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Uma amiga recentemente me falou que, quando ela deu à luz ao seu filho, antes
de nomeá-lo, antes mesmo de amamentá-lo, seu primeiro pensamento foi: eu
tenho que tirá-lo deste país. Nós duas rimos. Talvez nosso humor negro tenha a
ver com a compreensão de que sair não era uma opção nem o desejo real. É
assim a nossa vida. Aqui trabalhamos, temos cidadania, pensões, seguro de
saúde, família, amigos e assim por diante. Ela não poderia ir embora, ela não
foi. Anos após seu nascimento, sempre que seu filho sai de casa, seu status de
mãe de um ser humano permanece tão precário como sempre. Somado aos
medos naturais de todos os pais que enfrentam a aleatoriedade da vida, há
ainda o conhecimento das maneiras pelas quais o racismo institucional funciona
em nosso país. O nosso riso foi o riso da vulnerabilidade, do medo, da
identificação e de uma estagnação absurda.
Perguntei a outra amiga como é ser mãe de um filho negro. "A condição da vida
negra é o luto", ela disse sem rodeios. Para ela, o luto vivia em tempo real dentro
da realidade dela e do filho: a qualquer momento ela pode perder a razão de
viver. Embora a imaginação liberal branca goste de se sentir temporariamente
mal com o sofrimento dos negros, não há realmente nenhum modo de empatia
que possa replicar a tensão diária de saber que, como pessoa negra, você pode
ser morto por simplesmente ser negro: sem as mãos nos bolsos, sem estar
tocando música, sem movimentos bruscos, sem dirigir seu carro, sem andar à
noite, sem andar de dia, sem entrar nesta rua, sem entrar neste prédio, sem se
deitar no chão, sem estar aqui, sem estar ali, sem ficar parado, sem responder ,
sem usar armas de brinquedo, sem viver enquanto for preto.
É muito improvável que sua crença num luto nacional tenha sido plenamente
realizada, mas seu desejo de fazer com que o luto adentrasse o nosso dia-a-dia
criava um novo tipo de lógica. Ao se recusar a desviar o olhar da carne de nossos
assassinatos domésticos, insistindo em que olhemos com ela para os mortos, ela
reformulou o luto como um método de reconhecimento que ajudou a energizar
o movimento pelos direitos civis nas décadas de 1950 e 1960.
Depois que Brown foi baleado seis vezes, duas delas na cabeça, seu corpo foi
deixado de bruços na rua pelos policiais. Seja qual tenha sido o raciocínio deles,
ao não mover o cadáver de Brown quatro horas após o assassinato, a polícia fez
do luto por sua morte parte do que significava captar os detalhes de sua história.
Ninguém poderia considerar os fatos da interação de Michael Brown com o
policial de Ferguson, Darren Wilson, sem pensar no corpo cheio de balas
sangrando no asfalto. Seria um erro presumir que todos que viram a imagem
lamentaram Brown, mas uma vez exposta a ela, uma pessoa teve que decidir se
seu corpo negro morto importava o suficiente para ser lamentado. (Outra opção,
é claro, é que ela se torne um espetáculo para a pornografia branca: o corpo
morto como um objeto que satisfaz um desejo ilícito. Talvez seja aqui que
Dylann Storm Roof tenha entrado em cena.)
O racismo contra os negros está na cultura. Está nas nossas leis, nos nossos
anúncios, nas nossas amizades, nas nossas cidades segregadas, nas nossas
escolas, no nosso Congresso, nos nossos experimentos científicos, no nosso
idioma, na Internet, nos nossos corpos (independentemente da raça), nas
nossas comunidades e, o que talvez seja mais devastador, no nosso sistema de
justiça. Os corpos negros desarmados e mortos nos espaços públicos
transformam a tristeza em nosso sentimento cotidiano de que algo está errado
em todos os lugares e o tempo todo, mesmo que localmente as coisas pareçam
normais. Tomando café, passeando com o cachorro, lendo o jornal, pegando o
elevador para o escritório, deixando as crianças na escola: toda essa vida boa é
cercada pela sensação de que, a qualquer momento, uma pessoa negra está
sendo morta no meio da rua ou em sua casa pelo ódio armado de um colega
americano.
O movimento Black Lives Matter pode ser lido como uma tentativa de
continuar lamentando uma dinâmica aberta em nossa cultura, porque as vidas
negras existem em um estado de precariedade. O luto então suporta tanto a
vulnerabilidade inerente às vidas negras quanto a instabilidade em relação a um
futuro para essas vidas. Ao contrário dos movimentos black power anteriores
que tentavam lutar ou segregar para a autopreservação, o Black Lives Matter se
alinha com os mortos, continua o luto e recusa o esquecimento diante de todos
nós. Se o movimento pelos direitos civis do Reverendo Martin Luther King Jr.
fez exigências que alteraram o curso das vidas americanas e as sustentou com a
vontade de desistir de sua vida a serviço dos seus direitos civis, com o Black
Lives Matter, mais mudanças internas estão sendo solicitadas: reconhecimento.
The truth, as I see it, is that if black men and women, black boys and girls,
mattered, if we were seen as living, we would not be dying simply because
whites don’t like us. Our deaths inside a system of racism existed before we were
born. The legacy of black bodies as property and subsequently three-fifths
human continues to pollute the white imagination. To inhabit our citizenry
fully, we have to not only understand this, but also grasp it. In the words of
playwright Lorraine Hansberry, “The problem is we have to find some way with
these dialogues to show and to encourage the white liberal to stop being a liberal
and become an American radical.” And, as my friend the critic and poet Fred
Moten has written: “I believe in the world and want to be in it. I want to be in it
all the way to the end of it because I believe in another world and I want to be in
that.” This other world, that world, would presumably be one where black living
matters. But we can’t get there without fully recognizing what is here.
O ódio indisfarçável de Dylann Storm Roof por pessoas negras; Black Lives
Matter; cidadãos gravando as mortes de negros; o Departamento de Polícia de
Ferguson deixando o corpo de Brown na rua - todas essas ações apoiam a crença
de Mamie Till Mobley de que precisamos ver ou ouvir a verdade. Precisamos da
verdade de como os corpos morreram para interromper o curso da vida normal.
Mas se manter os mortos à frente da nossa consciência é crucial para o nosso
corpo político, o que dizer das famílias dos mortos? Como deve ser para um
membro da família entender que o falecido é mais importante como evidência
do que como indivíduo para ser enterrado e repousar?
Para ficar longe do local do assassinato de seu filho, Tamir Rice, Samaria saiu de
sua casa em Cleveland e foi para um abrigo. (Sua família acabou mudando de
lugar.) "O mundo inteiro viu o mesmo vídeo que eu vi", disse ela sobre Tamir
sendo baleado por um policial. O vídeo, que foi exibido e reexibido na mídia,
documentou os dois segundos que a polícia levou para chegar e atirar; os dois
segundos que marcaram o fim da vida de seu filho e que se tornaram um
documento a ser examinado por todos. É possível que esse escrutínio
compartilhado explique por que a polícia manteve seu corpo de 12 anos durante
seis meses após sua morte. Todos podiam ver o que a polícia teria que explicar.
O sistema de justiça não foi capaz de fazê-lo, e um juiz encontrou uma causa
provável para acusar o policial que matou Rice por assassinato. Enquanto isso,
para Samaria Rice, a memória de seu filho desenterrado tornava seu bairro
insuportável.Independente dos desejos dessas mães - mães de homens como
Brown, John Crawford III ou Eric Garner, e também mães de mulheres e
meninas como Rekia Boyd e Aiyana Stanley-Jones, cada um deles morto pela
polícia - a morte de seus filhos irá permanecer nos discursos públicos. Para
aqueles que acreditam que o mesmo comportamento que os matou se exibido
por um homem ou menino branco não teria encerrado suas vidas, o fracasso
subsequente em indiciar ou condenar os policiais envolvidos nesses vários casos
exige que o luto público continue e permaneça por tempo indeterminado.
"Quero ver um policial atirar nas costas de um adolescente branco desarmado",
disse Toni Morrison em abril. Ela continuou: “quero ver um homem branco
condenado por estuprar uma mulher negra. Então, quando você me perguntar:
'acabou?', eu direi que sim.” Morrison está certa ao sugerir que essa ação
sinalizaria mudanças, mas a mudança real precisa ser uma reorientação da
crença interior. É um desafio individual que precisa acontecer antes que
qualquer ação de um sistema de justiça política signifique uma verdadeira
mudança social.
A sustained state of national mourning for black lives is called for in order to
point to the undeniability of their devaluation. The hope is that recognition will
break a momentum that laws haven’t altered. Susie Jackson; Sharonda
Coleman-Singleton; DePayne Middleton-Doctor; Ethel Lee Lance; the Rev.
Daniel Lee Simmons Sr.; the Rev. Clementa C. Pinckney; Cynthia Hurd;
Tywanza Sanders and Myra Thompson were murdered because they were black.
It’s extraordinary how ordinary our grief sits inside this fact. One friend said, “I
am so afraid, every day.” Her son’s childhood feels impossible, because he will
have to be — has to be — so much more careful. Our mourning, this mourning,
is in time with our lives. There is no life outside of our reality here. Is this
something that can be seen and known by parents of white children? This is the
question that nags me. National mourning, as advocated by Black Lives Matter,
is a mode of intervention and interruption that might itself be assimilated into
the category of public annoyance. This is altogether possible; but also possible is
the recognition that it’s a lack of feeling for another that is our problem. Grief,
then, for these deceased others might align some of us, for the first time, with
the living.