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NOTA INTRODUTÓRIA------------------------------------------------------------------------------ 5
PARTE I
ACONTECER? ---------------------------------------------------------------------------------------- 10
Vítor Cruz
Maria Luísa Fonseca Grácio; António Borralho; Adelinda Candeias; Clarinda Pomar; Elisa
Chaleta; Heldemerina Pires; Jean-Claude DeVreese; Eva Bernart; Carmem Negril Falcó;
Clarinda Pomar; Luísa Grácio; António Borralho; Adelinda Candeias; Heldemerina Pires;
Elisa Chaleta; Jean-Claude DeVreese; Eva Bernart ; Carme Negril Falcó; Jenny Evans;
Heldemerina Pires; Luísa Grácio; Graça Santos; António Borralho; Adelinda Candeias;
Elisa Chaleta, Luísa Grácio, Maria João Cortes; Maria José Espírito Santo; Júlio Coincas
DEFICIÊNCIA ---------------------------------------------------------------------------------------- 95
Vítor Franco
Mónica Rebocho; Adelinda Candeias; Marta Peniche; Paula Baldeira; Sandra Lagartixo
NOTA INTRODUTÓRIA
Esta perspectiva sobre a Educação Inclusiva remete para uma intervenção educativa
centrada no desenvolvimento do potencial do aluno, em que os professores assumem
funções de mediadores. Estas funções de mediação obrigam os docentes e demais técnicos
de educação a redireccionar a avaliação e a intervenção tradicionais para uma abordagem
mais dinâmica, multidimensional e centrada no potencial das crianças num contexto de
escola para todos.
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NOTA INTRODUTÓRIA
se por práticas inovadoras que envolvem múltiplos contextos, como: escolares formais e
informais, familiar, e comunitário; e, múltiplos actores: professores, psicólogos, pais, o
próprio aluno, e outros agentes educativos. Tais concepções e práticas requerem mudanças
urgentes (Candeias, 2005):
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
tal conjugámos dez respostas possíveis para esta mudança. Estas respostas, traduzem
múltiplos olhares sobre Concepções e Práticas em Educação Inclusiva. Estes múltiplos
olhares cruzam perspectivas de investigadores e práticos de formação multidisciplinar de
vários países e estão organizados em duas partes, a primeira, mais orientada para as
concepções e, a segunda, mais direccionada para as práticas. As temáticas seleccionadas não
pretendem abarcar todo o espectro da Educação Inclusiva, seleccionámos algumas das que
mais preocupam a comunidade educativa no nosso país.
A primeira parte orientada para uma reflexão em torno das múltiplas Concepções de
Educação Inclusiva é constituída por cinco capítulos. O primeiro e o segundo capítulos
apresentam uma reflexão teórica sobre o significado da intervenção e da avaliação em
contexto de educação inclusiva, que é complementada no terceiro capítulo por uma
discussão dos fundamentos legislativos para a sua implementação entre nós. O quarto
capítulo discute as concepções dos profissionais europeus detentores de boas práticas
inclusivas e o quinto capítulo reflecte sobre as necessidades de formação de professores e
outros agentes educativos, promotoras de boas práticas inclusivas.
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NOTA INTRODUTÓRIA
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PARTE I
Vítor Cruz
1. Introdução
Como refere Pelpel (1986), afastado o que não é essencial, pode afirmar-se que toda
a situação de educação é um equilíbrio dinâmico entre três pólos, representando o primeiro
o saber ou a matéria (i.e., o currículo), o segundo o aprender ou o aprendente (i.e., o aluno) e
o terceiro o ensinar ou o ensinante (i.e., o professor).
Por seu lado, no pólo do aprendente (i.e., o aluno) reside tudo o que tem a ver com o
acto de aprender, com as acções do educando, com o sistema de aprendizagem, pelo que o
estudo dos fenómenos da aprendizagem e da motivação está aqui directamente ancorado.
Quanto ao pólo do saber (i.e., currículo), para ele converge tudo o que tem a ver com a
matéria ou assuntos a ensinar e a serem aprendidos.
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
2. Aluno: O que é?
Assim, para além de perceber o que o aluno consegue fazer, trata-se de perceber e
respeitar o como prefere fazer, capitalizando deste modo as competências que tem e o modo
como prefere utilizá-las.
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: É O QUE ACONTECE OU O QUE FAZEMOS ACONTECER?
Deste modo, esta subteoria tem por trás de si uma orientação e preocupação com o
processo e não com o produto, pois é mais importante perceber como o aluno aprende e
aplica o que aprende em diferentes situações, do que medir em termos absolutos o resultado
obtido.
Deste modo podem existem pelo menos dois pontos específicos do contínuo de
experiências vividas pela pessoa, que são (Sternberg, 1992 e 1990; Sternberg & Spear,
1985):
– Quando as tarefas são tão habituais que o seu desempenho se está a tornar
automático e, portanto, essencialmente inconsciente.
Com base nesta posição torna-se evidente que devemos perspectivar cada aluno de
modo isolado, comparando-o com ele próprio (avaliação a critério) e não fazendo a
comparação com médias gerais (avaliação à norma).
Tal afirmação leva-nos assim à noção de que seria de uma profunda injustiça avaliar
do mesmo modo um aluno que conhece um determinado assunto e um outro que nunca
ouviu falar dele. De facto, se por um lado as tarefas complexas podem ser efectuadas com
facilidade apenas porque muitas das operações implicadas na sua realização já foram
automatizadas, por outro, as tarefas ou situações que estão fora da experiência quotidiana
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
individual e são diferentes de outras tarefas que a pessoa já realizou exigem uma
participação intensa e voluntária das componentes da inteligência.
Para compreender o que o currículo não deve ser, a Teoria das Inteligências
Múltiplas (TIM) proposta por Gardner (1983) parece-nos poder dar uma valiosa ajuda.
Assim, nos seus trabalhos, Gardner (1998, 1995, 1994 e 1983) afirma que todos os
seres humanos são capazes de, pelo menos, oito diferentes modos de conhecer o mundo, ou
seja, todos os seres humanos normais desenvolvem pelo menos oito inteligências.
O mesmo autor refere que, de acordo com esta formulação, todos nós estamos aptos
a conhecer o mundo através da linguagem, da análise lógico-matemática, da representação
espacial, do pensamento musical, do uso do corpo ou de partes dele para resolver problemas
ou para fazer coisas, de uma compreensão de outros indivíduos e de uma compreensão de
nós mesmos, bem como de uma compreensão da natureza ou da nossa existência como seres
conscientes.
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: É O QUE ACONTECE OU O QUE FAZEMOS ACONTECER?
Gardner (1983) refere também que quase todas as situações culturais utilizam mais
do que uma inteligência e ao mesmo tempo nenhuma prestação pode ser realizada
simplesmente através do exercício de uma única inteligência.
Uma vez que, como afirma Gardner (1995), todas as inteligências são parte da
herança genética humana, então todas elas se manifestam em todas as pessoas em algum
nível básico, independentemente da educação ou do apoio cultural. Assim, para o mesmo
autor, todos os seres humanos possuem certas capacidades essenciais em cada uma das
inteligências.
Gardner (1995) acrescenta ainda que pode acontecer que uma pessoa não seja
especialmente bem dotado em nenhuma das inteligências e, contudo, em virtude de uma
determinada combinação ou mistura das suas capacidades, talvez consiga realizar
singularmente bem certas tarefas
Por outro lado, refere que existe uma independência entre as inteligências, o que se
traduz na possibilidade de um alto nível de capacidade numa inteligência não requer um
nível igualmente alto em outra inteligência (Gardner, 1995).
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Assim, segundo Gardner (1994), a diferença entre as pessoas surge a dois níveis
principais: (a) no vigor destas inteligências − o perfil de inteligências de cada pessoa, e (b)
na forma como cada pessoa invoca e combina tais inteligências para realizar tarefas,
resolver problemas e progredir em várias áreas.
O que atrás vem sendo dito acerca da TIM pode ter implicações decisivas a vários
níveis, particularmente no que se refere aos modos pelos quais executamos as nossas
intenções educativas (Gardner, 1994).
Assim, é fácil perceber que até agora a instrução formal da maioria das escolas na
maioria das culturas enfatizou exclusivamente uma certa combinação das inteligências
linguística e lógico-matemática, com eventuais prejuízos para aqueles alunos com
capacidades em outras inteligências (Gardner, 1995 e 1994).
- levamos muitos alunos à crença de que são tolos, apenas porque fracassam em
exibir a combinação “adequada”, e
- não tiramos vantagens dos modos pelos quais as múltiplas inteligências podem ser
exploradas para atingir de modo mais amplo as metas da escola e da cultura.
Procurando dar resposta a esta situação, Gardner (1995) propõe que a organização da
escola ideal do futuro se deve basear em duas suposições:
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: É O QUE ACONTECE OU O QUE FAZEMOS ACONTECER?
Portanto, esta escola centrada no aluno teria que ser rica na avaliação das
capacidades e tendências individuais para procurar adequar aos alunos tanto as áreas
curriculares como as maneiras particulares de ensinar esses assuntos (Gardner, 1995).
O referido autor acrescenta ainda que, mesmo depois dos primeiros anos, a escola
também deveria procurar adequar aos alunos os vários tipos de vida e de opções de trabalho
existentes na sua cultura.
Deste modo, uma educação construída sobre as múltiplas inteligências poderá ser
mais efectiva que uma construída apenas sobre duas inteligências, pois permite desenvolver
uma gama mais ampla de talentos e permite tornar o currículo-padrão acessível para uma
maior quantidade de alunos (Gardner, 1994).
Mas para que esta seja a resposta é necessário considerar a modificabilidade como
uma característica da inteligência humana, sendo igualmente importante ensinar ao ser
humano a ser inteligente pelo aproveitamento da sua flexibilidade e autoplasticidade
(Feuerstein, 1993).
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Em termos mais gerais, Feuerstein (1991) refere mesmo que embora parecendo um
paradoxo, a modificabilidade é a característica das características, a única permanente, não
havendo nada mais estável que a própria modificabilidade. Por outras palavras, o que o ser
humano tem de estável é a sua capacidade para mudar e de estar sempre aberto às
modificações.
O mesmo autor avança mesmo que tanto do ponto de vista teórico como prático,
todos as pessoas são modificáveis, ou seja, as pessoas são sempre capazes de se modificar
inclusivamente tendo em conta a sua etiologia, a sua idade e a sua condição − três aspectos
geralmente considerados como criadores de dificuldades insuperáveis.
Pensando agora nas implicações educativas desta teoria, Feuerstein et al. (1986) diz-
nos que se o sistema escolar desenvolve os seus programas e currículos de acordo com
objectivos específicos estabelecidos para a população que servem, então é essencial que,
antes de estabelecerem os objectivos, organizarem os alunos, planearem os currículos,
escolherem o material didáctico e seleccionarem os educadores, estes últimos respondam a
três questões básicas:
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: É O QUE ACONTECE OU O QUE FAZEMOS ACONTECER?
Para responder à primeira questão Feuerstein et al. (1986) refere que a actual ênfase
no desenvolvimento das habilidades do pensamento crítico reflecte o reconhecimento de que
as pessoas têm de ser capazes de lidar com as novas e rápidas mudanças envolvimentais.
Deste modo, para Feuerstein et al. (1986) a visão de que o ser humano é um sistema
aberto que pode ser modificado deve ser motivo de reflexão na prática educativa.
Por fim, para que a modificabilidade cognitiva seja levada a cabo com sucesso e os
alunos aprendam a aprender e a pensar, os educadores, ocupando um papel chave na
tentativa de modificar a estrutura cognitiva, têm de desenvolver e investir em programas de
intervenção que afectem o destino dos seus educandos (Feuerstein et al., 1986).
5. Reflexões finais
Procurando fazer agora uma breve reflexão final, gostaríamos de começar por deixar
claro que consideramos que estas três teorias da Inteligência têm uma importância
fundamental para que possam ser criadas estratégias complexas, multidimensionais e
modificáveis de criação de melhores condições de ensino, de educação e de aceitação dos
outros.
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Por seu lado, pensando no papel dos educadores (professores, pais ou outros),
gostaríamos de reforçar algumas ideias que consideramos fulcrais:
• É fundamental perceber quais são os estilos cognitivos dos nossos alunos, ou seja, para
além de perceber o que é que os nossos alunos gostam e conseguem fazer, é importante
entender como é que eles preferem fazer e quais são as competências envolvidas.
• Devemos preocupar-nos mais com o modo como os nossos alunos aprendem e resolvem
os problemas do que com o produto dessa aprendizagem e resolução, pois enquanto os
processos permanecem e são generalizáveis, os produtos esgotam-se neles próprios.
• É aconselhável não comparar os nossos alunos com médias frias e impessoais, e, pelo
contrário, devemos procurar perceber quais são as suas características particulares e
intrínsecas, de modo a podermos perspectivar de modo afectivo e personalizado a sua
evolução, tendo-os como referências de si próprios.
• Existem vários momentos no desenvolvimento, bem como existem diferentes domínios
em desenvolvimento, pelo que se torna fundamental percebe qual é o momento de
desenvolvimento e que domínios estão envolvidos em determinado período da vida dos
nossos alunos, para podermos organizar as exigências, as solicitações e as expectativas
em função das suas competências, necessidades e interesses variados.
• As competências intelectuais dos nossos alunos são modificáveis, portanto é necessário
ser optimista em relação a essa modificabilidade e estimulá-la, procurando sempre
afastar qualquer ideia preconcebida que limite a nossa crença optimista na riqueza
intelectual dos nossos alunos.
A actividade intelectual dos nossos alunos pode pois ser comparada ao fluxo de água
de um rio que é capaz de se adapta às características do terreno, moldando o seu correr de
acordo com o solo e não tendo uma forma constante, o que lhe permite ser modificável e
adaptável de acordo com cada conformação específica de terreno.
Mas o que se verifica na maioria das vezes é que esse fluxo de água (i.e., actividade
intelectual) é dificultado, pois é desviado do seu percurso natural e é orientado por forças
exteriores que, de um modo deliberado, se organizam contra o fluxo natural e decidem
quando, para onde e como ele há-de correr, sem terem em consideração a riqueza e a
idiossincrasia particular do fluxo inicial.
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: É O QUE ACONTECE OU O QUE FAZEMOS ACONTECER?
O rio deixa de seguir o seu percurso natural e passa a seguir um percurso que lhe é
imposto, tal como a actividade intelectual dos nossos alunos deixa de seguir o seu
desenvolvimento normal, mais rico e enriquecedor, para ser orientada por forças que
contrariam essa riqueza pessoal, se esquecem dela e se organizam para metas que nada têm
a ver com as particularidades dos nossos alunos.
6. Referências
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
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AVALIAÇÃO INCLUSIVA - UMA AVALIAÇÃO CENTRADA NA
COMPREENSÃO DO POTENCIAL DE DESENVOLVIMENTO
1. Introdução
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
A abordagem avaliativa centrada na classificação dos défices dos alunos deverá dar
lugar à compreensão do potencial e das dificuldades, com o intuito de identificar as
estratégias mais adequadas a uma intervenção promotora da aprendizagem e do
desenvolvimento do aluno.
A concepção de uma escola inclusiva como uma escola de excelência para todos que
enfatiza um processo educativo adaptável de forma flexível e direccionado para o ensino de
todos alunos. Os resultados do processo educativo não são um objectivo em si, mas uma
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AVALIAÇÃO INCLUSIVA - UMA AVALIAÇÃO CENTRADA NA COMPREENSÃO DO POTENCIAL DE
DESENVOLVIMENTO
• Yale Centre for the Psychology of Abilities, Competencies, and Expertise – PACE, Centre
for Cognitive Development;
• George Mason University, International Centre for the Enhancement of Learning Potential –
ICELP;
• International Association for Cognitive Education and Psychology – IACEP.
• European Comenius projects:
• INCLUES - Clues to Inclusive and Cognitive Education,
• IRIS – Improvement through Research in the Inclusive School, and
• DAFFODIL - Dynamic Assessment of Functioning and Oriented at Development and
Inclusive Learning;
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
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AVALIAÇÃO INCLUSIVA - UMA AVALIAÇÃO CENTRADA NA COMPREENSÃO DO POTENCIAL DE
DESENVOLVIMENTO
acção para avaliar o impacto destas novas orientações na avaliação e intervenção inclusivas,
assim como reflectir sobre os impactos nas práticas pedagógicas e educativas. Que
mudanças práticas serão necessárias para implementar com eficácia a avaliação inclusiva
que favoreça as práticas educativas inclusivas?
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
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AVALIAÇÃO INCLUSIVA - UMA AVALIAÇÃO CENTRADA NA COMPREENSÃO DO POTENCIAL DE
DESENVOLVIMENTO
psicológico (Sternberg & Grigorenko, 2002). As medidas de inteligência deverão então estar
correlacionadas com o sucesso posterior, quer se tratem de medidas de aptidão ou de
rendimento. Então a realização de uma actividade específica (e.g. prova de raciocínio
abstracto, prova escolar de matemática ou de língua portuguesa) depende de vários
componentes: aptidões metacognitivas (e.g. reconhecimento, definição e representação de
problemas, formulação de estratégias, avaliação da resolução de problemas, etc.), aptidões
para a aprendizagem (e.g. codificação, combinação e comparação selectivas), aptidões para
o pensamento (e.g. analisar, avaliar, levantar hipóteses, imaginar, etc.), tipo de motivação da
pessoa (se orientada para a auto-eficácia ou para o ganho), e do contexto (e.g. língua
materna, familiaridade com o material, importância que a sua realização tem para o
indivíduo, apresentação do material ao aluno, etc.).
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
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AVALIAÇÃO INCLUSIVA - UMA AVALIAÇÃO CENTRADA NA COMPREENSÃO DO POTENCIAL DE
DESENVOLVIMENTO
Como referimos em trabalhos anteriores (Candeias et al., 2009) avaliação dos alunos
é tradicionalmente configurada em função de categorias e classificações diagnóstico de
difícil transformação em orientações educativas e pedagógicas que orientem as estratégias
de ensino-aprendizagem a implementar em contexto educativo escolar e/ou familiar. Os
testes psicológicos e educacionais normalizados, são, geralmente, pouco acessíveis aos
professores em sala de aula, e são concebidos numa perspectiva, “tipo clínico” afastada do
contexto em que o aluno se insere. Nesta linha, já em 1995, Bickel e Hattrup defendiam que
existe um crescente reconhecimento de que os dados recolhidos num processo de avaliação,
deverá ser uma responsabilidade partilhada por profissionais de diferentes comunidades
científicas em trabalho colaborativo e a família da criança. Deste modo deverão colaborar
para desenvolver ferramentas de avaliação diagnóstica para uso na avaliação formativa.
Tal como Falvey propõe, desde 1995, os pais e os próprios alunos têm um papel
crucial em todos os aspectos do processo de educação, mas muito particularmente nos
processos de avaliação. Hammeken, (1995) utiliza estudos de caso de professores, pais e dos
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
próprios alunos para ilustrar a forma como o processo de avaliação e de instrução pode ser
efectivamente enriquecido em ambientes inclusivos se tiver em conta todos estes pontos de
vista e inputs. Porém, o papel dos pais na avaliação da aprendizagem dos seus filhos com
necessidades de aprendizagem e NEE tem alguns prós e contras, pois apesar de os pais
poderem ser uma fonte de informação rica e valiosa para a avaliação das crianças, podem ter
ideias pré-concebidas sobre o que a avaliação é ou deveria ser, o que pode resultar em
situações de conflito. Wehmeyer e cols. (2004), destacam a importância da participação do
aluno com dificuldades de aprendizagem e NEE na sua avaliação, destacando a sua
«autodeterminação» como um meio para o aluno assumir um papel central na sua própria
educação. Para que tal seja possível professores e pais devem preocupar-se em ensinar aos
alunos como estar envolvido na auto-avaliação - não apenas como um meio para melhorar a
avaliação, mas também como desenvolver a sua autonomia na aprendizagem.
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AVALIAÇÃO INCLUSIVA - UMA AVALIAÇÃO CENTRADA NA COMPREENSÃO DO POTENCIAL DE
DESENVOLVIMENTO
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
estatuto socioeconómico). A maioria destes factores não causa de modo inevitável o atraso
de desenvolvimento cognitivo e nenhum deles é responsável único pelo grau em que a
dificuldade se manifesta. Os determinantes próximos são, com muita frequência, a carência,
limitação ou inadequação das experiências da aprendizagem mediada. Concordamos com
Alonso-Tapía (1996) quando propõe que a aceitação da mediação da aprendizagem como
factor de primeira importância no desenvolvimento cognitivo constitui o fundamento teórico
que permite crer na modificabilidade, ao menos parcial, dos processos cognitivos do aluno
com dificuldades, em última instância, podemos afirmar que não há razão para crer na
irreversibilidade do atraso ou das dificuldades de aprendizagem, na medida em que o
desenvolvimento cognitivo está sujeito à influência do mediador humano.
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AVALIAÇÃO INCLUSIVA - UMA AVALIAÇÃO CENTRADA NA COMPREENSÃO DO POTENCIAL DE
DESENVOLVIMENTO
6. Conclusões
Em segundo lugar, esta abordagem está para além da resposta tradicional dos testes
de QI e dos testes de conhecimento escolar, centrados nos produtos, fundamentando-se: na
avaliação do processo de resolução de problemas, ou do processo de pensamento. A
‘atavismo’ da classificação para encontrar diferenças, dá lugar á necessidade de
compreensão das estratégias e dos erros com o objectivo de intervir.
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
potencialidades dos alunos. Os estudos realizados têm demonstrado que mesmo numa
situação em que os alunos parecem irremediavelmente condenados pelo insucesso que
marca o seu percurso escolar, quando sujeitos a uma modalidade de avaliação dinâmica e
actividades educativas orientadas por mediadores (psicólogos e professores) preparados para
ensinarem a pensar, a olhar, a procurar e a seleccionar respostas para dar aos problemas,
esses alunos melhoram os seus desempenhos no espaço em curtos períodos de tempo. Os
baixos resultados dos alunos, nesta perspectiva, devem ser vistos como a linha de base do
que o aluno é capaz de realizar no presente, mas não no futuro. A inteligência e a
capacidade de aprendizagem são modificáveis por acção dos mediadores (professores e
psicólogos). Esta acção de mediação direccionada não para as dificuldades do aluno mas
para o que poderá aprender incute-lhe confiança, interesse e disponibilidade para mudar,
activando o seu potencial e criando oportunidades para a sua concretização.
A finalizar, salientamos o quanto uma abordagem avaliativa aos alunos com NEE,
inclusiva, dinâmica e centrada no potencial de aprendizagem/cognitivo e no ensino
mediatizado requer mudanças profundas no sistema tradicional de ensino e de
aprendizagem, assim como nos modelos e práticas de avaliação educacional e de avaliação
psicológica. Essas mudanças só se poderão concretizar com os consequentes ajustamentos
na formação inicial, contínua e pós-graduada de professores e psicólogos.
7. Referências
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AVALIAÇÃO INCLUSIVA - UMA AVALIAÇÃO CENTRADA NA COMPREENSÃO DO POTENCIAL DE
DESENVOLVIMENTO
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FUNDAMENTOS PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA EM PORTUGAL
1. Introdução
Neste contexto o processo de inclusão educativa propõe que o aluno com NEE esteja
no ensino regular, é um direito que lhe assiste, recebendo todos os apoios necessários ao seu
desenvolvimento e aprendizagem em função das suas características e necessidades
(Candeias et al. 2007, 2008, 2009; Sternberg & Grigorenko, 2003; Rebocho et al., 2005).
39
FUNDAMENTOS PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA EM PORTUGAL
A partir de 1978, por influência do Warnock Report (1978), que introduz o conceito
de Necessidades Educativas Especiais (NEE), a política educativa portuguesa começa a
mudar, no sentido de reforçar o papel da escola e do professor do ensino regular, no que
concerne à responsabilização da educação das crianças com NEE (Costa, 1996). O Warnock
Report veio, deste modo, deslocar o enfoque médico nas deficiências para o enfoque na
40
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
41
FUNDAMENTOS PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA EM PORTUGAL
serviços de forma a assegurar uma integração social tão completa quanto possível (…). Na
Convenção sobre os Direitos da Criança destaca-se o direito à educação. Sublinha-se que o
objectivo da educação é o de desenvolver a personalidade, talento e aptidões mentais e
físicas da criança. A educação deve também preparar a criança para ser um cidadão
informado, autónomo, responsável, tolerante e respeitador dos direitos dos outros.
Começa aqui um percurso que vai despoletar num normativo de grande envergadura,
o Decreto-Lei nº 319/91, de 23 de Agosto. Este decreto veio colmatar uma lacuna
legislativa, no que respeita às crianças com NEE, defendendo o direito a uma educação
gratuita, igual e de qualidade, para os alunos com NEE, com a individualização de
intervenções educativas através de planos educativos individualizados (PEI) e de Programas
Educativos (PE) no sentido de responder às necessidades desses alunos (Correia, 2005).
A Inclusão Educativa passa a ser entendida como um meio através do qual a escola
continua a procurar novas formas passíveis de desenvolver respostas que promovam a
diversidade (Hegarty, 2007; Mantoan, 2002; Marchesi, 2001; Morgado, 1999; Warwick,
2001;). Segundo os referidos autores, falar de inclusão em educação é focar o interesse no
aluno de modo a dar resposta às suas necessidades específicas. Enquanto a integração
procurou fundamentalmente valorizar o envolvimento físico onde a aprendizagem se
desenvolve, a inclusão vai mais além e procura ajustar as necessidades de aprendizagem dos
indivíduos adaptando o ensino a essas necessidades: A inclusão inicia-se com o contacto da
criança com NEE com outras crianças sem dificuldades de aprendizagem, mas sem haver
42
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Assumidamente, a educação especial tem, a partir desta altura, uma clara orientação
para a inclusão educativa e social, o acesso e o sucesso educativo, a autonomia, a
43
FUNDAMENTOS PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA EM PORTUGAL
De referir que todas estas respostas são dadas nas escolas regulares. Os alunos
podem, assim, ter um ensino mais ajustado à sua problemática e, simultaneamente, estarem
integrados com alunos sem NEE. Está ainda previsto que nos casos em que as medidas de
educação especial se revelem comprovadamente insuficientes em função do tipo e grau de
deficiência do aluno, pode ser proposto o seu encaminhamento para uma instituição de
educação especial.
Outra medida de consequências profundas que este novo diploma introduziu, foi a
avaliação dos alunos com NEE por referência à CIF – Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2004). A
CIF é apresentada como uma classificação geral cujo objectivo é proporcionar uma
linguagem unificada e padronizada assim como uma estrutura de trabalho para a descrição
44
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
das condições de saúde e estados relacionados com a saúde (tais como a educação e o
trabalho) (OMS, 2004, p.7). A aplicação da mesma à educação, mais especificamente como
instrumento operacional para a identificação de grupos-alvo ao nível da educação especial
em Portugal, deve-se ao facto de ter determinadas características que permitem
compreender, interpretar, descrever e partilhar a funcionalidade da pessoa, em várias
perspectivas, biopsicossocial, a qual vai ao encontro dos princípios de uma escola inclusiva
(Pereira, 2008). A funcionalidade aparece definida como um termo global, o qual abarca
todas as funções do corpo, actividades e participação; e, a incapacidade é definida como um
termo que abrange deficiências, limitação da actividade ou restrição na participação. Neste
sentido, a CIF permite definir perfis úteis da funcionalidade, incapacidade e saúde dos
indivíduos em vários domínios (OMS, 2004, p.7).
45
FUNDAMENTOS PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA EM PORTUGAL
5. Conclusões
46
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Uma escola para todos, é uma escola aberta incondicionalmente a todos os alunos,
logo, inclusiva. Temos que ajudar a formar uma nova geração partindo de um princípio
educativo inclusivo, através de um exercício diário de cooperação e de tolerância,
valorizando a diversidade.
6. Referências
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
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49
O ESTADO DA ARTE EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA: O PENSAMENTO DE
PROFISSIONAIS DETENTORES DE BOAS PRÁTICAS
Maria Luísa Fonseca Grácio1; António Borralho1; Adelinda Candeias1; Clarinda Pomar1; Elisa
Chaleta1; Heldemerina Pires1; Jean-Claude DeVreese2; Eva Bernart3; Carmem Negril Falcó4; Jenny
Evans5; Natalia Cabral6; Jane Brodin7; Ana-Lena Ljusberg7
1 2
Universidade de Évora, Centro de Investigação em Educação e Psicologia (PT); Service Général
de L’Inspection/ Inspection de L’Enseignement Spécialisé (BE); 3Center for Special Needs
Education (AT); 4Generalitat de Catalunya. Serveis Territorials a Tarragona (ES); 5Devon County
Council (UK); 6Agrupamento de Escolas Eugénio de Andrade/Paranhos (PT); 7Stockholm Institute
of Education/University of Stockholm (SE)
1. Introdução
Durante vários anos a educação inclusiva tem vindo a tentar tornar-se gradualmente uma
realidade através de reformas educativas assumindo um conjunto específico de crenças e
50
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
assunções que exigem práticas escolares também diferentes (Carrington, 1999). No entanto,
como afirmam Ainscow, Booth e Dyson “people may be happy to agree on values, say those
concerned with equity and participation, until they start to look in detail at their implications
for practice” (2006, p.3). De facto, a inclusão prende-se não só com o acesso a escolas
regulares por parte de alunos com Necessidades Específicas de Educação, mas também com
a eliminação ou minimização de barreiras limitadoras da aprendizagem e participação de
qualquer aluno (Booth et al., 2002).
A escola inclusiva implica mudanças não só das próprias escolas como da sociedade em
geral. De facto, para que as instituições educativas possam responder efectivamente às
necessidades de todas as crianças de uma dada comunidade são necessárias diversas
mudanças. Ora, de que mudanças estamos a falar? Em que consistem tais mudanças aos
olhos de quem vive e experiencia directamente a educação em contexto de sala de aula ou
na comunidade? Que obstáculos, barreiras, benefícios e recursos são percepcionados,
sentidos e vividos pelos actores que tentam implementar uma escola e uma sala de aula
inclusiva na Europa? Estas são algumas das questões alvo de investigação no âmbito do
projecto IRIS (Improvement through Research in Inclusive Schools) cujos resultados
passaremos a descrever.
2. Metodologia
O fenómeno em foco neste artigo reporta-se, de uma forma geral, à escola inclusiva e à
sala de aula inclusiva e, em particular, às concepções que sujeitos de diferentes países
europeus têm sobre as barreiras, benefícios e recursos existentes ao nível de uma sala de
aula, escola e comunidade inclusivas.
51
O ESTADO DA ARTE EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA: O PENSAMENTO DE PROFISSIONAIS DETENTORES DE BOAS PRÁTICAS
2.1.Amostra
52
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Cada um dos temas acima enunciados englobou entre uma a cinco questões. O tema
objecto do presente artigo (i.e., Barreiras, Recursos e Benefícios) é composto por três
grandes questões: uma relativa às principais barreiras, outra aos principais recursos e outra
aos principais benefícios de inclusão. Cada uma destas questões foi colocada relativamente
a três contextos diferenciados, i.e., relativamente a uma escola inclusiva, uma sala de aula
inclusiva e uma comunidade inclusiva.
3. Resultados
53
O ESTADO DA ARTE EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA: O PENSAMENTO DE PROFISSIONAIS DETENTORES DE BOAS PRÁTICAS
No cômputo geral, observamos que cerca de 81% das verbalizações dos sujeitos acerca
da relação entre política educativa e promoção da escola inclusiva se referem a aspectos que
apontam para fragilidades e obstáculos à realidade de uma escola verdadeiramente
inclusiva. Tal denota a percepção de um contexto social, político, económico e educativo
ainda pouco promotor da mesma por parte de participantes de diferentes países europeus.
A temática relativa à sala de aula inclusiva foi explorada por relação com as práticas de
ensino, valores centrais na sua promoção, suportes de apoio, crenças sobre a auto-eficácia
das acções docentes e dificuldades de inclusão encontradas em contexto de sala de aula.
Iremos em seguida debruçar-nos, sobretudo, sobre as concepções dos professores acerca de
tais temáticas.
54
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
A) Obstáculos e Barreiras
1
A estas acresce ainda a categoria “Não sabe/não responde” (5.9%)
55
O ESTADO DA ARTE EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA: O PENSAMENTO DE PROFISSIONAIS DETENTORES DE BOAS PRÁTICAS
Tal constatação traz para primeiro plano a concepção do papel central do professor e
da sua acção na implementação de uma sala de aula verdadeiramente inclusiva.
56
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Por sua vez, os recursos considerados existentes na escola inclusiva dizem respeito a
espaços, práticas de ensino, motivação e vontade dos professores, trabalho de equipa,
existência de professores de apoio especializados e legislação. Destes os mais referidos
como existentes para a promoção da escola inclusiva prendem-se com a existência de: (a)
recursos em termos genéricos e professores especializados (cada um 19%); (b) práticas de
ensino e motivação e vontade dos professores (cada um 14.3%); (c) trabalho de equipa de
professores (9.5%).
Quanto a uma comunidade inclusiva, são referidos quatro tipos de recursos como
existentes: participação da comunidade e assistentes sociais (cada um 22.2%), legislação e
existência de recursos variados (cada um 11.1%). No que concerne aos recursos
considerados como necessários à comunidade inclusiva são apontados valores,
comportamentos e atitudes (37.5%), recursos (25%); aumento de informação sobre inclusão
e necessidade de apoio institucional/de políticas educativas (cada um 12.5%) e planificação
efectiva e vontade e motivação (cada um 6.3%).
57
O ESTADO DA ARTE EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA: O PENSAMENTO DE PROFISSIONAIS DETENTORES DE BOAS PRÁTICAS
4. Conclusões
“You make it all so complex! In our community school, we all work together. It
is simple. We value and respect each other’” (Comment of an African teacher at the 5th
International Special Education Congress at the University of Manchester, UK,
Carrington & Robinson, 2006, p. 323)
58
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
59
O ESTADO DA ARTE EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA: O PENSAMENTO DE PROFISSIONAIS DETENTORES DE BOAS PRÁTICAS
implicando experiências para todos os alunos; (e) clima de aprendizagem e ensino seguro e
organizado; (f) apoio ao desenvolvimento individual dos professores; e (g) monitorização do
progresso dos estudantes.
Ainscow e Miles (2008) o aspecto fulcral não é a introdução de novas técnicas, mas,
dos discursos dos sujeitos revela que a grande maioria dos aspectos considerados na
alargado à escola enquanto instituição global e muito menos à(s) sua(s) comunidade(s)
envolvente(s).
5. Referências
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EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
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61
FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A ESCOLA INCLUSIVA: ALGUMAS
PERSPECTIVAS EUROPEIAS
Clarinda Pomar1; Luísa Grácio1; António Borralho1; Adelinda Candeias1; Heldemerina Pires1; Elisa
Chaleta1; Jean-Claude DeVreese2; Eva Bernart 3; Carme Negril Falcó4; Jenny Evans5; Natalia
Cabral6; Jane Brodin7; Ana-Lena Ljusberg7
1. Introdução
básico do sistema educativo de muitos países. Porém, o discurso da inclusão não tem,
escolas e nas salas de aula não tem conseguido acompanhar a velocidade com que se produz
legislação sobre inclusão e se discursa sobre os seus benefícios e vantagens. Com efeito,
vários estudos e relatórios europeus (e.g. EADSNE, 2003) têm demonstrado uma
contradição entre os discursos da inclusão e a prática nas escolas, em geral, e nas salas de
aula em particular. Contudo, alguns resultados são, de alguma forma, encorajadores visto
eficaz para todos os(as) alunos(as) assenta, em grande medida, na qualidade profissional
dos(as) professores(as) e outros agentes educativos (e.g Bénard da Costa, Leitão, Morgado
62
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
& Pinto, 2006; EADSNE, 2003) que, diariamente, procuram dar resposta aos inúmeros
bem como pela multidimensionalidade das questões que envolvem a educação inclusiva.
as formas qualitativamente diferentes das pessoas entenderem um dado fenómeno (Linder &
Marshall, 2003), desenvolvemos uma investigação nos vários países parceiros do Projecto
IRIS (Improvement Trough Research in Inclusive Schools) que, entre outras questões
respectiva comunidade educativa, dos seguintes países: Portugal, Suécia, Espanha, Áustria,
Reino Unido e Bélgica. A selecção dos sujeitos foi realizada através do método de “bola de
neve”, ou seja, cada entrevistado indicava um leque de possíveis entrevistados que ele(a)
63
FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A ESCOLA INCLUSIVA: AALGUMAS PERSPECTIVAS EUROPEIAS
categoriais temáticas.
da escola inclusiva.
Os resultados revelaram que a formação inicial e contínua deve fazer incidir a sua
na aprendizagem.
(com outros professores(as), com outros técnicos e com as famílias), permitem criar um
bom clima de aprendizagem na sala de aula e na escola, e uma melhor cooperação com a
comunidade.
comportamento são imprescindíveis para que o(a) professor possa estar preparado em
transmitir uma atitude positiva e encorajadora de inclusão, tanto na sua sala de aula, como
64
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
que a investigação revela que estas atitudes se reflectem nos comportamentos na sala de
Com efeito, a escola não representa apenas uma experiência académica mas sim uma
inconsciente através, não só do que se ensina mas da forma como se ensina e até mesmo
através daquilo que não se ensina, o que geralmente se define pelo conceito de “currículo
inconsciência, estas “mensagens” possuem bastante poder o que dificulta ainda mais o
professor(a) tomar consciência destes fenómenos e dos meios necessários para os poder
controlar devidamente.
Neste âmbito foram apontadas variadas questões essenciais como, por exemplo:
são as estratégias para gerir a diversidade dos(as) alunos(as) que têm nas suas salas de aula
65
FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A ESCOLA INCLUSIVA: AALGUMAS PERSPECTIVAS EUROPEIAS
etc).
Para lidar com a diferença na sala de aula, o(a) professor(a) necessita muitas vezes
de ajuda ou apoio específico que não é constante no quotidiano da sala de aula. Desta
planeamento das actividades tendo cada professor que ter capacidade de flexibilizar e
práticas que se poderão revelar eficazes (ver ponto 3), é sempre necessário proceder a
estratégia.
das múltiplas NEE e a insegurança sobre a eficácia da sua intervenção. Apontaram como
sendo fundamental não só compreender e conhecer bem as características dessas NEE como
deverão abordar, fundamentalmente as NEE mais comuns, tal como Rodrigues (2006:6)
sugere:
66
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Pensamos que a formação deve ser feita em termos das deficiências mais ligeiras (a
esmagadora maioria dos casos que surgem nas escolas regulares) e que todo o conhecimento da
diferença seja integrado numa compreensão da diversidade humana que vai das altas habilidades
até à deficiência e dando a noção que os casos muito difíceis são uma minoria e que na grande
maioria as dificuldades são discretas e leves.
do desenvolvimento e da aprendizagem.
confiança.
questões essenciais e debate de casos concretos. Foi ainda comum a opinião de que o
da formação de professores para a escola inclusiva pois, se por um lado permitem verificar
similitudes nas opiniões entre os sujeitos de vários países, também permitem consubstanciar
67
FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A ESCOLA INCLUSIVA: AALGUMAS PERSPECTIVAS EUROPEIAS
para a escola inclusiva deverá estruturar-se à volta dos seguintes grupos de conteúdos:
diferenciação, etc.)
68
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
aula. Com base na análise desta documentação, o projecto IRIS procurou definir ou salientar
Contudo, há que ter sempre presente que não existe, propriamente, “receitas” e que cada
Special Needs Education (2003) produzido com base em inúmeras investigações, podem-se
69
FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A ESCOLA INCLUSIVA: AALGUMAS PERSPECTIVAS EUROPEIAS
ii) A aprendizagem cooperativa (ou tutoria entre pares) sendo, desta forma, essencial
conhecer e dominar uma série de estratégias pedagógicas que a investigação aponta como
relacional e afectivo-emocional).
(e.g. Johnson et. al., 1993; Slavin, 1995) que relata as suas potencialidades educativas, tanto
ao nível individual como por exemplo: nível da motivação para a aprendizagem, tempo de
problemas, grau de satisfação com a escola, auto-estima, atribuições causais para o sucesso
Peer-to peer relationships are more than an outcome; they are a critical component of the
process of inclusive education. Inclusive education helps us work toward creating a society where
all people are valued. When peers are used to support inclusive education, everyone benefits. (Bond
& Castagnera, 2006:229).
pedagógica são necessárias para conseguir gerir a diversidade na sala de aula. Este aspecto
70
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
nível, trabalho a pares e trabalho individual. Todos estes enquadramentos permitem que as
educativos que se pretendem atingir com aquele tipo de agrupamento: género, raça, idade,
educativos que se pretendem prosseguir com essa situação específica. Claro que não temos a
pretensão de referir que a heterogeneidade é sempre a melhor opção; mas sim que a
que entender a escola como um contexto que deverá dar resposta aos interesses e
capacidades individuais mas também como um contexto onde todos(as) alunos(as) deverão
71
FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A ESCOLA INCLUSIVA: AALGUMAS PERSPECTIVAS EUROPEIAS
Por outro lado, não é apenas agrupando os alunos que se conseguem atingir as
nos para a necessidade de uma intervenção específica para que, por exemplo, crianças com e
sem NEE interajam de forma significativa. O simples contacto ou exposição entre estes dois
grupos de crianças não resulta em atitudes mais positivas ou maior aceitação social de
interacção social para que haja resultados positivos. Através destas estratégias de interacção
sensibilização dos pares para os objectivos que se pretendem alcançar pois é necessária uma
definição clara das regras e dos limites acordados entre todos, a abordagem sistemática dos
72
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
competências relacionais que lhes permita negociar e criar condições para a definição
resolução cooperativa de problemas são tanto maiores quanto maior for a cooperação entre
e técnicas pedagógicas que a investigação sobre a eficácia pedagógica tem apontado como
alunos(as), criar um clima motivador e encorajador na sala de aula, etc. Implicitamente, este
factor de qualidade está também associado ao uso adequado dos instrumentos de avaliação
disponíveis e ao apoio adicional que poderá ser introduzido através dos planos educativos
individuais (PEI).
73
FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A ESCOLA INCLUSIVA: AALGUMAS PERSPECTIVAS EUROPEIAS
práticas implicando uma intervenção mais planeada e cuidada, com um processo rigoroso de
recolha de dados que permita consubstanciar uma reflexão mais acuidada do que aquela que
se faz diariamente.
produz, desta forma, um saber mais contextualizado o que lhe dá maior autonomia na
participado incluindo uma intervenção activa dos grupos-alvo de investigação nas análises
4. Conclusão
74
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
responsabilidade sobre o sucesso da inclusão não pode recair apenas sobre eles, havendo
etc). Têm que lhe ser proporcionadas condições e recursos (não só legislativos como
eficácia a sua função e corresponder às expectativas dos jovens que surgem expressas na
Não será tarefa fácil, obviamente, mas acreditamos que será possível!
5. Referências
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PARTE II
Heldemerina Pires; Luísa Grácio; Graça Santos; António Borralho; Adelinda Candeias; Elisa
Chaleta; Clarinda Pomar;
1. Introdução
79
O PAPEL DE FAMÍLIA NA INCLUSÃO ESCOLAR
Uma educação inclusiva é aquela que é capaz de criar e fornecer respostas com
vista a satisfazer as necessidades individuais dos alunos.
Uma escola que adopta o modelo de educação inclusiva tem pela frente uma
tarefa difícil com muitas barreiras e entraves, uma vez que, apesar dos esforços
empreendidos com vista a alteração de políticas educativas e, da existência de algumas
recomendações internacionais, estes não têm resultado numa verdadeira implementação
dos modelos de educação inclusiva. Existe ainda um conjunto de diversos obstáculos.
Uma escola inclusiva exige dos professores, dos outros agentes educativos e da
sociedade em geral mudanças ao nível das práticas, dos valores e das atitudes. E, para
que a escola possa responder, verdadeiramente, às necessidades de todas as crianças é
necessária a colaboração das diversas entidades, técnicos e outros agentes implicados no
desenvolvimento e educação das crianças e dos jovens. É neste sentido, que a família
pode ser considerada como um parceiro privilegiado no desafio que a inclusão escolar
coloca. Ambas, a família, em conjunto com a escola perseguem os mesmos objectivos
de formação, educação e desenvolvimento da criança, do adolescente (do ser humano).
Estas instituições, família e escola, ao longo das últimas décadas têm sofrido profundas
alterações. Relativamente à família, apesar de ao longo das últimas décadas do séc. XX,
ter sofrido alterações profundas ao nível dos valores, no seu modelo e nas suas funções,
a família continua sendo o primeiro contexto de desenvolvimento de todo o ser humano.
80
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
O contexto familiar surge, então, como sendo o primeiro espaço onde as crianças
aprendem: a língua, as noções, os conceitos, as atitudes, os valores culturais, as
maneiras de fazer, as maneiras de ser e de estar, as formas de interpretar o mundo; as
formas de agir e as formas de aprender (perguntando, provando, participando em
actividades. Durante muitos anos os pais orientam as aprendizagens dos filhos e a sua
influência é importante uma vez que esta vai configurar as competências cognitivas e
motoras, o equilíbrio pessoal, a relação interpessoal assim como, a sua inserção social.
81
O PAPEL DE FAMÍLIA NA INCLUSÃO ESCOLAR
O interesse da escola para que as famílias estejam mais presentes na escola dos
seus filhos tem muito a ver com o facto de esta ter subjacente a ideia de que quanto mais
as famílias estão próximas da escola, melhor rendimento escolar e adaptação os seus
filhos apresentam Mastropieri e Scruggs (2000); Salomon e Comeau (1998).
De acordo com Allan, (2007) a forma como a criança percebe a importância que
a família (os pais) atribui à educação e às suas aprendizagens, desempenha um papel
importante no seu sucesso escolar e não só.
Habitualmente, o interesse dos pais pela escola é medido pela freqüência dos
encontros entre professores e pais assim como, pela assistência e presença em reuniões
convocadas pelos professores. Deste ponto de vista poderíamos, seguramente, afirmar
que as famílias que não o fazem não estão envolvidas nem interessadas na escolarização
dos seus filhos. No entanto, consideramos, pois, que a não comparência às reuniões
marcadas pelos professores e directores de turma não são o único indicador do interesse,
do envolvimento e da participação dos pais na escolarização do seu filho. Podemos
82
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Deslandes (1999) num estudo levado a efeito junto dos pais, relativamente ao
cumprimento do seu papel na inclusão escolar, verificou-se que estes consideram,
fundamentalmente, dois aspectos: a participação em casa ao nível da supervisão dos
trabalhos de casa e participação na escola fazendo voluntariado ou estando presente em
reuniões.
83
O PAPEL DE FAMÍLIA NA INCLUSÃO ESCOLAR
No entanto, existem vários obstáculos à colaboração dos pais que têm a ver com
os horários de trabalho pouco flexíveis, falta de recursos, dificuldades com os
transportes, stress associado à vida do dia-a-dia, barreiras linguísticas e culturais e até
mesmo experiências negativas ao longo da escolaridade dos pais.
Doyle (2008) aponta pelo menos quatro motivos que levam os pais a estarem
pouco envolvidos nas actividades da escola.
A primeira razão é que alguns pais consideram a educação escolar como sendo
algo exclusivo e da responsabilidade dos professores declarando que a escola é quem
sabe, o que a Escola (sistema educativo) espera das crianças e jovens.
Um terceiro motivo pelo qual os pais participam pouco tem a ver com questões e
problemas levantados nas reuniões com os diversos professores quando tentam explicar
aos pais o que fazem e porque o fazem dessa forma e não de outra.
84
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
O papel dos pais pode ainda, tornar-se evidente com a sua participação em
estruturas como as associações de pais onde existe a possibilidade de discutir e resolver
85
O PAPEL DE FAMÍLIA NA INCLUSÃO ESCOLAR
assuntos relacionados com a escola e com os seus filhos. Além disso, os pais têm
lugares de representação no seio de organismos regionais e nacionais aonde podem
exercitar o seu direito de opinião e de voto.
4. Conclusão
86
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Nos casos em que os pais parecem não exercer o seu papel, a escola pode
organizar-se no sentido de averiguar as causas do pouco envolvimento procurando, ao
mesmo tempo, saber o que poderia levar os pais a um maior envolvimento. O
levantamento desses aspectos poderia ser feito através de um inquérito distribuído aos
pais com questões que considerem todas as formas de participação na vida escolar.
Claro está, que a educação das crianças e dos jovens é desde o início uma função
da responsabilidade da família o que, de facto, vem reforçar a importância do seu papel
na educação de um modo geral e na inclusão escolar em particular.
5. Referências
Ainscow M., & Booth T. (2003) The Index for Inclusion: Developing Learning & Participation
in Schools. Bristol: Center for Studies in Inclusive Education.
Ainscow, M., Muijs, D. West, M. (2006). Collaboration as a strategy for improving schools in
challenging circumstances. Improving Schools. 9, 3, 192-202.
Loxley, A. (2007). Deconstructing Special Education and Constructing Inclusion, (2nd Edition).
Maidenhead: Open University Press.
Conrad M., & Whitaker T. (1997). Inclusion and the law: A principal’s proactive approach. The
Clearing House.
Deslandes, R. & Bertrand, R. (2004). Motivation des parentes à participer au suivi scolaire de
leur enfant au primaire. Revue des Sciences de l’Education, 30,2, 411-434.
Deslandes, R. (1999). Une visée partenariale dans les relations entre l’école et les familles:
Complementarité de trois cadres conceptuels. La Revue Internationale de L’education
Familiale, 3(1-2), 31-49.
Jorgensen, C., Schuh, M., & Nisbet, J. (2005). The inclusion facilitator's guide. Baltimore: Paul
H. Brookes Publishing Co.
87
O PAPEL DE FAMÍLIA NA INCLUSÃO ESCOLAR
Mastropieri, M. & Scruggs, T. (2000). The inclusive classroom: Strategies for effective
instruction. Prentice Hall.
Salomon, A. & Comeau, J. (1998) La participation des parents a l'école primaire trente ans
après: un objectif encore a atteindre. International Review of Education, 44, 2-3, 251-267
Tilstone, C, & Rose, R. (2003). Strategies to Promote Inclusive Practice. London: Routledge
Falmer.
Tilstone, C., Florian, L. & Rose, R. (2004). Promover a Educação Inclusiva. Lisboa: Instituto
Piaget.
Zion, S. (2009). Systems, stakeholders, and students: including students in school reform.
Improving Schools, 12, 2, 131-143
88
CONSTRUINDO PRATICAS EDUCATIVAS INCLUSIVAS:
Elisa Chaleta, Luísa Grácio, Maria João Cortes; Maria José Espírito Santo; Júlio Coincas
1. Introdução
Vários são ainda os obstáculos com que a educação inclusiva se confronta. Um desses
obstáculos continua a ser a terminologia adoptada. Ballard referia em 1995 que enquanto o
termo “especial” continuasse a empregar-se a segregação continuaria a ser uma prática aceite.
Quinze anos após a Declaração de Salamanca continuamos a observá-la nas determinações
políticas, na legislação, na organização das instituições, na literatura da especialidade e nas
práticas educativas sem vislumbrar qualquer questionamento sobre as suas implicações.
Autores como Ballard (1995), Ainscow (1997) e outros defendem que só a adopção de uma
nova terminologia determinará mudanças ao nível das atitudes e dos valores presentes na
89
CONSTRUINDO PRATICAS EDUCATIVAS INCLUSIVAS – A PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS NOS PLANOS
EDUCATIVOS INDIVIDUAIS
A noção de Escola Inclusiva tem como princípio incluir todas as crianças em idade
escolar, quaisquer que sejam as suas características físicas, sociais, linguísticas, ou outras, e
de aí as manter criando oportunidades de aprendizagem bem sucedidas mediante
diferenciação de estratégias e, sempre que possível reintegrar todas as crianças que dele
estejam excluídas (reforço da importância da vida social e educativa de todos os alunos). Este
conceito gera uma transformação na intervenção educacional, não se remetendo apenas aos
alunos com dificuldades na escola, mas apoiando todos os elementos que constituem a
comunidade educativa de uma forma sistémica (Mantoan, 2000).
90
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
considerar o papel que os próprios alunos podem ter na planificação do seu próprio processo
de aprendizagem e da sua educação com vista à preparação para uma vida adulta
independente. Na Convenção sobre os Direitos da Criança pode ler-se: as partes tornarão
possível que a criança possa ter as suas próprias opiniões e o direito de expressar livremente
essas opiniões em todos os assuntos que a afectem. As suas opiniões devem ser tidas em conta
de acordo com a sua idade e maturidade (ONU, 1989, artigo12).
Este enunciado pretendia que estivessem garantidos os direitos das crianças a serem
escutadas, sempre que estas tivessem reunidas condições para tal. No entanto nesta vertente
não foram produzidas orientações ao nível da formação de professores pelo que estes
dificilmente consideram formas de participação dos alunos em cada etapa da sua
aprendizagem. Este aspecto remete para a importante questão da motivação dos estudantes
para aprender e para a necessidade de um maior auto-conhecimento dos seus pontos fortes
enquanto aprendizes (Rose, 2003). Mais importantes ainda se tornam estes factores quando
falamos de crianças com necessidades específicas de educação que em muitas situações já
experienciaram situações de fracasso.
2. Método
3. Resultados
Pudemos verificar que de um modo geral para cada aluno estava desenhado um Plano
Educativo Individual e um Programa Educativo Individual.
91
CONSTRUINDO PRATICAS EDUCATIVAS INCLUSIVAS – A PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS NOS PLANOS
EDUCATIVOS INDIVIDUAIS
adequados, serviços que o aluno deve beneficiar, avaliação do Plano Educativo Individual e
intervenientes.
Consideramos que este será um factor que deve ser explorado pela investigação pois
estudos neste domínio mostram que menos de um terço dos professores têm em conta as
opiniões dos alunos e que a sua participação na planificação das respostas às suas
necessidades é insignificante (Wade & More, 1994). A maior parte dos professores adopta
uma posição de autoridade e considera a participação dos alunos como pondo em causa essa
autoridade (Charlton, 1996). Este aspecto torna-se relevante pois investigações realizadas
(Padeliadu, 1996; Rose, 2003) mostram que são consideráveis as vantagens em termos de
motivação para aprender, empenho nas tarefas, aumento de competências em termos de
compreensão e expressão, auto-estima, auto-conceito e clima da sala de aula o que conduz a
maiores progressos em termos de desenvolvimento e aprendizagem e também em termos
92
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
sociais encontrando-se assim favorecido o contexto capaz de proporcionar uma educação mais
eficaz em termos educacionais e acentuadamente mais inclusiva.
4. Conclusões
5. Referências
Ainscow, M. (1997). Towards inclusive schooling. British Journal of Special Education, 24 (1), 3-6.
Charlton, T. (1996). Where is control located? In K. Jones & T. Charlton (Eds). Overcoming learning
and behavior difficulties. Londres: Routledge.
Padeliadu, S. (1996). What can students preferences tell us about educational prpgramming? A
response to Kusama-Powell. European Journal of Special Needs Education, 11 (2), 217-219.
93
CONSTRUINDO PRATICAS EDUCATIVAS INCLUSIVAS – A PARTICIPAÇÃO DOS ALUNOS NOS PLANOS
EDUCATIVOS INDIVIDUAIS
United Nations (1989). The Convention on the Rights of the Child. Brussels: United Nations General
Assembly.
94
PERCURSOS INCLUSIVOS NO CICLO DE VIDA DA PESSOA COM DIFICIÊNCIA
Vítor Franco
1. Introdução
Tudo aquilo que se refere á inclusão pode ser entendido numa perspectiva de
desenvolvimento, de mudança e transformação progressiva.
Isso acontece, em primeiro lugar, ao nível do próprio conceito que não é, de forma
alguma, estático nem surge desligado dos movimentos sociais e políticos das últimas décadas.
A mesma perspectiva se aplica, em segundo lugar, ao nível das instituições e das suas
respostas. Podemos dizer que o carácter inclusivo das instituições precede a sua acção. Por
isso não é a educação inclusiva que torna as escolas inclusivas, mas são as escolas inclusivas
na sua concepção que permitem a educar inclusivamente e para a inclusão. O mesmo
acontecendo com todas as respostas para as pessoas com deficiência. As respostas inclusivas
são, afinal, uma maneira de um sociedade inclusiva se organizar para responder, num
determinado momento, às necessidades das pessoas com deficiência. Mesmo as respostas
menos inclusivas, e que hoje tendemos a chamar segregadoras, permitiram construir uma
sociedade mais inclusiva, por exemplo quando permitiram que algumas crianças saíssem de
suas casas e aparecessem á luz do dia recebendo cuidados adequados às sua necessidades.
95
PERCURSOS INCLUSIVOS NO CICLO DE VIDA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Todos são, assim, iguais em dignidade, condição e direitos, mas, ao mesmo tempo,
todos deferindo de algum modo, sendo essa completa diferença que nos assegura como
sociedade de humanos.
96
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Não há inclusão fora de nós próprios e da nossa atitude inclusiva. Temos necessidade
de transformar as nossas relações com o outro, e, simultaneamente, transformar a nossa
relação connosco próprios. A dimensão ética torna-se assim presente como dimensão de
escuta, atenção e solidariedade. Trata-se de escutar a diferença, de pouco interessando afirmar
a sua existência e os seus direitos se não a podemos escutar, entender e confrontar com ela.
3 - Percurso inclusivo
97
PERCURSOS INCLUSIVOS NO CICLO DE VIDA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
quando falamos de inclusão: num momento determinado a criança acede a outra condição e é
integrada num novo contexto.
Não é assim que se passa com a inclusão. Trata-se antes de um percurso em que aos
diferentes contextos de desenvolvimento é atribuído um papel que é simultaneamente um
desafio fundamental para que cada um, e em especial as pessoas com deficiência (como
outras, por exemplo, pela sua diversidade cultural) possam ser cidadãos plenos e, mais do que
isso, pessoas na sua totalidade ontológica e social.
a) Inclusão familiar
98
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Esse bebé idealizado, criado na fantasia dos pais antes e durante a gravidez, contém as
qualidades iniciais que constituem a pré-história do processo de vinculação (Brazelton &
Crammer, 1989) imprescindíveis ao adequado processo de desenvolvimento. Nesse período
são vividas as esperanças e expectativas de cada família e, ao longo dele, os pais vão
aprendendo a conhecer melhor o seu filho, ainda feto, de tal modo que a vinculação com o
recém-nascido vai assentar nas relações anteriores com esse filho imaginado que foi sendo
conhecido ao longo da gravidez. É no processo vinculativo que se começam a organizar as
qualidades relacionais fundamentais para a vida da criança, que lhe permitirão viver num
contexto afectivo e social que lhe trará segurança, sentido e identidade.
Este bebé idealizado não vive sozinho no pensamento dos pais. Durante a gravidez
também há fantasias destrutivas e medos, geradores de ansiedade e preocupação, e para
entendermos esta pré-história emocional do bebé com deficiência podemos encontrar aqui os
primeiros sentimentos, motivações e ambivalências com que a família se vai confrontar na
altura do nascimento.
Começando por nascer no pensamento dos pais como bebé perfeito e idealizado, a
criança que nasce com qualquer perturbação do desenvolvimento ou deficiência traz sempre
consigo um impacto emocional de desilusão. Desilusão no sentido que esse bebé idealizado,
nunca chega a nascer. A desilusão funda o luto. A perda dos objectos relacionais é sempre
acompanhada de sofrimento emocional e de dor mental. Exige um período de luto, um tempo
durante o qual a perda possa ser elaborada. O que distingue esta situação de luto é que não se
trata efectivamente da perda do ser relacional mas sim do objecto idealizado, representado e
construído, com o qual o processo vinculativo se começou a construir. Mas a criança continua
a estar presente, embora não seja um bebé que possa dar continuidade ao que tinha sido
gerado e crescido na fantasia, mas sim um outro que se tenta impor na sua realidade.
99
PERCURSOS INCLUSIVOS NO CICLO DE VIDA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
tempo como desprender-se do que não existe mas foi idealizado. É também aqui que radica a
diferença fundamental da inclusão das pessoas com deficiência face a todas as outras forma
de inclusão.
Se todos os filhos têm de começar por nascer na fantasia e pensamento dos pais, então
só há certamente um caminho para que estas crianças tenham um lugar: nascerem de novo,
serem de novo idealizadas e investidas no pensamento, desejo e fantasia dos pais (e dos
outros).
Está em causa a fertilidade emocional dos pais das crianças com deficiência e como é
que podem conceber um novo bebé ideal, feliz, perfeito e desejado, a partir de um bebé cujas
características, imperfeições ou deficiências não podem ser negadas. Para que estas crianças
se possam tornar objecto sólido e consequente do amor dos pais, tem de haver uma re-
idealização. Se esta não poder ocorrer, subsistirá a dor crónica, o desgosto crónico ou formas
de negação e de evitamento em que a culpabilidade tem sempre uma função altamente
destrutiva. Em qualquer dos casos estarão ameaçados os vínculos (e a inclusão) e o que a
família tende a fazer é gerir o sofrimento, defendendo-se da dor mental, utilizando mecanismo
de defesa mais primários, e tentando lidar com a culpabilidade.
Assim, para poderem ter um lugar na família, (isto é, no seu primeiro lugar e momento
de inclusão) todas as crianças com deficiência têm de nascer duas vezes: enquanto objecto de
desilusão (nascimento real na sua condição de portadora de uma ferida narcísica e emocional)
e nascer de novo no pensamento dos pais, na fantasia verdadeira do seu futuro e das suas
qualidades. Esta re-idelaização, sendo tarefa fundamental, depende de alguns processos
essenciais: a beleza, capacidades e esperança. O primeiro permite gostar, deixar-se cativar
estética e emocionalmente, ver e ver-se no outro. O segundo permite reconhecer capacidades
e competências onde parece só haver incapacidade e limitação. O terceiro permite criar
perspectiva temporal, projectos de futuro e ideais por que lutar.
100
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Pais que não são capazes de retomar o seu próprio processo de desenvolvimento são
pais funcionais, ou seja, pouco inclusivos. Aliás isso acontece também com os técnicos com
responsabilidades educativas ou outras; se não constituírem uma boa organização emocional
interna, na sua relação com estas crianças serão sempre técnicos funcionais, ou seja, incapazes
de se situar face à diferença e, por isso, anti-inclusivos.
Num segundo momento do percurso de vida, a inclusão da criança passa pelo seu
processo educativo. O esforço inclusivo tem sido grande nas últimas décadas, especialmente
nos Jardins de Infância, da mesma forma que tem havido grandes mudanças na forma de
encarar e cuidar das crianças com deficiência. Chegámos a uma época em que as sociedades,
através das suas leis, defendem, ou pelo menos enunciam, os seus direitos e a sua dignidade e
é unanimemente aceite que ninguém deve ser marginalizado pelas suas limitações físicas,
sensoriais, intelectuais ou mentais. Até chegarmos aqui, encontramos, numa linha de
101
PERCURSOS INCLUSIVOS NO CICLO DE VIDA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Muito rapidamente se concluiu ser desejável que essas crianças tivessem um tipo de
vida tanto quanto possível similar ao das outras crianças. Daqui decorreram duas grandes
implicações em termos de contextos: uma referente à escola e outra aos restantes espaços de
vida. Já não se estava a falar apenas das horas que a criança passava na escola (ou na
instituição) mas da vida real e global: o tempo livre, o desporto, o acesso à cultura, as relações
interpessoais com a família e os pares, etc. Para que a criança com deficiência pudesse ter um
tipo de vida similar ao das outras pessoas, deveriam ser introduzidas na sua vida diária
normas e condições o mais parecidas possível às consideradas como habituais na sociedade.
102
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Nos Estados Unidos, a Public Law, em 1975, que será talvez o paradigma das
legislações de carácter integrador, apontava para uma educação pública e gratuita para todas
as crianças, assente num plano individualizado de ensino. Defendia: a) a colocação da criança
num meio o menos restritivo possível que pudesse satisfazer as suas necessidades educativas;
b) a garantia de um processo educativo adequado a cada criança em todas as fases; c) a
existência de práticas de avaliação adequadas à condição da criança; e d) a elaboração de
planos educativos individualizados, avaliados e revistos regularmente pelos professores, pais
e órgãos de gestão da escola. Tal perspectiva reconhecia, consequentemente, a necessidade de
uma adequada formação de professores e outros técnicos, do desenvolvimento de materiais
adequados e do envolvimento dos pais no processo educativo da criança.
103
PERCURSOS INCLUSIVOS NO CICLO DE VIDA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Estas e outras iniciativas surgidas a partir do final dos anos 70, mostram-nos como nos
modelos de integração se parte do contexto tal como ele é, considerando-se depois as
mudanças ou adaptações necessárias de forma a poder acolher as crianças com problemas de
desenvolvimento. O esforço pedido é no sentido de haver adaptações: dos espaços, dos
programas, do clima afectivo, dos métodos pedagógicos e de avaliação.
Realce-se o “que a elas se devem adequar” ou se devem ajustar. Isso pode ser
entendido tanto de uma forma integradora, se caso a caso a escola faz um esforço para aceitar
uma criança que surge como diferente, não desejada pois induz alguma perturbação mas que é
possível ser cuidada. Só será inclusão se, pelo contrário, a escola começa por pôr em questão
a sua própria natureza, nomeadamente as características intrinsecamente segregadoras das sua
práticas, e até fundamentos, e se prepara para funcionar de uma forma adequada a todas a
crianças independentemente das suas características físicas, cognitivas de desempenho ou
culturais.
104
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Para Lopes (1997) a expressão educação inclusiva "reenvia à ideia segundo a qual,
mais do que integrar no ensino regular crianças que dele estariam excluídas, trata-se de a
escola incluir desde o início todas as crianças em idade escolar, quaisquer que sejam as suas
características físicas, sociais, linguísticas ou outras, e aí as manter, evitando excluí-las e
procurando oportunidades de aprendizagem bem sucedida para todas, graças à diferenciação
de estratégias que se impuser". O princípio fundamental das escolas inclusivas é o de que
"todos os alunos devem aprender juntos, sempre que possível, independentemente das
dificuldades e diferenças que apresentam. Estas escolas devem reconhecer e satisfazer as
necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-os aos vários estilos e ritmos de
aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos, através de currículos
adequados, de uma boa organização escolar, de estratégias pedagógicas, de utilização de
recursos e de uma cooperação com as respectivas comunidades" (Unesco, 1994).
105
PERCURSOS INCLUSIVOS NO CICLO DE VIDA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
As escolas, como outros contextos, devem ter características tais que acolham a
diversidade sem necessidades de acréscimo de adaptação. São as suas características e a sua
natureza que a tornam inclusiva e não a sua capacidade de fazer pequenas adaptações ou
correcções à norma. É nesta medida que os contextos de natureza inclusiva se podem tornar
locais de desenvolvimento.
Por isso uma escola inclusiva exige também um sistema educativo inclusivo. Muitas
vezes ouvimos pais de crianças do 1º ou 2º ciclo dizerem, queixando-se do prejuízo que as
crianças com deficiência trazem aos seus filhos: “isso é muito bonito mas se ele depois não
tem notas não entra na Universidade”.
106
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Estes elementos são indispensáveis para podermos assentar sobre eles a inclusão nos
JI mas também nos níveis seguintes de escolaridade. Não há inclusão sem escolas inclusivas,
e estas definem-se não por terem uma criança com dificuldades de deficiência mas pelo modo
como funcionam independentemente disso, por serem escolas para todos e assentes na
diversidade.
No primeiro ciclo não temos escolas inclusivas (com as excepções raras e conhecidas).
Algumas são boas integradoras e merecem o nosso aplauso e incentivo. Mas inicia-se o ciclo
da segregação, sendo os outros ciclos progressivamente mais segregadores. A escola não é
para todos, é para a média, para os que aprendem bem ou num determinado ritmo, e para os
que se portam bem. Dos outros a escola queixa-se, pune e exclui.
107
PERCURSOS INCLUSIVOS NO CICLO DE VIDA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Este percurso vai-se estreitando até à Universidade. Claro que também aí encontramos
pessoas com deficiências, mas sempre à custa de um esforço pessoal e familiar muito grande e
só quando algumas competências permitem ultrapassar limitações e se encontra uma
conjugação favorável de circunstâncias.
Integração e inclusão são, assim, conceitos muito próximos e muito distantes. De uma
forma simples talvez possamos dizer que há integração quando é preciso mudar alguma coisa
e inclusão quando não é preciso mudar nada. Há integração quando perante o aparecimento de
uma criança portadora de deficiência, ou com qualquer perturbação do desenvolvimento, há
que alterar significativamente o contexto educativo de modo a que ela dele possa participar e
usufruir. Seja alterando os espaços físicos, as tarefas ou as formas de as executar, criando
excepções, etc. Por outro lado, a inclusão será sempre um percurso em que o surgimento de
tal criança diferente não exige alterações substanciais das formas de funcionamento porquanto
pela sua diversidade, maleabilidade e adaptabilidade há condições para que ela usufrua
plenamente desse contexto. O conceito de inclusão difere assim, significativamente, do de
integração no que se refere à adaptabilidade e natureza dos contextos
Poderá ser esse o preço a pagar por um movimento integrador mal concretizado e
sustentado que nunca consiga ganhar significado inclusivo ou que não entende que o processo
inclusivo não se pode localizar num momento nem pode ser protelado para o seguinte.
108
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
Para que o avanço teórico não se torne em obstáculo (por insuficiência inclusiva dos
contextos) há que fazer um esforço sério para a construção de contextos com características
de facto inclusivas. Tais contextos inclusivos não podem ser construídos a partir da
normalidade de um grupo, adaptando-se posteriormente a outro, mas terão nascer de tal forma
que todos aqueles que nele vão interagir e crescer o possam viver de forma igualmente valiosa
mas diferenciada.
109
PERCURSOS INCLUSIVOS NO CICLO DE VIDA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
todos e não apenas os que têm deficiência porquanto uma sociedade que exclua alguns dos
seus membros será sempre uma sociedade empobrecida.
O acesso ao lazer e actividades de tempos livres deve ser igualmente equacionada para
a população com deficiência. A questão é sempre: onde é que essas crianças, jovens ou
adultos se encontram, cruzam e interagem com os outros iguais a si e os outros diferentes de
si.
110
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
4. Conclusões
d) A escola tem de ser inclusiva, isto é, para todos, antes de haver educação inclusiva.
e) Não há inclusão sem contextos inclusivos, desde o acesso ao trabalho até à cultura,
lazer, desporto e espaços de cidadania.
Por tudo isso, mais do que falar em inclusão como se fosse uma tarefa a ser resolvida,
especialmente pelos que têm sempre as soluções técnicas e pedagógicas, temos de encarar a
vida das pessoas com perturbações de desenvolvimento como um percurso de inclusão. Em
que cada momento coloca desafios à família e à comunidade, exigindo a criação de
ambientes, contextos e relações de natureza verdadeiramente inclusiva.
111
PERCURSOS INCLUSIVOS NO CICLO DE VIDA DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
5. Referências
Brazelton, T.; Crammer, B. (1989). A relação mais precoce. Os pais, os bebés e a interacção precoce.
Lisboa: Terramar
Cardoso, P.; Franco, V.; Reis, T. (2004). Desenvolvimento vocacional de jovens com paralisia
cerebral. Projecto de emprego apoiado em mercado de trabalho aberto. In Taveira, M.C. (coord.).
Desenvolvimento vocacional ao longo da vida. Coimbra: Almedina
Correia, L.M. (1997). Alunos com necessidades educativas especiais nas classes regulares. Porto:
Porto Editora.
Franco, Apolónio (2002). Desenvolvimento, resiliência e necessidades das famílias com crianças
deficientes, Ciencia Psicológica, 8, pp. 40-54.
Riço, M. C. (1998). Contributos para a construção de elementos curriculares a partir das interacções
espontâneas com crianças com Paralisia Cerebral inseridas no jardim de infância. Trabalho de fim
de curso. CESE em NEE. Universidade de Évora
112
O LUGAR DAS COMPETÊNCIAS PESSOAIS E SOCIAIS
1. Introdução
A população que frequenta as escolas de hoje em dia é cada vez mais diversificada,
sendo constituída por crianças e jovens de diferentes proveniências étnicas, culturas e
socioeconómicas e portadoras de diferentes capacidades e dificuldades (Meadan & Monda-
Amaya, 2008). Para tal, o processo educativo deverá tornar-se flexível e adaptável a todos os
alunos, inclusivo. Neste contexto, os resultados do processo educativo não são um objectivo
em si, mas uma consequência do mesmo e as instituições educativas deverão preocupar-se
com o processo educativo em vez de se concentrarem nos resultados (Sternberg, 2008). O
processo educativo deverá focar-se na formação pessoal e social de todos os alunos, e não só
no ensino-aprendizagem dos saberes tradicionais ao nível da leitura, escrita e matemática.
Este capítulo assenta numa revisão da literatura, e começará por esclarecer o conceito
de competência social, de seguida procederemos à revisão de estudos que nos últimos anos
têm justificado a pertinência de apostar numa intervenção educativa focalizada nas
competências sociais. O desenvolvimento de competências sociais em crianças portadoras de
113
O LUGAR DAS COMPETÊNCIAS PESSOAIS E SOCIAIS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA DE ALUNOS COM NEE
NEE, as linhas orientadoras que emergem de estudos da última década, para a intervenção
com estes alunos e o papel do professor neste processo de intervenção educativa fecham o c e
de outros agentes educativos encerram este capítulo.
114
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES E PRÁTICAS
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presença dos seus componentes, mas também das interacções entre eles. Trata-se portanto de
um construto multidimensional, que inclui factores sociais/interpessoais, cognitivos e
emocionais (Lemos & Meneses, 2002).
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Sigman e Ruskin (1999) (citados por Gutstein & Whitney, 2002) desenvolveram um
estudo com adolescentes com autismo que acompanharam desde a pré-escola e que revelou
não houver qualquer evolução nas capacidades sociais dos indivíduos estudados. Num outro
estudo, Bauminger e Kasari (2000) (citados por Gutstein & Whitney, 2002) concluíram que
os adolescentes autistas não percebem nem compreendem os aspectos emocionais
relacionados tanto com a amizade como com a solidão. As amizades de pessoas autistas são
de pouca qualidade e as crianças em questão não ganham sentimentos de segurança e
companheirismo necessários para reduzir o sentimento de solidão. Neste sentido, o
estabelecimento de uma relação positiva entre pares fica bastante comprometida. Um terceiro
estudo, de Green, Gilchrist, Burton e Cox (2000) (citado por Gutstein & Whitney, 2002),
focou-se unicamente em crianças com síndrome de Asperger e comparou esse grupo com
outro formado por crianças com graves doenças de comportamento. Tendo sido verificado
que as crianças com síndrome de Asperger têm as capacidades sociais muito mais diminuídas
que o outro grupo e que ambos os grupos têm elevados níveis de ansiedade, raiva,
pensamentos suicidas, obsessivos e grande tendência para a depressão. Apesar de progressos
significativos noutras áreas, as capacidades sociais nos adolescentes com síndrome de
Asperger permanecem muito pouco desenvolvidas (Gutstein & Whitney, 2002).
Segundo os estudos desenvolvidos por Bruner, (1983), Emde, (1989), Fogel (1993) e
Gottman, (1984), as competências sociais englobam três aéreas que devem funcionar em
conjunto: a segurança na relação; os instrumentos de aprendizagem social; e as relações com
partilha de experiencias. Alguma falha numa destas áreas parece significar um fracasso ao
nível das relações sociais. Na opinião de Gutstein e Whitney (2002), desde os estudos do
Bowly (1969) e do Ainsworth, Bleah, Waters e Wall (1978) a ligação afectiva tem sido o pilar
no desenvolvimento da criança e das suas competências sociais (Gutstein & Whitney, 2002).
Como já foi referido, o papel desempenhado pelo grupo de pares é essencial no processo de
socialização e na construção e competências interpessoais, sendo que o desenvolvimento
dessas competências determina o ajustamento da criança ao longo da vida (Ladd, 1999).
Neste sentido, estudos indicam que o comportamento social da criança é influenciado pelo
desenvolvimento das relações sociais. Assim, as relações sociais problemáticas são explicadas
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por um défice nas competências sociais, sendo que esta dificuldade advém da rejeição pelo
grupo de pares (Ibidem).
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6. Conclusão
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fundamental, pois estas crianças estão mais susceptíveis a experimentar relações interpessoais
de insucesso e rejeição de pelo grupo de pares (Meadan & Monda-Amaya, 2008). Tendo em
conta que a criança com NEE apresenta maiores dificuldades na iniciação de interacções
sociais (Framer et al., 2008) e maior probabilidade de estar sujeita a experiências de rejeição
pelo grupo de pares, tambem está mais susceptível a níveis reduzidos de auto-eficácia e da
confiança no outro, sendo estas capacidades-chave para o desenvolvimento de competências
sociais (Cecconello & Koller, 2000), é importante promover nestas crianças competências
sociais que lhes facilitem a sua adaptação social ao contexto em que estão inseridas. Assim,
parece existir um consenso na literatura no que diz respeito ao facto de que o
desenvolvimento de interacções sociais positivas, para além de promover competências
sociais na criança ou jovem portadora de NEE, promove o seu ajustamento social (Framer et
al., 2008) e diminui a possibilidade de desenvolverem distúrbios emocionais e
comportamentais (Meadan & Monda-Amaya, 2008). O facto de a criança ou jovem
experimentar sucessivamente situações de rejeição e fracasso nas suas interacções sociais,
conduz a um desajuste social e à susceptibilidade de desenvolvimento de problemas de
comportamento (Brown et al., 2002). Neste âmbito, o desenvolvimento de competências
sociais revela-se uma importante estratégia de intervenção para a promoção de suporte social
e para a adaptação social das crianças e jovens portadores de NEE.
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7. Referências
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INTERVENÇÃO INCLUSIVA
Mónica Rebocho; Adelinda Candeias; Marta Peniche; Paula Baldeira; Sandra Lagartixo
1. Introdução
A mudança com que nos deparamos na escola actual requer práticas que ajudem os
professores a desenvolver estratégias passíveis de responder a essa mudança. As respostas a
estas necessidades passam necessariamente pela compreensão do aluno, quer em termos das
suas necessidades quer das suas potencialidades. As concepções teóricas sobre o
funcionamento da cognição humana, nomeadamente as propostas de Sternberg e Grigorenko
(2003) e de Gardner (1999) trazem contributos fundamentais para olharmos o aluno em
função do seu potencial, e concebermos as práticas educativas como formas de promover o
desenvolvimento desse potencial. Nesta perspectiva a inteligência é olhada como uma forma
de desenvolvimento em acção, ou uma competência, e o professor é um mediador
fundamental nesse processo. Esta mudança implica um novo olhar sobre o aluno e sobre as
funções do professor, como procuraremos explicitar neste capítulo.
Este termo aparece pela primeira vez no relatório Warnock (1978) e inspira mais tarde
em Inglaterra a nova Lei de 1981 (Jiménez, 1993). O conceito de N.E.E. é muito importante,
considerando-se que uma criança tem Necessidades Educativas Especiais quando tiver
alguma Dificuldade de Aprendizagem que requeira uma medida educativa especial (idem).
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Portanto, é essencial para o futuro das dificuldades de aprendizagem que seja elaborada uma
definição globalmente aceite (Kavale, Forness & Lorsbach, 1991; Hammill, 1990, cit. por
Vítor Cruz. p. 51) pois de contrário continuarão a surgir confusões entre os profissionais, os
parentes e legisladores acerca de (1) quem tem e não tem dificuldades de aprendizagem e até
(2) se as dificuldades de aprendizagem realmente existem (Hammill, 1990, cit. por Vítor
Cruz. p. 51). Importa salientar que as definições marcantes do conceito de Dificuldades de
Aprendizagem podem ser classificadas em três categorias principais: lesão cerebral,
disfunção cerebral mínima e dificuldades de aprendizagem (Mercer, 1994; Correia, 1991 e
Kirby & Williams, 1991, idem, p.52). Das múltiplas definições dos diversos autores, salienta-
se uma definição escolhida que procura ser consensual:
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Pierre Lévy (1993, cit. por Antunes 2005) desenvolve a teoria da ecologia cognitiva,
na qual avança para ultrapassar a noção isolada do conceito, mostrando que, fora da
comunidade, desprovido do ambiente, o indivíduo não pensaria. Todas as nossas Inteligências
nada mais são do que segmentos componentes de uma ecologia cognitiva que nos engloba.
Segundo o mesmo autor, o indivíduo não seria inteligente sem a sua língua, a sua herança
cultural, a sua ideologia, a sua crença, a sua escrita, os seus métodos intelectuais e outros
meios do ambiente. A Inteligência não constitui apenas um elemento neurológico isolado,
independente do ambiente. A escola surge nesse contexto, com um papel central estimulador
da Inteligência (Antunes, 2005. p. 8). Se a criança já não precisa de ir à escola para
simplesmente aprender, ela necessita da escolaridade para “aprender a aprender”, desenvolver
as suas habilidades e estimular as suas Inteligências. O professor não perde espaço nesse novo
conceito de escola. Ao contrário, transforma a sua na mais importante das profissões, pela sua
missão de estimulador de Inteligência. A Inteligência não poder ser analisada como algo
único, é multifacetada. Assim, partindo da definição de Inteligência como capacidade de
resolver problemas, ou gerar resultados que sejam valorizados num ou mais envolvimentos
culturais, Howard Gardner na sua obra Estruturas da Mente (1983) apresenta a sua Teoria das
Inteligências Múltiplas que reforça a sua perspectiva intercultural da cognição humana.
Segundo o autor o Ser Humano seria portador de sete pontos diferentes do seu cérebro onde
se abrigam diferentes Inteligências – denominadas Inteligências Múltiplas. Seriam elas a
Inteligência Linguística, a Musical, a Lógico-matemática, a Espacial, a Corporal-cinestésica e
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evidente aplicação da Teoria das Inteligências Múltiplas nas práticas educativas com jovens
com Necessidades Educativas Especiais.
O segundo, retrata o caso de uma menina a frequentar o sexto ano do Ensino Básico, a
Paula. Paula recusava-se a ler e a escrever. Revelava um atraso de duas ou mais séries em
relação às crianças da sua idade no que respeita a habilidades básicas. A sua auto-estima
estava a decrescer e a falta de interesse na escola aumentava. Através da observação directa
da menina, a sua professora reconheceu--lhe uma capacidade invulgar para a dança e sugeriu
que esta começasse a utilizar esta capacidade para melhorar o seu desempenho académico. No
início, Paula dançou as letras do alfabeto e o seu nome. Passada uma semana, a menina
passou da dança para a escrita e a sua a autoconfiança na aprendizagem revelava progressos.
Após quatro meses de aprendizagem corporal-cinestésica, Paula permanecia sentada e fazia as
suas tarefas com os restantes alunos.
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anos ele definiu um novo objectivo: aprender a ler e a escrever, tendo o apoio de uma
professora que utilizou métodos mistos ao nível da leitura e da escrita para o ensinar. No
início, Bill escreveu à sua mãe e usou esta carta para treinar a leitura. Mais tarde através da
escrita do meio circundante, continuou a treinar estas competências. Bill exercitou a escrita
nos seus cadernos. A utilização de materiais por si escolhidos e a realização dos seus próprios
objectivos começaram a mostrar bons resultados. Bill revelava agora uma habilidade
crescente na leitura e na escrita e estabeleceu um novo objectivo: escrever um livro. Seis
meses depois Bill terminou o seu livro The Inside World que conta a história da sua vida. A
obra de Bill retrata a sua vida na instituição e destina-se a encorajar outras pessoas que
viveram ou ainda vivem nestas condições, mostrando-lhes que é possível traçar novos
objectivos, alcançando-os sobrevivendo à experiência marcante da institucionalização.
O André estava abrangido pelo Regime Educativo Especial com o principal objectivo
de mantê-lo na escola para que adquirisse conhecimentos básicos para a sua vida prática:
como ler, escrever, resolver algumas operações e problemas do seu quotidiano. O aluno tinha
vergonha das suas dificuldades e falava frequentemente disso nas aulas de apoio. Lia
2
Agradecemos a disponibilização de dados por parte da Escola EB 2,3 / S Cunha Rivara – Arraiolos – Portugal,
para este estudo, e em particular à professora Mónica Rebocho (professora de apoio que acompanhou o
caso). O nome André é um nome fictício.
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Numa conversa com a professora de apoio o aluno refere que criava algumas espécies
de pássaros. Depois desta informação, os interesses do André começam a estar claros para os
professores que o acompanhavam. Entretanto já se tinham passado......meses. A equipa
docente começa a esboçar aqui a ideia de um projecto, que desde essa altura mobilizou com
muita intensidade a motivação do aluno. A construção de um viveiro de pássaros estava no
horizonte. Fizeram-se pesquisas sobre viveiros, espaços necessárias, materiais necessários,
métodos de construção e conservação. Depois de algumas visitas a viveiros de pássaros na
localidade e ao viveiro do próprio André, partiu-se para a acção – um projecto intitulado “Um
Viveiro na Escola”. Um dos locais possíveis para a construção do viveiro era um recinto
abandonado da escola.
Decorridos dois meses, foi delineado o projecto que tinha como finalidades:
- Motivar o aluno para a escola, partindo dos seus interesses e dos seus pontos fortes.
- Criar condições para que o aluno desenvolvesse competências necessárias para a sua
vida prática (ler, escrever...).
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-Promover o respeito dos alunos da turma pelo André e pelos seus problemas.
- os recursos existentes:
- os recursos necessários:
- Material de construção.
- Mão-de-obra.
- Recursos financeiros.
Após a construção do projecto, este foi apresentado ao Órgão de Gestão, que o julgou
demasiado ambicioso. Todavia, não se desistiu desta ideia, foram elaborados jornais, onde o
André recolhia imagens e textos sobre aves e os colegas da sua turma os organizavam e
vendiam. Os professores de E.V.T. construíram com o André e os restantes alunos da turma
os ninhos para o suposto viveiro. Fizeram-se rifas, que foram vendidas por todos os alunos da
turma. Depois de angariado algum dinheiro voltou-se a insistir com o Órgão de Gestão que
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aprovou o projecto. O André vendeu os pássaros para o viveiro, teve que fazer determinadas
operações e a motivação crescia de dia para dia.
Em suma, conseguiu-se mudar o percurso escolar sinuoso deste aluno, marcado pelas
dificuldades e rejeições, partindo dos seus interesses e pontos fortes, mudando o enfoque das
dificuldades para as potencialidades e os interesses. Promovendo o desenvolvimento e a
concretização das potencialidades o André conseguiu mobilizar motivação para se
comprometer na aprendizagem de conteúdos difíceis e para aos poucos perceber a sua
utilidade, ou seja a leitura e a escrita.
6. Discussão
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Os casos referidos revelam várias limitações. Uma das mais importantes é o facto de
não serem passíveis de generalização a outros contextos educativos ou a outros indivíduos,
dado que cada caso deve ser analisado detalhadamente dando relevância aos aspectos
particulares de cada um. Outra limitação comum a todos os casos descritos prende-se com o
facto de em nenhum deles existir follow-up. Ora, o acompanhamento do percurso escolar dos
alunos permite verificar se estes mantêm ou revelam progressos académicos. O follow-up é
também determinante para verificar se os jovens continuam ou não a demonstrar motivação
para a aprendizagem e se a sua auto-estima não voltou a decrescer.
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Temos plena convicção que as Inteligências Múltiplas podem ser uma mais valia para
crianças com Necessidades Educativas Especiais. É necessário, para tal, formar profissionais,
sensibilizando-os para estas temáticas e para uma abordagem aos alunos com N.E.E centrado
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no seu potencial e não só nos seus défices, no sentido de incentivar uma atitude proactiva e a
nobre função de mediador de desenvolvimento humano, nos professores.
7. Referências
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