Sei sulla pagina 1di 4

Universidade do Vale do Sapucaí - UNIVAS

Programa de Pós-Graduação em Ciências da Linguagem


Disciplina: Introdução a Análise de Discurso
Professora: Dra. Eni Pulcinelli Orlandi
Aluno: Pedro Neves Gonçalves Franco de Carvalho

Resenha de “Os Falsos da Forma”, Eni Pulcinelli Orlandi*

O texto trata-se de uma análise feita a respeito da ação do Summer Institute of


Linguistics (SIL) entre os índios do Brasil, usando as categorias de intepretação da
linguagem da Análise de Discurso, procurando estabelecer uma reflexão crítica a
respeito desta ação.
Orlandi inicia o texto delimitando o corpus de análise, explicando que as ações
do SIL são de caráter político-ideológico encoberto. Portanto, enquanto se declara
apenas como um instituto que tem por objetivo alfabetizar os índios na língua
portuguesa, na verdade o SIL os coloniza e abre caminho para o capitalismo em áreas
de riquezas naturais. Debaixo da bandeira de “salvação”, o SIL diz que sua ação é
legítima e projeta uma imagem negativa e ideologicamente carregada do índio
brasileiro, divulgando, por exemplo, que os índios aucas foram catequizados para
cederem suas terras à Shell (páginas 12 e 13).
Em seguida a autora nos apresenta as características do discurso missionário e
discute a concepção de sujeito deste discurso (páginas 14 e 15), com o intuito de
mostrar como o SIL constitui o sujeito do índio/religioso. Fica claro para o leitor que
nas religiões ocidentais, o sujeito religioso é marcado por uma submissão, ou seja, por
uma ausência de fala própria. Ainda, que o SIL trabalha então como mediadora do
sujeito índio/religioso e Deus. Neste caso então, a conversão nada mais é que uma
ação para a pacificação do sujeito.
O SIL é sustentado por três organismos básicos: a Wycliffe Bible Translators,
que representa o instituto no seu país de origem, os Estados Unidos;

*Texto extraído de “Palavra, Fé, Poder”, Eni Pulcinelli Orlandi, org. – Campinas, SP: Pontes,
1987.
a Summer Institute of Linguistics, que dialoga com os governos para a execução dos
trabalhos de campo; e a Jaars, serviço de rádio e aviação que ajuda na logística das
ações. Analisando estes três organismos, percebe-se que a ação do SIL possui
respaldo político e científico, existe, portanto uma formação discursiva política e
científica, sendo a ciência um instrumento de ação, mas a religião como verdadeira
finalidade (pág. 17).
Os que trabalham então no SIL assumem a identidade de cientistas,
assistentes sociais e religioso e sobrepõem formas de dizer. Na esfera do religioso,
“nunca colocam, mas pressupõem. Não a discutem. É a que permanece assim sempre
em negociação, como uma ameaça (ou promessa?)” Na esfera linguística, declaram
ser o objetivo “levar a escrita às línguas desconhecidas dos grupos isolados” (pág. 18).
O SIL usa, portanto, o discurso filantrópico como silenciamento do discurso
político: “Embora seja uma função comum do discurso religioso em geral, agrava-se
no SIL pelo jogo de suas representações em que o religioso, o político e o científico
estão abertamente confundidos” (pág. 19).
Sempre em concordância com a ideologia em vigor do Estado, o SIL adapta
seu material de apresentação, trocando, por exemplo, a palavra “integração” por
“participação” (o índio é visto agora como participante da sociedade nacional, como
sujeito jurídico de direitos e deveres). Também adapta seu discurso, variando de
antropológico-assistencial para pedagógico-linguístico, e assim por diante (pág. 20).
Orlandi mostra a estreita ligação existente entre os propósitos e práticas do
SIL e da Associação Linguística Evangélica Missionária (ALEM), que também se
apresenta com um caráter científico, mas cujo objetivo é a de colonização religiosa,
portanto, ideológica. A autora destaca que, ao fazer a análise das ações do SIL e da
ALEM, precisamos nos atentar para o que está sendo escondido na fala das entidades
a respeito de suas próprias ações (pág. 21).
No que diz respeito à linguística, os membros do SIL trabalham com uma visão
pragmática (utilitária) da cultura e da ideologia. Assim como produzem uma visão
utilitária da religião (adaptativa), com distorções graves a respeito dos propósitos de
suas intervenções, e legitimam a estadia do instituto em terras brasileiras (pág. 23).
Orlandi argumenta, então, que “temos (...) linguistas brasileiros absolutamente
capacitados, com ampla tradição de descrição, documentação e conhecimento das
línguas indígenas (...). Não precisamos de modelos como os do SIL. Temos nosso
know-how.” (pág. 24).
A autora destaca ainda o uso da educação bilíngue como forma de intervenção
do SIL nas culturas indígenas, produzindo literatura indígena. Lembrando, porem, que
em outros contextos esse tipo de educação pode ter outros sentidos: “Interessa-nos
que a literatura indígena produzida terá a “cara” do SIL e estará marcada pelos efeitos
missionários que eles visam” (pág. 25).
Voltando na questão do silenciamento, Orlandi explica que esse processo
“acompanha todas as formas de exercício do poder, qualquer que seja sua natureza”.
Novamente, então, lança a pergunta: “O que não estamos discutindo enquanto
discutimos o SIL?” A própria autora sugere algumas questões: “Qual a relação entre o
Brasil e os EUA?”, “Qual a relação entre o branco e o índio?”, “Qual é a relação do
brasileiro com o índio?”, “Como está sendo assumida nossa identidade cultural?” (pág.
26).
A autora faz ainda outra observação muito pertinente quanto à imagem que
fazemos do estrangeiro: “Incluo aí o fascínio pelos modelos e pela pretensa
‘autoridade’ de estrangeiros – só porque são estrangeiros – sobre nossos trabalhos.
‘Autoridade’ que lhe outorgamos quando não somos críticos e reproduzimos a ‘eterna’
relação entre colonizadores e colonizados. Nesse caso, muito mais grave porque se
trata do colonialismo político-científico. Sob esse fascínio dos seus modelos, negamos
nossa capacidade de reflexão, um dos redutos fundamentais de resistência cultural,
política e ideológica” (pág. 26).
Orlandi conclui afirmando que o processo de silenciamento “faz com que
falemos de algumas coisas para silenciar outras” (pág. 27). Sendo assim, as frentes de
confronto com ações como as do SIL são muitas, e é preciso clareza acerca do
funcionamento dessa entidade. A autora destaca uma frente de confronto que
segundo ela é a mais importante, que faz referência à necessidade da própria
sociedade brasileira tomar ação quanto ao problema de descaso com seus índios: “é
preciso que consigamos condições para a formação e desenvolvimento de quadros de
atuação regular, ou seja, precisamos de condições materiais de base para estarmos lá
onde eles estão, com nossas práticas específicas e abertas” (pág. 27).
Para isso, ações conjuntas de linguistas, agentes do governo, educadores e
antropólogos é indispensável, visando “propiciar uma prática racional e regular no
conhecimento da cultura indígena para criarmos uma tradição de estudos e pesquisa,
críticos, nesse domínio, e do qual possam fazer parte, inclusive, e, sobretudo, os
próprios índios” (pág. 28).

Pouso Alegre, dezembro de 2012.

Potrebbero piacerti anche