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1. CAPÍTULO 1: RELATÓRIO DE ATIVIDADES DO ESTÁGIO


SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO EM CLÍNICA MÉDICA E CLÍNICA
CIRÚRGICA DE PEQUENOS ANIMAIS

1.1 INTRODUÇÃO

O estágio obrigatório supervisionado tem como objetivo desenvolver a aplicabilidade


prática dos conhecimentos adquiridos ao longo da graduação em Medicina Veterinária,
contando ainda, não somente com a orientação disponibilizada pela instituição, mas também
com o acompanhamento diário de profissionais experientes, fortalecendo ainda mais o
aperfeiçoamento de práticas de atividades rotineiras na área profissional.
A área escolhida para execução do estágio foi a clínica médica de pequenos animais. A
escolha pela área se deve ao fato de que a clínica médica está intrinsecamente relacionada à
saúde e ao bem estar animal.
Atualmente, observa-se um aumento exponencial dos médicos veterinários de clínica de
pequenos animais em detrimento dos médicos veterinários que atuam em outras áreas da
profissão. Esse fato é consequência do desejo manifestado pelos tutores de pequenos animais,
em providenciar cuidados de saúde veterinários avançados. O fato de clínicos veterinários
predominarem na profissão exige que estes cumpram as suas responsabilidades na área de saúde
pública, requeridas ao profissional de saúde (WOHL; NUSBAUM, 2007).
O cuidado com a saúde animal também é o cuidado com a saúde humana, tendo em vista
a relação estreita que os animais de companhia possuem com seus tutores, sendo que por vezes,
os mesmos são tratados como membros da família, e essa característica da relação dos animais
com seus tutores faz com que o acompanhamento com o médico veterinário se torne
indispensável para promoção / prevenção em saúde de toda família, tendo em vista que o
médico veterinário é um profissional capacitado para identificação, quando possível tratamento,
e avaliação da melhor conduta a ser aplicada quando se trata de uma zoonose. Segundo Fiuza
(2007) a medicina veterinária surgi, em primeira instância, como promotora de saúde dos
animais. No entanto com o passar do tempo e o surgimento da medicina veterinária preventiva
começaram a utilizar também para a promoção de saúde humana.
Diante do exposto, a Clínica Veterinária Bicho Bacana foi escolhida como local de
realização do estágio supervisionado obrigatório.
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1.2 SUPERVISOR DO ESTÁGIO


A supervisora do estágio obrigatório foi a Medica Veterinária Priscilla Biazzi
Nascimento, Graduada Pela Universidade Federal de MT, campus SINOP.

1.3 HORÁRIO DE TRABALHO


As 400 horas de estagio obrigatório, foram distribuídas em 4 horas de trabalho no
período vespertino as segundas e sextas feiras, sendo o horário de entrada as 13:00 horas e o
final do expediente as 18 horas, terça a quinta feira 8 horas diárias das 08:00 às 12:00 e das
13:00 ás 18:00, Sábados das 08:00 ás 12:00, os horários foram distribuídos desta forma pois
cursei conjuntamente a disciplina de estágio a disciplina de Doenças Infectocontagiosas,
necessitando assim de espaços para assistir as aulas.

1.4 LOCAL DO ESTÁGIO

1.4.1 A Clínica
A empresa bicho bacana é uma clínica veterinária e hotel canino localizada na avenida
André Magi 1530 próximo ao supermercado Aurora, a empresa é de propriedade da veterinária
Priscilla Biazzi Nascimento.

Figura 1: Localização da clínica.

Fonte: Acervo do Autor


A clínica veterinária iniciou suas atividades em agosto de 2017 como consultório
veterinário, posteriormente migrando para clínica veterinária e Hotel Canino em janeiro de
2018, A clínica conta apenas com uma profissional para realização de consultas, exames e
atendimento ao público sendo este profissional a proprietária.
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Figura 1: Primeira identidade visual do estabelecimento.

Fonte: Imagem cedida pela proprietária.


Com a ampliação dos serviços oferecidos (serviço de hospedagem) a proprietária iniciou
uma sociedade e por sugestão da sócia a identidade visual do estabelecimento foi modificado.

Figura 3: Identidade visual atual

Fonte: Imagem cedida pela proprietária.


A identidade Organizacional da empresa consiste em:
Missão: Realizar atividades veterinárias proporcionando a saúde e o bem estar dos
animais, prezando pelo atendimento de excelência e com a utilização de produtos de qualidade.
Visão: Ser modelo no atendimento médico veterinário em Sinop e região, obtendo o
reconhecimento da prestação de serviços de qualidade, agilidade e profissionalismo.
Valores:
 Compromisso
 Dedicação
 Ética
 Honestidade
 Profissionalismo
 Seriedade
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No que diz respeito a espaço físico o consultório segue as normas do conselho regional
de medicina veterinária de Mato Grosso a respeito de estabelecimentos desta espécie, possuindo
então uma recepção / área de espera, sala de medicamentos, sala de consultas / área de
internação, durante o período do estágio a clínica estava passando por um processo de reforma
do centro cirúrgico, e ampliação do espaço anexo onde funciona o hotel canino.
Figura 4: A – Área de Recepção da clínica, B – Área de consultório.

A B

Fonte: Imagens cedidas pela proprietária.


O consultório oferece ainda a modalidade de atendimento domiciliar dentro das normas
estabelecidas pelo conselho.

1.4.2 Funcionamento do Local


Horário de funcionamento, o consultório atende de Segunda a Sexta das 08:00 às 12:00
e das 13:00 ás 18:00, Sábados das 08:00 ás 12:00, o atendimento fora desses horários é
caracterizado como atendimento em regimento de plantão possuindo uma forma de cobrança
distinta.

1.5 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS


O estágio na empresa foi realizado no período de Junho a Agosto do ano de 2018 as
atividades de estagio foram relacionadas ao atendimento clinico de pequenos animais, ao longo
do estágio mediante autorização dos tutores, desta forma pude acompanhar a realização de
consultas, e tratamentos.
A atuação do médico veterinário na clínica de animais de companhia é uma atuação que
leva em consideração o valor afetivo do animal, nesse sentido pude perceber que boa parte da
anamnese (parte integrante do exame clinico) objetiva tranquilizar o tutor deste animal assim
como direcionar as respostas do mesmo, pois na medicina veterinária a maior limitação por
assim dizer é o fato de que o paciente não pode verbalizar suas queixas assim dependemos do
tutor para nos repassar informações que podem vir a ser essenciais na construção do diagnóstico
do animal Segundo Feitosa (2008) uma boa anamnese é 60% do exame clínico do animal.
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O veterinário deve ter a sensibilidade de direcionar as respostas do tutor para as


informações que podem vir a contribuir para a construção de um histórico clinico do animal, e
por vezes a informação não dita como por exemplo, apresentação de comportamento
característico de cio em animais com idade compatível, é tão importante quanto a informação
dita.
Figura 4: A – Cão, Poodle, fêmea, paciente vacinação; B – Cão, Macho, SRD, Paciente vacinação.

A B

Fonte: Acervo do autor (foto tirada com autorização do tutor)


Figura 5: Cão, Macho, SRD, Aprox. 3 anos, Apresentando: caquexia e lesões cutâneas.

Fonte: acervo do autor (foto tirada com autorização do tutor)

Toda a Anamnese era realizada com o animal ainda no chão junto ao tutor, ou dentro da
caixa de transporte caso o mesmo tivesse sido levado ao consultório desta forma, o
procedimento era realizado desta forma pensando o maior conforto do animal, já que por vezes
o processo de anamnese pode vir a se estender, tendo em vista que o animal já se encontro em
um ambiente estranho e importante que se tome medidas para que o mesmo permaneça
tranquilo, a fim de que não haja alterações no parâmetros a ser analisado.
Após a Anamnese era realizado o exame clinico geral, e especifico a depender da queixa
principal apresentada pelo proprietário, os dados obtidos na anamnese e no exame clinico eram
registrados em fichas clinicas como as do modelo abaixo:
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Figura 6: Modelo de ficha clinica utilizado na clínica Bicho Bacana

Fonte: Documento cedido pela proprietária da clínica.


Como dito anteriormente, a clínica Bicha Bacana conta com uma área destinada a
internação (Figura 7 – B, C) e uma área anexa onde funciona um hotel canino, a primeira
atividade da estagiaria ao chegar era a avaliação dos animais que se encontravam internados,
assim como a administração de eventuais medicamentos ao mesmos, limpeza dos recintos, e
fornecimento de alimentação e água, os animais que não tivessem restrições também retirados
dos recintos para passeio breve. Todas as informações eram anotados em prontuário especifico
(Figura 7 – A).
Figura 7: A – Prontuário da internação; B – C – Imagens da área de internação.

A B

Fonte: Imagens cedidas pela proprietária da clinica


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Nos dias em que haviam animais hospedados no hotel, após o atendimento dos animais
internados, seguia – se a rotina de alimentação dos animais e limpeza dos recintos do Hotel, ao
fim da tarde os animais do hotel eram levados a um passeio.

1.6 CASUÍSTICA EM CLÍNICA MÉDICA


Ao todo foram atendidos 107 animais no período do estágio, incluindo casos novos,
retornos, casos com prognósticos cirúrgicos e vacinações. Esse número de atendimento
corresponde ao número de pacientes no qual participou-se de modo efetivo nos procedimentos
e consultas, durante o período de estagio acompanhei somente os atendimentos realizados na
clínica, o número total de atendimentos somando os atendimentos na clínica e em domicilio
durante o período foram de 200 atendimentos.
Tabela 1 – Número de Atendimentos realizados, quanto a espécie.
Espécies Atendidas
Caninos 90
Felinos 17
Fonte: Elaborado pelo autor
Os caninos foram a maioria dos animais atendidos durante o período, esse cenário se
deve muito possivelmente ao protocolo de imunização pediátrico, cerca de 60% dos tutores de
felinos segundo Vorckman (2018) não realizam protocolo vacinal em seus animais para além
da imunização contra a Raiva. Todos os atendimentos estão descritos nas tabelas abaixo.

Tabela 2: Afecções acompanhadas durante o estágio na clínica Bicho Bacana de Junho a Agosto de
2018
Atendimentos realizados em Cães Atendimento Realizado em Felinos
Casuística Clinica Nº de Animais Casuística Clinica Nº de Animais
Vacinação 50 Vacinação 11
Parvovirose 9 Urolitise Vesical 3
Erliquiose 5 Insuficiência Renal 2
Leishmaniose cutânea 2 PIF 1
Cinomose 1
Urolitiase vesical 1
Atropelamento 2
Piometra 2
TVT 2
Diagnostico de Gestação 1
Otite 5
Dermatites 10
Pneumonia 1
Total 90 Total 17
Fonte: Elaborado pelo autor
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Como podemos observar na tabela acima 57% dos casos atendidos se tratavam da
realização de protocolo vacinal, destes 87,5% dos casos se tratavam de protocolo pediátrico de
imunização, 12,5% Reforço contra raiva.
As condutas clinicas adotadas em cada caso, estão descritas resumidamente na tabela
abaixo:
Tabela 2: Condutas clinicas acompanhadas durante o estágio.
Casuística Exames Complementares Tratamento Recomendado
Clinica Laboratoria Outros Internação Cirurgi Eutanási Farmacol
is a a ógico (em
domicilio
)
Erliquiose Elisa* - 3 casos 2 casos
Leishmaniose DPP®; - - 2 casos
Elisa*
Parvovirose Hemograma - 9 casos - - -
Cinomose Elisa* - - - - 1 caso
Urolitiase Urinalise* Radiografia 2 casos 1 caso* - 1 caso
Vesical Hemograma *
Ultrassom
Insuficiência Hemograma - 2 casos
Renal Bioquimico
Urinalise
Atropelamento - Radiografia 1 caso 1 caso* 1 caso
*,
Ultrassom.
Piometra Hemograma Ultrassom 2 caso 2
casos*
TVT - Histopatolo - - - 2 casos
gia
Otites Cultura 5 casos
Bacteriana
Dermatites Raspado de 10 casos
Pele – Luz
de Wood
Cultura
Bacteriana
Pneumonia Hemograma 1 caso
Raio X
PIF Elisa* 1 caso 1 caso*
Fonte: Elaborado pelo autor
Os exames laboratoriais apresentados na tabela acima com a utilização de um * foram
realizados pelo laboratório veterinário São Francisco, as amostras foram coletadas na clínica e
encaminhadas ao laboratório. Os procedimentos cirúrgicos indicados com * foram realizados
na clínica veterinária Pronto Vet pois a clínica Bicho Bacana não possui centro cirúrgico.
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Dos 49 animais atendidos durante o período (animais que apresentavam quadro clinico),
39 tiveram progressão do quadro favorável, 10 vieram a óbito, e 1 dos atendimentos (cão,
macho, SRD, 7 anos, quadro de cinomose canina) não retornou a clínica para acompanhamento
do tratamento, desta forma não obtivemos informação a respeito da evolução clínica do
paciente. O gráfico abaixo traz os óbitos descriminados.

Gráfico 1 – Quadros que evoluíram para óbito.

PERCENTUAL DE ÓBITOS
Atropelamento Piometra
10% 10%

Leishmaniose
20%

Parvovirose
40%

Erliquiose
20%

Fonte: Elaborado pelo Autor

Com relação aos óbitos, as evoluções dos quadros ocorreram da seguinte forma:
1 – Atropelamento – Um cão SRD, macho de 2 anos, foi levado a clínica apresentando
múltiplas lesões decorrentes de um atropelamento, após avaliação clínica e a realização de
exame de ultrassom foi possível diagnosticar rompimento do baço, lesão pulmonar, em vista da
gravidade do quadro do animal, em consulta ao tutor decidiu – se pela realização da eutanásia.
2 – Parvorisose – Paciente 1: Cão, fêmea SRD, 4 meses apresentando quadro grave de
diarreia sanguinolenta, foi realizada a internação do animal no mesmo dia, iniciando
imediatamente o tratamento com metoclopramida em infusão contínua, diluída na dose de 1
mg/kg, SID; fuidoterapia, ringer lactato; cefoxitina 30 mg/kg, IV, TID. O quadro evoluiu para
óbito nas primeiras 24 horas.
O paciente 2: Cão, Macho SRD, 3 meses; paciente 3: Cão, fêmea aproximadamente 2
meses, SRD, paciente 4: Cão, fêmea, aproximadamente 3 meses, os tutores recusaram a
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internação recomendada, o óbito dos mesmos foi confirmado após retornos telefônicos para
acompanhamento dos pacientes.
3 – Erliquiose: Os dois pacientes eram cães, machos, SRD, sendo que o paciente 1
possuía aproximadamente 2 anos, e o paciente 2 aproximadamente 5 anos, ambos os animais
foram diagnosticados com erliquiose e encaminhados para os domicílios com recomendações,
e prescrição do seguinte tratamento: Doxiciclina, na dose de 5mg/kg, via oral, duas vezes ao
dia durante vinte dias seguidos; vitamina B1(suplemento), na dose de 0,1ml/kg via oral, duas
vezes ao dia, durante vinte dias seguidos; vitamina C (suplemento) via oral, dose de 1 ml, duas
vezes ao dia, durante 20 dias consecutivos e sarolaner (ectoparasiticida), dose de 2mg e repetir
a aplicação a cada 35 dias para controle dos artrópodes. Após contato telefônico com os tutores,
que não retornaram para uma nova consulta fomos informados que os pacientes vieram a óbito,
não nos foi possível identificar se os animais vieram a óbito por conta de complicações da
Erliquiose ou infecções secundárias.
4 – Piometra: O paciente que veio a óbito era uma cadela, SRD com 7 anos, Com o
diagnóstico, a paciente foi internada no mesmo dia, iniciando- se imediatamente o tratamento
com fluidoterapia, Ringer lactato + Vitamina B12; Tramal 0,45ml/kg, SC, BID; Cefalexina
1,6ml/kg, IV, BID; Ranitidina 0,9ml/kg, SC, BID; Dipirona 0,5ml/kg, IV, BID. E após dois
dias foi encaminhada a outro profissional para realização de intervenção cirúrgica, já que a
clínica Bicho Bacana não possui centro cirúrgico. A cadela foi submetida a cirurgia de
ovariosalpingohisterectomia. Na intervenção cirúrgica observou-se que o caso de piometra era
mais grave, pois esta estava rompida, a qual agravou o quadro do animal. Após o procedimento
a paciente permaneceu internada. Após 3 dias internada a paciente veio a óbito, devido a
septicemia pela grande infecção causada devido ao rompimento da piometra.
5 – Leishmaniose – Os animais foram levados a clínica veterinária apresentando,
emagrecimento progressivo, pelos com aspectos opaco e quebradiço, formação de crostas, e
crescimento exagerado das unhas, com base na anamnese e nos sintomas clínicos os animais
foram colhidas amostras de sangue dos animais e encaminhadas para laboratório com a suspeita
clinica leishmaniose, foi realizado o exame DPP® recomendado pelo MS como forma de
triagem e após o resultado positivo, realizou – se a prova Elisa como confirmatório, após novo
positivo, os tutores foram informados e realizou – se a Eutanásia como recomendado pelo
ministério da Saúde.
Durante a realização do estágio os casos que me chamaram atenção foram os dois
diagnósticos positivos para Leishmaniose, após o resultado dos exames, quando os tutores
foram chamados ao consultório a veterinária explicou aos mesmos, que existem estudos que
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comprovam a possibilidade de realizar o tratamento dos animais positivos, e quais medidas


deveriam ser tomadas para que o tratamento pudesse ser realizado, a mesma fez questão de
frisar os riscos e as características zoonoticas da doença, ambos os tutores optaram pela
eutanásia, entretanto a exposição da veterinária a respeito da doença, suscitaram algumas
indagações, sobre a enfermidade e suas características, assim como os dados existentes a
respeito dos casos humanos de leishmaniose em nosso município, pois a atuação do
profissional veterinário é essencial para garantia da saúde pública.
Neste sentido o segundo capítulo apresenta o relato de um dos casos diagnosticados
positivamente com Leishmaniose, e um levantamento dos casos de leishmaniose humana no
município de SINOP no ano de 2018.
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2. CAPÍTULO 2: LEISHMANIOSES

2.1 REVISÃO DE LITERATURA


As Leishmanioses são enfermidades infecciosas parasitárias de caráter crônico,
causadas por protozoários do gênero Leishmania. Têm distribuição mundial, constituindo – se
portanto em importante antropozoonoses mantidas entre reservatórios silvestres e urbanos,
insetos vetores e humanos (LANGONI, 2018 p. 1013).
A transmissão se dá por flebotomineos, apresentando – se clinicamente sob formas
cutânea, mucocutânea (leishmaniose cutânea ou tegumentar) e visceral (leishmaniose visceral
americana ou calazar) (CAMRGO et. al., 2007)

2.1.1 Etiologias
A leishmaniose visceral também pode ser chamada de calazar e é causada por um
protozoário do gênero Leishmania. Feitosa et al. (2000) afirmaram que as leishmanias fazem
parte de dois grandes grupos: o grupo que causa a leishmaniose tegumentar (leishmaniose
cutânea, mucocutânea e cutânea difusa) e, o grupo que causa a leishmaniose visceral. O grupo
da leishmaniose visceral é composto pelas leishmanias do complexo Leishmania donovani, que
compreende a Leishmania donovani, a Leishmania infantum e a Leishmania chagasi. Nas
Américas, o agente etiológico é a L. chagasi, enquanto que na Europa, Ásia e África, os agentes
responsáveis são a L. infantum e a L. donovani. No Brasil, a L. chagasi, espécie e a L. infantum
são os principais agentes da Leishmaniose Visceral tanto nos cães quanto nos humanos
(CAMARGO et al., 2007).
Tabela 3 – Espécies de Leishmania encontradas na américa descritas em Humanos e Animais e formas
de apresentação clínica da doença no Brasil.
Espécies de Leishmania Formas clinicas de apresentação
Humanos Caninos
Leishmania Chagasi Visceral Visceral
(sinônimo L. infantum)
Leishmania Amanzonensis Cutânea localizada e cutânea difusa
Leishmania (viannia) Brasilienses Cutânea localiza, cutânea disseminada, Cutânea
Cutaneomucosa
Leishmania Panamensis Cutânea localizada Cutânea
Leishmania peruviana Cutânea localizada Cutânea
Leishmania guyanensis Cutânea Localizada
Leishmania lainsoni Cutânea localizada
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Leishmania Shawi Cutânea localizada


Leishmania naiffi Cutânea localizada
Fonte: Adaptado de Langoni, 2018
As espécies do protozoário que causam a forma visceral da doença, não são distinguidas
morfologicamente, pela microscopia convencional, das espécies envolvidas na forma cutânea e
mucocutânea (LANGONI, 2018, p. 1013).
O protozoário apresenta duas formas morfológicas, a amastigota e a promastigota e,
completa o seu ciclo biológico em dois hospedeiros. A forma amastigota do parasita ocorre no
hospedeiro invertebrado, e a forma promastigota ocorre no hospedeiro invertebrado, que serve
como vetor (ETTINGER, 1997 apud SAITO, 2008).

2.1.2 Epidemiologias
Esse grupo de doenças é transmitido pela picada do inseto vetor, dípteros da família
Psychodidae, subfamília Phlebotominae (LAISON e SHAW,1978 apud ANDRADE e FARIA,
2012). Elas constituem doenças endêmicas em países tropicais, subtropicais e temperados,
ocorrendo em 88 países do mundo (LANGONI, 2018). Segundo o índice DALY (Disability-
Adjusted Life Years), que foi desenvolvido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para
avaliar a relevância de cada doença, são perdidos 2 milhões de anos de vida devido às
leishmanioses. Esse índice reflete o tempo perdido de vida devido a doença debilitante ou
devido a morte prematura (SHCARMM, 2004). Ultimamente tem ocorrido uma expansão das
áreas endêmicas, o que acarreta aumento no número de casos registrados da doença.
Considerando que em poucos países a notificação é compulsória, estima-se que a
incidência das leishmanioses seja subestimada, de acordo com a OMS, estima-se que entre 1,5
e 2 milhões de novos casos ocorram anualmente (LANGONI, 2018).
São vários os reservatórios para a Leishmaniose visceral, na área urbana, o cão (canis
familiaris) é a fonte de infecção mais importante. Tem – se verificado que a enzootia canina
precede a ocorrência da doença nos humanos, em regiões com grande número de casos em cães,
têm – se observado ocorrência elevada da doença em humanos (LANGONI, 2018).
O parasita pode se manter abrigado naturalmente também em animais silvestres, como
os carnívoros das espécies Lycalopex vetulus (raposa-do-mato) e Cerdocyon thous (cachorro-
do-mato) e nos gambás da espécie Didelphis albiventris. Além destes, equídeos e roedores
também têm sido identificados como reservatórios. Eventualmente, a leishmaniose visceral
pode acometer o gato. Os gatos são suscetíveis tanto para a leishmaniose visceral quanto para
a leishmaniose tegumentar (SCHIMING, 2012).
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Além disso, a importância das leishmanioses também se verifica no impacto que


produzem na saúde pública, notadamente pela alta incidência, letalidade e implicações
econômico-sociais que ocorrem pela depleção da força de trabalho (BORASCHI e NUNES,
2007). Para esses autores, a leishmaniose visceral encontra-se em expansão no Brasil,
especialmente no meio urbano.
Essa expansão é parcialmente explicada pela distribuição do vetor, no Brasil a
distribuição do vetor Lutzomia Longipalpis é ampla, pesquisas entomológicas têm evidenciado
a expansão desse vetor, inicialmente esse vetor era registrado somente nas regiões norte e
nordeste, tradicionalmente no interior de matas nativas, todavia as pesquisas vêm demonstrando
a presença dos mesmos nas regiões sudeste e centro – oeste, e em regiões urbanas.
Com a urbanização desses territórios e os desmatamentos, houve a adaptação do vetor
ao perímetro periurbano, tal fato foi agravado pela presença de animais silvestres e
sinantrópicos suscetíveis, que se tornaram reservatórios do protozoário nos ambientes próximos
as cidades, o que propiciou a infecção de animais domésticos e seres humanos (LANGONI,
2018).
Langoni (2018) destaca a ocorrência de dois ciclos epidemiológicos: Ciclo Silvestre –
ocorre principalmente em regiões florestais, como na Amazônia, ao penetrar na mata, os
humanos são picados pelo vetor infectado, rompe – se, portanto o ciclo natural da zoonose:
animal silvestre – flebotomíneo (fêmea) – animal silvestre sadio (suscetível).
Ciclo Periurbano – ocorre principalmente em regiões de colonização antiga, que
apresentam característica domiciliar ou peridomiciliar e, portanto atraem o vetor, que se
coloniza no ambiente. Desse modo, observa – se o ciclo: cão, raposa ou equino infectado –
flebótomo (fêmea) – humano (suscetível). O padrão predominante da transmissão é causado
pelo ciclo silvestre, pois a leishmaniose é uma zoonose de mamíferos como marsupiais,
roedores edentados (xenartos) e primatas. No entanto, em áreas de colonização antiga nas
regiões nordeste e sudeste do Brasil, o ciclo periurbano tem assumido grande importância.

2.1.3 Mecanismos de Transmissão


A transmissão das Leshimanias ocorre através de vetores, os vetores relacionados com
a dispersão do agente são os mosquitos da família dos flebotomídeos, do gênero Lutzomyia. A
espécie Lutzomyia longipalpis, também conhecida por mosquito-palha, birigui ou tatuquiras,
se constitui no principal vetor brasileiro. Os reservatórios são infectados a partir da picada das
fêmeas dos flebotomídeos durante seu repasto sanguíneo. Os insetos vetores vivem em habitats
variados, mas as formas imaturas desenvolvem-se em ambientes terrestres úmidos, ricos em
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matéria orgânica e de baixa densidade luminosa (FEITOSA et al., 2000; CAMARGO et al.,
2007).
Durante o repasto sanguíneo em um hospedeiro vertebrado infectado, o flebotomídeo
ingere macrófagos parasitados por formas amastigotas de Leishmania sp. Estas sofrem divisão
binária, multiplicação e diferenciação em formas paramastigotas, as quais colonizam o esôfago
e a faringe do vetor, onde permanecem aderidas ao epitélio pelo flagelo. Diferenciam-se em
formas promastigotas metacíclicas, que são as formas infectantes. O ciclo biológico completa-
se com a picada do flebótomo infectado e subsequente inoculação de formas promastigotas do
parasita na corrente sanguínea de um novo hospedeiro vertebrado (IKEDA-GARCIA e
MARCONDES, 2007).

2.1.4 Patogenia
As formas infectantes do protozoário são liberadas pelo vetor na epiderme do
hospedeiro e fagocitadas por células do sistema mononuclear fagocitário. No interior dos
macrófagos diferenciam-se em formas amastigotas, que se multiplicam intensamente por
divisão binária. Os macrófagos, repletos de amastigotas, tornam-se desvitalizados e rompem-
se liberando essas formas, que serão fagocitadas por novos macrófagos em um processo
contínuo. Ocorre então a disseminação hematogênica e linfática para outros tecidos ricos em
células do sistema mononuclear fagocitário (IKEDA-GARCIA e MARCONDES, 2007).
Com a inoculação do protozoário (forma promastigota) na pele do caõ , promove-se
inicialmente uma resposta inflamatória local e a fagocitose do parasito por macrófagos, no
interior dos quais perdem o flagelo e se transformam em amastigotas, que se multiplicam por
divisão binária no interior dessas células, podendo rompê-las e serem fagocitadas por outros
macrófagos, até a sua disseminação, nos animais suscetíveis, para qualquer órgaõ , tecido ou
fluido corporal, mas particularmente para órgaõ s linfóides (linfonodos, medula óssea, baço e
fiǵ ado) (FARIA e ANDRADE, 2012).
Na LVC, a resposta imune é basicamente mediada por células T auxiliares, sendo que a
resposta celular (Th1) está normalmente associada à capacidade do hospedeiro em controlar a
infecção pela produção de citocinas pró inflamatórias (interleucinas IL-2, IL-6 e IL-12, fator de
necrose tumoral - TNF-α, e interferon gama - IFN-γ), e a resposta humoral (Th2) está
correlacionada com a progressão da doença pela produção de citocinas anti-inflamatórias (IL-
4, IL-5, IL-6, IL-10 e IL-13, e fator transformador do crescimento beta - TGF-β), cuja
quantidade de anticorpos produzidos e imunocomplexos formados podem gerar desde um
quadro subcliń ico até́ múltiplas manifestações clínicas, e cujo período de incubação pode ser
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variável dependendo da imunocompetência do animal infectado (IKEDA-GARCIA e


MARCONDES, 2007).

2.1.5 Sinais Clínicos


Após o período de incubação bastante variável, tanto nas formas cutâneas como
viscerais, são observados os primeiros sinais clínicos, até o momento não foram verificadas
diferenças quanto à predisposição racial, por sexo, ou por idade dos animais.
A LVC é uma doença crônica, com sinais clínicos surgindo entre três meses a sete anos
após a infecção. As regiões de linfócitos T nos órgãos linfóides tornam-se diminuídas e as
regiões de produção de anticorpos e linfócitos B proliferam. A proliferação de linfócitos B,
plasmócitos, histiócitos e macrófagos resulta em linfoadenomegalia, esplenomegalia e
hiperglobulinemia (SALZO, 2008).
De forma geral, a forma visceral apresenta evolução lenta e início insidioso, embora de
modo sistêmico, com manifestações clinicas dependentes da resposta imune do animal, que
varam desde animais aparentemente normais até animais com quadro graves, de extrema
debilidade e caquexia.
Tratando – se de um parasita intracelular obrigatório, as defesas dependem da resposta
dos linfócitos Th1, as quais se encontram reduzidas na infecção. Em contraste, observa – se boa
resposta dos linfócitos B, com produção de anticorpos, embora não impeçam a infecção. Dessa
maneira, os sinais são dependentes da imunocompetência do animal. Estudos demonstram que,
tanto em cães como em humanos, a resposta imune por linfócitos Th1, são protetores contra a
Leishmaniose, e que a infecção pode regredir ou permanecer assintomática. Há evidencias
também de que essas reações podem contribuir para a lesão tecidual na forma cutânea da
enfermidade (LANGONI, 2018).
Mancianti et al (1988), mediante exame clínico, classificaram os cães com LV em: casos
assintomáticos, nos quais não há sinais nem sintomas sugestivos de infecção por Leishmania;
oligossintomáticos, nos quais encontram-se apenas alguns sinais clínicos da doença, como
adenopatia linfóide – aumento generalizado dos linfonodos-, discreta perda de peso e/ou
pelagem opaca; e casos sintomáticos, nos quais encontram-se todos ou alguns dos sinais severos
da doença: alterações cutâneas, onicogrifose (crescimento exagerado das unhas),
ceratoconjuntivite e rigidez dos membros pélvicos.
De acordo com Freitas et al (2006), os primeiros sinais clínicos, e os mais comuns, são
alterações dermatológicas, com destaque para dermatite esfoliativa e acentuada perda de pelo
ao redor dos olhos. A doença evolui com o surgimento de úlceras, alopecia local ou
25

generalizada e hipercromia da pele, edema de membros, ceratoconjutivite, corrimento nasal,


apatia, vômitos, diarreia (Freitas et al, 2006). Podem surgir contaminações secundárias por
bactérias da própria flora da pele do animal ou por contaminação ambiental, dando a lesão
aspecto úmido e purulento.
Moreira et al (2007) encontraram em seu estudo que os sinais clínicos mais frequentes,
tanto para cães sintomáticos como para cães oligossintomáticos, são a linfadenomegalia, perda
de peso, alterações dermatológicas e onicogrifose. Silva et al (2001a) também observaram,
durante seu estudo, lesões cutâneas pequenas e únicas ou múltiplas, com bordos, e altamente
simétricas, sem prurido, que podiam ser vistas em diferentes partes do corpo, inclusive nas
orelhas, no focinho, nas patas e nos genitais dos cães com LV.
Por causa da inanição, muitos animais severamente debilitados podem apresentar
caquexia e paresia dos membros posteriores, sobrevindo à morte.

2.2 RELATO DE CASO LESHIMANIOSE VISCERAL CANINA

Foi atendido na Clínica Bicho Bacana, no dia 08-07-2018, o cão THOR, sem raça
definida, de três anos de idade, com peso corporal de 10 kg. A queixa principal era que o animal
apresentava emagrecimento progressivo. A pele estava com aspecto descamativo
principalmente em axilas, virilha, membros anteriores e posteriores, queda de pelos ao redor do
olho e cauda.
Figura 7: Imagens do paciente

Fonte: Acervo do Autor


Foi mencionado que o animal toma banho em casa. A alimentação consistia de ração e
comida caseira. Além disso, confirmou que o animal tem acesso a rua e contato com terra,
vivendo em um ambiente urbano, entretanto com proximidade a uma área de reserva florestal
(parque florestal municipal de sinop) e convivendo com outro coabitante canino assintomático.
26

Refere que a desverminação e a vacinação estão atualizados e encontrou carrapato no


animal recentemente. No exame clínico geral, o animal apresentava-se alerta, ativo, mucosas
hipocoradas, hidratação normal, TPC de 2 segundos, linfonodos submandibulares, pré-
escapulares e poplíteo estavam reativos, frequência cardíaca de 120 bpm, frequência
respiratória de 28 mpm e temperatura retal de 38,5ºC.
Não foram identificadas alterações a palpação abdominal. Durante o exame físico foram
observados dificuldade de locomoção em membros pélvicos, dificuldade respiratória, alopecia
periocular e em ponta de cauda, dermatite descamativa em ponta de orelha e membros
posteriores e onicogrifose.
Com base nos achados do exame clinico, na anamnese, e da região se tratar de uma
região endêmica para leishmaniose suspeitou – se de leishmaniose visceral canina.
Quando se fala de Leishmaniose canina, sabe-se que os sinais clínicos podem ser
variados, porém a maioria, estão relacionados a lesões cutâneas. Como em qualquer
enfermidade, a observação dos sinais clínicos é de extrema importância na busca pelo sucesso
no diagnóstico, tendo por finalidade o alcance da melhor conduta terapêutica e assim pode-se
estabelecer, ao paciente, um melhor prognóstico. Muitas vezes essa observação se torna
dificultada, pois determinadas doenças apresentam sinais clínicos esporádicos, brandos ou até
mesmo ausentes.
Para confirmação do diagnóstico é importante que o profissional veterinário lance mão
de exames complementares, neste caso a vigilância epidemiológica do município disponibiliza
kit diagnostico para triagem em casos suspeitos de leishmaniose. Foi coletado material e
realizado o teste rápido DPP® ainda na clínica, mediante resultado positivo foi solicitado
hemograma completo, bioquímico (albumina, ALT, creatinina e ureia), raspado de pele para
pesquisa de fungos e ácaros, além de exame ELISA para leishmaniose.
Figura 8: Teste rápido DPP®.

Fonte: Acervo do autor


27

No hemograma, observou-se anemia normocitica normocrômica, leucopenia,


bastonetes aumentados e trombocitopenia.

Tabela 4: Perfil Hematológico do cão Thor, 3 anos de idade, atendido na clínica veterinária Bicho
Bacana, exame realizado no dia 09-07-2018.

Fonte: Laboratório Veterinário São Francisco.


Na análise bioquímica, observou-se hipoalbuminemia, creatinina diminuída e demais
parâmetros dentro dos valores de referência. No raspado de pele, o resultado foi positivo para
pesquisa de fungos com presença de algumas hifas e resultado negativo para pesquisa de ácaros
através de clarificação com hidróxido de potássio. No exame ELISA, o resultado foi reagente
(IgG) para Leishmania spp.
Tabela 5: Exame sorológico de Elisa para pesquisa de Leishmania spp. Exame realizado no dia 09-07-
2018.
Leishmaniose Método Resultado
Leishmania spp. (IgG). Elisa Reagente
Fonte: Laborário Labvet

Após o resultado dos exames que confirmaram a infecção por leishmania spp. O caso
foi discutido com o proprietário se explicou a respeito do potencial zoonotico da enfermidade,
e que a recomendação do ministério da saúde e que em casos positivos seja realizada a eutanásia
do animal.
Entretanto desde 2013 o tratamento contra a leishmaniose visceral em cães foi
autorizado no país, após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em um processo sobre o
28

assunto. Em 2016, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), autorizou


que fosse utilizado no Brasil como método terapêutico para os animais com a doença, um
medicamento que já era comercializado com esse fim na Europa.
O proprietário optou pela eutanásia e o animal foi encaminhado ao Hospital veterinário
da UFMT – Campus sinop para realização do procedimento.

2.2.1 DISCUSSÃO
O estado de MT é considerado área endêmica para Leishmaniose pelo Ministério da
Saúde, no ano de 2007 a secretária de saúde do estado emitiu alerta devido aos casos de
leishmaniose humana que haviam sido registrados naquele ano. Durante muito tempo se
reproduziu a máxima de que os casos de Leishmaniose ocorriam apenas em localidades rurais,
entretanto o animal do presente relato assim como outros casos evidenciados por diversas
pesquisas residiam em zona urbana.
No caso deste relato o animal tinha acesso à rua e residia próximo a área de mata, essas
circunstâncias aumentaram o risco de infecção, pois a transmissão ocorre por meio da picada
do flebotomíneo que é atraído principalmente por ambientes onde se encontra matéria orgânica
(WERNECK et al., 2002), em 2017 o escrito regional de saúde de sinop, realizou um estudo
que consistia num levantamento sorológico de Leishmaniose canina nos 5 municípios
pertencentes a regional de Sinop, neste estudo foi descrito a captura da espécie Lutzomyia cruzi
em Sinop (THIES, 2018).
O paciente deste relato apresentou sintomatologia clínica com lesões cutâneas como
alopecia periocular, em ponta de orelha, onicogrifose, e emagrecimento progressivo mesmo
com aumento de apetite, os sinais clínicos eram compatíveis com os descritos por Langoni
(2018) como característicos da leishmaniose, desta forma a presença desta sintomatologia era
um forte indicio de que o mesmo havia sido acometido por leshimania, entretanto por se tratar
de uma enfermidade complexa, cujo diagnostico positivo deve ser informado as autoridades
sanitárias do município, foram realizados dois exames para a confirmação.
Para determinação dos exames a ser realizados, se levou em consideração a
recomendação do ministério da saúde, assim como estudos que têm referido que os testes
imunológicos são os mais sensíveis e seguros para o diagnóstico do que os parasitológicos
(LANGONI, 2018).
A amostra de sangue coletada do animal foi submetida a princípio ao teste rápido Dual
Path Plataform (DPP®) sendo o resultado positivo, entretanto mesmo este sendo o teste
recomendado pelo Ministério da saúde diversos estudos questionam a sensibilidade do DPP
29

para utilização em diagnostico de Leishmaniose sendo o mais recente encontrado o estudo


realizado por um grupo de pesquisadores da UFLA em 2018 cujo os resultados mostraram que
mais de 25% dos cães soronegativos estão, na realidade, infectados e que os testes sorológicos
como o Dual Path Plataform (DPP®) (aquele usado pelos agentes nas visitas domiciliares)
apresentaram resultados insatisfatórios de sensibilidade nos cães sem sinais clínicos, para serem
enquadrados como testes de triagem. Isso significa que, de acordo com a pesquisa, muitos cães
que recebem o resultado negativo, na verdade, podem estar infectados. Sendo, dessa forma,
importante o acompanhamento permanente do animal por um médico veterinário e, se possível,
a realização de outros exames mais sensíveis (Trecho retirado de reportagem disponível no site
da UFLA).
Quanto a técnicas confirmatórias tanto o RIFI como ELISA são técnicas sorológicas
recomendadas pelo ministério da saúde para o estudo da soroprevalência em inquéritos
amostrais e censitários em cães, Langoni (2018) ressalta que as amostras reagentes ao teste de
ELISA devem ser confirmadas pela RIFI para maior confiabilidade dos resultados, Faria e
Andrade (2012) ressaltam que associação de RIFI e Elisa elevam a confiabilidade dos
resultados em até 60%.
O município de Sinop na ocasião infelizmente não contava com laboratório que realize
o RIFI, e na ocasião não foi de interesse do proprietário o envio da amostra para outra
localidade, sendo assim o resultado positivo do teste rápido Dual Path Plataform (DPP®) e
posterior resultado reagente no teste ELISA, associados a presença de sintomas clinicas foram
utilizados para conclusão do diagnostico como positivo para Leishmaniose Visceral canina.
A bioquímica renal (creatinina) deste animal se encontrava abaixo dos valores de
referência, porém, não foi realizado exame de urina. A urinálise e o exame de imagem são
importantes para identificação de alterações estruturais renais, assim como as enzimas urinárias,
que indicam lesão renal (FEITOSA, 2000).
Ciente dos resultados, e das controvérsias relacionadas ao tratamento da leishmaniose a
discussão do caso com o proprietário tratou das possibilidades de tratamento, entretanto foi
esclarecido ao tutor que no Brasil não se recomenda o tratamento dos cães e de outros animais
suscetíveis com leishmaniose, e que mesmo com o precedente jurídico após a decisão do STF
de 2013 o recomendado pelo ministério da saúde permanece sendo a eutanásia, salientando que
a recomendação se deve aos riscos para a saúde pública em decorrência da manutenção do
reservatório da doença, visto que não está comprovada a cura parasitológica em todos os
animais experimentalmente tratados. Com efeito, os animais infectados permanecem como
30

fontes de infecção para os flebotomíneos transmissores perpetuando o ciclo de transmissão da


doença (LANGONI, 2018).
Caso o proprietário se decidi – se pela opção de tratamento foi informado ao mesmo que
a portaria interministerial nº 1.426 de 2008 proíbe a utilização de fármacos de uso humano não
registrados no ministério da agricultura, pecuária e abastecimento (MAPA), tal proibição reduz
consideravelmente o número de fármacos disponíveis, a proibição se deve dentre outros fatores
ao risco de aumento da pressão de seleção para parasitas resistentes aos fármacos utilizados
para tratamento humano (LANGONI, 2018). Caso o mesmo opta – se pelo tratamento a
veterinária havia receitado o seguinte protocolo terapêutico: miltefosina (2 mg/kg, SID, por 28
dias) associado ao anti-emético ondansetrona (1 mg/kg, BID) em caso de vômitos.
A miltefosina reduz a carga parasitária diminuindo o potencial de infecção, porém o
animal continua sendo um reservatório da doença e isso não impede que os sinais clínicos
retornem após o tratamento (BANETH & SHAW, 2002). Devido a este fator foi recomendado
ainda a utilização de coleira inseticida.
Ao ser informado do que consistia o tratamento do animal, e de que o mesmo deveria
ser acompanhado por um profissional veterinário e pelo serviço sanitário municipal o
proprietário optou pela eutanásia, como dito anteriormente no relato do caso o proprietário
possuía outro animal que coabitava o espaço, como forma de prevenção foram realizados testes
sorológicos deste animal e diante do resultado negativo foi utilizada a vacina disponível no
mercado (Leish-Tec®), além de orientações para que seja vedado ao animal o acesso à rua e se
possível a utilização de coleira inseticida haja a visto a proximidade da residência com uma
área de mata.

2.3 SAÚDE PÚBLICA SITUAÇÃO DA LEISHMANIOSE HUMANA EM MT


Como descrito anteriormente um dos maiores problemas da Leishmaniose é o risco a
saúde pública, a leishmaniose é uma das principais antropozoonoses conhecidas.
A infecção humana pode se manifestar na forma cutânea ou visceral, sendo que a
apresentação visceral pode levar ao óbito. Em ambas as apresentações o tratamento é longo e
complexo.
Quanto a ocorrência da enfermidade segundo Ferreira (2011) até a década de 1990, mais
de 90% dos casos de LV se concentravam na região Nordeste, porém atualmente este percentual
foi reduzido para 56% devido à expansão da doença para outras regiões. No período de 2001
a 2007 foram registrados 22.971 casos no Brasil e a letalidade variou de 3,2% em 2000 a 5,3%
em 2007. A região Sudeste concentrou 19% dos casos, a Norte, 18% e a Centro-Oeste, 7%.
31

Segundo o Ministério da Saúde, em 18 anos de notificação (1984 até 2002), 48.455


casos foram registrados, sendo destes, 66% na Bahia, Ceará, Maranhão e Piauí. De 1966 até
2006, os registros anuais médios foram de 3.156 casos, sendo, só em 2006, 3.433 casos
registrados de leishmaniose visceral (BRASIL, 2006). Durante as décadas de 80 e 90 a
ocorrência da doença era mais comum em regiões de clima seco e precipitação pluviométrica
anual inferior a 800 mm, bem como áreas que possuíam vales e montanhas, e faixas litorâneas
do Nordeste, por isso o vetor Lutzomyia longipalpis, também é conhecido como “sandfly”
(mosca da areia), (CIARAMELLA; CORONA, 2003).
A Leishmaniose tegumentar apresenta um maior número de casos, só em 2017 em todo
Brasil foram registrados 17.538 casos novos, destes 4.700 casos foram diagnosticados na região
centro – oeste do País.
Gráfico 2: Casos de Leishmaniose tegumentar por regiões brasileiras 2010 a 2017

Fonte: Relatório do Ministério da Saúde do ano de 2017


Em 2007, 20 das unidades federadas registraram casos autóctones (BRASIL, 2009). A
doença em humanos é mais frequente entre crianças até dez anos (54,4%), 41% dos casos
registrados em menores de cinco anos. As crianças são mais afetadas pela imaturidade de seu
sistema imunológico, que fica mais susceptível. Em Mato Grosso, 37 dos 141 municípios
(26,2%) tiveram registro de casos de LV no período de 1998 a 2008, acumulando um total de
239 casos autóctones (BRASIL, 2018).
32

Em 2003 foram notificados 3.859 casos de leishmaniose tegumentar, distribuídos em


93% dos municípios de MT, representando o segundo maior registro de casos do país. A
incidência foi de 145 casos/100 mil hab., apresentando um dos melhores indicadores de cura
clínica – 80%.

Gráfico 3: Casos de LT e LV no estado de MT de 1994 -2003

Fonte: SES, 2010


Quanto à leishmaniose visceral, foram registrados 11 casos distribuídos em 8
municípios. Apresenta alta letalidade (27%) e uma incidência de 0,4 casos/100 mil hab.
Segundo a secretária de saúde do estado de MT entre os anos de 2014 a 2018 o estado
de MT registrou 97 casos de Leishmaniose Visceral, o gráfico abaixo demonstra a distribuição
dos casos no período.
Gráfico 4: Registro de casos notificados de Leishmaniose Visceral no estado de MT 2014 a 2018.

Casos de Leishmaniose Visceral


60
56
50

40

30
23
20
14
10

1 3
0
2014 2015 2016 2017 2018

Casos de Leishmaniose Visceral

Fonte: Elaborado pelo autor (dados do SINAN)


33

Atualmente, sabe-se que o ambiente ideal para o desenvolvimento dessa doença, são
regiões com baixo nível socioeconômico, com acentuada pobreza e promiscuidade, situações
comuns em áreas rurais, principalmente no Sudeste e Centro-oeste, onde a doença já está
urbanizada.
Em relação aos casos de Leishmaniose Tegumentar, nos últimos anos o número de
notificações vêm se mantendo abaixo dos registros realizados em 2003, entretanto segundo a
secretária de saúde do estado, o número ainda é expressivo, necessitando – se de intensificação
das medidas de prevenção.
Gráfico 5: Registro de casos notificados de Leishmaniose Tegumentar no estado de MT 2016 a 2018.

Casos de Leishmaniose Tegumentar


2500
2320
2000 1958

1500

1000

500

0 59
2016 2017 2018

Casos de Leishmaniose Tegumentar

Fonte: Elaborado pelo autor (dados do SINAN)


Pesquisas entomológicas realizadas pela secretária de saúde do estado no ano de 2016-
2017 em 60 municípios demonstraram a presença do vetor Lutzomyia cruzi em 30% dos
municípios e nos demais houve simpatria entre as duas espécies (Lutzomyia longipalpis e
Lutzomyia cruzi).
Em 2018 segundo a secretária de saúde de MT foram testados mais de 5 mil cães, destes
1,3 mil ou seja 28% foram positivos para Leishmaniose, segundo Langoni (2018) a ocorrência
de casos em cães precede o surgimento de casos humanos, como demonstrado no presente
trabalho no ano de 2018 ao menos dois cães do município de Sinop apresentaram sorologia
positiva para Leishmania spp. A presença de cães positivos e a ocorrência do vetor são fatores
que sugerem que neste período o município poderia ter registro de casos humanos, a consulta
ao sistema nacional de agravos de notificação apresentou os seguintes dados do município:
34

Tabela 6: Casos notificados de LT e LV no município de Sinop 2016 a 2018.


Ano de notificação Casos notificados de LT Casos notificados de LV
2016 129 1
2017 127 0
2018 117 0
Fonte: Elaborado pelo autor (dados SINAN)
O sistema de notificação permite que o profissional de saúde de acordo com o curso
epidemiológico da infecção, indique o possível município de infecção, quando realizamos a
pesquisa pelo município de infecção os dados apresentados foram os seguintes:
Tabela 7: Casos notificados de infecção por LT e LV no município de Sinop de 2016 a 2018
Ano de notificação Casos notificados de LT Casos notificados de LV
2016 91 1
2017 86 0
2018 72 0
Fonte: Elaborado pelo autor (dados SINAN)
Mesmo diante deste quadro de notificações da doença ao longo dos anos o município
de Sinop não possuí um centro de controle de zoonoses, o estado de MT possuí apenas três
centros localizados nos municípios de: Várzea Grande, Cuiabá e Rondonópolis.

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