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Ivone Magalhães
2018
(Aluno 20906)
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Índice
3. Nota Prévia
4. Introdução
6. A Turfeira de Peralto
26. Bibliografia
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Nota Prévia
A metodologia usada neste projeto seguiu as regras enunciadas da própria Convenção UNESCO
2001 (http://www.unesco.org/new/pt/culture/themes/underwater-cultural-heritage/about-
the-heritage/protection/underwater-archaeology/), que para além da prospeção, a escavação e
a preservação dos sítios, no processo de investigação arqueológico subaquático, indica como
fonte de pesquisa o estudo da história local e a revisão da literatura publicada sobre o sítio, que
de alguma forma possam contribuir para o melhor desempenho da Carta arqueológica.
Utilizou-se como matriz (layout) para este estudo o cruzamento dos pontos de preenchimento
obrigatório de uma candidatura a PATA (Dec.Lei nº164/2014 de 4 de novembro) com a Regra
nº 34 da Convenção UNESCO 2001, por serem intuitivas e se complementarem, tornando
exequível o projeto A Turfeira de Peralto como elemento intrínseco da Paisagem
Cultural Marítima de Esposende: Study-Case.
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Cumpre-me um agradecimento especial a Ana Almeida, arqueóloga do Município de Esposende e
coordenadora da Carta Arqueológica do Concelho de Esposende, pelo apoio e incentivo.
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Fig. 1 - Mapa das freguesias do concelho de Esposende. A vermelho a União de Freguesias de Marinhas, Esposende
e Gandra, território administrativo a que pertence a estação arqueológica “Turfeira de Peralto”.
Introdução
O concelho de Esposende é um concelho atlântico, com cerca de 4km de largura por 16 de
comprimento e forma um retângulo orientado norte-sul, paralelo ao mar, com quem faz
fronteira a oeste. A costa é baixa e a norte faz fronteira com Viana do Castelo delimitada pelo
rio Neiva, e a sul faz fronteira com Póvoa de Varzim, delimitada pelo ribeiro da Ramalha em
Apúlia. A sul do Cávado o território é plano caracterizado pela planície litoral e a norte o
território é montanhoso com cotas de 70 a 200 metros de altitude, que descem em anfiteatro
para o mar desde o Monte de S. Lourenço, afinal a arriba fóssil que foi o batente do mar,
testemunho da regressão marinha na última glaciação (Wurm, 30-20 mil anos a.C.
http://www.lneg.pt/download/1521). Na base da arriba, as cotas vão dos 22 aos 3 metros,
permitindo facilmente a erosão marinha com o galgamento das dunas mais baixas, afinal as
únicas proteções da planície litoral adjacente à arriba, aqui dita “veiga litoral”.
O litoral de Esposende motivado pela erosão marinha tornou-se a primeira Área de Paisagem
Protegida de Portugal em 1987 (http://www.natural.pt/portal/pt/AreaProtegida/Item/3). Diz
Gaspar de Carvalho que “no litoral de Esposende, as dunas fixas situadas para lá do cordão dunar
frontal são pouco abundantes e em mau estado de conservação. A pressão humana via
empreendimentos urbanísticos, construção de acessos rodoviários às praias e a utilização dos
terrenos para fins agrícolas levaram à sua quase completa destruição. Nos locais onde a
influência directa do Homem não foi tão destrutiva, a acção do mar tem completado o cenário
de degradação e tem avançado para o interior com destruição do sistema dunar frontal”
(CARVALHO, 2002, p. 24).
A Área de Paisagem Protegida em 2005 evoluiu para Parque Natural Litoral Norte-PNLN
integrando então a Reserva Biológica Marinha (http://www2.icnf.pt/portal/ap/p-nat/pnln). Em
2017 passa a integrar o Sítio Litoral Norte da Rede Natura 2000 e o Observatório do Mar de
Esposende-OMARE (https://geoatributo.com/resources/3.pdf). O OMARE é um projeto de
parceria entre o Município de Esposende e o ICN-PNLN (http://www.omare.pt/pt/ ). Tem como
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objetivo desenvolver um Sistema de Informação, Monitorização e Gestão da Biodiversidade
Marinha das Áreas Classificadas do Litoral Norte como “Ferramenta de Promoção da
Sustentabilidade da Utilização dos seus Recursos, de Divulgação e Sensibilização da
Comunidade”. O Município de Esposende pretende alimentar esta plataforma cruzando
informação entre o OMARE e outros projetos no interface marinho, disponibilizando essa
ferramenta também futuramente para a Carta Arqueológica Subaquática de Esposende.
Apesar disso, motivado pela difícil integração de estudos tão díspares debaixo de um mesmo
“chapéu” orientador, ainda não está dotada de qualquer medida de estudo de pormenor, de
uma tentativa de reconstituição arqueológica, e não goza tão pouco de medidas preventivas
para a sua conservação arqueológica. Não se sabe exatamente o que é este sítio, ou se
estaremos perante diferentes sítios, dado a sua disparidade cronológica.
Para além destes episódios com grandes lacunas cronológicas entre si, acresce ter sido também
palco de naufrágios, assinalados pelos fragmentos anfóricos de época romana (cerca 38 d.C.)
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https://www.academia.edu/29031976/O_Irado_Mar_Atl%C3%A2ntico._O_naufr%C3%A1gio_
b%C3%A9tico_augustano_de_Esposende_Norte_de_Portugal_?auto=download ) e da fivela de
cobre, datável do século XVIII, por comparação com o catálogo Machault, no Canadá (SULLIVAN,
1986, pp. 75, https://www.torontopubliclibrary.ca/detail.jsp?Entt=RDM1602400&R=1602400).
A arqueologia será capaz de apresentar e justificar uma proposta que permita o estudo
integrado deste território, simultaneamente artefacto e ecofacto, objecto e ecossistema,
promovendo a sua identidade como estação arqueológica composta por vários sítios, e criando
conteúdo científico capaz de classificar esta turfeira como Paisagem Cultural Marítima
concelhia, objetivo que norteou este caso de estudo.
Fig. 2 – Vista aérea da freguesia de Marinhas com as três praias. De sul para norte: Praia das Marinhas, Praia de
Barrelas e Praia de rio de Moinhos ou Praia da foz do Ribeiro de Peralto, popularmente conhecida por Praia de
Peralta. Corresponde ao sector 17 do IPARMALE - Projeto de Inventário do Património Arqueológico Relacionado
com o Meio Aquático do Litoral de Esposende. Fonte: Carta Arqueológica de Esposende. Acedido em 23.09. 2018.
(https://www.google.pt/maps/place/Praia+de+Rio+de+Moinhos/@41.5664647,8.8031825,1143m/data=!3m1!1e3!
4m5!3m4!1s0xd244ade89142a0d:0xa5e73ed83)
A Turfeira de Peralto
As turfeiras são habitats húmidos, como lameiros, ou muito húmidos, do tipo pantanoso, com
biodiversidade vegetal e animal muito rica, e frequentemente rara, pelo que as turfeiras estão
protegidas por lei pela importância de habitats e espécies que conservam.
“(…) Uma turfeira, por definição ecológica, é um ecossistema onde a taxa de acumulação da
matéria orgânica é superior à sua taxa de decomposição, formando-se um substrato pedológico
em condições de falta de oxigénio (anóxia) e encharcamento chamado turfa, que se acumula em
profundidade. Sobre este substrato desenvolvem-se mosaicos de vegetação muito dependentes
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dos níveis elevados de encharcamento e da manutenção de um pH ácido. Estes habitats têm
papéis vitais nos ciclos dos nutrientes e da água. (…) Graças às baixas taxas de decomposição,
os vestígios de actividade humana e outros registos fósseis ficam muito conservados, fazendo
com que as turfeiras também sejam um “arquivo” paleontológico importante” (VIEIRA, 2012,
p.11).
Tal como as turfeiras vivas, a Turfeira de Peralto datada de mais de 5 mil anos (GRANJA, 2014,
pp.61) carece urgentemente de medidas de proteção e conservação arqueológica, pois o risco
de extinção é eminente.
Conhecida localmente por “tijuca” ou “terra negra” situa-se na zona intertidal onde ocorrem
as marés, ficando diariamente exposta durante a baixa-mar, e exposta à ação humana,
principalmente no verão, época do ano em que a própria Praia é mais visitada e que
inadvertidamente a Turfeira, que tem uma extensão generosa de quase 2km paralelos à linha
de costa, é usada quer pela comunidade balnear quer pela comunidade agrícola local, que
tradicionalmente aí abastece de sargaço (algas marinhas), implicando pisoteio humano e
manobras com tratores agrícolas, ambos destruindo o “chão da praia”, contribuindo para o
acelerar do seu processo de destruição.
(…) os depósitos estudados no litoral de Esposende e Apúlia, os mais antigos datados de há cerca
de 5000 anos e que indiciam a presença de um sistema lagunar previsivelmente afastado da
zona de rebentação e que (…) estaria nas imediações de uma floresta de elementos vegetais do
género Pinus e Alnus” (CARVALHIDO, 2009, p.302).
Apesar da importância deste sítio arqueológico, ele tem vindo a ser estudado de forma
fragmentada e pontual, carecendo de uma investigação multidisciplinar organizada de forma a
reunir várias ciências e a potenciar num curto espaço de tempo o máximo de conhecimento
sobre este sítio.
“Sendo a análise regional a estrutura apropriada para investigar sistemas de fixação do passado
a adopção de uma bacia hidrográfica, por razões teóricas, poderá traduzir um certo
determinismo geográfico, sobretudo porque as barreiras naturais não são um total impedimento
de contactos, algumas sociedades primitivas atuais não se compartimentam necessariamente
por áreas culturais e ainda porque este tipo de aproximação tem mostrado que os habitantes se
situam frequentemente na intersecção de zonas naturais diferentes, para permitir o acesso
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simultâneo a vários recursos. No entanto, para além das razões praticas do estudo de uma área
delimitada geograficamente, a análise do “catchment”, termo que designa a bacia de
alimentação de um rio, tem sido cada vez mais usada em trabalhos de investigação, em que a
estação arqueológica individualmente considerada deixa de ser a única fonte de interesse, para
permitir uma visão mais alargada da realidade das épocas de estudo (Maciel, 2003, pp.9)”.
A problemática das formas e padrões de assentamento do povoamento desde a Pré-História
tem sido uma constante da Carta Arqueológica, que tem por base tem um trabalho no território
terrestre com mais de 35 anos. Agora pretende-se ensaiar outros modelos de pesquisa,
procurando outras marcas na paisagem, desta feita a marítima, pretendendo a recuperação de
informação sobre o território do mar, ainda o grande desconhecido, através de uma ação de
prospeção arqueológica para o levantamento e inventário de todo o património presente nesta
estação arqueológica.
Mas a “tijuca”, como aqui a população local designa a turfeira, desfaz-se irremediavelmente a
cada maré mais batida pelo vento e ondulação, a cada preia mar e a cada temporal, que lhe
arrancam diariamente pedaços da turfa (ação mecânica do mar). Em simultâneo a areia e o
cascalho (seixos rolados) ao correrem soltos ao sabor da maré sobre a tijuca vão também
laminando a turfeira, destruindo-a maré após maré.
A dinâmica de deterioração é rápida e uma vez iniciada é irreversível. Como forma de mitigação
iniciou-se o levantamento da informação arqueológica da turfeira. A informação arqueológica
da turfeira apresenta-se como um gigantesco quebra-cabeças. Para resolver esta constatação
realizou-se o inventário dos “bens” de interesse, com um relatório preliminar sucinto
(levantamento), e com informação sobre o estado atual de conservação de cada evidencia
arqueológica. Procedeu-se também à marcação topográfica com estação total.
O estudo detalhado do local permitiu confirmar que não é possível a conservação em laboratório
em relação á maioria do material que constitui esta Estação arqueológica, pois estes bens são
imóveis, foram produzidos diretamente nos afloramentos rochosos e ficam afogados durante a
preia-mar, não sendo possível a sua preservação no estado atual da questão. Quanto à turfeira
propriamente dita, como é matéria orgânica proveniente de turfa conservada em ambiente
marinho, o que por si já dificultaria a preservação fora de um ambiente de laboratório, agrava-
se esta dificuldade pela grande extensão em área ao ar livre e pela natureza da matéria prima
em que são feitos os demais elementos presentes na própria turfa, como o material lítico
resultado de oficina de talhe pré-histórico que tem de ser estudado ainda in situ, ou as raízes de
árvore em posição de vida, ou ainda as folhas e ramagens que se encontram preservadas
debaixo de algumas raízes de grande dimensão, para além das salinas escavadas nas rochas em
conexão com a turfeira e que devem, igualmente, beneficiar das mesmas medidas de proteção
e valorização.
Por outro lado, todos estes trabalhos carecem de uniformização no processamento dos registos
e na criação de conteúdos científicos para, do ponto de vista das diferentes metodologias de
investigação, permitir conhecer a Turfeira da Praia de Peralto como um território antigo, objeto
central dos recentes estudos da paleoarqueologia. Território antigo partilhado por milhares de
outras populações biológicas, domésticas e selvagens, espacialmente estruturado por tipos de
fisiografias de paisagem naturais e artificiais (biótopos) cuja natureza “cultural” desta macro-
entidade é a turfeira de Peralto, ela própria um artefacto afeiçoado pelo ecossistema e pelo
Homem, no devir da história e assim um objeto de valor arqueológico intrínseco que tem de ser
preservado, estudado, divulgado e, principalmente valorizado como Paisagem Cultural
Marítima.
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Fig.3 - Praia de Peralto em 2001. Turfeira exposta apenas na zona da foz do Peralto.
Fig.4 - Praia de Peralto vista de parapente motorizado em baixa-mar. A turfeira ainda se encontrava protegida pela
areia, encaixada entre o afloramento rochoso (bed-rock de xisto) e a duna. Fotografia cedida pelo Gabinete da
Proteção Civil de Esposende. 2009. Fotos autor.
Fig.5 e 6 – A turfeira em 2018 totalmente exposta. Desmonte mecânico do mar sobre os pisos de salina em eirado
(placas de eirado) (fevereiro de 2018). Fotos autor.
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Pretende-se a revisão da literatura sobre este sitio (ou sitios) para orientar a equipa
multidisciplinar, cruzando conhecimento das diferentes ciencias e rentabilizando os estudos
anteriores.
Pretende-se preparar a conservação in situ de um pequeno sector da turfeira de forma a
preservá-lo para as gerações futuras, para investigação e para fruição deste bem arqueológico.
O Study-case terá como missão propor a sua classificação como Paisagem Cultural Marítima.
A turfeira foi detetada pela primeira vez em 20052, e foi sempre acompanhada regularmente
por investigadores sendo pontualmente objeto de projetos de arqueologia de emergência, na
sequência de arrojamentos provocados por fortes tempestades marinhas.
Fig. 7 – Praia de Rio de Moinhos ou Praia de Peralto, vistas a norte, baixa mar. Turfeira exposta. 2018. Foto do autor.
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Constituíram-se achadores Ricardo Abreu, José Capitão Abreu e Frederico Burmester.
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Fig. 8 – Praia de Peralto, indústria lítica (Sérgio Rodrigues). Contexto estratigráfico dos artefactos líticos da praia
de Rio de Moinhos. L) Depósito lagunar. M) Conglomerado marinho (conglomerado B). A) Seixo talhado unifacial in
situ na base do sedimento lagunar. B) Termoclastos in situ na base do depósito lagunar. C). Conglomerado ferruginoso
sobre o bedrock (conglomerado A). D) Conglomerado sob o depósito lagunar (conglomerado B). E) Seixo talhado
unifacial rolado do conglomerado B. F) Troncos de árvore em posição de vida, aparentemente sobre os depósitos
marinhos e sob os sedimentos lagunares datados de 5590±80 yr BP (4614-4319 cal BC 20) e 5480±30 yr BP (4433-
4260 cal BC 20).
(https://www.researchgate.net/figure/Contexto-estratigrafico-dos-artefactos-liticos-da-praia-
de-Rio-de-Moinhos-L-Deposito_fig7_305237212)
O potencial desta turfeira e paisagem marinha associada é intrinseco. Todos estes “sítios”
continuam desconhecidos do grande publico.
Para este sítio estão sumariamente identificados na Carta Arqueológica e são conhecidos apenas
em estudos parcelares, nomeadamente teses de mestrado, doutoramento e pós-
doutoramento, da responsabilidade de investigadores que buscam respostas especificas para a
sua área de investigação e que não estão acessíveis, muito menos a todos os públicos.
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Fig. 9 – Praia de Peralto, indústria lítica (Sérgio Rodrigues). Rio de Moinhos beach location. Position of the
ST cores and lithic artefacts (red oval: area with the highest concentration of lithics) (Ortophoto extracted
from Google Earth 7.1.5.1557).
https://www.researchgate.net/figure/Rio-de-Moinhos-beach-location-Position-of-the-ST-cores-and-lithic-
artefacts-red-oval_fig1_305237212
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Designação, Tipo e período cronológico da área a intervencionar
Nas tipologias de sítios que a estação arqueológica da Turfeira de Peralto apresenta várias
épocas, desde pelo menos os 5 mil a.C. até ao século XX.
“…No sítio da foz da ribeira do Peralto (Marinhas, Esposende, Norte de Portugal) têm sido
encontrados achados arqueológicos que evidenciam a presença e a ocupação romanas ao longo
da costa atlântica. De entre eles, destaca-se um número elevado de fragmentos de cerâmica
Bética (antiga província Romana na Hispânia sob a influência da bacia do rio Guadalquivir,
aproximadamente a Andaluzia dos nossos dias) provenientes de um naufrágio datado da época
de Augusto e recolhidos, em 2005, na faixa da baixa mar de Rio de Moinhos, em Esposende. Na
grande maioria predominam as ânforas da tipologia Haltern 70 , alguns fragmentos de ânforas
de produção gaditana do tipo Dressel 7-11 e de ânforas do Guadalquivir de tipo Urceus…”
(OLIVEIRA, 2014, pp. 38) (http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/12980.pdf)
A Praia de Peralto localiza-se em Marinhas, Esposende, e é também conhecida por Praia de Rio
de Moinhos ou Praia da Foz do Peralto.
Marinhas é extinta freguesia do Concelho de Esposende, Distrito de Braga, agora reorganizada
em União de Freguesias de Esposende, Marinhas e Gandra. Faz fronteira a norte com a freguesia
de S. Bartolomeu do Mar, representada pelo ribeiro da Sebe, que corre na base da única duna
primária existente. A sul faz fronteira com o ribeiro de Barrelas (também conhecido como Carda)
que pertence à mesma freguesia de Marinhas.
A área de estudo está sob a tutela da Capitania do Porto de Viana do Castelo3 através da
Delegação Marítima de Esposende e integra também o Parque Natural Litoral Norte 4.
O acesso a esta praia é feito pela Estrada Nacional nº 13, cruzamento do Moinho do Estado,
virar á praia pelo caminho municipal do Moinho do Peralto.
3
Capitania de Viana do Castelo, Rua do Marquês, 4900-319 Viana do Castelo.
4
PNLN, Rua 1º Dezembro, nº 65, 4740-226 Esposende
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Fig. 10 –Carta Arqueológica 2014. Ocorrências de arrojamentos. De sul para norte: Praia de Peralto, Praia
de São Bartolomeu e Praia de Belinho.
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Fig. 11, 12 e 13 – Praia de Peralto. Turfeira. Material descoberto e abandonado à ação do mar.2005
Fig. 14,15 e 16 – Praia de Peralto. Baliza de navio (Idade Moderna) recuperado e em estudo (IPT).
Beachrock (ferruginoso, cerca de 5 mil a.C.). Poita e peso de rede (Proto-história-Romanização). 2006
Fig. 17,18 e 19 – Praia de Peralto. Turfeira. Material resgatado para estudo e conservação. Fivela, poste
de armadilha, fragmentos anfóricos. 2016.
Fig. 20, 21 e 22 – Praia de Peralto. Salinas escavadas no afloramento. Amarração antropomorfa. 2017.
Fig. 23,24 e 25– Praia de Peralto. Turfeira. Placas de salina de eirado dispersas sobre a turfeira. 2018.
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Indicação da constituição da equipa e CV´s
A equipa científica é constituída pelo arqueólogo Náutico e Subaquático Luis Filipe Vieira de
Castro (TAMU e UNL), pelo arqueólogo Náutico e Subaquático Paulo Alexandre Paiva Monteiro
(IAP-UNL), pela arqueóloga Ana Paula Almeida (CME) e pelo autor, a arqueóloga Ivone
Magalhães (CME).
Calendarização
1 de janeiro de 2019 a 31 de dezembro de 2019.
-Os trabalhos de prospeção subaquática decorrerão de acordo com as condições de mar, e
após autorização das tutelas (capitania e DGPC) entre maio e setembro de 2019.
-Os trabalhos de topografia decorrerão entre maio e setembro de 2019.
-Os trabalhos de recensão e revisão de literatura decorrerão entre janeiro e março de 2019.
-Os trabalhos de relatório, interpretação, avaliação e validação do projeto decorrerão em
novembro e dezembro.
-Os trabalhos de alteração ou continuidade ao projecto com novas medidas corretivas
decorrentes das surpresas que o território apresente do ponto de vista da investigação serão
apresentados em dezembro.
Quanto ao estado de conhecimentos, pelo tipo de sítios de interesse patrimonial que compõem
o mosaico desta estação arqueológica, pelo tipo de matéria prima dos seus bens, pela grandeza
do espaço que ocupa no território e pela mais valia que seria a sua valorização local, permite-se
ponderar neste projeto uma futura intervenção no sentido de conservar pelo menos um sector
de turfeira o mais possível in situ5.
Como metodologia para aferir o tipo e o grau de necessidades de conservação dos “sítios” desta
estação (fragilidades dos bens arqueológicos) e de acordo com o conhecimento sobre esta
5
Intenção extra a este projeto, mas ainda assim pertinente para o mesmo pois se não se preservar a
turfeira não haverá nada para classificar como Paisagem Cultural Marítima no futuro.
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estação e os seus sítios, respondendo a situações de arqueologia de emergência de resgate de
material arrojado pelo mar estabeleceu-se um quadro de distribuição.
Estão entre os principais fatores de risco de origem antrópica o pisoteio humano, com a
“despesca7” nas poças de maré, e a circulação de veículos, estes muito perturbadores da
turfeira, pois o acesso às praias a sul e a norte do Peralto é feito exclusivamente pela entrada
6
Objeto de um estudo prévio para a criação de um projeto de proteção especial, com a conservação in
situ de duas sanjas, uma emersa e outra imersa, num futuro projeto de musealização, que pretende a
criação de edifício de apoio na tipologia de Núcleo museológico e Centro Interpretativo da Paisagem
Cultural Marítima da Praia de Peralto.
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Despesca- Marisqueio, pesca a pé aos polvos e camarões nas poças de maré. Apesar de proibido por
ser Parque Natural Litoral Norte.
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de Peralto8 e por aqui circulam os tratores agrícolas, que na época da apanha do sargaço visitam
esta praia. Em simultâneo as obras de engenharia agrícola a montante do ribeiro de Peralta, que
vão empurrando a linha de água do ribeiro, ora para norte ora para sul, desviando a foz de um
lado a outro, expõem partes novas partes da turfeira contribuindo extraordinariamente para a
sua destruição também na parte emersa.
Selecionado o sector, por ter menos materiais de grande risco e servir ao propósito deste
projeto, permitirá futuramente elaborar um modelo científico para a preservação de um troço
da turfeira para fins pedagógicos e académicos.
Problemática do Study-case
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Peralto é a única entrada de veículos para as praias, inclusive para assistência em caso de um sinistro
ou salvamento no mar.
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«Património cultural subaquático» significa todos os vestígios da existência do homem de
carácter cultural, histórico ou arqueológico que se encontrem parcial ou totalmente, periódica
ou continuamente, submersos há, pelo menos, 100 anos, nomeadamente:
a) Sítios, estruturas, edifícios, artefactos e restos humanos, bem como o respectivo
contexto arqueológico natural;
Fig.26 e 27– Praia de Peralto. Registo das raízes de árvore em posição de vida. Fotos do Autor.
Estão apenas inventariadas e registadas, mas ainda por estudar na especialidade as salinas pré-
históricas, as salinas medievais, as camboas medievais, e na zona de marés, o que parecem ser
amarrações para embarcações, tudo bons motivos para considerar que esta praia de Peralto é
provavelmente a mais interessante paisagem marítima do norte de Portugal, do ponto de vista
da arqueologia subaquática.
O potencial desta praia é imenso. Para a Arqueologia em geral, mas também para outras ciências
que permitem a reconstituição da atividade humana neste segmento costeiro do noroeste de
Portugal. Esta praia foi usada como modelo de investigação para o estudo, sobre indicadores
geomorfológicos e sedimentológicos na avaliação da tendência evolutiva da zona costeira de
Esposende, criado por Eduardo Loureiro sob orientação de Helena Granja.
(https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/.../1/Tese%20Final%20v621.pdf).
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Plano de Classificação da Turfeira de Peralto como Paisagem Cultural
Marítima
Sobre a Problemática:
A informação presente nos estudos sobre esta praia e em particular sobre a sua turfeira e os
bens arqueológicos que esta contem, foi sempre dispersa, apenas acompanhada pelos diversos
especialistas de forma parcelar, muitas vezes a publicar resultados no meio académico, de forma
restrita ao grande publico que assim ignora o valor patrimonial desta praia. Do ponto de vista
do Município de Esposende, também nunca foi objeto de um projeto de investigação exclusivo
e orientado para conhecer e interpretar este sítio como um todo.
Sobre os objetivos
-O primeiro desafio deste study-case foi organizar o conhecimento científico já produzido,
através da revisão da literatura, para saber sobre o que estávamos perante, cruzando a
metodologia da Arqueologia da Paisagem com a da Arqueologia Subaquática para interpretar
esse conhecimento cientifico produzido por várias fontes e orientar os objetivos da
problemática para permitir a reconstituição desta estação arqueológica com os seus diferentes
“sítios” e assim encontrar respostas nas questões dos paleoambientes da turfeira, procurando
chegar a conclusões sobre as ocupações humanas que habitaram este local, através da
informação de caracter cultural (estratigrafia, arqueologia, antropologia) mas também natural
(climatologia, geologia, sedimentologia, geomorfologia, topografia submarina e biologia).
-O segundo desafio, decorrente do primeiro, foi reunir numa única plataforma toda a
informação, proveniente de todas as fontes e com ela demonstrar estarmos perante uma
estação arqueológica com vários sítios e que no conjunto integram uma Paisagem Cultural
Marítima que importa classificar como forma de a proteger, divulgar e valorizar.
Sobre a metodologia
Seguiu-se a metodologia da Carta Arqueológica num programa bipartido, com uma vertente
arqueológica com recurso às disciplinas e ferramentas metodológicas da Arqueologia da
Paisagem (geologia, geomorfologia e topografia) e outra às ferramentas da Histórica
(cronologia), que tem como meta o recenseamento dos sítios arqueológicos subaquáticos em
forma de inventário.
Assume-se o conceito de estação arqueológica composta de diversos sítios de interesse
individual, categorizados pela acessibilidade em 4 tipos: sítios submersos, emersos, intertidais e
achados de objetos isolados na praia. Pretendeu-se a localização e a identificação de cada um
dos sítios.
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-Propor a classificação como Paisagem Cultural Marítima;
-Propor a conservação in situ de um sector.
Sobre o modelo
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concorre no entanto com projetos a financiamento externo no âmbito cultural (investigação,
publicação de resultados, musealização in situ, construção de equipamento ou edifício para
museu ou centro interpretativo), onde se incluem parte ou o todo deste conteúdo, através de
candidaturas no âmbito do Horizonte 2020, diretamente através dos serviços culturais
(Municipal e Centro Interpretativo de São Lourenço) ou através da Comunidade Intermunicipal
do Cávado.
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Sobre o programa de colaboração científica
As modalidades de colaboração com museus e outras instituições, em particular instituições
científicas académicas, será incentivado junto da tutela para estabelecimento de protocolos.
Será incentivado a apresentação regular de relatórios (parcelar e final)
Será incentivado a criação de protocolos para estudos em arquivos e bibliotecas
Fig. 28 e 29 – Praia de Peralto, vista para norte (baixa mar) - Turfeira e placas de salina in situ. Tipologia
de salinas ditas de eirado, uma “eira” ou piso de placas a impermeabilizar o solo, de época proto-histórica.
Fotos do autor.
Esta turfeira tem vindo a ser estudada por diversos investigadores, cada uma focado para
responder a questões de causa-efeito, sem haver uma interpretação do sítio como um todo do
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ponto de vista da Arqueologia, e em particular da Arqueologia Subaquática, lacuna que se
pretende preencher com a realização deste caso de estudo.
Dada a inevitabilidade da ação das marés sobre a turfeira e risco da sua destruição, bem como
a desestabilidade do sítio desde a ocorrência da tempestade Hercules (2014) e sendo expectável
a ocorrência de outras tempestades, importa uma estratégia de salvaguarda deste sítio, seja
pelo seu estudo multidisciplinar seja pela possibilidade de preservar partes da turfeira )amostras
em laboratório e as duas sanjas que se prevê conservar in situ, uma na zona imersa junto da foz
do ribeiro da Sebe e outra emersa junto da duna da Sebe (sector norte), concretizando os
objectivos preconizados pela Convenção Unesco 2011 para o património cultural subaquático,
que se cristalizam com a classificação deste sítio como uma Paisagem Cultural Marítima.
Objectivos:
-Realizar os registos e o inventário da estação;
-Realizar os registos inerentes ao posicionamento dos bens móveis subaquáticos (caso surjam);
-Realizar os Registos de fofogrametria dos conjuntos de salinas e camboas;
-Remoção dos bens móveis de superfície;
- Registo arqueográfico das diferentes áreas de maior concentração de bens paleoambientais
(árvores em posição de vida e outros);
Trabalho de Campo:
-Realizar os registos (topografia, fotogrametria, colheita de amostras da turfa);
-Recolher e registar arqueograficamente o património móvel presente na área (tudo o que fica
solto perde-se) e iniciar os tratamentos de laboratório para dessalinização e o catálogo;
-Proceder ao transporte para laboratório dos materiais exumados;
-Realizar a reportagem fotográfica destes trabalhos (programa de documentação e divulgação);
Trabalho de Gabinete:
-Processamento e interpretação dos dados (registo, fotografias, amostras, artefactos)
-Mapeamento e topografia
-Elaboração de cartografia para relatório
-Elaboração de Relatório indicando interpretação e conclusões.
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Fig. 30 e 31 – Praia de Peralto, Pedra Seixa. As Pedras Seixas, são amarelas e não endógenas ao afloramento de xisto
ainda que se apresentem algumas em posição original como na fig. 14. Localizam-se apenas num sítio a sul da camboa.
Os inventariantes referem que para eles estas pedras fizeram parte de um muro cais que existiu na água quando eram
crianças e que sempre ali esteve e que era do tempo dos próprios avós. A topografia registou o alinhamento W-E. Foi
inserido na Carta Arqueológica. Fotos do autor.
Bibliografia
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3m/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0xd244ade89142a0d:0xa5e73ed83
https://dre.pt/application/conteudo/58728911
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