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37ª Ação Estética quase instantânea no MUSEU NACIONAL SOARES DOS REIS

MARTINHA MAIA – A redenção estética dos Coleópteros

As normas estéticas são mutáveis, embora durante séculos se tenha pretendido que
perdurassem bem para além do tempo de quem as estipulava. O maior desconcerto ou
contrariedade irrompia quando as normas de gosto eram corrompidas por circunstâncias
mínimas, detalhes que alastravam e as derrubavam. Por vezes, sabe-se, que o ínfimo tem a
capacidade de se expandir, como se fosse um coleóptero não domesticado.
No acervo de uma biblioteca ou de um museu, assim como nas prateleiras dos armários de
uma qualquer casa particular, os famosos [e vulgo] bichos-da-madeira são considerados uma
praga. Os pormenores verbalizados por quem relata invasões destes exércitos quase invisíveis,
configuram novelas góticas [com parentesco a alguns contos de Edgar Allan Poe], onde
arrepios e vinganças promovem lutas sinuosas contra gigantes liliputianos. As estratégias
contra inimigos quase impercetíveis talvez sejam as mais complexas e que exigem a
morosidade e invenção de um pensamento indomável e resiliente.
Os desenhos de Martinha Maia exprimem o quase invisível através da exequibilidade
conceitual que dirige o desenho em seus meandros e evoluções. Os pontos e as linhas corroem
o papel, como se a artista comandasse um exército de coleópteros estéticos e benfazejos. Dos
desenhos sobrepostos e plasmados derivam formas escultóricas leves e que respiram através
dos orifícios quase orgânicos que lhes subsistem. A excelência do fazer responde a um
pensamento estético conciso e estoico. Todavia, a receção que propõe ao espetador/visitante
avança para os reinos de um imaginário que se ramifica entre zonas de veracidade plástica e
efabulações subjetivas.
Quando o olhar se aquieta, observa cada pormenor rendilhado e imagina um lençol de leveza
sobre um céu enevoado onde a luz invada cada perfuração cuidadosa e diligente. Os desenhos
são bordados, são tecelagens de sublime fruição, de iluminada assunção para resistir à pressa
de existir. A pele tingida do papel tem a demora consagrada, destina-se a todos os premiados
que visitem a intervenção de Martinha Maia. Seres adormecidos alongam-se na base da
vitrina. Entorpecidos ou dormentes, estes seres contorcem-se pois sonham com cores
invisíveis, seivas e nuvens desenhadas pela ausência. Os orifícios são as ausências daqueles
que afetuosamente descansam nas palavras sussurradas e viajam para outros destinos. O
desenho subsiste, pacificado e enriquecido pelos ornamentos que a sua alma desvela.
Devidamente acondicionados, preservados e ufanos para serem contemplados, os desenhos e
as peças escultóricas estão perante nós. Quase relicários ou câmaras protetoras de
sentimentos resilientes, as obras de Martinha Maia provam que o virtuosismo de pensar e
fazer se aliam e propagam até nos elevarem para considerações e sorrisos cúmplices.

Maria de Fátima Lambert

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