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INDICE
8.1. Introdução
8.2. O que é a madeira
8.3. Higroscopicidade e teor em água
8.4. Resistência mecânica da madeira
8.5. Degradação da madeira por agentes físicos e químicos
8.6. Degradação da madeira por agentes biológicos
8.7. Conservação e protecção da madeira
8.8. Produtos derivados de madeira e suas aplicações
8 – MADEIRA
8.1. Introdução
A MADEIRA COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO - Helena Cruz, Lina Nunes, Laboratório Nacional de Engenharia Civil 1
No que respeita à durabilidade da madeira, porventura um dos aspectos que suscita maior
preocupação, a grande maioria das espécies com interesse comercial está caracterizada sob
esse ponto de vista e dispomos de conhecimento e meios para saber em que condições deve
ser aplicada e/ou de que modo podemos protegê-la por forma a prolongar a sua vida útil. Nos
últimos anos tem-se verificado uma significativa evolução quanto à filosofia de protecção da
madeira e aos métodos correntes de preservação e tratamento, no sentido de uma abordagem
menos agressiva para o ambiente e menos tóxica para o homem.
Sendo a madeira um material natural, muito haveria a dizer acerca da sua produção, biologia
da árvore ou interesse ambiental. Também em termos históricos, a utilização da madeira,
particularmente em estruturas, é rica e diversificada e mereceria ampla reflexão. Não obstante,
dados os objectivos do presente GUIA, entendeu-se cobrir neste capítulo sobretudo os
aspectos que mais directamente poderão ajudar engenheiros e arquitectos relativamente à
aplicação de madeira na construção. Mais do que dar uma perspectiva histórica da utilização
da madeira, a par de um conhecimento básico sobre o material que consideramos
imprescindível, procurou-se aqui fornecer linhas orientadoras para a selecção da madeira e
sua aplicação na construção civil, enquadradas sempre que possível pelos documentos
normativos actualmente aplicáveis.
A madeira é constituída pelas paredes rijas e resistentes das células mortas do lenho. Embora
se possa aproveitar a madeira resultante das desramas, a maioria do material lenhoso utilizado
provém do tronco da árvore. Além de constituir o suporte do organismo vegetal durante a vida
da árvore, o tronco desempenha a condução das matérias necessárias ao processo de
fotossíntese (seiva bruta) e o armazenamento de substâncias elaboradas e de água, durante os
períodos de menor actividade fisiológica ou mesmo de repouso [1].
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A madeira (ou lenho) é consequentemente constituída por pequenos elementos celulares, com
direcção predominantemente longitudinal, diferenciados segundo as funções que
desempenham. O seu conjunto e arranjo (estrutura anatómica) são característicos de cada
espécie florestal, embora variem também, em certa medida, com a idade e as condições de
crescimento (solo, clima, altitude, exploração florestal, queimadas, etc).
Resinosas e Folhosas
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Lenho de Primavera e lenho de Outono
Na maioria das árvores das zonas temperadas, verifica-se um abrandamento ou mesmo uma
paragem da formação do lenho durante o Inverno e uma retoma no início da Primavera. Esta
variação implica, a nível microscópico, diferenças de calibre das células e de espessura das
respectivas paredes, que se reflectem, a nível macroscópico, em diferenças de tonalidade,
originando uma alternância de anéis de crescimento escuros (anéis de Outono) e claros (anéis
de Primavera). Nestes casos, é possível estimar a idade de uma árvore pelo número de anéis
de crescimento anual, cada um dos quais corresponde ao conjunto de um anel de Primavera e
um anel de Outono.
Borne e cerne
Anisotropia
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Figura 2 - Planos da madeira. (extraído de [1])
Variabilidade da madeira
Por esta razão, a especificação de uma dada madeira, além do nome comercial e da origem
geográfica, deve sempre ser feita incluindo a designação botânica (nome em latim) da espécie
florestal. As nomenclaturas comerciais de espécies florestais podem ser um precioso auxiliar
nesta matéria e constam de diversas publicações e bases de dados, como por exemplo [3].
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Em contrapartida, a presença de particularidades (defeitos, sob o ponto de vista do utilizador)
na madeira, inerentes à sua origem biológica, sobretudo os nós, dilui a variabilidade intra-
espécie, passando a ser o factor determinante da qualidade do material.
Defeitos da madeira
A qualidade de uma peça de madeira é medida pelas características médias do lenho e pelo
tipo, quantidade e distribuição de defeitos que apresenta. Uma descrição exaustiva dos
defeitos da madeira pode ser encontrada na NP180 [4]. Salienta-se seguidamente as
características e os defeitos mais significativos, tendo em vista a utilização em construção.
O carácter depreciativo dos nós depende do tipo de utilização – estrutural ou outro. Para
utilizações não estruturais, em que o aspecto é determinante, procura-se geralmente que os
nós estejam distribuídos de modo uniforme, tenham pouca expressão nas faces da peça
(pequeno diâmetro) e sejam sãos ou aderentes. Veja-se a norma inglesa BS1186 (1991) ou a
EN 942 [5].
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Figura 3 – Idealização dos nós no interior de uma peça
e avaliação do KAR total e do KAR marginal. (extraído de [7])
Fio inclinado – É uma anomalia traduzida pela existência de um ângulo entre a direcção geral
das fibras da madeira e o eixo longitudinal da peça. Pode resultar de anomalias de
crescimento, como o fio torcido ou a curvatura do tronco, ou da serragem oblíqua das peças.
As suas consequências prendem-se uma vez mais com a anisotropia do material, por nos
afastarmos da situação ideal da aplicação dos esforços paralelamente ao fio da madeira.
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Taxa de crescimento – A taxa de crescimento é avaliada pela largura média dos anéis de
crescimento anuais. Não sendo um defeito, trata-se de um importante parâmetro de avaliação
das madeiras de Resinosas. O seu interesse deriva de reflectir, de forma indirecta, a densidade
da madeira, que por sua vez influencia directamente a resistência e o módulo de elasticidade
da madeira, mas que é mais difícil de estimar de modo expedito.
Imediatamente após o abate, qualquer madeira apresenta uma grande quantidade de água.
Essa água encontra-se sob várias formas: água de constituição, água de impregnação (ou
embebição) e água livre.
A água de constituição está intimamente ligada à substância lenhosa por poderosas forças de
sorção química, e não pode ser removida sem que ocorra a decomposição química da madeira.
No outro extremo, a água livre preenche os espaços vazios da estrutura alveolar da madeira,
não possuindo qualquer ligação com a substância lenhosa. O seu movimento no interior da
madeira não ocasiona variação do volume da madeira nem alterações da resistência mecânica.
Após o abate, a madeira perde mais ou menos rapidamente a sua água livre. Este processo
verifica-se até que toda a água livre tenha saído, mantendo ainda as paredes celulares toda a
sua água de impregnação – situação correspondente ao Ponto de Saturação das Fibras (PSF), o
qual se verifica para cerca de 28 a 30% de teor em água da madeira, na maioria das espécies.
Desde o estado verde até este valor crítico, a madeira não sofre alterações apreciáveis
(retracção ou resistência mecânica).
Mais lentamente depois, abaixo do PSF, a madeira vai perdendo a sua água de impregnação, o
que é acompanhado por retracções mais ou menos importantes, sobretudo nas direcções
tangencial e radial, conforme representado esquematicamente na figura 4.
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Figura 4 – Direcções tangencial, radial e longitudinal e respectivos coeficientes de retracção
em termos relativos (valores médios para o pinho bravo). (Extraído de [8]).
Podem ser determinados, para cada madeira, os coeficientes unitários de retracção nas
direcções tangencial, radial e axial, correspondentes à variação de dimensão (retracção ou
inchamento) nessa direcção, em percentagem, que ocorre para cada variação de teor em água
da madeira de 1% no intervalo entre 0% e o PSF, pelo que é habitual apresentá-los em %/%.
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Figura 5 – Os vários tipos de empenos.
(extraído de [9]).
Esta classificação deriva do facto de madeiras com factor de anisotropia mais elevado terem
geralmente maior propensão para empenar. O desenvolvimento de empenos resulta de uma
retracção diferenciada em faces opostas, nomeadamente por uma delas apresentar
predominância de orientação tangencial relativamente à outra, figura 5.
O teor em água da madeira, H, num dado momento, é definido pela seguinte expressão [8]:
sendo o peso seco obtido por secagem a 103±2ºC, até atingir massa constante [10].
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Figura 6 – Curvas higrométricas
Pela análise desta figura se depreenderá também que a secagem da madeira ao ar dificilmente
poderá conduzir a um teor em água da madeira inferior a 14-16%. Além destes valores
poderem ser excessivos para determinados fins ou processos de transformação, a secagem
natural, em pilhas de secagem, exige tempo e espaço de armazenamento.
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Cuidados a ter na aplicação da madeira
A aplicação de madeira excessivamente seca poderá ser tão inconveniente como a aplicação
de madeira excessivamente húmida, constituindo ambos deficiências de aplicação correntes
em pavimentos. Se no primeiro caso se assistirá à abertura de juntas, formação de fendas e
empenos, com eventual arrancamento, no segundo sobrevirá o inchamento da madeira,
eventualmente superior à capacidade de acomodação das folgas e juntas de montagem
existentes, introduzindo tensões inaceitáveis, por exemplo em rebocos e rodapés, e
provocando igualmente o descolamento generalizado do pavimento.
Pela mesma razão, devem ser evitadas situações de aplicação prematura da madeira em obra,
enquanto as betonilhas, argamassas e rebocos se encontram insuficientemente secos, o que
poderá contribuir para a humidificação da madeira, ainda que apenas temporária, mas com as
consequências efeitos atrás descritas.
Devido ao efeito que o teor em água tem na resistência da madeira, importa ainda garantir que
a entrada em funcionamento de uma estrutura não se faz com um teor em água muito superior
ao que foi considerado no dimensionamento. Também a durabilidade da madeira pode ser
comprometida se o seu teor em água à data de aplicação em obra for excessivo (acima de 20%
– 22%) sem que isso tenha sido tomado em consideração.
A especificação do teor em água da madeira em cadernos de encargos deve ser feita de forma
objectiva, indicando um intervalo razoável de variação ou um valor médio e a respectiva
tolerância (por exemplo: 14 a 16%, ou ainda 12±2%).
Face à importância deste factor, há que prever medidas de verificação do teor em água da
madeira em obra. Naturalmente que a recolha de amostras para secagem laboratorial de
acordo com a NP614 [10] serve este propósito, e é com efeito o único método rigoroso, mas
existem igualmente diversos equipamentos portáteis para avaliação expedita do teor em água
(humidímetros para madeira, de contacto ou “de agulhas”) que permitem o controlo imediato
do material, com o mínimo de perturbação [8].
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8.4. Resistência mecânica da madeira
Além disso, a resistência de uma estrutura de madeira é também afectada pelo seu teor em
água e pelo tempo de actuação das acções (ou história de carga). A resistência mecânica de
uma madeira é inversamente proporcional ao seu teor em água em cada momento, para
valores abaixo do ponto de saturação das fibras (PSF), figura 7a , tratando-se de um fenómeno
reversível.
Este aspecto deve ser tido em conta, quer na estimativa da resistência para as condições de
serviço da estrutura, quer na avaliação da segurança durante situações transitórias como sejam
a fase de montagem em que a madeira poderá eventualmente ficar exposta à chuva [11].
7a
7b
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O tempo de actuação das cargas reduz a resistência da madeira, de acordo com a figura 7b, o
que significa que a aplicação de tensões relativamente elevadas, embora abaixo da tensão de
rotura, poderá conduzir à ruína da estrutura ao fim de um período mais ou menos longo. Por
esta razão, estruturas temporárias poderão ser dimensionadas assumindo resistências de
cálculo mais elevadas do que no caso de estruturas permanentes.
De acordo com o Eurocódigo 5 [12], o teor em água da madeira e o tempo de actuação das
cargas na estrutura são tidos em conta através de um factor de correcção único, kmod,
permitindo obter os valores de cálculo das tensões resistentes a partir dos correspondentes
valores característicos.
A classificação da madeira permite obter lotes de material com menor variabilidade, podendo
as classes de qualidade ser estabelecidas com base em critérios de resistência mecânica ou
estéticos. Em qualquer dos casos, cada classe de qualidade é definida por um conjunto de
valores máximos admitidos para os vários tipos de defeitos, avaliados visualmente.
A classificação visual da madeira para fins estruturais é uma prática corrente na maioria dos
países desenvolvidos, em particular na Europa e na América do Norte, em alguns casos com
cerca de meio século de existência. As normas de classificação visual aplicadas para o efeito
variam de país para país, muitas vezes baseadas na prática tradicional e adaptadas às
particularidades das espécies nacionais. O Comité Europeu de Normalização - CEN,
responsável pela elaboração de normas europeias, falhou em conseguir consenso na
elaboração de uma norma única para classificação de madeira para estruturas, pelo que cada
país poderá continuar a utilizar as suas próprias normas sobre esta matéria.
Em Portugal, a NP4305 [6] define duas classes de qualidade para o Pinho bravo (Pinus
pinaster, Ait), designadas por E (estruturas) e EE (especial para estruturas), mediante a
imposição de limites para os seguintes defeitos ou características: nós (KAR), taxa de
crescimento, inclinação do fio, fendas, bolsas de resina ou casca inclusa, presença de medula,
descaio e empenos.
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É também possível seleccionar lotes de madeira para estruturas mediante a utilização de
equipamento de classificação mecânica, no qual cada tábua é sujeita a ensaios não destrutivos
de flexão sobre troços relativamente curtos, de forma quase contínua. A resistência da peça é
automaticamente estimada a partir de correlações bem estabelecidas, para cada espécie
florestal e dimensão, entre a tensão de rotura em flexão e o módulo de elasticidade. A
classificação mecânica de madeira é corrente em vários países, muitas vezes intercalada em
linhas de produção industrial de elementos estruturais.
Para obviar a esta limitação, a norma europeia EN338 [13] estabelece dois conjuntos de
classes de resistência para madeira (um para Resinosas e choupo, outro para Folhosas), sendo
cada classe de resistência definida por um conjunto de valores característicos de resistência,
módulo de elasticidade e massa volúmica. O dimensionamento pode consequentemente ser
feito para uma determinada classe de resistência de madeira, sem ser necessário à partida
identificar a espécie a utilizar.
De acordo com o Eurocódigo 5, os valores de cálculo das tensões resistentes da madeira (fd) a
considerar para efeitos de verificação da segurança estrutural são obtidos, a partir dos valores
característicos (fk), pela seguinte expressão:
fk
fd = .k mod
γm
sendo:
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kmod – factor de correcção que tem em conta a classe de serviço de utilização (teor em água da
madeira) e a classe de actuação das acções (duração da acção de mais curta duração da
combinação para a qual se está a verificar a segurança da estrutura)
A madeira é tida como um material bastante resistente a uma ampla gama de ambientes
químicos. Este comportamento torna-a recomendável para situações ou ambientes agressivos,
como sejam piscinas ou estruturas junto ao mar, sem requerer cuidados de manutenção
especiais.
Agentes atmosféricos
Relativamente aos agentes atmosféricos, a luz solar, em particular a radiação na gama ultra-
violeta, provoca a decomposição química da lenhina. Daí resulta inicialmente o escurecimento
da madeira (intensificando a sua cor característica) e subsequentemente a progressiva
mudança para uma tonalidade cinzenta que é associada frequentemente a madeira “velha”.
Este processo pode naturalmente ser acelerado se, a uma exposição intensa ao sol, se associar
a incidência directa da chuva, que remove o material deteriorado expondo progressivamente a
madeira. Em todo o caso, o tipo de degradação causado pelos agentes atmosféricos é muito
lento, pelo que afecta a madeira sobretudo do ponto de vista estético. A remoção dessa
camada exterior, com 1 a 2 milímetros de profundidade, é normalmente suficiente para
descobrir a cor característica da madeira subjacente, com todas as suas propriedades originais.
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fogo
Numa situação de incêndio, a madeira começa por secar por acção da temperatura. A
carbonização da madeira inicia-se por volta dos 280º, a partir das faces expostas ao fogo. O
carvão que se forma permanece aderente ao elemento, e pelo facto de ser um bom isolante
térmico (cerca de 3 vezes superior à madeira, já de si um bom isolante), contribui para
retardar a subida de temperatura do material subjacente. Por esta razão, pode acontecer que a
temperatura na superfície exterior da madeira seja insuficiente para promover a progressão da
carbonização, autoextinguindo-se.
Isto justifica que a resistência ao fogo de uma estrutura de madeira dependa fortemente da sua
superfície específica. Estruturas com grandes secções transversais de madeira maciça ou
lamelada-colada apresentam elevada resistência ao fogo, enquanto elementos com secção
transversal diminuta apresentarão mau desempenho.
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produtos intumescentes que reagem sob a acção da temperatura, actuando como isolamento
térmico da madeira, que deste modo vê retardado o início da carbonização.
O teor em água da madeira está por isso na base das classes de risco de aplicação
estabelecidas na EN335-1 [19]. O risco de ataque depende, não só dos agentes biológicos
presentes, como da localização da peça de madeira na construção. Para além destes factores, a
conservação do material está também ligada à sua durabilidade natural, entendida como a
resistência natural da madeira ao ataque por organismos vivos (fungos, insectos e xilófagos
marinhos) e à sua impregnabilidade, na medida em que esta determina a viabilidade de lhe
conferir protecção.
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Fungos
As infecções dos fungos da madeira, em geral, podem ocorrer facilmente e o ataque inicia-se
logo que se estabeleçam as condições ecológicas requeridas para o seu desenvolvimento.
Podem resultar da contaminação por peças já atacadas ou da germinação de esporos na
madeira húmida, transportados pelo vento, nas ferramentas de corte, através da picada de
insectos, etc.
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Assim, os madeiramentos das construções não expostos aos agentes atmosféricos
(vigamentos, soalhos, estruturas de cobertura, etc) não se encontram normalmente, em
situação de poderem vir a ser atacados por fungos, devido ao estado de secagem que
atingiram, a menos que se verifique o contacto com outros elementos da construção que
recebam água por capilaridade. Já o mesmo se não verifica com os elementos situados ao ar
livre (varandas, janelas e portas exteriores), em que as condições são sempre favoráveis ao
desenvolvimento dos fungos responsáveis pela podridão.
Para além da humidade, os fungos necessitam ainda, para realização dos seus processos
fisiológicos, e durante a decomposição ou degradação do lenho, de valores convenientes de
temperatura e de oxigénio, bem como das substâncias alimentares existentes na madeira. A
influência destes factores no estabelecimento, progressão e intensidade do ataque depende da
espécie infectante mas, de uma maneira geral, pode dizer-se que o crescimento dos fungos só
se realiza na madeira com humidade acima de 22% e à temperatura normal do ambiente, isto
é, entre 10 e 30ºC, embora suportem valores extremos abaixo e acima deste intervalo. A
ausência de oxigénio por saturação completa da madeira é factor limitante do
desenvolvimento destes fungos, como também o é, a aplicação de temperaturas acima de 40-
50ºC ou a secagem da madeira para valores inferiores a 22%.
Térmitas subterrâneas
A degradação da madeira pela acção de insectos pode ser causada por diferentes espécies,
com modos de acção e indícios de actividade diferentes. De entre os insectos xilófagos
actuantes no nosso país, a acção das térmitas subterrâneas é aquela que apresenta maiores
dificuldades de diagnose, dada a escassez de sintomas externos de actividade.
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Transita frequentemente do seu habitat natural para as construções, em cujas madeiras causa
prejuízos importantes, desde que as condições em que este material é colocado na obra
conduzam a uma elevação anormal da sua humidade. Os estragos que o insecto causa nas
madeiras vulneráveis são da maior gravidade, não só pelo volume de material lenhoso
depredado mas também pelo facto de o ataque se processar no interior das peças, progredindo
as destruições sem que delas se tome conhecimento.
Perante uma peça destruída, a identificação deste agente xilófago faz-se pelo aspecto
laminado da madeira, resultante da destruição das camadas de Primavera sem que tenham
sido praticamente lesadas as camadas de Outono (figura 9).
Como sinais externos do ataque, que apenas se revelam num estado adiantado, são
construídos "canais" ao longo das paredes ou pendentes das vigas, através dos quais as
térmitas se deslocam ao abrigo da luz e cuja detecção é suficiente para a identificação da
infestação (figura 10).
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Podem ainda aparecer galerias e espaços abertos, sem serrim, mas com concreções terrosas de
aspecto característico, por vezes semelhantes a favos nas zonas de contacto da madeira com as
alvenarias ou no interior de tijolos. Podem também surgir, na época adequada, asas ou mesmo
reprodutores em dispersão, mas a observação de obreiras apresenta maiores dificuldades.
No que respeita aos insectos de ciclo larvar completo, vulgarmente designados por carunchos,
distinguem-se aqui o Hylotrupes bajulus L. (Ordem Coleoptera; Família Cerambycidae),
conhecido em Portugal pelo nome comum de caruncho grande, com inúmeros registos da
presença deste insecto em construções, particularmente em madeiras estruturais, coberturas e
pavimentos; o Anobium punctatum (De Geer) (Ordem Coleoptera; Família Anobiidae) que se
encontra associado a madeiras estruturais, coberturas, pavimentos e, particularmente, a
mobiliário e o género Lyctus (Lyctus sp. – Ordem Coleoptera; Família Lyctidae)
exclusivamente em madeira de Folhosas ricas em amido.
Sintomas
Insecto Habitat Orificios de Serrim Outros
saída
Cerambicidae Resinosas Ovais com 6 Serrim granuloso que surge Empolamento da superfície
a 10 mm quer junto dos orifícios de da madeira particularmente
saída quer a compactar as quando existe um
galerias formadas pelas larvas revestimento contínuo
no interior da madeira. como uma tinta
Anobidae Resinosas e Circulares Montículos de serrim, Muitas vezes associado a
Folhosas com 1 a 3 formados por pequenos madeiras mais velhas e já
mm grânulos elipsoidais com ataques por fungos de
podridão
Lictidae Folhosas Circulares Serrim muito fino, semelhante
ricas em com 1 a 2 a farinha, que forma pequenos
amido mm montículos
Kalotermitidae Resinosas e Circulares Partículas fecais de forma
Folhosas com 1 a 3 ovóide, normalmente de cor
mm escura
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8.7. Conservação e protecção de madeira
A madeira é um material com uma longa tradição de aplicação na construção, mas pelas suas
características está sujeito ao risco de degradação por diversos agentes biológicos.
Essas medidas são essencialmente de dois tipos: (1) As que reduzem ou eliminam as
probabilidades de ataque, por colocarem a madeira em condições naturais que impedem a
instalação e o desenvolvimento dos agentes biológicos, particularmente importante no caso de
fungos de podridão ou térmitas, em que o teor de água da madeira é o factor fundamental; (2)
As que se opõem, pelo emprego de produtos químicos, a que se desenvolva a infestação ou
infecção prováveis, quer tratando a madeira e/ou as alvenarias e solo circundante, quer
actuando a um nível mais especifico para a espécie praga, como a utilização de armadilhas
para o controlo de térmitas.
Sendo tão importante a correcta aplicação do material, recomenda-se que a sua especificação
seja feita com cuidado e sempre apoiada em documentos normativos existentes.
A madeira pode ser seleccionada de forma correcta para o ambiente final previsto, de acordo
com a sequência de passos que a seguir se apresenta [19]:
• Determinar a classe de risco para a situação na qual o elemento de madeira será usado e
para os agentes biológicos que o ameaçam [21, 22].
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• Seleccionar, para o elemento, espécies de madeira mais duráveis, ou escolher uma outra
solução (concepção ou disposições construtivas) ou uma protecção por preservação.
Quando não é possível prever, com suficiente segurança, a classe de risco de um elemento em
serviço, ou quando se estima que as diferentes zonas de um mesmo elemento estão em
situações de risco diferentes, as decisões devem ser tomadas com base na classe de risco mais
severa entre as classes aplicáveis.
Também relativamente a questões de segurança, deve ser tido em conta que, quando um
elemento de madeira é inacessível ou quando as consequências da sua rotura são
particularmente perigosas, pode ser mais apropriado utilizar uma madeira de maior
durabilidade ou um tratamento de nível superior àquele que habitualmente é recomendado
para a classe de risco correspondente a essa situação de aplicação.
Em relação ao primeiro aspecto, poderá ser suficiente uma abordagem passiva, consistindo na
reparação das deficiências da construção que potenciaram a deterioração da madeira, ou pelo
contrário, poderão ser essenciais medidas especificamente dirigidas contra o agente de
deterioração (tratamentos curativos).
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As placas de derivados de madeira abrangem assim diversas famílias de produtos, com
fabrico, propriedades e utilizações distintas, nas quais as propriedades da madeira se esbatem
em certa medida, face aos outros parâmetros de fabrico. São portanto objecto de normas
específicas, sendo de salientar: EN 312 (aglomerado de partículas), EN 622 (aglomerado de
fibras) e EN 636 (contraplacado), que estabelecem exigências mínimas e apoiam a selecção
dos tipos de placas adequados ao tipo de utilização pretendido (estrutural ou não estrutural,
para ambiente seco, húmido ou exterior), e ainda a EN12369 (valores característicos de
resistência).
Destes dois materiais, a madeira lamelada-colada é sem dúvida o material mais conhecido. É
obtido por colagem, face a face, e pela emenda de topo, de tábuas de madeira geralmente com
2 ou 3 cm de espessura, constituindo elementos rectos ou curvos. São utilizadas colas
sintéticas de grande resistência mecânica, boa resistência à humidade, elevada durabilidade e
bom comportamento ao fogo, já que resistem a temperaturas próximas da de carbonização da
madeira. A sua produção é tecnicamente muito exigente, devendo ser feita mediante um
cuidadoso controlo de qualidade, conforme disposto na EN386 [17].
Embora os defeitos da madeira tenham o mesmo tipo de influência que na madeira maciça, no
caso de vigas lameladas coladas, a constituição do material resulta numa maior
homogeneização (dispersão dos nós), pelo que existem regras de classificação específicas
para esta madeira e um sistema de classes de resistência distinto, estabelecido na EN1194
[18].
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REFERÊNCIAS
[2] United States Department of Agriculture. Forest Products Laboratory (1999) – Wood
Handbook: Wood as an engineered Material.
[3] LNEC (1996) – Madeiras de Folhosas e Resinosas. Nomenclatura comercial. ITES 11.
[5] EN 942 (1996) – Timber in joinery – General classification of timber quality. CEN
[6] NP 4305 (1995) – Madeira serrada de pinheiro bravo para estruturas – Classificação
visual. IPQ
[7] LNEC (1997) - Pinho bravo para estruturas. Madeira para construção - Ficha M2
[11] LNEC (1997) – Especificação de madeira para estruturas. Madeira para construção –
Ficha M1.
[15] LNEC, 1997 – Madeira para construção - Ficha M10: Revestimentos por pintura de
madeira para exteriores.
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[18] NP EN 1194 (2002) – Estruturas de madeira. Madeira lamelada-colada. Classes de
resistência e determinação dos valores característicos. IPQ
[22] EN 335-3 (1995) Durability of wood and wood-based products. Definition of hazard
classes of biological attack. Part 3: Application to wood-based panels. CEN.
[23] EN 350-1 (1994) Durability of wood and wood-based products. Natural durability of
solid wood. Part 1: Guide to the principles of testing and classification of the natural
durability of wood. CEN.
[24] EN 350-2 (1994) Durability of wood and wood-based products. Natural durability of
solid wood. Part 2: Guide to natural durability and treatability of selected wood species of
importance in Europe. CEN.
[26] EN 351-1 (1995) Durability of wood and wood-based products Preservative-tread solid
wood. Part 1: Classification of preservative penetration and retention. CEN
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