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Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3

Cadernos PDE

I
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

UNESPAR -UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ


CAMPUS DE PARANAVAÍ

ÁREA PDE: História

Nome do professor PDE: Milton Assis Leão

Professor Orientador: Dr. Ricardo Tadeu Caires Silva

CIANORTE

2014/2015
AS REVOLTAS POPULARES NA PRIMEIRA REPÚBLICA (1889-1930):
EXCLUSÃO, CIDADANIA E RESISTÊNCIA

Milton Assis Leão1


Prof. Dr. Ricardo Tadeu Caires Silva2

RESUMO: Este texto tem por objetivo problematizar a exclusão social e o


exercício da cidadania no contexto da Primeira República no Brasil (1889-1930).
A partir de 1889, com a mudança de regime político no país, deixando para trás
séculos vividos sob a égide da monarquia, acenderam-se as esperanças de
transformações sociais capazes de estender a cidadania plena ao conjunto da
população brasileira, sobretudos aos membros das classes populares, entre os
quais figuravam os ex-escravos. Entretanto, as reformas empreendidas pelos
governantes da República Velha se revestiram de características autoritárias,
que visavam o controle e a subordinação da população aos ditames do
progresso e da civilização. Esta, por sua vez, reagiu a estas imposições, através
de protestos e revoltas, as quais ocorreram tanto no campo como nas cidades,
a exemplo dos movimentos sociais de Canudos (1896-1897) e Contestado
(1912-1916) e das revoltas da Vacina (1904) e da Chibata (1910). As lutas
populares do período demonstram que as classes oprimidas possuíam
consciência política para reivindicar a construção de uma nação em que seus
anseios e valores fossem levados em conta. O estudo fundamentou-se nas
concepções teóricas do historiador marxista britânico E.P. Thompson,
especialmente nos conceitos de experiência e classe social. Após a realização
da revisão da historiografia pertinente ao tema, procedeu-se à elaboração e
posterior implantação de uma unidade didática, a qual foi aplicada aos alunos da
turma do 9° ano C de História do Ensino Fundamental, do Colégio Estadual
Primo Manfrinato, na cidade de Cianorte-Pr.

Palavras-chave: Revoltas populares; exclusão; cidadania; Primeira República;


História Cultural.

1 Professor de História da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná, na cidade de Cianorte-


Pr.
2 Doutor em História pela UFPR e professor do Colegiado de História da UNESPAR –Campus

Paranavaí- PR.
Introdução

Este artigo é resultado das pesquisas desenvolvidas durante as atividades


do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), promovido pelo governo
do Estado do Paraná em parceria com as instituições públicas de Ensino
Superior do Estado. A temática escolhida para o estudo foi a dos movimentos
sociais no início da Primeira Republica ou República Velha (1889-1930), em
especial as revoltas populares ocorridas em reação às transformações
patrocinadas pelo novo regime.
Com a queda da monarquia e a proclamação da república houve uma
grande expectativa por parte da população, sobretudo das classes populares,
com a chegada de reformas sociais capazes de alterar o secular quadro de
exclusão social. Isto porque o regime republicano carregava em si o discurso da
modernidade e do progresso, tido como a solução para todos os problemas
enfrentados pelo país. Contudo, apesar dos benefícios da urbanização das
grandes cidades, houve uma série de problemas relacionados com as políticas
sociais que se queria implantar. Analisando as transformações do período, José
Geraldo Moraes (1994) aponta que

apesar de toda essa expansão e evolução, o crescimento urbano


foi repleto de contradições, apresentando um lado perverso e
caótico. O incessante processo de crescimento urbano gerou
uma série interminável de graves problemas, sofridos,
geralmente, pelas populações mais pobres. O incontrolável
crescimento das populações, a falta de moradia, os problemas
com o abastecimento de alimentos e de água, a insalubridade
geradora de doenças e epidemias, o subemprego ou
desemprego, a violência e a mendicância, também foram partes
constitutivas do quadro urbano. (MORAES:1994, p.14-15).

Assim, devido ao rápido crescimento das cidades e a falta de


planejamento, tornou-se incapaz acompanhar as estruturas e os serviços das
cidades brasileiras. No que se refere ao Rio de Janeiro, que já vinha sofrendo
com aumento populacional devido à abolição da escravidão em 1888, com o
êxodo rural e além do crescimento industrial, os problemas se agravaram ainda
mais.
Ao optamos por abordar os problemas sociais e as revoltas populares na
Primeira República objetivamos demonstrar aos alunos que muitos dos
problemas vistos hoje nas favelas do Rio de janeiro e em outras grandes cidades
brasileiras tiveram sua origem na organização política e social do país. Neste
sentido, um maior conhecimento histórico sobre o assunto pode contribuir para
que estes percebam as contradições sociais, políticas e econômicas, presentes
nas estruturas da sociedade contemporânea e propiciem compreender a
produção cientifica, a reflexão filosófica, a criação artística, nos contextos em
que elas se constituem. (PARANÁ: 2008, p. 14).
Não menos importante é o fato de que há uma dificuldade em fazer com
que os alunos percebam como se desencadeiam os problemas sociais, políticos,
econômicos e históricos inseridos na sociedade a qual também estão inseridos.
Nesse sentido, Schmidt e Cainelli (2009) enfatizam que

ensinar história hoje pressupõe ter o tempo como significante


para que o sujeito, a partir de temporalidades diversas, possa
perceber que aprender história é reconhecer em outros tempos
e sujeitos e experiências, valores e práticas sociais,
principalmente a proporcionar ao aluno reconhecer-se enquanto
sujeito do seu tempo e conseguir que ele reconheça outros
sujeitos em tempos diversos. (SCHMIDT e CAINELLI 2009, p.
106).

Para compreendermos as revoltas populares na Primeira República


realizamos uma revisão da literatura historiográfica afeta às primeiras décadas
do século XX. A partir destas leituras, elaborarmos como questão central a
seguinte pergunta: por que, com o fim da escravidão e a proclamação da
república, o povo brasileiro não adquiriu a cidadania plena? (CARVALHO:1990).
Por que a tão pregada modernidade aumentou a exclusão social das camadas
populares? E estas, como reagiram às mudanças pretendidas pelo novo regime?
Como referencial teórico para nortear as respostas a estas e outras
questões, recorremos às ideias do historiador marxista britânico E. P. Thompson,
sobretudo no que se refere aos conceitos de classe, experiência e formação. No
entendimento de Thompson, “classe” é uma categoria histórica, ou seja, deriva
de processos sociais através do tempo; é processo e relação. Nesse sentido, a
dimensão do conflito, bem como a da dominação que lhe explica, são elementos
que não se pode expurgar para se chegar à consciência:

Para dizê-lo com todas as letras: as classes não existem como


entidades separadas que olham ao seu redor, acham um inimigo
de classe e partem para a batalha. Ao contrário, para mim, as
pessoas se vêem numa sociedade estruturada de certo modo
(por meio de relações de produção fundamentalmente),
suportam a exploração (ou buscam manter poder sobre os que
as exploram), identificam os nós dos interesses antagônicos, se
batem em torno desses mesmos nós e no curso de tal processo
de luta descobrem a si mesmas como uma classe, vindo pois a
fazer a descoberta de sua consciência de classe. Classe e
consciência de classe são sempre o último e não o primeiro
degrau de um processo histórico real. (THOMPSON: 2001,
p.274).

Já o conceito de experiência aparece na obra de Thompson como o


agente formador das classes sociais, pois para o mesmo a classe é um
fenômeno histórico composto por uma multidão de experiências em relação
umas com as outras num constante fazer-se (THOMPSON: 1987, p.11). Assim,
a classe se delineia segundo o modo como homens e mulheres vivem suas
relações de produção e segundo a experiência de suas situações determinadas,
no interior de “um conjunto de relações sociais”, com a cultura e as expectativas
a elas transmitidas e com base no modo através do qual valeram dessas
experiências em nível cultural (THOMPSON, 2001, p.102-103).
Em suma, acreditamos que analisar criticamente o contexto social da
Primeira República possibilitará o entendimento de diversas questões que, ainda
hoje, afligem grandes contingentes da população brasileira. Como nos lembra a
historiadora Maria de Lourdes M. Janotti,

o perigo de ignorar o passado público pode acarretar a perda da


visão dialética da História e da vontade política que leva à crítica
e à construção de projetos futuros. (...). Talvez muito da
indiferença que se nota atualmente pela vida política do nosso
país esteja relacionada ao desprezo do passado de nossa vida
pública institucional, obscurecido pela prioridade da atualidade
cotidiana. Sem um conhecimento sólido do passado, voltado
para a ação e participação democráticas, somos levados à
ignorância e à omissão que permitem total liberdade aos
detentores do poder. (JANOTTI:1997, p.43-52).
Assim, para resgatar e problematizar esse passado, acreditamos ser
fundamental conhecermos o que nos diz a historiografia.

História e historiografia das revoltas populares da Primeira


República

Os movimentos sociais ocorridos na Primeira República já foram objeto


de diversos trabalhos, dentre os quais destacamos as obras de CARVALHO
(1987); JANOTTI (1986); (CHALHOUB (1989); SEVCENKO (2001); MELLO
(2007); NASCIMENTO (2008). De um modo geral, estes trabalhos procurar
problematizar os primeiros passos do novo regime no que concerne à
implantação de políticas públicas e reformas sociais e sua recepção por parte
das camadas populares.
Em Os Bestializados (1987), o historiador José Murilo de Carvalho faz
uma análise magistral da transição da monarquia para a república. Ele
demonstra que o povo nutria expectativas de que o novo regime viesse a alterar
as antigas relações de poder da sociedade escravista recém- extinta. Contudo,
o que se viu foi que passado o momento inicial de esperança de expansão
democrática, a República consolidou-se sobre um mínimo de participação
eleitoral, e, sobretudo, a partir da exclusão do envolvimento popular no governo
(1987: p.162).
Analisando especificamente o episódio da Revolta da Vacina, o
historiador Nicolau Sevcenko (2001) defende que esta se caracterizou como
uma das manifestações mais violentas ocorridas no Rio de Janeiro no início do
século XX. Transcorrida num momento decisivo de transformação da sociedade
brasileira, a revolta se constituíra numa demonstração de grande resistência dos
grupos populares do país contra a exploração, a discriminação e o tratamento
espúrio a que eram submetidos pela administração pública.
Para Sevcenko, a reação da população carioca não foi apenas contra a
vacina, e sim contra a história, uma história que lutariam para mudar, pois

o estilo da repressão assinalado na Revolta da Vacina era


indicativo ainda de outros elementos discriminatórios e brutais,
ligados à polícia de contenção e controle das camadas humildes,
o aprisionamento arbitrário nas cidades, a humilhação pelo
desnudamento à fustigação cruenta revela um comportamento
sistemático e não casual da autoridade pública. (SEVCENKO:
1993, p. 80).

Outro importante estudo sobre o período em questão é o livro Cidade


Febril (1996), de Sidney Chalhoub. Nesta obra, Chalhoub faz uma instigante
análise da reorganização da sociedade carioca nos primórdios do regime
republicano, destacando a “modernização sem mudanças” engendrada pelo
poder público e balizada pelas teorias higienistas bem como a “resposta popular”
legitimada por um uma cultura de valores ligados à religiosidade afro-brasileira.
Analisando a vida nos cortiços e as epidemias que atingiam a corte imperial, o
autor demonstra como a implementação das políticas públicas de vacinação na
capital fluminense despertou a resistência das camadas populares contra a
imposição de novos valores e uma visão de mundo e sociedade em que não
acreditavam nem se sentiam parte.
Mais recentemente, no livro A República Consentida (2007), Maria Tereza
Chaves de Mello se propõe a problematizar o rótulo de “bestializado” dado por
Aristides Lobo ao comentar a recepção do povo à proclamação da república. Ou
seja, ela questiona a tradicional visão segundo a qual as camadas populares não
desejavam a queda da monarquia e a chegada de um novo regime. Ao invés
disso, destaca a construção de um consenso em torno da ideia republicana. Ou
seja, a partir da década de 1880 emerge um cenário onde a participação política
é ampliada e “ideias novas” passam a conformar os corações e mentes das
camadas populares que, então, passam a aquiescer ou consentir o advento da
república.
A partir da leitura críticas desta e de outras importantes obras, demos
início à elaboração de uma unidade didática sobre o tema com o intuito de
problematizar a exclusão e o exercício da cidadania na Primeira República, como
veremos a seguir.
Unidade didática: elaboração, aplicação e resultados

Após realizarmos as leituras e fichamentos da literatura pertinente ao


tema, procuramos iniciar a construção da Unidade Didática a ser aplicada no
Colégio Estadual Primo Manfrinato, na cidade de Cianorte-Pr, junto aos alunos
da turma do 9° ano C de História do Ensino Fundamental.
Ao eleger a temática dos movimentos sociais na Primeira República
(1889-1930) buscamos atender o disposto nas Diretrizes Curriculares da
Educação Básica de História para o Ensino Fundamental, ao defender a
articulação dos conteúdos básicos e específicos a partir das histórias locais e do
Brasil e suas relações ou analogias com a História Geral. (Diretrizes Curriculares
de História do estado do Paraná, 2008: p.74).
Tomamos como ponto de partida o Livro Didático Público de História
[vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006], especialmente a Unidade Temática
IV: Movimentos sociais, políticos e culturais: relações de dominação e
resistência”, onde são abordados, em 05 sub-unidades, as “Relações Culturais”
desde o mundo antigo até a contemporaneidade.
Buscamos abordar a temática escolhida a partir da análise de diferentes
fontes documentais – documentos manuscritos, impressos, imagéticos e
audiovisuais, nas quais as experiências das classes populares sejam
evidenciadas de forma a destacá-los como sujeitos ativos do processo histórico.
Neste sentido, “a intenção do trabalho com documentos em sala de aula foi de
desenvolver a autonomia intelectual adequada, que permite ao aluno realizar
análises críticas da sociedade por meio de uma consciência histórica”
(Bittencourt, 2004; Cainelli; Schmidt: 2009). Dessa forma, as 32 aulas da unidade
foram distribuídas em 16 encontros, nos quais foram trabalhados os seguintes
tópicos:

1) Da monarquia à República o que mudou?;


2) A República e o discurso do progresso;
3) As revoltas populares na República Velha: Canudos; Contestado; A
Revolta da Vacina; Revolta da Chibata;
4) Exclusão e cidadania no Brasil: um longo caminho.
No primeiro encontro, fizemos uma sondagem acerca dos conhecimentos
prévios dos alunos sobre o tema. Usamos como mote o questionamento do
significado da palavra cidadania e o que significa ser cidadão nos dias de hoje.
A partir das respostas dos mesmos e das reflexões advindas com os
questionamentos e pontos de vista apresentados continuamos a refletir sobre os
primórdios da implantação da República no Brasil, destacando as condições
excludentes que se encontravam a maioria dos indivíduos. Em seguida, as aulas
foram planejadas e preparadas com o uso de fontes variadas, nas quais foram
inseridas diversas fontes históricas, tais como textos impressos, letras de
música, filmes, documentos de época, etc.
Obedecendo a sequência didática previamente planejada, trabalhamos o
texto: “Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1889”. Nessa atividade, os alunos
refletiram o porquê da reação apática do povo em relação a um acontecimento
tão importante na época (a proclamação da República) ao debaterem em sala
de aula a passagem em que um coevo afirma que: “o povo assistiu àquilo
bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava”. Na mediação
do debate, procuramos estabelecer a relação de passado e presente, ampliando
o entendimento do conceito de cidadania, refletindo sobre os problemas sociais,
tais como respeito às diversidades, as questões de preconceito e inclusão social.
Em seguida, em “Da Monarquia à República”, aprofundamos a discussão
acerca das diferenças entre os dois regimes políticos. Iniciamos o estudo
relembrando as características do regime anterior, ou seja, a monarquia. Aqui,
estimulamos os alunos a realizarem uma pesquisa para desvelar as principais
características do regime monárquico, com ênfase na monarquia brasileira. A
partir desses conhecimentos os alunos aprofundaram o tema, orientados pelo
professor com a seguinte questão: nos dias de hoje ainda temos países que são
governados por reis e rainhas, ou seja, seguem o regime monárquico?
Em seguida, foi apresentado o seguinte questionamento: “O que fez com
que a monarquia perdesse força e desse lugar à República?” Com auxílio dos
textos do material didático, os alunos tiveram condições de fazer uma reflexão,
e, dispostos em círculo, apresentaram algumas das causas da crise da
monarquia. Dentre elas foram citadas: a questão militar; a guerra do Paraguai
(1864-1869); a questão religiosa; e a abolição da escravidão. Vale ressaltar, que
foi feito um resgate histórico dessas causas, uma vez que fazem parte do
conteúdo do Plano de Trabalho Docente.
Aprofundando a reflexão sobre o assunto, destacamos os vários
interesses e expectativas em torno do novo regime, do qual se esperava
reformas sociais capazes de alterar os aspectos negativos do regime
monárquico. Com o objetivo de relacionar o novo regime com a monarquia, foi
apresentado aos estudantes o seguinte questionamento: “O que mudou com a
República?”.
Ao trabalharmos esse tópico, fizemos uso da análise de textos sobre o
período. Os alunos demonstraram alguma dificuldade na interpretação dos
mesmos, mas com a orientação e intervenção pedagógica do professor,
conseguiram contextualizar o assunto, descrevendo as mudanças obtidas
naquela época: criação de uma nova bandeira e uma nova constituição; adoção
do federalismo e o direito à liberdade religiosa, o casamento civil e o direito de
voto para os indivíduos alfabetizados maiores de 21 anos.
Em seguida, os alunos realizaram uma pesquisa no laboratório de
informática em busca de informações sobre a trajetória de cada um dos
presidentes da Primeira República. Em seguida, organizados em grupos,
expuseram os dados coletados para o restante da turma. Cada grupo interagiu
de maneira diferente, confrontando suas ideias com as demais apresentadas, o
que contribuiu para o enriquecimento do estudo. Um dos pontos positivos dessa
experiência foi que os alunos compreenderam que os líderes do novo regime
não apresentaram um projeto político que incluíssem as classes menos
favorecidas - o que gerou um grande descontentamento social que desdobrou
em revoltas populares e até em guerras.
Com o estudo das revoltas, os alunos perceberem os contrastes entre
pobres e ricos na primeira fase do regime republicano. A Revolta de Canudos é
um exemplo demonstrativo de que a implantação do novo regime não foi fácil.
Ao estudarem essa revolta os alunos começaram a perceber que nem todas as
classes sociais apoiavam o novo sistema de governo, e que havia grandes
divergências entre os apoiadores da República. Um exemplo desse
descontentamento era o povo sertanejo, que viviam em condições precárias,
isolados e com poucas opções de trabalho, a qual grande parte morava e
trabalhava nas terras dos coronéis.
Nesse momento, foi relevante a interação dos alunos com material
didático elaborado, pois os alunos estudaram os elementos estruturais que
compunham esse cenário da região do sertão do país, marcado por violência e
exclusão social. Assim, trabalhamos conceitos como coronelismo e
messianismo, proporcionando aos alunos contextualizarem e interpretarem os
fatos que levaram à Guerra de Canudos na Primeira República.
Na sequência foi realizada a leitura do trecho retirado do livro Os sertões,
de Euclides da Cunha, onde o autor relata características do homem do sertão.
Em seguida os alunos fizeram um comparativo do texto com imagens do
sertanejo da época e elaboraram um relato destacando as características do
homem de Canudos. Após a atividade, sentamos em semicírculo e debatemos
as semelhanças/diferenças das imagens com os atributos físicos que o autor
narrou no texto.
Por fim, assistimos ao filme, A guerra de Canudos, a qual os alunos
puderam contextualizar o conteúdo, visualizando os aspectos e condições
geográficas da região, bem como as condições socioeconômicas que viviam os
moradores do povoado de Canudos. Após a assistência do filme, os alunos
expuseram suas opiniões e em seguida responderam às questões constante do
roteiro previamente elaborado.
Na sequência didática, o tema debatido foi uma revolta urbana ocorrida
no início da República, denominada A Revolta da Vacina. Este episódio, ocorrido
em 1904 no Rio de Janeiro, situa-se no contexto da reforma urbana empreendida
pelo governo de Pereira Passos, que tinha o intuito de remodelar o centro da
capital brasileira, adequando-a ao arquétipo das cidades europeias. Assim, em
meio à derrubada dos casebres do centro, é iniciada uma campanha higienista
com o intuito de eliminar as doenças tropicais. Para tanto, empreendeu-se uma
agressiva campanha de vacinação da população, que reagiu ao que considerava
uma invasão de sua privacidade. Nesse contexto eclode a revolta popular.
Para iniciarmos o estudo deste conteúdo, selecionamos uma frase do
presidente Washington Luís (“Questão social é caso de polícia”), para análise
dos alunos. Novamente, a discussão ocorreu em semicírculo, onde os alunos
puderam expressar suas opiniões sobre a frase. Depois da análise, os alunos
conseguiram entender que o governo não tinha preocupação social nenhuma, o
governo deixou claro que se houvesse uma revolta as autoridades iriam usar a
violência e não atenderia as reinvindicações do povo que lutava pelos seus
direitos, pois havia um sentimento desgoverno no país. Nesse sentido, essa e
outras revoltas ocorreram em uma época em que o poder estava nas mãos dos
coronéis. Assim, os alunos concluíram que onde não há governo representando
o povo, há forte possibilidade da ocorrência de protestos e revoltas.
Visando aprofundar os acontecimentos relacionados à Revolta da Vacina,
propusemos à turma a interpretação de uma charge. Na leitura desta fonte,
propusemos o seguinte roteiro: Que tipo de crítica à charge contém? Os detalhes
apresentados? A autoria? A data? O que mais lhe chamou a atenção?
Superando as dificuldades iniciais, os alunos entenderam a mensagem central
da charge, a qual se referia a Lei da Vacinação obrigatória. Na atividade seguinte
os alunos foram levados à sala de vídeo para assistirem a trechos previamente
selecionados e editados do filme “Sonhos Tropicais”. Após a sessão, foi
realizado um debate com as seguintes questões: Quais as doenças abordadas
no filme? Quem foi Oswaldo Cruz? Como o governo agiu diante das epidemias?
No que se refere à vacina, de que forma elas eram disponibilizadas para a
população? Como a população reagiu diante das medidas tomadas pelo prefeito
Pereira Passos e do sanitarista Oswaldo Cruz? Ao final do estudo do tema, os
alunos também concluíram que Revolta da Vacina possuía vínculos com os
demais movimentos ocorridos na época, em especial a exclusão social, a fome,
e as péssimas condições de moradia e trabalho em que vivia a população pobre
do país.
Outro movimento social estudado foi a Revolta da Chibata (1910).
Iniciamos a abordagem com a exibição de um documentário relacionado ao
tema. No primeiro momento trabalhamos a revolta, expondo oralmente o
contexto do movimento. E, para promover uma participação coletiva, em grupos,
elaboramos uma exposição do assunto, onde relataram a reação dos marujos
referentes aos maus-tratos e castigos físicos que sofriam dos oficiais. Em
seguida, o momento foi dedicado à análise da carta ultimato dos marujos e a
letra da música O Mestre sala dos mares, composta por João Bosco e Adir Blanc
em homenagem à Revolta da Chibata. Essa análise ocorreu com as seguintes
questões: quais são os termos relacionados à política que aparecem nos
documentos? Quais as reivindicações dos marinheiros exigidas do então
Presidente da República? São reivindicações políticas? Por quê? No contexto
atual a sociedade faz suas reivindicações diretamente com os governantes,
como os marinheiros fizeram? Quais são os direitos que exigimos atualmente
das autoridades para que alcancemos a cidadania que queremos? As questões
geraram grande interesse dos alunos, havendo uma interação da maioria e as
opiniões se mostraram bastante diversificadas, contribuindo para aprofundar a
reflexão do tema.
Por fim, realizamos o estudo da Guerra do Contestado (1912-1816),
conflito ocorrido na fronteira dos estados do Paraná e Santa Catarina. Observou-
se na exposição do assunto que parte dos alunos apresentaram dificuldades de
compreensão do conteúdo. Por isso, recorremos ao uso de mapas e de outras
fontes históricas como a fotografia para que estes se interessassem em estudar
o conflito. Também selecionamos trechos de documentários sobre a Guerra de
modo a apresentar os protagonistas e fatos principais. Dessa forma, as
dificuldades foram superadas e a turma demonstrou uma boa compreensão do
assunto.
Por fim, com vistas a relacionar criticamente os conteúdos trabalhados no
decorrer da unidade didática, realizamos uma revisão geral do que foi
trabalhado. Assim, com o auxílio de slides exibidos no power point, retomamos
algumas reflexões sobre os movimentos sociais ocorridos na República Velha
de modo a destacar os problemas sociais vigentes à época, tais como: a crise
econômica e social que atingia todo país; o desemprego, os desmandos dos
coronéis que explorava o povo; as disputas por terras; e o fenômeno religioso
como o messianismo presente em Canudos e também no Contestado. Tal
estratégia serviu para que os alunos trouxessem para o presente algumas das
reflexões e apontassem os principais problemas sociais vivenciados nos dias de
hoje, tais como a violência, a desigualdade social e a corrupção. Por isso, para
nós, o mais importante na realização dessa atividade foi a relação que os alunos
fizeram entre o passado e o presente e a percepção da continuidade dos
problemas da época que ainda permanecem nos dias atuais.
Considerações Finais

Após século vivendo no regime monárquico, a sociedade brasileira optou


por vivenciar a experiência republicana. É certo que nem todos concordaram ou
participaram da troca de regime político, mas também é verdadeiro afirmar que
a maior parte da população pobre e os egressos da escravidão depositaram
esperanças de dias melhores.
Contudo, o descontentamento com a República que se instaurava foi
generalizado, abarcando tanto as áreas rurais com as áreas urbanas,
principalmente as grandes cidades. Prova disso foram as constantes
manifestações e revoltas ocorridas entre 1889 e 1930, a exemplo das guerras
de Canudos e Contestado e das revoltas da Vacina e da Chibata.
Estes eventos históricos demonstram que a população pobre e
marginalizada possuía consciência de classe e não assistiu “bestializada” às
reformas levadas a cabo pelo novo regime. Pelo contrário, ainda que derrotadas
em suas principais reivindicações, deram prova de que ansiavam por uma maior
participação na vida política do país e que almejam a construção de uma
sociedade efetivamente mais democrática – algo que ainda está por ser feito nos
dias de hoje.
Acreditamos que a realização das diversas atividades didáticas sobre a
temática proporcionou aos alunos uma reflexão mais aprofundada sobre os
acontecimentos históricos ocorridos na República Velha (1889-1930). Pode-se
verificar que houve avanço no aprendizado dos conteúdos, por meio resultados
obtidos no decorrer da implementação do material didático. Durante a
intervenção pedagógica, houve significativa receptividade por parte dos
estudantes quanto às atividades propostas, tais como análises, discussões,
pesquisas e registros concernentes aos movimentos (temas) estudados. Outro
aspecto interessante a ser considerado diz respeito ao fato destes perceberem
que, ao final da intervenção pedagógica, foram capazes de detectar que o estudo
de história é fundamental para entender que o presente é resultado do processo
histórico construído ao longo do tempo. Podemos afirmar que estes apropriaram-
se dos conteúdos de forma significativa, superando o que poderia ser apenas
um conhecimento superficialmente memorizado.
Agradecimentos

São várias as pessoas e instituições que colaboraram para que minha


participação nas várias atividades do Programa de Desenvolvimento
Educacional (PDE) 2014 fosse exitosa e, por isso, torna-se fundamental
agradecê-las. Primeiramente quero externar minha gratidão à minha família, que
acompanhou de perto e com paciência cada passo desse estudo, dando
sustentação e confiança em todas as fases do programa.
Agradeço de maneira especial ao meu orientador, Professor Dr. Ricardo
Tadeu Caires Silva, que através de sua experiência e competência contribuiu de
forma decisiva para a realização dessa pesquisa.
Agradeço também aos amigos e companheiros de curso (Turma 2014)
pela agradável convivência e pela oportunidade de poder compartilhar
experiências importantes ao longo desse período.
Sinceros agradecimentos também aos professores e alunos do Colégio
Estadual Primo Manfrinato, de Cianorte, que viabilizaram a realização do projeto.
Por fim, agradeço a todos os professores da Unespar - Campus de
Paranavaí, pelos cursos de qualidade que nos foram ofertados ao longo do
programa; bem como a toda a equipe da coordenação do Programa PDE, que
não mediu esforços para atender nossas demandas no decorrer da realização
das atividades e cursos de formação.

Referências

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e contra o povo. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2003.
BRAICK, Patrícia Ramos. MOTA, Myriam Becho. História Das Cavernas ao
Terceiro Milênio. Do avanço Imperialista no século XIX aos dias atuais.
Volume 3. 2ª ed. São Paulo, 2010.
CAINELLI, Marlene. SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Ensinar História. São Paulo:
Scipione, 2009.
CARONE, Edgard. A Primeira República (1889-1930): texto e contexto. São
Paulo: Difel, 1969.
CARONE, Edgard. A República Velha (instituições e classes sociais). 3.ed.
São Paulo: Difel, 1975.
CARVALHO, José Murilo de. A Formação das almas: o imaginário da
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CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados. O Rio de Janeiro e a
República que não foi. 3ª. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
CASTRO, Celso. A proclamação da República. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.
CHALHOUB, Sidney, Cidade Febril: cortiços e epidemias na corte imperial.
São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
COSTA, Emilia Viotti da. Da Monarquia à República. São Paulo: Editora da
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