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A Trindade no Antigo Testamento

INTRODUÇÃO

Há um grande debate sobre a doutrina da Trindade no Antigo


Testamento. Os Pais da Igreja afirmaram categoricamente
que o Deus de Israel é Trino. Desconsideraram assim a
revelação progressiva. Outros teólogos, em contrapartida,
defendem que a doutrina da Trindade inexiste no contexto
veterotestamentário. Existe também a afirmação de que
embora no Antigo Testamento Deus seja Trino, ali a doutrina
da Trindade não é manifesta de maneira tão clara. Assim,
ensinar essa doutrina tendo por fundamento o Antigo
Testamento é cristianizar por demais o texto.

É verdade que na antiga aliança não existe uma manifestação


clara da Trindade. No entanto, podemos afirmar que a
manifestação do Deus de Israel é plural. Muitos estudiosos até
afirmam que essa pluralidade é apresentada porque
originalmente o conceito de Deus surgiu num contexto
politeísta. O pluralismo a respeito do divino apresenta-nos um
resquício da crença politeísta1. Mas prefiro acreditar que
essa pluralidade está de acordo com a crença cristã na
Trindade.

Começaremos nossa discussão com Deuteronômio 6.4. O foco


inicial é a palavra hebraica ehad “um”, “único”. Analisaremos
também outros textos, para afirmamos que, apesar de Deus
no Antigo Testamento ser Um, ele é plural, o que favorece a
doutrina cristã da Trindade nos textos veterotestamentários.
1. A UNICIDADE DE DEUS – DEUTERONÔMIO 6.4

Como conciliamos a fé num Deus único expressa no Antigo


Testamento com a afirmação de que ele é o Deus Trino? Ora,
antes de tudo, deve ser afirmado que a crença cristã na
Trindade não é a crença em três deuses, mas a crença em
três pessoas que participam da natureza divina de maneira
plena e integral. Assim, mesmo em Dt 6.4, onde lemos a
afirmativa que Deus é único, podemos identificar o Deus
Trino. Vejamos:

Shemá Israel YHWH Eloheinu YHWH ehad.

“Javé nosso Deus Javé Um”

Atentemos-nos para a palavra “um’. Na língua hebraica


existem duas palavras que expressam unidade:

1) ehad “único”, “um”: “enfatiza a unidade, embora reconheça


diversidade dentro da unidade”2.

2) Yahid: também significa “único”, “um”, mas se refere a uma


unidade simples (singular) ou absoluta.

A palavra usada em Dt 6.4 é ehad! Sobre isso, Stanley


Rosenthal afirma:

A última palavra hebraica da Shema ‘Ouve, Israel, o Senhor,


nosso Deus, é único’ (Dt 6.4) é echad, que, embora traduzido
por ‘único’, é um substantivo coletivo, em outras palavras, um
substantivo que, embora, denote unidade, a classifica, pois,
representa uma unidade que contém várias unidades.
Poderíamos citar um bom número de exemplos. Em Números
13.23 lemos que os espias pararam em Escol onde ‘cortaram
um ramo de vide com um cacho de uvas’. A palavra hebraica
que aqui aparece como ‘um’, em ‘um cacho’, novamente é
echad; porque, como é evidente, esse único cacho de uvas
consistia em muitas uvas3.

Portanto, a palavra ehad seria uma alusão ao Deus único,


mas que contém em si a diversidade de pessoas4.
Vejamos ainda ouros usos da palavra ehad:

Gênesis 2.24: Portanto, o homem deixa o seu pai e a sua mãe,


e deve decompor-vos a sua mulher: e eles serão uma (ehad)
carne. (grifo do autor)

Êxodo 24.3: E Moisés chegou e disse ao povo todas as


palavras do SENHOR, e todos os acórdãos: e todo o povo
respondeu a uma (ehad) voz. (grifo do autor).

Veja que nesses dois textos ehad é uma unidade na


diversidade: uma carne (duas pessoas); uma voz (de muitas
pessoas).

A título de exemplo, a palavra hebraica yahid é usada nos


seguintes textos:

Jeremias 6.26: Ó filha do meu povo, cinge-te de saco, e


revolve-te na cinza; pranteia como por um filho único (yahid),
em pranto de grande amargura…(unidade simples).

Amós 8.10: …, e calva sobre toda cabeça; e farei que isso seja
como o luto por um filho único (yahid), e seu fim como dia de
amarguras…(unidade simples).

Provérbios 4.3: Quando eu era filho aos pés de meu pai, tenro
e único (yahid) em estima diante de minha mãe…(unidade
simples).

Gênesis 22.2: Prosseguiu Deus: Toma agora teu filho, o teu


único (yahid) filho Isaque, a quem amas…(unidade simples).

É verdade que a palavra ehad também pode referir-se a uma


unidade simples:

Deuteronômio 17.6: “Pela boca de duas testemunhas, ou três


testemunhas, aquele que merece a morte deve ser posto à
morte; mas pela boca de uma (ehad) testemunha, ele não deve
ser posto à morte.”
Eclesiastes 4.8: “Há apenas um (ehad), sem uma companhia;
sim, ele nem tem filho…”.

Vê-se, então, que a palavra ehad pode se referir a uma


unidade coletiva e a uma unidade singular.

Mas e quanto a Dt 6.4? A palavra ehad significa unidade


coletiva ou unidade singular? É verdade que o versículo
enfatiza o fato de que há um só Deus, e “Israel deve a ele sua
exclusiva lealdade (Dt 5;9; 6.5)”5. . No entanto, outros pontos
precisam ser considerados, para a afirmativa de que a palavra
ehad alude a uma unidade na diversidade. Comecemos com
uma explicação do nome Elohim.

2. O NOME ELOHIM

Elohim é a palavra hebraica que normalmente é traduzida em


nossas Bíblias como “Deus”, e em alguns casos como
“deuses”. Em Gn 1.1,26 a palavra hebraica está no plural, bem
como os pronomes que a acompanham. Isso leva a teologia
cristã a afirmar que o texto faz referência à Trindade (veja
também Is 6.8a).

Muitos especialistas, no entanto, pensam que o nome Elohim é


um plural majestático, pelo qual se quer enfatizar a grandeza
do Deus de Israel. O “plural sem dúvida é um aumentativo de
exaltação, frisando a majestade de Deus, e não a ideia de
pluralidade de pessoas”6.

Entretanto, pode-se averiguar que uma plenitude plural é


encontrada no Antigo Testamento com referência a Deus, o
que indica a doutrina da Trindade.

Antonio Neves Mesquita afirma que não havia o uso do plural


majestático na antiguidade7. “Assim, se Moisés dizia,
desçamos, vejamos, façamos, e outras, era porque mais de
uma pessoa estava sendo envolvida no ato. Não havia,
podemos dizer, tal uso na antiguidade; tudo que se diz, nesse
sentido, é pura invenção moderna”8. Esse mesmo estudioso
diz que o pronome e o verbo no plural em Gn 1.27 indicam as
três Pessoas da Trindade, pois está “de acordo com o teor
geral da Bíblia de que as três pessoas da Santíssima Trindade
tomaram parte na criação (Gn 1.2; João 1.1-5 e ref.)9. Assim,
“é mais provável que o significado seja de uma pluralidade de
personalidade, visto que Deus e o Espírito de Deus aparecem
em Gênesis 1”10.

Outros pensam que o termo Elohim é um superlativo. Sobre


isso, afirma Botterweck: “Provavelmente o plural não
significasse originalmente uma pluralidade, mas uma
intensificação. Neste caso, ‘elohim poderia significar
‘grande’, ‘o mais alto’, e finalmente, ‘apenas’ Deus, isto é,
Deus, em geral”11.

Além disso, outros estudiosos têm afirmado que uma das


formas de se expressar o superlativo na língua hebraica é o
uso do plural. Assim, para se dizer que El é fortíssimo (El
significa ‘forte’) usar-se-ia o plural Elohim (‘fortes’). Essa seria
a razão de o verbo estar no singular (“e disse”) e o sujeito no
plural em Gn 1.26.

Mas cabe afirmar que a teologia cristã tem interpretado o


plural em Gn 1.26 como uma referência à Trindade. Agostinho
assim procedeu.12 Mas, muito antes de Agostinho, o apóstolo
João já havia afirmado que o Logos estava com Deus antes da
criação, e que por Ele foram criadas todas as coisas (Jo 1.1-
3)!

Portanto, a Trindade é manifesta no Antigo Testamento pelo


nome Elohim. Nas palavras de Walter A. Elwell, o “plural do
nome de Deus (Elohim), bem como o uso dos pronomes (Gn
1.26; 11.7), e dos verbos (Gn 11.7; 35.7) no plural assim
indicam.”13

Há, ainda, outras razões para pensarmos que o nome Elohim


alude a uma manifestação plural de Deus no antigo Israel: a
manifestação ‘o Anjo’, da ‘palavra’, e do ‘Espírito’. Esses três
são identificados com o próprio Deus.
3. O ANJO DO SENHOR

No Antigo Testamento, o Anjo do Senhor é distinto de Deus,


mas também é identificado com o próprio Deus. Ele aparece
em Gn 16.7-13. As promessas feitas (v.10) claramente
demonstram que o Anjo do Senhor não era um anjo qualquer.
Em Gn 32.22-32 ‘o Anjo’ aparece para Jacó, e assim se
identifica: “Eu sou o Deus de Betel” (v.13). Assim, ele se
identifica com o Deus que se manifestou em Betel (Gn 28.18-
22). Em Gn 48.15-16 essa idenficação é objetiva:

“O Deus em cuja presença andaram meus pais Abraão e


Isaque,

o Deus que me sustentou durante a minha vida até este dia,

o Anjo que me tem livrado de todo mal, abençoe estes


rapazes; seja neles chamado o meu nome e o nome de meus
pais Abraão e Isaque; e cresçam em multidão no meio da
terra.”

Outros textos poderiam ser citados (Êx 3.2, as esses bastam


para a afirmação de que o “Anjo do Senhor” no Antigo
Testamento é Deus. É uma pessoa distinta na divindade.

Muitos estudiosos afirmam que essa identificação do Anjo do


Senhor com o próprio Senhor é uma interpolação tardia no
texto bíblico, feita para evitar uma descrição do Deus de Israel
excessivamente antropomórfica.

A meu ver, no entanto, o Anjo do Senhor é mais uma evidência


de que a manifestação divina é plural. “Isso aponta para
distinções pessoais dentro da Deidade.” 14

É curioso que as aparições do ‘Anjo do Senhor’ terminaram


após a encarnação de Cristo. Muita coincidência, não!? No
Antigo Testamento, o Anjo do Senhor acompanhou Israel na
caminhada pelo deserto (Êx 14.19; cf.23.20). O Novo
Testamento diz que a Pedra que seguia Israel era Cristo (1Co
10.4).

4. A PALAVRA

Além do Anjo do Senhor, que no Antigo Testamento se


apresenta como Deus, há outro elemento que contribui para
pluralidade da manifestação do divino: a Palavra, participante
da criação (Sl 33.6; 107.20).

No Sl 33.6 lemos:

Os céus por sua palavra se fizeram,

e, pelo sopro (ruah) de sua boca, o exército deles.

H. J. Kraus diz que a palavra criativa do Senhor traz à


existência os céus e a terra. “Há uma correspondência
intrínseca entre o Espírito de Deus e o fôlego da vida
procedente da boca de Deus, e a palavra de Deus com o sopro
de sua boca (Is 11.4)”.15

Mas a teologia cristã afirma que há muito mais do que uma


correspondência entre Deus, o Espírito e a palavra. “A palavra
não é simplesmente uma comunicação a respeito de Deus,
nem o Espírito é um mero poder divino. São, pelo contrário, o
próprio Deus em ação”.16

Mesquita afirma que os antigos rabinos acreditavam na


divindade do Messias.17 Essa afirmação é feita a partir de
uma interpretação do Sl 2.7 enquanto uma alusão ao Messias
Filho de Deus, bem como a partir da identificação do Anjo do
Senhor como sendo o próprio Senhor. Além disso, o fato de o
Novo Testamento ser “escrito por judeus, é uma prova que
eles acreditavam no Messias divino”, diz Mesquita.18 Oskar
Skarsaune demonstrou veementemente que a cristologia do
Logos Encarnado, encontrada em Jo 1.14, é oriundo não do
mundo helênico, mas do mundo judaico.19 Isso significa
afirmar que o judaísmo antigo interpretava a Palavra como
mediadora da criação. Além disso, a crença judaica na
Sabedoria como mediadora da criação nos textos apócrifos
judaicos é tão parecida com a Trindade cristã, que quando os
estudiosos procuraram um termo que explicasse seu papel —
na relação com Deus único, e ao mesmo tempo externo a ele
— “viram-se obrigados a recorrer à terminologia trinitária”.20

5. O ESPÍRITO SANTO

No Antigo Testamento lemos que o Espírito é Deus.

Vejamos Gn 1.2: “o Espírito pairava sobre a face as águas”. A


palavra hebraica Espírito é ruah, que significa ‘vento’,
espírito, ‘Espírito’. Alguns comentaristas pensam que Gn 1.2
deveria ser traduzido como “e um vento de Deus pairava…”.

Mas outros textos bíblicos demonstram a participação do


Espírito na criação (Is 63.10; Sl 33.6; Sl 104.30). Wilf
Hildebrandt afirma que o “Salmo 33.6 é uma reflexão de Gn 1 e
assevera que o evento da criação foi resultado da palavra
falada de Deus trazida à realidade pelo seu ruah”.21
Hildebrandt mostra que a frase ruah ’elohim (Espírito de Deus)
“ocorre quinze vezes em hebraico e cinco vezes em aramaico.
Ela nunca é traduzida como ‘um vento poderoso’ ou ‘um vento
de Deus nestas ocorrências”.22 Conclui-se assim que em Gn
1.2 o ruah é o Espírito de Deus, que também é agente na
criação.

CONCLUSÃO

Pudemos averiguar que a manifestação de Deus no Antigo


Testamento é plural. Assim, sou levado a concluir que palavra
ehad usada em Dt 6.4 alude a uma unidade na diversidade.
Isso é evidenciado pelas seguintes idéias: o uso plural do
nome de Deus; a associação do Anjo do Senhor e da Palavra
Criadora com o próprio Deus; e o Espírito Criador. Mesmo que
a palavra “Trindade” não apareça na Bíblia, o Deus do Antigo
Testamento é Trino. A Trindade, portanto, é apresentada no
Antigo Testamento, ainda que de forma incompleta.

Termino com as palavras de John Theodore Murller:


Não afirmamos que haja no Antigo Testamento a mesma
clareza e evidência de testemunhos referentes à Trindade que
há em o Novo Testamento; todavia asseveramos que tanto se
podem como se devem citar do Antigo Testamento alguns
testemunhos para exposição da doutrina da Trindade, visto
que assim sempre se revelou desde o começo, a fim de que a
Igreja de todos os tempos o pudesse conhecer, adorar e
bendizer (…) como as três pessoas distintas numa só
essência.23

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