial que se formou (ex.: art. 49 CDC;
mandato - pelo mandatante).

OBS : doação » poder de revogação não pode ser exercido livremente, mas tão
somente nos casos expressos previstos em lei » neste caso, confunde-se com
resolução (direito subjetivo stricto sensu)

RENÚNCIA : ato unilateral destinado a extinguir uma relação jurídica pela auto-
eliminação de um dos seus sujeitos - ativo. Ex.: remissão de dívida; mandatário que
resile contrato.

RESGATE : aplicável unicamente nos contratos de enfiteuse e constituição de renda,


consiste no pagamento, em uma única vez, de toda a quantia que seria paga ao longo
da relação contratual, o que causa sua extinção.

C – RESCISÃO: É a ruptura de contrato em que houve lesão, podendo ser


alcançada somente através de intervenção judicial. Ex.: Nívea e Stefan.

Assim, é o típico caso de exploração de vantagem excessiva por uma parte, aproveitando-
se da inexperiência da outra.

REQUISITOS :
- exposição de um direito do qual uma das partes é titular;
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- iniqüidade de condições nas quais as obrigações são contraídas

D – CESSAÇÃO: REGRA : a morte não pode ser elencada entre as formas de dissolução
de contrato, não tendo aplicação no direito contratual.

EXCEÇÃO : os contratos intuito personae, ou seja, nos casos em que as qualidades


personalíssimas do sujeito falecido foram determinantes para sua realização.

EFEITOS : ex nunc » nos contratos de execução continuada, as prestações pagas


subsistem.

OBS : também constitui caso de cessação a incapacidade superveniente do


contratado mediante obrigação pesonalíssima.

CONTRATOS NOMINADOS OU TÍPICOS

I - CONTRATO DE COMPRA E VENDA: Art. 481 CC: é o contrato bilateral em


que um sujeito (comprador) obriga-se a pagar um preço certo em dinheiro enquanto
que o outro sujeito (vendedor) obriga-se a transferir a propriedade da coisa.

CONTRATO SOMENTE CRIA OBRIGAÇÃO !!! NUNCA DIREITO REAL !!!

» TRANSFERÊNCIA DA PROPRIEDADE :
- MÓVEL : simples tradição – obrigação de dar

- IMÓVEL : registro – obrigação de fazer

COMPRADOR : o preço tem que ser pago em dinheiro ou qualquer outro


documento que lhe seja equivalente (cheque, ticket refeição, vale transporte etc), sob
pena de desclassificar o contrato :
- TROCA : preço é pago mediante outra coisa, outra mercadoria

- DOAÇÃO : não há pagamento pelo adquirente

CARACTERÍSTICAS

1 – BILATERAL (ou sinalagmático) : gera obrigação para ambas as partes

2 – ONEROSO : gera vantagens para ambas as partes

3 – CONSENSUAL : é formado apenas pela aceitação de uma proposta. Não é


necessária a entrega da coisa para sua formação, haja vista que tal ato configura
exaurimento da obrigação do vendedor.

4 – NÃO-SOLENE : a eleboração do contrato tem forma livre entre as partes.


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EXCEÇÃO : contrato de compra e venda de bem imóvel será sempre por escritura
pública.

OBJETO CONTRATUAL :
- suscetível de individuação ao tempo do cumprimento do contrato quanto ao
gênero e quantidade (obrigação incerta) » art. 485 a 488 CC;

- alienável (não estar fora do comércio);

- passível de apreciação econômica, cujo preço seja, ao menos, apreciável ao


tempo da celebração do contrato;

- poder ser transferido pelo vendedor;

- livre consentimento das partes.

DISPOSIÇÕES GERAIS
1 - FIXAÇÃO DO LUGAR DO CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO (art. 493) : as
partes podem determinar lugar diverso do preceito legal (norma dispositiva).

OBS.: se o comprador exigir a entrega da coisa em lugar diverso, o risco correrá por sua
conta, salvo se o vendedor não observar suas orientações.

2 - RISCOS ANTES DA TRADIÇÃO (art. 491, 492 e 494) : em regra, correm por conta
do vendedor os riscos de entrega e o comprador assume os riscos relativos ao preço.
OBS.: a compra e venda, em regra, não é contrato sinalagmático de execução
simultânea, ou seja, o vendedor não é obrigado a efetuar a entrega antes de perceber o
preço.
3 - ART. 500 :
- COMPRA E VENDA AD CORPUS : a metragem é meramente enunciativa, em
nada influenciando no preço da coisa ou no interesse do comprador

- COMPRA-E-VENDA AD MENSURAM : o preço do imóvel é vinculado à sua


metragem, i. e., é totalmente determinado de acordo com o número de alqueires ou
hectares por exemplo. Portanto, a METRAGEM É ELEMENTO ABSOLUTAMENTE
RELEVANTE.

» HIPÓTESE DA ÁREA ANUNCIADA SER SUPERIOR À ÁREA REAL : nasce


obrigação alternativa em que caberá ao devedor (comprador) escolher se restitui o
preço relativo ao excesso ou se devolve a área excedente.

OBS.: o vendedor somente terá direito de exigir devolução do preço ou da área excessiva
se provar que havia justificativas escusáveis para ignorar a área exata que alienou.

» HIPÓTESE DA ÁREA ANUNCIADA SER INFERIOR À ÁREA REAL: o


comprador terá direito à ...
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1º) AÇÃO EX EMPTO : complementação da área real até a dimensão anunciada

2º) AÇÃO EDILÍCIA : quando impossível a complementação, pois a coisa vendida


apresentava defeito oculto que lhe diminuiu o valor. Assim, caso rejeite a coisa, o
objeto da ação será a rescisão contratual, cumulada com perdas e danos (AÇÃO
REDIBITÓRIA),ou, caso o comprador aceite a coisa no estado em que se encontra,
postulará o abatimento do preço (AÇÃO ESTIMATÓRIA).

PRAZO : decai os direitos das partes se não for exercida a ação competente no prazo de 1
ano a contar da data da tradição.

OBS.: se, apesar de registrado o título no RGI competente, o comprador não for imitido
na posse, o prazo decadencial corre somente quando o adquirente for também possuidor
da coisa.

IMPORTANTE : presunção legal relativa sobre a determinação da espécie de compra


e venda de acordo com a diferença entre a área anunciada e a real :

- inferior a 1/20 avos da dimensão : compra e venda ad corpus;

- superior a 1/20 avos da dimensão : compra e venda ad mensuram

4 - DIREITO DE PREFERÊNCIA ou PRELAÇÃO ou PREEMPÇÃO (art. 504) :


condomínio sobre bem indivisível.

RATIO LEGIS : evitar que estranhos ingressem na comunhão.

ATENÇÃO : fazenda é bem divisível; logo, não há que se pensar em direito de


preferência.

OBS: quando um condômino é preterido no seu direito de prelação, poderá, no


prazo decadencial de 180 dias, depositar o preço da venda do imóvel e havê-lo para
si.

CONTROVÉRSIA : quando é iniciado o prazo para o condômino requerido


reclamar para si o imóvel vendido ?

1ª CORRENTE : a partir da data da celebração do contrato de compra e venda.

2ª CORRENTE : é computado a contar da data do registro, haja vista que é o momento


em que a propriedade é transferida e é conferida publicidade ao ato.

OBS.: se houver vários condôminos, questão é resolvida pelo parágrafo único.

4 - CUSTOS (art. 490) : COISA MÓVEL » as despesas referentes ao frete correm por
conta do vendedor.
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COISA IMÓVEL : o vendedor arca com os ônus de expedição das certidões necessárias
para elaboração da escritura de compra e venda, enquanto o comprador deve pagar ao
tabelião de notas, imposto de transmissão e registro no RGI.

OBS.: normas dispositivas, podendo as partes dispor contrariamente.

5 - OBRIGAÇÃO PROPTER REM (art. 502) : obrigações de direito real + direito


pessoal (a obrigação persegue a coisa, i.e., o direito de crédito acompanha a sorte do bem,
sendo o seu possuidor o devedor) » a obrigação propter rem segue a sorte da coisa, tal
qual os direitos reais, não sendo oponível erga omnes, tal qual os direitos obrigacionais.

CUIDADO !!! Caso a escritura de compra e venda contenha cláusula que isente o
comprador de dívidas relativas ao imóvel, à despeito do conteúdo das certidões,
somente gerará efeitos entre as partes contratantes. Portanto, no caso de eventual
evicção ou execução futura, o comprador responderá perante o titular do crédito,
cabendo-lhe direito a regresso em face do vendedor, desde que o denuncie à lide (art. 70,
III CPC)

6 - NULIDADES :
- ART. 489 : sendo um contrato paritário, não pode uma das partes se
sobrepor à outra.

- ART. 497 : causas de Impedimento, e não de incapacidade.

IMPEDIMENTO ou RESTRIÇÕES LEGAIS: incapacidade específica para o caso que


a lei apresenta.

OBS.: a hipótese do art. 497, III pode gerar contrato válido, desde que seja realizado na
forma do art. 498 (exceção).

7 - ART. 1.132 : negócio jurídico anulável !!!

OBS. : como o preceito não fixa prazo para propositura da ação anulatória, aplica-se a
norma genérica do art. 205 - 10 anos.

ATENÇÃO : devem consentir os herdeiros necessários. Eis a razão de ser dispensado o


cônjuge casado pelo regime da separação obrigatória, pois jamais será herdeiro.

CONTROVÉRSIA: E a hipótese do consentimento não ser concedido sem justa


causa (ex.: ciúmes) ?

1ª CORRENTE (MAJORITÁRIA) : juiz, por analogia, pode suprir a ausência do


consentimento quando não há justa causa.

OBS: a lei não prevê expressamente, porém, apesar da lei poder ser lacunosa, o direito
nunca é. Portanto, como a lei não é a única fonte de direito, sendo a analogia a
primeira fonte subsidiária à ausência de texto normativo, aplica-se o instituto tal
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como é aplicado nos casos em que o cônjuge não concede ao outro outorga uxória
sem justa causa.

2ª CORRENTE : não pode o juiz suprir a ausência de consentimento quando não há


justa causa porque não existe previsão legal.

CLÁUSULAS ESPECIAIS

1 – RETROVENDA (art. 505) Direito do vendedor reservar para si reaver a coisa, no


prazo DECADENCIAL máximo de 3 anos, sob restituição do preço, além as despesas
efetuadas pelo comprador, inclusive benfeitorias necessárias.

DIREITO DE RETROVENDA = DIREITO DE RESGATE

IMPORTANTE : se é estipulado prazo maior de 3 anos para efetuar o resgate, o


contrato é válido, porém o tempo maior é desconsiderado, i.e., permanecerá o prazo
máximo de 3 anos (prazo maior reputa-se não escrito) - decadência significa perda do
direito.

OBS.: o direito de retrovenda incide apenas à compra e venda de bens imóveis, pois
a publicidade da cláusula estará assegurada pelo registro. Ademais, os bens imóveis
não estão sujeitos à grande rotatividade dos bens móveis.

NATUREZA JURÍDICA DA CLÁUSULA DE RETROVENDA : condição


resolutiva, haja vista se tratar de evento futuro e incerto que extinguirá os efeitos do ato
jurídico.

PROPRIEDADE RESOLÚVEL : propriedade transferida sob condição resolutiva


como real gravame, podendo ser oposto em face de terceiros (art. 507 - vide art.
1359).

ATENÇÃO : o direito real conferido pela cláusula de retrato depende do pagamento do


preço. Até então, poderá o comprador exercer direito de retenção.

2 – VENDA A CONTENTO E DA SUJEITA À PROVA (art. 509) VENDA A


CONTENTO : aquisição da coisa fica subordinada à condição de satisfação do
comprador, restando desfeito o negócio caso a coisa não o agrade.

VENDA SUJEITA A PROVA : assemelha-se à anterior, porém o negócio está sujeito à


comprovação de a coisa adquirida realmente corresponde às qualidades anunciadas e
pode atingir os fins a que se propõe.

DIFERENÇA: primeiro caso apresenta maior precariedade porque a coisa tem de


agradar ao comprador, enquanto na segundo basta ficar provada a idoneidade.

IMPORTANTE : caso a condição seja suspensiva, enquanto não manifestada a


vontade do requerente, expressa ou tacitamente, permanece o adquirente na posse do
imóvel na qualidade de comodatário.
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APOSTILA DE DIREITO CIVIL Professor Affonso Pernet Júnior

PRAZO PARA MANIFESTAÇÃO DA VONTADE : sempre convencional !!! Caso não


exista, deverá o adquirente ser intimado a fazê-lo sob pena de presumir
absolutamente sua satisfação.

3 – PREEMPÇÃO (art. 513 CC) Comprador obriga-se a, se um dia vender o bem,


oferecê-lo primeiro ao vendedor pelos mesmos preço e condições ao ajustado à
venda.

DIREITO DE ... PREEMPÇÃO = PRELAÇÃO = PREFERÊNCIA

Ex.: Caio – comprador Tício – vendedor

Caio comprou um imóvel de Tício. Caso um dia pretenda revendê-lo, deverá oferecê-lo
ao Tício que deverá comprá-lo pelo preço e nas condições ajustadas para aquisição por
terceiros. Se o titular do direito (Tício) não se interessar, poderá, então, oferecê-lo a
terceiros.

PRELAÇÃO POR FORÇA DE LEI (art. 519) : caso em que o Estado terá de conferir
preferência ao expropriado.

OBS.: o preço não será referente à indenização paga ao tempo da expropriação, mas sim
relativo ao tempo do exercício da preferência.

PRAZO (art. 516) : se as partes não estipularem tempo para exercício da preferência,
o direito decai em 60 dias para as coisa imóveis e 3 dias para as coisas móveis, a contar
da data da ciência do titular do direito.

IMPORTANTE : se as partes convencionarem prazo, este não poderá ser superior a 180
dias para coisas móveis e 2 anos para coisas imóveis (art. 513, parágrafo único).

RETROVENDA :
- condição resolutiva;

- a iniciativa cabe ao antigo proprietário, cabendo-lhe pagar o preço pelo


qual vendeu o bem acrescido das despesas efetuadas por quem o comprou
(preço já pré-estipulado).

PREEMPÇÃO :
- propriedade plena, contrato despedido de condições acidentais;

- é nova venda; logo o novo proprietário não está adstrito a vendê-lo por um
preço pré-detrminado – preço e condições livres.

OBS : o direito de prelação é personalíssimo (art. 520). Assim, se o antigo proprietário


morre, extingue-se o direito.
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APOSTILA DE DIREITO CIVIL Professor Affonso Pernet Júnior
ATENÇÃO : a despeito do silêncio da lei, a doutrina e a jurisprudência têm
entendido que a retrovenda também é um direito personalíssimo.

INOBSERVÂNCIA DO DIREITO DE PREFERÊNCIA :


- PELO COMPRADOR : condenação em perdas e danos (art. 518), tanto ao
alienante quanto ao adquirente de má-fé.

- PELO VENDEDOR : perda do direito (art. 515)

ATENÇÃO : havendo mais de um vendedor titular do direito de prelação, sendo a coisa


indivisível, será a obrigação do comprador também indivisível perante os vendedores
(art. 517).

CUIDADO !!! Não confundir com o direito de preferência do condômino –


totalmente diferente.

4 - RESERVA DE DOMÍNIO (art. 521) Vendedor, apesar de transferir a posse da


coisa para o comprador, mantém para si o direito de propriedade até a
integralização do preço. Assim, o comprador somente será dono da coisa após pagar
o valor integralmente, ainda que já tenha havido a tradição.

NATUREZA JURÍDICA : condição suspensiva da aquisição da propriedade.

IMPORTANTE : atua tal cláusula como relevante garantia para o vendedor na medida
em que pode optar, em caso de inadimplemento do comprador, em reclamar pelo
pagamento do preço ou pela restituição da coisa (ação de reintegração de posse para
bens imóveis ou busca e apreensão para bens móveis).

SEQÜELA : somente pode ser oponível erga omnes se houver publicidade (art. 522) »
Cartório de Registro de Títulos e Documentos (art. 127, I, da Lei 6015/73)

ATENÇÃO : não pode ser objeto de reserva bens que não podem se tornar infungíveis,
pois não haveria como exercer sobre os mesmos direito de seqüela.

CUIDADO !!! Os riscos do negócio são assumidos pelo comprador desde a data da
tradição, pois, apesar de não ter se tornado senhor, mantém o bem sob seu poder
jurídico direto.

EXERCÍCIO DO DIREITO DE AÇÃO DO VENDEDOR :


- constituir o comprador em mora (mora ex personae);

- cabe ao vendedor optar pela medida judicial que julgar lhe ser mais
conveniente : ação de cobrança ou ação possessória

OBS: a restituição da posse importa em devolução do preço pago, ainda que


parcialmente » vendedor tem direito a reter as prestações pagas para ser ressarcido por
todos os danos materiais sofridos (art. 527)
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ART. 528 : é o típico caso dos contratos que envolvem alienação fiduciária !!!

PROMESSA DE COMPRA E VENDA: É o contrato pelo qual as partes obrigam a,


futuramente, celebrar contrato de compra e venda.

OBS : tal contrato não está previsto em lei : atípico ou inominado.

» Admite-se promessa de compra e venda para bens móveis e imóveis, sendo, porém,
mais comum para esta modalidade de bens. É chamado contrato preliminar, enquanto
que o contrato de compra e venda é denominado contrato definitivo.

OBS.: a obrigação das partes é do tipo fazer.

O promitente-vendedor, muitas vezes, transfere a posse da coisa durante o período em


que o promitente-comprador ainda está a integralizar o preço em prestações. Quando
quitado o valor do bem, será celebrado o contrato de compra e venda, o qual criará a
obrigação de transferir a propriedade da coisa. O seu registro conferirá ao comprador a
qualidade de proprietário.

IMPORTANTE : todo contrato preliminar possui, mesmo que implicitamente apenas,


cláusula de arrependimento, pois, devido ao Princípio da Autonomia da Vontade,
ninguém pode ser compelido a celebrar um contrato

» caso o promitente-vendedor decidir não realizar um contrato de compra e venda,


mesmo já tendo sido o preço integralmente pago, será condenado em perdas e danos.

» Para evitar contratempos de tamanha monta, o contrato de promessa de compra e


venda deve ser celebrado de forma IRRETRATÁVEL. Quando assim se procede, o
contrato receberá o nomem iuris de compromisso de compra e venda.

OBS.: PROMESSA DE COMPRA E VENDA IRRETRATÁVEL = COMPROMISSO


DE COMPRA E VENDA » LEI 6766/79, art. 25.

Compromitente = promitente-vendedor

Compromissário = promitente-comprador

- Decreto-lei n.º 58/37


Compromisso de compra e venda
- Lei n.º 6.766/79

- Decreto-lei n.º 58/37 : loteamento rural

- Lei n.º 6.766/79 : loteamento urbano

COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA : compromitente nega-se a celebrar o


contrato de compra e venda; compromissário propõe AÇÃO DE ADJUDICAÇÃO
COMPLUSÓRIA, pela qual é condenado; ainda assim, permanece o sucumbente
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negando a realizar o contrato definitivo; a sentença condenatória servirá de título
hábil para efetuar o registro da propriedade junto ao Registro Geral de Imóveis.

AÇÃO DE ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA : sentença condenatória é título apto


para levar a registro e efetuar a transferência do registro.

ATENÇÃO : Ação de Adjudicação Compulsória somente é cabível no caso de ser o


contrato de promessa de compra e venda irretratável (compromisso de compra e
venda).

Ex.: Compromitente promete vender o imóvel para A, B e C; compromissário C registra


o contrato junto ao RGI / cria para si direito real, pois, apesar de não ter transferido a
propriedade, tornou seu direito meramente pessoal em erga omnes.

A – Ação de Reparação de Perdas e Danos


B – Ação de Reparação de Perdas e Danos
C – Ação de Adjudicação Compulsória (já que levou o contrato a registro)

» Quando proposta a Ação de Adjudicação Compulsória, o juiz determina a juntada


da certidão do registro de imóveis para que seja comprovado o arquivamento do
contrato de promessa de compra e venda ou, então, que não existe outro registrado.
Neste último caso, o juiz determina que o demandante leve o seu contrato a registro, sob
pena de impossibilitar a concessão da adjudicação.

Na hipótese do exemplo, se os três compromissários ainda não tiverem registrado os


seus contratos e propuseram Ação de Adjudicação Compulsória, aquele que
primeiro registrá-lo garantirá para si o direito real, restando aos demais o mero
direito pessoal (a corrida é feroz, como se fosse liquidação de supermercado – quem
chegar primeiro leva a melhor).

» DESCUMPRIMENTO DO PROMITENTE-COMPRADOR :
- ainda persiste interesse em realizar o contrato : descumprimento relativo »
MORA » promitente-comprador cumpre a obrigação + perdas e
danos

- Não resta mais interesse em prosseguir a relação contratual (desistiu de


comprar) : descumprimento absoluto » INEXECUÇÃO » promitente-
comprador é condenado em perdas e danos.

» MORA NOS CONTRATOS DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA:


segundo o Decreto-lei 58/37 e 745/69, bem como Lei nº 6.766/79, quando a relação
contratual é decorrente de um compromisso de compra e venda, a mora é sempre ex
personae (art. 32, § 1º).

» O CONTRATO DE COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA É SEMPRE


FORMAL: segundo o art. 26 da Lei nº 6.766, o escrito tem que ser público ou
particular » contrato sempre escrito.
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» Ação de Adjudicação Compulsória : a promessa de compra e venda irretratável
não precisa estar registrada, i.e., não é requisito para a propositura da ação, mas
não poderá haver adjudicação sem que seja efetuado o registro no curso do processo
» art. 26, §§ 1º e 5º da Lei 6766/79.

RITO DA AÇÃO DE ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA É ESPECIAL, como se


trata de direito real, erga omnes, devido ao registro do contrato no registro de
imóveis.

IMPORTANTE: a leitura da Lei nº 6.766/79 é fundamental para maior entendimento


sobre a promessa de compra e venda e Ação de Adjudicação Compulsória.

II – TROCA (ou permuta) É o contrato pelo qual as partes obrigam-se a entregar


uma coisa por outra QUE NÃO SEJA DINHEIRO.

CARACTERÍSTICAS : mesmas do contrato de compra e venda, acrescentando a


comutatividade.
OBJETO : dois bens suscetíveis de serem alienados, passíveis de determinação, não
sendo necessário ser da mesma espécie e igual valor.
IMPORTANTE : LEITURA ATENCIOSA AO ART. 533 E SEUS INCISOS.

III – DOAÇÃO CONCEITO : art. 538 CC.: CUIDADO !!! O ART. 538 CC O
INDUZ A ERRO !!! Doação é contrato; todo contrato é fonte de direito
obrigacional; logo, não cria direito real, e sim somente direito pessoal » portanto,
obriga o doador a transferir a propriedade do imóvel, não incluindo a transferência
em si, o que constitui mero exaurimento do contrato.

OBS: para que seja um ato perfeito, ou seja, a sua formação requer apenas proposta
(do doador) e aceitação (do donatário) » art. 539

IMPORTANTE : ANIMUS DONANDI » é elemento constituinte do contrato de


doação a inequívoca vontade do doador em transferir parte do seu patrimônio
gratuitamente ao donatário.

CACTERÍSTICAS
1 – UNITERALIDADE : a obrigação recai somente sobre o doador, i.e., a
transferência da propriedade da coisa.

IMPORTANTE : a aceitação não é obrigatória, pelo princípio de que ninguém é


obrigado a celebrar um contrato. A anuência do donatário é elemento formador do
contrato de doação.

2 – GRATUIDADE : o contrato de doação, em regra, gera vantagem jurídica apenas


para uma das partes – o donatário.

- IMÓVEL : registro
TRANSFERÊNCIA DO BEM
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- MÓVEL : simples tradição

REGRA : DOAÇÃO PURA, isto é, possui apenas os elementos essenciais do


contrato; não estipula cláusulas acidentais.

3 – CONSENSUAL : proposta + aceitação » doação não é contrato real, ou seja, a


sua formação não depende da transferência da coisa, e sim mera anuência quanto à
proposta.

4 – FORMAL : em regra, a doação é um contrato escrito (art. 541 CC), sob pena de
nulidade (art. 166, IV).

EXCEÇÃO : contrato verbal (art. 541, parágrafo único) » bens móveis.

ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL : “pequeno valor” é equivalente a 10% (dez


por cento) do total do patrimônio do doador.

CUIDADO !!! BENS IMÓVEIS » o que transfere a propriedade não é contrato de


doação, e sim o registro do instrumento público.

PECULIARIDADES QUANTO À DOAÇÃO

1) ACEITAÇÃO (art. 539 CC) : em regra, É TÁCITA, ou seja, se o destinatário da coisa


doada permanecer em silêncio, não se manifestar, tal ato importará na aceitação da
coisa e, conseqüentemente, na formação do contrato e no surgimento da obrigação,

PORTANTO, caso não queira receber um bem em doação, seja educado : diga
“obrigado, não”, sob pena de aceitação.

2) DOAÇÃO EM CONTEMPLAÇÃO DE CASAMENTO FUTURO (art. 546 CC) :


não se está doando a coisa à noiva ou ao noivo, e sim em contemplação ao ato
jurídico futuro e incerto (condição suspensiva).

OBS.: a celebração do casamento com a pessoa certa e determinada ao tempo da


doação importará em aceitação dos bens doados. Até então, não estava formado o
contrato, não havia obrigação, haja vista que sem o elemento aceitação não se aperfeiçoa
o ato jurídico.

IMPORTANTE: na hipótese de não-realização do casamento, não havendo, assim,


aceitação, existe a obrigação dos EX-noivos restituírem os bens doados em
contemplação do casamento, na medida em que o contrato de doação não chegou a ser
formado, sob pena de busca e apreensão.

3) NASCITURO (art. 542 CC) : o contrato é celebrado com a aceitação dos pais do
nascituro. Contudo, o contrato não é puro, ou seja, possui condição suspensiva : o
nascimento com vida.

- Aceitação = doação celebrada


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- Nascimento com vida = contrato passa a gerar efeitos

Assim, até o nascimento com vida do nascituro haverá expectativa de direito.

IMPORTANTE : o incapaz pode praticar todos os atos da vida civil, desde que esteja
representado ou assistido. Contudo, o único ato que o incapaz, seja a incapacidade
absoluta ou relativa, pode praticar sozinho é a aceitação de doação PURA.

Ex.: doei um par de sapatinhos a um bebê; não manifestou ele oposição ao meu ato, logo
aceitou a coisa : ato jurídico perfeito, doação celebrada.

IMPORTANTE : mesmo o louco está autorizado a exercer sozinho o ato de aceitação


da doação pura, sem que haja interferência do curador.

OBS. : ÚNICO ato que é válido se praticado pelo absolutamente incapaz sem a devida
representação.
ATENÇÃO : apenas no caso do nascituro é que caberá aos pais aceitar ou não a
doação, sob a condição suspensiva do nascimento com vida.

4 - DOAÇÃO A ENTIDADE FUTURA (art. 554) : é válida, desde que esteja


regularmente constituída no prazo máximo de 2 anos.

OBS. : constituição regular = ato constitutivo + arquivo no órgão competente

INVALIDADE DA DOAÇÃO: Além dos casos gerais que causam invalidade do


negócio jurídico, a doação apresenta peculiaridades :

A) DOAÇÃO ENTRE O CÔNJUGE ADÚLTERO E SEU CÚMPLICE : é anulável,


desde que :
- seja proposta a ação anulatória pelo outro cônjuge ou por um herdeiro
necessário;

- obedecido o prazo de 2 anos, contados da dissolução da sociedade conjugal

B) DOAÇÃO DE ASCENDENTE PARA DESCENDENTE OU ENTRE


CÔNJUGES (art. 544) : importa em adiantamento da legítima, salvo se o contrato
dispuser o contrário (art. 2005)

CUIDADO !!! Não se confundir com as regras do art. 496 !!! Não é necessária a
concordância expressa dos demais herdeiros ou cônjuges para que o ato seja válido.

C) DOAÇÃO UNIVERSAL (art. 548) : doação de todos os bens sem reservar o


mínimo para subsistência » ATO NULO.

RATIO LEGIS : evitar que a pessoa, que doa tudo o que tem sem reservar-lhe o mínimo
para subsistência, se torne um estorvo para a família e para o Estado.
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CUIDADO !!! A contrario sensu, havendo reserva de um mínimo patrimonial para a


sobrevivência, a doação universal é plenamente válida.

Ex.: pai que tem todo o seu patrimônio expresso em apenas uma casa; resolve doá-
la para o seu único filho, porém reserva para si o direito de usufruto sobre o imóvel
» a doação foi universal, haja vista que houve transferência total dos bens de alguém
para outrem, sendo que, contudo, o doador reservou para si meios para garantir a sua
sobrevivência (o direito de usar e explorar os frutos civis advindos do imóvel doado).

D) DOAÇÃO INOFICIOSA (art. 549): o ato da doação somente pode ter como
objeto a parte disponível do patrimônio do doador.

Quando há excesso e, conseqüentemente, invasão na parte legítima, este excesso é


nulo, permanecendo a doação válida apenas nos limites da parte disponível.

CONTROVÉRSIA : como nestes casos o interesse é particular, na medida que o


prejuízo atinge apenas o herdeiro que teve sua parte legítima invadida pela doação
inoficiosa, entende parte da doutrina que o excesso é anulável, sendo o prazo 10 anos
para a propositura da ação anulatória, pois a lei não dispõe de prazo específico para tal
caso (art. 205 CC).

CUIDADO !!! Não confundir doação inoficiosa com doação de doação de


ascendente para descendente ou entre cônjuges.

E) DOAÇÃO CONJUNTIVA (art. 551 CC) : lei presume ser vontade do doador
favorecer os donatários de forma eqüitativa » interpretação do ato jurídico pela
norma jurídica.

IMPORTANTE : o parágrafo único constitui EXCEÇÃO ao direito das sucessões »


normas de mesma hierarquia / norma especial afasta a vigência da norma geral

ESPÉCIES DE DOAÇÃO

1 – PURA : unilateral, gratuita, consensual e formal.

2 – REMUNERATÓRIA (art. 540 CC) : ocorre nos casos em que a pessoa que presta
um serviço não cobra pelo mesmo quando poderia tê-lo feito (poderia cobrar, mas não
cobrou).

» O doador realiza a doação como forma de pagamento pela prestação do serviço, o qual
poderia ter sido cobrado, mas não foi.

– dentro dos limites do valor do serviço prestado


REMUNERAÇÃO – no limite do valor do serviço prestado
– excedente ao valor do serviço prestado *
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» * CUIDADO !!! Neste último caso, a natureza jurídica da doação não é
remuneratória, é híbrida, mista :

- até o limite do valor do serviço prestado, a doação é remuneratória;

- no que excede ao valor, a doação é pura.

3 – REVERSÃO (art. 547 CC) : a doação é personalíssima (art. 548), haja vista que o
doador pretende beneficiar apenas o donatário : DOAÇÃO COM CONDIÇÃO
RESOLUTIVA.

RATIO LEGIS : o doador transfere a coisa sob a condição de que esta permaneça
apenas sob a propriedade do donatário. Assim, caso este venha a falecer antes
daquele, resolver-se-á a doação, retornando o bem a integrar o patrimônio do
doador.

Ex.: triângulo amoroso / Tício, Mévia e Caio (participação da sogra) / doação de fazenda
de Tício para Mévia com cláusula de reversão / o que ocorre se Mévia vende o imóvel ?

NATUREZA JURÍDICA : condição resolutiva.

IMPORTANTE : é possível a transferência da propriedade do bem recebido com


cláusula de reversão, tal como ocorre quando há cláusula de retrovenda » o
GRAVAME ACOMPANHA A SORTE DA COISA – propriedade permanece resolúvel.

CONTROVÉRSIA: É possível fideicomisso quando o ato é inter vivos, ou seja, em


contratos de doação gravar cláusula de fideicomisso ?

1ª Corrente : SIM, por analogia ao que ocorre com a doação por ato mortis causa.

2ª Corrente : NÃO, pois o instituto pertence somente ao direito da sucessão.

Neste caso, seria a hipótese de, por exemplo, estabelecer cláusula obrigando a donatária a
transferir a propriedade do bem a seus filhos.

4 – DOAÇÃO COM ENCARGO (OU MODAL) - art. 553 CC » o encargo é


elemento acidental do contrato (ato jurídico assume modalidade especial).

DOAÇÃO COM ENCARGO = DOAÇÃO ONEROSA

ENCARGO : restrição feita pelo autor de uma liberalidade, ou seja, a doação com
encargo restringe a liberdade de disposição da coisa.

Ex.: alguém doa a outrem um cão raríssimo, sob o encargo de adestrá-lo (pior se o
cachorro fosse um vira-lata safado).

ATENÇÃO : somente o doador pode impor o encargo.


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IMPORTANTE : ENCARGO NÃO TEM A NATUREZA JURÍDICA DE
OBRIGAÇÃO !!! Encargo é meramente um elemento acidental do ato jurídico (esta
é a sua natureza jurídica) » tanto encargo não constitui obrigação do donatário que o seu
descumprimento não enseja condenação em perdas e danos, e sim a resolução do
contrato (efeito típico de elemento acidental).

PORTANTO : a doação com encargo permanece um contrato unilateral, pois somente


determina obrigação para o doador. Todavia, apesar de não configurar obrigação para o
donatário, o encargo lhe gera vantagem jurídica (caso contrário, não a estipularia).
ATENÇÃO : doação com encargo é um caso excepcional, pois é CONTRATO
UNILATERAL ONEROSO.

- vantagem para o doador


ONEROSIDADE
- vantagem para o donatário

- obrigação para o doador


UNILATERALIDADE
- inexistência de obrigação para o donatário

REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO

ATO DE REVOGAÇÃO : somente pode ser exercido através de ação própria para
exercer o direito de revogação (Ação de Revocatória).

ROL EXAUSTIVO : somente há duas hipóteses em que a doação pode ser revogada
(art. 555) :

1 – INGRATIDÃO DO DONATÁRIO : os atos de ingratidão (art. 557 e 558) estão


elencados em rol exaustivo, taxativo. Destarte, a interpretação é restritiva, i.e., não se
pode ampliá-la, deve-se manter nos limites em que se apresentam.
REGRA (art. 560) : a Ação de Revogação de Doação é personalíssima : somente o
doador poderá promovê-la em face do donatário ingrato – ninguém mais poderá
ingressar em juízo para postular a revogação da doação.

EXCEÇÃO (art. 561) : homicídio doloso consumado, devendo a ação ser promovida
pelo herdeiro.

PRAZO : 1 ano, a contar da data em que o doador soube do fato e da autoria.

2 – DESCUMPRIMENTO DO ENCARGO (art. 562) : o prazo para a propositura da


ação é o mesmo dos caos de ingratidão, porém o marco inicial para a contagem é
diferente : quando o donatário incorrer em mora.

- termo certo fixado : mora ex re


MORA
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- termo não fixado : mora ex personae (not./prot./int.)

OBS. : art. 563 » PROPRIEDADE REVOGÁVEL (art. 1360)

IV - CONTRATO DE EMPRÉSTIMO É o contrato pelo qual uma pessoa entrega


a outra, gratuitamente, uma coisa para que dela se sirva, cabendo-lhe a obrigação
de restituir.

EMPRÉSTIMO : GÊNERO

ESPÉCIES :
- COMODATO (art. 579) : bens infungíveis
- MÚTUO (art. 586) : bens fungíveis

» CARACTERÍSTICAS :

1 – REAL (art. 579) : a formação do contrato exige a conjugação de três elementos :


proposta, aceitação e entrega da coisa (não basta a mera anuência da proposta para
aperfeiçoar o ato).

Contrato de empréstimo = proposta + aceitação + entrega da coisa

2 – UNILATERAL : obrigação recai apenas sobre uma das partes :


comodatário/mutuário (obrigação de dar).

CUIDADO !!! Entrega da coisa NÃO é obrigação do comodante/mutuante !!! O ato de


entrega da coisa constitui elemento formador do contrato, i.e., anterior à estipulação
de obrigação. Se a entrega da coisa não é efetuada, o contrato nem mesmo chegou a
existir.
IMPORTANTE.: salvo a restituição do bem, o contrato de comodato não pode
estipular encargo algum para o comodatário, nem mesmo exigir gastos quanto à
conservação da coisa podem ser exigidas (pintura do imóvel, p.ex.), sob pena da
cláusula reputar-se não existente.

CONTROVÉRSIA: APLICA-SE AO COMODATÁRIO A PENALIDADE DO ART.


1.254 PARA TODOS OS TIPOS DE BENFEITORIA ?

» Art. 584 : despesas de uso e gozo = ordinárias

- necessárias (direito de retenção)


Benfeitorias - úteis (direito de retenção)
- voluptuárias (direito de levantar a benfeitoria)

Art. 1219 : comodatário é possuidor de boa fé; possui, portanto, direito de reter as
benfeitorias necessárias e úteis e de levantar a benfeitoria voluptuária.
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1ª CORRENTE (majoritária) : art. 584 refere-se às despesas ordinárias, que são as
benfeitorias necessárias. As benfeitorias úteis e voluptuosas são extraordinárias,
logo incide a regra do art. 1219, que se refere aos casos gerais » a norma específica
afasta a vigência da norma genérica.

EX.: o comodatário que resolve instalar uma pia de ouro no banheiro (benfeitoria
voluptuosa), terá ele o direito de levantá-la caso não seja ressarcido.

2ª CORRENTE : art. 584 não utilizou o termo benfeitoria propositadamente, pois é


sinônimo de despesas de uso e gozo. Portanto, jamais o comodatário terá direito de
recobrá-las.

3ª CORRENTE : define despesas de uso e gozo conforme a 1ª corrente, porém entende


que o comodatário somente poderá reter as benfeitorias úteis e levantar as
voluptuárias quando as realizou sob expressa autorização do comodante.

OBRIGAÇÕES DO COMODATÁRIO
- guardar e conservar a coisa como se sua fosse (art. 582, 1ª parte)

- em caso de risco, deve preferir conservar a coisa emprestada à sua própria,


sob pena de perdas e danos, ainda que por fato causado por caso fortuito ou
força maior (583)

- limitar o uso da coisa ao firmado em contrato ou, caso este silente, de acordo
com a natureza do bem

- restituir a coisa emprestada ao tempo devido

- responder pela mora, bem como pagar aluguel pelo tempo em atraso (art.
582, 2ª parte)

- responder pelos riscos da coisa, salvo isenção de culpa (lembrar : não cabe
isenção de culpa se estiver em mora)

3 – GRATUITO : a vantagem recai apenas para uma das partes

COMODATO : contrato de uso (direito de usar coisa alheia e dever de restituí-la).

MÚTUO : contrato de consumo (direito de consumir coisa alheia; dever de restituir por
outra do mesmo gênero, quantidade e qualidade)

OBS.: consumo = dar finalidade à coisa.

Ex.: filho que pede ao pai o carro emprestado » contrato de comodato.

Ex.: diarréia em uma noite de Domingo, após o fantástico, e não há papel higiênico »
será dado ou emprestado ? Por uma questão de boa educação, pede-se emprestado.
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Então, o contrato pode ser de uso ? Bem , se for, o objeto deverá ser restituído da forma
como foi entregue. Todavia, quem vai devolver papel higiênico usado ?

CONCLUSÃO :
- CONTRATO DE COMODATO : a entrega da coisa não transfere a
propriedade, e sim somente a posse
- CONTRATO DE MÚTUO : a entrega da coisa transfere a propriedade
da coisa, tornando o mutuário dono da mesma
REGRA : contrato de empréstimo é gratuito

EXCEÇÃO : contrato de mútuo oneroso » gera vantagens para ambas as partes (art.
591)

MÚTUO ONEROSO : somente quando a coisa dada em empréstimo é capital ($) »


vantagem relativa ao mutuante : JUROS (frutos civis).

CUIDADO !!! O CONTRATO permanece UNILATERAL, sendo a obrigação do


mutuário restituir o capital e os juros.

Mútuo oneroso mediante pagamento de juros = mútuo feneratício.

Ex.: financiamento da compra da casa própria pela Caixa Econômica Federal


(EXPLICAR AOS ALUNOS) » portanto, que se apague a idéia errada de que o bem
pertence à CEF e o mutuário, se não pagar, deverá restituir o mesmo à CEF – o bem será
levado à praça para arrematação, sendo o produto destinada à satisfação do crédito.

4 – NÃO-SOLENE : EM REGRA, os contratos de empréstimo possuem forma livre,


i.e., não precisam obedecer forma prescrita em lei para serem válidos.

EXCEÇÃO : mútuo feneratício » sua existência requer a forma escrita » contrato


solene.

PRAZO
1 – COMODATO :
- HAVENDO ACORDO : será o prazo convencionado entre as partes

- NÃO HAVENDO ACORDO : o prazo presumido por lei para vigência


do contrato é o necessário para o uso da coisa » mora ex personae

2 – MÚTUO :
- HAVENDO ACORDO : data prevista

- NÃO HAVENDO ACORDO : quem diz do prazo é o mutuante (art. 592,


III)

CARACTERÍSTICAS
COMODATO :
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- além da infungibilidade, o objeto do contrato também não é consumível
porque tem de ser restituído;

- necessariamente temporário, sob pena de se caracterizar doação (art. 581)

MÚTUO
- também temporário, pelas mesmas razões do comodato (art. 592, I a III)

- translatividade do domínio do bem emprestado;

- em decorrência da fungibilidade, dever de restituição de outra coisa da


mesma espécie, qualidade e quantidade (art. 1261 CC)

REQUISITOS
COMODATO
- SUBJETIVO : restrições legais (incapacidade específica) » art. 1249 »
impedimento a representantes por força de lei e por força de vontade

OBS: a lei NÃO se refere aos pais


- OBJETIVOS : tanto bens móveis quanto imóveis, desde que infungíveis e
inconsumíveis;

- FORMA : livre

MÚTUO
» SUBJETIVOS : quando o mutuário é menor e realiza o contrato sem a devida
autorização » OBRIGAÇÃO NATURAL (art. 588)

CUIDADO !!! ART. 180

ATENÇÃO :
- MENOR tanto pode ser absoluta quanto relativamente incapaz, pois
ambos são mantidos sob a posse e guarda de um responsável;

- "DAQUELE SOB CUJA GUARDA ESTIVER" : não necessariamente os


pais, mas quem quer que mantenha a guarda (terceiros, avós, tios, irmãos
mais velhos etc.)

- art. 589 : exceções em que a obrigação será civil, ainda que realizada
conforme preceitua o art. 588.

» OBJETIVOS : coisa emprestada tem de ser fungível, podendo consistir em dinheiro,


mercadorias e títulos.

» FORMAIS : em geral, a forma é livre, salvo na hipótese de mútuo oneroso ou


feneratício (art. 1262)
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CAUSAS ESPECIAIS DE EXTINÇÃO DO MÚTUO (arts. 1261 e 1264)

Ocorrendo qualquer das hipóteses, o mutuante poderá exigir a entrega de coisa


equivalente a coisa emprestada :

- art. 590 : vencimento antecipado

- art. 592 : presunção de vencimento, caso não haja termo convencionado


expressamente

V - CONTRATO DE DEPÓSITO (art. 627 CC) É o contrato pelo qual uma pessoa
(depositante) entrega a outra (depositário) coisa móvel para guardá-la e, depois,
restituí-la quando exigida.

» CLASSIFICAÇÃO (ou características) :

1 – REAL : o contrato somente aperfeiçoa-se mediante a entrega da coisa pelo


depositante ao depositário ("depositário recebe")
Contrato real = proposta + aceitação + entrega

Ex.: Maria passou a ter aulas aos sábados / não sabia com quem deixar seus dois
ratinhos (Mickey e Jerry); resolveu pedir ao vizinho que tem pavor de rato / aceitou a
proposta porque Maria é maravilhosa / pediu para que Maria aguardasse um minuto para
que se vestisse / Após mais de 20 minutos esperando no corredor, Maria voltou a tocar a
campainha insistentemente e ninguém respondia / Encaminhou-se para a portaria e
indagou ao porteiro e descobriu que o vizinho deixara o apartamento pela outra porta e
informou ao porteiro que não voltaria naquele dia.

MORAL DA HISTÓRIA : não tenho como exigir perdas e danos ou o que quer que
seja, pois não foi formado o contrato.

2 – UNILATERAL : gera obrigações apenas para o depositário.

- guardar
Obrigações do depositário - a coisa
(art. 629) - devolver

CUIDADO !!! Entrega não é obrigação, mas elemento formador do contrato. A sua
ausência significa inexistência de contrato, não havendo que se falar em obrigação.

OBRIGAÇÕES DO DEPOSITÁRIO :

- art. 629 : as mesmas do comodatário » frutos (pendentes, percebidos e


percipiendos) e acrescidos (acessões), caso exigidos pelo depositante

- art. 630: responderá por perdas e danos o depositário que macular a coisa
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- art. 631 : é norma dispositiva, que pode ser alterada segundo a vontade das
partes (ratio legis : depositante arca com as despesas porque,
presumidamente, é quem aufere vantagem).

- art. 632 : DISPOSITIVO NOVO !!! terceiro é o titular do interesse


jurídico.

- art. 640 : diferença fundamental entre os contratos de depósito e


empréstimo (ex.: depósito de veículo)

- art. 639 : em regra, a obrigação não é solidária quando houver mais de um


depositário, salvo se o contrato estipular a solidariedade expressamente »
logo, não pode alguém dispor sobre algo que não lhe pertence !!!!

- art. 642 : caso fortuito ou força maior tem de ser provado

- art. 636 : sub-rogação de direitos

- art. 637 : herdeiro do depositário causa evicção por boa-fé (achou que a
coisa pertencesse ao autor da herança)

EXCEÇÃO (art. 643) : às vezes, quando o depositário efetua gastos necessários para
a conservação da coisa, o depositante tem o dever de indenizá-los.

DEFESA DE DIREITOS (art. 644) : depositário que efetuou despesas necessárias.

Ex.: Fabiana deseja viajar, mas não tem com quem deixar Ada (um cachorro vira-latas) /
procura Kíssila (sua amiga) e pede, aos prantos, para que esta tome conta do seu lindo
bichinho / Comovida com as lágrimas da amiga, Kíssila aceita a proposta / o animal foi
acostumado a comer apenas filé mignon, sob pena de morrer de anorexia / como sua
dona não deixara qualquer quantia em dinheiro, a detentora temporária a gastar uma soma
considerável na alimentação do animal.

MORAL DA HISTÓRIA: Fabiana terá que indenizar Kíssila por todos os prejuízos
sofridos para a conservação da coisa.

Ex.: Tício é surfista / sua mãe, considerando o fato do filho ser bacharel em direito e
estar se preparando para a avaliação em concursos públicos, resolve que não há mais
espaço para aquela enorme “tábua de passar”, além dela não mais convir à nova realidade
do seu filhinho futuro - doutor autoridade / Tício, por não querer livrar-se do símbolo da
sua juventude, procura Caio e pede para que este guarde o objeto que tanto ama até
passar num concurso qualquer, pois tal fato fará sua mãe esquecer o incômodo causado
pela sua amada prancha de surf.

MORAL DA HISTÓRIA: não haverá qualquer gasto a ser efetuado por Caio para
guardar a prancha do amigo. Logo, não haverá que se falar em indenização.
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IMPORTANTE : alguns doutrinadores classificam o contrato de depósito como
bilateral imperfeito, pela razão de que, às vezes, adquire a bilateralidade.

3 – GRATUITO : a lei assim o presume, i.e., somente gera vantagem para o


depositante (art. 628).

IMPORTANTE : o contrato de depósito pode ser realizado mediante remuneração,


ou seja, o depositário exige do depositante pagamento para guardar a coisa.

Nesta hipótese, o contrato de depósito adquirirá diferentes características :

ONEROSO : coisa do depositante é guardada / depositário recebe remuneração

BILATERAL : depositante paga remuneração / depositário guarda da coisa

REMUNERAÇÃO (art. 628, parágrafo único) : se não for ajustada por lei ou por contrato
expressamente, aplica-se a fonte subsidiária (costume) ou, por fim, arbitramento
judicial.

CUIDADO !!! A bilateralidade, neste caso, é perfeita, haja vista que assim será em
todos os casos, e não apenas às vezes.

4 – FORMAL (art. 646) : qual é a função da exigência da forma legal ?

REGRA : atender à solenidade especial que o ato requer, sob pena de nulidade do ato
jurídico (art. 166, IV) » forma ad solemnitatem

EXCEÇÃO : serve como prova legal, ou seja, é o único caso previsto pelo Código
Civil em que a forma é o único meio em direito admitido como elemento probatório
no processo judicial, sob pena de ser impossível provar em juízo a existência do direito
» PROVA PROCESSUAL ou forma ad probationem.

IMPORTANTE: a jurisprudência tem entendido serem admissíveis outros meios para


se provar a existência de um contrato de depósito que não o contrato escrito, haja
vista o art. 646 constituir um resquício de um sistema formalista, um retrocesso que
contraria o Princípio do Livre Convencimento Motivado, que rege o processualismo
brasileiro.

VENCIMENTO
ART. 633 : ainda que exista prazo para restituição da coisa, é lícito ao depositante
requerer a devolução da coisa em prazo inferior ao estipulado.

Ex.: deixei o meu cachorro num canil e vou buscá-lo antes do tempo.

EXCEÇÃO : casos exemplificativos previstos na 2ª parte do art. 633

VENCIMENTO ANTECIPADO : incapacidade superveniente do depositário (art. 641)


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ATENÇÃO : compensação somente se o depositante for também depositário do


sujeito passivo em outra relação jurídica (art. 638)

MODALIDADES
1 – VOLUNTÁRIO (art. 627 a 646) : advém da livre convenção entre as partes (tudo
acima exposto)

OBS.: ente os depósitos regulares, existe um tipo especial » DEPÓSITO IRREGULAR


(art. 645) : contrato de depósito de coisa fungível, pelo óbvio, equipara-se ao contrato
de mútuo.
CUIDADO !!! Não se trata de contrato de mútuo sob outra roupagem, haja vista o
preceito do art. 640 » contrato de depósito NÃO é contrato de uso, nem de consumo
!!!

OBS: a contrario sensu, a doutrina denomina DEPÓSITO REGULAR ou ORDINÁRIO


quando o objeto é coisa infungível e inconsumível, a qual deve ser restituída in
natura.

2 – NECESSÁRIO (art. 647) : o depositante não tem liberdade de escolha quanto ao


depositário por resultar de fatos imprevistos e irremovíveis » depositante confia a
guarda de coisa móvel corpórea a pessoa que desconhece a fim de evitar sua ruína ou por
resultar de obrigação legal.

ESPÉCIES DE DEPÓSITO NECESSÁRIO :


» LEGAL : quando o contrato foi previsto e regulado por lei específica.

Ex.: Lei nº 8866/94 (ler art. 1º e exemplificar), Lei 9605/99 (animais apreendidos podem
ser confiados a depositários se houver impossibilidade de atendimento imediato)

OBS.: Código Civil somente é utilizado subsidiariamente, ou seja, quando não houver lei
específica regulando o contrato de depósito necessário legal (art. 648)

IMPORTANTE : alguns doutrinadores classificam o depósito judicial como modalidade


aparte, a despeito de assim não prever o Código Civil.

» MISERÁVEL (art. 647, II) : realizado devido à situação de miséria do depositante


(onde guardar as coisas que pertencem às vítimas de desgraças, quando o depósito
público está abarrotado ?)

» POR EQUIPARAÇÃO (art. 649) : equipara-se ao depósito necessário, apesar de


alguns doutrinadores classificam-no como espécies autônoma de contrato de
depósito.

POR QUE NÃO SE TRATA DE DEPÓSITO ? A entrega da bagagem é ficta ou


presumida, haja vista que o hóspede não deixa seus pertences diretamente com o
representante do hotel.
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OBS.: ademais, este não tem direito a livre acesso aos aposentos dos hóspedes, tanto que
se for pedido que ninguém adentre ao quarto, sob qualquer argumento, não poderá o
ambiente ser ocupado por quem quer que seja, pelo tempo que for.

RATIO LEGIS : cria-se a ficção para que o depositário por equiparação tenha a
obrigação de responder pelo pertences do hóspede, bem como de vigiar para que
não sejam os mesmos extraviados da propriedade do legítimo dono.

IMPORTANTE : o equiparado depositário não pode, arbitrariamente, utilizá-las ou


remexê-las, sob qualquer pretexto. A entrega ficta tem o único fim de ser fonte da
obrigação do hotel de responsabilizar-se pelas coisas que são deixadas em depósito.

CONCLUSÃO : o depósito é considerado por equiparação porque não há depósito


concreto; o que há é um depósito presumido para obrigar o hotel a se
responsabilizar pelos bens dos hóspedes. Assim, caso venham a ser subtraídos,
responderá o hotel por perdas e danos.

RESPONSABILIDADE CIVIL :
- art. 649, parágrafo único » vide art. 1521, III e IV

- art. 650 : causas de exclusão da responsabilidade (caso fortuito e forca


maior)

CARACTERÍSTICAS DO DEPÓSITO NECESSÁRIO


1 – REAL;

2 – ONEROSO (art. 651) : gera vantagem para ambos os contratantes :

- Depositantes » ter suas coisas sob a guarda do depositário

- Depositário » receber remuneração

3 – BILATERAL : ora, como o art. 651 afirma ser o contrato de depósito necessário
oneroso, conclui-se que existem obrigações a ser cumpridas por ambas as partes.

- Depositante : remunerar

- Depositário : guardar e restituir a coisa

OBS.: não poderá o depositário exigir taxa adicional pelo depósito, pois o preço do
contrato, pelo óbvio, o inclui (art. 651, 2ª parte).

4 – NÃO-SOLENE (art. 1.283) : o grande problema nestes casos é provar o que


constituia a coisa objeto do depósito para, depois, poder exigir a restituição ou
perdas e danos.
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Ex.: o hóspede de um hotel tinha US$ 1.000,00 guardados na mala deixada no quarto »
dinheiro sumiu » e aí ? Como provar a existência da quantia para cobrá-la ?

COMARCA DE CORDEIRO : a cidade não tem hotel » promotor de justiça tem de


dormir no fórum » há somente um quarto, ou seja, não existem cama, colchão, geladeira
ou qualquer outra mínima noção de conforto, além do espaço reservado, porém vazio »
comprou um sofá e uma geladeira, as quais, forçosamente, ficaram sob a
responsabilidade do poder judiciário.

DEPOSITÁRIO INFIEL (art. 652)


NÃO IMPORTA A MODALIDADE DE DEPÓSITO ! Casos em que o depositário não
restitui a coisa (descumprimento da obrigação de depositário de devolver a coisa) por má-
fé » AÇÃO DE DEPÓSITO.

Rito da ação » especial

Sentença : condena-se o depositário a restituir a coisa, sob pena de prisão.

PRISÃO CIVIL : não constitui pena; a natureza jurídica do instituto não é


satisfativa; não tem caráter de pena; não constitui um fim em si mesmo; não é a resposta
legal pelo descumprimento da obrigação.

PRISÃO CIVIL = meio de coerção para o cumprimento da obrigação; sanção


aplicada pelo judiciário, mediante expressa previsão legal, a título de coerção para que o
réu cumpra o dever de restituir a coisa deixada em depósito.

OBS: tanto assim é que, devolvida a coisa, cumprida a obrigação inobservada pelo
réu, ele é imediatamente posto em liberdade. Não existe pena a ser cumprida, o que há
é um meio de coagi-lo a cumprir a obrigação desrespeitada.

IMPORTANTE : caso permaneça preso pelo tempo de permanência máxima e, ainda


assim, não cumpra a obrigação de restituição, o réu será condenado apenas em
perdas e danos. Não existe possibilidade de reencaminhá-lo à prisão ou de renová-la.

PRAZO máximo para a prisão civil para o depositário infiel: 1 ano (art. 659).

ATENÇÃO : existe um tratado internacional pelo qual os países signatários obrigam-se a


não levar alguém a prisão por razão de depósito. Contudo, a discussão tem diferentes
ressonâncias nas diversos ramos do direito :

- Direito Internacional Público : há uma grande controvérsia quanto à


aplicabilidade do disposto no tratado, haja vista não haver o mesmo sido
ratificado pelo Senado Federal, via Decreto Legislativo.

- Direito Civil : não se admite a aplicação do tratado porque, além de inexistir


ratificação, o própria Constituição da República prevê a prisão civil do
depositário infiel. Portanto, como o tratado é contrário à norma
constitucional e o decreto legislativo é norma inferior à supremacia
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constitucional , deverá haver, primeiro, emenda à constituição para, depois,
vigorar a nova ordem.

EXTINÇÃO ESPECIAL : o contrato de depósito extingue-se por termo resolutivo


legal : 25 anos (Lei 2313/54), além das demais causas comuns aos contratos.

VI - CONTRATO DE MANDATO (art. 653) Trata-se de representação convencional


em que o representante (mandatário) pratica atos em nome do representado
(mandante), tal qual como se o próprio o tivesse praticado, a fim de lhe adquirir
direitos, contrair obrigações ou administrar interesses.

PROCURAÇÃO : é o instrumento pelo qual se corporifica e se prova a existência de


um mandato.

CARACTERÍSTICAS
1 - CONSENSUAL : basta a manifestação de vontade de ambas as partes contratuais para
sua formação.

2 - UNILATERAL : em regra, a obrigação recai somente sobre o mandatário

EXCEÇÃO : quando o mandatário efetua gastos necessários para a conservação da


coisa, o mandante tem o dever de ressarci-los » típico caso de contrato bilateral
imperfeito, pela razão de que, às vezes, adquire a bilateralidade.

CUIDADO !!! Art. 675 é casca de banana !!! A obrigação do mandante em honrar as
obrigações contraídas pelo procurador não importa em obrigações perante o
mandatário, e sim perante terceiros !!!

ATENÇÃO (art. 675 a 681) : como o contrato é gratuito, não cabe ao mandatário
arcar com as despesas da representação, sob pena de enriquecimento sem causa.

MANDATO MEDIANTE REMUNERAÇÃO : cabe ao mandante a obrigação de


pagamento pela prestação do serviço realizado pelo mandatário » contrato bilateral.

IMPORTANTE : como não é imposta obrigação ao mandante que confira vantagem


econômica ao mandatário, não há sanção de perdas e danos em caso de extinção dos
contratos.

CONTROVÉRSIA : alguns doutrinadores (Maria Helena Diniz) classificam o contrato de


Mandato bilateral, haja vista o texto da lei.

MANDATO # PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS


- MANDATO : atos jurídicos são praticados em nome do contratante

- PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS : atos jurídicos praticados em nome


próprio
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3 – GRATUITO : em regra, o contrato gera vantagem jurídica apenas para o mandante
(art. 658).

EXCEÇÃO : mandato mediante remuneração (parágrafo único).

OBS.: o mandato não se presume gratuito quando é necessário para execução de


atividades profissionais (ex.: advogado, despachante etc.)

4 – SINGULAR ou PLURAL (art. 672 e 680)

A) SINGULAR, quando o objeto contratual será confiado a apenas um mandatário;

B) PLURAL, caso exista mais de um procurador. Subdivide-se em:

- Conjunto : se os mandatários não puderem agir separadamente

- Solidário : se puderem os procuradores agir separadamente, independente


da ordem de nomeação

- Fracionário : se a ação de cada mandatário estiver delimitada

- Substitutivo : se cada procurador somente puder agir na ausência daquele


nomeado anteriormente, ou seja, na ordem de nomeação.

5 – ESPECIAL ou GERAL (art. 660) : relativo à extensão dos PODERES outorgados


ao mandatário na órbita patrimonial do mandante.

IMPORTANTE : interpretação do mandato é sempre restrita ! Logo, qualquer ato


que possa resultar disposição de bens do mandante depende de autorização expressa
(art. 661).

OBS: atos de administração são aqueles que não importam em disposição, ou seja,
alteração da situação patrimonial.

6 – NÃO-FORMAL : em regra, o contrato pode ser firmado livremente (art. 656). Tanto
que, caso o mandatário inicie a execução do mandato, ainda que não manifeste sua
vontade ou que tenha firmado instrumento por escrito, presumir-se-á celebrado o
contrato entre as partes (art. 659).

EXCEÇÕES : art. 657; mandato judicial; art. 661, §§ 1º e 2º.

ATENÇÃO : se o mandatário não aceitar firmar contrato, deverá o quanto antes


manifestar sua vontade negativa, sob pena de pagar perdas e danos pela
inadimplência, haja vista a presunção de realização do negócio.

RECONHECIMENTO DE FIRMA : não mais é imposta tal solenidade, deixando


apenas ao arbítrio do terceiro o reconhecimento da firma do mandante (art. 654. §
2º)
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REQUISITOS SUBJETIVOS
» não podem ser mandantes por instrumento particular (art. 654) :

- os incapazes não-emancipados : a lei não prevê a representação ou


assistência;
- os analfabetos : não podem assinar a procuração

» quanto a ser mandatário :

- o menor púbere poderá ser procurador, sendo que o mandante deverá arcar
com as conseqüências em caso de má escolha (culpa in eligendo) - art. 666;
- o cônjuge pode ser procurador independente da autorização do outro.

REQUISITOS OBJETIVOS
- não podem ser objeto do mandato os atos personalíssimos (além dos
demais defesos por lei)

- o mandatário tem de manter-se nos estritos limites dos poderes que lhe
foram outorgados (art. 662), sob pena de ineficácia (salvo ratificação
posterior).

SUBSTABELECIMENTO É o ato realizado pelo mandatário que consiste na


transferência dos poderes outorgados pelo mandante a um a um terceiro a fim de
que este os exerça.

ESPÉCIES
a) COM RESERVAS : mandatário mantém para si os poderes que transferiu para
terceiros, podendo ainda praticá-los em conjuntivamente.

b) SEM RESERVAS : mandatário transfere a terceiro os poderes que lhe foram


outorgados sem mantê-los para si, funcionando, assim, o instrumento tal qual renúncia
de poderes.

RESPONSABILIDADE DOS ATOS DO SUBSTABELECIDO : a questão depende da


análise de 3 hipóteses :

a) procurador tem poderes para substabelecer : mandatário não responde pelos


danos causados pelo substabelecido, salvo se o mandante provar que houve culpa in
eligendo do mandatário na escolha do substabelecido ou lhe prestou orientações
erradas (art. 667, § 2º)

b) não há poderes expressos para substabelecer : responde o mandatário pelos


prejuízos sofridos pelo mandante em virtude dos atos culposamente praticados
pelo substabelecido (art. 667, § 4º).

OBS: o poder de substabelecer é especial, devendo constar expressamente no instrumento


do mandato.
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c) existe proibição expressa de substabelecer : mandatário responde, além dos danos


causados ao mandante, inclusive pelos prejuízos oriundos de caso fortuito, salvo se
provar que teriam ocorrido mesmo que não tivesse substabelecido (art. 667, § 1º)

OBS: neste caso, os atos praticados pelo substabelecido não obrigam o mandante
(art. 667, § 3º)

IMPORTANTE : substabelecer é ato sempre solene (escrito), porém é dispensada o


instrumento público, ainda que assim tenha se constituído a procuração (art. 655)

OBRIGAÇÕES DO MANDATÁRIO
Além das previsões expressas em lei, decorre da própria natureza do contrato as seguintes
obrigações :

a) agir dentro dos limites dos poderes que lhe são conferidos : caso venha a exorbitá-
los, estará agindo como gestor de negócios » se houver ratificação, a validade
retroage até a data da celebração do negócio, como se tivesse havido mandato regular.

OBS.: caso ocorra qualquer fato que implique em extinção contratual alheio à vontade do
mandante (morte, interdição etc), o mandato está extinto, salvo se houver risco imediato
de perecimento.

b) defender os interesses do mandante com o zelo necessário e diligência habitual :


somente haverá responsabilidade do mandatário pelo prejuízos sofridos pela
mandante se tiver agido com culpa.

c) transferir ao mandante todas as vantagens auferidas com o negócio (art. 681


confere direito de retenção, não de uso)

d) prestar contas de seus atos ao mandante

OBRIGAÇÕES DO MANDANTE : perante o mandatário, sua obrigação legal, em


última análise, é não lhe causar prejuízos, sob pena de ressarci-lo os danos.

OBS.: caso o terceiro saiba que o negócio jurídico firmado com o mandatário exorbita ou
contraria os poderes da procuração, não terá o mandante qualquer responsabilidade (art.
675 » 673)

ATENÇÃO : hipótese em que o mandatário tem direito a perdas e danos em face do


mandante » art. 683 (revogação quando há cláusula de irrevogabilidade).

EXTINÇÃO DO MANDATO (art. 682)


I - REVOGAÇÃO ou RENÚNCIA : o mandato é espécie de contrato que admite
resilição unilateral, haja vista ser direito potestativo » razão da lei : contrato que se
baseia na fidúcia (confiança)

» Revogação : ato do mandante


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» Renúncia : ato do mandatário

» Revogação tácita : mandante constitui novo mandatário (art. 687).

» Terceiro de boa fé : caso não seja o terceiro notificado da revogação do mandato,


estará o mandante vinculado, cabendo a este direito de regresso contra o procurador (art.
686)

» Art. 688 : responsabilidade do mandatário renunciante (regras e exceções).

» Art. 684 : hipóteses em que a renúncia é ineficaz.

II - MORTE ou INTERDIÇÃO : como o contrato se fundamenta na confiança, assume


a natureza intuito personae.

» Terceiro de boa fé : ato válido se não se conhecia a morte do mandante ou qualquer


outra forma de extinção do mandato (art. 689)

» Herdeiros do mandatário morto : deverão praticar tão somente atos de conservação


(art. 690 e 691)

III - MUDANÇA DE ESTADO : casos em que o mandante ou mandatário precise de


autorização do cônjuge, por exemplo.

IV - PRAZO ou CONCLUSÃO : hipótese de mandato com termo resolutivo » deverá


ser renovado, ser houver interesse.

MANDATO JUDICIAL : legislação processual tem aplicação imediata e a material


subsidiária porque o assunto é objeto de interesse de ambas as legislações (art. 692 CC).

GESTÃO DE NEGÓCIOS
NEGÓCIO UNILATERAL : não tem o caráter de contrato porque não encerra a
manifestação de uma proposta e uma aceitação.

CONCEITO (art. 861) : o objeto é o mesmo do mandato, porém não existe a


manifestação de vontade do interessado de ser representado.
IMPORTANTE : trata-se de um ato jurídico com forma livre, já que a lei não
determina nenhuma solenidade para a validade.
ATENÇÃO : assim como não cabe ao mandatário arcar com as despesas da
representação, sob pena de enriquecimento sem causa, o mesmo se aplica à gestão de
negócios.

RESPONSABILIDADE CIVIL : o gestor responderá até pelos casos fortuitos perante


o dono do negócio se ...
- Assumir a gestão contra a vontade do dominus negotii, salvo se conseguir
provar que o dano ocorreria ainda que tivesse se abstido (art. 862 e 863)
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- Escolher outrem para substituí-lo (culpa in eligendo), cabendo-lhe
direito de regresso (art. 867)

- Fizer operações arriscadas ou preterir interesses do dono do negócio em


razão dos seus (art. 868)

- O dono do negócio desaprovar a gestão (art. 874) - salvo hipótese do art.


870.

OBS: a responsabilidade é solidária se houver mais de um gestor (art. 867, parágrafo


único)

DEVERES DO GESTOR :
- comunicar o dono do negócio sobre sua gestão o quanto antes;

- agir com zelo habitual do homem médio

- ressarcir os danos gerados por sua culpa

- velar pelo negócios geridos até seu termo final ou até receber instruções do
dono ou dos seus herdeiros (caso aquele faleça)

EQUIVALÊNCIA AO MANDATO : art. 869; 870 e 873


» ART. 871 e 872 : efeitos decorrentes do cumprimento da obrigação por terceiro que
solve a dívida em nome próprio.

» ART. 872 : gestor assume a posição de credor perante a pessoa obrigada a arcar
com os ônus descritos no preceito legal.

VII - CONTRATO DE FIANÇA (ou CAUÇÃO FIDEJUSSÓRIA) É a promessa,


realizada por uma ou mais pessoas, de satisfazer a obrigação de um devedor caso
este não cumpra a prestação objeto do contrato (debitum), ficando assegurado ao
credor o direito de responsabilizar o fiador patrimonialmente (obligatio).
OBS: qualquer obrigação pode ser garantida por fiança !!!

CARACTERÍSTICAS
1) ACESSORIEDADE : o contrato de fiança é sempre acessório ao outro negócio ao
qual serve de garantia. Logo, seguirá a sorte daquele.
LEMBRAR : negócio acessório somente existe se houver um principal e segue a sua
sorte - a recíproca NÃO é verdadeira.

PORTANTO : a validade e a exigibilidade da fiança dependerá de a obrigação


principal também sê-lo.

EXCEÇÃO : incapacidade do devedor torna a obrigação principal nula, porém a fiança é


válida (art. 824), salvo hipótese do art. 588 (obrigação natural).

2) UNILATERALIDADE : somente o fiador assume obrigações.


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3) GRATUIDADE : gera vantagens somente ao afiançado.

4) SUBSIDIARIEDADE : em regra, o fiador responde pelo inadimplemento da


obrigação somente após esgotado o patrimônio do devedor » benefício de ordem.

5) FORMALIDADE : o contrato de fiança é solene, na medida em que somente pode


ser realizado por escrito (art. 819)

REQUISITOS SUBJETIVOS
- Nem todos estão livres para afiançar » existem impedimentos legais.
Ex.: os cônjuges, pois precisam da autorização do outro; o mandatário
necessita de poderes expressos etc.
- Não é obrigatória a anuência do devedor para a celebração do contrato
de fiança » bastam o credor e o fiador (art. 820)

- O credor tem o direito potestativo de exigir novo fiador caso haja


insolvência ou incapacidade SUPERVENIENTE (art. 826)

REQUISITOS OBJETIVOS
- Pode a fiança garantir tanto uma obrigação presente quanto futura;
- Não poderá a fiança ultrapassar o valor do débito principal, nem ser mais
onerosa

- Pode ter por objeto outra fiança (fiador do fiador)

ESPÉCIES
- FIANÇA CONVENCIONAL : tem por fonte um contrato;

- FIANÇA LEGAL : nasce por força de lei (ex.: art. 260, II; 495)

- FIANÇA JUDICIAL : nasce em razão dos procedimentos judiciais (art. 588,


I e art. 925, ambos do CPC)

BENEFÍCIO DE ORDEM
- CONCEITO E PROCEDIMENTO : art. 827

- EXCEÇÃO (casos em que não se poderá argüir o benefício) : art. 828

SOLIDARIEDADE EM FIANÇA CONJUNTA


- REGRA : solidariedade entre fiadores quando houver vários fiadores para
uma mesma dívida (art. 829)

- EXCEÇÃO : quando firmado benefício de divisão » cada devedor se torna


responsável apenas por sua quota (obrigação divisível) - parágrafo único

INSOLVÊNCIA DO FIADOR : credor poderá exigir sua imediata substituição (art. 826)
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INSOLVÊNCIA DO CO-FIADOR : sua responsabilidade é distribuída entre os demais
(art. 831, parágrafo único)

EFEITOS DO PAGAMENTO
- REALIZADO PELO FIADOR : sub-rogação nos direitos do credor +
reembolso sobre tudo o que pagou + perdas e danos pelo que sofrer +
juros convencionais (na sua falta, legais)

- REALIZADO PELO CO-FIADOR : em relação ao afiançado, o mesmo já


descrito; em relação aos demais fiadores, somente poderá cobrar,
subsidiarimante, a quota de cada um (art. 831)

OBS.: é a mesma regra » não existe solidariedade entre credores e entre devedores.

DEMAIS EFEITOS DA FIANÇA


A) O fiador tem direito a promover o andamento da execução judicial iniciada em
face do devedor em caso de desídia do credor (art. 834 CC e 567, III CPC)

RAZÃO : evitar que o devedor se torne insolvente antes de encerrada a execução »


finalidade : fiador não ser atingido graças ao benefício de ordem ou poder encontrar
bens quando sub-rogar-se.

B) EXONERAÇÃO DO FIADOR (art. 835) : pode o fiador ser exonerado tanto


mediante acordo quanto mediante sentença, sendo que :
- a fiança tenha sido celebrada por tempo indeterminado (atenção : contratos
de locação por tempo indeterminado)

- permanece responsável pelo prazo de 60 dias a contar da data da notificação

SUGESTÃO : notificar pelo Cartório de Registro de Títulos e Documentos (segurança no


que tange à prova)

C) MORTE DO FIADOR (art. 836) : a responsabilidade é assumida pelos herdeiros,


sendo que :
- não respondem pelas dívidas originadas após a morte do fiador

- responsabilidade limitada às forças da herança

EXTINÇÃO DA FIANÇA (além dos demais casos comuns aos contratos)


a) ADVENTO DO TERMO RESOLUTIVO;

b) CONVENIÊNCIA DO FIADOR : quando o contrato assinado por tempo


indeterminado (art. 836)

c) EXCEÇÕES PESSOAIS ou EXTINTIVAS DA OBRIGAÇÃO PRINCIPAL : desde


que não provenham simplesmente da incapacidade pessoal do devedor

» Ex. exceções pessoais : art. 366; 371; 844, § 1º


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» Ex. exceções extintivas : obrigações nulas; prescritas; pagamento

OBS.: a prescrição interrompida por ato contra o devedor prejudica o fiador também (art.
204, § 3º)

d) HIPÓTESES DO ART. 838

OBS.: inciso III » dação em pagamento

INSOLVÊNCIA SUPERVENIENTE DO DEVEDOR (art. 839) : para extinção da


fiança, é preciso que : tenha o fiador feito uso do benefício de ordem + tenha indicado
bens do devedor que, à época, eram suficientes para satisfação da dívida + desídia do
credor.

1. DIREITOS REAIS

1.1. Conceito: É o conjunto de normas que estabelece a relação potestativa entre a


pessoa e os bens; é o estudo da dinâmica da propriedade (o cerne do direito real é a
propriedade).

De um lado estudam-se os direitos reais sobre coisas alheias; de outro, estuda-


se a posse (não é direito real e, sim, uma situação de fato, protegida, por se enxergar
no possuidor a pretensão da propriedade); e, no meio, estuda-se a propriedade.

1.2. Características

DIREITOS PESSOAIS DIREITOS REAIS

SA SB SA SB
Credor Devedor Proprietário Indeterminado

Relação de Relação
Objeto Objeto
Poder Jurídica
Relação Dívida
Jurídica }Responsabilidade

1.2.1. Eficácia “erga omnes”: O direito real pode gerar efeitos contra todos, tendo em
vista ser o sujeito passivo indeterminado e haver publicidade dos atos processuais.

1.2.2. Direito de seqüela: É o vínculo de subordinação da coisa e da pessoa. Esse


vínculo vem alicerçado em dois princípios:

princípio da aderência: é o princípio segundo o qual o titular do direito real pode ir atrás
do bem aonde quer que ele se encontre (princípio positivo);
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princípio da ambulatoriedade: é o princípio segundo o qual todos os ônus da coisa–
como tributos, despesas condôminas etc.– acompanham a coisa, aonde quer que ela vá
(princípio negativo).

1.2.3. Ação real: Os direitos reais e a posse têm uma tutela diferenciada pela
Teoria do Processo, tendo em vista a garantia da celeridade dentro do sistema. As duas
principais características da ação possessória são:

fungibilidade: o pedido é fungível, ou seja, nas relações jurídicas da ação possessória, o


pedido poderá ser mudado, se houver mudança da situação de fato;

duplicidade: não há reconvenção, é um pedido contraposto.

1.2.4. Exclusividade

Não existem dois titulares com direitos reais análogos, ou seja, duas pessoas não
podem exercer o mesmo direito real sobre a mesma coisa. No caso de condomínios, esses
não ferem a exclusividade, tendo em vista que cada condômino exerce o seu direito real
sobre parte ideal.

1.2.5. Privilégio

O crédito real não se submete à divisão, tendo em vista a existência de uma ordem
entre os credores, estabelecida por meio do princípio cronológico, ou seja, aquele que
primeiro apresentar o crédito em cartório será o credor privilegiado.

1.2.6. Prescrição aquisitiva

Somente no direito real a passagem do tempo poderá gerar aquisição de direitos. Não
basta, no entanto, somente a passagem do tempo, deverá haver um ato da outra parte (por
exemplo: um sujeito possui um imóvel e passa 20 anos sem ir até ele; a simples passagem do
tempo não prescreve o direito de propriedade; no entanto, se terceira pessoa toma posse do
imóvel, a passagem do tempo, combinada com o ato de posse dessa pessoa, faz com que o
sujeito “perca” o seu direito à propriedade).

1.3. Classificação

O direito real, segundo o disposto no artigo 1.225 do Código Civil, classifica-se em:

direito real sobre coisa própria;

direito real sobre coisa alheia.

1.3.1. Direito real sobre coisa própria

O único direito real sobre coisa própria é a propriedade, que confere o título de
dono ou domínio. Normalmente, a propriedade é ilimitada ou plena, conferindo poderes
de uso, gozo, posse, reivindicação e disposição.

1.3.2. Direito real sobre coisa alheia


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É o desmembramento do direito real sobre coisa própria. Poderá somente ser
temporário, visto que, dentro do princípio da elasticidade, a coisa tende a voltar à
situação original, que é a propriedade plena. Divide-se em três grupos:

Direito real de fruição: é o desmembramento em relação ao uso da coisa. Pode ser


enfiteuse, servidão, usufruto, uso e habitação.

Direito real de garantia: é o desmembramento em relação à disposição da coisa (limita o


direito de disposição). Se não cumprida a obrigação principal, o credor irá dispor da
coisa. Pode ser hipoteca, penhor e anticrese.

Direito real de aquisição: é o desmembramento do direito de aquisição. O titular


transmite a propriedade para terceiros, paulatinamente. Pode ser compromisso
irretratável de compra e venda, e alienação fiduciária em garantia.

Observação: Existem divergências quanto à natureza jurídica da renda constituída


sobre imóveis, havendo alguns autores que entendem tratar-se de um direito de fruição, e
outros que entendem tratar-se de um direito de garantia.

Para alguns autores, essa classificação é exemplificativa. Majoritariamente, no


entanto, os autores entendem que a classificação é taxativa, tendo em vista que o
direito real é um direito público, que deve ser registrado e, ainda, porque não se pode
limitar direitos de terceiros, a não ser por expressa criação legal. Não há, portanto, de se
falar em elaboração de novos direito reais por particulares.

Esse rol do artigo 1.225 é taxativo, mas é rol não exaustivo, visto que os
direitos reais de aquisição foram criados por normas especiais, adotando-se o
princípio da taxatividade.

2. POSSE

2.1. Conceito

Para SAVIGNY (SUBJETIVA), posse é “a possibilidade de disposição física da


coisa com ânimo de tê-la como sua (animus domini) e de defendê-la contra
terceiros”.

Para IHERING (OBJETIVA), posse é “a exteriorização ou visibilidade do


domínio” - affectio tenendi (bastaria o ato de propriedade para ser possuidor).

O nosso sistema jurídico adota com maior intensidade o conceito de IHERING, no


entanto, não é um conceito puro, visto que o conceito de SAVIGNY também foi utilizado
pelo Código Civil (USUCPIÃO).

Para o Prof. WALD, posse é “uma situação de fato que gera conseqüências
jurídicas”. Protege-se essa situação de fato, visto que há uma hipótese de que, naquela
situação de fato, exista um proprietário.
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2.2. Teorias

2.2.1. Teoria subjetiva (SAVIGNY)

Nessa teoria tem-se um elemento objetivo (corpus), que é a relação material


estabelecida com a coisa, e tem-se um elemento subjetivo (animus rem sibi habendi), que
é a vontade de ter a coisa como sua.

Estabeleceram-se esses dois elementos para se distinguir posse de mera detenção,


visto que em ambas as figuras existe a relação material com a coisa. Na detenção, no
entanto, essa relação material não gera efeitos jurídicos.

2.2.2. Teoria objetiva (IHERING)


Nessa teoria tem-se apenas o elemento objetivo (corpus). Afirma-se que o animus
está inserido no corpus e que o elemento subjetivo é dispensável. Essa teoria é adotada
pelo Direito brasileiro, não havendo, então, necessidade de comprovar o animus.

2.3. Natureza Jurídica

SAVIGNY afirmava que a posse é um direito real, tendo em vista os efeitos serem
reais.IHERING afirmou que não se pode dizer que a posse é um direito real, visto que não
existe registro, sendo, então, um direito pessoal.

O sistema brasileiro, no entanto, adota outro entendimento, no qual a posse é tão-


somente um fato, não sendo direito real, nem pessoal.

2.4. Efeitos

Em primeiro lugar deve-se distinguir jus possidendi e jus possessionis. Jus


possidendi é a posse que tem por substrato uma propriedade – é o proprietário-
possuidor. Jus possessionis é a posse que não tem substrato jurídico. Tem por
substrato uma mera situação de fato.

A posse tem três efeitos básicos:

Proteção possessória (interdicta): é a tutela possessória, que consiste em a pessoa poder


se valer do instrumento processual para proteger a relação jurídica. São as ações de
manutenção, de reintegração e o interdito proibitório.

Usucapião: é a possibilidade de transformar a posse em propriedade.

Legítima defesa da posse (desforço pessoal da posse): sistema de autotutela.

Esses efeitos, entretanto, variam no jus possidendi e no jus possessionis:

No jus possessionis o titular terá as tutelas de possuidor-não-proprietário, quais


sejam: proteção possessória, usucapião e legítima defesa da posse.

2.5. Espécies
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2.5.1. Posse direta e posse indireta

A posse direta decorre da efetiva relação material entre a pessoa e a coisa. A posse
indireta nasce por meio de uma ficção, pela qualidade jurídica do titular do direito. Essa
classificação somente será possível no jus possidendi, e poderá acontecer tanto nos
contratos (consensuais ou reais) quanto nos direitos reais limitados (exemplo: usufruto).

Essa classificação tem o efeito de proteção possessória. No caso da posse indireta,


o proprietário será o possuidor indireto da coisa. O possuidor direto tem prerrogativa
possessória, mas não poderá usucapir a coisa, tendo em vista a posse ser precária
(estabelecida por uma relação de confiança), existindo a proteção à posse indireta.

2.5.2. Posse justa e posse injusta

A posse justa é aquela que está em conformidade com o ordenamento jurídico. A


posse injusta é aquela contrária ao ordenamento jurídico, podendo ser:

violenta: obtida mediante força física injustificada;

clandestina: obtida às escondidas; não havendo a prática de ato material, como


plantações ou construções;

precária: obtida por meio de uma relação de confiança entre as partes, mas retida
indevidamente.

A posse injusta poderá tornar-se justa quando o vício for sanável. Esse vício será
sanado após um ano e um dia, cessada a violência ou a clandestinidade. A precariedade,
entretanto, não convalesce jamais, ou seja, o vício não poderá ser sanado.

2.5.3. Posse de boa-fé e posse de má-fé

Trata-se aqui do elemento subjetivo da posse. A posse de boa-fé é aquela cujo titular
desconhece qualquer vício que macule a posse. A posse de má-fé se dá quando o titular sabe
do vício. No nosso sistema, prevalece a presunção da posse de boa-fé, tendo o titular direito a
frutos, benfeitorias e à retenção e notificação.

2.5.4. Posse “ad interdicta” e posse “ad usucapione”

A posse ad interdicta visa à proteção possessória. A posse ad usucapione é


aquela que visa à aquisição do domínio, da propriedade.

2.5.5. Posse nova e posse velha

É a questão temporal da posse. A posse nova é aquela cujo prazo não excede um
ano e um dia. A posse velha é aquela superior a um ano e um dia. A importância dessa
distinção é que um dos requisitos, para que seja concedida a liminar na ação
possessória, é que o possuidor não tenha deixado ultrapassar um ano e um dia.

2.5.6. Posse natural e posse civil


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Posse natural é aquela que decorre da relação material entre a pessoa e a coisa. Posse
civil é aquela que decorre de lei. A posse civil pode ser de três formas:

Constituto possessório: é uma forma de aquisição e de perda da posse em que o


possuidor pleno passa a ser apenas possuidor direto da coisa (ex.: alienação de um
imóvel em que o alienante continua no imóvel como locatário). O constituto
possessório jamais pode ser presumido, devendo vir expressamente disposto, por meio
da “cláusula constituinte”, no contrato entre as partes.

Traditio brevi manu: é aquela situação em que o possuidor direto passa a ser possuidor
pleno da coisa.

Traditio longa manu: o possuidor da coisa, apesar de não ter tido disponibilidade
material plena, por ficção, passa a tê-la (ex.: adquire-se uma fazenda de vários
hectares; presume-se que, se o adquirente tomar posse de apenas uma pequena área,
estará tomando posse de toda a área, ficticiamente).

2.5.7. Posse quase-posse e composse

Posse quase-posse é aquela que decorre dos direitos reais limitados sobre
coisa alheia (exemplo: posse do usufrutuário, posse do usuário etc.).

Composse é a posse comum, exercida por duas ou mais pessoas, sobre parte
ideal da coisa. A composse gera dois efeitos:

os compossuidores podem exercer proteção possessória e usucapião;

os compossuidores podem exercer proteção possessória uns contra os outros.

2.5.8. Posse pro diviso e posse pro indiviso

Posse pro diviso é aquela exercida sobre parte específica da coisa. Posse pro
indiviso é aquela exercida sobre parte ideal.

2.6. Aquisição da Posse

O atual Código Civil, no seu artigo 1.204, por adotar a teoria de Ihering apenas
estabelece: "Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o
exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade".

2.6.1. Classificação dos modos de aquisição da posse

a) Quanto ao ato de vontade

Unilateral:

disposição;

apreensão: res nullius, quando for coisa de ninguém, ou res derelicta,


quando for coisa abandonada;
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exercício do direito.

Bilateral:

É a posse por contrato (tradição). Na relação contratual, a tradição (entrega da


coisa) pode acontecer de três maneiras:

efetiva: ocorre a entrega da própria coisa na relação contratual;

simbólica: não ocorre a entrega da coisa e, sim, da representação da mesma


(chaves);

constituto possessório: não ocorre a entrega efetiva da coisa e, sim, uma mera ficção.

b) Quanto aos efeitos

Originária: é aquela em que não existe relação de causalidade entre o possuidor


atual e o possuidor anterior (ex.: esbulho).

Derivada: é aquela em que existe o nexo de causalidade entre o possuidor atual e o


possuidor anterior (ex.: com a morte do pai, a posse transmite-se ao filho).

Os efeitos que decorrem dessa classificação são:

Ninguém pode transmitir mais direitos do que tem, ou seja, a posse é


transmitida com o mesmo caráter que ela possui (ex.: havendo posse
precária, se transmitida, ainda será precária).

Acessão da posse: é a soma do tempo da posse atual com o da posse anterior,


na posse derivada. Jamais poderá acontecer na posse originária, tendo em
vista que há necessidade de nexo de causalidade para que seja somado o
tempo.

2.6.2. Aquisição a título universal

É a aquisição do conjunto de bens e direitos do indivíduo. Só ocorre na hipótese


de causa mortis, ou seja, não se transmite a universalidade de bens a não ser por herança.
Essa transmissão se dá, sempre, pelo modo derivado. O bem nunca pode ficar sem um
titular (Princípio da Saisine), ou seja, quando morre o titular do bem, esse bem será
imediatamente transmitido para os seus herdeiros.

2.6.3. Aquisição a título singular

Pode se dar inter vivos ou causa mortis (legado). A transmissão do legado pode se
dar tanto pelo modo originário quanto pelo modo derivado, dependendo da vontade do
legatário (artigo 1.207 do Código Civil), ou seja, o legatário irá escolher se a
transmissão se fará pelo modo derivado ou pelo modo originário.

2.7. Sujeitos

2.7.1. Parte
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É aquele que tem a relação material com a coisa. É o chamado titular. O
incapaz, para adquirir posse, não precisa estar representado ou assistido, tendo em
vista ser a posse uma relação material e não jurídica.

2.7.2. Procurador

É aquele que recebe, numa relação contratual, o poder de exercer a posse em nome
de outrem.

2.8. Perda da Posse

Perde-se a posse por meio de três vias: perda do corpus, perda do animus, ou
perda do corpus e do animus.

2.8.1. Perda do corpus

Perde-se o corpus nas seguintes hipóteses:

a) Perecimento

O artigo 78 do Código Civil de 1916 informava as hipóteses de perecimento:

perda das qualidades essenciais ou valor econômico (o valor econômico é


fundamental, tendo em vista ser a diferenciação entre coisa e bem);

quando se torna intangível ou inseparável de outro bem.

b) Fora do comércio, portanto, inalienável

Perde-se o corpus somente em relação a alguns efeitos decorrentes da posse.

c) Afastamento

Perda da relação material com a coisa.

2.8.2. Perda do “animus”

Perde-se o animus por meio do constituto possessório

2.8.3. Perda do “corpus” e do “animus”

Perde-se o corpus e o animus pela tradição ou pelo abandono, tendo em vista que
eles cessam os efeitos decorrentes da relação material com a coisa.

Observação: Pelo disposto no artigo 1.209 do Código Civil, presume-se que o


possuidor do bem imóvel é possuidor de todos os bens móveis que o compõe
(presunção juris tantum), ou seja, ocorre a inversão da prova. Como decorrência
disso temos um princípio no direito de família, qual seja: “Todos os bens móveis no
casamento pertencem à comunhão”.
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Observação: O artigo 1.224 do Código Civil apresenta o princípio de
aderência (direito de seqüela) dos bens móveis. Estabelece, no caso de perda ou
de furto, o direito de seqüela, ou seja, o titular pode ir atrás do bem onde ele
estiver. A doutrina entende, por meio do princípio da simetria do direito
(aplicação de efeitos a institutos análogos), que esse artigo será estendido ao
roubo, não podendo, entretanto, ser estendido ao estelionato e à apropriação
indébita, tendo em vista, nesses dois casos, haver a entrega voluntária da coisa.
Só haverá o direito de seqüela enquanto não houver o usucapião do objeto
móvel.

2.9. Efeitos da Posse

2.9.1. Legítima defesa da posse

Também chamada de desforço físico, é a auto-tutela, em que o titular, usando


meios moderados, repele turbação ou esbulho na posse.

Os requisitos são os mesmos da legítima defesa em Direito Penal, tendo em vista


não existir diferença entre a responsabilidade civil e a responsabilidade penal. São eles:

uso dos meios necessários; moderação; ocorrência de injusta agressão; atual ou


iminente; posse.

Na hipótese de excesso na legítima defesa da posse, sendo doloso ou culposo,


aplica-se o artigo 186 do Código Civil, gerando indenização, ou seja, o excesso não
gera a perda da posse, mas sim uma indenização.

2.9.2. Acessórios da coisa

São os frutos e as benfeitorias. Os frutos são melhoramentos internos da coisa,


ou seja, aumento da qualidade ou quantidade interna da coisa.

As benfeitorias são acréscimos externos da coisa, ou seja, aumento da


qualidade ou quantidade externa da coisa.

Os frutos podem ser:

materiais: decorrem da natureza;

industriais: decorrem da mão humana;

legais: decorrem da lei.

As benfeitorias podem ser:

necessárias: aquelas indispensáveis à manutenção da coisa, ou seja, o acréscimo


mantém o valor econômico da coisa;
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úteis: aquelas que aumentam a qualidade econômica da coisa por gerar maior
utilidade;

voluptuárias: aquelas que aumentam substancialmente o valor econômico da coisa


para lhe garantir maior deleite.

Existem três princípios que regem a matéria:

acessório segue o principal: quem possui o principal possui também o acessório;

res perit domino: a coisa perece para o dono;

princípio da boa-fé: existe a presunção de boa-fé; ou seja, no silêncio, presume-se a


posse de boa-fé

2.9.3. Efeitos da posse de boa-fé

a) Em relação aos frutos

O possuidor de boa-fé terá direito aos frutos percebidos e colhidos, direito aos
frutos pendentes, e direito à indenização pela produção e custeio (todos os aparatos
da coisa).

b) Em relação às benfeitorias

O possuidor tem direito a indenização plena pelas benfeitorias necessárias,


úteis e voluptuárias, direito de retenção pelas benfeitorias necessárias e úteis
(poderá reter a coisa até que seja indenizado) e direito a levantar as benfeitorias
voluptuárias se não houver indenização por elas.

c) Em relação à deterioração

Em tese, o possuidor é irresponsável pela deterioração natural. Tem


responsabilidade subjetiva.

2.9.4. Efeitos da posse de má-fé

a) Em relação aos frutos

O possuidor de má-fé tem obrigação de devolução dos frutos percebidos e


colhidos, perderá os frutos pendentes e tem o direito de ser indenizado pela
produção e custeio (visa ao não enriquecimento indevido de terceiros)

b) Em relação às benfeitorias

O possuidor perderá as benfeitorias úteis e voluptuárias, terá direito à


indenização pelas benfeitorias necessárias e não poderá reter a coisa, nem levantar,
se não houver indenização por elas.

c) Em relação à deterioração
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O possuidor de má-fé tem responsabilidade objetiva. Será responsável por
qualquer perecimento, só podendo se eximir se demonstrar que a deterioração ocorreria em
qualquer hipótese. Há a inversão do ônus da prova.

2.9.5. Prescrição aquisitiva (usucapião)


É um efeito possessório. A passagem do tempo com uma relação de posse gera a
propriedade. É a única em que o proprietário não tem publicidade, tendo em vista
que a sentença do juiz, no usucapião, é meramente declaratória, não havendo
registro. Nesse caso, a propriedade é adquirida com o decurso do tempo, independente
de haver ou não registro.

Existem dois sistemas regendo essa matéria:

Constitucional: trata de imóvel. Trabalha com duas hipóteses: pro labore e pro misero.
Ambas tem prazo de cinco anos.

Legal (Código Civil): trata de móvel e imóvel. Trabalha com cinco hipóteses– nos
móveis: extraordinário (5 anos) e ordinário (3 anos); nos imóveis: extraordinário
(15 anos) e ordinário (10 ou 5 anos). Menciona ainda as duas modalidades
constitucionais e usucapião coletivo (artigo 1228, § 4.º, do Código Civil).

3. AÇÕES POSSESSÓRIAS (INTERDITOS POSSESSÓRIOS)

Existem dois grupos de ações possessórias:

Típicas: são aquelas que tratam da relação material da pessoa com a coisa. Podem ser:
reintegração de posse, em caso de esbulho; manutenção de posse, em caso de
turbação, ou interdito proibitório, em caso de ameaça.

Atípicas: são aquelas que tratam, além da relação material, da relação jurídica e suas
conseqüências no sistema jurídico. Podem ser: embargos de terceiros possuidores,
nunciação de obra nova, ou imissão de posse (necessita de título).

Observação: Exceptio domini ou exceptio proprietatis: é o fenômeno segundo o


qual o réu alega, na defesa, ser titular do domínio nas ações possessórias.

Quanto à alegação de domínio (exceptio domini) nas ações possessórias, existem


duas posições:

Artigo 505 do Código Civil de 1916: “Não obsta à manutenção, ou reintegração na posse, a
alegação de domínio ou de outro direito sobre a coisa. Não se deve, entretanto, julgar a
posse em favor daquele a quem evidentemente não pertencer o domínio”. O artigo 505,
em sua primeira parte, dispõe que não se pode alegar domínio sobre a coisa; entretanto, na
segunda parte, dispõe que não se deve julgar em favor daquele que não tem o domínio.

Artigo 923 do Código de Processo Civil: “Na pendência do processo possessório, é


defeso, assim ao autor como ao réu, intentar a ação do esbulho cometido pelo
autor”. O artigo 923 proíbe a alegação de domínio sobre a coisa, em caso de ação
possessória.
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Regra geral, portanto, em matéria possessória, o juiz não irá decidir domínio;
entretanto, existem duas exceções a essa regra:

Súmula n. 487 do Supremo Tribunal Federal: se as duas partes fundamentarem a


posse em propriedade (se os dois alegarem ser proprietários), o juiz deverá julgar
pela propriedade.

Julga-se pelo domínio quando não se prova posse, ou seja, se nenhuma das partes provar
a posse, o juiz julgará pelo domínio.

O Novo Código Civil sepulta todo o problema no seu artigo 1.210, § 2.º, pois
determina: "Não obsta a manutenção ou reintegração na posse a alegação de
propriedade, ou de outro direito sobre a coisa". Portanto, pelo novo sistema
não existe "exceptio proprietatis", não podendo ser adotada a Súmula 487 do
Supremo Tribunal Federal.

As ações possessórias, no Código de Processo Civil, são tratadas com quatro


regras fundamentais, quais sejam:

a) Duplicidade

É a hipótese em que a ação possessória dá cognição plena ao juiz,


independentemente da reconvenção. O réu contrapõe, na mesma ação, pedido
possessório. Não existe reconvenção: a contestação tem caráter de reconvenção. O
fundamento dessa regra é a celeridade e, por ser posse, é uma situação de fato.

b) Fungibilidade

A ação possessória pode ter seu pedido alterado no curso da demanda possessória,
entretanto, somente no que diz respeito à tutela possessória. É a mutabilidade do pedido
no curso da demanda.

c) Cumulatividade

O pedido não precisa ser exclusivamente possessório. Poderão ser pedidos,


também, indenização, perdas e danos, e multa. Tem todo um caráter patrimonial, visto
que, além da situação possessória, pode-se cumular quanto ao patrimônio.

d) Rito próprio

É um rito especial para a demanda possessória. Começa com uma petição inicial,
que possui os requisitos gerais do artigo 282 e requisitos específicos de ação possessória:

existência da posse;

existência de turbação, esbulho ou ameaça;

data da turbação, esbulho ou ameaça, para fins de liminar (1 ano e 1 dia);

perda ou manutenção da posse.


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Uma vez presentes esses requisitos, o juiz poderá, ao despachar a inicial, praticar
três atos:

indeferir a inicial;

conceder liminar, sem ouvir a parte contrária;

determinar audiência de justificação: diante da impossibilidade de concessão da liminar,


de plano, poderá o juiz determinar audiência de justificação acerca das determinações
do artigo 927 do Código de Processo Civil.

O réu deve ser citado para a audiência de justificação. Nessa audiência, o réu não
pode apresentar suas testemunhas; não precisa apresentar resposta e não pode apresentar
alegações no termo de audiência. O réu pode contraditar testemunhas do autor e
reperguntar às testemunhas. A partir da audiência de justificação começa a fluir o prazo
para resposta, que será de 5 dias. No mais, segue o rito ordinário da Parte Geral do
Código de Processo Civil.

3.1. Ação de Imissão na Posse

Não existe essa tutela no sistema jurídico brasileiro. Era prevista no Código de
Processo Civil de 1939, entretanto, no Código de Processo Civil de 1970 não foi incluída.

É a ação do proprietário não-possuidor (adquirente) contra o possuidor não-


proprietário (alienante). É uma ação típica de proprietário. Inexistindo um rito especial, a
imissão na posse estará revestida de uma ação ordinária ou uma execução de entrega de
coisa certa.

3.2. Nunciação de Obra Nova

É a paralisação de obra nova. É a ação promovida pelo proprietário, possuidor ou


município, para as hipóteses em que haja dano ou desobediência à postura legal ou
administrativa. Tem legitimação para agir:

proprietário ou possuidor contra qualquer espécie de dano causado pelo vizinho;

condômino contra modificação da coisa comum;

município, sempre que houver desrespeito ao Código de Obras ou desobediência à


postura legal.

O pedido na nunciação de obra nova, além da paralisação da obra, pode ser de


modificação ou demolição da coisa, de indenização, ou de multa.

Notificação verbal é um ato formal pelo qual o proprietário ou possuidor


comparece na obra nova, acompanhado de duas testemunhas, e paralisa verbalmente a
construção. A única eficácia que teria esse procedimento é que, na procedência final do
pedido, a incidência de multa pode ocorrer da data da notificação verbal ratificada
judicialmente.
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Segue-se o mesmo procedimento das ações possessórias. O indeferimento da
inicial pode ocorrer quando o juiz julga que a obra já não é mais nova, visto estar na fase
final de acabamento.

Nessa ação, o prazo de contestação, nos termos do artigo 938 do Código de


Processo Civil vigente é de 5 dias, contados da juntada aos autos da citação feita pelo
oficial de justiça, deferido ou não o embargo, ou da audiência de justificação prévia,
quando o juiz considerar necessária a sua realização.

No caso de nunciação de obra nova proposta contra condôminos com procuradores


diferentes, aplicar-se-á o disposto no artigo 191 do mesmo diploma, caso não haja
substituição processual por um deles (quando apenas um vem a juízo na defesa de
interesses próprios e de terceiro). Logo, nesta hipótese (procuradores diversos para
litisconsortes no pólo passivo), tem-se o prazo em dobro para apresentar contestação (10
dias, contados conforme acima).

3.3. Embargos do Terceiro Possuidor

É a tutela que garante ao terceiro, que não é parte nem terceiro interveniente em
processo de conhecimento ou de execução, a prerrogativa de obter tutela possessória, a fim
de resguardar a relação material de constrição judicial. O prazo para a interposição desses
embargos, na ação de conhecimento, corre até o trânsito em julgado da sentença; e, na ação
de execução, é de 5 dias contados da hasta pública positiva, ou cinco dias antes da assinatura
da carta.

O rol do artigo 1.046 do Código de Processo Civil é meramente


exemplificativo. É possível que um possuidor obtenha liminar nos embargos do
terceiro possuidor, desde que caucione.

3.4. Actio Damni Infecti

É a tutela que tem o possuidor ou proprietário contra risco futuro, que possa
incidir em sua propriedade, proveniente de futura obra de terceiro. É uma preliminar
de nunciação de obra nova. Não há obra nova, serve para resguardar-se de futuro
prejuízo que aquela futura obra possa causar. É uma ação ordinária.

3.5. Ação Publiciana: É uma ação de caráter reivindicatório, na qual o possuidor,


que não tem prazo para o usucapião, mas está em vias de alcançá-lo, requer
proteção possessória cumulada com proteção para futura aquisição de domínio.

O possuidor tem posse justa, prazo próximo para usucapião e justo título, e requer
que seja mantido na posse até que seja completado o prazo. Não se pode propor ação
publiciana contra o proprietário, visto que não há prazo e, em regra, o direito possessório
é imprescritível.

4. POSSE SOBRE SERVIDÕES: Servidão é um direito real limitado em que o


terceiro pode utilizar a coisa alheia. Para que gere um efeito possessório, são
necessárias duas características:
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a servidão deve ser aparente (aquela em que há atos materiais exteriores);

a servidão deve ser contínua (práticas constantes desses atos materiais possessórios).

A servidão de trânsito ou de passagem é aparente, mas não é contínua (a


posse pode ser esporádica). De acordo com o artigo 1.213 do Código Civil, a servidão
de trânsito ou de passagem não pode gerar efeitos possessórios; entretanto, a Súmula n.
415 do Supremo Tribunal Federal dispõe que, ainda que não haja continuidade, essa
servidão gera efeitos possessórios.

1. PROPRIEDADE 1.1. Conceito: É uma garantia fundamental do homem


(artigo 5.º, caput, da Constituição Federal/88). A lei prevê a inviolabilidade, possuindo a
propriedade status de direito fundamental. É a garantia fundamental do homem, que dá a
esse o poder de usar, gozar e fruir da coisa, tendo poder sobre ela, mas também limitações
econômicas e sociais.

O conceito de propriedade passou por três fases históricas: sistema do liberalismo,


interesse estatal e neoliberalismo.

1.1.1. Sistema do liberalismo

A propriedade é vista como direito privado, por isso foi colocada no Código
Civil. O Estado não intervém na propriedade, sendo essa absoluta e ilimitada (poder
pleno da pessoa sobre a coisa).

1.1.2. Interesse estatal

A propriedade passa a ser direito público, ganhando algumas limitações


administrativas, quais sejam:

Requisição: o ente público pode se valer da propriedade e depois


indenizar;

Desapropriação por interesse social: antes era somente por utilidade


ou necessidade pública.

1.1.3. Neoliberalismo

A propriedade volta a ser direito privado, porém, desde que seja cumprida a
função suprameta-individual. É uma proteção da coletividade e não do Estado.
Surgem os interesses difusos e coletivos, com o controle desses interesses.

1.2. Estrutura da Propriedade (Artigo 1.228, "caput", do Código Civil)

1.2.1. Externa

Na estrutura externa, o sujeito ativo é o dominus (titular), o sujeito passivo são


todos (eficácia erga omnes) e o objeto são todos os bens com apreciação econômica.
A relação jurídica estabelece só o direito do titular, em que sua maior prerrogativa é o
direito de seqüela (artigo 1.228, "caput" do Código Civil). O sujeito passivo tem
obrigação de não interferência.
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1.2.2. Interna

A estrutura interna é composta pelos direitos de usar (obter a utilidade da coisa –


jus utendi), fruir (diz respeito aos frutos – jus fruendi) e dispor (alienar, abandonar
ou auto-limitar – jus disponendi).

O direito real limitado é o fracionamento dessas prerrogativas para mais de


uma pessoa (ex.: o possuidor tem o direito de usar e de fruir, mas não tem o direito
de dispor).

Observação: Princípio da Elasticidade: por mais que se fracione as prerrogativas


de poder, num dado momento reorganizam-se os direitos para um único titular.

1.3. Características da Propriedade

A propriedade é um direito absoluto, exclusivo, perpétuo, aderente e limitado.


A limitação abarca todas as demais características. Pode-se dizer, então, que a
propriedade tem cinco características.

1.3.1. Absoluta

Visto que é um direito pleno, possuindo uma relação de poder, de usar, fruir e
dispor.

1.3.2. Exclusiva

Visto que somente um indivíduo pode ter as prerrogativas daquela propriedade


(princípio da exclusividade).

1.3.3. Perpétua

Visto que é transmissível causa mortis. No direito privado, existem duas


exceções ao princípio da perpetuidade:

Propriedade resolúvel (artigo 1.359 do Código Civil): é uma causa antecedente ou


concomitante à transmissão da propriedade e que gera, por parte do terceiro, o
poder de reivindicar a coisa do novo titular. É uma limitação ao princípio da
perpetuidade. Causa antecedente ou concomitante é uma causa contratual, pré-
conhecida das partes, anterior à tradição (ex.: pacto de retrovenda).

Propriedade revogável (artigo 1.360 do Código Civil): é uma causa superveniente,


não prevista pelas partes, na qual a propriedade se consolida nas mãos de terceiro
de boa-fé, não cabendo reivindicação por parte do legítimo titular, a não ser em caso
excepcional. Causa superveniente é uma causa que ocorre após a transmissão efetiva
da coisa (exemplos: herdeiro aparente, revogação da doação por ingratidão etc.).

Observação: Herdeiro aparente é aquele que se apresenta aos olhos de todos como
se herdeiro fosse, no entanto, nunca foi herdeiro legal. Acontece nos casos da
indignidade.

1.3.4. Aderente
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É a prerrogativa do titular de trazer para si a coisa, independentemente de
onde ela esteja, por meio de ação reivindicatória. Têm-se 3 ações decorrentes dessa
ação :

Negatória: é a ação que tutela a propriedade em face à alegação de um direito real


limitado, ou seja, a pessoa vem para negar um direito real limitado.

Divisória: é a tutela do condômino, para fins de extinção do condomínio e divisão


da coisa comum. O bem não pode ter cláusula de indivisibilidade.

Demarcatória (actio finium regundorum): é aquela que visa restabelecer marcos


destruídos, arruinados ou apagados, ou seja, visa reconstruir a exata área de um
determinado imóvel.

1.3.5. Limitada

Existem dois tipos de limitação:

a) Limitações voluntárias

Podem ser:

Limitações que se estabelecem no contrato por meio de cláusulas restritivas de


inalienabilidade, incomunicabilidade, impenhorabilidade e indivisibilidade (somente
poderão estar dispostas em contratos não onerosos).

Propriedade gravada, ou seja, quando existe a imposição de um direito real


limitado (exemplo: usufruto).

Bem de família (artigo 1.715 e ss. do Código Civil), que poderá ser
compulsório (Lei n. 8009) e voluntário (artigo 1.715 do Código Civil). A vantagem do
bem de família voluntário sobre o compulsório é que, no primeiro, pode-se gravar
qualquer bem como sendo de família.

b) Limitações legais

Podem ser:

de direito público (desapropriação, requisição, tombamento,


tributação);

de direito privado (todas as relações jurídicas de vizinhança, que seriam


limitações para construir, sossego e saúde dos imóveis vizinhos
etc.);

de direito social (Lei de Locação, Estatuto da Terra, Código de Defesa


do Consumidor etc.).
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1.4. Aquisição da Propriedade Imóvel

1.4.1. Considerações Gerais

O Código Civil faz distinção entre a forma de aquisição mobiliária e a forma de


aquisição imobiliária. Bens móveis são aqueles passíveis de locomoção, sem modificar
sua natureza; os outros serão considerados bens imóveis. A forma mais usada para a
aquisição de bens imóveis é a transcrição, que seria uma tradição formal. Existem,
entretanto, outras formas de aquisição que serão comuns, ou não, entre os bens
móveis e os bens imóveis.

A acessão (incorporação ao objeto principal de tudo quanto a ele adere ou


aumenta em volume ou valor) é uma forma de aquisição de propriedade, comum tanto
para os bens móveis quanto para os imóveis. Também comum entre os bens é o
usucapião, que é uma forma de aquisição pelo decurso do prazo.

O direito hereditário é uma forma de aquisição que somente existe para os bens
imóveis, visto que o sistema brasileiro estabeleceu um critério de imobilidade para os
bens de herança, para que não haja o dissipamento do patrimônio. Então, após a morte do
de cujus, todos os bens, móveis ou imóveis, serão considerados legalmente imóveis, a fim
de que se possa fazer um controle dos bens deixados pelo de cujus.

O rol do artigo 1.245 do Código Civil, que trata das formas de aquisição de
bem imóvel, é taxativo: há somente 4 formas de aquisição de bem imóvel. A
aquisição de bem imóvel pode ser classificada quanto ao modo e quanto ao título.

Quanto ao modo pode ser:

originário (não existe relação causal entre proprietário anterior e


proprietário atual);

derivado (existe relação causal entre proprietário anterior e


proprietário atual).

Quanto ao título pode ser:

universal (conjunto de bens indeterminados);

singular (bem certo e determinado).

A transcrição é uma forma de aquisição de modo derivado (faz-se somente por


contrato) a título singular (bem certo e determinado).

A acessão e o usucapião são formas de aquisição de modo originário à título


singular, e o direito hereditário é forma de aquisição de modo derivado e pode ser à
título singular (através do legado testamentário) ou universal (através da forma
aberta).

1.4.2. Transcrição
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Regulada nos artigos 197 e seguintes da Lei n. 6.015/73, é uma forma derivada de
aquisição da propriedade imobiliária, formal, por meio da publicidade do contrato
translativo junto ao Registro de Imóveis. O princípio da publicidade estabelece uma
presunção absoluta: “o ato passa a ser de conhecimento geral, não havendo possibilidade
de alegação em contrário”.

Além desse princípio, têm-se outros três que regem a transcrição:

Princípio da continuidade: os registros se dão pela ordem cronológica


da apresentação. Esse sistema ordenado é importante para garantir
os privilégios dos créditos reais.

Princípio da individuação: cada bem imóvel é individualizado no


sistema registral, existindo uma ordem numérica das matrículas.

Princípio da veracidade registral: apresenta uma presunção relativa de


que o conteúdo da transcrição é verdadeiro.

Para ocorrer a transcrição, segue-se o seguinte rito:

1.º) Realização, elaboração do contrato translativo (compra e venda, doação,


compromisso retratável de compra e venda, troca).

2.º) Apresentação desse contrato ao Registro de Imóveis.

3.º) Prenotação: é um ato administrativo vinculado, no qual o oficial registra o


contrato translativo no livro protocolo – chave geral do registro. É um ato fundamental,
visto que a prenotação dá a prerrogativa real ao titular, e o oficial de registro, depois de
prenotar, não tem como devolver à parte o contrato sem passar pelo crivo do juiz
corregedor.

4.º) Na fase da prenotação têm-se três atitudes que poderão ser tomadas pelo
oficial:

poderá fazer nota de exigência (complementar a documentação para


fins de registro no prazo de 30 dias);

poderá registrar;

poderá suscitar dúvida (dúvida é o procedimento administrativo no qual


o oficial entende descabido o registro e requer o cancelamento da
prenotação pelo juiz corregedor).

5.º) Em caso de dúvida, o oficial deverá remeter ao juiz corregedor e notificar o


interessado, que terá 15 dias para se defender.

6.º) Após a notificação do interessado, esse poderá apresentar defesa, ou não


(revelia).

7.º) Deve-se levar à vista do Ministério Público em 10 dias.


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8.º) O Ministério Público pode requerer a produção de provas (diligências,
audiências);

9.º) O processo poderá ser julgado procedente ou improcedente;

10.º) Dessa decisão cabe apelação, em 15 dias, para o Conselho Superior da


Magistratura. Dessa decisão não cabe recurso administrativo. Havendo qualquer
problema, deve-se recorrer à via judicial.

Observação: Dúvida inversa é um procedimento administrativo intentado pelo


particular nas hipóteses em que o oficial se recusa a prenotar.

Observação: O procedimento de dúvida se aplica analogicamente aos outros


sistemas registrais (assento de nascimento, casamento etc.).

1.4.3. Acessão

É a incorporação a um objeto principal de tudo quanto se lhe adere em volume ou


em valor (exemplo: construir uma casa em terreno vazio). Compõe a espécie do gênero
acessórios da coisa. São três os acessórios da coisa: acessão, frutos e benfeitorias.

Existem duas classificações das acessões: quanto à origem e quanto ao


objeto.
a) Quanto à origem

naturais: vem da força da natureza, sem intervenção humana. Regulada pelo Código de
Águas (Decreto n. 24.643/34), são as formações de ilhas, os aluviões, avulsão e álveos
abandonados;

industriais: aquelas feitas pelo homem (construções);

mistas: aquelas que têm intervenção do homem e da natureza (plantações e semeaduras).

b) Quanto ao objeto

imóvel a imóvel: todas as hipóteses naturais;

móvel a imóvel: construções, plantações e semeaduras;

móvel a móvel: comistão, adjunção, especificação e confusão.

Algumas considerações devem ser feitas quanto aos objetos da acessão:

Ilhas: o Código de Águas dispõe que as ilhas podem ser bens públicos
ou bens particulares, dependendo da natureza da água (ilha em água
pública é bem público; ilha em água particular é bem particular). A
incorporação de ilha particular ocorre na proporção da testada do
imóvel ribeirinho, através de uma linha perpendicular até o meio do
álveo.
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No caso de leito abandonado, haverá a incorporação da área seca na proporção da
testada. Ainda que o rio seja público, havendo leito abandonado, poderá a área seca
incorporar bem particular. Não haverá indenização para os particulares que tiverem seus
imóveis atingidos pelo novo curso do rio.

Aluvião: é uma incorporação imperceptível junto ao imóvel ribeirinho,


não gerando nenhuma espécie de indenização. Aluvião impróprio é
aquele que decorre da seca natural da água (diminuição do volume
da água).

Avulsão: é uma incorporação abrupta que normalmente decorre do


deslocamento de área de um imóvel a outro. É a única hipótese que
cabe indenização prevista no Código de Águas. Estabelece-se um
prazo decadencial para requerer a indenização. O beneficiário, nessa
ação indenizatória, pode optar por indenizar ou permitir a retirada
da coisa.

Construções e Plantações: há uma única regra – acessório segue o


principal. O dono do terreno é sempre o dono do principal (critério
do bem de raiz). Existe a presunção relativa de que o dono do
principal é o dono do acessório, havendo necessidade de prova em
contrário.

Observação: Principal próprio e acessório alheio: utilização de material de


terceiro para construção em terreno próprio. Se o sujeito estiver de boa-fé, deverá
indenizar o terceiro no valor do material utilizado. Se o sujeito agir de má-fé, deverá
indenizar o terceiro no valor agregado (valor do que foi construído) somado com perdas e
danos.

Observação: Principal alheio e acessório próprio: Se o sujeito agiu de boa-fé, terá


direito à indenização. Se o sujeito agiu de má-fé, será obrigado a demolir o acessório e
pagar perdas e danos (deve devolver o imóvel no estado em que estava).

1.5. Usucapião

É uma forma originária de aquisição da propriedade móvel ou imóvel por meio do


exercício da posse, em obediência aos pressupostos legais.

O usucapião classifica-se em:

a) Usucapião imóvel

Pode ser constitucional ou legal. O usucapião constitucional recepcionou o usucapião


legal, ficando este supletivo àquele. Em primeiro lugar, deve-se verificar se é possível o
usucapião constitucional; no caso de impossibilidade, utiliza-se o usucapião legal. O
usucapião constitucional prevê o usucapião urbano e o usucapião rural. Ambas as
modalidades estão expressamente previstas pelo Novo Código Civil nos artigos 1.239 e
1240. O usucapião legal prevê as modalidades de ordinário e extraordinário (ambos
possuem os mesmos pressupostos).
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b) Usucapião móvel

Pode ser extraordinário ou ordinário.

1.5.1. Usucapião constitucional urbano (pro misero)

Existem dois critérios que diferenciam o imóvel urbano do imóvel rural:

Localização: é o critério topográfico – onde o imóvel se localiza;


estando em município com mais de 20.000 habitantes, será
considerado imóvel urbano;

Destinação: critério adotado pelo Estatuto da Terra, em que pouco


importa a localização; havendo atividade rural, o imóvel será
considerado rural.

A Constituição Federal/88 não recepcionou o critério da destinação (utilizado pelo


Estatuto da Terra), então, será considerado urbano todo imóvel que estiver localizado em
área urbana.

A área do imóvel urbano, para ser objeto desse usucapião, deverá possuir até
250m . Caso o imóvel possua mais de 250m2, deve-se adotar o usucapião legal– aguardar
2

o tempo previsto na lei para após, se for o caso, usucapir. Para todas as modalidades de
usucapião, a posse deve, obrigatoriamente, ser justa (não violenta, não clandestina e não
precária).

O imóvel deve ainda servir de moradia própria ou familiar e ser o único; o


possuidor deve estar na posse do imóvel por, no mínimo, cinco anos ininterruptos, não se
admitindo a soma do prazo pelos antecessores. A Constituição Federal/88 exige que a
própria pessoa esteja no imóvel por cinco anos, salvo nos casos de sucessão por morte.

1.5.2. Usucapião constitucional rural (pro labore)

O imóvel deve ser rural e com até 50 hectares, devendo haver posse justa. Exige-se,
ainda, a produtividade do imóvel. Para o sistema constitucional, produtividade significa a
subsistência do possuidor, não havendo necessidade de lucro. Deve haver a produção por
cinco anos, no mínimo, e o imóvel deve servir de moradia, sendo o único bem da família.

1.5.3. Usucapião legal

Tem os seguintes pressupostos (tanto para o usucapião ordinário, quanto para o


extraordinário):

Res habilis (coisa): todos os bens poderão ser usucapidos, salvo aqueles
que o sistema legal veda expressamente. Não podem ser
usucapidos: bens públicos, fora do comércio, servidões não
aparentes ou descontínuas, áreas de proteção difusa ou coletiva e
toda área que decorre de posse precária (suspensão ou interrupção
do prazo prescricional – relação contratual).
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Observação: Não existe relação de simetria entre a prescrição extintiva e a
prescrição aquisitiva. Quando se trata de prescrição extintiva, o objeto é o direito de ação,
permanecendo o direito material. Na prescrição aquisitiva é necessário um terceiro que
venha exercer a posse.

Titulus (justo título): é o documento, o contrato translativo que, por


vício formal, não gera registro. No usucapião extraordinário, há
uma presunção absoluta de existir o justo título (artigo 1.238 do
Código Civil). Essa presunção absoluta decorre do prazo de 15 anos
na posse do imóvel. No usucapião ordinário, há um ônus do autor,
havendo necessidade da juntada do justo título na petição inicial,
não existindo a presunção.

Fides (boa-fé): é o total e absoluto desconhecimento de qualquer vício


na posse. No usucapião extraordinário, há uma presunção absoluta
de boa-fé. No usucapião ordinário, também há uma presunção de
boa-fé, entretanto, essa é relativa (artigo 1.201, parágrafo único, do
Código Civil).

Possessio (posse): essa relação possessória, para gerar o usucapião,


deve ser sempre justa (não violenta, não clandestina e não precária),
devendo convalescer com mais um ano e um dia e sem interrupção.
Nesse caso, cabe o acessio temporis, ou seja, pode haver a soma do
tempo de posse dos antecessores.

Tempus (prazo): o prazo é de 15 anos para o usucapião extraordinário e


de 10 anos para o usucapião ordinário.

Observação: Alguns autores estabelecem um 6.º pressuposto – “a sentença tem


natureza constitutiva”. É, entretanto, um entendimento equivocado, visto que a sentença
do usucapião é declaratória, tendo efeitos ex tunc. Não há necessidade de registro do
imóvel para que haja a propriedade, somente deve existir os cinco pressupostos
anteriores.

2. RELAÇÃO DE VIZINHANÇA
2.1. Considerações Gerais

É o complexo de direitos e obrigações que se estabelece entre os titulares de


imóveis vizinhos. O Código Civil fala em direito de vizinhança, entretanto, o que se
estabelece são obrigações entre vizinhos. Essas obrigações são de sujeição e abstenção.

Tem três institutos importantes:

uso nocivo da propriedade;

árvores limítrofes;

passagem forçada.
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As relações de vizinhança são obrigações propter rem (obrigações da própria
coisa). A obrigação propter rem é aquela que vincula a pessoa enquanto titular da coisa.
Tem uma grande característica: está sujeita à figura do abandono, ou seja, não acompanha
a pessoa.

É então uma obrigação que acompanha a pessoa somente enquanto essa está na
propriedade da coisa (exemplos: obrigação de silêncio, despesas de condomínio). A
obrigação não recai sobre a pessoa,mas sim sobre a coisa. A obrigação propter rem nasce
de norma legal, nunca podendo nascer da vontade das partes. Não cabe, portanto,
aplicação de analogia.

2.2. Uso Nocivo da Propriedade

É o exercício regular do direito de propriedade, porém lesivo, de forma a


gerar obrigações entre titulares de imóveis vizinhos. A tutela desse uso nocivo da
propriedade é daquela actio damni infecti (ação de dano infecto), que é a proteção
que se dá contra o uso nocivo da propriedade.

O ato praticado pelo titular pode ser lícito ou ilícito. Se é um exercício ilícito, ele
não precisará da tutela da actio damni infecti, visto que tem sua própria responsabilidade
no artigo 186 do Código Civil (ação ou omissão, nexo de causalidade, dano e culpa), que
é a tutela genérica, não havendo necessidade de uma tutela especial. O exercício se dá em
duas ordens: regular e irregular.

No caso de uso nocivo da propriedade, é um exercício regular do direito, visto que


o exercício irregular é um ato ilícito que tem tutela própria. Então, se o exercício é
irregular do direito, cai na norma geral (lex aquilia). A pessoa não está protegida pela
excludente da antijuridicidade (artigo 188, inciso I, do Código Civil).

Conclui-se, então, que o uso nocivo da propriedade é um exercício lícito e


regular. É nesse caso (ato lícito e regular) que a pessoa será tutelada pela actio
damni infecti. Esse exercício lícito e regular, quando viola a segurança, o sossego e a
saúde, configura o ato lesivo.

A indenização do damni infecti se encontra no artigo 617 do Código Civil. A tutela


será diferenciada se o causador do dano representa interesse individual ou se representa
interesse coletivo.

Se o interesse é individual, será imposto ao causador do dano uma obrigação de


não fazer. Se o interesse é coletivo, será imposto ao causador do dano uma obrigação de
fazer e uma indenização pelos danos causados.

2.2.1. Teoria da pré-ocupação


É uma matéria de defesa alegada pelo causador do dano, retirando o nexo de
causalidade sob o argumento de que a atividade danosa pré-existia à relação de
vizinhança. Os tribunais não adotam a Teoria da Pré-Ocupação como matéria de defesa,
tendo em vista que se entende que o Poder Público tem o privilégio de reordenar as
atividades dos particulares.
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2.3. Árvores Limítrofes

São aquelas que se estabelecem entre, pelo menos, dois imóveis contíguos. A
árvore limítrofe é um condomínio especial, chamado de condomínio pro diviso. O
condomínio pro diviso é aquele em que cada um dos titulares exerce posse e propriedade
sobre parte certa da coisa.

2.3.1. Regras

As raízes e ramos que ultrapassam a linha divisória podem ser cortadas


(exercício direto de direitos). É a auto-tutela do proprietário.

Os frutos caídos dos ramos passam a pertencer ao titular do imóvel. É a


única exceção do Código Civil ao princípio de que o acessório
segue o principal.

Observação: Os frutos, enquanto estão agregados à árvore, pertencem ao titular da


árvore.

2.4. Passagem Forçada

É uma prerrogativa do titular de um imóvel encravado para obter saída para


a via pública, fonte ou porto. É o imóvel chamado de “próprio incluso”. Pode-se
obter saída por meio de passagem forçada ou de servidão de passagem.

A servidão de passagem e a passagem forçada diferem-se quanto à origem,


quanto à natureza jurídica e quanto à forma.

2.4.1. Quanto à origem

A servidão de passagem somente ocorre por contrato, nasce por meio


de um contrato convencionado pelas partes.

A passagem forçada nasce por intermédio de lei, ou seja, a lei outorga a


passagem.

2.4.2. Quanto à natureza jurídica

A servidão de passagem é direito real sobre coisa alheia.

A passagem forçada é obrigação propter rem, obrigação real.

2.4.3. Quanto à forma

A Servidão de Passagem consta sempre no registro de imóveis.

A Passagem Forçada não é registrada (ação confessória – o juiz fixa um rumo,


estabelecendo uma indenização; se o titular do imóvel incrustado deu causa àquela
situação, deverá indenizar em dobro).
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1. PERDA DA PROPRIEDADE IMÓVEL

Há quatro formas de perda da propriedade imóvel dispostas no Código Civil:


alienação, renúncia, abandono e perecimento do bem imóvel.

Nos casos de alienação e renúncia, os efeitos da perda estão subordinados à


transcrição do título de transmissão ou do ato de renúncia no registro do lugar do imóvel.

Perde-se, ainda, a propriedade imóvel, mediante desapropriação por necessidade


ou utilidade pública. Os casos de necessidade pública eram dispostos no art. 590, § 1.º e
seus incisos, do Código Civil de 1916. Por ser matéria de ordem pública, não estão
previstas no Código Civil de 2002.

2. AQUISIÇÃO E PERDA DA PROPRIEDADE MÓVEL

Há quatro formas de aquisição de bens móveis:

tradição: corresponde à entrega do bem sem formalidades;

acessão: forma natural de aquisição de mobilidade;

usucapião: aquisição pelo tempo;

ocupação: assenhoreamento de bem móvel abandonado.

A forma mais usada na aquisição de bens móveis é a tradição, que é a


entrega efetiva do bem.

A ocupação é uma forma de aquisição somente de bem imóvel, visto que, em


nosso sistema, o bem imóvel abandonado ou de ninguém incorpora-se ao Poder Público.

A acessão e o usucapião são formas comuns de aquisição de bens móveis e


imóveis.

Não existe direito hereditário sobre bens móveis, visto que, com a abertura da
sucessão, todos os bens são legalmente considerados imóveis.

3. CONDOMÍNIO

É uma espécie de propriedade em que dois ou mais indivíduos são titulares em


comum de um bem, exercendo cada qual posse e propriedade sobre fração ou parte da
coisa. Dentro desse conceito, tem-se o princípio da exclusividade, em que se verifica que
dois ou mais titulares não podem ter o mesmo direito real sobre a mesma coisa.
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O condomínio trabalha com uma ficção, visto que os condôminos são titulares da
mesma coisa em abstrato. O condomínio é instável, ou seja, nasce para ser extinto, visto
que ninguém é obrigado a remanescer em condomínio.

3.1. Classificação

3.1.1. Condomínio tradicional

Regido pelo Código Civil. O condomínio tradicional é bipartido. Pode ser


ordinário ou especial:

a) Ordinário

Chamado de condomínio pro indiviso: todos os condôminos exercem posse e


propriedade sobre o bem em sua integralidade.

b) Especial

Chamado de condomínio pro diviso: todos os condôminos exercem posse e


propriedade sobre parte certa da coisa; pode ser:

compáscuo: também chamado de condomínio de passagem – segue as mesmas


regras da servidão;

partes específicas: é o condomínio de muros, cercas, valas etc. – tem natureza


jurídica de relação de vizinhança; somente haverá o condomínio se o muro
integrar o imóvel dos dois titulares.

3.1.2. Condomínio por unidades autônomas

Tal modalidade de condomínio não era prevista pelo Código Civil de 1916,
porém, hoje está estabelecido nos artigos 1.331 a 1.358. A Lei n. 4.591/64 é
recepcionada naquilo que obviamente não contraria o novo Código Civil.

Divide-se em duas espécies:

condomínio de apartamentos: regido pelo novo Código Civil e pela Lei n.


4.591/64;

condomínio de casas e terrenos (condomínio “privê”): regido pelo novo Código


Civil, pelas Leis n. 4.591/64 e 6.766/79.

3.2. Estrutura Jurídica

3.2.1. Propriedade

O jus utendi é limitado ao exercício do outro condômino; o jus fruendi é


proporcional à qualidade ou quantidade das cotas; o jus disponendi é ilimitado; no jus
serviendi todos os condôminos são titulares da ação reivindicatória e da nunciação de
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obra nova. A coisa comum não pode ser modificada sem a expressa anuência de todos os
condôminos.

Observação: condomínio germânico é aquele indissolúvel (ex.: regime de


comunhão de bens entre marido e mulher: enquanto permanece o casamento não se
dissolve o condomínio).

Observação: condomínio romano é aquele que pode ser dissolvido quando as


partes desejarem.

3.2.2. Posse

Todos os condôminos são titulares do jus possidendi. O exercício da posse é


pessoal, dependendo de expressa anuência de todos. A tutela possessória é ampla,
podendo ser proposta contra terceiros ou mesmo contra outro condômino.

Se o bem for divisível por natureza, pode gerar usucapião.

3.2.3. Responsabilidade

A responsabilidade ocorre em relação às despesas e dívidas do bem, que serão


proporcionais às cotas assumidas pelos condôminos. Se a despesa for assumida por um
dos condôminos em benefício do condomínio, haverá sub-rogação e direito de regresso
em face dos demais condôminos proporcionalmente às cotas de cada um.
O condômino que causar dano será responsável por ele. A responsabilidade civil
é personalíssima, não se estendendo aos demais condôminos.
3.3. Extinção

Deve-se observar a natureza do bem:


Bem divisível: é aquele que pode ser fracionado sem perder suas qualidades. Há sempre
uma presunção de divisibilidade quando houver dúvida.

Bem indivisível: pode ser indivisível pela sua natureza, quando a fração se tornar pequena
demais, tornando o bem economicamente inviável, por exemplo: um diamante. Pode
ser indivisível por determinação legal, por exemplo: hipoteca. Pode ainda ser
indivisível por vontade das partes, por exemplo: doação com cláusula de
indivisibilidade, que tem duração máxima de cinco anos.

Se o bem for divisível, cada condômino pode alienar sua cota parte,
independentemente do direito de preferência, que somente deverá ser observado quando o
bem for indivisível (preempção).

Preempção, ou direito de preferência, é a prerrogativa que o condômino tem, em


relação ao estranho, de, em igualdade de condições, adquirir a coisa comum. A
preempção pode ser legal ou convencional.

3.3.1. Preempção legal


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Quando um condômino desejar alienar a cota parte que possui em um bem
indivisível, deverá notificar o outro condômino para exercer o direito de preferência. Essa
notificação é formal e obrigatória.

No caso de haver dois ou mais condôminos exercendo o direito de preferência, a


lei confere alguns critérios de desempate: 1. Terá preferência o condômino que tenha
feito benfeitorias na coisa. 2. Caso não haja benfeitorias, preferirá quem tiver o maior
número de cotas. 3. No caso de não haver benfeitorias e as cotas serem iguais, preferirá
aquele que primeiro depositar o valor em juízo. 4. Se nenhum dos condôminos depositar
o valor em juízo, deverá ser feito um sorteio.

Se o bem for alienado sem que se outorgue o direito de preferência aos demais
condôminos, estes poderão ingressar com uma ação anulatória no prazo de seis meses da
data da ciência da venda, com o objetivo de anular o contrato e exercer o direito de
preferência.

A preempção legal atinge também a relação de locação. O proprietário de um bem


somente poderá aliená-lo se notificar o locatário para que exerça seu direito de
preferência na aquisição da coisa. No caso de sublocação, prefere o sublocador ao
locatário. Havendo vários locatários, o primeiro critério de desempate é a data do
contrato (o contrato mais antigo terá preferência); caso seja um único contrato de locação,
terá preferência o locatário mais velho; por último, se não houver como utilizar os dois
primeiros critérios, deve-se fazer um sorteio.

O locatário também terá direito à ação anulatória no prazo de seis meses, caso o
bem seja alienado sem sua notificação, para o exercício do seu direito de preferência.

3.3.2. Preempção convencional

É uma cláusula especial no contrato de compra e venda, na qual o comprador


outorga ao vendedor a possibilidade de readquirir a coisa, na hipótese de venda, em
igualdade de condições com terceiros. Quando o comprador quiser vender o bem,
deverá notificar o vendedor para exercer seu direito de preferência em 30 dias (para
bens imóveis) ou em 3 dias (para bens móveis). Essa prerrogativa não se transmite aos
herdeiros, é personalíssima. Se o bem for vendido sem que o antigo vendedor exerça o
direito de preferência, o prejudicado não terá direito à ação anulatória, somente à
indenização por perdas e danos.
Observação: na preempção, o vendedor tem uma faculdade de comprar o
bem no caso de o comprador vendê-lo. Difere da retrovenda, que não constitui
nova alienação, mas sim pacto adjeto, pelo qual o vendedor reserva-se o direito
de reaver o imóvel que está sendo alienado em certo prazo (artigo 505 do
Código Civil).

1. PROPRIEDADE RESOLÚVEL

1.1. Introdução
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A propriedade é absoluta, perpétua, não tendo termo final nem condição resolutiva
(irrevogável).

 Condição Resolutiva
P. Irrevogabilidade  P. Temporária
(ad tempus)  Termo final

 resolúvel  causa antecedente à transmissão (previsível)


Prop.
Temporária
 revogável (ad tempus)  causa superveniente – não prevista
Ex.: exclusão da herança

1.2. Conceito

É a que implica na perda da titularidade em decorrência de causa anterior ou


superveniente à sua constituição.

1.3. Natureza Jurídica

Há duas correntes a respeito da natureza jurídica:

1.ª corrente: espécie de propriedade (modalidade especial de domínio);

2.ª corrente: regras gerais das obrigações.

1.4. Efeitos

Dominium revogabilie ex tunc.

Retroatividade dos efeitos. Ex.: alienante (retrovenda) jamais perdeu


propriedade.

1.5. Hipóteses: Fideicomisso; Retrovenda; Contendo condição resolutiva; Doação com


cláusula de reversão

A.F.G.  Fiduciante Fiduciário

Prop. Aparente
- Boa-fé
+
- Erro invencível

Ninguém pode transferir mais direitos do que tem.

Erro comum faz direito.


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Segurança jurídica.

Casos:

transcrição indevida;

herdeiro aparente.

2. DIREITOS DE AUTOR

2.1. Natureza Jurídica e Conceito de Direito de Autor

Muitos censuravam o legislador do Código Civil de 1916 por haver colocado no


Livro II, Direito das Coisas, a propriedade literária, científica e artística, o que deve ter
ocorrido porque, tradicionalmente, a propriedade sempre teve por objeto bens
corpóreos. Entendem esses críticos que a propriedade literária, científica e artística
teria sua localização perfeita no âmbito da teoria das pessoas, na parte alusiva aos
Direitos da Personalidade.

Conforme assinalava MARIA HELENA DINIZ, transcrevendo o Prof. ANTONIO


CHAVES, o tema é muito controvertido e muitos tentam apresentar a natureza jurídica
desse instituto.

O atual Código Civil nem fez menção aos Direitos de Autor pois,
independentemente de sua natureza jurídica, a matéria é tratada e deve continuar a sê-lo
por lei especial, em virtude de autonomia que ganhou o tema dentro do rol dos Direitos
Reais.

Teoria Negativista: há autores que chegam a negar a própria natureza jurídica do


Direito Autoral, ante o caráter social das idéias. Manzini afirma que o pensamento
pertence a todos, sendo uma propriedade social e, por isso, a inspiração da alma humana
não pode ser objeto de monopólio. DEBOOR chega a afirmar que as obras do espírito
pertencem ao povo. A obra protegida deveria pertencer à humanidade ou, na pior das
hipóteses, ao Estado.

Produto do Meio: outros autores, questionados por MALAPLATE, afirmam que a


obra artística ou científica é mero produto do meio em que surgiu.

Privilégio: de acordo com COLIN, CAPITANT, MEDEIROS e ALBUQUERQUE, o


Direito de Autor seria um simples privilégio ou um monopólio de exploração, outorgado
a autores para incrementar as artes, ciências e letras.

Temos outros autores que verificam uma natureza jurídica desse direito:

Direito da Personalidade: TOBIAS BARRETO e OTTO VON GIERKE, entre outros,


entendem que o Direito de Autor é um direito da personalidade, sendo um
elemento da própria personalidade cujo objeto é a obra intelectual, tida como
parte integrante da esfera da própria personalidade.
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Propriedade Intelectual: IHERING, KOHLER, DERNBURG, entre outros, consideram
o Direito de Autor como modalidade especial de propriedade, ou seja, uma
propriedade incorpórea, imaterial ou intelectual. O próprio CASELLI entende
que o Direito de Autor faz parte da grande categoria dos direitos patrimoniais,
situando-se na subclasse de direitos reais, dentro do domínio ou propriedade.
Afirma que o Direito de Autor é um direito de propriedade, regulando-se a
matéria pelas regras da propriedade sobre coisas materiais, não dispondo a lei
de maneira diversa. É uma relação jurídica de natureza pessoal-patrimonial. É
pessoal no sentido de a personalidade do autor formar um elemento constante
do seu regulamento jurídico e porque, sob certos aspectos, seu objeto constitui
uma exteriorização da personalidade do autor, de modo a manter,
constantemente, sua inerência ativa ao criador da obra. Representa, por outro
lado, uma relação de direito patrimonial, porquanto a obra do engenho é,
concomitantemente, tratada pela lei como um bem econômico. É, portanto, o
direito de autor um poder de senhoria de um bem intelectual que contém
poderes de ordem pessoal e patrimonial. Qualifica-se como um direito pessoal-
patrimonial.

Objetivo: O grande objeto do Direito de Autor é o de garantir a criatividade, o


maior atributo que a natureza pode dar ao ser humano. Por isso, protege as obras
intelectuais – musicais, jornalísticas, de engenharia, de arquitetura, de cinematografia, de
fotografia, de literatura etc. Procura dignificar e salvaguardar tanto os direitos do autor
quanto os do artista.

O nosso legislador pátrio de 1916 enquadrou o Direito Autoral como propriedade


intelectual ou imaterial, porque a espiritualidade da obra se materializa na sua exploração
econômica, justificando a sua permanência no direito das coisas. De acordo com CLÓVIS
BEVILÁCQUA, o Direito de Autor tem um nítido cunho pessoal, inseparável da sua
personalidade, tendo, porém, um cunho econômico. É um direito perpétuo, inalienável,
imprescritível e impenhorável. Estamos nos referindo ao direito moral do autor, normas
que não se subordinam à sua exploração econômica. Sob o aspecto patrimonial,
apresenta-se como um direito de utilizar economicamente a obra, publicando-a,
difundindo-a etc. Sob o prisma econômico, existe a transmissibilidade da obra.

Direitos e Garantias Individuais: a Constituição Federal de 1988 assegura, no


artigo 5.º, inciso XXII, o direito de propriedade. No inciso IX, garante a liberdade de
expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou de licença. No inciso XIII, garante o livre exercício de
qualquer trabalho. No inciso XXIX, garante o privilégio temporário para a utilização, por
parte dos autores, de seus inventos industriais. No inciso XXVII, determina: “aos autores
de obras literárias, artísticas e científicas pertence o direito exclusivo de utilizá-las. Esse
direito é transmissível por herança, pelo tempo que a lei fixar”. Por fim, no inciso
XXVIII, “b”, estabelece o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras
criadas.

2.2. Conteúdo dos Direitos Autorais

A Lei n. 9.610/98, em seu artigo 7.º, conceitua a obra intelectual protegida – “as
criações do espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquer suporte,
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tangível ou intangível, conhecido ou que se invente no futuro, tais como: I - os textos de
obras literárias, artísticas ou científicas; (...) V - as composições musicais, tenham ou não
letra; (...) XII - os programas de computador”.

A Lei dos Direitos Autorais, no inciso XIII, inclui ainda “as coletâneas ou
compilações, antologias, enciclopédias, dicionários, bases de dados e outras obras, que,
por sua seleção, organização ou disposição de seu conteúdo, constituam uma criação
intelectual”. O § 2.º faz uma ressalva, não protegendo os dados ou materiais em si
mesmos e, entende-se, sem prejuízo de quaisquer direitos autorais que subsistam a
respeito dos dados ou materiais contidos na obra.

2.2.1. Objeto não protegido

O artigo 8.º informa que não são objetos de proteção como direitos autorais:

as idéias, procedimentos normativos, sistemas, métodos, projetos ou conceitos


matemáticos como tais;

esquemas, planos ou regras para realizar atos mentais, jogos ou negócios;

os formulários em branco para serem preenchidos por qualquer tipo de


informação, científica ou não, e suas instruções;

os textos de tratados ou convenções, leis, decretos, regulamentos, decisões


judiciais e demais atos oficiais;

as informações de uso comum, tais como calendários, agendas, cadastros ou


legendas;

os nomes e títulos isolados;

o aproveitamento industrial ou comercial das idéias contidas nas obras.

2.2.2. Titularidade

Estabelece o artigo 14 da Lei dos Direitos Autorais que “é titular de direitos de


autor quem adapta, traduz, arranja ou orquestra obra caída no domínio público; todavia
não pode, quem assim age, opor-se a outra adaptação, arranjo, orquestração ou tradução,
salvo se for cópia da sua”. O artigo 652 do Código Civil de 1916, revogado, também
protegia o tradutor ou o escritor, afirmando que esses têm o mesmo Direito de Autor,
tanto o tradutor de obra já entregue ao domínio comum quanto o escritor de versões
permitidas pelo autor da obra originária. O tradutor, porém, não pode se opor à nova
tradução.

2.2.3. Tradução

De acordo com o artigo 29, inciso IV, da Lei dos Direitos Autorais, para que se
possa traduzir uma obra é imprescindível a anuência do autor, salvo se a obra já for de
domínio público. A primazia na tradução não confere exclusividade a nenhum tradutor de
modo a impedir que outra pessoa traduza a mesma obra. O primeiro tradutor só pode
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reclamar as perdas e danos quando houver tradução que não passe de mera reprodução da
sua. O mesmo ocorre quanto às adaptações, arranjos e orquestrações, que só serão livres
desde que a obra já tenha caído no domínio público, caso contrário, dependerá de
autorização do autor. O texto traduzido ou adaptado é que constitui Direito de Autor do
tradutor ou daquele que fez o arranjo musical.

Acrescenta o artigo 9.º que, à cópia de arte plástica feita pelo próprio autor, é
assegurada a mesma proteção de que goza seu original.

O artigo 10 e seu par. ún. também protegem o título das obras e ainda o de
publicações periódicas, inclusive jornais, durante um ano após a saída do último número,
salvo se forem anuais, caso em que esse prazo se elevará a dois anos.

O artigo 12 da Lei dos Direitos Autorais determina que “para identificar-se como
autor, poderá o criador da obra intelectual usar de seu nome civil, completo ou abreviado,
até de suas iniciais, de pseudônimo ou de qualquer sinal convencional”.

2.2.4. Prazo de proteção

Quando a obra realizada em co-autoria for indivisível, o prazo de 70 anos de


proteção aos direitos patrimoniais será contado da morte do último dos co-autores
sobreviventes. Os direitos do co-autor, que falecer sem sucessores, serão acrescidos aos
sobreviventes.

2.2.5. Registro da obra

Continua em vigor o artigo 17 da Lei n. 5.988/73 sobre o registro das obras


intelectuais, devendo o mesmo ser feito na Biblioteca Nacional, na Escola de Música, na
Escola de Belas Artes da UFRJ, no Instituto Nacional do Cinema, ou no Conselho
Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia. Caso a obra comporte registro em mais
de um desses órgãos, deverá ser registrada naquele com que tiver maior afinidade (§ 1.º).
Caso não se enquadre em nenhuma dessas entidades, o registro deverá ser feito no
Conselho Nacional de Direito Autoral (§ 2.º). A jurisprudência tem entendido que a falta
de registro não acarreta privação dos direitos conferidos ao autor pela lei vigente.

2.3. Direitos Morais do Autor

Além do aspecto econômico do direito autoral, existe também o aspecto moral do


direito do autor. O artigo 22 da Lei dos Direitos Autorais afirma que o autor é titular de
direitos morais e patrimoniais sobre a obra intelectual que criou. Além de recair sobre a
retribuição material da obra intelectual, o Direito Autoral recai também sobre o conteúdo
ideal do trabalho, o que está muito acima de interesses pecuniários, e que consiste na
prerrogativa de fazer com que a obra seja intocável mesmo depois de alienada, de exigir
que ela venha sempre acompanhada do nome do autor e de melhorá-la quando lhe for
conveniente.

O próprio SILVIO RODRIGUES afirma que o direito moral do autor é uma


prerrogativa de caráter pessoal, sendo um direito personalíssimo do autor. Tal direito é
inalienável e perpétuo, enquanto o direito patrimonial é temporário e transmissível.
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São direitos morais do autor:

reivindicar a autoria da obra (não há prazo);

ter o nome, pseudônimo ou qualquer sinal para caracterizar o titular como


autor;

conservar a obra inédita;

assegurar a integridade da obra (coibir modificações ou ataques morais);

modificar a obra, antes e depois de ser utilizada;

retirar a obra de circulação ou suspender a sua utilização, já autorizada,


quando afrontar a reputação e a imagem;

ter acesso a exemplar único e raro da obra que se encontre legitimamente com
terceiros.

Não tem direito de autor o titular cuja obra foi retirada de circulação em virtude de
sentença judicial, por ser tida como imoral, pornográfica, obscena ou que fira os artigos
61 a 64 da Lei de Imprensa (n. 5.250/67).

Os sucessores têm, dentre os citados direitos morais do autor, os quatro primeiros.


Têm também os direitos 5.° e 6.°, desde que indenizem terceiros quando couber. Os
herdeiros, além de auferirem as vantagens econômicas do trabalho intelectual, devem
defender a integridade da obra, impedindo quaisquer alterações. Os sucessores do autor
não poderão reproduzir versões anteriores da obra quando o próprio autor tiver dado
versão definitiva. Os direitos morais do autor se restringem à parte econômica quando
transmitidos aos herdeiros, até porque os direitos morais são inalienáveis e irrenunciáveis
(artigo 27).

O Estado deve defender a integridade e a autoria da obra caída no domínio público


(artigo 24, § 2.º).

O direito de modificar a obra é personalíssimo do autor, que pode repudiar


qualquer alteração não consentida. Nem mesmo os herdeiros podem modificar a obra, e
muito menos o editor. Esse, de acordo com o artigo 66 da Lei dos Direitos Autorais, não
pode nem fazer abreviações, adições ou modificações na obra, sem permissão do autor.

Como já dissemos, o artigo 27 da Lei dos Direitos Autorais diz que os direitos
morais do autor são absolutos, inalienáveis, irrenunciáveis e perpétuos. O autor pode
manter a obra inédita ou arrepender-se de tê-la publicado e retirá-la de circulação. A obra
é intangível e impenhorável.

2.4. Direitos Patrimoniais do Autor

O autor pode, por ser proprietário, usar, fruir e dispor de sua obra, bem como
autorizar que terceiro o faça (artigos 28 e 29).
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2.4.1. Incomunicabilidade

Os direitos patrimoniais do autor, exceto os rendimentos resultantes de sua


exploração, não se comunicam, salvo se ao contrário dispuser o pacto antenupcial (artigo
39 da Lei dos Direitos Autorais). Tal dispositivo está em confronto com o artigo 263,
inciso XIII, do Código Civil de 1916 .

Segundo o artigo 29, a utilização da obra depende de expressa autorização do


autor, para os fins de:

reprodução parcial ou integral;

edição;

adaptação, arranjo musical ou quaisquer transformações;

tradução para qualquer idioma;

inclusão de fonograma ou produção audiovisual;

distribuição, quando não implícita em contrato;

distribuição generalizada, via satélite, por exemplo, ou por outro meio equivalente;

utilização da obra literária ou outra qualquer, por representação, recitação,


declamação, ou por qualquer outro meio pelo qual a mesma seja exposta;

inclusão da obra armazenada por computador, microfilmagem ou qualquer outra;

qualquer modalidade de utilização que venha a ser inventada.

É necessária a autorização do autor para reproduzir qualquer obra que não esteja
em domínio público, para comentá-la ou melhorá-la (artigo 30 da Lei dos Direitos
Autorais).

É imprescindível a prévia licença do autor para que haja direito de transposição


como, por exemplo, para que de um romance se extraia peça teatral, para que se reduza a
verso obra em prosa. São livres as paráfrases e paródias que não forem verdadeiras
reprodução da obra originária e nem implicarem em descrédito (artigo 47 da Lei dos
Direitos Autorais).

2.5. Duração dos Direitos Autorais

Os direitos patrimoniais do autor estão sujeitos, para o seu exercício, a uma


limitação do tempo. Essa temporariedade, convém repetir, só atinge o Direito Autoral no
aspecto patrimonial, ou seja, na expressão externa da idéia, quando ela se materializa ou
se corporifica. No aspecto pessoal ou intelectual, ela é perpétua.
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A duração do direito autoral é o tempo de vida do autor da obra intelectual. Com o
seu falecimento, seus herdeiros e sucessores terão o direito de reproduzir sua obra,
durante 70 anos, a contar de 1.º de janeiro do ano subseqüente ao de sua morte, obedecida
a ordem sucessória da lei civil (Lei n. 9.610/98, artigo 41). Após esse termo legal, a obra
cai no domínio público, passando a fazer parte do patrimônio da coletividade. Uma vez
vencido o tempo de proteção legal ao seu autor, sucessor ou cessionário, caindo a obra
em domínio público, torna-se possível o seu aproveitamento econômico por qualquer
pessoa,. Compete ao Estado a defesa da integridade e da autoria da obra caída em
domínio público (artigo 24, § 2.º).

Quando a obra intelectual realizada em colaboração for indivisível, o prazo de


proteção, ditado pelo artigo 41, será contado da morte do último dos colaboradores
sobreviventes (artigo 42).

Também será de 70 anos o prazo de proteção aos direitos patrimoniais sobre obras
anônimas ou pseudônimas, contados a partir de 1.º de janeiro do ano imediatamente
posterior ao da primeira publicação (artigo 43). Se o autor, todavia, antes do decurso
desse prazo, se der a conhecer, aplicar-se-á o disposto no par. ún. do artigo 41.

Igualmente, será de 70 anos o prazo de proteção aos direitos patrimoniais sobre


obras audiovisuais e fotográficas, a contar de 1.º de janeiro do ano subseqüente ao de sua
divulgação (artigo 44).

Os sucessores do autor falecido têm os direitos arrolados na Lei n. 9.610/98, artigo


24, incisos I a IV.

Além das obras em relação às quais transcorreu o prazo de proteção dos direitos
patrimoniais, pertencem ao domínio comum: as de autores falecidos que não tenham
deixado sucessores; as de autor desconhecido, ressalvada a proteção legal aos
conhecimentos étnicos e tradicionais (artigo 45).

Não serão de domínio público da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos
Municípios as obras por eles simplesmente subvencionadas (artigo 6.º).

Não há, portanto, é bom frisar uma vez mais, nenhuma contradição entre a
imposição legal desse interregno de 70 anos para o direito autoral e o caráter de
perpetuidade peculiar do domínio porque, na propriedade literária, artística e científica,
há aquelas duas relações distintas, que já mencionamos antes, em que uma, concernente à
paternidade da obra, é perene ou perpétua, e outra, relativa à exploração econômica
exclusiva, é temporária. O legislador pretendeu apenas disseminar a arte e a cultura,
permitindo amplamente a reprodução ou execução dessas obras a preço inferior. O
domínio público permitirá, ao mesmo tempo, a divulgação da cultura e o barateamento da
obra pela livre exploração.

3. DIREITOS REAIS SOBRE COISAS ALHEIAS


Nos direitos reais sobre coisa própria há um único titular (dominus) que possui o
poder de usar, fruir e dispor de maneira global (princípio da exclusividade). Nos direitos
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reais sobre coisas alheias, há dois titulares. Essa é a única diferença entre direitos reais
sobre coisa própria e direitos reais sobre coisa alheia.

Direito real sobre coisa alheia é aquele em que o titular (ou proprietário) confere a
terceiro fração ou prerrogativas de poder que lhe eram inerentes, ou seja, o titular
transfere parcela do direito que tem a um terceiro (exemplo: usufrutuário). Fala-se em
direitos reais sobre coisa alheia, tendo em vista que se enxerga o direito sob a ótica do
terceiro.

O artigo 1.225 do Código Civil traz um rol taxativo dos direitos reais sobre coisa
alheia. O rol é taxativo, tendo em vista a reserva legal, pois não é possível que o
particular crie direitos erga omnes.

3.1. Direitos Reais Limitados de Fruição

É aquele em que o titular transfere a terceiro o direito de usar ou o direito de


usar e fruir, remanescendo com o direito de dispor da coisa. Estão dentro desse direito
real limitado de fruição:
superfície; servidão (titular do prédio dominante); usufruto (usufrutuário);
uso (usuário); direito de habitação (habitante).

3.2. Direitos Reais Limitados de Garantia

Limitação na qual o proprietário transfere a terceiro a prerrogativa da execução


sobre um bem certo, dado em garantia numa outra relação principal. Estão dentro do
direito real limitado de garantia: Hipoteca. Penhora. Anticrese.

O terceiro, nesse caso, tem uma única prerrogativa: execução da coisa; levar o bem
à hasta pública.

3.3. Direitos Reais De Aquisição

Compromisso de compra e venda

Pacto Comissório é um acordo celebrado entre o credor e o devedor no bojo do


direito de garantia (hipoteca ou penhor), no qual as partes convencionam que a
inadimplência do devedor gera a transmissão automática da propriedade para o credor,
ocorrendo uma simples compensação entre créditos e débitos. No sistema brasileiro, o
pacto comissório é expressamente vedado, por ferir o monopólio da jurisdição estatal
(que leva o bem à hasta pública)

3.4. Direitos Reais Limitados sui generis ou de Aquisição

O rol do artigo 1.225 do Código Civil ampliou o velho artigo 674 do Código Civil
de 1916 e, entre outras novidades tratou do compromisso irretratável de compra e venda
que anteriormente era tratado por lei especial. O direito real limitado sui generis é aquele
que permite ao titular transmitir a propriedade para terceiro, remanescendo, também,
como titular da coisa até o pagamento integral do preço pelo terceiro.
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4. SERVIDÃO: É a hipótese em que o titular confere a um terceiro o direito de
usar ou o direito de usar e fruir da coisa. Há dois tipos de servidão:

Servidão Real: é uma limitação na qual o direito de usar e fruir é transmitido


independentemente das qualidades pessoais do sujeito de direito. Isso ocorre
porque existe uma relação de vizinhança (é a servidão propriamente dita).

Servidão Pessoal: é a hipótese em que o direito de usar e fruir é transmitido ao


sujeito de direito pelas qualidades pessoais dele. São elas: usufruto, uso e
direito de habitação (que são idênticos em sua natureza, mas se diferenciam no
tamanho do uso e da fruição, na prerrogativa que terá o terceiro de usar e fruir).
Assim, as servidões pessoais e reais se distinguem porque as pessoais são
inalienáveis e as reais são alienáveis.

4.1. SERVIDÃO REAL


4.1.1. Conceito

Servidão real é a limitação da propriedade na qual o titular do imóvel


dominante pode usar e fruir do imóvel serviente para os fins estabelecidos na
relação jurídica. O grande objetivo jurídico da servidão é a proteção do titular de
um imóvel dominante. Tem por natureza jurídica uma limitação real à propriedade.

4.1.2. Princípios

Necessidade de se ter dois imóveis com dois titulares diferentes. Não basta os
dois imóveis diferentes, deve haver uma titularidade diferente. Se houver dois
titulares em condomínio, não há servidão.
Implica sempre numa obrigação propter rem. Aplica-se o princípio da
ambulatoriedade, ou seja, aonde quer que a coisa vá, a limitação a
acompanhará em seu destino.

Alienabilidade: a servidão pode ser alienada conjuntamente com o bem. No


momento em que o titular do imóvel serviente aliena a coisa, imediatamente
ele aliena a servidão.

Indivisibilidade: a servidão é indivisível, não havendo possibilidade de se criar


subservidões.

A servidão é permanente, ou seja, haverá a servidão enquanto houver a


necessidade de proteção. É permanente, mas não é perpétua.

O uso da servidão é um exercício restritivo, pois limita as prerrogativas de poder


do imóvel serviente. Não se pode ampliar o exercício da servidão.

4.1.3. Constituição da servidão

A servidão poderá decorrer da lei, da vontade das partes ou de uma sentença


judicial.
Servidão decorrente de lei: relação de vizinhança.
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Servidão decorrente de vontade das partes: pode decorrer de um contrato ou
de um ato unilateral, que pode ser gratuito ou oneroso.
Servidão decorrente de sentença judicial: pode-se estabelecer uma servidão
numa ação de usucapião ou em uma ação confessória (ação constitutiva de
servidão).

4.1.4. Classificação quanto à natureza


Servidão aparente ou não aparente: aparente é aquela que se apresenta por meio
de atos exteriores, atos materiais. A não aparente é aquela em que não existem
atos exteriores (exemplo: servidão de iluminação).
Servidão contínua ou não contínua: a contínua existe quando o seu exercício for
de ato material ininterrupto. A descontínua é aquela em que a prática dos atos
sofre interrupção (exemplo: servidão de passagem).
Servidão urbana e rústica: a urbana envolve atividade de natureza urbana. A rural
é aquela em que a atividade desenvolvida é de natureza rural. O que determina
a natureza da servidão é a natureza da atividade e não a sua localização.
O artigo 1.213 do Código Civil dispõe que somente uma servidão aparente e
contínua poderá ter proteção possessória e gerar ação possessória e de usucapião. A
Súmula n. 415 do Supremo Tribunal Federal, entretanto, dispõe que há uma exceção a
essa regra, tratando-se da servidão de passagem, que é uma servidão aparente e
descontínua, mas, com proteção possessória.
4.1.5. Direitos e deveres dos titulares
O titular do imóvel tem a obrigação da manutenção da coisa – essa manutenção
implica exercício restrito ao que foi estabelecido – e tem o direito de usar e fruir.
O titular do imóvel serviente tem a obrigação de sujeição– uma obrigação negativa
de não fazer – e tem o direito de exigir indenização quando não houver manutenção da
coisa ou quando o uso for indevido.

4.1.6. Extinção da servidão


Se houver um titular para todos os imóveis, extingue-se a servidão.
As partes podem convencionar a extinção da servidão por meio de um contrato.
Pode-se extinguir a servidão por um ato unilateral (renúncia à servidão).
Perecimento do objeto extingue o direito de servidão.
A servidão também poderá ser extinta pela desapropriação.
O não uso por 10 anos consecutivos extingue a servidão.

5. USUFRUTO
5.1. Conceito
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É o direito real limitado pelo qual o titular da coisa transfere a terceiro o direito de
usar e fruir ou o direito de dispor de forma temporária, remanescendo o titular com
prerrogativa real sobre a coisa.
5.2. Natureza Jurídica e Princípios
Há um direito real limitado de fruição, mas, ao mesmo tempo, é um direito
pessoal, personalíssimo.
O usufruto é um direito inalienável (artigo 1.393 do Código Civil). O usufrutuário
não poderá alienar o usufruto, entretanto poderá devolvê-lo ao nu-proprietário ou ceder o
direito de usufruto para terceiros. O que não se pode fazer é transferir legalmente o
usufruto para terceiros. Sendo um direito inalienável, o usufruto é impenhorável.
O usufruto é um direito divisível, ou seja, pode-se estabelecer um condomínio de
usufrutuários. O usufruto é também um direito temporário, visto que, uma vez falecendo
o usufrutuário, extingue-se o usufruto. Se o usufruto for feito com pessoa jurídica,
vigorará por 30 anos (o Código Civil de 1916 estabelecia o prazo de 100 anos). O uso é
ilimitado. A diferença entre usufruto, uso e habitação está no exercício por parte do
titular. No usufruto, o exercício é amplo; no uso, o exercício é restrito; na habitação, o
exercício é muito restrito.

5.3. Espécies
5.3.1. Quanto à origem
Por lei: há um usufruto legal no direito de família e um usufruto legal no direito
das sucessões. No direto de família (artigo 1.689, inciso I, do Código Civil), o
pai é usufrutuário do bem do filho menor (o usufruto serve para proteger o
filho, nascendo do pátrio poder). Há somente uma hipótese em que o pai não se
torna usufrutuário do bem do filho: quando houver disposição penal em matéria
de casamento (sanções de natureza civil e administrativa quando a pessoa se
casa, infringindo impedimento impediente ou proibitivo).
No direito de sucessão sob a ótica do Código Civil de 1916, o cônjuge ou
companheiro sobrevivente era usufrutuário quando concorria com descendentes
ou ascendentes do de cujus (artigo 1.611, § 3.º, do Código Civil e artigo 2.º,
incisos I e II, da Lei n. 8.971/94). Esse usufruto somente era concedido se o
regime de casamento fosse diferente da comunhão universal de bens. Era o
usufruto vidual, visto que somente o viúvo teria o direito, ou seja, havendo
segundo casamento ou união estável, extinguir-se-ia o usufruto vidual. Se
concorresse com descendentes, o sobrevivente teria usufruto de 25% dos bens;
se concorresse com ascendentes, teria usufruto de 50% dos bens. O atual
Código Civil coloca o cônjuge viúvo como herdeiro necessário e revogou o
instituto do usufruto vidual para todas as sucessões que abrisse a partir do dia
12 de janeiro de 2003 por entender que o instituto é antieconômico.
Por vontade das partes: estabelece-se por ato unilateral (testamento etc.) ou por
ato bilateral (contrato). O usufruto por ato bilateral pode ser gratuito ou
oneroso.
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5.3.2. Quanto ao objeto
Universal: é aquele que recai sobre todos os bens ou sobre uma fração
indeterminada deles.
Singular ou Particular: é aquele que recai sobre um objeto certo e determinado.

5.3.3. Quanto à extensão


Pleno: é aquele em que não há limitação quanto ao exercício.
Limitado: é aquele em que o exercício deve obedecer a uma finalidade.

5.3.4. Quanto às pessoas


Sucessivo: estabelecem-se vários titulares sucessivos e há incorporação aos demais
com a morte de um deles. Com a morte do usufrutuário, não há como se fazer a
transmissão do usufruto para o seu sucessor (no caso, seria um fideicomisso).
Portanto, não existe usufruto sucessivo.
Conjunto: estabelecem-se vários titulares (usufrutuários) conjuntamente e com a
morte de qualquer deles, ao invés da cota de fruição retornar ao proprietário,
incorpora no sobrevivente.

5.3.5. Quanto ao Tempo


Temporário: é aquele que tem um tempo certo.
Vitalício: é aquele que vigora até a morte do usufrutuário ou, se for pessoa
jurídica, por 30 anos.
O usufruto, conforme a classificação pelo Direito Romano, usada pelo
Código Civil , é:
Próprio: quando recai sobre bens infungíveis.
Impróprio: quando recai sobre bens fungíveis ou consumíveis (chamado de “quase
usufruto”), como o usufruto de gado.

O usufruto do índio, previsto no artigo 231, § 2.º, da Constituição Federal, é um


usufruto que, em tese, é perpétuo, visto que a Carta Magna não dispôs limitações. Foge às
regras da relação civil, tendo em vista que o nu-proprietário (Estado) não pode requerer o
bem.

5.4. Estrutura do Usufruto (artigo 104 do Código Civil)


5.4.1. Elemento subjetivo
Tem capacidade para instituir um usufruto todo aquele que tiver o direito de dispor
da coisa (jus disponendi).
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5.4.2. Elemento objetivo


O objeto sobre o qual recai o usufruto pode ser móvel ou imóvel.
5.4.3. Elemento formal
Em relação à forma, o usufruto vai ser formal em relação aos bens imóveis, para
que seja registrado no cartório de registro de imóveis. Será modal quando houver uma
condição, um termo ou um encargo.
5.5. Direitos e Obrigações das Partes
5.5.1. Usufrutuário
a) Direitos do usufrutuário
Usar e fruir livremente da coisa, desde que não exista uma causa que limite essa
fruição.
Direito em relação às benfeitorias que venha a fazer na coisa.
b) Obrigações do usufrutuário
Inventariar a coisa (descrição pormenorizada da coisa), tendo em vista que deverá
devolver a coisa no mesmo estado em que se encontrava.
Conservar a coisa, ou seja, manter o estado em que se encontrava.
Caucionar a coisa– é uma garantia que o usufrutuário vai apresentar em face da
fruição –; essa caução pode ser dispensada. Se houver a exigência da caução e
o usufrutuário não caucionar, ele perderá a administração da coisa (não dá
margem à extinção do usufruto). Há duas exceções em que o usufrutuário não é
obrigado a caucionar: nas relações gratuitas (doações) e nas relações de pátrio
poder.
Prestar contas ao nu-proprietário.
Obrigação em relação às despesas. Os encargos que correm por conta do
usufrutuário são: despesas módicas ou ordinárias (de pequeno valor – artigo
1.404, § 1.º – são as despesas inferiores a 2/3 do líquido do rendimento anual);
obrigações propter rem (impostos, taxas, contribuições de melhoria, despesas
condominiais etc.); e seguro (o legislador previu um seguro para garantir a
coisa contra eventual perecimento, deterioração ou destruição; esse seguro só
pode ser imputado ao usufrutuário se preexistir à relação de usufruto, ou seja, o
nu-proprietário não pode exigir que o usufrutuário pague o seguro se esse for
constituído após o nascimento do usufruto – se houver o fato sinistro, o
levantamento do dinheiro será feito pelo nu-proprietário, havendo uma sub-
rogação real, ou seja, uma substituição da coisa, restabelecendo-se o usufruto
pelo tempo remanescente).

5.5.2. Nu-proprietário
São direitos do nu-proprietário:
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administrar a coisa (quando o usufrutuário se recusar a prestar a caução pelo
usufruto). Como essa administração implica num custo, o nu-proprietário
poderá, por ela, retirar uma porcentagem do rendimento da coisa;
alienar a coisa (o nu-proprietário poderá alienar a coisa quando e para quem ele
quiser);
tem todos os direitos de um possuidor indireto, ou seja, tem todos os direitos de
proteção possessória, não exercida pelo usufrutuário, em relação a terceiros;
requerer a extinção do usufruto por culpa do usufrutuário (quando o usufrutuário
descumprir algo pactuado entre as partes ou quando der destino diverso à coisa.
Exemplo: imóvel com destino residencial, o usufrutuário o utiliza para
comércio).
São obrigações do nu-proprietário:
sujeição: o nu-proprietário é obrigado a deixar o usufrutuário usar e fruir, sem ser
incomodado;
arcar com as despesas extraordinárias;
assumir a sub-rogação da coisa segurada.

5.6. Extinção do Usufruto


Culpa do usufrutuário.
Fim da causa protetiva.
Perecimento da coisa (bens não caucionados e não segurados).
Morte do usufrutuário (a morte do nu-proprietário não extingue o usufruto –
haverá transmissão da nua-propriedade aos herdeiros, mas a relação de
usufruto subsistirá). Se houver dois usufrutuários e um deles vier a falecer no
silêncio, a parte do falecido volta ao nu-proprietário; se expressamente
constituído o usufruto, poderá incorporar-se ao usufrutuário sobrevivente.

6. COMPROMISSO IRRETRATÁVEL DE COMPRA E VENDA


6.1. Conceito: O contrato de compra e venda gera um direito real limitado, pelo qual o
promitente vendedor aliena, por instrumento público ou particular, um bem imóvel
mediante o pagamento integral do preço pelo compromissário comprador que, nessa
ocasião, adquire o direito à escritura definitiva do imóvel ou à sua adjudicação
compulsória (artigos 1.417 e 1418 do Código Civil). Há um direito real limitado, visto
que há duas partes com prerrogativas reais:

Promitente vendedor: que possui a prerrogativa do jus disponendi. Ele


continua com o direito de dispor, entretanto não pode exercitá-lo.
Compromissário comprador: no momento em que se realiza o compromisso de
compra e venda, a ele é transferido o direito de usar e dispor da coisa.

O contrato de compra e venda é um contrato consensual que estará


perfeito com a mera aposição de vontade; a parte se obriga a alienar a coisa, mas
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somente a entregará após o contrato firmado, podendo haver arrependimento do
negócio. No compromisso de compra e venda, não há a possibilidade de
arrependimento do negócio. Então, a diferença entre contrato de compra e venda
e compromisso de compra e venda é: no contrato há um espaço de tempo entre
sua celebração e a produção de seus efeitos, podendo haver arrependimento; no
compromisso não há o espaço de tempo entre a celebração e a efetiva produção de
seus efeitos, não havendo, portanto, a possibilidade de arrependimento.

6.3. Espécies

Existem hoje duas espécies diferentes de contrato de compra e venda:

Compromisso Irretratável: aquele que não admite resilisão unilateral


(arrependimento por uma das partes); é um direito real que vai a registro.

Compromisso Retratável: aquele que admite a rescisão unilateral; é um contrato


que não vai a registro.

A Súmula n. 166 do Supremo Tribunal Federal dispõe que, no compromisso


irretratável de compra e venda, não existe arrependimento.

Deverá o compromisso retratável possuir uma cláusula expressa da possibilidade


de arrependimento; no silêncio, haverá um compromisso irretratável de compra e venda.
O compromisso irretratável produz eficácia erga omnes e o compromisso retratável
produz eficácia inter partes.

O compromisso retratável não é um pré-contrato, visto que, quitada a última


parcela, não há mais a possibilidade de arrependimento por nenhuma das partes. As
partes somente podem se arrepender até a quitação da última parcela. O compromisso
retratável já é um instrumento definitivo, possibilitando, quando quitada a última parcela,
a adjudicação compulsória.

6.4. Natureza Jurídica

Há grande divergência entre os doutrinadores quanto à natureza jurídica do


compromisso de compra e venda.

Uma primeira posição entende que o compromisso de compra e venda é a


própria transmissão da propriedade, mas de maneira resolúvel, visto que há uma
condição resolutiva, que é o pagamento integral do preço (direito de propriedade
resolúvel). Seria como um pacto de retrovenda, ou seja, se o compromissário
comprador se tornar inadimplente, o promitente vendedor poderá retomar para si a
coisa (BARBOSA LIMA). O negócio estaria perfeito, apenas aguardando um evento
futuro que seria o pagamento integral do preço. Essa posição não é adotada. A
diferença entre o compromisso de compra e venda e a condição resolutiva é que, no
compromisso, ambas as partes continuam possuindo direitos reais sobre a coisa; e, na
retrovenda, é transmitido o poder para o novo comprador.
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Uma segunda posição entende que o compromisso de compra e venda implica
em um direito limitado de fruição (SILVIO RODRIGUES). O compromissário comprador
se equipara a um usufrutuário e o promitente vendedor se equipara a um nu-
proprietário. Essa posição também não é adotada. Todo direito de fruir tem caráter
assistencial e o compromisso de compra e venda tem o objetivo de alienar um bem,
ambos possuindo, dessa forma, objetivos jurídicos diferentes.

Uma terceira corrente entende que o compromisso de compra e venda é um direito


de garantia, visto que o compromissário comprador é um devedor e o promissário
vendedor é o credor. Há uma relação de garantia da relação jurídica dada pelo próprio
bem, ou seja, se o devedor não pagar todas as prestações, o próprio bem garante o
compromisso de compra e venda. Essa posição não foi adotada porque, no direito de
garantia, o bem garante uma relação jurídica principal (havendo duas relações jurídicas)
e, no compromisso de compra e venda, o bem garante a própria relação jurídica (há uma
única relação jurídica). Ainda, no direito de garantia, caso o devedor não pague as
prestações, o credor não poderá tomar o bem dado em garantia automaticamente; no
compromisso de compra e venda, caso o devedor não pague as prestações, o credor
poderá automaticamente tomar o bem para si.

Conclui-se, portanto, que o compromisso de compra e venda é um direito real


sui generis, visto que não há, no ordenamento jurídico, nenhum modelo que a ele se
adapte.

6.5. Requisitos

Caso falte um dos requisitos, a relação jurídica passa de obrigação real para
somente relação obrigacional.

Os requisitos do compromisso de compra e venda são:

6.5.1. Irretratabilidade

Não pode haver, no compromisso de compra e venda, nenhuma cláusula


contratual que permita a alguma das partes o arrependimento. Apesar de irretratável,
entretanto, o contrato de compra e venda pode ser resilido bilateralmente ou rescindido
por culpa do compromissário comprador.

Resilição unilateral é a extinção do contrato por ato voluntário da parte não


culposa.

Resilição bilateral é a hipótese em que nenhuma das partes quer continuar com o
contrato (distrato). Tem eficácia ex nunc. O distrato deve ter a mesma forma do contrato

Rescisão é a extinção do contrato por culpa de uma das partes.

No compromisso de compra e venda, a rescisão somente poderá ocorrer por culpa


do compromissário comprador, se ele não cumprir com a obrigação de pagar as parcelas.
A rescisão tem efeito ex tunc. Não pode ser efetuada pela parte; somente pode ser
declarada pelo juiz.
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6.5.2. Bem imóvel

Há necessidade de ser imóvel registrado.

6.5.3. Pagamento do preço

Pode ser feito à vista ou em prestações. Aplica-se a Súmula n. 412, do Supremo


Tribunal Federal, que dispõe que, no caso de culpa do devedor no compromisso
irretratável, ele perderá o sinal e deverá arcar com as despesas do processo de rescisão.
O artigo 53 do Código de Defesa do Consumidor dispõe que a cláusula que estabelece
a perda de todas as parcelas é nula, para que não haja o enriquecimento indevido.
Então, caso haja a rescisão por falta do pagamento do devedor, o promitente vendedor
poderá, como sanção ao devedor, abater – do valor das parcelas já recebidas e que
tenha de devolver – o sinal, as custas processuais, os honorários advocatícios e o
aluguel.

Compensação é uma forma de extinção da obrigação na qual as partes são


credoras e devedoras umas das outras. O compromissário comprador é credor do
excedente que foi pago. O promitente vendedor é credor do bem e de todo o ônus
da rescisão. A compensação exige que as dívidas sejam líquidas, certas e que
vençam no mesmo prazo. Há dois tipos de compensação:

própria: aquela em que não existe remanescente na obrigação, tendo em vista


que o valor das dívidas apresenta uma equiparação plena;
imprópria: aquela em que sempre existe remanescente na obrigação, visto que
não há uma simetria entre as dívidas.

O cálculo da compensação é feito com base no artigo 53 do Código de Defesa do


Consumidor e na Súmula n. 412 do Supremo Tribunal Federal. Como já mencionado
acima, essa Súmula estabelece que, no caso de rescisão por arrependimento, por culpa do
compromissário comprador, este perderá o sinal. Haverá, conforme dispõe o artigo 53 do
Código de Defesa do Consumidor, a devolução das parcelas pelo promitente vendedor, o
qual , entretanto, poderá reter, automaticamente, o sinal (arras penitenciais), além de
valores correspondentes a custas processuais, honorários advocatícios, danos no imóvel,
aluguéis. A retenção tem caráter de sanção pelo tempo que o compromissário comprador
passou indevidamente no bem. A regra do artigo 53 do Código de Defesa do Consumidor
só se aplica quando há ausência de justa causa.

6.5.4. Capacidade das partes

A pessoa pode realizar um contrato de compra e venda, desde que tenha


capacidade de exercício de direitos, ou seja, desde que não seja absoluta ou relativamente
incapaz. Mesmo a pessoa absoluta ou relativamente incapaz, entretanto, pode realizar um
contrato de compra e venda, desde que sua incapacidade seja suprida por representação
ou assistência.

6.5.5. Jus Disponendi


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É o direito de dispor da coisa.
Há a regra de que o ascendente não pode vender o bem para o descendente sem
a anuência dos demais. Se não houver anuência expressa de um dos descendentes,
caberá ação anulatória, que pode ser promovida pelo Ministério Público caso o
descendente que não anuiu seja menor. A ação anulatória pode ser proposta em 10 anos
a partir da venda do bem.

6.5.6. Registro

Deve haver o registro, visto que sem ele não há direito real. Todo direito real sobre
coisa alheia necessita de registro.

6.6. Efeitos do Contrato de Compra e Venda

6.6.1. Oponibilidade erga omnes

Se o contrato de compra e venda for registrado, todos podem consultar o


registro. Quando o oficial recebe o documento para registro, ele deve expedir um edital
para, durante 30 dias, chamar terceiros. Havendo dúvidas, o juiz registrará o contrato
de compra e venda para aquele que pagou mais parcelas. Os outros, que não obtiverem
o registro, deverão ingressar com ação de perdas e danos.

6.6.2. Direito de seqüela com prerrogativa real

O compromissário comprador pode ir atrás do bem onde quer que ele esteja.

6.6.3. Ações reais

Ambos se valem dessa tutela porque, normalmente, o compromissário


comprador é o possuidor direto e o promitente vendedor é o possuidor indireto.

6.6.4. Transmissibilidade “causa mortis”

Com a morte, seja do compromissário comprador ou do promitente vendedor,


seus herdeiros devem dar continuidade ao compromisso; a morte não gera perda de
continuidade.

6.6.5. Cessibilidade

Apesar de o compromisso de compra e venda não poder ser alienado, ele pode
ser cedido. Tanto o compromissário comprador quanto o promitente vendedor podem
ceder seus direitos.

O compromissário comprador faz cessão de um débito seu, não havendo


necessidade da anuência do promitente vendedor para realizar a cessão. O Decreto-lei
n. 58/37 estabelece uma solidariedade para os cessionários (todos cumprem
solidariamente a obrigação, criando um vínculo de solidariedade do débito). A cessão
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não está vinculada ao registro. A cessão com registro garante ao cessionário o direito
de exigir do promitente vendedor a escritura definitiva, sob pena de adjudicação
compulsória. Com uma cessão sem registro, o cessionário fica dependente do cedente
(promitente vendedor) para obter a escritura definitiva, visto não ser titular de direito
real.
Por sua vez, o promitente vendedor poderá ceder seu crédito, entretanto terá,
obrigatoriamente, que notificar o compromissário comprador.

6.6.6. Imissão na posse


No momento em que ocorre o compromisso, salvo regras excepcionais, o
Compromissário comprador tem a posse direta.

6.6.7. Purgação da mora


É uma prerrogativa – que a lei concede ao compromissário comprador – de
efetuar o pagamento com atraso, sem lhe atribuir culpa. Deverá ser notificado em 30
dias, sempre via cartório de registro de imóveis, e o pagamento também é
extrajudicial. A lei concede essa prerrogativa, tendo em vista que o compromisso de
compra e venda tem um caráter social.

6.6.8. Adjudicação compulsória


É a outorga da escritura definitiva pelo juiz quando não houver anuência por
parte do promitente vendedor. O rito é sumário, e a petição inicial deve atender a duas
condições de procedimento: prova material (da quitação) e prova da recusa do
promitente vendedor em outorgar a escritura. Não cabe prova testemunhal para essas
condições.

7. DIREITOS REAIS DE GARANTIA


7.1. Introdução: Os Direitos Reais de Garantia surgiram no ano 326 a.C. com a
lex poetelia, quando os bens passaram a responder pelas obrigações. Anteriormente, as
relações eram pessoais, ou seja, a pessoa respondia pela sua obrigação com o próprio
corpo (tornava-se escrava).
O nosso sistema constitucional prevê duas exceções ao cumprimento das
obrigações por meio de bens: no caso de alimentos e no caso de depositário infiel (haverá
prisão civil, visto que a liberdade do devedor tem um valor inferior à obrigação em
relação ao credor).
A garantia visa evitar a insolvência do devedor (impossibilidade de cumprir a
obrigação) e evitar o rateio (a divisão do patrimônio em partes iguais). Há duas espécies
de garantia: a garantia fidejussória e a garantia real.
7.2. Garantia Fidejussória: Aquela em que o patrimônio de um terceiro, não
diretamente obrigado, responde solidariamente no cumprimento da prestação do devedor
principal. Isso ocorre por meio de um contrato de fiança (estabelece-se uma relação de
garantia). O nosso sistema trabalha com duas espécies de solidariedade:
solidariedade perfeita: em que os vários coobrigados estão unidos pela mesma
relação causal com o credor, gerando, sempre, uma divisão proporcional;
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solidariedade imperfeita: em que há relações causais diferentes para os
coobrigados solidários, não havendo rateio, mas sim integralidade no
cumprimento da prestação por uma das partes solidárias.
A garantia fidejussória foi insuficiente no sistema, por não resolver o problema da
insolvência, já que pode haver a insolvência do garantidor.
7.3. Garantia Real
São aquelas em que bens certos e determinados respondem pelo cumprimento da
obrigação.
Há o princípio da aderência existente entre o credor e a coisa. Se a coisa perecer, o
vencimento da dívida será antecipado.
7.3.1. Modalidades de garantia real
O nosso sistema estabeleceu duas modalidades de garantia real:
Hipoteca e Penhor: em que o titular devedor transfere ao terceiro credor apenas a
prerrogativa na execução da coisa (prerrogativa de levar a coisa à hasta
pública). Não há fruição da coisa, devendo esta permanecer, normalmente, com
o devedor, no caso de hipoteca, e com o credor, no caso de penhor, que não
poderá dela fruir;
Anticrese: em que o titular devedor transfere ao terceiro credor apenas a fruição
sobre o bem imóvel, para garantir o cumprimento da obrigação principal por
meio da compensação entre créditos e débitos. A anticrese somente pode
perdurar por 15 anos e nem um dia a mais, tendo em vista que se tira o bem do
comércio. Não se pode levar o bem à hasta pública.
Compensação é forma de extinção da obrigação, pois as partes são credoras e
devedoras entre si de dívidas líquidas, fungíveis entre si e vencidas.
A relação de garantia, quer a hipoteca, quer o penhor, quer a anticrese, não pode
ser autônoma.
7.3.2. Princípios
Princípio da Acessoriedade: O direito de garantia (hipoteca, penhor ou anticrese)
decorre sempre de uma relação principal, de um outro contrato. É, portanto, um
contrato acessório que depende do contrato principal, não havendo exceções.
Em caso de nulidade ou prescrição da relação principal, haverá também
nulidade ou prescrição da relação acessória (direito de garantia).
Princípio do Privilégio: O crédito real não está sujeito a rateio. Somente a
hipoteca autoriza a concessão de várias hipotecas sobre o mesmo bem (sub-
hipoteca), visto que é a única hipótese em que o bem remanesce com o
devedor. Havendo várias hipotecas, aplica-se o princípio cronológico, ou seja,
aquele credor que prenotou primeiro terá o privilégio sobre o bem.
O fato de se estabelecer um privilégio real não implica que o crédito
real venha a ser resgatado em primeiro lugar, visto que existem os créditos
públicos que preferem sobre todos os demais créditos, independentemente da
data em que foram prenotados.
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Princípio da Indivisibilidade do Crédito Real: independentemente da natureza da
coisa, com a concessão do direito de garantia, ela se torna, por lei,
automaticamente indivisível. A indivisibilidade implica que somente o
pagamento integral libera o gravame sobre a coisa.
Há uma exceção a esse princípio: o Tribunal de Justiça de São Paulo
estabeleceu o princípio da divisibilidade da garantia para cada unidade
autônoma no caso da Encol (cumprimento parcial da obrigação).
Princípio da Publicidade: A publicidade é complexa, ou seja, necessita de mais de
um fator para ocorrer.
Na hipoteca e na anticrese, a publicidade ocorre por meio do registro no
Cartório de Registro de Imóveis, entretanto não basta o registro, é necessário
que o crédito real esteja descrito minuciosamente no registro. No penhor, não
basta somente o registro no Cartório de Títulos e Documentos; exige-se a
posse da coisa junto ao credor, porque os bens móveis se transmitem por
simples tradição (é, entretanto, uma posse sem exercício).
A descrição minuciosa do crédito no registro (hipoteca e anticrese) e a
posse da coisa junto ao credor (penhor) são necessárias para gerar
circulabilidade da coisa. Deve, ainda, haver no registro o montante da dívida,
a data de pagamento e os frutos (juros) da obrigação (princípio da
especialização).
7.4. Estrutura Jurídica
O artigo 104 do Código Civil exige capacidade, licitude do objeto e forma
(sempre rígida). Para os bens imóveis, a forma é a escritura pública.

7.4.1. Capacidade
Capacidade genérica tem o proprietário (aquele que tem o jus disponendi da
coisa). A lei estabelece uma capacidade específica quando o proprietário for casado,
devendo, necessariamente, haver a outorga do cônjuge, independentemente do regime de
bens.
No direito de sucessão, somente por alvará um bem poderá ser gravado em
garantia, independentemente da anuência de todos os herdeiros.
7.4.2. Objeto
O bem deverá estar no comércio.

Não será possível hipotecar bem de família voluntário, entretanto, bem de família
compulsório poderá ser objeto de hipoteca (artigo 3.º da Lei n. 8.009/90). Nos casos de
bens compulsórios, se o bem for divisível, cada condômino pode gravar a sua parte; se
for indivisível, todos os condôminos devem dar o bem em garantia.

DIREITO DE FAMÍLIA
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CONCEITO : ramo do Direito Civil que disciplina a formação da família, tanto pelo casamento
quanto pela união estável, a proteção à prole e as relações de parentesco, tanto no aspecto
pessoal quanto patrimonial

- em sentido estrito
FAMÍLIA
- em sentido amplo

- EM SENTIDO ESTRITO : união de pessoas cuja intenção é gerar prole. Logo, pode ser
instituída pelo casamento, união estável ou mesmo pela monoparentalidade

- EM SENTIDO AMPLO : é a união de pessoas que guardam entre si vínculos consangüíneos


e de afinidade, tanto em linha reta (ascendentes e descendentes) quanto colateral (ramificação
a partir de ponto comum num tronco de ascendência).

Assim, estão incluídas as relações estabelecidas pelo vínculo da :

- consangüinidade (pai, mãe, filhos, irmãos, avós, netos, primos, tios)


- afinidade (sogros, genro, nora, cunhados)
- casamento
- união estável
- parentesco civil

CUIDADO : família é ente despersonalizado !!!!

PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA

1 - PRINCÍPIO DA RATIO DO CASAMENTO : o fundamento básico do matrimônio é a


afeição entre os cônjuges, bem como a assistência e fidelidade recíprocas. Destarte, é uma
espécie de relação jurídica pessoal sem cunho patrimonial, conforme preceitua o próprio CC.

2 - PRINCÍPIO DA PARIDADE DOS CÔNJUGES : previa o desaparecimento do poder


marital no mundo jurídico, como já programava norma constitucional insculpida no art. 226, § 5º
CF.

A situação da mulher tem sido alterada desde 1916, sendo iniciada no âmbito das leis
trabalhistas. A primeira grande vitória legislativa no ramo do Direito Civil foi o Estatuto da
Mulher, nos idos anos 60, o qual, dentre outras importantes conquistas, conferiu à mulher casada
plena capacidade civil (antes, era relativamente incapaz, devendo ser assistida por seu marido).

Hoje, a lei já absorveu o princípio mesmo em lei ordinária, pois o CC de 2002 eliminou todos os
resquícios de discriminação.
3 - PRINCÍPIO DA IGUALDADE DOS FILHOS : proíbe qualquer espécie de tratamento
diferenciado entre os filhos, não havendo mais sequer nomenclatura para adjetivar a filiação
como outrora - art. 226, § 6º CF/88.
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4 - PRINCÍPIO DO MELHOR INTERESSE DO MENOR : aponta as soluções a serem
impostas pelo Poder Judiciário quando estão envolvidos interesses de menores. Está presente no
ordenamento jurídico, ainda que implicitamente, nas mais diversas naturezas de normas jurídicas
e, por vezes, explícitas (art. 1584 a 1589 CC).

RELAÇÃO DE PARENTESCO

É vínculo que reúne pessoas naturais que gera direitos e deveres recíprocos (logo, pelo
óbvio, ninguém é parente de cachorro, periquito, papagaio etc. - “ah não, minha pepezinha é
como se fosse minha filha”; “meu cachorro é como se fosse da família”, "cachorro também é
gente”).

ART. 1594 : contagem dos graus de parentesco (ensinar por gráfico)

LIMITE DO PARENTESCO : 1592

OBS.: a lei civil restringe a figura do parente. Assim, o parentesco é limitado civilmente, o
que possibilita obstar aquele que gosta de se aproveitar de uma relação para obter favores (“oi !
eu sou a prima da sobrinha da irmã da tia da sua bisavó ! Tudo bem ?”).

Assim, por ser o parentesco o vínculo que une pessoas, sua natureza dependerá justamente da
natureza do próprio vínculo :

- Natural ou biológico : vínculo é a consangüinidade


- Civil ou meramente civil : vínculo é a ficção
- Afinidade : decorrente do casamento ou união estável

1 - o parentesco civil surge entre pessoas quando se procede a adoção, ou seja, é a adoção que
vinculará as pessoas pelo parentesco civil.

ADOÇÃO : o vínculo é uma ficção jurídica porque não existiria se a lei assim não
determinasse (entre os pais e os filhos adotados existe um vínculo ficto, que determina, por sua
vez, o parentesco meramente civil).

2 - Parentesco por afinidade : existem autores (principalmente paulistas) que sustentam que a
afinidade é uma espécie de relação de parentesco, meramente porque está sendo tratada na parte
geral do título, juntamente com a relação de parentesco consangüíneo e civil.

CONSEQÜENCIA : a possibilidade de suceder o cônjuge quando da sua morte, i.e., herdar seus
bens, bem como pleitear alimentos.
ATENÇÃO : o cônjuge é unido aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade.

- Cônjuge-Varão (homem)
CÔNJUGE
- Cônjuge-Virago (mulher)

Um cônjuge está vinculado ao outro pelo matrimônio, e não pela consangüinidade (por isso,
cônjuge não é parente).
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Se o cônjuge não é parente, por que os seus parentes seriam ? Entende a maioria da doutrina
no Rio de Janeiro, principalmente, que a afinidade não é uma espécie de parentesco (uma coisa é
ser afim, outra é ser parente).

- AFINIDADE : vínculo que une o cônjuge aos parentes do outro (e não ao outro cônjuge).

- PARENTESCO : somente por consangüinidade ou civil.

Ex.: o cunhado é afim da cunhada, a sogra do genro etc (cuidado com a frase !!!
brincadeirinha); os sogros são afins de 1º grau do genro/nora; os cunhados são afins de 2º
grau em linha transversal.

LIMITE DA AFINIDADE : art. 1595, § 1º CC.

CASAMENTO

É a união de pessoas de sexos diferentes, estabelecida segundo as formalidades legais, com a


finalidade de formar família, pela comunhão plena de vida e igualdade entre os cônjuges,
mediante auxílio mútuo, respeito e consideração.

CONTROVÉRSIA : NATUREZA JURÍDICA

1 - CORRENTE CONTRATUALISTA : o casamento é um contrato puro e simples, nascendo da


manifestação de vontade dos nubentes. São previstas as condutas a ser pautadas pelas partes,
bem como os aspectos patrimoniais.
TODAVIA :

- o descumprimento da obrigação contratual implica em perdas e danos, na medida em que


envolve, essencialmente, direitos patrimoniais;

- admite resilição pelo distrato em quaisquer das suas espécies, bem como incidência da Teoria
da Imprevisão;

- as normas não são ditadas pelas partes, mas pela lei.

2 - CORRENTE INSTITUCIONALISTA : casamento é um conjunto de regras prefixadas. A lei


é que dispõe sobre as normas que norteiam o casamento, tendo em vista a intensa intervenção do
Estado. Os atos necessários para constituição, vigência e desconstituição do casamento devem
obedecer às formalidades legais, o que leva alguns doutrinadores, minoritariamente, classificar o
Direito de Família como Direito Público.

3 - CORRENTE MISTA (atualmente, majoritária) : casamento é um ato jurídico complexo,


compreendendo vontades patrimoniais e extrapatrimoniais em níveis diversos, ou seja, a vontade
dos nubentes + vontade dos Estado. São impostos deveres e obrigações, tanto por lei quanto por
disposição particular.

Ex.: alguém quer casar com a sogra » impossível porque contraria a vontade do Estado
(vedação legal); eleição do regime de bens etc.
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REQUISITOS PARA CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO

- expressa manifestação de vontade dos nubentes, tanto por ato próprio quanto por mandatário;

- presença e intervenção da autoridade em nome do Estado;

- obediência às formalidades procedimentais;

- presença das testemunhas.

CONTROVÉRSIA : em quê momento o casamento considera-se celebrado ?

1ª CORRENTE : no momento em que os nubentes manifestam, inequivocamente, vontade de


contrair núpcias - "SIM"

2ª CORRENTE (majoritária) : no exato tempo em que a autoridade os declara casados. Esse é o


entendimento dominante porque, mesmo após ter manifestado vontade de se casar, o nubente
pode arrepender-se, desde que antes ter o juiz declarado a celebração do casamento.

HABILITAÇÃO MATRIMONIAL

Formalidade essencial e indispensável à celebração do casamento.

REGRA : precede à celebração do casamento.

EXCEÇÃO : primeiro ocorre a cerimônia de celebração, após é realizada a habilitação »


casamento nuncupativo (art. 1540 e 1541CC e art. 76, Lei 6015/73) e casamento religioso sem
prévia habilitação (art. 74, Lei 6015/73 e art. 1516, § 2º CC).

FINALIDADE : averiguação da capacidade matrimonial dos nubentes, ou seja, examinar se


os noivos estão aptos para se casarem.

PROCEDIMENTO : a habilitação é processada, mediante solicitação por ambos os nubentes


(ou por procuração) no Registro Civil de Pessoas Naturais da circunscrição de qualquer dos
nubentes, sendo obrigatória a intervenção do MP (art. 1526 CC e art. 67 da Lei 6015/73).

DOCUMENTAÇÃO : relacionada nos incisos do art. 1525

I - no caso de solteiros

II - para as hipóteses em de menores púberes não emancipados

III - a finalidade é afastar os impedimentos ou causas de suspensão, bem como provar


idoneidade
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IV - necessário para firmar o cartório de registro competente e evitar problemas com homonímia

V - prova de estado civil autorizado para casamento.

PROCLAMAS : são editais que devem ser fixados por 15 dias nas circunscrições de
domicílio de ambos os nubentes a fim de conferir publicidade ao casamento a ser realizado ,
o que somente ocorre se não for verificado qualquer impedimento pela documentação
apresentada.

Regra : proclamas.

Exceção : casos em que há urgência para celebração do casamento (art. 1527, parágrafo único e
art. 1540) » proclamas são dispensados.

Relevância : permitir que a sociedade saiba do casamento a ser realizado e, assim, possa
apresentar impedimentos ou causas suspensivas.

OBS.: a oposição ao casamento é ato solene, que deve ser realizado por escrito e assinado,
devidamente instruído.

» ART. 1530 : Princípio do Contraditório e Ampla Defesa.

HABILIATAÇÃO PARA CASAMENTO : não havendo qualquer impedimento para o


casamento, é extraída por certificado pelo oficial do registro, cuja validade é de 90 dias a
contar da data da expedição » em suma, os nubentes têm o prazo decadencial de 90 dias para
celebrar casamento após a extração do certificado de habilitação.
IMPORTANTE : o certificado de habilitação somente é extraído

CAPACIDADE MATRIMONIAL

IDADE NÚBIL : 16 anos, mediante autorização dos pais ou de seus representantes legais
(tutores).

EXCEÇÃO : podem se casar os menores incapazes para o casamento:

- evitar imposição ou cumprimento de pena criminal


- se a menor estiver grávida.
OBS.: neste caso, não será anulado o casamento (art. 1551)

CAPACIDADE CIVIL : 18 anos ou aos 16, se emancipado » dispensada a autorização.


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DIVERGÊNCIA ENTRE OS PAIS : deve-se recorrer ao juiz competente, segundo o Código de
Organização e Divisão Judiciária da Unidade Federativa, para compor o desacordo - suprimento
judicial, na forma do art. 1103 CPC.

PAIS SEPARADOS : não se altera o poder familiar daquele que não tem os filhos sob sua guarda
(art. 1632)

FORMAS ESPECIAIS DE CASAMENTO

1) CASAMENTO RELIGIOSO : é válido perante o Direito, desde que...

- os consortes estejam regularmente habilitados, após os trâmites cartorários

- registro civil do casamento no prazo decadencial de 90 dias a contar da celebração

OBS.: se vencido o prazo, o registro dependerá de nova habilitação.

ATENÇÃO : pode ser validado o casamento religioso realizado sem as formalidades legais,
desde que se proceda à habilitação e, havendo autorização, se requeira o registro no prazo de 90
dias da expedição do certificado.

2) POR PROCURAÇÃO : deve atender as solenidades legais, sob pena de invalidar o


casamento » instrumento público, com poderes especiais.

OBS.: apesar de não haver qualquer exigência quanto ao sexo do procurador, sugere-se que seja
do mesmo sexo do outorgante.

EFICÁCIA DA PROCURAÇÃO : 90 dias » podendo ser revogada, desde que o distrato atenda
às mesmas formalidades do mandato.

3) MOLÉSTIA GRAVE (art. 1539) : o casamento pode ser celebrado no local onde estiver o
nubente impedido, devendo o ato ser presenciado por duas testemunhas que saibam ler e
escrever.

OBS.: se o casamento for celebrado em lugar particular, as portas de acesso devem


permanecer abertas por todo o período de celebração para que qualquer pessoa possa
comparecer à cerimônia e apresentar oposição.
4) NUNCUPATIVO (= in extremis = in articulo mortis) : o nubente está à beira da morte.
Nesse caso, a lei autoriza a realização do casamento sem prévia habilitação e ausente a
autoridade que deveria presidir o ato, desde que seja presenciado por 6 testemunhas, as quais
não podem ser parentes em linha reta ou colateral até 2º grau com os nubentes.

VALIDADE : as testemunhas devem procurar o Cartório de Registro de Pessoas Naturais da


circunscrição onde foi celebrado o casamento no prazo de 10 dias para firmar declaração por
termo.
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PROCEDIMENTO : após a autuação, serão realizadas diligências para verificar se realmente se


tratava de casamento nuncupativo, bem como a incidência de impedimentos ou causas de
suspensão.

» Após todos os trâmites, sendo definitiva a decisão, será efetuado o registro do casamento,
retroagindo seus efeitos até a data da celebração.

ATENÇÃO : as formalidades, tanto para o casamento nuncupativo quanto para o caso de


moléstia grave, podem ser dispensados se houver ratificação do enfermo convalescido perante o
oficial do cartório.

OBS.: art. 76, da Lei 6015/73.

RESUMO : fases do casamento » 1ª fase – HABILITAÇÃO; 2ª fase – CELEBRAÇÃO; 3ª fase


– REGISTRO.

PROVAS DO CASAMENTO

REGRA : certificado de registro, expedido pelo cartório competente (vulgo certidão de


casamento)

EXCEÇÃO : outros meios de prova.


CASAMENTO EM TERRITÓRIO ESTRANGEIRO : para ser válido como se realizado em
território nacional, deve ser registrado no cartório de domicílio de um dos cônjuges.

Se não retornarem os cônjuges ao local onde mantinham domicílio ? terão de se dirigir à


localidade somente para efetuar o registro ? Não; podem registrá-lo no 1º Ofício de Registro
de Pessoas Naturais onde passaram a ter domicílio.

PRAZO : 180 dias, a contar da data em que qualquer dos cônjuges retornou ao país.
ESTADO DE CASADO : caso daquelas pessoas que sempre declararam ser casadas e viveram
como se realmente fossem.

- pessoas que não portam registro de casamento, por uma razão qualquer, mas sempre foram
casadas perante a sociedade

- não pode ser contestado em prejuízo da prole comum, salvo se restar provado ser um dos pais
já casado quando contraiu o casamento impugnado

- quando provado judicialmente, havendo declaração judicial em sentneça, os efeitos


retroagem à data do casamento para todos os fins.

OBS.: muito comum nos sertões do Brasil; caso das pessoas que surgem do nada em determinada
localidade etc.

IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS
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São fatos que causam a invalidade do casamento, os quais podem ser opostos a fim de
impedir sua realização.

OBS.: como qualquer pessoa capaz pode opô-los até a conclusão da celebração, o casamento tem
de ser realizado em local público ou, se particular, às portas abertas.

IMPEDIMENTO # INCAPACIDADE

» Impedimento : tem caráter especial, atingindo apenas determinadas pessoas. Há autores que
usam o termo "ilegitimidade", outros "inaptidão" e, ainda, "incapacidade especial".

» Incapacidade : tem caráter geral, atingindo toda a sociedade.

Ex.: pessoa menor de 16 anos.

ART. 1521 : apresenta rol exaustivo de causa de NULIDADE do casamento » eis a razão de
poderem ser opostos por qualquer pessoa - ofensa ao interesse público.

I - ASCENDENTES : parentes os quais são ancestrais (pais, avós, bisavós etc.) - art. 1591.
- NATURAL : consangüíneos
PARENTESCO
- CIVIL : por força de lei (adoção)

II - AFINIDADE : relação nascida do casamento ou da união estável, mantida pelo


cônjuge / companheiro com a família do consorte (art. 1595)

Afinidade em linha reta : análogo aos parentes ascendentes e descendentes (sogros com genro
e nora / enteados com padrastos) » a afinidade não se extingue com a extinção do casamento
ou da união estável (portanto, sogros jamais poderão desposar nora/genro).

AFINS EM LINHA COLATERAL : a lei concede tratamento diverso, na medida em que a


extinção do casamento extingue também a afinidade.

Ex.: como é possível que cunhados venham a contrair matrimônio após a extinção do
casamento... lembrar daquele irmão que perdeu a disputa para o divino maravilhoso » este era
tão porcaria que divorciaram-se » aí surgiu a grande chance OU casos em que o cunhado
consola a viúva histérica no dia do enterro do seu irmão (para o desespero da sua mãe, pois
matou um, vai matar o outro também) » descobre, meses mais tarde, uma enorme paixão
retraída » melhor ficar com esse mesmo porque se sogra é para a vida inteira, melhor ter só uma
(uma vez sogra, sempre sogra).

III - pela redação, depreende-se que há uma ordem permanente, ou seja, proibição que não se
encerra pelo fim do casamento dos pais com o cônjuge e vice-versa.

OBS.: este inciso seria desnecessário porque se insere na hipótese anterior (fim da discriminação
da filiação).

IV - EXPLICAR : irmão unilaterais e germanos (termo usado pelo cc revogado) / parentesco


colateral e identificação dos seus graus
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OBS.: casamento entre primos "1º grau" pode ser anulado pelas normas do Direito Canônico,
mas não pelo Direito Civil brasileiro.

V - absurda a manutenção deste inciso, na medida em que é claro resquício da discriminação


entre filhos » filho do adotante e adotado são irmãos (parentes colaterais em 2º grau).

VI - no Brasil, somente se admite casamento somente monogâmico, sob pena de bigamia (ainda
é crime) » daí a necessidade de se provar o estado civil ao tempo da habilitação para o
casamento.

VII - não é preciso co-autoria ou participação, pois é entendido que a cumplicidade é implícita.

OBS.: prevalece o entendimento de que o crime tem de ser doloso, tendo havido condenação
transitada em julgado (Princípio de Presunção da Inocência).

IMPORTANTE : nem mesmo a adoção, que extingue todos os vínculo com os parentes da
família antiga, desliga o adotado dos impedimento matrimoniais.
CAUSAS SUSPENSIVAS

Não são causas de impedimento porque as pessoas relacionadas no art. 1523 podem se
casar livremente, desde que ultrapassada a situação temporária que lhe gera embaraços.

IMPORTANTE : ao contrário das causas impeditivas, não podem ser argüidas por qualquer
pessoa, e sim somente pelos parentes em linha reta ou colaterais até o 2º grau.

SANÇÃO : o regime de bens será, obrigatoriamente, separação de bens (art. 1641, I). NESTE
CASO, o novo cônjuge não será seu herdeiro em 1ª vocação (regime da separação obrigatória de
bens) - art. 1829, I.

I - a razão é evitar que ocorram prejuízos dos bens dos filhos em decorrência do novo
patrimônio » cônjuge é herdeiro concorrente com os descendentes.

II - o fim é evitar a confusão quanto à filiação, haja vista a presunção do art. 1597, I e II »
impede-se que o filho do casamento anterior seja reconhecido pelo cônjuge atual

OBS.: se a mulher provar que não está grávida ou que já nascera o filho da relação anterior,
poderá ser pleiteado ao juiz que o afastamento da causa suspensiva.

III - o casamento somente é extinto pela morte ou pelo divórcio : como o morto não pode casar,
enquanto não for decretado o divórcio, não se pode casar, sob pena de bigamia.

ART. 1523, III, parte final : impedir a confusão de bens de sociedades conjugais distintos, ou
seja, confusão patrimonial do casamento anterior com o atual.
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IV : enquanto não...

- encerrada a tutela : o tutelado é menor ! Ainda que púbere, somente os pais poderiam
autorizar o casamento e estes não mais existem ou foram destituídos do poder familiar.

- encerrada a curatela : até então, o curatelado é interdito por ser incapaz.

OBS.: a lei determina que tenha sido encerrada a prestação de contas para que não exista
qualquer prejuízo patrimonial ao tutelado ou curatelado » sua proteção é de interesse público.
INVALIDADE DO CASAMENTO

- ABSOLUTA : nulidade (art. 1548)


INVALIDADE
- RELATIVA : anulabilidade (art. 1550)

INEXISTÊNCIA : o casamento sequer existe perante o Direito, o que, inclusive, dispensa a


propositura de ação juducial.

Ex. : pessoas do mesmo sexo; ausência de celebração, o que impede o registro (casamento de
novela).

NULIDADE : além dos casos de impedimento, estendem-se as causas para os incapazes do


art. 3º, II e III.

OBS.: erro técnico do art. 1549, pois o ato nulo JAMAIS gera efeitos jurídicos !!! Logo, a
nulidade não é decretada, mas declarada, pois não é a sentença que tem o condão de tornar o
ato válido em nulo.

ANULABILIDADE

São fatos que podem convalescer se não forem impugnados judicialmente nos prazos
legalmente fixados. Nesses casos, a sentença é que terá o condão de desconstituir o casamento.

I - menores impúberes (aqueles que ainda não completaram 16 anos), salvo se a menor estiver
grávida do seu nubente » legislador entende ser melhor que o recém-nascido tenha uma
família constituída.

ATENÇÃO : como o sujeito sequer tem capacidade para casar porque não atingiu a idade núbil,
o casamento é anulável ainda que tenha havido autorização dos pais.

IMPORTANTE : o casamento pode ser validado se houver autorização dos pais ou suprimento
judicial quando o menor atingir idade núbil.
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OBS.: entende a jurisprudência que o menor pode ratificar o casamento quando atingir a
maioridade.

LEGITIMIDADE : somente podem postular a anulação :

- o próprio menor : o casamento acarreta a emancipação, o que confere capacidade ao sujeito


menor;

- seus representantes legais, incluídos os tutores;

- seus ascendentes, ainda que sejam os pais destituídos de pátrio poder (questão controvertida).

PRAZO : a prescrição extintiva transcorre em 180 dias a contar do :

- casamento, para os ascendentes e representantes legais;

- dia em que completar 16 anos, para o menor (causa de impedimento da prescrição)

OBS.: o MP não está elencado porque se trata de interesses privados » daí ser ANULÁVEL o
casamento.

II - exceções : suprimento judicial e menor em estado gravídico (esta última aplica-se


também ao inciso anterior).

LEGITIMIDADE : menor, representante legal, herdeiro necessário.

OBS.: este último tem legitimidade ativa para propor a ação se sucederia ao menor à época.

PRAZO : 180 dias a contar da data...

- do casamento : para os representantes legais;

- em que o menor atingir a maioridade (causa de impedimento da prescrição) para que o


mesmo possa postular a anulação

- da morte do menor, para seus herdeiros NECESSÁRIOS.

CUIDADO : se o herdeiro que suceder o menor não for considerado por lei, ao tempo da morte,
necessário, não terá legitimidade para propor a ação » a razão da lei é que o NÃO HÁ
PREJUÍZO porque este somente sucederia na ausência de cônjuge, descendente e ascendente.

APROVAÇÃO TÁCITA : representante legal assiste ao casamento e não opõe impedimento,


sabedor que o nubente é menor e necessitaria da sua autorização » CASAMENTO VÁLIDO
(art. 1555, § 2º)

III - o vício a que se refere é o erro e a coação.

ERRO EM SENTIDO AMPLO : inclui o dolo !!! Logo, pode anular o casamento a falsa
apreciação da realidade quanto à pessoa do outro consorte tendo havido ou não induzimento.
ERRO QUANTO À :
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- identidade : tanto física ("achei que casava com Rômulo, mas casei com Remo") quanto
civil (filiação, profissão, estado)

- honra (trapaceiro, desonesto)

- fama (mulher fácil; homem que já engravidou várias mulheres e nunca assumiu a
paternidade; homossexualidade)

- crime, desde que tenha havido condenação transitada em julgado

- doença mental grave desconhecida antes o casamento (ex.: maníaco depressivo)

OBS.: os casos acima somente anulam o casamento se a vida em comum tornar-se insuportável
em decorrência dos mesmos.

- defeito físico (homem impotente; cônjuge com fobia ao sexo; infertilidade) ou moléstia grave
e transmissível, a ponto de por em risco a vida do cônjuge ou de herdeiro (ex.: AIDS)

COAÇÃO : não está incluído o temor reverencial ("meu pai me mandou casar com ele; tenho
medo do papai etc."), salvo situações justificáveis (verdadeiras fobias) » "fundado temor".

LEGITIMIDADE : somente o próprio cônjuge.

- ERRO : 3 anos.
PRAZO » sempre a contar da celebração
- COAÇÃO : 4 anos
COVALESCIMENTO : coabitação + ciência do vício, salvo se o erro incidir sobre defeito
físico, moléstia grave ou doença mental.

IV - é o caso das pessoas do art. 4º , II e III, bem como daqueles que estão em tratamento
médico, sedados, enfim, transitoriamente alheios de percepção real do mundo ou de manifestar
vontade.

PRAZO : 180 dias, a contar da celebração

V - casamento realizado por procurador quando o mandato está revogado ou judicialmente


invalidado.

COABITAÇÃO : ato de ratificação tácita que torna válido o casamento » cônjuges


demonstram que teriam se casado de qualquer forma.

PRAZO : 180 dias a contar da data em que o mandante soube da celebração do casamento (causa
impeditiva).

VI - o casamento será válido por aquele que exerce publicamente a função de juiz de paz e,
nesta qualidade, tenha registrado o casamento » Teoria da Aparência.
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PRAZO : 2 anos, a contar da data da clebração.

EFEITOS DA INVALIDAÇÃO

- nulidade retroage à data da celebração, sem, todavia, prejudicar terceiros de boa-fé;

- se anulado, o cônjuge culpado perderá as vantagens a favor do outro, bem como terá de
cumprir o que prometeu em contrato antenupcial.

OBS.: havendo urgência, sob pena de grave risco, poderá ser pleiteada separação de corpos para
afastamento de um dos cônjuges ou resguardar patrimônio.

CASAMENTO PUTATIVO - (art. 1561)

É a hipótese em que o casamento, apesar de realizado conforme um dos casos de nulidade ou


anulabilidade, é válido porque foi contraído de boa-fé, gerando todos os efeitos até a sentença
judicial.

Ex.: Cláudio Luiz casa-se com Consuela Maria, sendo que ambos desconhecem o fato de que são
filhos do mesmo pai.

ATENÇÃO : se somente um dos cônjuges estava de boa-fé, o casamento somente surtem efeitos
a seu benefício e seus filhos.
OBS.: se ambos estavam de má-fé, surtem efeitos somente em relação aos filhos.

EFEITOS :

a) o cônjuge de boa-fé tem direito a postular alimentos em face do outro.

CONTROVÉRSIA : entendimento majoritário » ainda que anulado o casamento, permanece o


cônjuge de boa-fé titular do direito aos alimentos até cesse sua necessidade ou inicie nova
família (art. 1708).

b) é herdeiro na qualidade de cônjuge até a sentença que anule o casamento

c) doações propter nupciais permanecem válidas ainda que declarada a nulidade do casamento
(vide art. 546)

d) o cônjuge de boa-fé não perde a emancipação conseqüente do casamento.


OBS.: aquele que casou menor, conhecendo as causas de nulidade ou anulabilidade, retorna à
incapacidade relativa, porém não são prejudicados os interesses de terceiros de boa-fé.

IMPORTANTE : a boa-fé é sempre presumida juris tantum !!! A má-fé tem de ser provada !!!

e) os bens adquiridos durante o casamento somente se comunicam para beneficiar o


cônjuge de boa-fé.
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Ex.: o imóvel adquirido durante o casamento em nome do cônjuge de boa-fé NÃO é partilhado;
se em nome do cônjuge de má-fé, procede-se à partilha.

Ex.: se o regime de bens é da comunhão universal, somente se comunicam os bens do cônjuge de


má-fé.

DIREITOS E DEVERES DOS CÔNJUGES

DEVERES RECÍPROCOS : se forem desrespeitados, tornando a vida em comum insuportável,


podem ser razão para excluir o direito sucessório do cônjuge sobrevivente (art. 1.830 do
Código Civil.

- adultério
1º) FIDELIDADE - injúria grave
- adultério casto (ou puro ou quase adultério)

» Adultério : é a prova que um dos consortes manteve conjunção carnal com outra pessoa de
sexo oposto. Logo, beijos, abraços, relações homossexuais etc. não configuram adultério.

» Injúria grave : o cônjuge tem relação amorosa com outra pessoa, sendo dispensada a
conjunção carnal. Portanto, inclui-se relações homossexuais, cartas de amor, beijos, carícias etc.

OBS.: qualquer ato que ofenda a honra do cônjuge inocente pode configurar injúria grave,
tais como maus tratos, violência física e moral, existência de filho em relação extraconjugal etc.

» Adultério casto : inseminação artificial heteróloga (sêmen de homem que não o marido)
sem a autorização do cônjuge (vide art. 1597, V)

2º) COABITAÇÃO : assume dois significados :

- viver sob o mesmo teto;


- viver como marido e mulher (débito conjugal)

VIVER NO MESMO DOMICÍLIO : antigamente, este dever conjugal somente era considerado
descumprido quando o cônjuge abandonava o lar por mais de 2 anos.

HOJE : a lei não fixa tempo, mas estipula as causas toleradas para ausência (art. 1569)

3º) MÚTUA ASSISTÊNCIA : tanto material (alimentos entre os cônjuges) quanto moral
(apoio, carinho, atenção).

Sustento da família : os cônjuges são obrigados a concorrer nas despesas familiares na


proporção das suas possibilidades.

4º) SUSTENTO, GUARDA E EDUCAÇÃO : são os deveres do casamento que dizem respeito à
prole, conseqüência imediata do poder familiar.
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- Sustento : refere-se ao dever de prestar alimentos aos filhos, o que implica supri-lhes as
necessidades materiais

- Guarda : é dever dos pais, o que será exercido segundo o melhor interesse do menor

- Educação : segundo a atual Carta Política, trata-se de dever comum dos pais e do Estado.
5º) RESPEITO E CONSIDERAÇÃO MÚTUOS : este dever é novidade do atual CC, o qual
deixou inequívoco o que antes era entendido como assistência moral.

DIREITOS E DEVERES PATRIMONIAIS

DIREITOS : estão elencados no art. 1642 (que é sinalagmático aos deveres e compila os
direitos que espalhados pelo CC) e art. 1643 (segundo o artigo subseqüente, a lei cria a
solidariedade de devedores).

LEGITIMIDADE : as ações referentes aos casos descritos nos incisos III, IV e V, do art. 1642
não são de autoria exclusiva do cônjuge => o herdeiro poderá também propô-la.

OBS.: caso seja julgada procedente a pretensão da ação, nos casos dos incisos III e IV, o terceiro
prejudicado de boa-fé terá direito de ser indenizado pelo cônjuge com quem firmou contrato =>
denunciação da lide (art. 70, III CPC).

VÊNIA MARITAL e OUTORGA UXÓRIA : não pode o cônjuge praticar os atos do art. 1647
sem a autorização do outro, sob pena de anulação do negócio jurídico.
ART. 1647, PARÁGRAFO ÚNICO : exceção ao inciso IV.

PRAZO : 2 anos, a contar da dissolução da sociedade conjugal (causa de impedimento da


prescrição).

LEGITIMIDADE : somente o cônjuge que não autorizou o ato ou o herdeiro.

ATENÇÃO : "exceto no regime da separação absoluta" => trata-se de novidade legislativa !!!
A intenção da lei não mais é proteger a família, o que denota maior incidência da natureza
contratual dos regimes de bens (não prejudicar economicamente o cônjuge).

SUPRIMENTO JUDICIAL : para os casos em que o cônjuge não confere autorização sem
motivo justificável (ex.: ciúmes, vingança etc.) ou não lhe seja possível manifestar autorização
solenemente.

CONVALESCIMENTO : o ato anulável pode se tornar válido se...

- transcorrer o prazo prescricional;

- houver suprimento judicial;


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- aprovação superveniente (ato solene, praticado após um dos atos do art. 1647, que, para ser
válido, precisa ser realizado por instrumento público ou particular, sendo este com firma
reconhecida).

ADMINISTRAÇÃO DOS BENS : em regra, é exercida igualmente por ambos os cônjuges.

- art. 1651 : impossibilidade para um dos cônjuges


Exceção
- art. 1652 : posse exclusiva de um dos cônjuges

REGIME DE BENS
(art. 1639)

É a regulamentação das relações econômicas entre os cônjuges durante o casamento


("vamos começar a realmente tratar de $"), assumindo verdadeira natureza contratual. Aliás,
incide o Princípio da Autonomia da Vontade, na medida em que cabe aos cônjuges a escolha
do regime de bens.

VIGÊNCIA : inicia-se no exato momento da celebração do casamento, sendo ajustado no pacto


antenupcial.
ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS :

- "pedido motivado" : os cônjuges devem evidenciar presença de razão que justifique a


necessidade de mudança do regime de bens;

- autorização judicial;

- ressalva a direito de terceiros (ex.: se ao tempo em que uma obrigação for contraída os bens
se comunicavam, para todos os efeitos, permanece a comunicabilidade para esta obrigação
até a sua extinção)

PRINCÍPIO DA VARIEDADE DOS REGIMES : além do Princípio da Autonomia da


Vontade, a lei deve dispor aos nubentes vários regimes que poderão escolher, salvo os casos de
separação obrigatória (art. 1641) :

- Comunhão Parcial;
- Comunhão Universal;
- Participação Final nos Aqüestos
- Separação

PACTO ANTENUPCIAL

É o conjunto das normas convencionais que fixam as regras econômicas do casamento, tal qual
um contrato solene, haja vista ser eficaz somente se :

- realizado antes do casamento


- instrumento público
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- casamento celebrado no prazo legal

EFICÁCIA : há situações especiais que impõem condição suspensiva ao pacto :

- se realizado para casamento de menor, depende da aprovação do representante legal, salvo se


o regime for da separação obrigatória;

- para gerar efeitos erga omnes, depende de registro junto ao RGI (art. 1657 CC e art. 167, I,
12, da Lei 6015/73)

REGIME LEGAL E CONVENCIONAL

- comunhão parcial de bens (art. 1640)


REGIME LEGAL
- separação de bens (art. 1641)

COMUNHÃO PARCIAL DE BENS

Se os cônjuges não fixarem um regime de bens através de pacto antenupcial válido, vigorará o
regime da comunhão parcial de bens.

OBS.: introduzido pela Lei 6515, de 26/12/77, a qual entrou em vigor na data da publicação (não
houve vacatio legis) a fim de acabar com o "golpe do baú", pois, antes, o regime legal era o da
comunhão parcial (atenção às certidões de casamento)

CONCEITO : é o regime de bens pelo qual se comunicam apenas os bens que sobrevierem
ao casal após o casamento, até a dissolução da sociedade conjugal, inclusive os bens descritos
nos :

- art. 1662 : presunção relativa

- art. 1660 :

I - não se trata de condomínio, mas MEAÇÃO.

II - p. ex., loteria ou jogos.

III - para que se comunique, é preciso disposição expressa em contrato ou testamento de que
ambos os cônjuges são sucessores.

IV - desde que as benfeitorias tenham sido realizadas após o casamento, o que implica que as
despesas correram às custas da sociedade conjugal.

V - estão excluídos : os pendentes e percepiendos à época do casamento + percepiendos ao


tempo da dissolução da sociedade conjugal.
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EXCEÇÕES : não se comunicam, ainda que adquiridos após o casamento => art. 1659 e 1661
(ex.: já tinha transcorrido o prazo prescricional aquisitivo antes do casamento, mas a sentença
declaratória foi prolatada após).

CUIDADO !!! Ainda que tenha sido contraída dívida sem autorização do outro cônjuge,
será comunicada, atingindo a meação de ambos, nos casos do art. 1664 (3 hipóteses) e art. 1663,
§ 1º.

ADMINISTRAÇÃO DOS BENS :

- ambos os cônjuges : bens comuns, sendo que pode haver destituição por ordem judicial em
caso de comprovada má administração;

- apenas um dos cônjuges : para os bens particulares, salvo convenção diversa ou


impossibilidade de um dos cônjuges.

OBS.: as dívidas contraídas na administração dos bens particulares ou em seu benefício não
comunica com o outro cônjuge (art. 1666).
SEPARAÇÃO DE BENS

CONCEITO : é o regime pelo qual os bens de cada um dos cônjuges não se comunicam,
ainda que adquiridos após o casamento. Logo, NÃO É CONSTITUÍDA MEAÇÃO !!!

STF, Súmula 380 : o patrimônio foi constituído comprovadamente por esforço comum
pertencerá a ambos os cônjuges em condomínio.

Ex.: mulher trabalha na loja do marido desde que se casaram (jamais foi assalariada).

ATENÇÃO : jurisprudência NÃO é fonte de Direito !!! Logo, o juiz não é obrigado a
acompanhar o entendimento do STF.

Existem duas causas para fixação deste regime : lei e o pacto antenupcial.

SEPARAÇÃO LEGAL ou OBRIGATÓRIA : não é fruto da vontade dos sujeitos, mas imposição
da lei (art. 1641) => exceção ao art. 1640.

OBS.: não concorrem com os descendentes na herança do cônjuge (art. 1829, I).

SÚMULA 377 STF : anterior à criação do regime da comunhão parcial de bens => não está
mais sendo aplicado, sob pena de constituir o regime da comunhão parcial de bens.

SEPARAÇÃO CONVENCIONAL : somente é possível se houver pacto antenupcial válido, nas


hipóteses em que a lei não impõe a separação de bens.
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ADMINISTRAÇÃO : destinada exclusivamente ao cônjuge proprietário, salvo impossibilidade


(art. 1651).

SUSTENTO DA FAMÍLIA : cada cônjuge contribui segundo sua possibilidade, salvo estipulação
contrária em pacto antenupcial.

COMUNHÃO UNIVERSAL

É o regime de bens que importa na comunicação de todos o patrimônio dos cônjuges,


anteriores e posteriores ao casamento.

EXCEÇÃO : art. 1668, inclusive no que tange à administração.


I - explicar o que é incomunicabilidade e bens sub-rogados

II - explicar o que fideicomisso; fideicomitente, fiduciário e fideicomissário => não é sucedida


a coisa pelos herdeiros do fiduciário / direito do fideicomissário é personalíssimo (somente será
herdeiro após a ocorrência da condição).

III - dívidas contraídas para o enxoval, compra do lar do casal (aprestar = aprontar - ex.:
despesas da igreja, viagem de lua de mel, festa etc).

IV - a diferença do inciso I é que, neste caso, o doador é o outro cônjuge.

V - as mesmas três últimas hipóteses de incomunicabilidade do regime da comunhão parcial de


bens.

IMPORTANTE : a exceção não se estende aos frutos percebidos ou pendentes durante o


casamento.

Ex.: mulher recebeu em herança uma casa com cláusula de incomunicabilidade / casa é alugada /
a renda dos aluguéis é patrimônio comum de ambos os cônjuges.

OBS.: antes da Lei 6515/77, este era o regime legal para as hipóteses em que a lei não impunha o
regime da separação.

REGIME DA PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQÜESTOS

É o regime de bens que traz em si qualidades da comunhão e da separação de bens : os bens


anteriores ao casamento e aqueles adquiridos pelo esforço único da cada um dos cônjuges não se
comunicam => os bens adquiridos pelo casal, a título oneroso, são destinados à partilha.

OBS.: é a normatização da Súmula 380 STF, a qual garante condomínio sobre os bens adquiridos
pelo esforço comum.

PRESUNÇÃO RELATIVA (inversão do ônus da prova) :


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a) os bens móveis são considerados adquiridos pelo casal após o casamento.

Obs.: perante terceiros credores, os bens móveis presumem-se pertencer ao cônjuge devedor,
salvo se de uso pessoal do outro (ex.: calcinhas, cuecas etc.) => (art. 1680)

b) os bens imóveis presumem ser exclusivos daquele cujo nome a coisa está registrada.

Exceção : art. 1679 CC e Súmula 380 STF

NÃO HÁ MEAÇÃO (art. 1679) : cônjuges são condôminos do patrimônio adquirido pelo
esforço comum em quotas iguais.

REGRA : não se comunicam as dívidas posteriores ao casamento contraídas por um dos


cônjuges sem a anuência do outro.

EXCEÇÃO : reverterem-se em benefício do casal.

ART. 1676 : espécie análoga à colação => cônjuge poderá ter descontada da sua parte na
partilha a quantia relativa ao bem que não poderia ter alienado sem a autorização do outro
cônjuge, salvo se a intenção do lesado for outra.

FONTE LEGAL DE IMPUTAÇÃO (art. 1678) : sub-rogação pessoal, ou seja, o cônjuge


solvente assume a posição do credor (vide art. 352).

UNIÃO ESTÁVEL

No sentido de melhor compreender o instituto, há de se entender o o seu desenvolvimento


histórico.

ANTES DA CRFB/88

Não existia a união estável, somente o concubinato, que era o homem e a mulher vivendo como
se casados fossem.

OBS.: concubinato não era uma relação legítima, pois a família somente legitima-se pelo
casamento, ou seja, apenas o casamento poderia criar a família.

REQUISITOS que existiam para constituição do concubinato :

a – continuidade das relações sexuais por mais de 5 anos

b – notoriedade da união (as relações clandestinas, escondidas, não constituíam concubinato)


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c – honorabilidade da união (a sociedade deveria vê-los como um se casados fossem)

d – fidelidade presumida (exigência de monogamia)

MORE UXÓRIO : aparência perante a sociedade como se casados fossem.

OBS.: coabitação » era um indício de existência do concubinato, ou seja, não era um requisito
para a constituição do concubinato, mas fazia surgir um indício da sua existência.
CLASSIFICAÇÃO

- puro (sem impedimento para o casamento)


CONCUBINATO
- impuro (com impedimento para o casamento)

DIREITOS (todos conferidos apenas pela jurisprudência)

SÚMULA 380 STF : constituição de uma sociedade de fato (reunião de esforços para atingir
fins comuns sem a constituição na forma da lei).

JURISPRUDÊNCIA : os concubinos estabelecem entre si um contrato de sociedade, cujos fins


comuns são a felicidade e a constituição de um patrimônio comum. Como não existe um contrato
escrito levado a registro, diz-se que a sociedade não é de direito, mas de fato.

PATRIMÔNIO : resultado da união dos esforços dos sócios da sociedade de fato => deverá ser
partilhado quando da extinção da sociedade se for reconhecida judicialmente.

CONTROVÉRSIA : o que constitui uma sociedade de fato ?

1ª CORRENTE : a sociedade material, ou seja, quando ambos contribuem financeiramente


para a constituição de um patrimônio.

2ª CORRENTE (dominante) : sociedade moral, ou seja, a reunião de esforços, sejam de


natureza material ou imaterial (apoio, amor, cumplicidade etc) – inclui o serviço no lar, na
medida que é a forma estipulada pelas partes que seria destinada à mulher como sua contribuição
à união de esforços.

CONTROVÉRSIA : como se procede à partilha ?

1ª CORRENTE : proporcional, ou seja, é destinado a cada um o quinhão referente ao quanto


contribuiu materialmente para a constituição do patrimônio (considera-se apenas a sociedade
material).

2ª CORRENTE (dominante) : igualmente, na medida que são considerados todos os esforços, a


despeito da natureza dos mesmos, para a constituição do patrimônio (sociedade moral).
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ATENÇÃO : somente é procedida à partilha em relação aos bens adquiridos a título oneroso.

IMPORTANTE : é possível tanto a existência de concubinato sem que seja formada uma
sociedade de fato e vice-versa (sociedade de fato sem concubinato).

Ex.: concubinato existe, porém não foi adquiridos quaisquer bens a título oneroso (há
concubinato, mas não sociedade de fato).

Ex.: relação homossexual (não há concubinato, mas existe sociedade de fato).

CASO NÃO SEJA ENTENDIDO TER SE FORMADO SOCIEDADE DE FATO ? analogia ao


antigo art. 1.216 (atual art. 594) CC

Findo o concubinato, um dos concubinos (em regra, a mulher) terá direito a uma indenização
pelos serviços domésticos prestados, na medida que a lei não prevê obrigação de alimentos entre
concubinos.

OBS.: a jurisprudência concede tal direito porque, muitas vezes, cabe à mulher as tarefas do lar,
as quais não são remuneradas. Assim, ela se torna dependente do homem, que a sustentava para
que ela cuidasse dele e dos afazeres domésticos => os tribunais lhe concediam direito à
indenização por todos os anos que serviu ao homem sem remuneração para que não ficasse
desamparada.

CUIDADO !!! Este direito somente pode ser postulado caso não exista sociedade de fato
decorrente do concubinato, haja vista que, nesta hipótese, a mulher não estará financeiramente
desamparada.

ATENÇÃO : nada obsta que sejam propostos pedidos alternativos, ou seja, o reconhecimento da
sociedade de fato, conseqüentemente a partilha dos bens, ou, caso não seja este o entendimento
do juiz, que seja condenado o homem a pagar à mulher uma indenização pelos serviços que lhe
foram prestados gratuitamente.

IMPORTANTE : as regras concernentes ao concubinato ainda estão sendo aplicadas até os dias
atuais nos casos que não constituem união estável (aplicação residual).

APÓS O ADVENTO DA CF/88 E ANTES DA LEI 8.971/94

Art. 226, § 3º : entidade familiar significa família. Portanto, desde então, a união estável passou
também a criar a família.

Art. 226, § 3º, in fine : “... devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”. Portanto, união
estável = concubinato puro.

OBS.: a partir de então, concubinato passou a se referir o que antes era impuro; concubinato
puro passou a ser denominado união estável.
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CONTROVÉRSIA : quais são os direitos dos companheiros ?

1ª CORRENTE : todos os relativos ao casamento.

Ex.: durante a vigência da união estável, não corre prescrição entre os companheiros.

2ª CORRENTE : os companheiros não têm nenhum direito relativo ao casamento, devendo


se socorrer dos direitos relativos ao concubinato, pois a norma constitucional é programática,
e não auto-aplicável.

APÓS A LEI 8.971/94 E ANTES DA LEI 9.278/96

Art. 1.787 CC : somente é aplicada a lei que estiver em vigor quando aberta a sucessão, e não
quando da abertura do inventário.

REQUISITOS :

Art. 1º : 5 anos de união ou prole comum + ambos os companheiros devem ser solteiros,
divorciados, viúvos ou separados judicialmente.

OBS.: antes, a união do separado judicialmente constituía concubinato impuro, haja vista que o
mesmo estava impedido de casar-se.

RAZÕES DA INCLUSÃO :

- a separação judicial podia ser convertida em divórcio pelo mero transcurso do tempo de 1
ano (não haveria porquê exigir a espera para legitimar a união)

DIREITOS :
- Art. 1º : alimentos
- Art. 2º : sucessório, tal qual como se cônjuge fosse
- Art. 3º : partilha dos bens adquiridos a título oneroso

APÓS O ADVENTO DA LEI 9.278/96 E ANTES DO ATUAL CC

Existem várias controvérsias a respeito do novo diploma legal, que instituiu a regulamentação
entre os conviventes :

1 – a lei nova (Lei nº 9.278/96) revogou, total ou parcialmente, a lei anterior (Lei nº
8.971/94) ?
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1ª CORRENTE (enunciado pela magistratura do TJRJ) : a vigência de uma lei posterior
automaticamente ab-roga a lei posterior.

2ª CORRENTE (doutrina) : derrogação, haja vista que ocorre revogação implícita se lei
posterior + mesma matéria + modo diferente + incompatível.

Aliás, há lacunas da lei nova que podem ser preenchidas pelas disposições da lei anterior.

2 – quanto tempo deve a relação durar para ser constituída a convivência ?

1ª CORRENTE: a lei nova é lacunosa; portanto, aplica-se a lei anterior para suprir a
omissão. Aliás, existe a lacuna porque a matéria já tinha sido regulada pela lei antiga (5 anos ou
prole comum).

2ª CORRENTE: como a lei nova ab-rogou a lei antiga, aplica-se o período clássico, ou seja,
aquele que tradicionalmente é entendido como necessário para constituir uma relação estável »
5 anos.

3ª CORRENTE: ab-rogação; 2 anos, na medida que a separação de fato por tal período enseja a
extinção do vínculo conjugal (art. 40 da Lei nº 6.515/77), também é o suficiente para constituir a
convivência.

4ª CORRENTE: a lei não fixou o tempo porque não o quis. Cabe ao juiz, de acordo com o
caso concreto, verificar se formou-se entre o homem e a mulher a convivência regulada por lei.

Segundo este entendimento, o que importa apreciar é relação contínua + duradoura + com intuito
de constituir família.

3 – coabitação é requisito para constituição da convivência ?

1ª CORRENTE: NÃO, porque a lei não exige. Logo, também aplica-se a Súmula 382 STF.

IMPORTANTE : o objetivo de criar família estende-se à manutenção das relações sexuais.

2ª CORRENTE: a lei exige tacitamente – tanto que o seu nomem juris é convivência (o que
significa “viver com”).

Ademais, é dever de ambos, de acordo com o art. 2º, III, a guarda dos filhos. Ora, se a lei diz
que a guarda cabe a ambos os conviventes, não haverá outro modo de manter a guarda em
conjunto senão pela coabitação.
Outrossim, o art. 7º, parágrafo único, reza que o imóvel é a residência da família. Em outras
palavras, residência da família implica em coabitação.

Por fim, o art. 8º, a despeito de ainda necessitar de regulamentação, trata da conversão da
convivência em casamento. A lei usa o termo sua residência, i.e., domicílio da residência dos
conviventes, i.e., de ambos. Logo, coabitação.

RESULTADO : depreende-se que a coabitação é desejo da lei, ou seja, a lei espera que os
conviventes vivam juntos, e todos os demais deveres decorrentes da coabitação.
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4 – qual deve ser estado civil do homem e da mulher para serem conviventes ?

1ª CORRENTE (doutrinariamente dominante) : a lei nova não trata da matéria porque a lei
antiga já se pronunciara a respeito (derrogação).

2ª CORRENTE: a lei atual não diz, mas a anterior está ab-rogada. Assim, o estado civil é
clássico, tradicionalmente aceito pelo direito civil : solteiro, viúvo e divorciado.

3ª CORRENTE (enunciado da magistratura) : a lei anterior está ab-rogada, porém entende que o
separado judicialmente pode ser convivente, sob pena de gerar insegurança nas relações sociais,
haja vista que a lei anterior, apenas 2 anos mais antiga que a outra, incluía o separado
judicialmente entre os passíveis de constituir união estável. O contrário constitui um retrocesso.

4ª CORRENTE: a lei não disse, mas a lei antiga está ab-rogada. Portanto, se a ordem jurídica
não veda, todos os estados civis estão autorizados a estabelecer convivência, mesmo o casado.

CUIDADO !!! Esta corrente não inclui qualquer pessoa casada, mas apenas quem se
encontra separada de fato por mais de 2 anos, tempo suficiente para ensejar o divórcio
direto. Transcorrido tal lapso temporal, inicia-se o período de convivência » CASADO
DIVORCIADO DE FATO.

DIREITOS DOS COMPANHEIROS :

1 – direito a alimentos (art. 2º), tanto na constância da convivência quanto após sua extinção
(art. 7º).

CONTROVÉRSIA

2 – direito à sucessão

1ª CORRENTE: lei anterior foi ab-rogada pela lei nova. Portanto, aplica-se tão somente o art.
7º, parágrafo único (direito real de habitação).

2ª CORRENTE: lei nova apenas derrogou a lei antiga. Assim, o convivente tem os mesmos
direitos sucessórios do cônjuge (art. 1.611, caput e §§ 1º e 2º CC), haja vista que as normas não
são incompatíveis.
3 – direito à estipulação de um regime de bens : o art. 5º reza que haverá condomínio sobre os
bens adquiridos a título oneroso durante a convivência.

OBS.: o art. 226, § 3º CF diz sobre facilitar a conversão em casamento. Logo, o casamento é
maior do que a convivência.

IMPORTANTE : a lei teria tornado a situação dos conviventes melhor do que a dos casados, pois
o condomínio confere aos condôminos direito potestativo sobre a propriedade do seu quinhão,
enquanto que a meação segue o casamento até a sua extinção => inconstitucionalidade.
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ATENÇÃO : apesar da lei ter equiparado a convivência ao regime da comunhão parcial de bens,
não existe vedação quanto à livre disposição do regime de bens a ser estipulado em contrato
civil.

CONTROVÉRSIA : momento em que deve o contrato ser firmado ?

1ª CORRENTE : ao tempo do início da convivência, tal qual o pacto antenupcial, e irrevogável,


assim como o regime de bens => a finalidade é conferir a segurança nas relações entre os
conviventes, na medida que as regras patrimoniais estarão dispostas ab initio, assim como não
poderão ser modificadas, mesmo que por imposição de uma das partes envolvidas.

2ª CORRENTE: a qualquer tempo da convivência, pode o contrato ser firmado, porém será
apenas realizado uma vez e de forma irretratável.

3ª CORRENTE: depende da vontade das partes. Assim, pode ser firmado a qualquer
momento e quantas vezes desejarem.

Ex.: carro não comunica; as panelas comunicam; carro velho comunica; apartamento no
Golden Green não etc.

ATUAL CC

CONCEITO (art. 1723) : repete o art. 1º da Lei 996278/

SUJEITOS : pessoas de sexo oposto que não sejam impedidas para se casarem, salvo os
separados judicialmente.

OBS.: as causas de suspensão não impedem a união estável.

IMPORTANTE : as pessoas de sexo oposto que não podem constituir união estável, mas que
atendem ao conceito do art. 1723, constituem CONCUBINATO.
RELAÇÃO ENTRE UNIÃO ESTÁVEL E CASAMENTO :

- regem as uniões estáveis os mesmos deveres do casamento;

- patrimonialmente, equipara-se ao regime da comunhão parcial de bens, salvo disposição em


contrário em contrato;

OBS.: a lei afirma que a relação entre os impedidos de se casar constitui concubinato » art.
1727 nada diz sobre as causas suspensivas, tampouco ressalva o art. 1725.

RESULTADO : a pessoa que se casa sob causa suspensiva tem de constituir o regime da
separação obrigatória, o que afasta o cônjuge da sucessão e impede a meação » melhor formar
união estável.

Ex.: mocinha de 23 anos e um senhor milionário de 74 anos (casamento ou união estável ?)


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ATENÇÃO : a lei repete o incentivo constitucional de facilitar a conversão da união estável (art.
1726). Todavia, para todos os fins, o tempo em que o casal viveu em união estável é
considerado legalmente.

CONTROVÉRSIA : as leis anteriores foram revogadas ?

1ª CORRENTE (majoritária) : somente as disposições que tratem da mesma matéria, porém de


modo contrário.

Ex.: os companheiros não sucedem mortis causa igual ao cônjuges, como outrora (art. 1790 e
1829).

2ª CORRENTE : todas as normas anteriores foram vogadas, assim como o CC anterior.

DIREITOS E DEVERES

Em regra, são os mesmos dos cônjuges :

- mútua assistência (material e moral);


- lealdade : importa na fidelidade (relação monogâmica);
- respeito : atenção à suscetibilidade do outro
- guarda, sustento e educação : poder familiar

SUCESSÃO : situação do companheiro não é mais equiparada à do cônjuge, apesar de ser


também herdeiro necessário, segundo norma implícita do art. 1790 CC.
IMPORTANTE : no que for compatível, entende-se que poderá ser aplicado aos companheiros os
efeitos da culpa pela dissolução da união estável tal qual casamento.

UNIÃO ESTÁVEL PUTATIVA : pessoa de boa-fé desconhece impedimento para


constituição da relação jurídica » terá garantido todos os direitos tal qual se vivesse em união
estável (matéria de prova : relação jurídica + desconhecimento justificável do impedimento).

INTERESSANTE : é permitido ao companheiro acrescentar o apelido do outro (art. 57, § 2º,


Lei 6015/73), sendo necessária petição ao juiz da circuncrição do registro de pessoas naturais,
atendidos os requisitos do preceito legal.

OBS.: há juízes que somente autorizam o uso do nome após sentença que reconheça a união
estável.

BEM DE FAMÍLIA
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É o bem impenhorável por servir de residência para a família, urbano ou rural, estendida a
proteção aos móveis que o guarnecem e seus bens acessórios (frutos, produtos e benfeitorias).

RESIDÊNCIA OU DOMICÍLIO ?

A Lei 8009/90 diz residência, assim como o art. 1711 CC. Todavia, o art. 1712 CC reza
domicílio » assunto a ser pacificado pela jurisprudência e pela doutrina.

LEI 8009/90 : não foi revogada, conforme a parte final do art. 1711 » aplicação
subsidiária.

INSTITUIÇÃO

a) não pode ultrapassar a 1/3 do valor líquido do patrimônio do beneficiário

OBS.: se constituído sobre o único bem, entende-se que poderá ser penhorado até 2/3 do valor do
imóvel.

b) somente pode ser instituído por escritura pública ou testamento, devendo ser registrado
junto à matrícula do imóvel no RGI competente.

OBS.: pode ser instituído por terceiro, tanto por doação quanto por terceiro, condicionada à
aceitação pelos chefes da entidade familiar.

c) Pode atingir a valores mobiliários que tenham por fim a conservação do imóvel e a
manutenção da família, desde que não excedam o valor do prédio que servirá de
residência (ao tempo da instituição) » logo, instituição acessória.

OBS.: devem ser individualizados no ato constitutivo do bem de família (instrumento público ou
testamento), assim como estar registrados se forem título nominativos.

IMPORTANTE : se 3º constituir valores mobiliários como bem de família, poderá confiar sua
administração a instituição financeira, que assumirá a qualidade de depositária » útil quando
o beneficiário não sabem lidar com os títulos.

OBS.: por ser depositária, na hipótese de dissolução da administradora, os valores mobiliários


não servirão para pagamento de dívidas » deverão ser transferidos a outra instituição
semelhante, mediante ordem judicial.

OBRIGAÇÕES PROPTER REM : afastam a impenhorabilidade do bem de família » logo, o


bem de família poderá ser alienado judicialmente.
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IMP0RTANTE : havendo saldo da alienação do bem de família, deverá ser adquirido bem
imóvel ou títulos da dívida pública, que se sub-rogarão, para fins de sustento da família » salvo
se o juiz examinar razão relevante que aponte outra solução.

Ex.: o capital excedente é mínimo; família precisa do dinheiro para se alimentar ou custear
tratamento médico.

INALIENABILIDADE : novidade do novo CC !!! o bem de família é inalienável pelas vias


ordinárias !!!! caso seja necessário, deverá ser postulada autorização judicial, após ser ouvido o
MP (curador de família) - art. 1717 » único caso em que a impenhorabilidade acarreta
inalienabilidade.

EXTINÇÃO

a) impossibilidade de manutenção do bem de família conforme foi instituído : a extinção


deverá ser requerida ao juiz, após manifestação do instituidor (se 3º) e o MP (curador de
família).

OBS.: ao invés de simplesmente extingui-lo, poderá haver sub-rogação em outros bens que
poderão ser mantidos.

b) Morte de um dos cônjuges : o sobrevivente pode pleitear a extinção, se o bem de família for
o único patrimônio.

OBS.: a morte de ambos os cônjuges não extingue o bem de família, salvo se encerrada a
entidade monoparamental.
c) Extinção da família : dissolvido o casamento, a união estável ou a entidade
monoparamental.

CONTROVÉRSIA

ART. 1721 : a dissolução da sociedade conjugal não extingue o bem de família » mas a
dissolução do casamento extingue o bem de família ?

1ª CORRENTE : sim, porque não haverá mais família a ser protegida, salvo se mantida entidade
monoparamental » perece do objeto da ratio legis.

2ª CORRENTE : não, haja vista a inteligência do art. 1721, parágrafo único » morte extingue
o casamento, mas não acarreta o fim da proteção legal.

DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE E DO VÍNCULO CONJUGAL

A sociedade conjugal finda por uma das hipóteses do art. 1571 CC.

- DIVÓRCIO : extingue, além do casamento, o vínculo conjugal

CONTROVÉRSIA : a Lei do Divórcio foi revogada pelo novo CC ?


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R.: o entendimento dominante é que a Lei 6515/77 ainda está em vigor no que não contraria a
lei atual.

SEPARAÇÃO JUDICIAL

Emenda Constitucional 66 de Julho de 2.010, alterou o § 6º do art. 226 da Constituição Federal,


expurgando do sistema a separação judicial e extrajudicial e, em conseqüência a via dúplice para
o divórcio, que agora não está submetido a nenhum prazo.

EFEITOS DO DIVÓRCIO

1 - ALIMENTOS : pode ser pleiteado por qualquer um dos cônjuges, desde que prove que é
necessitado e que o outro tem possibilidade de pagá-los.

CÔNJUGE CULPADO : perde o direito de pleitear alimentos em face do inocente, salvo o


mínimo para subsistência em estado de miséria comprovada.

OBS.: é possível a fixação de alimentos por tempo determinado quando a necessidade é


temporária.

IMPORTANTE : nada obsta ao cônjuge pleitear alimentos enquanto coabita, desde que prove
não estar sendo cumprido o dever de mútua assistência.

Ex.: a família passa fome porque o varão gasta todo o dinheiro em bebida; o homem sustenta a
família sozinho porque a mulher se nega (a despeito do seu salário invejável).

CAUSAS DE EXCLUSÃO :

a) cônjuge credor contrai novo casamento, união estável ou concubinato (art. 1708);

b) mudança de fortuna (art. 1699)

c) credor perde direito aos alimentos se proceder indignamente perante o devedor (art. 1708,
parágrafo único)

OBS.: o que é procedimento indigno? evidentemente, existe alto grau de subjetividade


(espancamento, ato contra a honra, lesão corporal, tentativa de homicídio etc.)

d) morte do alimentante : cuidado com o preceito do art. 1700 ! é transmitida a dívida


alimentar vencida, e não a obrigação alimentar !!!!

e) abandono do lar conjugal : não está previsto no CC, mas na Lei 6515/77. Todavia, o
abandono tem de ser voluntário para que cause a perda do direito (mulher abandonada não
deixa o lar voluntariamente).
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RENÚNCIA : a questão era controvertida, o que parece ter sido sanada pelo atual CC » mesmo
entre os cônjuges, os alimentos são irrenunciáveis !!!
OBS.: os alimentos podem ser dispensados, ou seja, pode o cônjuge exonerar o outro do
pagamento de alimentos no momento. Todavia, sempre que se configurar a previsão do art.
1694, poderão ser postulados.

2 - ALIMENTOS ENTRE PAIS E FILHOS : somente é possível se a separação for


consensual !!! Pode não ser objeto do acordo se os alimentos forem pretensão de ação própria.

CUIDADO : a pretensão de alimentos constitui interesse jurídico dos filhos !!! Logo, não
podem os pais pleitearem alimentos em nome próprio para os filhos !!!

3 - VISITAÇÃO E GUARDA DOS FILHOS : o exercício do poder familiar não se extingue


pelo divórcio. Será confiada àquele que apresentar melhores condições de cuidar da prole
(art.1.584)

OBS.: em nada interessa ser culpado ou inocente quanto à separação, pois, neste caso, importa
atender ao melhor interesse do menor.

4 - PARTILHA DE BENS : dependerá do regime de bens adotado pelos cônjuges. Daí, é


fundamental informar ao juízo a data do casamento e o regime eleito.

Regime de participação final dos aqüestos :

- meação é irrenunciável, impenhorável e impassível de cessão enquanto vigente o regime

- deve ser calculado o valor dos aqüestos para partilha, podendo-se converter os bens em
dinheiro ou um dos cônjuges pode pagar ao outro pela sua meação

- dívidas pessoais não ultrapassam a meação a fim de não prejudicar o outro cônjuge

ATENÇÃO : os cônjuges não precisam alienar todos os bens porque formar condomínio
também é partilhar.

OBS.: não é obrigatória (entendimento do art. 1581 CC e art. 43 da Lei 6515/77), até porque o
vínculo conjugal não é atingido. A lei, então, autoriza que a partilha seja realizada após a
separação o divórcio (Lei 6515/77).

RESULTADO : a partilha pode ser feita quando houver a conversão em divórcio ou em


procedimento de inventário para postular a partilha dos bens do casal.
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5 - USO DO NOME : se postular o inocente, o culpado perde o direito de usar seu sobrenome,
salvo se prova UMA das hipóteses do art. 1578.

DIREITO CONSUETUDINÁRIO : se a mulher decidir por manter o nome do marido, deverá


também observar uma conduta social ilibada, sob pena de, a requerimento do homem que lhe
emprestou o nome, ser determinado que deixe de usá-lo.

Conduta ilibada » apreciação extremamente subjetiva, dependendo do juízo de valor de cada


um.

Ex.: mulher separada arranjou um namorado e foi morar com ele. Após um certo tempo,
engravidou (cabeça de homem é uma droga : “será que ela já não estava me traindo com esse
cara quando éramos casados ?”).

OBS.: o ex-marido da Luíza Brunet tentou compeli-la a deixar de usar o seu nome porque
julgava que a sua conduta social não era ilibada (fotos nuas, poses sensuais, namoros famosos
etc).

6 – CESSAM OS DIREITOS SUCESSÓRIOS (art. 1.829) : a lei diz que é sucessor o


cônjuge!!!

IMPORTANTE : se no curso da ação de divórcio ocorrer a morte de um dos cônjuges, extingue-


se a ação. A morte do cônjuge extingue o casamento, modificando o estado civil do cônjuge
supérstite para viúvo.

SEPARAÇÃO DE CORPOS

A separação de corpos permite ao cônjuge a ruptura da vida em comum sem que ocorra
incidência da sanção do art. 1572, caput. Como é medida cautelar, sendo esta concedida, a parte
suplicante tem de propor a ação principal (DIVÓRCIO).

OBS.: por se tratar de medida cautelar, precisam ser satisfeitos os pressupostos da cautela :
periculum in mora e fumus boni iuris.

Ex.: mulher apanha do marido » procura a Defensoria Pública » imagina o que vai acontecer
com esta senhora no momento em que seu marido receber a citação de que está sendo requerido
o divórcio ... coitada.

RESULTADO DA SEPARAÇÃO DE CORPOS : fim do dever de coabitação; da vida em


comum.

Art. 1702 e 1704 : divórcio não extingue a obrigação de mútua assistência.

DIVÓRCIO
CASAMENTO VÁLIDO : somente é extinto pela morte ou pelo divórcio (este proporcionou o
fim do casamento em vida).
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"ATÉ QUE A MORTE OS SEPARE" : não era possível a extinção do casamento por outra forma
que não a morte até 1977 (ainda é assim pelo Direito Canônico).

IMPORTANTE : como o divórcio extingue o casamento, cessam também todos os seus efeitos.
Portanto, não comporta reconciliação, na medida que o vínculo conjugal já estava extinto (se
quiserem, casem-se novamente).

CURIOSIDADE : inicialmente, a lei fixava limite para o número de divórcios. Todavia, após o
advento da Lei 7.841/89, não mais existe limite para se divorciar (é possível casar-se quanto
vezes for desejar o interessado).

DIVÓRCIO DIRETO : Com a edição da EC66 de 07/2010, só existe essa modalidade de


divórcio e não há mais o prazo de 2 anos: as partes estão ainda casadas e pretendem atingir ao
status de divorciados sem que precisem antes postular qualquer outra medida judicial.

IMPORTANTE : quando alguém é separado judicialmente e o ex-cônjuge falece, torna-se


viúvo; se este alguém é divorciado, permanece divorciado.

RAZÃO : a morte extingue o vínculo matrimonial, fazendo surgir novo estado civil. Se alguém
é separado judicialmente, ainda permanece o casamento. Portanto, como a morte o fulmina, faz
também nascer um novo estado civil.

Não ocorre o mesmo quando o ex-cônjuge estava divorciado porque o casamento já havia sido
extinto pelo divórcio. Portanto, a morte nada alterou.

EFEITOS DO DIVÓRCIO

1 – Cessam os deveres referentes ao casamento

A coabitação e a fidelidade cessam tanto devido ao divórcio, assim como a assistência mútua
moral.

MÚTUA ASSISTÊNCIA MATERIAL : assim como na dissolução da união estável, pelos


mesmos fundamentos, não é extinta a obrigação de prestar alimentos.

2 – Extingue-se o Regimes de Bens


PARTILHA É OBRIGATÓRIA ? segundo o art. 1581 CC, pode ser decretado o divórcio e a
partilha ser destinada a processo posterior de inventário.

SÚMULA 197 STJ : o juiz pode apreciar posteriormente a partilha dos bens do casal e decretar
o divórcio de plano.

3 – Cessam os Direitos Sucessórios (art. 1.829)

4 – Uso do nome
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DIVÓCIO DIRETO CONSENSUAL : o acordo estabelecerá se a mulher manterá o nome de
casada ou se voltará a usar o nome de solteira.

OBS.: se a parte optar por manter o apelido, poderá, a qualquer momento, voltar a usar o nome
de solteiro.

DIVÓRCIO DIRETO LITIGIOSO : em regra, o cônjuge pode manter o nome de casado,


conforme art. 1571, § 2º.

PODER FAMILIAR

É o conjunto de direitos e deveres irrenunciáveis, de caráter público, atribuídos aos pais, a


fim de conferir proteção aos filhos menores não-emancipados.

DIVERGÊNCIA : não havendo acordo entre os pais que exercem o poder familiar, deve-se
recorrer ao juiz para composição do conflito.

IMPORTANTE : o divórcio, união estável, anulação ou declaração de nulidade do casamento


NÃO alteram o exercício do poder familiar, na medida em que este se refere apenas à relação
com os filhos.

EXERCÍCIO DO PODER FAMILIAR

O art. 1634 CC elenca rol meramente exemplificativo, haja vista se restringir a deveres
extrapatrimoniais (vide art. 1689 e ss. CC).
» art. 1634, V e art. 1690.

USUFRUTO : direito real dos pais sobre coisa dos filhos, enquanto aqueles forem titulares do
poder familiar.

Atenção : direito real sobre coisa alheia constituído alheio à vontade dos sujeitos.

Obs.: os pais imbuídos de poder familiar são os únicos representantes legais titulares de usufruto
(tutores e curados não são usufrutuários).

ADMINISTRAÇÃO : não basta ser genitor e estar no exercício do poder familiar; é preciso ter
os filhos sob sua autoridade para ter o direito de administrar seus bens.

Cuidado !!! A administração implica em gerenciar os bens dos filhos !!! Logo, lhes é proibido
subtrair seus bens, transferindo-os ou oferecendo-os em garantia a terceiros para garantir
pagamento de dívidas (o que expõe a risco de alienação também), sendo o ato nulo de pleno
direito.
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Exceção : se provada necessidade ou relevante interesse da prole, o que será apreciado por juiz,
após ouvir o Ministério Público (curador de incapazes).

Legitimidade : somente podem postular a declaração de nulidade os filhos prejudicados, seus


herdeiros ou o outro representante legal do prejudicado.

Obs.: art. 1692 CC e art. 9º, I CPC.

EXCLUSÃO :

I - neste caso, serão exercidos somente pela mãe;

II - todavia, devem assisti-los ainda assim porque são incapazes, sob pena de anulação;

III - neste caso, se ambos os pais forem excluídos, deve ser nomeado um curador até que o
menor adquira capacidade civil;

IV - os pais são os herdeiros, porém foram julgados indignos ou foram deserdados » a lei os
presume pré-mortos para todos os fins, juris et juris.

SUSPENSÃO DO PODER FAMILIAR


(art. 1637)

a) ABUSO DO PODER : importa no descumprimento dos deveres, patrimoniais ou não, do


poder familiar ou se forem expostos os bens dos filhos à ruína.

OBS.: nessa hipótese, a supensão é medida excepcional, a ser examinada no caso concreto,
segundo os princípios do melhor interesse do menor quanto à sua segurança e pertences.

b) CONDENAÇÃO POR CRIME : trânsito em julgado de sentença condenatória que fixe a pena
em, ao menos, 2 anos.

Reabilitação : estudada em Direito Penal, sendo a restituição do poder familiar um dos seus
efeitos.

PERDA DO PODER FAMILIAR


(art. 1638)

Constitui sanção aplica pelo juiz aos pais que se mostram inaptos ao exercício dos deveres do
poder familiar.

I, II e III : constituem infração perante o ECA. Logo, a pena da perda do direito não prejudica
outras previstas em lei, como prisão - abandono de menor é crime.
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EXTINÇÃO : além dos casos de perda do poder familiar, são casos de aquisição da capacidade
civil, perda da personalidade ou mudança do estado filiação.

OBS.: neste último caso, extingue-se o poder familiar somente em relação àqueles pais =>
substituição.

MOMENTO : antes da extinção do pátrio poder em decorrência do descumprimento


injustificado dos deveres relativos ao pátrio poder, o que causa a sua própria perda.

AÇÃO DE PERDA DO PODER FAMILIAR ou DE DESCONSTITUIÇÃO DO PODER


FAMILIAR : somente pode ser aplicada a sanção da perda do pátrio poder através de ação
própria.

OBS.: os pais nunca deixam de ser pais, mas o Estado tem de confiar a outrem os deveres
relativos ao poder familiar, os quais foram renegados.
RESULTADO : o menor estaria disponível para adoção, na medida que está desamparada
de poder familiar.

IMPORTANTE : na prática, a criança que não está amparada pelo poder familiar não é
conduzida à adoção » é concedida tutela parentes idôneos (geralmente os seus avós).

ECA : os avós não podem adotar, mesmo nos casos em que os pais perderam o poder familiar.

FILIAÇÃO

É o parentesco próprio entre pais e filhos.

ART. 226, § 6º CF; ART. 1596 CC e ART. 5º e 6º LEI 8560 : proibida qualquer discriminação
entre os filhos.

MATERNIDADE

Se a criança nasceu numa maternidade, esta é obrigada a fornecer uma certidão de que a
criança nasceu com vida (em tal dia e hora, uma determinada mulher deu a luz a uma
determinada criança, de tal sexo etc).

REGRA : quem leva a certidão ao cartório de registro civil de pessoas naturais para registro é o
pai da criança (como diz a lei), até porque a maternidade já está comprovada pelo documento
expedido pela maternidade (qualquer pessoa pode provar quem é a mãe da criança através da
certidão da casa de saúde).

E se a pessoa dá a luz na beira do rio ou da estrada em lugar ermo ?

- Na falta desta certidão, duas testemunhas


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OBS.: tais testemunhas não podem ser qualquer pessoa (o porteiro, o jornaleiro etc), e sim
pessoas que tenham testemunhado o fato do nascimento ou, então, que tenham visto a mulher
grávida e, depois, tê-la visto com a criança nos braços.

CONCLUSÃO : a mãe é sempre certa, sempre conhecida porque sempre é possível saber
quem deu à luz.

PATERNIDADE

Quem é o pai de uma criança que nasceu dentro do casamento ?


PAI É O MARIDO !!! se a mulher casada teve um filho, o pai é o marido, pois existe o
dever de fidelidade, de coabitação, o que, salvo prova em contrário, foi respeitado pelos
cônjuges (art. 1566, I - dever de fidelidade entre os cônjuges).
ART. 1597 CC : presunção ser o marido o pai do filho nascido na constância do casamento –
presunção relativa (juris tantum) PRESUNÇÃO PATER ES (nomem juris de tal presunção –
“presume que pai é”).

Ex.: quando ela nasce uma criança, todos correm para afirmar que é igual ao pai (o pobre, é,
desde então, induzido a erro, já que todo recém-nascido não se parece com ninguém), para não
haver dúvida que o filho é dele » ele levará a certidão da criança a registro » a paternidade
será declarada perante o oficial do cartório de registro de pessoas naturais e maternidade está
comprovada.

IMPORTANTE : estas são as únicas hipóteses em que a mãe pode registrar o filho e declarar a
paternidade do marido sem precisar prová-la.

PRESUNÇÃO DE FILIAÇÃO CONSANGÜÍNEA : presumem-se nascidos da união entre os


cônjuges os filhos nascidos na constância do casamento (presunção relativa, pois admite prova
em contrário) - art. 1597.

III - fecundação utilizando sêmen do próprio marido.

IV - similar ao anterior, porém se refere à fecundação de embriões congelados, fruto do material


da mulher e do marido.

V - utilização de sêmen de homem que não o marido ou mesmo embriões de outros » somente
se este autorizar expressamente, sob pena de conduta desonrosa.

I e II - é o período em que se presume ter a gestação se iniciado durante o casamento (presunção


pater is) » tanto que... art. 1598.

PROVA EM CONTRÁRIO :

- mulher evidencia não estar grávida no período (art. 1523, parágrafo único, parte final);

- impotência do varão : tanto coeundi quanto generandi (ou ambas)


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- adultério : a conduta da mulher ou a gravidez surgida em período de ausência do marido
podem gerar o interesse de investigação » após prova em contrário é que restará provada a
não-paternidade.

PROVA DA FILIAÇÃO : em regra, é o registro de nascimento.

"Vindicar estado contrário" : presunção de veracidade do registro » prova em contrário - art.


1604, parte final e art. 1605.

RECONHECIMENTO DA FILIAÇÃO

Importante para os casos em que os pais não são casados, não vigorando, portanto, as
presunções do art. 1597.

ART. 1609 CC (art. 1º, Lei 8560/92) : atos de reconhecimento.

CONTESTAÇÃO DA MATERNIDADE : apesar de ser menos comum, perfeitamente possível,


principalmente nos casos do registros falsos, ou seja, a criança não foi gerada pela mulher que se
declarou mãe.

Ex.: menino de Goiânia.


IMPORTANTE : em qualquer hipótese, o reconhecimento é irrevogável (ainda que por
testamento), podendo ser anterior ou posterior ao nascimento, ou mesmo após o falecimento de
quem reconhece por testamento ou outro documento idôneo (neste caso, para surtir efeitos, é
preciso que haja descendentes ao tempo da sua morte).

Ex.: uma pessoa reconhece a filiação por testamento; posteriormente, realiza outro em que deixa
de reconhecê-la » poderá o filho reconhecido usar o testamento revogado para provar seu
estado.

INEFICÁCIA : imposição de elementos acidentais ao ato de reconhecimento.

NULIDADE : reconhecimento de filho maior sem o seu consentimento (art. 1614 CC e art. 4º da
Lei 8560/92).

ADOÇÃO

É o ato jurídico pelo qual se estabelece relação de filiação entre adotante e adotado, apesar da
inexistência dos laços de sangue.

NATUREZA JURÍDICA : ato complexo, pois depende da manifestação de vontade dos


particulares e do Estado, após um procedimento regular.

ANTES DO ADVENTO DO NOVO CC

CC - adoção do maior de 18 anos

ECA - adoção do menor de 18 anos


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APOSTILA DE DIREITO CIVIL Professor Affonso Pernet Júnior

APÓS O ADVENTO DO NOVO CC

CC : também trata da adoção do menor de 18 anos, assim como o ECA.

CONTROVÉRSIA : ECA estaria revogado ? Não totalmente, mas apenas nos pontos em que a
lei mais nova tratasse a mesma matéria de forma contrária.

QUEM PODE ADOTAR ?

a) qualquer pessoa maior de 18 anos e, ao menos, 16 anos mais velho que o adotado;

b) cônjuges ou companheiros conjuntamente, desde que um deles, ao menos, tenha 18 anos e


sejam ambos 16 anos, ao menos, mais velhos que o adotado.

OBS.: neste caso, tem de ser provada a estabilidade familiar, o que ocorre durante o
procedimento de habilitação.

IMPORTANTE : único caso em que duas pessoas podem ser adotantes de um adotado apenas
(dois adotantes; um adotado).

ART. 1626, PARÁGRAFO ÚNICO : adoção supérstite pelo cônjuge do adotante » mesmos
efeitos se tivessem procedido ao procedimento de adoção juntos.

c) Tutor e curador podem adotar o representado, desde que tenham procedido à prestação de
contas.

d) Divorciados ou separados judicialmente : somente se » tenham acordado sobre guarda e


visitação + estágio de convivência iniciado ainda quando vigente a sociedade conjugal.

OBS.: o mesmo se aplica aos ex-companheiros.

e) Estrangeiros : conforme as normas estabelecidas em leis especiais (ECA, Estatuto do


Estrangeiro etc.)

ANUÊNCIA
1 - DOS PAIS BIOLÓGICOS : é necessária para adoção (regra), salvo se :

- menor exposto ao desamparo;

- pais são desconhecidos ou estejam desaparecidos;

- pais desconstituídos de poder familiar, sem que tenha havido nomeação de tutor;

- menor órfão sem que qualquer parente tenha lhe reclamado por mais de 1 ano.

2 - DO ADOLESCENTE : além da concordância dos seus pais, salvo os casos excepcionais


acima.
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ATENÇÃO : em ambos os casos, o consentimento é revogável até a publicação da sentença
constitutiva da adoção.

ADOÇÃO DO MAIOR : também depende do acompanhamento do Poder Público e sentença


constitutiva.

EFEITOS

- adotado assume a situação de filho do adotante para todos os fins, sem qualquer
discriminação em relação aos consangüíneos, sendo estabelecida relação de parentesco com
todos os parentes do adotante como se consangüíneo fosse;

EXCEÇÃO : a quebra de vínculo com a família atinge somente não atinge os impedimentos
matrimoniais (eternos)

- mudança no registro de nascimento, sendo alterados os nomes patronímicos, dos pais e


progenitores;

- o prenome pode ser alterado, a pedido do adotante ou do adotado, desde que este seja menor
(finalidade : evitar fraudes);

REGRA : surtem a partir do trânsito em julgado da sentença constitutiva (efeitos ex nunc)

EXCEÇÃO : são retroativos se o adotante falecer durante o curso do procedimento de


adoção » retroagem à data do óbito (garantia sobre os direitos hereditários).

GUARDA - (art. 1583)

Verdadeira medida protetiva, com finalidade de conferir assistência material e moral a


menor, sem, todavia, desconstituir o poder familiar.

ESPÉCIES :

- Direito de Família : decorrente do poder familiar, constitui dever dos pais ou, se melhor
interesse do menor, outro parente que apresente melhores condições (avós, tios, irmãos mais
velhos etc.)

- ECA : medida que visa conferir ao menor desamparado família substituta sem desconstituir
os vínculos com a família biológica (caso dos meus avós), sendo os processos julgados nos
Juizados da Infância e Juventude.

OBS.: nas hipóteses do ECA, pode tanto ser concedida liminarmente nos processos de tutela
ou adoção (art. 33, § 1º) quanto como medida autônoma (art. 33, § 2º) - caso dos meus avós.

Á QUEM CABE A GUARDA

REGRA : pais, pois decorre do poder familiar o dever de conferir guarda aos filhos menores ou
maiores incapazes.
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Dissolvida a união dos pais : revogada a preferência legal conferida à mãe » hoje, o que deve
ser averiguado pelo juiz é o melhor interesse do menor, ou seja, analisar quem tem condições
mais adequadas que prover o bem-estar do incapaz.

OBS.: não é aferido critério financeiro, pois este é sanado pelos alimentos.

EXCEÇÕES :

a) filho havido de relação extraconjugal não estará sob a guarda do cônjuge infiel se o
outro assim não consentir (art. 1611) » a razão da lei é proteger o menor da torpeza do
cônjuge traído ou discriminações face aos filhos havidos no casamento.

b) FILHO RECONHECIDO : por ato dos genitores, aplica-se a regra do art. 1584; mediante
sentença de investigação, poderá não ficar sob a guarda daquele que não o reconhecera (art.
1616, parte final), sempre pelo critério do art. 1584 ("por que o filho ficaria com o pai que
lhe rejeitou ?").

c) Se nenhum dos pais puderem atender o melhor interesse do menor, a guarda pode ser
conferida a outrem, segundo os critérios do parágrafo único do art. 1584 (aferidos por
assistentes sociais e psicólogos no curso do processo).

SENTENÇA DA AÇÃO DE GUARDA : não faz coisa julgada material (art. 1586).

DIREITO DE VISITAÇÃO : decorrente do direito de guarda dos filhos.

- guarda em sentido estrito


Guarda em sentido amplo
- visitação

BUSCA E APREENSÃO DE MENORES : legitimidade decorrente da guarda.

ALIMENTOS

Não englobam apenas a alimentação, mas também vestuário, educação, sustento, moradia etc.
Existem dois grandes grupos de obrigação alimentar :

- alimentos legítimos : decorrente de lei


- os alimentos estipulados pela vontade (ex.: decorrente de testamento)

ALIMENTOS LEGÍTIMOS : PRINCÍPIOS

1 – PROPORCIONALIDADE (art. 1694, § 1º e 1695 CC) : somente pode ser condenado a


pagar alimentos quem pode pagá-los.

- necessidade (do credor)


Critério para da fixação dos alimentos
- possibilidade (devedor)
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OBS.: o ônus da prova é do credor dos alimentos.

2 – VARIABILIDADE DOS ALIMENTOS (art. 1699 CC) : toda vez que houver alteração no
binômio necessidade x possibilidade, o que a lei denomina mudança de fortuna do devedor,
ensejará a revisão dos alimentos.

- majoração (aumento)
REVISÃO poderá resultar em - redução (diminuição)
- exoneração (podendo haver nova
fixação no futuro)

OBS.: sentença da ação de alimentos não comporta coisa julgada material (apenas formal).

3 – DA PERSONALIDADE DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR (art. 1700 CC) : a obrigação


não se transmite aos herdeiros do devedor, ou seja, é uma obrigação personalíssima.
OBS.: transmite-se aos herdeiros a dívida vencida, e não vincenda » o procedimento de
inventário dispõe sobre o pagamento das dívidas, inclusive de natureza alimentar (art. 1.997 CC).

4 – DA IRRENUNCIABILIDADE DOS ALIMENTOS LEGÍTIMOS (art. 1707 CC) :


renunciar significa deixar de exercer definitivamente um direito. Todavia, nada impede que
deixe de exercer temporariamente o direito de postular alimentos.

5 – DA IMPRESCRITIBILIDADE DOS ALIMENTOS LEGÍTIMOS : a dívida vencida


prescreve, todavia, em 2 anos a contar do vencimento.

Caso o credor requeira, o juiz pode decretar, em sentença de execução de alimentos, prisão de
caráter coercitivo, sendo que : não pode ser superior a 3 meses e tem de ser libertado se
pagar a dívida.
HIPÓTESES DE PREVISÃO LEGAL DE ALIMENTOS

1 – Casamento ou União Estável : decorrentes do dever de mútua assistência, sendo também


impresritíveis (art. 1694, 1702 e 1704)

Culpado : terá direito apenas ao indispensável à sua subsistência, ainda assim somente se não
houver parentes que possam prestá-lo.

2 - ALIMENTOS DECORRENTES DO PÁTRIO PODER (art. 22 da Lei 8.069/90 – ECA)

- sustentar
Deveres dos pais para com os filhos menores - guardar
- educar

ATENÇÃO : há presunção legal absoluta de necessidade, ou seja, o filho menor não precisa
provar a necessidade aos alimentos devidos pelos pais, mas tão somente o quantum postulado.
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REGRA : o poder familiar finda junto com a obrigação alimentar – 18 anos.

EXCEÇÃO : CONTROVÉRSIA

1ª Corrente : há prorrogação automática da obrigação de prestar alimentos até a idade de 24


anos se o filho estiver cursando nível superior.

2ª Corrente : não há prorrogação automática; o filho deve ingressar com ação judicial para
requerê-la, inclusive para provar que está cursando.

IMPORTANTE : a corrente a ser aplicada no caso concreto dependerá do entendimento de cada


juiz.

3 - ALIMENTOS DECORRENTES DA RELAÇÃO DE PARENTESCO : é possível


alguém pleitear alimentos de seus parentes, respeitada a ordem prevista no art. 1696 a 1698 :

1º - ASCENDENTES (sem limite de grau)


2º - DESCENDENTES (sem limite de grau)
3º - IRMÃOS

No caso do direito de visitação dos avós, este deve ou não ser regulamentado, na medida
que os mesmos tem, eventualmente, obrigação alimentar ? o entendimento majoritário acolhe
a regulamentação do direito de visitação dos avós para assegurar a formação do vínculo afetivo
» até porque é inconcebível que alguém que tenha eventual obrigação alimentar não tenha
vínculos com o titular do direito aos alimentos.

AÇÃO DE ALIMENTOS (Lei 5478/68)

É a medida judicial cabível para se postular o pagamento de alimentos.

LEGITIMIDADE : direito personalíssimo que cabe apenas ao alimentando.

NATUREZA JURÍDICA : ação pessoal porque gera obrigação pecuniária, apesar de ser
decorrente de relação de parentesco.

OBS.: há entendimento de alguns que se trataria de ação de estado porque sua origem decorre
diretamente do estado das pessoas envolvidas (parentesco, casamento).

RITO : especial, sendo o procedimento descrito por lei especial (Lei 5478/68)

PETIÇÃO INICIAL : causa de pedir » ser titular do direito de alimentos (casamento / união
estável / poder familiar / parentesco) + necessidade + possibilidade do réu.

ACIJ : momento processual em que todos os atos são praticados (contestação; provas; sentença)

ALIMENTOS :

- provisórios : sua fonte é a Lei 5478/68 (art. 4º e 13), tendo natureza de tutela antecipada »
não podem ser revogados (aliás, podem ser concedidos ex officio - interesse público)
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- provisionais : sua fonte é o CPC (art. 852), sendo medida cautelar típica, a qual poderá
assegurar certa situação jurídica até a composição de a ação principal (investigação de
paternidade, nulidade do casamento etc.)

OBS.: pode perder seus efeitos se for medida cautelar preparatória e não for observado o
trintídio.

- definitivos : são fixados em sentença que encerra o procedimento.

PRISÃO DO ALIMENTANTE : execução da dívida decorrente dos alimentos está prevista


nos art. 732 e ss. CPC (alimentante não prova ter pago, não paga e não se justifica em 3 dias).

Natureza jurídica : não constitui pena, medida satisfativa, mas sim medida coercitiva, ou seja,
meio de compelir o devedor a saldar a dívida alimentar (tanto que, uma vez paga, lavra-se o
alvará de soltura).

CONTROVÉRSIA : qual o tempo máximo de prisão civil ? 60 dias (Lei 5478/68) ou 3 meses
(art. 733 CPC) ?

1ª corrente (majoritária) : aplica-se o CPC, que é a lei mais nova.

2ª corrente : 3 meses para os provisionais e 60 dias para os provisórios

3ª corrente : o tempo menor, porque » Princípio da Especialidade + benefício ao réu + não tem
a prisão natureza satisfativa.

STJ :

a) a prisão só deve efetuada se o credor, objetivamente, precisar dos alimentos.

ENTENDIMENTO DOUTRINÁRIO E JURISPRUDENCIAL : não há necessidade de prisão


(até porque não é satisfativa) se o credor demorar em cobrar os alimentos atrasados, i.e., por
mais de três meses (em média) » se realmente estivesse precisando, não levaria tanto tempo.

b) há quem entenda ser cabível prisão para o pagamento dos três últimos meses apenas, ao invés
do total devido (no caso da exceção acima)

TUTELA

Trata-se de verdadeiro múnus público que consubstancia medida assistencial visando à


proteção do menor de 18 anos, assumindo o tutor a qualidade de único representante legal
do incapaz, na medida em que seus pais não mais detém poder familiar.
IMPORTANTE : se os pais são vivos, porém destituídos do poder familiar, ainda assim serão
devedores de alimentos aos filhos, embora estejam sob tutela.
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REPRESENTAÇÃO : não é igual ao caso dos pais, pois a tutela é impessoal e controlada pelo
poder público » a administração do tutor depende de prestação de contas; não pode emancipar
o tutelado por ato próprio (depende de autorização judicial) etc.

TEMPO DE SERVIÇO : 2 anos, que podem ser estendidos indefinidamente, caso seja o melhor
interesse do menor (art. 1765 e parágrafo único).

ART. 36, PARÁGRAFO ÚNICO ECA : perda ou suspensão transitória

IMPORTANTE : a adoção também é cabível no caso do menor cujos pais morreram ou que
foram destituídos do pátrio poder. Todavia, quando sob tutela, o menor mantém todos os
vínculos com sua família natural.

TUTELA : menor também é posto em família substituta à sua, porém não há perda dos vínculos
de parentela.

OBS.: o tutor não pode conceder a emancipação ao menor, mas o juiz pode, ouvindo o tutor.

COMO RESOLVER QUANDO HOUVER DÚVIDA ENTRE ADOÇÃO OU TUTELA

A solução depende do caso concreto, segundo o Princípio do Melhor Interesse do Menor »


ver arts. 19 e 42, § 1º ECA (ascendentes não podem adotar os descendentes).

Ex.: pais de um menor de 8 anos falecem : avô paterno pode pleitear a tutela da criança (menor
+ incapaz) ou o vizinho pode pleitear a adoção » o que é o melhor para o menor é o que deve
ser concedido.

ESPÉCIES

1 - TESTAMENTÁRIA : tutor é nomeado pelos pais em testamento ou qualquer outro


documento idôneo (art. 1729).

Ex.: declaração por instrumento público; codicilo.

NULIDADE :
- pais que estivessem destituídos do poder familiar ao tempo da nomeação;

- testamento de um dos pais, nomeando tutor, e, ao tempo da sua morte, o outro genitor é
sobrevivente.
2 - LEGÍTIMA (art. 1731) : na falta de tutor nomeado pelos pais, o juiz nomeará tutor um dos
parentes consangüíneos do menor, conforme art. 1731 » tem caráter subsidiário.

IMPORTANTE : não é obrigatória a ordem do preceito legal, na medida em que o relevante é


atender ao Princípio do Melhor Interesse do Menor (art. 1731, II, parte final).

Ex.: irmã mais nova temporã vive há anos com a irmã mais velha, quem, na verdade, a criou,
educou etc. Por outra via, a menor nunca teve contato com seus vós, não havendo qualquer laço
afetivo (aliás, bastante remorso).
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3 - DATIVA (ou judicial) : critério residual, ou seja, quando falharem os anteriores. Trata-se
alguém de confiança do juiz, que pode ser parente civil ou afim, bem como consangüíneo além
do 3º grau colateral.

JURISPRUDÊNCIA : o caráter residual comporta exceção, pois o juiz pode nomear um tutor
dativo, mesmo que exista ascendente ou parente consangüíneo até o terceiro grau »
depende da apreciação do melhor interesse do menor.

Ex.: caso Cássia Eller - Maria Eugênia - Chicão - avô do menino.

OBS.: esta é a espécie de tutela protetiva destinada aos menores abandonados (art. 1734), da
qual também trata o ECA.

OBSERVAÇÕES À NOMEÇÃO

- irmãos órfãos devem ter o mesmo tutor a fim de que não sejam criados separados;

- se nomeado mais de um tutor por testamento, presume a lei que o subseqüente é


subsidiário ao antecessor, devendo assumir a tutela em caso daquele não fazê-lo;

- ainda que seja noemado tutor ou ainda seja exercido poder familiar, o testador pode nomear
curador especial para administrar bens deixados a menor enquanto perdurar sua
incapacidade » não confia nos representantes legais.

ACEITAÇÃO DA TUTELA

É concedido àquele que não é parente declinar à tutela se : existir parente vivo + domiciliado
na mesma localidade + possa exercer o encargo.

PARENTE : apesar da lei mencionar apenas os consagüíneos e afins, entendem-se


majoritariamente estender o preceito aos parentes civis (interpretação sistemática).
MESMO LUGAR : a lei não é precisa » entende a jurisprudência ser o mesmo município do
domicílio do menor, englobando a região metropolitana das grandes cidades (menor
entidade da administração pública direta).

TUTELA TESTAMENTÁRIA e LEGÍTIMA : tutor pode recusar-se ao múnus se atender a uma


das hipóteses do art. 1736.

CONTROVÉRSIA : art. 1736, I (mulher casada) afronta a igualdade constitucional entre homens
e mulheres ? Dominante o entendimento positivo.

RECUSA OBRIGATÓRIA : as pessoas descritas no art. 1735 não podem ser tutoras, nem
mesmo se nomeadas em testamento.
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PRAZO : 10 dias a contar da nomeação ou 10 dias após a aceitação, se o nomeado desconhecer a


causa da escusa (matéria de prova).

ART. 1739 : agravo de instrumento ou apelação ?

DEVERES DO TUTOR

ART. 1740 : os incisos II e III evidenciam a diferença entre os pais e o tutor, haja vista os limites
do seu poder sobre o menor.

OBS.: dever de alimentar o menor pode ser excepcionado quando este possuir bens suficientes
para suprir todas as suas necessidades.

EXCEDENTE : deve ser depositado em favor do menor, pois o tutor não é usufrutuário dos
seus bens (art. 1753).

ART. 1747 : em hipótese alguma, pode usufruir do patrimônio do menor » dever restringe-
se à mera administração, guardando-lhe os frutos, salvo as despesas para sua subsistência e
educação.

OBS.: tanto assim é que os atos de disposição que tenham de ser realizados pelo tutor
dependem de autorização judicial para serem válidos (art. 1748, 1750 e 1754).

ADMINISTRAÇÃO : ao receber os bens do menor, será lavrado termo especificando-os um


por um, ainda que tenha havido dispensa em testamento (cláusula reputa-se inexistente) - vide
art. 1753, § § 1º e 2º.
REGRA : é o tutor quem administra os bens e interesses do tutelado (art. 1741)

EXCEÇÃO : quando o gerenciamento exigir conhecimentos técnicos além do vulgo ou deve ser
realizado em lugar distante » pode ser concedido pelo juiz administração por outra pessoa
(física ou jurídica).

GARANTIA DA TUTELA : objetivando garantir a boa administração do patrimônio do menor, a


lei impõe ao tutor hipoteca legal dos seus bens a título de caução (art. 1745, parágrafo único),
salvo se tiver notória idoneidade.

RESPONSABILIDADE :

a) Direta e pessoal :

Tutor : quando tiver sido nomeado e assumido o encargo da tutela.

Juiz : se não tiver nomeado tutor ao tempo devido.


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b) Solidária : tutor e aqueles que têm o dever de fiscalizá-lo (juiz, protutor), assim como
qualquer um que contribua para a produção do dano.

c) Subsidiária : juiz, quando o tutor tornou-se suspeito e não foi removido ou se deixou de
exigir garantia legal.

ATENÇÃO : rara hipótese em que o juiz é responsabilizado pelo mau exercício das funções
jurisdicionais (poucos conhecem o fato)

PROTUTOR : pessoa a quem o juiz pode nomear para delegar a função de fiscalizar o tutor »
terá direito à remuneração, ainda que pequena (o que é "gratificação módica ?")

IMPORTANTE : responsabilidade é afastada por qualquer causa de isenção de culpa ou outro


elemento que constitui o ilícito civil (art. 1752).

INDENIZAÇÃO : o tutor tem direito de reaver todas as despesas realizadas, bem como
remuneração pela administração em proporção ao tamanho do patrimônio, podendo
compensar com as rendas do menor (art. 1760 e 1761)

OBS.: o tutor não poderá cobrar do tutelado qualquer dívida enquanto perdurar a tutela se não
relacionar ao juiz os débitos (matéria de prova), que deverá reconhecê-los.

PRESTAÇÃO DE CONTAS

Tutores são obrigados a prestar contas da sua administração, as quais devem ser apreciadas e
julgadas pelo juiz competente, sendo consideradas inexistentes as cláusulas em contrário em
testamento.

- a cada 2 anos;
- quando o tutor deixar a tutela;
- sempre que o juiz entender conveniente

SALDO : deve ser utilizado para aquisição de imóveis, títulos (entendimento jurisprudencial :
títulos da dívida pública) ou depósito em banco oficial.

Apresentação de balanço : todo final de ano.

QUITAÇÃO : ainda que atingida a capacidade civil, a quitação somente encerra a


responsabilidade do tutor após aprovadas as contas pelo juiz.
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INCIDÊNCIA DE JUROS : tanto para o tutor quanto para o tutelado, correm a partir da
decisão que apreciou as contas » daí a necessidade de audiência em que se ouça todos os
interessados, pois podem contestar as contas apresentadas (princípio da Oralidade).

EXTINÇÃO :

- Condição de tutelado : quando encerrada a incapacidade ou se novamente for o menor


submetido a poder familiar

OBS.: cessa a condição de tutelado, mas não a responsabilidade do tutor.

- Funções do Tutor : permanece a condição de tutelado, mas o tutor deixa de exercer seus
encargos (art. 1764 e 1766)

RITO DA AÇÃO DE TUTELA : especial de jurisdição voluntária (art. 1187 e ss. CPC)

CURATELA

Também trata-se de múnus público que consubstancia medida assistencial visando à proteção
do maior incapaz, assumindo o curador a qualidade de único representante legal do
incapaz.
ART. 1774 e 1781 : instituto análogo à tutela.

INTERDIÇÃO

PESSOAS SUJEITAS À INTERDIÇÃO (art. 1767) : em geral, são pessoas que não podem
praticar sozinhas os atos da vida civil.

LIMITES DA CURATELA : serão fixados por juiz (em quê o curatelado terá de ser representado
ou assistido), pois o nível de interdição depende do grau de incapacidade aferida.

OBS.: interdição do pródigo somente o priva de atos de disposição, que extrapolam a mera
administração (art. 1782)

CURADOR : a nomeação apresenta uma ordem, a qual poderá não ser observada segundo as
conveniências do caso concreto (art. 1775)

- cônjuge ou companheiro, desde que não seja separado (de fato ou judicialmente)

OBS.: se os cônjuges forem casados pelo regime da comunhão universal, estará o curador
dispensado de prestar caução.

- pai ou mãe, em iguais condições

- o descendente que se mostrar mais apto, de acordo com a ordem de grau

- por fim, qualquer pessoa idônea (irmão, tio, primo, sobrinho etc.)
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DEVERES :

- promover os meios necessários para a recuperação do curatelado: caso existam e possam


ser arcados;

- salvo os pródigos e as pessoas que não podem expressar vontade por razão diversa de
doença, os interditos podem ser recolhidos em estabelecimento adequado, caso não seja
aconselhável a permanência em ambiente doméstico;

- representar os filhos menores do interdito e seus bens (art. 1778).

AÇÃO DE INTERDIÇÃO :

a) Legitimidade : as pessoas descritas no art. 1768 CC

OBS.: MP somente poderá ser autor em três hipóteses » doença mental grave (a ponto de
recolher a pessoa a manicômio público) OU inexistir parentes, cônjuges ou tutor OU se
existirem, forem incapazes também.

DEFENSOR : se a ação for promovida pelo MP, será dativo (em regra, Defensor Público); caso
contrário, o próprio MP.

b) Rito : especial de jurisdição voluntária, descrito no art. 1177 e ss. CPC

c) Audiência de impressões pessoais : está prevista em lei para que o próprio juiz possa
perceber por si mesmo a incapacidade do interditando.

d) Prova técnica : fundamental até para que se possa saber não só a existência de incapacidade
ou mesmo a extensão da incapacidade.

e) Sentença : constitutiva ou declaratória ? segundo entendimento dominante dos


processualistas, constitutiva.

f) Apelação : não produz efeito suspensivo.

CURATELA DE NASCITURO

Pai falecido ou destituído de poder familiar + mãe destituída de poder familiar.

OBS.: se a mãe ou ambos os pais forem incapazes, seu curador também será curador do
nascituro (art. 1778 e parágrafo único do art. 1779)

CURADOR DE CAPAZES

Há pessoas que são lúcidas, entendem a realidade e podem expressar vontade » todavia, são
portadoras de enfermidade ou defeito físico que os impedem de praticar os atos da vida
civil.

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